marcototal287output

16
marco LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas jornal O educador e antropólogo Tião Rocha explica a maneira peculiar de ensinar e aprender, por meio da ‘pedagogia da roda’. Página 16 As vozes de Neif Aduan (f), da Rodoviária, e Pollyanna Andrade, da Ademg, acompanham a vida de quem mora em BH. Página 13 Renato Coelho (f) garante a alegria de crianças de todas as idades ao consertar brin- quedos que resistem ao tempo. Página 14 Dezembro • 2011 Ano 39 • Edição 287 MARIA CLARA MANCILHA RAPHAEL VIEIRA PIRES DANIELA REZENDE Dirigir pode se tornar uma tarefa árdua para motoristas Para pessoas traumatizadas pelo trânsito, o medo de pegar o volante de um automóvel pode se tornar complicador para tarefas consideradas rotineiras. Clínicas de Psicologia e Autoescolas especializadas prestam o serviço de reabilitar esses condutores e a vencer a fobia de dirigir. Páginas 10 e 11 Considerada uma endemia em Belo Horizonte, a Leishmaniose Visceral é uma preocupação para donos de cães, veterinários e Governo. Entre as medidas de combate utilizadas pela Prefeitura, está a eutanásia dos cães, iniciativa que gera opiniões diver- gentes na sociedade. Página 3 Comida hospitalar torna-se mais apetitosa para pacientes O Hospital Vera Cruz, em Belo Horizonte, adere à moda do confort food, mod- ifica o cardápio e passa a servir aos pacientes internados uma alimentação mais leve e saborosa, sem abrir mão da qualidade e dos valores nutricionais das refeições e sobremesas, que auxiliam na reabilitação dos internos. Nutri- cionistas do estabelecimento trabalharam nas refeições oferecidas para que elas se aproximem da comida caseira, tirando os aspectos negativos que fazia da ali- mentação hospitalar um sinônimo de gosto ruim. Página 5 A dificuldade de ser um jogador profissional Leishmaniose é questão de saúde pública Página 15 MEMÓRIA PRESERVA A HISTÓRIA Voluntários, que integram o grupo Cestas da Memória, ajudam Arquivo Público de Belo Horizonte a identificar fotos antigas, que representam diferentes momentos na vida da capital mineira. Páginas 8 e 9 FOTOS: LETÍCIA GLOOR LETÍCIA GLOOR ANA PAULA CASTRO DANIELA REZENDE

description

Renato Coelho (f) garante a alegria de crianças de todas as idades ao consertar brin- quedos que resistem ao tempo. Página 14 Para pessoas traumatizadas pelo trânsito, o medo de pegar o volante de um automóvel pode se tornar complicador para tarefas consideradas rotineiras. Clínicas de Psicologia e Autoescolas especializadas prestam o serviço de reabilitar esses condutores e a vencer a fobia de dirigir. Páginas 10 e 11 Página 15 A NA P AULA C ASTRO G LOOR C LARA M ANCILHA R APHAEL

Transcript of marcototal287output

Page 1: marcototal287output

marcoLaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas

jornal

O educador e antropólogoTião Rocha explica amaneira peculiar deensinar e aprender, pormeio da ‘pedagogia daroda’. Página 16

As vozes de Neif Aduan(f), da Rodoviária, ePollyanna Andrade, daAdemg, acompanham avida de quem mora emBH. Página 13

Renato Coelho (f)garante a alegria decrianças de todas asidades ao consertar brin-quedos que resistem aotempo. Página 14

Dezembro • 2011Ano 39 • Edição 287

MA

RIA

CLA

RA

MA

NC

ILH

A

RA

PH

AE

LV

IEIR

AP

IRE

S

DA

NIE

LA

RE

ZE

ND

E

Dirigir pode se tornar umatarefa árdua para motoristas

Para pessoas traumatizadas pelo trânsito, o medo de pegar o volante deum automóvel pode se tornar complicador para tarefas consideradasrotineiras. Clínicas de Psicologia e Autoescolas especializadas prestam oserviço de reabilitar esses condutores e a vencer a fobia de dirigir.

Páginas 10 e 11

Considerada uma endemia em BeloHorizonte, a Leishmaniose Visceral éuma preocupação para donos de cães,veterinários e Governo. Entre asmedidas de combate utilizadas pelaPrefeitura, está a eutanásia dos cães,iniciativa que gera opiniões diver-gentes na sociedade. Página 3

Comida hospitalar torna-semais apetitosa para pacientes

O Hospital Vera Cruz, em Belo Horizonte, adere à moda do confort food, mod-ifica o cardápio e passa a servir aos pacientes internados uma alimentação maisleve e saborosa, sem abrir mão da qualidade e dos valores nutricionais dasrefeições e sobremesas, que auxiliam na reabilitação dos internos. Nutri-cionistas do estabelecimento trabalharam nas refeições oferecidas para que elasse aproximem da comida caseira, tirando os aspectos negativos que fazia da ali-mentação hospitalar um sinônimo de gosto ruim. Página 5

A dificuldade de ser um jogador profissional

Leishmanioseé questão desaúde pública

Página 15

MEMÓRIA PRESERVA A HISTÓRIAVoluntários, que integram o grupo Cestas da Memória, ajudam Arquivo Público de Belo Horizonte a

identificar fotos antigas, que representam diferentes momentos na vida da capital mineira. Páginas 8 e 9

FO

TO

S: L

ET

ÍCIA

GLO

OR

LETÍCIA GLOOR

ANA PAULA CASTRO

DANIELA REZENDE

Page 2: marcototal287output

2 Cultura/ComportamentoDezembro • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

jornal marcoJornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected]

Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920

Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286

Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª.Glória GomideChefe de Departamento: Profª. Maria Líbia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo(Coreu): Prof. José Francisco BragaCoordenadora do Curso de Comunicação (São Gabriel): Profª. Alessandra GirardiCoordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Prof. Jair Rangel

Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditores: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa e Prof. Mário Viggiano Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais

Monitores de Jornalismo: Isabela Cordeiro, Isabela Jocoe, Keneth Borges, NataliaLeão Bassi, Piero Morais, Raphael Pires, Raquel Andretto e Tamara Fontes.Monitores de Fotografia: Letícia Gloor e Maria Clara MancilhaMonitor de Diagramação: Nathan Godinho

Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

n

PIERO MORAIS, 5º PERÍODO

Neste ano que se inicia, o MARCO comemora 40anos, dedicados à formação de futuros jornalistas e àprestação de serviço à sociedade, em especial àcomunidade que vive próxima ao campus da PUCMinas no Bairro Coração Eucarístico e, mais recente-mente, à vizinhança da unidade São Gabriel.Prezando pela boa informação e o compromisso detrazer assuntos de interesse social, há quatrodécadas o Jornal Laboratório da Faculdade deComunicação e Artes (FCA) da PUC Minas retrataem suas páginas vocês, nossos leitores, que junto comtodas as equipes formadas por professores, monitorese alunos que por aqui passaram, ajudaram a cons-truir essa trajetória.

Criado em 1972, pela primeira turma de estudantesde jornalismo dessa faculdade, o MARCO surgiu emum contexto turbulento por causa da DitaduraMilitar que havia sido instalada oito anos anos antesno país. A proposta era a construção de um jornal delinha editorial libertária e ética. Os idealizadoresentendiam, que o melhor meio de colocar isso emprática seria dar voz e vez à sociedade.

Localizado no Campus da PUC Minas no CoraçãoEucarístico, a redação do jornal fez da região a suacasa, em que a sociedade é o foco dos assuntos abor-dados nas páginas, e a participação comunitária nacomposição das matérias sempre esteve presente,tornando-se marca do veículo informativo, que alémde Laboratório e formador de bons profissionais, setornou comunitário.

Hoje, o MARCO está presente e atuante em toda aRegional Noroeste e conta com uma sucursal naRegional Nordeste, na PUC do Bairro São Gabriel. Osalunos, repórteres voluntários, saem em busca deassuntos que retratam o interesse do público. E paracomemorar essa data importante, nada melhor paranós do MARCO do que informar.

Nessa edição abordaremos a preservação da históriade Belo Horizonte realizada pelo Arquivo Público domunicípio, que conta com o auxílio do serviço volun-tariado de homens e mulheres que testemunharamas mudanças ocorridas na cidade com o passar dosanos. Com a valiosa colaboração, o Arquivo Públicoconsegue datar e catalogar fotografias que descrevemo cenário da capital mineira em épocas diferentes.

A Leishmaniose Visceral, uma zoonose urbana queatinge cães e humanos, e representa grande risco àsaúde pública, é um assunto controverso entre comu-nidade científica, veterinários, proprietários de cães eórgãos governamentais. O MARCO foi atrás dasdiversas partes envolvidas no polêmico tema eelaborou um diagnóstico da atual situação da doençaem Belo Horizonte. Conversamos com SebastiãoRocha, antropólogo e educador, fundador do Centrode Cultura Popular e Desenvolvimento (CPCD), quefala sobre a ideia de levar aos quatro cantos do Brasilcultura e educação, por meio da 'pedagogia de roda'.

Cultura, educação e saúde. Tudo o que é de inte-resse público e serviço para a sociedade, se encontranas páginas do MARCO, que há 40 anos, se orgulhaem informar você leitor.

MARCO comemora40 anos de ensino,serviço e informação

editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialEDITORIAL

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteEXPEDIENTE

FILME MINEIRO PREMIADOn

RAPHAEL VIEIRA PIRES7º PERÍODO

O diretor de cinemamineiro, Sérgio Borges, 36anos, colocou o primeirolonga-metragem em cir-cuito comercial no últimodia 18 de novembro.Mesclando documentáriocom ficção, o filme "O céusobre os ombros" ganhouos prêmios de melhorfilme, melhor direção,prêmio especial do júri,melhor roteiro e melhormontagem no 43º Festivalde Brasília. Sérgio estevena PUC Minas um diaantes do lançamento dolonga, mostrou um poucodos trabalhos e comentousobre as dificuldades de sefazer cinema em BeloHorizonte.

De acordo com o ci-neasta, existe uma culturaelitista relacionada ao ci-nema, o que reverbera emingressos caros e dificul-dade de filmes indepen-dentes conseguirem umpúblico grande. "O cinemabrasileiro vive uma situ-ação complexa. Ao passoque há uma produçãogrande, nova e revigo-rante, feita com equipesmenores e com coletivos,esses filmes não têmespaço no circuito oficial

porque não tem tantopúblico", relata Sérgio, cri-ticando a cultura audiovi-sual brasileira. Segundoele, é arraigada na teledra-maturgia e nos filmesnorte-americanos. "É preci-so urgentemente dar maisvisibilidade para filmes

brasileiros que têm narrati-vas diferentes, que con-seguem mostrar o Brasilcom olhares mais sen-síveis", afirma.

Para quem está come-çando ou querendo se ini-ciar na produção cine-matográfica, Sérgio salien-

ta a necessidade de se terem mente uma produçãoque condiz com verbas eequipamentos disponí-veis, além do estudo daslinguagens próprias docinema. "No princípio épreciso fazer com o que setem em mãos. A partirdaí, o trabalho vai ga-nhando visibilidade e vocêvai conseguindo respaldopara ser premiado em edi-tais. É preciso persistên-cia. Eu estou há 14 anosnessa e lancei meu pri-meiro longa-metragemagora", revela. Ele aindaacrescenta a importânciade se ver filmes e de expe-rimentar para os ini-ciantes no meio.

A primeira produçãocinematográfica de Sérgiofoi em 1998, quando estu-dava Publicidade e Pro-paganda na PUC Minas,intitulada "Sonhos". Apartir de então, produziumais sete filmes antes de"O céu sobre os ombros",entre curtas, médias-metragens e documen-tários. Ele participa de umcoletivo chamado "Teia",um centro de pesquisa eprodução audiovisualcomposto por seis inte-grantes, contando comSérgio.

O 1º longa-metragem do diretor mescla ficção com documentário

O primeiro longa-metragem do diretor mineiro Sérgio Borges, “O Céu sobre os Ombros”, ganha diversos prêmios em festival

A importância de se ter amigosn

AIMÉE NERY

GABRIEL PAZINI

PETERSON MOREIRA

MARA MARQUES

MICHELLE KARINE2º PERÍODO

A psicóloga MarcelaMarques da SilvaDamasceno consideraque o indivíduo se cons-titui a partir da relaçãocom o outro, e estabelececrenças, valores e medos.A amizade pressupõeuma relação mais próxi-ma, uma convivênciamais intensa, um estrei-tamento de laços afetivosque proporciona umatroca de experiências, deconhecimentos e vivên-cias. Este estreitamentode laços afetivos possi-bilita uma relação deconfiança entre as partese muitas vezes, um setorna o porto seguro dooutro.

E a amizade pode abrirportas também nocampo profissional. É ocaso do jornalista IgorAssunção, integrante doprograma de rádio 98Futebol Clube, relata suaexperiência. Ele acreditaque o que seu caso nãodeva ser tratado comouma exceção, mas simcomo tendência da atua-lidade. "Nunca me vi tra-balhando como repórter.Por conta da amizadecom o Mário Alaska e

com o Dudu do Graffite,é que estou hoje no98FC. Eles me conhe-ciam, e acharam que eume encaixaria no perfildo programa e da rádio",conta. O jornalista aindadestaca a importânciados amigos para serealizar um bom traba-lho. "Seu amigo é seuprincipal divulgador. Sevocê faz um bom traba-lho e tem amigos que oacompanham, acreditoser esse o principal ca-minho para ser indicadopara outros trabalhos",afirma Assunção.

Ao ser questionadosobre os atritos no ambi-ente profissional, o jor-nalista salientou. "Aamizade é fundamental,para um bom ambientede trabalho, tem que irtrabalhar feliz. Atritosempre é chato, seja nafamília ou no trabalho.Não é bom trabalharcom clima pesado, masdia ou menos dia, vaiexistir, e saber contornara situação é o maisimportante. O que acon-tece dentro do ambientede trabalho não pode serlevado para fora e vice-versa. Tem que saberdiferenciar as duascoisas", afirma.

Também existe o outrolado, quando uma gran-de amizade é rompida

por uma série de fatores,como foi o caso deMaicon Mendes, 30anos, repórter da RedeRecord. Mendes, quetinha uma amizade sadiae respeitosa, commomentos especiais vivi-dos ao lado do amigo,embora hoje se sinta nor-mal e entenda que foialgo da vida, sentiu orompimento. "Há cincoanos. Acabou por causada distância. Com otempo, a amizade foificando em segundoplano por causa dos estu-dos e trabalho", conta.

Já com a estudanteAna Júlia Goulart, 19anos, a amizade quetinha laços saguíneostambém, era muito forteem relação às outras pes-soas que possuíam omesmo grau de pa-rentesco e idade. "A con-fiança era total, conver-sávamos sobre tudo. Eraum companheirismomuito forte", conta aestudante. No entanto, aamizade se rompeuexatamente pela quebrade um dos seus pilares, aconfiança, e Ana Júliasente muita falta daamiga, mas tambémentende a situação."Sinto falta, é óbvio. Masnão tem como voltar aser como era antes, ten-tamos, mas não deu

certo. No entanto, foimelhor assim, antes quetodas as boas lembrançasque temos, sejamdestruídas pelas desa-venças atuais", diz.

Para manter uma boaamizade, a psicólogaMarcela Damasceno dei-xa dicas, como respeitaras diferenças e a individ-ualidade do outro, alémde privilegiar a trans-parência, a cumplicidadee a honestidade entre aspartes. Outra dica impor-tante é ter discernimentopara elogiar as virtudes eapontar os aspectos quepodem ser melhoradospelo outro.

Como a amizade é tãoimportante para o serhumano, o rompimentodesses laços tambémpode trazer consequên-cias graves. Marcelasalienta que a maneiracomo as pessoas se rela-cionam, a intensidadedos sentimentos e inves-timentos dedicado àoutra pessoa é muitosubjetivo. Para determi-nadas pessoas, o fim deuma amizade pode sig-nificar fracasso no con-vívio social, enquantopara outras, apenas maisuma pessoa que passou ese foi. O fato é que o quefoi importante numaamizade permanece, sejapor meio de lembrançase pensamentos.

LETÍCIA GLOOR

Page 3: marcototal287output

Auxiliado por Inez AlvesDias, terapeuta naturalistaformada em Homeopatia naAgricultura pela UniversidadeFederal de Viçosa (UFV), ocoordenador regional do pro-jeto "Mova Brasil", LuizFelipe Lopes Cunha, 31 anos,adotou a homeopatia comotratamento primário no cãoZé, da raça cocker spaniel, de3 anos, que há um mês tevediagnóstico positivo paraleishmaniose. "Decidi investirna homeopatia, um trata-mento não-evasivo que jogana corrente sanguínea deleinformações energéticas dadoença que visa tratar, emproporções mínimas, demodo que não deixa resíduosquímicos que possam pre-judicar a saúde do animal",diz.

Quando o cão teve seuquadro agravado, LuizFelipe decidiu administrara Staphizagria, medica-mento homeopático pro-duzido com plantas medi-cinais provenientes daEuropa, cujo princípioativo é aumentar aresistência do animal àdoença. A intenção étornar o cão forte o sufi-ciente para coletar infor-mações energéticas dadoença viva no seu orga-nismo para que possa pro-duzir anticorpos e ficarlivre dos sintomas e dorisco de contágio, assim

como funciona o Alopurinol.Sobre a homeopatia,

Patrícia Quaresma, do Centrode Pesquisa René Rachou,afirma que o estudo ainda éempírico. "Muitos vete-rinários tratam os cães commedicamentos homeopáti-cos, mas não há nada cientifi-camente comprovado. Atémesmo o tratamento commedicamentos alopáticos,tem que ser feito comrestrição", informa. Segundoela, medicamentos, como oAlopurinol, podem ser utiliza-do, porém, com cautela.

Há alguns tratamentosque já são concretizados e quesão definidos na literaturainternacional. Esses trata-

mentos visam aumentar aomáximo a vida do cão, dentroda condição de que ele nãoapresente mais riscos àsociedade. Após o tratamen-to, esses cães deixam de serconsiderado um perigo para asaúde pública, e são moni-torados o resto da vida. Otratamento é todo feito comembasamento científico e hávários protocolos, via oral ouinjetável e, por vezes, umamistura dos dois. Todos essesprotocolos podem ter efeitoscolaterais, por isso além dotratamento básico, com leish-manicida, é necessáriorealizar um tratamentosuporte, para evitar que opaciente sofra efeitos cola-

terais.A Leishmaniose Vis-

ceral, segundo PatríciaQuaresma, acomete oscães de forma gradual. Oprotozoário, depois deinfectar o cão através doinseto, vai se alojar no fíga-do, baço, ou na medulaóssea e, após esse processo,a leishmaniose começa a semultiplicar e causar algunsdanos. Os sintomas emcães a princípio seriam omal estar geral e a fadiga.Com a evolução dadoença, o cão passa a apre-sentar sintomas mais ca-racterísticos: crescimentodas unhas, dermatites napele, retina opaca e ema-grecimento.

3SaúdeDezembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Parceira da Secretariade Saúde, o Centro dePesquisa René Rachou,especializado em estu-dos da LeishmanioseVisceral, ajuda a desen-volver projetos de me-lhorias na saúde pública.Há três vertentes sendoestudadas e algumas jáestão, inclusive, sendoimplantadas. Visando amelhoria do diagnósticono tratamento dos casoshumanos, a parceriacriou o diagnóstico rápi-do. O diagnóstico labo-ratorial da leishmanioseé demorado, então fez-se possível padronizarum exame que é maiságil, onde no leito que opaciente está internadoé coletado uma pequenaamostra do sangue e odiagnóstico é feito nahora. Outros trabalhospromovidos junto àPrefeitura são no âmbitode controle da zoonose,onde grupos de pesquisado instituto acompa-nham o processo e ten-tam agilizá-lo. Há tam-bém trabalhos no con-trole da população cani-na que avaliam a eficá-cia dos diagnósticos nos

cães, a eficiência damedida de eutanásia doscães.

De acordo comPatrícia Quaresma, pósdoutoranda pelo Centrode Pesquisa, as medidasadotadas pela Prefeiturade Belo Horizonte estãocorretas e seguem asrecomendações doMinistério da Saúde. "Aeutanásia é uma medidaque tenta diminuir onúmero de reservatórios,o número de hospedeirosvertebrados da doença,para tentar diminuir atransmissão por vetores ec o n s e q u e n t e m e n t ediminuir o número decontágio humano dadoença", diz a especia-lista. Segundo ela, o cão éuma grande fonte deinfecção, por isso eles setornam reservatórios queajudam na transmissãoda doença para ohomem.

De acordo com dadosda Secretaria Municipalde Saúde, em relação aototal de cães examina-dos anualmente, nosúltimos anos obtêm-seuma média de 8% depositividade em Belo

Horizonte. Assim comoos casos humanos vemdiminuindo ao longodos anos, a soro-prevalência canina tam-bém vem decrescendo.

A eutanásia, defendidacomo forma de combate àdoença, usada de formaisolada é pouco impac-tante. Para o veterinárioLeonardo Maciel, essemétodo mostrou-se inefi-caz em todos os paísesonde foi utilizada e foiabolida. "É ineficaz noBrasil também. Se praticaessa matança há váriasdécadas e isso não con-tribuiu nada para adiminuição da doença,nem humana, nem cani-na", ressalta.

"Estudos desenvolvidostem mostrado que se aeutanásia dos cães forintegrada a outras medidasde controle como combatedo vetor e manejo ambien-tal, se não se mostraimpactante na diminuiçãode casos, tem sido capazde fazer uma manutençãoda doença sem a ocorrên-cia de surtos e epidemias",afirma a boóloga VanessaPires Fiuza, da Secretariade Saúde.

Eutanásia canina é colocadano centro da polêmcia em BH

LEISHMANIOSE REPRESENTA AMEAÇAn

BRUNA GUEDES

3º PERÍODO

Pela quarta vez, Marina Sotériada Silva, 62 anos, moradora doBairro Santa Efigênia, teve o cãolevado por agentes de Controle deZoonozes com um diagnósticopositivo para a LeishmanioseVisceral. A positividade do examesorológico para esse parasita leva acidade de Belo Horizonte a ter,em média, 10 mil sacrifícios cani-nos anualmente. A empregadadoméstica explica que a Prefeiturada capital não deu maiores deta-lhes do procedimento e visita re-gularmente a região em que mora,de uma a duas vezes no ano.Discordando da metodologia ado-tada, Marina acha desnecessária aeutanásia de cães. "Se há trata-mento, não há motivos para sa-crificar. Além disso, se você temum cão na sua casa, ele é seuamigo. Se você deixa sacrificar umcão a perda é equivalente a deuma pessoa", afirma.

Apesar de ter acionado previa-mente a Prefeitura Municipal,assim como seus vizinhos,Marina Sotéria culpa a negligên-cia das autoridades pelos cãesdoentes soltos nas ruas que setornam intermediários da leish-maniose. "Já ligamos para aPrefeitura, mas eles falam quenão é responsabilidade delespegarem os cães que estão na rua.Inclusive já fizemos essa pergun-ta para os agentes que foram láem casa. Eles responderam que aresponsabilidade é dos antigosdonos dos cachorros", diz.

A Secretaria Municipal deSaúde de Belo Horizonte,

responsável por enviar osagentes de Controle deZoonozes nas nove regionais dacidade, em contrapartida, possuiem seus panfletos informativos,além de informações sobre aLeishmaniose Visceral, açõespropostas, que incluem a comu-nicação da população à prefeitu-ra em casos de cães soltos nasvias públicas.

De acordo com a bióloga erepresentante da Secretaria deSaúde, Vanessa Pires Fiuza, omunicípio de Belo Horizonte éendêmico. Porém, houve umaredução de 51% de casos deLeishmaniose Visceral humanaem relação ao ano passado. Porcausa das medidas sistemáticas esem interrupções, a bióloga afir-ma adotar trabalhos de identifi-

cação e eutanásia de cães posi-tivos, controle do vetor atravésde borrifação de imóveis e inseti-cidas de efeito residual além detrabalhos com a população demanejo ambiental. "Ao longo dosanos temos conseguido manteros níveis de transmissão demodo que não ocorra nenhumasituação imprevista, ou de surto,ou de epidemias. Por isso, é rea-lizado um trabalho extenso deeducação e saúde", explica.

O trabalho de conscientizaçãoestabelecido pelo Ministério daSaúde encontra mais resistênciajunto à população de maiorpoder aquisitivo. Há relutânciados proprietários em entregarseus cães para os agentes deControle de Zoonozes. "ASecretaria de Saúde tem con-

seguido fazer um bom trabalhoapesar dessa questão, e, levandoem conta o total de cães queexaminados em domicílio, temosconseguido retirar cerca de 90%dos que estão contaminados",afirma Vanessa Pires. A educaçãoda sociedade inclui tambémmedidas referentes ao ambienteem que se vive. Portanto, sãoincentivadas medidas como reti-rada de entulho, limpeza dequintais, especialmente damatéria orgânica em decom-posição no solo (incluindo tron-cos, frutos, fezes animais e lixoorgânico). Esses elementos,somados a um solo úmido esombreado, é o que mantém ofoco do vetor, o mosquito-palhae mantém alta sua capacidade dereprodução.

O médico veterinário especia-lista em Leishmaniose Visceralcanina, Leonardo Maciel explicaque o combate ao mosquito daleishmaniose é particularmentedifícil, porque ele se adaptoubem aos centros urbanos. "Comoo mosquito se reproduz na terra,dedetizá-la é mais complicado, jáque os produtos terão efeitoresidual muito baixo. Além disso,o mosquito se multiplica rapida-mente, e em lugares que vocêjulga estarem muito limpos. Enão existe verba, mão de obra emuitas vezes vontade políticapara se borrifar tantos domicíliosquanto seria necessário para umcontrole eficiente, então aindanão foi descoberta uma maneirabombástica de controle. Hácomo controlar, mas não se con-segue fazê-lo", lamenta.

Projetos da SecretariaMunicipal de Saúde e doMinistério da Saúde com partici-pação da UFMG e Centro dePesquisa René Rachou, buscamdesenvolver um mapa de riscodiferenciado de Leishmaniosepara imóveis críticos no municí-pio. Em 2012 já serão implan-tadas novas técnicas de combate."Iniciaremos um monitoramentodo vetor, através de armadilhasluminosas nas várias regionaispara que possamos ter um melhordirecionamento das medidas decontrole", revela a bióloga. Alémdas novas técnicas, as medidas deprevenção que já vigoram per-manecerão efetivase os examesrealizados para diagnosticar oquadro de leishmaniose nos cãesdeverão serão substituídos pelaSecretaria Municipal de Saúde.

Problema de saúde pública, a Leishmaniose Visceral é motivo de preocupação para comunidade científica,

donos de cães e Governo. Medidas de controle como a eutanásia de cães diagnosticados causam polêmica

Marina Sotéria da Silva já teve quatro cães diagnosticados com Leishmaniose Visceral que foram recolhidos pela Prefeitura

Homeopatia é usada no tratamento,mas especialista receita cautela

Luiz Felipe trata seu cão com homeopatia

LETÍCIA GLOOR

LETÍCIA GLOOR

Page 4: marcototal287output

4 CidadeDezembro • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Localizado na região daPedreira Prado Lopes, umadas mais perigosas favelasde Belo Horizonte, oConjunto IAPI ostenta orótulo de lugar perigoso.Apesar das tentativas daassociação comunitária deacabar com essa situação, osmoradores ainda reclamamdos marginais, como é ocaso de Antônia RosaNeves, residente do com-plexo há anos. "Muitasvezes a gente sai para daruma volta na praça de lazere encontra moleques queficam pedindo dinheiro. Alémdisso, já furtaram meu celular. Nãodá para ter segurança", afirma adona de casa.

Tânia Alves Barros, ex-moradorado conjunto, conta que vendeu seuapartamento por causa da violên-cia. "Entre 2004 e 2005 estavaocorrendo uma briga entre duasfacções para controlar o tráfico nafavela. Aconteciam vários tiroteios,inclusive alguns acertavam os pré-

dios. Por isso, vendi meu aparta-mento baratíssimo e procurei umbairro mais tranquilo. Váriosmoradores fizeram isso", relata aaposentada.

O presidente da AssociaçãoComunitária do Conjunto Resi-dencial IAPI, Carlos AlbertoPinheiro de Mendonça Júnior,explica que a situação melhoroubastante após as intervenções rea-

lizadas pela polícia militarno local. Ele ainda salien-ta que durante sua gestão,a Associação Comunitáriaconseguiu retirar umalbergue que ficava dolado dos prédios e quecontribuía para a violên-cia. "As pessoas ficavam odia todo no Conjuntousando drogas e iam paralá só pra dormir. Mas con-seguimos tirar o albergue,que agora está localizadoem um outro lugar", expli-ca.Ápia Andrada, se emo-

ciona com o saudoso IAPIde sua época, em que não eramnecessários muros para manter asegurança. "Esse IAPI era tudo aber-to, não tinha fechamento de ponte,não tinha muro em volta, não tinhachave de portão, nem nada. Nãotinha essa segurança que temoshoje, mas não tinha os problemasque temos atualmente. Nóspodíamos andar até as 23:00 quenão tinha problema", afirma.

Criminalidade é motivo de insegurança

MORADORES AJUDAM IAPI A RESISTIRO Conjunto Residendial São Cristóvão, que é o nome oficial, passa por mudanças proporcionadas pelos próprios residentes, que têm como meta fazer do conjunto um lugar seguro para viver

n

ARKYSSOM GONÇALVES

HELLEN BARROS

THIAGO DE BARROS

VERÔNICA FERREIRA7º PERÍODO

"Hoje nós somos umgrupo de 16 pessoas nasci-das e criadas no ConjuntoResidencial São Cristóvão(IAPI). Nós fizemos aAssociação Comunitáriapara lutar e tentar retomaro nosso lar ao que era nanossa infância". É assimque o presidente da enti-dade, Carlos AlbertoPinheiro, mais conhecidocomo Juninho, traduz asmemórias afetivas em tra-balho para melhoria dodia a dia na comunidadeque habita essa conhecidaárea, na Região Nordestede Belo Horizonte.

Entre os avanos obtidosnos dois anos de vida daAssociação, os intregrantesapontam a melhoria nasegurança para o mo-radores, principalmentecom a nova iluminação e opoliciamento reforçado,afastando os usuários dedrogas de dentro do IAPI."Antes as pessoas vinhampara o conjunto usar dro-gas até mais tarde, mascomo a iluminação foi tro-cada e dois policiais fazema ronda até 1h da manhã,isso já não ocorre mais",

diz Juninho. Para Ápia Maria

Andrada, 65 anos, mo-radora do IAPI desde os 6,a decadência do con-domínio ocorreu com otráfico. "Quando sofremoscom o problema das dro-gas e das duas facções dafavela, muitos apartamen-tos foram vendidos a umvalor irrisório, com issomuita gente estranha veiomorar aqui, relata. Ela ten-tou se afastar do Conjuntopor duas vezes, mas asmemórias e as amizadescultivadas a trouxeram devolta. "Fui criada aqui,casei na Igreja SãoCristóvão e estudei noColégio Municipal. Moreiem Sabará e no bairroJaraguá, mas voltei. Aquiconstruí uma grandefamília, os vizinhos eramcomo se fossem meusparentes", conta.

É comum encontrarentre os moradores essa sen-sação de pertencimento,como ocorre com o casal deaposentados TerezinhaRibeiro Zanone, 86 anos, eFerrucio Zanone, 94. Elescasaram-se em 1948,mudaram-se para o Con-junto em 1952 e vivem nolocal desde então, sendo oshabitantes mais antigos doIAPI. "Foi aqui que criamosnossos quatro filhos, é aqui

que vivemos toda a nossavida", explica FerrucioZanone. Questionados sobreas condições de habitação, ocasal relembra da beleza dosprédios que eram modernospara a época e prezavampela tranquilidade. "Era omelhor lugar para se viver,eu e a Terezinha tivemosmuitos momentos felizesaqui", salienta Ferrucio.

Terezinha descreve oConjunto como um pre-sente dado por JK e com-para a tranquilidade encon-trada no IAPI com Lavras,no SUL de Minas, onde elavivia antes de mudar-separa a capital. "O bomdaqui é a vizinhança. Eugosto muito de conversarcom os outros idosos, sorrire sair para fazer ginástica".

As memórias dosmoradores também reme-tem ao descaso público como local. "O IAPI estava com-pletamente abandonado,antes do trabalho daAssociação não era o IAPIde quando me casei", dizÁpia. "A revitalização émuito importante para osmoradores, pois traz melho-rias em todos os sentidos".

Mas a reforma do conjun-to anunciada em abril desteano está parada desdesetembro. Dos nove prédiosdo IAPI apenas quatro forampintados e um está pela

metade, além disso, a refor-ma das fachadas parou nosexto prédio. Embora tenhadivulgado amplamente arevitalização, associando-a aprópria imagem, a Prefeiturade Belo Horizonte (PBH),informou por meio da suaassessoria, que apenasmediou o convênio, sendoque, a associação assumiuparte dos custos.

A obra completa estáorçada em cerca de R$ 700

mil, valor dividido em umconvênio entre nove empre-sas, que em contrapartidainstalariam banners de prop-aganda na frente do conjun-to, e a comunidade. Existeum documento que homo-loga o convênio, no qualestá especificado que aAssociação de Moradores éresponsável por arcar com amão de obra da pintura,que foi avaliada em R$ 193mil, dos quais um banco jápatrocinou R$ 40 mil.

Desde agosto, osmoradores do conjuntohabitacional estão cientesde que os R$ 153 milrestantes sairiam dospróprios bolsos. A propostada entidade é dividir aquantia em prestações deR$18 por apartamento.Como não foram devida-mente comunicados, osmoradores se sentiramindignados e não aceitarama sugestão. Isso acarretou aparalisação das obras.

Revitalização do Conjunto IAPI ainda não contemplou todos os prédios

VERÔNICA FERREIRA

Uma história que faz parte de Belo HorizonteCom a necessidade de

transformar Belo Ho-rizonte em uma metró-pole, a partir da década de40, o então prefeitoJuscelino Kubitschek reali-zou diversas alterações,sobretudo no que refere-sea arquitetura e urbanismo.Praças foram remodeladas,bairros foram construídos,novas avenidas foramabertas, enquanto ocomércio e a indústriacresciam consideravel-mente. O responsável poruma das novidades daépoca é o Instituto deAposentadoria e Pensõesdos Industriários (IAPI).Criado em 1936, pelo Go-verno Vargas, o Institutoexpandiu-se após 1945 epassou a financiar conjun-tos de habitação popularnas grandes cidades, comoé o caso do empreendi-mento realizado em BeloHorizonte no ConjuntoResidencial São Cristóvão,chamado de IAPI.

Uma iniciativa daprefeitura da cidade, doInstituto de Aposen-tadoria e Pensões dosIndustriários e da Com-panhia Auxiliar deServiços de Administração(Casa) do Rio de Janeiro,o Bairro Popular, como eraconhecido o conjuntoIAPI, foi levantado ondeficava a maior favela dacidade na época, aPedreira Prado Lopes.Segundo o atual presi-dente da Associação de

Moradores do ConjuntoResidencial IAPI, CarlosAlberto Pinheiro deMendonça Júnior, oJuninho, os prédios foramconstruídos em uma loca-lização estratégica paraesconder a favela. "Com oprojeto da Lagoa daPampulha e, consequente-mente, a abertura daAvenida Pampulha, hojeconhecida como AntônioCarlos, o Juscelino perce-beu que deveria fazer algopara tampar a favela",explica.

Moderno, o conjuntohabitacional tinha capaci-dade para abrigar 5.000moradores, sendo que oprojeto era formado por11 blocos verticais, aparta-mentos mobiliados, co-mércio e uma área centralpara lazer e esportes. Aconstrução começou em1944 e o conjunto foiinaugurado duas vezes, aprimeira em 1947 e asegunda em 1948, sempreno dia do trabalhador(01.05). Apesar disso,somente em 1951 que olocal ofereceu condiçõesde habitação e que osprimeiros moradores pu-deram se instalar nosapartamentos.

Em 1952, a família deÁpia Maria Andrada, 65,mudou-se para o conjun-to. Ela conta que o con-junto ainda não estavatotalmente terminado efala da burocracia paraconseguir a residência na

época. "O IAPI era dosindustriários e dos ro-doviários, nós tínhamosque preencher uma ficha eentrar na fila, como é feitohoje com as casas popu-lares". A história de vidade dona Ápia é contadajunto ao concreto destasedificações. "Eu fui criada

no edifício 10, no aparta-mento, 102, lá meu paicriou 8 filhos. Foi na igrejadaqui que me casei ebatizei meus filhos, foi poraqui que meus três filhosestudaram, aqui eu estouem casa".

O projeto, segundo afir-ma Juninho, foi idealizado

pelo arquiteto White LírioMartins e distinguiu-sepor ser o primeiro a usarblocos verticais em BeloHorizonte. Além disso,outra característica pecu-liar do condomínio é queexistem pontes flutuantesque ligam todos os prédiose permitem aos moradores

transitarem livrementeentre os mesmos. OConjunto faz parte doPatrimônio Histórico deBelo Horizonte pela leiorçamentária municipal9.668, capítulo XIII, tor-nando-se parte dos benstombados pelo patrimôniohistórico municipal.

