Mal do século Mundo está ruim da cabeça - site.ucdb.br · ta do assunto sobre a ditadu-ra,...

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Ano VII - Edição Nº 103 Campo Grande, MS - 25 de maio a 12 de junho de 2008 Mundo está ruim da cabeça Mal do século Doenças da mente afetam população que somatiza a competitividade e perfeccionismo da modernidade TRAIÇÃO É mais infiel quem tem oportunidade DISLEXIA Distúrbio atrapalha rendimento escolar VEGETARIANISMO Dieta sem carne é questão ideológica e de saúde MODA Tênis atravessa gerações como calçado que revela personalidade Capa: Diego Barcellos e Maria Helena Benites

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Ano VII - Edição Nº 103Campo Grande, MS -25 de maio a12 de junho de 2008

Mundo estáruim da cabeça

Mal do século

Doenças da mente afetam população que somatizaa competitividade e perfeccionismo da

modernidade

TRAIÇÃOÉ mais infielquem temoportunidade DISLEXIA

Distúrbio atrapalharendimento escolar

VEGETARIANISMODieta sem carne é questãoideológica e de saúde

MODATênis atravessagerações comocalçado que revelapersonalidade

Capa: Diego Barcellos e Maria Helena Benites

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EditorialA liberdade do magazine

Flávio Óliver

“Foi um período que nóspassamos pra dar liberdade paravocês hoje. As marcas de porra-das que levamos lá atrás, mui-tas porradas, muito pau de ara-ra, foram para dar a liberdadepra vocês. Liberdade que vocêsnão reconhecem, a liberdadeque vocês estão jogando parafora, vocês não estão lutando porum país mais justo, e sim lu-tando individualmente. En-quanto tiver este pensamento opaís não vai para frente”. Esse éo desabafo de um soldado queserviu o exército no Estado deSão Paulo na época da DitaduraMilitar e que ao mesmo tempoera integrante da União Nacio-nal de Estudantes (UNE). Gran-de parte dos jovens que viveuna época tinha espírito de luta edefendia seus ideais acima detudo, sabia o que queria, carac-terísticas que não se encontramna grande parte dos jovens daatualidade.

A ditadura durou aproxima-damente 21 anos, entre 1964 e1985, período em que houve per-seguição política e repreensãopara as pessoas que eram con-tra o regime. Nessa época o Pro-duto Interno Bruto (PIB) do paíscrescia num patamar de 12% aoano, milhões de empregos foramgerados e essa época ficou co-nhecida como o milagre econô-mico, época em que o país tor-nava-se um canteiro de obras, apartir de empréstimos que her-dou a atual dívida externa. Ou-tro fator que chama a atenção éque um ano após o início doregime foi criada a maior empre-sa de telecomunicações do país,coincidência ou não, uma dasmaiores do mundo: a “Globo”.Com tanto avanço, economica-mente a sociedade brasileira nãotinha a liberdade de expressão.Segundo o soldado que nessareportagem irá ser chamado de“D”, a riqueza que o país pro-duzia concentrava-se nas mãosde poucos. “A elite nunca ga-nhou tanto dinheiro como ga-nhou nessa época, os ricos fica-ram mais ricos, os milionáriosmais milionários e o pobre con-tinuou a ficar mais pobre, foi opobre que pagou o pato, tantoque foi nessa época que aumen-tou o número de favelas, essefoi o preço pago para deixar es-sas pessoas mais ricas”.

“D” conta que na década de60 ele participou de manifesta-ções contra o regime juntamen-te com o atual presidente, LuisInácio Lula da Silva, na Uniãodos Estudantes (UNE). “O LuisInácio tinha o apelido de Lula,era militante de um sindicato quenão existia. Ele subia naquelescarros de auto-falantes, e nós,militantes e funcionários degrandes multinacionais, saíamos

Ditadura vivenas lembranças

Ex-militantes

No anonimato eles chamam os jovens de hoje para a luta

A ç õ e s - Arquivo da UNE mostra manifestações na ditadura e a luta da geração 90 contra corrupção

nas ruas fazendo passeata. Oexército vinha e descia o cacetena gente”. “D” fala que conse-guia reunir até cinco mil pesso-as no estádio do Pacaembu paratentar sensibilizar a sociedadebrasileira e derrubar o imperia-lismo dos militares. “Era só vi-olência, eram várias pessoas, aturma da UNE e metalúrgicos degrandes multinacionais se reu-niam, a gente estava tentandosensibilizar a população brasi-leira, para que a gente pudessenos unir para derrubar o milita-rismo que havia se estabelecidono Brasil”. Com tanta pressão,a partir de 64, eles só foram con-seguir um resultado na décadade 80, quando João Batista deOliveira Figueiredo ,o último pre-sidente do regime militar, fez atransposição do militarismopara a suposta democracia, ouseja, eleição direta. “Era poucopra gente, mas já era um grandepasso”. Na época, “D” conta queele e sua turma, mesmo com osperigos que a ditadura propor-cionava a quem se atrevesse amanifestar-se contra o Governo,não foi um empecilho para queos jovens lutassem pela liberda-de de expressão. “A gentepanfletava, pintava parede, agente pinchava tudo, pedindoajuda, tínhamos que nos reco-lher às 10 horas da noite, erambem flexíveis os horários, todosjá sabiam, não podia andar narua às 10 ou 11 horas, o lemaera não ande na rua a partir des-ses horários, pois alguma coisapode acontecer e você não pode

voltar”.“D” acredita que o pior pas-

so eles já deram, pois a garra dosjovens da época da ditaduramilitar falta nos jovens de hoje.“Nós brigamos lá atrás para queo povo pudesse eleger os caras,se os jovens daquela época esti-vessem aqui hoje, a história po-deria ser outra”, afirma “D”, queacredita que o Brasil poderia serum país de primeiro mundo seos atuais jovens se preocupas-sem com o futuro do país e sesoubessem da força que tem.

“O Jovem de hoje tem queser consciente da política brasi-leira, se você perguntar para umjovem de 18 anos qual deputa-do ele votou qual senador, elenão sabe. Por isso que ele nãocobra, por isso que temos tantacorrupção no país, porque vocêssão os culpados por não sabervotar, nós brigamos lá atrás paraque pudesse o povo eleger es-ses caras, por fim o povo porignorância não está sabendo vo-tar.”

Segundo “J”, de 48 anos, queserviu o exército de 79 a 81 emCampo Grande, o pior períododa ditadura militar foi no go-verno de João BatistaFigueiredo, época em que acon-tecia a guerra das Malvinas. “J”acredita que o que ajudou a der-rubar o regime militar foi a per-severança dos jovens. “Houveuma reivindicação, uma revo-lução por parte dos jovens e es-tudantes da época, foi aí quesurgiram as organizações estu-dantis que lutavam pela demo-

cracia”, relembra.Para “E”, que serviu o exér-

cito na década de 70, os jovensda época participavam muito demovimentos jovens, outro dife-rencial dos jovens da época paraos de hoje é a garra. “Naqueletempo houve muitos movimen-tos, e muitos foram exilados,Caetano Veloso, Gilberto Gil,Brizola, aqueles movimentos fo-ram reprimidos violentamente.Naquele tempo, ai daquele queousassem falar mal do Governo.Os que tiveram coragem, foramexilados”, conta “E”, que serviuo exército de 1971 a 1972 aos 21anos no 9º Batalhão de Enge-nharia e Combate no municípiode Aquidauana.

Para a acadêmica de Ciên-cias Sociais Carla Calarge, oque os nossos pais lutaram láatrás foi para dar segurança paraa sociedade atual. “Hoje os jo-vens são mais acomodados,porque não têm motivo ou ne-cessidade para brigar”, explicaCarla. Já a acadêmica de Jorna-lismo Luciene Martins que gos-ta do assunto sobre a ditadu-ra, explica que os jovens da épo-ca tinham mais motivos paralutar por seus objetivos, com-parado com os dias de hoje.“Atualmente os jovens têmtudo na mão, os da ditaduratinham que conquistar tudo,era o começo, para os jovensde hoje, não que haja coisaspara que eles busquem, mas aslutas de hoje são paramelhorias e não para conquis-ta”, afirma Luciene.

Hélder Rafael

Políticos de carteirinha,qualquer um reconhece de lon-ge. Estão sempre na mídia, acu-mulam mandatos e não largamo osso. Fora o discursoensaboado. Mas a cada doisanos, uma multidão vem pedirvoto na tevê, no rádio e até noOrkut e MSN. Ao fim da cam-panha eleitoral, os políticos tra-dicionais se elegem, e aquelaturba de anônimos desaparecedo mesmo jeito que surgiu.

Para que se tenha uma idéia,nas eleições de 2004 em CampoGrande, 299 pessoas concorre-ram às 21 cadeiras de vereador.Como em um “vestibular dapolítica”, houve 14,2 candida-tos por vaga. É gente de todosos segmentos sociais. De acor-do com o Tribunal SuperiorEleitoral (TSE), as profissõesmais comuns entre os pleitean-tes foram professor de ensinofundamental e médio (27), se-guida de comerciante (25) e ad-vogado (20). Mas também hádonas de casa, eletricistas, mú-sicos e despachantes.

Alguns candidatos tentamse destacar da multidão, adotan-do apelidos esdrúxulos e bor-dões mais esdrúxulos ainda. Sópara saírem do anonimato. Econseguem! Basta digitar noYouTube os nomes de LúcioMandioca, Ruth Lemos (aquelado sanduíche-iche) e o indiges-to Rola (“Peroba Neles”), nomes

Aberta época do vestibular na política

Vo t o - Políticos de 1ª viagem ou não vão passar pela seleção das urnas

que assombraram o “HilárioEleitoral Gratuito” pelo Brasilafora em 2006.

