Lina Nertby Aurell e Mia ClaseM E L H O

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O PRATO-MODELO DE PLATÃO

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ANTES DE COMEÇARMOS A APROFUNDAR os nossos conhecimentos sobre fl oras intestinais e infl amação, vamos falar-lhe de Platão (ou melhor, a Lina vai falar-lhe e Platão; a Mia está a aproveitar a oportunidade para pintar as unhas).

Platão nasceu em Atenas algumas centenas de anos antes de Cristo. Foi um fi lósofo, matemático e escritor grego, e o fundador do platonismo, que em muito contribuiu para o pensamento ocidental. Um exemplo do mérito de Platão é o idealismo, que está, hoje em dia, na base de grande parte da fi losofi a matemática. Sim, como pode constatar, Platão dominava várias áreas.

O pilar do sistema fi losófi co de Platão dá pelo nome de teoria das ideias. A teoria das ideias de Platão consiste em dois mundos: 1) o mundo das ideias (a ideia perfeita); 2) o mundo dos sentidos (a realidade). Segundo a teoria das ideias de Platão, nada pode existir no mundo dos sentidos (na realidade) se não existir uma ideia perfeita sobre essa coisa no mundo das ideias.

Exemplo:Quando passa por uma horta e vê uma batata, pensa “batata” (se isso não acontecer, procure um oftalmologista). Ainda que a batata esteja verde e cheia de rebentos, vai ter a certeza absoluta de que se trata apenas de uma batata. De acordo com Platão, isto acontece porque existe uma batata perfeita no mundo das ideias que todas as batatas no mundo dos sentidos aspiram a ser, e então reconhecemos uma batata, mesmo que seja velha e engelhada.

– Mas, querida Lina, o que tem uma batata velha que ver com este livro?

Mia roda a tampa do verniz e sopra para as unhas. Lina olha para ela.– Espera, já chego ao que interessa.

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Platão estava mais interessado em matemática, política e fi losofi a do que em batatas, mas achamos relevante traçar aqui um paralelismo com a comida, para estabelecermos uma ligação. De uma forma simples, poder-se-ia dizer que a investigação e os dados científi cos apresentados neste livro constituem o mundo das ideias, e que nós, os nossos fi lhos – que se recusam a comer – e os nossos desejos são o mundo dos sentidos. Há um objetivo idealizado, mas há também uma realidade, à qual nos rendemos.

Digamos, por exemplo, que todas as investigações atuais sobre alimentação demonstram que a nossa fl ora intestinal fi ca o mais feliz possível se comermos 10 kg de verduras todos os dias. Poderíamos, nesse caso, chamar-lhe o prato-modelo de Platão, a ideia do prato perfeito. No mundo das ideias comemos sempre 10 kg de verduras por dia, mas no mundo dos sentidos pode ser um pouco mais difícil fazê-lo. Para começar, a maioria de nós achará bastante aborrecido e difícil comer 10 kg de verduras todos os dias, e, mesmo que se ambicione concretizá-lo, pode não se estar na época da couve ou esta pode ter esgotado no supermercado. Por outro lado, temos sensações – pode até ter uma bela sopa, só que os seus sentidos dizem-lhe para, em vez disso, comer um bolo apetitoso. O seu olfato leva-o a sentir fome perante o odor do pão quente. O som de alguém a tirar a rolha de uma garrafa de vinho lembra-lhe férias e descontração. E pronto, comeu uma grande fatia de bolo, devorou uma baguete e bebeu vários copos de vinho francês – embora nada disso esteja relacionado com o prato-modelo de Platão.

Mia ergue os olhos das suas unhas pintadas de rosa-coral.– Que bem que sabe um copo de vinho…– Sim, e acabei de o dizer! O mundo das ideias de Platão contém

o que não é perfeito no nosso mundo dos sentidos. É mais do que natural que se caia em tentação. Como seria a vida se isso não acontecesse?

Faz-se um longo silêncio. Ouvimos um carro passar na rua.

Antes de começarmos a escrever no blogue sobre fl ora intestinal e infl amação, estávamos: 1) completamente à mercê das nossas sensações; 2) prestes a tornar-nos hipocondríacas. Assim que sentíamos o cheiro a cardamomo, devorávamos um par de bolos sem pensar duas vezes e, mal ouvíamos falar de uma fogueira,

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dirigíamo-nos ao local e púnhamos sobre as brasas uma espetada de marshmallows. Depois, chegávamos a casa, ligávamos o computador e líamos como, por todo o mundo, as doenças aumentam, como o açúcar é mau para os nossos fi lhos, que comemos de longe menos fi bras do que as necessárias, que se morre só de olhar para uma fatia de bacon e que todos os suecos terão cancro em 2050. Parecia-nos que a vida era toda ela uma grande lotaria no que diz respeito à saúde, restando-nos apenas fechar os olhos e fazer fi gas para que nós ou alguém nosso conhecido não adoecesse.

Porém, começámos a ler e, quanto mais líamos, mais nos libertávamos da nossa angústia. Sabe porquê? Porque a ciência criou um objetivo para o qual podemos rumar e que contribui para uma menor ansiedade. Apercebemo-nos, lenta mas progressivamente, de que, apesar de tudo, talvez não sejamos em grande parte uma lotaria quanto à saúde. Existe, na verdade, uma bússola que podemos seguir. Mas sentíamos a vontade latente de, subitamente, comer algo com os nossos sentidos assim que tal se proporcionava. “Eh lá, já há 15 dias seguidos que comes bolo ao jantar. Isto não faz lá muito bem à fl ora intestinal.”

