MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se...

30
Daiana Stockey Carpes Demétrio de Azeredo Soster MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Transcript of MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se...

Page 1: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

1

Daiana Stockey CarpesDemétrio de Azeredo Soster

MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO para produtos jornalísticos

laboratoriais impressos

Page 2: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

2

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Santa Cruz do Sul

2016

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos

laboratoriais impressos

Coleção Pedagógica

Daiana Stockey CarpesDemétrio de Azeredo Soster

Page 3: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

3

C297m Carpes, Daiana Stockey Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos / Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster. – Santa Cruz do Sul: Catarse, 2016. 30 p. – (Coleção Pedagógica)

Texto eletrônico. Modo de acesso: World Wide Web.

1. Audiodescrição – Manuais, guias, etc. 2. Deficientes visuais – Serviços para. 3. Deficientes visuais – Orientação e mobilidade. 4. Jornalismo. I. Soster, Demétrio de Azeredo. II. Título.

CDD: 362.41

Editora Catarse Ltda

Rua Oswaldo Aranha, 444

Bairro Santo Inácio

Santa Cruz do Sul/RS

www.editoracatarse.com.br

facebook.com/editoracatarse

Copyright® dos autores

Antonio Fausto Neto – UnisinosErnesto Söhnle Jr. – UNISCEunice Piazza Gai – UNISCFernando Resende – UFF

Jesús Gallindo Cáceres – Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (México)

João Canavilhas – Universidade de Beira Interior (Portugal)Walter Teixeira Lima – UMESP

CONSELHO EDITORIAL

Bibliotecária responsável: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406

Projeto gráfico e diagramação: Daiana Stockey Carpes

Fotografias: Daiana Stockey Carpes

Editor: Demétrio de Azeredo Soster

Revisão: Rafael Tatsch Jacóbsen

ISBN: 978-85-69563-10-5

Page 4: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

4

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Sumário

PrefácioDione Moura

ApresentaçãoFelipe Mianes

Uma experiência de natureza inclusivaDaiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

12 passos para a realização de produtos audiodescritos em práticas laboratoriais

A equipe

Referências

Sobre os autores

5

7

9

11

26

27

29

Page 5: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

5

Prefácio

Dione Oliveira Moura1

O Censo IBGE 2010 registrou 35,8 milhões de brasileiros com dificul-dade de enxergar, das quais mais de 6 milhões possuíam dificuldade visual severa e mais de 500 mil eram cegos. Somente esses dados seriam suficien-tes para constatarmos que acessibilidade inclusiva deveria ser palavra-cha-ve nos cursos de graduação em jornalismo, mas não é.

A maior parte dos produtos e estratégias midiáticas nas quais são capacitados nossos estudantes de jornalismo está voltada para o público que tem audição e visão em pleno funcionamento. Contudo, esse posicio-namento deixa de fora não só as pessoas sem audição, mas também nada menos do que 3,6% da população brasileira que possui algum tipo de de-ficiência visual, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde 2013, coordenada pelo IBGE. A mesma pesquisa aponta que temos um índice maior de brasi-leiros com deficiência visual do que com outras deficiências.

Ao pensarmos na democratização dos processos e produtos comu-nicacionais, faz sentido pensarmos seriamente, e buscarmos alternativas para que públicos como o de pessoas com deficiência visual possam ter acesso aos conteúdos. E pode ser exatamente na universidade um espaço para que essas iniciativas emerjam. E é exatamente este um dos grandes méritos deste Manual.

1 Docente e pesquisadora da Graduação e Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), com ênfase nos estudos de Jornalismo e Sociedade. Na SBPJor, atuou como Diretora Editorial (2004-2005; 2006-2007), coautora do Projeto Edito-rial da Brazilian Journalism Research (BJR) e Presidenta da SBPJor (2011-2013).

Page 6: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

6

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

O Unicom, jornal-laboratório da Unisc, tem o recurso da audiodes-crição, disponível para as pessoas com deficiência visual, o que em si já é um resultado efetivo importante. Relevante o fato de que, a cada semes-tre, temos estudantes praticando a audiodescrição, momento em que são depositadas sementes para pensar futuras produções midiáticas também com o recurso da audiodescrição.

