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MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO MECÂNICA II (EM307)2º Semestre
2005/06
8. Propriedades Mecânicas
F. Jorge Lino Alves
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Resumo
8. Propriedades mecânicas
Resistência e tenacidade.
Formas de aumentar a tenacidade (fibras, partículas ou aglomerados, transformação martensítica, multicamadas, tensões de compressão à superfície, etc.).
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Propriedades Mecânicas dos Materiais Cerâmicos
Propriedades dos Materiais Cerâmicos
• Frágeis
• Tensão de ruptura variável 0.69 MPa - 7000 MPa (whiskers de alumina). Poucos possuem σr > 172 MPa
• σrt << σrc σrc = 5 - 10 σrt
• Duros
• Baixa resistência ao impacto (ligação iónica - covalente). Excepção; a argila plasticizada, devido ás fracas ligações secundárias entre camadas
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1. Mecanismos de Deformação dos Materiais Cerâmicos
Ligações iónicas / covalentesLigações iónicas / covalentes AUSÊNCIA DE DEFORMAÇÃO PLÁSTICAAUSÊNCIA DE DEFORMAÇÃO PLÁSTICA
Deformação plástica - movimento de deslocações (metais) ao longo de planos de deslizamento.
Metais - baixas forças de deformação devido à natureza não direccional das ligações metálicas e também devido a que todos os átomos envolvidos na ligação metálica têm uma carga negativa igualmente distribuída nas suas superfícies (não há iões positivos e negativos envolvidos na ligação metálica).
CERÂMICOS
Ligações covalentes - a ligação entre os átomos é específica e direccional, envolvendo a partilha de electrões. Por aplicação de forças elevadas ocorre fractura frágil devido à separação das ligações entre pares de electrões sem a sua regeneração.
Os monocristais e policristais cerâmicos covalentes são frágeis.
Ligações iónicas - monocristais (MgO) possuem considerável plasticidade quando comprimidos à temperatura ambiente. Os materiais policristalinos são frágeis. Nos policristalinos, os grãos adjacentes têm que alterar a sua forma para acomodar a deformação. Devido ao seu baixo numero de sistemas de deslizamento geram-se fissuras nas juntas de grão.
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O deslizamento de um plano de iões sobre outro envolve a interacção de iões com carga diferente, originando forças de repulsão e atracção.
Muitos dos cristais com ligações iónicas possuem estruturas do tipo da do NaCl, em que o deslizamentose dá nos sistemas {110} <110> devido ao deslizamento nas famílias de planos{110} envolver somenteiões de cargas contrárias. Desta forma os planos de deslizamento não têm que ultrapassar grandes barreiras de energia, pois após uma curta deformação as ligações iónicas são refeitas.
2. Factores que Afectam a Resistência Mecânica dos Materiais Cerâmicos
Ruptura dos materiais cerâmicos resulta de defeitos estruturais:
1. Fissuras superficiais (riscos) produzidas durante os processos de acabamento superficial
2. Vazios (porosidade) Poro
Sistema de deslizamentoprimário num cristal de sal
Concentração de tensões
Geração de uma fissura
Rápida propagação devido a não existirem processos que absorvam, de maneira significativa, a energia da fissura
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Os poros reduzem a área resistente
Importante:
Tamanho e o volume dos poros controle da densidade (ρ)
3. Inclusões
4. Tamanho de grão
Em materiais densos a dimensão das fissuras está relacionada com o tamanho de grão.
A resistência de um cerâmico puro é função do seu tamanho de grão. Cerâmicos de grão fino têm fissuras menores nas suas juntas de grão o que os torna mais resistentes. À temperatura ambiente a ruptura da maioria dos materiais cerâmicos é originada nas maiores fissuras.
A resistência dos cerâmicos densos policristalinos depende da composição química, microestrutura, estado superficial, temperatura e do tipo de carga.
Tem
po d
e si
nter
izaç
ão (h
r)Diâmetro dos poros (µm)
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Resistência à Fractura (σr) aumenta:
1. Ligações mais fortes
2. Energia absorvida na propagação das fissuras:
• Deformação plástica
• Transformação de fase com absorção de energia
• Bifurcação (materiais compósitos)
3. Diminuição da quantidade e dimensão dos poros
4. Tensões de compressão à superfície
(σr) estruturas homogéneas de pequenos grão equiaxiais
eliminação das fissuras
A tradição já não é o que era !!!
