Livro Memoria Institucional UFRJ_1

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EstapublicaocontmostrabalhosapresentadosnoSeminrioMemria, documentaoepesquisa,organizadopeloSistemadeBibliotecaseInformaoda Universidade Federal do Rio de Janeiro (SiBI/UFRJ), realizado no perodo de 3 e 4 de abril de 2007, com o tema Universidade e os mltiplos olhares de si mesma. Estestrabalhosforamouestosendodesenvolvidosemdiversosprogramasde psgraduaodeuniversidades,etmdiferentesaspectosdahistriaememriada UFRJ como objetos de pesquisa. O contedo dos trabalhos de inteira responsabilidade de seus autores. Reitor Alosio Teixeira Vice-Reitora Sylvia da Silveira de Mello Vargas Coordenador do Frum de Cincia e Cultura Carlos Antnio Kalil Tannus Coordenadora do Sistema de Bibliotecas e Informao Paula Maria Abrantes Cotta de Mello Comisso de Organizao ngela Flix Antonio Jos Barbosa de Oliveira Elaine Baptista de Matos Paula Eneida de Oliveira Rosane da Silva W. Apparcio Realizao Sistema de Bibliotecas e Informao (SiBI/UFRJ) Patrocnio Fundao Universitria Jos Bonifcio (FUJB) Apoio Frum de Cincia e Cultura Design e Produo Grfica Alexandre Mello Aline Pinna [email protected] Universidade Federal do Rio de Janeiro Frum de Cincia e Cultura Sistema de Bibliotecas e Informao Seminrio Memria, documentao e pesquisa. Universidade e os mltiplos olhares de si mesma. 3 a 4 de abril de 2007 Auditrio Pedro Calmon, Frum de Cincia e Cultura Campus da Praia Vermelha. Rio de Janeiro RJ Rio de Janeiro 2007

Seminrio Memria, documentao e pesquisa : universidade e os S471tmltiplos olhares de si mesma (2007 : Rio de Jnaeiro) Trabalhos apresentados no Seminrio Memria, documentao e pesquisa : universidade e os mltiplos olhares de si mesma, 3 e 4 de abril de 2007 / organizado por Antnio Jos Barbosa de Oliveira. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Frum de Cincia e Cultura, Sistema de Bibliotecas e Informao, 2007. 1 CD ISBN: 1.Memria coletiva Congressos. 2. Memria coletiva -Universidade. I. Universidade Federal do rio de Janeiro. Frum de Cincia e Cultura. Sistema de Bibliotecas e Informao. II. Ttulo. CDD: 302 A memria sempre uma construo feita no presente, a partir de vivncias e experincias ocorridas num passado sobre o qual se deseja refletir e entender. Como construo, a memria est tambmsujeitasquestesdasubjetividade,seletividadee,sobretudo,sinstnciasdepoderes. Mesmo que (re) constituda a partir de indivduos, a memria sempre nos remete a uma dimenso coletiva e social e, por extenso institucional.Desta forma, sempre no contexto de relaes queconstrumosnossaslembranas,mesmoqueaparentementeindividualizadas.Amemria tambm tem a funo de produo ou percepo de sentimentos de pertinncia a passados comuns, o que, por sua vez, constitui-se aspecto imprescindvel ao estabelecimento de identidades calcadas emexperinciascompartilhadas,nosomentenocampohistricooumaterial,comotambm(e sobretudo) no campo simblico. importantetambmconsiderarmosasrelaesqueseestabelecementreamemriaeas questes que envolvem os lugares, tempos e poderes.As memrias, individual e coletiva, sempre sefazememalgumlugar,quelhesimprimeumareferncia.Oslugaresconstituem-sereferncia importantenamemriadeindivduosesociedadeseasmudanasempreendidasnesteslocais sempre acarretam mudanas na percepo da realidade e de vidas, que ficaro registradas. Certeau noslembraqueoslugarespermitemeinterditamasproduesdahistria,tornandopossveis certaspesquisasemfunodeconjunturaseproblemticascomunse,poroutrolado, impossibilitando outras.1 Por sua vez, os grupos, classes e indivduos tambm esto em constante disputa pelo poder. As relaes entre poderes, muitas vezes, definem o que ser lembrado e o que deverseresquecido.nombitodepoderesquesedefineoqueficarregistradoemlivrose programas escolares, tornando memria histrica, ou a histria oficial. Amemria,assim,estdiretamenteligadaaosmecanismosdecontroleedominaode alguns grupos sobre outros. A evocao da memria tambm est vinculada a um tempo presente. Mesmo remetendo a uma lembrana do passado, a necessidade presente que norteia a evocao memorialstica. Neste sentido, sempre pertinente termos conscincia dos interesses presentes que norteiam e definem o trabalho. Bordieu j nos alertou para o perigo de nos tornarmos objetos dos problemasquetomamosparaobjeto.2Ademais,concebemosqueasformasdeconcepodo passadotambmsoformasdeao,jque,conceberopassadonoapenassel-losob determinadosignificado,construirparaeleumainterpretao;conceberopassadotambm negociar e disputar significados e desencadear aes.3 Reconhecemosqueaimportnciadoresgatedamemriainstitucionalestna necessidade de se estabelecer uma identidade que tem no passado seu lugar de construo, e, no presente, a tarefa coletiva de preservao e salvaguarda. 4 Ao falarmos em espaos de memria estamos nos referindo ao 1 CERTEAU, Michel de.A escrita da Histria. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2002.p.77. 2 BORDIEU, Pierre. O Poder Simblico.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.p.37. 3 ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em histria oral. Rio de Janeiro: FGV, CPDOC, 2004. p.33 4 UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO. Ncleo de Memria, Informao e Documentao.Acervos de memria: exposio comemorativa do cinqentenrio da UERJ. Rio de Janeiro: UERJ, Rede Sirius, 2001. p.xi Umaprticacientficaqueseesquecede seprasimesmaemcausanosabe, propriamente falando, o que faz. Pierre Bordieu O poder simblico. conjuntodeiniciativasderegistrodosdadoscoletadosem atividadesdepesquisae/ounorecolhimentodemateriaisdidticos, documentos,mveis,utenslioseequipamentosque,percebidosemsua dimensohistrica,soinventariadosemconjuntoscoerentes,sendoem seguidasocializadosparaaconsultaaopblicointeressado.Dessa forma,taisdocumentoseobjetostornam-sedepositriosdahistriada instituio, passando a compor o seu patrimnio cultural.5 OProjetoMemriaSiBI/UFRJ,prope-seaotrabalhodeviabilizaodemecanismos internoseexternosquereforcem,juntoanossossuperiores,governantes,agnciasdefomentoe empresrios,sobreaimportnciadesalvaguardadamemriadasinstituies,bemcomoda necessidadedeviabilizaoderecursosmateriaisnecessriosrecuperao,preservaoe disseminaodeinformaessobreosacervosmemorialsticostodaasociedade.Hquese estabelecerpolticasdefinanciamentos,tantopblicosquantoprivadosparasalvaguardados patrimnioseacervosmateriaiseimateriais,toespalhadosefragmentadosemnossa universidade.Oequacionamentoentreaconscinciadanecessidadedepreservaoeosrecursos materiais viabilizados para tal necessidade ainda um desafio a ser superado. Entretanto, temos a conscinciadeque,aonoscolocarmoscomoresponsveisdefensoreseguardiesdeacervos memorialsticos,assumimosgranderesponsabilidadeperanteasfuturasgeraes.Odireito memria um direito de cidadania. Existem diversas iniciativas para o gerenciamento dos acervos da Universidade. O Sistema de Bibliotecas e Informao SiBI, atravs da Base Minerva, disponibiliza na Internet as colees bibliogrficasdas43bibliotecasdaUFRJ.Desde2003,oSiBIsereestruturouparagerenciar tambmasinformaesoriundasdeoutrasinstituiescomoarquivosdocumentaisemuseus, buscando uma integrao sistemtica de todas as fontes de informao da Universidade atravs da Base Minerva. Esse projeto, baseado em identificao, diagnstico, divulgao e na instituio de parceriasentreoSiBIeosarquivosdocumentais,jcomprovaaurgnciadessasmedidasque possibilitaro tornar pblicos e acessveis seus registros histricos e memorialsticos. nossaproposioaformaodoGrupodePesquisaemMemriaeDocumentao (GPMD/SiBI-UFRJ),denaturezamultidisciplinar,queenglobarprofissionaisdasmaisdiversas reas e unidades , para desenvolver estudos sistematizados de aspectos histricos e memorialsticos daUFRJ,produzindoecontribuindonaelaboraodetrabalhosacadmicosnosdiversosnveis (graduao e ps-graduao), bem como editando publicaes. Sabemos, luz de Bordieu6, que a construo de um objeto cientfico, antes de qualquer coisa, a possibilidade de rompimento com osensocomum,querdizer,comrepresentaespartilhadasportodos,quersetratedas representaesoficiais,frequentementeinscritasnasinstituies,logo,aomesmotempona objetividade das organizaes sociais e nos crebros. O pr construdo est em toda a parte. FoicombaseemtaisconsideraesquejulgamosorganizamosoSeminrioMemria, documentaoepesquisaUniversidade:mltiplosolharesdesimesma.,quecongregar diversos pesquisadores e estudiosos da histria e memria de nossa UFRJ. O Seminrio configura-secomoespaoparaaprofundamentodediscussesereflexessobreaspectoshistricose memorialsticosdenossauniversidade,possibilitando,comunidadeacadmica,bemcomoao pblico externo com interesse sobre a temtica, conhecer os trabalhos de pesquisa que vm sendo desenvolvidosnaprpriauniversidade,oquepoderefletiremmovimentosprofcuosdebuscae resgate de sua identidade institucional. Paula Maria Abrantes Cotta de Mello Coordenadora do Sistema de Bibliotecas e Informao SiBI/UFRJ 5 XAVIER, Libnia Nacif. Iniciativas de preservao da memria institucional na UFRJ. [20--?]. Mimeografado. p.2 6 BORDIEU, Pierre. Op.cit.,pp.34-35 Universidade, memria e acervosRegina M.M.C.Dantas A casa do Imperador: do Pao de So Cristvo ao Museu NacionalUniversidade, memria, educao e sociedadeGlorya Walkyria de Ftima Rocha A Faculdade de Medicina da UFRJ: da Praia Vermelha Ilha do Fundo o(s) sentido(s) da mudana.Universidade, memria e acervosMaria Jos Veloso da Costa Santos A preservao do acervo arquivstico do Museu Nacional e sua importncia para a memria da instituio.Universidadem memria, educao e sociedadeVera Valente A Vila Residencial da UFRJ: vises de uma trama socialUniversidade e cidades universitrias: da idia materializaoAntonio Jos Barbosa de Oliveira Das ilhas cidade a universidade visvel: a trajetria para a definio do local a se construir a cidade universitria da UB (1935-1950)Universidade e cidades universitrias: da idia materializaoMaria Lcia Ribeiro Vilarinhos O campus da UFRJ na Ilha do Fundo: a anlise de sua localizao e organizao espacialUniversidade, memria, educao e sociedadeTatiana Beaklini Moraes O Colgio Universitrio da Universidade do Brasil (1937-1942)Universidade, arquitetura e memriaMaria Helena Fonseca Hermes O Hotel 7 de setembro, 1922: um olhar crtico em sua arquitetura e ornamentaoUniversidade, memria e acervosLibnia Nacif Xavier O PROEDES e as iniciativas de preservao da memria institucional na UFRJUniversidade, arquitetura e memriaMarisa Hoirisch Palcio Universitrio materiais e tcnicas construtivasUniversidade e cidades universitrias: da idia materializaoKlaus Chaves Alberto Trs projetos para uma Universidade do BrasilUniversidade, memria, educao e sociedadePatrcia Henriques Mafra Uma escola contra a Ditadura: o CAP entre 1964/1968ndice por TtuloUniversidade e cidades universitrias: da idia materializaoAntonio Jos Barbosa de Oliveira Das ilhas cidade a universidade visvel: a trajetria para a definio do local a se construir a cidade universitria da UB (1935-1950)Universidade, memria, educao e sociedadeGlorya Walkyria de Ftima Rocha A Faculdade de Medicina da UFRJ: da Praia Vermelha Ilha do Fundo o(s) sentido(s) da mudana.Universidade e cidades universitrias: da idia materializaoKlaus Chaves Alberto Trs projetos para uma Universidade do BrasilUniversidade, memria e acervosLibnia Nacif Xavier O PROEDES e as iniciativas de preservao da memria institucional na UFRJUniversidade, arquitetura e memriaMaria Helena Fonseca Hermes O Hotel 7 de setembro, 1922: um olhar crtico em sua arquitetura e ornamentaoUniversidade, memria e acervosMaria Jos Veloso da Costa Santos A preservao do acervo arquivstico do Museu Nacional