LONA 427- 29/08/2008

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Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008 | Ano IX | nº 427| [email protected]| Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo | DIÁRIO d o B R A S I L Em muitos cruzamentos os pedestres não encontram sinalização adequada e acabam se arriscando na travessia Ruas que cortam o Centro Cívico priorizam a circulação de veículos O Centro Cívico de Curitiba começou a ser planejado ainda nos anos 40. O projeto foi pensa- do de forma que pudesse reunir os poderes da política estadual e municipal em um só lugar. Nes- te sentido, o bairro cumpre seu papel até hoje. Nele estão locali- zados a Prefeitura Municipal de Curitiba e o Palácio Iguaçu, por exemplo. Porém, o que foi deixa- do de lado, como acontece em outras cidades planejadas para centralizar órgãos governamen- tais, como a Capital Federal Bra- sília, por exemplo, foi a previsão de que no local também trafega- riam pedestres. O bairro não tem uma grande população, mas com todas as organizações que possu- em suas sedes no centro do po- der da capital do Paraná, todos os dias muitas pessoas se arris- cam ao atravessar algumas das ruas de movimento mais caótico da cidade. Páginas 4 e 5 Robertson Luz/LONA Começa a Paraolimpíada A delegação brasileira de atle- tas embarcou ontem para a Chi- na. Curitiba terá oito represen- tantes nos jogos de Pequim. Página 3 Professor de cinema diz que as produções de filmes em Curi- tiba aumentaram, mas que não evoluíram nas últimas décadas. Filmes em Curitiba Página 7 Evento discute cinema Hoje, na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), acontece o Se- minário Reflexões sobre Cine- ma Latino-Americano. Página 3 Perfil de viagem Confira a história de uma aventureira que se lançou em uma viagem que cortou uma par- te da América Sul. Página 6

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JORNAL- LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008 | Ano IX | nº 427| [email protected]|Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo |

DIÁRIO

do

BRASIL

Em muitos cruzamentos os pedestres não encontram sinalização adequada e acabam se arriscando na travessia

Ruas que cortam o Centro Cívicopriorizam a circulação de veículos

O Centro Cívico de Curitibacomeçou a ser planejado aindanos anos 40. O projeto foi pensa-do de forma que pudesse reuniros poderes da política estadual emunicipal em um só lugar. Nes-te sentido, o bairro cumpre seupapel até hoje. Nele estão locali-zados a Prefeitura Municipal deCuritiba e o Palácio Iguaçu, porexemplo. Porém, o que foi deixa-do de lado, como acontece emoutras cidades planejadas paracentralizar órgãos governamen-tais, como a Capital Federal Bra-sília, por exemplo, foi a previsãode que no local também trafega-riam pedestres. O bairro não temuma grande população, mas comtodas as organizações que possu-em suas sedes no centro do po-der da capital do Paraná, todosos dias muitas pessoas se arris-cam ao atravessar algumas dasruas de movimento mais caóticoda cidade.

Páginas 4 e 5

Robertson Luz/LONA

Começa a ParaolimpíadaA delegação brasileira de atle-

tas embarcou ontem para a Chi-na. Curitiba terá oito represen-tantes nos jogos de Pequim.

Página 3

Professor de cinema diz queas produções de filmes em Curi-tiba aumentaram, mas que nãoevoluíram nas últimas décadas.

Filmes em Curitiba

Página 7

Evento discute cinemaHoje, na Faculdade de Artes

do Paraná (FAP), acontece o Se-minário Reflexões sobre Cine-ma Latino-Americano.

Página 3

Perfil de viagemConfira a história de uma

aventureira que se lançou emuma viagem que cortou uma par-te da América Sul.

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Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 200822222

Aline Rakko

Sentado na fila da zona 177,ele atende o celular. “Daê, cara.Vô vê se acaba logo aqui pra genteir pra muscula junto”. Traduçãoda palavra muscula: muscula-ção, ou seja, exercícios físicos fei-tos num local fechado com o ob-jetivo de ... Bom, aí depende decada um. Depois de esperar unscinco minutos, muito inquieto,comenta com a pessoa ao lado.“Tem tanta gente que não temnada pra fazer por que eu tenhoque estar aqui?”

São dezoito mil mesários emCuritiba trabalhando direta-mente nas eleições deste ano. Ogrupo pode ser classificado emduas categorias. De um lado osvoluntários, e do outro os con-vocados. Em 2006, os voluntá-rios, ou ociosos, segundo o jovemda zona 177, representavamapenas 10% do todo. Por essemotivo, os outros noventa porcento recebem uma carta de in-timação em casa. Trocaremos a

É correto a Justiça Eleitoral convocar eleitorespara trabalhar como mesários nos dias de pleito?

SIMpalavra intimação por oportu-nidade. Para contextualizaressa inversão de significados épreciso voltar alguns anosatrás.

Durante o ano de 1984 hou-ve uma mobilização popular querepresentou a indignação que osbrasileiros tinham perante asinjustiças das eleições indiretas,nas quais não havia possibili-dade nenhuma de democracia.Um grupo pequeno e elitizadoficava responsável para definiro rumo de uma nação inteira.

Sem contar que a repressãomilitar ainda estava fresquinhana memória, um fator que im-pulsionou ainda mais uma re-volta na qual se perguntavam:“Por que eu, como cidadão, nãoposso votar em quem eu que-ro?” A necessidade evidenciadana pergunta de milhares de pes-soas foi felizmente suprida. Vo-tar em quem eu quero. Esse foium direito que não nos foi cedi-do, mas conquistado. Não en-trando em detalhes na qualida-de dos candidatos, nem de ou-

tro leque de injustiças que sur-giram a partir disso.

O interessante é que, seantes era um privilégio, hoje éuma intimação. Jovens nãoconseguem entender que dispo-nibilizar de um, ou dois diasdos seus 365 para valorizar aconquista de outros é motivo dealegria. Principalmente, por-que a função específica de cadaum dos mesários se resume emservir, orientar e auxiliar ou-tras pessoas. Não é partidaris-mo, não é atividade de caboeleitoral.

Depois de, em média, 10 se-nhas, o jovem da 177 até quenão aparentava mais estar tãoindignado e emburrado. Podiaescolher, sentado em frente auma moça, uma data para o seutreinamento, talvez até o cargoque gostaria de exercer: secre-tário, presidente ou mesáriosem contar dos dois dias de fol-ga de que ele poderá usufruirem seu trabalho. Os incansá-veis 15 minutos de espera tal-vez ainda vão valer a pena.

