MARGARETE DE CÁSSIA GOMES PENSAMENTO … · seu pensamento em relação a educação do país:...

88
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA MARGARETE DE CÁSSIA GOMES PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ANISIO TEIXEIRA (Influência de Anísio Teixeira na Educação Brasileira) PIRACICABA 2011

Transcript of MARGARETE DE CÁSSIA GOMES PENSAMENTO … · seu pensamento em relação a educação do país:...

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

MARGARETE DE CÁSSIA GOMES

PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ANISIO TEIXEIRA (Influência de Anísio Teixeira na Educação Brasileira)

PIRACICABA 2011

2

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

MARGARETE DE CÁSSIA GOMES

PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ANISIO TEIXEIRA (Influência de Anísio Teixeira na Educação Brasileira)

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós Graduação em Educação - PPGE da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação

PIRACICABA 2011

3

MARGARETE DE CÁSSIA GOMES

PENSAMENTO EDUCACIONAL DE ANISIO TEIXEIRA

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Elias Boaventura – Orientador

Prof. Dr. César Romero Amaral Vieira

Prof. Dr. José Nemésio Machado

Prof. Dr. Ismael Forte Valentim – Suplente

PIRACICABA

2011

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela minha vida. Agradeço ao meu esposo Carlos pela força que me deu em todos os momentos e a minha filha Bárbara que é minha companheira. Agradeço aos meus pais e aos meus irmãos pelo amor e carinho. Em especial agradeço ao orientador Elias Boaventura pela paciência e cuidado nas orientações. Finalmente agradeço a todas as pessoas que de alguma maneira contribuíram para a realização desse trabalho. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – Brasil e com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq - Brasil

5

Consideramos a vida de Anísio Teixeira (1900 – 1971) uma espécie de tensão para encaminhamento do não alcançado e destacamos a existência de um movimento crucial e definidor de sua trajetória: o período de 1900-1935. Sem levar em conta rigidamente essas datas, observamos que, nesse período de sua vida Anísio aprendeu lições fundamentais. No plano existencial, a dúvida e a elaboração da dúvida, a crença em valores transcendentes, a coragem do testemunho, a capacidade de resistência à opressão, a persistência e negociação da realidade. No plano da cidadania, a participação e solidariedade com movimentos e instituições ordenadoras da sociedade, o exercício do poder. Nesse exercício, Anísio trabalhou em várias frentes, dentro e fora do Estado, socializando determinadas concepções de sociedade e educação compatíveis com projetos de modernização social, econômica e política. (NUNES, 2000, p. 9,10).

6

RESUMO O presente estudo refere-se a pesquisa realizada junto ao programa de Pós- Graduação em educação da Universidade Metodista de Piracicaba com o propósito de confirmar a influência do educador Anísio Teixeira na Educação Brasileira. Para atingir esse objetivo primeiramente fizemos um levantamento da vida do educador, tendo como período delimitado o ano de 1930 a 1935, em um segundo momento levantamos informações que apresentam relatos e depoimentos de alguns teóricos que escreveram sobre Anísio Teixeira e por último fizemos estudos de algumas palavras - chave que são representadas nas obras de Anísio Teixeira para sinalizar o seu pensamento em relação a educação do país: igualdade e desigualdade, escola pública, escola nova e ciência, democracia, filosofia, ciência, criança e aprendizagem e também universidade. Para a realização desse estudo usamos textos encontrados em artigos e livros impressos e eletrônicos publicados por Anísio Teixeira e também por vários profissionais e educadores que de alguma maneira contextualizaram a sua atuação e participação na Educação Brasileira. Palavras-Chave: Educação Brasileira, pensamento educacional, Anísio Teixeira.

ABSTRACT This study refers to research conducted by the Graduate Program in Education of the Methodist University of Piracicaba in order to confirm the influence of the educator Teixeira in Brazilian Education. To achieve this goal we made a first survey of the life of the educator, with the period defined the years from 1930 to 1935, raised in a second moment information that present stories and testimonies of some theorists who wrote about Teixeira and finally we did some studies Key - words that are represented in the work of Teixeira to signal their thinking about education in the country: equality and inequality, public school, new school and science, democracy, philosophy, science, child and learning and also university . To conduct this study we use theories found in articles and books published by print and electronic Teixeira and also by many professionals and educators in some way to contextualize his role and participation in Brazilian Education. Keywords: Brazilian Education, Educational Though, Anísio Teixeira

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------8 CAPÍTULO 1: INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS DE ANISIO TEIXEIRA---------------11

1.1: CONHECENDO ANISIO TEIXEIRA---------------------------------------------11

1.2: ANISIO TEIXEIRA: E A ESCOLA NOVA--------------------------------------37

CAPÍTULO 2: PENSAMENTO QUE TINHAM DE ANISIO TEIXEIRA------------------41

2.1: RELATOS E DEPOIMENTOS SOBRE ANISIO TEIXEIRA----------------41 CAPÍTULO 3: PENSAMENTO DE ANÍSIO TEIXEIRA--------------------------------------49

3.1: IGUALDADE E DESIGUALDADE SOCIAL------------------------------------49

3.2: ESCOLA PÚBLICA UNIVERSAL E GRATUITA -----------------------------54

3.3: ESCOLA NOVA E CIÊNCIA-------------------------------------------------------57

3.4: DEMOCRACIA------------------------------------------------------------------------63

3.5: FILOSOFIA E CIÊNCIA-------------------------------------------------------------67 3.6: A CRIANÇA E A APRENDIZAGEM----------------------------------------------74 3.7: EDUCAÇÃO E UNIVERSIDADE-------------------------------------------------83

CONSIDERAÇÕES FINAIS:-----------------------------------------------------------------------81 REFERÊNCIAS----------------------------------------------------------------------------------------86

8

INTRODUÇÃO:

No ano de 2004 quando ingressei no curso de licenciatura em pedagogia na

Universidade metodista de Piracicaba, o qual concluí no ano de 2008, tive contato

com algumas disciplinas que compunham a matriz curricular do curso. Essas

disciplinas me motivaram a dar continuidade aos estudos, e em especial a realizar

uma pesquisa onde se conhecesse como foi a atuação do educador Anísio Teixeira

na educação brasileira.

Das disciplinas estudadas, todas trouxeram muitas contribuições, porém

saliento que uma delas tinha como conteúdo o contexto histórico educacional

brasileiro nos anos 30. Viu-se no estudo que a partir do momento em que o país se

tornou diferente politicamente em função da república, muitas inovações e propostas

foram feitas com o objetivo de implantar no país mudanças que atendessem a

política social e econômica que o Brasil passou a ter com o novo regime.

Viu-se também em Ghiraldelli Jr. (1994), a contextualização de

acontecimentos que marcaram o país, e o autor escreve que perante as mudanças

introduzidas pelo regime da república, vários intelectuais que estavam envolvidos

com a política do país deram início a debates em todas as áreas, em especial no

campo educacional.

Nos debates os profissionais discutiam a possibilidade de serem implantadas

no Brasil novas diretrizes de reforma social. Ghiraldelli Jr. (1994) aponta que a

preocupação era propagar no Brasil a democracia, a descentralização, o incentivo a

industrialização e também a diminuição da população analfabeta. Os intelectuais

desejavam impor inovações para atender a nova população que passou a existir no

momento. Lima (1978) coloca que, na década de 1930 o Brasil estava a caminho da

industrialização e renovação educacional e isso desencadeou as primeiras ações de

9

reformulação no setor educacional de alguns estados brasileiros.

Em função dessas informações de contextualização do campo educacional

brasileiro constatei que o cenário educacional apresenta em sua história muitos

acontecimentos que contribuíram para o cenário da educação que se vive no

presente. Mas o momento maior que alavancou o interesse em estudar Anísio

Teixeira foi quando estudamos o Manifesto dos Pioneiros da Educação de 1932.

Anísio Teixeira foi precursor da Escola Nova no Brasil e foi um dos participantes do

Manifesto. Esse movimento é um marco histórico na educação brasileira já que

através dele foram implantadas várias diretrizes de reformulação no campo

educacional brasileiro.

Além de Anísio Teixeira vários intelectuais participaram do movimento da

escola nova em 32 e ao longo do percurso feito para a realização desse trabalho

constatou-se que entre os intelectuais, Anísio Teixeira se sobressaiu. Ele era filho de

um representante da Oligarquia e também da política de Caitité. Estudou em colégio

de jesuítas e aos 23 anos se formou bacharel em Direito. Aos 24 anos ocupou um

cargo político na secretaria da educação da Bahia e aos 29 anos concluiu o

mestrado nos Estados Unidos. A viagem do educador aos Estados Unidos fez com

que ele entrasse em contato com Dewey e com a realidade educacional daquele

país. Isso influenciou a visão de Anísio Teixeira, que voltou ao Brasil propondo uma

inovação na educação brasileira.

Por sua trajetória Anísio Teixeira ficou reconhecido como o precursor da

Escola Nova. Tornou-se referencia e fonte de estudos nas áreas de humanas e nas

formações pedagógicas.

É nesse sentido que esse estudo é relevante. Pois para a sua elaboração foi

preciso entrar em contato com teorias que são fundamentais para quem atua no

10

campo educacional. Mas esse estudo tornou-se possível porque foi organizado da

seguinte maneira: primeiramente buscou-se conhecer Anísio Teixeira, momento esse

em que foi elaborado o primeiro capítulo e foi estudada uma breve biografia do

educador; no segundo momento levantou-se em livros de biógrafos e teóricos de

Anísio Teixeira a visão que tinham do educador. No terceiro momento viram-se em

teorias do próprio Anísio Teixeira conteúdos que retratam o seu ponto de vista sobre

a educação e algumas palavras – chaves que fazem parte de suas obras publicadas.

Após levantarem-se os conteúdos procurou-se deduzir a partir do conteúdo coletado

se Anísio Teixeira contribuiu com a educação brasileira, e se sim, de que maneira e o

que ele fez para contribuir.

Ao longo do percurso feito para coletar informações que descrevessem Anísio

Teixeira, encontrou-se dados de contextualização do cenário social brasileiro na

década de 30 quando Anísio Teixeira participou de movimentos na educação

brasileira e também produziu obras. Em função do que foi apresentado até aqui é

que se aponta que esse trabalho levou a reflexão sobre o papel que os educadores

têm perante a sociedade, cuja escolarização tem um papel fundamental. Esse

trabalho também fez com que se constatasse que Anísio Teixeira teve um trabalho

intenso durante os anos 30. As obras por ele produzidas estão sempre relacionadas

à educação brasileira e levanta um questionamento sobre a educação que se quer

para o nosso país.

Finalmente, considera-se importante salientar que para a pesquisa se tornar

real muitos momentos difíceis e também bons foram enfrentados, mas todo o

percurso percorrido e o conteúdo estudado contribuíram para a minha maturidade

profissional e pessoal e em especial contribuíram para a minha formação de

educadora.

11

CAPÍTULO 1: INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS DE ANISIO TEIXEIRA

Para atingir o objetivo desse estudo considerou-se importante levantar dados

que descrevessem Anísio Teixeira. Portanto, nesse capítulo foi feito um estudo

bibliográfico valorizando informações que contemplassem as características do

educador, levando em consideração: sua vida pessoal, intelectual e a sua atuação

na educação brasileira.

1.1: CONHECENDO ANÍSIO TEIXEIRA

Anísio Spínola Teixeira nasceu em 12 de Julho de 1900, em Caetité, na Bahia.

Era filho de Anna Spínola Teixeira e do fazendeiro Deocleciano Pires Teixeira.

(Gouveia Neto, 1973). O pai de Anísio Teixeira era político e fazendeiro. Em Caetité

existiam três famílias que tinham muita influência política na cidade. Como afirma

Nunes (2000), destacavam-se os Rodrigues Lima, os Tanajuras e em especial a

família Teixeira que eram proprietárias de terras em Caitité. Essas famílias passaram

a ser candidatas à investidura inicial republicana na Bahia após a proclamação da

república.

De acordo com Lima (1978), Caitité após a proclamação da república recebeu

duas instituições de ensino médio: a escola complementar e a escola normal. O

autor também escreve que em 1912 um missionário chamado Mac-Cauly, formado

em medicina, passou pela Bahia a procura de um local para implantar uma escola

protestante. Isso provocou confusão. A oposição (representada por um fazendeiro de

Caitité – Luiz Pinto Bastos) se movimentou para trazer para Caitité um grupo de

Jesuítas. Os jesuítas tinham fundado em Salvador o colégio Antonio Vieira. Com o

apoio de Luiz Bastos e do pai de Anísio, em 1912 foi fundado em Caitité o instituto

Luiz Gonzaga.

12

Nunes (2000) destaca que Anísio Teixeira na fase da adolescência estudou

em colégios jesuítas e isso aconteceu por causa da influência de pessoas da sua

própria família, entre essas algumas mulheres, tais como Hercília que fez a opção

pela carreira religiosa, Carmem, pela participação no movimento das filhas de Maria

e Celsina pelo envolvimento com as atividades assistenciais prestadas pela

Associação de Caridade de Caetité. Mas os irmãos e pai de Anísio Teixeira tinham a

postura não religiosa.

Após seus estudos primários realizados com Maria Teodolina das Neves Lobão e Priscila Spínola, sua tia, Anísio ingressou em 1912, no colégio São Luiz Gonzaga, ginásio de preparatórios organizado pelos jesuítas, e aí se destacava pela vivacidade do espírito e o rigor nos deveres. Começava nessa ocasião a sua admiração pela Companhia de Jesus que ganhou corpo quando em 1914, transferiu-se para o colégio Antonio Vieira, prolongamento do educandário de Caetité, sediado na capital do estado. Ai conheceu grandes amigos que acompanharam vida afora como Joaquim Faria Góes, e Hermes Lima, além de outras importantes figuras que marcaram indelevelmente a sua formação. (NUNES, 2000, p. 60).

Como se viu, Anísio Teixeira teve a sua formação escolar em colégios jesuítas

e ao longo do trabalho constatou-se a sua paixão pela formação jesuítica, que

influenciou na decisão de sua carreira. Tanto que encontramos nos escritos de um

biógrafo de Anísio Teixeira (Viana Filho, 1990), que Anísio passou por dificuldades

quanto à escolha que desejava fazer na sua vida profissional, isto é, foi atormentado

por uma dupla pressão: de um lado sobressaltava a figura dos jesuítas que queriam

conquistá-lo para a sua ordem, de outro a figura de seu pai, que exercia grande

pressão para que ele seguisse uma carreira política. (Cf. Viana Filho, 1990).

Nesse contexto, Nunes (2000, p. 60,61), escreve que em 1914, Anísio Teixeira

saiu do colégio São Luiz Gonzaga e foi para Salvador, com destino ao colégio

Antonio Vieira. No colégio o educador entrou em contato com alguns profissionais

13

que eram ministradores de instrução. Entre esses estava o Padre Cabral que

também teria influenciado Anísio Teixeira.

O Padre Cabral foi um dos grandes responsáveis pelas experiências de Anísio

Teixeira no colégio. Nunes (2000) aponta que Padre Cabral tinha grande destaque,

sendo que foi considerado o maior pregador da Península Ibérica. O contato com o

padre Cabral quando Anísio Teixeira estudava no colégio Antonio Vieira contribuiu

para a escolha do educador quanto ao Colégio. Além disso ainda havia a força

religiosa da família, que era dividida entre o catolicismo de irmãs e outros parentes e

o anticlericalismo do pai e dos irmãos a eles mais chegados. Mas Anísio Teixeira

oscilava entre a vida religiosa e a política.

Anísio não participava de torneios ecléticos, mas usufruía indiretamente esse clima de especulação inofensiva e de gosto pela cultura do qual partilharam educadores e políticos de sua geração e da geração imediatamente anterior. Interiorizou o pequeno grande mundo dos colégios jesuítas que freqüentara como o seu próprio mundo. Por tudo e em tudo, Anísio queria viver ardentemente seu sonho loyoliano. Queria ser um inaciano. (NUNES, 2000, P. 63).

Na citação podemos entender que a opção de Anísio Teixeira era seguir o

caminho dos jesuítas, mas ao longo do trabalho constatamos que, ainda que Anísio

Teixeira tivesse sido influenciado pelos jesuítas o caminho por ele percorrido foi o da

educação e da política.

Como verificamos anteriormente Nunes (2000), afirma que Anísio Teixeira foi

educador por opção: durante sua carreira profissional duas opções de profissão

surgiram para ele. Primeiramente a possibilidade de se tornar um profissional da

área Eclesiástica onde ele ingressaria na ordem dos jesuítas se seu pai

concordasse. A segunda seria a carreira política e essa alternativa também era

14

motivada pela inserção de outras pessoas da sua família que estavam envolvidas

com a área da política.

Sobretudo, a influência dos jesuítas na vida de Anísio Teixeira teve início

quando ele ainda estava fazendo o primário com os padres jesuítas, no Colégio São

Luís, na sua cidade natal, passando depois, em 1914, para o Colégio Antonio Vieira,

em Salvador, também de padres jesuítas, onde completou o curso secundário.

(Viana Filho, 1990).

Anísio Teixeira enfrentou um momento de crise existencial quando estava com

dezenove anos de idade. O educador estava no segundo ano do curso de direito e

se viu confuso já que as características do curso de Direito não atingiam as suas

expectativas. Assim encontramos em Nunes (2000) que “Anísio Teixeira não se

achava capaz de seguir a carreira jurídica” (p. 63). Acreditava o educador que a sua

formação poderia superar as exigências que faziam parte do curso de Direito.

O que se passava em sua alma, além do incomodo que sentia pelo descompasso que vislumbrava entre certas características pessoais e a carreira para a qual seus pais o encaminhavam? A possibilidade da vida religiosa. Mais que isso: a dúvida diante dessa possibilidade, que não era só dele, mas de outros moços, que como ele, estavam prestes a decidir o seu destino. Enquanto Anísio procurava ganhar a certeza do que queria, seu amigo Guilherme, em seguidas cartas, desabafava o martírio que sofrera até resolver olhar para Jesus e morrer para o mundo. (NUNES, 2000, p. 64).

Nunes (2000) coloca que Anísio Teixeira pensou em seguir a vida como Santo

Inácio. O educador se via inserido à vida religiosa em função da participação de

pessoas da família na vida religiosa e também por sua vivência nos colégios

jesuítas. Se via também envolvido pela vida política já que seu pai era um político

reconhecido na cidade. Se não bastasse, agora Anísio Teixeira também estava mais

confuso quanto a sua trajetória profissional, pois estava cursando direito. Mas ainda

15

assim, temos o entendimento que até aqui Anísio Teixeira queria mesmo optar pela

carreira religiosa, tanto que Nunes (2000), escreveu: “O caminho era a renúncia da

vida terrena” (Nunes, 2000, p. 64).

Anísio sofria. Qual a garantia de que a meta pressentida, ainda escondida, era a vontade dele? Ao sair do colégio jesuíta e ingressar na faculdade de Direito parecia dar os últimos passos na “escola da inteligência”. Faltava-lhe a última provação: a escola do coração. (NUNES, 2000, p. 65).

