Manejo integrado de pragas e doenças para sustentabilidade ... · agricultura mais limpa. Há...

65
Manejo integrado de pragas e doenças para sustentabilidade do sistema produtivo Marcelo Augusto Boechat Morandi Embrapa Meio Ambiente www.cnpma.embrapa.br/forum Novembro de 2011

Transcript of Manejo integrado de pragas e doenças para sustentabilidade ... · agricultura mais limpa. Há...

Manejo integrado de pragas e doenças para sustentabilidade do

sistema produtivo

Marcelo Augusto Boechat Morandi Embrapa Meio Ambiente

www.cnpma.embrapa.br/forum Novembro de 2011

Intensificação da agricultura - monocultivos

Necessidade de + fibras e alimentos

Desequilíbrio nos ecossistemas

Busca por

sustentabilidade

Técnica de queda dos balistosporos (Spore-fall method, Dowding e Peacock, 1991) em meio de cultivo

Lírio Convencional Lírio “Biocompatível”

16/04/2009 - 09h53 Pimentão, morango e uva contêm mais agrotóxico, afirma Anvisa ANGELA PINHO da Folha de S.Paulo, em Brasília

•Os processos empregados na agricultura (qualquer que seja ela) tendem a criar um desequilíbrio biológico na natureza: a remoção de plantas competitivas, o uso de linhagens obtidas por seleção, área para plantio de uma única cultura (monocultura), adubação, irrigação, poda e controle de pragas.

•O desafio: contrariar o desequilíbrio por meios naturais e ainda obter a quantidade desejada e a qualidade da produção.

“Conversão” de agroecossistemas para um sistema sustentável

Três níveis distintos (Hill, 1985)

Nível 1 – Aumento da eficiência de práticas convencionais a fim

de reduzir o uso e o consumo de insumos escassos, caros ou

ambientalmente danosos

Nível 2 – Substituição de insumos e práticas convencionais por

práticas “alternativas”

Nível 3 – Redesenhar o agroecossistema de forma que ele

funcione baseado em um novo conjunto de processos

ecológicos

-Ênfase principal de boa parte da pesquisa agrícola convencional -Ex. monitoramento de pragas e doenças; aperfeiçoamento tecnologia de aplicação etc. -Reduz impactos negativos mas não quebra dependência de insumos

-Ênfase principal da pesquisa sobre produção de base ecológica e parte da convencional -Ex. controle biológico; cultivo mínimo e plantio direto etc. -A estrutura básica do agroecossistema não é alterada, mantendo muitos dos problemas dos sistemas baseados na substituição de insumos

PI

Luiz Carlos Bhering Nasser Coordenação-Geral de Sistemas de Produção Integrada

MAPA/SDC/DEPROS

É NECESSÁRIO DISTINGUIR DOIS GRUPOS DE CULTURAS EM

RELAÇÃO AO USO DE AGROTÓXICOS:

1) Quantidade total utilizada,

devido à abrangência

geográfica

• soja

• milho

• citros

• cana-de-açúcar

• café

• algodão

2) Quantidade

utilizada por unidade

de área

• maçã

• tomate

• batata

• citros

• algodão

Soares, W.L. & Porto, M.F.S., 2008

Figura Visão holística PIMo

Fonte: Informe Agropecuário v.28, n.236, p.36

Hélcio Costa

Normas técnicas

10. PROTEÇÃO INTEGRADA DA PLANTA

11. 10.1 Controle de pragas: utilizar as técnicas preconizadas no MIP; priorizar o uso de métodos naturais, físicos e biológicos; a incidência de pragas deve ser periodicamente avaliada e registrada, através de monitoramento, seguindo as normas técnicas; executar tarefas destinadas à eliminação das fontes de inoculo.

Fonte: Rationale Biopesticide Strategists; ABIM, 25 outubro 2010

MIP e agricultura sustentável

• O controle de uma praga/doença deve ser entendido como uma série de medidas que se inicia com a decisão de implantar a cultura.

PLANEJAMENTO

• Assim, o controle deve ser visto como um conjunto de ações integradas para evitar a ocorrência da praga/doença e de perdas.