Cássia Morghett

Com as eleições chegando,muitos já receberam a temi-da carta de convocação emcasa. E “ai” de nós se não as-sinarmos a correspondência. ALei 4.737/65, o Código Eleito-ral, diz que os mesários podemser convocados até 60 diasantes da eleição, sendo obriga-dos a comparecer no dia e horainstituídos e também devemparticipar obrigatoriamentedo treinamento para a função.A lei fala das punições comopagamento de até um saláriomínimo e a perda dos direitosdo cidadão caso não compare-ça. Em troca, a Justiça Elei-toral delega dois dias de folgano trabalho e um auxílio-ali-mentação.

A parte da lei que nos obri-ga a participar ou senão pagara multa é de fato cumprida.Mas a outra parte que ofereceos dois dias de folga e o tal au-xílio nem sempre é verídica.Outro dia vi um cartaz cha-mando para ser mesário: “Par-

ticipe do maior evento do ano”.Será mesmo que acham queestão conseguindo atingir al-guém desta forma? Lá diziaque, em troca, a pessoa poderiaganhar dois dias de folga no tra-balho, um auxílio-alimentaçãoque não passa de um kit a pãoe água e mais um certificadopara a vida toda. E qual chefenão ficaria feliz quando você ti-rasse quatro folgas caso houves-se segundo turno, principal-mente em cargos públicos?

O Brasil terá mais de 1,6milhão de mesários nas eleiçõesde 2008. A maioria sairá de casaàs seis horas da manhã paratrabalhar durante um domin-go inteiro em troca de pratica-mente nada. Com tantos gas-tos na época de eleição, sem con-tar com os “extras”, por que nãopagar esses mesários ou entãooferecer o cargo para a grandepopulação desempregada donosso país? O governo alega queisso causaria um rombo noscofres públicos. Então por quenão ajudar essa população quedepende de programas públicospara sobreviver? Garanto que

eles não fariam cara feia paratrabalhar em troca de uma aju-da de custo, isenção de impos-tos ou até mesmo uma cestabásica.

Essa obrigação de compare-cer de fato incomoda muita gen-te. É só ver no dia das eleiçõesa quantidade de mesários queaparecem com camisetas es-tampadas com frases de revol-ta combinando com os narizesvermelhos. Como pessoas livresnão deveríamos ser obrigados atrabalhar de graça para o go-verno. Quem deveria estar láeram os próprios funcionáriospúblicos que conhecem tantoesse lado burocrático; assimevitaria-se passar uma manhãinteira em um curso para serum bom mesário.

Infelizmente o que incenti-va o Brasil é dinheiro – commotivos. A redução à condiçãoparalela a de escravidão nãodeveria ser lei. Com certeza sepagassem os mesários iriamaparecer muitos voluntários eesse “rombo” aos cofres não se-ria tão grande quanto os que ospolíticos fazem.

NÃO

Marie-Claire Devos

Ao ligar a televisão sem-pre se vêem pessoas lindas eperfeitas. Bom, em revistas,jornais, anúncios publicitári-os também é possível encon-trá-las. O grande alvo desseculto à beleza é a mulher.

A moda agora é a tal da“mulher-fruta”; toda semanasurge algumadiferente, de di-versos tama-nhos e sabores.

Hoje, a com-petição é dequem tem maissilicone, plásti-cas e botox. Oque vale na soci-edade é a apa-rência física eseus “grandes”atributos. Já ainteligência, essa está sendodeixada de lado. Basta terbeleza ou dinheiro para com-prá-la e pronto, a vida estáganha.

A mídia é uma das gran-des responsáveis por essepensamento, pois é ela quemolda estereótipos a seremseguidos. A imagem da mu-lher sempre está ligada à se-xualidade, como aquela ca-paz de realizar todos os dese-

Mulher-objetojos masculinos. Sempre belase impecáveis. Como objetosprontos para serem utiliza-dos. Mas e os seus sentimen-tos, onde ficam?

De maneira inocente essesmodelos são absorvidos pelascrianças. Não é raro encon-trá-las dançando e cantandomúsicas sem entender o seureal significado, ou se com-portando como a artista X.

No casodas meninas,as bonecas es-tão sendo tro-cadas por rou-pas curtas emaquiagem.Etapas impor-tantes no de-senvolvimentodelas estãosendo pula-das, graças aessa erotiza-

ção da mídia.Já ao desligar a televisão,

a pergunta das “mulheres co-muns” é como competir comas outras tão lindas e perfei-tas.

Pobres mortais. Pois, ape-sar de todas as conquistas, oque ainda conta mais é a apa-rência. Afinal, para que ser-ve mesmo a inteligência eesse blá blá blá de beleza in-terior, não é mesmo?

A imagem da mu-lher sempre estáligada à sexualida-de, como aquelacapaz de realizartodos os desejosmasculinos

O LONA é o jornal-laboratório diário do Curso de Jornalismo daUniversidade Positivo – UP

Rua Pedro V. Parigot de Souza, 5.300 – Conectora 5. CampoComprido. Curitiba-PR - CEP 81280-330. Fone (41) 3317-3000

“Formar jornalistas com abrangentes conhecimentos ge-rais e humanísticos, capacitação técnica, espírito criativo eempreendedor, sólidos princípios éticos e responsabilidade so-cial que contribuam com seu trabalho para o enriquecimentocultural, social, político e econômico da sociedade”.

