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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARCENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
GUILHERME SOBREIRA LOPES
O QUE TORNA UMA PESSOA ATRAENTE?UMA ANLISE DA INFLUNCIA DOS VALORES HUMANOS NA
PERCEPO DA ATRATIVIDADE FACIAL
FORTALEZA2012
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GUILHERME SOBREIRA LOPES
O QUE TORNA UMA PESSOA ATRAENTE?UMA ANLISE DA INFLUNCIA DOS VALORES HUMANOS NA
PERCEPO DA ATRATIVIDADE FACIAL
Monografia apresentada ao Curso de Psicologia da
Universidade Federal do Cear como requisito paraaprovao na Disciplina de Monografia em Psicologia.
Orientador:Prof. Dr. Walberto Silva dos Santos
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GUILHERME SOBREIRA LOPES
O QUE TORNA UMA PESSOA ATRAENTE?UMA ANLISE DA INFLUNCIA DOS VALORES HUMANOS NA
PERCEPO DA ATRATIVIDADE FACIAL
Monografia apresentada a Curso de Psicologia daUniversidade Federal do Cear como requisito paraaprovao na Disciplina de Monografia em Psicologia.
Aprovada em ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________Prof. Dr. Walberto Silva dos Santos (Orientador)
Universidade Federal do Cear-UFC
___________________________________________Profa. Ms. Andra Carla Filgueiras Cordeiro
Universidade Federal do Cear-UFC
___________________________________________
Ms. Sandra de Lucena PronkMestre em Psicologia Social-UFPB
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Ao Laboratrio Cearense de Psicometria (LACEP).
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AGRADECIMENTOS
Antes mesmo de comear a escrever minha monografia, j pensava neste
momento. Como expressar por meio de palavras a gratido que sinto por tantas pessoas?
Diante deste impasse, receio no contemplar toda a dimenso da minha gratido.
Primeiramente, agradeo aos meus pais, por me amarem incondicionalmente e
me proporcionarem um ambiente favorvel ao meu crescimento pessoal e acadmico, e
a todos os meus familiares, que, de seu modo, sempre torceram por mim.
Ao meu orientador e Amigo, Prof. Walberto S. Santos. A ele, sou grato pela
confiana plena que deposita em mim, pelas horas incontveis de dedicao, pela
preocupao com o meu futuro e pelo apreo que demonstra com seu jeito paraibano. A
convivncia com ele me ensinou a valorizar a lealdade, a responsabilidade e o
companheirismo.
A todos os membros do Laboratrio Cearense de Psicometria (LACEP) e do
Bases Normativas do Comportamento Social (BNCS). Sem eles, no teria sido possvel
realizar este trabalho monogrfico. Obrigado a todos que contriburam com a
divulgao e que preferiram ocupar suas manhs de janeiro coletando dados, a todos
que, diariamente, me acolheram nas angstias diante das dificuldades que enfrentei.
Especialmente, agradeo Darlene Pinho e ao Alex Grangeiro, que me apoiaram em
meus ltimos flegos para a concluso deste trabalho. A este ltimo, sou grato pelas
impagveis caronas e pelas conversas que costumam render timas ideias.
minha namorada Karem, que, com amor, carinho e compreenso, acompanha
minhas conquistas desde o incio, cantando vitrias e compartilhando dores do jeito que
s ela sabe. Ao meu irmo Gabriel, pelas risadas, pelo companheirismo, pelo ombro de
irmo mais velho e pelos bons momentos que guardarei por toda a vida.
Aos amigos. Prezo por poucos amigos, mas que so os melhores: Rommel Reis,
Iuri Torquato, Edmundo do Vale, dentre outros dos tempos de colgio, EduardoTaveira, Thicianne Malheiros, Sarah Bonfim, Hermrio Moraes, Emanuela Possidnio e
David Mendes, com quem tenho o prazer de compartilhar experincias, angstias e
filosofias. A partir deste ponto, me reservo o direito de no mencionar nomes. A todos
os meus amigos, meus mais sinceros agradecimentos pelos timos momentos.
Aos membros da banca, Prof. Dr. Walberto S. Santos, Profa. Ms. Andra Karla
Filgueiras e Sandra de Lucena Pronk, que dedicaram tempo e intelecto para a leitura e a
avaliao deste trabalho. A eles, agradeo pelas crticas, sugestes e opinies.Por fim, ao leitor, pelo interesse em ler esta monografia e em fazer cincia.
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Dizes que a beleza no nada?Imagina um hipoptamo com alma de anjo...
Sim, ele poder convencer os outros de
sua angelitude - mas que trabalheira!(Mrio Quintana)
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RESUMO
O objetivo principal desta monografia foi avaliar se os valores humanos alteramo modo como as pessoas percebem as outras como atraentes. Para tanto, planejaram-setrs estudos. No primeiro, procurou-se construir um banco de imagens faciais,
distribudas em funo do sexo (masculino e feminino) e do nvel de atratividade (alto ebaixo). Desta forma, contou-se com 264 sujeitos de uma rede social, com idades entre16 e 60 anos (m = 24 e dp = 6,31), a maioria feminina (62,5%), solteira (58,7%) eheterossexual (89,4%), que indicaram, observando as fotos de perfis de uma rede social,as imagens mais e menos atraentes. Obteve-se um banco de 528 imagens, sendo que,aps uma seleo envolvendo seis critrios pr-estabelecidos, reduziu-se para 160imagens, divididas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino) e donvel de atratividade (alto e baixo). O segundo estudo objetivou avaliar quo as imagensfaciais do Estudo 1 so atraentes, buscando avaliar as diferenas entre os nveis deatratividade das imagens. Neste caso, considerou-se 188 sujeitos da populao geral,com idades entre 15 e 53 anos (m = 23,49 e dp = 5,96), a maioria feminina (51,9%),
solteira (48,9%) e heterossexual (90,6%). O instrumento foi composto por cadernoscontendo as imagens faciais e por folhas de respostas, de modo que aqueles serviam dereferncia para estes. Foi solicitado aos participantes que assinalassem o quo cadaimagem era atraente, em escala Likert de seis pontos (1 = Pouco atraente e 6 = Muitoatraente). Os resultados indicaram que as faces masculinas e femininas com alto nvelde atratividade se diferenciaram significativamente das com baixo nvel de atratividade,
possibilitando a realizao do Estudo 3. O ltimo estudo (Estudo 3) objetivou avaliar ainfluncia dos valores humanos na percepo da atratividade, observando se hdiferena entre homens e mulheres. Para tanto, contou-se com 240 sujeitos de uma redesocial, distribudos equitativamente entre as combinaes fatoriais, com idades entre 16e 56 anos (m = 24,71 e dp = 6,79), a maioria solteira (49,1%), heterossexual (92,1%) ecatlica (38,8%). Contou-se com um delineamento fatorial de 2 (sexo) x 2 (nvel deatratividade) x 6 (subfuno valorativa). As combinaes foram organizadas paragarantir uma distribuio amostral equitativa entre si. Os participantes avaliaram o nvelde atratividade de cada imagem combinada com uma subfuno valorativa. Alm disso,responderam o Questionrio de Valores Bsicos, a Escala de Desejabilidade Social deMarlowe-Crowne, o Big Five Inventory e a Escala de Autoestima, alm de perguntasdemogrficas (sexo, idade, classe socioeconmica, religio, orientao sexual, etc). Osresultados evidenciaram que as faces masculinas muito e pouco atraentes com valoresde experimentao apresentaram pontuaes significativamente menores do que suascorrespondentes no Estudo 2. Alm disso, as pontuaes entre as faces femininas muito
atraentes acompanhadas dos valores e suas correspondentes no Estudo 2 noapresentaram diferenas significativas. Os resultados encontrados parecem suficientespara afirmar que, para esta amostra, os valores humanos, por meio do mecanismo deseleo de parceiros, alteram a percepo da atratividade. Por fim, so sugeridas novas
pesquisas para reaplicao destes achados.
Palavras-Chaves: Percepo da atratividade; Atratividade facial; Valores humanos;
Mecanismos evolutivos; Mecanismo de seleo de parceiros.