O educador Anísio Teixeira era dedicado ao que se propunha a fazer. Na vida

que estava levando em meio às questões religiosas do colégio jesuíta o educador se

destacava por sua seriedade em relação aos compromissos que ele havia assumido.

Desta maneira, pensamos que a formação estruturada inicialmente nos colégios

jesuítas contribuía para que fosse despertado no educador cada vez mais o

interesse em atuar na área humanística, tanto que encontramos uma frase que

retrata duas características que podem ser encontradas na formação de Anísio

Teixeira: o desenvolvimento da religiosidade e da inteligência: “Alargou-se a sua

disposição, da qual a religiosidade e inteligência alicerçaram a sua crença”.

(NUNES, 2000, p. 66 ).

Se a vida de Anísio foi concretamente uma manifestação da poderosa influência da Companhia de Jesus sobre corpos e mentes, foi também a prova viva da sua contestação. A própria educação recebida no internato lançou o conflito nos anseios religiosos de Anísio, preparando a sua liberação do pensamento metafísico para encarar objetivamente os problemas da vida humana na terra. Anísio tornou-se inaciano sem ser Inácio. (NUNES, 2000, p. 66,67).

Apesar da influência que os jesuítas tiveram na vida de Anísio Teixeira

achamos que o educador não optou ser representante da companhia de Jesus, mas

ficou sempre em conflito na tomada de decisões entre ser jesuíta ou seguir outra

carreira. A citação de Nunes apresentada acima nos faz pensar que ainda que Anísio

16

Teixeira tenha se tornado profissional de outra área o contato religioso que ele teve

quando viveu no internato foi importante para enfrentar problemas e situações que

surgiram posteriormente na sua vida de educador.

O período de convivência do educador com os jesuítas fez com ele formasse

laços de amizade com pessoas com as quais teve contato, tanto que Nunes (2000),

ainda aponta alguns contatos pessoais de Anísio Teixeira. O seu professor padre

Cabral admirava os talentos do educador. Os dois tinham uma boa relação já que

Anísio Teixeira se tornou querido do padre Cabral. O padre procurou ajudar Anísio

Teixeira a decidir-se. Enquanto padre Cabral se preocupava em incentivar Anísio

Teixeira a seguir a carreira dos jesuítas, seu pai Deocleciano fez com que o filho

fosse para o Rio de Janeiro concluir o curso de direito. Em 1920 o educador escreve

uma carta aos pais dizendo que queria seguir a carreira de jesuíta. Seus pais não

aceitavam a ideia, porém do outro lado Anísio Teixeira não se identificava com a

área de Direito.

Anísio Teixeira ingressou na companhia de Jesus aos 12 anos de idade,

posteriormente o educador passou a ter a educação adquirida no colégio jesuíta

como referência para a sua vida. Em função disso Nunes (2000), escreveu que

desde os dezenove anos Anísio Teixeira estava balanceado entre a repugnância e a

vida secular, ora a vida religiosa. Em Janeiro de 1922, com quase vinte e dois anos,

seu espírito ainda estava preocupado e desassossegado. No entanto, em agosto do

mesmo ano, parecia novamente decidido, como já o estivera dois anos antes. E

estava realmente. É preciso, porém, compreender o significado dessa decisão.

Padre Cabral sentiu asperamente a irritação de Deocleciano com a “nova” resolução de Anísio. Ele via nesse filho um magistrado nato, o seu sucessor natural, futuro patriarca familiar, herdeiro dos Teixeiras, a quem caberia mandar e desmandar. E estava decidido a seduzi-lo também. O episódio mais significativo da surda luta de influências

17

travada entre Deocleciano e padre Cabral foi a chegada de Anísio em Caetité, em Janeiro de 1923, depois de todo um ano no Rio. (NUNES, 2000, p. 76).

A impressão que temos é que Anísio Teixeira estava no meio de uma disputa

onde duas pessoas, sendo essas seu pai Deocleciano e Padre Cabral tentavam

decidir o caminho do educador. No meio dessa situação de conflito o escolanovista

acabou se formando em direito aos 23 anos e em 1924 finalmente aconteceu o que

o seu pai desejava. O educador foi nomeado para o posto de diretor de instrução

pública do estado da Bahia, convidado pelo então governador da Bahia Francisco

Marques de Góes Calmon. (VIANA FILHO, 1990). Neste período Anísio Teixeira

iniciou a sua carreira na área da educação. Seu biógrafo Gouveia Neto (1973),

conheceu Anísio Teixeira neste período, e ele faz um relato do educador que vale

apena ser citado.

Eu conheci Anísio Teixeira ainda muito jovem, quando ele era secretário de Educação da Bahia e eu ingressava no serviço público estadual como mensageiro do gabinete do Diretor Geral do Departamento Estadual de Educação... Foi, portanto, por influência das ideias de Anísio Teixeira que me tornei professor primário.” (GOUVEIA NETO, 1973 p.1).

Se não bastasse o contato e trabalho que o escolanovista Anísio Teixeira

desenvolveu na educação do nosso país, ele também contribuiu para a formação de

alguns profissionais que com ele conviveram, e isso fica claro no relato que

acabamos de ler do seu biógrafo Gouveia Neto, que se tornou professor após

contatos com Anísio Teixeira.

O preparo na formação do escolanovista estava apenas começando, pois em

1929, fez mestrado no Teacher’s College da Universidade de Columbia, onde

confirmou a sua vocação de educador. Nos Estados Unidos, conheceu a força da

democracia, da liberdade de inteligência onde foram ampliadas as suas perspectivas

18

sobre inovações no campo educacional, baseadas, sobretudo, na filosofia de John

Dewey (1859-1952) de quem foi aluno (Viana Filho, 1990).

Como já vimos Anísio Teixeira foi criado em um ambiente que também era

político. Desde a sua infância começou a viver no meio de questões políticas. A

posição política do seu pai Deocleciano fez repercutir no educador algumas ações

voltadas para o espírito político e isso teve um grande significado para Anísio

Teixeira e seus outros familiares. Deocleciano desejava ver um dos seus herdeiros

sendo envolvidos pela carreira política. Entre os escolhidos de Deocleciano estava o

educador Anísio Teixeira, tanto que Nunes (2000) afirma: Anísio Teixeira seguiu as

recomendações paternas e em 1924 se aproximou de Góes Calmon, que no

momento era governador. A aproximação fez com que o educador fosse

posteriormente indicado para ser Inspetor Geral de ensino (Nunes, 2000, p.86).

A indicação de Anísio Teixeira... Provocou espanto. Provocou inveja e protesto. Isso foi encarado pelos padres do colégio Antonio Vieira como um sinal divino. No plano individual, Deus parecia delinear uma área de apostolado pela qual Anísio poderia resolver suas hesitações e até mesmo justificar uma possível renuncia à opção sacerdotal. No plano da Companhia, Deus fazia de Anísio um instrumento no sentido de ampliar a área de influência da Igreja dentro da estrutura do Estado. (NUNES, 2000, p. 87).

Mais uma vez o contato que Anísio Teixeira teve com os jesuítas se tornou

muito importante para a sua formação. Na escrita de Nunes compreendemos que ao

ingressar no campo educacional o educador provocou protesto, mas por outro lado

os envolvidos com a Companhia de Jesus, isto é, com o colégio Antonio Vieira, viam

nisso uma maneira do educador propagar o evangelho de Jesus.

Quanto às funções que deveriam ser exercidas por Anísio Teixeira na

instrução pública NUNES (2000), relata que o educador desconhecia as

providências que deveriam ser tomadas no cargo que ele acabava de assumir. Desta

19

maneira Anísio Teixeira procurou ajuda de Afrânio Peixoto e Antonio Carneiro Leão

que na ocasião era Diretor de instrução pública do Distrito Federal. O governador

Góes Calmon indicou a leitura de um livro: Métodos Americanos de Educação.

Ao assumir a Inspetoria Geral de Ensino, Anísio Teixeira levava a sua familiaridade com a política sertaneja; seu sentimento de católico fervoroso, congregado mariano, zeloso membro da liga da Comunhão frequente, que o impelia a comungar todos os dias na missa das sete, antes de entregar-se à azáfama dos relatórios, estudos e entrevistas; sua organização de pensamento e trabalho aprendida nos colégios jesuítas e seus conhecimentos jurídicos. (NUNES, 2000, p. 88).

Vale a pena destacar que, de acordo com o que constatamos, Anísio Teixeira

estava mais uma vez cercado de dúvidas. Se de um lado estava a influência e

posição política do pai, do outro estava a sua formação no colégio jesuíta e também

no curso de Direito. Agora, como se não bastasse, ele carregava também o peso de

ter assumido um cargo na área de educação - Inspetor da Instrução Pública da

Bahia.

“Diante disso Nunes (2000) escreveu que o educador viveu um período de

convergência entre a prática religiosa e a prática político familiar” (p.88). Em função

da nova responsabilidade, Anísio Teixeira teve que se envolver com a educação da

Bahia. A partir disso o educador sentiu na pele o tamanho da responsabilidade de

ter assumido o cargo de Inspetor na Instrução Pública, pois o educador acabou

constatando na época que as condições em que o ensino e a estrutura escolar

estavam se dando no período não eram nada agradáveis, e que para resolver tal

questão um bom trabalho teria que ser desenvolvido. Assim, as impressões inicias

de Anísio Teixeira em relação à instrução da Bahia não foram boas, pois foram

constatadas muitas falhas que precisavam ser reformuladas.

O governo não oferecia mobiliário escolar, nem o professor adquiria. Cabia ao aluno fornecer cadeiras e mesas. A pobreza permitia, no

20

máximo, o improviso em barricas, caixões, pequenos bancos de tábua, tripeças estreitas e mal equilibradas, cadeiras encouradas ou tecidas a junco. Como Anísio chegou a presenciar, o comum era os alunos escreverem no chão, estirados e bruços sobre papéis de jornal, ou então, fazerem seus exercícios de joelhos, ao redor de bancos ou à volta das cadeiras. (NUNES, 2000, p. 90).

Baseando-se no relato apresentado na citação, a situação escolar quando

Anísio Teixeira se tornou responsável da Inspetoria Geral de ensino da Bahia não

era das melhores. A situação era precária e faltava desde estrutura física até

mobiliários para a acomodação dos alunos. Para salientar a situação, Nunes (2000)

afirma que no contexto em que a educação se dava, existiam várias outras

dificuldades. “Faltava material didático, não existia fiscalização de ensino, os

professores eram despreparados” (p. 90). A autora ainda aponta que Anísio Teixeira

alavancou sua carreira na educação quando a Bahia passava por algumas

transformações que refletiram do processo de início de industrialização no Estado.

Na visão de Góes Calmon, a industrialização na Bahia apenas engatinhava e se as

boas escolas para todos era um alvo inatingível na sua administração, ele pretendia

pelo menos, realizar boas escolas para alguns.

A exigência em relação ao trabalho de Anísio Teixeira na instrução pública

aumentava cada vez mais. Em função disso o educador tinha que se inspirar em

tudo que o tinha levado ele a se construir como profissional da educação. Nesse

sentido é que Nunes (2000) aponta que por um lado o educador se moveu

baseando-se na concepção intelectualista dos jesuítas e por outro a influência

pedagógica.

Para Nunes (2000), a influência pedagógica era na verdade o iluminismo

pedagógico que se via presente na posição de Deocleciano, o pai de Anísio Teixeira.

Pois Deocleciano teria fundado e administrado uma escola e isso fez com que ele

21

tivesse experiência na área, apesar da escola por ele fundada não ter permanecido

em funcionamento por muito tempo e acabou sendo fechada. “Foi o prédio dessa

escola normal, como vimos, que acabou servindo como sede ao Colégio São Luiz de

Caitité, onde Anísio estudou” (Nunes, 2000, p.92).

Como relatado por Nunes (2000), em 1924, houve a desapropriação de um

terreno da cidade para a construção de um colégio jesuíta e outro de ensino religioso

facultativo. Anísio Teixeira estava envolvido no momento com o desenvolvimento e

melhoramento da educação pública da Bahia, mesmo sem saber se a função que

ele estava exercendo era realmente o que ele queria. Pois como apontado

anteriormente, a partir do momento em que o educador ingressou no cargo de

Inspetor da Instrução pública ele constatou que várias falhas existiam no sistema

educacional.

Decepcionava-o, na vida pública, as contrariedades e os revezes que ia sofrendo. Considerava a máquina estatal, apesar das intenções do governador Calmon, uma estrutura viciada pelos doze anos de seabrismo. Desacreditava da possibilidade efetiva de regeneração, não só pela imoralidade que já conhecia de perto, mas pela acomodação dos bem intencionados que, sem acreditar na possibilidade da reforma do estado, entregavam-se exclusivamente às tarefas de restauração administrativa. Para ele a função pública só deveria ser buscada pelos que já tivessem garantida a subsistência e almejassem com todo ardor servir ao país. (NUNES, 2000, p. 98,99).

Assim, o precursor da Escola nova no Brasil tinha como finalidade buscar

sempre a paz com dignidade e também propagar boas ações em busca da

santidade. Já ao se deparar com a realidade da área pública os objetivos não eram

os mesmos. Além de tudo, no momento em que o educador iniciou seu trabalho na

instrução pública o país ainda passava por uma fase de reformulação, que tinha sido

desencadeada pela república. A permanência de Anísio Teixeira no cargo não deve

ter sido nada fácil, pois a disparidade entre a formação jesuítica que caminhava em

22

busca da santidade e a realidade cruel da vida pública, que devia ser cheia de

conflitos, é muito grande. E isso faz entender que o educador se frustrou no

momento que ingressou na carreira pública.

Anísio Teixeira foi descobrindo aos poucos o quanto a sua formação anterior

era importante e estaria contribuindo para a função que estava exercendo. A

formação pessoal no meio político, a influência jesuítica e também a formação no

curso de Direito passaram a ser elementos importantes para o educador que estava

se deparando com situações que lhe causavam inquietações na Instrução pública da

Bahia.

Os conflitos constatados por Anísio Teixeira tinham como pontos fundamentais

desde problemas na estrutura física do sistema de ensino até mesmo ao problema

de má formação dos docentes, condições necessárias para o trabalho, passando por

questões salariais. Segundo Nunes (2000), nesse contexto os professores

questionavam a situação na qual estavam trabalhando. Eles reivindicavam melhorias

nas suas condições de trabalho. Para melhorar e amenizar tal conflito, Anísio

Teixeira como Inspetor da Instrução Pública tomou uma atitude que pudesse diminuir

aquela confusão. “Anísio concedeu uma audiência pública aos professores primários

explicando a sua proposta em busca de melhorias no ensino”. (Nunes, 2000, p. 101).

Como ainda constatamos nas leituras realizadas a partir das interpretações de

Nunes (2000), Anísio Teixeira, que estava envolvido com a secretaria de Educação

da Bahia, por todo seu desempenho e em função do cargo que ocupava no ano de

1927, acaba tendo uma oportunidade de expandir suas atividades no estudo da área

educacional. Agora não mais no Brasil e sim nos Estados Unidos. O governador

Góes Calmon que teria indicado Anísio Teixeira para o cargo de Inspetor da

23

Instrução Pública se movimentou a favor de comissionar alguém para estudar e

observar a educação dos Estados Unidos. Na escrita de Nunes (2000), se vê que

nesse contexto Anísio Teixeira acabou sendo selecionado e todos da assembleia

legislativa aprovaram a ideia. “A assembleia legislativa aprovou e concedeu trinta

contos de réis para custear a viagem de Anísio” (Nunes, 2000, p.108). O educador

permaneceu por seis meses nos Estados Unidos. “De maio a Novembro” (Nunes,

2000, p.108), Lá, entrou em contato com propostas educacionais que fizeram

despertar em Anísio Teixeira o interesse pelas características da educação

Americana. A constatação que ele teve da educação daquele país contribuiu para

que ao retornar para o Brasil publicasse a obra “Aspectos Americanos de Educação”.

O livro acabou sendo distribuído entre os profissionais da secretaria de Educação da

Bahia na época, e se referia a um relatório das observações e conclusões que o

educador teve no país americano.

A opção de Anísio nesse momento não pode ser vista como um mero fato. Foi uma construção extremamente elaborada, que se iniciou em 1924 e não findou em 1927. Pelo contrário, essa resolução o introduziu em um processo de renovação interior que exigiu o despojamento de antigas verdades e criou condições para uma nova interlocução consigo mesmo e com o mundo. (NUNES, 2000, p. 122).

Para enfatizar a finalidade da obra publicada por Anísio Teixeira, Geribello

(1977) afirma que a publicação da obra “Aspectos Americanos de Educação”, refere-

se a um relatório feito pelo educador Anísio Teixeira para entregar ao governo, já que

ele havia sido comissionado para fazer pesquisa no sistema de ensino americano. O

modelo de educação americana influenciou o pensamento pedagógico de Anísio

Teixeira, durante a sua trajetória como educador, fato que levou Monteiro Lobato a

tecer o seguinte comentário:

24

(...) É o nosso grande Anísio Teixeira, a inteligência mais brilhante e o maior coração que já encontrei nestes últimos anos da minha vida. O Anísio viu, sentiu e compreendeu a América e aí te dirá o que significa esse fenômeno novo no mundo. Ouve-o, adora-o como todos os que conhecemos e adoramos. (...) Anísio lapidado pela América. (LOBATO. Apud AZEVEDO, p.127 1973).

A ida de Anísio Teixeira aos Estados Unidos, não poderia ter sido melhor, pois

as experiências vivenciadas por ele no país fizeram com que ele chegasse ao Brasil

cheio de propostas inovadoras para reformular a educação da Bahia e também no

âmbito nacional. Isso fez reforçar cada vez mais no educador o espírito de

democracia e muitas perspectivas para a área educacional. Dentro desse contexto

Lima (1978), aponta que a vivência de Anísio Teixeira na “atmosfera antidogmática

do ensino, as aberturas da pesquisa e da especulação filosófica conduziu-o a

conceber e a interpretar o mundo fora da linha jesuítica em que vivia” (p. 61).

A lição veramente importante aprendida por Anísio da experiência educacional americana é que mediu com os próprios olhos o papel de um sistema educacional na história da civilização mais industrializada, rica e poderosa. Não se limitava a educação ao processo de conservar e envernizar o estabelecido, mas igualmente se destinava a expandir e mudar. O arsenal americano de teorias e práticas pedagógicas opunha-se a concepção elitista de sua formação católica jesuítica. Fadado a dividir os indivíduos não por aptidões de inteligência, mas por classes da estrutura social, o elitismo filia-se a concessão aristocrática da vida. (LIMA, 1978, p.60-61).

Em 1931, Anísio Teixeira foi nomeado para o cargo de diretor-geral da

Instrução Pública do Distrito Federal. Em seu mandato realizou a reforma da rede

de ensino, integrando o ensino da escola primária à universidade. No ano de 1932 o

educador tornou-se um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova, que divulgava diretrizes de um programa de reconstrução educacional para o

país1. Em 1935 criou a Universidade do Distrito Federal do Rio de Janeiro, e a ela

1 Dicionário de Educadores no Brasil

25

incorporou a Escola de Professores com o nome de Escola de Educação (SAVIANI,

2008).