Devemos realmente investir na força da prática laboratorial, no fato de que estudantes que produzem jornal-laboratório da Unisc como audio-descrito possam incorporar a cultura da audiodescrição, ganhar ferramen-tas, instrumentos e, principalmente, desenvolverem consciência – ainda tão escassa nos nossos produtos jornalísticos no Brasil – de que as pessoas com deficiência visual possuem o direito de acessarem produtos audiodescritos.

Por fim, cabe destacar que a audiodescrição pode ser empregada tan-to para descrever em áudio um material impresso e as imagens nele conti-das, como no caso do jornal-laboratório, quanto para descrever em áudio diversos produtos (filmes, documentários, mostras fotográficas e outros), quanto também para eventos culturais como peças de teatro, exposições artísticas e uma miríade de situações.

Ao desejar alcançar esse amplo espectro de materiais que podem ser audiodescritos, os autores formularam os 12 passos deste manual para uso em vários produtos, além de jornais-laboratório. Cada um desses passos propostos é uma etapa de produção da audiodescrição, que parte da for-mação de equipes, passa pelo planejamento da produção, elaboração do roteiro, gravação, avaliação e publicização, dentre outras fases.

Sendo assim, este Manual é um guia – e esperamos que seja um in-centivo - para que diversos estudantes e profissionais utilizema metodolo-gia descrita no Manual em diversos produtos midiáticos. As pessoas com deficiência visual agradecerão e todos sairemos ganhando com essa prática de acessibilidade inclusiva.

Page 7: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

7

Felipe Mianes1

A audiodescrição é uma técnica de tradução visual intersemiótica do meio visual para o verbal. Ou, se preferirem, transforma imagens em pala-vras para proporcionar e/ou ampliar o acesso de pessoas com deficiência, idosos e outros com necessidades específicas. Seja como for, é um impor-tante recurso de acessibilidade cada dia mais utilizado no Brasil.

Nós audiodescritores costumamos dizer que qualquer imagem pode ser descrita e que os usuários têm o direito de usufruir de todas as possi-bilidades que a visualidade pode proporcionar, o que é viável aplicando a audiodescrição. Assim, há diversos campos a serem explorados para que a AD atinja todas as esferas da sociedade.

O uso da audiodescrição como acesso à informação por meio de seu uso na área da comunicação é tão incipiente quanto necessário. Existem poucas pesquisas acadêmicas que forneçam materiais através dos quais os profissionais da comunicação possam fazer as descrições de imagens levan-do em conta as peculiaridades de sua área de atuação.

Nesse sentido, o manual “12 passos para a realização de produtos audiodescritos em práticas laboratoriais” tem uma função importante no

1 É audiodescritor consultor. Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/ RS). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre e Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-Doutorado pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).

Apresentação

Page 8: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

8

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

processo de construção e difusão de conhecimentos sobre a audiodescri-çãono campo das comunicações. Seu objetivo fornecer elementos para que esses profissionais realizem audiodescrições de maneira mais organizada e de acordo com as diretrizes empregadas pelos audiodescritores brasileiros.

Os quatro primeiros passos: “Forme a equipe”, “Pesquise o produ-to”, “Planeje a produção” e “Estude o material” dizem respeito à pré-pro-dução dasADs. Do quinto ao nono passo: “Escreva o roteiro”, “Ensaie a audiodescrição”, “Grave em estúdio”, “Module a fala” e “Acompanhe a audiodescrição” trata-se do processo de produção do recurso. E, do dé-cimo ao décimo segundo passo: “Apresente para o consultor”, “Avalie e aprenda” e “Divulgue a audiodescrição” diz respeito à pós-produção e finalização do processo.

Diante das raras publicações sobre audiodescrição no Brasil e das necessidades cada vez mais prementes de uso do recurso nos meios de comunicação, creio que seja uma leitura fundamental para todos aqueles que desejam ser profissionais mais inclusivos em suas práticas cotidianas. Além disso, a leitura é agradável e condizente com o público-alvo a que se destina.