Sorte nossa que os candida-tos extravagantes são raridades,verdadeiras pérolas. A maioriaé de gente que possui consciên-cia política e tem propostas aapresentar. Este ano, LucianaFeitosa quer concorrer a umavaga na Câmara de Campo Gran-de. Ela é pré-candidata em seupartido, mas a confirmação devesair até o dia 30 de junho. Em-bora nunca tivesse seguido car-reira pública, Luciana conviveucom a política desde menina.“Meu pai, já falecido, foi verea-dor em Anastácio por duas ve-zes. Nossa família sempre parti-cipou da política. Meu pai melevava no colo para os comíci-os, no tempo do MDB”. A polí-tica também influenciou outrossetores da vida de Luciana. “Co-nheci o meu marido, Rafael, du-rante as campanhas. Sempre nosesbarrávamos nos bairros, na or-ganização dos eventos”, lembraela. A matrícula trancada no cur-so de Direito tem um motivo: éa gravidez de nove meses. SeLuciana pretende cativar a filhapara a política? “Com certeza”,afirma.Nanicos

Para auxiliar “candidatos deprimeira viagem”, alguns parti-dos oferecem curso de formaçãopolítica. No último dia 22 demarço, o Partido da MobilizaçãoNacional (PMN) recebeu mais

de 250 pessoas em um hotel deCampo Grande, para palestracom especialistas que trataramsobre a função de um vereador.Segundo o presidente estadualdo PMN, Adalton Garcia, o ob-jetivo do partido é levar orienta-ção a seus filiados, seja na Capi-tal ou no interior. E indica o ca-minho do sucesso nas eleições.“O candidato precisa ter apro-vação na família, deve estar liga-do a um grupo, classe ou enti-dade para representá-los, e seratuante na cidade onde mora. Apartir daí, é montar estratégiapara buscar votos antecipada-mente”, defende Garcia.

O coronel reformado doExército, Jorge Santos, já coor-denou campanhas para outroscandidatos, mas nunca viu aprópria fotografia no santinho.A chance, ele quer ter em 2008.“Acredito que o político é o re-presentante do povo”, diz comentusiasmo, e imagina até o pri-

meiro projeto como vereador:melhorar o transporte coletivourbano. No verso do panfleto,Santos quer inscrever seu exten-so currículo como engenheiroeletricista, professor universitá-rio e ex-diretor administrativo deum hospital. E também preten-de conquistar adesões entre aclasse militar. Santos calcula que1% dos 400 mil votos da Capi-tal será o suficiente para elegê-lo. Quer convencer olho no olhoos eleitores. Mas antes disso, opartido deve aprovar seu nomenas próximas convenções.

As eleições estão chegando,então não perca a chance únicade conhecer as histórias e as pro-postas desses pretendentes a pre-feito ou vereador. Anote aí: a pro-paganda eleitoral gratuita na te-levisão e no rádio começa em 19de agosto (terça-feira). Os candi-datos saem antes em campanha,a partir de 6 de julho (domin-go).

Foto: Adalton Garcia

Um conselho ao amigo leitor: leia este jornal Em Fococomo se fosse uma revista, leve para casa e em um mo-mento que estiver confortável, com tempo, se apegue àleitura. Nesta edição, o Jornal Laboratório do Curso deJornalismo da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)presenteou os leitores com um texto jornalístico em “es-tilo magazine”. Foi a libertação para os estudantes dejornalismo da instituição que se formam em 2008 e quepassaram quase quatro anos de suas vidas aprendendoa técnica de escrever objetivamente, a chamada pirâmi-de invertida.

Desta vez, dentro do último módulo da disciplinade Redação Jornalística os acadêmicos-repórteres tive-ram contato com o estilo de escrever dos jornalistas derevista que têm um público definido, exigente, que alémde informação quer se entreter, ser seduzido pelas pala-vras, passar bons momentos. Por isso, o leitor vai per-ceber que as reportagens que estampam as próximas pá-ginas são bem diferentes das que estão acostumados aler nos jornais impressos diários. Características muitopróprias do texto de revista vão saltar aos olhos do lei-tor. A primeira delas é a profundidade, os textos sãolongos e abrangem as várias facetas do tema tratado.Além disso as pitadas de criatividade são em boas do-ses, uma qualidade do estilo magazine que ajudam aatrair e divertir o receptor da mensagem. Também háespaço para a subjetividade tanto dos entrevistadosquanto dos repórteres e quem estiver lendo vai poderpercerber que o jornalista existe, alguns textos foramtratados na primeira pessoa.

O jeito de contar as histórias em revistas está muitopróximo da literatura, portanto as matérias que vêm aseguir vão conquistar de uma maneira que só um bomlivro sabe fazer. Não duvide amigo leitor que você vaiquerer guardar este Em Foco, que como as revistas têmvida mais longa que a factualidade dos jornais diários.Amanhã este Em Foco não vai estar no assoalho docarro. Boa leitura!!

Em Foco – Jornal laboratóriodo curso de Jornalismo daUniversidade Católica DomBosco (UCDB)

Ano VII - nº 103 – Maio de2008 - Tiragem 3.000

Obs.: As matérias publicadasneste veículo de comunicaçãonão representam o pensamen-to da Instituição e são de res-ponsabilidade de seus autores.

Chanceler: Pe. Lauro TakakiShinoharaReitor: Pe. José MarinoniPró-Reitor Acadêmico: Pe.Dr.Gildásio MendesPró-Reitor Administrativo:Ir. Raffaele LochiCoordenador do curso deJornalismo: Jacir AlfonsoZanattaJornalistas responsáveis:Jacir Alfonso Zanatta DRT-MS108, Cristina Ramos DRT-MS158 e Inara Silva DRT-MS 83

Revisão: Acadêmicos do 7ºsemestre de Jornalismo/UCDB.

Edição: Cristina Ramos, InaraSilva e Jacir Alfonso Zanatta

Repórteres: Alysson Maruya-

ma, Ana Flávia Violante, An-dréia Nunes, Átilla Eugenio,Carlos Costa, DanúbiaBurema, Elaine Prado , FelipeDuarte, Fernanda Kury, Flá-vio Oliver, Hélder Rafael,Jackeline Oliveira, Jairo Gon-çalves, Janete Cristaldo,Kamilla Ratier, Katiane Arce ,Mayara Teodoro, RodsonLima , Talita Matsushita,Talita Oliveira, Tatiane Gui-marães, Thayssa Maluf eThiago Andrade.

Projeto Gráfico e tratamen-to de imagens: Designer -Maria Helena Benites

Diagramação: Designer -Maria Helena Benites

Impressão: Jornal A Crítica

Em Foco - Av. Tamandaré,6000 B. Jardim Seminário,Campo Grande – MS. Cep:79117900 – Caixa Postal: 100- Tel:(067) 3312-3735

Em Foco on-line:www.jornalemfoco.com.br

Home Page universidade:www.ucdb.br

Gustavos decidem o resto da vida 03

Quando a mania vira obsessão04

As cores de quem AMA05

População sofre do mal do século0 6

Não há surpresa: nós vamos morrer08

Caderno Zoom09

Pesadelo: descarga da memória1 0

Como gastar R$ 219 milhões?11

O acaso e a Praça do Aero Rancho1 2

Sem o pecado da carne à mesa13

Trocar as letras pode ser doença1 4

Trair...é só começar...15

Talento vence o estereótipo1 6

Fotos: Arquivo UNE

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Gustavos decidem o resto da vida

Mercado de Trabalho

Aos 17 anos, no último ano do Ensino Médio, dois xarás campo-grandenses mostram as escolhas de uma geração

Carlos Costa

Seis horas da manhã, aluz tênue da aurora invadeo quarto gentilmente. Indicaque o amanhã chegou. Opior não é o surgir do dia,mas o fato de que o dia queacabara de nascer é de umasegunda-feira, temporada deaula. Quem não se recordado tempo de colégio? Daque-les dias em que responsabi-lidade e compromisso nãoeram conceitos exatos. Aúnica coisa que nos guiavaera o impulso de conhecer;tínhamos o mundo em nos-sas mãos. Era nosso brinque-do cativo, apreciável, singu-lar. Substrato dos nossos so-nhos. Quase tudo era permi-tido. O erro não passava detransitório,

Embora o saudosismo dosbons tempos da adolescên-cia. O primeiro beijo, o na-moro de colégio, o sarro dosprofessores. A adolescênciaé marcada por escolhas co-lossais. Qual faculdade pres-tar? Qual curso fazer? Deci-sões que assustam pelo ca-ráter definitivo.

Imagine a influência deuma inclinação terminantena vida de um jovem de 17anos. Escolher uma profissãoque representa um vínculoao mundo dos adultos, masnão um vínculo qualquer,uma ligação de permanência,de fixação, uma atividadeque não só determinara suaqualidade de vida, sua posi-ção social, como também suaidentificação na sociedade.

Viviane Forrester, colu-nista do jornal francês LeMonde, escreveu um livro,“O horror econômico”, noqual ela descreve as vilaniasdo mercado capitalista. Suacrítica parte de uma divisãosocial que ocorre na França.Atualmente o caráter que

marca as diferenças entre asclasses sociais de acordo comForrester é o emprego. Paraela o trabalho morreu. Cadavez menos trabalhadores con-seguem um emprego de qua-lidade. Esse fenômeno refle-te o desenvolvimento da eco-nomia capitalista que empur-ra grande parte da populaçãopara extremidade marginal dasociedade. Impelido pela po-breza, essa parcela da popu-lação acaba aceitandosubempregos para sobrevi-ver. Ou seja, o capital tem asua disponibilidade de mãode obra barata.

