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Lynn e a Tríade MalditaVolume 1Ano: 2007

Cláudia Banegas

LYNN E A TRÍADE MALDITA

Volume 1

Copyright © Cláudia Banegas

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Sumário

ApresentaçãoDedicatóriaCapítulos:

1º Capítulo – O Início de Tudo

2º Capítulo – As Três Irmãs

3º Capítulo – A Origem da Linhagem

4º Capítulo – A Floresta Encantada

5º Capítulo – Maldades

6º Capítulo – Os Flamejantes

7º Capítulo – Os Lobos Guardiões

8º Capítulo – A Ira da Tríade – parte 1

9º Capítulo – A Ira da Tríade – parte 2

10º Capítulo – O Início do Fim

Biografia eInformações Finais

Apresentação

“Lynn e a Tríade Maldita” é o primeiro volume de

uma série que conta as aventuras de uma moça normal, que

se vê, repentinamente, envolvida no mundo da magia e do

encantamento.

Fadas, gnomos, bruxas, objetos mágicos, um mundo

de fantasia criado especialmente para você.

Boa leitura!

1º CapítuloO Início de tudo

Já era tarde.Lynn mal colocara o pé na escada do prédio, quando

ouviu chamarem seu nome.Estava muito cansada, pois nos últimos dias, não

conseguira dormir bem. Seu trabalho como uma das recepcionistas de um hospital da cidade, vinha exigindo toda a sua concentração. Estava exausta.

Seria até normal, àquela altura, ouvir coisas.Olhou para os dois lados da rua, mas não havia

ninguém. Rapidamente, enfiou a chave na fechadura e girando-a, abriu o portão, entrando no prédio, sem olhar para trás.

Sentiu um pouco mais de frio do que o normal, enquanto se dirigia até seu apartamento, no qual morava sozinha há apenas duas semanas.

Localizado no primeiro andar, o novo lar era bem aconchegante. Um tanto quanto pequeno, mas acolhedor. Ela mesma estava cuidando da decoração, mas algumas caixas ainda permaneciam fechadas, por absoluta falta de tempo.

As razões da mudança foram muitas, entre elas e talvez a principal, foi o fato de ter perdido a mãe recentemente. Ainda estava muito abalada, pois agora

estava sozinha no mundo. Seu aniversário seria no dia seguinte, mas não haviam razões para comemorar.

Uma das recepcionistas do hospital adoeceu subitamente e Lynn passou a cobrir dois turnos. A direção do hospital prometeu colocar uma substituta ainda naquela semana, o que faria seu horário voltar ao normal, mas já era quinta feira e nada havia mudado.

“Quem sabe, amanhã?” – Lynn se pergunta baixinho.Jogou a bolsa em cima do sofá, pendurou as chaves

e se arrastou até o banheiro. Olhando-se no espelho, notou olheiras recentes que teimavam em aparecer, mesmo disfarçadas pela maquiagem.

“Estou ficando velha...”Puxou as cortinas, e em seguida abriu as torneiras da

banheira.“O que eu preciso agora é de um bom banho quente.”Jogou suas roupas em um cesto e se vestiu com um

velho roupão azul. Enquanto o amarrava na cintura, ouviu um barulho na sala.

“Ah, meu Deus...será que eu não tranquei a porta da sala?”

Prendeu os longos cabelos castanhos em um coque acima da cabeça, e bem devagar, saiu do banheiro. No corredor, pegou uma sombrinha rosa metálica que estava no suporte. A ponta bem fina, ao menos, poderia ser usada como arma de ataque, isso se a cor da sombrinha não matasse de susto antes, o suposto invasor.

_ Quem está aí?

Lynn mal pôde acreditar no que estava vendo. No meio da sala, sobre o tapete, estava um gato.

Ele era malhado, tinha olhos azuis e parecia muito cansado. Ele a observava fixamente, balançando o rabo.

_ Ei! Como você entrou aqui? – perguntou Lynn, indo verificar as janelas, um pouco aborrecida. Constatou que elas ainda estavam fechadas por dentro.

Foi até a porta e rodou a maçaneta. Também estava trancada. Lynn ficou intrigada.

_ Só me faltava essa...por onde foi que você entrou? Lynn destrancou uma das janelas e a suspendeu. Um

ar frio entrou, movendo as cortinas._ Vamos, vamos! Você tem que ir embora...vai pra

sua casa, vai!O gato, que estava deitado, levantou-se, e ao invés

de saltar pela janela afora, como Lynn esperava, foi se deitar no sofá. Parecia decidido a não ir embora.

“Ah, não, só me faltava essa...”_ Você realmente não parece querer ir embora, não

é? Tudo bem...eu mesma ponho você lá fora, vamos...Antes que pudesse dar sequer um passo em direção

ao animal, o gato falou com ela:_ Lynn, eu não posso ir, não tenho escolha...Eu não

vou embora até você me ajudar.Aquilo era demais, o gato falava!Lynn estava paralisada. A boca, entreaberta._ E-eu...e-eu preciso de um psiquiatra... É, é isso...um

médico, eu preciso de um médico, eu tô muito mal...

Soltando a sombrinha no chão, ela volta ao banheiro, para se olhar no espelho, mais uma vez.

_ Ah, meu Deus...eu enlouqueci...definitivamente, enlouqueci...

O gato a acompanha até o banheiro e subindo agilmente no cesto, fica ao lado dela, na pia:

_ É...você tem mesmo umas olheiras profundas aí...mas eu nunca soube que olheiras provocassem loucura...fique tranqüila, isso é só cansaço.

Lynn olha para o gato, ainda incrédula._Vamos fazer o seguinte: você toma o seu banho

quente enquanto eu vou explicando tudo...o que acha?_ Eu enlouqueci?!_ Não, Lynn, você não enlouqueceu. Se bem que do

jeito que trabalha, não seria novidade você surtar, de vez em quando...sua ancestral era meio maluca, sabia?

_ M-minha ancestral?_ Isso mesmo. Eu não tive escolha, fui enviado até

você e não posso ir embora até que você me ajude. Seu mundo, sua vida, podem deixar de existir, se você não me ajudar.

_ Hã...já sei! Cheguei em casa tão cansada que dormi...é, é isso mesmo, isso é só um sonho...amanhã eu vou acordar e tudo vai estar do mesmo jeito que antes...

O gato suspira, revirando os olhos:_ Olha, eu esperava não ter que fazer isso, mas você

não me deixa escolha...Pondo as garras da pata esquerda para fora, o gato

com um movimento rápido, arranha o braço de Lynn.

_ Aaaii!_ Se você estivesse sonhando, isso não teria doído,

não é mesmo?Lynn leva a mão ao ferimento._ Seu gato maluco! Você é que é doido, entrando

assim na casa das pessoas, sem ser convidado, falando ainda por cima e sendo agressivo!! Que tipo de doença você tem?!

Ela pára._ Espera...eu estou falando com um gato que não

existe e a minha dor é psicológica. Isso é só um sonho, aliás, sonho não! Isso é um pesadelo! O pior disso tudo é que amanhã, com certeza, eu vou acordar com enxaqueca...que droga!

Lavando o braço, Lynn borrifa antisséptico sobre o arranhão.

_ Nem sei porque estou fazendo isso...não é real...O gato pula do cesto para o chão._ Sabe, Lynn, estamos perdendo tempo e tempo é o

que temos de menos pra perder...se você ao menos me ouvisse...

_ Hã...está bem...se isso é mesmo um sonho, é porque eu estou dormindo e se eu estou dormindo, não vai fazer diferença o que você vai me dizer, não é mesmo?

_ Podemos voltar para a sala, por favor? Você deixou uma das janelas abertas...

Lynn volta com o gato até a sala. Fechando a janela, ajeita as cortinas e senta-se no sofá.

_ Com certeza, esse é o sonho mais esquisito da minha vida! Pode falar, eu estou ouvindo...

O gato sobe no sofá e começa a se explicar:_ Bom, na verdade eu não sou um gato, quer

dizer...sou, mas não de verdade. Hmm, eu acho que confundi você, vou começar de novo...

Lynn tem a leve sensação de que aquela seria uma noite longa...muito longa....

2º Capítulo As três irmãs

Sentada no sofá, Lynn mal podia imaginar que daquela noite em diante, sua vida nunca mais seria a mesma.

Em sua mente, circulavam dois pensamentos: ou estava louca e seria internada para o início de um longo tratamento ou não estava louca, mas sim vivendo um surto psicótico, causado por excesso de trabalho.

“Como é possível um gato falar? Eu já vi gato falante, mas só em desenhos e filmes...na verdade, em desenhos e filmes até chaleiras falam...mas na vida real, gatos não falam, gatos miam...!”

_ Lynn, o que eu estou tentando te dizer é que agora, eu sou um gato, mas na verdade, não é o que eu sou. Eu estou debaixo de um encantamento e só você pode me trazer de volta à minha forma original.

_ Talvez eu me arrependa de perguntar...mas...qual é a sua forma original?

_ Eu sou um silfo, um Elemental do ar. Nosso povo habita nas montanhas. Meu nome é Spynk e tenho alguns poderes. Posso criar desde suaves brisas até o mais violento dos furacões, quer dizer, podia quando eu ainda não era gato. Sua ancestral e as irmãs dela me amaldiçoaram.

_ Elemental do ar? Nunca ouvi falar...mas de que forma eu poderia ajudar? Não sou bruxa, não tenho nenhum poder especial..

Spynk pula do sofá para o tapete e andando de um lado para o outro, começa a contar sua história:

_ Você está enganada... Vou tentar responder a todas as suas perguntas de forma que você entenda. Vejamos, as do sexo feminino do nosso povo são conhecidas por vocês, humanos, como fadas, ou sílfedes.

_ Fadas! Nossa! Elas existem mesmo?!_ Sim, Lynn. Existem muitas coisas que você vai ver

ainda com seus próprios olhos, acredite...quanto à sua ancestral e as irmãs dela, vou te contar uma história: havia uma aldeia perto de uma grande floresta e todos os humanos de lá conheciam Becky, Lizzie e Emily. A casa delas era a mais linda de todas. Becky fazia tortas de frutas que enchiam os olhos de qualquer um; seu dom era cozinhar. Nada era difícil para ela e a cada dia, se aprimorava mais e mais...Emily na cozinha era um desastre, mas costurava como ninguém. Seus vestidos eram os mais lindos de todos. Com destreza, criava suas próprias roupas, dignas de uma rainha. Já a Lizzie...era bem...diferente...

_ Diferente...? Diferente como?_ Diferente...sempre observando as irmãs, quase não

falava. A cidade toda as admirava. Eram muito queridas e invejadas pelas menos afortunadas, pois eram muito lindas. Só de olhar para elas, um homem tinha o seu coração derretido...

_ Mas e o que o seu povo têm a ver com tudo isso?

_ Eu fiquei curioso e queria vê-las, mesmo sabendo que era proibido.

_ Proibido? Por que?_ Paralda, a rainha, líder do nosso povo nos proibiu

de qualquer tipo de aproximação com as três irmãs. Ela disse que o nosso povo só sobreviveria se elas se mantivessem longe de nós, mas nunca explicou direito o motivo...era proibido e pronto.

Lynn se ajeita no sofá._ Que estranho..._ Muito...por isso mesmo, eu fiquei ainda mais curioso

e então, uma noite, saí do nosso esconderijo bem tarde, e voei até a casa delas, no meio da floresta de Larken.

_ Esconderijo? Por que viviam escondidos? E voou? Como assim, voou?

_ Não vivíamos propriamente escondidos, só dos humanos...eles não acreditariam que somos pacíficos e nos veriam como uma ameaça, como vêem tudo o que não entendem. Poucos nos aceitam e acreditam em nós. E Lynn...qual parte do “voou” você não entendeu?

_ Você disse que voou até a casa delas...então, você tem asas?

_ Sim, claro! Quer dizer...tinha...Temos dois pares delas. Quando um de nós nasce, as asas são bem encolhidas e é necessário muito esforço para esticá-las por completo. Se forem danificadas, fica impossível voar.

_ Vocês se parecem então com borboletas?

_ É claro que não! - Spynk levanta do tapete e dá duas voltas ao redor de si mesmo - _ Borboletas são insetos! Nós não somos insetos, somos elementais do ar!!

_ Calma, calma, foi só uma pergunta...esqueceu que eu não sei de absolutamente nada do seu mundo?

_ Você tem razão, desculpe. A propósito, você não teria leite na geladeira, teria?

_ Leite? Tenho sim, por que?O gato ronrona._ Por favor, poderia providenciar um pouquinho?