Portanto, estamos diante de um material que deve circular tanto quanto possível, seja pelos estudantes dos primeiros semestres ou do-centes dos cursos de comunicação. Mais do que isso, deve chegar a todos aqueles que se interessam por audiodescrição, pois será muito útil em nos-sas práticas cotidianas seja em que âmbito for utilizada. Eis uma publicação para consultarmos uma, duas, dez vezes... E aprendermos algo novo em cada uma delas.

Page 9: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

9

A origem deste manual remonta a 2011, quando a então graduanda em jornalismo Daiana Stockey Carpes traduziu um jornal acadêmico im-presso em audiodescrição – o Ábaco, do curso de Ciências Contáveis da Unisc, para que um aluno cego pudesse ter acesso ao mesmo.

Experiência primeira, seminal – basicamente a transformação de um jornal impresso em jornal falado – mas forte o suficiente para seguir rever-berando na memória dos que, direta ou indiretamente, conviveram com Daiana e sua experiência pioneira em termos de Unisc.

Caso, por exemplo, do professor Demétrio de Azeredo Soster, respon-sável, à época, pela disciplina de Produção em Mídia Impressa do curso de jornalismo da Unisc, onde, entre outros, se realiza, duas vezes a cada semestre, o jornal-laboratório Unicom.

Da necessidade, cada vez mais latente, de se experimentar novas lin-guagens; com elas, a inclusão social por meio de práticas acessíveis – uma preocupação muito forte na disciplina desde à época – e do diálogo desta com a presença de Daiana em sala de aula, é que a audiodescrição é im-plantada, pela primeira vez, na rotina produtiva do Unicom.

De início de forma simples; depois, mais elaborada, aos poucos a prá-tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo de 2014; pesquisa de mestrado em 2015, implantação da mesma na revista-laboratório Exceção, da Unisc, para ficarmos em apenas alguns exemplos .

O fato é que esta experiência, reunida, a reflexão e a prática que vêm

Uma experiência de natureza inclusiva

Page 10: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

10

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

junto com ela, tornaram imperativa a elaboração deste manual, seja para auxiliar as escolas de jornalismo preocupadas com a (ausência de) acessi-bilidade em suas grades; para qualificar, do ponto de vista humano, a for-mação dos estudantes, mas, também, para instrumentalizá-los a uma prá-tica que, sabemos, exige conhecimento técnica daqueles que ingressam no mercado de trabalho.

Caberá a você, leitor, leitora, dizer se o resultado saiu a contento.Encerramos dizendo, de um lado, no entanto, que nossa pretensão

não é totalizante, sentido de dar conta de todas as necessidades. Ainda há muito o que fazer, o que aprender.

Mas, sobretudo, que nos move a certeza de que o jornalismo está, sim, se reconfigurando, e que é preciso atentar, cada vez mais para o que há de humano nos novos cenários que se avizinham.

E a inclusão social, acreditamos, é passo fundamental nessa caminhada.

Uma boa leitura a todos.

Daiana Stockey CarpesDemétrio de Azeredo Soster

Page 11: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

11

12 passos para a realização de produtos

audiodescritos em práticas laboratoriais

Page 12: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

12

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Primeiro passo: forme a equipe

Criar uma equipe desde o início do semestre, que ficará encar-regada em realizar a audiodescrição (AD) do material impresso. O nú-mero de componentes não é fixo, mas é importante que seja pensada editorialmente, ou seja, como um produto a ser desenvolvido que tem formatos, metas e objetivos a ser alcançados, o que requer uma estru-tura organizacional.

Uma equipe ideal, em termos de sala de aula, é composta por:

a) editor,b) roteirista, c) narradores,d) consultor.

O editor é aquela pessoa que ficará responsável por todo o pro-cesso; desde o cumprimento das metas até a qualidade editorial do produto.

O roteirista é quem fará a tradução das imagens por palavras. É quem toma as decisões tradutórias e escreve as imagens para elaborar o roteiro, pensa a estrutura da AD dentro de determinada produção cultural, redige o texto, calcula o tempo e os espaços que a AD poderá ser inserida.