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ABSTRACT
This study aimed to know whether human values affect the way people perceive othersas attractive. For this, three studies were conducted. At first, we tried to build a databaseof facial images, distributed by gender (male and female) and level of attractiveness
(low and high). In this study, participated 264 subjects of a social network, with agesbetween 16 and 60 years (m = 24 andsd= 6.31), most women (62.5%), single (58.7%)and heterosexual (89.4%), which indicated, considering the profile pictures of a socialnetwork, the most and the least attractive images. We obtained a database of 528images, and, after filtering involving six pre-established criteria, it was reduced to 160images, divided equally by gender (male and female) and level of attractiveness (lowand high). The second study evaluated the attractiveness level of the facial imagescollected in Study 1, seeking to identify differences between the attractiveness of theimages. In this case, we considered 188 subjects from the general population, aged
between 15 and 53 years (m = 23.49 and sd = 5.96), most women (51.9%), single(48.9%) and heterosexual (90.6%). The instrument consisted of booklets containing the
facial images and answer sheets, the first as a reference for the sheets. Participants wereasked to indicate the level of attractiveness of each image, in a six-point Likert scale (1= Not attractive, 6 = very attractive). The results indicated that male and female faceswith a high level of attractiveness differed significantly from the low attractivenessimages, allowing the execution of Study 3. The final study (Study 3) evaluated theinfluence of human values in the perception of attractiveness and possible differences
between men and women. This study involved 240 subjects with a social network,equally distributed between the factorial combinations, with ages between 16 and 56years (M = 24.71 and SD = 6.79), mostly single (49.1%), heterosexual (92.1%) andCatholic (38.8%). Relied on a factorial design of 2 (gender) x 2 (level of attractiveness)x 6 (value subfunction). The combinations were organized to ensure an equitabledistribution of the sample. Participants rated the level of attractiveness of each imagecombined with a value subfunction. Moreover, answered the Basic ValuesQuestionnaire, the Social Desirability Scale of Marlowe - Crowne, the Big FiveInventory, the Self-Esteem Scale and demographic questions (gender, age,socioeconomic class, religion, sexual orientation, etc.). The results indicate thatunattractive male faces with experimental values showed significantly lower scores thantheir counterparts in Study 2. Moreover, the scores between the very attractive femalefaces accompanied by the values subfunctions and their counterparts in Study 2 showedno significant differences. The results seem sufficient to affirm that, for this sample,human values, through the mechanism of mate selection, change the perception of
attractiveness. Finally, further studies are suggested to reevaluate these findings.Keywords: Perception of attractiveness; Facial attractiveness; Human values;
Evolutionary mechanisms; Mate selection mechanism.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Comparao de mdias dos nveis de atratividade por sexo (N = 188) ......... 45
Tabela 2 - Caracterizao da amostra (N = 240) ............................................................ 50
Tabela 3 - Distribuio das subfunes valorativas por sexo e nvel de atratividade. ... 51
Tabela 4 - Comparao de mdias da atratividade de homens muito atraentes ............. 56
Tabela 5 - Comparao de mdias da atratividade de homens pouco atraentes ............. 57
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Facetas, dimenses e subfunes dos valores bsicos. .................................. 32
Figura 2 - Estrutura da congruncia das subfunes dos valores bsicos. ..................... 33
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SUMRIO
1. INTRODUO ...................................................................................................... 126
2. ATRATIVIDADE ..................................................................................................... 20
2.1 O conceito de Atratividade................................................................................ 222.2 Fatores psicossociais explicativos da percepo da atratividade........... 24
3. VALORES HUMANOS ........................................................................................... 28
3.1 Teoria Funcionalista dos Valores Humanos............................................. 30
3.2 Valores Humanos e Percepo da Atratividade...................................... 34
4. ESTUDO I Seleo das imagens faciais ............................................................... 38
4.1 Mtodo......................................................................................................... 394.1.1 Amostra ...................................................................................................... 39
4.1.2 Instrumentos .............................................................................................. 39
4.1.3 Procedimentos ........................................................................................... 39
4.2 Anlise dos dados........................................................................................ 404.3 Resultados.................................................................................................... 404.4 Discusso...................................................................................................... 40
5. ESTUDO II Imagens faciais e atratividade ......................................................... 43
5.1 Mtodo......................................................................................................... 44
5.1.1 Amostra ...................................................................................................... 44
5.1.2 Instrumentos .............................................................................................. 44
5.1.3 Procedimentos ........................................................................................... 45
5.2 Anlise dos dados........................................................................................ 455.3 Resultados.................................................................................................... 455.4 Discusso...................................................................................................... 46
6. ESTUDO III Valores e atratividade: uma relao possvel? ............................. 47
6.1 Mtodo......................................................................................................... 486.1.1 Delineamento e hipteses .......................................................................... 48
6.1.2 Amostra ...................................................................................................... 496.1.3 Instrumentos .............................................................................................. 50
6.1.4 Procedimentos ........................................................................................... 54
6.2 Anlise dos dados........................................................................................ 556.3 Resultados.................................................................................................... 55
6.4 Discusso...................................................................................................... 58
7. CONCLUSES DO ESTUDO ................................................................................ 63
7.1 Limitaes da pesquisa............................................................................... 647.2 Principais resultados e contribuies........................................................ 657.3 Direes futuras.......................................................................................... 66
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 68
ANEXOS ....................................................................................................................... 75
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1. INTRODUO
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Que caractersticas fazem uma pessoa atraente? A atratividade possui fatores
universais? Variveis psicossociais como valores e status socioeconmico podem tornar
as pessoas mais ou menos atraentes? Em termos gerais, as respostas para tais
questionamentos podem vir de diversos campos do saber. Entretanto, de modo maisparticular, para a Psicologia Evolucionista, o sistema nervoso humano foi moldado pela
seleo natural para considerar mais atraentes aquelas pessoas cujas caractersticas
fsicas identificam boas qualidades genticas e reprodutivas (GALLUP, Jr.;
FREDERICK, 2010). Desta forma, em funo da necessidade que as espcies tm de
perpetuar genes cada vez mais puros, a atratividade passou a desempenhar um papel
importante na evoluo dos seres humanos, uma vez que, segundo essa perspectiva, as
pessoas direcionam seus desejos sexuais para outras cujas caractersticas indicam boagentica e alta capacidade de reproduo (GELDART, 2010).
De fato, estudos apontam que, em diversas culturas, caractersticas consideradas
atraentes apresentam relao com a qualidade gentica e reprodutiva de seres humanos
(OBERZAUCHER; GRAMMER, 2009; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010;
GELDART, 2010). Nesse contexto, destacam-se, por exemplo, o tamanho proeminente
dos seios em mulheres, que sinaliza reserva energtica para a prole e boa capacidade de
ovulao (SYLWESTER; PAWLOWSKI, 2011); a presena de musculatura definida
em homens, indicando nveis saudveis de testosterona (FREDERICK et al, 2010); uma
pele macia e sem manchas, que sugere ausncia de doenas e equilbrio fisiolgico na
puberdade (SUGIYAMA, 2005); e a tonalidade da voz, por dar indcios de
caractersticas hormonais (SAXTON; CARYL; ROBERTS, 2006). Dentre as
caractersticas faciais, destacam-se, em mulheres, queixo afilado, bochechas salientes e
lbios carnudos e, em homens, mandbulas largas, sobrancelhas grossas e olhos
pequenos, traos que, por serem observados em diversas culturas e estarem relacionados
a nveis hormonais, corroboram o pressuposto evolucionista (BAUDOUIN;
TIBERGHEIN, 2004; GELDART, 2010).
Como se observa, sob a tica da evoluo, a atratividade se constitui como um
fenmeno universal, em que a escolha do parceiro influenciada pela observao de
caractersticas associadas possibilidade de sucesso reprodutivo (GALLUP, Jr.;
FREDERICK, 2010). No entanto, preciso reconhecer que tais caractersticas no
ocorrem no vcuo, sendo, portanto, a atratividade constituda tambm por fatores
psicossociais. Estudos recentes observaram, por exemplo, que: a personalidade capaz
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de alterar os nveis de atratividade de faces humanas (SWAMI et al, 2010); o status
socioeconmico influencia mais as mulheres do que os homens na escolha do parceiro
(HA; OVERBEEK; ANGELS, 2010); e os nveis de inteligncia contribuem para
explicar o modo como a atratividade percebida, principalmente quando consideradosrelacionamentos de longo prazo (KANAZAWA, 2011; MOORE; FILIPPOU;
PERRETT, 2011). Estas evidncias podem ser explicadas a partir do pressuposto de que
fatores psicossociais, em geral, podem estar conectados s caractersticas evolutivas.
possvel que homens bem adaptados ao meio em que vivem tenham maior
probabilidade de apresentar status socioeconmico elevado, e pessoas com nveis altos
de inteligncia tendam a fazer escolhas que garantam a sobrevivncia da prole. Neste
sentido, conjectura-se que construtos como os valores humanos tambm estejamrelacionados com variveis evolutivas, o que releva a sua importncia para a explicao
da atratividade.
Segundo Gouveia (2012), os valores humanos representam cognitivamente as
necessidades humanas, que, resultantes de um processo evolutivo, tornaram-se ligadas
sobrevivncia (i.e., comida, gua) e reproduo (i.e., pertencimento, amor). Dessa
forma, uma vez que a atratividade est relacionada capacidade reprodutiva (GALLUP,
Jr.; FREDERICK, 2010), razovel pensar, por exemplo, que homens que priorizam
valores interacionais (ou seja, que apresentam necessidades de pertena, amor e
afiliao) tendem a comprometer-se em relacionamentos de longo prazo, indicando alta
probabilidade de proporcionar recursos e cuidados prole, caracterstica considerada,
segundo o pressuposto evolucionista, atrativa s mulheres (SYLWESTER;
PAWLOWSKI, 2011).
Por outro lado, mulheres que priorizam valores de experimentao (ou seja, que
apresentam necessidades de emoo, prazer e sexualidade) tendem a ter mais parceiros,
o que indica maior facilidade para a perpetuao dos genes por parte dos homens
(SYLWESTER; PAWLOWSKI, 2011). Portanto, os valores, enquanto princpios-guia
do comportamento humano (ROKEACH, 1973; GOUVEIA, 2003), podem fornecer
informaes teis em relao ao modo como so priorizados aspectos que envolvem
sobrevivncia e reproduo. Neste sentido, considerando que cada pessoa apresenta
prioridades axiolgicas especficas (i.e. interacional, normativa, experimentao), pode-
se pensar que existem valores que influenciam a percepo da atratividade.
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No entanto, apesar do nmero expressivo de publicaes que identificam e
relacionam variveis psicossociais com percepo da atratividade, ainda so escassos os
estudos cujo principal objetivo envolve a influncia dos valores humanos neste
construto. Esse aspecto justifica a realizao do presente estudo, cujo objetivo principal conhecer em que medida os valores humanos influenciam a percepo da atratividade.
Mais especificamente, procurar-se- identificar os nveis de atratividade em imagens
faciais em funo dos aspectos fsicos, e estimar em que medida os valores humanos
alteram estes nveis. Para atender aos objetivos propostos, esta monografia se estrutura
em duas partes: a primeira, terica, envolve os captulos 1 e 2, referentes aos conceitos e
operacionalizao da atratividade e dos valores humanos, respectivamente; e a
segunda, nomeada de parte emprica, dividida em trs estudos, que tero o objetivo de:selecionar imagens faciais (Estudo 1); avaliar o nvel de atratividade das imagens
coletadas (Estudo 2); e estimar a influncia dos valores humanos na percepo da
atratividade (Estudo 3). Finalmente, apresentam-se a discusso e a concluso (Captulos
6 e 7), indicando os principais resultados, as possveis limitaes da pesquisa e algumas
sugestes para estudos futuros.
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2. ATRATIVIDADE
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A atratividade um fenmeno que chama a ateno de artistas, filsofos e
cientistas. Entretanto, em funo de sua proximidade com o conceito de beleza,
possvel observar que os dois termos se confundem em diversos momentos histricos.
Isso, provavelmente, deve-se ao fato de que beleza possui uma definio ampla, sendopossvel perceber, inclusive, que se modifica em funo dos contextos histricos
(SOUZA, 2004; GELDART, 2010).