Ápia Andrada e Juninho querem mais segurança para o IAPI

VERÔNICA FERREIRA

Page 5: marcototal287output

5SaúdeDezembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

COMIDA DE HOSPITAL GANHAATRATIVOS E MAIS SABORES

Hospital em Belo

Horizonte troca cardápio

e propõe uma nova

culinária para os inter-

nos. Com o nome de

‘confort food’, a nova

gastronomia deixa a

comida hospitalar mais

saborosa para o paciente

Dedicação dos funcionários da cozinha é importante para mudar a visão dos pacientes sobre a alimentação servida Ebalorar cardápio variado, nutritivo e saboroso é preocupação do setor de nutrição do Hospital Vera Cruz

n

ANA FLÁVIA CASTRO

FLORA MINARDI

RAQUEL REZENDE7º PERÍODO

A Nutricionista doHospital Vera Cruz, noBarro Preto, na RegionalCentro-Sul de Belo Hori-zonte, Maria ImaculadaSiqueira considera quecomida de estabelecimen-tos hospitalares pode edeve ser saborosa. Ba-seada nessa perspectiva, eapós o recebimento dereclamações, a adminis-tração da instituição de-cidiu modificar o cardápiodos pacientes. O esforçofeito é para que os pratosrelembrem as refeiçõespreparadas nas casas dosinternos.

Esta preocupação comuma aproximação dacomida caseira, tem um

nome: confort food, como échamado pelos profissio-nais da gastronomia. Esteé um conceito que surgiuem 2002 e trabalha comcomidas que despertamsensações agradáveis. Noshospitais além de deixar acomida com um sabormelhor, as refeições fazemcom que o paciente sinta-se mais confortável du-rante a internação.

O hospital faz todo mêsuma pesquisa para saber oque deve ou não melhorar,atingindo com esteserviço o índice de 90%de aprovação dospacientes. A cozinheiraMargareth Nascimentoconta que o prazer de co-zinhar é maior por saberque os pacientes estãoaprovando. Segundo ela,um dos pratos preferidospelos internados é o purê

de batata. Os alimentos são orga-

nizados com todo cuidadoe higiene. Na cozinha asrefeições são preparadasde acordo com a necessi-dade do paciente e as ban-dejas são etiquetadas,com informações sobre apatologia, como porta-dores de diabetes ehipertensos. Ao todo sãoproduzidos três diferentestipos de refeições: parapessoas que estão inter-nadas, para os acompa-nhantes e para os médicosplantonistas.

Apesar das mudançasdo cardápio o arroz é umprato que não sai da dietada grande maioria dasrefeições. O chefe de co-zinha, Nonato Souza, jáperdeu a conta de quantosquilos do alimento faz por

dia. "Nós nos preocu-pamos com o sabor e coma qualidade. Por isso nadaé reaproveitado, tudo no-vinho para preservar ogostinho", afirma.

O trabalho das nutri-cionistas dentro dos hos-pitais requer todaatenção. É por meio deuma alimentação adequa-da que os pacientespoderão suprir a carênciade vitaminas causadapelos medicamentos ouaté mesmo pela falta depaladar que os mesmosprovocam. O trabalho éde resgatar o apetitedestas pessoas com ali-mentos mais atrativos esaborosos.

Muitos acreditam quecomida apetitosa tem queter sal. Imaculada explicaque este é um conceito

errado, já que o impor-tante é ter gosto e sernutritivo. "Hoje, tentamosfazer pratos diversificadosao longo da semana.Temos a preocupaçãotambém de trabalhar ascores nos pratos com ver-duras diferentes. O saborpode vir não do sal, massim do alho, cebola e ou-tros temperos", conta.

O setor de nutrição doHospital Vera Cruz sem-pre procura fazer um agra-do ou outro para ospacientes como é o casoda sobremesa. A famosagelatina de hospital podeser facilmente substituídapor um flan ou pudim.

Esta mudança do cardá-pio divide opiniões.Algumas pessoas aindaacreditam que este é umproblema frequente den-

tro dos hospitais. Para oclínico geral Luís Eduardoa comida hospitalar pecana estética e no sabor.Mesmo assim concordaque determinado tipo dealimentação é indicadopara diferentes casos clíni-cos.

Alexandre Cassimiro,estudante de engenharia,que já ficou internado nohospital que modificou ocardápio, discorda domédico dizendo quenunca achou que a famosacomida de hospital fosseruim. "é necessário para arecuperação ter uma ali-mentação mais leve. Aquestão do gosto vária depessoa para pessoa". Elecompleta dizendo quenunca achou que a comi-da fosse ruim.

Alimentação complementaum tratamento bem-sucedido

O conceito de confortfood não é só utilizadodentro dos hospitaispara ajudar na alimen-tação dos pacientes, atémesmo em casa os paisdevem diversificar nahora de fazer as criançasse alimentarem correta-mente. E a comidacaseira ajuda muito nahora de estimular ospequenos a comeremverduras e legumes.

E nada é mais gostosado que a comida feitaem casa pela mãe. Masquando bate aquele res-friado ou alguma dor nocorpo ou na cabeça, nãohá prato preferido quefaça aumentar o apetite.Quando adultos é

necessário uma forcinhapara ingerir todos aque-les nutrientes comoforma de remédio paraum bom resultado dotratamento, mas quandofalamos de crianças épreciso maior dedicaçãoe muita paciência dospais.

Uma coisa é certa:cuidar da alimentaçãodas crianças dentro decasa é muito mais fácil equando falamos emrecuperação da saúdeesse cuidado deve serredobrado.

Além da qualidadedos alimentos prepara-dos os pais devemcuidar dos horários e daquantidade consumidas

diariamente pelos filhos.Cenoura, brócolis, cou-ve e outros alimentossão indispensáveis parao organismo e podemnão agradar o paladardas crianças, mas hásempre um 'jeitinho' denão deixá-los de fora dasrefeições diárias.

Mãe de Lucas, 5 anos,e Maria Clara, 3,Michelle Dias usa algu-mas táticas para que osfilhos não deixem decomer alimentos tãoimportantes e saudáveis."Existem as historinhas:'o Popeye é forte porquecome espinafre', 'acenoura vai deixar seucabelo bonito'. Outradica é quando for fazer

um suco de laranja, porexemplo, colocar umabeterraba, couve ououtro alimento no meio.O sabor não será alte-rado e ainda fica colori-do", conta a mãe.

Para estimular os fi-lhos a se alimentarembem e nos horários cor-retos, nada melhor doque se tornar o próprioexemplo para eles.Michelle e o maridoAlexandre sentam àmesa durante todas asrefeições e mostram aosfilhos que estão se ali-mentando de coisasboas e saudáveis, fatoque levará as crianças ase comportar da mesmaforma. Nutricionista Maria Imaculada Siqueira: comida saudável e com sabor

ANA FLÁVIA CASTRO ANA FLÁVIA CASTRO

ANA FLÁVIA CASTRO

Page 6: marcototal287output

acabar com ela. Nossocompromisso maior é for-mar profissionais, o deverde atender toda a popu-lação é do Estado", afirmao coordenador. AlexandreLaguna procurou a clínicapela primeira vez paraconseguir fazer um trata-mento de canal, de formaespontânea. "Me recomen-daram aqui e via atravésde anúncios", relembra. Aopassar por uma triagem,foi marcado o dia doatendimento, realizado naclínica geral, onde tam-bém leva o filhoGuilherme para fazerrecorrentes consultas. "Deseis em seis meses elesdeixam a disposição umalista para pessoas interes-sadas a fazer limpeza, toda

vez que fico sabendo euvenho aqui trazer oGuilherme e me inscrevo",Alexandre, usuário perió-dico da clínica, gosta doatendimento prestadopelos estagiários.

"Há comprometimento,os professores sempre ori-entam os alunos nos trata-mentos, nunca me ocorreuatrasos", elogia. Alexandretambém se inscreveu paraconseguir o aparelho, masjá está na fila há oito anos."A triagem determinaquem é de maior urgênciae eu já estou já oito anosna fila. Já até perguntei seeles não sumiram commeu papel", brinca ovendedor de móveis, que,ao contrário de própriocaso, não encontrou bar-

reiras no tratamento dofilho.

Além de atender ademanda espontânea,como no caso deAlexandre, a clínica, emsua maioria, atendeencaminhamentos do SUS(Sistema Único de Saúde)através do Sistema deRegulação do SUS, o SIS-REG. "A pessoa procura oPosto de Saúde, que aencaminha até umaCentral de marcação deatendimentos e daí é feitoo atendimento aqui",explica o coordenadorRubens. O paciente,depois de marcada a con-sulta na Central de mar-cação, passa por umatriagem que determina aurgência do caso.

6jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório do

ATENDIMENTODE QUALIDADEn

PIERO MORAIS

5º PERÍODO

Há dois anos,Guilherme AugustoLaguna, 14 anos, caiu deskate enquanto brincavana rua de casa no BairroCarlos Prates. O pai,Alexandre Laguna Silva,40 anos, a princípio se pre-ocupou com o corte noqueixo do filho ocasionadopela queda e o levouprontamente a um hospi-tal, mas não atentou aofato de que o tombo pode-ria ter causado danos àdentição do garoto.Orientado por professorese amigos a procurar auxíliopara o filho na Clínica doCurso de Odontologia daPUC Minas, instalada noCoração Eucarístico,Região Noroeste da capi-tal, onde o próprioAlexandre já fez tratamen-to de canal gratuitamente,ele descobriu que o localprestava não somenteatendimentos clínicosgerais, mas também ofere-cia tratamentos deortodontia, implantes depróteses e aparelhos. Hoje,há um ano fazendo trata-mento dentário na clínica,Guilherme instalou oaparelho fixo e teve osdentes de baixo salvos atempo pelo diagnóstico deurgência feito pelos esta-giários, estudantes dagraduação e pós-gradu-ação do curso que fazemem média 3300 atendi-

mentos mensais. A Clínica de

Odontologia é uma dasquatro clínicas-escola daPUC que oferecem trata-mentos gratuitos à popu-lação e a resposta a isso é acrescente demanda popu-lar por atendimentos."Além do dentista, aquidentro da PUC vocêencontra assessoria jurídi-ca, a clínica de psicologia,a clínica de fisioterapia,aqui é muito completo",enumera Alexandre, que semostra satisfeito com otratamento recebido pelofilho nas consultas pe-riódicas mensais parafazer a manutenção doaparelho. "Não tive dificul-dades para conseguiratendimento para ele, foitudo rápido. Nunca tivedecepção", opina.Completando a lista declínicas que Alexandre temconhecimento, a PUCainda dispõe da clínica deFonoaudiologia naAvenida Brasil, 2023, 2ºandar, no bairro Savassi e,além da clínica deFisioterapia instalada noCampus da Universidadeno Coreu, existe umainstalada na Rua doRosário, 1081, em Betim.Cada clínica organiza ademanda popular deforma diferenciada, deacordo com o currículopedagógico.

ODONTOLOGIA Para oProfessor Rubens deMenezes Santos, 57 anos,

coordenador das Clínicasde Odontologia, o quadrocomposto por 72 esta-giários, sendo 60 da gra-duação e 12 da pós-gradu-ação e os 11 professoresorientadores, oito para osgraduandos e três para aespecialização, é o sufi-ciente para realizar o obje-tivo maior da clínica. "Aclínica existe para formarprofissionais capacitados aatender", salienta.Segundo RubensMenezes, a demanda,sempre crescente, dá aoportunidade aos alunos ase prepararem para aprofissão em todas asáreas, e a estrutura que aclínica oferece permite aosestagiários umapreparação completa."Atendemos não só clínicageral, mas casos deortodontia, cirurgia. Aclínica tem estrutura paraatender todo o tipo decaso e a demanda grandeoferece todos esses tiposde pacientes", afirma. Paraencarar a demanda cres-cente, a clínica enfrentadesafios de flutuação nonúmero de estagiários,recorrente ao número dealunos que varia de umperíodo a outro, o quemodifica a grade deatendimentos e os trata-mentos oferecidos a cadasemestre. "Existe fila sim, eo crescimento é devido ànecessidade da população.Não é nosso compromisso

Guilherme faz tratamento odontológico e o pai Alexandre gosta do trabalho fornecido

Trabalho desenvolvido pelas Clínicas da Universidade possibilita que pessoas tenham

tratamentos gratuitos nas áreas de fisiotorerapia, odontologia, fonoaudiologia e psicologia

Sob a coordenação daprofessora Cláudia SilvaDias, 43 anos, a Unidadeda Clínica de Fisioterapiano Coração Eucarísticoenfrenta os mesmosdesafios que aOdontologia: enquadrar acrescente procura poratendimentos na flutu-ação do número de alunospor período. De acordocom a coordenadora, paraconseguir atender deforma eficaz e formarbons profissionais, exigeque as clínicas obedeçamum planejamento semes-tral bem traçado. "É pre-ciso planejar a dis-tribuição dos estagiáriosem cada campo de atendi-mento oferecido pelaclínica e enquadrar me-lhor toda a demanda paraconseguirmos atendermais", afirma.

Dados desse semestremostram que a clínicaatende 140 pacientes pordia, distribuidos em

2500 atendimentos pormês. Desses, 90% sãorealizados por convêniodo SUS, onde o pacienteprocura o posto de saúdeque o encaminha à clíni-ca-escola mais próximade sua residência."Atendemos na maioriados casos moradores dobairro e do entorno,como por exemplo,temos muitos pacientesdo bairro PadreEustáquio se tratandoaqui", afirma a professo-ra. A clínica atende qua-tro tipos clínicos defisioterapia: ortopedia,cuja a demanda é maior,fisioterapia cardiovascu-lar, obstetrícia e fisiote-rapia neurológica.

A equipe de 46 alunosem estágio supervisiona-do são divididos em doisturnos, de manhã com30 e a tarde com 16,fazem rodízio de atendi-mentos nas quatro áreas.Os restantes 10% de

demanda da clínica re-presenta a procuraespontânea e é oferecidaà professores, fun-cionários e alunos daPUC.

O técnico contábilDeornes Garcia daSilveira, 62 anos, é umdos pacientes da clínicade fisioterapia. Após servitimado em um acidentede trânsito, quando foiatropelado por um moto-ciclista em 8 de julhodesse ano, Deornes pas-sou por cirurgias noombro, perna e braçodireito e teve os movi-mentos dos membroscomprometidos. Sempreacompanhado pelaesposa, Jane ElizabethPereira Silveira, o idosoconta que depois do aci-dente a vida mudouabruptamente, tendo deter parado com osserviços autônomos decontabilidade que presta-va e agora correr atrás da

recuperação. "As coisas setornaram complicadas, édifícil conseguir resgataro INSS, quero voltar atrabalhar", lamenta ocontador. Com os filhosajudando nas despesas,Deornes é satisfeito como atendimento da clínicae comemora o fato de sergratuito. "Se fossemospagar, não teríamoscondição", afirma aesposa Elizabeth. Semburocracia, após ter pas-sado por encaminhamen-to médico e pela triagemno Pronto AtendimentoMédico, PAM, doBairro Sagrada Família,Deornes demorou trêssemanas, desde a procu-ra até a primeira con-sulta, para iniciar otratamento. "O atendi-mento aqui é atenciosoe rápido", afirma.

Deornes faz ativi-dades uma vez porsemana na PUC parareabilitar o movimento

da perna, além de fazerconsultas semanais naClínica da UFMG como ombro e o braço. Otratamento é por tempoi n d e t e r m i n a d o .Segundo Cláudia Dias,quando o paciente vematravés do convêniopelo SUS, o sistema li-bera 20 sessões parareabilitação. Havendonecessidade, o pacientepode renovar o númerode sessões e continuar otratamento normal-mente.

Apesar da flutuaçãono número de esta-giários por mês e oaumento da demanda, omaior problema para aclínica, na visão deCláudia Dias, é oabsenteísmo dospacientes. "Muitos sãodebilitados de loco-moção e a clínica é dedifícil acesso, ou nãotêm condições finan-ceiras de vir sempre. Há

poucas linhas de trans-portes públicos queatendem a região e ospacientes passam a fal-tar nas sessões, o quecompromete em muitosua reabilitação. Nós jáprocuramos a Secretáriade Saúde do municípiopara entrar conosconuma parceria por umamelhoria no atendi-mento de transportepúblico na região", assi-nala a coordenadora.

A professora acreditaque com a mudançacurricular da qual ocurso passará no próxi-mo ano, no início dosemestre aumentará aproposta de vagas, commais 15 alunos esta-giando por campo."Acredito que assimpoderemos atender ummaior número de pes-soas", afirma.

Desafio na fisioterapia é atender à demanada cada vez maior

PIERO MORAIS

Page 7: marcototal287output

como forma de anestesiar as difi-culdades que estão ali diaria-mente", complementa.

FIBROMIALGIA Uma patolo-gia que tem fatores psicológicoscomo fiel da balança em seutratamento ou insucesso é afibromialgia, que causa doreslocalizadas em 18 pontos identi-ficáveis do corpo no diagnóstico,dentre eles a cabeça, o maxilar,ou seja, podendo ser associada àdor orofacial, e as articulaçõesdos membros. O tratamento paraa fibromialgia é paliativo, nãotem cura, mas pode ser ameniza-da. "O que é a solução do caso, éuma solução que não existeporque muitas vezes não dá paraexplicar o porque de aquela dor

estar ali. Então o que é um cir-cuito neurológico, um anatomofi-siológico, não tem nada que jus-tifique o que é a dimensão fortedaquela dor. Nas fibromialgias,se observa o que é a força dopsiquismo operando no corpo,porque o corpo fica lesadomesmo", explica Heloísa.

Heloísa descreve casos ondepacientes em que há dificuldadesde se fazer o acompanhamentopsicológico, se apegam ao diag-nóstico físico em detrimento aopsicológico por algum bloqueioou dificuldade em expor questõespessoais. "Nós já tivemos casosde a pessoa dizer: 'Eu fico rezan-do para que isso seja muito ruimno meu corpo mesmo, porque seisso tiver alguma coisa comigovai ser pior'. Aí percebe-se a difi-culdade em encarar uma adversi-dade, em mensurar o que é piormesmo", conta.

O tratamento particular, indi-vidualizado nos casos de fibromi-algia deve estar em acordo com aparceria médica, pois o tratamen-to psicológico, subjetivo, não ésuficiente sem o suporte da áreamédica, assim como a área médi-ca sem o suporte fármaco não ésuficiente sem o auxílio da psi-cologia, segundo Heloísa. "A cadacaso, pode ser que não funcione,a um tempo funciona, depois dáum efeito colateral ou dá umefeito reverso, então o tratamen-to possível é onde há essa parce-ria", diz. Heloísa ressalta que,havendo a compreensão e apesquisa quanto à questão dador, desde o trabalho interdisci-plinar, apesar de não haver aindaresultados absolutos, mas osefeitos já são observados, e emsua maioria, dos casos estudadosem conjunto, tem havido efeito.

