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MANUTENÇÃO DO
COMPROMETIMENTO
ORGANIZACIONAL EM AMBIENTES DE
MUDANÇA: UMA PROPOSTA BASEADA
NA CONFIANÇA
Wladmir Henriques Motta (UNIVERSIDADE VEIGA DE
ALMEIDA)
Resumo
Inseridas em um ambiente altamente competitivo e sob constantes
mudanças, as organizações, como reflexo das grandes mudanças
ocorridas na economia mundial, estão tendo que se adequar a esta nova
realidade. Tais mudanças vêm gerando inseguranças e instabilidades em
seus ambientes internos, comprometendo a base do “fazer coletivo”.
Dentro deste contexto, a força de trabalho, por estar inserida neste
ambiente, também vive a mesa realidade das organizações quanto ao
desafio de adequação às mudanças.
O presente trabalho busca apresentar o papel que a confiança tem nas
organizações, esclarecendo as inter-relações existentes entre a confiança e
o comprometimento organizacional, perante as incertezas geradas pelas
mudanças.
Abstract
Acting in a competitive environment and under constant changes, the
organizations, as a reflect of the worldwide economic changes, had to
adequate to the new reality. Those changes are generating insecurity and
instability inside the organizations, bringing into question the basis of the
“to do in a collective way”.
Within this context, the work labor, since it´s inside this environment,
also lives the same reality as the organizations concerning the adaptation
to changes.
The actual paper has the propose to present the importance that the trust
has at the organization environment. Clarifying, the relation between
trust and commitment, in the presence of the uncertainness created by
changes.
Palavras-chaves: Confiança, Comprometimento Organizacional, Mudança
Organizacional, Transparência
31 de Julho a 02 de Agosto de 2008
II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE TRANSPARÊNCIA NOS NEGÓCIOS Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008
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1- INTRODUÇÃO
1.1- SITUAÇÃO-PROBLEMA
Inseridas em um ambiente altamente competitivo e sob constantes mudanças, as
organizações, como reflexo das grandes mudanças ocorridas na economia mundial, estão tendo
que se adequar a esta nova realidade. Essas mudanças têm afetado os diversos mercados, gerando
uma intensificação da competitividade empresarial e conseqüentemente mudanças econômicas e
organizacionais.
Este cenário econômico mundial tem imposto, constantemente às organizações, mudanças
de comportamento, tanto no que tange os aspectos de gerenciamento dos seus recursos humanos e
materiais, como na condução de estratégias inovadoras que possam, de forma eficiente, buscar a
eficácia organizacional, com o objetivo de mantê-las presentes neste mercado extremamente
competitivo.
Tais mudanças vêm gerando inseguranças e instabilidades em seus ambientes internos,
comprometendo as bases do “fazer coletivo”, prejudicando desta forma a condição “sine qua
nom” das organizações: a colaboração. Neste contexto, a força de trabalho por estar inserida neste
ambiente, também vive a mesma realidade das organizações quanto ao desafio de adequação às
mudanças. Realidade esta que difere bastante da vivida recente por estes na década de 80, onde
os mesmo se sentiam seguros em seus empregos porque sabiam que iriam permanecer na
empresa até a aposentadoria. Devido a esta segurança, os indivíduos eram leais às organizações
assim como as organizações leais aos indivíduos.
Esta lealdade era explicada também pelo contrato psicológico existente entre o
empregado e a organização, onde o empregado ao executar suas tarefa com presteza esperava
receber em troca sua recompensa financeira da empresa e ser considerado como
membro/colaborador da mesma. Mas o que acontece quando este contrato é rompido? Como
fica a confiança do trabalhador quanto à organização e quanto a seus companheiros de
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trabalho?Qual o efeito das mudanças e da conseqüente falta de confiança, sobre o
comprometimento do individuo?
A realidade é que, as mudanças geram incertezas, inseguranças e desconfianças,
conduzindo a inúmeras rupturas e disfunções. Ao invés de prosperar na empresa em decorrência
das mudanças, alguns empregados nem “sobrevivem” as mesmas. Estes sentimentos de
insegurança e incerteza, gerados durante as mudanças, tornam os “sobreviventes”, pessoas
ansiosas e confusas quanto a seu futuro na empresa. Sua moral fica baixa, sua confiança na
empresa fica abalada, e sua lealdade e comprometimento à empresa desaparecem.
Desta forma, apesar de podermos considerar que as mudanças estão presentes em
qualquer individuo ou grupo, seja de forma espontânea ou planejada, tais mudanças
organizacionais tem modificado as relações das organizações com seus empregados e as relações
interpessoais presentes nas organizações, de tal forma, que este fato tem sido merecedor da
atenção de diversos estudiosos buscando explicar suas conseqüências.
