Maria Celeste Mira - Revistas

download Maria Celeste Mira - Revistas

of 27

description

Usado na aula Jornalismo de revista FCL

Transcript of Maria Celeste Mira - Revistas

  • SOB 0 REINADO DE 0 CRUZEIRO;A CONSTITVI
  • seculo xx, e aque1as que viriam a ser produzidas nos moldes da industria cul-tural, a partir dos anos 60. Vejamos.

    Outra pesquisa do Ibope sobre 0 comportamento dos leitores de jomais erevistas no Rio de Janeiro, entao Distrito Federal, realizada a pedido dos DiariosAssociados, revela que em 1945 as revistas mais lidas eram 0 Cruzeiro (37,7%)Revista da Semana (15,5%); Careta (11,3%); Sele9i5es (10,7%); A Cigarra(9,7%); Carioca (8,1%); Fon-Fon (2,6%); Cena Muda (2,6%); Vida Dome-sti-ca (1,9%) e JOlmal das M09as (0,6%).2

    As revistas que concorrem com 0 Cruzeiro, com exce

  • MfWhYb\l_ic olh ZimchnliZonil\m ZWfcnialW_cWhi =lWmcf)jliY\mmi chp\hnW-Zi him ofncgim WhimZi m\YofiUSFFF)_ohZWg\hnWfjWlWWl\jliZosWi Z\ cgW-a\hm Whn\mZi WZp\hniZW_inialW_cW-Bg /605 YlcWW
  • gundo Renato Ortiz, a imprensa diaria e os grands-magazins tambem sao in-formados por uma nova nOyao de universalidade, que nao e mais a da tradiyaoiluminista. As Exposiyoes, como os magazins, sao lugares onde pode caber 0mundo todo. Fruto do encurtamento das distancias proporcionado pela utiliza-yao dotrem e do telegrafo, eles sao 0 espetaculo de uma epoca em que 0 mun-do comeya a se integrar culturalmente. No entanto, adverte 0 autor, da mesmamaneira que em obras como A volta ao mundo em 80 dias, esta integrayao noseculo XIX e uma potencialidade que as tecnologias existentes ainda nao terncondiyoes de realizar.8

    o mesmo poderia ser dito a respeito das revistas ilustradas europeias doseculo XIX que os editores estabelecidos no Brasil se esforyam para copiar. Eli-minando-se os espayos intermediarios, 0 mundo passa a ser descontinuo,

    Ii'

    fragmentado, 0 que toma possivel transportar-se sem sair "da sombra da man-gueira", com urn simples virar a pagina, para diferentes e ex6ticas partes domundo. Precocemente, o Museu Universal promete 0 que seria aprimorado como avanyo das comunicayoes e dos transportes e, mais especificamente, das tec-nicas de impressao de textos e imagens. Mesmo na Europa, publicayoes comoessa estao iniciando sua carreira.

    Em 1843, surge na Franya a mais famosa delas, L'Illustration. Com ela,seus fundadores introduzem no jomalismo frances uma tecnica dos ingleses:ir atras da noticia ao inves de esperar por ela. Ap6s uma reuniao na sede, osproprietarios e seus contratados se espalhavam em busca de noticias, havendoate mesmo correspondentes estrangeiros. 0 material coletado era levado aos ate-lies para ganhar ilustrayoes. Para tanto, nao se mediam esforyos: os artistas tra-balhavam ininterruptamente por 48 horas para ilustrar cada noticia. A tecnicada xilogravura comportava, inclusive, divisao de trabalho, repartindo-se a ima-gem e a madeira em quatro ou oito partes desenhadas simultaneamente.L'Illustration era urn hebdomadario, cuja tiragem inicial de 13,4 mil exemplaressobe para 24,15 mil em 1855. Em 1904-5 ao cobrir a guerra do Japao com aRussia, toma-se 0 maior jomal ilustrado do mundo, superando os ingleses. Mes-clava, entao, desenhos com fotos ineditas, oferecidas ao publico pela bagatelade 75 centavos a 1 franco.9

    Na segunda metade do seculo XIX, aparece no Brasil uma serie de pu-blicayoes semelhantes, ilustradas pelas tecnicas de xilogravura, litografia ou zin-cografia, mesclando as belezas do mundo com as nossas pr6prias. Em meadosdo seculo surgem Universo llustrado, Museu Pitoresco eo Ostensor Brasileiro.Em 1854 circula a primeira Illustra(:ao Brasileira e no ana seguinte e a vez de