e sua importncia para a memria da instituio.Universidade e cidades universitrias: da idia materializaoMaria Lcia Ribeiro Vilarinhos O campus da UFRJ na Ilha do Fundo: a anlise de sua localizao e organizao espacialUniversidade, arquitetura e memriaMarisa Hoirisch Palcio Universitrio materiais e tcnicas construtivasUniversidade, memria, educao e sociedadePatrcia Henriques Mafra Uma escola contra a Ditadura: o CAP entre 1964/1968Universidade, memria e acervosRegina M.M.C.Dantas A casa do Imperador: do Pao de So Cristvo ao Museu NacionalUniversidade, memria, educao e sociedadeTatiana Beaklini Moraes O Colgio Universitrio da Universidade do Brasil (1937-1942)Universidade, memria, educao e sociedadeVera Valente A Vila Residencial da UFRJ: vises de uma trama socialndice por AutorUniversidade e cidades universitrias: da idia materializaoAntonio Jos Barbosa de Oliveira Das ilhas cidade a universidade visvel: a trajetria para a definio do local a se construir a cidade universitria da UB (1935-1950)Klaus Chaves Alberto Trs projetos para uma Universidade do BrasilMaria Lcia Ribeiro Vilarinhos O campus da UFRJ na Ilha do Fundo: a anlise de sua localizao e organizao espacialUniversidade, arquitetura e memriaMaria Helena Fonseca Hermes O Hotel 7 de setembro, 1922: um olhar crtico em sua arquitetura e ornamentaoMarisa Hoirisch Palcio Universitrio materiais e tcnicas construtivasUniversidade, memria e acervosLibnia Nacif Xavier O PROEDES e as iniciativas de preservao da memria institucional na UFRJMaria Jos Veloso da Costa Santos A preservao do acervo arquivstico do Museu Nacional e sua importncia para a memria da instituio.Regina M.M.C.Dantas A casa do Imperador: do Pao de So Cristvo ao Museu NacionalUniversidade, memria, educao e sociedadeGlorya Walkyria de Ftima Rocha A Faculdade de Medicina da UFRJ: da Praia Vermelha Ilha do Fundo o(s) sentido(s) da mudana.Patrcia Henriques Mafra Uma escola contra a Ditadura: o CAP entre 1964/1968Tatiana Beaklini Moraes O Colgio Universitrio da Universidade do Brasil (1937-1942)Vera Valente A Vila Residencial da UFRJ: vises de uma trama socialndice por Mesa Redonda PALCIO UNIVERSITRIO MATERIAIS E TCNICAS CONSTRUTIVAS Marisa Hoirisch UFRJ/FAU/PROARQ Apresentao Esta pesquisareuniu as tcnicasconstrutivas do PalcioUniversitrio da Universidade FederaldoRiodeJaneiro.Exibeseupadroconstrutivodeexcelncia,cujospredicados, conformeRocha-Peixoto(In:CALMON,2004),vinculadosasuaimplantaonoterreno, forma e dimenses palacianas, indicam este monumento como o melhor resumo dos ideais de arquitetura do segundo reinado. Otrabalhoumacompilaodadissertaodemestrado1daautora,cujoobjetivo destacarosprincipaismateriaisetcnicasconstrutivasdaedificaodemonstrandoa importnciadoestudoparafundamentarumprojetoderestauraoeconservaodeste patrimnio. I. Introduo OprdiofoiconstrudonosculoXIXparaseroHospciodePedroII(Fig.1),hoje designado Palcio Universitrio. Localiza-se na Av. Pasteur, 250, Urca, no quarteiro delimitado pelas avenidas Pasteur eVenceslauBrsepelasruasXavierSigaud,LauroMllereLauroSodr(Fig.2).Amaior Fig. 1: Hospcio de Pedro II, pintura de Victor Frond, 1859. Fonte: http://rjtv.globo.com/RJTV 2 reaconstrudadoCampusdaPraiaVermelhadaUFRJsobressaientreosdemaisedifcios vizinhos no apenas por suas dimenses, como tambm por seu elevado esmero arquitetnico e construtivo. Fig. 2: Campus da Praia Vermelha. Fonte: Desenho de nio Kaippert, 2006. Oprimeirohospitalpsiquitricobrasileiroatratarexclusivamentededoentesmentais foiedificadode1842a1852,comverbaarrecadadapelaSantaCasadeMisericrdiapara comemoraramaioridadedeDomPedroII.Osautoresdoprojetoforamosarquitetos discpulosdeGrandjeandeMontigny:JosMariaJacinthoRebelloeJoaquimCndido Guillobel, alm do engenheiro Domingos Monteiro. As obras tiveram incio em 5 de setembro de 1842, e no dia 8 de dezembro de 1852 o hospitaldealienadoscomeouafuncionarat1944,quandoosdoentesforamtransferidos. Peloseuvalorcultural,aidiadedemoli-lofoidescartada.Omonumentoficouvazioentre 1944e1948,quando,emavanadadegradaofoicedidopelogovernodarepblica Universidade do Brasil2. A Reitoria radicou-se no edifcio em 1949 e as obras de restaurao e adaptao do edifcio ao novo uso foram conduzidas pelo ento reitor Pedro Calmon. Em 1950, aEscolaNacionaldeEducaoFsica3transferiu-separaareahojeocupadapelaFaculdade deEducao(FE)eEscoladeComunicao(ECO).Em1951e1952afaculdadede Arquitetura passou a ocupar o espao onde esto o Instituto de Economia (IE) e a Faculdade de 3 Administrao e Cincias Contbeis (FACC), ao passo que a de Farmcia ocupou a decania do CentrodeCinciasJurdicaseEconmicas(CCJE).Oedifciofoiinauguradopela Universidadeem1952,mesmoantesdaconclusodasreformasem1953,seutombamento pelo IPHAN4 s se deu em 1972. HojeoprdioabrigaasseguintesunidadesdaUFRJ:decaniadoCCJE,Frumde Cincia e Cultura (FCC), FACC, IE, ECO, FE e vestirios da piscina da EEFD. Alm de salas deaula,deprofessores,dereunies,gabinetesdediretoresdefaculdadesededecano, bibliotecas, auditrios, sales de concertos e recepes, uma capela e reas de servio. II. Materiais e tcnicas construtivas Assingularidadesdosmateriaiseprocedimentosconstrutivosdaedificaonorteiam estapesquisaqueinclui:estruturas,vedaes,pisos,tetos,vos,acabamentos,escadase coberturas. II. 1. Estruturas Nasreasoriginaisassustentaesdepisodividem-seemalvenariasdepedracom arcos de tijolo (Fig.3) e barrotes de madeira. Na expanso da edificao foram inseridas lajes e vigas em concreto armado. Nos pores das reas mais recentes as cargas das paredes e pisos do distribuem-se no poro sobre conjuntos de quatro arcos de descarga semicirculares, compostos portijolosmacioshomogneosde20x7x10cm,formandoretngulosemprojeo.Foram classificadosdoistiposdearcos;denominou-semaior,ossituadosparalelossfachadas voltadas para as Avenidas Pasteur e Venceslau Brs, esquerda, na Fig.4. Fig.4: Arcos do poro mais recente. Fonte: Foto da autora, 2006. Fig.3: Arcos do poro original. Fonte: Foto da autora, 2006. 4 Omenor(direita)sustentaparedesperpendicularesaestasfachadas;suasimpostas5 so de alvenaria de pedras de mo embutidas nas colunas dos arcos maiores. Na rea original, opisodotrreodepedraecal,podendotersidoapoiadoemterraeentulhoemalgum perodo.Osegundopavimentoemtbuascorridassustentadasporbarrotesdemadeira, paralelos, comintervalos entre si. Suas extremidades engastam-se nas paredes,compondoum conjunto estrutural integrado; no podem ser removidas sem acarretar queda da resistncia das paredes. Em1904,oaumentodereasimplicounoaumentodacapacidadedeinternadosdo hospitalpsiquitrico;estespisosforamexecutadosemconcretoarmado.Obedecendoao partidodoprojetoarquitetnicooriginal,foramcriadosdoisnovosptiosinternos.Segundo Petrucci(1998,p.311),afabricaodocimentonoBrasilsteveincioem1924,portanto, todo o cimento da rea mais recente da edificao foi importado. II. 2. VEDAES As vedaes do prdio se dividem em alvenarias mistas de pedracom arcos de tijolos, de tijolos macios, de estuque e de gesso. As paredes de alvenarias originais so estruturais, ou seja,almderealizaremvedaes,sustentamascargasdaconstruo.Asparedesoriginais externas so formadas por pedras irregulares e argamassa de cal e areia, reforadas com arcos de descarga de tijolos macios nos vos. Nas reas de expanso do imvel h paredes de tijolos macios e tambm em estuque. II. 3. PISOS Ospisosdaedificaosodetabuadodemadeira,mrmore,gnaissebege,ladrilhos hidrulicosecermicos.Asreasinternasvoltadasparaafachadaprincipalsoem madeira;exceodopisodovestbulo,dohalldecadaextremidadedoprdio,dos situadosjuntosescadasinternasereasdeservio,quesoemmrmoredecoradoou ladrilhoscermicos.Naconstruooriginaldotrreonenhumadasgaleriasapresenta pavimentaoemmadeira.NaEscoladeComunicaohumacirculaonestematerial, maspertencereamaisrecente.Aligaodastbuasnasreasoriginaisdosegundo pavimentotipomachoefmea,deexcelentefixaoedurabilidade.Nossalesdo 5 segundopavimentosoarrematadasportabeirasdetonalidademaisescuraqueasdo tabuado.OSaloDouradoexibetbuaslargascomparqu,emsofisticadotrabalhode marcenaria,comornamentaofitomrficae,aocentro,umduplolosango,comfrisos paralelos, dispostos em diagonal. Nasreasnooriginaisdoprdio,aestruturadopisoconstitudaporlajesevigas em concreto armado e os frisos apiam-se sobre ganzepes. Hdoistiposdepisosoriginaisempedranoedifcio:mrmoreegnaisse.Os primeiros,encontradosnovestbulo,comrosceaseornamentaoemperspectiva,no patamar da escada que liga o trio capela, em algumas salas e galerias e nas varandas do segundoeterceiropavimentos.Almdesuaaplicaonasfachadaseescadas,tpicasdo neoclssico,ognaissebegefoiempregadonassoleiras,rodapsemoldurasdepisosdo trreo. A Reitoria da Universidade6 encontrou a pavimentao de suas galerias em avanada degradaoeosatuaiscorredorescomladrilhoscermicospodemtersidointervenes parasubstituirosmrmoresoriginaisaummenorcusto,oupavimentarasreasmais recentes.Embrancoepreto,impermeveisedurosaoatritoeaochoque(CORONAe LEMOS, 1972, p.294), revestem circulaes e varandas e seguem a disposio semelhante dos pisos primitivos em mrmore. OladrilhohidrulicosurgiunosculoXIXnaEuropa:oBrasiloimportavade Portugal,FranaeBlgica,atacriaodasprimeirasfbricasbrasileiras.NoPalcio UniversitriopavimentamalgumasreasdaFE,doIEetambmnabibliotecadadecania do CCJE; so 18 tipos: 15 decorados e trs lisos. Exibimos alguns destes padres (Fig. 5). Fig.5: Destaque de padres de ladrilhos hidrulicos da edificao. Fonte: Desenho de nio Kaippert sobre levantamento, DAMSTRUC, 2005. 6 II. 4. TETOS Ostetosdestaedificaoexibemforrosdemadeira,estuque,modernasplacasde gessoereasdesprovidasdeforro,comlajeemconcretoprotegidasporrebocoepintura. As forraes em tbuas de madeira ocupam a maior parte das reas primitivas no trreo. A fixaodosforrosdemadeirafeitaembarrotesdostetos,noscompartimentosou corredores, seguindo duas tcnicas construtivas: tabuado liso e saia e camisa7. Nasreasnooriginaisnotrreo,asvigaselajesdeconcretoarmadoforam protegidascomrebocoepintura.Hlajessobreotrreodereasprimitivas;portanto algumasreasoriginaistiveramostetossubstitudosporlajesdeconcreto.Oestuquese exibeemornatosdealtorelevonovestbulo,capelaerespectivaescadadeacesso,Salo Dourado,Vermelho,MonizdeArago,gabinetedacoordenaodoFCC,SaloAnsio TeixeiraeaoSaloPedroCalmon.Emprospecesestratigrficasforamencontradas pinturas artsticas que podem ter adotado a tcnica do afresco. II. 5. VOS Asesquadriasdesteprdiosoresistentes,mas,seasferragensforamemcobreem outrapoca,hojenemtodasoso.Partedasesquadriaspodetersidopreservada,mas muitas foram substitudas e com elas, suas ferragens. Asjanelasdasfachadasexternasdesteimvelsodepeitorisedesacadas.Nas primeiras, o vo da parede leva peitoril cheio. Nas outras, os guarda-corpos exibem-se para fora das ombreiras. O segundo pavimento apresenta as duas modalidades, o trreo e terceiro piso, apenas a ltima. Estas esquadrias pela parte interna exibem guanio em madeira. Na parteexternacomumacercaduradeargamassaougnaissebege,tambmamplamente empregadasnasombreiras,vergasepeitoris.Adisseminaodeelementosptreos cuidadosamenteelaboradosemsuasguarniesumdospontosqueelevaesteedifcio categoria de construo esmerada do seu perodo. AremoodasgradesdasjanelasdoHospciodePedroII(Fig.6)foiumadas importantesmodificaesparaadaptaroprdiodohospitalpsiquitricoaoseunovouso, como instituio de ensino. 