Plato (428-347 a.C), em O Banquete (380 a.C), procura estabelecer uma relao
entre a beleza e o amor, entendendo que existe a beleza real e a beleza moral,
relacionadas, a primeira, ao amor fsico e, a segunda, ao amor espiritual. Ainda neste
perodo, os escritos da poetisa grega Safo (630-612 a.C) definiram a atratividade como
uma relao entre beleza e qualidades positivas. No Renascimento, um novo padro debeleza pregava que, em mulheres, a magreza era sinal de pobreza, e que a mulher ideal
renascentista deveria ser voluptuosa e loira (SOUZA, 2004). Nesta mesma poca,
Leonardo da Vinci (1452-1519), retomando os estudos de Fibonacci, desenharia uma
representao humana baseada nas propores ureas, conhecida como homem
vitruviano, legitimando a viso antropocntrica da beleza na poca. Sculos depois,
segundo Souza (2004), a Era Vitoriana desenvolveria sua prpria concepo de beleza,
que tinha por caracterstica a valorizao da naturalidade, da higiene e dos costumes da
nobreza. J no sculo XX, destacam-se as mudanas observadas na dcada de 70, em
que o movimento hippie passa a questionar, dentre outras coisas, os parmetros
estticos exigidos pela sociedade. Para Souza (2004), estes questionamentos formaram a
ideia de que a beleza estaria voltada juventude e ao esprito de liberdade, e,
associada s demandas capitalistas, desenvolveria o mercado da moda nas dcadas
subsequentes.
Observando as referncias histricas, percebe-se que o conceito de beleza se
modifica em funo da cultura, e que, portanto, independe de fatores evolutivos. A
atratividade, entretanto, parece interagir de modo diferente com estes fatores. No campo
da cincia, diversos autores tm se preocupado em entender este conceito
(PAUNONEN, 2006; BACK et al, 2011; GELDART, 2010; SWAMI et al, 2010).
Geldart (2010), por exemplo, diferencia os termos atratividade e beleza,
enfatizando que a beleza se refere a caractersticas bem adaptadas ao contexto social, ao
passo que a atratividade pode ser encontrada em caractersticas que despertam desejo
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sexual. Neste sentido, parece pertinente perguntar: qual o conceito de atratividade e que
fatores a explicam?
2.1 O conceito de Atratividade
Por que o acar doce? A doura no uma caracterstica inerente ao acar,
entretanto, sabe-se que o acar uma excelente fonte de calorias. Indivduos que
desenvolveram mecanismos neurolgicos para perceber o acar como doce e, portanto,
agradvel, tiveram uma vantagem adaptativa por conseguirem identificar um alimento
com alto potencial calrico. Da mesma forma, a atratividade no inerente s pessoas,
mas percebida porque os seres humanos desenvolveram mecanismos neurolgicos
capazes de identificar caractersticas relacionadas qualidade gentica e reprodutiva,
podendo, assim, selecionar parceiros em potencial (GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010).
Entretanto, nem toda a percepo da atratividade constituda de fatores
evolutivos. Sabe-se, por exemplo, que fatores psicossociais como a personalidade
(SWAMI et al, 2010), o status social (HA; OVERBEEK; ANGELS, 2010) e a
inteligncia (KANAZAWA, 2011; MOORE; FILIPPOU; PERRETT, 2011) so capazes
de alterar o modo como a atratividade percebida. Neste sentido, torna-se plausvel
pensar que a percepo da atratividade constituda, principalmente, por fatores
evolutivos e psicossociais (SWAMI et al, 2010). No entanto, no h consenso acerca do
modo que estes fatores se relacionam com a percepo da atratividade. De acordo com
Langlois et al. (2000), as teorias evolucionistas propem trs mecanismos que se
apresentam relevantes para a compreenso deste fenmeno, a saber:
a)Mecanismo da seleo de parceiros (LANGLOIS et al., 2000; GALLUP, Jr.;
FREDERICK, 2010). Os homens tendem a escolher mulheres que possam perpetuar
seus genes e que, para isso, apresentem boa capacidade de reproduo. Desta forma,baseiam suas escolhas priorizando os aspectos fsicos, pois caractersticas fsicas
consideradas atraentes tm relao com a capacidade reprodutiva. Por outro lado, as
mulheres tendem a escolher homens que sejam capazes de obter recursos e de garantir a
sade de sua prole. Assim, tendem a priorizar, em homens, aspectos psicossociais que
identifiquem estas capacidades. Por exemplo, segundo Langlois et al (2000, p.394)
homens inteligentes tm maior probabilidade de adquirir recursos para a prole e, por
isso, mulheres atraentes tendem a escolher homens inteligentes.
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b)Mecanismo da boa gentica dos indivduos(LITTLE et al, 2001; GALLUP,
Jr.; FREDERICK, 2010). Os aspectos fsicos considerados atraentes influenciam as
relaes humanas por serem indicativos de boa sade, pois podem indicar estabilidade
fisiolgica e nveis hormonais favorveis reproduo (GALLUP, Jr.; FREDERICK,2010). Em funo disso, uma vez que uma gentica relacionada boa sade
fundamental para a sobrevivncia dos indivduos, os aspectos fsicos parecem ser
igualmente importantes para a percepo da atratividade em ambos os sexos, ao
contrrio do que prope o mecanismo da seleo de parceiros.
c) Mecanismo do investimento parental (LANGLOIS et al, 2000). Os pais
tendem a priorizar os filhos que apresentam boa gentica e capacidade reprodutiva, pois
estes tm maior probabilidade de conseguir perpetuar seus genes. Sob tal perspectiva,indivduos que so tratados de modo especfico pelos pais, desenvolvem
comportamentos tambm especficos, contribuindo para o desenvolvimento de um perfil
psicossocial. Assim, segundo Langlois et al(2000, p.394), este mecanismo prope que
indivduos muito atraentes devem apresentar comportamentos e traos mais positivos
que indivduos pouco atraentes. Desta forma, segundo este mecanismo, possvel
pensar a percepo da atratividade relacionada a perfis psicossociais especficos.
Adicionalmente, Langlois et al(2000), em uma metanlise envolvendo estudos
acerca destes trs mecanismos, identificou que as teorias evolucionistas pressupem alta
concordncia intercultural de quem ou no atrativo (GANGESTAD; SIMPSON, 2000;
GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010). Isso pode ser explicado porque, de acordo com
Langlois (2000, p.393), os seres humanos desenvolveram um padro universal de
atratividade, e que, portanto, no deve variar entre culturas. Esta observao vem
sendo comprovada em diversos outros estudos (GANGESTAD; SIMPSON, 2000;
RHODES, 2006; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010). Desta forma, considera-se que: a)
a atratividade exerce influncia significativa nas relaes interpessoais; b) a atratividade
possui um padro universal determinado por fatores evolutivos e psicossociais; e, c) em
funo de um tratamento parental diferenciado, pessoas atraentes tendem a apresentar
determinados perfis psicossociais. Contudo, estes mecanismos, por deterem-se na
explicao dos componentes da atratividade, no constituem nem limitam toda a
compreenso de seu conceito. Neste caso, parece pertinente perguntar: Como os fatores
psicossociais alteram a percepo da atratividade?
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2.2 Fatores psicossociais explicativos da percepo da atratividade
Cada vez mais, afirmaes como caractersticas no-fsicas podem influenciar a
percepo da atratividade fsica (SWAMI et al., 2010, p. 640) tm estado presentes
entre os estudos acerca da atratividade. De fato, diversos autores identificam a relao
entre percepo da atratividade e fatores psicossociais (LEWANDOWSKI; ARON;
GEE, 2007; JUDGE; HURST; SIMON, 2009; LEDER et al., 2010; MEIER et al., 2010;
HA; OVERBEEK; ENGELS, 2010; KANAZAWA, 2011; MOORE; FILIPPOU;
PERRETT, 2011;). Destes fatores, destacam-se na literatura, de modo especial, a
inteligncia, o status social e a personalidade.
Para Moore, Filippou e Perrett (2011, p.215), inteligncia uma caracterstica
evolutivamente desejvel, pois pode conferir vantagens como inteligncia herdada
prole, senso de humor e alta probabilidade de obteno de recursos. Estudos tm
demonstrado correlaes positivas entre inteligncia e indicadores de boa gentica e
capacidade reprodutiva, como qualidade do smen (ARDEN et al, 2009), sade fsica
(BATTY; DEARY; GOTTFREDSON, 2007) e expectativa de vida (GOTTFREDSON;
DEARY, 2004; JOKELA et al, 2009). Em relao ao segundo fator, Ha, Overbeek e
Engels (2010), avaliando a influncia do status social e da atratividade fsica no desejo
de relacionar-se, observaram que as mulheres apresentam maior desejo de relacionar-se
com homens que possuem alto status social. Por outro lado, em homens, o status social
capaz de alterar o desejo de relacionar-se somente quando as mulheres so fisicamente
atraentes, ou seja, conclui-se que homens priorizam os aspectos fsicos, ao passo que as
mulheres priorizam caractersticas relacionadas capacidade de obter recursos e de
cuidar da prole, o que corrobora o mecanismo de seleo de parceiros (LANGLOIS et
al., 2000; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010).
Considerando outros fatores psicossociais importantes para a explicao dapercepo da atratividade, Tokumaru et al(2010), observando o efeito da infidelidade
sobre a atratividade facial de homens e mulheres, observaram que as mulheres
percebem os homens infiis como menos atraentes, ao passo que, em relao aos
homens, a infidelidade pouco alterou a percepo da atratividade. Para explicar esta
diferena entre os sexos, o autor recorre Teoria de Estratgias Sexuais (BUSS;
SCHMITT, 1993), que defende mecanismos evolutivos diferenciados para homens e
mulheres, como, por exemplo, o mecanismo de seleo de parceiros (LANGLOIS et al.,2000; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010). Considerando este mecanismo, parece
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coerente que homens infiis apresentam menor potencial de manter relacionamentos de
longo prazo e, por conseguinte, apresentam menor probabilidade de prover recursos e
cuidados prole.
Vale citar, ainda, Albada, Knapp e Theune (2002), que observaram em quemedida a interao social altera a percepo da atratividade. Os resultados indicaram
que os nveis de atratividade apresentam diferenas antes e depois da interao social,
para ambos os sexos. Entretanto, segundo os autores, a interao social influenciou mais
as mulheres do que os homens, indicando que mulheres so mais propensas a alterar o
modo como percebem a atratividade em funo da interao social. Tendo em conta o
mecanismo de seleo de parceiros (LANGLOIS et al., 2000; GALLUP, Jr.;
FREDERICK, 2010), possvel pensar que os homens, por se deterem mais scaractersticas fsicas do que as mulheres, sofrem menos influncia da interao social
na percepo da atratividade.