Agora, qual a relação en-tre adolescência e a critica aocapitalismo de Forrester? Aquestão da qualidade do em-prego para o jovem influen-cia sua decisão na hora de es-colher uma profissão. Aquestão qualidade refere-seao salário ganho em médiapor uma determinada profis-são. Gustavo Siqueira, de 17anos, estudante do terceiroano do ensino médio, diz: “amaioria dos meus amigos, fezescolha da profissão pensan-do no salário que ganharia”.Siqueira, falou um pouco dasua sala. No Bionatus, esco-la em que Siqueira estudatem apenas uma sala de 80alunos. Ele comenta que oseu horário de aula é diferen-te dos outros colégios. “Pas-so o dia inteiro lá, até maisou menos às cinco da tarde”.O período de aula noBionatus se distingue de ou-tros colégios por causa dotempo de aula. Cada aula temuma hora e meia de duração.“Escolhi o Bionatus porquequeria me preparar melhorpara o vestibular.”

Lembrei que ainda não ti-nha perguntado sobre qualcurso pensava fazer. Eleolhou para mim e disse: Di-reito e Letras. Surpreso com

a resposta, eu fiz outra per-gunta. Mas porque dois cur-sos? “Ah... eu quero fazer Di-reito pelo dinheiro, pelaspossibilidades de emprego.E Letras! Porque é o que gos-to de verdade. Gustavo en-quanto falava não escondeuo desconforto. Logo respon-deu tentando normalizar a si-tuação”. Mais da metade daminha sala optou por Direi-to”. Na sua opinião qual acausa disso? “Para muitos éuma questão de qualidade devida. Direito proporcionaisso”, respondeu ele.

Saindo da entrevista medesloco para o centro deCampo Grande. Vou me en-contrar com outro Gustavo.Seu nome é Gustavo Santia-go, tem a mesma idade que oprimeiro, 17 anos. Estudaigualmente no terceiro anodo ensino médio. Mas no co-légio Dom Bosco. Conformeele o ritmo do estudo no DomBosco é bem impaciente. Sãoseis aulas diárias de 40 mi-nutos. Santiago usa a pala-vra “maçante” para realçarseus sentimentos. Apesar dotempo resumido, e da sensa-ção de inaptidão do conteú-do expressado, em vista dopouco tempo, o colégio oagrada. Siqueira comenta naentrevista anterior que noBionatus sente mais seguran-ça. “reconheço que estouapreendendo mais, o tempode aula permite discutir commais profundidade o temaabordado”. Para ambos a edu-cação nos colégio não repre-senta um aliado do aluno.Gustavo Santiago é mordazquando critica o ensino. Otom irônico aviva sua postu-ra: “Em cada aula, temos quenos desligar do mundo deinformação que acabou de serapresentado, para estar aptoa assimilar outro, como ma-quininhas”, diz Santiago. A

esteira industrial preserva aquantidade de informação,entretanto não mantêm a qua-lidade.

A opinião dos estudantessobre a educação reflete a ins-tabilidade do processo. Emano de vestibular algumasquestões surgem diante dodesafio. Muitos alunos perce-bem que passaram 12 anos naescola. 12 anos de provas, tra-balhos, feiras de ciência. 12anos de histórico escolar quenão servirá para nada. O quedecide a entrada de um alu-no em uma universidade re-sume-se a uma prova. “Tudoo que eu fiz, durante essesanos todos, não vai servirpara nada, não devia ser as-sim” desabafa Gustavo San-tiago.

Santiago fala um pouco docurso que escolheu. Explicaque sua facilidade e o agradopor todas as matérias dificul-tam a decisão. Embora penseem várias alternativas ele diz:

penso em fazer Economia Ci-ências Sociais, Ciências Po-líticas e Relações Internaci-onais. Contudo a indecisãodiante do vestibular não re-presenta sua única preocu-pação pois, Gustavo questi-ona a viabilidade de cursarfaculdade em Campo Gran-de. Uma vez que é possívelobter melhores condições deeducação, no centro metro-politano.

A partir das supostas es-colhas, pergunto sobre osfins. O que leva a suas es-colhas? Sua resposta mos-tra que o teor político deSantiago medido em metrosquadrados é bem maior doque sua estatura, 1,77. Comgestos rígidos e bem pontu-ados, revela uma posiçãocrítica da sociedade. Recla-ma das injustiças do capi-talismo e resisti dizendoque suas escolhas estão re-lacionadas com seus ideais.“Eu quero mudar o mun-

do”, afirma soberbo.Gustavo Santiago

demonstra que ape-sar da baixa estimaque as questões po-líticas tenham entreos jovens, existe al-guns que ainda per-manecem dispostosa discutir. A neces-sidade de grandessalários e qualidadede vida direciona avontade dos jovenspara um pensamen-to cada vez maispragmático. Umcaso bastante sinto-mático para socieda-de. Não se faz maisum Maio de 68, ouo movimento das di-retas. Sem demarca-ções ideológicas nãoexiste mobilizaçõessociais. Os jovenstrocam os seus ide-ais pelo bom empre-go.

Educação das crianças

independe da renda familiarFelipe Duarte

Quem nunca ouviu falarda história do Príncipe e oPlebeu? Ela fala de dois ga-rotos iguais que trocam delugar e mostram suas quali-dades e defeitos no espaçodo outro. O príncipe de-monstra ser autoritário,‘mandão’ e não ter jeito parafazer nada, pois sempre osoutros faziam tudo por ele.O plebeu se deslumbra coma realidade do outro. Ele nãotinha nada e, por isso, nãoalmejava nada. Este conto épreconceituoso, inserindoestereótipos na sociedade,principalmente entre as cri-anças, seus maiores consu-midores. “A situação finan-ceira não influenciana per-sonalidade d acriança. A cri-ação dospais quemolda

a personalidade”, afirma a psi-cóloga Inara Leão.

Giovanna Martins Araújotem nove anos e tem uma boacondição financeira. Moracom seus pais, EleniceMartins e José Lopes deAlencar, produtores de even-tos e sua irmã BrunnaMartins de Araújo, 11 anos.

Brenda da Silva Valentetem sete anos e é de uma fa-mília de classe média. A mãe,Maria Marelin Valente, traba-lha como promotora de ven-das e autônoma. Seu pai,Gabriel Valente, é taxista. Elamora com os pais, o irmão,Felipe, 13 anos e a prima,Rafaeli, de 17 anos.

Inara Leão diz que as cri-anças formam a percepçãopara conhecer sua realidade apartir do momento em quevivenciam es- paçosdiferentes.

“O grandedivisor é a esco-la”. Giovannacostuma acordaràs 9h da manhã.“Eu tomo café,tomo banho efaço minha tare-fa. Arrumo mi-nhas coisas evou para a esco-la. Depois daaula, faço ballet ejazz”, diz a meni-na. Já Brenda,acorda às6h30min, junto com a mãe.“Tomo mamá e vou para ojudô.” Depois da aula de judô,ela volta para casa, toma banhoe vai para a aula. As duas me-ninas voltam para casa e fazemo que todas as crianças costu-mam fazer: brincar. Dormem

cedo e costumam ter o mes-mo ritual todos os dias.

A psicóloga conta queinteligência financeirada criança, como verque tem que ajudar acomplementar a renda

de casa depende doambiente familiar.“A família impõe,sugere. Ou a cri-ança desenvolveisso sozinha apartir do meio”.Giovanna comnove anos aindanão sabe em quedeseja trabalhar,mas seu pai temdefinida umaidéia. “Quantomais cedo criar ointeresse para tra-balhar, melhor.Mas algo sem obri-gação, apenas para

formar a personalidade”. Opai, José Lopes, ainda comple-ta dando o exemplo das crian-ças nos Estados Unidos quecomeçam a trabalhar aos 10anos entregando jornal e isso,para Lopes, não é desmerece-dor. Brenda, que tem seteanos, já sabe o que quer serquando crescer: “Eu quero sermodelo ou veterinária”. E ain-da complementa: “Para ser ve-terinária, tenho que estudarmuito e entrar na faculdade”.A mãe de Brenda diz que a fi-lha faz reforço de matemáticae português, pois gosta dasdisciplinas.

Uma questão polêmica naformação dos filhos é quan-do os filhos começam a fa-zer perguntas. O que fa-zer? A psicóloga InaraLeão aconselha a nãoesconder nada.“Quanto mais en-tendemos o mun-do, melhor vive-mos. Não pode-mos criar os nos-sos filhos em ummundo artificial.Temos que deixarexplorar com na-

turalidade”. Neste ponto, asduas meninas têm o mesmoapoio. “Tudo o que a Brendapergunta, eu respondo semesconder nada”, afirma a mãeMaria Marelin. José Lopes,pai de Giovanna compartilhaa mesma opinião. “Sempreconversamos bastante, masdeterminados temas, com cau-tela. Sempre tentando manteruma grande interação no am-biente familiar para a forma-ção dela. Mantemos uma con-

versa franca, amiga etransparente”.

Não existem prín-cipes e plebeus. So-mente existem crian-ças que precisam decarinho e dedicaçãodos pais. “A criançaprecisa de tranqüili-dade para resolverproblemas e imporobjetivos. Ela precisade apoio dos pais”,afirma Inara Leão.

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E d u c a d a s - Crianças têm sua personalidade moldada pela criação dos pais e não pelas condições financeiras

P r o s p e r i d a d e - José Lopes incentiva as filhas no interesse pelo trabalho Fo r m a ç ã o - Maria Marelin responde a todos os questionamentos da filha

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Átilla Eugenio

Já diz o ditado po-pular “de médico e doi-do todo mundo tem umpouco”, mas será queexiste algum ser huma-no que em sua sã cons-ciência pode dizer: “eusou normal”? Ou então,“eu não tenho nenhu-ma mania”? Difícilacreditar nesta hipóte-se, já que vivemos emum mundo onde ne-nhuma pessoa é igual aoutra e cada uma tem as

suas peculiaridades etambém suas manias.Estas as mais diver-sas possíveis, sendodesde um balançarincessante das per-nas, abrir e fechar asportas várias vezesou até lavar as mãossempre que encostaem um objeto. Sevocê possui uma des-sas ou outras mani-as, vai um alerta:mania existe e podeser até uma doença.