Especial Campus 7Dezembro • 2011docursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório

TRATAMENTO DE DORES CRÔNICASO diagnóstico médico de uma doença e a compreensão dos sintomas é fundamental para a identificação dos cuidados necessários para o tratamento de pacientes com dores crônicas

n

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

3º PERÍODO

Resultado de uma parceriaentre as escolas de Psicologia eOdontologia da PUC Minas, aClínica da Dor (ProjetoInterclínicas de DisfunçãoTemporomandibular e DorOrofacial) tem conseguido levaralívio a seus pacientes. É o casoda autônoma Patrícia AparecidaDias Gomes, 41 anos,que4 faztratamento de dor crônica nomaxilar do lado esquerdo devidoa um desgaste muscular. Elachegou à Clínica da Dor, após seconsultar com vários especialis-tas, inclusive otorrinolaringolo-gista e fisioterapeuta. A dor delaé localizada no maxilar, mas podese alastrar a outras áreas da face."A dor incomoda muito, e temdias que eu não consigo nemconversar direito, tenho dificul-dade até para bocejar", conta.

Patrícia, em consulta coorde-nada pela cirurgiã dentista edoutora em prótese dentária,Lylian Vieira de Paula, 45 anos,foi diagnosticada com um des-gaste muscular, e um prognósti-co de uma cirurgia para reade-quação do maxilar. A dor orofa-cial geralmente é muscular,podendo ocorrer também nasarticulações e nos tendões. "Amais prevalente das dores orofa-ciais são as dores musculares",explica Lylian. Com uma dorgraduada entre 8 e 9, sendo 10uma dor máxima, segundo classi-ficação da Escala Visual Análoga(EVA), Patrícia tem feito tam-bém um acompanhamento psi-cológico, coordenado pelamestre em clínica psicanalítica,Heloísa Cançado Lasmar, ondealém de um reforço no tratamen-to da dor fisiológica, pode-semelhor compreender e diagnos-ticar as dores crônicas e seusefeitos psicológicos, como fasecomplementar ao tratamento.

Esse processo de classificaçãoda dor é feito por meio do depoi-mento do paciente que a quan-tifica segundo essa escala, e que,segundo Lylian, é muito impor-tante numa consulta. "A pessoamesmo vai quantificar a dordela, porque não tem como umapessoa avaliar o quanto a outraestá sofrendo ou não, e assim,fica mais fácil para se saber se hámelhora e se o tratamento dá o

resultado esperado", explica,onde também pode ser avaliadoo grau de tolerância à dor. "Éinteressante que na área médica,a medida da dor é sempre subje-tiva, pois não há nenhum apare-lho objetivo que meça a dor, ador é sempre a dor particular dosujeito", afirma Heloísa Lasmar.

O fator psicológico atribuídoao agravamento ou à diminuiçãoda dor foi problematizado porLylian após um período de trêsanos em que houve outro traba-lho interdisciplinar que envolviaalém das clínicas de odontologiae psicologia, as clínicas defisioterapia e fonoaudiologia."Após a retomada do projeto, nosegundo semestre deste ano, osresultados têm sido muito bons,há um acréscimo didático paraos alunos e os pacientes têm sidobem melhor atendidos, porqueeles estão sendo atendidos nãosó em uma área, principalmentequando se trata da dor", conta.Ela ressalta a importância dainterdisciplinaridade e o apoioda psicologia por haver aspectosque não estão ao alcance dasáreas médicas isoladamente.

Para Heloísa Lasmar, o estadopsicológico pode afetar nos casode dor crônica e descreve a dorpsicossomática, sendo estapotencial anuladora de um trata-mento ou evolução que seja foca-da no fisiológico, ou seja, através

da administração de fármacos eintervenções cirúrgicas. "Temalguma coisa que afeta mesmo ocorpo, que é o que podemoschamar de psicossomática.Quando a área médica vai traba-lhar o quanto ao que implica otratamento, a possibilidade, aevolução e alguma coisa queseria simplesmente fisiológica,não tem efeito. Aí se observa oforte componente psíquico", diz.

Sobre as dificuldades do trata-mento, Heloísa explica que aatribuição à dor estritamentefísica, ou seja, o que o corposente, geralmente o paciente nãoassocia a dor a um estado psi-cológico, como a depressão ouansiedade. "Ninguém nuncapensa em atrelar isso, ou que issotenha alguma coisa a ver com oque é a situ-ação ou aangústia dosujeito. É umaforma que anossa subjetivi-dade arranjapara tratar oque é quepodemos dizercomo a dor deexistir, porqueao invés de seconcentrar nador de existir,concentra-se nador do corpo,

Cacilda da Con-ceição Caldeira Ro-drigues, 51, sofre coma fibromialgia há 14anos, em conjuntocom uma depressãotambém diagnostica-da na mesma época.Apesar de não terprocurado um psicó-logo, Cacilda tomaa n t i d e p r e s s i v o s ,receitados por seureumatologista comomedida para ame-nizar a dor. "Passeipor vários remédiosa n t i d e p r e s s i v o s ,muitas vezes nãodavam certo, unsdavam efeitos cola-terais, outros nãofaziam efeito. Há unsseis anos tenho toma-do Certralina, que é oúnico que deu umacontrolada boa", afir-ma. Fazendo associ-ação da dor à de-pressão, apesar de

não associá-la comoorigem da dor, já queforam diagnosticadasjuntas, Cacilda nãoabre mão do medica-mento, mesmo fazen-do caminhadas, quan-do a dor torna pos-sível a realização deuma atividade física."O que mais me ajudamesmo é o medica-mento, pois se eu ficosem ele, a dor voltacompletamente, evolta tudo, voltaaquela rotina todaque eu tinha anterior-mente, e aí tem quecomeçar tudo denovo. Então tudoajuda, a caminhada,controlar o dia a dia,os problemas da vida,as preocupações, maseu acho que é o anti-depressivo que meajuda mais", conta.

Avaliar as causas eefeitos tanto da dor

crônica quanto dafibromialgia na corre-lação com os fatorespsicológicos, pode seranalisado tanto noviés de a depressão, aangústia ou a an-siedade serem os agra-vantes das crises dedor, quanto a dor sera causadora destes."Isso está dentro doque chamamos de sin-tomas contemporâ-neos, e que chama anossa atenção por serum fenômeno obser-vável nos últimos dezanos. Há dez anosnão nos chegava essetipo de queixa, e hácinco anos é im-pressionante o núme-ro de queixas comesses componentesdiretamente no cor-po", conclui HeloísaLasmar.

Fatores psicológicos influenciamdiretamente os problemas físicos

A doutora Lylian Vieira de Paula diz que somente os pacientes podem quantificar a dor que eles estão sentindo

A Clínica de Odontologia da PUC Minas realiza procedimentos relacionados a dores crônicas no maxilar

LETÍCIA GLOOR

LETÍCIA GLOOR

Page 8: marcototal287output

8jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório do

MEMÓRIA DE VOLUNTÁRIOS É TRUNFO PARA PRESERVAR HISTÓRIA DA CAPITALn

RAPHAEL VIEIRA PIRES7º PERÍODO

O ano é 1958 e BeloHorizonte começava a viver aconstrução de um sistema desaneamento e esgoto, feita apartir da intervenção no Riodas Velhas. Máquinas retiran-do montes de terra, valas pro-fundas e muitas pessoas tra-balhando, comandadas porengenheiros fizeram parte docenário da cidade no momen-to em que as obras tomavamparte. Quem relembra dascenas é um dos engenheiros-chefe responsáveis pelas obrasno Rio das Velhas, NewtonSantos Vianna, 89 anos. Elefaz parte, atualmente, de umgrupo de voluntários chama-do Cestas da Memória, queajuda o Arquivo Público daCidade de Belo Horizonte(APCBH) a identificar pes-soas, lugares e eventos emfotos antigas relacionadas àhistória da capital.Inevitáveis, as memóriascomo as que Newton temsobre a sua participação naimplantação do saneamentoem BH, surgem em meio àsfotos, e histórias de vida emomentos importantes sãocontados por estas pessoas.

"Foi o tempo que nós sofre-

mos", brinca Newton, aorecordar como era a vida nacapital nos tempos de obrasno Rio das Velhas. O primo deNewton, Dalmo Cruz Vianna,83 anos, engenheiro e tam-bém participante do grupo doArquivo Público, lembra demomentos engraçados envol-vendo o manobreiro, profis-sional responsável por admi-nistrar quantas horas seriamgastas na perfuração de algumpoço. Isso tudo na época da

gestão do prefeito JorgeCarone Filho, entre janeiro de1963 até 1965. "Tinha omanobreiro, que era uma pes-soa muito visada. O pessoalachava que ele desviava di-nheiro de um lugar para poderusar em outro poço. E as mu-lheres vinham de cabo de vas-soura nele", diz Dalmo.

A imprensa da época bati-zou a obra, satiricamente, de"a novela da adutora do Riodas Velhas". Isso porque a pre-

visão de término das obrasseria de três a quatro anos, ouseja, terminaria entre 1961 e1962. Porém, a "novela" seprolongou até 1º de julho de1973. Desafios e grandesproblemas encontrados pelafrente na construção dostúneis agravaram a situação eo atraso de mais de dez anosfoi inevitável.

Um dos empecilhos encon-trados no caminho porNewton, Dalmo e todos que

trabalharam nas obras foi notúnel do Taquaril. Na per-furação, o pessoal encontrouum material mole, que inva-diu todo o túnel e impediu oprosseguimento das obras. Asolução foi solidificar o mate-rial para poderem cortá-lo,mas o tempo despendidoadiou a finalização da aduto-ra. A falta de água causadapela interrupção da água foium agravante. Dalmo contacomo resolveram. "O prefeitoLuís Gonzaga de Sousa Limaconseguiu na época com aCedae uma sonda para poder-mos fazer um furo e mandar aágua por cima do morroenquanto ela não dava pra virpelo túnel. Era uma faltad'água terrível", relembra. Aágua saía onde é hoje aAvenida Country Clube deBelo Horizonte.

A falta d'água rendeu boashistórias. À uma hora damanhã, Dalmo recebia li-gações de moradores da capi-tal, reclamando. "Ligavampara mim e falavam na maiorcara-de-pau 'ô, seu Dalmo,você estava dormindo? Vocême desculpa, mas é que euestou esperando ver se a águachega aqui na porta, parapoder colher aqui, porque elanão tem pressão para ir na

Por meio de arquivos de fotos as pessoas buscam lembrar os momentos marcantes da história da capital

mineira. Isso ocorre como um exercício natural para aqueles que gostam de contar casos do passado

Voluntários usam antigas memórias para identificar por meio de fotos as pessoas, os lugares e os eventos. Eles se reunem uma vez por mês

Episódios são relembrados por meio das fotosQuem vê as fotos no Arquivo

Público e também recorda demomentos passados é MariaBeatriz Hauck MagalhãesMiranda, 55 anos. Formada emEducação Física, ela era chefe dePromoções Educativas eEsportivas em 1978, naSecretaria de Cultura, Turismo eEsporte de Belo Horizonte.Como ela trabalhava naPrefeitura, ela se identificar emfotos oficiais da cidade hádécadas atrás é recorrente. Emuma foto do Forró de Belô entre1979 e 1982, lá estava ela comcolegas de trabalho. Eram quatrodias de festa, de acordo comMaria. Na quinta e na sexta-feira acontecia a primeira elimi-nação das quadrilhas, e nodomingo ocorria a apresentaçãofinal. Ela adorava trabalhar noevento e que apesar da "ralação",como ela mesma disse, ver a feli-cidade estampada no rosto daspessoas valia qualquer esforço.

Emocionada, Maria lembrados momentos que passou comos colegas de trabalho no Forróde Belô. "Pelas fotos eu vejomeus colegas felizes ali, porqueeles iam e aproveitavam pratomar um caldinho de feijão. No

final do 3º ano de gestão doprefeito Maurício Campos o car-naval já tinha melhorado muitonessa cidade. As pessoas já que-riam desfilar em Belo Horizonte.A nossa ideia era difundir a má-xima: pratique lazer", contaMaria.

A partir da revisão de fotos doarquivo público, a ex-funcionáriarecordou a história de como co-nheceu seu marido. Ele eracorredor de kart e ela trabalhavacronometrando as corridas.Maria, à época, achava que seufuturo marido paquerava aamiga que morava com ela, masnão era bem assim. Um dia,após assistirem à peça de teatro"Um inimigo do povo", do dra-maturgo norueguês HenrikIbsen, ele a presenteou. “Alicomeçou tudo", recorda, comum sorriso no rosto.

HOBBIE Para o médico geria-tra de 56 anos Marcos de LimaHorta, participar do Cestas daMemória é como um hobbie,assim como tirar fotografias."Tenho mania de tirar fotografia,de guardar fotos de lugares quenão existem mais em BH", afir-ma. Ele conta que essa mania o

Mas não é só de enge-nheiros, médico e fun-cionários públicos que éfeito o grupo de voluntários.De jornalista também.Theódulo Amaury daMotta, 66 anos, trabalhouno Estado de Minas de 1963até 1996. Nascido emDiamantina, sua famíliamudou-se para BeloHorizonte em janeiro de1962 e em abril seguinteentraria para o jornal. Elecomeçou lá identificandofotos publicadas e não-pu-blicadas das edições, poisapós uma reforma no edifí-cio, todos os arquivos desde1928 foram perdidos. Nos

anos 70 foi para a redação,nas editorias de agro-pecuária e economia, masdepois voltou a trabalhar noarquivo do jornal. "Aqui noArquivo fico com a parte depolítica porque sei maisdessa área. De tanto identi-ficar, acabo guardandonomes desde a década de60", salienta Theódulo.

Um fato esquecido pelaspessoas vem junto com asfotos que passaram pelosolhos do jornalista. Emsetembro de 1964, um ex-presidente da Síria, o gene-ral Mohamed AbidChichakli, foi assassinadoem Goiás. Ele foi morto por

um rapaz de óculos escuros ecicatriz entre os olhos,chamado Nawal Ben YoussefGhazal, pertencente àreligião Drusi, cujosseguidores tinham sidoperseguidos e suas aldeiasbombardeadas pelo Generalquando Presidente da Síria.

Os jornais da época dis-seram que este rapaz saiu deBrasília no dia 24 de setem-bro de 1964, com destino aCeres e despediu de seusamigos, como se nunca maisfosse voltar. "Nawal morreuem Belo Horizonte hápoucos anos e foi enterradona Síria com honras deherói", relata.

Jornalista usa arquivos para lembrar

ajuda na hora de identificarfotos de lugares que não existemmais ou que sofreram mudançase que o macete está em ter algu-ma referência na foto, como umaesquina, uma torre de igreja etc.

Memórias vêm à mente deMarcos ao ver as fotos doArquivo. "Agora mesmo eu esta-va vendo ali umas fotos da Feirade Artesanato, que era na Praçada Liberdade. Nessa época euestava terminando o científico,que equivale ao segundo grau elembro quando eu ia à feira",conta o médico.

Indo mais longe, Marcos lem-bra dos tempos de menino, dereunir a turma na rua para jogarfinca e bola de gude. Sua infân-cia aconteceu toda aos arredoresda Assembleia, onde morava. Ele

conta que antigamente a dis-posição das ruas RodriguesCaldas e Martins de Carvalho eda avenida Álvares Cabral erabem diferente de como é hoje.Ali brincava com seus colegas."De vez em quando você vêalgum terreno vazio que viroucasa e agora é um prédio. E eubrincava nesses terrenos, comtodos os meus amigos", lembra.

Outro ex-funcionário públicoque também participa dassessões é Raimundo do EspíritoSanto, que se diz jovem e "nãoquer pensar em idade". Ele tra-balhou na parte administrativa,na sessão de classificação de car-gos, entre 1955 e 1985.Limpando o rosto das lágrimas,Raimundo conta emocionadodas fotos em que grandes amigos

já falecidos aparecem. Uma emespecial foi com o prefeitoOswaldo Pieruccetti. "Vi umafoto hoje aqui em que eu emuitos colegas estávamoscomemorando o aniversário doPieruccetti em um almoço. Eleera uma pessoa que sabia formaramizades sinceras", comenta.

Antigos colegas acabam seencontrando mais tarde na vida.Assim foi com Raimundo e comAlbes Pereira Cláudio, 88 anos,voluntário do Cestas daMemória. Albes era chefe deRaimundo na Prefeitura, entre1955 e 1966, em que Albes erachefe de registro municipal. Porter este cargo, ele aparece recor-rentemente em várias fotos. "Eraeu quem lia os deveres de cadasecretário no momento daposse”, conta.

Raimundo do Espírito Santo é ex-funcionário público e participa das sessões todo mês

LETÍCIA GLOOR

LETÍCIA GLOOR

Page 9: marcototal287output

caixa'", conta o engenheiro.Na mesma época, moradoresdo Bairro Sagrada Famíliachegaram a perfurar, porconta própria, um poço arte-siano em um lote onde hoje éa Avenida Petrolina tambémpor conta da escassez de água.

De acordo com Newton,Belo Horizonte sofreu comfalta de abastecimento antes edurante a intervenção no Riodas Velhas por diversosfatores. Os poucos reser-vatórios de distribuição, afalta de redes adequadas e orompimento de adutoraseram responsáveis por deixaras torneiras das casas da capi-tal secas. O desperdício, tantono caminho quanto já dentrodas residências agravava asituação. Porém, indepen-dente dos outros problemas, ovolume de água disponívelpara a cidade, em constantecrescimento, era insuficientecom o sistema de abasteci-mento até então. O novo sis-tema seria capaz de resolver oproblema: a adutora do Riodas Velhas teria a capacidadede abastecer 1.840.000 pes-soas.

Recordar um trabalho tãogrande como esse, faz trazer àmente momentos anteriores,aqueles vividos na universi-

dade. Na época de gestão doprefeito Celso Mello deAzevedo, entre 1957 e 1959,os dois primos, já formadosem engenharia civil, frequen-taram o primeiro curso deespecialização em engenhariasanitária em Minas Gerais.

O curso fazia parte de umaparceria da escola de enge-nharia com o Ponto IV, pro-grama de cooperação norte-americano. Professores dosEstados Unidos vieram aoBrasil para lecionar e cursosforam criados. Newton lem-bra de um professor que pos-suía livros sobre tratamentode esgotos e outro que eraengenheiro construtor. Du-rante 15 dias, eles revezavama estada em Belo Horizontepara das as aulas no curso deNewton e Dalmo. "O diretordesse curso era o professorLincoln Continentino, que foio incentivador e batalhadorpara conseguir viabilizar suarealização. Ele era professorde saneamento, higiene eurbanismo", conta Dalmo.

Na época, livros em por-tuguês eram raríssimos, e aúnica saída para os estudantesera ler autores franceses e ita-lianos, grande parte delesmanuscritos com "uma letraboa", como conta Newton.

Uma curiosidade acompa-nha a formação acadêmica do

engenheiro Newton. Ele fezum curso de urbanismo logoapós ter se especializado emengenharia sanitária. O cursoera da Escola de Arquitetura,com dois anos de duração,facultado a engenheiros civis earquitetos. De uma turma de15 pessoas, Newton era oúnico engenheiro civil. Sobreo número um, da folha um edo livro um está o diploma deurbanista de Newton, re-gistrado pelo Ministério daEducação. "Com isso, euposso dizer que eu sou o

urbanista número um doBrasil", constata.