Conforme mencionado anteriormente, este ambiente de mudanças, acaba gerando um alto
grau de incerteza e insegurança nas organizações, indo contra as expectativas naturais do ser
humano de buscar ambientes e comportamentos estáveis e confiáveis. Assim, a confiança do
individuo na organização e nos companheiros de trabalho fica abalada. Conforme apontado por
Kramer (1999), nos últimos anos tem-se tido um ressurgimento do interesse dentre os cientistas
sociais, em explorar o papel da confiança dentro deste processo organizacional.
Burt & Knez, apud Kramer (1999), definiram a confiança, de forma simples e direta,
como sendo uma forma de “cooperação antecipada”, levando em consideração que o individuo
que confia, coopera até que se prove o contrário quanto a sua crença de que o outro individuo,
grupo ou organização não são confiáveis. Apesar das divergentes e variadas conceitualizaões da
confiança, a maioria dos estudiosos, concorda que a confiança é fundamentalmente um estado
psicológico.
Quando conceitualizada como um estado psicológico, a confiança foi definida em termos
dos diversos processos cognitivos e orientações inter-relacionadas. Lewis & Weigert, apud
Kramer (1999), caracterizaram a confiança como sendo “assumir o risco na expectativa confiante
de que todas as pessoas envolvidas na ação irão agir competentemente e com responsabilidade”.
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De forma similar, Robinson, apud Kramer (1999), definiu a confiança com “as expectativas,
suposições e crenças de uma pessoa a respeito da probabilidade de que a ação futura de outra
pessoa seja benéfica, favorável, ou ao menos não seja impeditiva de seus interesses”.
Outras definições comumente utilizadas da confiança a definem como sendo uma atitude
mais geral ou sendo uma expectativa a respeito de outra pessoa e do sistema social a que se
pertence, Luhmann (1992). Barber, apud Kramer (1999), caracterizou a confiança como um
cenário de expectativas socialmente aprendidas e socialmente confirmadas, que os indivíduos
tem quanto aos outros indivíduos, as organizações e instituições nas quais eles vivem e
trabalham, e quanto às ordens naturais e morais que norteiam as compreensões fundamentais
sobre suas vidas.
Alguns estudiosos têm comentado sobre a possibilidade do uso do conceito de confiança
em termos de uma escolha individual de comportamento em relação a situações variadas. Esta
possibilidade é apoiada pelo conceito da confiança dentro das organizações, onde a atitude de
confiar é largamente utilizada em referência as expectativas difusas de um individuo e suas
crenças a respeito de outros membros da organização.
Dentro deste contexto, a transparência nas relações interpessoais nas organizações tem um
importante papel na construção do conhecimento interpessoal e é um aspecto básico na opção do
individuo em confiar ou não em outro individuo no ambiente interno das organizações. Desta
forma, a confiança interpessoal requer níveis adequados de tolerância e transparência para existir.
Outro comportamento que assume papel importante neste cenário de mudanças e do
ambiente de falta de confiança nas organizações é o comprometimento organizacional,
provocando o surgimento de múltiplos conceitos destinados a explicá-lo, gerando a necessidade
de novas pesquisas voltadas ao entendimento de suas origens e formas de melhor utilizá-lo.
O comprometimento organizacional representa o engajamento do individuo com sua
organização de trabalho e está intrinsecamente relacionada com a escala dos valores éticos
individuais, que são fatores determinantes da sua conduta e da sua responsabilidade social com a
função e a empresa.
Pode-se entender o comprometimento, conforme apontado por Motta (2004), como um
comportamento mais duradouro, na medida em que dá idéia de vinculo mais forte do individuo
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em relação à organização. Sendo assim, a manutenção do comprometimento dos funcionários
com suas organizações é uma condição primordial para que a organização permaneça como ator
no palco econômico da historia mundial.
Fink (1992) afirmou que o comprometimento do empregado no trabalho e com a
organização se tornaria cada vez mais importante, porque mais e mais organizações estavam
movendo seus processos decisórios para níveis mais baixos da hierarquia organizacional, fazendo
com que o controle direto do desempenho dos trabalhadores se tornasse praticamente impossível
para os gerentes. Por tanto, dentro desta perspectiva, pode-se observar a importância do tema
comprometimento, na atualidade.
Um modelo utilizado pelos pesquisadores do comprometimento organizacional é o
modelo de conceitualização de três componentes do comprometimento organizacional
desenvolvido pelos professores canadenses John P. Meyer e Natalie J. Allen (1991). Este modelo
reúne as três correntes que dominaram as abordagens teóricas e conceituais acerca do
comprometimento: a afetiva, a instrumental e a normativa.