Minha garganta está seca de tanto falar..._ Certo, está bem...eu já volto, não saia daí.Ela olha o gato, que rola no tapete, parando de

barriga para cima.“Não saia daí...humpft! Até parece que esse gato vai

a algum lugar...”Lynn vai até a cozinha, pega o leite e derrama um

pouco na tigela para cereais. Voltando à sala, encontra o gato em cima da estante de madeira, admirando um porta-retrato.

_ Linda foto, Lynn...sua mãe era muito bonita!_ Ei! Como sabe que é a minha mãe?!_ Ela se parece muito com a Lizzie...você também se

parece com ela. Sua mãe já morreu, não foi?Lynn deixa a tigela no chão e volta a sentar no sofá._ Não quero falar sobre isso._ Desculpe.Spynk pula e corre até a tigela, bebendo o leite com

vontade.

_ Estava mesmo com sede, não é?Lambendo os bigodes, ele se dá por satisfeito._ Com certeza! Desde que me vi nessa forma, só

bebo leite e como frutas. A idéia de me alimentar de qualquer forma de ser vivo está absolutamente fora de questão!

_ Bem, então por que não continua a história agora...? Me conte o que aconteceu.

_ Certo...como eu dizia, voei até lá e me escondi perto de uma das janelas. Havia luz de velas, então deduzi que talvez elas estivessem acordadas, e eu a poderia vê-las, mas o que eu vi desejei nunca ter visto. Paralda tinha razão.

_ E o que foi que você viu? _ Havia uma fresta na cortina e por ela, eu as

vi...todas três. Bruxas horrendas, corcundas, com deformações no rosto e nas mãos. Cada uma tinha nas mãos um bastão mágico.

_ Uma varinha?_ Não, varinhas são para fadas boas. Os bastões são

usados pelas bruxas más. São feitos de uma madeira mística, muito poderosa. Becky estava lá, balbuciando feitiços enquanto bolos eram feitos em segundos. Tortas, doces e compotas de vários tipos surgiam do nada. Emily fazia o mesmo, e as tesouras, agulhas, linhas e tecidos davam forma a vestidos principescos. Lizzie traçava desenhos no ar e à sua frente, folhas eram escritas, sem mãos...era assim que encantavam o povo da aldeia. O pior de tudo foi descobrir a verdadeira aparências das três.

_ Nossa, que horrível... e você ainda afirma que uma dessas bruxas é minha...ancestral? Como?

O gato prossegue o relato, tão concentrado que não ouve a pergunta de Lyyn.

_ Fiquei tão assustado que não consegui me mover até quase o amanhecer. Um pouco antes do nascer do sol, as três assumiram a forma humana, guardaram os bastões mágicos e foram dormir. Voei de volta o mais rápido que pude, mas quando cheguei, Paralda já me aguardava. Por tê-la desobedecido, fui expulso. Minha acusação: colocar em perigo real toda a minha espécie. Não adiantaram os meus argumentos.

_ Nossa, ela foi muito radical..._ Não, Lynn...Paralda tinha razão. O pior ainda estava

por vir...

3º CapítuloA Origem da Linhagem

Já era madrugada.Lynn não aparentava ter sono, muito menos o gato._ Me conta como você veio parar aqui..._ Calma... eu chego lá... continuando a história, todo

silfo escolhe um humano para acompanhar. Quando um silfo acompanha um ser humano, o alivia da dor e do sofrimento, estimula sua inspiração e o torna mais criativo. Então, mesmo banido, fui até a aldeia e escolhi Yan, um camponês. Ele era muito gentil, prestativo e tinha um bom coração. Eu o acompanhava onde quer que ele fosse, mas ele não podia me ver. Humanos não vêem os seres elementais, a não ser que estes queiram ser vistos. Você já ouviu falar da expressão “bons ventos o trazem” ?

_ Já sim, por que?_ Nós somos os causadores desse ditado. Quando

você sentir uma brisa doce e suave, pode acreditar...nós estamos por perto!

Spynk demonstra orgulho ao falar do seu povo, mas em segundos sua feição fica séria novamente.

_ Tudo ia muito bem até que um dia, uma coisa terrível aconteceu. Lizzie foi enviada à aldeia, por suas irmãs, para vender os bolos, os doces, as compotas e os vestidos. Ela chegou em uma carruagem puxada por

cavalos. Logo, foi cercada pelo povo e os produtos foram vendidos em pouco tempo. Yan se aproximou e assim que a viu, apaixonou-se por ela, à primeira vista. Perguntou-lhe se não tinha medo de voltar para a floresta sozinha, com tantos ladrões a solta ao cair da noite, tendo em vista tudo ter sido vendido e a um ótimo preço.

“Não se iluda, camponês, não sou tão indefesa quanto aparento.” - ela respondeu. Subindo na carruagem, fez a volta com os cavalos. Poucos metros à frente, ela virou-se:

“Eu agradeço a sua preocupação.” Sem mais demoras, pois a tarde caía, ela se foi, deixando Yan enfeitiçado com a sua beleza. Parecia que ele não tinha mais nada na cabeça a não ser a imagem daquela mulher. Não muitos dias depois, ela retornou à aldeia, com mais mercadorias e mais uma vez, tudo foi vendido. Quando se preparava para ir embora, Yan falou com ela:

“Esperei tanto vê-la novamente e já está de partida?”

“Eu venho vender nossas mercadorias, camponês e se tudo está vendido, nada mais me prende aqui.”

“Deixe que eu me apresente...meu nome é Yan, filho de Larkan, notório marceneiro da aldeia de Lore.”

“Prazer em conhecê-lo, Yan, filho de Larkan. Eu sou Lizzie...Elizabeth Belt.”

Pela primeira vez, Lizzie prestou atenção nele e quando os seus olhos se encontraram, senti uma energia no ar.

_ Que romântico! - Lynn suspirava._ Não se anime, a história deles não teve um final

feliz. O tempo foi passando e as vindas de Lizzie à aldeia ficaram mais constantes. Ela vinha um pouco mais cedo para que depois de vender todas as mercadorias, ainda sobrasse tempo para conversar com Yan. Um vínculo foi criado e o amor dele por ela aumentava cada vez mais. Mas ela não o amava, ela não amava ninguém. Eu fiz de tudo para que ele a esquecesse, mas não tive sucesso. Então, certo dia, ele a convidou para visitar sua casa, nas montanhas. O convite foi aceito, mas o que ela não sabia é que suas irmãs a monitoravam, designando um espião, para vigiá-la.

_ Um espião?_ Sim, Devory, um gato negro. O que ele visse, elas

veriam e o que ele sentisse, elas sentiriam. Ele acompanhou o casal, e de forma astuta arrumou um jeito de observá-los pela janela e o que ele viu, deixou as irmãs de Lizzie furiosas. Já entardecia, quando Becky e Emily pegaram seus bastões mágicos e montadas em suas vassouras, partiram em direção à montanha. Estavam cheias de ira, o coração enegrecido de cólera. Quando chegaram ao seu destino, faltava pouco para o pôr-do-sol. Dentro da casa, Lizzie não demonstrava preocupação, pois como suas irmãs estavam bem longe dali (assim ela pensava), não corria risco de mudar de forma na presença de Yan. Ao ver a chegada de suas donas, os grandes olhos amarelos de Devory brilharam de satisfação. A traição seria descoberta, graças à ele.

Spynk pára de falar por um momento, mas logo continua a narrativa:

_ Pressentindo o que ia acontecer, usei meus poderes para proteger Yan. Criei um vento muito forte, que levantou as folhas secas do chão, que por um tempo, encobriram as duas irmãs. Eu precisava agir rápido. Então, fiz o que achei mais certo no momento, me tornei visível. Eu disse: “Yan, você corre um grande perigo, saia daqui, agora!” - Acho que jamais esquecerei a expressão de espanto no rosto dele.

_ Eu posso imaginar...você tem um jeitinho bem especial de aparecer na vida das pessoas, não é mesmo?

Spynk parecia envergonhado._ O que eu podia fazer? Não havia tempo para

explicações. Quando me viu, Lizzie apertou os olhos; ela sabia quem eu era.

“Suas irmãs estão lá fora. Se quiser ver Yan vivo novamente, deve deixar que ele se vá agora!”

Quando ela me ouviu dizer isso, seus olhos se encheram do mais puro desespero, não porque se preocupasse com Yan, mas temia seu próprio destino. O sol acabara de se pôr e era tarde demais. Yan estava atônito, e antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa, a porta da casa explodiu em mil pedaços. No meio da fumaça, podia-se enxergar o vulto de duas mulheres, que aos poucos foram se transformando em criaturas terríveis. Sem escapatória, Lizzie também começou a se transformar, bem diante dos olhos de Yan. Ele ficou horrorizado.

“Elizabeth Belt, o que pensa que está fazendo?!”

“Becky...por favor, eu posso explicar...” Emily apontou o bastão mágico diretamente para o

meu protegido.“Emily, não!” A voz de Lizzie já não era doce, mas sim, sons

guturais que saíam forçosamente de uma laringe deformada.Becky estava descontrolada de ódio.“Elizabeth, você esqueceu o nosso acordo!

Nenhum, absolutamente nenhum tipo de contato físico com um humano é permitido! Como pôde?!”

“Rebecca...eu errei, me perdoe, não se repetirá, eu juro!”

A cena era trágica e foi então que Emily me viu. “Um silfo!” - sibilou entre os dentes podres,

apontando seus dedos tortos para mim. Becky grunhiu:“Silfo, avise à sua rainha que o nosso acordo com

o seu povo está agora desfeito. Paralda me garantiu que jamais iria intervir em nossas vidas. Você era o silfo pessoal deste humano, como pôde permitir que tal coisa acontecesse?”

Eu comecei a suplicar: “Não, por favor, não é o que está pensando, eu não pude ...” Minhas pernas fraquejaram naquele momento.

“Mentira! A ventania lá fora, foi você quem criou, tenho certeza! Queria nos impedir de entrar!” - Emily apertava o bastão mágico com tanta força que os nós dos seus dedos se tornavam mais salientes.

“Lizzie, a sentença por mim foi lançada!” - Becky bateu com o seu bastão no chão uma vez.

“Contra este humano, tenho uma acusação e para ele não há mais salvação!” - O bastão foi batido no chão pela segunda vez.

“Sua sentença: morte!” - o bastão toca o chão pela terceira e última vez.

A voz da uma bruxa foi a última coisa que Yan ouviu. Caindo ao chão, seu corpo se ressecou como o de uma uva passa. Todos os fluidos do seu corpo foram drenados, em segundos.

Lynn, a essa altura, mal conseguia piscar._ Quando me dei conta, elas olhavam para mim.“Quanto à você, Elemental intrometido... nunca

mais se esquecerá deste dia e do que nele aconteceu. FELLINUS SYLFIORUM INCORPORAE!”

No mesmo instante, virei um gato. Fiquei tão assustado que corri floresta adentro, sem olhar para trás. Corri por horas até que cai ao chão, exausto. Não aguentava mais correr. Então, ouvi uma voz me chamando, mas achei que estivesse delirando. Ouvi o chamado pela segunda vez, então tive a certeza que tinham me encontrado.

“Spynk, aí está você!” - era Poeva, irmã de Paralda. Sua pele branca contrastava com seus longos cabelos negros, que se moviam à mercê do vento. Suas vestes eram de um tom azul, claríssimo.

“As bruxas chamaram Paralda para uma reunião.” “Palandra não deve ir...eu...eu preciso impedí-

la...elas vão matá-la, vão matar a todos nós...” - Tentei levantar, mas não tive forças suficientes. “Estamos perdidos.”

“Não, não estamos... sempre haverá uma solução.” Nossa rainha foi à reunião e acabou capturada.

Poeva cuidou de mim por meses. De vez em quando, eu arriscava uns passeios na aldeia, mas os cães de lá não me aceitavam muito bem. Durante esse tempo, vi meu povo tornar-se escravo da Tríade. Era isso, ou destruição. Paralda teve que se submeter e não só ela, mas todos os outros Regentes.