No dicionárioAurélio, mania é ca-racterizada comouma excentricidade,esquisitice, gosto exa-gerado ou imoderadopor alguma coisa. Opsiquiatra AntônioNascimento, de 55anos, garante quemanias são atos nor-mais, repetitivos quepodem, ou não, rea-lizarem tarefas bené-ficas. Segundo ele“geralmente as mani-as não necessitam de

terapia ou cuidados”.Em um rápido espa-

ço de tempo talvezvocê também não se re-corde de suas maniasíntimas, mas é precisoolhar atento às ações re-alizadas repetidamenteao dia. Quando questi-onado sobre uma desuas manias, o estudan-te Diego Faoro, de 24anos, em um primeiromomento não lembra,

diz que não tem, tenta esqui-var, mas logo se recorda. “Éuma força do hábito eu nãotrocar de caminho, ir semprepelo mesmo trajeto no qual eusigo. Seja voltando pra casaapós a faculdade ou até mes-mo em situações comuns,como retornando por ondeacabei de vir”, menciona o es-tudante, afirmando que essamania não interfere em suavida.

Mas quando o assunto é oTranstorno Obsessivo Com-pulsivo (TOC) o tom da con-versa muda. “É uma doençapsiquiátrica em que o indiví-duo tem compulsões, atosque podem ser confundidoscom manias, e precisam de tra-tamento”, alerta Antônio Nas-cimento. O especialista ex-plica ainda que, para di-ferenciar uma maniade gestos compulsi-vos, é necessárioque o pacienteseja examina-do por umpsiquia-tra. “Opacien-te como TOC,muitas vezes sente que essasidéias são impróprias e lhecausam agonia. É comum queos portadores de TOC apre-sentem pensamentos obsessi-vos em relação ao contágio porsujeira e a compulsão de higi-ene”, lembra.

A limpeza é exatamente olema da estudante LaísCristina da Silva Nunes, de 18anos. Ela garante que é nor-mal, mas apenas tem por ex-cessivas vezes vontade de la-var as mãos. “Sempre pareceque tem alguma coisapinicando a minha mão”. Aforma encontrada por ela paraacabar com a sua mania, no-meada científicamente deabluciomania, é “só lavandoas mãos. Mas se eu encosto emalguma coisa, lá vem a vonta-de de novo”, explica.

Com esta inquietação é nor-mal que as pessoas que acom-panham Laís acreditarem queela seja uma pessoa fora docomum, meio diferente. “O

pessoal fica me enchendo osaco me chamando de fresca.Quando eu estou indo lavar amão logo dizem – lá vai a fres-ca –, mas fresca eu não sou,eu sou normal ué?”. Para aca-bar com o falatório, Laís só en-contra uma saída, “vou escon-didinha pro banheiro e lavo asmãos”, resume sorridente aolembrar-se da cena. Para ela oproblema se torna prejudicialà sua saúde quando não há sa-ída para aliviar a compulsão.“Se estou no centro chego atécomprar uma água mineralpara me limpar”, diz a estu-dante.

I n t e r n e tO avanço da tecnologia e

a praticidade que os eletrô-nicos proporcionam, muda-ram a vida da populaçãomundial. Hoje se é precisodescobrir algo, basta entrarem um site de busca dainternet e saber como, ondee pra que serve o que pro-

cura. Simples não é mesmo?Sem contar ainda o bate-papo ao vivo, os sites de re-lacionamento que encurtamdistâncias e aproximam pes-soas, os jogos e noticiáriosda web.

A rapidez da internet e agrandiosidade de informa-ção que ela contém favore-cem a nova mania do mo-mento: ficar navegando porvárias horas na internet. Se-gundo o psiquiatra AntônioNascimento “o que era paraser lazer se transformou emtranstorno”.

O internauta ÁlvaroMarzochi, de 21 anos, lem-bra que antigamente chega-va até a virar a noite em fren-te ao computador. “Teveuma época que eu dormia dedia e ficava acordado de noi-te. Entrava a tarde e ia dor-mir só às nove horas da ma-nhã. Estava sempre atrás denotícias, novidades, vídeose músicas bacanas”, explica

Álvaro Marzochi, que ao con-trário da maioria dos jovens,não utiliza a internet para jo-gar em rede.

Mas se o assunto é ficarsem internet, o internauta ga-rante que consegue, não pormuito tempo. “Se for por umdia eu consigo ficar sem, po-rém no outro dia eu vou que-rer ver tudo o que não vi.Sem a internet parece que eufico meio desatualizado”,diz.

A mania de entrar nainternet por várias horas sódiminuiu quando Álvaro co-meçou a trabalhar justamen-te em um site de notícias.“Às vezes quando eu chegoem casa nem quero ver com-putador. De tanto que eumexo no trabalho, eu prefi-ro f icar sem entrar nainternet em casa”, finaliza.

M a n i a s Na lista das manias mais

comuns entram: a afrodisio-

mania, desejo sexual inten-so; algomania, desejo de so-frer ou de sentir dor; aritmo-mania, de contar os objetos;bricomania, mania de rangeros dentes; cleptomania, ma-nia de roubar objetos inde-pendente do valor; cubo-mania, mania de jogar ;farmacomania, mania de to-mar medicamentos; megalo-mania, delírio de grandeza;mimetomania, mania de imi-tação; onomania, compulsãopor comprar; titilomania,mania de se coçar, entre ou-tras.

Depois de tantas maniasvocê ainda acredita que nãotem alguma? O certo é quetodo mundo tem, da mais co-mum à sobrenatural. Ter umamania não significa ser ma-luco, porém é preciso tomarcuidado para que este sim-ples ato repetitivo não pre-judique e nem interfira nosseus hábitos. Ser refém demania, não dá.

T O C - Lavar as mãos compulsivas vezes para se livrar do medo de contaminação e sensação de sujeira é um sintoma do Transtorno Obsessivo Compulsivo

Tatiane Guimarães

“A lei de Murphyme persegue”, afir-mou a Professora deinglês Ana CarolinaEurico, de 31 anos.Os fatos que a fazemacreditar nisso é queo seu pão sempre caicom o lado da man-teiga para baixo, equando está numafila, a do seu ladosempre anda mais rá-pido. “E não adiantatrocar de fila, porquese troco, a filapara ondev o upára

e a fila em que eu estava co-meça a andar”, desabafou.

A advogada Nilvia Brito,de 56 anos, não tinha conhe-cimento a respeito dessa lei,mas ao ouvir o relato de AnaCarolina, percebeu que tam-bém é uma vít ima deMurphy. “Quando pego umafila curta, sempre acaba a bo-bina de papel do caixa”, con-tou.

Todos os dias, tem sem-pre alguém que passa poruma intempérie e a atribui a

Murphy. É a chuva que nãopára após ter feito uma cha-pinha, ou então, após ter la-vado o carro ou moto. O mo-lho de tomate que respingana camisa branca e nova, en-tre muitos outros imprevis-tos que podem ser a “gotad’água” para acabar com obom humor e estragar o diados mais desavisados.

Diz um dos principaisenunciados da Lei deMurphy: se algo pode dar er-rado, dará e da pior manei-ra o possível. A origem des-sa lei pessimista, de acordocom o site Wikpédia, foi em1949, quando EdwardMurphy, engenheiro da For-

ça Aérea Americana reali-zava um experimento,

no qual 16 peças fo-ram encaixadas pelo

lado errado, frus-trando temporari-

amente o expe-rimento. Em

p o u c otempo a

afirmação: Sehá duas ou

mais formas defazer alguma coi-

sa e uma das for-mas resultar em ca-

tástrofe, então alguéma fará, foi disseminada

por toda a engenheriaaeroespacial e posterior-

mente agregada a cultura

Otimismo e prevenção

quebram Lei de Murphy

popular.A psicóloga Mirian

Andrade, de 42 anos expli-ca que geralmente as açõesque começam de forma erra-da, permanecem erradas atéo fim, nisso consiste os im-previstos atribuídos a lei deMurphy, “É mais uma ques-tão de contexto físico do queuma profecia auto-realizado-ra”, afirmou a psicóloga. Aação de Murphy, segundoMirian, ocorre a partir decrenças auto-realizadoras,

ou seja, a pessoa acreditaque coisas ruins acontecemcom ela e as projeta para oambiente. O antídoto para aLei de Murphy no caso dacrença irracional é mudar opensamento automático ne-gativo.

Agora, se a área de atua-ção for o aspecto físico, otécnico em segurança do tra-balho, Maxuel Mesquita, de26 anos, afirma que Murphynão tem força para atuar con-tra a prevenção. “Quanto

maior a atenção, menor orisco de acontecer aciden-tes”, diz Maxuel. Para eleos acidentes não aconte-cem espontaneamente,como sugere a lei, mas simsão provocados.

Portanto, para impedirque Murphy estrague o seudia, mantenha a estima ele-vada, siga as orientações desegurança e, da próximavez que for comermacarronada use roupa es-cura.

Tatiane Guimarães

A internet se transformouem um espaço de propagaçãodos enunciados da lei deMurphy. E-mails, Orkut e ou-tros sites fornecem conteúdosobre o assunto. Abaixo al-gumas das citações encontra-das na Rede de Computado-res.

*Um atalho é sempre adistância mais longa entredois pontos.

*Tudo leva mais tempo doque todo o tempo que vocêtem disponível.

*Quando um trabalho émal feito, qualquer tentativade melhorá-lo piora.