Para avaliar a influncia da personalidade na percepo da atratividade, Swami
et al (2010) consideraram dois polos de cada um dos cinco grandes fatores de
personalidade (por exemplo, extroverso/introverso, neuroticismo/estabilidade).
Utilizando imagens de ambos os sexos que variavam em funo das categorias do ndice
de massa corporal (IMC), onze grupos foram organizados, a saber, o grupo sem
descries de personalidade e dez grupos referentes combinao das imagens com as
descries de personalidade. Os resultados indicaram que as imagens sem descries de
personalidade que foram consideradas pouco atraentes, quando combinadas com polos
positivos dos fatores de personalidade, passaram a compor o grupo das imagens muito
atraentes. Desta forma, pode-se pensar que pessoas pouco atraentes, quando
acompanhadas de uma personalidade com polo positivo, tornam-se mais atraentes
(SWAMI et al, 2010).
Com base nestas informaes, parece pertinente considerar que, alm dos
pressupostos da Psicologia Evolucionista, existem variveis psicossociais que se
apresentam como determinantes na percepo da atratividade. Neste sentido coerente
pensar que construtos correlatos da inteligncia, do status social e da personalidade,
como o caso dos valores humanos, tambm se apresentem como fatores explicativos
da percepo da atratividade. Roccas et al(2002), em estudo envolvendo personalidade
e valores humanos, observou correlao entre os cinco grandes (Big Five) e os valores
humanos como propostos por Schwartz (1992), e identificou que traos de
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personalidade como extroverso e amabilidade tendem a correlacionar-se,
respectivamente, com valores de realizao e estimulao, e tradio e benevolncia.
Outros estudos tambm apontam para uma relao entre personalidade e valores
(ROCCAS et al, 2002; FURNHAM et al, 2005; CAPRARA et al, 2006; STANKOV,2007). Para Caprara et al(2006), traos de personalidade descrevem como as pessoas
so, ao passo que os valores referem-se ao que as pessoas consideram importante. Desta
forma, os valores esto correlacionados com traos de personalidade, sobretudo, porque
as pessoas tendem a se comportar de maneira consistente com seus valores
(ROKEACH, 1973). Para Roccas et al (2002, p.791), traos de personalidade so
capazes de alterar os valores, uma vez que pessoas que apresentam determinados
comportamentos tendem a elevar a importncia de valores que os justifiquem. Destemodo, conclui-se que valores e traos de personalidade sofrem influncia mtua
(ROCCAS et al, 2002). Nesta direo, conjectura-se que os valores sejam, tambm,
capazes de alterar a percepo da atratividade, ou seja, que pessoas pouco atraentes, em
funo de suas prioridades valorativas, possam tornar-se mais atraentes.
De fato, os valores humanos tm se apresentado como um construto importante
em Psicologia Social (ROKEACH, 1981; GOUVEIA, 2012). Neste campo, identificam-
se estudos que relacionam valores com temas clssicos, como: a) atitudes e
comportamento, em que valores e atitudes compem um modelo explicativo dos
comportamentos (ROKEACH, 1981; AJZEN, 2001); b) personalidade, que, como j
dito, relaciona-se de maneira mtua com valores humanos (ROCCAS et al, 2002;
CAPRARA et al, 2006); c) individualismo e coletivismo (GOUVEIA et al, 2003), em
que as prioridades valorativas se apresentam nas culturas de modo diferente em funo
dos nveis de individualismo e de coletivismo, d) identidade social (GOUVEIA et al,
2002), explicada por um perfil valorativo comum entre culturas, a saber, valores
normativos, e) preconceito (VASCONCELOS et al, 2004), que pode ser predito por
valores suprapessoais e de realizao, e g) religiosidade (SCHWARTZ; HUISMANS,
1995), em que observado um perfil valorativo comum em amostras de diversas
religies.
No obstante a sua relevncia, preciso reconhecer que, no campo de estudo da
atratividade, os valores tm sido negligenciados. A exceo do estudo de Buss et al
(2001), no se encontrou qualquer publicao relacionando este construto com a
percepo da atratividade, o que justifica a realizao da presente monografia. Contudo,
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deve-se reconhecer que compreender a relao entre valores e atratividade sem uma
teoria prvia que a explique, apresenta-se como um desafio. No entanto, com base nos
estudos desenvolvidos por Langlois et al. (2000), mais especificamente, no mecanismo
de seleo de parceiros, parece possvel, sem deixar de reconhecer o carter heursticodessa proposio, estabelecer algumas associaes entre os valores humanos e a
percepo da atratividade. Ao mesmo tempo, antes de discorrer mais sobre tais
conjecturas, torna-se necessrio apresentar, ainda que de forma resumida, um pouco
acerca dos valores e, mais especificamente, da teoria que embasa a presente monografia.
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3. VALORES HUMANOS
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Segundo Gouveia (2012, p.64), os valores humanos tm sido praticamente os
mesmos desde as civilizaes antigas, embora priorizados de formas variadas. Esta
afirmao corroborada pelo fato de que os valores podem ser observados em diversos
momentos histricos. possvel observar nas civilizaes gregas (800 a.C), porexemplo, a valorizao da arte, da msica e da literatura que, segundo esse autor,
compem os valores suprapessoais. Na Roma antiga, em funo do avano cultural e
jurdico, foram priorizados valores como beleza, xito, conhecimento e justia social
(GOUVEIA, 1998). Na Idade Mdia, percebe-se a oposio entre o rei, que
representava valores de poder e tradio, e o clero, que, redigindo a Magna Charta
Libertatumde 1215, anunciava a preocupao com a justia e a liberdade (GOUVEIA,
2012). J no sculo XIX, os ingleses, migrando para a Amrica, compuseram aDeclarao de Direitos do Bom Povo de Virgnia, orientados pelos princpios de
igualdade e liberdade.
Desta forma, para Gouveia (2012, p.68), parece evidente que os valores [...]
existem desde a poca em que o homem, na pr-histria, abandonou o refgio das
cavernas e se ergueu de p. Entretanto, embora os valores se constituam como
universais e atemporais, as primeiras tentativas de sistematizao dos valores humanos
s vieram a ocorrer com Rokeach (1973). Rokeach (1973, p.20) sugere que os valores
so representaes cognitivas e transformaes das necessidades, e classifica os 36
valores por ele identificados em terminais, que se referem aos estados finais de
existncia (por exemplo, felicidade, liberdade, igualdade), e instrumentais, que dizem
respeito a modos de comportamento (por exemplo, obedincia, amor, coragem). Esta
sistematizao trouxe avanos significativos para o estudo dos valores humanos
(SANTOS, 2008).
Desde ento, algumas teorias acerca dos valores humanos tm sido
desenvolvidas, por exemplo, a de Inglehart (1977) e a de Schwartz (1992), entretanto,
no contexto brasileiro, uma das teorias que mais apresenta relevncia na compreenso
deste construto a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos (GOUVEIA, 2003;
GOUVEIA et al, 2009). Em consonncia com premissas de tericos como Rokeach
(1973), Maslow (1954), Kluckhohn (1951) e Thomas e Znaniecki (1958), a Teoria
Funcionalista dos Valores se destaca pela parcimnia em relao a teorias prvias,
sendo uma forma sistemtica, parcimoniosa e integradora de pensar acerca dos valores
humanos (GOUVEIA et al, 2011, p.309). Ao longo dos anos, diversos estudos tm
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corroborado a adequao deste modelo em um nmero significativo de amostras e
contextos (GOUVEIA et al, 2011; MEDEIROS, 2011), bem como sua relao com
outros construtos (MAIA, 2000; COELHO Jr., 2001; FORMIGA, 2002; PIMENTEL,
2004; VASCONCELOS, 2004; CHAVES, 2006). Portanto, sem deixar de reconhecer ascontribuies dos modelos propostos por outros autores, a presente monografia toma
como referncia para compreenso dos valores a Teoria Funcionalista dos Valores
Humanos proposta por Gouveia e seus colaboradores (GOUVEIA, 2003; GOUVEIA et
al, 2009, 2011).
3.1 Teoria Funcionalista dos Valores Humanos
Em sua reviso dos principais referenciais tericos no campo dos valores,
Gouveia (1998) identificou que, em geral, os modelos sobre valores no apresentam
critrios para identificar a fonte e a natureza deste construto. Segundo ele, raramente as
propostas tericas partem de uma concepo de homem, o que pode sugerir a
composio de uma lista de valores tanto positivos como negativos (contra-valores).
Alm disso, destaca que autores como Schwartz (1992) incluem, em seus modelos,
valores sem contedo ou direo clara (por exemplo, limpo) e omitem outros de
fundamental importncia, como critrios de orientao do comportamento (por
exemplo, sobrevivncia). Rokeach (1973), de quem Schwartz deriva 40% dos valores
utilizados em seu modelo, assume que a eleio dos valores que compem seu
instrumento foi intuitiva. Inglehart (1990), apesar de reconhecer a teoria das
necessidades de Maslow como a base de sua teoria, no intenciona, com seu modelo,
predizer comportamentos sociais, mas comparar culturas, por meio de uma dimenso
bipolar dos valores (materialismo e ps-materialismo).
Partindo destas crticas, mas sem deixar de reconhecer as contribuies dosmodelos existentes, Gouveia (1998, 2003, GOUVEIA et al, 2011) prope um modelo
alternativo, mais parcimonioso e que, apesar de ainda pouco difundido no contexto
internacional, tem apresentado padres satisfatrios de adequao. De acordo com
Gouveia et al (2008b), os valores so critrios de orientao que guiam as aes do
homem e expressam as suas necessidades bsicas. Sua concepo de valores inclui trs
suposies tericas, a saber: (1) assume a natureza benevolente do ser humano; (2) os
valores so representaes cognitivas das necessidades individuais, demandas dasociedade e institucionais, que restringem os impulsos pessoais e asseguram um
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ambiente estvel e seguro; e (3) todos os valores so terminais, ou seja, expressam um
propsito em si, sendo definidos como substantivos.