Os narradores são aqueles que realizam a locução do roteiro, obser-vando a entonação, a velocidade e a modulação da voz com o objetivo de

Page 13: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

13

Primeira reunião com o grupo responsável pelo jornal-laboratório audiodescrito

torná-la a mais adequada possível para a compreensão do público. O rotei-rista e o narrador podem ou não ser a mesma pessoa.

E o consultor em audiodescrição, por fim, deve ser uma pessoa com deficiência visual – cega ou com baixa visão – que avalia a pertinên-cia e a qualidade do roteiro da audiodescrição, ele irá avalizar o produ-to. Essa função é considerada fundamental no processo da AD, mesmo no contexto de laboratório. Não basta ter deficiência visual para ser consultor de AD, assim como os roteiristas, os consultores devem ter cursos que os habilitem e capacitem para essa função, precisam ter pre-paro e qualificação.

Caso não seja possível ter uma pessoa com deficiência visual ou cega na equipe, propomos que algum estudante vende seus olhos e tente per-ceber se a fala dos narradores efetivamente consegue passar todos os ele-mentos necessários para a compreensão de uma pessoa que não possa ler o texto.

Page 14: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

14

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Segundo passo: pesquise o produto

Uma vez criada a equipe, é preciso lembrar que todo o produto é feito a partir de um material já existente e finalizado.

Conhecer o produto, tanto em termos de produto-laboratório (jornal, revista, mostra fotográfica, campanha publicitária, ilustração etc.) ou em práticas audiodescritivas anteriores é fundamental para dar a amplitude necessária ao projeto.

Estudar o que já foi feito é fundamental. É igualmente importante que seja realizada uma pesquisa bibliográfica especializada em livros, artigos, te-ses, dissertações etc. sobre o tema. Ao final deste manual oferecemos algumas sugestões comentadas de fontes que podem ser consultadas a esse respeito.

Acadêmicos analisam as páginas diagramadas do jornal que receberá a versão audiodescrita

Page 15: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

15

Terceiro passo: planeje a produção

Criada a equipe, definidos os papéis e realizadas as primeiras pesqui-sas, parte-se, então, para a etapa de planejamento.

Como em qualquer produção editorial, planejar o que será feito, aon-de se quer chegar, é fundamental. Definir o cronograma, tempo de envolvi-mento da equipe no projeto, material de apoio e equipamentos disponíveis. Nesse sentido, é importante definir, por exemplo, se a edição será integral-mente audiodescrita ou se somente algumas matérias, em se tratando de um produto jornalístico. O mesmo em relação ao local de gravação e aos equipamentos que serão utilizados.

Para realizar a audiodescrição de imagens estáticas é necessário sepa-rar todas as informações para entender o produto, como o texto, ilustrações, fotografias, gráficos, enfim, todas as características que parecerem essenciais para esse primeiro momento. A melhor forma de executar uma AD é com planejamento e conhecimento do produto que será audiodescrito.

O processo de produção de um AD com qualidade implica o estudo sobre o contexto do material que receberá esse recurso, suas caracterís-ticas e o campo em que a obra se situa. Nesse momento, é imprescindí-vel compreender se os elementos linguísticos foram respeitados com rigor para que o significado da mensagem a ser passada pela audiodescrição seja a mesma daquela a ser passada pela obra original, ou seja, pela obra antes de ser audiodescrita.

A audiodescrição vai muito além da descrição de informações per-cebidas pela visão. Esse recurso exige que questões técnicas e linguísticas sejam observadas.

Page 16: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

16

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Um audiodescritor competente precisa estar preparado para lidar com problemas, tais como:

4Quais matérias e/ou imagens priorizar?

4Como deve ser a narração?

4Quais efeitos sonoros utilizar?

O audiodescritor deve ter habilidades linguísticas para descrever o que está vendo, ser objetivo e ético. Também é fundamental que siga uma trajetória lógica para que o ouvinte entenda da melhor forma possível. É importante utilizar um vocabulário rico para traduzir as diferentes ações que estão ocorrendo e fazer uso de uma entonação de voz correta, com pausas bem marcadas, contribuindo, assim, para a produção de sentidos e para um bom entendimento daquele que está usando o recurso da AD. O audiodescritor, portanto, será a ponte entre a imagem não vista e a imagem construída por meio das palavras, da entonação e das referências sonoras, conduzidas e esculpidas na imaginação de quem as ouve.