O nosso raciocínio é:1 Algures lá fora existe um prato perfeito (mundo das ideias).2 Sabemos que nenhuma das refeições que teremos até ao fi m das nossas vidas corresponderá ao prato perfeito (o que não faz mal, uma vez que nos encontramos no mundo dos sentidos).

3 No entanto, tentamos alcançar o prato perfeito da melhor maneira possível.

A investigação apresentada neste livro não é, por outras palavras, uma religião que deverá seguir de forma servil. É um mundo das ideias que podemos guardar no nosso consciente enquanto atravessamos o normal mundo dos sentidos cheio de crianças céticas, guloseimas, estômagos irritantes, sensações de fome, corações partidos e um sistema de recompensas.

Convém também recordar que isto não é a verdade absoluta. Se tivéssemos reunido na mesma sala todos os médicos, investigadores e jornalistas que entrevistámos e nos inspiraram, concordariam em diversas coisas, mas também discordariam em

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tantas outras. Depende da posição. A investigação sobre a fl ora intestinal está ainda nos seus primórdios. Contudo, esperamos que este livro transmita a imagem de como a alimentação infl uencia a fl ora intestinal e qual a direção para a qual se dirige a investigação.

Pesquisar acerca da fl ora intestinal e da infl amação foi divertido e, ao mesmo tempo, trabalhoso. Divertido porque, na maior parte dos casos, é muito lógico e é bom perceber que podemos infl uenciar tantas coisas em nós próprios. Trabalhoso porque, bem, nos sentimos frustradas ao perceber que muito do que grande parte de nós come diariamente nos deixa doentes física e psicologicamente. Vivemos num mundo que perdeu por completo a capacidade de caminhar, e, na sua busca por comida mais barata de produzir, a indústria alimentar tornou--nos dependentes de coisas para as quais o nosso corpo não foi criado: alimentos processados pobres em fi bras, antioxidantes e minerais e cheios de açúcar, pesticidas e gorduras más. Tudo isto combinado com uma enorme oferta de comida rápida péssima levou-nos à primeira geração de humanos de toda a História que literalmente se mata a comer.

No entanto, temos de pensar que os nossos corpos são fantásticos. Com a ajuda da fi losofi a de Platão, percebemos que temos apenas um conhecimento aproximado daquilo que o corpo precisa e que tratamos de o encher com muita comida todos os dias. Escolha algumas das receitas no livro e comece a confecioná-las com intervalos de tempo regulares, para que entre no bom caminho. Concentre-se mais naquilo que deve dar ao corpo do que no que excluir, e o resto surgirá por acréscimo. No mundo dos sentidos, não nos angustiamos por devorar um cone de gelado ou uma margarita. É certo que isso não fortalece a nossa fl ora intestinal, mas se há coisa que aprendemos é que a fl ora intestinal não se dá bem com a ansiedade. Propomos abandonar o stresse relacionado com a saúde e a consciência pesada de uma vez por todas!

– O que dizes, Mia, que tal passarmos a uma pequena bebida de boas-vindas?

Mia levanta-se e ajeita as calças.– Claro que sim!

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1 dl de sumo à escolha (se for hardcore, pode utilizar água)

1 colher de sopa de curcuma

¼ de colher de chá de pimenta--preta em pó

1 colher de chá de canela em pó

uma pitada de cravo-da-índia

1 colher de sopa de vinagre de sidra

1 colher de sopa de azeite

1 colher de sopa de sumo de limão

Confessamos que provámos bastantes shots ao longo dos anos, mas jamais bebemos um com este sabor. O shot foi criado pelo professor Stig Bengmark, que o bebe todos os dias.

Prepare-o misturando todos os ingredientes e beba-o uma a duas vezes por dia. Saúde!

O organismo pode ter alguma difi culdade em aceitar a curcuma, por isso, é melhor tomá-la juntamente com pimenta-preta, malagueta ou pimenta--de-caiena, que auxiliam a ingestão.

SHOT DE BOAS-VINDAS

DA FOOD PHARMACY

(1 copo)

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Favorito n.º 1 da Food Pharmacy

CURCUMA

Se alguma vez tivermos o prazer de nos encontrarmos, pode sentir-se à vontade para dar uma olhadela às nossas mãos amarelas. Em relação à cor, há apenas duas conclusões possíveis a tirar: 1) somos grandes viciadas em nicotina; 2) adoramos curcuma. (*Ver a resposta mais abaixo.)

A curcuma é uma das especiarias com maior poder anti--infl amatório. Um dos genes que mais produz a infl amação é o COX-2 e, nos anos 80, os investigadores procuraram um medicamento que o inibisse. Até hoje, todos os medicamentos desenvolvidos para inibir o COX-2 demonstraram ter diversos efeitos secundários. A curcuma, contudo, provou ser um inibidor do COX-2 potente e não-tóxico.

O professor Stig costuma dizer que a curcuma contém toda uma pequena equipa de futebol com fortes antioxidantes inibidores da infl amação, os curcumenoides, e que o Zlatan Ibrahimovic da equipa se chama curcumina. Como os antioxidantes da curcuma jogam em equipa, os outros antioxidantes são também necessários para marcar golos.

Pode ser difícil encontrar curcuma fresca. Adoramo-la tanto fresca, quanto em pó!

* A resposta certa é, claro, a opção 2) adoramos curcuma.