Missão do curso de Jornalismo

Expediente

Reitor:Reitor:Reitor:Reitor:Reitor: Oriovisto Guimarães.VVVVVice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor:ice-Reitor: José Pio Mar-tins. Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Pró-Reitor Adminis-Adminis-Adminis-Adminis-Adminis-trativo:trativo:trativo:trativo:trativo: Arno Antônio Gnoat-to; Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-Pró-Reitor de Gradua-ção:ção:ção:ção:ção: Renato Casagrande;;;;;Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Pró-Reitora de Extensão:Fani Schiffer Durães; Pró-Pró-Pró-Pró-Pró-Reitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-GraduaçãoReitor de Pós-Graduaçãoe Pesquisa:e Pesquisa:e Pesquisa:e Pesquisa:e Pesquisa: Luiz HamiltonBerton; Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-Pró-Reitor de Pla-

nejamento e nejamento e nejamento e nejamento e nejamento e AAAAAvaliação Ins-valiação Ins-valiação Ins-valiação Ins-valiação Ins-titucional:titucional:titucional:titucional:titucional: Renato Casagran-de; Coordenador do CursoCoordenador do CursoCoordenador do CursoCoordenador do CursoCoordenador do Cursode Jornalismo: de Jornalismo: de Jornalismo: de Jornalismo: de Jornalismo: Carlos Ale-xandre Gruber de Castro; Pro-Pro-Pro-Pro-Pro-fessores-orientadores:fessores-orientadores:fessores-orientadores:fessores-orientadores:fessores-orientadores: AnaPaula Mira (colaboração), ElzaAparecida de Oliveira e Mar-celo Lima; Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Editores-chefes:Anny Carolinne Zimermann eAntonio Carlos Senkovski

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33333Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Geral

Rhuana Ramos

Rômulo Porthos

Enquanto os atletas olímpi-cos voltam ao Brasil, os parao-límpicos vão a Pequim. Curiti-ba terá oito representantes: He-merson Leocádio Kovalski,Claudiomiro Segatto, MariaPassos e Luiz Vergílio da Silva(todos do tênis de mesa), Eliseudos Santos (bocha), as irmãs Te-rezinha e Sirlene AparecidaGuilhermino (atletismo) e Moi-sés Batista (natação). A delega-ção brasileira embarcou ontemrumo à China.

Os mesa-tenistas Luiz Ver-gílio da Silva e ClaudiomiroSegatto são fortes candidatos amedalha. O último treino delesfoi terça-feira, na Associação dosDeficientes Físicos do Paraná(ADFP). Os atletas treinaram25 horas por semana por umano e se dizem preparados. “Eusou o mais experiente dentre osmesa-tenistas brasileiros, pois

esta será a minha quarta para-olimpíada”, diz Vergílio.

Ele começou a treinar naADFP em 1992. “Foi nesseano que participei do primei-ro Brasileiro. Foi em Recife efiquei em segundo lugar ge-ral”. Em 2002 e 2003 ele foieleito o Melhor das Américas.

Segatto treina há menostempo, desde 2001. “Participeidos Jogos Para Panamericanosda Argentina e fui eleito o Me-lhor das Américas”, diz.

O tênis de mesa paraolímpi-co é composto por dez classes.Cinco compreendem os “cadei-rantes”, e outras cinco englobamos “andantes”. Vergílio faz parteda classe três e Segatto da cinco.

Os dois estiveram na Euro-pa entre maio e julho deste ano,participando do 6th PolishOpen. Vergílio conquistou amedalha de prata no individu-al e em duplas. Nos Jogos ParaPanamericanos de 2007, no Riode Janeiro, os dois atletas cu-ritibanos conquistaram duasmedalhas de ouro cada um.

Para treinar mais freqüen-temente, os atletas largaramo trabalho e agora se dedicamapenas ao esporte. A principaldificuldade que eles encontra-ram ao longo da carreira dizrespeito ao patrocínio. “A aju-da que recebemos é suficientepara manter o esporte, com-prar equipamentos. Mas nãopara mantermos nossa vidapessoal”, explica Segatto.

O Brasil ainda não conquis-tou medalha de ouro no tênis de

Atletas paraolímpicos de Curitibaparticipam da competição em Pequim

Favoritos da competição, mesa-tenistas prometem medalhas

mesa nem em Olimpíadas e nemem Paraolimpíadas. Os atletasestão confiantes para quebrareste tabu: “A gente tem a forçade vontade e a garra brasileirapara não deixar a bola cair”.

“Ao contrário do que mui-tos pensam, o termo Paraolim-píada não é usado pra tratarde uma competição de atletasparaplégicos. O ‘para’ diz res-peito à ‘paralelo’, ou seja, éuma competição paralela àsOlimpíadas.”

Atletas se preparam para as paraolimpíadas

Rômulo Porthos/LONA

Letycia dos Santos

Acontece hoje o seminárioReflexões sobre Cinema La-tino-Americano do grupo deestudos de Cinema Latino-Americano Nueztra Amery-ka, integrado por alunos docurso da Escola Superior Sul-americana de Cinema e TVdo Paraná (CINETVPR) ecoordenado pela professoraSolange Stecz, mestre emHistória Social.

Das 9h às 12h, haveráuma mesa-redonda com aparticipação da professoraMarília Franco, doutora emArtes pela USP e ex-direto-ra da Escola Internacionalde Cinema e Televisão deCuba; do jornalista e mes-tre em Comunicação pela

Seminário discute cinema latino-americanoECA/USP Elson Faxina e dosprofessores Pedro Plaza Pin-to, doutor em Ciências da Co-municação pela ECA/USP, eEduardo Baggio, mestre emComunicação e Linguagenspela UTP. “Criadores de ima-gens em América Latina - umdesafio às religiões”, é um dostemas que serão abordados.

Das 14h às 18h, serão exi-bidos os filmes Salut les Cu-bains, De Cierta Manera, Cer-ra Pelado e La Hora de LosHornos - primera parte: Neo-colonialismo y Violencia.

A partir das 19h, os alunosque integram o grupo apresen-tarão suas pesquisas em anda-mento, que envolvem o cinemade Glauber Rocha, FernandoBirri, Tomás Gutiérrez Alea, Ju-lio García Espinosa, Jorge San-jinés e Fernando Solanas.

Aluno da CINETV e partici-pante do grupo, Frederico Netodesenvolveu, em trabalho con-junto com o também aluno ErikTavernaro, a pesquisa Fernan-do Solanas: Práxis e Revoluçãono Cinema Latino e afirma queo cineasta, que circulou tam-bém por entre a política, o tea-tro e a música, sempre teve emvista um compromisso com aAmérica Latina, algo que influ-enciou o seu trabalho e a suavida artística, que refletiramsua militância.