Page 17: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

17

Quarto passo: estude o material

Estudar o material que será audiodescrito. Destacar nele as infor-mações que permitem compreender com mais clareza o roteiro da audio-descrição. É o caso de elementos textuais que produzam ritmo, enredo, estrutura do texto etc. O mesmo em relação às imagens, sejam elas fotos, ilustrações, gráficos, entre outros.

Como, usualmente, tem-se um volume muito expressivo de informa-ções, a precisão da escolha pode ser determinante na procura.

Embora para a elaboração de um roteiro e locução de um material audiodescrito seja necessário um conjunto de normas, não há dúvidas de que cada meio em que será veiculado, o produto adaptado possui caracte-rísticas peculiares.

Page 18: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

18

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Quinto passo: escreva o roteiro

O ideal é que, de posse da “estrutura do texto”, se escreva um roteiro de como será feita a audiodescrição. As técnicas de rádio e televisão que usualmente trabalhamos nos laboratórios são muito úteis neste momento, seja em termos de marcação de tempo ou de definição das deixas a serem utilizadas no processo de audiodescrição.

Outro ponto que merece ser observado é a adaptação do texto de im-presso para o áudio/rádio, pois no impresso utilizamos frases mais longas e, se fossem transpostas literalmente para o rádio, o narrador ficaria sem fôlego ao ler o roteiro.

Lembre-se que a grande vantagem do áudio sobre o impresso está no som da voz humana, no entusiasmo, na compaixão, na raiva, na dor e no riso. A voz é capaz de transmitir muito mais do que o discurso escrito. Então, utilize-a!

As técnicas de redação utiliza-das pelo radiojornalismo deverão ser compreendidas pelos estudantes que farão a transcrição do impresso para o áudio. É preciso saber o que se quer dizer - e isso deve ser dito de forma direta, simples e precisa. Assim, o lo-cutor conta com os elementos da voz, música e com os efeitos sonoros para se comunicar. Os efeitos sonoros po-dem ser inclusos por uma infinidade de vinhetas e montagens realizadas pela produção técnica.

Page 19: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

19

Sexto passo: ensaie a audiodescrição

Ensaios prévios evitam erros. Nunca é demais treinar. É importante, nesta etapa, que a pessoa, ou pessoas, responsáveis pela captura do áu-dio e que trabalharão na edição dos textos estejam presentes.

Se possível, ainda, ensaiar no mesmo local em que a gravação será realizada, considerando que a empatia do ambiente influencia na forma como nos relacionamos com o que estamos fazendo. Não esquecer, sobre-tudo, que estamos falando para alguém; em especial para alguém que não enxerga, e que, portanto, precisamos saber nos comunicar.

Acadêmica ensaia o texto que será gravado

Page 20: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

20

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Sétimo passo: grave em estúdio

Equipamento técnico de gravação de qualidade é muito importan-te. Um estúdio de rádio é o ideal. Se não houver disponível na insti-tuição em que a prática está sendo desenvolvida, o ideal é alugar um estúdio profissional.

Page 21: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

21

Oitavo passo: module a fala

No que toca à linguagem, é imprescindível compreender se os ele-mentos linguísticos foram respeitados com rigor para que o significado da mensagem a ser passada pela audiodescrição seja a mesma daquela a ser passada pela imagem e/ou texto originais.

Não esquecer, em momento algum, que as palavras devem ter am-plitude, objetividade e clareza.

Page 22: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

22

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Nono passo: acompanhe o processo

Se possível, o autor, ou autores, do trabalho que está sendo audio-descrito deve participar do processo de gravação. Além do aprendizado que a prática permite, será possível verificar se o roteirista e o intérprete estão dando um sentido adequado ao material audiodescrito.

