Livro Mod2 Libras z Web

Mdulo 2APRENDENDO LIBRAS

LIBRAS

Adir Luiz FerreiraJoo Tadeu Weck

Jos Edmilson Felipe da SilvaMargarete Ferreira do Vale de Sousa

Paulo Roberto de Andrade Santos

Projeto Institucional

Edital n 015/2010/CAPES/DEDFomento ao uso de tecnologias de comunio e informao nos cursos de graduao



Jos Edmilson Felipe da SilvaMargarete Ferreira do Vale de SousaPaulo Roberto de Andrade Santos

Natal RNNovembro/2011

LIBRAS



Jos Edmilson Felipe da SilvaMargarete Ferreira do Vale de SousaPaulo Roberto de Andrade Santos

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzidasem a autorizao expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Catalogao da publicao na fonte. Bibliotecria Vernica Pinheiro da Silva.

Governo Federal

Presidenta da RepblicaDilma Vana Rousseff

Vice-Presidente da RepblicaMichel Miguel Elias Temer Lulia

Ministro da EducaoFernando Haddad

Reitorangela Maria Paiva Cruz

Vice-ReitoraMaria de Ftima Freire Melo Ximenes

Secretria de Educao a DistnciaMaria Carmem Freire Digenes Rgo

Secretria Adjunta de Educao a DistnciaEugnia Maria Dantas

Pr-Reitoria de GraduaoAlexandre Augusto de Lara Menezes

Comit GestorPresidenteAlexandre Augusto de Lara Menezes

Coordenao geralApuena Vieira Gomes

Coordenadores Apuena Vieira Gomes/CE Adir Luiz Ferreira/CEGleydson de Azevedo Ferreira Lima/SINFOMarcos Aurlio Felipe/CEMaria Carmozi de Souza Gomes/PROGRADRex Antonio da Costa de Medeiros/ECT

Coordenador de Produo de Materiais Didticos

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Projeto Gr co

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Revisores de Estrutura e Linguagem

Eugenio Tavares Borges

Janio Gustavo Barbosa

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Kaline Sampaio de Arajo

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Revisoras de Lngua Portuguesa

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Revisora das Normas da ABNT

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Revisora Tcnica

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Ilustradores

Adauto Harley

Anderson Gomes do Nascimento

Carolina Costa de Oliveira

Dickson de Oliveira Tavares

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Roberto Luiz Batista de Lima

Rommel Figueiredo

Diagramadores

Ana Paula Resende

Carolina Aires Mayer

Davi Jose di Giacomo Koshiyama

Elizabeth da Silva Ferreira

Ivana Lima

Jos Antonio Bezerra Junior

Luciana Melo de Lacerda

Rafael Marques Garcia

Secretaria de Educao a Distncia (SEDIS)

FICHA TCNICA

Aprendendo Libras: mdulo 2 / Adir Lus Ferreira et al ... Natal: EDUFRN, 2011.

64 p.: il.

ISBN 978-85-7273-872-9

Contedo: Aula 4 Aprendendo Libras. Aula 5 Parmetros da Libras. Aula 6 Formao de sinais e classi cadores.

Caderno n 2 que compe a disciplina a distncia de Libras/UFRN.

1. Libras. 2. Incluso. 3. Surdos. I. Ferreira, Adir Lus. II. Weck, Joo Tadeu. III. Silva, Jos Edmilson Felipe da. IV. Sousa, Margarete Vale de. V. Santos, Paulo Roberto de Andrade.

CDU 615.51.4 A654a

Apresentao Institucional

A Secretaria de Educao a Distncia SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no mbito local, das Polticas Nacionais de Educao a Distncia em parceira com a Secretaria de Educao a Distncia SEED, o Ministrio da Educao MEC e a Universidade Aberta do Brasil UAB/CAPES. Duas linhas de atuao tm caracterizado o esforo em EaD desta instituio: a primeira est voltada para a Formao Continuada de Professores do Ensino Bsico, sendo implementados cursos de licenciatura e ps-graduao lato e stricto sensu; a segunda volta-se para a Formao de Gestores Pblicos, atravs da oferta de bacharelados e especializaes em Administrao Pblica e Administrao Pblica Municipal.

Para dar suporte oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de meios didticos e pedaggicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que so elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gr co para atender s necessidades de um aluno que aprende a distncia. O contedo elaborado por pro ssionais quali cados e que tm experincia relevante na rea, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material impresso a referncia primria para o aluno, sendo indicadas outras mdias, como videoaulas, livros, textos, lmes, videoconferncias, materiais digitais e interativos e webconferncias, que possibilitam ampliar os contedos e a interao entre os sujeitos do processo de aprendizagem.

Assim, a UFRN atravs da SEDIS se integra o grupo de instituies que assumiram o desa o de contribuir com a formao desse capital humano e incorporou a EaD como moda-lidade capaz de superar as barreiras espaciais e polticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso graduao e ps-graduao no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN est presente em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regies, ofertando cursos de graduao, aperfeioamento, especializao e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenas regionais e o conhecimento uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.

Nesse sentido, este material que voc recebe resultado de um investimento intelectual e econmico assumido por diversas instituies que se comprometeram com a Educao e com a reverso da seletividade do espao quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLETE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAO A DISTNCIA como modalidade estratgica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.

SECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIA SEDIS/UFRN

Apresentao

Car@ estudante,

Seja bem-vind@ a mais um mdulo de Libras!

Continuaremos nossa viagem ao mundo dos surdos e da Lngua Brasileira de Sinais (Libras), rumo educao inclusiva na proposta bilngue. Isto , a incluso de alunos surdos em classes comuns do ensino regular, respeitando a Libras como a sua lngua materna. No primeiro mdulo, estudamos sobre a surdez, as diferentes concepes polticas e sociais que incidiram na forma com a qual os surdos foram tratados ao longo da histria, sobre a luta pela conquista de seus direitos como cidados e pelo reconhecimento de sua cultura.

Neste mdulo, de carter mais instrumental, estudaremos alguns aspectos gramaticais da Libras, imprescindveis para quem vai utiliz-la, tais como: variaes lingusticas, parme-tros de con gurao dos sinais e classi cadores. importante lembrar que a comunicao em lngua de sinais no gesticulao ou mmica, como pensa a maioria das pessoas. Assim como as demais lnguas de sinais, a Libras tem o status de lngua, e no de linguagem, uma vez que possui uma gramtica prpria, orientada por parmetros de natureza gesto-visual que independe da gramtica da Lngua Portuguesa ou de outras lnguas orais. Por isso, evitaremos comparativos quase sempre precrios bem como a desvalorizao de uma das lnguas em detrimento da outra. Pretendemos, tambm, que voc compreenda que a independncia das lnguas de sinais implica na possibilidade de o surdo comunicar-se exclusivamente em Libras e desconhecer a Lngua Portuguesa. Todavia, se a forma de comunicao predominante na sociedade se faz por meio da palavra, especialmente em se tratando dos conhecimentos abor-dados no currculo escolar, podemos defender que o domnio das duas lnguas para o surdo um fator de incluso social no mundo contemporneo, repleto de informaes codi cadas na escrita.

Durante toda essa jornada no mundo dos surdos e da Libras, estaremos sempre ao seu lado. Nosso desejo que voc possa avanar mais e mais a cada lio. Buscamos usar uma linguagem acessvel para facilitar a apreenso dos contedos. Portanto, leia e releia se for o caso o material, assista s videoaulas correspondentes e faa as atividades ao nal das leituras. No se esquea de consultar os sites e blogs que selecionamos e os lmes que su-gerimos, a m de complementar os estudos. Procure aprimorar seus conhecimentos sobre o assunto com colegas que j cursaram Libras a distncia ou presencial ou por outros meios quaisquer. O importante no car parado. Alis, car parado, como veremos neste mdulo, tem pouco a ver com as lnguas de sinais. Sendo assim nos resta concluir: mexa-se e mos obra!

Um forte abrao em Lngua Brasileira de Sinais!

Sumrio

Aula 4 Aprendendo LibrasApresentaoObjetivosLibras: uma lngua completa

AtividadeVariaes lingusticasResumoAutoavaliaoReferncias

Aula 5 Parmetros da LibrasApresentaoObjetivosPonto de articulao

AtividadeCon gurao de mos

AtividadeMovimento

AtividadeOrientao

AtividadeExpresso facial e corporalResumoAutoavaliaoReferncias

Aula 6 Formaode Sinais e Classi cadoresApresentaoObjetivosClassi cadoresResumoAutoavaliaoReferncias

91111131616212224

252727293333373840414242444546

47494951606162

Aprendendo Libras

4Aula

12

3

Aula 4 Aprendendo Libras 11

Apresentao

As mos rompem o silncio e fazem a comunicao de quem no ouve, mas v, sente e se emociona.