ACOMPANHAMENTO (Monitoramento)

Agrobiodiversidade e o manejo de pragas e doenças

Agrobiodiversidade e controle biológico (policultivo, consórcio, plantas espontâneas, fragmentos nativos etc)

Fonte: Altieri, M.A.; Silva, E.N.; Nicholls, C.I.O papel da biodiversidade no manejo de pragas

Fonte: Altieri, M.A.; Silva, E.N.; Nicholls, C.I.O papel da biodiversidade no manejo de pragas

Fonte:

Fonte: Altieri, M.A.; Silva, E.N.; Nicholls, C.I.O papel da biodiversidade no manejo de pragas

http://www.thebugfactory.ca/orius.jpg

htt

p:/

/ww

w.e

nto

mo

logy

.wis

c.ed

u/m

bcn

/ori

us.

jpg

htt

p:/

/up

load

.wik

imed

ia.o

rg/w

ikip

edia

/co

mm

on

s/th

um

b/1

/1c/

Ori

us_

insi

dio

su

s_fr

om

_USD

A_1

.jpg/

23

0p

x-O

riu

s_in

sid

iosu

s_fr

om

_USD

A_1

.jpg

Endro Arnica brasileira

Fonte: Altieri, M.A.; Silva, E.N.; Nicholls, C.I.O papel da biodiversidade no manejo de pragas

1988 (Convencional) 2008 (Orgânico)

Ecologia da paisagem X CB de pragas e doenças

1988 (Convencional) 2008 (Orgânico)

Ecologia da paisagem X CB de pragas e doenças

Fonte: Altieri, M.A.; Silva, E.N.; Nicholls, C.I.O papel da biodiversidade no manejo de pragas

Fazenda Yamaghishi – Jaguariúna, SP

Figura 1. Cadeia alimentar: couve – insetos fitófagos-praga (vaquinhas, lagartas e pulgões) – inimigos naturais (parasitóides e predadores) Fonte: Menezes, E.L.A. Revista Campo e Negócios - agosto/2006

Sirfídeos – pequenas moscas cujas larvas de algumas espécies são predadoras de pulgões

Joaninhas (Coccinellidae)

Chrysoperla externa (Crisopídeo, bixo-lixeiro)

(imagens obtidas da internet)

Fonte: Rosado, M.C. Plantas favoráveis a agentes de controle biológico. UFV

(Dissertação de Mestrado). 2007

Fonte: Medeiros M.A. Papel da biodiversidade no manejo da traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Meyrick, 1917) (Lepidoptera: Gelechiidae). Tese Doutorado , UNB. 2007.

Foto

: Est

eb

am S

ani

Fonte: Medeiros M.A. Papel da biodiversidade no manejo da traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Meyrick, 1917) (Lepidoptera: Gelechiidae). Tese Doutorado , UNB. 2007.

O manejo ecológico de doenças de plantas pode ser definido como:

“conjunto de estratégias e de práticas empregadas com base nos princípios de controle de doenças de plantas, com o objetivo de reduzir as perdas em níveis toleráveis, sem interferir, acentuadamente, no ambiente”

Mizubuti e Maffia (2001)

Doença

Hospedeiro

Patógeno Ambiente

PRINCÍPIOS Exclusão

Erradicação

Imunização

Proteção

Terapia

Escape

MÉTODOS

Químico

Físico Biológico

Cultural

Resistência MEDIDAS

Sementes sadias

Calor

Antagonistas

Rotação de culturas

Mecânico

Legislativo

Bactéria

BactériaEsporos

Micelium

Escleródios

Gemes

Vasos doxilema

cancros

Tronco

Infecção deraízes

Plantas perenes

Em insetosEm material propagativo

Escleródios micélioou bacteriano

Frutosmunificados

No solo

Esporos oubactérias

Em sementes

Micélio ou bactérias

Esporo

Estruturas de frutificação

Bactéria

Restos planta

VENTO CHUVA IRRIGAÇÃO

HOMEM/MÁQUINAS SEMENTES INSETOS

Tempo (dias)

0 20 40 60 80 100

log

it (

y)

-8

-4

0

4

8

12

16

a

by0 Inóculo inicial

r Taxa de

progresso

Em relação às epidemias, as estratégias de controle podem atuar reduzindo o inóculo do patógeno no início da estação de cultivo (y0) como causando o decréscimo da taxa de desenvolvimento da doença (r) durante o período de crescimento da cultura.

