Manezao e a Maldita Fortuna(Com Capa)

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PREFCIOEm Manezo e a Maldita Fortuna, o autor quer mostrar que nem sempre o dinheiro (e a fama) traz felicidade e at que ponto uma pessoa pode chegar por causa do dinheiro, e como o dinheiro pode transformar a vida de uma pessoa. E mostra tambm, o quanto a famlia sagrada, e que portanto, precisamos fazer de tudo para mant-la e principalmente bem estruturada porque ela o nosso porto seguro, a nossa garantia de uma velhice mais tranqila e um (inevitvel) final de vida mais aceitvel e menos doloroso. E mais: o autor procura atravs de Manezo e a Maldita Fortuna, passar uma mensagem bastante forte, para aqueles que no do a devida e merecida ateno a sua boa companheira e aos bons filhos que tem, trocando os por... (amigos?) e botecos sendo essa a principal causa da existncia de tantos mans e manezes da vida. E alm de tudo isso, voc vai deparar aqui com uma linda historia de amor e tambm um belssimo roteiro turstico que vale a pena conferir. Vale a pena conferir. Valdir N. Caputti (Radialista)

Manezo ea maldita fortuna

Manezo e a Maldita Fortuna Manoel H. Ramos Leito, cidado trabalhador, honesto, pacato, querido pelos amigos, pela famlia e por todos que o conheciam e o respeitavam, e o chamavam de seu Manoel. Ele era muito trabalhador, e com muito esforo conseguiu construir uma casinha, comprou um carrinho para passear com a famlia tinha um emprego que lhe garantia o po de cada dia. Era muito querido pela esposa Marriela que tambm era muito trabalhadora e o ajudava muito. Tinham trs filhos, Tiaguinho, Felipinho e Haninha. Seu Manoel era um homem caseiro, e sempre que saia para passear, era na companhia da esposa e dos filhos. Seu Manoel no bebia, no fumava, tomava s vezes um aperitivo na hora da comida, tomava muito raramente um copo de cerveja na lanchonete em companhia da sua fiel esposa e companheira Marriela, enquanto batiam um papinho gostoso de um casal feliz, uma famlia feliz, enquanto as crianas alegremente saboreavam um salgadinho uma pipoca, um refrigerante e brincavam felizes, tranqilos e seguros prximos dos pais. E aos domingos, logo pela manh seu Manoel e Marriela eram vistos sempre de mos dadas ou abraadinhos caminhando juntos para a igreja, pois Marriela sempre foi uma moa muito religiosa e de muita f. Enquanto o casal caminhava conversando e recebendo os cumprimentos das pessoas que encontravam pelo caminho, as crianas caminhavam na frente de mozinhas dadas. Tiaguinho e Felipinho que j eram bem grandinhos andavam sempre muito bem arrumadinhos com as roupinhas bem passadas, sapatinhos bem escovados, cabelinhos umedecidos penteados de lado, porque Marriela era uma mulher muito prestimosa e cuidava muito bem dos filhos. Haninha com seu cabelinho liso e comprido usando uma teara para prend-los. E o vestidinho semilongo no meio das canelas, caminhava olhando para os prprios ps admirando os seus lindos sapatinhos novos era a felicidade estampada no rosto de cada um, uma felicidade contagiante, natural, dada por deus e todos os cumprimentavam, faziam reverncias admirando-os. Era um exemplo para todos o comportamento dessa3

famlia, mas, como dizem ningum perfeito. E seu Manoel tambm tinha l o seu defeito; que era de fazer uma fezinha no jogo, e a maioria das pessoas que arriscam a sorte no jogo comeam a ficar ambiciosas, sonhar alto e fazer planos mirabolantes e faranicos. E quando comeamos a ficar ambiciosos e sonhar alto demais, comeamos ento instintivamente a menosprezar aquele pouco que temos e que conseguimos conquistar com muito esforo, com honestidade e com as bnos de Deus. E com seu Manoel no foi diferente, ele comeou a fazer sua fezinha no jogo todos os dias e todos percebiam que ele j estava se comportando um pouco diferente, jogando compulsivamente e ficando at meio chato porque em todo assunto que algum puxava, ele comeava a falar em jogos e no tamanho do prmio. E quando ele soube que a bolada estava acumulada, descontrolou-se completamente, jogando uma grande soma em dinheiro, o que j deixou Marriela um tanto aborrecida e preocupada. E a famlia j comeava a sentir o efeito da ambio de Manoel, que s falava em dinheiro o tempo todo. E por infelicidade, ele foi premiado, e para comemorar a infeliz sorte grande, seu Manoel que s levava em sua casa muito raramente alguns e bem selecionados amigos e parentes, j escancarou as portas para quem quisesse entrar. E todos o abraavam, parabenizando-o e at mesmo pessoas que ele nunca tinha visto, vieram cumpriment-lo e felicit-lo. Era uma grande festa bebidas rolavam sem limites, todos podiam beber o quanto quisesse e sem pedir era s chegar e se servir. E at mesmo seu Manoel que nunca passava de uma pequena dose de cachaa, na hora da refeio, ou um copinho de cerveja em companhia da esposa Marriela em ocasies especiais, comeou a exceder, j ficou falando alto, abraando maliciosamente as mulheres que o rodeavam, mas, ningum achava ruim, pois agora ele era um milionrio e podia tudo, era o dono da festa, e ao saber que ele agora tinha tanto dinheiro, alguns indivduos at empurravam as filhas e esposas pra cima dele para tentar tirar algum proveito.4

Ento a sua sempre fiel, calma, tranqila e educada companheira e esposa Marriela, chamou-o a ateno tentando abrir-lhe os olhos, e ele respondeu em um tom que Marriela nunca havia visto, sua voz estava diferente, agressiva, exalando cheiro forte de bebidas. Seus olhos j no tinham mais aquele brilho terno e carinhoso: -Eu estou comemorando e voc? Deveria participar tambm! Venha beber com a gente, agora ns temos dinheiro que no acaba mais, e voc no vai mais nem precisar trabalhar. Mas, Marriela que no bebia e muito menos aceitava aquela situao, ficou deslocada e totalmente sem jeito dentro da sua prpria casa, as crianas comearam a ficarem assustadas com tanta gente, tanto falatrio, tanta bebedeira e tilintar de copos, fumaa e cheiro de cigarro que nunca teve naquela casa e o comportamento estranho do pai que j nem ligava mais para eles, e eles vendo o pai daquele jeito no tinham nem coragem de chegar perto. Marriela insistiu mais uma vez em chamar-lhe a ateno, ameaando at mesmo acabar com a festa colocando todo mundo para fora da casa. Mas, ele que j estava um tanto alterado, ficou bravo com ela ameaando-a na presena das outras pessoas tambm j bastante embriagadas que o defenderam, e ela vendo que nada ia conseguir fazer para conter o marido que jamais a tinha ameaado, foi para um canto isolado da casa com seus filhos, e derramou suas lgrimas, inconformada de ver seu to doce e dedicado marido to diferente, to transtornado que nem parecia ser o mesmo. J no estava mais ligando para ela e nem para os filhos. E o seu to humilde, aconchegante e doce lar que era um ninho de felicidade acabara se transformando repentinamente num verdadeiro inferninho, com tanta gente mal encarada tomando liberdade, e invadindo a sua privacidade. Ela ento tomou a nica resoluo possvel naquele momento; enxugou as lgrimas para ningum ver que estava chorando, pegou os filhos, juntou algumas roupas e foi para casa dos pais que moravam distante de sua casa, na zona rural.5

E na casa dos pais, que tambm no eram ricos, mas tinham todo o conforto e era um lar harmonioso e aconchegante, ela tranqilizou os filhos colocando-os para dormir j que estavam cansados e assustados com tanta agitao. Durante alguns poucos dias ela se manteve junto com os filhos na casa dos pais esperando que seu marido Manoel voltasse a si, casse na realidade, sentisse saudades dela e dos filhos e a procurasse; mas isso no aconteceu. E durante esses dias ela chorava muito, mas fazia de tudo para que os filhos no percebessem, durante o dia as crianas brincavam, estudavam, riam, mas, quando noite chegava eles se entristeciam sentindo a ausncia do pai e saudades da casa em que moravam. Marriela ento conversava com eles, contava algumas historinhas e os colocava para dormir. E na hora de dormir, como de costume, todos beijavam sua face, e diziam: Boa noite mame, e ela cobrindo-os cuidadosamente como fazem as boas mes respondia: Boa noite meus filhos e que o papai do cu proteja vocs. E logo depois enquanto Tiaguinho, Felipinho e Haninha dormiam o sono dos anjos, ela se deitava de costas, colocava as mos sob a cabea olhando para o teto da humilde casa e mergulhava em pensamentos; perguntando a si mesma: Onde est meu querido Manoel? Como est? Com quem est? O que est fazendo? E nossa casa onde ramos to felizes que ele a transformou num inferninho? Enquanto ela pensava as lgrimas rolavam em sua face molhando o travesseiro e ela perguntava a si mesma: Meu deus, quando que o meu Manoel vai cair na realidade, parar para pensar, parar de comemorar e me procurar? Enquanto pensava ela adormecia. Cansada, exaurida, seu sono era agitado e no a satisfazia e medida que o tempo foi passando ela foi ficando abatida, emagrecendo, triste, com olheiras, com aspecto de uma pessoa doente. E no suportando mais a angustia, a tristeza, a preocupa6

o e a saudade, ento ela tomou uma resoluo; deixou os filhos com os avs no stio e foi para a cidade procurar o seu doce e querido Manoel, j que ele no a procurava. E medida que ela se aproximava da pequena cidadezinha, seu corao ia disparando, nervosa, apreensiva. Imaginando como estaria, e como encontraria sua casa que fora um ninho de felicidade, e que se transformara num inferninho. Como estaria o seu doce e querido Manoel que havia mudado de personalidade to repentinamente transformando-se numa pessoa irreconhecvel, e enquanto ela caminhava mergulhada em seus pensamentos ela levou um grande susto quando deparou com um cavalo que acabava de apontar numa curva da estrada a sua frente, a trotes largos. E o cavaleiro disse: -Bom dia dona Marriela, a senhora sumiu! E ela assustada com a mo sobre o corao respondeu gaguejando: -Bom...bom dia seu Aristeu, eu estava na casa dos meus pais. -E como esto os seus pais? -Esto bem graas a deus! -Como esto as suas crianas? -Esto bem obrigada! -A senhora est indo ver o Manezo? Ela estranhou o jeito com que ele se referia ao seu marido, pois jamais havia visto algum cham-lo de Manezo, pois ele sempre foi chamado de Manoel, ou seu Manoel, mas de qualquer forma, ela respondeu-lhe a pergunta. -Sim, estou senhor Aristeu! E o cavaleiro ento em cima do cavalo mesmo, reverenciou-a curvando levemente o corpo para frente colocando as pontas dos dedos na ponta da aba do chapu, e disse: Um bom dia pra senhora e at logo, e colocou o cavalo novamente para trotar. E assim que o cavaleiro partiu, ela voltou a caminhar; e agora pensativa ...porque o senhor Aristeu havia chamado o seu doce e querido Manoel de Manezo?. E ela notara na pergunta do cavaleiro, uma ponta de ironia. Enquanto caminhava, ela ia pensando, como estar o7