(Autor desconhecido)

Nesta aula, retomamos alguns contedos j anunciados no Mdulo 1 (O que Libras?), tanto em relao ao alfabeto manual como em relao s variaes lingusticas na Libras. Refor-amos a Libras como uma lngua de modalidade gestual visual, que permite aos usurios tratar de assuntos de qualquer natureza fatos cotidianos, artes, cincia, loso a, esportes sem prejuzo de compreenso. Trata-se, pois, de uma lngua capaz de atender a todas as demandas de comunicao necessrias a uma pessoa surda. Veremos, tambm, que as variaes lingus-ticas da Libras acontecem tanto pelo uso de um mesmo sinal para designar coisas diferentes como pelo uso de mais de um sinal para designar a mesma coisa. Acontecem, ainda, muitas variaes lingusticas em relao forma como o sinal realizado, devido a caractersticas pessoais ou de uma comunidade em particular, produzindo algo equivalente ao sotaque e prosdia nas lnguas orais auditivas. A relao entre palavra e sinal no direta; a constituio dos sinais no provm da representao simblica da sonoridade das palavras, eles partem da ideia representada gestualmente em contexto.

ObjetivosCompreender que a surdez no restringe a capacidade comunicativa e cognitiva do surdo, e que a Libras a sua lngua materna.

Analisar a importncia da educao inclusiva na proposta bilngue para a participao do surdo na sociedade.

Distinguir e utilizar alguns sinais polissmicos e alguns sinais sinonmicos.

Sinais em LibrasOs sinais em Libras so signos lingusticos que independem da palavra em Lngua Portuguesa. Cada sinal convencio-nalmente constitudo pela representao na forma de gestos do que se deseja comunicar e a sua compreenso diretamen-te visual.

Saiba mais


Libras: uma lngua completaOs estudos sobre as lnguas de sinais, principalmente aqueles realizados nos Estados

Unidos durante os anos sessenta e setenta do sculo passado, ampliaram nosso conceito de lngua, indo alm da modalidade oral auditiva e introduzindo, tambm, as lnguas gestuais. Durante muito tempo os estudos sobre as lnguas de sinais preocuparam-se em comparar as duas formas oral auditiva e gesto-visual evidenciado suas semelhanas e diferenas. Entretanto, as lnguas de sinais apareciam quase sempre subordinadas lngua oral auditiva de cada pas, e s recentemente elas adquiriram o status de lngua independente. As lnguas de sinais, amplamente aceitas e utilizadas pelos surdos, tambm passaram a ser reconhecidas como sua lngua natural.

Gesto: movimento espontneo, voluntrio ou involuntrio, do corpo, espe-cialmente das mos, braos e cabea que revela estado psicolgico ou in-teno de exprimir ou realizar algo. O gesto igualmente uma forma de dar nfase ao discurso na interao comunicativa dos interlocutores.

Mmica: arte de exprimir os pensamentos e sentimentos, imitar seres e representar objetos por meio de gestos, expresses corporais e fision-micas. O mmico o artista que comunica e se faz entender por meio da mmica sem fazer uso da fala.

Pantomima: um teatro gestual que faz o menor uso possvel de palavras e o maior uso de gestos. a arte de narrar com o corpo. uma modalidade c-nica que se diferencia da expresso corporal e da dana, basicamente a arte objetiva da mmica, sendo um excelente artifcio para comediantes, cmicos, palhaos, atores e bailarinos.

Sinal: o signo lingustico na lngua de sinais, o qual contm uma unidade de informao convencionada por meio gestual pela comunidade surda e que ser-ve para comunicar algo a algum. Assim, o sinal se difere do gesto espontneo pelo seu carter de cdigo compartilhado e estruturado em uma lngua.

Aula 4 Aprendendo Libras14

Devido a essa identidade lingustica prpria das lnguas de sinais nem sempre se torna adequado buscar comparativos diretos com as lnguas faladas, como o portugus. por isso que as propostas de educao para surdos na perspectiva do oralismo e da comunicao total fracassam em seus resultados mais abrangentes, pois elas no reconhecem a autonomia da lngua de sinais e seu uso to somente admitido como um recurso complementar de comu-nicao com surdos.

Em sentido oposto, o mtodo bilngue, indicado na Poltica Nacional de Educao Especial (MEC/SEESP, 2008), parte da perspectiva da Educao Inclusiva, a qual contesta a segregao dos alunos em classes ou escolas especiais e aponta para a necessidade de remoo das barreiras lingusticas que di cultam a convivncia entre surdos e ouvintes. O reconhecimento tardio da Libras repercutiu em prejuzos na educao formal da comunidade surda, pois ape-nas na ltima dcada deste sculo surgiram projetos educacionais para a implantao de uma proposta bilngue (Portugus-Libras) nas escolas brasileiras. O mtodo de educao bilngue, que tem o respaldo legal do Ministrio da Educao, busca a ampla incluso do surdo. Nesse sentido, a Libras o cialmente respeitada e ensinada como uma lngua completa em si, sendo direito do aluno surdo receber instruo em sua lngua materna, aprender a comunicar-se em Lngua Portuguesa na modalidade escrita e, se possvel, realizar leitura labial.

A proposta bilngue considera dois aspectos importantes para a educao dos surdos. Primeiramente, reconhece a lngua de sinais como lngua materna dos surdos, pois numa re-alidade sem sons, o sistema cognitivo para elaborao e narrao de ideias, conceitos e fatos se desenvolve por meio da percepo visual, e por meio dela que se torna possvel atribuir sentido e signi cado ao mundo fsico e social. Em segundo lugar, a proposta bilngue avana em relao ao oralismo porque respeita a cultura surda, mas ao mesmo tempo, enfatiza a importncia e necessidade de o surdo no permanecer segregado da cultura ouvinte. Nesse sentido, a aprendizagem da Lngua Portuguesa e a convivncia escolar com alunos ouvintes so fatores imprescindveis para a incluso e participao social e poltica dos surdos como, por exemplo, em atividades de ocupao pro ssional, manifestaes artsticas, desportivas, culturais e de lazer.

preciso considerar que a criana que nasce surda ou se torna surda antes de aprender a falar ir desenvolver sua capacidade sociolingustica pela interpretao visual das expresses faciais e corporais das pessoas e pela leitura dos gestos ou dos sinais que elas realizam em determinado contexto. Quanto menor o nvel de acuidade auditiva, maior o nvel de dependncia da lngua de sinais para a comunicao e maior a di culdade para aprender idioma falado em seu pas.

Queremos rea rmar que o fato de o surdo ser privado da comunicao oral no afeta seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, sociocultural ou acadmico, pois a lngua de sinais completa em seus aspectos morfolgicos, sintticos e semnticos, permitindo s imagens sinalizadas traduzirem qualquer pensamento. Alm disso, a aprendizagem da Lngua Portu-guesa na modalidade escrita habilita o surdo na cultura ouvinte e lhe concede a possibilidade de ampliar sua participao social, poltica, econmica e cultural.

A base natural da comu-nicao dos surdos a imagem codi cada nos

sinais que formam o lxico da Libras, pois o processo de formao de conceitos

no pode depender da audio ausente.


Curiosidade

O escultor Douglas Tilden nasceu em 1860 na Califrnia e aos quatro anos de idade cou surdo aps ser acometido de febre escarlatina. Formou-se na Escola da Califrnia para surdos, sendo posteriormente professor dessa mes-ma instituio durante oito anos. Muitas de suas esculturas monumentais so graciosas comemoraes aos temas californianos e podem ser vistas na cidade de So Francisco. Com a escultura The Baseball Player, que foi exposta no Salo de Paris no perodo de 1889 a 1894, Tilden conquistou o reconhecimento internacional, sendo considerado um dos precursores da escultura moderna.

Figura 1 The Baseball Player -1890

Fonte: . Acesso em: 18 out. 2011.


Leia o trecho a seguir e redija um comentrio pessoal sobre a importncia da proposta bilngue na educao de surdos.

A Proposta Bilngue no privilegia uma lngua, mas quer dar direito e condies ao indivduo surdo de poder utilizar duas lnguas; portanto, no se trata de ne-gao, mas de respeito; o indivduo escolher a lngua que ir utilizar em cada situao lingustica em que se encontrar. (Kozlowski, 1998).

Variaes lingusticas um fenmeno presente nas lnguas humanas, independentemente de ao normativa

(gramtica). Em qualquer lngua oral e tambm na Libras possvel identi car variaes oriundas do contexto histrico, geogr co, sociocultural e comunicativo.