    8. Idem, pp. 246-256.9. MARCHANDIAU, Jean-Noel. L' Illustration 1843/1944. Vie et mort d' un journal.

  • 5aKbRU;UdbcaKNZ,. \Zcnil BZoWlZIW\gg\ln nWgX\g joXfcYW. m\o 5aKbRUCRcZaObMZ,,)

    Rlh gWlYi cgjilnWhn\ \ WFOVKXK;UdbcaKNK(YlcWZWj\fi rcfialWpolcmnW)fc-nialW_i \ _inialW_i Wf\gWi E\hlcko\ Cf\comm-

  • publico minusculo. A situa
  • B chn\l\mmWhn\hinWlWZc_\l\h:9W\hnl\ . gWn\lcWfZ\mnchWZiWmgi:9Wmmif-n\clWmio Ziht\fWm\ Wmm\hbilWmio gW\mZ\ _WgcfcW-MWniYigjl\\hmcp\f hogWmiYc\ZWZ\\g ko\ . YWmWg\hniZ\gWlYW_lihn\clWmgocni lcailimWm)m\hZi j\l-gcncZi Wmmifn\clWmog jioYi gWcmZ\ _lcpifcZWZ\ko\ Wl\pcmnW)j\ZWaiacYW-g\hn\) jl\n\hZ\ Wn\hoWlYig WZc_omWiZ\ Yihb\Ycg\hni gWcmoncf\ \f\pWZi Ziko\ WgiZW io Wmhip\fWm-
  • cias"19.A partir de entao - continua 0 autor - as colaborayoes literarias come-yam a ser separadas na paginayao dos jornais, surgem as seyoes de critica derodape e 0 esboyo dos futuros suplementos litenirios. Perdendo espayo nos jor-nais, os literatos se aproximam das revistas ilustradas, provocando um surto depublicayoes predominantemente litenirias, mas tambem mundanas ou criticas.Eis algumas delas:

    1900: Revista da Semana1900: A Rua do Ouvidor1901: A Ilustrar;QOBrasileira1902: 0Malho1903: A Avenida1904: Os Anais1904:Kosmos1907: Fon-Fon1908: Careta1909: Revista Norte-americana1913: A Cigarra1917: Dom Quixote

    A delimitayao dos espayos reservados as questoes literarias no interior dosjornais nao significou 0 afastamento dos literatos em relayao a imprensa, masapenas uma adequayao ao que esta lhes pedia. Ao contnlrio, como demonstrouNicolau Sevcenko, essa ligayao e intensa na virada do seculo, constituindo-semesmo em urn estilo literario, como 0 de Euclides da Cunha, Lima Barreto ouainda Joao do Rio. Outro trayo marcante que permanece e a influencia da cul-tura francesa. 0 novo seculo e marc ado pela modernizayao do Rio de Janeiro,baseada na reforma de Paris no seculo XIX ou, como a definiu Sevcenko, pela"inseryao compuls6ria do Brasil na Belle Epoque".20

    Algumas publicayoes como A Avenida ou A Rua do Ouvidor se inseremdiretamente nessa atmosfera. Seu objetivo e estampar as novidades e as moder-nidades do seculo: as que passeiam pelas avenidas, como os autom6veis, ou asdamas e lojas elegantes da movimentada Rua do Ouvidor. 0 clima da BelleEpoque traz consigo uma preocupayao com 0 visual, com a aparencia, que as re-vistas tern que acompanhar. Felizmente ja podem contar com outros progressos.

    A fotografia, que corneya a ser difundida na Franya em meados do seculoXIX21, chega ao Brasil ainda na decada de 40. Em 1865, 30 fot6grafos ofere-

    19. Idem, p. 297.20. SEVCENKO, Nico1au. Literatura como missiio: tensoes sociais e criat;iio cultural na Pri-

    meira Republica.21. ORTIZ, op. cit.