Lynn não se aguentava mais de tanta curiosidade._ Mas e a Lizzie? O que aconteceu com ela depois?_ Depois que eu fugi pela floresta adentro, Becky e

Emily convocaram o Regente dos Elementais do fogo e ordenaram que ele e seus súditos incendiassem a casa de Yan, fazendo com que os aldeões acreditassem que ele morrera por acidente. Meses depois, aconteceu a pior desgraça. Lizzie descobriu que estava grávida. Desesperada, ela não sabia o que fazer. Foi com muito custo que conseguiu enganar as irmãs até o nascimento da criança, criança esta que ela não queria. Entretanto, se suas irmãs a descobrissem, o bebê não teria a menor chance e ela morreria também. Um dia, retornando da aldeia, suas dores de parto começaram. Sozinha, na floresta, exigiu a ajuda das sílfides, ameaçando Paralda de morte. Em meio a intensas dores, uma menina nasceu. Humana na aparência, mas em suas veias corria também o sangue bruxo. Como não podia retornar para casa com o bebê, Lizzie ordenou que as sílfides escolhessem um casal na aldeia, que não tivesse filhos, para que acolhessem a criança, que foi logo envolvida em panos limpos. As sílfides acharam um casal e

a criança foi deixada na porta dos pais de Yan. Eles ficaram maravilhados pois viram nisso um sinal, já que não se conformavam com a perda trágica de seu único filho. Você, Lynn, é descendente dessa criança. Todas as mulheres nascidas dessa linhagem ganham poderes no dia em que completam o 25º aniversário.

_ Aniversário? Nossa, eu tinha até me esquecido! Lynn olha para um grande relógio pendurado na

parede da sala._ Hoje é meu aniversário...está quase na hora do meu

nascimento...!_ Justamente, Lynn, por isso, cansada de ver os

Elementais sofrendo, Poeva me chamou. Se aproximou de mim e sussurrou algo em meu ouvido. “Agora vá e cumpra a sua missão.” Uma luz intensa me envolveu, dando forças ao meu corpo e quando vi, já estava aqui. Ela me mandou até você, porque entre várias gerações, você foi a escolhida. Eu não sei porque, só sei que você é aquela que irá destruir as bruxas e salvar o meu povo. De quebra, pode anular a minha maldição.

Lynn balançava a cabeça, negativamente._ Não, não, não e não...está maluco? Eu sou uma

pessoa normal, não tenho poderes! Além do mais, como eu poderia reverter essa situação? Estou vendo que no fim desse sonho, vou acabar virando uma ratazana horrenda...

_ Lynn, quantas vezes eu preciso dizer que isso não é um sonho?! Você é a chave de tudo!

_ Olha, eu só sei que é bem tarde, e eu preciso dormir, hoje pego cedo no hospital.

Lynn faz menção de se levantar do sofá, mas é detida pelo gato que segura seu roupão com as garras.

_ Lynn, hoje é o seu 25º aniversário. São 03:00 da manhã, a hora exata em que você nasceu. Abra o seu armário, por favor...

Ela olha para o gato, desconfiada, pensando se atende ao seu pedido, ou não.

_ Vamos, Lynn, por favor, confie em mim; vá até o seu quarto e abra o seu armário.

Lynn, ainda desconfiada, vai até o quarto e põe a mão na porta do armário. Lentamente, a abre, com o coração acelerado. Quando a porta se abre totalmente, surge uma intensa luz branca que transforma o interior do móvel em um portal.

_ O q-que vai sair daí de dentro?_ Não vai sair nada, Lynn...nós é que vamos entrar.

Confie em mim...vamos!Spynk pula no colo de Lynn. Ainda hesitante, ela

entra pelo portal, sem saber o que a espera do outro lado.

4º CapítuloA Floresta Encantada

Lynn e Spynk atravessam um portal feérico, que os

transporta até a floresta. Uma névoa fina envolve as árvores deixando tudo com uma aparência assustadora. Pios de coruja cortam o silêncio da noite.

_ Onde estamos?_ Na Floresta Encantada. Enquanto o gato responde, no meio da névoa brilha

uma tênue luz azul. É Poeva, que se aproxima, batendo rápido suas asas.

“Spynk... eu sabia que conseguiria cumprir sua missão, meu amigo...”

Ela se volta para Lynn.“Bem vinda! Eu sou Poeva, irmã de Paralda, rainha

dos elementais do ar. Esta floresta será para você como o seu lar.”

_ Obrigada...mas quanto tempo eu vou ficar aqui?“O tempo que for necessário, querida...”Poeva olha ao redor e seus olhos enchem-se de

lágrimas.“Vê toda esta beleza ao seu redor? Não podemos

mais desfrutar dela... no passado, nós, as sílfides, brincávamos na floresta, adorávamos dançar e tomar elixir de flores, sentadas nos cogumelos. Cantávamos canções

que expressavam a nossa liberdade. Agora, somos escravas. Todos os Elementais se tornaram escravos da Tríade. Elas são extremamente poderosas e se um dos Elementais for destruído, toda a natureza morrerá.”

_ E o que eu posso fazer? “Hoje, em seu mundo, você completa vinte e cinco

anos, idade em que os poderes místicos da linhagem Belt se manifestam. Aqui, na Floresta Encantada, eles serão mais fortes, pois todo este lugar está cheio de uma energia que você não pode calcular. Você é a nossa única esperança. Com o poder dos Elementais unido aos seus, conseguiremos pôr fim ao domínio da Tríade.”

Spynk parece preocupado._ Poeva, é seguro ficarmos aqui por mais tempo? A

floresta não está vigiada?“Sim, sim, tem razão, meu amigo! Temos que ir!”Poeva voa baixinho, servindo de direção em meio à

névoa. Lynn e Spynk a seguem. Eles caminham pela floresta até chegarem na entrada de uma pequena caverna.

“Vamos entrar.”_ Entrar? A entrada é muito pequena, nem eu nem o

Spynk vamos conseguir passar por ela!“É hora de começar a usar seus poderes, querida!

Concentre-se e poderá diminuir de tamanho. Diminua a vocês dois e rápido, não podemos ficar aqui fora por muito tempo, é perigoso!”

Lynn se concentra, e para seu espanto, ela e o gato diminuem de tamanho.

_ Nossa, não é que deu certo mesmo?

_ Você ainda não viu nada, Lynn... Tão logo os três entram, a entrada desaparece.Dentro da caverna, Lynn se depara com um mundo

etéreo. Sílfedes e silfos voam agitados, de um lado para o outro, enquanto lançam olhares curiosos para os visitantes.

“Esta caverna se conecta com o mundo subterrâneo dos gnomos. São os Elementais da Terra. Estamos aqui recolhendo cristais. A Tríade nos proibiu, mas conseguimos ajuda e nos reunimos aqui. Quanto mais cristais juntarmos, mais chances teremos nessa empreitada.”

_ Por que tantos cristais?Lynn observa que ao seu redor, mesmo com a

agitação das fadas, a beleza não pode ser ignorada. Os cristais de várias formas, tamanhos e cores, brilham, enchendo o lugar de beleza e encantamento.

Antes que Poeva possa responder à pergunta, uma sílfede se aproxima. É Fylgiar, que cumprimenta Poeva com o modo próprio das fadas.

“Poeva! Falta pouco para atingirmos a quantidade necessária de cristais para seguirmos com os nossos planos, mas infelizmente eles estão escassos. Entretanto, outra coisa que que me preocupa é a falta de colaboração dos outros Elementais. O orgulho de muitos ainda não foi quebrado, mesmo debaixo da escravidão.”

“Eu entendo, Fylgiar, mas a hora da libertação está chegando. Deixe-me apresentar à você, Lynn...descendente direta da linhagem Belt, herdeira do cajado de Toril.”

A fada se curva diante de Lynn, demonstrando grande respeito.

“Nós a esperávamos... verdadeiramente, nossas esperanças não foram vãs. Paralda nos governará novamente em paz e segurança. Nossas florestas e bosques serão livres e os Elementais poderão cumprir seu destino, como tem que ser.

Lynn agradece com um gesto, para logo depois perguntar algo.

_ O Spynk não me falou nada sobre esse tal cajado de Toril. O que é isso?

“Somente um bastão pode sobrepujar os bastões mágicos da Tríade. É o cajado de Toril, o único que guarda os poderes de todos os Elementos: Terra, Água, Fogo e Ar, simultaneamente. Só uma descendente genuína da linhagem de Elizabeth Belt pode segurá-lo e essa pessoa é você, Lynn.”

_ Entendo... mas...onde está Paralda?As fadas se entristecem e a luz ao redor delas diminui

um pouco.“Paralda não vive entre nós, ela é prisioneira das três

irmãs, assim como Gob, o gnomo, Regente dos Elementais da Terra, Varuna, a ondina, Regente dos Elementais da Água e Agni, o salamandra, Regente dos Elementais do Fogo.”

Spynk demonstra irritação._ Todos são prisioneiros. Escravos!“Sim, infelizmente. Dessa forma, somos obrigados a

trabalhar e obedecer a todas as ordens da Tríade. Se um dos Elementais for destruído, o Planeta correrá grande

perigo, podendo até não mais existir. Entende agora, Lynn, a importância da sua presença aqui conosco?”

_ Sim, entendo. Farei o que eu puder, e o que me ensinarem, eu aprenderei.

“Não esperava outra atitude senão esta, Lynn. Vamos, alguém nos espera.”

Poeva, Lynn e Spynk seguem por dentro da caverna.“Conseguimos este lugar graças a Tikl. Nossa

reserva de cristais estava acabando e precisávamos da ajuda de outros Elementais.”

Poeva se dirige então à um homenzinho de mais ou menos trinta centímetros de altura, que está entre as sílfedes, inspecionando a retirada dos cristais. Com suas calças marrons, ele parece agitado. Ajeitando seu chapéu pontudo, o homenzinho pára o trabalho, para pegar em suas mãos uma pequena pedra. A analisa, logo depois a segura com carinho e a aproxima do seu coração. Quando abre as mãos, no lugar da pedra surge um lindo cristal. Ele o entrega nas mãos de Poeva, com um sorriso amável no rosto. Seus olhos refletem o brilho do cristal.

“Tikl! Obrigada! Sempre tão gentil...Como vê, estamos ficando sem cristais. Precisamos muito da sua ajuda ainda, sabe disso.”

O homenzinho retribui a saudação, olhando para Lynn.

“É ela?” - ele pergunta.“Sim.”Spynk se adianta alguns passos.

_ Tikl, não se lembra de mim? Spynk, Elemental do Ar, sílfede...no momento, transmutado em gato, mas em breve, de volta à forma original!

O gnomo, olha para o gato com o canto do olho.“Não pense que eu não o vi. E falando sério, acho

que essa forma combina mais com você, sempre pulando aqui e ali, curioso, querendo saber de tudo...foi a sua curiosidade a raiz de tudo isso, não foi?”

Spynk se sente ofendido com a observação._ Então você também acha que a culpa foi minha?Poeva intervém.“Amigo, por favor, precisamos que os gnomos

transformem mais rochas em cristais. Não temos o bastante.”

O gnomo volta sua atenção à inspeção.“Não se preocupe, faremos o que for necessário

para que o equilíbrio volte à floresta e nossos líderes sejam trazidos de volta. Conte sempre conosco. Falarei com os outros, voltaremos às minas. Instrua às fadas para continuarem trazendo as pedras.”

Com um rápido aceno, o homenzinho dá meia volta e some por entre um labirinto. Lynn sente que Spynk ficou entristecido com o que aconteceu e faz um leve carinho em sua cabeça.

_ Ora, vamos, não fique assim. Não foi sua culpa...logo, tudo vai voltar ao normal e você vai ter a vida que tinha antes...

Ouvindo isso, Spynk fica pensativo, mas ao mesmo tempo, se sente feliz, pela discreta manifestação de carinho.

_ Não se preocupe, eu estou bem. Eles seguem adiante, enquanto Lynn observa

maravilhada a imensa quantidade de seres que circulam livremente pelos vários caminhos existentes dentro da caverna.

_ Por que os humanos não conseguem ver vocês?_ Alguns podem nos ver, sim, mas infelizmente

outros, nunca nos verão. A grande maioria não acredita em nós, não há espaço em seus corações para as coisas simples.

_ Nem mesmo usando a imaginação?“A energia da imaginação não conhece limites,

querida...aqui, a nossa função é cuidar da natureza. Infelizmente, os humanos estão muito descuidados com o planeta. Como você sabe, existem quatro elementos: água, fogo, terra e ar. Para cada um deles, existe um Regente. Somos ligados uns aos outros, pois nos completamos, nos equilibramos. Quando há o desequilíbrio, toda a Natureza sofre. Falaremos mais sobre isso mais tarde; agora vamos, não podemos nos atrasar.”

Seguindo Poeva, eles entram por um caminho estreito cuja saída fica em frente a uma árvore imensa.

“Chegamos. Vamos entrar.”Lynn olha para os lados._ Entrar aonde?“ Na árvore...”Fazendo um leve movimento com as mãos, Poeva

desfaz a magia da ilusão e uma pequena abertura, surge.

5º CapítuloMaldades

Enquanto isso, dentro da casa das três irmãs, no meio da Floresta, os Elementais estão sofrendo debaixo de uma nova seção de tortura.