Manoel o que estar fazendo, e minha casa como deve estar? E quanto mais ela se aproximava da pequena cidadezinha onde sempre viveu, era feliz e conhecida de todos, ela ficava cada vez mais apreensiva, embora j um tanto cansada, parecia que uma fora estranha a impulsionava para frente fazendo-a andar cada vez mais depressa; e quando ela terminou de subir um pequeno tope to apressada que o suor minava em sua testa decaindo pela face enrubescida pelo sol, finalmente um alvio! Pois nesse momento ela avista o vale, e l no meio do vale a sua pequena e to querida cidadezinha, e mesmo ao longe, ela pode ver a sua pequena casinha, seu corao bateu forte de felicidade, e nesse momento, ela sentiu um n na garganta, e no conseguiu segurar as lgrimas que rolavam em sua face, misturando-se ao suor. E ela continuou chorando e caminhando, agora era s descida, e ela se apressava, cada vez mais ansiosa para rever a sua casa, saber como estava, j que havia deixado to inesperadamente levando somente seus filhos e as coisas mais necessrias. Mas a sua maior preocupao, desejo e apreenso na verdade; era ver o seu doce e querido Manoel que ela imaginava ...ser que ele ainda est bebendo, e comemorando at agora? Estar ele mais gordo ou mais magro? Porque no me procurou? Ser que no sentiu saudade de mim e das crianas? E de repente seus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina, perguntando: -Oi Marriela, voc sumiu? Era a dona Hophelia benzedeira. E s ento ela despertou-se dos seus pensamentos dando conta de que j estava entrando na cidadezinha. Pois bem, dona Hophelia a benzedeira morava numa das primeiras casinhas bem simplesinhas que fazia parte de uma vilinha na entrada da cidade, um conjunto de casinhas grudadas uma na outra, e ela era conhecida e querida de todos. Ento Marriela que estava ofegante, toda suada respondeu: -Sim dona Hophelia, eu estava no stio na casa dos meus pais! -E as crianas como esto? -Esto bem graas a deus! E a senhora tem visto o Manoel?8

E dona Hophelia respondeu, com ar de tristeza ou coisa parecida: -No! Eu no o tenho visto mais! E ento Marriela despediu-se de dona Hophelia e continuou caminhando pela estreita rua da cidadezinha, e parecia que todos notaram sua presena na cidade e enquanto ela adentrava a cidade, muitas pessoas j estavam nas portas e janelas das casas observando a sua passagem, e muitos falavam: -Oi Marriela! -Como vai Marriela? -Oi dona Marriela! A senhora vai voltar pra c? E as crianas perguntavam: -Oi dona Marriela, o Tiaguinho e o Felipinho no vo mais escola? A senhora vai voltar pra sua casa? E ela sentia-se, um tanto constrangida por estar sendo olhada e cumprimentada por todos, como um modelo na passarela e para ela, aquele comportamento era estranho e ela precisava chegar logo a sua casa para descobrir o motivo de tal comportamento. De repente como a sua cidadezinha ficava dentro de um vale e era nada mais do que uma rua comprida com casas simples dos dois lados e somente no centro que havia uma pracinha muito bem arrumadinha, uma igreja muito bonita em estilo gtico, com um ptio muito grande e um coreto onde aos domingos e dias de festa, tocava a bandinha de msica para a alegria de todos. De repente Marriela viu ao longo da rua, vindo da pracinha em sua direo; um carro. Seu corao bateu forte parecendo querer sair fora do peito, pois, distncia ela reconheceu o carrinho que no era novo, mas era o xod da famlia, que ela e seu querido Manoel haviam comprado com muito sacrifcio, mas que valeu a pena, era mais um sonho realizado, e era um motivo de alegria quando nos finais de semana reunia a famlia inteira, seu Manoel, Marriela, Tiaguinho, Felipinho, e Haninha para limpar, lavar e dar brilho. E em poucos minutos o carro parecia novo e todos se9

sentiam recompensados. E ento Marriela que reconhecera ao longe, o carro se aproximando, no sabia se ria ou se chorava. Pois era uma sensao de alegria e felicidade e ento as lgrimas rolaram em sua face e ela sorria, enquanto pensava: L vem meu marido Manoel! meu deus, que saudade, o que ser que ele vai falar, ser que vai me abraar? Apertar-me em seus braos? E dizer: Meu amor que bom que voc voltou, eu estava com muita saudade! E as crianas porque no vieram? Mas quando o carro se aproximou, que decepo para ela. Pois no era o seu doce e querido Manoel que o conduzia, e o carrinho que era to bem tratado estava agora todo sujo, arranhado, carregando um monte de tranqueiras em seu interior. E nesse momento seu sorriso amarelou, as lgrimas corriam em sua face ao ver que o carrinho passou por ela e saiu da cidade sumindo na estrada, em direo rea rural. Mas, ela continuou caminhando, enquanto todos a olhavam e percebiam sua tristeza, pois todos a conheciam bem, sabiam que era uma pessoa sempre alegre, feliz e sorridente. Mas mesmo assim algumas pessoas a cumprimentavam carinhosamente: -Oi dona Marriela! E outras apenas observavam a sua passagem em silncio, respeitando sua tristeza e sua dor. E finalmente Marriela chegou a uma ponta da rua onde se podia ver alguns metros a sua frente, a sua casa; uma casinha modesta, mas que ela trazia sempre muito bem arrumadinha, e muito bem pintada com cal e corante que ela mesma preparava e passava nas paredes. Tinha um jardinzinho onde ela cultivava lindas flores, uma varandinha aonde muitas vezes aps o seu doce e querido Manoel chegar do trabalho, tomar um banho e jantar, os dois se sentavam e conversavam longamente enquanto as crianas brincavam alegremente at a hora de dormir. Aquela casa modesta era um ninho de felicidade, uma10

felicidade que Marriela jamais imaginava que pudesse acabar. Finalmente Marriela chega a sua casa. Que tristeza, que decepo, que amargura sua casa estava fechada, com aparncia de casa abandonada, com muito limbo nos rodaps, o jardinzinho to cheio de mato que quase no dava para ver as flores que tambm estavam murchas por falta de gua, sem vida, e tudo tinha um aspecto to triste quanto prpria Marriela, pois at as flores pareciam chorar. Nesse momento Marriela lembrou que tinha num cantinho do muro, um vaso de flores bem pesado, e ali embaixo desse vaso costumava deixar escondido uma chave da casa para o caso de uma emergncia. Marriela foi at o vaso, e com um pouco de esforo levantou-o e por sorte ali estava a chave, do mesmo jeitinho que ela havia deixado. Marriela ento apanhou a chave, apertou-a na mo como quem abraa e aperta uma pessoa que lhe muito querida e que no v h muito tempo. E depois de um longo tempo com a mo fechada apertando a chave em cima do peito, ela decidiu enfim abrir a porta, colocou a chave na fechadura, exitou um pouco enquanto pensava: ...O que ser que vou encontrar l dentro?. Ser que minhas coisas esto tudo a? Finalmente ela fez girar a chave e abriu a porta, e ao abrila, saiu de dentro da casa um cheiro insuportvel, que Marriela alm de preocupada com o que poderia estar causando aquele terrvel mau cheiro, ainda sentia medo do que poderia encontrar l dentro. Marriela ficou um pouquinho mais l fora esperando minimizar o mau cheiro e tambm criar coragem para encarar o que quer que fosse dentro da casa. De repente os pensamentos de Marriela foi interrompido por uma voz masculina, porm fina e ardida, era o Cornelinho pegajoso; um homenzinho pequeno, de fala ardida, que vivia de fazer bicos um dia trabalhava para um, outro dia para outro. Conhecia e era conhecido de todos na cidade e sabia de tudo que se passava, gostava de uma boa fofoca, adorava tomar um pingo, principalmente quando algum pagava. Mas esse no era o seu verdadeiro nome, as pessoas11

acostumaram a cham-lo de Cornelinho por causa de sua esposa, a Dita Bunduda (Benedita Ornlia) que gostava de dar uns pulinhos de cerca. E pegajoso porque quando comeava a falar e ficar andando atrs da pessoa, era muito difcil livrar-se dele, mas, era apesar de tudo uma boa pessoa. Mas a voz ardida de Cornelinho pronunciando o nome de Marriela, despertou a ateno de dona Benvinda sua to querida e prestativa vizinha, que saiu imediatamente de sua casa e veio ao encontro da amiga, abraando-a fortemente demonstrando uma grande alegria em v-la. E como dona Benvinda era uma pessoa muito alegre, extrovertida e franca, num instante levantou o astral de Marriela encorajando-a e j despachou o Cornelinho, dizendo para ele: E voc Cornelinho no tem alguma coisa pra fazer no? Agora me deixe s com minha amiga Marriela, temos muito que conversar. E Cornelinho foi-se embora dizendo: -Sim senhora! Dona Benvinda, e at logo Dona Marriela! Cornelinho apesar de tudo era muito respeitador, educado e obediente. E depois que Cornelinho se foi, Marriela e dona Benvinda se abraaram e se apertaram novamente. E dona Benvinda, aps um longo e apertado abrao deu um longo suspiro e desabafou, dizendo: - amiga, que saudade eu estava de voc e das crianas! E Marriela com as mos nos ombros de dona Benvinda, com os olhos ternos e lacrimejantes disse! - Dona Benvinda, a senhora sempre foi como uma me para ns! -Marriela voc veio procurar o Manezo... Desculpe o seu Manoel? -Sim! Quero muito conversar com a senhora sobre isso, mas primeiro vamos entrar na casa para ver como est, e o que est causando este mau cheiro horrvel. Ento Dona Benvinda colocou a mo no rosto, olhou para Marriela e numa expresso de espanto desconjurou:12

Credo, ser que tem alguma coisa morta ai dentro? -Cruz-credo Dona Benvinda vire essa boca pra l, assim a senhora me deixa mais assustada do que eu j estou! -Desculpe, no era essa a minha inteno, mas que o cheiro est horrvel mesmo, mas....vamos entrar? -Sim, seja o que Deus quiser. E as duas entraram vagarosamente, observando tudo, olhando cada cmodo, cada canto, finalmente Marriela exclamou: -No toa que esteja cheirando to mal, veja que imundice. medida que elas caminhavam, ia ficando seus rastros de tanto p que havia no cho, as camas estavam todas quebradas e desarrumadas, havia copos e garrafas por toda casa, principalmente quebrados, o vaso do banheiro entupido, o cesto de papel do banheiro transbordava, era papel higinico e absorvente por todo o banheiro. Na cozinha havia um monte de panelas pretas, queimadas, com restos de alimento podre. E em cima da pia restos de comida embolorados, um coador cheio de p, tambm podre. Mas, o pior foi quando Marriela abriu a geladeira, que estava desligada, j h algum tempo porque a energia eltrica da casa havia sido cortada, por falta de pagamento e, ento a geladeira, que Marriela e seu Manoel, nunca haviam conseguido abastecer com abundncia, agora estava repleta de carnes, queijos, frios e bebidas de toda espcie. Pena que estava tudo podre exalando um terrvel mau cheiro, e as bebidas j estavam todas chocas e inaproveitveis. E as lgrimas rolaram na face de Marriela, por ver tanto desperdcio, justo ela que nunca havia visto em sua casa, tanta fartura, estava vendo agora. E sabia que dentro daquela casa nada seria aproveitado, at mesmo as roupas que ela havia deixado no guarda roupa, estavam usadas, sujas, podres e jogadas pelo cho. E at as portas do guarda roupas estavam quebradas e penduradas. E mesmo que Marriela quisesse limpar e lavar tudo, no seria possvel, pois no havia uma gota de gua nas torneiras, que tambm havia sido cortada por falta de pagamento.13