  • Y\lh m\omm\lpc:9imhi 4UVKXKMTAKOVVOac\ hi _chWfZi m\YofiW_inialW_cWdWZc_ohZcZWfcX\lnWWml\pcmnWmZWmfcgcnW:94\mZWcfomnlW:9WiWnlWp\mZ\ jliY\mmimYigi WfcnialW_cW\ WrcfialWpolW-?igi W_inialW_cW)' n\f\alW_i Yb\aWWn\gjijWlWWDo\llW Zi MWlWaoWc)\g /630- Mlcg\clWalWhZ\ YiX\lnolWn\f\alW_cYW\_inialW_cYWZWcgjl\hmW)YigWhZWZWjil E\gcko\ Cf\comm)Wao\llW f\pW. n\f\-alW_i \g Zcl\:9WiWimoF)Yb\aWhZiWMilni
  • Emilio de Menezes e Bastos Tigre, os caricaturistas passarao a fazer anunciospara as agencias de publicidade estrangeiras que come
  • ZWmjWlWWmalWhZ\ml\jilnWa\hm _iniahc_cYWmWchZWbWgocni Z\ fcn\lWlci)Yih-m\lpWhZi-m\\mjWsLmcahc_cYWncpijWlWYihnim\ YlihcYWmZ\ Wonil\mXlWmcf\clim\\gjl\aWhZi-m\ \mYlcnil\m)n\Wnl4/.aimio Ych\WmnWm-?WlWYn\lcmncYWmko\ WYih-mifcZWsWiZWchZomnlcWYofnolWfpclcWWWfn\lWl-

    %%%

    < l\pcmnW. 6adgORaZ_ic YlcWZWjil

  • Natal, 4 rnilhoes de folhetos - trBs vezes 0 nurnero total de habitantes do Rio -forarn atirados do alto dos predios sobre a cabe~a dos passantes. Os vol antesanunciavarn 0 breve aparecirnento de urna revista "conternporanea dos arranha-ceus", urna revista sernanal colorida que "tudo sabe, tudo vB".

    E mais. Chato havia feito urna permuta com 0 diretor da MGM pela qual arevista publicaria animcios do esmdio e este exibiria, antes de cada fita, urn fil-me publicitario de 0 Cruzeiro. Segundo 0 publicitario norte-americano que con-tratara, aquele era 0 "mais moderno processo norte-americano de infiltra~ao naconsciencia dos consurnidores". Para distribuir a revista, Chato operou verda-deiro milagre para a epoca: usando caminhoes, barcos, trens e ate urn avHiobimotor, conseguiu faze-Ia chegar as bancas "de Belem a Porto Alegre, simulta-neamente". 29 ~

    Visualmente, a publica~ao era muito atraente: feita em papel couche e re-pleta de fotografias em que se misturavam artistas do cinema, do radio e da TV,futebolistas, politicos, mulheres bonitas ou animcios de produtos para urn mer-cado consumidor que crescia. A visualidade tambem foi a marca da sua principalinova~ao: as grandes reportagens. Tendo introduzido a dupla reporter-fotogra-fo, a revista mudou 0 padrao adotado ate enta~, no qual predominava 0 texto.Toda materia era, antes de mais nada, imagem. Em geral, uma grande reporta-gem era aberta com uma fotografia de pagina inteira, 0 titulo e os nomes deseus dois realizadores. A "dobradinha" mais conhecida foi formada por JeanManzon, fotografo frances que havia trabalhado na Paris-Match, e 0 reporterDavid Nasser. A materia de estreia da dupla foi urna fantastica reportagem so-bre a ainda virgem selva amazonica, mostrando urna aldeia xavante que JeanManzon fotografou pendurado nurn aviao.30

    Do ponto de vista dos profissionais, 0 Cruzeiro foi urna especie de escolapara muitos deles: jornalistas, fotografos, ilustradores, hurnoristas, reporteresou escritores. Era, segundo Jose Medeiros, 0 ponto alto da carreira:

    o Cruzeiro passou a ser a etapa final do jomalisrno no Brasil, 0 sonhodourado das pessoas. Urn fotografo da revista era tao farnoso quanto e hojeurn gala da Globo. Aonde iarnos tinha gente esperando para nos badalar. Che-guei ate a dar aut6grafos na rua. 0 pessoal ficava vidrado pelo fato do cara serde 0 Cruzeiro...3l

    De acordo com Fernando Morais, grande parte do merito deve ser credi-tado a Freddy Chateaubriand, sobrinho do dono dos Diarios Associados. Como

    29. MORAIS, op. cit., p. 187.30. Idem, pp. 417-20 e Historia da revista no Brasil, cap. VI, pp. 7-8.31. Historia da revista no Brasil, cap. VI, p. 8.