7 Asportasdestaedificaosoemmadeira,emvidroemadeira;almofadadasou envidraadas.Assimcomonocasodasjanelasdestaedificao,algunspadresdeportas apresentamalmofadasmveis,formandopostigo,acrescidodecaixilhofixodevidropelo lado de fora. o caso das esquadrias envidraadas voltadas para as fachadas e tambm de algumasqueseabremparaosptiosinternos.Umapesquisaconfirmouaexistnciaem outroperodode pelomenos um conjuntode portas, cujo padrono foiencontrado neste monumento. Quasetodosospadresexistentessodivididosverticalmenteemduaspartes:a menor,noalto,formaabandeira,destinadaapermitiraentradadeluznosambientes, separadadaportaporumatravessa.SegundoVasconcellos(1961,p.110),estescaixilhos situados na parte superior so caractersticos das esquadrias excessivamente elevadas. Destacou-seaquiumaportadegrandeesmeroconstrutivo;situadanoSalo Vermelho.compostaporduasfolhasquesefechamcombatentedefrisoemoldurado (Fig.7), diferindo das outras esquadrias da edificao. Suas folhas se encartam nas paredes, formando aduelas para os vos. Por seu esmero de acabamento e tcnica, pode ter sido uma das esquadrias primitivas do exemplar arquitetnico. Fig. 6: Janela com grade e depois da remoo. Fonte: IPHAN, 1948 e foto da autora, 2006. 8 Naedificaohculosdeventilao,situadosnasfachadaslaterais,sobalgumas janelas e na fachada principal no eixo das esquadrias. Cada culo composto externamente por dois crculos concntricos em cantaria. So sete os acessos aos pores do prdio, mas s dois dentre eles esto sob as reas da construooriginal.Todosestiveramcheiosdeentulhos,masforamparcialmente esvaziadod para peremitirem a ventilao do edifcio em 1995. II. 6. Acabamentos Osacabamentosdasparedesemalvenariasodecantaria,argamassasde revestimento,pinturaeazulejos.Entreosrevestimentosptreos,evidenciam-seosque emolduramasesquadriasdasfachadasegaleriasedoprtico,inteiramenterevestidopor gnaisse bege nos dois pavimentos. As argamassas da construo original so base de cal, mas muitas foram lamentavelmente substitudas, da mesma maneira que suas pinturas. NosculoXIXoazulejoprotegiaasparedesdagua,umidadeeatrito;usadoem rodaps e barras, garantia seu asseio e evitava os insetos, tpicos do clima. Segundo Barata (1955p.226-227),osedifciosdoRiodeJaneirocomamaiorquantidadedeazulejos portuguesesdepadrodosmeadosdosculoXIXforamohospitaldaSantaCasada MisericrdiaeoHospcioPedroII.Socomposiesemazulebrancoeporvezesem Fig.7: Porta do Salo Vermelho. Foto da autora, 2006. 9 arroxeado que decoram galerias e salas que circundam os ptios internos, destacando-se das paredes brancas caiadas (Fig.8). Os azulejos de padro aparecem tambm na fonte e escadas de reas descobertas, em padresdecorativostpicosdestafase,comformasgeomtricasevegetaisestilizados, baseados em quadrilteros, octgonos de lados retos ou ainda retos e cncavos, alternados. Utilizamadiagonalnotraadoreguladordodesenho,quesurgenoperodocoloniale cresce com os padres do sc. XIX. Estes so os padres existentes na edificao. Fig. 9: Padres de azulejos do Palcio Universitrio Fonte: Levantamento e foto da autora, 2006. Fig. 8: Circulao azulejada, 2 pavimento, FCC. Fonte: Foto Bira Soares, 1999. 10 II. 7. Escadas Asescadasexterioresoriginaisdepedradaedificaosoemgnaissebege,ligamo terrenoaotrreo,diferenciando-sedasqueforaminseridasposteriormentepelomaior esmeroconstrutivo.Nafachadafrontal,aprincipalescadaoriginal(Fig.10)elegantee reta,desenvolvendo-seemumnicolancededezdegraus,encimadaporumpatamar tambm em pedra. Situa-se no prtico principal e liga a calada ao vestbulo do trreo. As escadas originais da abside do prdio so sinuosas e elegantes. As escadas interiores so em madeira ou em madeira e pedra, como a escada interna da edificao, que liga o trio capela e sales do segundo piso. H escadas em concreto, em mrmore e de ao e madeira, mas so todas intervenes posteriores. II. 8. Coberturas Os telhadosdo PalcioUniversitrio tmvrios planos conjugados entresipor meio de espiges e rinces, sendo todo recoberto portelhas francesas. O recolhimento de guas pluviais feito por calhas internas junto s platibandas em todo o permetro da edificao. Sua estrutura composta por tesouras de madeira em espaos modulares. Fig. 10: Escada do prtico. Foto: Bira Soares, 2002. Fonte: Acervo do fotgrafo. 11 Ostelhadossoencobertosporplatibandasdealmofadas,intercaladosdeestilbatas quesustentamesttuasouvasosdemrmoreouloua.Nosentablamentos,aparecem modilhes, msulas, dentculos, vulos (SANTOS, 1981, p. 53). NaanlisedeReisFilho(2004,p.38),o[...]gostoneoclssicorevelava-sepela existnciadevasosefigurasdelouadoPorto,marcandonasfachadas,sobreas platibandas, a prumada das pilastras (grifo do autor).Gradativamentesurgiramsolues de cobertura mais complicadas, [...] com suas calhas e condutores importados. Referindo-seaoPalcioUniversitrio,Schnoor(1995,p.15)descreve:sobrea platibanda, acima das pilastras, colocam-se esttuas, e correspondendo aos intervalos sobre as janelas, jarres. A clarabia destina-se iluminao e nesta edificao situa-se sobre a escadaria nobre quechegacapelaeaossales.ConstrudapeloarquitetoRebello,asustentaodoseu vitralsefazporvarasdeferroqueseunemaosvidros.Suatcnicaconstrutivauma abbada de bero,comfasquias demadeiraeargamassa.Internamente o coroamento de umaabbadaformadaporquatrocurvastriangulares,unidaspelosvrticescomuns.A clarabiaestoculta,pois,suasustentaosofreuinfestaodecupinseaguardaverbas para sua restaurao. Concluses Na anlise de seus materiais e procedimentos construtivos, observa-se que trata-se de umexemplartipicamenteneoclssicoquerevelaapuroconstrutivo.Seugrandevalor arquitetnicoestnamonumentalidadedesuasdimensesenacomposioharmnica. Destaca-sea seqncia de compartimentos internos commodulaointerna e largurafixa, interconectados por galerias cujo ritmo regular ditado pelas janelas das fachadas. Suas galerias (parte delas azulejadas meia-altura) so claras e permitem a ventilao cruzadadassalas.Oelevadoesmerodesuaconstruoserevelanasforteseresistentes esquadrias com folhas duplas, abrindo-se francesa; tendo as internas vidro com bandeiras e pinzios, easdas fachadas, alm das bandeiras de vidro, postigos. Pode ser observada a elegncia de algumas ferragens originais, assim como o fino acabamento dos cantos de suas almofadas e arremates construtivos de caneluras que adornam parte delas. 12 Oprticocomfrontotriangularaumentaamonumentalidadedaedificao,sendo inteiramenterevestidodegnaissebege,comrefinadotratamentoestereotmico.Nas fachadas, a cantaria se destaca nas paredes caiadas brancas,marcando o ritmo das janelas; algumasem vergas retas, amaioriaem arco pleno. Sobressai a beleza dasportas originais dossales,capelaeportico.Nasfachadas,algumassoemnichos,sempremarcadaspor cercaduras e faixas horizontais. O madeiramento do telhado complexo e elaborado, com tesouras que se dispem em mdulos.Acoberturaemtelhasfrancesasemmltiplosplanos,ocultaporplatibanda,o quecaractersticodoestiloneoclssico,exibedecoraocomesttuasemmrmore branco. Osrodapsdegrandealtura,presentesnoscompartimentosinternosegaleriasda edificaoeosparquetsdemaisdeduascoresdemadeira,decorandoopisodosalo Douradoapresentam o refinamentoconstrutivo caractersticos doestilo neoclssico,assim comoaspinturasmuraisartsticasdacapelaeSaloDourado,algumasemtrompe-loeil, inseridas em trs perodos da edificao. AstcnicasconstrutivaspresentesnoPalcioUniversitrio,suasuntuosidade, harmoniaformal,dimensespalacianaseprocedimentosavanadosparaapocadesua construo,comprovamseuvalor,sintetizandoamaisperfeitaexpressodospadres arquitetnicos do segundo reinado. 13 REFERNCIAS BARATA,Mrio.AzulejosnoBrasilsculosXVIIXVIIIeXIX.1955.Tese(Ctedraem Histria da Arte.)-Escola de Belas Artes, Universidade do Brasil, 1955. CALMON, Pedro. O Palcio da Praia Vermelha. 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1AdissertaodeMestradoPalcioUniversitrio MateriaiseTcnicasConstrutivas,soba orientao da Prof Dra. Rosina Trevisan M. Ribeiro est sendo elaborada no PROARQ Programa de Ps-Graduao de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendida maro de 2007, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Arquitetura na rea deHistriaePreservaodoPatrimnioCultural,tendocomolinhadepesquisaGestoeRestauraode Espaos Preservados. 2 A antiga Universidade do Brasil hoje a Universidade Federal do Rio de Janeiro. 3 Atual Escola de Educao Fsica e Desportos (EEFD). 4 Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional. 5 Impostas so as paredes onde se apia o arco, conforme Segurado (s/d-c, p.143). 6 Atual UFRJ. 7 Tambm designado em Portugal, forro de esteira sobreposto, segundo Corona e Lemos (1972, p.225). 1 O antigo Hotel Sete de Setembro: hotel-balnerio Maria Helena da Fonseca Hermes UFRJ/EBA-PPGAV Introduo O ponto de partida para o aprofundamento da questo da ornamentao e da arquitetura desse monumento se deu ainda em 1997, a partir da leitura do contedo do Parecer do INEPAC que analisouaprimeirapropostademodificaocontidanoanteprojetodearquitetura.Naquela poca,mesmoaUFRJdispondodeincipientesconhecimentossobreobemtombadoesuas caractersticas,elementosconstrutivosedetalhesornamentais,estasquestesjhaviamsido assumidas como de valor e merecedoras de um outro destaque. Mas,senoanode1997nosedeuumsignificativoincrementonoconhecimento arquitetnicoeornamentaldobemtombado,poiseraomomentodeacreditarnuma possibilidadedetransformao,edetrabalharduroparatornarosonhorealidade,em1999, quando foi elaborado o documento de apoio aprovao do projeto no MINc Ministrio da Cultura, Processo 01400.005854/99-19 Pronac 99 6496, intitulado Projeto RB 762 - aprovado em agosto de 2000, uma nova etapa foi cumprida, mantendo a promessa de que as pesquisas sobre as edificaes deveriam continuar durante os trabalhos de revitalizao e de restaurao. Mas,porcontadeumenvolvimentomuitopessoal,aquelasquestessobreaarquiteturados prdios permaneceram adormecidas, mas germinando, at a proposta consolidada na pesquisa. Outra questo que justificou o empenho em descobrir e desvendar mais sobre esta edificao, foi o fato da mesma pertencer instituio na qual a autora atua como servidora desde 1981 e ofatodeseraarquitetaresponsvelpeloanteprojetodearquiteturaem1997,almde responsveltcnicade1997a2004ecoordenadoratcnicadoProjetodeRestauroRB762 UFRJ de 2002 a 2004.Assim,quandoem1998/1999aautoraparticipoudaelaboraododocumentodaUFRJ denominado Projeto de Restaurao e Uso do Hotel Sete de Setembro, usado para embasar a 2 aprovaodoprojetoderestauropelaleideincentivoculturadoMINc,comoapoioda Eletrobrs e da Fundao Jos Bonifcio FUJB, mais um importante passo havia sido dado na direo de reintegrar este conjunto arquitetnico cidade do Rio de Janeiro. O documento, pioneironaUFRJ,contemplavaoprojetodemodificaoaprovado,cronogramasde desembolso,umpequenohistricosobreosprdioseapropostaderevitalizaoparanovo uso.De1999emdiante,acontinuaodaspesquisassobreoHotelficouestacionadapor conta do desenvolvimento dos trabalhos de campo, nos levantamentos mtricos e do estado de conservaodenominadosCadernosdeRegistrosdePisos,Esquadrias,Elevaes, Balaustradas Escadas e Fundies, Telhados, Caderno de Esquadrias do Prdio Principal e outros.EstesregistrosforamsugeridosesupervisionadospeloINEPAC,entre2001e2004. Como documentos, impressos e em meio eletrnico, constituram documentos de preservao damemriaarquitetnica,registrandooestadodaedificaoantesdasintervenes autorizadasparaamudanadefunoeusoaprovadosnoanteprojeto,sendouma documentaoconfiveldoregistrodaqueleperodonamemriadaedificaoefonte primria.Enquantoisso,aoportunidadedetrabalharnapesquisasobreaedificaoesua arquitetura se manteve latente, germinando em 2004/2005. AsdiscrepnciasdeopinioecrticasobreaarquiteturaeclticadoantigoHotelSetede Setembropublicadasem2000reacenderamquestessobreahistriadoconjuntoacabaram sendoamotivaoprincipalparaadecisodepropor,em2004,comoobjetodadissertao que a origem deste artigo, um estudo mais aprofundado sobre o monumento. OGuiadaArquiteturaEcltica,porexemplo,apresentaumaresenha,emqueoHotel descritocomo[...]OedifcioumexemplorarodearquiteturaneogreganoBrasil.A referncia, entretanto muito sutil e restrita. Contrariamente boa regra acadmica, no tem vocentral,oqueconferefachadaumaaparnciacanhestra.