*As peças que exigem mai-or manutenção ficarão no localmais inacessível do aparelho.

*Se você tem alguma coi-sa há muito tempo, pode jo-gar fora. Se você joga fora al-guma coisa que tem há mui-to tempo, vai precisar delalogo, logo.

*O modo mais rápido dese encontrar uma coisa é pro-

curar outra. Você sempre en-contra aquilo que não estáprocurando.

*Quando te ligam: a) sevocê tem caneta não tem pa-pel. b) se tem papel não temcaneta. c) se tem ambos nin-guém liga.

*Mesmo o objeto mais ina-nimado tem movimento su-ficiente para ficar na sua fren-te e provocar uma canelada.

*Qualquer esforço parase agarrar um objeto em que-da provocará mais destrui-ção do que se deixássemos oobjeto cair naturalmente.

*Só sabe a profundidadeda poça quem cai nela.

*Entregas de caminhãoque normalmente levam umdia levarão cinco quandovocê depender da entrega.

*Assim que tiver esgota-do todas as suas possibilida-des e confessado seu fracas-so, haverá uma solução sim-ples e óbvia, claramente visí-vel a qualquer outro idiota.

*Ninguém nunca está ou-vindo, até você cometer um

erro.*Oitenta por cento do

exame final da sua prova dafaculdade será baseada naúnica aula que você perdeu,baseada no único livro quevocê não leu.

*A citação mais valiosapara a sua redação seráaquela em que você não con-segue lembrar o nome doautor.

*Se o sapato serve, éfeio!

*Todo corpo mergulha-do numa banheira faz tocaro telefone.

*A informação mais ne-cessária é sempre a menosdisponível.

*Existem dois tipos deesparadrapo: o que não gru-da, e o que não sai.

*Lei de Murphy na es-cola: se for prova com con-sulta, você esquecerá seu li-vro; se for lição de casa, es-quecerá onde mora.

*Uma maneira de se pa-rar um cavalo de corrida éapostar nele.

“Se o sapato serve, pode ter certeza, é feio”

Quando a mania vira obsessãoAtitudes repetitivas devem ser vistas como doença a partir do momento em que o praticante sente agonia

Foto: Átilla Eugênio

Transtorno

Ilustração:www.corbis.com.br

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“ Opreconceito é a

maior doença”, desabafaDona Irene, que ainda diz que

se a filha é autista é por que Deusquis. “Quando tá no caminho da

gente não tá no do vizinho”, simplificaa mãe que lamenta ser a filha sempre

vítima de comentários e olhares “tortos”,principalmente no ônibus. “Eu convivo com o

preconceito, as pessoas sempre olham diferente, por que aLaudirene balança pra frente e pra trás e tem gente que fica com medo”.

Já Marileide, mãe de Wellington, diz que não se incomoda mais. “Um dia o ônibustava muito cheio e o motorista freou. A mulher que tava na frente empurrou oWellington. E quando eu cheguei em casa eu chorei muito, mas depois eu metransformei e nunca mais dei bola pra isso “. O filho reconhece a proteção e a chamade Super Mamãe.

Maria Augusta conta que não recebe em casa e nem visita a casa de pessoas queolham diferente pra Wilson. “Eu não vou na casa de gente que eu sei que olhadiferente pro meu filho”. E agradece o filho ter nascido em sua família. “É umagraça esse filho ter vindo na minha família, todo mundo tem paciência”, contaela.

E assim a vida continua, mas embalada por uma canção que retrata oamor de mãe... “Um anjo do céu que trouxe pra mim é a mais bonita a

jóia perfeita, que é pra eu cuidar, que é pra eu amar, gota cristalina,tem toda inocência...” A música de Armandinho poderia servir

de enredo para histórias de várias mães, mas neste casoela é a trilha de um amor incondicional e de uma

dedicação que não tem fim.

05

Talita Matsushita

Ninguém no mundo éigual a ninguém. Por issouns tem a orelha maior, ou-tros são mais gordinhos etem gente até que tem umdedo a mais no pé. E comos autistas não seria diferen-te, apesar de terem o mes-mo transtorno, cada um temseu jeito, preferências e per-sonalidade. São histórias di-ferentes, mas que se cruzamquando o assunto é o autis-mo e a dedicação que asmães têm com os filhos.“Muita gente acha que defi-ciência é só física”, contaCelina Souza, mãe deSuelen de 16 anos. Já paraDemival Godói, pai de Carol,não só os filhos são especi-ais, mas também os pais.“Quando Deus manda umacriança especial, tambémmanda pais especiais”, afir-ma o pai, que é denomina-do de “Pãe” por sua esposa.

O autismo é uma altera-ção comportamental que afe-ta a capacidade da pessoacomunicar, de estabelecer re-lacionamentos e de respon-der apropriadamente ao am-biente que a rodeia. E os sin-tomas podem ser reconheci-dos desde bebê. “Quandoneném ele não se aninha –aconchega- no colo da mãee não explora os brinque-dos”, explica a psicólogaCláudia Ciber. E foi dessamaneira que Marileide Coe-lho percebeu que seu filhoera diferente. “Ele rejeitavaas coisas, até a mamadeira edemorou pra andar”, relem-bra a mãe de Welington, hojecom 16 anos. Celina perce-beu cedo os sintomas da fi-lha Suelen. “Ela não pegavao peito, também não chora-va e dormia muito”.

Mas dentre os jeitos dedescobrir o transtorno, a his-tória de Maria Augusta Men-des chama a atenção. Deacordo com ela, o filho Wil-son, hoje com 16 anos, sedesenvolveu normalmenteaté os dois anos de idade,quando ela engravidou dasegunda filha. “Ele davabeijinho na minha barriga,passava óleo e cantava, masquando eu voltei do hospi-tal com a minha filha nocolo, ele me apagou da vidadele e se apegou com a mi-nha sogra”. Maria Augustaainda lembra que o filhoregrediu mentalmente. “Elevoltou a fazer xixi ou cocona roupa outra vez”, relem-bra a mãe emocionada.

Algumas crianças, mes-mo com o autismo, apresen-tam inteligência e falas per-feitas. E Wellington é só

elogios, pois sabe a lista tele-fônica de cor e aprendeu a lercom dois anos de idade. “Eucolocava ele na frente da TVe ia fazer outras coisas, quan-do eu vi ele tava escrevendo”,conta Marileide, que tem osonho de ver o filho fazendofaculdade. “Ele é inteligente,adora ler jornais e revistas econforme for crescendo, euvou buscar ajuda”. Mas devi-do ao distúrbio Welington éexigente e diz querer uma salae uma professora só para ele.Já Wilson tem facilidade comcomputadores, uma vez con-seguiu desbloquear o compu-tador do pai. “O pai dele ins-talou um programa e precisa-va de seis senhas pradesbloquear, o rapaz tinhaexplicado tudo pro meu ma-rido e o Wilson estava assis-tindo TV, de costas pro com-putador, no outro dia ele tavalá mexendo em tudo”, contaMaria Augusta.

C a u s a s

“Muitas mães ainda seculpam achando que é por-que não deu atenção devidaou porque tenha rejeitadoem algum momento da ges-tação, mas não é nada dis-so” explica a psicóloga Clau-dia. Se Dona Irene Rosa sou-besse disso há mais tempotalvez não tivesse se culpa-do tanto pelo transtorno dafilha. “Eu tava grávida deuns oito meses e fui no cen-tro comprar umas coisinhaspro enxoval, mas levei umtombo e quando descobrique a Laudirene era autistaficava me culpando”, relem-bra Dona Irene entre lágrimase lembranças.

Existem histórias tristes,mas também histórias ale-gres. Demival Godói contaque tem mais três filhosalém de Carol e os trataigual. “Lá em casa não temcriança especial, a Carol éespecial por que ela é a ca-çula e não por que é autista”,afirma o pai. Para ele, Carolé um talismã.

O autismo ainda não temcura, segundo a psicólogaCláudia, os sintomas podemser minimizados e é por issoque é importante sempre es-timular o autista a ser inde-pendente e fazer as coisassozinhos.

Maria Augusta se diz re-alizada, pois o filho já alcan-çou essa independência. “Eujá realizei meu sonho, hojeele já faz bastante coisa so-zinho e se antes eu fazia te-rapia por que ele dependiamuito de mim, hoje é por-que eu sei que ele já não pre-cisa tanto”, confessa a mãe.Dona Irene já não consegue

Em bolhas - Crianças autistas têm alterações na capacidade de se comunicar e relacionar. Em Campo Grande a Associação dos Pais e Amigos dos Autistas (AMA), realiza atendimento especializado

Autismo

As cores de quem AMAPais revelam as singularidades de seus filhos que vivem em um mundo muito particular

imaginar a vida sem a filhaLaudirene. “Somos só nósduas e só de pensar em fi-car longe é muito sofrido,porque eu sei que ela preci-sa de mim pra tudo, e ela émeu bebezão”, se emocionaa mãe coruja.

Já Celina, mãe deSuelen, prefere viversomente para a filha.“É uma renunciamesmo, e eu prefiroassim, não tenho co-ragem de deixar elacom outra pessoa,não sei até ondepode ir a maldadedo ser humano”, ex-plica Celina, quecomplementa dizen-do que tem que se de-dicar à filha integral-mente. “Não tem jeitode ser diferente, ela émuito arteira e tem genteque não tem paciência”. Jáo pai de Carol diz que o so-nho dele é ver a filha recu-perada. “Eu quero ouvir elafalar outra vez papai e ma-mãe”, finaliza Demival.