Bastos (1994) reuniu focos de comprometimento, tais como, organização, carreira e
sindicato. Para Bastos (1994, p.169): “pode-se considerar os padrões como unidade de análise
relevante por apreender a questão do comprometimento em um nível de maior complexidade, e,
por conseguinte, mais próximo da situação real em que atua o trabalhador”.
Segundo Motta (2004), uma visão mais psicológica do comprometimento foi proposta por
Maslow (1987), que tinha como principal objetivo analisar a natureza humana como um todo e
não apenas as características humanas relacionadas ao trabalho. Em sua proposta Maslow
apresentou a teoria das necessidades, dividindo cinco classes de “necessidades básicas” que
motivariam o homem.
A teoria das necessidades apresenta: necessidades fisiológicas, manter a vida do individuo
e da espécie; necessidades de segurança, onde o individuo pode fazer algum tipo de planejamento
do futuro; necessidades sociais são necessidades de pertencer a algum grupo; necessidades de
estima, auto-respeito e necessidades de auto-realização, realização de todo o potencial humano.
Como resultados de todo este processo de incertezas e insegurança gerado pelas
mudanças, principalmente após a década de 90, onde o ambiente de dependência mútua entre o
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empregado e a organização foi devastado pela onda de “downsizing”, pelo avanço da tecnologia e
principalmente pelo advento da globalização, podemos destacar duas conseqüências diretas, que
serão pertinentes ao estudo proposto por este projeto, que são: uma menor confiança interpessoal
e na organização e um menor comprometimento dos indivíduos com sua organização e seus
objetivos.
Desta forma, o presente estudo buscara esclarecer as inter-relações existentes entre a
confiança e o comprometimento organizacional, perante as incertezas geradas pelas
mudanças.
1.2- MOTIVAÇÃO PARA A PESQUISA
Confiança e comprometimento organizacional têm sido constructos crescentemente
discutidos na atualidade, entretanto suas possíveis articulações têm sido pouco exploradas. A
justificativa para a escolha destes comportamentos organizacionais como objetivo de estudo
baseia-se nos seguintes aspectos:
Experiência profissional do autor, tendo o mesmo passado por fusões e
reestruturações nas empresas onde trabalhou;
Relação do comprometimento organizacional, mudança organizacional e da
confiança com o contexto social atual;
A importância da confiança e transparência nos ambientes em mudança
organizacional;
A perda da lealdade e/ou comprometimento dos empregados em relação às
organizações perante as incertezas geradas pelas mudanças;
Contribuições que o estudo ira trazer a academia quanto ao melhor entendimento
das relações entre o comprometimento e a confiança nos ambientes
organizacionais, frente às mudanças;
Identificação dos passos fundamentais para a criação e desenvolvimento do
comprometimento, baseado na confiança, dos empregados com as organizações;
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A maioria dos estudos dos processos de mudança nas organizações baseiam-se na
idéia de que a natureza humana se opõe às mudanças, logo a resistência para
mudar é considerada como algo negativo, um obstáculo à mudança e, portanto,
deve ser de algum modo superada ou removida.
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1- CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DAS ORGANIZAÇÕES
A ênfase que vem sendo dada a questões como a confiança e o comprometimento
organizacional, na atualidade, sinaliza o reconhecimento da importância dos fatores humanos
sobre o conhecimento e determinação dos resultados organizacionais, Drummond (2004). Esses
aspectos se revestem de especial importância quando considerados no cenário da economia
globalizada, com fortes desequilíbrios e injustiças sociais, marcados por incertezas, riscos,
competição e ameaças generalizadas.
O presente artigo busca estudar e articular os contructos citados no contexto
organizacional, em busca de uma melhor compreensão acerca de seus papéis e significação na
vida das organizações na contemporaneidade. Desse modo, tem-se o cenário contemporâneo das
organizações como “pano de fundo” contextualizador para a inserção das questões que se
relacionam à temática considerada, de um ponto de vista contigencial.
O campo de estudo do comportamento organizacional leva em conta o estudo das
organizações como sistemas complexos. Dentro de uma perspectiva psicológica, a teoria do
comportamento organizacional e seus estudos, examinam os antecedentes e as conseqüências do
comportamento organizacional, tanto individual quanto coletivo, dentro do quadro
organizacional, conforme apontam Katz & Kahn, apud Kramer (1999). Desde de sua formação,
afirma Arrow, apud Kramer (1999), a preocupação central do estudo do comportamento
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organizacional, tem sido o de identificar as determinantes da cooperação interorganizacional, a
coordenação e o controle.
O fato de que o estudo dos processos de funcionamento e das mudanças nos grupos se
reveste de uma importância particular na apreensão dos fenômenos organizacionais , devemos
acentuar o lado “humano” da empresa, ao sublinhar a importância do sistema de relações e de
comunicações, ao demonstrar a necessidade de levar em conta a afetividade e a lógica dos
sentimentos, ao introduzir as necessidades dos indivíduos e dos grupos na empresa, Enriquez
(1997).