Medidas que visam a redução de y0

PRINCÍPIO DA EXCLUSÃO

• certificação de sementes e mudas, • tratamento térmico e biológico de sementes e mudas, • limpeza de máquinas, implementos e ferramentas destinados a podas, • indexação (cultura de tecidos e de meristema).

Essas medidas visam prevenir a

disseminação ou a dispersão do patógeno em locais onde ele não ocorre;

Fonte: Cid, 2000.

↓y0 Inóculo inicial

PRINCÍPIO DA ERRADICAÇÃO

• eliminação dos restos de cultura

doentes, compostagem

• eliminação de hospedeiros principais

e/ou alternativos,

• eliminação de plantas doentes

(roguing), poda de ramos doentes

• emprego de plantas armadilhas e

antagônicas a nematóides,

• solarização do solo e de substratos,

• eliminação de patógenos pela cultura

de tecidos,

• limpeza de embalagens,

equipamentos e armazéns.

Essas medidas atuam na

sobrevivência do patógeno já

estabelecido em determinado

local.

Medidas que visam a redução de y0 ↓y0 Inóculo inicial

PRINCÍPIO DA IMUNIZAÇÃO

• utilização de cultivares com

resistência vertical, completa ou

qualitativa, o que impede a multiplicação

do patógeno no hospedeiro.

• Premunização

• Enxertia

Essas medidas visam à

redução da infecção do patógeno

nos tecidos do hospedeiro.

Medidas que visam a redução de y0 ↓y0 Inóculo inicial

↓r Taxa de

progresso

Medidas que visam a redução de r

PRINCÍPIO DA IMUNIZAÇÃO

• utilização de cultivares com

resistência horizontal

• Premunização

• Indução de resistência

Essas medidas visam à

redução do progresso da doença

no campo.

↓r Taxa de

progresso

Medidas que visam a redução de r

PRINCÍPIO DO ESCAPE

• escolha da variedade a ser plantada

em determinado local balizada pela sua

adaptabilidade às condições

edafoclimáticas

• escolha da área ou do local de

plantio, alteração da época de plantio,

• modificação do ambiente com

emprego de práticas culturais, eliminação

de plantas ou parte de plantas doentes,

preparo e irrigação do solo de forma

adequada, época e densidade de plantio,

• barreiras físicas como quebra-

ventos, cultivo em ambiente protegido,

Essas medidas visam ao

escape de condições adequadas

para o patógeno.

↓r Taxa de

progresso

Medidas que visam a redução de r

PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

• Aplicações de agentes de controle

biológico,

• Uso de extratos de plantas e de

fungos, as caldas bordalesa, sulfo-cálcica

e Viçosa, biofertilizante, sais e outros.

• pode incluir a aplicação de calcário

para alterar o pH do solo e o uso de

fertilizantes

• Uso de agrotóxicos

Essas medidas visam evitar

infecções por patógenos já

estabelecidos no local.

•Doenças monocíclicas

•Doenças policíclicas

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Tempo (dias)

Inte

nsi

da

de d

e D

oen

ça

(%

)

Doença M

Doença P

Respostas diferentes para patossistemas diferentes e em locais diferentes...

Princípios universais e soluções locais

Manejo do solo - Solos supressivos

“...solos nos quais a incidência ou severidade de doença permanecem baixos, apesar da presença do patógeno, da planta susceptível e de condições favoráveis ao desenvolvimento da doença” (Baker e Cook, 1974)

Patógeno

? •Geral

•Específica

•Longa duração

•Curta duração

Altamente conducente

Totalmente supressivo

É uma característica comum a todos os solos, variando em uma escala contínua

Supressividade de solos:

Onde o patógeno não se estabelece

Onde o patógeno se estabelece mas não

causa doença

Onde o patógeno se estabelece, causa a

doença por um tempo e depois declina.