“Na década de 60, váriosnomes propuseram, com suasteorias e filmes, um outro modode se fazer cinema. Dentro des-se estranhamento com o ‘cine-mão’, esses militantes do cine-ma latino utilizaram a nossaprecariedade como linguagem,tentando fazer um cinema jun-

Amanda Lara Vanessa

Ramos

O 15º Colóquio Internaci-onal sobre Zoologia do Soloestá sendo realizado na Uni-versidade Positivo. O eventoé coordenado pela EmbrapaFlorestas (Colombo/ PR) econta com o apoio da Univer-sidade Federal do Paraná eda Universidade Estadual deLondrina.

Ontem, a palestra realiza-da de manhã tratou da impor-tância dos animais do solo emecossistemas tropicais, dandoênfase a cupins. O pesquisa-dor Christopher Martius des-tacou que os estudos sobre ociclo dos cupins têm grandeutilidade, pois é através depesquisas que se define o en-tendimento dos efeitos davida animal no solo.

O pesquisador relatou asdificuldades de seu estudo,pois os cupins eram difíceisde contar e controlar. Mar-tius concluiu que os cupinstêm grande importânciapara o solo tropical, pois aju-dam a criar um equilíbrio àboa qualidade do solo.

Christopher Martius afir-ma que os resultados da pes-quisa são dignos de preocu-pação devido ao desequilíbrioque existe em várias regiõesdo país. “Os efeitos que o de-sequilíbrio causa podem afe-tar diretamente o solo servin-do como indicador negativoem sua fertilidade”.

Segundo o pesquisador, oequilíbrio na terra dependesubstancialmente do equilí-brio do solo e ele alerta: “Senão cuidarmos do solo, os pre-judicados seremos nós, a pró-pria população do globo”,completou Martius.

Evento mostra papelde animais no solo

to ao povo e para o povo.Um cinema com finalida-

de, que, na conturbada época,se esbarrava com um projetoderevolução latina, maisprecisamente Cuba”, diz o es-tudante.

O seminário é um eventode extensão e difusão acadê-mica e tem patrocínio da Fun-dação Araucária de Apoio eDesenvolvimento Científico eTecnológico do Paraná. Asinscrições são gratuitas, epodem ser feitas no Protocoloda Faculdade de Artes do Pa-raná (FAP). Participantescom no mínimo 75% de pre-sença receberão certificado.

A FAP está localizada naRua dos Funcionários, 1357– Cabral. Mais informaçõescom Solange Stecz, pelo tele-fone 91150479.

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Centro Cívico, mas nem tantoPedestres correm perigo ao atravessar ruas movimentadas do bairro

Em vermelho é o trajeto considerado seguro para a travessia, segundo o Código Brasileirode Trânsito. Em azul, o utilizado.

O cruzamento entre essas ruas é um dos mais perigosos do bairro Centro Cívico

Robertson Luz/ LONAJoão Pedro Schonarth

Robertson Luz

Civismo significa devoção aointeresse público. Os curitibanosconhecem bem o significado des-sa palavra. Nos anos 1940, obairro Centro Cívico foi projeta-do para ser o “Centro do Cida-dão” e acolher os poderes queresolveriam problemas relacio-nados a ele. Pensado pelo urba-nista francês Alfred Agache, den-tro das propostas para o novoPlano Urbano de Curitiba, obairro abriga desde então edifí-cios do alto poder administrati-vo estadual e municipal. Foiinaugurado em 1953, ano emque o Paraná completou o cen-tenário da sua emancipação po-lítica. Desde então, muita coi-sa mudou no Centro Cívico. Ocidadão tem seus assuntos re-solvidos no bairro, porém, o di-reito do pedestre de ir e vir ficacomprometido nas perigosasavenidas do reduto do poder pa-ranaense.

Basta experimentar atraves-sar a Avenida Cândido de Abreu,uma das principais ligações en-tre o centro e os bairros da re-gião norte da cidade, para per-ceber o quanto pouco cívico é obairro. Apesar de ser pequeno(representa 0,30% do contingen-te populacional de Curitiba), éno bairro onde se concentramtrabalhadores de todos os can-tos da cidade e Região Metropo-litana. Olhar para as linhas deônibus que passam por ali é osuficiente para entender a di-mensão dessa parcela da popu-lação: Colombo/CIC, Inter 2,Boqueirão/Centro Cívico, Barrei-rinha/São José, Santa Cândida/Pinheirinho, Fazendinha/Ta-mandaré, Aeroporto – isso paraficar apenas nos ligeirinhos.

Exemplos da dificuldade en-contrada pelos pedestres estãono dia-a-dia de quem trabalhapor ali. O gari Joaquim Alexan-dre, de 54 anos, conta que é di-fícil se locomover pelo bairro.“Tenho sempre que dar uma‘corridinha’ para conseguiratravessar com minha lixeira.É muito carro”, desabafa. Real-mente é. Atualmente calcula-se

que haja um veículo para cada1,8 habitante na cidade. Mui-tos destes veículos transitampela região. Um levantamen-to realizado pela Diretoria deTrânsito de Curitiba (Dire-tran), órgão responsável pelotrânsito da capital, mostraque a Avenida Cândido deAbreu está entre os dez piorestrechos da cidade entre as 17he 19h: são 5.307 carros tran-sitando por hora na avenida.

Para conseguir conciliartanta gente e tanto carro, areceita é simples: civilidade.Essa é a opinião de SheniaNassin, presidente da Associa-ção Paranaense de Vítimas deTrânsito (Apavitran), que lem-bra: “O Código Brasileiro deTrânsito privilegia o menorveículo para o maior. Começacom o pedestre, vai para o ci-clista, para o carro, sucessiva-mente. Se todos se respeitarem,não há problemas no trânsito”.

O artigo 214 do Código dei-xa claro que a prioridade é sem-pre do pedestre: “Deixar de darpreferência de passagem aopedestre e ao veículo não mo-torizado, que se encontre nafaixa a ele destinada; que nãohaja concluído a travessia mes-mo que ocorra sinal verde parao veículo; é infração gravíssi-

ma com penalidade de multa”.Mas quem respeita esse ar-

tigo? A comerciante Ana Pau-la Ribeiro, de 22 anos, traba-lha em uma banca da região ediz que em toda travessia o jei-to é dar a mesma “corridinha”que dá o gari Joaquim. “Nin-guém pára para a gente. Para

atravessar, tem que correr nomeio dos carros”, explica.