Recentemente tem-se observado crescente interesse dos cientistas sociais acerca do papel
que a confiança desempenha nesses processos (FUKUYAMA, 1996. KRAMER, 1999;
PUTNAM, 1995; SENNETT, 1999). Ainda Segundo Kramer (1999) tem-se, igualmente, buscado
aplicar os emergentes conhecimentos da teoria da confiança, à compreensão de importantes
problemas e fenômenos organizacionais. Acredita-se que dentre as principais aplicações pode ser
encontrada, sem sombra de dúvida, ainda que não suficientemente explorada, suas relações com o
comprometimento organizacional, pela importância de seu papel, face às imposições da
atualidade.
No cenário estratégico das organizações contemporâneas, que é o de um mundo global,
interdependente, um dos fenômenos mais significativos é o das rápidas e profundas
transformações e mudanças, que trazem, em seu bojo, fortes desequilíbrios e injustiças sociais.
Os “enxugamentos”, “downsizings” e outras estratégias de “reestruturação produtivas” das
organizações, ou “reengenharias”, apesar de apresentarem sistematicamente controvérsias e
resultados duvidosos, quando não catastróficos, tornam-se uma constante e banalizada estratégia
diante das exigências e pressões trazidas pela competição global exacerbada e pela baixa
valorização e investimentos nas questões humanas e sociais, Drummond (2004).
No contexto da globalização, surgem severas dificuldades em termos de constituição e
fortalecimento do caráter dos indivíduos, manutenção da saúde e integridade psicológicas, assim
como empecilhos ao estabelecimento de vínculos sociais saudáveis e produtivos, Sennett (1999).
Sennett (1999, p.24), destaca: “Laços sociais fortes, como a lealdade, confiança, senso de
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objetivo e responsabilidade, entre outros, dependem da associação a longo prazo, condição há
muito excluída do contexto de nossas organizações”.
2.2- CONFIANÇA
O espantoso aumento da complexidade, diversidade e instabilidade do mundo atual, têm-
se revelado, sem sombra de duvida, como terreno reconhecidamente hostil ao desenvolvimento
de relações de confiança, Sennett (1999). A despeito disso, existe hoje uma convicção
generalizada de que vivemos uma crise de confiança em todas as sociedades contemporâneas.
Análise dos resultados da pesquisa independente, levada a cabo pelo Instituto Gallup
Internacional com uma amostra estatisticamente representativa de 1.4 bilhão de cidadãos em todo
o mundo, sobre confiança depositada em instituições de todos os tipos, inclusive democráticas,
não deixa margem a dúvidas sobre as dimensões do fenômeno, Drummond (2004). Tais
evidências corroboraram a opção do Fórum Econômico Mundial na escolha da temática
confiança como foco central do evento de 23 a 28 de Janeiro de 2003, realizado em Davos, Suíça
A questão da confiança tem sido cada vez mais freqüentemente mencionada, estudiosos
de diferentes épocas e de variadas áreas de atuação, parecem concordar que tal comportamento é
altamente beneficente para o bom funcionamento das organizações. Em decorrência disto, a
confiança tem recebido uma crescente atenção nos últimos anos, por parte de estudiosos (Barney
& Hansen, 1994; Wilson, 2000). Este interesse pelo tema confiança, tem sido alimentado, em
parte, pelas evidências acumuladas de que a confiança gera uma importante quantidade de
benefícios para as organizações e seus membros.
Rousseau et al. (1998) propôs um conceito multidisciplinar da confiança como sendo: um
estado psicológico abrangendo a intenção de aceitar a vulnerabilidade baseada sobre expectativas
positivas das intenções ou comportamentos de outros indivíduos.
A confiança é largamente apontada como uma atitude que pode ter um impacto positivo
nas organizações. Muitas organizações investem seus recursos para dar suporte aos esforços para
reter e satisfazer seus membros, o que inclui, entre outras coisas, construir a confiança entre seus
membros e entre os membros e o time de gestores.
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Múltiplas definições e tipologias do fenômeno, confiança, tem sido desenvolvidas por
sociólogos, estudiosos em gestão empresarial e economistas. Entretanto, de forma simples,
podemos definir a confiança como sendo a extensão a qual uma pessoa acredita que outras não
irão agir de forma a explorar suas vulnerabilidades.
A perspectiva dominante é de que os efeitos da confiança são transmitidos de forma
direta, a confiança resulta em efeitos distintos como: mais atitudes positivas, maiores níveis de
cooperação e níveis superiores de desempenho. Esta idéia é refletida na maioria das referências
teóricas dadas a confiança e seus efeitos sobre as atitudes, comportamentos e desempenho no
ambiente de trabalho Mayeret al. (1995).