“Enquanto estivermos com os Regentes sob o nosso poder, nenhum ser etéreo ousará nos enfrentar. A floresta é nossa e em breve, o mundo inteiro...se controlarmos a Natureza, controlaremos tudo!” - devaneia Emily.

Becky se aproxima das redomas onde os Regentes estão aprisionados. Os observa com um olhar maligno e ao mesmo tempo superior.

“Como sabem, seus poderes estão restritos nesta casa e o seu povo está à nossa mercê. Podemos destruir a todos, a qualquer hora, basta querermos. E acreditem, a nossa vontade cresce a cada dia. Só pode existir um poder, o poder da Tríade. Nenhum outro será aceito, em absoluto! Por isso, vou dar-lhes ordens e é bom que obedeçam, para o bem dos seres que ainda habitam nesta floresta, mas por pouco, muito pouco tempo...”

Ela estende uma das mãos e toca na redoma do salamandra..

“A água abranda o fogo....”

Ela produz com seu bastão mágico, um pouco de água elemental e joga um pouco sobre o salamandra, que sente terríveis dores ao receber a água sobre si.

“...enquanto que o fogo ferve a água...”Sem esperar que o salamandra se recupere de suas

dores, ela produz uma bola de fogo que é transferida para a redoma da ondina. O calor começa a evaporar a umidade dentro da redoma e ela começa a desfalecer.

“A terra contém o ar...” Uma nuvem de poluição é criada, e penetra a

redoma de Paralda, que asfixiada, cai ao chão, em grande agonia.

“...enquanto que o ar circula a Terra...”Um ciclone é formado dentro da redoma do gnomo,

que sente a força do vento, agindo impiedosamente sobre si.“Até quando vai brincar com eles, Becky? Quando

vamos agir de verdade? Não deveriam todos já estarem destruídos? Não precisamos deles...” - Emily parece impaciente.

De repente, a voz de Lizzie é ouvida.“Já não é suficiente termos tomado o poder dos

Elementais? Por que ainda pensam em destruí-los? Eles nos são de grande valia, pois vivos, mantém os seres da natureza em controle e trabalhando para nós. Já é hora de revitalizarmos nossos poderes. Senti hoje uma onda obscura e uma alteração de energia.” - usando sua magia, Lizzie anota tudo, pois enquanto fala, uma pena escreve em uma folha em branco, suspensa no vazio.

“O que está havendo com você, Lizzie? Está com pena deles?” - pergunta Becky, com um tom irônico.

“Não, não tenho pena..nem deles, nem de ninguém, só acho que seria mais prudente de nossa parte mantê-los com vida. Nossos poderes aumentam drasticamente com a energia vital de cada Regente, então, por que não continuarmos assim?”

Becky concorda.“Você tem razão. Nossos poderes como estão, me

fazem muito bem, aliás, nunca me senti tão bem...!”As três gargalham. Suas risadas parecem o som de

galhos arranhando o fundo de uma panela de ferro.Quase sem forças, Paralda ainda consegue falar:“A-aproveitem enquanto...podem...riam, riam

muito...pois um dia, tudo isso vai terminar...e o fim de vocês...será de amargar e com ele, eu vou....muito me alegrar....”

“Ora, ora, ora...a fadinha ainda tem forças para falar?! Hmm, sabe, eu estava tão feliz, mas agora, você me irritou...!”

Arrastando seu corpo disforme pela casa, Becky vai até um armário de madeira.

“Olhe o que eu tenho aqui!”Ela o abre, deixando à mostra várias redomas. Dentro

de cada uma delas, Elementais estão presos. Sílfedes batem suas asas, em vão, tentando se libertar e escapar de um fim que parece inevitável.

“Qual delas eu escolho?”

“Aquela! Aquela de olhos azuis, de roupas brancas!” - aponta Emily, agitada.

A sílfide se afasta, tentando se esconder, encolhendo-se na redoma. Paralda, ofegante, assiste a tudo, impotente.

“Veja, rainha das fadas, o que vai acontecer sempre que me irritar.”

Colocando suas mãos em direção à sílfede, Becky invoca trevas espessas que começam a invadir o interior da redoma; elas envolvem a fada que olha para sua rainha, pela última vez. As trevas se fecham sobre ela e quando finalmente se dissipam, a redoma está vazia.

“Menos uma! Menos uma!!” - aplaude Emily, comemorando.

Do outro lado da floresta, Poeva subitamente se sente mal e encurvando-se, põe suas mãos na grande árvore.

_ Poeva, o que foi? O que aconteceu?“Uma de nós...se foi, desintegrou-se...eu pude

sentir...em meio à trevas, ela se foi...!” - enquanto fala, lágrimas escorrem em seu rosto.

_ Não podemos esperar mais, temos que fazer alguma coisa! A culpa disso tudo foi minha, culpa da minha curiosidade! Se eu não tivesse desobedecido à ordem de Paralda, nada disso teria acontecido!

_ Spynk, a culpa não foi sua...“Meu amigo, o confronto aconteceria cedo ou tarde. A

presença da Tríade na floresta não pode mais ser tolerada...ou elas, ou nós!”

Antes que Poeva ou Lynn pudessem evitar, Spynk corre pelo caminho de volta.

_ Spynk, onde vai?Poeva suspira.“Uma vez impulsivo, sempre impulsivo, mesmo em

forma felina...não se preocupe, Lynn, Spynk é um ser puro e sensível. Vou enviar uma tropa de silfos reais para procurá-lo e trazê-lo de volta, em segurança.”

Soprando suavemente, Poeva envia suas ordens. Uma tropa de silfos reais parte à procura do gato.

_ Não podemos esperar ele voltar?“Não, não temos tempo. Ele ficará bem. Agora temos

algo mais importante e fazer. Está vendo esta árvore? Ela tem mais de quatro mil anos e é a guardiã do cajado de Toril. Não podemos agir sem que antes você se aproprie dele e ele de você.”

_ Não entendi...“Você verá. Venha...vamos entrar.” Assim que as duas passam pela abertura, a magia

retorna, selando o tronco da árvore.Dentro da casa, Becky assume um tom mais sério.“Temos um outro assunto para discutir...um

assunto de extrema importância e que exige prioridade neste momento. Diz respeito à você, Lizzie...”

“E o que poderia ser, minha irmã?”Becky caminha lentamente e põe suas mãos

deformadas sobre os ombros de sua irmã.“Antes que amanheça e voltemos à nossa forma

maravilhosa que eu adoro tanto... quero que saiba que eu sei que me esconde algo e estou dando à você, agora, a chance de me contar, porque se eu descobrir

de outra forma, não terei piedade de você, compreendeu?”

“Eu não tenho nada a dizer. Não há nada escondido.”

Emily também se levanta e aproxima-se das duas irmãs.

“Houve um acontecimento...um renovo de energia na floresta...um de meus espiões contou que houve um som, muito breve, mas semelhante ao choro de uma criança...há algum tempo atrás. Você sabe dizer algo a respeito, irmã querida?”

Lizzie sabia que era uma tentativa vã esconder o que parecia que suas irmãs tinham já descoberto, de alguma forma. A criança, nunca mais vira e nem mais soubera a seu respeito.

Becky fica à sua frente e abaixando-se, olha em seus olhos.

“Lembra do Devory? É claro que você lembra...nosso gato espião, o gato responsável pela descoberta da sua traição, mas ora, isso é passado, não é mesmo? Você nos traiu uma vez e com certeza, não teria coragem de nos trair de novo...teria?”

Lizzie se mantém calada. Uma palavra errada, no momento errado, poderia ser seu fim.

“Muito bem...quero que se levante agora e pegue para mim, na estante de pedra, aquele pacote. Vamos, pegue para mim, minha irmã...!”

Lizzie obedece e com dificuldade, chega até à estante. Tira o pacote da prateleira, notando que o mesmo é pesado.

“Abra-o.”Ela abre, então, lentamente o pacote, descobrindo o

seu conteúdo: Devory, o gato negro, empalhado. “Por que fez isto com ele?” - Lizzie pergunta,

arrependendo-se logo depois de ter questionado sua irmã.“Este foi o castigo dele por ter falhado em sua

missão, pois durante todo o tempo de sua gravidez, ele foi incapaz de percebê-la e foi enganado por você durante nove meses completos. Isso foi inadmissível. Incabível. Imperdoável.”

“G-ravidez? Que gravidez? Está maluca?”Lizzie deixa o gato empalhado cair no chão enquanto

anda nervosa pela sala.“Modere sua linguagem, irmã...ele falhou, mas

algumas sílfedes nos contaram tudo a respeito. É bem verdade que a contra gosto, afinal, foram torturadas antes de virarem fumaça. Aliás, eu adoro quando elas viram fumaça...” - os olhos de Emily brilham.

“Você nos traiu novamente, mentiu para nós e deliberadamente. O que há com você? Desde quando tem sentimentos em seu coração? Desde quando existe compaixão, amor, maternidade dentro de si? Você é quem enlouqueceu!!”

Becky se exalta cada vez mais. Até Emily sente que o momento é delicado. Se reserva em um canto, aguardando o desfecho da situação.

“O único motivo para que sua cria ainda esteja viva é que nós temos o poder do oráculo dos Elementais da Água. Se a tivéssemos destruído antes, não teríamos agora - à mão - uma oportunidade única e perfeita, para dominar tudo e todos de forma definitiva. Poeva, aquela sílfede infeliz, que terá seu castigo bem merecido, trouxe do futuro a sua descendente e planeja torná-la possuidora do Cajado de Toril. Este é o motivo do desequilíbrio no ar. Ela está aqui e os Elementais estão se unindo contra nós, em uma batalha perdida para eles, com certeza. Jamais um ser humano, mesmo com a ajuda dos Elementais, poderá nos derrotar, jamais! Eu não permitirei. Ela encontrará o seu fim, juntamente com todos eles. Estou esperando por isso, com grande ansiedade...há muito tempo.”

“Não pode fazer isso, se destruir todos os Elementais, como a energia se sustentará? O planeta será destruído e com ele, nós também. Não seja idiota!”

“Não precisamos deles, Becky!” - Emily se manifesta, pois tem pelos Elementais um verdadeiro ódio - “Destruí-los é a melhor solução, destruiremos a todos! Podemos sustentar todo o planeta com nossa própria energia!”

“Calem-se! Eu decidirei o que vamos fazer. Quanto à você, Lizzie...seu castigo será ver o fim da sua laia, pelas minhas mãos. E depois, cuidarei pessoalmente de você.”

6º CapítuloOs Flamejantes

Enquanto isso..._ Onde estamos?“Estamos dentro do tronco de uma árvore mágica.

Vamos nos encontrar com os flamejantes.”_ Flamejantes? Quem são esses?“São os elementais do fogo, os salamandras.

Costumam ser muito temperamentais. Temos que ser cautelosas, não podemos deixá-los nervosos”

Poeva quase sussurra. Subitamente, ela pára diante de uma intensa luz que surge diante delas.

“Alto lá! Quem vem aí?” - indaga uma voz rouca e sinistra.

“Poeva, sílfede, irmã de Paralda, Rainha das Fadas. Solicito audiência com Djin, ele me aguarda.”

“Aguarde aí, vou confirmar sua informação.”A luz traça um círculo rapidamente no ar, deixando

um pequeno rastro de fogo, retornando logo após.“Confirmada. Podem passar.”“Venha, Lynn...”Passando pelo guarda salamandra, Lynn sente seu

calor intenso. Não consegue vê-lo, apenas enxerga uma pequena bola de fogo, que tremula no ar. Seguindo Poeva,

sente que a temperatura do local vai aumentando, cada vez mais.

_ Nossa, está ficando quente por aqui...“Vai piorar, mas você tem que aguentar.”Dentro da árvore, um outro mundo surge. É o reino

dos elementais do fogo, que estão escondidos desde que a Tríade tomou o poder e os obrigou a fazer coisas terríveis.

“Poeva! Aproxime-se!”“Djin, elemental do fogo...a distância está adequada,

meu amigo. Aproximar-me demais de você pode me causar problemas, sabe disso.”

“É verdade, eu sei...então, me diga... por que marcou audiência comigo?”

“Como sabe, o regente dos elementais do fogo, vosso rei, Agni, é cativo juntamente com os outros. Já é chegado o tempo em que devemos unir nossas forças e libertá-los, para que o equilíbrio da Terra e de nosso mundo seja normalizado. Mais demora só nos causarrá danos irreparáveis...se perdermos um dos regentes, não haverá esperança.”

“Unir forças?! Salamandras não unem forças com ninguém! Não precisamos dos poderes dos outros elementais! Vamos libertar Agni sozinhos!”