O modelo acerca da natureza motivacional dos valores humanos, desenvolvido
por Gouveia, tem como foco principal as funes dos valores. Este autor aponta que sopoucos os estudos que fazem referncia a este aspecto, e, a partir da anlise dessas
publicaes, identifica duas funes consensuais dos valores: eles guiam as aes do
homem (tipo de orientao) e expressam suas necessidades (tipo de motivador). Outro
aspecto inovador do modelo se refere incluso do critrio de orientao central.
Rokeach (1973) divide os valores terminais em sociais, que compreendem queles de
carter interpessoal, e pessoais, considerados de foco intrapessoal. Revisando estudos
empricos sobre o tema, Gouveia (2003) observou que alguns valores figuram entre eso congruentes com os pessoais e sociais; tais valores so denominados por ele de
centrais, indicando seu carter central ou adjacente.
Segundo este autor, embora no haja uma correspondncia perfeita entre
necessidades e valores, possvel identific-los como expresses das necessidades
humanas; todos os valores podem ser classificados em termos materialistas
(pragmticos) ou humanitrios (idealistas). Valores materialistas referem-se a ideias
prticas, e a nfase nestes valores implica numa orientao para metas especficas e
regras normativas. Valores humanitrios demonstram uma orientao universal, baseada
em princpios mais abstratos e ideias. Tais valores so coerentes com um esprito
inovador, sugerindo menos dependncia de bens materiais. A partir destas
consideraes, Gouveia et al (2011) apresentam a estrutura terica de seu modelo de
valores.
As duas dimenses funcionais dos valores formam dois eixos principais, sendo o
eixo horizontalcorrespondente ao tipo de orientaoe o vertical ao tipo de motivador.
Tais dimenses podem ser combinadas em uma estrutura trs por dois, ou seja, com trs
critrios de orientao (social, central e pessoal) e dois tipos de motivadores
(materialistas e humanitrios), compondo seis quadrantes: social-materialista, social-
humanitrio, central-materialista, central-humanitrio, pessoal-materialista e pessoal-
humanitrio. A partir das interaes dos valores ao longo dos eixos, so identificadas
seis subfunes, distribudas equitativamente nos critrios de orientao social
(interacionais e normativos), central (suprapessoal e existncia) e pessoal
(experimentao e realizao). Deste modo, os tipos de motivadores so representados
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por meio de trs subfunes cada: no tipo materialista, localizam-se os valores de
existncia, realizao e normativos, e, no humanitrio, os suprapessoais, de
experimentaoe interacionais. Uma apresentao esquemtica destas interaes pode
ser observada na Figura 1, sendo a descrio de cada uma das subfunes apresentadaem seguida.
Figura 1 - Facetas, dimenses e subfunes dos valores bsicos.
Valores de Existncia. So compatveis com as orientaes social e pessoaldentro do domnio motivador materialista; o propsito principal destes valores
assegurar as condies bsicas de sobrevivncia biolgica e psicolgica. Estes valores
so referncia para os valores de realizao e normativos, e so os mais importantes na
representao do motivador materialista (estabilidade pessoal,sade esobrevivncia).
Valores de Realizao. Representam o motivador materialista com orientao
pessoal; pessoas orientadas por tais valores so focadas em realizaes materiais e
buscam praticidade em decises e comportamentos (xito,podereprestgio).Valores Normativos. Expressam uma orientao social, sendo focados em regras
sociais, e um princpio-guia materialista, que reflete a importncia da preservao da
cultura e das normas sociais. Estes valores enfatizam a vida social, a estabilidade grupal
e o respeito por smbolos e padres culturais que prevaleceram durante anos. A
obedincia valorizada acima de qualquer coisa (obedincia, religiosidade e tradio).
Valores Suprapessoais. Apresentam orientao central e motivador humanitrio.
Os seres humanos possuem uma necessidade biolgica por informao (curiosidade)
que os conduzem a uma melhor compreenso e domnio do mundo fsico e social. Esta
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subfuno referncia para os valores interacionais e de experimentao, e a mais
importante na representao do motivador humanitrio (beleza, conhecimento e
maturidade).
Valores de Experimentao. So representados pelo motivador humanitrio,com uma orientao pessoal; contribuem para a promoo de mudana e inovao na
estrutura das organizaes sociais (emoo,prazer esexualidade).
Valores Interacionais. Correspondem s necessidades de pertena, amor e
afiliao, enquanto estabelecem e mantm as relaes interpessoais do indivduo.
Representam o motivador humanitrio com orientao social (afetividade, apoio social
e convivncia).
Finalmente, Gouveia et al(2011) apresentam a hiptese da congruncia entre osvalores; eles observaram que as correlaes entre as subfunes dos valores so
predominantemente positivas, podendo variar entre os indivduos em termos de fora.
Segundos tais autores, apesar dos termos congruncia e compatibilidade serem
frequentemente tidos como sinnimos, preciso fazer algumas consideraes.
Congruncia refere-se consistncia interna do sistema funcional dos valores, j a
compatibilidade sugere a validade discriminante destas subfunes em relao a
critrios externos. No modelo, a congruncia entre as subfunes dos valores pode ser
representada pela figura de um hexgono (Figura 2).
Figura 2 - Estrutura da congruncia das subfunes dos valores bsicos.
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O hexgono sugere trs nveis de congruncia: (1) Congruncia baixa.
Concentra as subfunes que apresentam diferentes orientaes e motivadores; estas se
localizam em lados opostos do hexgono. Por exemplo, valores de experimentao e
normativos, e valores de realizao e interacionais. Os autores apontam que a baixacongruncia deve-se ao princpio-guia relativamente independente destes grupos de
valores; (2) Congruncia moderada. Rene as subfunes com o mesmo motivador,
mas com orientaes diferentes; corresponde aos pares de subfunes dos valores de
realizao-normativo e experimentao-interacional, cujas metas so extrnsecas e
intrnsecas, respectivamente; e (3) Congruncia alta. Agrupa os valores com a mesma
orientao, mas com motivador diferente; esta corresponde aos pares experimentao-
realizao e normativo-interacional, situados em lados adjacentes do hexgono.Gouveia et al(2011) ressaltam que os valores de existncia e suprapessoais no
foram includos na hiptese de congruncia por duas razes tericas. Primeiro, por
serem valores centrais, estes apresentam correlaes positivas e fortes com todas as
outras subfunes; os valores de existncia apresentam correlaes mais fortes com os
de realizao e normativos, e os valores suprapessoais com os de experimentao e
interacionais. Segundo, a no incluso destas subfunes est relacionada com firme
distino terica entre os valores; a diferena principal dentro do sistema de valores
ocorre entre os sociais e pessoais, e no entre os materialistas e humanitrios, porque
aqueles refletem a unidade principal de sobrevivncia (indivduo ou sociedade). Como
se pode constatar, a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos apresenta um conjunto
de vantagens frente a outros modelos acerca desse construto, o que refora a sua
utilizao como referencial terico na presente monografia.
3.2 Valores Humanos e Percepo da Atratividade
Estudos que relacionam valores humanos e atratividade ainda so escassos.
Clawson e Vinson (1978), em anlise histrica acerca dos valores humanos, identificou
que, na teoria de valores proposta por Rokeach (1973), diversos valores no so
contemplados (por exemplo, juventude, liderana, eficincia), incluindo-se a a
atratividade fsica. Os mecanismos da Psicologia Evolucionista (LANGLOIS et al.,
2000; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010), tambm, recorrem pouco aos valores
humanos para a explicao da atratividade. Entre os estudos acerca dos valores,encontrados aps uma busca nas bases de dados do Google Acadmico (2012),
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utilizando como entrada os termos atratividade, atratividade facial, valores e
valores humanos, em lngua inglesa e portuguesa, sem limitar datas, apenas um trata a
respeito deste tema (BUSS et al, 2001). Neste, os autores avaliaram, em amostras de
diversos perodos entre 1939 e 1996, a evoluo cultural dos valores em casais e,entre os aspectos analisados, inclui-se a atratividade fsica. Os resultados indicaram
que a atratividade fsica em 1996 se apresentou mais importante se comparada a 1939.
Para Buss et al (2001), o bombardeamento de imagens e o surgimento das
mdia visuais (televiso, filmes, imagens de internet, realidade virtual) contriburam
para elevar o valor que damos atratividade fsica. Entretanto, a teoria acerca dos
valores utilizada nesse estudo a de Hill (1945), que identifica valores especificamente
relacionados a casais (por exemplo, maturidade, estabilidade emocional, castidade pr-conjugal). Apesar de importante, este estudo pouco contribui para a compreenso da
relao entre valores humanos e percepo de atratividade. A ausncia de modelos
integrativos entre valores e esse tipo de percepo, provavelmente, pode ser explicada
pelo aparente isolamento dos pesquisadores em seus campos. Contudo, como j foi
exposto, mesmo sem contar com um modelo terico especfico que integre estes
construtos, coerente pensar, como se tem comprovado com outras variveis
(personalidade, inteligncia, status etc.), na existncia de algum nvel de relao entre
eles.
Neste ponto, o leitor pode se perguntar: uma vez que no h modelos que
integrem estes dois construtos, possvel explicar a relao entre eles? A resposta sim,
recorrendo ao modo como alguns correlatos dos valores se relacionam com atratividade.
Construtos como inteligncia (MOORE; FILIPPOU; PERRETT, 2011), status
socioeconmico (HA; OVERBEEK; ENGELS, 2010), infidelidade (TOKUMARU et
al, 2010), interao social (ALBADA; KNAPP; THEUNE, 2002) e personalidade
(SWAMI et al, 2010) se relacionam com a atratividade e confirmam pelo menos um dos
trs mecanismos evolutivos revisados por Langlois et al. (2000). Cabe destacar que no
pretenso destes autores desconsiderar fatores culturais para a explicao da relao
entre variveis psicossociais e percepo da atratividade. Entretanto, padres
encontrados interculturalmente permitem pensar que esta relao pode ser explicada,
antes, por fatores evolutivos.
Nesta direo, pode-se pensar a relao entre valores humanos e percepo da
atratividade por meio do mecanismo adaptativo, identificado por Langlois et al(2000)
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como de seleo de parceiros. Esta possibilidade no exclui os outros mecanismos,
apenas reconhece que, ao menos na relao entre valores e atratividade, a explicao
com base nos mecanismos da boa gentica e de investimento parental pouco
consistente e, possivelmente, incoerente: o primeiro, por no considerar a relevncia dasvariveis psicossociais para a explicao da atratividade, defendendo, sobretudo, a
qualidade gentica como fator determinante; e o segundo, apesar de admitir a existncia
de alguma relao entre evoluo e variveis psicossociais, no campo dos valores, se
apresenta pouco significativo.