O engenheiro-urbanistatem um livro. O nome é "BeloHorizonte: seu abastecimentode água e sistema de esgotos"e conta com detalhes comoera a situação da água na ca-pital mineira antes e duranteos trabalhos realizados porNewton, Dalmo e toda aequipe. "Esse livro me deumuito trabalho, porquepesquisar os relatórios todos eir atrás de prefeitura porinformações exige muito do

pesquisador", explica. De olhonas fotos do livro, Newtonrelembra a data da inaugu-ração dos fios da estação detratamento da rua Carangola,onde atualmente é a Copasa.O lugar mudou muito desde afoto. "Desmancharam issotudo e construíram aqueleprédio. Só o reservatório quecontinua lá". Outras fotosrelembram outros momentose lugares. "Essa aqui é daépoca do Curral Del Rey eessa é a rua Sabará. E essa éde Belo Horizonte, mais oumenos na época da cons-trução da adutora", recorda.

De acordo com Yuri MeloMesquita, coordenador dassessões, o trabalho realizado éimportante por dois motivos."Primeiro identificar as fotospara preservar e manter amemória da cidade. Segundopreservar o acervo pela comu-nidade, valorizar a memória e otrabalho do cidadão de BH",explica. São identificadas minu-ciosamente pessoas, lugares eeventos em 30 a 35 fotos diáriaspor convidado. Boas histórias e amemória que envolve todos essespersonagens de Belo Horizontemerecem ser preservadas para ofuturo, e esses voluntários, tãoempenhados na identificaçãodestas fotos, conseguem cuidarmuito bem deste trabalho.

n

IGOR MARQUES

JÉSSICA GOMES

FILIPE MARQUES3º PERÍODO

Quando fez 13 anos deidade, Weber Oliveira Neto,de 73 anos, começou a tra-balhar com o pai restauran-do imagens sacras na CasaSão Roberto, localizada noBairro Padre Eustáquio.Hoje, seis décadas depois,Weber continua a exercer oofício que herdou do pai, nomesmo local. A restauração é

um trabalho complicado emelindroso, já que as peçasdevem ficar tão parecidascom seu estado originalquanto possível. "Na restau-ração, a gente dá uma médiade 80 a 90% de originali-dade", afirma Weber.

Ele conta que, antes decomeçar um trabalho,fotografa as peças, para queo cliente tenha certeza dasimilaridade das novas coresusadas nas imagens com ascores anteriores. "É um

processo genuinamenteartístico", diz Weber, que vezou outra tem que recriarpartes quebradas das ima-gens.

Estas novas partes devemser esculpidas com o materi-al original das imagens, oqual muitas vezes não éusado há décadas. É o casodo mármore e gesso prove-nientes de Carrara, na Itália,muito utilizados no passado,mas que foram substituídospor materiais como a resinae lâmina de vidro, maisresistentes e baratos.

Sobre o valor do trabalhoque realiza, Weber afirmaque está diretamente rela-cionado à história das peças.Isso porque, muitas vezes, aspeças fazem parte dosmomentos nos quais comu-nidades professam sua fé, etem uma ligação sentimentalcom os membros das comu-nidades. São eles que, fre-qüentemente, se unem eassumem a iniciativa paraenviar as imagens para arestauração. E algumas dasimagens são verdadeirosmemoriais da arte brasileira.

Quando indagado sobreum trabalho que o marcou, orestaurador se lembra deuma estátua de um anjo ado-rador, que veio do interior deMinas Gerais. "Foi uma peçade uns 60 cm. Eu fiquei ma-ravilhado com a peça edepois de restaurá-la, maisainda, por que ficou perfeito.100% de perfeição".

É possível que o trabalhopassado a Weber por seu painão seja continuado pelageração seguinte. A Casa SãoRoberto vem sofrendo com aescassez de trabalho.Segundo Weber "Os padresidosos foram falecendo, osnovos não tem interesse emrestauração. Como fica maisbarato comprar uma imagemnova, eles preferem comprarque restaurar. Geralmente só

imagens com história, ou deartistas importantes, sãorestauradas", justifica.

Além disso, a Casa só fazserviços particulares. "Quan-do são peças de igrejashistóricas, a incumbência édo Patrimônio Histórico(Instituto do PatrimônioHistórico e ArtísticoNacional, IPHAN), que temseus restauradores contrata-dos", conta o artista.

Especial Memória 9Dezembro • 2011docursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório

O PARA PRESERVAR HISTÓRIA DA CAPITAL

A procura pela restauração de imagens sacras

Imagem de São Fransciso de Assis recém restaurada por Weber Oliveira

Weber Neto Oliveira começou a restaura imagens com o pai aos 13 anos de idade

Newton Santos Viana participa do grupo voluntário chamado Cestas da Memória

LETÍCIA GLOOR

LETÍCIA GLOOR

LETÍCIA GLOOR

Page 10: marcototal287output

plesmente não gostam,como ela. Casada com umdeficiente visual, a profes-sora que nunca teve von-tade de tirar a carteira demotorista sucumbiu àcobrança do marido.Passou no terceiro exame,comprou um carro, masnunca quis retirá-lo daconcessionária. A aversãoao trânsito, como explica,se deve à violência e aoestresse. "O trânsito émuito estressante. A vida

da gente já é tão atribula-da, pra quê uma chateaçãoa mais?", indaga.

Nem mesmo acarteira de habilitação, quesó veio aos 43 anos, apro-ximou Maria da Conceiçãodo volante. Para ela, ofator da idade já pesaporque acredita que, com opassar dos anos, vai se per-dendo alguns reflexos e asiniciativas já não são maisas mesmas. "As pessoasmais jovens são maisousadas. Talvez se eu

tivesse tirado a carteiraantes, mais nova, não teriatanta resistência", afirma.Maria da Conceição nãoacredita que tenha fobia dedirigir e se diz acomodadacom o fato de trabalhar aapenas alguns quarteirõesde sua casa. Mas sabe que,pelo marido e tambémpelos dois filhos, terá quedeixar o desgosto de ladopara atender às necessi-dades da família. "É umaatitude que tem que partirde mim”, diz.

10jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório do

MEDO DE DIRIGIR É PROBLEMA PARAQUEM TEM CARTEIRA DE HABILITAÇÃOA falta de segurança no trânsito é a principal causa da fobia do volante, para solucionar o medo pessoas estão buscando ajuda em clínicas especializadas para fazer o tratamento

n

DANIELA REZENDE

DENISE NIFFINEGGER

LÍVIA ARCANJO

SARA SOUZA

SÍLVIA VOLPINI

7º PERÍODO

Carro pode ser sinôni-mo de independência,praticidade e mobilidadepara uns. Para outros, podesignificar insegurança, pe-rigo e até mesmo um malpara o meio ambiente. Aaposentada Evânia PiresPereira, de 56 anos, con-vive com o medo de dirigirpor cerca de três décadas.A primeira experiência aovolante nas aulas dedireção, quando tinha 26anos, já deixou claro paraela que passear sobre qua-tro rodas não era algo fácile logo abandonou as tenta-tivas. Mas a necessidadefez com que insistisse eretomasse as aulas mais de10 anos depois. Em 1994,aos 38 anos, Evânia tirou acarteira de habilitação, oque facilitou a rotina deviajar de Guanhães para apequena cidade de SantaMaria do Suaçuí, naRegião Leste de MinasGerais. O treinamentodiário não diminuiu a aver-são ao automóvel. "Eusempre entrava no carroreceosa e saía com as per-nas tremendo desde que eucomecei até depois de tirara carteira. Eu nunca tivecalma para dirigir. Às vezeseu saía de carro e ficavadoida para achar alguém láde casa na rua para voltardirigindo pra mim outinha vontade de deixar ocarro onde eu estivesse evoltar a pé mesmo",desabafa.

Assumir a direção docarro não é o único receioda aposentada, o trânsitocaótico e a presença deoutros veículos aumentama insegurança. "Quando euentro, eu tenho medo denão dar conta, de nãodominar o carro e acabar

prejudicando alguém",conta Evânia. Apesar denunca ter sofrido nenhumacidente automobilístico, omedo chega a perseguir aaposentada até mesmoquando ela está de olhosfechados. "Eu já sonheivárias vezes que estoudirigindo e não consigofazer o carro andar, subir omorro, mas nunca aconte-ceu nada disso", afirma.

A psiquiatra e hipnote-rapeuta Sofia Bauer expli-ca que a ansiedade deEvânia não está necessaria-mente ligada a algum trau-ma e sim à sensação deincompetência. Além dis-so, ela explica que a fobiade dirigir pode se originarde situações que nada têma ver com o carro. "Umacriança, por exemplo, querecebeu chacotas dos cole-gas e agora tem medo de'dar vexames', transfereesse medo para ospequenos vexames de ummotorista, como deixar ocarro morrer, dar umabatidinha, não conseguirfazer uma baliza", explica.

A dificuldade para diri-gir se tornou um incômodopara Evânia, que passou adepender dos filhos paraconseguir carona e sair decasa. E esse não é o únicoaborrecimento. "Eu vejo opessoal daqui de casa comtanta facilidade e fico meperguntando: por que eunão consigo?", conta aaposentada.

Para vencer o medo, elachegou a ter aulas dereforço com um instrutorde direção e pensou em seconsultar com um psicólo-go, mas logo abandonou asalternativas. Evânia já pro-curou uma autoescolaespecializada, conversoucom a secretária e decidiuque marcaria algumasaulas em novembro, só queaté o momento a coragemde retomar o controle dovolante ainda não apare-ceu.

Ao contrário de Evânia,que é temerosa assumida,Ana Lúcia de Carvalhodecidiu enfrentar o pânicopara voltar a dirigir.Segundo ela, seu históricocom trânsito e autoescolafoi uma verdadeira bata-lha. Três exames de legis-lação, sete exames de rua,cinco instrutores dife-rentes e a administradorade 41 anos não sabe nemmesmo precisar quantogastou para ter a carteirade habilitação em mãos.Até que ela resolveu enca-rar o problema e procurar aajuda de uma psicólogaque chegou a acompanhá-la nas aulas de direção. "Omeu sexto exame (de rua)foi como se fosse oprimeiro. Eu não passei,mas pelo menos conseguiconcluí-lo. Fui reprovadaporque errei, normal, nãoporque abandonei a pro-va", conta Ana Lúcia que,nas outras vezes, havialargado o carro nas mãosdos examinadores.

Mesmo depois de con-quistar a carteira e com-prar o primeiro carro, umabatida leve fez com que aadministradora perma-necesse insegura e por isso,decidiu continuar seencontrando com a tera-peuta. Cinco meses depois,ela já estava de volta aobanco do motorista. Hoje,com dez anos de habili-tação, ela diz que dirigetranquilamente. "Virouuma coisa natural paramim. Quando eu passomuitos dias sem pegar ocarro eu até sinto falta",revela com ar de sereni-dade.

Medo não é o caso dairmã de Ana Lúcia, a pro-fessora Maria da Con-ceição, de 47 anos. Dafamília de 12 filhos, elaconta que nenhum deles éfissurado por carro, os quedirigem o fazem por neces-sidade. Entre os outros,alguns têm medo ou sim-

Fernanda Costa Fernandes ficou fascinada com a independência proporcionada pelo carro

Saber a hora de parar Os carros confortáveis

e bonitos estacionadosna garagem de casa jánão despertam vontadena empresária Leda deAlmeida, de 56 anos. Hácinco anos ela deixou delado a direção e hoje vivecomo passageira nos pas-seios de automóvel emPará de Minas, cidade a80 km da capitalmineira, Belo Horizonte."Eu acho o trânsitomuito perigoso, não queeu tenha medo. É opção,eu prefiro andar comalguém dirigindo, assimeu fico mais tranquila",explica.

O efeito contrárioocorreu com a bacharelem direito e servidorapública Camila Lenoir,de 29 anos. Os carros dopai e da irmã estaciona-dos em casa estão desper-tando a curiosidade e avontade da jovem.Quando Leda aposenta-va o volante, Camila tira-va a carteira de habili-tação, na terceira tentati-va. Porém, o medo que aconsumia era tão grandeque, depois de algumasvoltas pelas ruas de BeloHorizonte, desistiu dadireção. Hoje, ela reacen-

deu o desejo e decidiuvencer o medo do trânsi-to. Agora, a vontade é terseu próprio carro. "Estouplanejando comprar ume com ele eu vou ter maissegurança", acredita.

Os motivos que aslevaram ao volante sãomuitos. Levar as criançasna escola, não dependerde táxi ou ônibus, terindependência para ironde quiser e, principal-mente, por necessidade.A empresária Leda abriumão da praticidade, masdiz que um dia, provavel-mente, terá que retornarao volante. Ela, que vivecom dois filhos adultos,acredita em uma brevesaída deles de casa e naconsequente perda davaliosa carona. "Meus fi-lhos podem mudar e,caso eu queira sair sozi-nha, vou ter que dar umjeito. É porque ainda nãotive necessidade, hoje eunem penso em dirigir",explica.

A pressão dos paislevou Camila às aulas delegislação e direção. Sedependesse dela, e tam-bém de Leda, a carteiraseria um projeto futuro,ano após ano. "Eu tirei

carteira de motorista naquinta tentativa, achoque tinha medo. Se eutivesse um motorista par-ticular, com certeza nãoteria tirado", brinca Leda,dando risadas. Apósrealizar a vontade dospais, Camila tirou acarteira de habilitação,dirigia, mas ficava muitonervosa. "Era pressãopara eu tirar carteira,fazer aula, entrar naautoescola. Hoje eu pegotáxi e tenho uma linha deônibus que me atendemuito bem, da minhacasa ao meu trabalho,por isso não sinto muitafalta. Porém, resolvi vol-tar mesmo para venceresse medo", ressalta.

Para perder o temordos carros, pedestres e dotrânsito, Camila renovousua carteira e comproudez aulas de direção naautoescola. "Eu continuocom medo, mas as aulasajudaram bastante. Eudirijo o carro do meu paie da minha irmã e estouvencendo a insegurançaaos poucos”, observa.Camila Lenoir chegou a parar de dirigir, mas começou a enfrentar o medo do volante há pouco tempo

LIVIA ARCANJO

DENISE NIFFINEGGER

Page 11: marcototal287output

n

PAULO SALVADOR

RAPHAEL VIEIRA PIRES1º E 7º PERÍODO

Em setembro deste ano, aEmpresa de Transportes e Trânsitode Belo Horizonte (BHTrans) ter-minou o serviço de troca das lâm-padas dos semáforos da capitalpela tecnologia de LEDs, pois asque estavam em operação atrapa-lhavam a visibilidade dos motoris-tas em dias de sol, podendo assimprovocar acidentes. No entanto,todo tipo de tecnologia não é aprova de falhas, e, de acordo comLuiz Henrique de Oliveira, 34anos, engenheiro elétrico daBHTrans, qualquer avanço tec-nológico possui mais sensibili-dade, fazendo com que, no caso,vários semáforos se apaguem commuita facilidade.

Para o motoqueiro AlexandreSilva, realmente a visibilidade comas novas lâmpadas é incomparável,mas a manutenção com os sinaiscom defeito ainda têm falhas. "Aquestão de visibilidade melhorou,mas em questão de manutençãoela é muito lenta quando os semá-foros se apagam. A BHTrans nãose adequa a nova tecnologia,trazendo muitos transtornos". Jápara o motorista Luís Carlos, ossemáforos com lâmpadas de LEDsé bem melhor. "Com os semáforosantigos, as lâmpadas queimavammuito, pois eram lâmpadas con-vencionais". O manobrista WesleyHenrique também concorda queos semáforos sofreram sim umamelhora. "Os semáforos da capitalmelhoraram sim com a nova tec-nologia. Estas lâmpadas trazemmais segurança aos motoristas".

Por meio de nota assinada, aAssessoria de Comunicação eMarketing da BHTrans esclarecevárias dúvidas com relação aosLEDs. Segundo a empresa respon-sável pelo trânsito, além de darmais segurança para motoristas e

pedestres, a substituição das lâm-padas comuns dos semáforos porLED representa uma redução de86% no consumo de energia, secomparado aos gastos com ossemáforos convencionais. "Alémda redução de energia, as lâm-padas dos novos semáforos sãomais duradouras", de acordo com aBHTrans. Outra vantagem é adiminuição do número de lâm-padas trocadas, já que a vida útildos LEDs é superior a 50 milhoras, de 25 a 30 vezes maior quedas lâmpadas convencionais.

Com os semáforos conven-cionais aconteciam trocas fre-quentes de lâmpadas por seremconvencionais, trazendo assimuma economia além da questãoambiental. "O projeto é um exem-plo de responsabilidade ambiental,em virtude da eliminação dodescarte médio mensal de 18 millâmpadas queimadas (dos semá-foros comuns) no meio ambiente eredução da emissão de gases deefeito estufa (GEE) produzidospelos veículos responsáveis pelatroca das lâmpadas queimadas",revela a BHTrans por meio de suanota.

Luiz Henrique de Oliveira afir-ma que em Belo Horizonte exis-tem cerca de 900 semáforos e amanutenção destes é feita regular-mente. "Fazemos a manutençãopreventiva dos semáforos nacidade, mas falhas podem aconte-cer sempre. Porém, quando umaintersecção apresenta problemasrecorrentes, ela deve ser tratadacom um atendimento diferencia-do, mais constante", relata oengenheiro, que antecipa a insta-lação de Nobreaks na maior partedos semáforos, como medida dediminuição dos casos de desliga-mento em dias de chuva, porconta de piques de luz.

Semáforos sem reflexo sãoproblemas para motoristas

Especial Trânsito 11Dezembro • 2011docursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas jornalmarcolaboratório

A responsabilidade dosmotoristas nas avenidasO medo não é o único motivo que

afasta muitas pessoas do desejo deestar à frente do volante. A estudantede Arquitetura e Urbanismo Fer-nanda Costa Fernandes, de 24 anos,se sentiu atraída pela independênciade poder dirigir. "Passar de primeira,entrar na faculdade e ir de carro sem-pre, poder sair sem o pai ter que bus-car", conta. O anseio, no entanto, foifortalecido pela falta de confiança nacapacidade das mulheres de se darembem no trânsito pois, na família delaexistem muitas pessoas que acredi-tam que dirigir é coisa de homem.

Desde que passou no exame dedireção em 2009, a estudante "pilo-tou" o carro apenas oito vezes. Elaexplica que o fato de não dirigir maisestá também relacionado à respon-sabilidade exigida pela tarefa. "Eunão sei como eu reagiria em um aci-dente, não em relação a mim, mas emrelação a machucar ou causar algumdano ao outro. O medo não é damorte, percebe? É mais na respon-sabilidade pelo meu carro, pelosmeus atos e pelos carros ao redor",explica. Mas, para Fernanda, aindaexiste um terceiro fator que foi deci-sivo na hora de largar as chaves docarro na gaveta. A causa ambiental ea preocupação com o planejamentourbano vinda, sobretudo, com aprofissão, fazem parte da ideologia daestudante. "O impacto que o carrocausa na cidade é muito grande e

acho que isso todo mundo sentetodos os dias", diz. Engajada, a jovemainda questiona a viabilidade emrelação aos outros meios de trans-porte. "Acho que tudo é uma questãode costume. Será que custa tantoassim pegar um ônibus ou andar apé? Essas alternativas também aju-dam a melhorar a cidade", afirma elasob o argumento de que se as pessoasandam mais a pé as ruas ficam maismovimentadas, podendo gerar umasensação maior de segurança.