  • Zcl\nil ZW\jiYW Wol\WZWl\pcmnWhim Whim2. \ 3.) _ic ko\g YihnlWnioAWpcZKWmm\l)\r-l\jiln\l Z\ . 9UZLZ( \ G\WhJWhtih9 Z\mYiXlcoJcffil C\lhWhZ\m)YlcWZilZWY\f\Xl\ P\f'WL"Mc_-MW_&9joXfcYio . _Wgimi "' Wgcai ZWihf'W")Z\M\lcYf\mJWlWhbWi)\ WnlWcojWlWim m\omkoWZlimhig\m Yigi K\fmih OiZlc-ao\m)OWko\/Z\ No\clit) Gim\IchmZi O\ai \ DcfX\lni Cl\sl\) \hnl\ nWhnimio-nlim-PiX moWfcZ\lWhf'W)Wl\pcmnWmWfnWjWlWim 0.. gcf \r\gjfWl\m) WdoZWZW)\p\lZWZ\)j\/. chp\mncg\hni Z\ ?bWni \g 6 linWncpWm\ /0 cgjl\mmilWmWZkoclcZWm\g moWpcWa\g WimBR< \g /722-10

    ?bWn\WoXlcWhZnchbWYfWl\tWmiXl\ Yigi _ohYcihWpWgim h\aiYcim Yofno-lWcm)WnlWchZif\cnil\m \ WhohYcWhn\m-JWmWZ\milaWhctWf'Wi\ . j\lmihWfcmgi\lWg YWlWYn\lcmncYWmgWlYWhn\mZWmmhWm\gjl\mWm-Bg . 6adgORaZhWi \lWZc-_\l\hn\) Yigi YihnW. l\jiln\l Gim\J\Z\clim8

    BmnWpWlhimm\lhjl\ pcWdWhZi-P\ piY\ nchbWolh Y\lni jl\mncaci)_WtcWWmoWjlijlcW jWonW-SiY\ ZWpWolhWcZ\cW\ \f\mn\ lhWhZWpWlhYig noZi-Rlh fori ninWf-QchbWogWmWfWihZ\ . j\mmiWfm\l\ohcWjWlWYihnWlWmbcmnilcWm)ohmYb\aWhZiZi lhWni)ionlim ZWBolijW---JocnWmp\t\m bWpcWl\jilnWa\hm Z\ chn\l\mm\jWlnc-YofWlZ\ WfaohmZ\ him-BlWlhjoXfcYWZWmjilko\) hWp\lZWZ\)Wkocfi\lWolhWXW-aohsWchYlcp\f)hWinchbWolh Yihnlif\ ilaWhctWZi-..

    Mil YWomWZ\mmWgWWZgchcmnlWf'ii\) Yigi p\l\gim WZcWhn\)ZWYihYill\hYcWYig hipWmjoXfcYWf'3\m). 6adgORaZWgWlaWlWolh f\hni \ _WnWfZ\Yfchci)Wi/.haiZimWhim4. \ 5.) Z\crWhZi Z\ YclYofWl\g /753-

    1 ?FKBJ< B PR

  • mem Miranda, Xavier Cugat ou Jose lturbi em outras circunstancias. Apenaspodem explica-los 0 interesse de Washington em estreitar suas rela
  • material de Nova York ou de Cuba, passa a ser feita aquP7.Seu sucesso, segun-do Andre de Seguin des Hons, deve-se it sua formula editorial:

    ... consistia em apresentar os temas mais diversos, aliando atualidade e divulga-((ao cientifica, passando pela Hist6ria ou as Ciencias Naturais. as textos, redigi-dos de forma clara e concisa, simplificavam ao maximo as questoes tratadas ...separados por algumas leituras de repouso (hist6rias engrayadas, anedotas).38

    Como no resto do mundo, a revista teve grande penetrayao no Brasil: cer-ca de 500 mil exemplares por ediyao na decada de 50, grande parte vendidapor assinatura. Sua tiragem elevada e a quase ausencia de ilustrayoes permitiama venda a prevo barato. Seguin des Hons acredita que a publicayao se identifi-cou plenamente com urn pais de "escolarizayao pred.ria das classes populares".No entanto, pesquisas feitas pelo Ibope, como a realizada em 1950, mostramque Seler;i5es era a principal concorrente de 0 Cruzeiro e que ambas tinham 0maior nfunero de leitores regulares entre as classes A e B, especialmente a re-vista norte-americana. 0 Cruzeiro era a mais lida e considerada a mais interes-sante, enquanto Seler;i5es era apontada como a mais utiP9. Isso sugere que apenetrayao maior da revista se dava entre as classes medias, desejosas de obteralgurn conhecimento. Na verdade, 0 que esta acontecendo no Brasil de entao eurna ampliayao do publico leitor, efeito da politica nacional de escolarizayaodo govemo Vargas, com a criayao do Ministerio da Educayao e Saude e a Re-forma Campos. De acordo com Antonio Candido, a reforma atingiu principal-mente 0 ensino medio, criando melhores oportunidades para as classes medias40As classes populares comeyarao a representar alguma coisa em termos de leitu-ra, mas sua relayao mais forte sera com outros generos de publicayao, maisilustrados, mais coloridos, mais digestivos ainda, influenciados por meios comoo cinema e 0 radio.