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RECENTEMENTE PROCURA-SE:
1. Tolerância ás fissuras
2. Aumento da resistência por dispersão de nanopartículas
3. Laminados
Dispersão de nanopartículas (< 1 µm) - equação de Zener :
GL =4 r3 fv
Alumina com 20% de partículas de SiC (100 - 300 nm)
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Mulite com partículas de ZrO2 (tetragonal monoclínica)
TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICATRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA
Alumina - mulite
Si3N4 com fibras de SiC
Fibra
Fissura
Perda de energia por propagação da fissura ao longo da fibra (gasto de energia por delaminação)
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VIDRO TEMPERADO
1. O vidro é colocado numa mesa onde é deslocado para uma zona onde se faz a sua lavagem e secagem
2. Passa a uma câmara com atmosfera controlada, 21ºC e 25% de humidade.
Nesta câmara são colocadas as diversas camadas de vidro e de filme PVB (poli vinil butiral) entre as camadas, que faz a sua colagem.
O vidro à prova de bala deve ser temperado (a tempera por ar deixa-o com uma certa ondulação, sendo necessário várias camadas de PVB), e entre o PVB coloca-se também um filme de PC. Éimpossível ter só PC, uma vez que este não adere ao vidro.
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3. O vidro sai da câmara e passa numa zona onde é exercida pressão e uma temperatura de 140-150ºC, durante alguns minutos. Nesta fase o vidro fica baço, pois ainda contem ar entre as camadas.
4. No caso do vidro à prova de bala é necessário realizar uma extracção extra de ar antes de entrar na autoclave
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5. Vai para a autoclave onde é exercida uma pressão de 13 bar a uma temperatura de 140-150ºC. O ciclo de tratamento écomposto por um aquecimento de cerca de 1h, 2 h de estágio e um arrefecimento de cerca de 2 horas.
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Intergranular –bifásica
Duplex –bifásica
Intragranular-bifásica
Aglomerados
Tricamada-monolíticoMulticamadas Tricamada-bimodal
Grãos alongados Fibras bifásicas
MO
NO
LÍTI
CO
BIM
OD
AL
LAM
INA
DO
Mercado norteamericano representa aproximadamente 65 a 70% do mercado total das
cerâmicas técnicas.
9.211.5707.465Total
8.4540360Compósitos (matriz cerâmica)
5.7875662Revestimentos
9.510.1556.443Monolíticos
Aumento Previsto
(%)
2007 (M$)
2002 (M$)
Sector(USA)
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Intergranular –bifásica
Duplex –bifásica
Intragranular-bifásica
Aglomerados
Tricamada-monolíticoMulticamadas Tricamada-bimodal
Grãos alongados Fibras bifásicas
MO
NO
LÍTI
CO
BIM
OD
AL
LAM
INA
DO
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3. Tenacidade dos Materiais Cerâmicos
Ligações iónicas / covalentes baixa tenacidade (elevada fragilidade, a título de exemplo, o vidro tem 0.5 a 0.7 MPa.m1/2)
Investigação a nível mundial - procuram-se formas de aumentar a tenacidade dos materiais cerâmicos.Prensagem a quente (HP), utilização de aditivos, fibras, ligação por reacção (RBS), transformação martensítica (PSZ), etc., são alguns dos processos que têm sido utilizados para aumentar a tenacidade dos cerâmicos técnicos.
Determinação de KIC
KIC = σ f πaKIC - tenacidade `a fractura (MPa m)σ f - tensão de ruptura (MPa)
a - metade do tamanho da maior fissura internaY - constante adimensional (≅ 1)
Geometrias típicas de provetes para determinação da tenacidade de materiais cerâmicos:a) duplo “cantilever”b) torsão duplac) provete com 1 entalhe.
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H =1 .854 Pd 2
d
2c
Kc = 0.016EH
0.5 Pc 1.5
TENACIDADE À FRACTURA DETERMINADA POR TESTES DE INDENTAÇÃO
Um penetrador de diamante com a forma piramidal produz na superfície plana de um material cerâmico uma impressão plástica (tal como nos metais). Todavia, nos materiais cerâmicos geram-se frequentemente fissuras que irradiam a partir das arestas da impressão.