Ento depois de ver tudo isso, Marriela se deu conta de que sua humilde casa havia sido freqentada por muitas pessoas; e da pior espcie e s agora ela comeou a entender, porque o seu doce e querido Manoel no a procurou. Nesse momento, dona Benvinda que s observava tudo em silncio, e, percebeu a tristeza, e desolao de Marriela que estava em p, paralisada com as duas mos nas faces, banhadas em lgrimas, se aproximou e muito carinhosamente, pegou no brao da amiga e falou: Agora que voc j viu tudo, tranque a casa de novo e vamos l pra minha casa conversar. Marriela obedeceu senhora a quem ela respeitava muito, e saram em silncio. Entraram na casa de dona Benvinda, que sabendo que Marriela havia caminhado muito e deveria estar bastante suada e com muita fome, disse-lhe: -Enxugue estas lgrimas, e v tomar um bom banho, enquanto eu preparo um caf bem gostoso para ns, assim enquanto tomamos o caf, vamos conversando sobre tudo isso. Marriela tomou o seu bom banho e saiu do banheiro com os cabelos molhados, muito bonita sem nenhuma pintura, pois a sua beleza era natural, tendo em conta que ela sempre fora uma mulher muito simples dedicada aos trs filhos e ao marido, que foi por sinal o seu primeiro e nico namorado. Marriela enfiou os dedos nos cabelos de frente para trs, desembaraando-os e desabafou: -Ah, que alvio, muito abrigada dona Benvinda! -No precisa agradecer, sente-se ai e vamos tomar caf! Marriela sentou-se mesa e j fez a primeira pergunta: -Dona Benvinda, porque esto chamando o meu Manoel de Manezo, e o que ouve com ele? -Sente-se ai, tome seu caf, que eu vou lhe contar tudo o que sei. E dona Benvinda comeou: Marriela, quando voc foi-se embora, voc se lembra muito bem como que j estava se comportando o seu Manoel! Bebendo, comemorando com jeito estranho, e com pessoas muito mais estranhas ainda, comportando-se muito mal, que at parecia outra pessoa e...14

-Eu sei muito bem disso dona Benvinda, e por isso que peguei meus filhos que estavam todos assustados com tudo aquilo, e fui para a casa dos meus pais, na esperana que o Manoel voltasse ao normal e me procurasse, porque eu no estava conseguindo conversar mais com ele. -Pois Marriela, depois que voc foi embora, ficou pior ainda! Seu Manoel comeou a beber ainda mais, a casa vivia cheia de pessoas estranhas, muitos carros na porta, pessoas esquisitas que a gente nunca tinha visto, seu Manoel comprou um tremendo aparelho de som que fazia barulho dia e noite, era muitas gargalhadas, palavres, caixas e mais caixas de bebidas que chegava toda hora, seu Manoel assinava cheques em branco e mandava qualquer pessoa buscar mais comidas e bebidas, e a gente escutava aquelas pessoas esquisitas falando: Esse Manezo demais! E todo mundo comeou a cham-lo de Manezo. Depois seu Manoel comprou um carro novo e todo mundo pegava o carro dele, e pegava um cheque assinado em branco para encher o tanque que num instante, esvaziava e ele mandava encher de novo, dizendo: Isso pra gastar mesmo! E quando chegava a noite ele enchia o carro de amigos e ia para uma casa de prostituio, na cidade vizinha, e l, dizem que as mulheres, por saber que ele tinha muito dinheiro, e era um mo aberta, escondia toda a bebida e ento ele chegava com os amigos e mandava fechar as portas para ningum mais entrar, ficavam s eles com um monte de mulheres e dizia: Hoje a casa nossa, e quem paga sou eu! E quando a dona do prostbulo dizia: Estamos sem bebidas. Ele respondia: Isso no problema! Ento ele assinava umas folhas de cheques e falava para os amigos esquisitos: Pegue o carro, v com a Tereza Pimento e traga tudo que precisar e ... no quero porcaria, nem misria! (Tereza Pimento era a dona do prostbulo uma mulher bem rechonchuda gorda, vermelha que nem um pimento), cheia de sardas e15

cabelos cor de fogo. Dizem que ela uma exploradora inveterada e quando pega uma pessoa assim como o seu Manoel, ela o depena sem piedade e com isso ela j tem vrias casas de aluguel em um bairro chamado vila Prechca. Quando dona Benvinda pronunciou o estranho nome do bairro, Marriela parecia naquele momento sentir vontade de dar uma boa gargalhada, mas, estava muito debilitada ainda, triste, e mesmo que quisesse a gargalhada no ia sair. Mas mesmo assim ela no conseguiu evitar um sorriso e perguntou: Como que se chama mesmo o bairro? E dona Benvinda ento repetiu: vila prechca! (porque esse bairro foi construdo dentro da propriedade de uma fazenda, cujo dono era descendente de estrangeiros e se chamava Arlindo Prechca). por isso que o bairro ficou sendo vila prechca. E Marriela ainda sorrindo e balanando a cabea disse: Ento est explicado, mas, continue falando do Manoel! E dona Benvinda continuou. Ento como eu estava dizendo, o carro partia queimando os pneus, roncando o escapamento e logo voltava com as molas arriadas de tanta bagagem, eram comidas, bebidas e coisas que nada tinha a ver. E no outro dia o Manezo...Desculpe, o seu Manoel! -Isso no importa mais dona Benvinda porque parece que ele se transformou num Manezo mesmo, mas continue, por favor. -Mas como eu dizia, no outro dia ele chegava com os olhos inchados, embriagados, os amigos esquisitos, falando alto e os vizinhos que o queriam bem, tentavam dar conselhos para ele, tentavam conversar com ele, mas ele no ouvia ningum, no aceitava conselhos. Um dia meu marido foi conversar com ele, e ele disse para o meu marido: Entre ai seu Bernardo, venha beber com a gente. E o Bernardo respondeu: -No quero beber seu Manoel, eu s quero conversar com o senhor. -Mas conversar sobre o qu?16

-Sobre as coisas que o senhor anda fazendo, que esta errado, e como a gente sempre se quis bem eu vim te dar uns conselhos. Mas seu Manoel naquele estado de embriagues constante, com um tom de voz meio rouca e grave como a gente nunca tinha visto, respondeu ao Bernardo: -Olha aqui ...Seu Bernardo, eu no devo nada pra ningum, no to pedindo nada pra ningum e to na minha casa. E o Bernardo calmo como sempre foi, disse a ele: -Mas, seu Manoel eu no vim aqui discutir isso com o senhor, eu s vim porque o senhor sempre foi uma pessoa muita querida de todos ns, sempre foi um bom vizinho, mas agora o senhor est embalado na bebida, andando em m companhia e... nesse momento seu Manoel se irritou e respondeu num tom agressivo: -M companhia no! Eles so meus amigos, e o senhor no tem o direito de falar assim deles! Mas o Bernardo manteve a calma e continuou: O senhor no percebe que os vizinhos que sempre gostaram tanto do senhor esto todos magoados e se afastando por causa da baguna dia e noite na sua casa? -Eles esto morrendo de inveja, as pessoas so assim mesmo, no pode ver ningum bem! -Porque o senhor no pe a cabea no lugar e vai buscar a sua esposa e as crianas que sempre te amaram tanto? A Marriela que sempre foi uma boa esposa, sempre lutou ao seu lado, e agora que o senhor poderia oferecer maior conforto pra ela, o senhor a despreza! -Ela foi embora porque quis e eu no mandei, e nem vou atrs dela. -Cuidado seu Manoel, o mundo da muitas voltas, o senhor fica desprezando as pessoas que te amam de verdade por causa de pessoas que o senhor nem conhece, e por causa do dinheiro, mas lembre-se; o dinheiro acaba, os falsos amigos desaparecem, a juventude passa, a sade acaba e s nos resta ento a famlia. Portanto seu Manoel; abaixo de Deus, a famlia a coisa17

mais sagrada que temos, e um dia o senhor poder se arrepender das coisas que est fazendo hoje. -O senhor est me rogando pragas? Pois eu no acredito nisso! -No, seu Manoel, no estou rogando pragas, o senhor sabe que no sou disso, s estou tentando abrir os seus olhos, e alm do mais seu Manoel, os vizinhos esto todos revoltados com a barulheira que est fazendo em sua casa. Se ningum veio ainda falar com o senhor, porque apesar de tudo eles ainda o querem bem, e, esto esperando que o senhor ponha a cabea no lugar, vai buscar a sua famlia e tudo volte ao normal. No instante em que os dois conversavam, parou na porta um carro todo incrementado, com som muito alto, uma msica muito desagradvel, e, desceu dele umas pessoas muito esquisitas e estranhas, umas mulheres com excesso de maquiagem usando saias muito curtinhas, uma moa alta com os cabelos compridos, o rosto bastante maquiado, brincos grandes, o salto dos sapatos exagerados, o p bastante grande para uma mulher, falando grosso que nem dava para saber se era uma mulher, ou um homem vestido de mulher. Chegaram j falando alto, e abraando o seu Manoel e dizendo: Esse o nosso grande amigo Manezo! E o Manezo...digo seu Manoel, falou para eles. Podem ir l pr dentro que eu j vou. -Pode ir l pra dentro com seus amigos seu Manoel, eu no quero atrapalhar, eu s vim te dar uns conselhos, e pedir que manere com o barulho, porque ningum est agentando mais. E at logo seu Manoel! E seu Manoel em vez de responder, at logo seu Bernardo! Ele respondeu com voz agressiva: O senhor pode ficar sossegado, que amanh mesmo eu vou comprar outra casa e sair dessa porcaria aqui, pra deixar vocs sossegados, e entrou. E essa foi noite mais barulhenta de todas, era carro saindo e chegando toda hora, com caixas e caixas de bebidas e18

comidas, e ningum na vizinhana conseguiu dormir. E quando foi de manh todos eles saram de dentro da casa, bastante embriagados, alguns com o copo na mo, outros bebendo no bico da garrafa. O seu Manoel foi o penltimo a sair, e a ltima pessoa foi uma das mulheres de saia bem curtinha. Seu Manoel estava em p na porta balanando o corpo e falando para ela: Anda logo, deixe essas porcarias ai! E os outros que j estavam perto do carro gritavam: Manezo; voc vai ou no vai? E ele respondeu: num tom embriagado! J vou! E a mulher perto dele estava com um copo de bebida em uma das mos e a outra cheia de salsichas. Seu Manoel tentava colocar a chave no buraco da fechadura para tranc-la, mas, no conseguia porque mal parava em p, e ai, a moa com jeito de homem, colocava as mos na cintura e falava para ela num tom muito engraado: Ajude ele ai menina, seno a gente no sai daqui hoje. E a outra com a boca muito cheia respondeu: Ajudar de que jeito? Eu estou com as mos ocupadas. E ai a compridona saiu rebolando e disse: Ai que dio, no suporto gente lerda! Deixe que eu tranco a porta seno a gente no sai dessa porcaria hoje! E finalmente a porta da casa foi trancada, e todos entraram no carro, bateram as portas e saram queimando pneus, e a gente percebeu que havia no carro muito mais gente do que cabia. E essa foi ltima vez que a gente viu o Manezo... o seu Manoel. A partir da todos os dias, quando ia chegando a noite, ou no amanhecer do dia, ns que j estvamos at traumatizado com tanto barulho, imaginvamos que ele e sua turma fosse aparecer, mas, felizmente ou infelizmente ele nunca mais apareceu e sua casa ficou nesse silncio e abandono total.19