    Urn dos principais polos de irradiayao cultural nessa.epoca e 0 cinema,primeira linguagem potencialmente universal. De uma forma ou de outra, gran-de parte das publicayoes que se desenvolvem no Brasil a partir dos anos 30 ternrelayao com 0 cinema. Em primeiro lugar, a decada de 30 assiste it introduyaodas historias em quadrinhos e seu imediato sucesso. Como observou Couperie,

    37. Idem.38. SEGUIN DES HaNS, op. cit., p. 31.39.0 Thope realiza na epoca pesquisas estratificadas em tres classes: A (rica), B (media) e C

    (pobre). Apesar da imprecisao, os dados podem ser indicativos: 0 Cruzeiro tinha no RJe SP 82,7% de leitores regulares na classe A, 73,5% na Be 59% na C, enquanto que paraSele{:oes os numeros eram 69% na classe A, 54% na B e 32,7% na C (respostas multi-plas). Thope, Pesquisas Especiais, 1950, vol. 9, Arquivo Edgard Leuenroth, IFCHlUnicamp.

    4Il. CANDIDO, Antonio. A revoluyao de 1930 e a cultura in A educa{:iio pela noite e outrosensaios.

  • ... desenho animado, cinema e hist6rias em quadrinhos nasceram simultaneamen-te; nao derivam um dos outros, porem incorporam sob tres formas aparentadas amesma tendencia profunda que percorre todo 0 seculo XIX.41

    Eles concretizam a busca, ha muito iniciada pelas diferentes tecnicas deilustra

  • Editora Abril em 1950. Seu fundador, Victor Civita, nasceu nos EVA em 1907,epoca da grande imigrayao italiana, cresceu em Milao e voltou para la em 1939,com 0 inicio da guerra. Ao vir para 0 Brasil no final dos anos 40, a conselho doirmao Cesar Civita, nao tinha experiencia anterior como editor, mas trazia daAmerica sua "moeda nfunero I": os direitos de reproduyao dos quadrinhos Dis-ney que, nessa epoca, ja eram 0 maior fenomeno de comercializayao do mun-do. Desde 0 seu nascimento no cinema, em 1928, Mickey Mouse, ao lado deoutros animais falantes como 0 Pato Donald (1935), tomar-se-ia uma das mar-cas culturais mais representativas do seculo xx. Atravessando fronteiras de tempoe espayo, os bichos falantes e hist6rias da carochinha de Disney se mundializamcom a expansao norte-americana, circulando por todos os meios: do desenhoanimado para as hist6rias em quadrinhos e dai para os livros, albuns de figuri-nhas, souvenires, brinquedos, programas de televisao, parques de diversoes, fil-mes em video, video games e milhares de outros produtos com a sua imagem.

    A potencialidade comercial dos personagens Disney logo se verificou. Nomesmo ana do filme, urn comerciante de Nova York, cujos filhos adoravamMickey e Minie, solicita licenya a Disney para usar suas imagens em brinque-dos, livros e artigos de vestuarios, os quais se esgotam imediatamente. Em se-guida, 0 pr6prio Disney se lanya na busca de novos neg6cios, dos quais sur-gem The Mickey Mouse Book, que vende aproximadamente 98 mil exemplaresno ana de lanyamento, e a tira comica do Mickey Mouse, distribuida pelo KingFeatures Syndicate,

    ... que se transforma imediatamente em sucesso intemacional, ainda maior queos curtas-metragens animados do estudio. A tira foi responsavel pela transfor-maryao de Mickey Mouse em um rosto familiar em todas as esquinas do mundo.Por volta de 1932, ra-c1ubes do Mickey Mouse registravam em conjunto mais deum milhao de membros associados s6 nos EVA, com novos c1ubes sendo inau-gurados a cada dia.44