Ao analisar a trajetória de Anísio Teixeira, pode-se entender que ele estava

cada vez mais envolvido com a área educacional. Aquilo que era desejo do seu pai

estava cada vez mais se concretizando. Anísio Teixeira estava atuando na educação

da Bahia de uma maneira aparentemente integral. Sua atividade na função que

exercia era tão intensa que foi encontrado o seguinte comentário de um dos seus

biógrafos. “Mais do que um gestor escolar de excepcionais qualidades, Anísio

Teixeira era também um pensador, um homem inquieto, que desejava ver a

educação renovada” (p.25). (GOUVEIA NETO, 1973).

Cidadão íntegro, puro, decente. Além de inteligentíssimo, dono de cultura invulgar, mestre inconteste no que se refere à educação, Anísio Teixeira foi um brasileiro raro. Tão extraordinário a ponto de ter sido alvo durante toda a vida de restrições, suspeitas, aleivosias, perseguições, misérias de todo o tipo com que os imundos o perseguiram - sobram imundos no Brasil. Tentaram de todas as maneiras impedir Anísio Teixeira de realizar sua missão civilizadora mas ele era irredutível e invencível. O que o Brasil de hoje possui de melhor e de maior deve-se em grande parte a este humanista baiano de grandeza universal2.

Como Pioneiro de implantação de escolas públicas de todos os níveis, Anísio

Teixeira era um idealista influenciado pelas ideias de John Dewey. Esta influência

estava muito presente em sua concepção transformadora da educação pública como

um instrumento para democratização do país. Foi também um dos mais

conceituados participantes do movimento de reconstrução nacional na década de

1930, e isso fazia com que educadores e outras pessoas que o conheceram ou o

acompanharam o admirassem. (GOUVEIA NETO 1973). Neste sentido, Gouveia

2 Fonte: (AMADO apud http://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%ADsio_Teixeira)

26

Neto em seu livro Anísio Teixeira – educador singular (1973) apresenta uma citação

de Gilberto Freyre sobre Anísio Teixeira.

Anísio Teixeira era, com efeito, um antecipado aos homens de sua própria geração no modo de procurar resolver os problemas brasileiros por uma renovação de métodos mais apolíticos do que políticos de ação que importasse para o Brasil em verdadeira modernização social. Modernização, principalmente da sua cultura, num sentido mais amplo e mais profundo que o entrevisto pelos modernistas do Rio e de São Paulo3.

São muitas as informações coletadas sobre Anísio Teixeira e no decorrer

deste capítulo foram encontradas várias descrições do educador, cujas

características apresentadas fazem com que Anísio Teixeira seja pensado como um

intelectual que teve a educação com uma prioridade na sua vida.

Porto Jr. escreve que entre as modificações que Anísio Teixeira propôs,

destacou-se a campanha de expansão e modernização do sistema escolar no nível

primário e médio, e isso também elevou o nivel do ensino técnico–profissional que

antes era destinado ao filho do trabalhador–operário ao secundário que era

anteriormente reservado para aqueles que continuariam seus estudos no ensino

superior. Anísio Teixeira criou o Instituto de Educação como modelo, contando com

todos os níveis de ensino – desde jardins de infância, escola primária experimental,

curso ginasial, curso profissional e níveis superiores4.

Como afirma o biógrafo Gouveia Neto (1973), Anísio Teixeira foi sonhador,

pois desde o início da sua carreira de educador até o fim da sua existência manteve

a chama do seu ideal acesa, servindo a educação de sua pátria. Acreditava na

3 FREYRE, apud GOUVEIA NETO 1973. p.78 4 Francisco Gilson Rebouças Porto Junior: pesquisador da faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Disponível em: www.ensayistas.org/filosofos/brasil/teixeira/critica/porto.htm

27

educação como um instrumento capaz de conduzir o homem à sua plena realização.

“Era idealista e viveu uma vida de trabalho, de lutas e realizações” Gouveia Neto

(1973, p.10).

Anísio Teixeira era uma flama, uma labareda consumindo-se no amor do Brasil, num trabalho ininterrupto para a construção de uma verdadeira nação feita de cultura, de liberdade, de fartura. Sua paixão maior, sua trincheira principal de luta, foi a educação, mas era um educador no sentido mais lato do termo, um criador de civilização5.

Segundo Gandini (1980. p. 56), o discurso teórico de Anísio Teixeira priorizava

dois pontos: “A necessidade da construção de uma sociedade democrática e a

adaptação dessa mesma sociedade baseada na técnica e na ciência”. Entendemos

a partir da afirmativa da autora que Anísio Teixeira tinha como objetivo implantar uma

educação de caráter democrático. Para enfatizar isso, ainda vimos em Gandini

(1980) a seguinte posição em relação ao educador.

A educação seria um dos principais meios para se atingir esses dois objetivos. Ao lado dessas premissas, Anísio Teixeira fez uma série de observações críticas pertinentes, tais como: educação por si não produz a civilização; não seria somente a falta de escolas o problema, mas o tipo de escola existente; não seria a transplantação de sistemas escolares de outros países que resolveria o nosso problema de educação; a alfabetização pura e simples além de não resolver os problemas, pode criar outros, como por exemplo tornar o indivíduo preso as propagandas fáceis e perturbadoras, discussões que ainda hoje são colocadas nos termos e com sabor de novidade, em alguns círculos.(GANDINI, 1980, p. 56).

Gandini (1980), ainda afirma que Anísio Teixeira defendia a escola como

sendo uma das vias da eliminação da desigualdade entre as classes, a escola

comum se tornaria então, um ambiente próprio para receber crianças de todas as

classes sociais. Diante disso Anísio Teixeira levou a sua vida na área da educação

de uma forma tão intensa que começou a ser perseguido pela pelo regime militar da

sua época e também foi criticado pela igreja.

5 “Mestre Anísio”, de Jorge Amado, artigo na tribuna da Bahia, caderno 3, Salvador, 20 de Março de 1973.

28

Cury (1978) contextualiza a posição da igreja perante o grupo de liberais da

educação do qual Anísio Teixeira fazia parte. Segundo ele a Igreja Católica defendia

uma filosofia integral em que os pressupostos éticos e religiosos deveriam ser

aplicados sobre o Estado e às instituições da sociedade civil de modo normativo. Por

outro lado, os liberais da educação defendiam seus pressupostos em torno do papel

do Estado como mediador entre as necessidades emergentes e o novo espírito da

época.

Cury (1978), ainda salienta que os pioneiros6, tais como o educador Anísio

Teixeira, se baseavam na ciência. E esse era um dos motivos do conflito existente

entre a eles e a igreja. De um lado a igreja católica defendia que a sociedade

deveria aceitar Deus pela luz natural da razão e a sua revelação aos homens por

meio de Cristo e a igreja, pois isso era visto pelos católicos como o primeiro passo a

ser dado a caminho da reconstrução social ou individual. Do outro lado, os liberais

reformadores defendiam que a reconstrução social e individual só seria possível

através da educação.

Assim, como contextualiza Cury (1978), enquanto a igreja pregava a sua

ideologia baseada nas crenças de que os homens tinham que segui-las para garantir

um bom lugar para si após a morte, os liberais se preocupavam com o bem estar

dos homens na terra. Diante desses acontecimentos Anísio Teixeira e outros liberais

da educação foram criticados pela igreja, chamados de positivistas7 e até de

comunistas8.

Nesse contexto Gandini (1980), também destaca que a igreja católica acabou

conquistando algumas coisas defendias por ela no conflito. Ela aponta que os 6 Ligado ao positivismo, doutrina segundo a qual toda a atividade filosófica e cientifica deve efetuar somente

no quadro das analise dos fatos verificados pela experiência, rejeitando toda a atitude metafísica 7 . 8 Membro de partido comunista; partido cuja doutrina valoriza a coletivização dos meios de produção, a

repartição dos bens de consumo e a supressão das classes sociais.

29

católicos conseguiram um objetivo que para eles era fundamental: acabar com a

laicidade da Constituição de 1891, fato esse que se desdobrou em diversas

conquistas, tais como: assistência espiritual e hospitalar às forças armadas, voto dos

religiosos, liberdade dos sindicatos operários católicos, descanso dominical,

reconhecimento do casamento religioso para fins civis, autorização dos cemitérios

religiosos, aprovação do ensino religioso nas escolas primárias, secundárias e

normais durante o período normal das aulas.

Gandini (1980) ressalta que os liberais também tiveram vantagens em

algumas questões. Foram aprovadas várias propostas que foram incorporadas à

Constituição e entre elas está a garantia da educação pública, gratuita, universal e

também subvenções dos cofres municipais, estaduais e federais e outros recursos

extras a fim de subsidiar a educação. Nesse momento alguns projetos de laicidade

apresentados para melhoria do ensino foram negados, isso constou como derrota

dos reformadores.

As perseguições feitas ao educador Anísio Teixeira não cessam por aqui. Em

Agosto de 1936, vários intelectuais foram presos9. O educador Anísio Teixeira ficou

sem receber salário e muitos problemas surgiram. Isso porque o regime militar

dirigido por Getúlio Vargas ditava regras que tinham que ser seguidas e eram

opostas ao pensamento de Anísio.

No ponto de vista de Nunes (2000), Anísio Teixeira, era fiel no que fazia. Além

de ser corajoso e insistente quando se tratava de desempenhar o papel de militante

da educação. A autora (2000), ainda aponta que o educador não abria mão do

espírito de inquirição. Diante disso Anísio Teixeira foi perseguido pela ditadura

varguista, sendo exilado e amordaçado por alguns anos. A era getuliana, como

9 NUNES 2000, P. 495

30

destaca Nunes (2000), se traduziu pela angústia generalizada de um grande e

intolerável perigo. “Anísio saiu da gestão pública de educação da capital federal

acusado de comunista, materialista e tapeador público” (p. 496).

Conforme Rebouças10, mesmo sofrendo com as perseguições, Anísio Teixeira

não deixou de lutar pela educação do país. As modificações que ele fez enquanto

atuava no cenário brasileiro foram importantíssimas: A escola pública passou a

ganhar imponência, isto é respeito. Os privatistas11 não gostaram disso quando

aplicado na escola pública. Perante esse quadro Anísio Teixeira foi atacado pela

igreja católica, acusado de ser materialista comunista e querer levar a mocidade à

degradação espiritual.

Como destacado por Nunes (2000. p.53,54), Anísio Teixeira desejava ser

educador. Conforme se vê ao longo das leituras, Anísio Teixeira foi na verdade um

educador político, pois viveu intensamente em busca de melhorias no campo

educacional brasileiro.

Gouveia Neto (1973), apresenta um relato de uma professora chamada

Juracy Silveira que teria acompanhado Anísio Teixeira, quando ele era Diretor de

Departamento de Educação e depois como Secretário de Educação e Cultura no Rio

de Janeiro. Juracy teve oportunidade de fazer uma análise sobre Anísio Teixeira. E

em seu depoimento a professora declara:

...Escola preocupada, igualmente, no desenvolvimento do capital humano da sociedade brasileira, num esforço consciente de formar trabalhadores de todos os ramos - intelectual, científico, técnico. Foi esse o propósito que dirigiu a ação de Anísio Teixeira após ter observado que as escolas existentes eram na sua maioria inadequadas à nova ordem política, econômica e social. Daí a sua

10 Francisco Gilson Rebouças Porto Junior: pesquisador da faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Disponível em: www.ensayistas.org/filosofos/brasil/teixeira/critica/porto.htm 11 Pessoa que se opõem as coisas publica; defendem a particularidade, caráter não publico.

31

preocupação em estender e melhorar o ensino primário, em ampliar e enriquecer as oportunidades de ensino médio, em propiciar aos adultos, além dos instrumentos fundamentais da cultura, o ensino de extensão, visando ao aproveitamento de aptidões de modo a permitir que os indivíduos melhor se ajustassem aos quadros de produção exigidos pela comunidade para o pleno desenvolvimento de suas potencialidades econômicas 12.

Ghiraldelli Jr. (1994), destaca que muitos educadores considerados liberais,

adeptos do escolanovismo ocuparam cargos na burocracia estatal entre os anos 20

e 30 e Anísio Teixeira teria sido um desses ocupantes. A partir de 1932 Anísio

Teixeira daria continuidade à obra de reformulação pedagógica do Distrito Federal

começada por Fernando Azevedo em 1928. (GHIRALDELLI JR. 1994)

Recém chegado dos Estados Unidos, Anísio tentou colocar em prática não só

os princípios pedagógicos escolanovistas, mas também tentou implementar uma

política educacional para o distrito Federal que viesse no sentido da democratização

do ensino, no estilo típico do novo liberalismo americano que via no

redirecionamento da escola o meio eficaz de diminuir as desigualdades sociais

geradas pelo capitalismo. (GHIRALDELLI JR. 1994).

Mas após sua chegada no Brasil, Anísio alegou que estava com problemas

financeiros e também pediu exoneração do cargo de Diretor da instrução pública.

Sua saída levantou muitas criticas já que algumas pessoas viam nele a chance de

melhoria no setor educacional. (NUNES, 2000).

Em 1946 assumiu o cargo de conselheiro da Organização das Nações Unidas

para a educação, ciência e cultura (UNESCO13). Em 10 de Abril de 1947 Otávio

Mangabeira é eleito governador da Bahia. Por mais uma vez o educador Anísio

12 SILVEIRA. Apud. GOUVEIA NETO 1973. p.94 13 UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura foi fundada em 16 de novembro de 1945

32

Teixeira é convidado a ser secretário de educação do seu Estado. O educador

poderia nesse período desenvolver seus planos com autonomia, pois, Mangabeira

confiava em Anísio Teixeira e valorizava a sua pessoa. (GOUVEIA NETO. 1973 p.

27). Ainda na sua segunda gestão como secretário de educação da Bahia ele

contribuiu para a criação da Lei Orgânica do Ensino que tinha como finalidade

permitir que os serviços educacionais pudessem ter autonomia, também criou o

Centro Educacional Carneiro Ribeiro14 (GOUVEIA NETO, 1973):

Na sua concepção pedagógica o Centro Educacional Carneiro Ribeiro com a escola Parque e as Escolas-Classe significou a mais avançada resposta quanto ao tipo de instituição escolar capaz de realmente preparar a criança para a vida moderna, para uma sociedade em mudança. (GOUVEIA NETO 1973 p. 33).

Em 1951 Anísio Teixeira ainda assume cargo de secretário geral da CAPES –

Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - e em 1952 assume

o cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), onde

permaneceu até o ano de 196415. Em Dezembro de 1961 a educação brasileira é

marcada por dois importantíssimos acontecimentos: A criação da Universidade de

Brasília e a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – (LDB).

Em 1963 Anísio Teixeira torna-se reitor da Universidade de Brasília quando Darcy

Ribeiro que estava na reitoria precisou se afastar para assumir a chefia de gabinete

Civil da presidência da República. (GOUVEIA NETO, 1973).

Como salienta Gouveia Neto (1973) Anísio Teixeira era um grande estudioso

dos problemas relacionados ao ensino superior e a vida das Universidades.

Escreveu ensaios sérios e profundos. Segundo o autor (1973), a Universidade de

Brasília foi o primeiro passo dado a favor de Reformas das universidades brasileiras 14 Centro Educacional Carneiro Ribeiro : escola idealizada por Anísio Teixeira para o ensino em período integral 15 Disponível em: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/anisio-teixeira/anisio-teixeira.php

33

que se iniciariam mais tarde. Muitas das ideias nascidas com a criação da UNB,

frutificariam e se desenvolveriam em muitas outras universidades.

Com o golpe de 1964, Anísio Teixeira acabou sendo afastado do cargo de

reitor. Foi para os Estados Unidos, lecionar nas universidades de Columbia e da

Califórnia16. Conforme Nunes (1999), nesse período Anísio Teixeira lecionou como

visiting scholar 17na Columbia University (1964), na New York University (1965), e na

University of Califórnia (1966). Voltou ao Brasil posteriormente e continuou se

dedicando a educação do país.

Como afirma Nunes (2000), em toda sua produção, Anísio Teixeira, tinha como

tema a democracia no âmbito da escola e fora dela. Nesse sentido elaborou uma

interpretação de conjunto da história, da sociedade e da educação brasileira ao

buscar construir uma ponte entre a reforma da sociedade pela educação e

renovação cultural desejada, no sentido da valorização da ciência, da

industrialização e da democracia.

Anísio Teixeira deslocou a carência do indivíduo para a omissão dos governos na direção da reconstrução das condições sociais e escolares, e isso ficou patente nas medidas concretas que assumiu para alargar as chances educativas das crianças das classes populares e para dotar a escola publica de um ensino de qualidade. (NUNES, p. 5918)

Nunes (2000) ainda ressalta que Anísio Teixeira concebeu a escola como um

espaço real no qual crianças de todas as classes pudessem ter uma vida e uma

formação melhor: tendo garantido o acesso aos livros, revistas, estudos, recreação,

saúde, professores bem preparados, ciência, arte, clareza de percepção e critica.

16 Disponível em: www.centroeducacional.com.br 17 Traduzido para o português: Acadêmico de visita 18 Citado no Dicionário de Educadores no Brasil

34

Não se preocupou apenas com a ampliação do número de matrículas, mas também

levou em consideração o projeto pedagógico voltado para a escola (p. 60).

Anísio jamais separou o seu pensamento e suas teorias da trajetória pessoal. Ele escreveu o que viveu. Escondeu emoções debaixo de uma impessoalidade de que se desmorona quando passamos a articular o processo de produção escrita à sua biografia. (Nunes, 2000, p. 30).

Anísio Teixeira publicou várias obras. Nessas obras o educador manifestava as

suas intenções, contestações e pensamento em relação a educação do país. A

primeira obra que foi publicada pelo educador foi: “Aspectos Americanos de

Educação” (1928). Esse livro foi escrito pelo educador após sua viagem aos Estados

Unidos onde, em contato com Dewey, começou a ter novos parâmetros em relação a

educação. Em 1956 ele produz a obra: “A educação e a Crise Brasileira”. No ano de

1977 seis anos após a morte de Anísio Teixeira, a editora Nacional faz a segunda

edição do livro “Educação e o Mundo Moderno”. O educador também publicou obras

que retratassem a educação superior do país; então no ano de 1998 é reeditado

pela Universidade Federal do Rio de Janeiro o livro “Educação e Universidade”.

Em 1969, Anísio lança a obra “Educação no Brasil”, posteriormente surge sua

obra “Educação não é Privilégio” que é reeditado pela quinta vez no ano de 1994

pela editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre outras obras temos

“Educação para a Democracia: Introdução à Administração Educacional” e também

“Educação Progressiva: uma Introdução à Filosofia da Educação” (1934), “Em

Marcha para a Democracia: à Margem dos Estados Unidos” (1934), “Ensino Superior

no Brasil: Análise e Interpretação de sua Evolução até 1969” editado em 1989 pela

Fundação Getúlio Vargas, “Pequena Introdução à Filosofia da Educação: a Escola

Progressiva ou a Transformação da Escola” (1968) e também “Diálogo sobre a

Lógica do Conhecimento” feito em conjunto com Mauricio Rocha e Silva.