E por isso que tem tantas coisas destrudas e podres dentro da casa, como voc viu! Marriela que ouviu tudo em silncio, suspirou fundo e disse para a senhora Benvinda: -Quer dizer que eu sou uma viva de marido vivo? -Porque voc esta dizendo isso? -Porque pelo que a senhora disse, aquele meu doce, querido e humilde Manoel, morreu no dia em que ganhou aquela maldita fortuna, e nasceu um outro Manoel que no vai muito longe e comea a morrer tambm no meu corao. Depois Marriela tomou mais uma xcara de caf e perguntou a dona Benvinda: -E o nosso carrinho, dona Benvinda, o que o Manoel fez com ele? -O carrinho de vocs foi a primeira coisa que seu Manoel se desfez! Voc foi embora num dia, e no outro ele apareceu ai com um carro muito chique, tirou o carrinho de vocs da cobertura e colocou-o na beira da rua. E ningum falou em compr-lo, porque no imaginvamos que ele fosse vender. E ele tambm no ofereceu pra ningum, simplesmente abandonou-o na beira da rua como se fosse um lixo, exposto ao sol, a chuva, poeira, sereno. E da chegou um senhor que tem um pequeno comrcio na zona rural, parou, olhou o carrinho ali abandonado, todo coberto de poeira, com os quatro pneus murchos, que mais parecia uma sucata. Ento o pequeno comerciante bateu palma no porto. O seu Manoel saiu na porta, e o moo falou: ia moo, eu tenho um pequeno comrcio na roa, e meio longe da cidade, ento eu t aqui oiano esse carrinho do sinhor, e to veno que o sinhor no ta usando ele, e se eu tivesse um carrinho desse, at que ele ia quebr bem o meu gio p traze as coisas pra cidade, e pra lev arguma coisa l pra minha venda e se o sinhor fiz um precinho bo, nois pode at negoici. Ento o seu Manoel respondeu: Se isso ai serve para o senhor moo, pode levar ele est ai20

s atrapalhando e tomando lugar, mas v se tira ele hoje da e no precisa pagar nada. E o comerciante muito contente com a expresso de alegria ( claro) agradeceu dizendo: Into brigado moo, e nis j vai tir ele da j. Enfim, meia hora depois o seu carrinho j tinha ido embora. Nesse instante Marriela mais uma vez deu um suspiro profundo e com os olhos vermelhos e lacrimejantes balbuciou: Eu que amava tanto o Manoel estou nesse momento odiando-o, eu no sei se estou adiando mais, a ele, ou aquela maldita fortuna. Como que o Manoel pode desprezar tanto e com tanta facilidade as coisas que a gente conseguiu com tanto esforo, e que a gente amava tanto? Tnhamos tanto carinho com a nossa casa, nosso carrinho, nossos vizinhos, nossos amigos e ele desprezou tudo isso, por causa daquela maldita fortuna. Pois eu jamais trocaria o pouco que ns tnhamos, mas que nos mantinha unidos e felizes, por aquela fortuna. Pois ele trocou uma verdadeira fortuna, por uma fortuna podre, uma falsa fortuna. -U Marriela, a vida assim mesmo, a fama, a fortuna e o poder, muda as pessoas tirando-as do caminho de Deus. -A senhora tem razo, dona Benvinda; mas as pessoas que realmente tem Deus no corao, e firme em sua f no ambiciona poder, fama, nem fortuna. S agora eu sei que meu doce e querido Manoel era s uma casca. Ento dona Benvinda perguntou: -E agora Marriela? O que voc pretende fazer? -Quem a senhora acha que poderia nos ajudar a encontrar o Manoel? -Voc pretende ir atrs dele? -Sim, para saber como ele est, e o que pretende. -Voc esta preparada para v-lo? -Sim estou! Depois de tudo que a senhora me contou, nada mais me21

surpreende. -E se voc chegar l e ele quiser ficar com voc? Duvido muito disso, mas, se isso acontecer, sentaremos e conversaremos, mas a senhora nem pense nisso porque se ele tivesse interessado em mim, teria me procurado, pelo menos para ver os filhos. Ento dona Benvinda pensou um pouco e...disse: -Voc tem razo, pensando bem, s no fato de ele nunca mais procurar voc e os filhos, como voc disse Marriela: o seu doce e querido Manoel, morreu no dia que ganhou aquela maldita fortuna, e nasceu um outro Manoel, ou seja, o Manezo. E eu acho que sei como vamos fazer para encontrar o seu Mano...digo Manezo. L na sada da cidade tem o armazm do senhor Belisco, e ...nesse momento Marriela que estava triste deu uma boa risada e perguntou: -Como foi que a senhora disse? Como chama o homem? E dona Benvinda repetiu: Senhor Belisco! -Mas quem esse senhor Belisco? -Belisco? E dona Benvinda respondeu sorrindo: Primeiro, estou feliz em ver voc sorrindo, pois eu j estava sentindo saudade do seu sorriso. Quanto ao senhor Belisco, o senhor que comprou o armazm do senhor Afronzio. E o nome dele e Joo Belisco. Mas como ele meio gorducho muito simptico todo mundo o chama de seu Belisco. E Marriela sorriu de novo. Dizendo: Minhas crianas vo dar risadas disso! -Voc tem razo! Quando ele apareceu aqui com o nome de seu Belisco, todo mundo achou engraado. E depois de rir bastante alegremente, Marriela perguntou: Mas o que que esse seu Belisco tem a ver com o Manoel? -Acontece que o seu Manezo andou gastando muito no armazm dele, e ficou conhecido, obviamente do filho dele que22

vendedor e percorre todas as cidades da regio, e, portanto deve saber por onde ele anda, concorda? -Bem pensado dona Benvinda, e o que estamos esperando? Vamos pra l agora mesmo! E as duas amigas saram conversando alegremente pela rua afora. Marriela muito bonita, de uma beleza natural, sem pinturas porque sempre foi uma mulher muito simples, sempre dedicada ao marido, que foi o seu primeiro e nico namorado e tambm os trs filhos que era a alegria da sua vida, e muito mais agora que ela era me e pai ou pe. Mas Marriela e dona Benvinda continuavam caminhando alegremente pela rua. Dona Benvinda, uma senhora muito simptica, conhecida e querida, era cumprimentada e cumprimentava a todos alegremente. E Marriela esguia com corpo escultural que nem parecia que era me de trs filhos, os cabelos longos e brilhantes balanando ao sabor da brisa. Sua pele morena bem clarinha, suas faces enrubescidas pelo sol, seus lindos olhos claros chamava a ateno de todos por onde ela passava. E a expresso de Marriela agora diferente alegre e cabea erguida, no tinha nada a ver com aquela Marriela que entrou na cidade chorando suada, nervosa, triste com ar de derrotada, preocupada sem saber o que ia encontrar e o que teria que enfrentar. Mas, Marriela agora estava consciente de tudo, conformada e sabia que tinha que levantar a cabea enfrentar a realidade, porque a vida continuava. E ela tinha que criar os filhos, e, portanto teria de passar para eles uma energia positiva, muito otimismo. Marriela agora tinha certeza absoluta que o seu doce e querido Manoel morreu no dia em que ganhou aquela maldita fortuna, para nascer o Manezo e ela estava consciente tambm que no corao do Manezo nunca teve lugar para ela e os filhos e, portanto, agora que ela estava consciente de tudo, morria tambm seu passado, morria o seu doce e querido Manoel e23

morria aquela simples, e pacata, Marriela que tanto se dedicava ao seu doce e querido Manoel, que acabava ocultando sua beleza (e que beleza!). E a nova Marriela agora disposta e obrigada a recomear uma nova vida, caminhava livre como um pssaro recm libertado de sua gaiola, seu andar era lindo, altivo, que mais parecia uma potranca selvagem, mas, obviamente, continuava uma jovem senhora de muito respeito, carter de bons princpios e disso Marriela no abria mo. Marriela caminhava ao longo da rua como um modelo na passarela sendo olhada e admirada por todos, que j a conheciam, mas nunca se deram conta da sua beleza que estava oculta por trs de uma pacata dona de casa e fiel esposa. Finalmente depois de uma longa caminhada, Marriela e dona Benvinda chegam ao armazm do senhor Belisco, e ao entrarem no estabelecimento, os clientes que ali estavam olharam todos de uma s vez para Marriela. Ento dona Benvinda cumprimentou a todos coletivamente e todos que ali estavam eram pessoas da zona rural que estavam fazendo suas compras. Ento, todos tiraram o chapu encostando-os no peito, reverenciando a velha senhora e a bela Marriela. Nesse instante o senhor Belisco que estava de costas para o balco e ouviu a voz de dona Benvinda se virou e disse num sotaque aportuguesado e muito simptico: Dona Benvinda que prazer ver a senhora aqui, em que posso servi-la e quem e a bela jovem senhora? E dona Benvinda respondeu ao senhor Belisco: Por favor, uma pergunta de cada vez! E o senhor Belisco pediu ao seu funcionrio: Deodato atenda os fregueses enquanto converso com as senhoras. -Sim senhor Belisco! Ento o senhor Belisco como sempre muito gentil, apanhou umas garrafas de refrigerante, alguns copos e levou at uma mesinha de madeira em um canto onde ele usava para fazer suas anotaes e contabilidade, e ali sentou-se com as duas senhoras e falou:24

-Tome um refrigerante enquanto conversarmos e colocou gentilmente um pouco de refrigerante nos trs copos e perguntou novamente: -Quem a bela jovem senhora e em que posso servi-las? -Primeiro, muito obrigado pela sua gentileza, e um prazer muito grande rever o senhor principalmente com toda essa sade. E agora sim: Essa aqui Marriela, a esposa do seu Manoel. -Manoel? Quem Manoel? -Desculpe senhor Belisco, o senhor o conhece por Manezo. -Ah ...o Manezo? Quer dizer que essa bela jovem senhora a esposa do Manezo? ra, ms tem alguma coisa errada! -Porque senhor Belisco? Perguntou dona Benvinda. -Porqu? : Porque ela no nada do que meu filho falou. -E o que o seu filho falou senhor Belisco? -O meu filho falou que a semana passada ele viu o Manezo junto com a esposa, e foi a primeira vez que o meu filho a viu junto com ele. S que meu filho disse que a mulher do Manezo daquelas mulheres que vai ao cabeleireiro todos os dias, faz penteados extravagantes e fora de moda, usa muita maquiagem, grosseira e nada bonita. E como esta bela jovem senhora que a acompanha muito linda (com todo respeito!) meiga e no usa nenhuma pintura, acho que meu filho se enganou, ou no estamos falando do mesmo Manezo. As duas olharam uma para a outra, e nesse instante o senhor Belisco colocou as mos gorduchas no rosto e disse: -Oh, meu Deus, ser que eu falei alguma besteira! -No senhor Belisco, pode ficar tranqilo, que o senhor no falou nenhuma besteira! E ns estamos sim, e no, falando do mesmo Manoel. Ento o senhor Belisco ergueu as duas mos olhando25

para cima e disse: Ai, graas a Deus que no falei nenhuma besteira mais, mesmo assim ainda no estou entendendo nada, a senhora pode explicar melhor? Sim senhor Belisco, o senhor j vai entender! E dona Benvinda comeou a explicar, enquanto o senhor Belisco de boca aberta ouvia tudo estarrecidamente. E Marriela ficava em silncio s balanando a cabea de vez em quando, confirmando o que dona Benvinda falava. E depois de tudo relatado, dona Benvinda exclamou: -E ento isso que o senhor ouviu senhor Belisco, como o senhor agora sabe, Marriela a esposa meiga e fiel do seu Manoel que era um homem simples, pacato, bom marido, bom pai e muito querido por todos, mas, infelizmente esse querido seu Manoel morreu no dia que ganhou aquela maldita fortuna e nasceu o Manezo que o senhor conheceu. E ento o senhor Belisco estarrecido disse: -Mas como pode o dinheiro mudar tanto uma pessoa e to rapidamente? E ento Marriela que s ouvia at agora comeou a falar. -No, senhor Belisco, no foi uma mudana, foi uma metamorfose. Porque a partir do momento que o Manoel ganhou aquela maldita fortuna, eu j no o vi mais, e j no falamos a mesma lngua, ele no tinha mais olhos para mim, para os filhos, para nossa casa, nosso carro, nossos amigos e nossos vizinhos que sempre foram caros para ns. Pois para ele nada disso tinha mais valor! E at a expresso dele j no era mais a do Manoel, mas sim, a arrogncia do Manezo que eu no conhecia e no gostei de conhecer e ento peguei meus filhos que estavam muito assustados, peguei umas poucas coisas e fui para casa dos meus pais, e depois disso nunca mais eu o vi. E ento o senhor Belisco estarrecido perguntou: -E ele. No fez nada para impedir sua partida? -No, no disse absolutamente nada! -Mas a senhora deve ter sofrido muito? Sim, senhor Belisco! Chorei dias e noites, sempre escon26