O contexto histrico explica como ao longo do tempo as palavras e os sinais vo sendo gradativamente modi cados e at substitudos, esse um processo que ocorre em qual-quer lngua viva.

O contexto geogr co trata das mudanas identi cadas em comunidades usurias da mesma lngua, porm que habitam em regies distintas.

O contexto sociocultural produz variaes relativas a atributos que identi cam um grupo como: grau de instruo, idade, gnero ou padro econmico.

O contexto comunicativo se reporta situao, mais ou menos formal, relao estabe-lecida entre os interlocutores e ao contedo da mensagem.


Em qualquer que seja o contexto produtor das variaes lingusticas (histrico, geogr -co, sociocultural ou comunicativo), elas so marcadas por diferenas observadas no repertrio de palavras/sinais utilizados (lxico), na forma como as palavras so pronunciadas ou os sinais so executados (morfolgico) e, ainda, nos signi cados que lhes so atribudos (semntico).

Segundo estudos da lingustica, os signos ou itens lexicais (sinais na lngua dos surdos ou palavras na lngua dos ouvintes) expressam ideias, aes ou conceitos, que podem ter dife-rentes signi cados, conforme o contexto. Os signos so assim instrumentos de comunicao e representao, na medida em que, com eles, con guramos linguisticamente a realidade e distinguimos os objetos entre si (VILELA; KOCH, 2001).

Em qualquer situao comunicativa o contexto se torna fundamental na produo de sentidos; ele permite preencher lacunas e fazer escolhas dentre algumas possibilidades, de modo a produzir interpretaes ajustadas, especialmente quando se trata de uma linguagem conotativa, do uso de expresses idiomticas ou de signos polissmicos. A linguagem cono-tativa se caracteriza pelas alteraes ou ampliaes que as palavras agregam ao seu sentido literal (denotativo). Vejamos alguns exemplos comuns da linguagem conotativa, em que as guras de linguagem e de construo possuem um signi cado subjetivo e indissocivel de seu contexto, assim como algumas expresses idiomticas, cuja compreenso depende da participao do indivduo na mesma comunidade usuria.

Expresses idiomticas e guras de linguagem

Tirar gua do joelhoPagar o patoMo na rodaEngolir saposDar com os burros nguaChorar sobre o leite derramadoEles passaro eu passarinho (Mrio Quintana)A neve ps uma toalha calada sobre tudo (Fernando Pessoa)

Figura 2

Fonte: . Acesso em: 18 out. 2011.

Saiba mais

Aula 4 Aprendendo LibrasAula 4 Aprendendo Libras18

Como sugerem os exemplos demostrados anteriormente (Expresses idiomticas e gu-ras de linguagem), seria ilgico fazer uma traduo literal da Lngua Portuguesa para a Libras, pois o sentido no bvio na cultura surda por duas razes. A primeira porque no existe relao unvoca de sentido entre as palavras e os sinais. A segunda, porque as expresses idiomticas e as guras de linguagem e de construo (metforas, metonmias, aliterao, snquise etc.) so produzidas em padres culturais espec cos. A Lngua Brasileira de Sinais , antes de tudo, uma imagem do pensamento do surdo. Por isso, a palavra e o sinal muitas vezes no tm o mesmo signi cado e um mesmo sinal tem vrios signi cados (KOJIMA; SEGALA, s/d, p. 108).

Outro aspecto que precisamos entender que a sintaxe da Libras difere bastante da Lngua Portuguesa, isto , a forma de organizar os sinais em um enunciado (frase, orao ou perodo) na Libras depende mais do contexto comunicativo (encadeamento das ideias; assunto tratado e interao entre os interlocutores) do que de regras in exveis.

Sintaxe em lingustica refere-se ao componente do sistema lingustico que determina as relaes formais que interligam os constituintes da sentena, atri-buindo-lhe uma estrutura (HOUAISS, 2007, p. 2581). Em Libras, refere-se disposio dos sinais na frase e das frases no discurso, incluindo a sua relao lgica, entre as mltiplas combinaes possveis para transmitir um signi cado completo e compreensvel.

Podemos abordar as variaes lingusticas do ponto de vista da relao entre signo e signi cado. O signo a unidade lingustica (sinal ou palavra) que a representao simblica de algo, cujo signi cado pode ser de natureza denotativa ou conotativa. A Libras, como a Lngua Portuguesa, apresenta variaes lingusticas determinadas pela existncia de um mesmo sinal com signi cados diferentes (polissemia), ou de sinais diferentes que remetem um mesmo signi cado (sinonmia).

Semntica o ramo da lingustica que se ocupa

do estudo da signi cao como parte dos sistemas das lnguas naturais (HOUAISS,

2007, p. 2540). Em Libras o signi cado que o sinal assume nas interaes comunicativas com os surdos. Sinonmia a relao estabelecida entre

signos lingusticos diferentes com signi cado semelhante. Polissemia a presena de mais de um signi cado para

um mesmo signo lingustico.


Exemplo 1 Polissemia: O sinal usado pela comunidade surda de Fortaleza/CE para indicar o nome de sua cidade o mesmo sinal usado noutras regies do Brasil para indicar duro ou sem dinheiro. Assim, o mesmo sinal (imagem 1) pode representar a capital do Cear ou indicar uma condio financeira precria.

Exemplo 2 Sinonmia: O ms de setembro pode ser indicado por sinais diferentes. Em alguns lugares do Brasil, o sinal para designar esse ms lembra um des le marcial (imagem 2), enquanto em outros faz aluso ao assessrio sob o queixo dos soldados que segura o capacete (imagem 3).

Sinais polissmicos e sinonmicos

Figura 3

Imagem 1 SINAL FORTALEZA

Imagem 2 SINAL 1 SETEMBRO

Imagem 3 SINAL 2 SETEMBRO

FORTALEZA (CE)

Saiba mais


importante ressaltar que as variaes lingusticas reportam-se ao contexto, o qual indicar significados distintos no uso dos sinais. Se por um lado a polissemia possibilita que com um pequeno nmero de sinais tenhamos um grande nmero de signi cados, por outro lado, isso refora a ambiguidade e a impreciso, prejudicando a compreenso, especialmente no contexto bilngue Libras-Lngua Portuguesa. Por exemplo, se dissermos fulano uma pessoa difcil e utilizarmos o sinal difcil na traduo direta, o sentido pode car prejudicado, uma vez que podemos atribuir ao adjetivo difcil diferentes acepes: ocupado, irritadio, tmido, etc. Havendo necessidade de manter o sinal difcil na traduo, aconselhamos sua contextualizao, acrescentando uma informao mais objetiva: fulano difcil, porque no aceita negociar. Nesse caso, o acrscimo se justi ca para dizer em que sentido est sendo empregado o sinal de difcil, uma vez que esse adjetivo tem um signi cado polissmico.

Convm esclarecermos que no contexto bilngue Libras/Portugus a polissemia ou sinonmia se faz presente em ambas as lnguas de forma independente. Por exemplo: em Lngua Portuguesa, a palavra manga polissmica, podendo signi car a fruta ou a parte da roupa que cobre o brao, enquanto que em Libras existe um sinal diferente para cada acepo de manga.

Alm das variaes lingusticas oriundas da relao signo-signi cado, podem acontecer variaes na execuo de um mesmo sinal, produzindo o que poderamos comparar ao so-taque nas lnguas orais auditivas. Outras variaes dizem respeito ao estilo pessoal de cada sinalizador, na forma como ele executa os sinais, o que corresponderia, nas lnguas orais, entonao, dico e ritmo da fala, ao que chamaramos de prosdia. Apesar de as variaes lingusticas serem inevitveis e, por isso, aceitveis, importante buscar realizar os sinais de maneira bem articulada, ritmada e coerente com as expresses corporal e facial, pois a compreenso depender dessa desenvoltura.

Sotaque uma forma tpica de falar de um grupo lingustico, cujas variaes em ritmo, entonao ou pronncia das palavras acontecem conforme a regio, classe ou grupo social, etnia, sexo e idade. Em Libras seria a forma de articular o sinal.

Prosdia so as variaes na entonao, ritmo e pronncia das palavras, dando realce ao texto em contexto. No caso da Libras estaria presente na nfase das expresses corporal e facial e no ritmo da gestualizao dos sinais.