Em Campo Grande existea Associação de Pais e Ami-gos do Autista – AMA- queoferece todo aparato para cri-anças e jovens autistas. Osatendimentos acontecem demanhã e a tarde com o acom-

Foto: www.inspiredbyautism.com/.../shapeimage_1.jpg

panha-mento de fonoau-diólogos, psicólogos, tera-peutas ocupacionais entre ou-tros profissionais. Atualmen-

te são atendidas 40 autistas,sendo 20 crianças e 20 ado-

lescentes. Osatendimentos

sempre são no mes-mo horário para todos

porque autistas são rotinei-ros. A associação não temsede própria e necessita dedoadores.

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Quando o ponteiroda balança aumenta, aspessoas já começam a sepreocupar com a alimen-tação por causa das do-

enças causadas pelam a s s a

Talita Oliveira

Atchin, atchin, saúde!Quando o assunto é

cuidado com a saúde, oscidadãos vão mal, obriga-do.

O mal do século comoa depressão, assíndromes, obesidade,vícios, ansiedade, as do-enças psicossomáticas eoutros novos casos dedoenças do momentoconfundem a população.Isso porque ainda não fo-ram desenvolvidas técni-cas adequadas para detec-tar cada doença nova quesurge. Elas afetam a emo-ção e junto prejudica o fí-sico das pessoas, mesmoassim ainda há quem nãoacredita quando alguémdiz que está passando pordepressão, porque nãoconseguem enxergar estesmales que são causadospelo mundo que pede

perfeccionismo, aliados àcompetitividade acirradatransformam em doençasque podem ser chamadastambém de escondidas,mas prejudiciais à saúde.

A artesã Maria x, 56anos, que não quis se iden-tificar, é uma das vítimasdo mal do século. Todas asvezes que ocorrem algumfato bom ou ruim na vidadela, logo ataca o intestino.Descobriu que tinha umadoença rara, a Síndromedo Intestino Irritável, éuma espécie de doençapsicossomática.

“O médico constatou aminha doença em 2006,mas desde criança que ti-nha dor de barriga, os re-médios que faço tratamen-to são paliativos, essa do-ença não tem cura, já fiz atécirurgia, quando meu in-testino deu duas voltas eestava comprimindo o ou-tro lado do intestino, aí os

médicos retiraram 60 cen-tímetros do intestino que jáestava inflamado.”

Enquanto Maria x con-tava demonstrava a dor quesentia com as mãos no es-tômago e na expressãofacial. “Na última crisequando fui para o hospital,fiquei muito mal, fiz acolonoscopia, exame do in-testino, e constataram a in-flamação, por isso já fui di-reto para a mesa de cirur-gia, nem fizeram muitosexames porque estava de-bilitada”.

Além da síndrome dointestino irritável, que tra-ta com uma gastroenterolo-gista, Maria x carrega umaherança familiar, a depres-são e esclarece o que sente.“Tenho depressão e semprequando estou em crise, te-nho dores fortes no estô-mago me ataca o intestino,vou direto para o banheiroe na depressão tenho von-

compõem a lista de doen-ças do momento que sur-giram dentro da sociedadeatual, onde há altos níveisde competitividade, ouseja, quando não consegueatingir os objetivos é atri-buída a si mesmo uma sen-sação de incapacidade, estafrustração vai ocasionan-do, com o tempo, diversasperturbações, hoje chama-das doenças do século. Eo psicólogo deixa claro que“hoje recebemos pacientesno consultório com todasessas doenças citadas aci-ma, mas a que ocorre commaior freqüência é a de-pressão, que é causada pordiversos fatores como bio-lógicos, genéticos e psico-lógicos, também algumascondições de vida como oestresse extremo ou luto, oconsumo de drogas e álco-ol pode desencadear umatendência natural psicoló-gica ou biológica para a de-

tade de me matar. Minhamãe e minha irmã se sui-cidaram, então isso é gené-tico”. E acrescenta que faztratamento psicológico. Apsicoterapeuta semprealerta a paciente para sedesligar dos acontecimen-tos que a deixa irritada.

Maria X declara: “Tomoantidepressivo para ficartranqüila e conseqüente-mente não ataca o intesti-no”. A artesã procura rela-xar com a produção de ar-tesanatos em tecidos, masjá deixou de tomar medi-camentos e entrou em umacrise profunda. Depoisteve como experiência paranunca mais voltar a repe-tir o erro.

Conforme o psicólogoespecialista em sociopsi-comotricidade RamaimThiers Pedro ValdirGeraldi Junior, 39 anos, aobesidade, depressão,estresse, pânico e anorexia

População sofre do mal do século

Competitividade e perfeccionismo do mundo moderno provocam doenças que ficam escondidas no organismo

pressão”.Os sintomas centrais da

depressão apresentadospelo psicólogo PedroGeraldi são a perda deenergia e interesse, humordeprimido, dificuldade deconcentração, alteraçõesno apetite e do sono, lenti-dão das atividades físicase mentais, sentimento depesar ou fracasso, descon-forto no batimento cardía-co. O psicólogo aindaacrescenta mais sintomassecundários que váriaspessoas podem obter nes-ta nova era que são o pes-simismo, dificuldade emtomar decisões, dificulda-de para começar a fazersuas tarefas, irritabilidadeou impaciência, inquieta-ção, desejo de morrer, al-gumas pessoas choram àtoa, outras pessoas tem di-ficuldade para chorar, fi-cam sem esperança, temdificuldade de terminar as

Medo da obesidade ronda os cidadãos no terceiro milêniocorpórea acima do peso.

O professor de EducaçãoFísica da Universidade Ca-tólica Dom Bosco UCDB,Aluisio Fernandes de Sou-za, 38 anos, acredita que a

obesidade seja um mal doséculo por alta incidên-

cia nas últimas dé-c a d a s ,

como probabilidade de cres-cimento no próximo séculoe por grandes malefícios quetrás a saúde, mas pode serevitada se o indivíduo man-ter seu peso corporal com oavançar da idade, não au-mentando a gordura corpo-ral, ele terá menores chancesde hipertensão arterial e di-abetes.

Outra tarefa que Souzadita é o exercício de

duas a três vezes porsemana, alimentar-

se adequada-mente, evitar

s i t u a ç õ e sd e

estresse ou aprender a lidarcom adversidades, procurardesenvolver uma boa relaçãocom os indivíduos próxi-mos.

Logo, o professor obser-va que “freqüentemente aspessoas obtém melhoras sig-nificativas em sua qualidadede vida através da prática re-gular de exercícios físicos, al-gumas passam a tomar me-nos medicamentos, outras semostram mais felizes”.

VícioA acadêmica de Medici-

na Veterinária Letícia Carva-lho de Souza, 19 anos, pra-

tica exercícios em aca-demia há seis anos

porque gosta etambém por

t e n d ê n c i apara engor-

dar.Letícia ad-

mite “Eu nãome alimento di-

reito, não como le-gumes e verduras epor isso sou imuno-deficiente (imunida-de baixa), tenho quetomar vitamina sem-

pre, às vezes exageromuito na malhação,

nas férias tinha dias que

fazia ginástica o dia inteiro,hoje malho no mínimo 2 ho-ras por dia”.

Para Letícia, a malhaçãodeixa mais disposta, ema-grece, deixava menos estres-sada e relaxa. E lembra“quanto mais peso pego naacademia melhor fico por-que gosto de sentir aquelador no outro dia”.

Já o professor de educa-ção física Aluisio Fernandesde Souza diz que excesso deexercícios físicos pode cau-sar danos às estruturasosteo-articulares e sobrecar-ga cardiovascular.

A acadêmica conta quenão consegue ficar parada.No fim de semana quer cor-rer, nadar, dançar em casa,a Avenida Afonso Penatransforma-se uma aliadaquando tem feriado. A ma-lhação nunca prejudicou aacadêmica, quando nãomalha bate peso na consci-ência.

Uma boa opção para nãoultrapassar do horário demalhar é a orientação de umprofessor, por isso AluisioFernandes de Souza conta àexperiência. “Muitas pesso-as têm o que eu chamo deimpulso ao exercício físico,isto acontece às vezes ao as-

sistir uma reportagem, ouobservar no espelho, daítraçam um perfil de ‘corpoideal’, fora de suas realida-des, mas todos nós recebe-mos uma carga genéticaque determina nossa por-centagem de gordura, nos-sa massa muscular, tam-bém mudá-las com o efeitodo exercício, mas isso exi-ge tempo e dedicação, eisso também respeita um li-mite fisiológico, e os riscosmaiores a saúde estão emtentar ultrapassar os limi-tes”.

Mas a psicologia sem-pre envolve os fatores físi-cos. E o professor de Edu-cação física considera ati-tude dessas pessoas queexcedem no exercício umvício, por isso alerta paraa mudança do comporta-mento em relação ao exer-cício físico e procura vercomo algo imprescindível,como se alimentar e se di-vertir. Ele dá sugestão deprofessor. “Diminua a car-ga de exercícios, dê umtempo para que as adapta-ções ocorram, não se cobreem excesso e respeite seuslimites, se não, procureajuda médica ou psicológi-ca”.

Mayara Teodoro

Há cinco anos, a aposenta-da “E”, de 70 anos, teve deenfrentar um dos maiores dra-mas de sua vida: descobriuque era portadora do vírus daAIDS, o HIV. Havia sido con-taminada por um namoradoque era a sua grande paixão ecom quem mantinha uma vidasexualmente ativa. “As pesso-as têm uma idéia equivocadaem relação aos idosos. Achamque eles não se preocupamcom sexo. A situação mudou.Hoje, eles estão muito mais ati-vos”, conta ela.

Geralmente propagandas epalestras sobre o vírus HIV, évoltada para os jovens achan-do que somente eles se conta-minam. No entanto, pessoasde qualquer idade podem tan-to transmitir ou adquirir a do-ença. A modernidade deu aosmais velhos o que o ser hu-mano sempre sonhou: longe-vidade e liberdade. Novos me-

Idosos são contaminados

pelo HIV por falta de prevençãodicamentos, instituições deapoio e os famosos bailes daterceira idade fizeramreascender entre os idosos apossibilidade de namorar. Masjunto ao prolongamento davida afetiva veio a conseqüên-cia que os jovens já conhecem,a AIDS.