[...] 1.Jnajustificativapara seu tombamento pelo INEPAC em 1983, descobre-se a percepo de uma avaliao bem mais positiva, como segue na transcrio abaixo: quanto Casa do Estudante, que foi Escola de Enfermagem Ana Nery e, antes, o Hotel Sete de Setembro, convenincia em preservar o seu valorhistrico,some-seoatualinteresseemconservarospontos remanescentesdaarquiteturaecltico-acadmicanocaso, 1CZAJKOWSKY,Jorge(org.)GuiadaArquiteturaEclticanoRiodeJaneiro.RiodeJaneiro:Centrode Arquitetura e Urbanismo, 200. p. 98.3 excepcionalmenteimplantadaentreoMorrodaVivaeaenseadade Botafogo do incio deste sculo. 1 Assim,oobjetivomaiordotrabalhoacadmicofoipropor,apartirdaanlisedoprprio objeto e do histrico de suas construo, autoria e tipologia, uma retomada da valorizao do patrimnioedificadoremanescentenacidade,porcontanoapenasdaarquiteturado exemplar em estudo, mas tambm por sua insero na histria urbana de nossa cidade.ComosuportestericosforamselecionadostextosdeLucianoPatetta,FranoisLoyereJ.P. pron, dentre os autores que tratam da reavaliao crtica da arquitetura ecltica. Esta escolha foifeitaporsetrataremdeautoresqueestudamarevalorizaodopatrimnioecltico edificado, tomando-o sob diversos aspectos desde aqueles especificamente arquitetnicos e urbanos, at os maisamplamente culturais. O nosso objeto deestudo foienfocado como um imvelcarregadodesignificaohistrica,inclusiveporcontadaquelemomentonavidana capital do pas. Conforme afirma Loyer, o trabalho tem ento [...] a ambio de propor eixos deleituraqueultrapassemaclassificaopuramenteestilsticadasformasparaestabelecer um dilogo entre os fenmenos sociais ou econmicos e as mentalidades, onde a arquitetura o reflexo privilegiado 2. A correta valorao desse exemplar, construdo como um modelo e parmetro para os demais prdiosaseremconstrudosnanovaavenidaem1922,aindanecessria,tratando-sede umatarefadaculturaatualdosarquitetos 3,conformeafirmaPatetta.Estavaloraofaz referncia no apenas a uma edificao, mas a um conjunto, delimitado por aquelas ligadas ao planejamentoestratgicoparaanovacidadedadcadade20,aindahojemuitoatual.A atualidadedacontribuiodoEcletismoarquitetnicofoi,portanto,umobjetivoaser demonstrado na dissertao, quase como uma dvida: Cabe, portanto a ns, hoje, corrigir em partetaisjulgamentoseressaltarasindiscutveiscontribuiesdaculturaeclticaque constituem,ainda,umpatrimnioprecioso. 4.Nesteartigo,seroenfatizadososaspectos relativos tipologia de hotel balnerio.2.Ecletismo e Tipologia Balneria AtrajetriadoEcletismoemmaisde120anosatestaumabuscaconstante,definidacomo inquietudeintelectualatalpontodesemostrarcomoumperodofragmentrio,unidapor umalinhacontnuaquepercorretodaatrajetriadaarquiteturaburguesa. 5Fragmentrio 4 porque se utilizou de todas as formas e repertrios em conjugaes, simples a ousadas ou at pretensiosas,numesforodecompreensodarealidadeemmutaoedeacompanhareat ultrapassarastendncias,conciliandogostos,ritmosenovasrealidades.Nessabuscase pressente uma predisposio a incorporar muito maior que a de refugar, tanto que em muitos casos o Ecletismo permitiu-se desfrutar da multiplicidade como sendo essa a imagem de sua novarepresentao.Noentanto,essapercepopassoudespercebidaaalgunsdeseus expoentes, como sendo este o prprio estilo do sculo XIX. 6

Destaformaexperimentourepertriosdevariadasemltiplasformasutilizando-sedo conceitoacadmicodetipologiaparasuaorganizao,noapenasporquepocaessaera uma prtica comum do meio cientfico para apresentar as descobertas sobre as espcies, mas tambmporcontadaorganizaodasdescobertasarqueolgicasedoslevantamentos mtricosnosmonumentosestioshistricos.Oagrupamentodosexemplaresreconhecidos dava-se, segundo uma mesma funo comum ou padro formal identificvel. QuatremredeQuincy 7defineosconceitosdetipoemodeloadotadosporG.Argane absorvidosnessetrabalho.Adiferenaestabelecidaentremodeloetipodefineomodelo comoaprpriacpiaumacoisa,idnticaaumaoutracoisa.Trata-se,ento,deobjeto, artefato.O tipo, entretanto, sendo um conceito, no objeto e sim uma idia, que base e que permite aimitao.Sendoumconceito,otipo,portanto,vago,eadmitevariaesparamenosou para mais, que no lhe desfiguram e no retira dele a imagem, que d a percepo possvel ao reconhecimento.Enoacolhimentoindividualdasmodificaesedasescolhas,sejamelas porcontadosentimentoouporcomposio,queotiposetransforma,sereordenaese moderniza.Assim, usando do recurso de exercitar as escolhas e desenvolver outras relaes do convvio humano,algunstipossurgirameoutrosseincrementaram,atendendorenovaosocialou para transformar um cenrio, natural ou construdo.Pararelacionar,dentreomaterialpesquisado,aquelequeapresentaopadroformal procurado,foiestudadoumhistricodoprogramadearquiteturahoteleira,edentrodeste fazendo um recorte na tipologia balneria francesa e, em especial, na Cote DAzur, que pode serconsideradaaprincipalinflunciaparaaconstruodoRiodeJaneiro,comocidade 5 balnerio.Assim,porcontadacriaodenovosprogramasdearquiteturaparaatender burguesiaeseunovoestilodevidaeainda,devidoaumamobilidadeinexistente anteriormente,foiconstatadaumarepresentativamudananoestabelecimentohoteleiro durante o sculo XIX na Europa e mais especificamente no incio do sculo XX, no Brasil. Demaneirageral,percebe-seclaramenteque,apesardascrticaseconstantes aperfeioamentos,asconstruesdeprdiosparahotelnesseperodoincorporavam,de imediato, todas as melhorias produzidas na indstria e at produtos e servios oferecidos por concessionrios,descritositemaitemporPevsner 8,emplenaconformidadecomas consideraes de Patetta 9 sobre as demandas impostas e decididas pela burguesia. Aarquiteturabalneriafrancesaumavariantetardiadasestaestermais,cujaorigem remonta s termas romanas e gregas. As estaes balnerias fora dos grandes centros puderam existireseexpandirporcontaderecursostcnicosedaexistnciadeumamalhade transportes, que permitiu o deslocamento dos turistas e veranistas at o local para temporadas ou frias. As estaes se definiam em oposio aos modelos negativos da cidade industrial, e tambmdoscentrosrurais.Aimagempretendidaparaestesespaoseradebrilho,riquezae prazer. Um espao rico,confortvel, com vida social agitada, sem os inconvenientes da vida socialpacataederitmolentodapopulaorural,esemosinconvenientesdosgrandes aglomerados urbanos.O cliente usurio deste novo espao de lazer carregava consigo as referncias culturais de sua cidadedeorigemacrescidasssuasexpectativas,visualizandoaquelenovoespaoentreo prolongamentodesuavidadeorigemeseuantdoto 10.Asestaesbalneriasfrancesas descritascomovillgiaturesdeborddemeroferecemnumerosasanalogiasvinculadasa umaclienteladeorigemcomum,originriasdaaltaburguesiaemembrosdaantiga aristocracia(tantonaFranaquantonaInglaterra)epretendidapelaelitecarioca,como veremos adiante. Assim,hprdiosecomplexosbalneriosemestilosmuitodiferenciadosentresidentrode umperodotemporalpraticamentesimultneo,confirmandohaverumalinhanicadeao, que a daconstruo de cidades balnerias, porentre osfragmentos queseriam os aspectos regionaisquesoincludosnoprocesso,considerandoqueadiversidaderegional,nocaso europeu,jerapr-existentesconstruesbalnerias.Porcontadisso,Toulierrelaciona diversosestilosnaarquiteturabalnerianaFrana,dentreelesoneo-normando,neo-6 flamenco, neo-basco, regionalismo provenal, alm do clssico que aquele que ir interessar a este trabalho. As referncias tipolgicas ao sul da Frana, na regio designada como Provence Alpes Cte DAzur,limtrofecomaLigrianaItlia,sofortementemarcadaspeloEcletismode tendncia clssica na sua arquitetura, com evidentes referncias italianas e se concentram sob umamesmadenominaodeCteDAzur.Aunidadeanunciadanotermojornalsticoda cte, paraa cadeia deestaes implantadas no litoral mediterrneo de Marselha at Gnova, cria uma metfora e um unicum turstico que se identifica tipologicamente, na associao das mesmas formas, cores e padres. 11 Natural ento supor que a influncia da cultura e da arquitetura italiana, nas construes deste trechodacostafrancesa,secompusessesegundoparmetrosfundamentalmenteligadosao clssico,resultandonumaarquitetura,noconcernesconstruesdosprdios,semelhante encontradanaParispshaussmaniana.Nasvilasmediterrneas,atendnciaeraimitara capitalnoqueconcernesedificaes,exercendooestiloclssico,apesardasdiferenasde implantao, ambincia, dimenses dos terrenos e jardins. O grande hotel representa o parmetro da estao balneria, seu destaque e smbolo. Situado num grande terreno com endereo atrativo e vista para o mar, devia ser prximo ou no centro deumendereocomercialenaligaode vias de comunicao automotivas ouferrovirias. Seu porte e dimenses comportavam entre 200 a 400 aposentos 12. O cassino era o edifcio de representaoporexcelnciadetodaestaobalneria,ondeojogoeraautorizado.O programa do cassino compreendia, no mnimo, o salo de jogos, uma sala de espetculos e um salo de concerto, onde se apresentavam os artistas de renome, halls amplos e muitos acessos. O balnerio se impunhacomo uma construogeralmente independente daquela do hotel ou em arquitetura precria, por meio da instalao de cabines de banho junto ou sobre a gua. As estaes balnerias martimas so, por sua natureza, adequadas e condicionadas pela vista domar,peloacessoepelatopografia.Essaconstataoexplicaumapredominnciada horizontalidadenatipologiadehotelbalnerio,almdaspeasprincipaisdaedificao voltadas para a paisagem, determinando as circulaes e a distribuio interna de espaos, em plantabaixa.Aarquiteturabalneriaestabeleceumarelaoprivilegiadacomoterreno,a paisagem,ainsolaoealuz.Porcontadessamorfologia,hsempreaposentoseespaos 7 projetadosparafavoreceraconjugaodointerioraoexterior,comoosterraos,loggias, balces, belvederes, mirantes e terraos. 13. ForamrecortadosalgunsexemplaresemCannes,emestiloeclticocomtendnciaclssica, considerados exemplares que mantm analogias formais com o Hotel Sete de Setembro, como se observa no exemplo da fotografia abaixo (Fig. 1). Figura 1. Cannes. Hotel Gonnet et de la Reine, 1859 Fonte: http://www.culture.gouv.fr/documentation/memoire/LISTES/bases/AA_deno-00.htm Foimontadaumalistagemdoconjuntodeelementoserepresentaesornamentais representando a interseo entre os repertrios do conjunto dos hotis selecionados na Frana e do exemplar em estudo, como segue abaixo: Repertrio ecltico de tendncia clssica: Escadas frontais de acesso Terraos, balces e sacadas Cornijas Balaustrada e balaustrada de coroamento Marquise e Loggia Arco pleno Friso de coroamento Corpo central elevado e acrotrio Mscara e ornamento vegetal Ritmo das esquadrias e modenatura fachada 8 Prtico coberto Representaes na ornamentao: Cornucpia Ornamento vegetal Mscara GuirlandaVasoRoscea Palma Focinho de leo Consoles nos balces Fronto Ordem colossal Ordem drica Ornamento geomtrico Balastres Medalho Ptio Deumoutrongulo,masaindanabuscapelassimilaridades,observou-setambmacriao daspaisagensurbanasbalnerias,comoaquelaselecionadanafotografiaabaixo(Fig.2),e quedocontadaurbanizaoeambinciadaorladacidadedeCannes,destacandoa implantao das edificaes hoteleiras, cassinos e equipamentos de lazer e, consequentemente caracterizando as estaes de frias. Esta a paisagem que desperta um outro olhar para o Rio de Janeiro, at ento voltado para seuinterioremaisparasuasmontanhaseocomrcioquepropriamenteparaseuvis litorneo, at hoje muito festejado, como balnerio. Neste sentido, da insero do conjunto quepercebemosoHotelSetedeSetembro,umhotelbalnerioemarquiteturaeclticade tendncia clssica.