Resumo


Para nalizar esta aula, pode parecer bvio falar do carter espacial da lngua de sinais, contudo, preciso destacar que a posio do sinalizador fator imprescindvel para a com-preenso dos sinais. A execuo dos sinais deve considerar a posio e a postura adequadas do sinalizador, isto , o corpo do sinalizador e os sinais executados devem estar no campo de viso do(s) interlocutor(es). Dependendo do ngulo de viso que se tenha do sinalizador (frente, lateral) ou da distncia, a compreenso do sinal pode ser difcil ou impossvel. Devemos lembrar que esse aspecto merece a maior ateno do professor que faz uso da Libras em sala de aula, sendo aconselhvel que o aluno surdo ocupe seu lugar nas primeiras carteiras e que o professor evite falar enquanto escreve, caso o aluno realize leitura labial.

Curiosidade

Voc sabia que existem dois sinais diferentes para dizer abacaxi, sendo que um deles tambm signi ca a cidade de Aracati/CE, conhecida pela produo dessa fruta?

Nesta aula, vimos que a Libras no deve ser estudada tendo como base a Lngua Portuguesa, pois as lnguas de sinais no so derivaes das lnguas orais auditivas, elas possuem uma gramtica espec ca e independente. A Libras re ete a forma natural de o surdo processar suas ideias, compreender e expressar o mundo. Percebemos que o contexto comunicativo fundamental na produo de sentidos para os sinais executados e na compreenso dos seus signi cados, permitindo que os interlocutores se expressem e interpretem adequadamente a mensagem. Vimos tambm que como em qualquer lngua, a Libras possui variaes lingusticas relacionadas a mudanas no contexto histrico, geogr co, sociocultural e comunicativo. As variaes produzidas so identi cadas no uso de signos polissmicos ou sinonmicos, bem como na maneira como eles so realizados.

1Aula 4 Aprendendo Libras22

AutoavaliaoAs variaes lingusticas so oriundas de contextos histricos, geogr cos, sociocul-turais e comunicativos, descreva com suas palavras o que voc compreende por:

Variaes lingusticas em contextos histricos

Variaes lingusticas em contextos geogr cos

Variaes lingusticas em contextos socioculturais

Variaes lingusticas em contextos comunicativos

23

4


Assista videoaula correspondente Aula 4 do Mdulo 2 e, considerando o con-texto da situao comunicativa, identi que qual o sinal mais adequado para a pala-vra grifada, colocando nos parnteses o nmero da imagem correspondente.

A prova de matemtica foi muito difcil. ( )

O dia hoje de sol e cu claro. ( )

Voc quer ir comigo? Claro!. ( )

Figura 4

1 2 3

Pesquise no dicionrio on-line os sinais usados para indicar:

Matemtica

Dia

Sol

Difcil

Cu

Cinema

Assista videoaula correspondente Aula 4 do Mdulo 2 e compare a maneira como os sinais pesquisados no exerccio anterior so executados pela sinalizadora do dicionrio on-line e como eles so realizados pelos professores da videoaula. Procure, em seguida, memoriz-los e repeti-los algumas vezes.


RefernciasBRASIL. Gramtica da Libras I: conhecendo e aprofundando a Lngua Brasileira de Sinais. Rio de Janeiro: INES/MEC, 2003.

______. Programa Educao Inclusiva: direito diversidade: atendimento educacional especializado: pessoa com surdez. Braslia: MEC/SEESP, 2007.

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BRITO, L. F. (Org.) Lngua Brasileira de Sinais Libras. In: Programa de capacitao de recursos humanos do ensino fundamental: Lngua Brasileira de Sinais. Braslia: SEESP, 1997. p. 19-61. v 3.

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VILELA, M.; KOCH, I. V. Gramtica da lngua portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001.

Parmetros da Libras

5Aula

12

3

Morfologia o estudo da estrutura, da formao e da classi cao das palavras, independentemente de sua funo sinttica na participao da frase ou orao. Em Libras, a morfologia refere-se ao modo como os sinais so estruturados segundo seus parmetros de con gurao. Morfema refere-se s partes constituintes das palavras, em sua menor unidade gramatical. Em palavras como infelizmente temos o pre xo in, o radical feliz e o su xo mente. Em Libras os parmetros de con gurao equivalem aos morfemas, que combinados formam o sinal. Cada morfema (parmetro de con gurao) rene, por sua vez, unidades menores diferenciadoras de sentido chamadas de quiremas (quiro em grego signi ca mo), equivalendo aos fonemas em lnguas orais.

Aula 5 Parmetros da Libras 27

Apresentao[A lngua de sinais], nas mos de seus mestres, uma lngua extraordi-nariamente bela e expressiva, para a qual, na comunicao uns com os outros e como um modo de atingir com facilidade e rapidez a mente dos surdos, nem a natureza nem a arte lhes concedeu um substituto altura.

J. Schuyler LongThe sign language, 1910

Nesta aula, veremos que a aprendizagem da Libras requer ateno para a forma como os sinais so executados, de modo que as variaes lingusticas (contedo da Aula 4), especi -camente no que se refere ao sotaque e a prosdia no comprometam a compreenso de seu signi cado. Desse modo, existe uma morfologia dos sinais, presente na maneira como se combinam os parmetros da Libras para formar um signo lingustico ou item lexical. Todas as lnguas tm suas prprias regras para a formao de seus signos (sinal em Libras ou palavra em Lngua Portuguesa). O conjunto desses signos forma o lxico de uma lngua. Nesta aula, ento, estudaremos o modo como as mos se posicionam, as formas que elas assumem, o movimento que realizam (ou no) na sinalizao, bem como a postura corporal e a expresso facial que complementam o contexto de produo dos sentidos na comunicao. No existe consenso entre os estudiosos sobre quantos e quais so os parmetros da Libras, por isso adotamos a diviso que parece mais largamente aceita, a qual compreende: ponto de articu-lao, con gurao de mo, orientao, movimento e expresso corporal/facial. Porm, nem todos os sinais renem esses cinco parmetros em sua composio.

ObjetivosConhecer e distinguir os parmetros da Libras na consti-tuio dos sinais.

Executar os sinais conforme seus parmetros de con -gurao.

Utilizar os sinais de maneira apropriada em situaes co-municativas com surdos.

Ponto de articulaoPara cada sinal existe um Ponto de Articulao (PA), isto , o local onde ele realizado

ou iniciado. A execuo dos sinais acontece no espao que se situa diante do emissor, desde a linha da cintura at o alto da cabea (Figura 1 espao de sinalizao).

Figura 1 Espao de sinalizao

Para a execuo dos sinais, a(s) mo(s) toca(m) alguma(s) parte(s) do corpo (cabea, face, pescoo, trax, braos). H sinais, porm, em que a(s) mo(s) pode(m) se tocar (ou no) sem tocar noutras partes do corpo. Nesse caso, dizemos que o sinal executado em espao neutro. Vejamos, na Figura 2, os sinais televiso, namorar, barco e incluso que so executados em espao neutro.

Espao neutroO ponto de articulao, local onde o sinal se inicia e realizado, pode estar marcado pelo contato da(s) mo(s) em alguma parte do corpo. Quando as mos se tocam sem tocar outra parte do corpo, dizemos que o sinal realizado em espao neutro. H sinais executados com apenas uma mo e outros com ambas.

InclusoO sinal de incluso apresentado neste mdulo corresponde ao uso nacional da Libras, j o adotado na videoaula e uma variao regional.

SINAL TELEVISO

SINAL BARCO

SINAL NAMORAR

SINAL INCLUSO

Figura 2 Sinais executados em espao neutro


SINAL PENSAR

(PA) Testa

(PA) - Boca

(PA) - Pescoo

(PA) Rosto

(PA) - Pescoo

(PA) Testa

SINAL SILNCIO

SINAL MORRER SINAL SUJAR

SINAL ESQUECER

SINAL MSCARA

Aula 5 Parmetros da Libras30

Na Figura 3, veremos sinais com pontos de articulao variados:

Pensar e esquecer (PA) cabea/testa

Silncio e mscara (PA) face

Morrer e sujar (PA) pescoo

Sentir e amigo (PA) trax

Banheiro e debruar (PA) braos

SINAL SENTIR

(PA) Peito

(PA) Brao (PA) Brao

(PA) Peito

SINAL BANHEIRO

SINAL AMIGO

SINAL DEBRUAR


Figura 3 Diferentes pontos de articulao

Vrios sinais so morfologicamente estruturados num mesmo ponto de articulao, como exempli ca a Figura 3. O ponto de articulao pode ser de nido em alguns sinais a partir do campo semntico ao qual pertencem. Sinais como medo, compaixo, raiva, amor, saudade, alegria e tristeza possuem um mesmo campo semntico sentimentos e, por isso, tm em sua morfologia o mesmo ponto de articulao peito esquerdo. Outros sinais relacionados a atividades cognitivas, como no caso de aprender, esquecer, lembrar, pensar, compreender, entender, imaginar, de nir, sonhar e acreditar tm em comum o ponto de articulao na testa.