Dona “E” não namora maiso senhor da mesma idade queconheceu num baile e que acontaminou, mas ainda é ami-ga do mesmo. Ambos fazemtratamento para controlar a do-ença, mas psicologicamenteestão abalados. “Não tenhomais esperanças. Estou aguar-dando a morte”, sentencia aaposentada.

Em Campo Grande, os nú-meros do Boletim epidemio-lógico do projeto DST/AIDSmostram que houve quedanos registros de casos entreidosos. Em 2007, foram 15 ca-sos notificados, 12 a menos doque no ano anterior. Os envol-vidos são pessoas com 50

anos ou mais que adquirirameste vírus.

“O motivo pelo qual osidosos adquirem a infecçãoestá relacionado à melhor qua-lidade de vida, o que propor-ciona uma vida sexual ativa,assim como acesso a medica-mento para impotência”, ex-plica a coordenadora do Pro-grama Municipal de DST/AIDS de Campo Grande,Gisele Maria Brandão deFreitas. Ela afirma ainda queo preconceito contra o uso depreservativo também influen-cia negativamente na preven-ção.

Atualmente, o ProgramaMunicipal de DST/AIDS rea-liza diversas palestras e ofici-nas de prevençãodirecionadas a este público.Em 2007, foram promovidoseventos em Centros de Con-vivência do Idoso, onde o Pro-grama distribuiu materiais in-formativos e preservativos,além de apresentações tea-

trais.“Em 2007, foram notifica-

dos 314 casos de doenças se-xualmente transmissíveis -DST entre pessoas com 60anos ou mais em CampoGrande. As DST são uma por-ta de entrada para o vírus daAIDS”, conclui a doutoraGisele

A prevenção da AIDS en-tre os idosos esbarra em pre-conceitos culturais associadosa uma visão de que as pesso-as mais velhas não praticamsexo. Ninguém pensa na vovóe no vovô se relacionando se-xualmente. Clubes e empresaspromovem viagens, bailespara terceira idade, incentivamque eles saiam de casa, sempensar que vai rolar sexo. Masse estão ativos para dançar,passear e estudar, também es-tão para namorar.

D o e n ç aA AIDS é uma doença que

se manifesta após a infecçãodo organismo humano peloHIV (vírus da Imunodeficiên-cia humana). O vírus HIV des-trói as defesas do organismo,tornando-o vulnerável para aação de outras doenças infec-ciosas. Essas doenças são cha-madas oportunistas, porquesurgem nos momentos em que

o sistema imunológico está en-fraquecido.

Atualmente,a AIDS nãotem cura,mas podeser contro-lada atra-vés de co-quetéis deremédiosque sãodistribuí-dos gratui-t a m e n t eaos pacien-tes nos pos-tos de saúdedo SUS. Comisso, os portado-res do HIV podemter uma sobrevidamaior e commais qualida-de.

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coisas que começou senti-mento de pena de si mes-mo, persistência de pensa-mentos negativos, queixasfreqüentes, sentimentos deculpa injustificáveis, bocaressecada, constipação,perda de peso e apetite, in-sônia, perda do desejo se-xual.

“É muito ruim não de-sejo isso para ninguém, te-mos que ser forte, dominara mente e não deixar queela domine a gente” desa-bafa a operadora de caixa,Ana Maria da Costa Rocha,23 anos.

Eufórica e depressiva,Ana Maria conta que já con-viveu com a crise bipolar,ou seja, no estado em queestava eufórica saia de casae não tinha horário paravoltar, ficava animada econversava com desconhe-cidos. Já no momentodepressivo queria ficar iso-lada, não queria conversarcom ninguém, tinha medode sair de casa, sentia an-gústia acompanhada detristeza. “No começo fiqueidepressiva, depois eufóri-ca”.

A descoberta desta cri-se foi através dos sintomasque uma reportagem trans-mitiu na televisão, logo elaprocurou tratamento compsiquiatra e fez o exame desangue para detecta a do-ença, mas agora vive umanova vida há quase um anosem depender dos medica-mentos.

Como a crise bipolartambém tem momentosdepressivos que o psicólo-go explica a causa da de-pressão, nesta hora é a di-minuição na quantidade deneurotransmissores quesão liberados e são respon-sáveis pela trocas de infor-mações do sistema nervo-so central, e graças a elestemos emoções, sentimosprazer, apesar dessa dimi-nuição as enzimas conti-nuam trabalhando normal-mente, por isso causa umdesajuste no sistema ner-voso.

Medicamentos associa-dos à psicoterapia são in-dicados e em alguns casosindicam-se atividades físi-cas. O psicólogo aconselhao modo de tratamento. Eleafirma que a depressãopode ter várias causas, a ge-nética, alimentação, oestresse e as drogas.

No mundo cerca de 15%da população já sofreu oupoderá sofrer desta doençaem alguma fase da vida. Aincidência das mulheres éo dobro da dos homens.Acontece entre 22 a 44 anos,porque é o período em queocorrem os maiores índicesde competitividade da vidada grande maioria das pes-soas, começam com oestresse, a ansiedade, por

fim ad e -p r e s -s ã o ,analisa op s i c ó l o g oPedro Geraldi.

A recomenda-ção do psicólogopode ser levada asério para manteruma boa saúde, porisso acredite na prá-tica de esportes, pre-fira atividades voltadasà natureza ao em vezdos eletrônicos, amiza-des, músicas, artes e re-laxe.

F i b r o m i a l g i aNovas doenças im-

põem novos limites a en-frentar. Há 20 anos foi des-coberta a fibromialgia, queatinge pessoas entre 30 a 40anos, geralmente do sexo fe-minino por fazer dupla ta-refa, dentro e fora de casa.Essa doença tem diversascausas, uma delas está re-lacionada ao mercado detrabalho onde o ser huma-no se pressiona de maneiraque o corpo e a mente ul-trapassam o próprio limitepor concorrer com pessoasno dia-a-dia.

No caso da auxiliar deconsultório dentário, LílianSilva Leite, 35 anos, tinhadores na perna, dores nocorpo, cansaço físico e men-tal, perda de estímulo sexu-al, desânimo, dormêncianas pernas e braços, irrita-bilidade e perda de memó-ria, todos esses sintomassão apresentados na fibro-mialgia.

De acordo com o fisiote-rapeuta, Serginaldo José dosSantos, de 45 anos, a fibro-mialgia é uma doençamultifatorial, que envolvetanto o fator físico como oemocional, o paciente recla-ma da ponta do cabelo até aponta do pé, com pontosdolorosos pelo corpo, ten-sões musculares, formiga-mentos, dormências. Já aemoção evidencia a depres-são, ansiedade, insônia e ir-ritabilidade.

Lílian Silva Leite convi-

ve com a doença desde aépoca da adolescênciaquando sentia dores fortesnas pernas e quando dor-mia acordava à noite com aspernas dormentes.

Assim Lílian declaraque ficou preocupada, poisas dores aumentavam con-forme a idade e tambémquando ficava muito tempoem pé, depois foi a uma reu-matologista achando quepoderia ser reumatismo ouaté mesmo varizes, mas nãoera nada disso, a doutora fezvárias perguntas para Líliane aí foi contatado que era a

fibromialgia, a médica pas-sou vários exames de san-gue, pediu que fizesse vári-os exercícios, como ahidroginástica, caminha-das e tratamento com fisio-terapeuta.

Segundo o fisioterapeu-ta, o tratamento se torna di-fícil, porque é uma doençacrônica, causadas de sobre-cargas e disfunçõeshormonais, tem o períodode crise e melhora, maspode ser controlada comprática de hidroterapia comtécnicas de relaxamento.

“Para melhorar o condi-

cionamento físico, oindividuo deve praticar es-portes, yoga para prevenira doença, na questão emo-cional, quando o estresseestá elevado as pessoas pre-cisam liberar química do or-ganismo, também recomen-do a mesma prática, masdevem evitar excesso de car-nes vermelhas, polisatura-dos, e se alimentar de maisfrutas e verduras”. Alerta ofisioterapeuta.

Os exames são clínicos,por ser uma doença nova,deve ser feita por um médi-co que conheça esta

Foto: Talita Oliveira

síndrome. A auxiliar deconsultório dentário dizque tomou alguns medica-mentos fototerápicos porpouco tempo, mas parou.“Não tive crises, graças aDeus, mas sei que a fibro-mialgia tem fases e que dei-xam os pacientes bem de-bilitados, apesar dafribromialgia não ter cura,faço exercícios físicos queme ajudam na melhora”.

Doença do século, ummal necessário para o serhumano se conscientizar ecuidar da sua própria vida,tanto físico, como da alma.

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Não há surpresa:

nós vamos morrer

Reflexão

Única certeza da humanidade, o medo da morte move e inspira a sociedade

Thiago Andrade

Desde o momento em quenascemos, sabemos que iremosmorrer. A morte é um fato bio-lógico, não há escapatória, é aúnica certeza de todos que es-tão vivos e, ao mesmo tempo, éa maior tragédia da existênciapara muitos. Lidar com a mor-te é uma necessidade, no en-tanto, muitos preferem ignorá-la.

“Ignorar a morte é algo cadavez mais freqüente nacontemporaneidade”, afirma oprofessor de Teologia e Filoso-fia Josemar Maciel. Segundoele, cada vez mais homens emulheres vão para academiase centros de cirurgia plásticanuma tentativa de retardar osefeitos do tempo e escapar damorte. No entanto, o filósofoDjalma Silveira explica quedesde os primórdios da huma-nidade a morte sempre ocupouum papel fundamental na so-ciedade. “De certa forma, tudose voltava pra morte: as artes, afilosofia, as religiões, todas es-tavam ligadas ao fato de que todohomem é mortal”.