Para a presidente da Apavi-tran, o pedestre deve sempre pro-curar uma faixa de segurançapara realizar o cruzamento. “Sehá uma faixa de pedestre nospróximos 50 metros, as pessoastêm que atravessar por lá, segun-

do o Código de Trânsito. Podeparecer bastante, mas vale tudopara garantir a segurança”, re-comenda Shenia Nassin.

Seguindo por essa lógica, aequipe de reportagem esteve emum dos cruzamentos apontadospelos pedestres como um dosmais complicados para a traves-sia. Na esquina entre a AvenidaCândido de Abreu com a RuaLysimaco Ferreira da Costa, aolado da Prefeitura e da Vara daFamília, é necessário paciênciapara cruzar a via. Ali concen-tram-se carros e ônibus, que vêmpela Lysimaco da Região Nortede Curitiba, e de outros que semovimentam da Cândido deAbreu para bairros como Pilar-zinho e Abranches.

A situação é a seguinte: dasquatro direções do cruzamento,apenas três têm faixa de segu-rança e um sinal de três tempos(nenhum para o pedestre). Aequipe seguiu o conselho da pre-sidente da Apavitran. Resulta-do: para completar a travessiacom segurança, foram levadostrês minutos e cinco segundos,que poderiam resultar em ape-nas seis segundos, caso houves-se uma faixa de pedestre ao ladoda Prefeitura Municipal. Ficaexplicado o porquê da “corridi-

Reprodução GoogleMaps/ LONA

Especial

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nha” (veja mapa).Mas essa prática pode ser

perigosa: segundo o Batalhãode Polícia de Trânsito do Pa-raná (BPTran), ocorrem 40acidentes por dia em Curitiba,em média. De janeiro a julhodeste ano foram 94 apenas noCentro Cívico. O BPTran nãosoube precisar quantos envol-viam pedestres. Dados do Cor-po de Bombeiros do Paranátambém revelam o perigo nasruas do bairro. Até junho, fo-ram oito ocorrências de atro-pelamento no bairro. Em 2007,foram 23 atropelamentos e em2006, 29.

O número pode parecer pe-queno, mas assusta se anali-sada a população do bairro, decinco mil habitantes, segundolevantamento do Instituto dePesquisa e Planejamento Ur-bano de Curitiba (IPPUC).

As campeãs em acidentesenvolvendo pedestres são aAvenida Cândido de Abreu e aRua Marechal Hermes. Nes-sa última, osatropelamen-tos espantamos morado-res, que jásolicitarammecanismospara conter otrânsito nobairro. Vári-os projetos delei já forampropostos naCâmara Mu-nicipal deCuritiba, en-tre eles um deautoria dovereador ZéMaria. Mora-dores pedi-ram um redutor de velocidadeentre as ruas Mauá e AugustoSevero, no Centro Cívico.“Tendo poucos escritórios, arua [Marechal Hermes] é ba-sicamente residencial. Com aalta velocidade dos motoristas,aumenta o perigo de acidentesenvolvendo, principalmente,idosos e crianças”, comenta overeador.

Uma das soluções aponta-das por Shenia Nassin é a tem-porização dos semáforos e cri-ação de mais faixas de segu-rança. “Se os sinais dessemmais tempo ao pedestre paraque ele atravessasse a rua, es-taria melhor. Mas isso pode-ria gerar mais congestiona-mentos, já que os carros teri-

am que ficar mais tempo pa-rados”, pondera.

A vendedora Ana Paula sen-te a ausência de semáforospara os pedestres nas ruas dobairro. “Tem sinais para oscarros, mas aqueles com os‘bonequinhos’ têm poucos”.

O coordenador da Unidadede Operação e Controle deTrânsito do Diretran, PedroDarci da Silva Junior, concor-da com Ana Paula, mas expli-ca que há um motivo para nãohaver a sinalização para pe-destres. “Seria inviável pro-gramar um semáforo com qua-tro tempos, pois o dispositivode comunicação entre os sinaisfoi projetado no ano de 1978.Mexer em um sinaleiro tira-ria a sincronia de todas asruas da região central. Isso te-ria um custo muito grande”,esclarece. Uma solução parao bairro seria a revitalizaçãoem toda a rede, que segundo ocoordenador, teria que ser fi-nanciado pelo Banco Interame-

ricano de De-senvolvimen-to (BID).

Na Lysi-maco Ferrei-ra da Costa,houve a cria-ção da faixade segurançahá aproxima-damente 25metros da es-quina. Masela é quasedesconhecidapelos pedes-tres. “Real-mente nin-guém usa”,admite Pe-dro. Em rela-

ção às rotatórias do bairro, oengenheiro explica que até háprojetos no IPPUC, porém, po-dem nascer ultrapassados. “Osmodelos atuais de rótula jásão saturados na região doCentro Cívico. Os projetos doIPPUC só sairão do papel da-qui uns seis anos. Até lá, otrânsito já evoluiu, e tirar asrotatórias pode não ter sido amelhor escolha”, reconhece.

Os pedestres vão ter queesperar um bom tempo atéque as mudanças aconteçam.Enquanto isso, terão que con-viver entre carros, motos eônibus. Quem passa pelo Cen-tro Cívico corre a cada dia orisco de ter o seu civismo atro-pelado.

Houve a criação dafaixa de segurançaháaproximadamente25 metros daesquina. Mas ela équase desconhecidapelos pedestres.“Realmenteninguém usa”,admite engenheirodo Diretran

Andar pelo bairro Centro Cívico, em Curitiba, requer uma dose extra depaciência. O bairro que abriga os poderes estadual e municipal não conse-gue dar segurança àqueles que mais precisam: os pedestres. O civismodos motoristas (e também dos pedestres) é deixado de lado, em uma guer-ra em que todos se vêem como inimigos. A guerra chamada trânsito.

Retratos do cotidiano

Texto: João Pedro Schonarth Fotos: Robertson Luz

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Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 200866666

EJoão Nei

Era madrugada e ela esta-va sozinha. O vagão deslizavamergulhado na noite sem luar.Cortava o sertão e tinha desti-no certo. O som das rodas pas-sando pelas emendas dos trilhosritmava a contagem regressivaaté a próxima parada. Não re-conhecia as pessoas a sua vol-ta, senão sua amiga que disseter visto gente viajando no teto.Acreditava que deviam ser seuscompanheiros de viagem, háhoras não os via.