35

Morreu em 11 de março de 1971, de modo misterioso. Seu corpo foi encontrado

no poço do elevador de um edifício no começo da Avenida Rui Barbosa, no Rio. A

polícia considerou a morte acidental, mas a família do educador suspeita de que ele

possa ter sido vítima da repressão do governo do general Emílio Garrastazu Médici.

(GOUVEIA NETO, 1973).

Foram muitas as produções de Anisio Teixeira. Além de seus livros também foram

produzidos durante a sua existência, artigos, trabalhos de participação em

congressos e discursos que compuseram a sua formação pessoal, profissional e

intelectual.

Enfim, baseando-se na contextualização da trajetória de Anisio Teixeira que foi

vista em suas obras e nas de seus biógrafos, presume-se que sua vida foi cheia de

encontros mas também desencontros. Primeiro porque decidir entre ser jesuíta ou

ter outra profissão não deve ter sido tarefa fácil para ele. Ainda mais com a

imposição do pai e pelo contato que teve com a Companhia de Jesus e com o padre

Cabral. Por outro lado também se deduz que o escolanovista permaneceu em

conflito ao ingressar na área pública. pois apesar de ter convivido com o seu pai

Deocleciano, que era um representante do setor público, verifica-se ao longo dos

estudos que Anisio Teixeira não dominava os assuntos da carreira que assumiu.

Sem contar que quando ele conheceu a realidade da vida pública achou que o setor

não era lugar para qualquer pessoa que quisesse atuar no local, mas era um lugar

cujas pessoas que ali entrassem para trabalhar deveriam estar realmente dispostas

a assumir uma carreira profissional para se dedicar ao país.

Anisio Teixeira se preocupou com a sociedade e mesmo sendo filho herdeiro de

familia rica pensou nas pessoas que eram de classe média e baixa, e tentou

transferir a responsabilidade da carência das pessoas para o Estado. Se foi com o

36

pensamento de jesuíta ou pensamento de politico não se pode afirmar. Mas pode ser

com ambos, pois se considera que ele atuou como politico mas com o pensamento

influenciado pela companhia de Jesus e tudo indica que Anisio Teixeira queria

mesmo é contribuir para a reconstrução do Brasil para que o país se tornasse mais

igualitário e equiparado.

Entende-se que antes de Dewey influenciar a formação de Anísio Teixeira a sua

formação já tinha sido iniciada no colégio jesuítas e na faculdade de bacharel em

direito. Conforme se encontra nos conteúdos de contextualização da vida

profissional do educador sabe-se que ele ingressou no colégio jesuíta em 1912 com

12 anos de idade. Formou-se em direito em 1923 e com 27 anos viajou aos Estados

Unidos. Então foi entre os anos de 1927 a 1929 que Anísio Teixeira entrou em

contato com Dewey, quando cursou mestrado no Teacher’s College da Universidade

de Columbia. Entre o período em que ele estudou na Companhia de Jesus e entrou

em contato com Dewey existiu um período de tempo de 17 anos. Logo, quando

Anísio Teixeira conheceu Dewey ele já tinha realizado alguns estudos e trabalhos no

Brasil.

Posteriormente Anísio Teixeira se tornou um liberal da educação. Gandini

(1980) entende que: A formação liberal de Anísio Teixeira está ligada a uma

determinada fase do liberalismo: o liberalismo conservador pragmático,

especialmente a forma como foi teorizada por Dewey. Esse tipo de doutrina

representa uma solução para os problemas de sobrevivência do liberalismo na fase

monopolista do capitalismo, embora aparentemente tenha surgido como uma

resposta negativa às transformações desse período. A solução de Dewey para as

necessidades de substituição do individualismo do liberalismo clássico trouxe as

37

conseqüências imediatas á esfera da educação, uma vez que esta era considerada

o principal meio para a completa realização do individuo através do grupo social.

A autora (1980), ainda afirma que a formação liberal de Anísio Teixeira é que

alavancou duas propostas principais por parte do educador, tais como: A escola

única e escola Nova, e é isso que será tratado no próximo ponto.

1.2: ANISIO TEIXEIRA E A ESCOLA NOVA

Após entrar em contato com Dewey nos Estados Unidos Anisio Teixeira acaba

voltando ao Brasil cheio de inovações e ideias que acabaram sendo implantadas no

país. Gandini (1980), aponta que Anisio Teixeira tinha dois pontos que ele

considerava fundamentais em relação a educação brasileira: a necessidade da

construção de uma sociedade democrática e a adpatação dessa mesma sociedade

a uma civilização baseada na técnica e na ciência. A autora19 coloca que o Manifesto

dos Pioneiros da Educação nova (1932), deixa explícito a importância que foi

atribuida à criação da escola única, com apoio do Estado, como fórmula

democratizadora. Anisio Teixeira também foi participante do movimento de 1932. O

educador Paschoal Lemme relata em sua obra o que constou no documento do

Manifesto dos Pioneiros que foi lançado no ano de 1932 em favor da escola única.

Como aponta Lemme (2004), o manifesto dos pioneiros tinha por objetivo

principal indicar rumos que consolidassem a obra de renovação que pretendiam

realizar em todos os setores da vida nacional. Por outro lado GANDINI (1980) vai

dizer que mesmo existindo uma preocupação, no discurso do Manifesto e na

proposta da escola única no sentido de minimizar os efeitos do individualismo e do

19 GANDINI 1980 p. 58

38

próprio capitalismo, não altera a objetividade dos fins visados pelos ideólogos da

escola nova.

I – Movimento de renovação educacional;

II – Diretrizes que se esclarecem;

III – Reformas e a Reforma;

IV – Finalidades da Educação;

V – Valores mutáveis e valores permanentes;

VI – O Estado em face da educação:

a) A educação, uma função essencialmente pública;

b) A questão da escola única

c) A laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e co-educação

VII – A função educacional:

a) A unidade da função educacional;

b) A autonomia da função educacional;

c) A descentralização.

VIII – O processo educativo; O conceito e os fundamentos da educação Nova;

IX – Plano de reconstrução educacional;

a) As linhas gerais dos planos;

b) O ponto nevralgico da questão;

c) O conceito moderno de universidade e o problema universitário no Brasil.

d) O problema dos melhores.

X – A unidade da formação de professores e a unidade de espírito;

XI – O papel da escola na vida e sua função social;

XII – A democracia – um programa, longos deveres.

39

Gandini (1980), ainda coloca que na verdade Anisio Teixeira propôs uma

limitação progressiva ao conceito de “escola comum”, que ele contorna com a

substituição do termo pelo de “escola para todos”. Anisio Teixeira defendia a escola

comum para que houvesse uma educação comum, tanto que para dar ênfase a isso

ele produziu uma obra intitulada: “Educação não é Privilégio”. Nessa obra o

educador (1968), coloca que:

A educação comum, para todos, já não pode ficar circunscrita à alfabetização ou a transmissão mecânica das três técnicas básicas da vida civilizada – ler, escrever e contar. Já precisa formar, tão solidamente quanto possível, embora em nivel elementar, nos seus alunos, hábitos de competência executiva ou seja, eficiência de ação, hábitos de sociabilidade, ou seja, interesse na companhia de outros, para o trabalho ou o recreio; hábitos de gosto, ou seja de apreciação da excelência de certas realizações humanas (arte); hábito de pensamento e reflexão (método intelectual) e sensibilidade de consciência para os direitos e reclamos seus de outrem. (TEIXEIRA, 1968, p. 78).

Em outra de suas obras - “Educação no Brasil”, Anisio Teixeira destaca:

A escola brasileira é que lhe irá ensinar a compreender o Brasil, mostrar-lhe a sua evolução, apresentar-lhe a sua estrutura social em transformação, indicando-lhe os defeitos arcaicos e as qualidades novas em surgimento, dar-lhe consciência dos seus triunfos e dos seus caracteristicos, com exaltação dos aspectos originais – a sua democracia racial, por exemplo, para com a parcela ainda desintegrada da nação: os analfabetos, os miseráveis, a população rural que vegeta por esse imenso país afora; o espirito de aproveitamento que o estado de pobreza gera em todos que sobem á tona e escapam à de ser no país apenas povo, a corrupção generalizada que é mais do que tudo, manifestação de alienação, de que o Brasil não é um bem comum, mas algo antes apropriado por privilegiados e hoje assaltado pelos que conseguem tomar um pouco das mãos de tais privilegiados e ganhar, deste modo, o direito de também explorá-lo em seu próprio beneficio. (TEIXEIRA, 1968, p. 321,322).

Entede-se que Anisio Teixeira via na escola a solução para os problemas da

nação brasileira. O educador acreditava que a pobreza, a falta de igualdade de

direitos e de democracia racial, além da analfabetização, eram problemas que

poderiam ser resolvidos se a escola brasileira se propagasse e se tornasse acessivel

40

a todos os brasileiros. Por isso valorizou e lutou pela educação do país. Essas

informações são importantes, pois descrevem Anisio Teixeira de uma maneira

detalhada e que leva a imaginar como era o educador. No próximo ponto houve o

objetivo de reconhecer as impressões que se tinham do educador. Para isso nos

apropriamos de leituras de alguns teóricos e intelectuais que também ajudaram na

realização desse estudo. Chega-se a várias constatações de quem foi Anisio Teixeira

a partir do estudo do próximo capítulo.

41

CAPÍTULO 2: PENSAMENTO QUE TINHAM DE ANISIO TEIXEIRA

Como vimos no primeiro capitulo, Anísio Teixeira teve uma vida intensa na

área educacional. Foi precursor da Escola Nova no Brasil, participou da secretaria

de educação da Bahia, contribuiu com a criação da Universidade de Brasília, fundou

centros de educação. No presente capitulo se buscou conhecer o que pensavam do

educador, já que além de ter contribuído para a educação do país ele também foi

criticado e perseguido pela oposição. É nesse sentido que foi desenvolvido um

estudo que destaca depoimentos e relatos de alguns biógrafos e profissionais que

escreveram sobre Anísio Teixeira. Essas informações foram importantíssimas, nos

sentido de que ajudou a entender melhor a existência do educador Anísio Teixeira.

2.1: RELATOS E DEPOIMENTOS SOBRE ANISIO TEIXEIRA

Para entender o surgimento de Anísio Teixeira buscaram-se algumas

referências de abordagens históricas que contextualizam o momento em que ele

começou a ganhar destaque. Desta forma encontramos em Ghiraldelli Jr. (1994),

que entre os anos de 1930 e 1937 o Brasil viveu um dos períodos de maior

radicalização política da sua história. Foi um momento rico na diversidade de

projetos para que fosse implantada no país uma nova política educacional. A partir

disso surgiram os liberais–intelectuais, que desejavam a construção de um país em

bases urbanas industriais democráticas e na área educacional pretendiam implantar

a Escola Nova.

Em oposição aos liberais estavam os católicos que defendiam a pedagogia

tradicional. Os católicos reagiram ao Manifesto dos Pioneiros da Educação (1932)

42

realizado por vinte e seis liberais e profissionais da educação. Nesse contexto

organizaram a Liga Eleitoral Católica (LEC), que serviu como instrumento de

pressão para fazer valer os interesses católicos gerais na elaboração da Carta

Magna. (Ghiraldelli Jr. 1994).

Liberais Católicos, integralistas20, governistas21 e aliancistas22 fizeram parte

do debate político e educacional dos anos 30. Todos pensavam na reconstrução do

país. Foi então em meio a esse movimento que Anísio Teixeira começou a ter

destaque. Encontramos em Gandini (1980), uma característica que a autora usa

para descrever o educador: “Anísio foi uma das figuras mais polêmicas da evolução

educacional brasileira”. (Gandini, 1980)

Já na biografia escrita por Viana Filho (1990), encontramos o seguinte

comentário sobre Anísio Teixeira:

Liberal, infenso a todas às violências, Anísio, no fundo, conservava certa pureza, por vezes, raiando pela ingenuidade. Não tinha, porém como se libertar da pecha de comunista. E tenaz campanha envolveu implacavelmente quando realizava no campo da educação. (VIANA FILHO, 1990, p. 73).

Viana Filho (1990) tinha boas impressões de Anísio Teixeira. Constatamos

isso através de seus relatos apontados na obra: Anísio Teixeira – A Polêmica da

Educação. O autor (1990) destaca que dificilmente Anísio Teixeira agia injustamente.

Pois o educador passou do catolicismo para o liberalismo, assim ele foi acusado de americanizar a educação e também de ser comunista. Devoto de Dewey, Anísio via-se contrariamente acusado de comunista, mácula da qual jamais se libertaria [...]. Marx nunca fora do seu convívio. (VIANA FILHO, 1990, p.75).

20 Integralismo: doutrina ligada ao movimento político Brasileiro (1932-1937) inspirada no fascismo 21 Que tem o ato de governar 22 Aliados – grupo que tem como objetivo a cooperação

43

Para reforçar a idéia de que Anísio Teixeira não era comunista, Viana Filho

(1990), levanta uma afirmação que segundo ele teria sido dita por Anísio.

Vejo Marx mais como economista do que como filósofo. Como economista continua a ser terrivelmente importante, por trás de qualquer filósofo está algum economista [...]. A minha fraqueza nesse campo é manifesta e só não é mais grave porque procuro raciocinar dentro do empirismo anglosaxônico que de qualquer modo não me distância irreparavelmente do materialismo de Marx. (TEIXEIRA apud VIANA FILHO, 1990, p. 75).

Embora a afirmação acima não prove se Anísio Teixeira era ou não

comunista, deve-se considerar a importância de apresentar o comentário já que ao

interpretar a citação pode-se entender que Anísio Teixeira está negando a sua

participação no comunismo. Pela trajetória do educador que até aqui foi estudada

chega-se a pensar que ele teve certa tendência de aproximação com a doutrina

comunista, mas até o presente não há nada que prove a tendência doutrinária do

educador ao comunismo. Dando ainda sequência aos relatos encontra-se o

seguinte: Na troca de um diálogo com Ênio Silveira, que VIANA FILHO (1990),

aponta como amigo de Anísio Teixeira (da Editora Nacional), o autor relata ter ouvido

de Ênio o seguinte comentário sobre Anísio Teixeira:

Anísio era antes de mais nada, um antidogmático, altamente especulativo em todos os terrenos de atuação mental, tanto que muitas vezes o vi entregue ao exercício de armar profundas criticas às próprias concepções pessoais que a reflexão e a prática o haviam levado a estabelecer sobre as teorias pedagógicas e sua aplicação à realidade brasileira.

Anísio Teixeira era visto como ateísta, populista, estatizante, americanizante e

subversivo por defender a escola única, o que levou-o a pedir demissão do cargo

que tinha. No contexto apresentado por VIANA FILHO (1990), ele ainda apresenta

uma citação que descreve a reação de vários amigos e colaboradores de Anísio

Teixeira, que acabaram se manifestando quando ele pediu demissão do seu cargo.

44

Nós abaixo firmados, colaboradores do Dr. Anísio Spínola Teixeira nos serviços de educação no Distrito Federal, onde prestou, em quatro anos, maiores benefícios à causa escolar do que qualquer outro brasileiro em sua existência vimos afirmar nossa surpresa ao ato que o afastou daquela administração. Espontaneamente demissionários, temos a hombridade de declarar nossa inabalável convicção, haurida em testemunho quotidiano, de que o Dr Anísio Teixeira se manteve alheio a qualquer ideologia política subversiva da ordem constitucional, exclusivamente voltado a cultura nacional, pela educação e só com a educação23.

Entre os amigos e colaboradores de Anísio que participaram desse

movimento, Viana Filho (1990), destaca os seguintes nomes: Afrânio Peixoto,

Carneiro Leão, Roberto Marinho de Azevedo, Gustavo Lessa, Márcio de Brito, Paulo

de Andrade Ribeiro e Adroaldo Junqueira Ayres. Além das características de Anísio

Teixeira apontadas até agora considerando as visões de Gandini (1980) e VIANA

FILHO (1990), também encontramos no educador Paschoal Lemme algumas ideias

de Anísio Teixeira:

A 12 de Julho próximo passado, Anísio Teixeira completaria 76 anos, se não tivesse desaparecido, e de maneira tão trágica, em março de 1971. Relembrar nessa oportunidade, sua vida extremamente fecunda, em que soube aliar, com rara propriedade, atividades de caráter prático como administrador, a estudos teóricos do mais alto valor, na especialidade a que se dedicou a educação é sem dúvida um dever de quantos já tiveram o privilégio de privar de perto com essa admirável figura humana. (LEMME, 2004, p. 167).

O biógrafo Gouveia Neto, também faz a seguinte descrição de Anísio Teixeira:

Podemos afirmar que Anísio foi um impenitente sonhador, pois desde o inicio de sua carreira de educador em 1925 até o último dia da sua existência entre nós (1971), manteve bem viva a chama do seu ideal – servir a educação da sua pátria alimentado a sua inabalável fé, pois acreditou sempre na educação, instrumento capaz de conduzir o homem á sua plena realização. Sonhava com um mundo melhor, com uma sociedade fraterna, mais humana e mais justa. Acreditava nos destinos da nossa pátria. Era um idealista na melhor acepção do termo. E por isso viveu toda uma vida de trabalho, de lutas, de realizações. (GOUVEIA NETO, 1973, p10).

23 Viana Filho, Luis. Anisio Teixeira : A Polêmica da Educação, 1990, (p.77)

45

Gouveia Neto (1973), ainda salienta que na sua visão, Anísio Teixeira era um

administrador Escolar de excepcional qualidade, era também um pensador, homem

inquieto que desejava ver a educação renovada, preocupado com a educação

realmente capaz de se tornar o mais valioso instrumento para a implantação de uma

verdadeira democracia.

Para contextualizar a atuação de Anísio Teixeira e também salientar as

benfeitorias que aconteceram no setor educacional através da sua influência,

Gouveia Neto (1973), relata na obra: Anísio Teixeira – Educador Singular, algumas

ações do educador. Assim o autor (1973), escreve que as realizações de Anísio

Teixeira foram muitas, além de tudo contribuíram na modificação do panorama

educacional brasileiro:

O autor (1973) destaca as seguintes ações: O projeto da Lei orgânica e

Cultura do Estado da Bahia. “Essa foi a lei mais avançada na área da educação

brasileira, pelo fato de propor autonomia dos serviços educacionais”. (Gouveia Neto,

1973, p. 28). A Escola Parque: O Centro educacional Carneiro Ribeiro. Essa foi mais

uma das Concretizações das ideias de Anísio Teixeira, aponta o autor (1973). A

expansão da escolarização. O futuro estava sempre presente nas preocupações de

Anísio Teixeira, relata Gouveia Neto (1973). Preocupou-se com o crescimento da

população escolar e a necessidade de ampliar as oportunidades para quem

desejasse ter acesso a escola média ou ensino médio.

Outra benfeitoria apontada pelo autor (1973) foi à criação dos Ginásios de

Bairros ou Secções. Foram instituições de ensino que exerciam o papel de

desenvolver culturalmente os bairros onde estavam localizados. Gouveia Neto

(1973), ainda salienta que um dos pontos mais alto da gestão de Anísio na Capital

46

Baiana, foi a expansão do ensino médio. Estão entre as ações de Anísio Teixeira a

construção de escolas primárias, também a criação de superintendências ou

departamentos de ensino, e a implantação de concursos para quem desejava prestar

serviços na área da educação.