  • Em 1949, quando Walt Disney comemorava a venda de 5 milh5es de re16-gios Mickey Mouse e ja entrava em entendimentos com as redes de TV para aexibi
  • No inicio, conforme relatou Jorge Kato, desenhista de capas Disney du-rante dez anos, as hist6rias vinham dos EUA e da Argentina. Neste ultimo caso,o unico trabalho que tinham era 0 de raspar os dizeres dos baloes e traduzi-los.Ja as hist6rias norte-americanas exigiam mais adaptayoes, principalmente daspiadas, que nao faziam sentido aqui48. Porem, 0 sucesso das revistas Disney noBrasil foi maior do que 0 esperado. As hist6rias recebidas do exterior nao eramsuficientes para alimentar 0 mercado crescente. Para atender as suas necessi-dades, a Abril abre em 1964 um centro de criayao e, mais tarde, uma escola dearte voltada para os quadrinhos Disney. Ali foram desenvolvidas hist6rias abra-sileiradas, do argumento a arte final, exportando-as para paises como Franya,Italia, Portugal, Chile, Dinamarca e EUA. Desse processo de criayao, Ze Cario-ca e 0 melhor exemplo. Criado por Disney em 1942 em sua viagem ao Brasil, 0personagem ganha uma revista da Abril em 1961 que hoje percorre 0 mundo.Margarida, a primeira revista feminina de Disney tambem e uma criayao dosbrasileiros, assim como os personagens Morcego Vermelho, Biquinho e os pas-saros humanizados da serie Os Adolescentes. De acordo com a Redibra, repre-sentante de Walt Disney no Brasil, as hist6rias criadas pelos brasileiros SaDcon-sideradas pelos Esmdios Disney como "as melhores do mundo" e as 2 mil pa-ginas exportadas em 1987 constituiam 0 maior volume produzido por um pais,inclusive pelos EUA.49

    Alem dos quadrinhos, eram importantes na epoca as revistas especializa-das em cinema. Pode-se dizer mesmo que nos dourados anos 50, a influenciada cultura norte-americana e sobretudo cinematografica. 0 cinema, atraves dosfilmes e da especulayao da vida intima de seus astros, transforma-se no veiculode novos ideais de vida, como analisou Cristina Meneghelo:

    ... a maneira de se viver, de arrumar a casa, de conquistar 0 amor, de se vestir, deviajar, de ter uma familia. Felicidade, simplicidade, glamoune sofrimentos SaDde-senrolados como em urn novelo no "depois dos filmes" pelas publicayoes, fotos,musicas. Os modos de ser hollywoodianos SaDvarios, e longe de estarem isola-dos para os momentos no "templo dos sonhos", estao altamente cotidianizados.Percebe-se como 0 cinema norte-americano efetivamente tern seus canais

    4&. Jorge Kato, depoimento para 0 projeto Memoria da Abril, 23110/86.49. Documento elaborado pela Redibra para a exposiyao Epopeia Editorial, organizada pelo

    Masp, datado de 23/4/87. E impossivel discorrer aqui sobre todas as historias em quadri-nhos vendidas em banca. Mas merecem referencia, nao so por serem brasileiras mas porserem muito mais vendidas no Brasil do que as de Disney, as de Mauricio de Souza.Lanyadas pela Abril em 1970, as historias da Turma da Monica (1970) passam a serpublicadas posteriormente pela Editora Globo. Em 1989, a Editora Abril cria a AbrilJovem especializada na publicayao de HQ infanto-juvenis, alem de outros produtos paraesse segmento.

  • interacoplados, de maneira a prom over a formayao de urn gosto e de uma moral,agenciando processos de subjetivayao.50

    a grande elo entre 0 cinema e 0 publico responsavel por essa"cinematografizayao do cotidiano" eram as revistas, que tinham suas paginaspovoadas por astros de Hollywood. Rostos que ficaram conhecidos grayas aocinema, mas tambem as capas de revista. Rostos e corpos que viraram mode-los, dando origem, na "Era de Ouro", como a definiu Hobsbawm51, a todo 0universo de consumo que nos envolve. Conforto e bem-estar que se tomavammuito mais evidentes para quem tinha vivido os horrores e a penuria dos tem-pos de guerra. Por outro lado, neg6cios ainda bastante modestos comparados aposterior consolidayao da imprensa feminina.