Esta viagem prometia. Pas-saram-se doze horas desde o em-barque em Quijarro, na divisacom o Brasil. Segundo diziam,tinha mais sete horas até che-gar a Santa Cruz de La Sierra,primeira grande cidade depoisda fronteira.

Sem experiência em grandesdistâncias, começava a sentirum friozinho na barriga. Gos-tava de acampar nas férias eferiados. Sempre que podia iapara a Ilha do Mel ou para aSerra do Mar — não que estaspequenas aventuras represen-tassem pouca coisa, eram real-mente desafios, pois aconteciamtanto no verão quanto no inver-no. Enfrentava muito calor, frioe por vezes chuvas torrenciaisem pequenas barracas, ondemal cabiam duas pessoas sembagagem. E essa, definitiva-mente, não era a realidade: cos-tumava levar muita coisa.Eram panelas, batatas, arroz,roupas, cobertor, fósforo, mer-tiolate, esparadrapo, lanterna,e por cima de tudo: um livro. Acomida era feita ali mesmo, aoar livre e dependia de lenhaseca. Se chovesse muito, nãotinha comida quente. O queparecia pré-requisito para agrande viagem, agora estavamais para brincadeira de crian-ça, como garotos que acampamno quintal de casa.

Na hora da partida, em Cu-ritiba. Dêla — como gostava deser chamada — perguntara-se:O que levar quando não se sabeonde vai chegar? Então, pegouduas mudas de roupas, umajaqueta para dias mais frios,algumas camisetas, meias ecuecas, mertiolato, esparadra-

Perfil

po, linha para costura, agulha,papel higiênico, uma faca, ummapa, um par de chinelos ha-vaianas, uma capa de chuva,papel, caneta, agenda com tele-fones e endereços e — para nãoperder o hábito — um livro, deCarlos Castañeda. Leitura ga-rantida para os infindáveis qui-lômetros a percorrer.

Tudo era estranho e nãohavia tempo para análises,apenas tinha que agir con-forme as situações se apre-sentavam. Não tinha vol-ta. Só pensava no seu pa-vor a mariposas — Nãogosto delas, possuempêlos e soltam o pó re-tido nas asas. Sugama energia das lâmpa-das, giram e dan-çam enquanto háluz. Em noitesquentes se espati-fam contra os fa-róis dos carrosem alta veloci-dade, como ka-mikases en-louquecidosem busca deum ponto defuga na pai-sagem. Sãocomo osmeninosdo Brejod aC r u z ,d eChicoBuar-q u e :se ali-mentam deluz. Ao menos nestevagão escuro não há maripo-sas. Nos de primeira classe,muito bem iluminados, não sepode dormir. Mariposas fazemcolunas debaixo da luz, um in-ferno.

Seus amigos, aqueles doteto, foram até a frente do com-boio e viram a cena: todas asjanelas fechadas para não en-trar mais insetos. Todos os pas-sageiros transpiravam muitoem suas roupas compridas, len-ços abanavam o ar como umaagonizante despedida e o pavorgringo estampado nos rostos.Certamente era o medo da ma-lária.

Na cordilheiraMuita coisa mudou desde a

saída. Havia atravessado doisestados, entrado num país queconhecia apenas pelos mapas.O novo idioma começava aapresentar dificuldades nacompreensão, diferente do so-taque da fronteira. O emble-ma de couro com seu nome

gravado fora substi-tuído por

u m afoto de HermetoPascoal tocando violão. Ga-nhara a aplicação de uma ban-deirinha do Brasil no bolso ex-terno, que foi mal costuradacom a linha e a agulha que tra-zia consigo. O pó da estradaimpregnava nos tecidos, fixa-do pela água da chuva e pelocalor dos trópicos. Sua cor sealterava a cada dia, cada noi-te, cada rio e cada vila que pas-sava. Ganhava novas marcasem adesivos, rabiscos e arra-nhões.

Deixou Santa Cruz de La

Sierra e rumou para Cochabam-ba, após dezoito horas consecu-tivas de sono pesado em umhotelzinho qualquer, que paraos padrões era um dos melho-res. Distante das luzes da cida-de avistou as silhuetas das co-linas que começavam a surgirpor detrás da neblina noturna.Era o início da Cordilheira dosAndes. A cena era assustadora-mente excitante. Estava na ca-çamba de uma caminhonete de

fabricação brasileira e seprotegia da

f i n a

ga-roa

comuma

l o n aplásti-

ca. Ago-ra eram

t r ê s ,com a

adesão deuma gaú-

cha que via-java solitá-

ria. Soltavamrisos de excita-

ção e assombro.A nova compa-

nheira era pe-quena e psicologi-

camente estável— devia ter algu-

ma experiência mi-litar. Tinha como

estratégia levar pou-ca bagagem, o estri-

tamente necessáriopara o momento, o que

lhe faltava ia adquirin-do pelo caminho. Dizia

que com menos peso pode-ria movimentar-se melhor. Dêlapor sua vez, movia-se pesada-mente, pois carregava toda suahistória. O que levar quandonão se sabe onde vai chegar?

Conheceu lugares mágicoscomo o Machu Picchu, o LagoTiticaca, suas ilhas e vilarejosesquecidos no tempo. Em Cu-zco se separou da amiga, queachou que estava na hora de vol-tar ao ponto de partida. Obsti-nada por encontrar seu destinoinsistiu, esperou uma semana

Bagagem de pesoUma viagem contada pelo ponto de vista de uma mochila

Dêla, aventureira de carteirinha

João Nei

até sair o primeiro ônibus quecortaria as Cordilheiras atéLima. Esta espera aconteceupor conta do Grupo Sendero Lu-minoso, que fazia ameaças deações terroristas no trajeto. Ocaminho foi desviado em qua-trocentos quilômetros. Foramtrês dias de viagem em estra-das sem asfalto, com pouquís-simas paradas. Altitudes supe-rando os cinco mil metros, tem-peraturas abaixo de zero, ar ra-refeito e tudo isso sem trocar deônibus.