Saiba mais


Campo semntico o conjunto de signos lingusticos (no caso da Libras o conjunto de sinais) cujos elementos signi cantes esto inter-relacionados, compartilhando certas caractersticas comuns ou referenciais. Por exemplo: cachorro, gato e papagaio pertencem ao mesmo campo semntico de animais. Na Libras, os parmetros de con gurao dos sinais podem ser de nidos pelo campo semntico. o caso, por exemplo, do ponto de articulao no peito para os sinais ligados a sentimentos.

Figura 4 Imagem de mos formando a palavra libras

Adaptado de: . Acesso em: 18 out. 2011.

Polegar

Palma

a) Palma da mo b) Dorso da mo

Dorso

Indicador Mdio

Anelar

Mnimo


Pesquisa na Internet dicionrio on-line e liste alguns exemplos de sinais conforme o que se pede.

a) Dois sinais executados em espao neutro

b) Dois sinais com ponto de articulao na face

c) Dois sinais com ponto de articulao no brao

Con gurao de moAs mos so as articuladoras dos sinais. Assim, a Con gurao de Mo (CM) se refere s

diferentes formas de posicion-las na composio dos sinais. Por isso, importante relembrar nosso conhecimento sobre a mo (dedos, palma e dorso) para que ao fazermos a descrio de um sinal ele seja compreendido com clareza.

Figura 5 Mos: dedos, palma e dorso

1Atividade

A execuo dos sinais pode acontecer com apenas uma mo ou com as duas. Os sinais articulados com apenas uma mo so produzidos pela mo dominante, que pode ser a direita ou a esquerda, segundo a convenincia de quem os realiza. Os sinais articulados com as duas mos so determinados pelo tipo de interao entre elas, podendo, por exemplo, estarem sobrepostas ou espelhadas.

A compreenso de uma mensagem em Libras depende tanto do contexto comunicativo como da uncia do sinalizador para a realizao adequada dos sinais. Boa parte das con gu-raes de mo segue as formas representativas das letras no alfabeto manual e alguns alga-rismos: 0, 1, 2, 3, 5, 6, 8, 9. Ferreira-Brito (1995) registra 46 con guraes de mo agrupadas em 19 categorias, enquanto outros estudos em Libras apresentam at 64 con guraes, mas nesse texto adotaremos uma tabela com 60 con guraes. Voc aprender as con guraes medida que for utilizando-as progressivamente.

A Figura 5 serve para voc identi car as principais con guraes de mo e sua referncia ao alfabeto manual. Objetivando tornar o contedo mais didtico, convencionamos, nesta disciplina, numerar cada uma das con guraes de mo para que possamos cit-las pelo nmero. Assim, quando formos descrever um novo sinal, faremos referncia ao nmero da Con gurao de Mo (CM) e voc consultar a imagem correspondente.


Figura 6 Con guraes de mo (CM)


2

8

14

20

26

32

38

44

50

56

4

10

16

22

28

34

40

46

52

58

6

12

18

24

30

36

42

48

54

60

1

7

13

19

25

31

37

43

49

55

3

9

15

21

27

33

39

45

51

57

5

11

17

23

29

35

41

47

53

59


SINAL CHAVE

(PA) Espao neutro(CM) 1

(PA) Cabea(CM) 49

(PA) Cintura(CM) 4

(PA) Neutro(CM) 50

(PA) Queixo(CM) 4

(PA) Espao neutro(CM) 1

SINAL LEMBRAR

SINAL SOFRER SINAL PERDOAR/DESCULPAR

SINAL FAZER

SINAL OLHAR

Observe, por exemplo, que a CM 1 e 5 correspondem s letras A e I do alfabeto ma-nual, respectivamente. Procure quais outras con guraes so idnticas s letras do alfabeto manual. Por outro lado, h configuraes de mo que so independentes do alfabeto manual, como no caso da CM39 em que os dedos, mnimo e indicador, so distendidos enquanto os demais se fecham na palma da mo. A descrio dos sinais serve para auxiliar o ensino da Libras, ela informa os parmetros necessrios para a execuo correta do sinal.

Embora em Libras vrias con guraes de mo sejam baseadas no alfabeto manual, importante dizer que os sinais produzidos no tm relao direta com a gra a das palavras na Lngua Portuguesa. Analise os exemplos a seguir na Figura 6.

Exemplo 1

Exemplo 2

Exemplo 3

Figura 7 Exemplos de con gurao de mo em sinais

2Atividade


Notamos, a partir dos exemplos da Figura 6, que a con gurao de mo pode variar bastante, seja pelo nmero de dedos exionados, pela contrao da mo ou pelo contato/separao dos dedos. A combinao dos parmetros da Libras bem variada, de modo que sinais com a mesma con gurao de mo possuem movimento, direo, ponto de articulao e expresso corporal/facial distintos.

Curiosidade

Os fumantes passivos que no consomem cigarros, mas respiram a fumaa dos outros, tm um alto risco de sofrer de surdez, segundo revela um estudo. Os autores examinaram 3.300 adultos estadunidenses com idades compreendidas entre 20 e 69 anos, classi cados como fumantes passivos depois de medir em seu sangue as concentraes de cotinina, um produto derivado da nicotina.

Os dados do estudo, publicado na revista Tobacco Control, revelaram que:

14% dos indivduos expostos com frequncia fumaa do cigarro havia perdido a audio nas frequncias baixas e mdias;

46% da amostra havia perdido a audio na faixa de frequncias altas.

Os especialistas acham que a fumaa do fumo pode afetar o uxo sanguneo nos pequenos vasos do ouvido, privando este rgo de oxignio. Os danos causados pelo fumo na audio so diferentes daqueles provocados pela ex-posio ao rudo ou pela velhice. A perda de audio poderia ser acrescentada lista de consequncias para a sade associadas exposio fumaa do fumo, concluem os autores.

Fonte: http://www.jkg.com.br/curiosidades/660/a-fumaca-do-cigarro-provoca-surdez

Pesquise no dicionrio on-line de Libras e iden-ti que a con gurao de mo utilizada para os seguintes sinais:

Exemplo: televiso (CM) 38

a) borboleta (CM) ____

b) caf (CM) ____

c) magro (CM) ____

d) altura (CM) ____

e) perigo (CM) ____

f) faca (CM) ____

SINAL EDUCAO SINAL AMIGO SINAL SAPO


Movimento um parmetro complexo porque, durante a realizao do sinal, engloba o deslocamento

de uma ou ambas as mos no espao, abrangendo tambm dedos, pulso, brao e antebrao. Tomando emprestados os conhecimentos da Fsica, podemos dizer que o movimento nas lnguas de sinais resulta da relao entre trs elementos: mos-espao-tempo. Isto , o mo-vimento resulta do deslocamento das mos con guradas no espao de articulao do sinal, no decorrer do tempo gasto para execut-lo.

Desse modo, o parmetro de movimento na Libras possui diferentes propriedades ou caractersticas relacionadas aos seus elementos, variando em:

Direo o sentido ou trajetria em que o sinal realizado: para cima ou para baixo, para a esquerda ou para a direita, para frente ou para trs. O movimento pode conter uma ou mais direes (unidirecional, bidirecional ou multidirecional). Em alguns casos, a inverso na di-reo do movimento pode funcionar para expressar um sentido oposto, isto , um antnimo.

Figura 8 Direo no movimento dos sinais

Forma modo pelo qual as mos e dedos seguem uma trajetria na execuo do sinal. O movimento segundo sua forma pode ser extenso ou curto, deslocando-se em linha reta ou curva. Algumas vezes as linhas combinam suas formas para reproduzir a geometria do objeto, conceito ou sentimento convencionada pelo sinal.

(PA) Brao(CM) 38 (M) Unidirecional, deslocando a

mo sobre o brao, desde o ombro at o pulso.

(PA) Peito(CM) 57 (M) Bidirecional, horizontal.

(PA) Brao(CM) 30(M) Multidirecional para cima e

para baixo, da direita para a esquerda, isto , do pulso para o cotovelo.

SINAL DOCE SINAL PROFESSOR SINAL BRASIL

(PA) Boca(CM) 57 (M) Unidirecional circular sobre a boca.

(PA) Espao neutro(CM) 50(M) Bidirecional semicircular

arco superior repetido.

(PA) Espao neutro(CM) 53 (M) Unidirecional sinuoso

SINAL LIXAR SINAL COISA ou VRIOS

(PA) Sobre a palma da mo de apoio.(CM) 57 (M) Bidirecional retilneo, fazendo o

movimento de lixar.