Lynn sente que o ser libera mais calor, alterando sua forma.

“Djin, por favor, me escute...a Tríade aumentou drasticamente seu poder e os salamandras não poderão enfrentá-las sozinhos. Nenhum elemental pode...só unindo nossas forças ao cajado de Toril é que conseguiremos

derrotá-las e destruí-las, de uma vez por todas. Não é isso que deseja? Que seu reino volte a ser como era antes?”

“Cajado de Toril?! Impossível! Ninguém pode pôr as mãos no Cajado de Toril!”

“Está enganado...eu trouxe alguém que tem o direito de tomar o Cajado de Toril nas mãos e vai nos ajudar nessa batalha...Esta é Lynn, descendente direta de uma das integrantes da Tríade. Eu a trouxe do mundo real e futuro, para nos ajudar. O poder dos regentes unidos ao poder latente de Lynn, nos trará a vitória, com certeza!”

O salamandra observa Lynn, que se sente invadida por dentro. Seu corpo parece queimar em brasas. Ela tenta enxergar a verdadeira forma do ser, mas não consegue. Ele é apenas uma bola de fogo flamejante.

“Descendente? Ela é descendente do camponês...?”

“Sim, Djin...”Virando-se para Lynn, Poeva abaixa os olhos

enquanto fala.“Lynn, preciso contar algo que você ainda não sabe.

Quando as irmãs Belt encontraram Lizzie e Yan, elas quebraram o pacto que tinham com os elementais. Houve um desequilíbrio de energia muito intenso e os elementais ficaram confusos por um tempo. Aproveitando-se disso, Becky usou dos seus poderes e obrigou os Elementais do Fogo a incendiarem a casa de Yan.”

“Sempre tivemos nossa vida e nosso próprio espaço. O desequilíbrio da floresta nos enfraqueceu e ficamos à mercê das bruxas. Agni simplesmente

desapareceu de seus aposentos e a exigência para que ele fosse liberto era que incendiássemos a cabana do camponês. Tudo aconteceu muito rápido e não somos de pensar muito, agimos no calor do momento e fizemos exatamente o que elas nos mandaram fazer. Mas Agni não retornou. Elas nos enganaram, nos usaram...!”

Enquanto fala, Djin vai se enfurecendo e o calor emanado do seu corpo aumenta, elevando a temperatura do local em vários graus.

_ Eu... eu já sabia de tudo isso, não se preocupem, não é culpa de ninguém o que aconteceu... estava... escrito.

Poeva tenta acalmar o salamandra.“Djin, por favor, acalme-se...sabe que se tiver uma

explosão de fúria, não sobreviveremos...você está liberando muito calor.”

“Salamandras!” - assim que chama seus iguais, o local é tomado por centenas de bolinhas flamejantes que bailam no ar.

“Nada nos traria mais satisfação do que nos vingarmos da Tríade maldita...e se para isso é necessário usar o Cajado de Toril, que assim seja. Afastem-se!”

Poeva pega Lynn pelo braço e a leva a um lugar mais seguro. Djin aumenta um pouco mais seu calor e alteia sua voz:

“Toril! Obscuro é o teu poder! Teu brilho, inigualável! Teu calor, insuportável! Poderes ocultos! Segredos! Mistérios! Todos estão prontos a revelar-se

diante de ti! Que o Cajado Negro se manifeste! Que o teu poder domine agora e para sempre!”

Emitindo uma forte labareda, Djin é envolto por centenas de outros salamandras, que dançam à sua volta em um balé vertiginoso. O calor torna-se quase insuportável, até que do meio deles, surge um brilho intenso e um cajado negro surge pairando no ar.

“Que o Cajado seja possuído e que se torne possuidor! Que ele e sua dona se tornem um!”

Poeva olha para Lynn e com um gesto, indica que ela deve ir de encontro às chamas.

“Querida, confie em mim e não tenha medo. O calor agora não te fará nenhum mal. Pode ir...”

Lynn então, ainda hesitante, começa a se aproximar do que parece um show pirotécnico. Enquanto Poeva murmura um encantamento, ela sente que o calor realmente não a afeta. Quanto mais se aproxima, mais deseja se apossar do cajado de Toril.

Chegando perto o bastante, pode ver que todos os seres flamejantes possuem feições sérias e não parecem ser muito simpáticos. O corpo é totalmente composto por fogo, em essência. Tirando então sua atenção dos Elementais, ela olha para o cajado negro que levita à sua frente.

“Nós, os Elementais, somos conectados uns aos outros, pois coexistimos em harmonia perfeita, cada qual com sua função. Há respeito entre nós, mas vocês, humanos, não agem assim...não se respeitam e nem respeitam o planeta onde vivem, entretanto, como

guardião do Cajado de Toril, por milênios, hoje devo agir não pelo que penso, mas pelo que é o meu dever. Como descendente de um poder jamais visto entre nós, onde o ser humano e o ser elemental se mesclam, esta mulher tem o direito de se apossar do Cajado e que assim seja!”

Assim que profere estas palavras, Djin causa no local uma explosão, expandindo suas chamas para todos os lados, sendo imitado pelos centenas de Elementais do fogo presentes. Por um breve momento, Lynn não consegue enxergar mais nada. Então, como por atração, o Cajado de Toril se apega à sua mão direita, emanando para o seu corpo um poder semelhante ao de uma corrente elétrica. Instantaneamente, suas vestes se modificam, transformando-se em um manto muito branco e brilhante. Ainda sob o efeito da cerimônia, Djin segura Lynn com firmeza, e uma tatuagem com símbolos desconhecidos é inserida em seu braço esquerdo.

“De agora em diante, és a nova guardiã do Cajado de Toril. Os poderes dos Elementais jamais devem ser subestimados, mas sim respeitados e dominados. A harmonia deve voltar, o equilíbrio deve ser restabelecido. Nós, Elementais do Fogo, a ajudaremos, pois com toda a extensão do nosso poder...SOMOS O PRÓPRIO SOL!”

Palavras são insuficientes para descrever tamanha demonstração de poder. Bolas flamejantes riscam o ar, de várias cores: brancas, azuis, vermelhas...há uma certa

alegria em finalmente terem alguém a quem passar a guarda do cajado mágico.

Poeva sabe que de todos os elementais, os salamandras são os mais poderosos. São possuidores de um temperamento extremamente arredio e capazes de produzir chamas que alcançem muitos metros de altura. Elas podem reduzir a cinzas tudo o que estiver à sua volta.

Lynn olha para si mesma e não se reconhece. O manto tomou forma sobre seu corpo e com o novo utensílio às mãos, sente que tornou-se uma nova pessoa. Uma luz branca e intensa a envolve, enquanto que os Elementais de Fogo, um a um, aos poucos, retomam seus lugares, voltando à aparência anterior.

Djin está exausto.Poeva se aproxima de Lynn e seus olhos brilham de

satisfação.“Tudo aconteceu exatamente como eu

esperava...você realmente é nossa esperança, Lynn. O cajado é seu, por direito. Com nossos poderes unidos, a Tríade encontrará seu fim em breve, e assim, todos poderemos voltar a dançar e cantar como antes, na floresta, nos bosques, nas copas das árvores...com o vento soprando delicadamente em nossos cabelos...vivendo em paz e em liberdade. Você agora está pronta!”

_ Sim, mas...o que devo fazer agora?“Aguardar.”_ Aguardar? Aguardar o que?“Tudo o que você viu aqui hoje, causou uma

alteração muito poderosa na atmosfera; ondas de energia

fluíram e não foram ignoradas. A Tríade já sabe da sua existência e saiba, nossa batalha já teve início. É só questão de tempo. Precisamos nos preparar. Djin, reúna os Elementais do Fogo. Precisamos nos unir, pois a hora se aproxima. Sabe onde nos encontrar.”

Com apenas um aceno sutil, Djin concorda, enquanto Poeva se dirige à saída da árvore.

“Vamos, nosso tempo é curto.”Ao passar pelos salamandras guardiões, estes as

saúdam, inclinando-se , respeitosamente.É hora de reunir os demais.

7º CapítuloOs Lobos Guardiões

À noite, estranhas criaturas vasculham a floresta, tornando-a um lugar muito perigoso para seres etéreos. São os vassalos da Tríade, incumbidos de interromper qualquer manifestação de poder mais exagerada ou fora do normal. Com garras afiadas e olfato apurado, esses lobos super desenvolvidos não pensam duas vezes antes de transformar um Elemental em névoa.

Como silfo, Spynk costumava ser sempre espontâneo e impulsivo, características que constantemente lhe causavam problemas. Inúmeras foram as vezes em que foi convocado a estar na presença de Paralda, para dar explicações sobre suas peripécias. Esta o liberava logo, após gastar com ele tempo suficiente para apenas aplicar um pequeno sermão. No fundo, até que a Rainha se divertia.

Mil pensamentos passavam agora pela sua mente, enquanto corria velozmente, floresta a dentro, já que conseguira sair da caverna, aproveitando um descuido de uma das sílfedes. Determinado a dar um jeito no problema que causara, mesmo que involuntariamente, estava disposto a agir, mesmo que isso custasse sua própria vida. Seguido de perto pelos silfos reais, Spynk é detido bruscamente ao deparar-se com um bando de guardiões.

Olhos vermelhos, por toda a parte. Dentes à mostra.

_ E agora?! - Spynk se deixa paralisar pelo medo. Seus pêlos se eriçam.

O pânico toma conta. Não há escape aparente, ele está cercado. Um dos lobos salta; saliva escorrendo, ávido pela presa, mas não a alcança. É lançado longe por um poderoso facho de luz branca. A tropa de Elementais do ar intervém bem a tempo.

Os dois grupos entram em luta. Alguns Elementais não têm sorte; são subjugados e feridos pelas garras enfeitiçadas dos guardiões, e logo evaporam.

Alguns lobos são neutralizados como encantamentos de paralisia, entretanto, o poder não dura muito tempo. Desde a prisão dos Regentes, o poder dos Elementais vem enfraquecendo a cada dia. Os silfos cercam Spynk, tentando protegê-lo. O comandante da tropa real grita:

“Retorne imediatamente! Não há nada que possa fazer sozinho! Vamos segurá-los até que esteja em segurança...agora, vá!”

Mal termina a frase, é rasgado ao meio por garras imensas. Antes de evaporar e tornar-se éter, ainda encontra forças para proferir suas últimas palavras:

“F-fuja...a-ainda não é...t-tarde demais...”Estarrecido, Spynk corre, tentando fugir, mas é pego

pelo rabo. Um dos guardiões o captura. Impotente, assiste aos demais darem cabo a tropa de silfos. A magia não foi suficiente para detê-los, infelizmente.

Uma angústia profunda enche seu coração, só superada pela sua revolta.

_ Se vão me matar, matem logo! Acabem logo com isso!

Um dos guardiões se dirige à ele, com uma voz sinistra:

“Sua vida será temporariamente poupada, silfo. Sabemos muito bem quem você é, e levá-lo à Tríade vai nos render uma boa recompensa. Por sua causa, nossa noite que estava tremendamente monótona se tornou em um grande banquete. Ficamos agradecidos.”

Eles riem, ironicamente._ Riam enquanto podem, mas saibam que a vida de

cada Elemental perdida hoje será cobrada com juros nas suas contas!

“É mesmo? E quem vai cobrar? Você?”O grupo gargalha, até que em meio à trevas

espessas, surge um lobo maior, cinza. Imediatamente, as risadas cessam. Todos inclinam a cabeça, em sinal de reverência.

“A diversão acabou. Levem-no, as Senhoras o esperam.”

Dois guardiões se destacam do grupo e unindo-se ao que prendera Spynk, entram pela floresta rapidamente.

Enquanto isso, Poeva sente novamente uma vertigem e é amparada por Lynn.

_ Poeva! Eu agora também pude sentir, muitos Elementais se desintegraram...

“Sim, é ...lamentável...mas já sabíamos que haveria um preço a ser pago e vamos pagá-lo com gratidão em

nossos corações. Tudo faremos para que a harmonia da floresta volte ao normal.”

_ Sinto que Spynk ainda está vivo, mas ainda estou muito preocupada com ele...

“Não há nada que possamos fazer por ele agora, Lynn, o que foi determinado, isso será. Vamos, temos outro encontro marcado e o tempo está correndo contra nós.”

Elas seguem caminho, encontrando novamente, logo à frente, Tkil, o gnomo.

“Que ótimo, vejo que a cerimônia de passagem do Cajado foi bem sucedida! A Escolhida não virou cinzas!”

Com gestos rápidos e um pouco agitado, ele as leva por uma trilha que termina em uma casinha pequena. A porta se abre e do interior da casa saem dois seres: mais um gnomo e um duende. Ambos não passam dos 30 cm de altura. Tikl os apresenta à Lynn.