12 mil quilômetrosDêla percorreu aproxima-

damente doze mil quilôme-tros, por quatro países latino-americanos. Trouxe na baga-gem marcas indeléveis de ummundo muito diferente do an-teriormente imaginado. Pas-sou por trechos difíceis e nãoraro recorreu ao bilhete queoutro amigo lhe deu em Curi-tiba. Este, que trazia guarda-do em um compartimento se-creto de sua alça. Era um tex-to do livro “O Lobo da Estepe”de Hermann Hesse. Falavamais ou menos assim: se eutivesse que viver minha vidanovamente, e para isso tives-se que escolher entre os mo-mentos bons ou maus, certa-mente escolheria os maus, por-que são estes que trazem au-toconhecimento. Isso a confor-tava e lhe dava força para con-tinuar, principalmente naque-les momentos em que se sen-tia sozinha em um canto dequarto de hotel ou sacolejan-do nos bagageiros.

O emblema de couro subs-tituído pela foto do músico tra-zia o sugestivo nome: De LáPra Cá. Fabricada em nylonresistente, impermeável e nacor verde. Com várias alças ecintos, reforços em couro eduas lâminas de alumínio naestrutura, para dar maior con-forto. Ainda possui a bandei-rinha do Brasil presa pelos dé-beis pontos e sempre está dis-ponível para novos desafios.Foram tantas experiências vi-vidas, que adquiriu um statusclássico que vai além dos mo-dismos. Guarda dentro de simais histórias que o peso quepode carregar.

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77777Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008Curitiba, sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Nathalia Cavalcante

Desde 1975 – com a criaçãoda Cinemateca pelo cineasta,pesquisador e escritor ValêncioXavier –, o cinema curitibanovem crescendo gradativamen-te. Na década de 1980 o Para-ná já contava com jovens cine-astas como Fernando Severo,Geraldo Pioli e Eloy Pires Fer-reira, que mudaram a formade fazer cinema em Curitiba.Atualmente, alguns deles pas-sam suas experiências parafuturos cineastas que, por suavez, afirmam que não existembrigas de gerações.

O professor de cinema Már-cio Veiga-Costa garante que “asproduções cinematográficas emCuritiba aumentaram, masnão evoluíram, pois o aluno sótem contato com produçõesquando estas fazem parte dasdisciplinas, em determinadoscursos”. Ele aponta que no Pa-raná o grande problema é afalta de incentivo e divulgação,não de tecnologia.

Um ponto positivo mencio-nado é a teledramaturgia pa-ranaense, transmitida pelaRede Paranaense de Comuni-cação (RPC), no programa Ca-sos e Causos, que atinge gran-de parte da população do Esta-do. Isso também ocorreu naCentral Nacional de Televisão(CNT) com Pista Dupla, umseriado brasileiro exibido em1996. “No geral, os realizado-res são ecléticos, eles não con-

seguem uma unidade de esti-lo”, diz o professor.

Para o diretor e produtor deteatro e cinema Adriano Estu-rilho, o poder público não temmuita preocupação com áreasartísticas. Mesmo assim, o in-vestimento depois da criação,em 2005, da Escola Sul Ameri-cana de Cinema e TV (CINE-TVPR) – onde Esturilho cursao sétimo período de Cinema eVídeo – foi maior do que nosúltimos 20 anos. Ele diz que ainstituição “tem uma estrutu-ra muito boa, sofre apenas umpouco para ajustar a grade cur-ricular; mas é normal porqueestá no início”.

O diretor também é sócio daprodutora Processo Filmes, quetrabalha com teatro há dezanos e aproximadamente umano com cinema, juntamentecom Fábio Allon, Bruno de Oli-veira e Carolina Maia. PelaProcesso produziu seu primei-ro filme, um média-metragemde 36 minutos, intitulado Cafédo Teatro, realizado com o edi-tal para iniciantes da Funda-ção Cultural de Curitiba.

O média usou uma equipecom mais de cem pessoas e con-tou com as atuações de EdsonBueno e Lala Schneider. O fil-me faz uma ponte entre cine-ma e teatro de forma irônica.Foi rodado em novembro de2005, dois meses antes do fale-cimento de Lala Schneider.Outro trabalho foi o livro-DVDCancha 2, cantiga para perver-ter juvenis; lançado no Rio de

Janeiro, e neste mês em Curi-tiba. O livro consiste em contosadaptados para curtas-metra-gens de duração máxima de dezminutos. Entre outros traba-lhos da produtora Processo Fil-mes, os curtas-metragens Nós,de Fábio Allon, de janeiro de2008 e Os dias cinzas, de Bru-no de Oliveira – neste a Alumi-ar filmes foi co-produtora.

O diretor, roteirista e produ-tor Aly Muritiba, que divulgouem abril de 2008 seu primeirotrabalho, o curta-metragemConvergências, começou a fazercinema em Curitiba. Está cur-sando o quinto período de Cine-ma e Vídeo na CINETVPR epode usufruir dos equipamen-tos do curso. Muritiba é sócioda produtora Alumiar filmes,que existe há um ano e meio etem como sócios: Diko Floren-tino, Antônio Júnior e AndréChesini.

Existem três fases na pro-dução de um filme. Em um cur-ta-metragem, por exemplo,acontece a pré-produção (quedura em torno de dois meses),na qual se escolhe o roteiro eocorrem reuniões para estabe-lecer os apoios e os equipamen-tos necessários. Em seguida asfilmagens, (que duram em tor-no de três dias) e por último após-produção, a mais demora-da, que consiste na edição dasimagens e do som e confecçãodos créditos, entre outros de-talhes.

“Um filme nasce três vezes:primeiro no roteiro, depois nasfilmagens e por último na edi-ção”, diz. No curta-metragemCom as próprias mãos, aindanão lançado, as etapas duraramao todo quatro meses, enquan-to que em Convergências dura-ram um ano.

Aly Muritiba realizou entre-vistas com 30 cineastas conhe-cidos e desconhecidos para o do-cumentário Cinema Vira-lata –em fase de pós-produção –, quetrata do cinema latino-america-no. Além disso, conseguiu doCentro Técnico Audiovisual au-torização para usar um trechodo filme Limite (1931), de Má-rio Peixoto. “Nesse meio é ne-cessário ter boas relações e con-tatos”, afirma.

O diretor, produtor e editor

Diko Florentino, que está noquinto período de Cinema eVídeo, ganhou seu primeiroedital da Fundação Culturalpara a realização do curta-me-tragem Eu não sei andar debicicleta, cujas filmagens es-tão previstas para outubro. Eleconta que na CINETVPR, háliberação de equipamentospara produção independente apartir do quarto período.