dida dos meus filhos. E procurando consol-los eu dizia: O papai vai melhorar, vai parar de beber, vai parar de comemorar, vai por a cabea no lugar e vai procurar a gente. E essa era realmente a minha esperana, senhor Belisco. Cada vez que a gente ouvia um barulho do lado de fora, cada vez que um cachorro latia, cada vez que algum batia palma, eu saia correndo, com o corao quase saindo pela boca, pois eu sempre achava que era ele e todas as vezes que isso acontecia, eu chorava muito e aos poucos eu fui me conscientizando de que ele no ia me procurar mais, e parece que eu fui me conformando, as lgrimas foram secando, e eu fui chegando a concluso de que eu era uma viva de marido vivo porque perdi para sempre o meu doce e querido Manoel, que morreu no mesmo dia que ganhou aquela maldita fortuna, para nascer o Manezo, de quem eu no quero nada, porque no tem nada dele no meu corao, e principalmente depois de tudo que a dona Benvinda me contou. Que historia fantstica a senhora acaba de me contar, comentou o senhor Belisco. -Porque o Manezo que eu conheci no tem nada a ver com o senhor Manoel que eu no conheci. Que embora sejam a mesma pessoa eu s acredito, porque as senhoras esto me contando. O Manezo chegava aqui parava o carro na porta e a gente nem precisava olhar para saber que era ele; primeiro porque ele chegava com tudo e freava o carro bruscamente; segundo porque o som do carro era muito alto e as msicas eram uma mer..., desculpe eram muito ruins. E eles desciam com tudo, falando alto, entravam aqui e o Manezo oferecia bebida pra todo mundo, mandava pegar o que quisesse, e o pessoal que estavam com ele iam pegando tudo que tinha pela frente e colocando na mala do carro que ficava at torto. E ai como era muita coisa e demorava um pouco pra somar tudo manualmente, o Manezo assinava uma folha de cheque em branco e dizendo: Vou deixar o cheque assinado e depois o senhor preenche. -Mas eu nunca aceitei! E dizia pra ele:27

-Leve o cheque e depois o senhor passa por aqui que eu deixo tudo somadinho. E ele concordava: Ento ta bo; se eu no puder vir mandarei um dos meus amigos, e o que eles precisarem o senhor pode entregar que eu mando pagar. E duas, trs horas depois, voltava um ou dois amigos dele trazendo um cheque assinado em branco, pegava mais algumas coisas, mandava somar tudo junto, e quando eu apresentava o total da soma, eles preenchiam o cheque com uma quantia bem maior alegando que o Manezo havia autorizado e eles precisavam do dinheiro para comprar outras coisinhas, mas isso era quase todos os dias, at que eu soube que ele havia ido embora da cidade e nunca mais eu o vi, mas no ficou me devendo nada. E como meu filho vendedor e anda muito pelas cidades principalmente da regio, descobriu que ele comprou uma casa muito chique pagando por ela trs vezes mais do que ela valia e a toda cidade comeou a comentar que havia um novo milionrio na cidade e que se chamava Manezo. E quando souberam que o milionrio pagou pela casa um valor to alto; seu nome virou piada, porque todos diziam: H, s podia ser mesmo um Manezo! E agora na cidade e regio, todos que se deixa fazer de bobo, chamado de Manezo. Mas o Manezo pra no admitir que foi feito de bobo se defende dizendo: Primeiro, eu tenho dinheiro pra gastar! Segundo, quando eu gosto de uma coisa no me importo com o preo! Terceiro, estou contente, e isso que importa! E as pessoas com ar de gozao piscam para os amigos batem nas costas dele e diz: Voc est certo Manezo. E outros falam: Esse o Manezo que eu conheo! E outros, esse o nosso amigo Manezo! E depois de narrada a Marriela; e dona Benvinda, tudo que sabia, seu Belisco perguntou: -E agora senhorinha Marriela o que pretende fazer?28

-H Marriela, eu te fao a mesma pergunta. Ento Marriela encolheu os ombros, levantou as mos como se estivesse segurando uma bandeja e respondeu: -Bem, como vocs mesmo podem ver, o meu doce e querido Manoel morreu no dia que ganhou aquela Maldita Fortuna. Portanto, como eu j disse; estou viva, nova, cheia de vida, consciente de que fui uma boa esposa, tenho trs filhos lindos para acabar de criar. Porque, so eles agora a razo da minha vida, e tenho que levantar a cabea, recomear a vida e dar a eles bons exemplos. -Muito bem Marriela! assim que se fala comentou dona Benvinda, estou feliz de ver voc to animada! Pois quando vi voc olhando dentro da sua casa, chorando e to desolada, fiquei em silncio respeitando a sua dor, e voc parecia uma pessoa derrotada e acabada. - verdade dona Benvinda, quando vim para cidade, j sa da casa dos meus pais muito nervosa imaginando o que iria encontrar na minha casa. No caminho encontrei o senhor Aristeu que alm de chamar o meu Manoel de Manezo, ainda insinuou alguma coisa que nada me agradou, e na entrada da cidade encontro dona Hophelia que tambm parecia querer dizer alguma coisa, e no teve coragem. Depois encontrei o nosso carrinho de estimao que eu imaginei estar sendo dirigido por meu querido Manoel e quando chegou perto, e meu corao estava quase saindo pela boca, fiquei decepcionada e amargurada ao ver que quem o dirigia era um estranho, e que usava o para transportar bugigangas. E quando cheguei e vi minha casa parecendo um tmulo abandonado, tive a impresso que o mundo estava desabando sobre mim. Graas a Deus que a senhora estava por perto e deu todo o apoio que eu precisava. E depois que tomei aquele banho, tomei caf com a senhora; eu fui me sentindo fisicamente e psicologicamente melhor, e medida que eu ia ouvindo a senhora, contando sobre o Manoel parece que ele foi saindo do meu corao, eu ia j29

imaginando o Manezo e j fui me libertando, sentindo-me tambm uma outra Marriela. E neste corao que s teve lugar para o Manoel, no tem nem em sonho lugar para o Manezo. -Muito bem Marriela assim que se fala, pois eu que vi voc daquele jeito to deprimida, fiquei muito feliz quando voc deu aquela gargalhada s porque eu falei do senhor Belisc... E dona Benvinda interrompeu a frase, nesse momento Marriela deu uma gargalhada gostosa, e dona Benvinda tambm no conseguiu segurar, e acabaram os trs rindo, e o seu Belisco curioso quis saber do que eles esto rindo, e o que foi de to engraado que fez a Marriela rir quando estava deprimida. Ento dona Benvinda bem humorada e sincera no escondeu e explicou a ele: ... que eu disse a ela que tenho um senhor muito bom e amigo que poderia nos ajudar a encontrar o Manezo, e esse senhor se chamava Joo Belisco, mas como ele era meio rechonchudo as pessoas o chamavam de seu Belisco, e ela achou engraado cham-lo de Belisco, foi s isso! Ento os trs riram de novo e o seu Belisco disse: Ento parece que eu j fui til para alguma coisa! -Sim senhor Belisco! Foi! E muito! No s quando; mesmo sem saber levantou o nimo de Marriela provocando a gargalhada, e tambm agora nos proporcionando esse momento gostoso de descontrao, mas nos fornecendo tambm as informaes que viemos buscar. E o seu Belisco reafirmou: -Olhe, o que vocs precisarem podem contar comigo que eu terei prazer em ajudar, tanto a senhora dona Benvinda quanto senhorinha Marriela que acabei de conhecer, mas j vi que uma mulher de fibra, e se amiga de dona Benvinda, ento no somos apenas amigos, somos uma famlia no e dona Benvinda? - verdade senhor Belisco, s vezes mais fcil encontrar um irmo entre os amigos do que encontrar um amigo entre os irmos. E agora Marriela, que temos toda informao que precisamos, o que voc pretende fazer?30

Bem, dona Benvinda, hoje nada! Acho que por hoje j fizemos bastante progresso, mas amanh, no sei como, mas vou dar um jeito, no sei de que jeito, mas vou ver a cara desse tal Manezo. -Voc est preparada para encarar o seu marido Marriela? -No dona Benvinda, eu no vou encarar o meu marido porque o meu doce e querido marido Manoel, como vocs mesmo so testemunhas, morreu no dia que ganhou aquela maldita fortuna. Mas mesmo assim; at a minha chegada aqui na cidade ainda tinha algumas esperanas que, desapareceram totalmente quando vi minha casa naquelas condies; e depois de tudo que vocs me contaram cheguei a concluso de que com o nascimento de Manezo, no h mais nem vestgio do meu doce e querido Manoel. Mas, estou curiosa para conhecer o milionrio Manezo, e ao mesmo tempo legalizar a minha situao para que eu possa recomear minha vida e criar os meus filhos que vo precisar muito mais de mim agora. E a o senhor Belisco disse: -Muito bem senhorinha Marriela, a senhora Benvinda e eu assim como outras pessoas que a conhecem e a querem bem com certeza, estamos prontos para apoi-la e ajud-la no que for necessrio, no dona Benvinda? -Com certeza senhor Belisco, a gente tinha certeza que podia contar com o senhor. -Muito bem, ento pra comear,na tera-feira da semana que vem meu carro dever sair da oficina e na quarta-feira ns vamos levar a senhorinha Marriela para encontrar-se com o Manezo. -Muito obrigada desde j senhor Belisco! E... muito longe daqui at l? -Bom,...eu acredito que, segundo meu filho; de cinco a seis horas de viagem. -E ser que vai ser fcil achar o Manezo? -Bom, pelo que o meu filho falou, em qualquer lugar da regio que voc pronunciar o nome do Manezo, todo mundo o conhece, ou pelo menos j ouviram falar.31

-O senhor tem razo, acho que fiz at uma pergunta boba, pois um Manezo assim fica conhecido de todo mundo, principalmente quando ele rico. Mas, como faremos ento senhor Belisco? -Muito simples, est resolvido, vocs procurem se deitar cedo na tera-feira e descansem bem, que na quarta-feira quando o dia comear a clarear eu estarei l para apanh-las, estejam prontas. E a senhora dona Benvinda, por favor, deixa a mesa pronta com o bule de caf bem quentinho e aquelas broas gostosas que a senhora sabe fazer, porque precisamos reforar bem o estmago para a viagem. E dona Benvinda perguntou: -Essa idia de reforar o estmago para a viagem de verdade? Ou uma desculpa que o senhor arranjou para comer as minhas broas? E com esta pergunta de dona Benvinda, os trs caram na gargalhada. Muito bem, disse dona Benvinda; ento est tudo acertado senhor Belisco, na quarta-feira quando o dia comear a clarear estaremos prontas e terei o maior prazer em ter o senhor em minha mesa tomando caf conosco. Ento o bem humorado senhor Belisco respondeu: -Caf conosco no! Dona Benvinda! caf com broas! E novamente as gostosas e alegres gargalhadas. -Ento at l senhor Belisco, e passar bem. -At l senhora dona Benvinda, se Deus quiser! E Marriela esticou o brao despedindo-se tambm do senhor Belisco pegando em sua mo. -Ento, at quarta-feira senhor Belisco, foi um prazer muito grande conhecer o senhor, e muito obrigado por tudo que o senhor est fazendo por mim. -At l senhorinha Marriela, e no tem nada que agradecer. Ao despedirem-se do senhor Belisco, as duas saram novamente caminhando pela rua afora, e Marriela mais uma vez com seus cabelos longos e lindos balanando ao sabor da suave32