    A revism especializada de maior circulayao na epoca era Cinelandia. Mashavia tambem Filmelandia, da Rio Grafica, Cinemim, da Ebal, e Cena Muda,em circulayao desde a decada de 20. Publicay5es de interesse geral, como 0Cruzeiro e Revista da Semana e femininas como Vida Domestica, tambem pu-blicavam sey5es regulares sobre cinema. Fora do espayo especifico, 0 cinemafomecia os temas, viessem eles dos pr6prios filmes ou da vida dos astros. Fi-guras-modelo, eles dominavam desde as reportagens ate as sey5es de~conselhamento amoroso, moda, be1eza, saude e decorayao.

    Com ingredientes pr6ximos as revistas de cinema, uma nova serie de pu-blicay5es circula na decada de 40. Menos aristocraticas que as do primeiro quartode seculo, mesc1ando cultura e entretenimento, elas procuram atingir um publi-co mais amplo. Para-Todos, Eu Sei Tudo (concorrente de Seler;oes) e VamosLey, semanario de amenidades e materialliterario estrangeiro, reforyam 0 aspec-to cultural. A Cigarra, comprada pelos Diarios Associados, Vida Domestica eJomal das Mor;as anunciam os progressos da imprensa feminina. Resultado dosavanyOSda industrializayao, da urbanizayao, do aumento da escolarizayao e dapolitica populista da ditadura Vargas, as massas entram em cena.

    as astros de Hollywood sofrerao forte concorrencia de outros idolos naspublicay5es especializadas em radio, 0 grande veiculo de massa nos anos 40 eprincipal meio propagandistico do Estado Novo. As pr6prias Empresas Incor-poradas ao Patrimonio Nacional, alem de encampar a Radio Nacional, editam arevista Carioca, cujo assunto san os bastidores do radio. Havia tambemRadiolandia, mas a mais notave1 era a Revista do Radio, atraves da qual 0 pu-blico se inteirava dos tumultuados concursos que escolhiam a Rainha do Radio.Fenomeno relacionado a um veiculo de massa como 0 radio, aqui sim estamos

    50. MENEGHELO, Cristina, Poeira de estrelas. 0 cinema hollywoodiano na midia brasilei-ra das decadas de 40 e 50. Mestrado. Campinas: Unicamp, 1992, p. 176.

    51. HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. 0 breve seculo XX1914-1991.

  • diante de urn leitor mais popular. Uma pesquisa do Ibope de 1945 mostra queCarioca era a unica revista com mais leitores na classe C do que nas demais. ARevista do Radio consegue 0 mesmo feito entre os cariocas em 1956. Supe-rando a posi
  • Alguns editores, Rizzoli, Mondadori e Cino Del Duca, come
  • YOUOVYPMRYbYXYdQVMXY8_MaUVPQaVMXOTMWQaWYQW,3/,& MXMQW\cQ7QBMEF8NSFK'\cQ MbQQXbMYZcNVUOMdMTUabY_UMaPQaQXTMPMa&OYWQ65MMUWZY_bM_RYbYXYdQVMa(CY MXMaQScUXbQ&,3/-& M7N_UVVMX65M4BOQJDIN'M_QdUabMPQRYbYhXYdQVMaPQWMUY_acOQaaYPQbYPYaYabQWZYa(4BOQJDIN'\cQ aMUUXUOUMVWQXbQOYW3, WUVQeQWZVM_Qa&cVb_MZMaaMXYZ_UWQU_Yb_UWQab_QPQ ,30, Ya /)) WU,0)(7 _QdUabM&\cQ PQUXUOUYXMYMS_MPYc&dQXPQXPYMZQXMa-0 PYa3, WUVQeQWZVMh_QaVMX65MPYa&QabYc_Yc\cMXPYKUObY_9UdUbMPQOUPUcMcWQXbM_) aQcRY_WMbYQPYN_M_) Z_Q65Y(EY_QW&MS_MXPQUXYdM65MYPQ4BOQJDINRYUbQ_MPYbMPYMZcNVUhOM65MYPQTUabY_UMaOYWZVQbMa&\cMXPY7QBMEF8NSFKMUXPMMab_MgUMQWOMZUbch,)H0,(7 ZM_bU_PMURYUcWMdQ_PMPQU_MRQN_Q(