Figura 2. Cannes, Av La Croisette 9 Fonte: http://www.culture.gouv.fr/documentation/memoire/LISTES/bases/AA_deno-00.htm Assim,paraqueacidadedoRiodeJaneirosemodernizasse,poca,constatam-seos grandesinvestimentosrealizados,comsignificativocrescimentoorientadopelovetorna direosul,percebidoporestarsublinhadopelaorlalitornea,buscandoincorporaroutra imagemCapital.Isto,apsamodernizaoeuropeizadadadaaocentrodacidade, pressente-se a proposta para tratar o restante da cidade como uma estao balneria de lazer, descansoedeumnovoritmosocial,comoqueunindoacapitalParisCte.Os investimentosforampossibilitadospelaobtenodevultuososemprstimosnoexteriorpara as obras a serem realizadas na cidade para festejar o Centenrio daIndependncia doBrasil, em 1922. 3. O Hotel Sete de Setembro. A origem do Hotel Sete de Setembro est vinculada s obras do desmonte do Castelo, j que asobrasdeconstruodaAvenidadeContornodoMorrodaVivaeramconsideradas annexasaosserviosdoMorrodoCastelloeconstam,desdeoseuincio,deduaspartes distinctas, 14aconstruodaavenidaeaextraodepedra.OPrefeitoCarlosSampaio, declarou que os terrenos resultantes das escavaes na pedreira e ao longo da avenida, numa faixacomprofundidadevarivelde35a40metrosnoFlamengo,seriamvendidos posteriormente e o valor obtido seria usado para cobrir o custo das obras da prpria Avenida deContorno.EleaindaconfirmaqueaPrefeiturafezsuaparte,dandooexemplocoma construo de um grande e excelente hotel com um restaurante 15. Como o Prefeito justificava as obras da Prefeitura num conjunto de aes, obedecendo a um planejamento com conexes ntimas em cada etapa, declara ser natural uma interdependncia de aes para novas reas conquistadas na cidade, conforme segue a transcrio: Como todas as obras que executei obedeciam a um plano de conjuncto, emconexofrequentementemuitontimaumascomasoutras,natural eraque,organizandoosprojectosdemelhoramentoeembellezamento doMorrodaViva,emBotafogo,edaLagoa,noJardimBotnico resolvesse eu acabar com a vergonha do embarque na ponte do lixo no Morro da Viva, junto a uma parte residencial da maior importncia, de todasasimmundciesdosbairrosdepartedoCattete,Laranjeiras, Botafogo e Jardim Botnico. 16 10 Ou ainda, segundo o Prefeito: [..] inclusive declarando poder dissipar a obscuridade a que se refere o terceiro reparo da local do Correio da Manh em relao ao Hotel Sete de Setembro, dizendo: 1 - que aavenida RuyBarbosa abertaem rocha viva que descia ato mar,semdarpassagemnemmesmoapees,euresolvifazel-apara aproveitar a pedra, com o transporte mais barato e mais commodo, isto ,pormar,paracomessapedraconstruirumagrandepartedo enrocamentoe do ces do aterro do Castello. 2-eranatural,desdequetinhadeextrahirapedra,rasgaruma avenida, construindo um ces, em torno do Morro da Viva. Eis a razo porquetaesobrasformaconsideradascomosupplementaresdasdo Castello e custeadas pela mesma verba. .17 Assim,aconstruodoHotelsedeucomoafirmaCarlosSampaio,comoconseqnciada extrao de pedras paraa muralha de contenodo aterro do desmonte do Castelo no centro da cidade, conjugada questo da hospedagem na Capital durante os festejos do Centenrio. Sualuxuosaconcepoeacabamento,funcionariamcomoparmetroparaaconstruodos demaisprdiosnaAvenida.Paraaconsecuodesseobjetivo,emnovembrode1921,o PrefeitojhaviaaprovadooprojetodoHotelSetedeSetembro,confirmandonessa construo, as metas deum planejamentocoordenado nas aes de preparao doevento do Centenrio.Desdeoincio,ento,aconstruodesseHotelestavacondicionadaaorigoroso cumprimentodeduasquestes:aconclusodasobrasnumprazoexguo,paratornar irreversvel sua utilizao como Hotel na recepo dos ilustres visitantes do Centenrio, e sua vinculao a um padro de luxo, moderno e compatvel com sua localizao, portanto de hotel balnerio. Por conta de sua tipologia, do Restaurante e da existncia das cabines de banho sob oleitodaavenida,constituaumconjuntoarquitetnicocomaatualidadeemodernidade desejveis, nos parmetros daquelas construes balnerias no sul da Frana.O xito desta operao estava garantido por conta do prdio se constituir num prprio pblico eternoprprioPrefeitoseuengenheirochefedeoperaes,oque,naprtica,significava controlenosprazoseprovvelliberaoseqencialdasverbas.Ento,sepairavaalguma dvida sobre o trmino das obras da construo de outros hotis para o evento, o mesmo no podia ser dito desse caso. A obra durou aproximadamente oito meses, com direito a incluso no Guia Official da Exposio. 11 Assim,considerandoasespeciaiscircunstnciasdescritasacima,somadasaofatoquea construodehotiseraincentivadacomopolticapblicadeadministrao,estetrabalho considerouoinciodaconstruodoHotelSetedeSetembroapartirde4denovembrode 1921,quandoosdesenhosassinadosecarimbadospelaEmpresaJannuzziobtiveramo ApprovodoPrefeitoCarlosSampaio(Fig.3).Oprojetoeobraforamcontratadoscoma empresa Jannuzzi, por administrao, como segue na declarao do Prefeito: Semereocrticaporterdadoporadministraocontratadaaobraa essescollegas,amesmacrticadeviamerecerporterdadoaTeixeira Soares&Cia.asobrasdoCastello,aLafayette&Cavalcanteasda Lagoa, a Jannuzzi & Cia as do Hotel Sete de Setembro.[...] 18 Figura 3. Fachada Principal do Hotel Sete de Setembro, 04/11/21. Fonte: AGCRJ, 2006. A autoria do projeto e obras do Hotel Sete de Setembro foi atribuda ao Comendador Jannuzzi pelaprimeiravezem1999,pelaUFRJ,nodocumentointituladoProjetodeRestauraoe UsodoHotelSetedeSetembro 19,aludindoexistnciadasoficinaseaassinaturano DesenhoNo8FachadaPrincipal.Em1999nohavianenhumaatribuiodeautoriapelo INEPAC, rgo de tutela do bem. Em 2005 foi atribuda autoria a Jannuzzi numa dissertao daFAU/UFRJ20,referenciadanodocumentodaUFRJsupracitado.Em2006,oINEPAC assumiuserAntonioJannuzzioconstrutordoimvel,conformeconstanosite http://www.inepac.rj.gov.br/. A atribuio de 1999 reafirmada pela existncia do carimbo da empresaJannuzzieCia.nosdesenhosoriginaisdoArquivoGeraldaCidadedoRiode Janeiro (LO 1921 CX 68 doc. 16) e tambm pela declarao do Prefeito C. Sampaio.12 AsobrasdoHotelSetedeSetembroforamconcludasnoprazoestipulado,tendosua inaugurao ocorrida em 15 de Julho de 1922, sbado, conforme a Revista da Semana. 21 Comrelaoaoporteesuaconstruo,necessrioesclarecerquesuasedificaes correspondiam,napoca,aquaseodobrodovolumedeconstruoqueidentificadohoje como sendo o Hotel Sete de Setembro, com pouco mais de 5 mil metros quadrados. Segundo CarlosSampaio 22,ocomplexoincluaumHotel,umRestauranteecabinesparabanhosde mar.AodeclararqueoHotelpossua257quartos,nmerosuperioraodoHotelGlria, construdo com 250 aposentos, confirmou-se a existncia de ao menos mais um prdio com a funodeHotel,mesmoporqueoprdiohojetidocomosendoodoHotel,teria,pelasua distribuio espacial que nos chegou em 1997, no mximo 120 aposentos. Assim, verificam-se na fotografia publicada em 2001 (Fig. 4), as construes de dois prdios deHotel(Blocos2e3),umprdiodoRestaurante(Bloco1)eascabinesdebanho.Alm destes,foilocalizadaumaimagemdemaisumBloco,menor,designadoaquiapenascomo Bloco 4, totalizando quatro prdios mais as cabines, como segue: EmfrenteaoHotelSetedeSetembroocesfoi interrompidoemuma extensodemaisoumenos40metros,construindo-seentouma plataformadecimentoarmado,abaixodaqualforamfeitascabines para banhos de mar. 23 Figura 4. Complexo do Hotel Sete de Setembro, 1921/22, detalhe. Fonte: Rio de Janeiro Imagens da Aviao Naval 1916 1923, montagem da autora, 2006. 13 Massuaprivilegiadalocalizao,arquiteturaluxuosa,acabamentoetipologianoforam suficientes para manter coeso este conjunto como um complexo hoteleiro, por conta, segundo Carlos Sampaio, de questes de disputas polticas na cidade e do fraco movimento de turistas paraoeventodoCentenrio.AsrevoltasnaCapital,nomovimentoconhecidocomoa Revoltados18doForteem5dejulhode1922,svsperasdasdisputasparaaseleies presidenciais,quandoosmilitaresseinsuflaramcontraacampanhadocandidatoArthur Bernardes e foram sufocados pelo governo, contriburam para afastar parte dos visitantes que viriam cidade comemorar o Centenrio da Independncia, como segue: notrioqueoHotelSetedeSetembrofoiconstrudonaprevisode queestacapitalseriainvadidaporimmensamassadepopulao adventcianasfestasdoCentenrio.Searevoltanoviessecontrariar essa previso e o Hotel no tivesse sido construdo, com que violncia eu no teria sido censurado pelo Sr Piragibe? 24 Concluso Estudarepesquisarsobreatipologiadohotelbalnerio(Fig.5)naconstituiodacidade, seusrumosedirecionamentospolticos,contribuiparareverocrescimentosocialeurbano sobumnovovis.Acadarevitalizaoourestauraodeummonumentopermitindoseu retornoaousopelacidade,comamesmaououtrafuno,podesetransformarnuma contribuio sobre um perodo ao qual a reavaliao crtica ainda se ocupa, e se faz notar, pela importnciapornoterproduzidomodelosesimpertenceraumconjunto,quetambm parte da identidade carioca. Decertaformasurpreendentenotarquefoiaarquiteturaeclticadetendnciaclssica aquela que esteve associada ao incio da percepo da Capital litornea, hoje apenas carioca, mesmotendosidodesenvolvidaapartirdeumaidentidadeeuropiaaqualdesejssemos pertencer, seno copiar, em detrimento da observao de nossa prpria realidade. Embora se possa questionar sob o aspecto social vrias das iniciativas no executadas ou no planejadas naquele perodo de transformaes da Capital, em especial para a populao mais desfavorecida,ainiciativadeproporeincentivaraconstruodegrandeshotiseraousada, noapenasporassumirumnovoentendimentodacidadeeatpornoprescindirdas facilidadesdalegislaoeisenesfiscaisaplicveis.Estesrecursosfiscaissoatuaisat 14 nossos dias e dependentes das vontades poltico administrativos, e a questo balneria perdura at nossos dias como um diferencial expressivo para a cidade. Como exemplo e resultado do planejamentoadministrativodestesetornaqueladcada,temosoHotelGlriaeo Copacabana Palace Hotel, cotados entre os melhores hotis da cidade. Ao mesmo tempo em que no h discusso sobre o grande impulso dado ao setor hoteleiro e de servios na dcada de20,sepercebehoje,comtristezaeporcontadeoutrasquestes,quenossacidadese encontra novamente despreparada para receber turistas e viajantes. A questo da contribuio desse exemplar, em tipologia de hotel balnerio, marca a proposta vividaporumaelite,eporcontadissonospermiteentrevermaissobrenossopassado,to recentepararefletirsobrecaminhosesoluesparaacidade,nosprximosanos.Decerta forma,seconjugaaumaquestocontidanodocumentodaUFRJde1999,quemencionaa importnciadeperceberavalorizaodonossopassadocomoumaponteprofcuapara acalentar o sonho de que nossa contemporaneidade possa, no futuro, vir a ser respeitada.25 Figura 5. Hotel 7 de Setembro. Vista tomada do Morro da Viva, Malta, s/ data. Fonte: acervo FMIS. 15 Notas: 1.CAMPOFIORITO,talo.ParecersobreotombamenodosimveisdaCasadoEstudanteUniversitrioeda EscolaPolitcnica.In:SECRETARIADECULTURADOESTADODORIODEJANEIRO.Instituto EstadualdoPatrimnioCultura.DepartamentodePatrimnioHistricoeArtstico.ProcessoE-0311357/83, Memo No7/DPHA/83, 19 abril 1983. 