“Estes são, Dunai, meu irmão e Clion, líder atual dos duendes. Vamos reunir todos os Elementais da Terra para darmos início ao plano”

O duende parece inquieto.“Finalmente! Com certeza isso vai ser melhor do que

embaraçar crinas de cavalo e atirar potes nos humanos!”“Clion, não podemos nos esquecer que a prioridade é

libertar os Regentes. O plano já está em ação, agora é só questão de tempo. Os Elementais do Fogo já estão se reunindo.” - diz Poeva.

_ Engraçado, eu pensava que gnomos e duendes fossem a mesma coisa... - diz Lynn.

“Não, não!” - Dunai discorda - “Ambos somos Elementais da Terra, mas os gnomos cuidam da parte mineral e os duendes, da vegetal. E por falar em mineral, Poeva, a quantidade de cristais que você requisitou foi alcançada, finalmente.”

“Que ótimo! Então, já sabem onde nos encontrar. Reúnam a todos.. Temos que ir para o nosso último encontro agora, antes que o confronto se inicie.”

Dunai e Clion se apressam para convocarem os demais Elementais da Terra enquanto Tikl vai cuidar do transporte dos cristais.

Poeva e Lynn seguem adiante, até a entrada da caverna.

“Temos que ficar invisíveis lá fora....”_ Nós vamos lá fora?“Sim, é necessário, vamos nos encontrar com Hyla,

uma ninfa das águas.”Desfazendo a magia, a abertura surge. “Não se preocupe, tudo está indo muito bem.”Poeva tenta acreditar em suas próprias palavras.Sozinhas na floresta, ambas estão cobertas por uma

magia que as deixa invisíveis, entretanto essa magia é ineficaz contra o olfato poderoso dos guardiões. Não demora muito e elas são detectadas.

“Estamos sendo seguidas. São os Guardiões, lobos enfeitiçados pela Tríade, que funcionam como protetores da floresta. Eles controlam o poder dos Elementais. Eles não podem nos ver, mas sabem que estamos aqui. Teremos

que nos mostrar quando nos encontrarmos com Hyla. Haverá confronto. Está preparada?”

_ Não, mas não temos muita escolha, temos?“Não, na verdade, não temos nenhuma.”Elas continuam em frente, até chegarem à um lago

cercado por algumas árvores. Pequenos peixes circulam dentro dele. Ao se aproximarem um pouco mais, um facho de luz ilumina as águas e um dos peixes vem à superfície. Lentamente, assume a forma de uma linda moça, de cabelos longos,de aparência cansada.. Ela se apóia em uma grande pedra do lago e saúda as visitantes. Antes, observa os guardiões, que lentamente cercam o lugar.

“Bem vindas!”“Hyla, finalmente! A hora é chegada. Esta é Lynn, a

Escolhida, possuidora do Cajado de Toril.”“Muito prazer, Lynn! É uma honra conhecê-la.”Lynn responde ao cumprimento, com um discreto

aceno de cabeça.“É hora de reunir os Elementais da Água.”“Sim, sentimos muita falta de nossa Rainha.

Imagino como Paralda também deve lhes fazer falta... Nossas águas estão mais turvas a cada dia, mal conseguimos respirar. Vou providenciar tudo, mas agora devem partir... ventos negros se aproximam...”

_ O que? - Lynn não entende algumas palavras proferidas por Hyla.

“Ela disse que ventos negros se aproximam. São os guardiões.”

Hyla se transforma em peixe novamente e desaparece no fundo do lago, que há algum tempo atrás, costumava ser cristalino, mas que agora, refletindo a condição de desequilíbrio, é opaco.

“Lynn, é hora de mandarmos um recado para a Tríade. Prepare-se!”

Um movimento solto no ar e elas se tornam visíveis. Os guardiões rosnam e começam a apertar o cerco.

_ Nossa, eles são bem desenvolvidos, não são?“Use o cajado.”Sem tirar os olhos dos lobos, Poeva repete a

instrução, falando lentamente.“Use o cajado, Lynn...agora!”Lynn suspira e olha ao redor. São pelo menos cinco

grandes lobos, de olhos vermelhos e nada simpáticos, com intenções muito, muito más. Sem escolhas, ela levanta o cajado sobre a cabeça. Imediatamente, ele emite uma luz alaranjada que se espalha pela floresta. Seguindo um instinto até então desconhecido, ela o circula no ar e diante do olhar curioso dos guardiões, ela o aponta em direção a um deles. Um facho de luz o envolve e em segundos, ele vira pó. Os outros fogem, assustados. Não desejam ter o mesmo fim, apesar de estarem em maior número.

A luz vai se dissipando. Lynn não parece surpresa.“Lynn, lembre-se: você e o cajado agora são um; sua

vida depende dele e a existência dele depende de você.”_ Eu compreendo.“A hora é chegada.”

Poeva inclina lentamente a cabeça e estende seus braços. Uma nova luz surge, envolvendo-a por completo. Suas roupas adquirem um novo brilho e até sua voz parece mais empolgada.

“Siga-me!”Antes que pudesse notar, Lynn já estava dotada de

um par de asas, seguindo Poeva por entre as árvores da floresta. A sensação era indescritível.

A batalha iria começar, finalmente.Rapidamente, elas chegam à uma clareira. O local

parece vazio, mas aos poucos, Elementais vão se revelando.

Milhares de bolinhas flamejantes se misturam a sílfedes e silfos que voam de um lado para o outro, inquietos. Centenas de gnomos e duendes brotam do chão, saindo de atalhos subterrâneos, de árvores ocas e de cavernas escondidas. Ninfas, ondinas e tritões, em forma humana, se juntam ao grupo. Lynn fica maravilhada com tamanha beleza expressa pelos Elementais.

Há uma energia muito poderosa no ar. Isso, com certeza, pode-se sentir.

A clareira toda emana luz.

8º CapítuloA Ira da Tríade – Parte 1

Mantendo os Regentes Elementais em cativeiro, o poder da Tríade foi aumentado. Além disso, com o passar do tempo, as irmãs aprenderam a manipular os poderes contidos na terra, no ar, nas águas e no fogo. Também aprenderam a consultar o Oráculo das Ondinas.

Seus bastões mágicos foram fortalecidos e com esse poder, criaram várias criaturas que as servem nos mais diversos propósitos, entretanto, só as usam em caso de extrema necessidade. Elas sabem que não pode existir total confiança em um ambiente onde o próprio mal toma forma e se manifesta da forma que bem quer.

A floresta era imensa. À noite, os lobos guardiões a vasculhavam, incansáveis, dispostos a cumprir suas ordens. Pela manhã, seres luminosos faziam esse papel, bagando por entre as árvores, buscando novidades aqui e ali.

Não era surpresa para a Tríade o levante dos Elementais e Becky aguardava por eles, ansiosa. Elas podiam sentir as variações de energia no ar e cada turbulência não passava despercebida.

Do meio da floresta, então, saem os três lobos, trazendo um prisioneiro valioso. Banhados pelo luar, se transformam em figuras humanas, ao se aproximarem da casa.

“Chegamos ao nosso destino.”Dentro da casa, as irmãs sentem a aproximação das

criaturas.“Vamos ver o que os nossos guardiões nos

trouxeram desta vez... hmm, sinto que é algo muito interessante”.

Elas esperam os lobos, à porta da casa. Estes, ao se aproximarem, se curvam diante da Tríade. Um deles dá um passo à frente.

“Minhas senhoras... trago-vos em nome de Balthar, o líder dos Guardiões, este silfo transmutado, que tanto lhes foi motivo de preocupação e ira.”

O lobo que mantinha Spynk preso também de aproxima.

“Ora, ora, ora... vejam só! O que temos aqui?! O gato fujão!”

Spynk está sem forças, quase inconsciente.“Por que não o empalhamos, como fizemos com o

Devory? Ficaria interessante a dupla de gatos trapalhões em cima da nossa estante! - delicia-se Emily, enquanto esfrega uma mão deformada na outra.

“Não, não... eu tenho algo melhor em mente. Vamos levar este gato imprestável para a Sala da Ilusão. Antes que eu termine com ele, vou me divertir muito...” - fazendo um círculo no ar, Becky transporta Spynk para outro local. Ela então, se dirige aos lobos.

“Muito bem, muito bem, meus guardiões! Ótimo trabalho! Serão recompensados...”

Os lobos ficam muito satisfeitos, e aguardam o prêmio prometido. Becky sussurra no ouvido de Emily:

“Livre-se deles.”Emily demonstra uma certa surpresa com a atitude da

irmã, mas logo o sentimento é outro; ela é invadida pela alegria da destruição.

“Com prazer, minha cara irmã...!”Conjurando encantamentos, ela faz surgir uma

enorme cratera no chão, que literalmente, engole os guardiões, que são sugados para as entranhas da Terra. Enquanto caem naquele buraco sem fundo, seus uivos são ouvidos, mas não por muito tempo. A cratera se fecha. Com expressão de alegria e satisfação, Emily olha para a irmã, esperando aprovação.

“Excelente. Agora vamos, o gato nos espera.”As três entram na casa. Logo em seguida, um círculo

surge ao redor da propriedade, como uma cerca protetora. Nada entrará ou sairá sem que elas sejam avisadas.

...

Spynk foi abrindo os olhos, bem lentamente. Estava em uma pequena sala, parecia um porão. O lugar era úmido e frio. A última coisa da qual se lembrava era do mau hálito do lobo guardião. Mesmo na escuridão, um gato enxerga muito bem, por isso, ele logo distingue um vulto, que se aproxima. Ele mal acredita que seja...Paralda!

_ Paralda! Você está... viva!Paralda se aproxima e o afaga.

“Spynk, meu amigo, sim, estou viva, mas não por muito tempo, se você não me ajudar. Ajude-me e ambos sairemos daqui.”

_ Mas ajudar, como?“Minha irmã, Poeva, está terrivelmente equivocada!

Foi um erro trazer aquela moça até aqui... a Tríade vai destruí-la e logo depois, a todos nós! Você precisa me ajudar a impedir que isso aconteça. Eu preciso da sua ajuda, Spynk...”

_ Mas, eu não entendo... a Lynn é descendente direta da Lizzie, só ela pode deter o poder do cajado de Toril. Estamos com a vitória nas mãos e você quer que eu impeça?!

“Poeva está debaixo de um poderoso encantamento, você não entende?! Na verdade, ela está atraindo todos os Elementais para uma grande cilada, no meio da floresta. Ela está fora de si...”

_ O que você quer que eu faça, então?“Não há mais esperanças para a minha irmã. O

encantamento não pode ser revertido, é permanente. Só há um meio de libertação e é através do sacrifício. Precisa acabar com ela, antes que seja tarde demais...”

_ Matar Poeva?! Está louca, Paralda?! O que..?!“Shhh... não grite, se as bruxas nos ouvirem, aí sim,

estaremos perdidos, todos nós...sei que é difícil pedir isso, justamente nesse momento tão delicado, mas você me deve, Spynk... foi por sua causa que tudo isso aconteceu. Se não tivesse me desobedecido, eu não teria expulsado você da floresta; você não teria ido até a aldeia, nem teria

conhecido aquele humano desprezível... não teria acobertado o que ele fez e não teria tentado salvar a vida dele, deixando-se ver. Quando você se revelou, perturbou a Tríade e o pacto que tínhamos foi desfeito. Sem o poder dos Elementais, elas eram facilmente manipuláveis, mas agora... agora, é quase impossível vencer.”

_ Mas por que você fez esse pacto com elas, se elas não significavam nada? Porque deixou que morassem no meio da floresta e porque se deixou capturar? Eu não entendo...

“O pacto era deixá-las livres naquela parte da floresta e em troca, elas jamais interfeririam em nossas vidas, nem nós na vida delas, de forma alguma, jamais bisbilhotaríamos o que quer que fizessem ou fossem, entendeu bem?”

_ Mas isso foi errado, Paralda! A floresta é nossa e não delas! Elas tinham que sair! Esse pacto era uma fraude, não vê? Elas não tinham poder algum! O único poder que tinham era para manipular o povo da aldeia e ganhar algum trocado com as porcarias que faziam...

“Porcarias?! Quem disse que o que vendíamos eram porcarias, gato desgraçado?” - faíscas saem dos olhos de Paralda, enquanto sua voz se modifica totalmente.

_ P-paralda?! O q-que?Uma voz irrompe o lugar.“Chega dessa palhaçada! Emily, eu jamais deveria

ter permitido que você fizesse esta interpretação. Você é impulsiva demais! Não sabe nem enganar um gato!”