Segundo Gouveia et al (2008), todos os valores so positivos e priorizados de
formas diferentes pelas pessoas, entretanto, no campo evolucionista, pouco provvel
que sejam mediados pelo mecanismo de investimento parental (LANGLOIS et al,2000). Uma vez que tal mecanismo afirma que indivduos muito atraentes devem
apresentar comportamentos e traos mais positivos que aqueles pouco atraentes
(LANGLOIS et al, 2000, p.394), o mecanismo de investimento parental no
influenciaria de forma significativa os valores, pois, sob tal perspectiva, pessoas
atraentes tenderiam a apresentar valores mais positivos. Contudo, segundo a Teoria
Funcionalista (GOUVEIA et al, 2011), apesar dos valores serem todos positivos,
possvel que a combinao destes resulte em traos ou comportamentos socialmente
reprovveis (FORMIGA, 2003; PIMENTEL, 2004; VASCONCELOS, 2004; CHAVES,
2006; SANTOS, 2008).
Por outro lado, a explicao pautada no mecanismo da seleo de parceiros se
apresenta mais consistente. Segundo este mecanismo (LANGLOIS et al., 2000;
GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010), as mulheres tendem a considerar variveis
psicossociais na identificao da capacidade dos homens de cuidar da prole, ao passo
que os homens tendem a priorizar as caractersticas fsicas das mulheres para avaliar a
sua capacidade reprodutiva. Alm disso, os valores humanos se apresentam como
correlatos de variveis psicossociais que tem a relao com percepo da atratividade
explicada por este mecanismo. Assim, torna-se plausvel pensar que a influncia dos
valores humanos na percepo da atratividade tambm possa ser explicada por este
mecanismo.
Para avaliar esta relao, o mtodo da pesquisa foi desenvolvido em trs etapas.
A primeira (Etapa 1) teve como objetivo coletar um conjunto de imagens de rostos e
construir um instrumento para avaliar os nveis de atratividade de cada uma delas. A
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Etapa 2 pretendeu avaliar os nveis de atratividade das imagens selecionadas e observar
a existncia de diferenas significativas entre seus nveis de atratividade. Finalmente, na
Etapa 3, que corresponde ao estudo emprico (quase experimental) propriamente dito,
buscou-se avaliar a influncia dos valores humanos na percepo da atratividade dosrostos selecionados. Descries mais especficas acerca dessas etapas podem se
observadas no mtodo a seguir.
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4. ESTUDO I Seleo das imagens faciais
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O presente estudo teve como objetivo construir um banco de imagens faciais,
distribudas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino) e do nvel de
atratividade (alto e baixo). Tal proposta se configura como uma condio fundamental
para o desenvolvimento dos demais estudos da presente monografia, sendo suas
especificidades apresentadas no mtodo a seguir.
4.1 Mtodo
4.1.1 Amostra
Contou-se com uma amostra no probabilstica de 264 usurios do Facebook,
com idades entre 16 e 60 anos (m = 24 e dp = 6,31), a maioria do sexo feminino
(62,5%), solteira (58,7%), heterossexual (89,4%) e da regio nordeste (74,4%). Com
base na avaliao destes usurios, obteve-se um conjunto de 528 imagens, distribudas
igualmente entre pessoas consideradas atraentes e no atraentes, conforme os critrios
pr-estabelecidos.
4.1.2 Instrumentos
Por meio da plataforma Limesurvey (http://www.limesurvey.com), elaborou-se
um questionrio on-line (Anexo I). Neste instrumento, os participantes deveriam
indicar, observando as fotos de apresentao dos perfis da rede social Facebook, quais
as imagens mais e menos atraentes. As respostas foram dadas por meio da digitao dos
links, referentes aos perfis, em espao reservado para cada imagem. Adicionalmente,
aps preencher os dois itens iniciais, solicitaram-se aos respondentes algumas
informaes de carter biossciodemogrfico como idade, sexo, estado civil, orientao
sexual e local de residncia (Estado).
4.1.3 Procedimentos
Para a coleta das imagens, escolheu-se como fonte o Facebook, por afirmar, no
item 2, subitem 4, de sua declarao de direitos e responsabilidades, que o usurio, ao
publicar o contedo ou informaes usando a configurao todos, (...) permite que
todos, incluindo pessoas fora do Facebook, acessem e usem essas informaes e as
associem a ele (isto , seu nome e a foto do perfil) (FACEBOOK, 2012). Aps a
observao das questes legais para utilizao das imagens, enviou-se, aleatoriamente,
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para diversos usurios do Facebook, por meio de seus murais e caixas de mensagens, o
link de acesso pesquisa. Na ocasio, foram informados os objetivos e algumas
referncias (PAUNONEN, 2006; GALLUP, Jr.; FREDERICK, 2010; GELDART,
2010) que justificavam a realizao do estudo, bem como a indicao de que todas asinformaes disponibilizadas pelo participante eram de carter annimo. Em funo da
possibilidade de mudana da foto do perfil, medida que as pessoas indicavam um
perfil, era realizada a coleta de sua imagem, correspondente foto exposta na pgina
principal, de modo que, ao final do processo, obtiveram-se 528 imagens.
4.2 Anlise dos dados
Aps o levantamento, foi realizada uma seleo das imagens envolvendo seis
critrios, a saber: a) as fotos devem expor o rosto, incluindo, obrigatoriamente, as
regies das orelhas, do queixo e da testa; b) os rostos no devem ter acessrios que
cubram ou alterem a sua fisionomia (por exemplo, culos de sol, gorros, bon,
maquiagem em excesso); c) a angulao do rosto deve estar de tal forma que seja
possvel a visualizao das duas orelhas; d) a resoluo horizontal da foto deve ser igual
ou maior a 110 pixels, garantindo qualidade satisfatria da imagem aps a impresso; e)
as expresses devem variar entre a seriedade e um leve sorriso; e f) a idade aparente das
pessoas deve variar entre 18 e 35 anos.
4.3 Resultados
A coleta resultou em um banco de 528 imagens, sendo que, aps a seleo das
imagens envolvendo os seis critrios previamente estabelecidos, houve uma reduo
para 160 imagens divididas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino)e do nvel de atratividade (alto e baixo).
4.4 Discusso
O objetivo do presente estudo foi construir um banco de imagens faciais,
distribudas equitativamente em funo do sexo (masculino e feminino) e do nvel de
atratividade (alto e baixo). Neste sentido, construiu-se um banco composto por 160
imagens faciais. Uma vez construdo o banco de imagens, principal objetivo desse
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estudo, elaboraram-se os passos para a realizao do Estudo 2, cuja descrio pode ser
observada a seguir.
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5. ESTUDO II IMAGENS FACIAIS E ATRATIVIDADE
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Esse estudo teve como objetivo avaliar em que medida as imagens faciais
obtidas no Estudo 1 so atraentes. Em um segundo momento, buscou-se avaliar as
diferenas entre os nveis de atratividade das imagens. Esta proposta se apresentou
como condio sine qua nonpara a realizao da ltima etapa da monografia (Estudo
3), suas especificidades so detalhadas no mtodo.
5.1 Mtodo
5.1.1 Amostra
Contou-se com uma amostra de 188 sujeitos da populao geral, com idades
variando entre 15 e 53 anos (m = 23,49 e dp = 5,96), sendo a maioria feminina (51,9%),
solteira (48,9%) e heterossexual (90,6%).
5.1.2 Instrumentos
O instrumento, composto a partir das 160 imagens selecionadas no Estudo 1,
possui duas verses, uma contendo 80 fotos de mulheres e outra contendo 80 fotos de
homens, cada verso com 40 fotos consideradas no primeiro estudo como muito
atrativas e 40 fotos pouco atrativas. Para evitar o efeito de exposio, a posio das
imagens no caderno de apresentao foi escolhida de forma aleatria. Assim, para cada
uma das verses (masculina e feminina), foram elaborados 10 cadernos, contendo, cada
um, 80 imagens correspondentes a cada verso, distribudas aleatoriamente. As ordens
aleatrias foram obtidas por meio do site www.random.org. As imagens foram
enumeradas de 01 a 80 e organizadas em cinco linhas de quatro colunas, totalizando
vinte imagens por pgina, de modo que cada livreto possua quatro pginas. Para aavaliao dos nveis de atratividade de cada imagem, contou-se com uma folha de
respostas, com estrutura similar dos livretos, exceo de que, no lugar das imagens
faciais coloridas, havia quadrados em branco com a numerao correspondente s
imagens e a escala de atratividade. Desse modo, os livretos serviam de referncia para
que se fizesse a correspondncia na folha de respostas, sendo compartilhados entre os
respondentes. Para cada imagem, o participante deveria assinalar em que medida cada
imagem facial era atraente em sua opinio, em uma escala likertvariando de 01 (Pouco
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atraente) a 06 (Muito atraente). Alm disso, consideraram-se algumas questes
sociobiodemogrficas, como idade, sexo, orientao sexual e estado civil.
5.1.3 Procedimentos
A coleta dos dados ocorreu em lugares pblicos, como shoppings, praias, centros
culturais, e aeroportos. Para cada participante, foi dado um dos livretos contendo as
imagens faciais e a folha de repostas, sendo solicitado que fizesse a correspondncia
entre as numeraes das imagens do livreto e dos quadrados da folha de respostas para a
avaliao dos nveis de atratividade. Foi garantido o carter annimo e confidencial de
suas respostas, bem como convidado a assinar o termo de consentimento livre e
esclarecido, que esclarece questes ticas e garante a voluntariedade do sujeito em
participar da pesquisa.
5.2 Anlise dos dados
Alm das estatsticas descritivas (mdia, desvio padro, frequncia e
porcentagem), para avaliar a possibilidade de ser dividir as imagens faciais em dois
grupos com nveis de atratividade significativamente diferentes, inicialmente,
organizaram-se as imagens faciais por sexo e calculou-se o percentil de cada uma delas.Depois, selecionaram-se as imagens correspondentes aos intervalos percentlicos 20-30
e 70-80, e compararam-se as mdias de atratividade, para cada sexo. Estas anlises
foram efetuadas por meio do Statistical Package for the Social Sciences(SPSS) 19.