•• Medição directa das fissuras obtidas a partir dos cantos da indMedição directa das fissuras obtidas a partir dos cantos da indentaçãoentação
N / m2
MPa.m1/2
•• Medição indirecta das fissuras obtidas a partir dos cantos da iMedição indirecta das fissuras obtidas a partir dos cantos da indentaçãondentação
O factor de intensidade de tensão, K , na frente da fissura é o resultado da soma do factor de intensidade de tensão aplicado, Ka, e o factor de intensidade de tensão residual, Kr
K = K a + K r = ψ σ a c12 + χPc
− 32
K c = η (EH
)18 (σP
13 )
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Fractura quando K=Kcη = 0.59± 0.12
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Propagação de uma fenda. Micrografia óptica do caminho percorrido por uma fenda num cerâmico AM50 com 15 % de aglomerados de alumina, mostrando que nalguns casos, a) a fenda é deflectida em torno de aglomerados de alumina, e que noutros casos, b) progride através dos aglomerados (perdendo energia).
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INSENSIBILIDADE ÀS FISSURAS (CURVA EM R)
Procura-se desenvolver uma microestrutura com pontes locais entre os grãos, ligando a frente da fissura, de forma a tornar a resistência do cerâmico independente do tamanho da fissura.
Sem curva em R Curva em R
a)
b)
ln σ f( ) ln σ f( )
ln T( ) ln T( )
ln c( ) ln c( )
ln c( ) ln c( )
c f
c f
Ka
ComparaComparaçãção de materiais com curva em R e o de materiais com curva em R e sem curva em R; sem curva em R;
a) Para materiais sem curva em R, a resistência àfractura (σf) diminui com o aumento da dimensão da fenda. Por outro lado, materiais com curva em R possuem resistência à fractura constante para uma dada gama de dimensões das fissuras, ou seja, são “tolerantes às fissuras”;
b) Para materiais sem curva em R a tenacidade (T) é constante, independentemente da dimensão da fenda. Para materiais com curva em R, a tenacidade aumenta com a dimensão da fissura. cf representa o tamanho de fissura abaixo do qual a resistência à fractura é constante.
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a) Zona Frontal b) Zona da Rectaguarda
Conjunto de deslocações
Nuvem de microfissuras
Transformação alotrópica
Partículas dúcteis
Ligações entre os grãos
Ligações com fibras
Ligações com whiskers
Ligações com partículas dúcteis
A alumina policristalina tem uma tenacidade à fractura de aproximadamente 3 MPa.m1/2
Na actualidade, os métodos mais utilizados para melhorar a tenacidade dos cerâmicos são:
1. Dispersão de fibras, sempre cerâmicas, em matrizes cerâmicas (compósitos cerâmicos);
2. Deflexão da fenda;
3. Incremento da tenacidade por transformação de fase.
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3.1. AUMENTO DA TENACIDADE POR TRANSFORMAÇÃO ALOTRÓPICA
Este fenómeno tem sido explorado, com muito sucesso, na zircónia KIC
TETRAGONAL MONOCLÍNICA
Transformação Martensítica
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• A transformação tetragonal-monoclínica dá-se com um AUMENTO DE VOLUME da ordem dos 9 % e não pode ser suprimida por arrefecimento rápido não é possível fabricar artigos em zircónia pura
Quando sob a acção de um estado de tensão que origine o aparecimento de pequenas fissuras:
Fase tetragonal monoclínica
Aumento de volume (∆V, aproximadamente 4-5%)
Tendência para o fecho da fissura
AUMENTO DA TENACIDADE (1 - 2 MPa.m1/2 para 8 MPa.m1/2, chegando-se a referir nalguns cerâmicos valores de 15 MPa.m1/2)
• A adição de cerca 10 mol % de CaO, MgO ou Y2O3 estabilização da fase cúbica (metaestável à temperatura ambiente) - zircónia completamente estabilizada (FSZ)
Zircónia parcialmente estabilizada (PSZ)
1. ZrO2 + 9 % MgO ( também ZrO2 + Y2O3 ou CaO).
2. Sinterização a 1800°C e arrefecimento rápido (mantém a fase cúbica metaestável que é a fase estável a altas temperaturas).
3. Reaquecimento a 1400°C durante algum tempo e arrefecimento origina a precipitação da estrutura tetragonal (PSZ) mantendo-se neste estado metaestável à temperatura ambiente.