brisa, seu jeito gostoso de caminhar como uma potranca selvagem chamava a ateno de todos por onde passava. At que finalmente chegaram a casa de dona Benvinda. E ao chegar, Marriela deu uma paradinha diante da sua casa abandonada, ficou olhando-a e nesse momento quantas coisas, quantas lembranas, passou pela sua cabea principalmente, ao olhar a varandinha onde muitas vezes ela sentada juntinho do seu doce e querido Manoel conversando e olhando as crianas a brincar at a hora de dormir, correndo pra l e pra c rindo felizes. E ao ficar lembrando de tudo isso olhando para a casa Marriela pensava: Meu Deus, como pde tudo acabar? Como pde aquela Maldita Fortuna destruir um lar to feliz? Como pde aquela Maldita Fortuna separar dois coraes que se amavam tanto? Como pde aquela Maldita Fortuna transformar o meu doce e querido Manoel que era to pacato, to seguro, to humilde e dedicado famlia, num Manezo otrio, esbanjador e arrogante? A ponto de simplesmente desfazer to depressa de tudo que conseguimos com tanto esforo, com tanto carinho e que era para ns motivo de orgulho? Nesse momento Marriela comeou a sentir uma dor no peito, um n na garganta, uma saudade to grande que a fez dar um soluo profundo e as lgrimas rolaram novamente em sua face. E mais uma vez dona Benvinda veio confort-la com suas palavras sbias de quem j viveu bastante e j tem muitas experincias e disse: -Est fraquejando de novo Marriela? -Desculpe dona Benvinda, que eu comecei a olhar para minha casa e lembrar de como a gente era feliz, e eu nunca poderia imaginar que toda aquela alegria e felicidade pudesse acabar um dia. E agora vejo minha casa que era um ninho de felicidade parecendo um tmulo abandonado. -No Marriela, a felicidade no acabou e no chegou nem33

perto de acabar; Primeiro porque, voc ainda jovem e bonita, alias muito mais bonita agora; Segundo porque continua tendo seus trs lindos filhos com voc, e quanto a casa estar parecendo um tmulo; fique tranqila porque eu vou organizar um mutiro, e em poucas horas ela vai estar limpinha, pintadinha, o quintal carpido e as flores replantadas, eu te prometo. E agora enxugue as lgrimas, levante a cabea e vamos l para dentro. -Obrigada dona Benvinda, a senhora tem toda razo, eu no sei o que seria de mim sem a senhora. E claro, que o meu doce e querido Manoel est morto e enterrado porque o passado no volta mais, e no meu corao no tem lugar para o Manezo mesmo que ele quisesse. Ento, como a senhora disse: esquecer o passado e recomear uma nova vida. Marriela enxugou as lgrimas e as duas entraram na casa. Marriela tomou um belo banho, relaxou e quando chegou a noite ela jantou bastante com dona Benvinda e seu bom esposo o senhor Bernardo. Conversaram bastante at que ... Interrompendo-os, algum bateu palmas no porto chamando por dona Benvinda. Era um caminhoneiro, seu vizinho que acabava de chegar de viagem e veio avis-la que sua irm Davinda que morava em outra cidade e estava muito doente e solicitando sua presena. E como ele teria que voltar naquela cidade no dia seguinte para buscar uma carga e teria o maior prazer em lev-la caso ela disse. Ento dona Benvinda que preocupava demais com a irm, agradeceu muito o caminhoneiro, aceitando a gentil carona para o dia seguinte. E tambm sabendo que a amiga Marriela precisava, espairecer a cabea e s iam mesmo poder ir procurar o Manezo na semana seguinte, convidou-a (ou quase intimou-a) a ir junto. E antes que Marriela dissesse: Eu no vou com a senhora porque no tenho roupas, eu no as trouxe, e as que eu deixei aqui na casa como a senhora bem sabe, estragaram todas, dona Benvinda j adiantou: Voc no precisa se preocupar com as roupa, v com este vestido mesmo que quando chegarmos l eu compro outros pra34

voc. E foram! Assim, Marriela passou a semana ajudando a amiga a cuidar da irm doente, ganhou lindas roupas e conseguiram voltar dentro do prazo para viagem combinada com o senhor Belisco. Ao chegarem em casa, j era um pouco tarde, e ento tomaram banho, jantaram e como em quase todos os dias, Marriela queixou-se de saudade dos filhos, mas; dona Benvinda animou-a dizendo: Agente s mais um pouquinho que amanh mesmo voc vai v-los! E depois de acalm-la, dona Benvinda falou: -Bom gente, agora vamos dormir porque amanh temos que levantar muito cedo e temos que estar bem descansadas para a viagem que ser cansativa, e eu sei que o seu Belisco pontual e madrugador. -A senhora tem toda a razo, boa noite senhor Bernardo! E boa noite dona Benvinda! -Boa noite Marriela e tenha bons sonhos. Marriela entrou no quarto, encostou a porta, mas, no a trancou e deitou-se confortavelmente, a cama era bastante macia e cheirosa, pois dona Benvinda era uma dona de casa muito prestimosa e mantinha sua casa impecvel. Ento Marriela deitou-se de costas, colocou as mos sob a cabea e no profundo silncio da noite ela podia ouvir ao longe o som de uma melodia; uma melodia doce, suave, to doce e suave quanto estava noite, quanto estava a brisa e quanto estava a prpria Marriela. Agora tranqila, serena, to serena que ao som da melodia logo adormeceu dominada pelo cansao de um longo e penoso dia. E antes do dia amanhecer Marriela despertou j descansada e novamente com toda energia. E ao despertar, tranqila, j ouvia os passos de dona Benvinda na cozinha, a colher mexendo o acar dentro do bule e o gostoso cheirinho de caf. Ento Marriela foi at a cozinha e cumprimentou... -Bom dia dona Benvinda! Eu j estou em p.35

E dona Benvinda respondeu com alegria. -Que bom! Bom dia Marriela, voc dormiu bem? -Sim dona Benvinda, dormi como um anjo! E eu estava mesma precisando de uma noite assim. -Ento v se arrumar e venha tomar caf, ordenou dona Benvinda. Marriela voltou para o quarto, e rapidamente vestiu-se, deu uma penteada nos cabelos e num instante estava linda, j que ela no usava e nem precisava de pinturas. E quando ela retornou a cozinha, j se ouviram o barulho de um carro parando na porta; era o madrugador e pontual senhor Belisco. Dona Benvinda foi at a porta receb-lo, e ele j chegou alegre, bem humorado e disse: -Bom dia senhora, Benvinda! Bom dia senhorinha Marriela. E ento, estou no horrio? -Sim senhor Belisco, o senhor de uma pontualidade britnica e eu gosto disso; venha vamos tomar caf, ns j estvamos esperando pelo senhor para tomarmos o caf juntos. Ento sentaram-se a mesa e Marriela que no era de comer muito tomou uma xcara de caf com leite, comeu uma broa e parou. O senhor Belisco observou e fez o seguinte comentrio: -A senhorinha Marriela comeu muito pouco para quem vai viajar; ser que para no perder a elegncia? -No senhor Belisco, nunca me preocupei com isso, que eu quase no como de manh. -Eu sei disso senhorinha Marriela, foi s uma brincadeira, e eu j percebi que a senhorinha elegante por natureza. E quanto senhora, dona Benvinda, fique tranqila que no vou comer todas as suas broas viu? -Pode comer a vontade senhor Belisco eu fiz para o senhor mesmo. -Bem, eu disse para senhora que no vou comer todas; mas eu no disse que no vou lev-las! E os trs caram na risada. E Marriela comentou: -H senhor Belisco como bom a gente comear o dia36

com pessoas como o senhor e dona Benvinda, e acho que vamos ter um dia bastante divertido, no verdade? Seu Belisco concordou: -Simmm! E... com certeza! E por falar nisso...; nesse momento o senhor Belisco esticou o corpo na cadeira, bateu com as mos em cima daquele barrigo e disse: -Bem gente, eu estou abastecido e pronto para partir. E vamos embora porque eu quero acabar de amanhecer na estrada, e quanto mais cedo a gente for, mais cedo a gente volta, e temos mais tempo para resolver nossos assuntos. Enfim todos alimentados e prontos para partir, entraram no carro, e o senhor Belisco muito religioso, de mos apostas proferiu as seguintes palavras: Que nosso senhor Jesus Cristo nos abenoe e nos proteja para que faamos uma viagem tranqila. E todos juntos responderam: Amm! E partiram. A viagem foi tranqila porque a estrada no tinha muito movimento, o senhor Belisco era muito responsvel, motorista experiente dirigia com tranqilidade e quando um carro se aproximava, ele encostava para a direita e o deixava passar. Marriela ficava encantada com tudo que via pela estrada, eram as matas, as flores de espcies variadas, as montanhas, rios que serpenteavam no meio dos vales, vales que pareciam no ter fim, pssaros e borboletas, de tamanhos e cores variadas, uma mais linda do que a outra, animais domsticos pastando, tais como bezerros e potrinhos recm nascidos correndo e pulando em volta da me felizes como crianas descobrindo as belezas do mundo e o prazer de viver. E tudo isso parecia contagiar Marriela que no sabia nem para que lado olhar com tanta beleza. Marriela apesar de tudo que havia passado; a decepo e perda do seu doce e querido Manoel, estava agora parecendo um pssaro recm libertado de uma gaiola e s queria curtir sua liberdade com responsabilidade e dignidade. E aps horas de uma longa e tranqila viagem, finalmente37

chegaram na pequena cidade onde estava vivendo o famoso Manezo. E ao chegarem o senhor Belisco parou o carro diante de uma pracinha at muito bem arrumadinha, bastante florida, dando a cidade um aspecto bem alegre. Em um dos lados da praa ficava a igreja construda bem acima do nvel do cho, com uma grande escadaria na frente, lindos vitrais, duas torres com campanrios e nas laterais da praa havia alguns bares, lanchonetes, lojas, algumas at com aspecto de casa de artigos finos. E em um canto da praa havia um estabelecimento com uma grande placa escrito; bar e bilhar. Marriela, dona Benvinda e o senhor Belisco, desceram do carro aos olhares das pessoas curiosas; um comportamento normal das pequenas e afastadas cidades interioranas, as pessoas ficam muito curiosas para saber quem so os recm chegados j que muito raro aparecer, estranhos na cidade pequena e afastada, e quando aparecem so sempre parente de algum, amigo ou conhecido. Ento elas ficam perguntando para si mesma: Quem ser? Parente de quem ser? De onde so? Mas essas pessoas normalmente so muito gentis, hospitaleiras e prestativas, esto prontas a prestar informaes corretas e ajudar no que for preciso. Os trs se esticaram, para colocar os ossos no lugar, e deram uma olhada em tudo em sua volta, admiraram tudo, fizeram alguns comentrios e o senhor Belisco falou o que as duas j esperavam: -Bom gente, a viagem foi longa e as broas da dona Benvinda j passou o efeito, e minha barriga j est pronta para encher de novo, eu sei que ainda um pouco cedo mas, vamos procurar um almoo? -Gostei da idia! Responde Marriela. E dona Benvinda tambm completou dizendo: -E eu muito mais, vamos almoar e cuidar do que viemos fazer e quanto mais cedo resolvermos tudo, mais cedo voltare38

mos para casa. Depois entraram em um restaurante simples, porm muito bem arrumadinho e que servia uma comida at bastante caseira. O senhor Belisco como sempre comeu bastante e elogiou a comida. Dona Benvinda tambm comeu bem, e Marriela como sempre, comeu pouco, olhando pra todo lado, parecia nervosa e apreensiva, dona Benvinda percebeu e comentou: -Tenha calma Marriela, voc vai ter que enfrentar o Manezo de cabea erguida, portanto, anime-se est chegando a hora. -Confesso a vocs que estou muito nervosa, no sei se vou ter coragem de encar-lo. -No voc que vai precisar de coragem para encar-lo, mas ele sim, portanto confie em minha experincia levante a cabea, estufe o peito e encare-o de frente, garanto a voc que ele vai baixar a cabea; confie na minha experincia! -A senhora dona Benvinda tem toda razo senhorinha Marriela, confie e faa exatamente o que ela disser que vai dar tudo certo, comentou o senhor Belisco. E ento Marriela suspirou fundo e concordou: -Vocs tem razo! No sou eu que tenho motivos para baixar a cabea, mas ele que vai precisar de coragem para me encarar. Ento os trs se levantaram, foram at o balco, e o senhor Belisco queria pagar a conta sozinho mas, dona Benvinda no permitiu dizendo: -Eu fao questo de pagar. E comearam: -Eu pago! -No eu pago! At que entraram num acordo e dividiram a conta para acabar com a pendenga. Enfim, pagaram a conta para o dono do estabelecimento, elogiaram a comida e agradeceram. E dona Benvinda j aproveitou para pedir ao dono do estabelecimento a informao que precisavam.39