Mas Fernanda reconhece que, alémdos meios alternativos irem, muitasvezes, na contramão da acessibili-dade e do conforto, não dirigir tam-bém acaba se tornando uma limi-tação. Ela ainda pretende voltar àsruas no comando do seu próprioautomóvel, principalmente, quandoo tempo for curto para resolver "ascoisas de casa". Enquanto essa horanão chega, a universitária defendeque existem opções para amenizar osengarrafamentos e o impacto dosveículos na cidade. "Deixar o filho irde escolar com os colegas, ir a pé aoslugares mais próximos, dar caronapara o vizinho, pegar ônibus de vezem quando e deixar o carro em casa.Acho essencial usarmos melhor oespaço da cidade e respeitar o espaçodo outro que vive nela também",acrescenta.

Após a chuva o semáfaro para de funcionar e causa transtorno para motoristas e pedestres

Em Belo Horizonte, há oito anos, aClínica Cecília Bellina ajuda pessoas aperderem o medo da direção. Apsicólogae coordenadora das unidades de BH eContagem, Elisângela Oliveira, estimaque cerca de mil pessoas já foramajudadas por meio do método implantadopela clínica. Atualmente, o atendimentoé feito a aproximadamente 70 pessoas.Desse número, cerca de 85% sãomulheres, de acordo com os cálculos dapsicóloga. Motoristas de 30 a 45 anos sãomaioria no quadro de pacientes, mastambém há espaço para os recémhabilitados e para os que não dirigem hámais tempo. "Tenho uma cliente de 70anos que ficou com a carteira dehabilitação guardada por 40 anos. Agora,ela precisa dirigir. Na unidade da clínicado Rio de Janeiro já teve gente com 80anos. Então, depende muito da ne-cessidade", conta Elisângela.As idades podem ser distintas, mas osmotoristas que procuram a ClínicaCecília Bellina têm alguns pontos emcomum. Segundo a psicóloga, sãopessoas muito exigentes consigomesmas, que querem fazer o correto e sãoperfeccionistas. O medo de dirigir,portanto, às vezes nem é decorrente deum trauma, mas de um perfil pessoal."Dirigir é um ato complexo que exige umaprendizado gradativo. Muitas vezes as

pessoas não têm paciência ou disposiçãopara enfrentar esse aprendizado por causade um alto grau de exigência, e até porum mau aprendizado. Nós vamos para aautoescola e aprendemos a tirar a carteira.E dirigir no dia a dia fica uma lacuna",explica a coordenadora.Foi o que aconteceu com a estudanteCamila Silva, de 23 anos. Passados cincoanos desde que tirou a carteira dehabilitação, ela conta que se saía muitobem nas aulas de direção, ainda queexistisse a insegurança natural dosiniciantes. A situação mudou quando elapassou no exame de direção e iniciou assaídas com o carro da mãe. "Acho queperdi a pouca segurança que tinha porcausa da pressão de quem me acom-panhava no lado do carona"."Dirigir implica em um ensaio e erro. Eutenho que aprender através desse erro,porque preciso do treino. Não dá paraaprender tudo numa salinha fechada. Énecessário aprender na rua também, quetem o agravante da exposição", observaElisângela. Para enfrentar o medo daexposição, o receio de não dominar ocarro e até mesmo por fim aos sintomasfisiológicos decorrentes do pânico - comosudorese e taquicardia - os alunos daClínica Cecília Bellina passam por umasérie de etapas até que o medo sejavencido.

Pessoas buscam clínica paraperder o medo do volante

LETÍCIA GLOOR

Page 12: marcototal287output

12CidadaniaDezembro • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

GRUPO INCENTIVA DOAÇÃO DE SANGUE

n

RAFAEL GOULART

4º PERÍODO

"Foi no verão de 1991.Estava grávida do meusegundo filho e com umbebê de colo. Eu e minhafamília fomos passar asférias em um sítio comamigos. Meu marido(Alberico Goulart) já haviabebido bastante quandodecidiu dar um mergulhona piscina. A caminho daágua, ele escorregou, ebateu fortemente com acabeça no chão. Desmaiouna hora. Eu presencieitoda aquela cena. Fiqueichocada! Achei até quemeu marido havia faleci-do, porém tudo acaboubem. Ainda bem que meuirmão estava lá, e prestouos primeiros socorros".Esse é o depoimento deRosa Maria Goulart, 51anos, que relatou um aci-dente ocorrido durante asférias. Este não é um fatoisolado, esta situaçãoacontece com frequência.

Segundo registros doCorpo de BombeirosMilitar de Minas Gerais, onúmero de ocorrênciasaumenta bastante duranteo fim e início do ano. O 2ºtenente Leonardo Pierkarzafirma que sua equipe cos-tuma atender por dia cercade 100 a 120 chamadasnessa época. "Minhaequipe é formada por 85bombeiros. Eles sãoresponsáveis pelo atendi-mento na região central deBH. Tem dia que eles

chegam a atender 125ocorrências, uma vez queo tempo, durante as férias,é muito instável, aomesmo tempo em que hágrandes pancadas de chu-vas, as temperaturas tam-bém ficam muito altas.Enchentes, batidas deveículos, queda de árvores,são acidentes freqüentesnessa época", afirma.

Segundo o tenentePierkarz, durante o perío-do das férias tambémaumenta-se muito a quan-tidade de acidentesdomésticos. Muito deve-seà ociosidade da população,e a ingestão excessiva debebidas alcoólicas."Durante as férias as pes-soas ficam mais dentro decasa, porém ficam muitoociosas, fazendo com queaumente consideravel-mente o número de aci-dentes domésticos. Écomum recebermos li-gações de vizinhos alegan-do princípio de incêndio.Mas quando chegamos naocorrência costuma sersempre uma panela que foiesquecida no fogo, ou umgás que esqueceu aberto",afirma o tenente.

Quanto às ingestão debebidas alcoólicas, oCorpo de Bombeiros deMinas Gerais está rea-lizando um trabalho pre-ventivo no interior deMinas Gerais, que tempor finalidade diminuir aquantidade de acidentesna região dos lagos, em

cachoeiras. "Durante asférias os mineiros costu-mam ir para o interiorpara desfrutar dascachoeiras, dos lagos, dasbelezas naturais de Minas.Porém esta atitude aliadaàs bebidas alcoólicas temtrazido tristes índices deacidentes no estado.Diante disso estamos se-parando equipes paraficarem em locais es-tratégicos, a fim de cons-cientizar a população,além de fazer o atendi-mento primário casoafogamento ou acidentesdo tipo, venham a aconte-cer", conclui o tenentePierkarz.

No caso do marido deRosa Maria, tudo termi-nou bem, porém aempresária afirma que se oesposo não estivessealcoolizado o incidentenão teria acontecido."Meu marido não precisa-va ter passado por isso.Depois que ele caiu com acabeça no chão tivermosque encaminhá-lo rapida-mente para um hospital, efazer uma série de exames.Foi necessário ficar umtempo em observação,uma vez que sua cabeçaficou muito inchada. Porfim, acabou tudo bem,porém tenho certeza que oálcool foi o provocador detudo", conclui Rosa.

Para se resguardar dos possíveis acidentes no períododas férias, o Corpo de Bombeiros Militar de MinasGerais forneceu algumas dicas de como se comportarem determinadas situações, evitando riscos:

FOGOS DE ARTIFÍCIO: Sempre leia e siga as instruções na embalagem;Sempre use fogos em locais abertos; Armazene os fogos em local frio e seco;Sempre solte fogos sob a supervisão de adultos e de acordo com a sua idade;Nunca tente reutilizar os fogos que tenham falhado; Nunca atire fogos nadireção de outras pessoas; Nunca atire fogos de lugares fechados, como carrosou residências; Nunca faça experiências, modifique ou tente fazer seus própriosfogos de artifício; Nunca utilize fogos após ingerir bebidas alcoólicas. Nãodesmonte os fogos; Não fumar dentro dos estabelecimentos que vendem fogos.Antes de usar um produto, ler cuidadosamente as instruções impressas nasembalagens e ter cuidado ao segurar os fogos para evitar acidentes.

VEÍCULOS: Equipamentos de segurança (extintor, triângulo, cintos de segu-rança); Freios (nível de óleo, pastilhas, lonas, regulagem, nível de fluido, pos-síveis vazamentos e freio de mão); Sistema elétrico (faróis, lanternas, setas, luzde freio, luz de ré, luzes de emergência e buzina); Pneus, estepe, alinhamentoda direção, balanceamento das todas, amortecedores); Motor (nível de óleo domotor, correias, mangueiras, ruídos anormais, regulagem, velas e cabos);Limpadores de pára-brisa (borracha em bom estado); retrovisores externos einternos; Cinto de segurança dos bancos da frente e de trás; Marcador de com-bustível, velocímetro, encosto de cabeça; Radiador (nível de água com o carrodesligado).

AFOGAMENTO: Procure um local conhecido por você ou por outra pessoa,desde que ela o acompanhe. Não ultrapasse faixas e placas de avisos. Não entreem locai onde há aviso de perigo de morte ou em águas poluídas. Procure sem-pre local onde existe a presença de Guarda-Vidas, ou o Corpo de Bombeiros.Evite nadar sozinho. Não tome bebida alcoólica antes de entra na água; Não seafaste da margem; Não salte de locais elevados para dentro da água; Não tentesalvar pessoa em afogamento sem estar devidamente habilitado; Prefira lançarflutuadores para salvar pessoa em afogamento sem estar devidamente nas prox-imidades a existência de salva-vidas e permaneça próximo a ele; Evite brin-cadeira de mau gosto ("caldos", "trotes", "saltos"); Acate as orientações dosBombeiros ou dos Salva-Vidas; Não abuse se aventurando perigosamente; Nãodeixe as crianças sozinhas; Evite navegar com carga em excesso; Só deixe entrarna embarcação pessoas usando coletes salva-vidas; Somente conduza embar-cações se for habilitado para tal.

Vontade de ajudar um amigo leva pessoas a se unir em torno de uma causa, que ganha corpo a partir do surgimento do site na internet “Eu Sou BH”, que produziu campanha específica

nRAQUEL ANDRETTO

3º PERÍODO

Com o objetivo de aju-dar um amigo que elesconheceram em um showda banda Teatro Mágicoem Belo Horizonte, qua-tro pessoas se uniram ecomeçaram a fazer porconta própria campanhapara incentivar a doaçãode sangue e o cadastra-mento de medula óssea."Nós tínhamos um amigoque faleceu com leu-cemia e foi por causadele que começamos coma campanha", explicaNicole Marinho, 27anos, uma das fundado-ras do Sangue Raro.

Essa iniciativa come-çou há quase cinco anos.A primeira campanhateve a participação de 15pessoas. Apesar de tertido um começo pequenoo grupo começou a ga-nhar força nas redes soci-ais e na segunda campan-ha, eles conseguiramreunir mais de 100 pes-soas e ganharam par-ceiros importantes para adifusão das ideias, comoos grupos musicaisManitu, Teatro Mágicoque levaram o SangueRaro para outros estados.

Em Belo Horizonte,um dos grandes incenti-vadores do projeto foi osite "Eu Sou BH" queproduziu a campanha"Eu sou BH solidário"com a criação de umclipe, e difundiram essaideia entre 300 estabele-cimentos da capital.

Apesar de ter ganhoparceiros os integrantesdo Sangue Raro continu-

avam pagando as despe-sas do próprio bolso."Não buscamos patro-cínio porque não temosCNPJ, então ficava fal-tando estrutura para con-seguirmos angariar pa-trocínio. Hoje, quandouma pessoa, ou algumaempresar quer nos ajudar,eu peço para ir na gráficae mandar fazer os panfle-tos, por exemplo", obser-

va Nicole.A campanha é voltada

para os jovens, pois elesnão possuem o hábito dedoar e cada vez mais oestoque do banco desangue vem diminuindo,e fazer o cadastro paramedula óssea é essencial,pois as chances de con-seguir são muito peque-nas, mas existem.

"Uma amiga minha

havia comentado comigosobre o Sangue Raro, massó depois de ver na inter-net que eu me interessei.Então, eu comecei a par-ticipar, fui nas duas últi-mas campanhas. O tra-balho deles é essencialpara todos, pois nós nãosabemos quando iremosprecisar", relata PriscilaAleite Silva, 27 anos,estudante de enfer-

magem. Ela tambémconta que vive convidan-do os amigos, porémmuitos deles ainda têmmedo.

Oracina Ferreira Silva,56 anos, costureiracomeçou a participar dacampanha após a mortedo seu filho que foiquando tomou conheci-mento do Sangue Raro.“Ele estava comleucemia, chegou a con-seguir um doador demedula óssea, mas adoença não amenizou,então não teve comofazer o transplante.Apesar de não ter dadotempo para o Felipe, euacredito que outras pes-soas vão conseguir, porisso nós temos que con-tinuar incentivando apopulação a doar", afir-ma.

Atualmente o SangueRaro fez uma parceriacom mais dois grupos oHércules e o Doe SangueBrasil, expandindo acampanha no mês dedezembro para várioslugares do país, comoFortaleza, Betim, Con-tagem, Maringá, entreoutras cidades.

Nicole Marinho é uma das fundadoras do Sangue Raro, grupo que incentiva a doação de sangue e médula óssea em Belo Horizonte e região

Acidentes podem estragar as férias das famílias

LETÍCIA GLOOR

Page 13: marcototal287output

13CidadeDezembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

"Ademg informa..."A frase já é velha co-nhecida de qualquertorcedor que já tenhafrequentado o Mi-neirão, agora em refor-mas, ou mesmo dequem ainda assiste aosjogos na Arena doJacaré. Há 12 anos, asinformações da Admi-nistração dos Estádiosdo Estado de MinasGerais (Ademg) ao pú-blico por uma mesmavoz.

Pollyanna Andradetinha apenas 18 anosquando começou afazer a locução dosinformativos da Ademg.Ela ainda cursava o 2ºperíodo da faculdade deJornalismo. Foi em1999, quando o naépoca presidente dainstituição, IsnardDaltério, decidiu inovare levar uma voz femini-na para os estádios. Atéentão, o trabalho tinhasido feito apenas porhomens. Ele convidouentão, Isabel deAndrade, também jor-nalista e irmã dePollyanna para en-frentar o desafio. Ela,no entanto, trabalhavaà noite e teria proble-mas para cobrir muitos

jogos. Foi então queIsabel indicou a irmãpara o teste e ela foiaprovada. A jornalista,que assumiu o posto de"voz do estádio", fazquestão de enfatizar oprazer pelo ofício quedesempenha. "Sempregostei muito de futebol,então foi como juntar oútil e o agradável. Façoo meu trabalho e, aomesmo tempo, possoassistir aos jogos".

A dona da voz maisfamosa dos estádiosmineiros, porém, é maisconhecida do que seimagina. Pollyannatambém é apresentado-ra do Aqui Esportes, naTV Horizonte. Alémdisso, para quem temboa memória, houveuma época em que osboletins da Ademgeram anunciados emum telão no Mineirão e,em função disso, muitagente se lembra dorosto da jornalista. Noentanto, ela garante quegosta mesmo é de exibira voz. "Não gostava deter que me preocuparcom a minha imagemno estádio. No progra-ma já é diferente, por-que eu faço maquiageme tudo mais".

Segundo Pollyanna,apesar de estar no ar,ela é mais conhecidapor ser locutora daAdemg. A frase comque ela inicia as infor-mações durante os jo-gos já se tornou um bor-dão. "Até mesmo noprograma, as pessoasbrincam. Quando eupasso tem sempre al-guém que diz 'Ademginforma...'".

Ainda que o rostode Pollyanna Andradenão seja anônimo, elaconsidera que a sua vozé, sem dúvida, o dife-rencial. Ela conta queaté mesmo pessoas quenunca assistiram o seuprograma, ou a tenhamvisto no telão, a reco-nhecem pela voz. "Umavez eu estava conver-sando em uma loja numshopping e me pergun-taram: é você a moça daAdemg, não é?". A jor-nalista afirma ainda quese sente orgulhosa porisso. "Me sinto muitohonrada de ser 'a voz doMineirão', de poder in-formar ao torcedoraquilo que é do inte-resse dele", salienta.

Jornalista informa torcedoresnos estádios de futebol

O ROSTO POR

TRÁS DA VOZ DO

ALTO-FALANTEPara quem vai na Rodoviária de Belo Horizonte comprar passagem ou embarcar em um

ônibus, a voz que alerta viagens e dá avisos de segurança acompanha quem usa o local Neif Aduan,a voz da Rodoviária, já foi radialista e dublou alguns personagens da Disney no Rio de Janeiro

n

ALEXANDRE ALMEIDA

JEFFERSON UBIRATAN

JOSÉ CÂNDIDO PEREIRA

LUÍSA MELO

RAPHAEL VIEIRA PIRES7º PERÍODO

Todos os dias, quarentamil passageiros circulampelo Terminal Rodoviáriode Belo Horizonte, loca-lizada na Região Centralda cidade. Os destinos deviagem são variados, mashá algo em comum nesteambiente: todos os usuá-rios ouvem sempre a mes-ma voz. Nas mais deduzentas caixas de somespalhadas pela Rodo-viária de Belo Horizonte, épossível ouvir as orien-tações sobre embarques edesembarques. "Senhorespassageiros, ao embarcar,utilizem, por favor, asáreas externas de tribu-nal", "Atenção, senhorespassageiros!" e "Faltamcinco minutos para a pró-xima partida. Ocupemseus lugares!".

As frases fazem parte docotidiano de quem passapela Rodoviária da capital.Os usuários, que em suamaioria não conhecem apessoa que fala ao micro-fone durante os embar-ques e desembarques,imaginam como deve serfisicamente o locutor.Entre as mulheres, a vozfaz sucesso. Maria ClaraBosco, 68 anos, acreditaque o locutor da Rodo-viária seja um homembonito, alto e bem apes-soado. Ela viaja quinzenal-mente para Divinópolis egosta de ouvir a voz dolocutor. "Mesmo que elenão seja bonito, assimcomo eu imagino, tenhocerteza de que ele temuma linda voz", afirma.

Mesmo não utilizandoa Rodoviária com frequên-

cia, a arquiteta AndressaNascimento, 35 anos, sediz admirada com a vozdo locutor e arrisca definirsua personalidade. "Pelavoz, imagino que ele deveser do tipo galanteador",brinca.