2 LOYER, Franois. Le sicle de LIndustrie 1789-1914. Paris: Editions dArt Albert Skira, 1983. (capa). 3 PATETTA, Luciano. Consideraes sobre o ecletismo na Europa. In: FABRIS, Annateresa (Org.) Ecletismo na arquitetura Brasileira. So Paulo: Editora da USP: Nobel, 1987. p. 25. 4 ibid. p. 16. 5 ibid. p. 12. 6 ibid. p. 13. 7 ARGAN, G C. Projeto e destino. So Paulo: Editora tica, 2004. 8 PEVSNER, Nikolaus. A History of Building Types. London: Thames and Hudson, 1984. 9 PATETTA, Luciano. Consideraes sobre o ecletismo na Europa. In: FABRIS, Annateresa (Org.).Ecletismo na arquitetura Brasileira. So Paulo: Editora da USP / Nobel, 1987. 10 TOULIER, Bernard. Linfluence des guides touristiques dans la rpresentation et la construction de lespace balneaire ( 1850-1950). Expos donne dans le cadre du colloque de luniversit ParisVII-Diderot, 3-4 dcembre 1998. p. 1. Disponvel em: http://www.culture.gouv.fr/culture/inventai/.pdf. Acesso em: junho 2006. 11TOULIER,Bernard.Lassimilationdurgionalismedanslarchitecturebalneire(1830-1940).Disponvel em: http://www.culture.gouv.fr/culture/inventai/telechar/bt02.pdf.Acesso em: junho 2006. 12TOULIER,Bernard.Larchitecturedesbainsdemer:laplacedelaBretagnedanslepatrimoinefranais, extraits de Larchitecture des bains de mer: un patrimoine marginalis In: Revue de lart. Paris : Ophrys, n.101, 1993.p.11.Disponvelem:http://www.culture.gouv.fr/culture/inventai/telechar/bt02.pdf.Acessoem:junho 2006. 13 ibid p. 16. 14RIODEJANEIRO(DF).Prefeito(1920-1922:CarlosSampaio).RelatriodaDirectoriadeObrasda MunicipalidadeemOutubrode1922.[19--?].DocumentosencadernadossobottuloIdiaseimpressesno Arquivo Geral da Cidade. Apndice 2. p. 190-191. 15 ibid., p. 190 - 191. 16 RIO DE JANEIRO (DF). Prefeito (1920-1922: Carlos Sampaio). Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro 8 de junhode 1920a15denovembrode1922.1924.DocumentosencadernadossobottuloMemriahistricano Arquivo Geral da Cidade. p. 120. RIODEJANEIRO(DF).Prefeito(1920-1922:CarlosSampaio).PrincipaesDiscursoseArtigosdoPrefeito Carlos Sampaio 8 de Junho de 1920 a-15 de Novembro. 1924. Documentos encadernados no Arquivo Geral da Cidade. p. 111. 18RIODEJANEIRO(DF).Prefeito(1920-1922:CarlosSampaio).AdministraoMunicipaldoGovernodo Presidente Epitcio. 1923. Documentos encadernados no Arquivo Geral da Cidade. p. 105. 19HERMES,MariaHelena;FERRAZ,Joo.ProjetoderestauraoeusodoHotelSetedeSetembro.Riode Janeiro, 1999. p. 20. 16

20GRIECO,BettinaZellner.AarquiteturaresidencialdeAntonioJannuzzi:idiaserealizaes.2005. Dissertao (Mestrado emArquitetura)-Programa de Ps-Graduao emArquitetura, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005. p. 160. 21 FESTAS. Revista da Semana. Rio de Janeiro, v. 23, n. 29, 15 jul.. 1922. 22 UMA DEFESA do Sr. Carlos Sampaio. Correio da Manh, 3 jan. 1923. 1923. Documentos encadernados no Arquivo Geral da Cidade. p. 104. RIODEJANEIRO(DF).Prefeito(1920-1922:CarlosSampaio).AdministraoMunicipaldoGovernodo Presidente Epitcio. 1923. Documentos encadernados no Arquivo Geral da Cidade. p. 104. 23RIODEJANEIRO(DF).Prefeito(1920-1922:CarlosSampaio).RelatriodaDirectoriadeObrasda MunicipalidadeemOutubrode1922.[19--?].DocumentosencadernadossobottuloIdiaseimpressesno Arquivo Geral da Cidade. Apndice 2. p.192. 24RIODEJANEIRO(DF).Prefeito(1920-1922:CarlosSampaio).AdministraoMunicipaldoGovernodo Presidente Epitcio. 1923. Documentos encadernados no Arquivo Geral da Cidade. p. 11. 25 HERMES, Maria Helena; FERRAZ, Joo. Projeto de Restaurao e Uso do Hotel Sete de Setembro. Rio de Janeiro, 1999. p 49. TRS PROJETOS PARA UMA UNIVERSIDADE DO BRASIL Klaus Chaves Alberto UFRJ/FAU-PROURB Estetrabalhopartedadissertaohomnimadefendidaem2003noProgramade Ps-Graduao em Urbanismo (PROURB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro que foi orientada pela professora Dra. Margareth Campos da Silva Pereira. Oficialmente,foramdesenvolvidos4projetosparaaCidadeUniversitriada Universidade do Brasil (CUB) entre 1936 e 1938: o projeto de Lcio Costa (1936), o projeto deMarceloPiacentini(1936-1938),oprojetodeLeCorbusier(1936)e,porfim,osegundo projeto de Lcio Costa (1936). SobreoprimeiroprojetodeLcioCostanoforamencontradosregistrosmnimos paraserealizarumaanlisemaisprofunda.Esteestudo,portanto,seconcentrounostrs outros projetos que, pela escala e pela qualidade dos atores envolvidos abrangendo aqui no apenasosarquitetos,mastambmosprofessores,polticosetcnicosque,diretaou tangencialmente,fazempartedaproduodeumprojetonestaescala-contribuemparaum melhor entendimento a respeito pensamento urbanstico e educacional no Brasil da dcada de 30.Estesprojetosnodispemdebibliografiaespecfica,asinformaesencontram-se dispersasempublicaesdearquiteturaealgumasoutrasreascomoeducaoepoltica. Paraodesenvolvimentodesteestudoforamconsultadostrsgrandesgruposdetextoque, aindaquesuperficialmente,problematizamotemadosprojetosparaaCUB.Primeiramente, asfontesdepoca(CAMPOS,1940)(CAMPOS,1938)1quebuscamcriarumanarrativa histricaparaoprocessodecriaodaUniversidadedoBrasile,nela,osdebatessobrea formafsicadoseucampusuniversitrio.Emsegundolugar,ostextosdenaturezasocio-polticaoupoltico-educacional(PAIM,1981)(SCHWARTZMAN,1982) (SCHWARTZMAN,2000)(FVERO,2000)quetratemdoperodoVargas,oudeseus ministros da educao ou, enfim, das discusses sobre a educao no perodo. Por ltimo, os textosdahistoriografiadaarquitetura(SANTOS,1977)(BRUAND,1992)(BARDI,1984) (SANTOS, 1987) (TSIOMIS, 1998) (SALMONI; DEBENEDETTI, 1983) (TOGNON, 1999) (MELLO,1985)(GOROVITZ,1993),incluindonestegrupodesdeasobrasqueseocupam da histria atravs de grandes narrativas at outras mais especficas que se detm em aspectos pontuais sobre os autores ou sobre os quatro projetos. Percebe-se no conjunto das obras acima referenciadas grandes contribuies no campo terico,buscandoinseriraarquiteturanocamposocio-poltico,nocampoesttico,ouno campodocumental.Entretantopermanececomoproblemaafracaarticulaodessas diferentesperspectivasdeanlisee,sobretudo,ocruzamentoentreabiografiaintelectualde cadaautorcomseusmtodosdetrabalho,suasvisesdearquiteturaecidadeeseu entendimento do programa a ser desenvolvido.Oquenospropomosafazernadissertaoexatamentepreencheralgumasdestas lacunasabertasnopercursodahistriadourbanismonotocantecriaodascidades universitrias, buscando cruzar os atores com o campo social e da cultura. Neste artigo sero focadosdoisaspectosprojetuaisnavisodostrsarquitetos:asvisessobreolocalde implantao e o processo de implantao em si. Desta forma, deseja-se uma anlise encarnada doprojetocomoseulugar,entendendoestenoapenascomopaisagemfsica,mas compreendendo-o de modo mais complexo - como paisagem social e cultural. OS ARQUITETOS E O LOCAL DE IMPLANTAO EmsuavisitaaoRiodeJaneiroem1936,LeCorbusierdemonstrousuaadmirao pela fora das reformas levadas a cabo na cidade desde o inicio do sculo. Para o arquiteto a atitude poltica, aliada a uma viso futura e s vezes utpica de cidade, sempre foram motivos dereverncia.NaFrana,comomostramseustextosnapoca,eleseconsideravaum beneficirio de homens como Lus XIV, Napoleo e Haussmann que tiveram esta postura. No Brasil, Pereira Passosa quemLe Corbusierfaz sua defernciaem sua primeira palestra da visita de 1929, (...)Desejocolocar,nofrontispciodasconfernciasdoRio,onome doPrefeitoPassos,ograndeprestidigitador.PassosfezdoRiouma cidadequeummilagre,umespetculoadmirvel.Eleoconseguiu com muita pouca coisa do ponto de vista dos meios tcnicos. Mas sua visooconduzia.istoquemeinteressacolocarnolimiardessas conferncias.Tudohojedependedavisodosdirigentes.Estamos numapocaemquenecessriotergrandezadeviso.(BARDI, 1984 p.121) Por outro lado, considera a provocao plstica e visual do Rio de Janeiro como um desafioaoarquiteto,comoeleprpriodescreveemseutextoCorolrioBrasileiroarespeito de sua conferncia no Rio de Janeiro em 8 de dezembro de 1929: (...)ento,noRiodeJaneiro,cidadequeparecedesafiar radiosamentetodacolaboraohumanacomasuabeleza universalmente proclamada, somos possudos por um desejo violento, louco talvez, de tentar aqui tambm, uma aventura humana, - o desejo dejogarumapartidaadois,umapartidaafirmao-homem contra, ou com presena-natureza. (SANTOS, 1987, p.89) AbaseparaaspropostasdeLeCorbusierparaoRiodeJaneiro,em1936,seguiaas linhas mestres de sua grandeza de viso fixadas desde sua primeira visita cidade em seu projeto de urbanizao desta capital, agora articuladas aos projetos da CUB e do Ministrio da EducaoeSadeprojetoscontratadospeloministroGustavoCapanema.Destaforma,a Cidade Universitria foielaborada segundo este plano maior paraa Capital Federal que teve comoprincpiosdoutrinriosasetorizaodasfunesurbanasprincipaiseaimplantao destes grandes eixos de circulao viria.Ao que tudo indica, Le Corbusier no teve restries ao local de impalntao da CUB pois em nenhum momento tece crticas ou faz sugestes aeste respeito.O arquiteto preferiu valorizar a importncia da facilidade de comunicao entre o novo terreno e a cidade atravs da autopista, que seria criada, e da velha linha frrea que levava aos subrbios. De fato, para eleacirculaourbananestesanostalvezfossedosmaisimportantesproblemas.Sobreseu diagnstico do caso do Rio de Janeiro, ele escreveria: (...)Oprimeirotrabalhofoi,portanto,deencontrarumasoluo impecvel,aointensotrfegodetrnsito,depoisaarticulaoda prpria circulao da cidade universitria: trens de subrbio, nibus, automveis.Umavastaplataformadedistribuio,tramaviria (autosepedestres)dedistribuiogeraldacidade.(CORBUSIER, 1979, p.42) Le Corbusier desenvolve seu projeto para o Rio de Janeiro sob a forma de um edifcio-viaduto,negociandocomapaisagemeaomesmotempotirandopartidodesuaexistncia como meio de comunicao. Lcio Costa, a este respeito, comenta: (...)Aquestoeraaseguinte:eleviuquefatalmenteoproblemada habitaoiriasurgir.Acidadeiacrescendo,todomundoquerendo ter vista livre, afluindo para a zona sul. Ento era preciso conciliar as duascoisas.Comesseempreendimentoseresolviatambmparteda ligao viria, era como se fosse um metr areo (...). (COSTA, 1997, p.148) NorecenteestudodeYannisTsiomissobreosprojetosdeCorbusierparaoRio,em todas as 4 possibilidades de projetos estudados, duas de 1929 e duas de 1936 e suas variaos, verificamos que uma das permanncias a ala do edifcio viaduto que se direciona para So Paulo passando aproximadamente na extenso do Canal do Mangue, onde hoje est a Avenida GetlioVargas,ebeirandoomorrodaBoaVistalocaldeimplantaodacidade universitria (TSIOMIS, 1998).Em 1936, a CUB seria localizada exatamente neste trecho. atravs dos seus Carnets e Croquis, referentes a sua viagem neste mesmo ano, que podemos observar o destaque dado peloarquitetofrancsparaasualocalizao.Comovemosemseusdiscursosedesenhos, plenos de solues para a circulao, seu projeto se conecta com a cidade atravs de uma auto pista desenhada em paralelo ao trecho da linha frrea que cruza a rea de ocupao da CUB.EstefatoficaclarotantoemseusprincipaisesquemasdesetorizaoparaaCapital como tambm em seus outros croquis em vo de pssaro. Implantao do edifcio viaduto(grifo nosso) Setorizao Carn C12-719 (grifo nosso) (CORBUSIER, 1979, p. 42) (SANTOS, 1987, p.156) croquis Carn 6-5027 (grifo nosso)(SANTOS, 1987, p.157) ParaLcioCosta,oterrenoeravistodeformadistinta.Oarquitetobrasileirohavia optadoinicialmentepelaimplantaodaCUBsobreaLagoaRodriguesdeFreitas.Emsua cartaparaLeCorbusier,comointuitoderelatar-lheosantecedentesqueacabarampor motivar sua viagem pouco em 1936, Lcio Costa apresenta, talvez, o maior registro sobre este projeto. Ele o resume assim para Le Corbusier,