Anísio Teixeira não era contra o ensino particular. Mas ele não concordava

com a falta de integração que essa escola tinha com o Estado. (GOUVEIA NETO,

1973). Também se encontra na obra: A invenção da Universidade de Brasília do

autor Darcy Ribeiro (1992), alguns apontamentos que ele faz sobre o educador

Anísio Teixeira. Darcy faz comentários de Anísio Teixeira que vale a pena ser

destacado.

Anísio foi a inteligência mais brilhante que conheci. Inteligente e questionador, por isso filósofo. Era também um erudito, até demais. Só conseguiu entender meu interesse pelos índios, quando o fiz comparar alguns deles com os atenienses e espartanos. Tamanho e tão frondoso era o saber de Anísio, que ele, muitas vezes, parava, incapaz de optar entre linhas de ação que se abriam à sua inteligência. Nessas ocasiões, eu, em minha afoiteza, optava por ele, que malvado, dizia: - Darcy tem a coragem de sua inciência. (RIBEIRO, 1991, p. 33).

Darcy Ribeiro (1991), ainda apresenta outras características que acreditava

ter Anísio Teixeira:

Anísio foi essencialmente um educador. Quero dizer, um pensador e gestor das formas institucionais de transmissão da cultura, com plena capacidade de avaliar a extraordinária importância da educação escolar para integrar o Brasil na civilização letrada. Para ele a escola pública de ensino comum é a maior das criações humanas e também a máquina com que se conta para produzir a democracia. É, ainda, o mais significativo instrumento de justiça social para corrigir as desigualdades provenientes da posição e da riqueza. Para funcionar eficazmente, porém, deve ser uma escola de tempo integral para os professores e para os alunos, como meus CIEPs. (RIBEIRO, 1991, p. 33).

Ainda para confirmar a presença dos esforços de Anísio Teixeira na fundação

da Universidade de Brasília Darcy Ribeiro diz o seguinte:

47

Foi já esse novo Anísio que revolucionou o ensino público do Rio de Janeiro e criou a nossa primeira universidade digna desse nome, a Universidade do Distrito Federal. Isso ocorreu naqueles anos de clarividência que o Brasil viveu no começo da década de trinta, dinamizada pelo sopro renovador da revolução. Todo o Brasil se repensava e modernizava, inclusive a educação, chamada a dinamizar-se e a refazer pela veemência do Manifesto dos Pioneiros da Educação. (RIBEIRO, 1991, p. 34).

Ribeiro (1991) relata que a direção da Universidade de Brasília caminhava

bem até iniciar a perseguição a Anísio Teixeira. Os Bispos exigiram do presidente da

República, pela voz de Dom Hélder, o seu afastamento do Ministério da Educação já

que achavam a influência do educador negativa, uma vez que ele era visto como

esquerdista e com pendor democrático. O autor (1991), também relata que diante

disso um fato fez esfriar o calor do trabalho que estava sendo desenvolvido na UNB.

Anísio Teixeira era reitor quando estourou o golpe militar de 1964. Anísio Teixeira é

proscrito e Darcy Ribeiro é exilado.

Ainda na biblioteca Virtual Anísio Teixeira encontram-se outros depoimentos:

Anísio Teixeira foi um profeta do saber, da cultura, sobretudo da transformação social. Foi um dos homens mais cultos deste país, mas ao mesmo tempo o menos exibicionista dos homens cultos deste país. Toda a produção intelectual de Anísio Teixeira é motivada por seu desejo de transformação social. O que ele foi, acima de tudo, foi um educador voltado para a prática da educação e da administração. E por causa dessa prática, que demandava conhecimento teórico, é que fez os seus livros. Ele não foi um teórico que se fez prático. Ele foi um homem que essa dialética do fazer e do conhecer acompanhou-o permanentemente. Lembrem-se de que, num momento de ostracismo, a prática que ele desenvolveu foi a de um minerador, de exportador, de um comerciante e de um tradutor de obras que ele achava relevantes24.

A biblioteca virtual do educador Anísio Teixeira oferece uma variedade de

informações do educador. Observem-se mais alguns depoimentos encontrados no

site:

24 HOUAISS, domínio público: www.bibliotecavirtualanisioteixeira)

48

Anísio Teixeira frente ao outro manso falava; e o que escuro claro ficava; muito sabia mais perguntava; é que tranqüilo se inquietava; que com o certo já duvidava25.

Montello nos trás a seguinte citação da biblioteca virtual sobre o que ele

pensava de Anísio Teixeira.

A inteligência de Anísio Teixeira se realizava explendidamente no corpo-a-corpo com a folha de papel em branco, na reclusão de um gabinete de trabalho, era ainda mais viva, mais brilhante, mais luminosa, nas surpresas de um debate. Por isso, quem conheceu o escritor pelos livros, admirou-o como uma das figuras mais altas da cultura brasileira, mas só conheceu verdadeiramente na força impetuosa de sua inteligência incomparável, quem teve a sorte de ouvir nos instantâneos de suas intervenções improvisadas. (MONTELLO, domínio público: bibliotecavirtualanisioteixeira).

Ainda vimos em Pinho

Um dia de trabalho de Anísio Teixeira entre CAPES, INEP, faculdade de Filosofia, Instituto de Educação, o Centro, quando não os Centros nos Estados, é alguma coisa que só seus companheiros podem avaliar o que significa. A capacidade normal de um homem de inteligência seria esgotada numa só dessas tarefas (...). Anísio multiplica-se em tudo com a mesma lucidez, o mesmo entusiasmo. (PINHO, domínio público: www.bibliotecavirtualanisioteixeira)

Enfim, Anísio Teixeira esteve presente na educação do país e fez educação.

Esses depoimentos ajudam a confirmar a sua presença e influência no campo

educacional. A seguir contextualizou-se essa influência através da sua própria voz.

Para isso o próximo capítulo foi produzido a partir de palavras chaves selecionadas

a partir das obras do educador. Desta maneira o terceiro capítulo procurará tecer um

diálogo com o educador sobre alguns pontos relacionados à educação.

25 RODRIGUES, domínio público: www.bibliotecavirtualanisioteixeira.

49

CAPÍTULO 3: PENSAMENTO DE ANÍSIO TEIXEIRA

O que pensava o educador Anísio Teixeira em relação aos aspectos que

compunham o Brasil no momento em que ele lutava pela educação do país? Foi

tentando responder essa pergunta que nesse capítulo desenvolve-se um estudo

sobre algumas categorias que estão presentes nas obras do educador. São elas:

igualdade e desigualdade, Escola pública e gratuita, escola nova e ciência,

democracia, filosofia, ciência, criança, aprendizagem e universidade. Tento-se então

através da leitura de suas obras deduzir o que pensava Anísio Teixeira sobre os

pontos que aqui seguem. Começou-se com a desigualdade social e ao longo desses

capítulos buscou-se expor o pensamento do próprio educador em relação a cada

item.

3.1- IGUALDADE E DESIGUALDADE SOCIAL

A forma democrática da vida funda-se no pressuposto de que ninguém é tão desprovido de inteligência que não tenha contribuição a fazer às instituições e à sociedade a que pertence; e a forma aristocrática, no pressuposto inverso de que a inteligência está limitada a alguns que, devidamente cultivados, poderão suportar o ônus e o privilégio da responsabilidade social, subordinado os demais aos seus propósitos e aos seus interesses. (TEIXEIRA, 1996, p.23)

Anísio Teixeira deixa bem claro na sua concepção que a sociedade deveria

ser encaminhada tendo como principio a igualdade entre as pessoas. O educador

não se refere à igualdade mental e sim à igualdade individual, onde todos podem

participar da sociedade politicamente. Para confirmar isso encontramos outra

posição do educador sobre a questão da desigualdade e igualdade social, e o autor

(1996) escreve que o princípio de Igualdade individual, proclamado como princípio

50

fundamental da forma social democrática não se baseia na igualdade psicológica

dos indivíduos, mas em sua igualdade política, às quais lhes devem ser dadas

oportunidades iguais de desenvolvimento e participação.

Até os dias de hoje a sociedade brasileira tem se apresentado cada vez mais

desigual. Nos anos 30, período que foi estudado Anísio Teixeira neste trabalho, o

próprio educador já constatava a tamanha disparidade existente entre a classe baixa

e a classe conhecida no período como elite. Infelizmente a desigualdade existente

naquele período fazia com que a educação fosse um setor bastante influenciado

pela situação de desigualdade. Foi baseado nisso que Anísio Teixeira escreveu uma

obra intitulada “Educação não é Privilégio”. Nessa obra Anísio Teixeira escreve sobre

a sua indignação com o campo educacional do seu período, pois assim como outras

áreas da sociedade a educação era prioridade para a elite e não para a classe

média e baixa, por isso em sua obra “Educação não é Privilégio” o educador aponta

e critica a desigualdade existente no campo educacional do seu período.

Anísio Teixeira (1996) ainda ressalta que a desigualdade dos indivíduos é fato

incontestável, pois em face dele tanto se pode construir uma teoria baseada na

desigualdade social como na igualdade. A forma democrática exprime a convicção

de que a despeito da desigualdade dos indivíduos, existe em todos eles, salvo

alguns poucos deficientes mentais hoje ainda ineducáveis, um mínimo de

inteligência que os capacita à participação do individuo na elaboração dos valores da

sociedade a que pertence.

Para que essa experiência se faça em condições apropriadas, a sociedade terá de oferecer a todos os indivíduos acesso aos meios de desenvolver suas capacidades, a fim de habilitá-los à maior participação possível nos atos e instituições em que transcorra sua vida, participação que é essencial à sua dignidade de ser humano. (TEIXEIRA, 1996, p. 24,).

51

Anísio Teixeira coloca que a crença na desigualdade social e política em face

da desigualdade mental dos homens têm toda a história a seu favor e a vantagem,

portanto, de já haver sido posta à prova. O educador26 aponta que muitos

consideram esta afirmação comprovada, e o que é mais grave, mesmo para os que

assim não pensam, está ela cristalizada em hábitos mentais, atitudes, estado de

espírito, e também comportamentos humanos inconscientes e arraigados.

Os problemas que se põem ante o homem são os da análise dos motivos que

até hoje impediram a organização social apropriada ao novo tipo de vida, os da

correção das teorias imperfeitas que levaram às distorções dos séculos XIX e XX, e

os da pesquisa das novas condições do indivíduo em uma sociedade cujas

profundas transformações materiais determinaram mudança radical dos antigos

padrões de relações humanas. (TEIXEIRA, 1996)

Conforme Anísio Teixeira (1996), diante disso não podemos evitar digressões

e análises, por mais perfunctórias que sejam, das condições que acompanharam o

desenvolvimento democrático, a fim de poder salientar a necessidade da

reconstrução contemporânea, sobretudo à luz das relações entre a forma

democrática de vida e educação.

Diante da situação, a que sucedia de restrições de toda ordem ao livre jogo das forças individuais, o movimento democrático deu inicio, toda ênfase à libertação, quase sem condições, dessas energias. Como a sociedade, em virtude do movimento industrial, já em curso, estava a entrar em uma nova fase de trabalho e como esta fase, graças a um terceiro movimento, o da aplicação da ciência à vida, iria ter êxito sem precedentes, não foi difícil elaborarem-se duas teorias, a do indivíduo “soberano” e a do laissez-faire econômico, para justificar as operações das novas forças sociais e fundamentar a sociedade na “livre iniciativa individual” e na proteção da propriedade. (TEIXEIRA, 1996, p.25)

Na década de 30 o Brasil passou por um período de transição e de mudanças

em função da reformulação que ocorreu em todas as áreas da sociedade e entende- 26 Anísio Spínola Teixeira

52

se que Anísio Teixeira via que nesse período dois termos foram elaborados para

nomear os profissionais e intelectuais, tais como: indivíduo soberano e o laissez–

faire econômico para justificar as ações econômicas coercivas que passaram a

existir na nova sociedade que se formou na época. Em uma coisa se pode

concordar com o ponto de vista de Anísio Teixeira. Essa divisão fez com que

aumentasse ainda mais a desigualdade social entre os cidadãos.

O ponto interessante na colocação que o educador faz sobre desigualdade e

igualdade social está na maneira em que ele pensava o assunto. Mais uma vez vale

a pena destacar que ele faz menção às questões de igualdade e desigualdade social

do ponto de vista político, pois para ele as diferenças entre as pessoas não deveriam

ser usada como referência à capacidade intelectual das pessoas, mas sim o direito

que todas as pessoas têm de viver em uma sociedade cuja democracia esteja ligada

a igualdade política das pessoas.

Anísio Teixeira (1996) destaca que a forma democrática assumiu o aspecto de

libertação das forças individuais. O indivíduo sentiu-se livre, sem inibições e sem

constrangimentos artificiais. Isso se refere à liberdade da investigação científica no

campo político e econômico, a ser exercida com a mesma amplitude com que se

estava exercendo no campo do mundo físico e material, assim como a ciência no

setor material iria produzir as descobertas e as invenções com que alterou a face da

vida humana, algo se daria semelhantemente no mundo econômico e social.

Por outro lado o educador Anísio Teixeira (1996) retrata que o novo regime

econômico sucedeu a ordem feudal e aristocrática, porém esse regime apresenta

algumas falhas. A massa trabalhadora não se compunha de “indivíduos”, mas

constituía simples massa de manobra, mercadoria sujeita às leis da oferta e da

procura. Para dar ênfase a essa idéia Anísio Teixeira destaca:

53

É verdade que a democracia, em seus documentos legais, sublinhava a liberdade de expressão, de reunião e de organização. Ao lado da liberdade de ir e vir, estas novas liberdades sempre se ergueram como as grandes liberdades da época. Mas não se estendiam elas senão àqueles poucos que formavam a classe ascendente. (TEIXEIRA, p. 27, 1996).

Todas essas liberdades estavam, com efeito, subordinadas a uma condição

fundamental: a de educação. O homem precisa educar-se, formar a inteligência para

poder usar eficazmente as novas liberdades. A inteligência não é algo de nativo, mas

de cultivado, de educado, de formado, de novos hábitos que a custo se adquirem e

aprendem. (TEIXEIRA, 1996).

De acordo com Anísio Teixeira (1996) as relações entre a forma democrática

de vida e educação não foram percebidas em todo o seu alcance. A nova

experiência de vida não se poderia fazer sem que todos e cada indivíduo tivessem

oportunidade de se educar até o limite de suas possibilidades. Esta condição era

preliminar. Era Sine qua non27. Não podiam ser equiparados aos demais riscos do

indivíduo.

Frente a isso, o movimento educacional dos fins do século XIX e início do

século XX, caracterizou-se como um movimento de educação limitada, em rigor de

treino das chamadas massas, mantendo-se o sistema de educação das elites

fechados para as classes populares e as oportunidades educacionais apenas

acessíveis às classes tradicionalmente e economicamente superiores, ou aos que

tivessem enriquecido com as novas oportunidades econômicas. (TEIXEIRA, 1996).

TEIXEIRA (1996), Uma política de força é capaz de impedir o funcionamento

da democracia. Porque a forma democrática que procuramos acentuar, é a

confiança na razão humana devidamente cultivada, a participação de todos os

recursos possíveis de informação livre e exata. Para que isto seja possível, é

27 Sine qua non ou condição sine qua non originou-se do termo legal em latim “sem o qual não pode ser”

54

indispensável a completa integração entre o espírito propriamente democrático, que

é o da confiança no homem, e o espírito, que é o da busca imparcial da verdade.

Integrados, poderiam eles conduzir a sociedade em sua reconstrução gradual.

Enfim, Anísio Teixeira relaciona o tempo todo as diferenças sociais existentes

no Brasil com a falta de democracia. Em vários momentos ele fala sobre a

participação política das pessoas nos acontecimentos brasileiros. Parece que o

educador ainda quer chamar a atenção sobre a contradição existente entre se viver

em um país democrático, mas que por outro lado tem caráter desigual. Para Anísio

Teixeira a desigualdade só poderia diminuir se cada vez mais aumentasse o número

de pessoas escolarizadas e também na participação política do país. E para tudo o

mais, o Brasil para ser realmente democrático teria que deixar de ser desigual.

3.2: ESCOLA PÚBLICA UNIVERSAL E GRATUITA

... A escola primária, embora tivesse ela explícita ou implicitamente, sempre presente no meu pensamento e em todas as palavras até aqui proferidas, pois ela é o fundamento, a base da educação de toda a nação. Dela é que depende o destino ulterior de toda a cultura de um povo moderno. (TEIXEIRA, 1967, p. 77)

Nessa citação podem ser observadas algumas ideias que Anísio Teixeira tinha

da escola pública. Nessas leituras nota-se que na visão do educador e no seu tempo

a maior preocupação era a inserção das pessoas na escola. O processo de

escolarização era visto como a “salvação” do país. Anísio Teixeira era tão otimista

em relação à educação que ele escreveu em uma das suas obras (1967) que

ninguém deve ser excluído da escola primária, sob qualquer pretexto ela deve ser

considerada como importante para todas as pessoas. A democracia em regime de

igualdade social e povos unificados, com direitos individuais e sistema de governo

universal, não podem prescindir de uma sólida educação comum, a ser dada na

55

escola primária de currículo completo e dia letivo integral destinado a preparar o

cidadão nacional e o trabalhador ainda não qualificado.

Além disto, é preciso estabelecer a base igualitária de oportunidades, de onde

irão partir todos, sem limitações hereditárias ou quaisquer outras, para os múltiplos e

diversos tipos de educação semi-especializada e especializada, ulteriores a

educação primária. (TEIXEIRA, 1967)

Conforme Anísio Teixeira (1967) deve-se pensar na educação primária como

obrigatória. A educação básica, não deve ficar restrita apenas a alfabetização

mecânica das três técnicas básicas da vida civilizada: ler, escrever e contar. É

preciso, através da educação, formar nos alunos competências em relação à ação,

aos hábitos de sociabilidade, arte, trabalho, reflexão e sensibilidade de consciência

em relação aos direitos e deveres seus e dos outros.

A escola primária visando, acima de tudo a formação de hábitos no trabalho, de convivência social, de reflexão intelectual, de gosto, e de consciência, não pode limitar as suas atividades a menos que o dia completo. Devem e precisam ser de tempo integral para os alunos e servidas por professores de tempo integral. (TEIXEIRA, 1996, p. 79)

O educador Anísio Teixeira enfatiza várias questões consideradas por ele

importantes quando nos referimos à educação do país. Como constatamos

anteriormente o Brasil passou por vários momentos que marcaram a educação do

país. No entanto Teixeira (1967) destaca que no processo de reconstrução que o

Brasil passava no momento a escola era vista como elemento essencial, pois para

Anísio Teixeira através da escola seria possível a população criar um novo

pensamento.

Nesse processo de reconstrução nenhum problema é mais essencial do que o da escola, pois por ela é que se efetivará o novo senso de consciência nacional e se afirmará a possibilidade de se fazer permanentemente e progressivamente a grande mobilização do esforço brasileiro. (TEIXEIRA, 1967, p. 82).