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3.2. GRÃOS ENCROSTADOS NA MATRIZ (GRAIN LOCALIZED BRIDGING)
Estruturas duplex de grãos alongados com coeficientes de dilatação linear diferentes:
• Fases diferentes
• Cristais com anisotropia termomecânica
Os grãos que estabelecem as pontes locais na microestrutura ficam encastrados na microestrutura por tensões internas de compressão, dificultando a propagação das fissuras
• Deflexão das fissuras
• Ramificação
R
c
a
b
c
d
a)
b)
c)
d)
d'Exemplo:
Si3N4 (grãos equiaxiais)
Si3N4 (grãos alongados)
4x mais tenaz e 2x mais resistente
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Ss
a)
b)
c)
d)
e)
Si3N4 com grãos beta alongados que obrigam a que a fenda seja obrigada a adoptar um percurso sinuoso, que se traduz em valores de KIc de aproximadamente 15 MPa.m1/2
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Microestrutura (SEM) de fissuras interactuando com grãos beta alongados de nitreto de silício, percorrendo um
trajecto sinuoso. A tenacidade à fractura deste material é da ordem dos 9 MPa.m1/2 para uma fissura de cerca de 800 µm. Nalguns casos são apontados valores de 15 MPa.m1/2
Tens
ão σ
f, (M
Pa)
Carga de indentação, P (N)
Tensão em função da carga de indentação para uma alumina contendo uma segunda fase de vidro de anortite cristalino (C) ou amorfo
(G).
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3.3. Introdução de Heterogeneidades Estruturais
Introdução de partículas de aglomerados numa matriz compósita tendem a aumentar a tenacidade do cerâmico ( por exemplo, cristais de mulite numa matriz de alumina e vice – versa).
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Micrografia óptica do percurso de uma fenda num cerâmico AM50 com 30% de aglomerados, mostrando um grão de ligação de alumina dentro de um aglomerado de alumina.
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3.4. MICROFISSURAÇÃO
Quando uma fissura atinge um aglomerado ou uma partícula que a obriga a dividir-se em várias fissuras pequenas (microfissuração) ocorre uma perda significativa da energia da fenda, retardando assim a sua progressão.
Fissura inicial
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3.5. COMPÓSITOS LAMINADOS (TRILAMINADOS) E COMPÓSITOS REFORÇADOS COM FIBRAS
Compósitos compostos por 2 camadas exteriores muito resistentes e 1 camada central tolerante ás fissuras.
Log (tamanho da fissura)
Deflexão (mm)
Forç
a (N
) Laminado SiC
SiC monolítico
No caso compósitos com fibras, a tenacidade aumenta pela dissipação da energia ao longo das fibras e ruptura das fibras altamente resistentes que estão dispersas na matriz.
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Exemplos
1. Compósito laminado de Al2O3 e Al2TiO5
• camada exterior (Al2O3 + 20 % Al2TiO5 ) - homogéneacamada interior (Al2O3 + 20 % Al2TiO5 ) - não homogénea
2. Compósito laminado cerâmico
• camada exterior - 150 µm em SiC• camada interior - 8 µm em grafite
3. Compósito laminado cerâmico - polímero
• folhas de alumina densa• resina epoxy reforçada com fibras de carbono
4. Compósito cerâmico – matriz cerâmica reforçada com fibras
• matriz de alumina e inserções fibrosas de SiC; a tenacidade pode chegar a alcançar 30 a 40 MPa.m1/2 (semelhante aos valores dos aços)
SiCTril
Res
istê
ncia
(MPa
)
Força de indentação (N)
Homogéneo AAT20Heterogéneo AAT20Três camadas, espessura superficial t =104 µm
σr (MPa) Tenacidade (MPa.m1/2) Trabalho até à fractura (J / m2)
500 3.6 2.8aminado com grafite 500 15 4625
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5. VIDRO RESISTENTE AO IMPACTO DE BALAS
Multi-camadas com folhas de polímero(dúctil - absorvedor da energia do impacto) entre camadas
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4. FRACTURA POR FADIGA
Metais - Nucleação e crescimento de fissuras numa zona endurecida (plasticidades localizadas) por encruamento
Cerâmicos - ligações iónicas / covalentes - ausência de plasticidade durante a carga cíclica
Ruptura por fadiga é raramente observada