Afirma ainda que basta tervontade para produzir, e quenão é obrigatório prender-se àsdisciplinas. “Os alunos buscamo máximo de profissionalismo,pois para fazer um filme é pre-ciso cumprir prazos, ter pon-tualidade e seriedade”. São re-alizados testes para a escolhade elenco. Muitas vezes os alu-nos contam com a atuação deatores profissionais e não hácobrança de cachê. As produ-ções não são em película, masdigitais (Dcine), por ser maisrápido e barato.

DivulgaçãoA divulgação dos filmes é fei-

ta através da internet, rádio,flyer e na Cinemateca. MasDiko Florentino afirma que o

Márcio Veiga-Costa, professor de cinema

Nathália Cavalcante / LONA

Nathália Cavalcante / LONA

público é sempre o mesmo. Umproblema apontado por todos éa escassez de espaço para exibi-ção, pois só existe a Cinemate-ca. Os filmes são exibidos ape-nas em um dia nesse local, de-pois só em festivais. A entradanos lançamentos é gratuita.“Não temos preocupação de co-brar ingresso, quanto mais pes-soas forem, melhor”, completa.

Atualmente, o festival de ci-nema universitário Putz! – queconta com produções de todo opaís – é um bom caminho paratornar o trabalho conhecido.Foi o caso de Lavanderia Sher-mer, de Wellington Sari, pro-duzido pela Alumiar filmes,que ganhou o terceiro lugar naúltima edição. Já o Díinamo éum cineclube que exibe todasas quartas-feiras filmes locaisseguidos de debates; o que aju-dou a formar uma comunida-de cinematográfica.

No site www. alumiarfilmes.com.br, estão disponí-veis todas as informações a res-peito das produções já finaliza-das e em andamento. Além dis-so, um blog e os serviços reali-zados pelos integrantes da pro-dutora.

A partir da esquerda: Fábio Allon, Bruno de Oliveira,Wellington Sari e Al y Muritiba

Apesar do aumento da produção cinematográfica local, ainda há pouco incentivo

Cinema com técnica e boa vontadeCultura

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Texto e fotos: Patrick Belem

Um grande diferencial daSerra do Mar, que liga Curiti-ba ao litoral, é o Caminho doItupava, que passou por restau-ração e foi aberto novamente aopúblico. Bastante conhecido pormochileiros e andarilhos, a tri-lha que liga Curitiba a Morre-tes tem 22 quilômetros de subi-das e desci-das intensasque cortam aMata Atlân-tica, atraves-sando mor-ros em alti-tudes de 50 a500 metros.

Com umecossistemae x t r e m a -mente rico,já foram re-gistradas cerca de 300 espéciesde aves e 50 de répteis na re-gião, fora a grande quantidadede mamíferos, que — como omico-leão-de-cara-preta, a quei-xada, o cateto, o gambá, a ja-guatirica, a lontra e até mes-mo a onça pintada e o puma —pode ser encontrada em situa-ções mais raras.

Construído ainda no séculoXVII, originado de antigas tri-lhas indígenas e calçado de pe-dras irregulares extraídas de ri-achos próximos pelos escravos,o caminho foi a principal comu-nicação entre a cidade e o lito-ral por mais de 250 anos. Suadescoberta é creditada a umadupla de caçadores que, em per-seguição a uma anta no alto daserra, acabaram caindo na tri-lha, abatendo-a então somentequase perto de seu fim, próxi-mo ao Rio Nhundiaquara.

Uma das atrações que ficaainda no fim da primeira parteda trilha é a casa do Ipiranga.Construída como residência dochefe da linha ferroviária e uti-lizada como casa de lazer dosengenheiros da rede, ela foiabandonada quando houve a

Itupava: um caminhoda história do Paraná

privatização da linha e entãodestruída pelos vândalos. A casatambém foi habitada pelo famo-so pintor paranaense AlfredoAndersen. Esta possuía aindauma piscina alimentada pelaágua corrente, salão de jogos,uma pequena estufa construí-da com os trilhos e até mesmouma roda d’água que utilizavaa correnteza do Rio Ipirangapara fornecer energia à casa.

Passa-se tam-bém pelo Santuáriodo Cadeado, cons-truído como escri-tório da ComissãoConstrutora dasferrovias por situ-ar-se numa áreamais abrangente,onde se teria me-lhor vista dasobras em anda-mento e da serra.O atual mirante e

a capela de Nossa Senhora doCadeado foram construídos em1965 e, situados logo após a par-te mais exaustiva da trilha, ain-da são uma boa parada de des-canso para o mochileiro.

Terminada então a trilha,esta desemboca na estrada quesobe à Estação Engenheiro Lan-ge, podendo-se então subir aoconjunto de montanhas do Ma-rumbi – oito esplêndidas mon-tanhas principais, destacando-se o Monte Olimpo, com seus1539 metros de altura, que deseu pico pode-se avistar a baíade Paranaguá e toda a serra –ou descer a estrada até Portode Cima, onde é possível fazera trilha para a cachoeira do Sal-to dos Macacos – uma hora decaminhada e mais de meia horade árdua subida - qual a agua-ceira do Rio dos Macacos des-penca de uma altura de 70 me-tros numa densa piscina quefica de frente para as monta-nhas do Marumbi.

A caminhada até o fim datrilha dura em média de seis aoito horas, portanto é recomen-dável um bom par de botas con-fortáveis e antiderrapantes. São

necessárias também roupasaconchegantes e leves para cli-ma quente e frio, pois a noiteserrana, devido à altitude eumidade é bastante gelada. Éimportante também comida depreferência leve e bastante nu-tritiva; grãos, barras de cere-

Com umecossistemaextremamente rico,já foramregistradas cercade 300 espécies deaves e 50 de répteisna região

ais e alimentos diluídos emágua são uma boa pedida. As-sim como um bom chimarrãopara noites de frio em torno dafogueira.

Para aqueles que desejamse aventurar na trilha, é reco-mendado pegar bem cedo o ôni-

bus para Quatro Barras no Ter-minal Guadalupe e seguir até oTerminal de Quatro Barras. Lápega-se o alimentador Borda doCampo até o ponto final. Naboca da trilha o pessoal do IAPirá anotar seu nome, telefone edestino, para maior segurança.