56

Para Teixeira (1967), nenhum outro aspecto da vida nacional se revelou tão

importante quanto à escola. Via no sistema educacional um caráter arcaico de

educação. Assim, era necessário que a renovação nacional favorecesse também a

reconstrução educacional. Esse arcaísmo que caracterizava a escola se tratava de

um sistema que preparava pessoas da elite de trabalho, de governo, mantendo a

nação dividida entre massa de ignorantes e diplomada. Desta maneira, Anísio

Teixeira ressalta que os sistemas de educação modernos tinham suas

especificidades, isto é, tinha características diferentes do sistema arcaico. No

sistema moderno o foco era uma educação comum para todos, elevando o nível

geral de educação de todas as pessoas, para sobre esta base erguer o corpo de

especialistas e sábios, que não dirigem mas servem a massa de trabalhadores

educados.

Segundo TEIXEIRA (1967), os sistemas escolares antigos sempre foram

sistemas de educação de uma elite. A importância e a razão de ser do sistema

estavam em preparar aquele pequeno grupo de excepcionais, destinados a dirigir e

servir a nação. A mudança no sistema não acontece somente quando a escola

primária e escola média passam a existir. É preciso elevar o nível geral de educação

de todos, para que surjam novas condições de trabalho e compreensão.

Esta é, exatamente, a fase que estamos a viver na educação nacional. Expandimos o sistema, ampliamos o número das escolas, mas não cuidamos de sua seriedade nem de sua eficiência, pois o seu fim não é educar o povo mas selecionar um número maior de candidatos, única educação que conta em um país ainda dividido, bifurcado em elite diplomada e massa ignorante. A ampliação do sistema é uma simples ampliação quantitativa, sem reconstrução, que se impõe, da escola e dos seus objetivos (TEIXEIRA, 1967, p. 85)

Anísio Teixeira (1967) destaca ainda que a reconstrução do país envolveu até

a tecnologia. Diante disso a sociedade passou a ser tecnológica. Então era preciso

57

formar uma nação moderna, com o trabalho agrícola avançado e técnico. Era

preciso um nível escolar considerável para a população, além do direito democrático.

Para Anísio Teixeira (1967), as escolas primárias deveriam preparar os

cidadãos do Brasil: A língua materna e literatura nacional, a matemática elementar e

aplicada, a geografia e a história brasileira e a introdução à ciência e estudos de

ciências aplicadas, de desenho e de artes industriais, e antigas, estudos científicos

propedêuticos serão enriquecimentos de currículos que as melhores escolas com

alunos excepcionais tentarão, por certo, mas que também não darão nenhum direito

especial nem privilégio algum.

Enfim, o educador ressalta que as escolas primárias devem ser centros de

estudos no Brasil, da cultura brasileira, da literatura, da geografia, da história e

ciências sociais. Só a matemática e as ciências físicas seriam universais. (p. 88)

3.3: ESCOLA NOVA E CIÊNCIA

Encontrou-se na obra “Pequena Introdução à Filosofia da Educação ou

transformação da escola” (1967), do educador Anísio Teixeira qual era o seu

pensamento sobre a Escola Nova. Inicialmente o autor explica o por quê do uso do

nome Escola Nova. Desta maneira, ele coloca o seguinte:

A designação escola Nova, necessária talvez, em inicio de campanha, para marcar vivamente as fronteiras dos campos adversos, ganharia em ser abandonada. Porque não escola progressiva, como já vem sendo chamada nos Estados Unidos? E progressiva por quê? Porque se destina a ser uma civilização em mudança permanente e porque ela mesma, como essa civilização, está trabalhada pelos instrumentos de uma ciência que ininterruptamente se refaz. Com efeito, o que chamamos de “escola nova” não é mais do que a escola transformada, como se transformam todas as instituições humanas, à medida que lhes podemos aplicar conhecimentos mais precisos dos fins e meios a que se destinam. (TEIXEIRA, 1967, p. 25,26).

58

Anísio Teixeira (1967) justifica a origem da escola Nova ressaltando que

antigamente entre a medicina de Hipócrates e Galeno e a medicina moderna, havia

como buscar um ponto de vista bastante elevado, sequências e harmonias

irrefutáveis. Mas por outro lado Anísio Teixeira (1967) coloca que nem por isso se

pode viver os dias de hoje revivendo os métodos errôneos ou empíricos do passado.

Desta maneira Anísio Teixeira (1967), enfatiza o seguinte:

Em todos os tempos o homem se esforçou para curar e se esforçou para construir. Mas, dia para dia, transformaram-se recursos e os instrumentos e, dia para dia a medicina e a engenharia se renovaram, como se vai renovando hoje a educação. Renova-se nos seu meios e, por intermédio dos meios, nos próprios fins. Porque de fatos, fins e meios não se distinguem senão mentalmente. (TEIXEIRA, 1967, p. 26).

Entende-se que o educador Anísio Teixeira vê a ciência como uma ferramenta

para solucionar ou até mesmo como um meio para se chegar às novas descobertas

e inovações, e isso acaba sendo positivo para ele até o ponto em que se chega à

área educacional. Na concepção do educador, todas as transformações que foram

acarretadas pelo progresso, que por sua vez é resultado de descobertas científicas,

devem chegar ao campo da educação em primeiro lugar, tanto que ao longo desse

estudo foram encontradas nos escritos de Anísio Teixeira as suas preocupações

sobre a situação da área por ele defendida. Entende-se que na visão do educador,

se todas as outras áreas caminharem rumo ao progresso social, a educação deve

ser a principal área modificada, porque para ele é através da escolarização do povo

que todas as outras coisas poderão progredir de maneira eficaz.

Anísio Teixeira (1967) ainda coloca que a engenharia primitiva é diferente da

engenharia moderna. As pontes que se constroem hoje ou as cidades e os edifícios

que se erguem pelo mundo, não podiam ser imaginados pelos antigos. O

59

desenvolvimento técnico da engenharia permitiu ao homem reconstruir os seus fins

e realizar as maravilhas dos nossos tempos.

Mas, para Anísio Teixeira (1967) em educação, o problema de reconstrução

escolar não pode ser visto com essa objetividade, porque o desenvolvimento das

ciências que nos vêm emancipando da rotina, do improviso e do acidental é tão

recente e tão incompleto que não pôde ainda conciliar todas as inteligências. Assim,

Anísio Teixeira também ressalta:

Transforma-se a sociedade nos seus aspectos econômicos e sociais, graças ao desenvolvimento da ciência, e com ela se transforma a escola, instituição fundamental que lhe serve, ao mesmo tempo, de base para sua estabilidade, como de ponto de apoio para a sua projeção. (TEIXEIRA, 1967, p. 27).

Acredita o autor (1967), que tudo isso se deu porque a ciência foi aplicada a

civilização humana. Então ele coloca que materialmente, o nosso progresso é filho

das invenções e das máquinas. O homem conseguiu instrumentos para lutar contra

a distância, contra o tempo e contra a natureza. Anísio Teixeira ainda escreve que a

ciência experimental na sua aplicação às coisas humanas permitiu que uma série de

problemas fossem resolvidos, e crescessem enormes cidades que são a flor e o

triunfo maior da civilização.

Com a nova civilização material, feita e governada por ele, começou a velha ordem social e moral a se abalar. Muda a família. Muda a comunidade. Mudam os hábitos do homem e os seus costumes. E raciocinasse. Se em ciência tudo tem o seu por quê e a sua prova, prova e porquê que se encontram nos resultados e nas conseqüências dessa ou daquela aplicação; se em ciência tudo se subordina à experiência, para à sua luz, se resolver, porque também não subordinar o mundo moral e social à mesma prova? (TEIXEIRA, 1967, p. 29).

Diante disso Anísio Teixeira (1967) destaca que o homem que reconstrói o

ambiente material em que vive, também reconstrói o ambiente social e moral à luz

das experiências adquiridas na terra onde vive. Assim o educador Anísio Teixeira

(1967), apresenta várias afirmações que justificam a existência da chamada Escola

60

Nova: “A grande sociedade está a se constituir e o homem deve ser preparado para

ser um membro responsável e inteligente desse novo organismo.” (TEIXEIRA, 1967.

p. 34).

Outro apontamento feito por Anísio Teixeira (1967) sobre esse assunto:

A família com isso está se alterando profundamente. O homem moderno não trabalha em casa e não se diverte em casa. Em centros muitos adiantados, o antigo lar, tão decantado, não é mais do que o lugar onde alguns indivíduos voltam, à noite para dormir. (TEIXEIRA, 1967, p. 34).

O educador Anísio Teixeira (1967), também coloca seu ponto de vista em

relação aos problemas do crescimento dessa sociedade.

[..] O trabalho individual, o lar, a cidade e a própria nação até a vinda da grande integração da grande sociedade- muitos problemas têm de ser resolvidos e mais uma vez se há de exigir do homem mais liberdade, mais inteligência, mais compreensão, se é que não queremos ficar em uma simples interdependência mecânica e degradante. (TEIXEIRA, 1967, p. 34).

Achamos interessante a maneira como Anísio Teixeira apresenta suas

observações em relação às várias mudanças que aconteceram na sociedade por

causa da ciência e do progresso. Ele cita as transformações nos grupos familiares,

no ritmo de trabalho e em especial na formação dos cidadãos diante das exigências

que passaram a existir por causa das mudanças que aconteceram na época.

Partindo das observações feitas pelo educador, percebe-se que ele esteve

intensamente ligado aos acontecimentos sociais do seu período, e graças às suas

vivências política é que ele também contribuiu para a educação deste país.

Para Anísio Teixeira tudo se resolve através da educação. Mas ele defende a

educação democrática. Tanto que ele acredita que uma forte tendência do mundo

contemporâneo é a tendência democrática. Pois, Anísio Teixeira (1967), salienta que

a democracia é o modo de vida social em que cada pessoa conta como uma pessoa.

61

“O respeito pela personalidade humana é a ideia mais profunda da democracia”.

(1967, p. 35).

Desta forma Anísio Teixeira ainda afirma:

Dois deveres se depreendem dessa tendência moderna e se refletem profundamente em educação: o homem deve ser capaz, deve ser uma individualidade, e o homem deve sentir-se responsável pelo bem social. Personalidade e cooperação são os dois pólos dessa nova formação humana que a democracia exige. (TEIXEIRA, 1967, p. 35).

Diante de tantas transformações acarretadas pelo progresso social, o

educador Anísio Teixeira ainda coloca a seguinte ideia com a intenção de confirmar a

necessidade de implantação da Escola Nova:

Podemos perceber a nova finalidade da escola, quando refletimos que ela deve hoje preparar cada homem para ser um individuo que pense e que se dirija por si, em uma ordem social, intelectual e industrial eminentemente complexa e mutável. Antes a escola suplementava, com algumas informações dogmáticas, uma educação que o lar e a comunidade ministravam ao individuo, em uma ordem, por assim dizer, estática. Toda a educação consistia em ensinar e a obedecer. (TEIXEIRA, 1967, p. 36).

Deste modo o autor (1967) escreve, a escola é o retrato da sociedade a qual

serve enquanto a escola tradicional representa a sociedade que estava prestes a

desaparecer. Os pressupostos da escola foram transformados. A escola passou a ter

uma finalidade diferente da escola tradicional. Na nova tendência escolar Anísio

Teixeira (1967), afirma que a escola deve inserir a criança em um mundo de

informações, aparelhar a criança para ter uma atitude crítica de inteligência, para

saber julgar e pesar as coisas, com hospitalidade mas sem credulidade excessiva,

saber discernir na formidável complexidade da integração industrial moderna as

tendências dominadoras.

Como responsabilidades da Escola Nova, Anísio Teixeira (1967), apresenta

várias: Educar em vez de instruir; formar homens livres e dóceis; preparar para um

futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar

62

a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais

nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar “dois ou três

instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares”. Enfim, o educador ainda

afirma:

Como a escola deve ser uma réplica da sociedade a que ela serve, urge reformar a escola para que ela possa acompanhar o avanço material de nossa civilização e preparar uma mentalidade que moral e espiritualmente se ajuste com a presente ordem de coisas. Alem disso, porém uma visão mais aguda do ato de aprender vem em muito alterar a psicologia da escola tradicional. (TEIXEIRA, 1967, p. 42).

Ainda na mesma obra (1967) Anísio Teixeira trata também da concepção da

aprendizagem dentro das propostas da escola Nova. Para o educador, na escola

tradicional aprender era conceituado como simples memorização de fórmulas

obtidas pelos adultos. “Decorar um livro era aprendê-lo” (p. 42). Anísio Teixeira

coloca que não bastava apenas decorar. Era preciso também compreender e depois

expressar verbalmente aquilo que havia sido compreendido. Já na proposta da

Escola Nova Anísio Teixeira (1967), ressalta que aprender é mais do que decorar ou

compreender.

Aprender é alguma coisa mais. Fixar, compreender e exprimir verbalmente um conhecimento não é tê-lo aprendido. Aprender significa ganhar um modo de agir. Dito assim parece excessivamente limitado. Para muita habilidade puramente mecânica, não há dúvida. Aprender significa a aquisição de uma determinada habilidade. Mas, uma idéia? Aprende-se uma idéia ganhando um novo modo de proceder ou agir? E exatamente o que se dá. Aprendemos, quando assimilamos uma coisa de tal jeito que, chegado o momento oportuno. (TEIXEIRA, 1967 p. 42,43).

Assim Anísio Teixeira (1967), continua colocando que não se aprende uma

ideia quando se sabe formulá-la, mas quando se absorve para dentro do próprio

organismo. O educador então coloca:

“Logo, não se aprende senão aquilo que se pratica. Aprender é um processo

ativo de reagir a certas coisas, selecionar reações apropriadas e fixá-las depois no

63

organismo. Não se aprende por simples absorção.” (p. 43). Dando ênfase às

propostas da Escola Nova Anísio Teixeira (1967), também escreve:

Mas se eu quiser ensinar uma criança a ser boa, não há meio de fazê-la praticar a bondade e ter satisfação que o exercício de bondade pode trazer, sem que na escola, haja condições sociais reais que desenvolvam o sentimento de bondade. (TEIXEIRA, 1967, p. 44).

Finalmente, Anísio Teixeira (1967), justifica a existência da escola Nova como

um recurso que veio para atender a “nova” sociedade que começou a se formar na

modernidade. Diante disso ele ainda afirma que na escola progressiva se busca a

reconstrução da vida para maior riqueza, harmonia e liberdade dentro do ambiente

de transformação e de progresso que a indústria alavancou na sociedade.

Enfim, constatou-se que a sociedade brasileira esteve e está em constantes

mudanças, pois a cada dia se constrói mais uma etapa da história. Retomem-se

alguns acontecimentos que marcaram o cenário brasileiro a partir da proclamação

da república. Com a proclamação da república, muitas inovações surgiram e a

sociedade passou a ser reformulada. Como consequência a educação também foi

influenciada. Anísio Teixeira esteve presente trabalhando pelo campo educacional

brasileiro, e não é a toa que ele foi um dos liberais da educação, pois o seu trabalho

ocorreu justamente no momento em que o país viveu esse momento de

efervescência ou progresso social. E mais do que isso, Anísio Teixeira não desejava

apenas uma educação modificada, mas desejava também uma sociedade

democrática e isso será visto no próximo tópico.

3.4: DEMOCRACIA

A democracia é, pois, todo um programa evolutivo da vida humana, que, apenas há cerca de uns cento e oitenta anos, começou a ser tentado e, de algum modo, desenvolvido; mas está longe de ter completa consagração. Muito pelo contrário ainda não conseguiu de

64

todo vencer sequer a fase de controvérsia e negação, por que passa toda grande transformação histórica. (TEIXEIRA, 1977, p. 206)

Como já foi visto, Anísio Teixeira trabalhou pela educação do país e se

preocupou também com a maneira como a educação se daria na sociedade

brasileira se ela continuasse sendo desigual no seu ponto de vista. Para o educador,

a desigualdade social faz com que a sociedade não tenha um caráter democrático,

pois a democracia não se remete apenas à liberdade de se desenvolverem algumas

atividades na sociedade, mas se remete também à participação política em todas as

áreas de interesse social.

Anísio Teixeira acreditava que a democracia poderia se tornar possível desde

que houvesse educação igual para todos. Mais uma vez vale apena ressaltar que o

educador coloca a educação à frente de todas as outras coisas, e como elemento

primordial para a construção de uma sociedade democrática. De acordo com Anísio

Teixeira, se existisse uma educação igualitária seria possível pensar em uma

sociedade mais democrática e em outros elementos que possam beneficiar a

sociedade.

Anísio Teixeira (1977) acreditava tanto nisso que ele escreveu que a

educação nas democracias, a educação intencional e organizada, não é apenas

uma das necessidades desse tipo de vida social, mas a condição mesma de sua

realização. Com a educação se faz o processo das modificações necessárias na

formação do homem para que se opere a democracia, ou o modo democrático de

viver.

Para TEIXEIRA (1977), o homem não é um ser mítico dos “direitos naturais”,

saído puro das mãos de Deus e corrompido pelo pecado ou pela sociedade, mas o

animal altamente evoluído, candidato a homem, graças a sua educabilidade.

65

“Estamos a procurar sem romantismo, ver como devemos educá-lo para fazê-lo

homem na plena significação social da palavra, ou seja, homem democrático”.

(TEIXEIRA, 1977, p.210).

Se tivermos em mente que a forma democrática de vida, tal como hoje a concebemos, é um desenvolvimento relativamente recente na história humana, melhor poderemos compreender as dificuldades e os problemas que suscita essa nova forma de estrutura e organização social. (TEIXEIRA, 1996 p. 22).

Constata-se que Anísio Teixeira via a forma democrática como algo recente

na história da sociedade brasileira. Com isso entende-se que ele destaca a

democracia haver surgido posterior a instituição escolar, que já era existente no

Brasil. Tanto que no ponto de vista dele no início a escola surgiu e foi criada para a

aristocracia, o que acaba sendo uma escola contrária à democracia.

Ainda são encontrados nas obras de Anísio Teixeira (1977) os seguintes

escritos sobre o assunto. “A própria escola não surgiu com a democracia, mas com e

para a aristocracia. A escola não assumiu uma função parcial da educação, deixando

a real formação do homem para outras instituições, sobretudo a família”. Para o

educador a família era por excelência uma instituição desigual, já que na

organização social anterior à democracia, a família que era capaz de educar era

somente família de posses, ou seja, a família da aristocracia. (TEIXEIRA, 1977).

A escola primária, de constituição recente, buscou a formação do cidadão e

orientou–se para a educação democrática. Por outro lado, a educação escolar de

nível médio e superior, foi no passado a educação da classe dominante, ou dos

especialistas, com privilégios semelhantes aos das classes dominantes e, como tal,

a educação de indivíduos para formarem a chamada elite social. (TEIXEIRA, 1977).

Desta maneira, TEIXEIRA (1977), entende que a democracia, não é algo

especial que se acrescenta na vida das pessoas, mas é o próprio viver que a escola

66

lhe vai ensinar, fazendo o mais que um “puro” individuo. Considerando que estudar,

aprender, trabalhar, divertir-se, conviver, sejam aspectos diversos de participação,

aos quais os indivíduos vão conquistar autonomia e liberdade progressivas, que

farão dele o cidadão útil e inteligente de uma sociedade democrática.