Já o estudante deAgronomia Marco Túlio,de 23 anos, acredita que olocutor da Rodoviária sejauma voz produzida porcomputadores. "É muitoperfeita para ser dehomem mesmo", comenta.O dono da famosa voz éNeif Aduan, 56 anos.Descendente de libaneses,ele nasceu em BeloHorizonte e é formado emJornalismo. Na década de1970, trabalhou comoradialista, tendo passadopelas rádios Itatiaia eInconfidência. Anos maistarde, trabalhou tambémna TV Alterosa e em algu-mas emissoras de SãoPaulo, Brasília e EspíritoSanto. No Rio de Janeiro,trabalhou como dublador,emprestando sua voz aalguns personagens do ci-nema. Nesse tempo, Neifdublou personagens se-cundários do filme ABranca de Neve e os SeteAnões e alguns coadju-vantes dos filmes deSylvester Stallone. Ele fezmais dublagens, porémnão se lembra dos perso-nagens e nunca viu essasobras serem exibidas.

Atualmente, Neif nãodesenvolve nenhum tra-balho ligado ao jornalis-mo, mas foi em seu antigoemprego que encontrousua paixão de momento: ainformática. Trabalhandocomo assessor de imprensado Procon, Neif começou

a ajudar no Setor deInformática, dando manu-tenção aos computadores.A paixão pela área deprocessamento de dados einformática fez com queNeif tivesse a oportu-nidade de trabalhar comoanalista de sistemas naRodoviária, cargo queocupa até hoje.

GRAVAÇÃO Por já tertrabalho em rádio e comdublagem, Neif, até entãoanalista de sistemas doTerminal Rodoviário,começou a fazer narraçõespara informar os pas-sageiros. A prática foi setornando um hábito, atéque Neif se efetivou comolocutor oficial daRodoviária. Porém, o quepoucos sabem é que, atual-mente, as narrações não sãofeitas ao vivo. Em 2004,Neif gravou mais de 30 vi-nhetas e as programou emum computador. Quando osistema dá a hora exata,automaticamente, a vi-nheta é liberada.

Em casos de emergênciaou quando o sistema apre-senta falhas, Neif faz anarração ao vivo. Ele dizque gravar a própria vozem um sistema computa-dorizado tornou maiscômodo o cotidiano naRodoviária. "Ficou maisfácil, sim. Com as vinhetastodas gravadas, eu nãopreciso mais ficar correndoatrás do tempo para dar ainformação correta", diz.

A cada 12 minutos, seouve a voz de Neif dandonovas informações aospassageiros. Toda essacomodidade no trabalhofez com que o locutor rea-

lizasse um sonho antigo.Em 2008, ao terminar deler um livro, Neif decidiuorganizar uma bibliotecadentro do TerminalRodoviário. Todas as obrasque, hoje, estão na bi-blioteca da Rodoviária jáforam lidas por Neif.Atualmente, de acordocom suas contas, o acervoconta com mais de qui-nhentos livros, aproxi-madamente. "Eu leio mui-to. Tenho verdadeira pai-xão por literatura. Acholegal demonstrar umpouco dessa minha paixãoem um espaço tão famosode Belo Horizonte". A bi-blioteca da Rodoviária selocaliza no segundo andardo prédio e apenas os fun-

cionários do terminal sãocadastrados e podem fazerempréstimos dos livros."Infelizmente, não possocadastrar os passageiros.Seria muito difícil contro-lar os livros que saem",lamentam.

Apesar dos dez anoscomo locutor daRodoviária, Neif diz que émuito raro as pessoasreconhecerem sua voz.Apenas alguns passageiros,que sempre utilizam oTerminal, têm curiosidadede saber quem é o dono davoz que ecoa pelos alto-falantes. Quando issoacontece, Neif faz questãode apresentar a Central deOperações aos passageiros.O locutor é famoso entreos funcionários do termi-

nal rodoviário. Quandocomeçou o processo degravação das vinhetas,Neif passava mais tempodentro da Central deOperações. Isso fez comque surgissem boatos deque ele estivesse morto."Essa situação foi muitoengraçada. Como eu ficavaa maioria do tempo nacabine, pois as vinhetasestavam gravadas, o pes-soal aqui da Rodoviáriacomeçou a espalhar umboato de que eu haviamorrido. Eles pensaramque eu havia gravado asvinhetas antes de morrer.Quando eu apareci parauma senhora que servecafé, ela quase desmaiouao ver que eu estava vivo.Tudo não passava de umagrande bobagem", lembra.

Pollyana Andrade começou a fazer locução com apenas 18 anos e estava no segundo período da faculdade

LETÍCIA GLOOR

LETÍCIA GLOOR

Page 14: marcototal287output

14CidadeDezembro • 2011jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

"O carrinho que ele viu na televisão, a bonecaque a amiguinha da sala também tem, a bola queveio em troca da chupeta. No final, o que resta éum armário cheinho de brinquedos e um filho quevai sempre querer mais", é a opinião da psicólogaespecialista em família Tatiane Pereira. Ela acredi-ta que a relação entre a criança e o brinquedo nãodeve ser construída na concessão dos pais a todasas vontades do filho. "Uma criança que tem todosos brinquedos que quer e na hora que quer podenão conseguir lidar, no futuro próximo, com adimensão da falta", explica.

Na casa de Maria Aparecida os pequenosaprenderam, desde cedo, que existe hora para ga-nhar um presente. Segundo ela, isso ajudou queseus filhos entendessem a importância de darvalor ao brinquedo que têm. "Lá em casa eu nãodava brinquedo fora de época. Os meninosentravam na loja comigo e não tinha reclamação.O máximo que eles diziam é que gostariam deganhar aquele brinquedo no próximo aniversário",conta. Para ela, a publicidade é a grande vilã dahistória, porque é pela propaganda que as criançasdescobrem os brinquedos da moda. "Minha filhanão deixa minha neta ver muita publicidade debrinquedo para ela não ficar querendo. Os brin-quedos que ela tem são os que ela ganha", relata.

Na casa de Alexandre, qualquer moeda vai parao cofrinho do Pedro. Esta é a forma que ele encon-trou para educar o filho quanto às inúmeras von-tades que as crianças têm de ganhar o brinquedoda moda. Quando o cofre está cheio, eles utilizamo valor para comprar um presente. O próximoinvestimento será uma bicicleta. "Ele vê (o brin-quedo) na televisão e fala 'pai, quero isso'. Aí eufalo 'vai guardando suas moedinhas que a gentecompra'", explica Alexandre. Um exemplo disso éque presentes só são dados somente nas datascomemorativas: aniversário, dia das crianças eNatal. "Não é toda hora que compra brinquedo.Nesse aspecto, a gente é pé no chão", dizAlexandre, que pretende repassar este valor aofilho.

Para a especialista, a exposição à propagandaé inevitável nos dias de hoje. Por isso, é importanteo papel dos pais na educação dos filhos para queeles consigam entender que não podem ter tudo."Na verdade, os pais podem acabar sendo osgrandes culpados pelo excesso", explica. Ela tam-bém acrescenta que vivemos em uma cultura emque o fator tempo ficou atravessado pelo imedi-atismo da satisfação. "O ideal do 'não posso agora,mas que sabe no Natal', quase não existe para estageração", comenta.

O consumismo infantil preocupa

BRINQUEDOS RESISTEM AO MODISMOImportantes para pais e avós em décadas passadas, bonecas e carrinhos antigos ainda têm valor e fazem muito sucesso com a criançada, apesar de viverem em meio à muita tecnologia

Maria Aparecida Veado presenteou sua filha com a boneca Bate Palminha Há 30 anos, o hospital do brinquedo atua em Belo Horizonte Alexandre sempre estimula seu filho Pedro a fazer trabalhos manuais

n

DANIELA REZENDE

DENISE NIFFINEGGER

LÍVIA ARCANJO

SARA SOUZA

SÍLVIA VOLPINI7º PERÍODO

Foi na década de 1980. Aboneca Bate Palminha, da Estrela,foi o presente tão esperado porAmanda, filha da professoraaposentada e artesã MariaAparecida Veado, de 68 anos. Afilha caçula tinha apenas quatroanos quando em todos os aniver-sários não parava de chorar aoescutar a tradicional música"Parabéns pra você...". A soluçãofoi comprar o brinquedo. Re-centemente Amanda revelou àmãe que ficava emocionada e,com a boneca, "a choradeiraacabou". Vinte e cinco anosdepois o brinquedo ainda estáconservado, mas o mecanismoque a fazia cantar e bater palma jánão funcionava mais. A BatePalminha, que fez a alegria dafilha, agora será a alegria da netaMaria, de um ano e três meses,filha de Amanda, que vai recebê-laconsertada.

O menino Alexandre erapequeno quando recebeu do pai obrinquedo chamado Maxi Cargo.Na década de 80 também erauma sensação, já que aquele supertransporte automático de cargalevava pequenos objetos, comopedrinhas, de um lado para ooutro. Hoje, não como filho, maspai, aos 35 anos, o educador físicoAlexandre Assis presenteou o filhoPedro, que completa quatro anosno próximo mês, com o brinque-do de sua infância. O Maxi Cargo,que também ficou em desuso pormuito tempo, foi consertado e jáestá nas mãos do pequeno.

Há quase 30 anos Alexandreera filho, enquanto MariaAparecida já era mãe de três cri-anças. O que eles têm em comum,e conservam até hoje, é o valordos brinquedos. Antigamente,presentear ou ganhar brinquedosocorria apenas em ocasiões especi-ais, como natal e aniversário. Noséculo XXI a facilidade paraadquirir essas tentações é muitomaior, mas eles ainda conservamos valores da época que eles eramos pequenos. "Hoje, a criançadaestá muito voltada para oeletrônico, para os jogos, com-putador e videogame. Eu prefiropriorizar a bicicleta e o carrinho.Eu acho que não dá para brincarna rua igual eu brinquei, mas euacho legal incentivar essa parte edeixá-lo aproveitar bem essainfância, como eu aproveitei aminha", explica Alexandre.

Além de conservarem os mes-mos valores, eles têm outro pontoem comum. Todos esses brinque-dos valiosos foram parar no

Hospital dos Brinquedos, umaloja especializada em consertarbonecas, carrinhos e vários outrosobjetos, que são ou já foramimportantes para alguém. EsseHospital de brincadeira é conheci-do por muitos belo-horizontinos,que o frequentam há mais de 30anos. Fundado por RenatoRibeiro Sales, quando ele nãotinha nem ideia que o Hospitalchegaria ao que é atualmente, aloja já teve três endereços e hojeestá na Avenida do Contorno. Oproprietário acredita que o traba-lho que desenvolve faz parte doresgate e dos valores destes brin-quedos, assim como MariaAparecida e Alexandre, em relaçãoao ato de consertar. "É o carinhoque você tem por aquilo que tedeu uma satisfação um dia. Deuuma satisfação para mãe daminha neta, agora vai dar umasatisfação para ela. Através de umbrinquedo você ensina várias ou-tras coisas para uma criança",explica Maria.

O valor da conservação dosbrinquedos antigos se une aoincentivo as brincadeiras deantigamente, como jogar bola narua e andar de bicicleta.Alexandre acredita que o incenti-vo às brincadeiras ao ar livre éuma forma fácil e divertida decuidar da saúde dos pequenos. Eleressalta o desenvolvimento dolado motor, o contato com anatureza e a queima de energia,evitando assim, o sedentarismoinfantil, como pontos impor-tantes que devem ser observadose incentivados pelos pais. Para ele,o hábito comum a essa geração decrianças de passar horas em frenteà TV e ao computador deve sercontrolado com mais rigor pelospais. "Eu acho que essa geraçãoperde um pouco em relação àinfância", opina.

No rico imaginário das cri-anças, tudo vira brincadeira. Umatampa de panela, de repente,pode se transformar em umvolante e qualquer latinha, caixaou papel pode se tornar um moti-vo de diversão. Maria Aparecidaconta, que apesar das váriasbonecas que sua neta tem, Mariagosta mesmo é de brincar comvasilhas e tampas. "Ensinamos abrincar de várias maneiras. E nãoa ter o brinquedo lá e ficar guarda-do. Tem que ensinar a brincar e ater cuidado com o brinquedo",diz. Alexandre, que reduziu suacarga de trabalho para passar maistempo com o filho, afirma quenão tem dinheiro que pague porisso. "Você vira criança de novo",conta.

EMPRESA INCOMUM Hácerca de 30 anos, o mineiroRenato Ribeiro Sales Coelho deu

início a uma empresa incomum,um hospital destinado a socorrerbrinquedos danificados. A von-tade surgiu por acaso, nem mesmoele sabe dizer o que o levou a fun-dar o estabelecimento, que,durante essas três décadas, lherendeu diversas alegrias e situ-ações inusitadas. O trabalhocomeçou exclusivamente combrinquedos, mas a necessidade e acuriosidade fizeram com queCoelho se dedicasse ao consertode diversos equipamentoseletrônicos. Atualmente, o em-presário reforma até mesmobonecos anatômicos, usados nocurso de Medicina, e chega acobrar R$ 2 mil pelo serviço. Odiferencial é motivo de orgulhopara o proprietário. "Ligou natomada ou pôs pilha é com agente mesmo. Pode ser do brin-quedo à panela elétrica", afirma.

Renato conta que não tem con-correntes diretos, desde que passoua se dedicar aos diferentes tipos debrinquedos eletrônicos. Em BeloHorizonte, outras pessoas traba-lham de forma especializada, comoo conserto exclusivo de bonecas oucarrinhos, e recebem tantas deman-das quando o empresário. Sem aajuda dos manuais e esquemaseletrônicos, que a maioria das fábri-cas não divulga, a insistência setornou a principal ferramenta dodia a dia. Ele explica que muitosclientes descobrem sobre o Hospitaldos Brinquedos por meio de outras

lojas de materiais eletrônicos, cujoscomerciantes afirmam não seremcapazes de realizar certos consertose recomendam que as pessoas pro-curem o serviço realizado porCoelho. Após receber um trabalho, acuriosidade não permite que eledesista da tarefa. "Depois que eu tedou meu preço não estou fazendofavor. É minha obrigação trabalharpara você", diz.

Antes da fundação do hospital,o empresário trabalhou em multi-nacionais, mas nunca havia tidoaulas de eletrônica. Todo o co-nhecimento foi adquirido na roti-na de consertos e reformas. "Tudoque eu sei, eu aprendi aqui dentro.A minha curiosidade que me ensi-nou", conta. Renato explica quena época em que começou a "dartiro para todo o lado" muitas pes-soas se queixavam do aumento dodesemprego. O medo de não sercapaz de sustentar a família fezcom que ele, então com aproxi-madamente 30 anos, aceitassetodos os tipos de serviços envol-vendo equipamentos eletrônicos."A minha ideia inicial era fundarum hospital só para os brinque-dos, mas a minha clientela meobrigou a ampliar a oferta deserviços. Eles chegavam aqui efalavam 'você vai consertar paramim, você é curioso, mexe aí'. Aíeu fui consertando", relembra.

Segundo Coelho, muitosclientes que viajavam ao exteriorvoltavam com brinquedos "barati-nhos" que logo queimavam quandocolocados em uso. Depois de várias

tentativas de conserto em assistên-cias e outras casas especializadas, obrinquedo acabava nas mãos doempresário, já conhecido pela suahabilidade. Foi assim, segundo ele,que o nome Hospital dosBrinquedos foi surgindo na suaprincipal ferramenta de divulgação:o boca a boca. Só até o mês desetembro, já foram 2.250 ordensde serviço realizadas. De acordocom os cálculos de Renato, a médiasão 3 mil por ano.

Depois de passar por trêsendereços, a casa de dois andaresna Avenida do Contorno, noBairro Gutierrez, é onde o donodo Hospital e seus cinco fun-cionários recuperam brinquedos ediversos equipamentos eletrôni-cos. Nas estantes abarrotadas decoisas, o que não faltam sãohistórias para contar. "Já tive aquiuma carroça que relinchava eandava", conta. "Tem tambémcachorrinho elétrico que você temque ter o maior cuidado para nãosujar o pelo branco", complemen-ta. Num canto do cômodo quefunciona como oficina, um carri-nho de U$ 1.800 chama aatenção. "Este aqui é movidosomente à gasolina importada",diz. O conserto dos brinquedospode variar de R$ 25 a R$ 2 mil,segundo Renato. Mas todos têmmais valor do que os recém-adquiridos. "A criança dá maisvalor ao brinquedo que retorna doconserto do que um próprio novo.Ela pensa que não vai funcionarnunca mais e quando isso acon-tece é o maior sucesso" observa.

DANIELA REZENDE

DANIELA REZENDE

DANIELA REZENDE DANIELA REZENDE

Page 15: marcototal287output

15EsporteDezembro • 2011 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

O futebol não é a única opção devida para alguns garotos. Lucas Libânioatuou nas categorias de base doAmérica Mineiro por seis meses, masacabou desistindo do futebol decampo. "Eu parei porque eu tive umaconversa com o treinador e ele abriu ojogo falando que eu não teria as mes-mas oportunidades que os outrosjogadores porque eu cheguei tarde aoclube", revela. Mas esse não foi o único

motivo da desistência, o atleta nuncaquis deixar os estudos por saber que seo futebol não desse certo, ele poderiaoptar em investir em outros setores.

Apesar da desistência, Lucas Libânioparticipa da equipe Gol Brasil, que uti-liza o campo de futebol da faculdadeUNI-BH (unidade do bairro Buritis)para treinar. "É claro que o sonhonunca acaba, às vezes você pode serchamado por alguém”, observa.

Existem outras alternativas

DESAFIOS PARA SER UM PROFISSIONAL Atletas do time de base dos clubes de futebol vivem longe da família, passam por testes e dificuldades para terem o reconhecimento de serem selecionados para jogar no time profissional

n

GABRIELA GARCIA

RAISSA TORRES

2º PERÍODO

Para se tornar jogadorprofissional de futebol osjovens postulantes seacostumam desde cedo aenfrentarem pressões. Abusca por resultados ime-diatos, o drama de ficarlonge da família e morarcom pessoas desconheci-das. "No começo sãomuitas dificuldades. Pri-meiro você fica na dúvidase vai dar certo ou não,enquanto muitas pessoasdizem que você não vaiconseguir porque temgente muito melhor doque você", afirma ovolante da base doCruzeiro Eurico Nicolaude Lima Neto, 17 anos.

Os atletas que são deoutras cidades e jogam nascategorias de base moramnas dependências doclube. O clube é o respon-sável por manter o atletana cidade. "Os jogadoresque tem contrato profis-sional recebem para moraraqui. A gente paga tudopara eles, a comida, omédico, o dentista, opsicólogo, o pedagogo,paga todo mundo paraque se formem atletasaqui", observa AndréFigueiredo, 40 anos, ge-rente geral do departa-mento de base do Atlético.

As dificuldades que osjogadores de futebolenfrentam durante a suacarreira surgem já a partirdas categorias de base. "Eusempre fui muito apegado àminha irmã, ao meu pai e àminha mãe. Eu acho que adistância machuca. Largartudo com 14 anos e sair de

casa, para mim é uma novi-dade", conta o goleiro titulardo Atlético Mineiro, RenanRibeiro, 21 anos.