A impossibilidade de fugirda morte sempre esteve pre-sente nas grandes obras dopensamento e da emoção hu-manas. Numa leitura poética,as obras da música barrocapodem ser entendidas comouma tentativa de eternizar avida, ritmando as obras atra-vés da própria pulsação domaestro. E não é apenas nopassado que a morte fez partedo imaginário artístico. Cine-astas, dramaturgos, escritores,artistas plásticos, exploraramo absurdo da morte em suascriações.

Citando apenas os nomesmais famosos, temos IngmarBergman, diretor sueco do fa-moso filme “O sétimo selo”, de1957, no qual um cavaleiro dascruzadas desafia a morte parauma partida de xadrez. Paro-diando o filme de Bergman,Woody Allen, diretor norte-americano famoso por seus fil-mes capazes de transitar entrea cultura pop e a alta cultura,criou “A última noite de BorisGrushenko”.

No filme, um peculiar jo-vem russo que na infância du-rante um sonho tem um encon-tro com a morte, sobrevive àguerra e junto à prima, porquem é apaixonado, cria umplano para matar o imperadorNapoleão Bonaparte. O planodá errado e Boris é executadopor guardas franceses. No en-tanto, já morto, após um últi-mo encontro com a primaSonja, o personagem afirmaem um monólogo que “o se-gredo aqui é não pensar namorte como um fim, mas pen-sar na morte como uma ma-neira eficaz de diminuir assuas despesas”. Woody Allencria uma piada enquanto afir-ma que por ser algo inevitá-vel, a morte não deve ser tãolevada a sério.

Diferindo um pouco doponto de vista do cineastanorte-americano, JosemarMaciel argumenta que a mor-te tem sido vista na filosofiacomo “um momento existen-

cial muito importante quequalifica a vida desde os filó-sofos gregos”. Em um diálogoescrito por Platão, um jovempergunta a Sócrates, como deveviver um filósofo, ao queSócrates responde que um filó-sofo deve viver para a morte.Na interpretação feita desse tex-to, Josemar explica que Sócratesqueria dizer que o filósofo de-veria se preocupar com os pon-tos mais sólidos na existênciahumana. “Então, a morte é vis-ta como uma ferramenta que anatureza lhe dá, como umaperspectiva pra você relativizartudo na sua vida.”

Contudo, essa forma de vera morte não é capaz de apla-car o medo que se tem do fimda vida. Isabel Benites, acadê-mica do curso de Letras daUniversidade Federal do MatoGrosso do Sul (UFMS), alegaque apesar de não pensar mui-to no assunto, tem medo damorte, pois acredita que seráuma experiência dolorosa. JáDulce Spadrizzano, terapeuta,praticante do zen-budismo há10 anos, afirma que a mortenão é nada além de uma pas-sagem para outro estágio davida. “Simplesmente não háperda o que há, na verdade, ésó uma mudança de plano. Oque existe e dói muito é sau-dade de alguém que partiu”,conclui Dulce.

É diante das incertezas emrelação à morte que surgem asreligiões, afirma Josemar. “En-tre outras coisas, a religião,qualquer religião, é uma ferra-menta pra se começar a pen-sar e resolver de forma mitoló-gica ou praticante, uma posi-ção diante da morte”.

Enquanto conversava sobrea morte com minha namora-da, a estudante DanielaRoncisvalle, ela afirmou que asreligiões são uma tentativa daspessoas encontrarem um ca-minho para apaziguar as do-res provocadas, entre outrascoisas, pela morte.

– A religião surge, em umprimeiro momento, como umaforma de lidar com a morte. Aspessoas buscam em Deus umaforma de alívio. Ou você vaireencarnar ou vai ter vida eter-na em algum lugar – argumen-tei.

– Os muçulmanos vão proparaíso onde vão ser servidospor virgens - completouDaniela.

– A morte sempre prometeser melhor que a vida – foi amelhor frase que consegui cri-ar.

Mas isso não faz as pessoasquererem ou perderem o medode morrer, finalizou Daniela eriu.

Josemar explica que apesardas religiões oferecerem diver-sas explicações para o queacontecerá depois da morte,tudo não passa de alegoria. Naspalavras do professor, “nin-guém tem idéia do que vaiacontecer e é disso que provémo medo da morte”.

Como única certeza namorte, resta apenas a frase dofilósofo existencialista francês,Jean-Paul Sartre. “A morte é acontinuação da minha vidasem mim”.A r t e - Obra do pintor Francisco Goya representa Saturno devorando o próprio filho. A morte serve de inspiração para as diversas artes

Terapia do ócio auxilia saúde e alavanca criatividadeThayssa Maluf

Todos nós precisamos deum tempo para reorganizar asidéias. Por exemplo, recapitu-lar o ano que se foi, o que deucerto, o que deu errado, o queaprendemos com os tombos etropeços. Pensar em novas ex-pectativas e metas, fazer coi-sas diferentes, sonhar, dese-nhar, escrever, moldar, costu-rar, criar, ficar em estado deócio, em estado de graça. Usan-do uma linguagem cibernéticadar um boot! Deletar antigasmanias e restaurar o sistema.

Não fazer nada, relaxar, fi-car “zen”, é muito bom parasaúde física, emocional e men-tal. Uma prazerosa dose de ina-tividade pode ser uma terapia.Alguns psicólogos pensam queo ócio é necessidade básica dohomem, assim como comer, terrelações sexuais, beber, ficaralerta ou se auto-afirmar.

Para o psicólogo WagnerMassaranduba, o tempo livre éum marco para se abandonar

ao puro lazer. “O fato de nãofazer nada é um exercício decriatividade, porque consisteem fazer o que dá vontade emuma pessoa, ao contrário doque é imposto ou proposto poroutros como no trabalho, porexemplo”, afirma o psicólogo.

Algum dia você já tentounão pensar em nada? É engra-çado, não dá para não pensar,desligar o cérebro completa-mente e viajar no infinito va-zio da mente. Os humanos nãotêm essa capacidade, é impos-sível fisiologicamente falando.A cabeça está sempre ativamesmo quando está em totalrepouso, sempre estamos pen-sando ou fazendo alguma coi-sa, mesmo sem trabalhar e semestar produzindo absoluta-mente nada.

“O meu ócio vem quandoestou no banheiro, é o momen-to onde eu tenho grandes idéi-as, é até engraçado meu óciotem nome e tudo são os pen-samentos de banheiro” relata abancária Geysa de Castro que

diz não ter tempo para relaxare despertar a sua criatividade.

Qualquer um pode fazerdurante o relaxamento as coi-sas que quiser, como ver TV,escutar música, assistir um fil-me no cinema, ler, arrumar oquarto, passear, ou até mesmofazer compras, a única finali-dade é relaxar e fazer o quevocê está fazendo de uma ma-neira tranqüila, prazerosa edivertida.

Segundo Massaranduba,quando o cérebro registra quehaverá um tempo livre erelaxante, o corpo produz umasensação de prazer e tranqüi-lidade prévia, como se já vives-se uma situação de ócio. Amente e o corpo descansamantecipadamente.

Existe ainda um tipo detempo livre que é chamado de“ócio criativo”, onde o traba-lho e lazer se misturam paracriar um ambiente de bem-es-tar, nesse caso trabalho, jogo eaprendizado andam lado alado.

“Eu gosto de trabalhar emcasa, para mim foi a melhorcoisa que aconteceu, eu tenhoum prazo para entregar meutrabalho, a forma que eu dis-ponho meu tempo é um crité-rio meu, eu só não posso pisarna bola com meu chefe”, afir-ma o cientista da computação,Jorge Homero Gomes que hádois anos trabalha sem ir àsede da empresa.

L a z e r t e r a p ê u t i c oPara que o ócio seja saudá-

vel, você não pode sentir-seculpado por perder tempo. Épreciso entender estas folgascomo um investimento na pró-pria saúde mental e concen-trar-se nas próprias sensações.

“Eu era bem inativa, quan-do eu comecei a fazer yoga sen-ti aquele cansaço que eu sentiaantes desaparecer, eu tambémtinha uma postura bem incor-reta, a velhice foi embora é omeu momento, o momento derefletir”, conta a aposentadaEronildes Venâncio, de 65

anos, que pratica yoga há cincoanos.

Então, que tal formatarsua memória RAM e passarum antivírus na preguiça, naindisposição e na moleza?

Atualize seu sistema com no-vos programas como ânimo,disposição e bom humor, afi-nal ser deixado para trás nes-sa era cibernética é fácil, fá-cil.

Foto: www.wikipedia.com.br

Thayssa Maluf

Tente não fazer nadapelo menos por 30 minu-tos no dia, você irá se sen-tir bem melhor, descan-sado e sem estresse. Vejaalgumas dicas do psicólogoMassaranduba que podeajudar você a ter o seu mo-mento de ócio:

-Quando estiver relaxa-do, deixe a mente livre e sempressão, você descobrirá op-ções e terá idéias fantásticas.

-Sempre estamos cheiosde problemas, as pessoaspassam muitas vezes e nemnotamos, até mesmo mem-bros da nossa família. Quan-do saímos da pressão, da-mos conta do que ficou de

lado. Sua relação com o pró-ximo será bem melhor.

-Após ter um descansoapropriado, o seu organis-mo pedirá mais atividades,você enfrentará as novas ta-refas com mais vigor e teráenergia.

Com essas dicas pode-mos refletir, fazer uma for-ça e arrumar um tempo paranós mesmos, não é só umaquestão de descanso, massim de saúde.