(PA) Espao neutro(CM) 37, mos espelhadas(M) Multidirecional, fazer as mos se afas-

tarem na posio horizontal, ao mesmo tempo em que os dedos indicador e mdio se movimentam repetidamente.


Figura 9 Forma do movimento dos sinais

Frequncia ou repetio do movimento na realizao do sinal, sendo que essa repetio s acontece em alguns sinais. Observamos repetio em sinais como doce, professor e lixar e ausncia em macarro e Brasil.

Velocidade e intensidade na execuo do sinal. Alguns movimentos so mais rpidos outros mais lentos e suaves. No caso, por exemplo, de martelo o sinal requer nfase na intensidade e velocidade, enquanto o sinal sonhar mais brando e lento.

Forma do movimento Exemplo de sinais

Movimento circular

Movimento em semicrculo (arco)

Movimento retilneo vertical

Movimento retilneo horizontal

SINAL SONHARSINAL MARTELO

(PA) Espao neutro(CM) 1(M) Bidirecional, diagonal

retilneo, como se estivesse martelando, movimento intenso e veloz.

(PA) Testa(CM) 55(M) Unidirecional retilneo horizontal para

mo e bidirecional repetitivo para os dedos indicador e mdio, que se movimentam de forma suave e lenta.


3Atividade

Figura 10 Velocidade e intensidade do movimento

Pesquisa na Internet dicionrio on-line os sinais solicitados a seguir e relacione-os no quadro, conforme o tipo de movimento.

abdmen agora apagador bicicleta elevador frias fogo magro panela repetir resposta sade


Orientao da moPara realizarmos um sinal de maneira adequada, isto , da maneira como ele foi conven-

cionado pela comunidade surda, precisamos conhecer seus parmetros constituintes. Alguns autores como Felipe (1998), compreendem que o parmetro de orientao se refere direo do movimento, j explorado no item anterior. Outros autores, como Brito (1995) e Quadros; Karnopp (2004) explicam que o parmetro de orientao se refere posio da palma das mos. Adotamos, aqui, a segunda referncia.

Assim, enquanto a Con gurao de Mo (CM) determina a forma que as mos e dedos devem assumir, a Orientao da Mo (OM) indica a posio da palma das mos para a exe-cuo do sinal, tendo o corpo do sinalizador como referncia. So basicamente sete tipos de orientao da palma das mos: para cima ou para baixo, para o corpo ou para a frente, para a direita ou para a esquerda ou, ainda, em diagonal.

SINAL MAQUIAGEM SINAL TELEVISO SINAL BEIJAR

(PA) Rosto sem tocar.(CM) 57 (M) Multidirecional circular.(OM) Palma das mos para o corpo.

(PA) Neutro na altura do rosto.(CM) 38 (M) bidirecional linear vertical repetitivo.(OM) Palma das mos para frente.

(PA) Espao neutro.(CM) 26 (M) Bidirecional linear horizontal.(OM) Mos espelhadas, uma com a

palma virada para a direita e a outra para a esquerda.

SINAL TRABALHAR SINAL ESTUDAR

(PA) Espao neutro, na altura do peito.(CM) 38 (M) bidirecional linear horizontal e repetitivo.(OM) Palma das mos para baixo.

(PA) Espao neutro, na altura do peito.(CM) 57 (M) bidirecional linear vertical repetitivo.(OM) Palma das mos para cima.

Figura 11 Orientao das mos

Orientao da mo Nome dos sinais

Para cima

Para baixo

Para o corpo

Para frente

Para a esquerda ou para direita

Diagonal

4Atividade


Pesquisa na Internet dicionrio on-line os sinais solicitados a seguir e relacione-os no quadro, conforme a orientao da mo.

abdmen agora apagador bicicleta casa fogo governador magro poesia por favor queimadura soldado

Expresso facial e corporal Por ser de carter gestual visual, a expresso facial e corporal na Libras referencia o

contexto comunicativo e de interao entre os interlocutores, sendo muitas vezes imprescindvel na decodi cao.

A expresso facial e corporal deve ser feita com a maior naturalidade possvel, e isso s acontece com a prtica cotidiana. O sinal alegre e triste sem uma expresso correspondente ca demasiadamente estranho, di cultando ou impossibilitando sua compreenso. Por outro lado, existem sinais semelhantes que se distinguem quanto ao signi cado em funo da nfase na expresso do sinalizador, como no caso de silncio e cale a boca!. A expresso facial e

Observando os exemplos da Figura 10 possvel perceber que os sinais trabalhar e televiso so muito parecidos, sua principal mudana na orientao das mos. Apesar de nos exemplos vistos para orientao das mos termos selecionado sinais em que se usam as duas mos, lembramos que h muitos sinais realizados com apenas uma delas e outros tantos com ausncia de movimento.


corporal completa tambm a intensidade do movimento de um sinal, determinando suavidade ou vigor que atribudos s caractersticas do objeto, ideia ou sentimento do que est sendo representado. O sinal martelo/martelar, por exemplo, realizado como se a mo estivesse segurando no cabo da ferramenta e golpeando uma superfcie, a expresso facial acompanha a intensidade vigorosa do movimento; j para sinalizar sonho/sonhar, a expresso facial de tranquilidade e relaxamento.

A expresso facial e corporal faz, ainda, a marcao de construes sintticas, imprimindo ideia de pontuao (a rmativa, negativa, exclamativa, interrogativa) ou de estados emocionais como medo, raiva e outros.

SINAL ALEGRE

(PA) Peito(CM) 60(M) Circular(OM) Palma da mo para o corpo

(PA) Boca(CM) 14(OM) Palma da mo para esquerda

ou direita, a depender da mo utilizada pelo sinalizador.

(PA) Boca(CM) 14(OM) Palma da mo para esquerda

ou direita, a depender da mo utilizada pelo sinalizador.

(PA) Queixo(CM) 4(OM) Palma da mo para o corpo

SINAL SILNCIO

SINAL TRISTE

SINAL CALE A BOCA!

Figura 12 Expresso facial e corporal

Ao buscar mais informaes sobre a gramtica da LIBRAS, perceberemos que os te-ricos no so unnimes quanto aos parmetros, seja em relao ao nmero e nomenclatura ou importncia de cada um. Para alguns estudiosos os parmetros so divididos em duas categorias: primrios e secundrios. O conjunto dos parmetros primrios formado pela con gurao de mo, ponto de articulao tambm chamado de ponto de contato e pelo movimento. Por sua vez, o conjunto dos secundrios composto pela orientao da mo e expresso facial/corporal.

Resumo


Curiosidade

Os surdos podem danar? Precisamos nos despir de preconceitos! assim que as 21 danarinas surdas do Grupo de Artes Performativas da Associao Chinesa de Pessoas com De cincia exibem o seu nmero mais conhecido, a dana Qianshou Kuanyin ou Bodhisattva. Esse espetculo prende a ateno de todos, pois as danarinas surdas formam uma la vertical e 42 braos promo-vem diferentes gestos harmoniosos simultaneamente, reproduzindo a imagem do Buda de Mil Mos, encontrada em muitas grutas da China. Os mtodos para a percepo dos sons pelas bailarinas vo desde a marcao rtmica no prprio corpo, at a utilizao de uma sala especial, com caixas acsticas co-locadas sob o piso de madeira, o que favorece a percepo dos ritmos atravs da vibrao provocada no corpo. Esse espetculo foi criado por um famoso coregrafo chins, Zhang Jigang, e o vdeo est no site do Youtube desde junho de 2007, permanecendo disponvel desde ento. Assista voc mesmo:

Nesta aula, voc viu que a realizao dos sinais em Libras obedece a parmetros que orientam o ponto de articulao, a forma assumida pela mo, o tipo de movimento executado, a posio da palma da mo e as expresses facial e corporal que acompanham o gesto. Alguns sinais no so constitudos por todos os parmetros. Voc tambm viu que a gramtica da Libras ainda apresenta alguns pontos que merecem maior formalizao, pois s recentemente passou a ser estudada com mais interesse pelos linguistas. Contudo, a insu cincia desses estudos no signi ca a inexistncia de uma gramtica da Libras, sendo necessrio conhec-la, pois alteraes inadvertidas na realizao dos sinais, isto , a inobservncia de seus parmetros, pode provocar problemas na compreenso e at inverter o sentido do que se est tentando comunicar.