Apesar de a perspectiva descrita anteriormente ter dominado a literatura , ela não
representa a única forma pela qual a confiança pode ter conseqüências positivas. Uma grande
quantidade de estudos sugere que a confiança é benéfica também porque ela facilita os efeito de
outras variáveis determinantes sobre os resultados organizacionais. Desta forma, ao invés de
propor que a confiança resulta diretamente em resultados organizacionais desejados, esta
perspectiva propõe que a confiança promove as condições sob as quais certos resultados, como
cooperação e altos desempenhos, são prováveis de ocorrer, Dirks & Ferrin ( 2001).
Esta segunda perspectiva, foi dividida em duas proposições. A primeira proposição sugere
que a confiança facilita os efeitos dos conceitos motivacionais no comportamento e nos
resultados organizacionais ao influenciar as expectativas de um individuo quanto o
comportamento futuro de outro individuo. A segunda proposição sugere que a confiança modera
o relacionamento entre a interação da ação de um individuo e a responsabilidade que o individuo
confiante tem ao influenciar a interpretação desta ação.
Embora tenha sido devotada uma significativa atenção a examinar os numerosos
benefícios potenciais da confiança, uma menor atenção foi devotada a examinar as diferentes
formas pelas quais a confiança pode transmitir estes benefícios.
Estudos anteriores sobre o assunto parecem fazer duas distinções fundamentais quanto a
como esses efeitos ocorrem. McAllister, apud Hansen et al (2001), descobriu que a confiança
interpessoal entre os membros de uma organização tem bases afetivas e cognitivas. A confiança
tem base cognitiva no momento em que os indivíduos escolhem em quem eles confiam e baseiam
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suas decisões no que eles acreditam ser “boas razões”. A base afetiva diz respeito à confiança
gerada a partir do vinculo emocional existente entre os indivíduos envolvidos.
De forma semelhante à apontada por McAllister, apud Hansen et al. (2001), considera a
confiança tendo as dimensões cognitiva e afetiva, sendo que Hansen et al. (2001), argumenta que
a confiança, cognitiva e afetiva se referem ao processo pelo qual o individuo determina que outro
individuo, grupo ou organização é merecedor de confiança. Esses termos se referem a como um
individuo desenvolve “boas razões” pelas quais outros podem ser confiáveis ou como os vínculos
emocionais da confiança são desenvolvidos.
Por ser a confiança uma resultante da interação social, a confiança com base cognitiva é
vista como tendo uma natureza objetiva por ser um processo racional e metódico, que resulta em
um julgamento de que um individuo, grupo ou organização é merecedor de confiança. Assim
como a confiança com base afetiva tem uma natureza subjetiva por ser baseada em sentimentos,
humor ou emoções que um individuo tem a respeito da confiabilidade de um individuo, grupo ou
organização.
A maioria dos estudos que examina a relação entre a confiança e o comportamento
interpessoal, tendem a se apoiar na premissa de que as crenças individuais(confiança) a respeito
de outra pessoa, afeta como esta pessoa que confia ira se comportar nas interações com as
pessoas em quem confia. Meyer et al.(1995), apresentou um modelo para esta idéia.
De acordo com este modelo, Mayer et al (1995),as crenças individuais (confiança) sobre
as habilidades de outros, a benevolência e integridade, levam a uma pré-disposição a assumir
riscos no relacionamento. Em outras palavras, um alto nível de confiança em um companheiro de
trabalho, aumentara a probabilidade em que um individuo irá assumir riscos com este
companheiro de trabalho (cooperar, dividir informações, etc) e/ou ira aumentar a quantidade de
risco que é assumido. Este comportamento de assumir riscos, pode conduzir a resultados
organizacionais positivos.
Para os efeitos da confiança na satisfação no trabalho, Rich (1997) apontou que a
confiança em um gerente resulta diretamente em um aumento da satisfação, porque os gerentes
são responsáveis por muitas tarefas que tem um grande efeito sob a satisfação no trabalho para os
empregados, tarefas como avaliações de desempenho, orientação quanto a responsabilidades no
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trabalho e treinamento. Desta forma, aumentando a confiança do empregado no gerente, a
satisfação no trabalho também ira aumentar. Esta lógica explica também os efeitos da confiança
no comprometimento organizacional.
2.3 - COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
O comprometimento com a organização é uma atitude amplamente discutida no campo do
trabalho, ela esta fortemente relacionada à satisfação no trabalho, mas é diferente em sua
concepção, de acordo com Mowday, Steers & Porter (1979), o comprometimento organizacional
tem três componentes:
1- Uma forte crença e aceitação das metas e valores da organização;
2- À vontade de realizar um considerável esforço em prol da organização;
3- Um forte desejo de manter vinculo com a organização.