5.3 Resultados
Os resultados indicaram que as faces masculinas com alto nvel de atratividade
(m = 2,80, dp= 0,04) se diferenciaram significativamente (t = 66,83, p 0,001) das
com baixo nvel de atratividade (m = 1,52, dp= 0,02), e o mesmo ocorreu para as faces
femininas (t = 28,34, p 0,001), considerando as imagens com alto (m = 3,68, dp =
0,15) e com baixo (m = 1,91, dp= 0,05) nvel de atratividade, como pode ser observado
na Tabela 1.
Tabela 1 - Comparao de mdias dos nveis de atratividade por sexo (N = 188)
Sexo Nvel de atratividade m dp t pHomens Alto 2,80 0,04 66,83 0,001
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Baixo 1,52 0,02
MulheresAlto 3,68 0,15
28,34 0,001Baixo 1,91 0,05
Nesta direo, percebe-se que as imagens faciais muito e pouco atraentes, de
fato, se diferenciaram significativamente entre si em funo do nvel de atratividade.
5.4 Discusso
Este estudo possibilitou a organizao das imagens faciais masculinas e
femininas, selecionadas no estudo anterior, em ordem crescente de atratividade. Autilizao da escala de avaliao permitiu ir alm das informaes obtidas no Estudo 1,
o que possibilitou a obteno de informaes mais precisas acerca dos nveis de
atratividade de cada imagem, permitindo uma distribuio destas em intervalos
percentlicos. Alm disso, o estudo ainda possibilitou observar as diferenas entre os
nveis de atratividade das imagens, com o objetivo de identificar se, de fato, as que
correspondiam a intervalos percentlicos inferiores se diferenciavam, em nvel de
atratividade, das imagens de intervalos percentlicos superiores.
Os resultados encontrados so de suma importncia para realizao do Estudo 3,
dado que o seu principal objetivo analisar se os valores humanos alteram a forma
como as pessoas avaliam a atratividade em outras. preciso reconhecer que, sem um
parmetro anterior, esta avaliao se tornaria invivel ou inconsistente. Em sntese, uma
vez comprovado que as imagens pouco atraentes so significativamente menos atraentes
do que as imagens muito atraentes, torna-se possvel a efetivao do Estudo 3, que ser
detalhado a seguir.
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6. ESTUDO III Valores e atratividade: uma relao possvel?
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Uma vez realizada as etapas anteriores, obtendo-se as imagens e suas respectivas
avaliaes, realizou-se o presente estudo, cujo principal objetivo foi avaliar a influncia
dos valores humanos na percepo da atratividade, observando se tal influncia
apresenta diferena na percepo de homens e de mulheres. Para tanto, contou-se comalgumas das imagens obtidas nos estudos anteriores, manipulando os valores
correspondentes s seis subfunes apresentadas por Gouveia (2011). Um detalhamento
das especificidades deste estudo pode ser visualizado no mtodo a seguir.
6.1 Mtodo
6.1.1 Delineamento e hiptesesO presente estudo obedeceu a um delineamento quase experimental, tendo sido
manipulados a imagem apresentada ao respondente, o nvel de atratividade pr-
estabelecido nos estudos anteriores e as subfunes valorativas para duas amostras
independentes, a saber, de homens e de mulheres. O delineamento fatorial resultante foi
de 2 (sexo: masculino ou feminino) x 2 (nvel de atratividade: alto ou baixo) x 6
(subfunes valorativas: normativo, suprapessoal, existncia, experimentao,
realizao e interacional). A avaliao da atratividade (O quanto voc considera estapessoa atraente?) foi considerada como varivel dependente (critrio), sendo o nvel de
atratividade (alto ou baixo), pr-estabelecido nos estudos anteriores, e as subfunes
valorativas figurados como variveis antecedentes. Com base na reviso da literatura
acerca dos temas em questo e diante dos objetivos mencionados, foram elaboradas as
seguintes hipteses, organizadas de acordo com a combinao fatorial (sexo x nvel de
atratividade) a que se referem:
Hipteses envolvendo imagens de faces masculinas com alto nvel de atratividade
Hiptese 1. Valores normativos aumentaro o nvel de atratividade.
Hiptese 2. Valores de experimentao reduziro o nvel de atratividade.
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Hiptese 3. Valores de experimentao diminuiro o nvel de atratividade em
relao s outras subfunes valorativas.
Hipteses envolvendo imagens de faces masculinas com baixo nvel de atratividade
Hiptese 4. Valores normativos elevaro o nvel de atratividade.
Hiptese 5. Valores de experimentao diminuiro o nvel de atratividade.
Hiptese 6. Valores de experimentao reduziro o nvel de atratividade em
relao s outras subfunes valorativas.
Hipteses envolvendo imagens de faces femininas1
Hiptese 7. As subfunes valorativas no alteraro o nvel de atratividade
das imagens pouco atraentes.
Hiptese 8. Os valores no influenciaro o nvel de atratividade das imagens
muito atraentes.
6.1.2 Amostra
Inicialmente, a amostra compreendeu 406 usurios do Facebook, com idades
variando entre 16 e 62 anos (m = 24,33 e dp= 6,82), sendo a maioria feminina (61,8%),
solteira (48,3%), heterossexual (93,3%) e catlica (43%). Entretanto, para a realizao
das anlises, selecionaram-se aleatoriamente 10 respondentes de cada sexo para cadacombinao fatorial. Desta forma, a amostra neste estudo foi composta por 240 usurios
do Facebook, equitativamente distribudos entre as combinaes, com idades variando
entre 16 e 56 anos (m = 24,71 e dp = 6,79), sendo a maioria solteira (49,1%),
heterossexual (92,1%) e catlica (38,8%), como pode ser melhor observado na Tabela 2.
1
As imagens do sexo feminino envolveram somente duas hipteses, pois, de acordo com omecanismo de seleo de parceiros, os homens priorizariam mais as caractersticas fsicas, sendo menospropensos a alterar sua percepo acerca da atratividade por meio de aspectos psicossociais.
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Tabela 2 -Caracterizao da amostra (N = 240)
Varivel Nveis f %
Sexo Masculino 120 50,0Feminino 120 50,0
Orientao sexual Heterossexual 221 92,1Homossexual 11 4,6Bissexual 08 3,3
Estado civil Solteiro 119 49,6Namorando 83 34,6Casado 32 13,3Divorciado 06 2,5
Religio Catlico 93 38,8
Evanglico 44 18,3
Esprita 10 4,2No tem religio 84 35,0Outras 09 3,8
Nvel de escolaridade At ensino mdio completo 14 6,9Ensino superior incompleto 145 60,4Ensino superior completo 37 15,4Ps-graduao 44 18,3
Renda mensal de R$0 a R$622,00 46 19,2de R$622,01 a R$1.866,00 62 25,8de R$1.866,01 a R$3.732,00 43 17,9
de R$3.732,01 a R$6.220,00 34 14,2de R$6.220,00 a R$9.330,00 21 8,8Mais de R$9.330,00 12 5,0
No sabe informar 22 9,2
6.1.3 Instrumentos
Pediu-se aos participantes que respondessem aos seguintes instrumentos:
Cenrios compostos por Imagens Faciais e Subfunes Valorativas. Foram
elaboradas seis estrias, representando as subfunes dos valores. Estas foram
associadas a uma imagem, variando o sexo (masculino e feminino) e o nvel de
atratividade (baixa e alta). Desta forma, constituram-se 24 cenrios, representados pelas
combinaes expostas na Tabela 3.
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Tabela 3 - Distribuio das subfunes valorativas por sexo e nvel de atratividade.
SubunoSexo
Masculino (M) Feminino (F)A () B () A () B ()
Normativo (NR) MNR MNR FNR FNR
Existncia (EX) MEX MEX FEX FEX
Suprapessoal (SP) MSP MSP FSP FSP
Realizao (RL) MRL MRL FRL FRL
Experimentao (EP) MEP MEP FEP FEP
Interacional (IT) MIT MIT FIT FITNota: A = Alta atratividade; B = Baixa atratividade.
De acordo com a tabela acima, a estria de uma imagem do sexo masculino,
com alta atratividade e valores normativos identifica pelo cdigo MNR. Do mesmo
modo, a imagem do sexo feminino, com baixa atratividade e valores de experimentao,
representada por meio do cdigo FEP. Os participantes foram convidados a ver a
imagem facial do sexo oposto e a ler uma das estrias que representavam as subfunes
valorativas. Cada participante teve acesso a somente uma das combinaes possveis.
Depois de avaliarem as imagens e lerem as estrias, deveriam indicar o quo a pessoa
da imagem, acompanhada da estria, lhes era atraente (O quanto voc considera estapessoa atraente?), utilizando, para tanto, uma escala do tipo Likert variando de 1
(Pouco) a 6 (Muito). Alm disso, por meio de uma escala dicotmica (Sim/No),
indicavam se a narrativa retratava uma pessoa real (Voc considera que esta narrativa
pode retratar uma pessoal real?). Se marcasse positivamente, era levado a indicar, em
escala de seis pontos, variando de 1 (Pouco) a 6 (Muito), o quo estaria disposto a
relacionar-se com aquela pessoa (Em que medida voc estaria disposto(a) a se
relacionar com esta pessoa?) e, em escala de 1 (Classe humilde) a 10 (Classe alta), qualseu provvel nvel socioeconmico (Na sua opinio, qual seria o provvel nvel
socioeconmico dessa pessoa?). Um exemplo de uma combinao pode ser observado
no Anexo II.
Questionrio de Valores Bsicos (GOUVEIA, 1998; 2003). Este instrumento
(anexo V) composto por 18 itens (valores bsicos), distribudos em seis subfunes
psicossociais: experimentao (emoo, prazer e sexual), realizao (xito, poder e
prestgio), existncia (estabilidade pessoal, sade e sobrevivncia), suprapessoal
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(beleza, conhecimento e maturidade), interacional (afetividade, apoio social e
convivncia) e normativa (obedincia, religiosidade e tradio). Para respond-lo, o
participante deve ler a lista de valores e indicar em que medida cada um deles
importante como um princpio que guia sua vida. Para tanto, utiliza uma escala deresposta com os seguintes extremos: 1 = Totalmente no Importante e 7 = Totalmente
Importante. De acordo com as anlises fatoriais confirmatrias efetuadas por Gouveia
(2003), este instrumento apresenta ndices de bondade de ajuste satisfatrios: 2/g.l =
2,67, GFI = 0,91, AGFI = 0,89 e RMSEA = 0,05; sua consistncia interna (Alfa de
Cronbach) mdia foi de 0,51 para o conjunto das seis subfunes.