AutoavaliaoPesquisa na Internet dicionrio on-line e liste alguns exemplos de sinais conforme o que se pede:

a) Dois sinais executados com movimento circular

b) Dois sinais com movimento forte/intenso

c) Dois sinais com ponto de articulao no brao

Identi que a orientao de mo utilizada para os seguintes sinais:

Exemplo: televiso (OM) mos para frente

a) borboleta (OM)

b) martelo (OM)

c) Brasil (OM)

Explique com suas palavras de que maneira voc compreende a importncia da expresso facial no uso Libras.

1

2

3


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BRITO, L. F. (Org.). Lngua Brasileira de Sinais Libras. In: ______. Programa de capaci-tao de recursos humanos do ensino fundamental: Lngua Brasileira de Sinais. Braslia: SEESP, 1997. p. 19-61. v 3.

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Formao de Sinais e Classi cadores

6Aula

12

3

Aula 6 Formao de Sinais e Classi cadores 49

Apresentao

Nas Aulas 4 e 5 aprendemos sobre o signi cado dos sinais para uma lngua de modali-dade gesto visual e os parmetros bsicos para a sua execuo, segundo a gramtica da Libras. A formao dos sinais resulta da combinao de seus parmetros, sendo que alguns sinais podem derivar da unio de outros sinais, a exemplo do que acontece com as palavras compostas nas lnguas orais. Como em qualquer lngua, os sinais tambm pertencem a categorias gramaticais distintas: verbos, substantivos, adjetivos e outros. Algumas categorias gramaticais como artigos, conjunes e preposies no existem na Libras. Porm, h outra categoria na Libras, que no existe na Lngua Portuguesa, chamada de classi cadores. Trata-se de con guraes espec cas de mos sinalizadas junto ao verbo, ao sujeito da orao ou ao objeto/coisa referente , que atuam complementando o sinal com informao de nmero, gnero ou propriedade fsica do objeto a que se refere. O contedo da Aula 6 ser ampliado no prximo mdulo, no qual abordaremos mais sobre a estrutura morfolgica e sinttica da Libras por meio da elaborao de pequenos dilogos.

ObjetivosCompreender a formao de sinais na Libras.

Conhecer alguns classi cadores na Libras e a sua funo gramatical.

Identi car alguns classi cadores e as situaes adequadas para seu uso.

Saiba mais


Classi cadoresNa Libras h sinais que se formam pela composio de dois ou mais sinais, semelhante

ao que acontece nas lnguas orais com as palavras compostas. Porm, esses sinais no tm relao direta com os substantivos compostos da Lngua Portuguesa, pois a Libras provm de uma lgica lingustica focada no gesto, o qual tenta exprimir um sentido que seja visualmente captvel. So exemplos dessa iconicidade e composio de sinais em Libras:

ZEBRA = CAVALO + LISTRAS

ESCOLA = CASA + ESTUDO

CEMITRIO = MORRER + CRUZ

FRUTAS = MA + VARIADOS

MECNICO = HOMEM + CONSERTO

ORFANATO = CASA + CRIANA + ADOTA

Os sinais classi cadores so formados quando dois ou mais vocbulos se jun-tam para formar um conceito novo, diferente do sentido isolado dos termos componentes. Por exemplo, arco-ris uma palavra composta porque o seu signi cado (fenmeno da natureza) diferente dos signi cados de arco e de ris separadamente.

Sinal ESCOLA (CASA + ESTUDO)Fazer o sinal de casa e, em seguida, o de estudar/estudo/estudante.

CEMITRIO (CRUZ + MORTE )Fazer o sinal de cruz e, em seguida, o sinal de morte.

EstudanteEm Libras, muitos sinais

podem ser utilizados como verbo, substantivo ou

outra classe gramatical, dependendo do contexto,

como o caso do sinal usado para estudar/estu-

do/estudante.

MorteO sinal de enterro, quando

para compor o sinal de cemitrio utilizado de forma abreviada, sem a

primeira parte que faz referncia morte

Aula 6 Formao de Sinais e Classi cadores52

CAVALO

(CM) 36 (PA) Lateral da cabea acima da orelha tocando

com o indicador.(M) Curvar o polegar e o mdio para baixo duas

vezes.(OM) Palma para frente.

(CM) 18(PA) A frente do corpo tocando o centro do peito.(OM) Palma da mo virada para cima, mos espe-

lhadas. (M) Unidirecional, vertical, encostar a mo na altura do pei-

to, movimentar para baixo na altura da cintura, repetir trs vezes para baixo, imitando o desenho de listras.

CASA

CRUZ

LISTRAS

ESTUDO

MORTE

ZEBRA (CAVALO + LISTRAS)Fazer sinal de cavalo e, em seguida, listras.

(CM) 56(PA) A frente do corpo, na altura do peito.(OM) Palma das mos em vertical espelhadas,

tocando a ponta dos dedos, imitando um telhado.

(CM) 14(PA) A frente do corpo, na altura do peito.(OM) Pontas dos dedos indicadores se cruzando,

um dedo na horizontal e outro na vertical.

(CM) 57(PA) A frente do corpo, na altura do peito.(OM) Palma das mos viradas para cima, uma

sobre a outra cruzando.(M) Bater duas vezes a mo superior na inferior.

(CM) 53(PA) Ao lado do pescoo.(OM) Palma da mo para baixo.(M) Deslizar a mo pelo pescoo de um lado para outro.

ORFANATO (CASA + CRIANA + ADOTA)

ADOTARCASA CRIANA

MECNICO (HOMEM + CONSERTO)

MA

(CM) 29(PA) Um pouco abaixo da boca.(OM) Palma da mo para dentro, como se estivesse

segurando uma ma.(M) Levando a mo em direo boca.

(CM) 37(PA) A frente do corpo, na altura do peito.(OM) Palma das mos viradas para baixo, prximas.(M) Movimentar de maneira rpida e repetida os dedos

indicadores e mdios de cada mo. Ao mesmo tempo, ir afastando as mos, em sentido horizontal.

HOMEM

VRIOS

CONSERTO

FRUTAS (MA + VRIOS)Fazer o sinal de ma e, em seguida, o sinal de vrios.


Figura 1

HOMEM MULHER

CRIANA BENO


De acordo com a gramtica atual da Libras, os sinais no fazem marcao de feminino ou masculino, so semelhantes aos substantivos comuns de dois gneros ou sobrecomuns (estudante, lojista, colega, cnjuge, monstro ou vtima). Assim, quando necessrio determinar o gnero, acrescenta-se o sinal homem ou mulher, conforme os exemplos a seguir. Note que por conta da ausncia de exo de gnero na Libras convencionou-se usar o smbolo @, a m de mostrar essa particularidade morfolgica.

MENINO = HOMEM + CRIANA

MENINA = MULHER + CRIANA

PAI = HOMEM + BENO

ME = MULHER + BENO

IRMO = HOMEM + IRM@

IRM = MULHER + IRM@

VOV = MULHER + VELH@

VOV = HOMEM + VELH@

BenoO sinal de beno no

contexto religioso rea-lizado de forma diferente

de quando se refere me ou pai. O sinal lembra uma uno sobre a pessoa e, no

caso de relao paterna, lembra o pedido do lho que estende a mo para

ser abenoado.

IRM@ VELH@

MENINO

PAI

IRMO

VOV

MENINA

ME

IRM

VOV

+

+

+

+

+

+

+

+

HOMEM + CRIANA

HOMEM + BENO

HOMEM + IRMO

HOMEM + VELHO

MULHER + CRIANA

MULHER + BENO

MULHER + IRMO

MULHER + VELHA

Aula 6 Formao de Sinais e Classi cadores 55Figura 2


Exemplo 1: Para dizermos Feche a porta, por favor, no necessrio fazer um sinal para fechar e outro sinal para porta. Nesse caso, os sinais se aglutinam formando um classi cador e o artigo a no sinalizado, porque na Libras no se faz uso de artigos para de nir gnero (masculino/feminino) ou nmero (singular/plural).

preciso dizer que a combinao utilizada entre sinais para a marcao de gnero se aproxima mais da aposio das palavras macho e fmea que fazemos em portugus quando queremos esclarecer o sexo de um referente que no admita exo de gnero, como em cobra macho ou jacar fmea. Na Libras, h a possibilidade de variao na ordem dos sinais, facultando aos sinais homem ou mulher de serem realizados antes ou depois do referente.

Em Libras no existe exo de gnero (masculino/feminino), nmero (singular/plural) ou grau (aumentativo/diminutivo). Quando necessrio especi car o gnero, o nmero ou o grau, incorpora-se aos sinais outros sinais que assumem esse m, que so chamados de sinais classi cadores quando utilizados nesse contexto. Exemplo: casinha (CASA + PEQUEN@)

Ainda sobre a formao de sinais importante observar a existncia de alguns verbos que resultam da combinao de outros sinais, como no caso de acreditar (SABER+ESTUDAR). Entretanto, essas formas de composio ainda esto em estudo pelos linguistas da Libras, no havendo consenso entre os autores mais conhecidos como Quadros, Strobel, Ferreira Brito, Capovilla, Tanya Felipe e outros.