Do meio da escuridão, surge Becky.

“Ora, eu estava quase conseguindo convencê-lo, era só questão de tempo, mas ele nos ofendeu, você não ouviu?”

Emily desfaz o encantamento de ilusão e assume sua forma verdadeira.

_ Sua bruxa infernal! Era você!“Cuidado com as palavras, gato infeliz! Podem ser

as últimas que você profere...!”_ O que vão fazer comigo? Se vão me matar, matem

logo, porque eu jamais vou trair meu povo, jamais!“Matar você seria ridículo...que graça teria? Seria

apenas mais um, ou melhor dizendo, menos um... Temos planos para você...” - diz Becky.

_ Eu não me importo com os seus planos, aliás, não me importo com nada do que você e suas irmãs imbecis façam! Não vai demorar muito e você serão derrotadas, disso eu tenho plena certeza!

“Ora, ora, vejam só... o gato criou coragem durante esse tempo, não é mais um silfo covarde que se esconde por trás das janelas para descobrir o que fazemos... Pensa que não vimos você?... Silfo covarde!”

_ Eu nunca fui covarde! Nunca!Perdendo a paciência, Emily segura Spynk pelo

pescoço e o levanta no ar.“Escute bem, bichano! Sua vida não vale nada

para nós, entendeu bem? Não vale nada! Se ainda está vivo é porque temos planos para você!”

“Emily! Controle-se e largue o gato.”Emily lança Spynk violentamente contra a parede.

“Emily!” - Lizzie chama a atenção da irmã.“A ordem era largar o gato, a Becky não

especificou a maneira de fazer isso!”Spynk sente muitas dores e tem dificuldades para se

pôr de pé.“A diversão foi boa. Quanto à você, silfo

transmutado, ficará aqui até eu achar que é necessário. Na hora em que sua utilidade acabar, eu mesma venho dar cabo da sua vida.”

Spynk é deixado sozinho. Na sua mente, há somente uma preocupação. O que a Tríade estaria reservando para os Elementais?!

9º CapítuloA Ira da Tríade – Parte 2

Na clareira, um número significante de Elementais está reunido, cada qual emanando ao máximo seus poderes (com exceção dos salamandras, é claro, pois incendiariam toda a floresta). Eles vêm das mais diversas terras, espalhadas pelo planeta.

Nas mãos de Lynn, o cajado de Toril começa a absorver a energia que flui no ambiente, ficando cada vez mais brilhante. Poeva ergue uma das mãos e todos fazem silêncio para ouvi-la.

“Amigos, é chegada a hora! Uma nova era se inicia! Temos vivido em servidão, mas este tempo terminará hoje! Como seres da natureza, será em nome dela que enfrentaremos esta batalha. Ao nosso lado, um poder jamais visto, mas que hoje será conhecido. Vos apresento a Mentora de Toril, que nos conduzirá à vitória!”

Os Elementais aplaudem com grande alegria, criando fortes ondas de energia. Lynn, pela primeira vez, dirige-se a todos eles:

_ Um dia, eu me perguntei qual seria o propósito para a minha vida... e hoje eu sei, tenho a resposta. A liberdade será reconquistada e o equilíbrio retomado, de uma vez e para sempre! Que se cumpra o meu destino!

Enquanto fala, Lynn percebe que sua voz está soando diferente, mais madura, voz de sábia, poderosa. Definitivamente, ela e o cajado são um só. Ela continua:

_ A Tríade que hoje impera, será destronada e desmascarados os seus feitos!

Mais uma vez, os seres reunidos na clareira se manifestam.

“Tragam os cristais!” - ordena Poeva.Obedecendo às ordens, centenas de sílfedes,

duendes e gnomos surgem, carregando carrinhos cheios de cristais de todas as cores e tamanhos. Uma montanha logo se forma no meio da clareira. Tanta movimentação não passaria despercebida, é claro. Os guardiões chegam, em poucos minutos e cercam o grupo. Estão em grande número.

O líder se destaca entre os demais e se pronuncia:“Até hoje, temos sido fiéis às Senhoras,

cumprindo ordens, sem questionamentos. Como líder, zelo pelos meus e não foi com satisfação que fiquei sabendo que três guardiões foram destruídos hoje, pela Tríade. Fomos traídos! Queremos vingança!”

Com olhar sereno, Poeva lhe responde:“Guardião, o motivo de estarmos aqui é pela nossa

liberdade... a vingança não encontra abrigo em nossos corações...”

“Não importa, seja por um motivo ou por outro, queremos a destruição das Senhoras. Isso não implica em pactos de amizades, que fique bem claro. Nosso objetivo é um, somente.”

“Como desejar...”Os Elementais, em outros tempos, fugiriam dos

guardiões, mas agora, todos permanecem firmes em seus lugares, prontos para qualquer tipo de confronto. Estão confiantes.

Poeva aponta para os cristais.“Mentora, é hora de energizar os cristais!”Lynn direciona o cajado para a montanha formada

pelos cristais e um facho de energia é lançado sobre ela, envolvendo-a por completo. Todos os cristais adquirem a mesma coloração e seu brilho aumenta.

Cada Elemental é instruído a apropriar-se de um cristal, o que fazem rapidamente. Liderados por Poeva e Lynn, a Mentora de Toril, o exército recém-formado começa finalmente a se deslocar em direção ao centro da floresta.

...

Sozinho no escuro, Spynk começa a procurar por uma saída. Ao que parece, não existe nenhuma. Se ao menos pudesse voar, poderia verificar o teto. Ainda dolorido, ele sente que não está sozinho.

_ Q-quem está aí?Não há respostas. Subitamente, o ar se torna

espesso e ele começa a ter dificuldades para respirar.

...

As três irmãs pressentem que o momento é chegado.

“É chegada a nossa hora! Preparem os Regentes!”

Seguindo as ordens de Becky, pequenas criaturas deformadas tomam as redomas onde estão aprisionados os líderes dos Elementais e as colocam em ordem, sobre uma pequena mesa.

“Até hoje, precisamos de cada um de vocês, mas agora, não nos servem para nada. Com seus próprios olhos verão o fim do seu povo e a nossa vitória será incontestável!”

Com um vigoroso movimento, Becky faz surgir em suas mãos o seu bastão mágico. É imitada pelas irmãs, enquanto que suas aparências começam a mudar de uma forma jamais vista. Ao redor delas, surge uma aura negra Invocando forças obscuras, elas se preparam para o confronto final.

...

O exército de Elementais se aproxima, mas encontram a primeira dificuldade: passar pela cerca de energia que protege um determinado perímetro ao redor do local onde as bruxas estão. A energia negativa é extremamente poderosa.

Os Elementais do Fogo unem-se e irradiando energia, começam a voar em círculos. Cada vez mais rápidos, eles criam um segundo anel, ao redor da aura negra, um anel flamejante.

Unidos como um só corpo, todos se concentram e seguram seus cristais à altura do coração enquanto Lynn direciona o cajado de encontro à energia negra.

O cajado começa a absorver a energia negativa, forçando Lynn a segurá-lo firme.

_ A aura negra é muito densa, está sendo difícil segurar o cajado!

“Aguente firme!” - grita Poeva.Pouco a pouco, a aura negra se dissipa, permitindo

que o exército prossiga adiante.

...

“Eles passaram pela aura negra. Excelente! Excelente! A brincadeirinha acabou... vamos!”

Elas saem da casa, conjurando encantamentos e poderes mágicos. Um terremoto abre uma fenda no chão, e dela surge um exército numeroso de criaturas das trevas, portadoras da mais pura maldade.

Nos céus, uma grande tempestade começa a se formar. Nuvens pesadas vão se juntando, enquanto raios e trovões são ouvidos.

...

Ainda lutando para respirar, Spynk tenta – em vão – encontrar uma saída, entretanto todas as suas tentativas são inúteis. Ele é apenas um gato e nada pode fazer para se libertar.

De repente, ele ouve um leve ruído. Uma pequenina porta se abre e dela surge uma criatura contorcida, que o chama com uma voz bem fraca:

“Gato... aqui...venha...precisa ir... está livre...”_ Quem é você? Outra ilusão das bruxas? Não vou

cair nessa...“Não sou uma ilusão, sou um servo insatisfeito!

Precisa ir ou vai morrer aí... é a minha última oferta!”Spynk não tem nada a perder, então como um gato

desconfiado, bem devagar ele se dirige à pequena abertura.“Não pode ser mais rápido?”_ Pra que a pressa?A pequena criatura produz uma bola de luz nas mãos

e a lança dentro daquele lugar, que fica todo iluminado. Uma outra criatura, bem maior, agora pode ser vista. Ela estava ali, o tempo todo com Spynk. Com a claridade, ela recua, protegendo os olhos. Assustado, Spynk agora se apressa em sair dali.

_ Ei, por que está fazendo isso?“Porque estou cansado de ser escravo...”A criatura espera Spynk passar e fecha a porta.

Passando a mão por cima, a faz desaparecer.“Vá, ajude os seus iguais.”A criatura também desaparece, diante dos olhos do

gato, que agora percebe estar do lado de fora. As coisas estão ficando feias, pelo que ele pode notar. Ele corre, procurando um lugar onde possa se esconder até que o exército de Elementais chegue. De repente, uma idéia.

Seus olhos brilham e ele procura pelo local onde os Regentes estão aprisionados. No caminho, ele encontra uma sala. Nela, há um altar, com quatro pedras. Há também outros objetos, os quais ele não conhece. Sobre o altar está um espelho enorme e ao lado dele, um livro aberto, que parece ser bem pesado. Ele se aproxima e sua imagem é refletida no espelho. A imagem fala com ele.

_ Deve sair daqui. Este lugar é sagrado._ Se eu não sair, o que acontece?_ Ficará preso dentro do espelho, para sempre.Mais que depressa, ele sai do local. Subitamente ele

percebe que a casa não é afetada por nada que aconteça lá fora.

...

À frente do exército da escuridão, a Tríade avança. O confronto é inevitável e em pouco tempo, os Elementais estão bem próximos.

Finalmente, a clássica luta entre o bem e o mal, bem ali na Floresta...o destino de todos estará selado.

10º CapítuloO Início do Fim

O exército dos Elementais chega ao seu destino. Os Guardiões os acompanham, ávidos por vingança.

A Tríade, em forma humana, vestida com seus mantos de veludo roxo, mal pode esperar para enfrentá-los.

Com um movimento, as criaturas que surgiram da fenda começam a avançar, enquanto os Elementais contra-atacam. Os lobos saltam na frente, estraçalhando vários soldados malignos.

A batalha torna-se mais intensa, pois os Elementais estão agora fortalecidos não só pela força dos Regentes, mas também pelos cristais e pelo cajado de Toril, mas como já era esperado, muitos Elementais perdem sua vida, tornando-se névoa. Da mesma forma, acontece com os soldados das trevas. Todos são feitos da mesma matéria - energia.

Enquanto isso, Lynn e Poeva se destacam do grupo e procuram um alvo específico, as três irmãs.

Então, pela primeira vez, ficam frente a frente.“Finalmente!” - comemora Becky.Lynn sussura para Poeva:_ Elas são tão lindas...

“Não se iluda, a aparência do bem muitas vezes esconde um mal sem fim...vamos criar um portal que sugue toda a maldade.”

Poeva então começa a emitir sua luz azul, mas assim que começa é surpreendida por um ataque fulminante.

Emily, sem piedade ou misericórdia, lança uma rajada de energia e a derruba no chão. Becky, por sua vez, com um encantamento, faz surgir do chão duas enormes mãos que prendem Poeva.

“Não hesite, Lynn! Crie o portal, é a nossa única chance!”

...

Spnyk percebe que a luta começou. Aflito, vasculha a casa, procurando pelos Regentes Elementais. Ele os acha, mas infelizmente, estão cercados por uma energia poderosa, e ele como um simples gato nada pode fazer. Tomado pela frustração e pela raiva, ele chora.

...

Lynn suspira fundo e invoca o poder dos Elementais e dos cristais, levantando o cajado acima de sua cabeça:

_ Pelo poder a mim conferido, pelo Cajado Sagrado de Toril, eu convoco os 04 ventos, que aos 04 Elementos permeia!

Enquanto fala, uma aura de energia branca a protege das investidas da Tríade. Ela continua:

_ Euro! Boeras! Zéfiro! Noto!Dos quatro cantos da floresta, reúnem-se os ventos.

A tempestade continua forte, com nuvens carregadíssimas nos céus.

Os ventos criam um poderoso redemoinho. No meio dele, um portal se abre.

_ Que a maldade de três seja vencida pela força de dos quatro ventos!