Escala de Desejabilidade Social de Marlowe-Crowne (RIBAS, Jr.; MOURA;HUTZ, 2004)
Desenvolvida por Crowne e Marlowe (1960), esta escala foi originalmente
elaborada em lngua inglesa. Expressa condutas que podem indicar uma necessidade de
aprovao por parte dos outros e contm 33 itens retirados de escalas de personalidade
(por exemplo, Se pudesse entrar em um cinema sem pagar e ter certeza de que no
seria visto(a), provavelmente eu o faria eSou sempre cuidadoso(a) com meu jeito de
vestir). Para responder s questes (anexo VI), o participante deveria assinalar
verdadeiro (1) ou falso (0), avaliando se o item descreve seu comportamento cotidiano.
Neste sentido, 15 itens (3, 5, 6, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 19, 22, 23, 28, 30 e 32) devem ser
respondidos como falsos e 18 como verdadeiros (1, 2, 4, 7, 8, 13, 16, 17, 18, 20 21, 24,
25, 26, 27, 29, 31 e 33), de modo que quanto maior a pontuao, maior o nvel de
desejabilidade social. Conforme relatado por seus autores, o instrumento apresenta um
coeficiente Kuder-Richardson (K-R) de 0,88, sendo validado para o contexto brasileiro
por Ribas Jr., Moura e Hutz (2004). Na oportunidade, se comprovou a estrutura
unifatorial da escala que apresentou consistncia interna (Alfa de Cronbach) de 0,79.
Inventrio dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade (ANDRADE, 2008).
Elaborado originalmente em lngua inglesa por John, Donahue e Kentle (1991) e
adaptado para o contexto espanhol por Benet-Martnez e John (1998), est composto
por 44 itens, sendo utilizada no presente estudo uma verso reduzida composta por 20
itens (ANDRADE, 2008), estruturados em sentenas simples e respondidos em uma
escala de respostas Likertde cinco pontos com os seguintes extremos: 1 = Discordo
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totalmente e 5 = Concordo totalmente. O instrumento (anexo VII) foi elaborado para
permitir uma eficiente e flexvel avaliao da personalidade quando no h necessidade
de diferenciao entre as facetas individuais. Os itens so agrupados em cinco fatores, a
saber: Abertura a mudanas ( original, tem sempre novas ideias),Conscienciosidade (Insiste at concluir a tarefa ou o trabalho), Neuroticismo (
temperamental, muda de humor facilmente), Extroverso ( conversador,
comunicativo) e Amabilidade (Tem capacidade de perdoar, perdoa fcil).
Escala de Autoestima de Rosenberg (HUTZ; ZANON, 2011). A Escala de
Autoestima foi originalmente desenvolvida por Rosenberg (1979). Esta uma medida
unidimensional constituda por dez afirmaes relacionadas a um conjunto desentimentos de autoestima e de autoaceitao que avalia a autoestima global. Os itens
(por exemplo, Sinto que sou uma pessoa de valor como as outras pessoas e Eu tenho
motivos para me orgulhar na vida) so respondidos em uma escala tipoLikertde cinco
pontos, em que 1 = Nunca e 5 = Sempre. Neste estudo, utilizou-se a verso adaptada
para o portugus por Hutz e Zanon (2011), que pode ser observada no anexo VIII, cujos
resultados iniciais j indicavam a unidimensionalidade do instrumento e caractersticas
psicomtricas equivalentes s encontradas por Rosenberg (1979).
Caracterizao da Amostra
A ltima parte, denominada Caracterizao da Amostra, consta de perguntas
como idade, estado civil e orientao sexual, alm de itens envolvendo religio (Qual a
sua religio?), escolaridade (Qual o seu nvel de escolaridade?), nvel socioeconmico
(Considerando as pessoas de seu pas, qual o seu nvel socioeconmico?), renda (Qual
a sua renda mensal?), dentre outros. Alm dessas perguntas, os respondentes foram
convidados a indicar algumas caractersticas fsicas, como peso e altura, bem como cor
dos olhos, da pele e dos cabelos, devendo indicar as figuras que mais correspondessem
s suas caractersticas. Solicitou-se, ainda, que avaliassem o seu prprio nvel de beleza
(Comparado s pessoas do contexto em que voc vive, quo voc se considera
bonito(a)?). Para as mulheres, foram levantadas perguntas acerca de seu ciclo
menstrual.
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6.1.4 Procedimentos
Para a realizao do Estudo 3, selecionaram-se 20 das 160 imagens consideradas
no Estudo 2,equitativamente distribudas entre sexo (masculino e feminino) e nvel de
atratividade (alto e baixo), de modo que cada combinao fatorial foi composta porcinco imagens (Anexo III). Como as imagens utilizadas no Estudo 2 no apresentaram
resoluo satisfatria para serem utilizadas no Estudo 3, recorreu-se a imagens
semelhantes das mesmas pessoas que pudessem substitu-las. Esta seleo teve como
objetivo coletar imagens que compusessem os quatro grupos, evitando o efeito de
exposio da imagem relacionada subfuno valorativa. As imagens foram escolhidas
levando em considerao sua resoluo e sua proximidade com os extremos
percentlicos, de acordo com a combinao em que estava inserida. Para a seleo deimagens que comporiam o grupo das mulheres pouco atraentes, por exemplo,
considerou-se, primeiramente, a imagem do sexo feminino de menor percentil e, em
funo da sua resoluo, a imagem era selecionada ou no, passando para o prximo
percentil. Os dados foram coletados por meio eletrnico, obedecendo ao procedimento
tpico de coletas desta natureza (divulgao on-line do link da pesquisa e tabulao
automtica dos dados) e as especificidades dos estudos quase experimentais.
Para a divulgao, enviou-se, aleatoriamente, para usurios do Facebook, em
seus murais e caixas de mensagens, o link de acesso pesquisa. Na ocasio, foram
informados os objetivos do estudo, resguardando quaisquer informaes que pudessem
comprometer a imparcialidade do respondente. Por fim, explicitou-se que todas as
informaes disponibilizadas pelo participante tinham carter annimo. O link de
acesso pesquisa redirecionava o participante a um link, entre 12, correspondente s
combinaes das variveis controladas pelo delineamento fatorial do presente estudo
(nvel de atratividade x subfunes valorativas). Em cada link, o participante deveria
indicar o seu sexo e, em funo de sua resposta, era novamente redirecionado, desta vez
a uma das cinco imagens da combinao fatorial correspondente ao link. Para tanto,
considerou-se dois algoritmos de randomizao, um para o redirecionamento dos links e
outro para o redirecionamento das imagens, assim os questionrios foram
contrabalanceados de modo que as 12 combinaes reunissem quantitativos
aproximados de participantes.
Em cada link, como mencionado, considerou-se 10 respondentes de cada sexo,
totalizando os 240 componentes da amostra. Desta forma, para garantir a distribuio
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equitativa dos respondentes em cada link, quando um destes alcanava o nmero de 10
respondentes, era excludo do algoritmo de randomizao, evitando que os prximos
fossem redirecionados para ele. Na tela de apresentao de pesquisa, informava-se aos
participantes o objetivo geral, indicando que a mesma tinha como propsito analisaralguns aspectos relacionados com a identificao de rostos que se poderiam encontrar
no cotidiano. Foi mencionado que as descries (subfunes valorativas) poderiam ou
no corresponder ao perfil real das pessoas e que o respondente deveria, antes de
prosseguir, acessar ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Neste termo foi
enfatizado que, clicando em Prosseguir, o colaborador estaria concordando em
participar, sendo, portanto, liberado o acesso ao questionrio. Um tempo mdio de 20
minutos foi suficiente para a concluso da participao.
6.2 Anlise dos dados
Para a realizao da anlise dos dados, utilizou-se o software SPSS 19
(Statistical Package for the Social Sciences). Alm das estatsticas descritivas (medidas
de tendncia central e de disperso, frequncias e porcentagens), utilizadas para o
levantamento de caractersticas biossociodemogrficas (por exemplo, idade, estado
civil, religio), compararam-se, por meio de testes t para amostras emparelhadas, as
mdias dos nveis de atratividade entre as imagens acompanhadas das subfunes
valorativas (Estudo 3) e suas correspondentes no Estudo 2, para cada combinao (sexo
x nvel de atratividade). Em seguida, realizaram-se anlises de covarincia (ANCOVA)
a fim de comparar as mdias das imagens acompanhadas das subfunes valorativas
entre si, buscando controlar o efeito da desejabilidade social entre os participantes.
6.3 Resultados
As trs primeiras hipteses referem-se combinao fatorial de imagens de
faces masculinas com alto nvel de atratividade. A primeira hiptese (Hiptese 1)
previa que as imagens deste grupo acompanhadas de valores normativos apresentariam
pontuaes significativamente maiores do que suas correspondentes no Estudo 2. Esta
hiptese foi refutada [t= -1,68; p> 0,05]. Deste modo, para esta amostra, os valores
normativos no alteraram positivamente o nvel de atratividade de homens consideradosatraentes (Tabela 4). A Hiptese 2previa que as imagens de faces masculinas com alto
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nvel de atratividade acompanhadas de valores de experimentao apresentariam
pontuaes significativamente menores do que suas correspondentes no Estudo 2. Os
dados confirmaram esta hiptese [t= -4,39;p 0,001], demonstrando que, neste caso, o
nvel de atratividade foi significativamente menor no grupo das imagens acompanhadasde valores de experimentao (m = 2,30, dp = 1,06) do que no correspondente do
Estudo 2 (m = 4,23, dp= 1,32), em que no havia a presena da estria, como pode ser
observado na tabela 4.
Tabela 4 - Comparao de mdias da atratividade de homens muito atraentes
Hiptese Imagens de homens muito atraentes... m dp t p
1Acompanhadas de valores normativos 3,50 1,27
-1,68 > 0,05Sem a presena dos valores 4,23 1,32
2Acompanh