(...)Expliquei-lhe[aoMinistro],maisumavez,seusprojetosde urbanizaocontempornea,mostrandoqueseriaacoisamaisfcil domundocolocartudoissosobreagua,ondeospilotiseviadutos estariam completamente vontade, e tambm que os imensos jardins, nas coberturas dos prdios protegidos do sol por grandes marquises, serviriammaravilhosamenteparapasseiosnosintervalosdasaulas, quefaramos,paraolazerdosestudanteseemcontrastecoma purezadaarquitetura,ilhas,ondeaexubernciadavegetao tropicalpoderiaespalhar-selivrementetudoligadoporviadutose pontesenaturalmentedelimitadopelasbordasdalagoa,almdo quadro magnfico das montanhas, do cu, do sol, das guas, - enfim, algodeniconomundoecomumapotencialidadelricadignade voc. OMinistrocitou-meVenezamostreiaelequeseria precisamenteoopostodeVenezaeseuscorredoresaquticos,pois aquiasuperfcienoseriainterrompida,prolongando-seantes,sob asedificaes(deresto,alagoatemquase3milhesdemetros quadradosparaos100.000m2previstosparaconstruo.(SANTOS, 1987, p.143) VemosqueLeCorbusiereseusprojetosserviramcomoprincipaisinstigadores para esta ousada proposta de Lcio Costa mas, apesar de seu devotamento a estas causas, no podemoscaracterizaroarquitetobrasileirosimplesmentecomouminseguroaprendiz necessitadodasorientaesdomestre2.Nocaso,LcioCostaumarquitetoque,embora mais novo que Le Corbusier, compartilha dos seus ideais, o que pde-secomprovar no futuro comdesenvolvimentodosprojetosnoBrasil.Otomconfidencialnofinaldesuacarta,aps explicar a insegurana do Ministro em relao a um possvel escndalo da imprensa diante de propostas pouco convencionais, tomando at a liberdade de lhe pedir como testumunha por essa causa, vem confirmar esta cumplicidade de idias: (...)Umaltimacoisa.UmadesuasincumbnciasjuntoaoMinistro ser de transmitir sua opinio sobre o projeto cujas fotografias estou lheenviandopormeiodesta.Senogostardele,diga-nossem rodeios,maspeo-lhe:nodigabruscamenteaosr.Capanema: feio...elesnomeentenderam!porquenestecasoestaramos perdidos, uma vez que os outros j o proclamaram e ns o estamos tomando como testemunha. (SANTOS, 1987, p.143) Havia na escolha de Lcio Costa pela implantao da Cidade Universitria sobre a Lagoaodesejodeapresentarcidadenovastcnicasdearquitetura,contrastando-ascomas peculiaridadesdolocal.Tentava-se,destaforma,criarumespetculoinovadorquedesejava serharmnicoentreostionaturaleacidade,propondoasidiasqueconsideravamuito puras - isto , sem ligao com o terra-a-terra das solues usuais e muito precisas. No foi por outro motivo que Lcio Costa observou com estranheza a escolha da QuintadaBoaVistaporpartedacomissodeprofessores,ressaltandoosfatodeserum terreno (...) cortado em dois por 8 linhas frreas (trens de subrbio, de 3 em 3 minutos) e de ondenosevnemmesmoomarderesto,umaboaescolhaparaqualqueroutrolugar que no fosse o Rio. (SANTOS, 1987, p.142) (grifo nosso) Umanoantes,em1935,MarcelloPiacentiniapresentouorelatrioRelazione sulle proposta di localita per la nuova citt universitaria nazionale in Rio de Janeiro que era o resultado de seu estudo sobre as possibilidades de implantao da CUB na Praia Vermelha, Quinta da Boa Vista, Leblon, Manguinhos e Gvea. Neste documento, entregue ao Ministrio daEducaoaofinaldesuaestadianoBrasil,oarquitetoterminaporindicarcomomelhor localizaoosterrenosdaPraiaVermelhapormotivosmuitoprximosaosdeLcioCosta quandoescolheuaLagoa:apaisagemeabelezanaturaldoRiodeJaneiro.Naspalavrasdo prprioarquiteto,seria(...)Umaafirmaosolenedepoderpolticoedeartejuntoauma grandiosapginaarquitetnicaqueengrandeceriaabelezadaencantadoraCapitaldo Brasil. (MINISTRIO DA EDUCAO E SADE, 1946, p.29) Mas,paraMarcelloPiacentini,aQuintadaBoaVistatambmerapossuidorade vantagensnaturais:osjardinsdoantigoPalciodoImperadorimpressionaramoarquiteto italiano apresentando-lhe virtudes que poderiam dar (...) ao conjunto urbanstico um aspecto eminentementesenhorileumlocalderespeitoedesilncio,concluindoqueesteterreno seria(...)umagrandeeraraocasioparaaumentarabelezadoRioedesuaszonasmais atraentes e senhoris. OprojetoeodiscursodePiacentinisobreoaspectodalocalizaotambm reforamsuapreocupaocomaEdilciaCitadina,expressoqueoarquitetoutilizapara definir uma concepo de cidade como uma grande arquitetura (TOGNON, 1996, 157-64). ParaPiacentini,damesmaformaqueosvaloresclssicosdaarquiteturacomoa ordem,arelaoharmnicaejustaentreasparteseotodo,oritmo,apresentamaprpria organizaopolticadeumasociedade,oespaourbanodevesercompostotambmcomo uma estrutura representativa e, sob alguns aspectos, didtica, como ele mesmo afirma no texto Novo horizonte da Edilcia Citadina: (...)Osentidodaarte(contidonaarquitetura)deveriaserpossudo porcadacidado,reguladordecadaatodesuavida,deseu movimento,sentidoque,athoje,foidescuidadopormuitos,e poderiarenderincomensurveisbenefciossociais;somente compreendendoeamandoobeloseadquireosentidoderespeito parasimesmo,paraosindivduoseparaascoisas,Mascomo cultivarestaeducaosenopredispondooambiente?Como desenvolverestesentidoestticonocidadosenolhecriadoum entorno,nasruas,naspraas,nosjardins,todaumaatmosferade harmonia e beleza? (TOGNON, 1996, 162) Com este critrio, Piacentini elabora uma nova conexo entre o centro da cidade e a CUB situada agora nos terrenos das proximidades da Quinta da Boa Vista, j que o acesso atual molto disordinato. Este novo acesso composto a partir do saneamento do canal do mangue que Piacentini considera belo com as quatro fileiras de palmeiras, mas miservel nas construes que a flanqueiam. Conexo viria CUB x cidade projeto Marcello Piacentini Planta da Cidade do Rio de Janeiro (grifo nosso)(TOGNON, 1999, p. 98) NesteordenamentoPiacentiniseaproximadatradiodasgrandesreformas urbanas que aconteceram no Rio de Janeiro as quais, em geral, configuravam grandes eixos de conexo. No podemos deixar de relacionar esta proposta com a avenida de conexo entre o portoeaestaoferroviria,propostaporAlfredAgache,aproveitandopartedocanaldo manguequeposteriormentetornou-seaavenidaPresidenteVargas.Mas,paraoarquiteto,o objetivo seria outro j detectado pela Comisso de Professores que coordenava os trabalhos da Cidade Universitria como um todo: seria a oportunidade de conexo entre o centro e a zona norte, onde a praa da Reitoria seria como um grande coroamento. (...)Assim,seofereceriaedilciacitadinadoRiodeJaneiroa possibilidade de escrever uma nova e significativa pgina; os valores a serem sacrificados so modestos, enquanto que aqueles criados so extremamentevantajosos:oslaosentreocentropulsantede atividadecomercialdacidadeeonovocentrodaculturaseriam, assim,maistranquiloselivresdograndetrnsitodazonapopulare industrial. (TOGNON, 1999, p.270) curiosoassinalarqueasquestesligadasaosgrandeseixosdecirculao, aparentemente, no so levados em conta por Lcio Costa para fazer o acesso CUB. De fato, o arquiteto brasileiro no cria nenhuma grande avenida e o tema das conexes urbanas parece nopreocup-lonememseuprojetoparaaLagoa,nem,maistarde,emseuprojetoparaos terrenos prximos Quinta. A IMPLANTAO O entrosamento entre Le Corbusier e a Comisso de Professores citada acima foi deveras tumultuado. Vrios fatores contriburam para que se chegasse neste estado de coisas, uma delas foi justamente a implantao da CUB no terreno. Aparentemente, por vrias vezes, pode ter havido uma real falha de comunicao entre as partes, embora tambm seja possvel que tenha ocorrido um abuso aos limites das decises de parte a parte. LeCorbusierdesenvolveuumaimplantaoondeasedificaesocupavamas encostasdoterrenodeixandoareacentralpraticamentelivre,vazia,comalgumaspoucas construesque,deformageral,seriamdeacessolivretodaacomunidadeuniversitria (museu do conhecimento, msica de cmara, biblioteca geral, grande auditrio). Na verdade, ele havia recebido um esboo de implantao, elaborado pelo Escritrio Tcnico da Comisso do Plano da Universidade, que deveria lhe servir como base. LeCorbusiernointerpretouesteesboodaformadesejadapelacomisso.Em sua defesa do anteprojeto, o arquiteto d o tom de sua interpretao iniciando assim mais uma polmica:

(...)Umprojetodeocupaodoterrenofoidesenvolvido provisoriamentepeloscuidadosdacomissodeprofessorese compreendeaproximadamentetrintaedifciosdisseminadossobreo terreno da Cidade. OSenhorSouzaCamposdeclarou-meformalmentequeesteprojeto no possua nenhum valor e no tinha nenhuma outra inteno seno adedarcontaseoterritriodaQuintapoderiareceberosservios universitriosprevistos.Euouvicomprazerestadeclaraopois continuoaafirmarqueumaimplantaocomosedifcios disseminadosnoterenodaQuinta,edifciosdispostosemmosaico, com orientaes diferentes, seria um desastre arquitetnico. O plano queme foi mostrado o prprio terrorarquitetural, mas eu jnotenhonenhumainquietudepoisoSenhorSouzaCampos declarou que este plano, em seu esprito, no tem significao.3 Ora,osdiretoresdoEscritrioTcnico,emrelatriode13deagostode1936, reagindo ao projeto de Le Corbusier, registraram que a real afirmao de Souza Campos foi a dequeosestudosforamelaboradosantesdaescolhadoterreno,emumbreveespaode tempodeduassemanas.Aafirmao,entretanto,deausnciadevalordestesestudosem funo do tempo seria uma concluso equivocada, j que representavam ideais da Comisso e tambmforamdesenvolvidosseguindoosprincpiosadotadosparaareapeloarquitetode renome mundial, Marcello Piacentini. Talvez inocentemente os professores compararam a proposta de Corbusier com a dePiacentini,sementenderagrandedistnciaentrearespostaurbanadestesdoisgrandes arquitetos. E aqui que entendemos um pouco mais a polmica que marcaria a divergncia de visesentreaComissodeProfessoresrepresentadapeladireodoEscritrioeLe Corbusier. A implantao de Le Corbusier claramente diferente de uma cidade tradicional: osblocosdosedifciossosoltosnoterreno,noexistemruasmasautopistasdecirculao rpidaindependentesemrelaoaosedifcios.Napartesuldoterrenofoicriadaumamassa construdaque,aoacompanharoslimitesdoterrenoeporconsequnciadaprpriarua, define, juntamente com esta e os edifcios construdos do outro lado, uma rua tradicional. Esta posturademonstraodesejodeLeCorbusieremcomporumnovocenrioparao enquadramentovisualdasedificaesdaEngenharia,Belas-ArteseArquitetura,talvezpor considerar as construes existentes de m qualidade. Para Matheus Gorovitz, em seu livro Os Riscos do Projeto, a implantao de Le Corbusier foi principalmente direcionada pela linha frrea, (...)Defato,nocremosnosequivocaraoaventarahiptesedeque umadasprimeirasdeliberaes,aquefixaaorientaodominante adotadaparaamalhaeparatodasasedificaes,sebaseiana orientaodostrilhosdaviafrreaqueatravessaoterreno refernciapreexistenteaolanamentodopartido.Emdecorrncia destadeliberao,aestradadeferroseincorporacomoelemento inerente,articulando-seorganicamentecomosoutrosaspectosdo projeto (...). (GOROVITZ, 1993) Este princpio de projeto (a linha frrea) foi definitivo para o lanamento da malha deviadutos,aindaqueoprincipalcomponentedopartidodeCorbusierpermaneanos espaos vazios e nas vistas longas. importanteassinalarqueoprojetodeLeCorbusiernolevouemcontaa orientaosolar,oque,porsinal,foimaisumadascrticasdaComissodeProfessores.O eixoadotadopeloarquiteto,acompanhandoalinhafrreaecomasarquiteturasemsentido norte-sul,representaapiororientaoparaoestudonostrpicos.Asuaoposebaseouno usodearcondicionadoemtodasassalas.Essacrenanopoderdasmquinas,enas revoluesqueelaspoderiamcausarnaarquitetura,umadasprincipaiscaractersticasdo pensamentodoarquitetonestesanos.precisodizerquemesmosuapropostadaredede viadutos se baseia nesta viso de mundo. Ovaziocentralcriadonasuapropostatemaintenodeliberadadesefazerum espaoondeasvisadasparaoentornoprivilegiariamoolhardequemestnaUniversidade. Seuprojetofoitambmconcebidoparaseverdecima:justamenteomovimentoentreos diversosedifciosqueconformamoespetculoarquitetural,comoeleprpriodescreveem algumas frases de um de seus croquis: (...) O espetculo visto do teto do museu / bela vista, mas no to bela quanto ao cho. (v-se a feira do subrbio) (...)Devemos contar com os espetculosdearquitetura/Levantarosolhos(6ou9mdealtura,oumais)captaro acontecimento plstico (SANTOS, 1987, p. 163). importantefrisarqueosedifcios,emboraimportantes,dividemacenacoma paisagemnaturalque,emseuprojetoparaaCUB,presenaconstanteemtodasas perspectivas. vista do museu do conhecimento e da esplanada das 10000 palmeiras imperiais vista da Faculdade de Medicina vista do Clube dos Estudantes Plataforma sobre estrada de ferro (grifo nosso)(CORBUSIER, 1979,p. 42) Mesmotendoumelementodegrandeimportncianofinaldacomposioao norte o hospital em relao aos edifcios ao sul, Le Corbusier subverte esta leitura ao fazer aperspectivaprincipalnosentidonorte-sulvalorizandoassimapaisagemdaBaada Guanabara . vista geral da Cidade Universitria do Brasil (grifo nosso)(CORBUSIER, 1979,p. 43) Todas as visuais so liberadas para o horizonte, apenas dois edifcios so verticais osuficienteparasedestacaremnacomposiooHospitaleaBiblioteca.Oprimeiro bloqueiaapenasafacenortedoterreno,ondenohinteressenapaisagem,eosegundo colocadodireitadavistaqueLeCorbusierdefinecomoprincipal,oquereforaasvisuais para o Corcovado e as cadeias de montanhas em direo ao mar. O Museu do Conhecimento noseguecompletamenteoesquemadoMuseuMundialde1928(ouseja,umaestrutura espiralada-piramidal) porque, neste caso, seria mais uma interrupo na paisagem. EstapreocupaodeLeCorbusierfoiexpressaporelemesmoemumacartaa Carlos Leo quando, em 1939, fica sabendo que este ltimo estava responsvel pelo escritrio tcnico da Universidade. Nesta ocasio, o arquiteto francs expe suas crticas ao projeto de Lcio Costa principalmente sobre o aspecto que mais o incomodava, (...) Esse projeto preocupava-me, de um lado, pelo fato que os prdios pareciam-memalorientados,querdizer,tampandocompletamentea perspectiva para a luz e para as montanhas, e pela implantao muito fechada dos mesmos. (SANTOS, 1987, p.191) Defato,LcioCostadesenvolveumprojetoque,vistosobestecritriodeLe Corbusier,seriaexatamenteooposto.Emcartade31deDezembrode1936,oarquiteto brasileirocontrapeedetalhaaindamaisasdiferenasentreaspropostas.LcioCosta escreve, (...)Nodia12deoutubroapresentamosaCapanemanosso anteprojetoque,emconsequnciadoseu[LeCorbusier],adotava entretantoumpartidoporassimdizeropostoadaptando-ses circunstncias: em lugar de uma vista imediata e grandiosa de todo o conjunto,impressesquesedesenvolvemsucessivamenteduranteo percurso do campus. Dentro dos nossos limites e na nossa escala, o projetoestbom.Incorporamosdesdeagoraaoprojetoafimde tornarpossvel,maistarde,umaencomendaseuauditrio (SANTOS, 1987, p.140) (grifo nosso) EstascircunstnciassoesclarecidasemoutracorrespondnciaparaLe Corbusier,datadade12deJulhode1937,ondeLcio,depoisdedescreverqueteveapenas dois meses para apresentar uma nova soluo, ainda teve que se adaptar (...)s circunstncias, pois era necessrio encher o terreno de construes (SANTOS, 1987, p.143). QuandoaComissodeProfessoreschamaLcioCostaesuaequipeparao desenvolvimento de uma nova proposta, ficam expressamente claras as crticas implantao do projeto de Corbusier, deixando como alternativa para oarquiteto brasileiro a estruturao deumaimplantaoquedeveriaserpraticamenteooposto.Emumaentrevista,anosmais tarde, Lcio Costa reiterava, (...) Isso [a proposta] o resultado de uma imposio programtica dacomissodeprofessoresquequisconcentrar,aproveitaraparte plana,(...)queriamconcentrar.Entoresultouestacoisa concentrada.Ficouumexrcito,umatropa.Masinteressante,isso um projeto bem interessante. (GOROVITZ, 1989, p.21) EstasinformaessoimportantesparadestacarqueLcioCosta,segundosuas prpriaspalavras,noconsideravaaimplantaoespontneaeabertadeLeCorbusier comoumequvocoemuitomenosacreditavaqueaimposiodaComissoemfazeruma implantaomaisfechada,ocupandotodaareacentral,seriaumdefeitoapriori.Esta imposioajudouLcioCostaarefletirsobreoeixoque,nomnimo,tornou-seumgrande exerccio para o projeto de Braslia. Esteconfrontoatengraadoentreambasaspartes,comoLcioCostamesmo definiria, representa uma grande diferena na concepo espacial urbana dos dois arquitetos, queseestenderiaatmesmonoprojetodeBrasliaeChandigard.EmentrevistaaMatheus Gorovitz, Lcio Costa traa um paralelo entre as diferenas observveis no projeto da CUB e das duas capitais: (...)Chandigarhexatamenteaquelacoisaaberta,aquelacoisa belssima, coisa de uma fora extraordinria, aquela coisa fantstica. AgoraBraslia(...)esseplanodaCidadeUniversitriajuma espciedeembriodaconcepodeBraslia,porquevoctemali aquela coisa do eixo. O eixo muito marcado, (...).(GOROVITZ, 1989, p.10) planimetria geral do Capitol de Chandigarh (BENEVOLO, 1998, p.725) EcomentandoaprpriaidiadeeixonacomposiodaCidadeUniversitriaede Braslia, acrescentaria: (...)tudoissoacadmicono?meufundoacadmico.Vocno conheceaquelaestriaquecontamquenafaculdadeounuma escola... Ento tem aqueles questionrios, que eles tm mania de fazer questionrios para os alunos responderem, ento pediram a indicao de um arquiteto brasileiro do sculo XIX, ento um deles botou Lcio Costa.Elesemquererestavafazendoumamancada,masacertando noalvo,porqueeudefatotenhomuitodaformaoacadmicado sculoXIX,inclusiveatessapaixoporParis.(GOROVITZ,1989, p.23) Eixo Monumental de Braslia (COSTA, 1997, p.312) Asvisadasemseuprojetosopreferencialmentefocadasapartirdograndeeixo.O morrodoTelgrafoeomorrodaQuintadaBoaVistasopraticamenteignorados,poisa paisagem que interessa ao arquiteto brasileiro justamente a paisagem construda vista deste longoelementodeestruturaodoseuexrcitodeedifcios.Oeixobuscaatenderas necessidades internas do mesmo - conexo entre partes definidas, conforto ambiental - sem se preocuparcomolongnquoperfildacadeiademontanhasqueenquadramaBaada Guanabara.Aquitambmasperspectivaspodemcolaborarparaestaanlisequando percebemosquerestringemseufocoapenasnoselementos projetados. perspectiva prticoperspectiva Aula Magna-Auditrio(COSTA, 1997, p.184) DomesmomodonotvelquenemmesmoquandoLcioCostacomentaostrs elementosquecompemopartido,ouseja,aorientao,acirculaoealocalizaodos edifcios centrais, ele faz referncia paisagem.O eixo, por sua vez, se apresenta como resposta ideal para estes trs elementos:Sua direo feita a partir de um estudo do grfico solar do professor Domingos da Silva Cunha que dava algumas diretrizes para o projeto. A preocupao com a questo solar j eraumantigotemadetrabalhodeLcioCostaemboapartedesuadefesadeuma arquiteturaquealiasseoespritomodernocomasliesdopassado,verificamosa valorizaodeelementosqueamenizamoseveroclimatropical.Quantonecessria circulaocitadanotextojustificativodoprojeto,estaquestotambmresolvidapelo eixoquefavorecefcilacessosdiferentesunidadeseumaligaomaisdiretaentreelas. Ora, com isso, tambm resolve-se a questo da localizao dos edifcios centrais, pois todos osblocosconstrudosficamemposioprivilegiadaparaacessoeescoamentodegrandes massas. Lcio Costa demonstra a importncia do gesto do arquiteto na construo de paisagem prpriaaofazerograndeeixocomosedifciosemformadepeloto,definindoe direcionandooolharemrelaoaoquedeveservisto.Principalmente,eledemonstraa importncia que atribui ao controle dos diferentes trajetos, sobretudo, o do pedestre. Assim,nesteespaoqueeleprpriotemiasetornarmontonooeixoprincipal-, LcioCostaprojetaseisimpressesdistintasdopedestreduranteopercurso,criando diversidades espaciais no trajeto. sistema de impresses no projeto de Lcio Costa planta de situao (COSTA, 1997, p.183) (grifo nosso) Esseprocessorefleteumapreocupaocomumarelaodeescalapretendidapor LcioCostanograndeeixo.Otermomonumentalerapalavradeordem,masquando entramos nas laterais deste eixo a escala se torna menor e mais proporcional ao homem. Lcio Costa procura ter o maior controle possvel dessas sucessivas sries de relaes e escalas que deveriam sensibilizar os usurios da CUB.naslateraisdoprojetoqueoarquitetotrabalhaaquestodosptiosapartirdeum problema de implantao: (...) como conciliar com efeito, a convenincia de uma planta uniforme oquespodeadmitirumaplantacontnuacomasvantagensdo isolamentoquesubentendeumaplantafechada?E,poroutrolado, como aplicar o aspecto atraente dos ptios tradicionais, quando estas reas internas vem sendo h muito condenadas, e com razo, em toda parte?queoptio,construodepoucaalturaquasesempre vazadanotrreoperdeessecarterdeaconchegoerecolhimento que lhe peculi