Em seguida, edite o material. Escolha músicas e efeitos sonoros que dizem respeito ao produto que está sendo audiodescrito.

As edições foram realizadas por um acadêmico, que utilizou o laboratório de informática do curso de Jornalismo

Page 23: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

23

Décimo passo: apresente para o consultor

Antes de o produto final ser disponibilizado, é importante mostrá-lo ao consultor em AD, profissional qualificado que irá avaliar o produto. O objetivo, aqui, é observar se a tradução foi feita de forma adequada, ou na falta deste, outro estudante poderá escutar o material e apontar o que está bom e o que tem que ser melhorado em termos de audiodescrição.

Page 24: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

24

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

Décimo primeiro passo: avalie e aprenda

Discutir com a turma os resultados alcançados. Sobretudo, realizar análise comparativa entre o produto original e a versão audiodescrita.

A pauta da discussão deve contemplar, não necessariamente nesta ordem, três instâncias:

a) o processo de elaboração, b) o resultado final, c) o que se aprendeu com a prática.

Acadêmicos apresentam o trabalho para a turma

Page 25: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

25

Décimo segundo passo:divulgue a audiodescrição

Publicizar o resultado para que o maior número de pessoas tenha conhecimento dele. Pode-se veicular em sites convencionais e blogs usados em disciplinas, dentre outros. A definição dos softwares, e usabilidade dos mesmos, a serem veiculados nos ambientes digitais é fundamental nesse sentido. Procurem divulgar o produto audiodescrito para o público das as-sociações, escolas e ONGs nas quais atuem pessoas com deficiência visual, por meio de contato direto com essas entidades. Isso ampliará o acesso e permitirá receber retorno da avaliação do público principal.

Acesse o site e escute os materiais audiodescritos produzidos pelos alunos http://hipermidia.unisc.br/portal/unicom-audiodescritiva/

Page 26: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

26

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

A equipe

Este manual é fruto do trabalho desenvolvido em sala de aula, durante o primeiro semestre de 2016, na disciplina de Jornalismo Impresso, da Universidade de Santa Cruz do Sul, ministrada pelo professor Demétrio de Azeredo Soster e acompanhada pela mestranda em Letras e jornalista Daiana Stockey Carpes. Os acadêmicos envolvidos nas atividades foram Doris Konrad (locução), Daniel Heck (roteiro e locução), Fernando Franco (roteiro, locução e edição) e Marcel Lovato (roteiro e locução).

Nosso muito obrigado a eles!

Fernando Franco, Malcel Lovato, Daniel Heck e Dóris Konrad

Page 27: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

27

CARPES, Daiana Stockey (Org.). Audiodescrição: práticas e reflexões. Santa Cruz do Sul: Editora Catarse, 2016. Disponível em: <http://editoracatarse.com. br/site/wpcontent/uploads/2016/02/Audiodescri%C3%A7%C3%A3o-pr%C3%A1ticas-e-reflex%C3%B5es.pdf>.

CARPES, Daiana Stockey. Jornalismo em Audiodescrição. Disponível em: <www.jornalismoemaudiodescricao.com.br>.

CARPES, Daiana Stockey; AZEREDO, Demétrio Soster de. Audiodescrição no jorna-lismo laboratorial. In: CARPES, Daiana Stockey. Audiodescrição: práticas e reflexões. Santa Cruz do Sul: Editora Catarse, 2016. Disponível em: <http://editoracatarse.com. br/site/wpcontent/uploads/2016/02/Audiodescri%C3%A7%C3%A3o-pr%C3% A1ticas-e-reflex%C3%B5es.pdf>. Acesso em 22 fev. 2016.

COSTA, Larissa FROTA, Maria Paula. Audiodescrição: Primeiros Passos. In: Tradução em revista, Projeto Maxwell PUC-Rio, Rio de Janeiro, vol. 11, 2011. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.pucrio.br/18882/18882.PDFXXvmi=fFUwzvUL-R7rP0cTU9eLSGvXG7xJ7kTbBA69aD4VubolcBf7KuTEbqDRzcBGwvR96ZihCne7zDtMfJU0eOFpgihPuTv3pocwovP1T49tHDgXmbZC1E2hXk8seEwF4Kdsg3ua7EEPi-VNG8Mi9rlrpGATVeqCjcPMsShD1WiRgfFWnsgwVCZlizffOHR8THVnBd2CbktrBao-ZEFvAivWC6dRUUJ4Pr0e3egGpBbSclhc1XIChfzTlMLhIvmzXmN2C4I>.