-Por acaso o senhor conhece por aqui um senhor chamado Manezo? E o dono do estabelecimento deu um sorriso, olhou por cima dos culos e perguntou: -Vocs devem ser de muito longe no? Porque para no conhecer o Manezo, no pode ser da regio, porque por aqui todo mundo o conhece. E...vocs me desculpem a curiosidade; mas... so parentes dele? E simultaneamente Marriela respondeu: -No! E dona Benvinda: -Sim! E o comerciante olhou para as duas assim meio confuso e perguntou: -Sim? ou No! E dona Benvinda diz: -Sim senhor! Esta aqui a esposa dele! E o dono do estabelecimento muito espantado esticou o pescoo para frente, colocou a mo nos culos baixando-o ainda mais, colocando-o na ponta do nariz e disse: -Me desculpem as senhoras, mas, acho que no estamos falando do mesmo Manezo; porque o Manezo que ns conhecemos aqui, a mulher dele outra e no nem um pouco bonita e nem fina como esta bela senhorinha. -No meu bom senhor, ns no estamos falando de pessoas diferentes. Mas de certo modo o senhor tem razo, porque esta aqui a esposa de um Manuel que o senhor no chegou a conhecer, e esse Manezo o marido que ela nunca conheceu e ns estamos aqui para isso, para ela conhec-lo. -Bom, se assim terei prazer em ajudar. Ento vocs faam o seguinte; pegue esta rua aqui e... De repente o comerciante interrompeu a frase olhando firmemente para o outro lado da praa, esticou o pescoo para frente, ajeitou os culos e chamou o balconista seu funcionrio: -Alfredo venha c, depressa, depressa, voc que tem a40

vista boa olhe l perto daquela loja, aquela no a Dodesse? -Sim senhor! a Dodesse mesma! E eles se referiam a uma mulher grandalhona, de cabelos descoloridos, muita maquiagem, jeito de andar pouco elegante, brincos grandes, muitas bijuterias, salto alto, tudo com exagero, enfim; nada parecido com uma dama, e tinha nas mos varias sacolas de loja que pareciam to pesadas que deixavam o seu andar ainda mais desengonado. A mulher andou alguns metros e chegou perto de um carro, que chamava muita ateno por causa do exagero de adereos uma coisa bastante brega, cafona mesmo, coisas de pessoas que faz de tudo para aparecer. Ento ela colocou aquela grande quantidade de sacolas, no cho, abriu o carro e colocou uma por uma dentro do veculo, depois trancou-o e caminhou novamente em direo outra loja provavelmente para fazer mais compras. Nesse momento o comerciante balbucio: Essa Dodesse uma gastadora compulsiva! -E dona Benvinda indagou: Quem essa tal de Dodesse que os senhores esto falando? E o senhor comerciante respondeu: -Essa famosa e gastadora inveterada a mulher do Manezo, e se ela est aqui, o Manezo tambm est para sorte de vocs. Vocs querem que mande um funcionrio meu localiz-lo e cham-lo para vocs? Dona Benvinda aceitou dizendo: Se no for muito incomodo, ns ficaramos muito agradecidas. -No, no incomodo nenhum, ser um prazer poder ajudar. Ento o bom comerciante chamou o funcionrio e disse-lhe: -Alfredo, a Dodesse est fazendo compras; ento o Manezo tambm est por ai, de uma voltinha na praa localize-o e diga apenas que tem aqui umas pessoas querendo falar com ele. E o funcionrio prontamente atendeu: -Sim senhor! Acho que sei at onde ele est! E o funcionrio foi direto ao bar que ficava localizado no canto da praa, onde havia uma grande placa escrito; bar e bilhar. E assim que o funcionrio foi em direo ao bar, o senhor41

Belisco, dona Benvinda e Marriela no tiravam os olhos daquela direo. E Marriela virava pr l e para c, esfregava uma mo na outra, seus lbios tremiam como quem estivesse com muito frio. E dona Benvinda dizia: Calma Marriela; voc precisa manter a postura, e alm do mais no voc quem deve ficar nervosa, pois, quem no deve no teme! E o senhor Belisco tambm dava seu apoio: -Dona Benvinda tem toda a razo senhorinha Marriela, a senhorinha precisa levantar a cabea para que o Manezo baixe a dele. Nesse momento, sai de dentro do bar e bilhar o funcionrio que foi procurar o Manezo, acompanhado por um sujeito gordo, barrigudo, com um corte de cabelo inadequado para a idade dele, usando um bermudo cheio de bolsos, uma espcie de jaqueta sem mangas, toda desfiada, um par de tnis super vulcanizado e parecia maior do que os ps, uma cerveja na mo enfim, um verdadeiro Manezo. E como ele vinha conversando com o funcionrio e gesticulando, no percebeu que dona Benvinda, o senhor Belisco e Marriela observavam-o a distncia. E Marriela balbucio: Meu Deus, se aquele for o Manezo, realmente no existe nada, absolutamente nada nele que lembre o meu Manoel, que se vestia com simplicidade, com naturalidade, comportava-se com decncia; era enfim um pobre rico, mas aquela, Maldita Fortuna o transformou em um rico pobre. Enquanto Marriela balbuciava, Manezo que conversava e gesticulava com o funcionrio Alfredo, atravessou toda praa, sem perceber ou desconfiar para onde estava indo, quem ou o que o esperava. De repente o funcionrio parou bruscamente e disse ao Manezo: So estas pessoas que querem conversar com voc! Manezo parou bruscamente diante de dona Benvinda senhor Belisco e Marriela. Quando ele os reconheceu calou-se no ato, transformou-se numa esttua.42

Seu rosto que estava j bastante vermelho por causa das cervejas consumidas, empalideceu, a cerveja lhe caiu da mo, suas pernas tremiam quase desequilibrando-o, sua voz no saia e ele ficou ali parado no conseguia ir para frente nem para traz e ele ficou ali como uma esttua com os olhos esbugalhados olhando para os trs. Ento Marriela em p com os braos pendurados na frente do corpo e as mos cruzadas, e cabea inclinada levemente para o lado, com aquele jeito doce, meigo e angelical, que era o seu dom natural, olhava fixamente para Manoel. E enquanto olhava-o pensava: ...meu deus como o dinheiro pde mud-lo tanto... Ele se transformou em uma pessoa digna de pena, e isso que eu sinto por ele agora, somente pena! Marriela era uma pessoa ponderada, humilde, calma, de corao mole, compreensiva, sempre pronta a perdoar. O senhor Belisco e dona Benvinda no deram uma palavra, apenas ficaram os quatro em absoluto silncio, at que Marriela do mesmo jeitinho que estava, e fitando-o perguntou com voz doce e suave quase que chorando: Como voc est Manoel? E Manoel baixou a cabea todo sem jeito, trmulo e com as unhas tentava tirar pelinhas da palma das mos. Tentava tirar das unhas pintadas e bem arrumadas sujeiras que no existiam. E com a voz trmula e gaguejando respondeu com muita dificuldade: Eu t... eu t muito bem! - E porque voc no me procurou Manoel? - Eu... eu no mandei voc embora, voc foi porque quis! - E voc no sentiu saudades de ns? - Eu preferi viver a minha vida e deixar voc viver a sua! - Manoel, agora voc no precisa mais da sua famlia, nem dos seus amigos no ? Agora voc rico e tem tudo que voc precisa no ? Pense bem Manoel, o dinheiro acaba, a sade acaba pois, tudo nessa vida iluso, voc no quer voltar para nossa casa, esquecer tudo e recomear a vida?43

E o Manoel continuava de cabea baixa, no tinha coragem de olhar nos olhos de Marriela. E Marriela perguntou mais uma vez: Voc no quer voltar l para casa e recomear a vida junto comigo e nossos filhos? Ns ainda podemos ser felizes juntos! E Manezo respondeu: -No, eu no quero! ...O passado j faz parte do passado e eu s quero legalizar a nossa separao, assim voc vive a sua vida e eu vivo a minha. s ver o que voc quer que eu dou os seus direitos! -No Manoel, voc pode ficar tranqilo que dessa sua fortuna eu no quero nem um centavo, pois ela s serviu para destruir a minha maior riqueza. E se ela to importante para voc, eu s desejo que voc seja muito feliz porque a nica coisa que eu quero passar para o nome dos nossos filhos a nossa casinha que eu ajudei a comprar com muito sacrifcio, e que pra voc no significa mais nada, mas para mim e para nossos filhos ela ainda vale ouro e vai voltar a ser um ninho de felicidade, embora voc a tenha transformado num lixo, em todos os sentidos. -Ento voc pode providenciar os documentos que forem necessrios e me mandar que eu assino; da casa e da separao tambm! Disse ele. -Est bem Manoel, se assim que voc quer, assim ser feito. Nesse momento a grandalhona Dodesse chega e diz: -O que que est acontecendo ai Man? Quem so essas pessoas? E o Manezo respondeu assim meio grosseiro: -No est acontecendo nada, vai fazer as suas compras vai. E a mulher com as mos cheias de sacolas ficou parada olhando para ele. Ento ele falou novamente num tom mais agressivo: -O que que voc esta esperando? Vai que eu j estou indo! A mulher se virou rapidamente num tom de raiva, e se foi. Nesse momento Marriela disse: -Ns tambm j estamos indo, temos uma longa caminha44

da para fazer no verdade senhor Belisco? -Sim senhorinha Marriela verdade! Temos uma longa viagem pra fazer! E Marriela olhando para o seu doce, querido e to diferente Manoel, sentiu uma dor no peito, um n na garganta e ento esticou o brao pegou em sua mo apertando-a e ainda conseguiu dizer com certa dificuldade: Ento...adeus Manoel! E depois virou-se lentamente e foi em direo ao carro abrindo-o e sentou-se no banco traseiro. E Manezo todo sem jeito, cabisbaixo, sem dizer uma s palavra e andando lentamente voltou para o bar. Marriela dentro do carro e com os olhos cheios de lgrimas observava-o como se estivesse olhando para ele pela ltima vez. Dona Benvinda e o senhor Belisco foram despedirem-se e agradecer o dono do restaurante e o funcionrio Alfredo que foram muito gentis ajudando-os na localizao do Manezo e depois voltaram para o carro e partiram. Na sada Marriela ainda olhou para trs e viu que muitas pessoas os observavam, menos o seu, agora ex-Manoel. Marriela baixou a cabea, colocando o rosto dentro das mos e soluava em prantos. Dona Benvinda passou carinhosamente a mo em sua cabea e disse: Chore Marriela, chore bastante isso vai lhe fazer bem e eu posso muito bem imaginar o que voc est sentindo! E depois ouve um bom perodo de silncio entre os trs parecendo que todos queriam refletir sobre o que ouve, a conversa de Marriela com o marido, o comportamento dele, o jeito de se vestir e a espantosa mudana de modo geral. Que a fortuna fez, transformando-o de seu Manoel, no Manezo de agora. Uma figura de certo modo bizarra e ridcula. E depois de um longo tempo ouvindo s o barulho do carro a rodar na estrada, Marriela levantou a cabea, enxugou as lgrimas e o nariz, jogou o cabelo para trs, deu um suspiro profundo e desabafou. -h... como disse o Manoel, o passado ficou no passado! E dona Benvinda concordou:45