Partindo dos estudos j sistematizados em Libras, podemos dizer que os classi cadores so modos especiais de realizar um sinal, cuja nalidade descrever algumas propriedades particulares do referente. Em geral, os classi cadores so acrscimos feitos ao sinal para esclarecer, por exemplo, o tamanho, a forma ou tipo de movimento do que est sendo repre-sentado. Assim, como explica Quadros; Schmiedt (2006, p. 21) os classi cadores podem ser usados para expressar formas de objetos, bem como o movimento e trajetrias percorridos por tais objetos.

Figura 3 Sinais para Fechar a porta


Os classi cadores podem expressar tambm ideia de quantidade (muito/pouco) e de intensidade (forte/fraco/lento/rpido). Dizendo de outra maneira: os classi cadores permitem quali car o sujeito referente (seres animados ou inanimados) da ao ou a prpria ao, unindo ao sinal con guraes espec cas de mo, ou expresses faciais, ou movimentos que se somam ao sinal principal.

Exemplo 2:

Figura 4 Copo cheio

Observamos que os classi cadores em Libras podem ser entendidos em diferentes pers-pectivas; talvez porque se trate de uma lngua que s foi o cialmente reconhecida no Brasil a partir de 2002 com a Lei n 10.436, apesar de sua origem datar desde a fundao do Instituto Nacional de Educao de Surdos (INES) em 1856. Como consequncia desse atraso, os estudos sobre a Libras ainda esto em fase de sistematizao da sua gramtica.

Se por um lado Brito (1995) e Felipe (2002) entendem que os classi cadores so con -guraes de mo, que vindos juntos ao verbo funcionam como marcadores de concordncia para discriminar o referente (pessoa, animal ou coisa) que est ligado ao do verbo. Por outro lado, Capovilla (2005, p XXXIII) parece no estabelecer relao necessria entre classi- cadores e verbo, como vemos a seguir:

O conceito de classi cador diz respeito aos diferentes modos como um sinal produzido, dependendo das propriedades fsicas do referente que ele representa. Os classi cadores geralmente representam algumas caractersticas fsicas do referente como o seu tama-nho e forma, ou seu comportamento ou movimento, o que confere grande exibilidade denotativa e conotativa aos sinais. O sinal telefone celular, por exemplo, classi cador, pois sua forma varia de acordo com o tamanho e modelo do objeto referido. Quando um sinal funciona como um classi cador, [...] sua forma espec ca varia dependendo das circunstncias particulares de seu uso [...].

SOBRE A MESAMOCHILA

ESCOVAR OS DENTES

PESADA

ESCOVAR OS CABELOS


Exemplo 3: Largou a mochila pesada sobre a mesa

Figura 5 Largou a mochila pesada sobre a mesa

importante frisar que os classificadores no se referem apenas a objetos (seres inani-mados), mas tambm a pessoas e animais. Assim, diante do que j exploramos neste tpico e a despeito da falta de consenso entre os tericos acerca dos classi cadores, podemos entender que os classi cadores cumprem um papel descritivo (aspectos fsicos) e locativo (relao espacial) do referente (seres animados e inanimados), muitas vezes associado ao verbo (ao praticada ou sofrida).

A partir dos exemplos dados, vemos que a iconicidade algo comum e quase inevitvel nas lnguas de sinais, uma vez que sua base gesto-visual. Por isso, a iconicidade est muito presente nos classi cadores, por aglutinarem num mesmo sinal descries de forma, tamanho, movimento, textura e relao espacial de seus referentes. Para melhor entendermos, vejamos o emprego de classi cadores noutros exemplos.

Exemplo 4: Se desejamos dizer O menino escova os dentes em Libras, faremos isso utilizan-do um sinal classi cador que aglutina o objeto escova (CM 11), os dentes (PA na boca com os dentes mostra) e a ao praticada (movimento repetido da escovao). No faria sentido em Libras realizar um sinal para escovar e outro para dentes. A mesma lgica tambm se aplica na frase Mame escova os cabelos, na medida em que um mesmo sinal dir escovar os cabelos, pois rene a ideia de escova (CM11), cabelos (PA nos cabelos do sinalizador) e a ao praticada (movimento repetido de pentear).

Figura 6 Escovar dentes e escovar cabelos

Leituras complementares


Exemplo 5: Se desejamos dizer Fechar a tampa do pote em Libras, faremos isso utilizando um sinal classi cador que aglutina a ideia de fechar (movimento de girar uma tampa) e de tampa (CM 59, forma de segurar uma tampa).

Figura 7 Fechar a tampa do pote

Resumindo, podemos dizer que um sinal classi cador uma representao que mostra claramente detalhes espec cos, permitindo a descrio de pessoas, animais e objetos, bem como sua movimentao ou localizao. Para nalizarmos esta aula, precisamos dizer que a aprendizagem da Libras pode, muitas vezes parecer difcil, porm, natural porque a base lgica da comunicao passa do som, que estamos acostumados, para a imagem, sinais realizados com as mos. Um pouco de pacincia e perseverana ser necessrio e muito ajudar a consulta do material complementar (videoaulas) e das leituras recomendadas ao nal deste mdulo.

Por ltimo, no exagero repetir que a uncia na Libras depender do quanto voc pratica a partir dos exerccios propostos e de sua interao com outros usurios de lngua de sinais, surdos e ouvintes.

SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. So Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Numa fascinante incurso pelo universo dos surdos, Oliver Sacks procura responder a questes sobre o que acontece conosco se no aprendermos lngua alguma e se a linguagem se desenvolve de modo espontneo e natural ou se requer contato com outros seres humanos. Sua preocupao no simplesmente apresentar ao leitor a condio daqueles que no conseguem ouvir. Acompanhando a histria, os dramas e as lutas dessas pessoas, o leitor ser levado a re etir sobre problemas antiqussimos (linguagem, biologia, cultura) de modo diferente.

Resumo


Sites recomendadoshttp://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/artigo2.pdfhttp://www.ines.gov.br/ines_livros/35/35_PRINCIPAL.HTMhttp://www.ronice.cce.prof.ufsc.br/index_arquivos/Page435.htmhttp://www.folhadirigida.com.br/htmls/hotsites/professor_2003/cad_05/EntCarlosSkliarFdg.htmhttp://www.surdo.org.br/Apostila.pdfhttp://www.ufsm.br/edu.especial.pos/images/libras.pdfhttp://www.youtube.com/watch?v=NtM29Y2IXAQ

Nesta aula, voc viu que na Libras h uma categoria gramatical que no existe na Lngua Portuguesa: os classi cadores, que so con guraes espec cas de mos que complementam o sinal. Os classi cadores so modos especiais para um sinal, que descrevem propriedades particulares do referente. Em geral icnicos, os classi cadores so acrscimos para esclarecer ou complementar o sentido do sinal representado. Podem expressar ideia de forma, quantidade e intensidade. Viu tambm que os classi cadores servem tanto para objetos (seres inanimados) como para pessoas e animais. Por m, percebeu que eles especi cam o sujeito da ao ou a prpria ao, unindo ao sinal principal con guraes espec cas de mo, expresses faciais ou movimentos, que de nem claramente as propriedades do referente.

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AutoavaliaoExplique com suas palavras o que voc entende por classi cadores.

Pesquise seis exemplos de sinais classi cadores na internet. Voc pode consultar os sites sugeridos e outros que achar interessante.

RefernciasBRITO, Ferreira L. Por uma gramtica das lnguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasi-leiro, 1995.

CAPOVILLA, Fernando Cesar; RAPHAEL, Walkiria Duarte. Dicionrio enciclopdico ilustra-do trilngue: Lngua de Sinais Brasileira: LIBRAS. So Paulo: EdUSP, 2001. v 2.

PIMENTA, Nelson; QUADROS, Ronice Muller de. Curso de Libras 1. Rio de Janeiro: LSB Vdeo, 2006.

QUADROS, Ronice Mller de. Ideias para ensinar portugus para alunos surdos. Braslia: MEC/SEEPS, 2006.

QUADROS, Ronice Mller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Lngua de Sinais Brasileira: Estu-dos Lingusticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. v 1. 222 p.

VILELA, M.; KOCH, Ingedore Vilhaa. Gramtica da lngua portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001.


Anotaes

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