A peneira pode ser,muitas vezes, a únicachance de o jogadormostrar o seu futebol etentar impressionar osresponsáveis por analisaros atletas. "Você se senteigual a muita gente porqueem uma peneira vocêentra em contato comcerca de 200 jogadores queestão querendo a mesmacoisa. Acaba que você sesente dividido por ver queseu sonho não é apenasseu, nem de poucos, masde muita gente que precisamuito mais do que você",afirma Lucas Libânio, 17anos. De acordo com o

jogador, o tempo é curtopara que o jogador mostreo seu verdadeiro futebol e,geralmente, pela quanti-dade de meninos que seapresentam nas peneiras,o jogador não é devida-mente examinado pelostécnicos e dirigentes dascategorias de base, que sãoos encarregados por sele-cionar os novos atletas.

Os empresários hoje pos-suem um papel importanteno futebol. Muitos atletasentram nos clubes por indi-cação ou por influênciadesses profissionais que,por meio de um bom rela-cionamento com os diri-gentes dos times, garantemque o jogador o qual elerepresenta seja observadopela comissão técnica da

base. "Esse empresáriogeralmente já trabalha comos jogadores, já analisaantes de trazer para o clube.Quando ele traz o jogador,já estão totalmentedescritas as características,como é o jogador e a suaprincipal qualidade. Facilitabastante", afirma o goleiroFábio, 31 anos, titular doCruzeiro. O empresárioencaminha o atleta ao clubee caso o mesmo seja aprova-do é negociado um per-centual nos direitoseconômicos do jogador.

"O empresário acom-panha o atleta de perto,em seu dia a dia no clube,além de ser responsávelpelas negociações desalários, patrocínios e pelaassessoria de imprensa",explica o empresário e

gestor de esportes GustavoLara Barbosa, 46 anos. Eleafirma que a estrutura e oseu relacionamento com otime têm um grande pesono momento da escolhapara qual equipe ele iráindicar um atleta.

Ao serem questionadosse a carreira se torna maisfácil com a ajuda de umempresário, os jogadoresapresentaram pontos devista divergentes. Algunsconcordam, enquanto ou-tros acham que a carreiradepende exclusivamentedo jogador. "Eu acho quehoje, para você entrar nascategorias de base doclube através de umempresário, é um meiomais complicado. Porque oempresário pode até tecolocar dentro do clube,

mas se você não tiver umaboa condição técnica,você não vai conseguir semanter dentro do time.Não é o empresário quemantém o menino noclube, é o própriojogador", afirma o goleiroGabriel Vasconcellos, 19anos, titular dos juniores ereserva do profissional doCruzeiro.

Atualmente, para ogaroto que cobiça setornar um jogador de fute-bol, não basta ter habili-dade e uma característicatécnica diferenciada, énecessário ter um bompreparo físico para supor-tar a pesada rotina detreinos. "Tudo na minhavida era direcionado aoAmérica, porque você ficapraticamente metade doseu dia no CT (Centro deTreinamento). Às vezesvocê tinha que se sacri-ficar muito para ir treinartodo dia para tentar semanter lá dentro", afirmaLucas Libânio.

A profissão de jogadorexige muita dedicação. "Apalavra certa é trabalho.Trabalhar para conseguir oobjetivo e treinar bastantepara conseguir o quequer", conta RenanRibeiro. "Primeiro a pes-soa deve ter a consciênciade que ela pode receberum sim e pode receber umnão. Isso vai facilitarmuito para que ele possabuscar esse sonho da me-lhor forma possível, poisele vai ter mais tranquili-dade para desenvolver afunção que ele deseja, queé ser jogador, com aquelaresponsabilidade de que senão der certo vai conti-nuar os estudos, vai fazeroutra coisa", concorda ogoleiro Fábio.

Goleiro Fábio, do Cruzeiro, saiu da categoria de base e hoje é veterano Renan Ribeiro, que começou na base, atuou no time principal pelo 2º ano

‘Sobe e desce’ prejudica orendimento dos jogadores

GABRIELA GÁRCIA RAÍSSA TORRES

Para Enderson Moreira, 40 anos, técni-co do Goiás, o que determina o momentode se promover um jogador da base aoelenco profissional é a necessidade daequipe principal em contar com um atle-ta com determinadas características. "Naverdade quem decide é a necessidade dotime no momento", observa.

Essa atitude dos clubes pode afetar orendimento e a carreira de um jovem atle-ta. Enderson Moreira expõe que isso difi-culta a adaptação desses jogadores aogrupo e ao estilo de jogar no profissionale, por isso, os garotos que regressam àscategorias de base se desmotivam.

"Grande parte dos atletas que sobem,em um curto espaço de tempo retornamàs categorias de base e ficam muitodesmotivados, por não terem permaneci-do na equipe profissional", conta o técni-co. Segundo o treinador, o correto seria ostimes analisarem, primeiramente, se osjogadores estão preparados para atuaremno profissional, e caso não estejam, elesdevem permanecer na base independenteda necessidade dos clubes.

Ele afirma ser diferente treinar a cate-goria de base e a equipe profissional. Nabase é mais difícil porque os trabalhos sãoconstantemente voltados para corrigir osaspectos técnicos e táticos do grupo,enquanto no profissional a dificuldadeestá apenas na pressão por resultados e

por ter pouco tempo de treinamento, de-vido à grande quantidade de jogosdurante o ano. "De maneira geral, na basevocê joga para treinar e no profissionalvocê treina para jogar", diz EndersonMoreira.

Ao ser questionado sobre as dificul-dades enfrentadas por um técnico,Enderson Moreira aponta a pressão feitapor dirigentes e torcedores para que otime obtenha bons resultados.

No momento de analisar um jogador para

ingressar ao time da base, alguns pré-

requisitos são definidos pelo clube. O

gerente geral do departamento de base do

Atlético Mineiro, André Figueiredo, 40

anos, afirma que a qualidade técnica do

jogador é o primeiro fator a ser

examinado. "Analisamos se ele tem boa

técnica, se ele conhece o jogo e se,

taticamente, ele entende o que tem que ser

feito na posição em que ele se propôs a

fazer a observação", diz. Ele também

conta que depois será observado se o

jogador é veloz e se possui um biótipo

favorável para jogar futebol.

A lei só permite que os jogadores atuem

na equipe profissional após firmarem

contrato com o clube, o que só pode ser

feito depois que os atletas completarem 16

anos. "Negociamos, assinamos e estão

prontos (os atletas) para jogar no

profissional, em relação ao contrato. Aí

vai depender da maturidade, da evolução,

da experiência deles para ver se eles têm

condições de jogar no profissional",

afirma André Figueiredo.

Legislação só permite contrato após os 16 anos

Rotina no profissional é bem diferente da base

GABRIELA GÁRCIA

Page 16: marcototal287output

n Quais suas críticas em relação aomodo como aprendemos e ensinamos?

Eu fui professor durante muitos anos,em todos os níveis do 1º, 2º e 3ºgraus, na pós-graduação, mestrado eno doutorado. Em certo momento,quando era professor da UFOP, tiveuma coisa que os americanoschamam de insight, mas nós mineiroschamamos de clarão mesmo. Entãoeu cheguei na escola e falei 'a partirde hoje eu não quero ser mais profes-sor, agora eu vou ser educador'. Elesfalaram que é tudo a mesma coisa,ganha o mesmo salário, são sinôni-mos. Então eu falei que não, pois sãocoisas completamente diferentes. Oprofessor é aquele que ensina, o edu-cador é aquele que aprende. Eu pre-ciso sair urgentemente desse lugar deensinamento e ir para o da aprendiza-gem. A universidade precisa dissomais rápido do que eu ainda, porqueela se fecha dentro de quatro paredese o único assunto que escutamos é 'eute cito, tu me citas' e no final do anovai sair mais uma tese que ninguém lêobviamente, porque ninguém maistem paciência de ler tese. E nós leva-mos isso aqui na galega.

n Conte sobre o seu jeito de ensinar e aprender?

Chamos de não-objetivos educa-cionais, ou seja, o que as pessoas nãogostariam que acontecesse com ofilho dos outros. Resolvi montar umaexperiência de aprendizado a partirdos não-objetivos educacionais. Porexemplo, em Ouro Preto ouvi umadiretora numa aula inauguralcomeçando a palestra dela assim: 'Ascrianças são como uma página embranco onde devemos escrever umbelo livro'. Eu falei que ela estava debrincadeira. Uma diretora de escolaque considera um menino de seteanos uma página em branco nãoentende nada de menino. Então, issovirou um não-objetivo. Outro não-objetivo é achar que os nossos co-nhecimentos são os únicos e ver-dadeiros. Outro é se pensar que aescola é um lugar que se entra, masnão se aprende. É um listado decuidados para a gente se policiar e aíeu fui trabalhar nessa turma. Nósfomos para comunidade, juntamos aspessoas e começamos a entrar emrodas debaixo de árvores ecomeçamos a conversar.

n Qual é a diferença da sua pedagogia?

A gente percebeu que nós nãopodíamos perder as crianças e as pes-soas nas rodas, então a gente tinhaque estudar tudo. O que a gentetinha que fazer era organizar o jeitode estudar. Então, começamos apegar tudo para não perder ninguém.Se tínhamos 15 assuntos, vamosorganizar por prioridades. O que aroda produziu é que ela não fazseleção, ela não perde ninguém,então ela organiza um jeito de estu-dar, ela estabelece uma pauta. Pauta o

trabalho, o faz e depois volta para aroda e o avalia. Então, nóscomeçamos a fazer uma ação,reflexão, ação. Ao fazer isso, a gentevia que na roda você não tem um cen-tro, na roda as pessoas se olham.Então, não tem uma pessoa que coor-dena, quem coordena são os temas.Quem propôs o tema vai coordenar adiscussão do processo de aprendiza-do. Aí sim nós saímos dos não-obje-tivos e caímos nos objetivos. Noentanto, fazer um objetivo é muitosimples, qualquer pessoa faz. É sóvocê pegar um verbo, colocar noinfinitivo e encher de linguiça depois.Promover o desenvolvimento inte-gral, garantir o acesso, isso é maisdifícil. Em geral você faz isso eengaveta, só que nós tínhamos ocompromisso de não cair na vala, denão produzir a mesmice. Então, nóscriamos o objetivo, pegamos umverbo, só que não fica no infinitivo enós não o conjugamos. Esse verbo é oPaulo Freirar, que só se conjuga nopresente do indicativo, Eu PauloFreiro, Tu Paulo Freiras, Ele PauloFreiras, Nós PauloFreiramos, Vos PauloFreirais. Então assimo que é Paulo Freirar?É pensar.Educação é um fim, eescola é só um meio.E a gente aprendeuque para que hajaqualquer processoeducativo é ne-cessário no mínimoduas pessoas. Então,educação é uma coisa que só acon-tece no plural, porque tem que ter oeu e o outro. E educação não é o queeu tenho e nem o que o outro tem esim o que a gente troca. Educação épluralidade, é aprendizado, porque agente troca o que tem pelo o que nãotem. Então essa lógica dos saberes,dos fazeres e dos quereres de umapessoa, de uma comunidade, de umgrupo que é o nosso alvo. Como issogera o processo de pluralidade e detroca, com o viés da educação, vocêolha os mesmos saberes, e fazeres daspessoas e pensa no que é desenvolvi-do, criando oportunidade.

n O senhor falou que o educadortambém aprende, então educador ensi-na e aprende, e o professor só ensina?

Educador para mim é um aprendizpermanente, porque o professor nãoprecisa aprender nada não, bastacitar. Um bom citador de pé de pági-na, um bom citador de ideias dos ou-tros, repetidor de ideias alheias, podeser um professor. O educador só con-segue ensinar aquilo que ele apren-deu, ou seja, educador tem que cons-truir o jeito próprio, uma pedagogiaprópria, não é aquilo que ele leu noslivros que ele fica repassando. Isso oGoogle faz. Conhecimento e infor-mação o Google tem, o que ele nãotem é entendimento, a produção deconhecimento é do educador, porqueé na troca e na compreensão que está

a análise e a reflexão a partir dascoisas.

n Para quais locais o senhor levou essa proposta?

O primeiro foi Curvelo. Há 28 anosnós começamos lá, a cidade é consi-derada a cidade capital da literaturade Guimarães Rosa. O Vale doJequitinhonha entrou há 13 anos, em1998, pela cidade de Araçuaí.

n O que são os conceitos da TIC e da TAC?

TIC é uma expressão muito usualhoje, são as chamadas Tecnologias deInformação e Comunicação, é tudoisso que está ligado às mídias e às lin-guagens. Hoje, existem muitos semi-nários de TIC's, curso pra TIC infor-mação para TIC. Mas a Tecnologia deInformação e Comunicação só fazsentido se ela se transformar em umaTAC, que é a Tecnologia deAprendizagem e de Convivência, por

isso tem que haverum equilíbrio entreTIC e TAC.Informação vocêtem, mas você precisater aprendizado econvivência, por issotem que haver umentendimento. Senão houver esse equi-líbrio, não adianta teressa quantidade deinformação se as pes-

soas não puderem construir processosde aprendizado. Quanto mais as pes-soas aprenderem a construir pensa-mentos próprios a partir de infor-mações, eu estou gerando o processode TAC.

n Como aconteceria essa mudançaem uma escola com o aprendizadopadronizado?

Como os conteúdos são apropriados,só faz sentido se você compreender ooutro lado. Não adianta ficar falandoe propondo se o outro lado está comoutra linguagem. A busca neste equi-líbrio é aprender o outro, entender ooutro, que é diferente, mas não édesigual. Como isso é um negócioque implica eu querer aprender e ooutro ouvir mais do que falar, entãovocê pensa numa escola pública quetem um currículo que já está pronto.O que os meninos que entrarem naescola no início do ano que vem emBelo Horizonte vão aprender já estápronto, o livro e o método já estãoescolhidos, a aula já está preparada,já está tudo pronto. Não importaquem é que vem, importa quem é quevai. Se esse menino não se adaptar, oproblema é dele, porque o que já temnão vai mudar, as TICs já estãoprontas. Quem as aplica não quersaber se o outro vai conviver ouaprender ali, então, fica essa perda. Aíficam os equívocos, porque esse outrolado é tão prepotente tão fechado emsi mesmo que ele acredita em deter-

minados conteúdos como se aquilofosse verdade absoluta. Se você pararpara pensar você percebe que metadedestas coisas são inúteis, o conheci-mento está fechado em si mesmo, écômodo repassar assim. Agora se vocêolhar para a realidade deste meninovocê vai ver que é tão diversa, tão ricaque eu tenho que todo dia criar, nãodá para ter uma grade curricularfechada, eu tenho que criar. Aí está onó da questão, que acontece nessedesencontro que existe entre o ensi-namento e a aprendizagem.

n Como uma comunidade pode ajudar e iniciar esse tipo de mudança em uma escola?

É muito complicado, porque eles nãosão chamados pra discutir educação,e sim para discutir escola. E aí queestá a questão: educação é um fim,escola é um meio. Por exemplo, o pro-jeto Amigos da Escola, aquilo é umabobagem, porque junta um bando degente que vai lá no final de semanapara pintar a escola, fazer a quadra,plantar árvore. Mas ninguém chamaa comunidade para sentar numa rodacom os meninos e mostrar para elescomo são as coisas. Quando vocêpercebe isso, você vê que existe umburaco. Tem um evento nas escolaspúblicas que chama-se o 'dia dafamília na escola'. Uma vez por anotem um dia que é uma festa. Então, épossível sim fazer educação sem esco-la, é possível sim fazer educaçãodebaixo de um pé de manga, mas éimpossível fazer boa educação sevocê não tiver bons educadores. Sóbons educadores fazem uma boa edu-cação, e o contrário também é ver-dadeiro, os maus educadores fazemuma educação ruim.

n E aonde estão os bons educadores?

Não estão vindo nem sendo forma-dos na quantidade nem na qualidadeque nós precisamos para transformareste país. Em vez de esperar que asUniversidades nos forneçam bonseducadores, nós resolvemos criar, for-mar os educadores que a gente pre-cisa. No lugar aonde eu vou traba-lhar, nós vamos formar os educadoresque nós precisamos naquela comu-nidade. Isso eu aprendi emMoçambique, na época que eu traba-lhei com a formação de educadoresque trabalhavam com meninos emeninas que viviam no campo derefugiados de guerra. Para educaruma criança é necessário toda umaaldeia, então o que a gente faz hoje éconvocar a aldeia para educar melhor.Se eu for trabalhar no Maranhão euvou convocar pessoas que saibam tra-balhar com a mortalidade infantil,porque é contra isso que eu vou lutarlá. Eu convoco todo mundo para umacausa, para tirar o menino do analfa-betismo ou evitar a mortalidadeneonatal. A gente convoca as pessoaspara fazerem o que sabem e querem etransformamos isso em ensino, forçae capital social.

entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista

entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista

jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco

Tião RochaEntrevistaEDUCADOR

[ ]“O PROFESSOR ÉAQUELE QUE ENSINA,

O EDUCADOR ÉAQUELE QUEAPRENDE”.

EDUCAÇÃO CRIANOVA REALIDADE

n

RAPHAEL VIEIRA PIRES

RAQUEL ANDRETTO

7º E 3º PERÍODO

“Educação só acontece no plural. Não existe no singular, pois para que haja educação, são necessáriasno mínimo duas pessoas”. Essa é uma das ideias principais da proposta do mineiro Sebastião Rocha,mais conhecido como Tião Rocha, fundador do Centro de Cultura Popular e Desenvolvimento (CPCD).O projeto, aplicado inicialmente na cidade de Curvelo, situada na Região Central de Minas, foi levadadepois para Araçuaí, cidade do Vale do Jequitinhonha. Ali, o trabalho começou a ser implantado em1998 e continua vigoroso até hoje. “Estamos construindo em Araçuaí uma cidade mais sustentável, queé outro paradigma que nós estamos rompendo, pois não é mais um projetinho, nem programa, nem rede,é uma plataforma de transformação social. É uma experiência riquíssima. É o Araçuaí sustentável. OAraçusa, que a gente fala”, afirma. O educador foi eleito como Empreendedor Social em 2007 por meioda promoção de educação popular e desenvolvimento comunitário com o uso de brinquedos, criação deprodutos, e cursos realizados pelo CPCD. Antes de fundar essa organização, Tião Rocha formou-se emantropologia e já foi professor da PUC Minas e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), presi-dente da comissão Mineira de Folclore, entre outras atividades já desenvolvidas. A chamada ‘pedagogiada roda’, que foi criada pelo educador, chegou a sete estados brasileiros e também atravessou o mar,desembarcando em Moçambique e em Guiné-Bissau, na África. O projeto deve ser levado para o estadodo Maranhão e para o Peru na América do Sul. “Na roda você não tem um centro, na roda as pessoasse olham. Não tem uma pessoa que coordena, quem coordena são os temas”, diz.

MARIA CLARA MANCILHA MARIA CLARA MANCILHA