-Muito bem Marriela, pelo menos agora voc est consciente disso, e se voc ainda tinha alguma esperana de recuperar o seu querido Manoel, agora j sabe que tem que levantar a cabea, recomear a sua vida, e esquec-lo para sempre. Mas, voc ainda tem a sua casa, seus amigos, linda, cheia de sade e tem seus trs filhos lindos, que agora tem voc como me e pai. -A senhora como sempre tem toda razo, dona Benvinda! E por falar em filhos, j estou morrendo de saudade dos meus. Amanh vou levantar bem cedinho, vou at a casa dos meus pais, me sentar com eles e os meus filhos, explicar com detalhes tudo que est acontecendo, porque assim eles tambm ficaro conscientes de que o nosso doce e querido Manoel definitivamente faz parte do nosso passado. E depois que conversar com eles e matar a saudade, volto sozinha e como senhora mesma disse, vamos dar um jeito na minha casa vou providenciar os documentos, mandar para o Manoel assinar e comear uma nova vida. -Muito bem! Diz dona Benvinda. Vamos fazer o seguinte, a filha de uma amiga minha prestou concurso pblico passou e poucos dias depois comeou a lecionar l para os lados da casa dos seus pais, acho que bem pra l. E hoje noite eu mando um recado para ela passar por aqui amanh cedo, assim voc poder ir e voltar com ela tarde. E enquanto isso eu j converso com um advogado que meu amigo desde a poca de escola, e ele vai resolver num instante a legalizao da sua casa e da sua separao, sem que voc precise mexer com nada, e muito menos levar os documentos para o Manoel assinar. Voc s assina a procurao que ele entrega a voc tudo pronto, e tambm j aproveito para conversar com as pessoas que vai ajudar a limpar sua casa, depois de amanh logo cedo. Finalmente terminou a longa, mas proveitosa viagem. E j estava escurecendo quando o senhor Belisco encostou o carro na porta da casa de Dona Benvinda, os trs desceram, esticaram o corpo, estalaram as juntas. E dona Benvinda disse ao senhor Belisco:46

-O senhor no quer entrar um pouco e ficar para jantar conosco? -No dona Benvinda, eu vou para casa tomar um bom banho e descansar, mas, no faltar ocasio. E alm do mais, vocs j me deram o prazer dessa bela viagem que alias; eu estava mesmo precisando dar uma boa esticada. E vocs alm de me proporcionar o prazer dessa viagem, ainda me deram o prazer de almoarmos juntos enfim, graas a vocs, eu dei uma boa quebrada na rotina, de sair um pouco de trs daquele balco, e se precisarem de mim novamente, j sabem onde me encontrar. Dona Benvinda e Marriela ento agradeceram muito o senhor Belisco. Depois ele partiu e elas entraram em casa, tomaram banho, jantaram, conversaram bastante como duas boas amigas e fizeram um resumo de tudo que ocorreu durante o dia, e depois disseram boa noite e foram dormir. No dia seguinte bem cedinho, dona Benvinda como sempre madrugadeira por natureza, j estava na cozinha fazendo caf que exalava cheiro por toda a casa, e logo Marriela tambm surgiu no umbral da porta se esticando, toda sorridente, com ar de felicidade e dizendo: Que noite maravilhosa, h muito tempo que no passo uma noite assim, ser que porque eu estava cansada da viagem? -No Marriela! Voc j teve dias mais cansativos, voc dormiu bem e acordou feliz porque voc est hoje comeando uma nova vida e nada melhor do que estar feliz e sorridente para comear um novo dia, uma nova vida. E agora sente-se a, tome o seu caf, que daqui a pouquinho a professorinha estar aqui para apanhar voc. - mesmo dona Benvinda, nem acredito que daqui a pouquinho vou estar junto dos meus filhos, dos meus pais e dar as notcias a eles! Marriela acabou de tomar o caf e quando acabou de levantar da mesa, uma buzininha tipo calhambeque soou l fora, era a professorinha, que Marriela pensava que fosse to estra47

nha e, no entanto eram velhas conhecidas, pois os pais da professorinha tinham um stio que fazia divisa, com os pais de Marriela. E as duas se cumprimentaram, se abraaram, Marriela despediu-se de dona Benvinda abraando-a fraternalmente dizendo: No sei o que seria de mim sem a senhora, mas a tarde eu estarei de volta! -Volte mesmo que amanh temos muito a fazer, e vo com Deus. E elas responderam, amm, fique com Deus a senhora tambm, e partiram. Como o percurso entre a cidade e a casa dos pais de Marriela para se fazer de carro no era muito longo, elas chegaram logo. Quando o carro da professorinha parou diante da casa, ainda era bastante cedo, a relva ainda estava bastante molhada pelo sereno da noite, as vacas j estavam berrando nas porteiras dos mangueiros, as casas que se via por ali estavam todas lanando fumaa no espao atravs e suas chamins, o gostoso cheiro de caf fresquinho exalava bastante forte. Marriela desceu do carro, agradeceu a amiga que prometeu apanh-la na volta e se possvel fazer uma paradinha para ver os seus familiares. O carro acelerou forte na sada e seu barulho chamou a ateno dos filhos de Marriela que embora j estivessem em p, mas ainda estavam dentro da casa, e a casa ficava a uns cem metros afastada da estrada. Marriela atravessou a porteira, deu uma boa olhada em volta, fechou os olhos, abriu os braos e deu uma girada no corpo, deu uma boa respirada no ar da manh, e de repente como era de se esperar, ela ouviu uma voz doce e suave para os seus ouvidos mame era Haninha que veio correndo ao seu encontro com os braos abertos e pulou em seu pescoo, abraando-a fortemente. E logo atrs Tiaguinho e Felipinho e os trs se agarraram me como se no a vissem muito tempo, e Haninha olhando bem para a me, disse: -Nossa mame como senhora est linda! E Tiaguinho e Felipinho confirmaram:48

- mesmo mame, como a senhora esta diferente! E Marriela ali agarrada aos filhos a ponto de no conseguir andar, deu uma risada e disse: -Bobagem, que vocs esto com muita saudade. E na casa j se via seus irmos na janela, sua me em p na porta e seu pai do lado de dentro do mangueiro em p com um balde de leite na mo olhando para ela. A impresso que se tinha naquele momento era que no s toda a famlia, mas at os animais, as plantas, e at mesmo o sol brilhando suavemente no espao olhavam para Marriela, pois ela era naquele momento o alvo das atenes, tudo era alegria, tudo era felicidade. Marriela entrou, abraou a todos, chorou bastante, mas, de alegria, de felicidade e depois foi at o mangueiro deu um forte abrao em seu pai que estava tirando leite e no podia parar. Alisou carinhosamente algumas vacas e bezerros e quando olhou para o lado de fora na beira da cerca, percebeu a guinha de estimao da famlia que parecia toda enciumada reclamando por um carinho tambm. Marriela foi at ela abraou e acariciou-a e todos ficaram felizes. A presena, a alegria e a felicidade de Marriela era to contagiante que parecia contagiar at mesmo o prprio ar que se respirava. E assim, Marriela passou um dia muito feliz, almoou com a famlia, andou a cavalo, passeou com os trs filhos brincando como se fossem quatro crianas. Marriela estava recomeando agora uma nova vida e precisava transmitir para os filhos essa energia, esse otimismo, essa alegria, essa vontade de viver essa necessidade de deixar o passado no passado, para que as crianas pudessem aceitar com mais facilidade a ausncia, ou porque no dizer; a perda do pai que eles amavam tanto. E na primeira oportunidade que teve Marriela aproveitou um momento em que estavam todos dentro da casa, pediu para que todos se sentassem, porque precisava conversar com todos de uma s vez.49

Ento havia na cozinha, bastante grande, dois grandes bancos de madeira e todos se acomodaram formando uma pequena platia. Marriela apanhou uma cadeira de madeira rstica e sentou-se bem de frente para eles e falou: -Vocs prestem bem ateno porque eu vou explicar nos mnimos detalhes como est o nosso Manoel, e... Haninha foi a primeira a interromper: -O que ouve com o papai, mame? -Calma minha filha, eu vou explicar tudo pra voc, mas no me interrompam, por favor. E Marriela ento comeou a explicar. Falou da casa em que condio estava. Falou do jeito que Manoel esbanjava seu dinheiro, falou da maneira que ele descartou o carrinho que eles estimavam tanto, falou da viagem que fez, explicou os detalhes das roupas e comportamento do Manoel, explicou por que todos o chamavam de Manezo, e citou at a nova mulher dele, que se chamava Dodesse. Enfim, no deixou escapar nenhum detalhe. Nesse momento estavam todos estarrecidos, boquiabertos, ento Haninha perguntou: -Quer dizer que o papai no vai mais morar com a gente? -No minha filhinha, infelizmente no! Ento o pai de Marriela fez um monte de perguntas de uma s vez: -Como foi que voc localizou o Manoel? Como chegou at ele? E como ele recebeu voc? -Calma papai, uma pergunta de cada vez, primeiro; dona Benvinda; aquela minha vizinha, que o senhor conheceu l na minha casa, como sempre amiga e muito gentil, me levou at o armazm do senhor Belisco e... quando Marriela pronunciou, senhor Belisco, e... todos a olharam espantados perguntando. -Como? -Quem? -Que Belisco? E Marriela explicou:50

- um senhor muito simptico e gentil, que muito amigo de dona Benvinda, e tem um armazm na sada da cidade, o nome dele e (Joo Belisco) mas, exatamente por ele ser meio gorducho as pessoas o chamam de seu Belisco. E todos deram risadas principalmente as crianas, quebrando o clima de tristeza. E a me de Marriela comentou: -Pelo que voc est dizendo, deve ser uma simpatia esse senhor Belisco! -E mame, quando vocs forem a minha casa, vou levlos at l para conhec-lo, sei que vo gostar, comentou Marriela. E quando Marriela acabou de responder as perguntas do pai, algum bateu palmas do lado de fora e uma voz feminina gritou: ... de casa! A voz era conhecida principalmente pelo sotaque estrangeiro, e a me de Marriela respondeu: -Entre! era Nakova, que alis seu nome Kolok Nakova, uma moa, alta com uma vasta cabeleira loirssima, e olhos to azuis que parecia uma princesa de contos de fadas. Como ela havia sido nascido e criada no trabalho do campo, as suas caractersticas de camponesa era visvel principalmente pela simplicidade o que a tornava ainda mais bonita. E a me de Marriela cochichou no ouvido da filha: Ela est cada pelo seu irmo Tonico, e acho que vai dar casamento! E Marriela fez uma expresso de felicidade: -Que maravilha mame, que notcia boa! Embora sempre tenha ouvido Haninha falar de Nakova e o irmo, Marriela no os conhecia, porque quando estava na companhia do marido, dispunha de muito pouco tempo para ir a casa dos pais. Mas sempre dava um jeitinho de mandar as crianas quando o av no ia buscar. E por isso no tivera at ento a oportunidade de conhec-los, e tambm porque somente agora nos ltimos dias que eles comearam a freqentar com mais freqncia a casa, devido ao interesse de Nakova por Tonico que j vinha flertando com ela em segredo a algum tempo. Nakova entrou com aquele jeito doce e meigo que era o seu natural, e cumprimentou a todos. Em especial a Marriela que lhe foi apresentada e demonstraram muita satisfao em se conhecerem.51

Haninha que a queria muito bem j pulou em seu pescoo, abraando-a e apertando-a, depois Nakova apanhou um cesto que ela trouxe consigo e dizendo: -O meu irmo ganhou um porquinho j abatido e limpo, e como muito s pra ns dois, eu vim trazer um pouquinho pra senhora. E a me de Marriela agradeceu: -Ah, que bom, muito obrigada, muita bondade sua. E porque o seu irmo no veio com voc? Ah, a senhora sabe que a gente no pode sair os dois de uma vez n? Quando sai um o outro tem que ficar laborando no stio, mas, ele vai contratar um senhor que j trabalha l perto do nosso stio para nos ajudar, assim ns vamos poder sair um pouco; principalmente ele que j est ficando solteiro e disse que no quer fica