Assim, através da escola é possível pensar no ideal de vida comunitária, pois,

com um plano de atividades em que o rigor exato do trabalho, a doce intimidade da

família e a alegre animação do clube se casam, para produzir um ambiente capaz de

conduzir com êxito a aventura do saber, do progresso social e da igualdade humana,

que é a própria aventura da democracia. (TEIXEIRA, 1977)

Nessa perspectiva, TEIXERA (1977), salienta que a criança na escola deve

sentir quando seu desenvolvimento acontece em conjunto, não podendo ela própria

realizar-se. À medida que se faz útil aos outros e os outros útil a ela medindo a sua

capacidade pelo grau em que melhor realiza aquela parcela de atividade que lhe

cabe, em virtude de suas aptidões particulares.

A experiência do aluno é um todo continuo que se amplia com os novos interesses e novas aprendizagens, mantida, entretanto a unidade nos novos desdobramentos a que o levam a instrução e o saber. O ensino de coisas ou noções alheias à experiência do aluno corre sempre o perigo de constituir algo de inútil ou prejudicial ao seu desenvolvimento. A experiência educativa é sempre uma experiência pessoal, em que o passado se liga ao presente e se projeta no futuro, aumentando o poder de compreensão ou de operação do individuo em seu crescimento emocional, intelectual e moral. (TEIXEIRA, 1977, p. 215).

Reconhece-se que na citação, Anísio Teixeira faz uma abordagem da prática

educacional. A maneira como ele coloca o seu ponto de vista sobre o aluno e o

ensino leva a refletir sobre o papel dos educadores. Deve-se concordar com Anísio

Teixeira no sentido de que os profissionais do campo educacional devem favorecer a

participação de todos os envolvidos no processo de ensino aprendizagem nas

decisões e atividades. O aluno precisa ter suas condições respeitadas e também

67

deve ser o agente participativo no processo educativo de maneira que ele se

desenvolva integralmente. Se os educadores se fecham e fazem da prática

educacional um exercício que tem como objetivo apenas o ensinar, corre-se o risco

de cair no erro citado por Anísio Teixeira, que é forçar o aluno a conviver com algo

inútil ou alheio ao seu desenvolvimento e fazer do processo de ensino algo não

democrático.

Na visão de Anísio Teixeira quando existe democracia, toda a cultura deve

conduzir à maior participação das pessoas. O saber e o trabalho devem ser

ensinados como forma de comunicação e participação do homem, em que todos se

associam e por que todos se realizam, não isolam, não segregam, mas aproximam,

unem e integram os homens na real fraternidade da vida que só existe em função de

todos e de cada um no controle social.

3.5: FILOSOFIA E CIENCIA

Filosofia e educação se fazem campos correlatos de estudo e de prática, e em nenhum outro período da história se registra afirmação decisiva, primeiro, quanto a função da educação na formação e distribuição dos indivíduos pela sociedade e, em segundo lugar, quanto ao reconhecimento de que a sociedade ordenada e feliz será aquela em que o individuo esteja a fazer aquilo a que o destinou a natureza. (TEIXEIRA, 1977, p. 12).

Segundo TEIXEIRA (1977), não é possível analisar a filosofia da educação

moderna sem antes tomar conhecimentos referentes aos primórdios da civilização. A

construção filosófica usada pelo homem era vista como um prodígio de bom senso e

de capacidade especulativa, dentro das limitações do conhecimento do tempo. A

razão descoberta estava em pleno esplendor de criação especulativa, extasiando a

imaginação grega com a maravilha das proporções, do ritmo, da simetria, da

harmonia, do completo, do acabado, do ordenado, do perfeito.

68

Conforme TEIXEIRA (1977), a descoberta do conhecimento racional como

algo em que se pudesse apoiar o homem, constitui aquisição de tal modo segura

que daí por diante as filosofias flutuaram e oscilaram, mas não se libertaram, e

continuaram nas ideias com as que as balizou o gênio Platão. Duas ordens de

conhecimentos eram referências: o empírico, fundado em experiência e erro e o

racional, fundado nas especulações matemáticas e filosóficas, nas leis da harmonia

e da simetria, construção intelectual do espírito em sua intuição reveladora do real,

do perene e imutável.

Para o educador 28 (1977), tudo que existe é dividido em formas e aparências.

As formas são reais e as aparências são passageiras mutáveis, em processo de ser,

mas não chegando a ser suscetíveis apenas de produzirem opiniões e crenças, sem

valor de saber, isto é, saber racional. Nessa perspectiva o conhecimento da forma é

uma intuição mediata do intelecto sob a provocação dos sentidos, e o fim do homem

é a contemplação dessas formas. Composto de alma e corpo, substâncias diversas,

e independentes, o homem, pela alma que não é propriamente forma, mas

aparentado com as formas e aprisionado no corpo, vive num aspirar ao mundo das

formas, que é o seu verdadeiro mundo.

Nesse sentido, a educação seria o processo pelo qual os indivíduos

desvendariam as suas possibilidades (TEIXEIRA, 1977). Atualmente a filosofia é

uma tentativa de compreender os aspectos da vida e do mundo em um todo e único,

para dar sobre a experiência humana, em sua totalidade, uma visão tão completa e

coerente quanto possível. Através da filosofia o que se busca é penetrar no sentido

intimo e profundo das coisas. (TEIXEIRA, 1967)

Se a filosofia é a indagação da atitude que devemos tomar diante das incertezas e conflitos da vida, filosofia é realmente, como

28 Anísio Spinola Teixeira

69

queriam os antigos, a mestra da vida. E é exatamente porque há dúvidas e incertezas e perplexidades que temos as necessidades de uma filosofia. (TEIXEIRA, 1967, p. 146).

Para TEIXEIRA (1967), a filosofia não busca a verdade no sentido

estritamente cientifico, mas valores, sentidos e interpretações. Assim a filosofia pode

ser traduzida pela educação, mas a educação só é digna desse nome quando está

percorrida de uma visão filosófica. Nesse contexto a filosofia pode ser considerada

como investigadora dos valores mentais e morais mais compreensivos, mais

harmoniosos e mais ricos que possam existir na vida social contemporânea.

No entanto, a filosofia de uma sociedade em permanente transformação, que

aceita essa transformação e deseja torná-la um instrumento do progresso, é uma

filosofia de hipóteses e soluções provisórias. (TEIXEIRA, 1967). Anísio Teixeira

relacionava a filosofia sempre com a ciência, por isso procurou-se entender qual era

a visão que ele também tinha da mesma.

A ciência materializou a vida humana. Salvar-nos-emos voltando aos estudos exclusivamente literários que marcaram as culturas pré–científicas... (TEIXEIRA, 1977, p. 27).

Com o progresso da observação e da experimentação cientificas, passamos a

uma nova teoria do conhecimento. Não só a teoria do conhecimento, mas também o

objeto foi modificado, pois o material e não apenas o mental, o mutável e não

apenas o imutável, o temporal e não apenas os eternos passaram novos objetos do

conhecimento. (TEIXEIRA, 1977).

Segundo TEIXEIRA (1977), a nova teoria do conhecimento provoca a

separação entre o material e o espiritual. Isso gera um dualismo, pois, sob o impacto

cada vez maior da ciência, se faz material e inumana, com negação e exclusão de

outros valores, digamos morais, que não são pela ciência delas apartados, mas sim

70

pelos que da ciência usam e abusam, pondo-a ao serviço não da humanidade, mas

dos seus próprios interesses.

Nos anos XX o Brasil chegou a ser influenciado por três campos: Ciência,

Filosofia e Religião. A ciência estava cada vez mais avançando, já que os métodos

de pesquisa estavam cada vez mais refinados e eficazes. Em filosofia as tendências

eram algo anárquicas, com filosofia e filósofos pluralizados, em substituição a um

corpo unificado de crenças e saberes filosóficos. Em religião se marcava passo,

conservando as religiões reveladas ou modalidades ecléticas de religiões

individuais. (TEIXEIRA, 1977)

Para Anísio Teixeira (1977), o avanço do conhecimento cientifico e os seus

frutos, as tecnologias, de base científica, transformaram a vida humana em todos os

seus aspectos – econômicos, sociais, morais e políticos. Mas, não prevalecendo em

nenhum desses campos os métodos científicos de estudo, observação e controle, e

sim os métodos tradicionais e pré-científicos de direção e governo, os resultados dos

progressos da ciência não puderam ser orientados, vindo a provocar desordens,

deslocamentos e confusões.

Conforme Anísio Teixeira (1977), diante desse quadro, atualmente vive-se

com a verdade tripla, sendo essas: científicas, filosóficas e religiosas. A aplicação da

ciência – esta totalmente indiferente aos resultados das aplicações – gerou

desintegrações e fragmentações as mais lamentáveis, muitas vezes, para a vida

humana em conjunto considerada, infundindo-lhe desequilíbrios e artificiais

desigualdades, muito acima de tudo quanto se reconhecia como desigualdades

humanas naturais.

Filosofia tem assim tanto de literário quanto de cientifico. Científicas devem ser as suas bases, os seus postulados, as suas premissas, literárias ou artísticas as suas conclusões, a sua projeção, as suas profecias, a sua visão. E nesse sentido a filosofia se confunde com a

71

atividade de pensar, no que ela encerra de perplexidade, de dúvida, de imaginação e de hipotético. Quando o conhecimento é suscetível de verificação transforma-se em ciência, e enquanto permanece como visão, como simples hipótese de valor, sujeito aos vaivens da apreciação atual dos homens e do estado presente das suas instituições, diremos, é filosofia. (TEIXEIRA, 1967, p. 145).

Nesse sentido Anísio Teixeira (1977) aponta que a divisão entre meios e fins

acaba sendo uma consequência do falso dualismo entre ciência e filosofia e ciência

e religião. Não há meio que não seja um fim, nem fim que prescinda de meios. Dizer

que a ciência dá os meios, mas não dá o fim é algo que custa a conceber, sendo ou

devendo ser a ciência um produto do homem e para o homem. A não ser que a

ciência fosse cultivada por seres extra-humanos, indiferentes aos interesses e fins

humanos, ninguém poderia imaginar que o homem estudasse o câncer para melhor

difundí-lo.

O autor (1977) aponta ainda se pusermos o método científico – que nos deu o

corpo de conhecimentos positivos e provados a respeito do mundo físico – a serviço

do estudo do homem, vamos progredir no campo dos chamados fins ou valores, do

mesmo modo que progredimos em física e biologia. Mas antes precisamos redefinir

o conhecimento humano, estabelecer as bases do conhecimento experimental como

as bases de todo conhecimento, seja científico, filosófico, moral ou religioso.

Ele29 afirma que é preciso também reintegrar o ensino das ciências no seu

contexto humano, ensinando-as não como atividades de monstros extra-humanos,

mas como uma das mais significativas e ricas atividades humanas, desde que

exercidas com o vivo sentimento dos seus fins, seus usos e suas consequências

humanas.

29 Anísio Spinola Teixeira

72

A aplicação universal do método científico é o abandono do fatal dualismo

entre os meios e fins, obrigando com que se faça e se estude ciência conjuntamente

com filosofia. As ciências do uso humano da ciência não darão a felicidade imediata,

mas encaminharão para a senda de um progresso integrado, harmônico, e

humanístico, humanizante e humano. (TEIXEIRA, 1977).

Quando a discussão se dirige especialmente para a área educacional Anísio

Teixeira (1977), destaca que em relação à ciência e educação, não se trata de criar

uma ciência da educação, mas de dar condições científicas à atividade educacional,

nos seus aspectos fundamentais: seleção de material para o currículos, métodos de

ensino e disciplina, e também na organização e administração das escolas.

Deste modo, Anísio Teixeira (1977), sugere que a educação seja levada para

o campo que ele chamou de grandes ciências: engenharia e medicina, já que para

ele essas áreas eram vistas como arte, e educar também era tido como um tipo de

arte.

Antes de existir o método científico as artes progrediam por tradição,

acidente, pela pressão e poder criador dos artistas. Com o método científico, as

tradições ou as escolas são submetidas ao crivo do estudo objetivo, os acidentes às

investigações e verificações confirmadoras e o poder criador do artista, as análises

reveladoras dos seus segredos, para a multiplicação de suas descobertas, ou seja,

vamos examinar as rotinas e variações progressivas, ordená-las, sistematizá-las e

promover deliberadamente, o desenvolvimento contínuo e cumulativo da arte de

educar. (TEIXEIRA, 1977).

Na prática é diferente, é um modo simples de indicar essa verdade essencial de que a ciência e um recurso indireto; é um intermediário e nunca uma regra direta de ação e de arte. A ciência é uma condição - e mesmo uma condição básica - para a descoberta tecnológica ou artística, mas não é, ou ainda não é essa descoberta. Quando se trata de tecnologia das ciências físicas o processo prático

73

não chega à exatidão do processo de laboratório, mas pode chegar aos graus apreciáveis de precisão. Todavia, se a tecnologia reportar-se a um processo de educação, podemos bem imaginar quanto as condições de laboratório são realmente impossíveis de transplantação para a situação infinitamente mais complexa da atividade educativa. (TEIXEIRA, 1977, P. 48).

Como aponta Anísio Teixeira (1977), em educação, várias coisas foram feitas

precipitadamente a partir de conhecimentos científicos ou supostamente científicos

diretamente como regras de prática educativa, e a transplantação das técnicas

quantitativas das ciências físicas para os processos mentais, quando não

educativos, importando tudo isto em certo descrédito da própria ciência. Com efeito,

a ciência não nos dá regras de arte, mas conhecimentos intelectuais para rever e

reconstruir, com mais inteligência e maior segurança, as nossas atuais regras de

arte, criar, se possível, outras e progredir em nossas práticas educacionais, isto é,

nas práticas mais complexas da mais complexa arte humana.

A ciência oferece a possibilidade de um primeiro desenvolvimento

tecnológico, que fornece à arte melhores recursos para investigação dos seus

problemas; e também é uma ferramenta para preparar a imaginação com os

instrumentos e recursos necessários para seus maiores vôos e audácias. Assim, os

educadores, professores, ou administradores, não são cientistas, mas artistas,

profissionais, práticos exercendo, com métodos e técnicas tão científicas quanto

possível, a sua grande arte, o seu grande ministério.

Para aumentar a compreensão de Anísio Teixeira sobre a filosofia e a ciência

buscou-se em outra fonte teórica a definição das duas correntes. Para Platão a

ciência é uma introdução à filosofia. É ela que permite o discurso verdadeiro, mas

seus conceitos exigem ser justificados pela filosofia; por isso é a mediação entre o

sensível o discurso absolutamente verdadeiro, que é o da filosofia. Para Descartes o

74

saber científico se desenvolve autonomamente e faz com que o homem se torne

dominador da natureza. O papel da filosofia é o de procurar as raízes e os

fundamentos do conhecimento realizado pela ciência30.

A ciência não pode ser considerada como um saber absoluto e puro, cuja racionalidade seria totalmente transparente e cujo método constituiria a garantia de objetividade incontestável. Não é um mundo à parte, espécie de reino isolado onde os cientistas fariam pesquisas puras, desinteressadas, preocupados apenas com a busca do conhecimento verdadeiro. Evidentemente, eles trabalham para construir conhecimentos tão rigorosos, racionais e objetivos quanto possível: referem-se às normas racionais, testam teorias confrontando-as com experiências. Contudo, na prática, as coisas se complicam, e as pesquisas nem sempre possuem a transparência e a objetividade que de bom grado lhe emprestamos31.

Com base no que se vê na citação e também na forma como Anísio Teixeira

pensava a ciência e a filosofia, compreende-se que para o educador as duas

correntes estão ligadas uma a outra. A ciência caminha em busca da verdade

objetiva e a filosofia tem a finalidade de fazer com que a objetividade alcançada pela

ciência seja especulada. Sobretudo na visão do educador, quando se trata do campo

educacional não existe um fim que possa ser definido com objetividade. A educação

está aberta à especulação. Nesse sentido a educação como uma ciência se torna

um campo de investigação científica que pode contribuir para a capacitação e

ampliação do conhecimento, mas cabe à filosofia fazer com que se reflita sobre o

conhecimento adquirido.

3.6: A CRIANÇA E A APRENDIZAGEM

A criança não mais como um meio, mas como um fim em si mesma. A personalidade infantil aceita, respeitada, ouvida, e não mais ignorada ou, conscientemente reprimida. (TEIXEIRA, 1967, p. 53).

30 Fonte: Dicionário básico de Filosofia. Japiassú e Marcondes. 4ª Ed. 2006 31 Fonte: Dicionário básico de Filosofia. Japiassú e Marcondes. 4ª Ed. 2006

75

Anísio Teixeira é impressionante em suas colocações, pois além de pensar na

sociedade, no aluno, na formação escolar entre outros ele também teve a

sensibilidade de dirigir o seu olhar para a realidade da criança. Como se sabe a

criança só passou a ser respeitada como ser humano e criança há poucos anos

atrás. Até então a criança era vista como adulto em miniatura, suas condições

infantis não eram valorizadas. É em função disso que o educador faz uma crítica à

escola tradicional e também na sua estrutura social, que tinha um caráter tradicional

e não via a criança como um ser pequeno e em crescimento. Graças às inovações

advindas de reformulações que ocorreram no conhecimento hoje a criança é um ser

respeitado. Anísio Teixeira escreve e apresenta mais detalhes disso em algumas das

suas obras, e considerou-se importante transcrever aqui seu pensamento.

Com a chegada da Escola Nova no Brasil, várias mudanças começaram a

acontecer no âmbito educacional. Em especial, a criança começou a ser vista de

uma maneira diferente da que era vista no passado. A criança passou a ser o centro

de toda a atividade escolar. Assim, para Anísio Teixeira, através da suas atividades

impulsivas e espontâneas as crianças passaram a ser aqueles que governam a

escola, que transformam um pequenino mundo feito à sua imagem e semelhança.

(TEIXEIRA, 1967).

Como se pode perceber, Anísio Teixeira idolatra a criança, pois na concepção

do educador a escolarização deveria se adequar às condições da criança e não a

criança se adequar às condições da escola. O pensamento de Anísio Teixeira sobre

a criança tem a influência da pesquisa por ele realizada nos Estados Unidos, já que

na sua viagem ele investigou o sistema educacional daquele país e também recebeu

a influência das idéias de Dewey.

76

Anísio Teixeira (1967) ressalta ainda, que nessa perspectivas as escolas que

surgiram eram casas de crianças, onde a vida era alegre, divertida, cheia de cores,

movimentos, risos e sons. Para chegar a essas concepções de escolas o educador

aponta que visitou várias escolas e diversos centros de civilização, cujo tratamento

da criança era diferente. A criança era o principal elemento do processo de ensino e

aprendizagem.

Quando se busca, como é inevitável, contrastar aquela infância com o que foi a nossa infância, as lágrimas nos vêm aos olhos. A doçura daquele espetáculo desfaz, entretanto, as amarguras da lembrança. E da visita fica tão somente, uma confiança muito funda nos dias melhores, que já vem chegando, dias em que a infância seja completamente feliz e os homens fortes e tranqüilos. (TEIXEIRA, 1967, p. 54,55).

