Livro 02 - A Ordem do Silêncio

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A ORDEM DO SILÊNCIO Poesias

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MARIA DA PENHA BOINA

A ORDEM DO SILÊNCIOPoesias

MPAC DESIGN EDITORA

Espírito Santo, 2014

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Edição original: 2014Copyright © by MPAC DESIGN LtdaCopyright © by Maria da Penha Boina

COLEÇÃO MPAC DESIGN - 2014Editores: Antenor Cesar Dalvi e Maria da Penha BoinaCapa: Antenor Cesar Dalvi e Maria da Penha BoinaFotos: divulgação

Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou sistemas magnéticos recuperáveis, sem permissão, por escrito, do Editor.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação(CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Direitos desta edição: MPAC DESIGN EditoraRua Dulce Brito Espíndula, 72, Jardim Camburi, Vitória - EShttp://vergeldebits.blogspot.com(27) 3336.4916Impresso no Brasil - 2014

Boina, Maria da Penha SILÊNCIO, A ORDEM DO: Poesias;Maria da Penha Boina; Vitória, ES.MPAC DESIGN Editora, 2014. 93p; 19 cm. ISBN Não requerido

1. Poesias Brasileiras 2. Poesias Capixabas

CDD-Não requerido

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Já deixei bons livros para trás e os perdi, já deixei pessoas que amei para trás e também as perdi, mas o que mais me dói foi ter perdido os livros, eles não mudam de opinião sobre mim.

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SUMÁRIO

A ORDEM DO SILÊNCIO 15

AGONIA 16

PEINHA 17

MARIA 18

PROMESSA 19

PERTURBAÇÃO 20

PANO DE FUNDO 21

ERROS 22

DESENGANADO 23

ÚLTIMO DOS NEANDERTAIS 24

LUSO-FUSCO 25

O LAÇO E O NÓ 26

AMOR I 27

AMOR II 28

AMOR III 29

CASTIDADE? 30

SILÊNCIO PERVERSO 31

MULHER 32

CORRUPTO 33

CRITICIDADE 34

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ESPÍRITO SANTO 35

ARLINDO VIDA’BOA 36

SEM ANALOGIA DE ALMAS 37

AS BARATINHAS 38

MONSTRO 39

SEGREGADA 40

LIMITAÇÃO 41

VERDUGO 42

CONDENADO POR SI SÓ 43

ELEGÂNCIA 44

SUBLEVAÇÃO 45

SUA EXISTÊNCIA 46

SEM FIM 47

DESEJAS-ME 48

RELACIONAMENTO 49

INVÍDIA 50

TEMPO 51

MUROS DA VIDA 52

ESPERANÇA 53

MEIO CAMINHO 54

HOMEM DE RUA 55

AMIGO 56

ARMADILHA 57

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AMIGA ANACONDA 58

REPRESÁLIA 59

SAÍDA DA VITRINE 60

VEJA 61

COVARDIA 62

MAL TEU 63

PORTO MAIOR 64

ÓCIO 65

CONHECIMENTO 66

FAÇA 67

MULHER 68

CONFORTAVELMENTE 69

CINQUENTA ANOS 70

VERGONHA 71

SEGREDOS 72

LICENÇA POÉTICA 73

CASAR 74

MULHER DE ESCORPIÃO 75

RATO 76

NOVOS TEMPOS 77

METAMORFOSE 78

E AGORA? 79

PARALELAS 80

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PROSTRAÇÃO 81

DIÁLOGO AOS CELULARES À BRASILEIRA

QUE OUÇO TODOS OS DIAS E, É MAIS

OU MENOS ASSIM: 82

CHÁ 83

EGOÍSMO 84

DO MEU AMOR AO ÓDIO POR BETH 85

VERGEL 86

AO MEU OU MINHA, AUSTRALIANA 87

VAIDADE 88

FALSA FILOSOFIA 89

CAIÇARA 90

DA NEUROSE À PSICOSE 91

ESTÉTICA 92

TACITURNIDADE 93

LÓGICA DO LOUCO 94

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Tenho hoje uma nova maneira de ver o mundo. As cacetadas da vida nos ensina que devemos enfrentar as realidades duras e sofríveis. Devemos tomar decisões para podermos viver a exatidão de cada vértice, mesmo que não seja a melhor decisão.

Sempre que toco com a ponta do dedo indicador na água uma gota se prende. Fixo os olhos e vejo a minha vida a passar dentro dela.

Sempre que entro no elevador e subo, os pensamentos voam e tenho a sensação de subir aos céus, quando desço, chego ao térreo.

Não quero nada do quanto posso, mas quero tudo do quanto desejo.

Não leias mais às escondidas o que escrevo,Não mostres mais a tua burrice que já conheço,Ao ler sem saber interpretar.Não, nunca fora amigo e muito menos amante,Tu és um espaço vazio no horizonteQue Deus se esqueceu de completar.

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A ORDEM DO SILÊNCIO

Talvez seja tarde para ficar pensandoEscrever e, cair em sufrágio o leitor.Então indago na proposição o silêncioA não procura da hipótese verdadeira.Predestinado ao nada fic a alguémQuando o silêncio comanda a minha intuição.Em conflito eu entraria neste momento,E provaria do meu rancor.Essa repugnância logo lhe diriaA montante o seu valor.Não! Não tenha então esse direito supostoQue de nada irá adiantar o seu esforçoSua vaidade não terá razão.O meu sentimento abortadoDeixou o espaço ao meu lado desbotadoSem guardião para a minha base.O que faço agora neste cair da tarde?Abro a guarda à ocupação.