ESCOLA DE GENTE. Manual da mídia legal: jornalistas e publicitários mais qualifi-cados para abordar o tema inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Rio de Janeiro: WVA, 2002.

FRANCO, Eliana Paes Cardoso. A importância da pesquisa acadêmica para o esta-

Saiba mais

Page 28: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

28

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos

belecimento de normas da audiodescrição no Brasil. In: Revista Brasileira de Tra-dução Visual, vol. 3, n. 3, 2010. Disponível em: <http:WWW.rbtv.associadosdain-clusao.com.br/índex.php/principal/ article/view/38/39>.

LIMA, Francisco J.; LIMA, Rosângela A. F.; GUEDES, Lívia C. Em defesa da áudio-des-crição: contribuições da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência. In: Revista Brasileira de Tradução Visual, vol1, n. 1, 2009. Disponível em: <http://www.rbtv.associadosdainclusao.com.br/index.php/principal>.

LIMA, Francisco José de. Introdução aos estudos do roteiro para áudio-descrição: sugestões para a construção de um script anotado. In: Revista Brasileira de Tradu-ção Visual, vol. 7. n. 7. 2011. Disponível em: <http://www.rbtv.associadosdainclu-sao.com.br/index.php/principal/ article/viewArticle/92>.

MOTTA, Lívia Maria Villela de Mello; FILHO, Paulo Romeu (orgs.). Audiodescrição: Transformando imagens em palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, 2010.

MOTTA, Lívia Maria Villela de Mello. Audiodescrição na escola: abrindo caminhos para leitura de mundo. Campinas: Pontes Editores, 2016.

WERNECK, Claudia. Manual sobre Desenvolvimento Inclusivo para a Mídia e Pro-fissionais de Comunicação. Rio de Janeiro: WVA, 2004.

Page 29: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

Daiana Stockey Carpes e Demétrio de Azeredo Soster

29

Daiana Stockey Carpes é jornalista, formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e aluna do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Letras/UNISC, bolsista Bipps/UNISC. No ano de 2014, criou o site acessí-vel Jornalismo em Audiodescrição (www.jornalismoemau-diodescricao), com conteúdos que promovam a inclusão dos cegos. Neste mesmo ano, o portal ficou em segundo lugar no Prêmio Nacional de Acessibilidade Todos@Web, na categoria institucionais / entretenimento / cultura / educação / blogs. O concurso foi promovido pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), em parceria com o W3C Brasil. Em 2016, organizou o livro “Audiodescrição: práticas e reflexões”, que contou com a participação de pesquisadores e profissionais da área, no país.

E-mail: [email protected].

Demétrio de Azeredo Soster é pós-doutor pela Universidade do Vale do Sinos (Unisinos), professor-pesquisador do Programa de Pós-graduação em Letras e do Departamento de Comunicação da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), onde pesquisa narrativas e trabalha com jornalismo-laboratório desde há pelo menos dez anos. Organizou 11 livros voltados às áreas da Comunicação, do Jornalismo e da Literatura; nela, da Narrativa. É autor, em literatura, de Tempo Horizontal (Edunisc, 2013), Livro de Razão (Insular, 2014), Quase Coisa (Catarse, 2015) – finalista do prêmio Livro do Ano da Associação Gaúcha dos Escritores (AGES) em 2016 – e Pérolas de Pedro (Catarse, 2015).

E-mail: [email protected].

Sobre os autores

Page 30: MANUAL DE AUDIODESCRIÇÃO...tica pioneira da audiodescrição no ambiente acadêmico foi se aprimorando e ganhando outras nuanças: projeto experimental em 2013; monografia em jornalismo

30

Manual de audiodescrição para produtos jornalísticos laboratoriais impressos