Conforme Anísio Teixeira (1967), nesse tipo de escola o professor segue

docilmente a vontade da criança, as atividades são escolhidas ao sabor das

situações, para servir às experiências de cada dia, o trabalho na escola é flexível. A

filosofia que a fundamenta é baseada no espírito infantil, e a de um respeito religioso

pela personalidade da criança.

Assim, para salientar a importância que a criança tinha neste tipo de escola,

Anísio Teixeira (1967), destaca que na escola nova a criança é autônoma, suas

capacidades, impulsos, são respeitados. Começa-se a compreender que o castigo

físico interfere no desenvolvimento intelectual.

Para Anísio Teixeira (1967), Se educar fosse função de superposição, de

acréscimo, de modelagem externa, a escola tradicional estaria certa. Isolar-se-iam

as atividades, limitar-se-iam os objetivos e continuariam os pequeninos exercícios. A

educação está sempre se fazendo. Mas se educar é uma função complexa de

adaptação e crescimento do organismo total da criança, pode-se logo ver que a

escola tradicional está errada.

77

Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra. Alargada, desse modo, na sua compreensão, não a podemos encontrar nos processos mecânicos da escola tradicional. (TEIXEIRA, 1967, p. 57).

Conforme Anísio Teixeira não é só o desejo de dar liberdade para a criança

que dirige os educadores, é sobretudo a impossibilidade de negá-la, se querem

construir obra de educação respeitável e sincera. É dessa premissa da criança

autônoma e livre é que temos de partir para a aventura da reconstrução educacional.

Para que a criança tenha o tratamento merecido, Anísio Teixeira (1967),

destaca que o programa de ensino também deve ser adequado à necessidade da

criança, porque a aprendizagem serve para habilitá-la a viver melhor. Contudo,

nenhum processo mecânico é suficiente para seu desenvolvimento. A vida da

criança está em uma das extremidades, e em outra, a suma experiência humana,

representada pelas matérias escolares, pelos compêndios e pelos livros em geral. A

função dessa experiência humana no processo educativo consiste em oferecer para

a criança a inspiração e, quando ela o necessite e solicite, o modelo para a sua

aprendizagem individual.

Desta maneira o currículo escolar deve ser completo de atividades educativas

em que a criança vai se empenhar para progredir mais rapidamente, de acordo com

a sabedoria da experiência humana, em sua capacidade de viver. Com o currículo

adequado, as crianças aprendem mais em contato com a realidade, destruindo-se o

flagelo do ensino verbal e livresco, que segundo Anísio Teixeira, tortura. (TEIXEIRA,

1967)

Sendo assim, o programa escolar deve ser organizado com base em uma

série de experiências reais e socializadas e não como uma simples distribuição de

matérias escolares. As matérias de estudo devem levar a reflexão, pois a finalidade

78

da educação escolar é de levar a criança à participação no sentido, nos valores, na

conduta da sociedade a que pertence. Desta forma o aluno ou a criança,

empenhado em uma atividade que escolheu ou em cuja escolha participou, cujo fim

percebe e procura atingir, tem no propósito que o anima a agir e prosseguir na ação,

o eixo em torno do qual se distribuem, se julgam e se reúnem todos os

conhecimentos que vai adquirindo. (Teixeira, 1967).

Finalmente Anísio Teixeira trata também do currículo e matérias escolares. Os

educadores devem se atentar para esses detalhes já que o currículo escolar e as

matérias também devem ser adequados às condições do educando. Educar é mais

que passar ou transmitir conteúdos. É preciso antes conhecer a realidade do

educando e depois planejar o processo educativo de maneira condizente, assim

como a realidade escolar. Assim como o restante do trabalho, considerou-se

importante essa parte que levou a ver Anísio Teixeira como um pedagogo, mesmo

sem ter sido formado em pedagogia; e também como um filósofo mesmo sem se

formar em filosofia. Mais uma vez saliente-se que Anísio Teixeira trouxe muitas

contribuições. No próximo ponto será estudada mais uma questão que foi

preocupação do educador: A universidade. Buscou-se compreender qual era o

pensamento que ele tinha dessa etapa de formação. Para tanto também foi feito uso

das obras do próprio educador.

3.7- EDUCAÇÃO E UNIVERSIDADE

A impressão que se tem é de que Anísio Teixeira não cessou em momento

algum a sua dedicação na área educacional do país. O educador pensou na

educação da criança e em todas as outras etapas do ensino. Tanta era a sua

preocupação que ele também produziu uma obra que se refere à universidade no

Brasil.

79

Na obra Educação no Brasil (1976), o autor aponta o que ele considerava ser

a missão da Universidade, já que suas preocupações estavam voltadas para a

situação educacional em geral do país. Conforme Anísio Teixeira (1976), a

universidade tem quatro funções das quais ele destaca como fundamentais:

a) Primeiramente Anísio Teixeira (1976), salienta a formação profissional: “As

universidades, de modo geral, salvo algumas exceções, tem como objetivo

preparar profissionais para as carreiras científicas e técnicas”. (p. 235).

b) Como segunda função da Universidade, Anísio Teixeira (1976), destaca o

alargamento da mente humana, que em contato com o saber e na sua

busca, é produzido nos que frequentam as universidades. “É a iniciação

do estudante na vida intelectual, o prolongamento de sua visão, o ampliar-

se de sua imaginação, obtidos pela sua associação com a mais

apaixonante atividade humana: a busca do saber”. (p. 235).

c) Já como a terceira função da Universidade, Anísio Teixeira

(1976) salienta que ela tem a função de desenvolver o saber humano. A

universidade não só cultiva o saber e o transmite como pesquisa,

descobre e aumenta o conhecimento humano. “A universidade faz-se

centro de elaboração do próprio saber, de busca desinteressada do

conhecimento, de ciência e saber fundamental básico”. (p.235).

d) O autor aponta outra função da universidade que ele coloca

como sendo a última, mas não menos importante que as anteriores. “A

universidade é a transmissora de uma cultura comum”. (p. 235). Assim o

autor (1976), ressalta: “A universidade não é só a expressão do saber

abstrato e sistematizado e como tal, universalizado, mas a expressão

concreta da cultura da sociedade em que estiver inserida”. (p.235).

80

Anísio Teixeira descreve as quatro funções da universidade levando em conta

a realidade na qual ele estava inserido. Nas perspectivas atuais pode-se concordar

com o educador na primeira e na segunda função, mas já na terceira ele causa uma

inquietação. A universidade tem sim a finalidade de dar o preparo técnico e científico,

e também de alargar a mente humana, mas quanto à terceira abordagem em que ele

ressalta a universidade poder ser um lugar de busca de conhecimento

desinteressado, chega-se a pensar que não é assim que se vê a universidade na

prática.

Quando se chega à universidade tem-se como princípio aquilo que fez com

que se procurasse ao ensino superior no interesse e determinação de atingir algum

objetivo. Já em relação à quarta função, em que Anísio Teixeira ressalta que a

universidade é um lugar de propagação de cultura comum e que ela é a expressão

concreta da cultura a qual está inserida, deve-se concordar com o educador, mas ao

mesmo tempo considerar que por excelência a universidade propaga cultura, mas

não cultura comum.

Enfim, para completar o seu entendimento de universidade o autor (1976),

ainda reforça seu ponto de vista e destaca que a universidade é um centro de saber,

destinado a aumentar o conhecimento humano, um noviciado de cultura capaz de

alargar a mente e amadurecer a imaginação dos jovens para a aventura do

conhecimento, uma escola de formação de profissionais; e os instrumentos mais

amplos e mais profundos de elaboração e transmissão da cultura comum brasileira.

81

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi apontado no início desse trabalho a finalidade desse estudo foi

confirmar a presença do educador Anísio Teixeira na educação brasileira. Desta

forma, para que se chegasse à conclusão do estudo, no primeiro capítulo foi feito um

breve levantamento de teorias que contextualizam a vida do educador. Vii-se que

Anísio Teixeira era filho de Deocleciano Pires, que além de fazendeiro da oligarquia

era também um político bastante conhecido e influente, da cidade de Caitité na

Bahia.

Também se viu no primeiro capítulo que Anísio Teixeira se formou em Direito

aos 23 anos de idade, mas não seguiu a profissão de advogado. Quando teve que

fazer a escolha da carreira que queria seguir acabou entrando em conflito, porque

de um lado sobressaltava o contato que ele teve com os jesuítas e do outro lado o

incentivo do seu pai querendo que ele se tornasse um político.

Ainda no primeiro capitulo deduziu-se que antes de Anísio Teixeira se

encaminhar para a educação ele se tornou um político incentivado pelo pai. Esse é o

motivo que o fez entrar em contato com o setor educacional. Ao se tornar político,

Anísio Teixeira ocupou em 1924 o posto de diretor da instrução pública da Bahia e

começou a trabalhar no campo educacional. Em 1927 Anísio Teixeira faz a sua

primeira viagem aos Estados Unidos para observar a educação do país e aos 29

anos concluiu o mestrado. Nesse momento ele entrou em contato com Dewey nos

Estados Unidos e confirmou a sua aproximação pela educação. O pragmatismo

defendido por Dewey fez despertar em Anísio Teixeira o gosto pela área educacional

baseada na democracia e no liberalismo, que propunha um sistema educacional

diferente do que existia no momento.

82

Já no segundo capítulo estudou-se o entorno de Anísio Teixeira. Levantou-se

dados que descrevessem algumas impressões deixadas pelo educador, e foram

buscar-se em alguns autores o pensamento que eles tinham de Anísio Teixeira.

Entre os teóricos e biógrafos de Anísio Teixeira encontrou-se depoimentos e

descrições de Anísio Teixeira tanto positivas quanto negativas. Entre os teóricos que

apresentam características positivas de Anísio Teixeira encontra-se Gouveia Neto

(1973) que conheceu Anísio Teixeira pessoalmente quando o educador ainda era

secretário de educação da Bahia. Ainda foi visto na obra de Viana Filho que ele

também teria conhecido Anísio Teixeira pessoalmente, já que os pais de ambos

eram amigos. Gandini retrata alguns pressupostos do pensamento educador na sua

obra “Tecnocracia, Capitalismo e educação em Anísio Teixeira”, Nunes, que

desenvolveu uma tese retratando a biografia de Anísio Teixeira e suas ações na

educação e Darcy Ribeiro que apresenta um breve elogio ao educador.

No entanto, por outro lado foi constatado que Anísio Teixeira não foi visto com

bons olhos o tempo todo. O educador foi criticado e também acusado de comunista

pela igreja católica. No decorrer do trabalho percebeu-se que entre as ações do

educador o objetivo principal era a melhoria da educação brasileira, Anísio estava

sempre presente nos debates que focavam o campo educacional na década de 30 e

além de tudo desejava ver o movimento chamado “Escola Nova” se propagar pelo

país brasileiro.

A educação defendida por Anísio Teixeira visava à escolarização pública, que

tivesse também caráter laico e leigo, e nesse sentido a Igreja católica se opunha,

uma vez que, a escolarização se via influenciada pela Igreja, mas por outro lado a

escola que fosse ligada a Igreja era voltada ao atendimento de pessoas da elite e

83

esse não era o objetivo do projeto educacional de Anísio Teixeira, por isso é que se

deu a oposição entre Anísio Teixeira e a Igreja.

No terceiro capítulo estudou-se o pensamento do educador Anísio Teixeira.

Viu-se através do estudo de algumas palavras-chaves que constam em várias de

suas obras o que ele pensava sobre determinadas coisas. Tais como: igualdade e

desigualdade social, escola pública, escola nova, democracia, filosofia, ciência e

universidade.

Para Anísio Teixeira igualdade e desigualdade social não se baseiam nas

diferenças psicológicas das pessoas, mas nas suas diferenças políticas, por causa

das quais devem ser dadas oportunidades iguais as pessoas para que elas tenham

seus direitos respeitados. Nesse conceito o educador também vai trabalhar com o

principio democrático, defendendo que a vivência em sociedade deve ser respeitada

e isso se inicia na área educacional, onde todos devem ter o direito de acesso.

Também vimos no terceiro capítulo o que Anísio Teixeira pensava da Escola Nova.

Na sua obra Pequena Introdução a Filosofia da Educação: a escola progressiva ou a

transformação da escola, o educador justifica que a escola Nova surgiu para propor

uma concepção de educação diferente da que existia na época. Desta forma a

escola também chamada de progressiva levava esse nome porque além de trazer

novas propostas, ela também era adaptada à sociedade que estava sendo

reformulada por causa do progresso social.

Outros termos que foram estudados no terceiro capítulo que destacam o

pensamento do educador Anísio Teixeira foram: filosofia, ciência, criança e

aprendizagem e também universidade. Sobre a filosofia encontrou-se na obra de

Anísio Teixeira que é através dela que é possível se aprofundar no íntimo das

coisas. Para o educador a filosofia pode ser vista como investigadora dos valores

84

mentais e morais que existem na vida social contemporânea. Ainda estudamos a

concepção de ciência na visão do educador.

No pensamento do educador a ciência pode ser vista como uma ferramenta

útil para a pesquisa, uma vez que é através desta que se expande o conhecimento

científico. Assim para Anísio Teixeira a ciência é importante, mas não é o fim último

das coisas. Também foi visto o que Anísio Teixeira pensava da criança e sua

educação. Constatou-se que no pensamento de Anísio Teixeira as crianças não

podem ser vistas como adultos em miniatura e devem ter a sua condição e situação

de criança respeitada. Na educação a criança deverá ser o centro das atenções.

Nesse sentido a educação deve ser ajustada as necessidades infantis. Em

relação à Universidade Anísio Teixeira apresenta que a universidade é a

transmissora de uma cultura comum. Ela forma a pessoa para a carreira técnica

profissional e também permite o alargamento mental e intelectual da pessoa

contribuindo assim para o desenvolvimento da sua sabedoria.

Analisando tudo o que foi estudado durante o percurso desse trabalho

constatou-se que Anísio Teixeira teve um trabalho intenso na área educacional.

Embora se deduza que ele tenha entrado para a área da educação por ser filho de

um político, Anísio Teixeira deixou relatos que descrevem as suas ações, e que

explicitam também atitudes apaixonadas pela educação e não meramente políticas.

Também em algumas de suas obras estudadas percebeu-se que a carreira do

educador foi toda voltada para a reformulação educacional do país. Anísio Teixeira

foi ativo no campo educacional brasileiro, deixou impressões positivas, impressões

negativas e também deixou marcas próprias que estão implícitas em suas obras e

também nas de seus biógrafos.

85

Enfim tudo que foi estudado sobre o educador também levantou uma

indagação que leva a pensar sobre o que de fato levou Anísio Teixeira a ser tornar

um educador. Pode-se constatar que um possível motivo é a sua relação com os

jesuítas e também com seu pai que era um político reconhecido na Bahia. Por outro

lado teve-se a impressão que o que levou Anísio Teixeira a optar pela educação foi a

vivência que ele teve durante a sua viagem aos Estados Unidos, em cujo período

entrou em contato com o pragmatismo de Dewey.

Independentemente do que levou Anísio Teixeira a caminhar rumo a uma

situação educacional melhor para o Brasil, se pode constatar que a finalidade desse

estudo foi confirmar a influência do educador Anísio Teixeira na educação brasileira.

Se pode pensar que esta finalidade foi atingida, já que através das fontes

bibliográficas usadas para essa pesquisa foram encontradas a intensa participação

do educador na educação do país. Dentro dessa perspectiva acredita-se que a

atuação de Anísio Teixeira não pode ser descrita em sua totalidade, já que a sua

atuação na e para a educação brasileira foi longa e intensa.

86

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CURY, Carlos Roberto Jamil. Ideologia e educação Brasileira – Católicos e Liberais. Cortez e Moraes, São Paulo, 1978.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia – 4. Ed. Atual. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006 GANDINI, Raquel C. Tecnocracia, capitalismo e educação em Anísio Teixeira. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A., 1980. LAROUSSE, Ática: Dicionário da Língua portuguesa – Paris: Larousse/ São Paulo: Ática, 2001 NAGLE, Jorge. A educação na Primeira República. In: Fausto, Boris. História geral da civilização brasileira. Livro III – O Brasil Republicano. Vol. 2: Sociedade e Instituições. (1889-1930). Rio de janeiro. São Paulo: Difel, 1977. NETO, Hermano Gouveia. Anísio Teixeira – Educador Singular. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 19733 NUNES, Clarice. Anísio Teixeira: A Poesia da Ação/ Clarice Nunes-Bragança Paulista, SP:EDUSF,2000. 644 p. PILETTI, Claudino. PILETTI, Nelson: História da Educação.7ª edição. Ed. Ática, 1997. ROMANELLI, Otaíza. História da educação no Brasil. (1930-1973). 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1980. RIBEIRO, Darcy. A Invenção da Universidade de Brasília. Carta: Fala Reflexões, memórias/informe de distribuição restrita do Senador Darcy Ribeiro. Brasília: Gabinete do Senador Darcy Ribeiro, 1991. SAVIANI, Dermeval. História das idéias pedagógicas no Brasil. 2ª ed. rev. E ampl., Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2008. SCHWARTZMAN, S., BOMENY, H.M.B., COSTA, V.M. Tempos de Capanema. Rio de janeiro: Paz e Terra; São Paulo: Edusp, 1984.

87

VIANA FILHO, Luís. Anísio Teixeira: a polêmica da educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Obras de Anísio Teixeira TEIXEIRA, Anísio Spínola. Educação não é Privilégio. Companhia Editora Nacional. SP. 2ª Ed. 1957 ______. Educação é um Direito. Companhia Editora Nacional. SP. 1968 Spínola. ______. Educação e o mundo moderno. 2ª edição, São Paulo. Ed. Nacional, 1977

______.Ensino Superior no Brasil: Análise e interpretação de sua evolução até 1969. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1989. ______. Pequena Introdução a Filosofia da Educação: A Escola Progressiva ou a Transformação da Escola. Companhia Editora Nacional. SP. 5ª ed. 1968 ______. Anísio. A educação e a crise brasileira. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1956. 355p ______. Educação e universidade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998. 187p. ______. Educação no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1969. 385p.

______. Educação para a democracia: introdução à administração educacional.

2ªed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997. 26

______. Em marcha para a democracia: à margem dos Estados Unidos. Rio de

Janeiro: Editora Guanabara, s.d. [1934?]. 195p. 3p.

______., Anísio e ROCHA e SILVA, Maurício. Diálogo sobre a lógica do conhecimento. São Paulo: Edart Editora. 116p.

Páginas acessadas

http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev18/porto_junior.htm#_ftn1 - Revista V.10 Nº 018 Jul/Dez – 2001- acesso em: 23/05/2009

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/anisio-teixeira/anisio-teixeira.php) Acesso em 02/06/09 ás 22:32 horas

88

www.centroeducacional.com.br – acesso em 02/06/09 ás 23h41min horas http://www.bvanisioteixeira.ufba.br – acesso em 03/12/09 às 11h29min horas