Apontado por Ferraz (2000), como o comprometimento dos funcionários ou
trabalhadores, sendo uma atitude ou forma de agir ou se comportar e sentir das pessoas no
contexto do trabalho. Referindo-se, portanto a pessoas em ambientes de trabalho, que podem ter
diversos tipos de atitudes em relação aos elementos contextuais de seu trabalho (colega, empresa,
setor, supervisor, tarefa, carreira etc).
Os primeiros estudos sobre comprometimento organizacional tinham como objetivo
principal à busca de uma atitude que explicasse melhor o “turnover” nas empresas. Nos anos 50 e
60, diversos trabalhos, dentre eles os realizados por Herzeberg et al. (1959), Vroom (1964) e
Porter at al. (1974), apontavam uma relação entre uma maior satisfação no trabalho e a tendência
da pessoa em permanecer na empresa (uma relação negativa com o “turnover”). Neste período
era apenas definido como satisfação no trabalho.
Nos anos 70, a definição de comprometimento organizacional, surgiu dentre os trabalhos
referentes a comportamento organizacional. O crescimento da importância do conceito de
comprometimento foi explicado por Steers (1977), da seguinte forma:
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1- Geralmente o comprometimento estava mais relacionado ao “turnover” que a satisfação
no emprego;
2- Já havia evidência na época de que os trabalhadores mais comprometidos
desempenhavam suas funções de forma melhor que os menos comprometidos;
3- Alguns pesquisadores (SCHEIN & STEERS, apud STEER, 1977), argumentavam que
o comportamento seria útil para explicar a eficácia da organização.
Após isto, as pesquisas se multiplicaram e diversos conceitos para definir o
comprometimento das pessoas em relação às organizações, foram formulados. Os trabalhos mais
recentes tendem a apontar o comprometimento como um fenômeno multidimensional, Becker
apud Ferraz (2000), cita vários autores, onde suas pesquisas mostram que os trabalhadores podem
estar comprometidos com vários focos, tais como: profissão, organizações, ocupações, gerencia,
supervisores, companheiros de trabalho e clientes.
Dentre estas concepções mais recentes de comprometimento multidimensional, uma das
mais conhecidas é a desenvolvida por Meyer, Allen e Smith (1993), onde foram identificados três
tipos de comprometimento, são eles:
1- Afetivo, baseado na harmonia entre os valores e objetivos individuais com os da
organização;
2- Instrumental, baseado no empenho do individuo em resposta aos fatores econômicos
(salário, benefícios etc);
3- Normativo, baseados em custos e relacionados à responsabilidade moral e obrigação.
Outro modelo multidimensional, sustentado por Fink (1992), coloca o comprometimento
como uma atitude desenvolvida a partir de um processo denominado de “identificação”, onde a
identificação seria o processo no qual o individuo vivencia alguma coisa, alguém, ou alguma
idéia, como uma extensão de si mesmo. Fink (1992), considera que este comprometimento pode
estar orientado por três diferentes focos:
1- a organização;
2- os companheiros de trabalho;
3- o trabalho em si.
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Uma visão mais psicológica do comprometimento foi proposta por Maslow (1987), sua
contribuição mais difundida foi à teoria da hierarquia das necessidades, dividindo cinco classes
de “necessidades básicas” que motivariam o homem. A teoria das necessidades apresenta:
a) necessidade fisiológica: manter a vida do individuo e da espécie, incluindo a fome,
sede, abrigo, sexo e outras necessidades corporais;
b) necessidade de segurança: onde o individuo pode fazer algum tipo de planejamento do
futuro, incluindo a segurança e proteção contra danos físicos e emocionais;
c) necessidade sociais: são necessidades de pertencer a algum grupo, incluindo a afeição,
aceitação, amizade e sensação de pertencer a um grupo;
d) necessidade de estima: auto-respeito, incluindo fatores internos de estima, como
respeito próprio, realização e autonomia, e fatores externos de estima, como status,
reconhecimento e atenção;
e) necessidade de auto-realização: realização de todo o potencial humano, a intenção de
tornar-se tudo aquilo que a pessoa é capaz de ser, incluindo o crescimento,
autodesenvolvimento e alcance do próprio potencial.