    CYa MXYa/) Q0) MRYbYXYdQ,MdUdQacMQZYOMMc_QMXY8_MaUV(;W bQ_WYaPQOU_OcVM65MY&aYZQ_PQZM_MYa \cMP_UXTYa:UaXQf(KM_UMaQPUbY_MaaQVMX65MWXY_UOYRUVMYOYXabUbcUPYZQVMaZcNVUOM65YQaaQXbUWQXbMUa(7 7N_UVVMX65M9KTRBN",0./V,0/-%' ;NSTQMN",3/3h,31/%& 4NMSJHN",30-% QdM_UYaacNhZ_YPcbYaPQ4BOQJDIN)7 GUY

  • rigida da epoca, pela valoriza
  • beleza, a moda e as formulas magic as tambem ja sao outros. Alem disso, comoveiculo publicitario, 0 genero era limitado, captando basicamente produtos ven-didos por correspondencia, seus principais anunciantes.

    A decadencia ja ocorrera tamb6m com a radionovela, provavelmente rela-cionada a ascensao da telenovela. De um lado, esta viria a preencher diariamenteas necessidades ficcionais do publico. De outro, nos anos 70, a telenovela, comoa televisao brasileira em geral, entra num processo de modemizayao que provo-cara grandes mudanyas no gosto do publico. A telenovela se distancia do padraomelodramatico, importado e exotico, tomando-se mais realista e abrasileirada.A sociedade brasileira se modemiza, e a televisao e 0 veiculo que mais atinge 0publico popular apos os anos 60. Apesar de algumas tentativas dos produtoresde radionovelas e de fotonovelas de atualizar seus temas, personagens e tra-mas, nenhuma das duas consegue 0 feito da telenovela. 0 realismo parece naose adaptar bem a esses meios68 A audiencia e as tiragens caem. Muitas revistasdeixam de circular. Em 1975, a Abril cancela a ediyao de Noturno. Em 1982,desaparece Ilusiio. Em 1984, a pioneira Editora Vecchi pede concordata. A 11-der Capricho cai para a faixa dos 300 mil exemplares nos anos 70 e abaixo dos100 mil em 1985. Nessa data, apos anos de tropeyos editoriais, faz uma plasti-ca completa e se transforma, como veremos, na "revista da gatinha".

    A crise, na verdade, foi mundial. Ja comeyara bem antes na Italia, cujaproduyao, que abastecia cerca de 70% do mercado mundial, caiu de 130 titulosem 1968 para 35 em 197869 Tanto la como aqui, a industrializayao, a consoli-dayao da sociedade de consumo e a penetrayao da televisao fizeram com que afotonovela fosse perdendo suas leitoras para outros tipos de revistas femininase para as revistas especializadas em TV. Em 1978, dos 3 milhoes de exemplaresem circulayao, so 20% contem apenas fotonovelas. A maioria ja vem tempe-rando a revista com outros assuntos, sobretudo os bastidores da TV. Revistascomo Contigo, da Abril, e Amiga, da Bloch, se sairao melhor por esse motivo,permanecendo em circulayao ate hoje. Luis Carta, um dos criadores de Clau-dia, afirmou que a mudanya do publico feminino contribuiu bastante para essaalterayao. Mas em 1961 reconheceu sua contribuiyao: "Sem duvida, se nao hou-vesse a Capricho nao haveria hoje uma revista como Claudia."70

    Na verdade, a partir dos anos 60, em todos os setores culturais 0 mo-mento e de grandes transformayoes: um incipiente mercado de bens simbolicos

    68. Sobre a hist6ria recente da radionovela ver MIRA, Maria Celeste e BORELLI, Silvia H.S., Sons, imagens, sensayoes: radionovelas e telenovelas brasileiras in Revista Brasileirade Comunicar;iio, vol. XIX, n. 1, .Sao Paulo, Intercom/CNPq/Finep, jan-jun/86.

    Q). "Fotonovelas. Uma crise que nao chegou ao Brasil. Pelo contnirio",Jornal do Brasil, 3/2/78.1U. "A fotonovela vendendo cada vez menos ilusoes. E ja perto do fim", 0 Estado de S.

    Paulo, 15/1184. Ver tambem "As fotonovelas estao morrendo". Folha de S.Paulo, 20/4/85.

  • da lugar a industria cultural consolidada. Nos anos 70, 0 pais toma-se 0 sextomercado fonognifico do mundo e 0 setimo em publicidade. S6 perde para osEVA em numero de emissoras de radio e e um dos dez maiores na produ
  • Jacques Douglas: 6%Ilusiio: 9%Sele