Há uma natureza indissociável entre os organismos, processos bioquímicos e condições ambientais do solo (Moreira e Siqueira, 2006)

Bactérias – 108 a 109/g de solo – 0,5 a 1 µm x 1,0 a 2,0 µ m

Fungos - 104 a 106/g de solo

Protozoários - 104 a 105/g de solo

Algas - 103 a 104/g de solo

São essenciais para a vida na terra. Portanto, quanto mais

complexa for sua atividade melhor a qualidade de vida na terra.

Trabalham tanto a favor, como contra os interesses econômicos.

Sempre a favor da vida na terra.

MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO Componentes da comunidade microbiana do solo

Natureza e propriedades dos solos. 1976

Decomposição da matéria orgânica

Detoxificação de materiais orgânicos e químicos

Ciclagem de nutrientes, Supressividade

Fixação de nitrogênio,

Estrutura do solo

MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO Contribuição do componente biológico

Fonte: Moreira e Siqueira, 2006 (Microbiologia e Bioquímica do solo)

A compreensão da natureza somente é possível num enfoque holístico, observando-se ciclos, trabalhando-se com sistemas e respeitando-se as inter-relações e proporções, pois todos os fatores são interdependentes.

Apenas a substituição de agrotóxicos

não é suficiente para garantir uma

agricultura mais limpa. Há necessidade

de se redesenhar os sistemas de

produção para atingir algum grau de

sustentabilidade

“Conversão” de agroecossistemas para

um sistema mais sustentável (Hill, 1985)

Aumento da eficiência de práticas

convencionais a fim de reduzir o uso e

o consumo de insumos escassos,

caros ou ambientalmente danosos

Substituição de insumos e práticas

convencionais por práticas

“alternativas”

Redesenho do agroecossistema de

forma que ele funcione baseado em um

novo conjunto de processos

ecológicos

Foto: Daniel Abicair

UNIDADE DEMONSTRATIVA DA PI MORANGO

•Local: Atibaia/Jarinú, SP Plantio: março/2008 10.000 pés • Monitoramento de pragas e doenças; • Monitoramento microclimático (T, UR, chuva)

Redução da aplicações de agrotóxicos

(inseticida e fungicida) na PIMo: 52%

Produtividade: ~ 600g/pl (PIMo) X 530g/pl (Convencional)

Comparação PIMO vs Convencional

Recursos naturais

Convencional PIMo Dif. (%)

Água com pulverização

(litros/pé) 0,50 0,33 -34%

Aplicações de Agrotóxicos 31 13 -58%

Produtividade (kg/pé) 0,52 0,60 +15%

Custo (R$/pé)

Fertilizantes R$ 0,092 R$ 0,073 -20%

Controle biológico - R$ 0,037 -

Agrotóxicos R$ 0,064 R$ 0,031 -52%

Eletricidade R$ 0,060 R$ 0,052 -13%

Custo Insumos

Comparados R$ 0,216 R$ 0,193 -10%

Custo insumos comparados/kg

morango R$ 0,41 R$ 0,32 -22%

Comparação Custo: Produção Convencional X PIMo

(safra 2008)

Instituto de Desenvolvimento da Gestão Empresarial no Agronegócio

PI está na agenda positiva? oportunidade para a inovação e competitividade na Agricultura e Segurança Alimentar: Tecnologias compatíveis com boas práticas agrícolas

•Sustentabilidade da produção a longo prazo;

• Exigências do Mercado (Barreiras não-tarifárias; Certificações)

•Economia Verde

Novos desafios no cenário de mudanças climáticas globais???

Morandi e Costa, 2011

•Estas alterações podem promover mudanças severas no calendário de manifestação de pragas e doenças, e consequentemente nas estratégias de controle

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original."

Albert Einstein

Obrigado

[email protected] Marcelo Augusto Boechat Morandi

www.cnpma.embrapa.br/forum