Devido a sua importância dentro dos ambientes organizacionais, o comprometimento
passou a ser avaliado dentro das organizações. O comprometimento organizacional é medido por
meio de escalas auto-relatáveis, semelhantes às utilizadas para avaliar a satisfação no trabalho. A
escala mais popular é a identificada por Mowaday, Steers & Porter (1979), composta de um
questionário de quatro itens:
1- Acredito que os meus valores e os da organização são muito parecidos;
2- Tenho orgulho de dizer aos outros que sou parte desta organização;
3-Eu poderia estar trabalhando para outra organização desde que o tipo de trabalho fosse o
mesmo;
4-Esta organização realmente me inspira para que eu tenha o melhor desempenho
possível.
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Os componentes do comprometimento, na concepção de Meyer & Allen (1997), podem
ser avaliados por meio de uma escala desenvolvida por eles, nesta escala tem-se dois itens para
cada componente, como a seguir:
1- Comprometimento Afetivo
a)Eu ficaria feliz em ficar pelo resto da minha carreira nesta organização;
b)Eu realmente me sinto como se os problemas da organização fossem os meus próprios.
2- Comprometimento Instrumental
a)Neste momento, permanecer nesta organização é uma questão de necessidade e
vontade;
b)Seria muito difícil deixar esta organização agora, mesmo que eu quisesse.
3- Comprometimento Normativo
a)Eu não sinto nenhuma obrigação de permanecer com meu empregador atual;
b)Mesmo que fosse vantajoso para mim, eu não acho que seria certo deixar a minha
organização agora.
3- METODOLOGIA
De acordo com Frankfort-Nachmias e Nachmias (1996), metodologia é um sistema de
normas e procedimentos explícitos em que uma pesquisa é desenvolvida, e contra a qual
quaisquer possíveis questionamentos devem ser apresentados.
A ciência, portanto, constitui-se em um conjunto de proposições e enunciados,
hierarquicamente correlacionados, de maneira ascendente ou descendente, indo gradativamente
de fatos particulares para fatos gerais (indução) e vice-versa (dedução), comprovados (com a
certeza de serem fundamentados) pela pesquisa empírica (Marconi e Lakatos, 2000)
Escolheu-se para esta pesquisa a abordagem positivista. De acordo com Gil (1991), esta
abordagem está ligada à experimentação e fundamenta-se na observação, podendo levar à
construção de teorias e, até mesmo, de leis, justificando a escolha feita.
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Quanto ao tipo de pesquisa, baseados nos estudos propostos por Gil (1991) e Vergara (2004)
pode-se caracterizá-la do seguinte modo:
Quanto aos fins - como descritiva e explicativa, pois busca identificar e analisar as relações
existentes entre a confiança e o comprometimento organizacional.
Quanto aos meios – trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental de material teórico,
teses, dissertações, informes econômicos setoriais, artigos, revistas e jornais em busca de
subsídios para auxiliar na formulação do problema.
4-DESENVOLVIMENTO
Os conceitos de mudança organizacional, apresentados na literatura acadêmica são
variados, neste estudo propõe-se a relevância do componente comportamental individual e
grupal para o conceito de mudança e a importância da interação destes com a organização.
Araújo, (1982, p.24), define mudança como: “Qualquer alteração significativa articulada,
planejada e operacionalizada por pessoal interno ou externo à organização, que tenha o apoio ou
a supervisão superior, e atinja integradamente os componentes de cunho comportamental,
estrutural, tecnológico e estratégico”. Outra definição de mudança, levando em consideração o
comportamento individual como fundamental para a mudança, foi apresentada por Porras e
Robertson (1992, p.724): “Mudança no comportamento dos membros da organização é a essência
da mudança organizacional e, alem disso, qualquer mudança de sucesso irá persistir sobre longo
tempo somente se, em resposta às mudanças nas características organizacionais, os membros
alterarem seus comportamentos no trabalho de maneira apropriada”.
No entanto , um dos fatores mais bem documentados nas pesquisas sobre comportamento
organizacional é de que as organizações e seus membros resistem à mudança, ao mesmo tempo
em que se adota também a idéia de que a mudança só se efetiva com as pessoas, para as pessoas e
através do envolvimento e comprometimento das pessoas.
Como causas da resistência dos indivíduos a mudança, são incluídas as incertezas
geradas, incompreensões, falta de confiança, percepções diferentes do empregador e do
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empregado sobre a necessidade e as conseqüências da mudança, egoísmos ameaçados, falta de
tolerância, temores sociais e crenças culturais (Kotter & Schelesinger, 1997; Robbins,1999).
Dentro deste contexto, pode-se considerar que a confiança passa a ser um fenômeno de
grande importância nos ambientes em mudança, já que o processo de mudança sendo conduzido
com níveis de tolerância e transparência adequados, dentre outros aspectos, cria um grau de
confiança suficientemente forte para superar as incertezas e resistências criadas perante a
mudança.
De acordo com Fukuyama (1996,p.41): “confiança é a expectativa que nasce no seio de
uma comunidade, de comportamento estável, honesto e cooperativo, baseado em normas
compartilhadas pelos membros dessa comunidade”.