Lizzie se transporta, ficando diante dos olhos de Lynn.Frente à frente com sua ancestral, Lynn hesita.Poeva chama sua atenção:_ Vamos, Lynn, abra o portal!Lizzie olha fundo nos olhos dela:“Você não consegue, não é? Não há forças

suficientes dentro de você que a façam cumprir sua missão..sabe por que? Porque é igual à nós, está no seu sangue...e não sinta pena de mim. Eu deveria ter dado fim àquela criança, dessa forma você não existiria...”

Com lágrimas nos olhos, Lynn responde:_ Está enganada, eu não sou igual à vocês. Vou

cumprir minha missão, mas não vou permitir que sentimentos negativos encham meu coração. Você não vai me contaminar, nem agora, nem nunca!

Lançando uma bola de energia, Lynn lança Lizzie para longe, para logo em seguida, usando a força de atração do cajado, abrir o portal de energia. Uma vez criado, as forças da maldade começam a perder força.Um a um, são sugados para dentro do portal. O exército da Tríade se dispersa.

Becky parece surpresa.“Não era para isto estar acontecendo, deveríamos

estar vencendo!!”O poder do portal aumenta.Lynn e Lizzie terminam a conversa._ Espero nunca mais tornar a vê-las.“Infelizmente, nem todos os nossos desejos

podem ser satisfeitos, minha cara!”

...

Dentro da casa, as criaturas que guardavam as redomas dos Regentes, tornam-se névoa e desaparecem. Percebendo o momento, Paralda toma a palavra:

“Elementais, este é o momento que esperávamos. Temos que juntar o que resta de nossas forças e despedaçar estas redomas, para que possamos nos livrar deste mal e ajudarmos os nossos.”

Todos concordam, acenando com a cabeça e põem as mãos no vidro. A força maligna está enfraquecida. Eles se concentram e quebram as redomas.

Atraído pelo barulho, Spynk chega até eles._ Paralda! Minha Rainha! Está viva!Os Regentes estão no chão, entre os cacos de vidro.

Paralda reconhece o silfo.“Spynk! O que está fazendo aqui?”_ Estava preso, mas consegui me libertar. O que

vamos fazer agora?O Regente Salamandra toma a palavra.

“Leve-nos para fora da casa.”Spynk se abaixa e os Regentes sobem no seu dorso.

Ele tenta disfarçar, mas se sente perdido.“O que houve, gato? Parece que não sabe para onde

ir!” - reclama Varuna, a ondina._ É que... ah, eu não sei como sair daqui.“Deixe comigo!”Agni então lança de uma de suas mãos uma

poderosa bola de fogo, que abre um buraco na parede.“Agora sabe.”Spynk sai da casa e logo, todos podem sentir a força

do vento, que sopra sem cessar.

...

“Os Regentes! Eles foram libertos, pude sentir! Maldição! Maldição!”

De punhos cerrados e cheia de ira, Becky não se contém.

“Isso não vai ficar assim! Não vai!”_ Eu acho que está na hora de partirem. Já fizeram

muito alvoroço nesta floresta.Com um rápido movimento, Lynn aumenta a força do

portal. Lizzie, Becky e Emily são sugadas para dentro dele, com uma força descomunal. Assim que entram pelo portal, ele se fecha e tudo volta ao normal, instantaneamente, como se nada tivesse acontecido.

Poeva se liberta e admirada, observa o que aconteceu.

“Lynn, você é mais poderosa do que pensávamos. Há um grande poder dentro de você, maior do que o esperado.”

Ainda surpresos, os Elementais que sobreviveram demoram um pouco a comemorar, não acreditando que o confronto tenha terminado tão facilmente.

Então um duende começa a pular de alegria. Logo é imitado por outros duendes e gnomos e em alguns minutos, a floresta toda está em festa.

De forma discreta, os lobos guardiões se infiltram na floresta, afastando-se dos demais. Spynk então, surge com os Regentes e logo, a Rainha Paralda é recebida com grande alegria pelos seus súditos e súditas, o mesmo acontecendo com os demais líderes.

Poeva interrompe a festa e pede a atenção de todos:“Ouçam, ouçam! Hoje o que aqui se viu foi mais do

que uma demonstração de poder ou um confronto de poderes. O que foi visto e que será lembrado a cada dia de nossas vidas é que ainda estamos unidos, e em harmonia, preservaremos a natureza e tudo o que ela é e contém!”

Virando-se para Lynn, ela a abraça.“Lynn, ter você conosco foi especial. Realmente, foi

muito bom ter você aqui, conosco. Sinta-se à vontade para vir nos visitar, quando você quiser.”

_ Eu digo o mesmo.Enquanto a festa continua, Lynn procura por Spynk._ Ei, você...! Sabia que fiquei muito preocupada com

o seu sumiço?_ Ficou, é? Bom saber... agora, não acha que está

faltando uma coisinha, não?

_ Hmm, já sei...eu acho que agora tenho condições de ajudar você, finalmente!

Lynn põe suas mãos sobre Spynk e aos poucos, ele vai mudando de forma, bem diante de seus olhos.

_ Prontinho. Até que você é um silfo bem bonitinho!_ Obrigado, Lynn! Muito, muito obrigado!Com o poder da Tríade eliminado, a harmonia volta à

Floresta, entretanto, nunca será esquecido que muitos Elementais perderam suas vidas para que a floresta tivesse um novo início.

Os Regentes retomam seus devidos lugares e funções, enquanto tudo se renova. Spynk, de volta a sua forma original, mata as saudades do tempo em que voava livremente, sobre as copas das árvores.

Lynn é chamada à presença de Paralda.“Lynn, será sempre bem recebida nesta Floresta.

Pode nos visitar quando bem quiser.”_ Como eu poderia voltar?“Você agora tem poderes, pode criar um portal na

hora em que bem quiser e ir a qualquer lugar que queira, seja aqui ou no seu mundo.”

_ E aquele que eu criei na Floresta?“Aquele é diferente, foi criado com a união das forças.

Ele é o Portal da Penitência. Para lá a Tríade foi enviada, juntamente com seu exército. Agora, é hora de você voltar para a sua casa. O Spynk irá com você até o lugar apropriado para o seu retorno e, mais uma vez, em nome de todos os Elementais, obrigada!”

Com uma reverência, Lynn se despede de Paralda.Do lado de fora do castelo, Spynk a espera._ Vamos?_ Vamos!Ele a leva até uma clareira. Lá, um portal já está

aberto._ Este aqui vai te levar de volta pra casa. Sabe, vou

sentir saudades suas..._ Eu também vou sentir... mas eu virei aqui te visitar,

prometo!_ Jura?!_ Juro._ Ah, eu tenho algo aqui pra você. Depois que a

Tríade se foi, antes que destruíssem a casa, eu tirei de lá um livro.. eu não sei do que se trata, ninguém me viu. Eu queria te dar de presente, como uma recordação...

Spynk mostra um livro, escondido atrás de uma grande pedra. Ela se abaixa e o pega nas mãos.

_ Nossa, ele é pesado... mas, será que não vai dar problema, eu levar o livro?

_ É claro que não, era um livro velho...nem escrito está. Só tem páginas amareladas. Bom, está na hora...

_ É, está...então, adeus, Spynk!_ Até breve, Lynn...Lynn caminha em direção ao portal que se fecha

assim que ela o transpõe. Ao sair pela porta do armário, ouve logo uma voz

familiar; parece não acreditar no que está ouvindo.

_ Lynn, querida, onde você está?Mal pode acreditar. Será um sonho? Outro sonho?Aquela voz... era...não, seria impossível. Ela então,

guarda embaixo da cama, o livro que recebera de Spynk. De repente ela nota que o quarto está um pouco diferente.

Uma jovem senhora surge._ Querida! Estamos esperando por você... venha!_ M-mãe?! Mas como...?!A mulher põe as mãos ao redor dos seus ombros e a

encaminha até a sala. Que surpresa! Muitas pessoas estavam reunidas, e a sala estava enfeitada com bolas coloridas. Um bolo enorme em cima da mesa chamava a atenção, com velinhas acesas.

Todos, em uníssono, cantam "Parabéns pra você!" Abraços, beijos e muita alegria deixam Lynn em estado de graça. Tudo mudara. Sua mãe estava de volta e havia uma festa de aniversário preparada para ela.

Ela então observa que todo o apartamento está bem diferente. Com certeza, a batalha na floresta causou mudanças no seu passado e foram gratas mudanças.

A noite foi incrível, como jamais imaginara viver antes.Abraçada à mãe, ela se emociona:_ Mãe, talvez eu nunca tenha te dito isso mas, você é

muito importante para mim e eu senti muito sua falta..._ Como assim, sentiu minha falta? Eu sempre estive

ao seu lado, querida, não entendo você..._ Ah, deixa pra lá... não precisa entender não.Abraçadas, ela sente a energia do amor.Mais tarde, depois que todos foram embora, de volta

em seu quarto, deitada na cama, ela fecha os olhos e pensa em tudo o que aconteceu na sua vida.

_ Nossa, que viagem!

...

Algumas semanas se passaram, desde que Lynn voltou da Floresta Encantada. Seu emprego já não existia e ela voltou a estudar. O livro dado por Spynk estava guardado, embaixo da cama. Ela tentou abrí-lo, mas não conseguiu. Então, achou melhor deixá-lo escondido, pois caso sua mãe o encontrasse, não saberia o que responder.

Sua mãe já estava dormindo. Ela olhou pela janela e lembrou-se daquela noite, quando tudo acontecera.

Desde aquele dia, ela vinha testando seus poderes, sempre que podia. Mal terminara de pensar quando uma luz pequenina surge no seu quarto.

_ Lynn?! Sou eu, Spynk._ Spynk! O que houve?_ Hã, lembra do livro que eu te dei?_ Lembro sim, está aqui, embaixo da cama.Ela o pega nas mãos._ Pois é, Paralda está furiosa comigo. Esse livro aí

não é um livro comum. É o Livro das Sombras. _ Livro das Sombras?_Sim, e nele estão registrados todos os

encantamentos da Tríade, sortilégios e invocações. Tem muita informação importante aí e eu tenho que levá-lo de

volta. Nas Terras Centrais, houve uma revolta dos bruxos e vamos precisar dele.

_ Revolta de bruxos? Nossa..._ Não quer vir comigo? Não levará mais do que uma

noite, em seu tempo. E sua mãe estará te esperando ao amanhecer. O que acha?

_ Eu não sei... acabei de voltar. Minha mãe está comigo, não quero perdê-la novamente...

_ Não vai perder... e quer saber? Estamos precisando precisamos da sua ajuda. Aposto que você nunca viu um dragão.

_ Dragão? _ Sim, dragões! Brancos e vermelhos, voando no

céu...não gostaria de ver?_ Espera...lidar com bruxas é uma coisa, com

dragões deve ser bem diferente..._ Que nada! Está com medo de um bafo quente?

Ora, vamos, Lynn, a aventura nos espera! Eu acho que você vai gostar de conhecer os cavaleiros das Terras Centrais.

_ Cavaleiros?! Ela ri enquanto olha para ele._ Você não tem jeito mesmo, não é? Espere aí...Lynn se levanta e cria uma cópia de si mesma. A

ilusão se deita na cama e se cobre._ É que a minha mãe costuma vir me olhar, durante a

noite. Assim ela não se assusta. Podemos ir?_ É claro! Ele abre um novo portal e os dois somem, prontos

para viverem uma nova aventura.

Biografia e Informações Finais

Cláudia Banegas é escritora amadora, na casa dos 40 anos, casada e mãe de um adolescente.

Nasceu em Recife (PE) e com apenas 1 ano de idade, veio morar com seus pais no RJ. Atualmente, mora na cidade de São Gonçalo – RJ

“Amo as palavras, amo escrever. Amo me expressar.”

Blog literário: "Borboletando Poesia"www.claudiabanegas.zip.netwww.claudiabanegas.wordpress.comwww.claudiabanegas.blogspot.comwww.claudiabanegas.vox.com

Poesizando Históriawww.poetisandohistoria.blogspot.com

Livros finalizados, ainda não publicados:- "Não Tenho Medo do Escuro"Voltado para o público feminino, ele aborda os mais

diversos tipos de carência que uma mulher pode ter

- "Metamorpho - Transformações nos Ciclos da Vida"Um livro que fala sobre o poder das mudanças ao

longo de nossa existência, fazendo uma analogia entre a vida humana e a metamorfose sofrida pelas borboletas.

- Coletâneas Volume 1 e 2 – Textos literários

Membro do "Poetas Del Mundo"http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=2

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Colunista do Domínio Culturalhttp://www.dominiocultural.com

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