Estes comportamentos cooperativos, imprescindíveis à produção coletiva, encontram-se
diretamente associado à confiança e ao comprometimento organizacional. A melhor
compreensão e administração de tais questões podem, por conseguinte, representar a diferença
entre sucesso ou fracasso destas organizações neste mercado globalizado e constante mudança.
Algumas definições envolvendo a correlação entre a confiança e o comprometimento
organizacional foram levantadas por Gilbert & Tang (1998), que apontaram a confiança
organizacional como sendo um sentimento de confiança e de suporte em uma organização, é a
crença de que um empregado estará focado e ira se comprometer com os objetivos da
organização. Confiança é o centro de todas as inter-relações, tem sido sugerido que a confiança
ira manter as pessoas unidas e criara nelas a sensação de segurança. Afirmam ainda que, a
confiança é um sentimento frágil que é geralmente adquirida e cresce em ritmo lento, mas em
contra partida, pode ser perdida em instantes.
Apesar de estar fortemente associada com variáveis tais como comprometimento
organizacional, o conceito da confiança organizacional se mantém conceitualmente distinto.
Segundo Gilbert & Tang (1998), enquanto o comprometimento organizacional se refere à
identificação e avaliação de um individuo em relação aos objetivos corporativos, a confiança
organizacional se refere à crença no alcance dos objetivos corporativos e nos lideres
organizacionais, e na crença de que no final das contas, a ação organizacional irá mostrar
benefícios ao empregados.
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Alguns estudos demonstraram que a confiança organizacional foi um significante
antecessor do comprometimento organizacional, enquanto outros estudiosos apontaram a
satisfação no trabalho como antecessora do comprometimento organizacional. Confiança
organizacional, satisfação no trabalho e comprometimento organizacional são todos considerados
como partes das redes costumeiras da conexão afetiva a organização e das atitudes dos
indivíduos nos ambientes internos das organizações. No entanto, visto que a satisfação no
trabalho pode ser incrementada pela mudança de trabalho dentro da mesma organização e tem
contexto especifico, o comprometimento organizacional e a confiança organizacional podem ser
tidos como melhores indicadores de um comportamento anterior à saída do individuo da
organização(“turn over”).
Estudos têm sugerido que a falta de previsibilidade e segurança nos relacionamentos
organizacionais resultam em baixos níveis de comprometimento organizacional, decréscimo nas
relações interpessoais e no desempenho organizacional, baixa moral dos empregados e baixa
qualidade dos produtos, e aumento do absenteísmo e nos níveis de “turn over”. Esta realidade de
falta de previsibilidade e insegurança é a vivida pelas organizações e seus funcionários, perante
este ambiente globalizado e em constante mudança, em que vivemos atualmente.
Desta forma, sendo notória a forte relação que os baixos níveis de comprometimento
organizacional tem quanto às relações humanas e a produtividade nas organizações, este estudo
pretende contribuir com uma visão mais clara de tais relações humanas nas organizações frente
ao ambiente de mudanças no qual as organizações estão inseridas, focando o comprometimento
organizacional como instrumento de sustentação das mesmas, utilizando a confiança como pilar
principal deste comportamento de comprometimento.
Buscando através da confiança, construir laços afetivos e cognitivos de relacionamento,
fortes o suficiente para que o comprometimento organizacional gerado a partir destes laços, seja
mantido apesar dos ambientes de incerteza e insegurança gerados pelas mudanças.
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5-CONCLUSÕES
Este artigo teve o objetivo de apontar o papel da confiança como um dos importantes
pilares do comprometimento organizacional.. Do ponto de vista acadêmico, o estudo contribui
com um melhor entendimento da correlação existente entre a confiança e o comprometimento
organizacional, assim como no aprofundamento do conhecimento destes comportamentos frente
às mudanças.
Pode-se verificar que a confiança é apontada como sendo beneficente para o bom
funcionamento das organizações e que a mesma gera uma importante quantidade de benefícios
para a organização e seus membros. Verificou-se ainda que a confiança gera efeitos distintos,
como: mais atitudes positivas, maiores níveis de cooperação e níveis superiores de desempenho.
O artigo apontou ainda que o processo de mudança, sendo conduzido com níveis de
tolerância e transparência adequados, dentre outros aspectos, cria um grau de confiança
suficientemente forte para superar as incertezas e resistências criadas perante a mudança e com
isto mantendo os níveis de comprometimento nas organizações.
O tema apresentado aqui teve também o objetivo de servir como ponto de partida para
que novos estudos envolvendo as variáveis: confiança; comprometimento organizacional e
mudança organizacional, sejam desenvolvidos.
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