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AGONIA

O fardo que carregas agoraNão é nada perante o que está por vir.Estarás na sofrível lida para tirar a nódoaDo esfregaço criado pelo vinho derramado.

O que desejas que eu te dê agora?O esquecimento, a dor em que agonizei...A saudade desgarrada...Não, dar-te-ei a verdade mais temida.

Dou-te a liberdade e o que ela oferece,A natureza rústicaO cheiro das flores do agresteA esperança mórbida da vida terrestre.

Tens tudo nas mãos para delinear a tua históriaE quem sabe achar a mais nobre pepitaQue rola nas águas esquecidas.

E o que mais te dou para te consolares?O bálsamo das palavras agastadasQue com elas curei as minhas feridas.

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PEINHA

Muito prazer sou PenhaIntitularam-me PeinhaUma coisinha sem senhaQue não se embrenha.

Muito prazerSou quem equilibra a barrenhaNa péinhaNão tem quem detenha.

Muito prazerGosto da sombra da carrasquenha,Tampouco me importoDe vestir-me com estamenha.

Muito prazerSou pequenininhaSe contenha...Que não sou inhenha.

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MARIA

Desistiu do teu jeito empertigadoTudo toca no teu íntimoDesse mundo conturbadoAmarrotado, desconcertadoIntricado e mal amadoQue não há quem possa conduzir.Ah! Maria, MariaSempre esteve no teu âmagoSem contrariedadesQue sempre forasEspecificamente cosmopolita.

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PROMESSA

Prometi! Então, não vá me deixar,O resto são as queixasPara suportar as madeixasQue passaram em suas mãos.

Promessa feitaNão admite desleixoTem de cumpri-la com respeitoSó assim, cura o desfecho.

É promessa medida,Que encerrará a paciente esperaAcender-se-ão as velasE apagará a volatilidade da vida vivida.

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PERTURBAÇÃO

Eis que se abriu a primeira cortinaNada vi naquele palcoFiquei a espera e observandoO velho tecido que não sacudia.

Eis que se abriu a outra cortinaE nada vi naquele palcoEscutava a música de fundoInalando o mofo que ali envolvia.

Eis que se abriu a terceira cortinaNada vi naquele palcoUm zum zum zum acontecia na plateia,Reduzi-me a ler o encarte da peça de teatro.

Eis que se abriu a última cortinaNovamente, nada vi naquele palco,Agora havia um silêncio aterrorizanteMas era esta, a peça no teatro.

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PANO DE FUNDO

Saltei da tristeza à alegriaQual foi a magia?Foi o meu blefe à cilada.Resgatei a variávelDo modelo, já descartada.Foi no aguçar do pensamentoQue reformulei todo o problemaCom interações complexas do esquemaSimulei a resposta mais convictaDe não mais dar o próximo passo.Deixei o estratagema intactoDevolvi sutilmente o drama ao íntimoDo infeliz criador do artifício,Ficando por inteiro enredado.

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ERROS

Nunca me importei com os teus erros,Eles são vãos;Como poderia julgá-los- Perante os meus?Que tão vastos são...

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DESENGANADO

Existem em diálogos frases estreitas- Confia em mim – é uma delasPesa demais escutá-la.É perfeccionismo exacerbadoIdolatrando-se altruísta,Causa de referência execrável.No máximo, o aceitável,Seria alguém que pudesse “acreditar”...Afugentando um pouco o egoísmo.Abstrair-se dessa persuasãoÉ eleger-se convicto,É não deixar-se iludirAtravés do mecanismo dolosoDo anti-herói à conquista do apogeu.

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ÚLTIMO DOS NEANDERTAIS

A qual tribo você pertence?Deve existir alguma a que pertence...Mas não consigo decifrar qual...Não possui habilidade algumaNão caça, não pescaNão tem jeito, as mãos não fazem nadaO cérebro não criaNão tem religião e nenhuma crençaNão entende de políticaNão trabalha não se esforçaNão estuda nem pensaMas, deve existir uma tribo a que pertence...Qual?A tribo da ilusão?Da satisfação sem esforço?Da opinião sem o fato?Sem fato não existe conceito...A tribo dos necessitados?Dos vampiros?Dos pés descalços?Dos afogados em mágoas?Dos que vivem somente de solicitude?A qual tribo você pertence?Dos televisivos?Dos sem compromissos?Dos chateadores?Dos furtivos?A qual tribo você pertence?Dos amantes idolatradosOu dos sacrificados?A qual tribo você pertence?Do uso da muleta humana?Não, você ainda não possui uma triboÉ Homo neanderthalensisO que sobrou e se adaptouDa tribo sem evolução.

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LUSO-FUSCO

É tarde de final de verãoClima ainda quente, ardente,O dia cai numa rapidez de torrente,Nesse crepúsculo que precede ao anoitecer.Indago como fica a ternura nesse ocaso,Numa intriga perene,Literalmente, aguada.

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O LAÇO E O NÓ

Houve um enlace entre o laço e o nóTriste acontecimentoO laço deve unir num desateO nó retira a autonomia.Que exista somente o laçoMantendo a complacência entre seresMate o nó, para que exista alforria.

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AMOR I

Sinto por ti, amor sobre-humano,Amor que estas palavras não descrevemAmor de sentimento mais que profundoAmor que o próprio Deus desconhece.

Sinto por ti, amor!Amor cá de dentro...Amor de loucura e sofrimentoNum campo de força intransponível.

É tão grande o meu amor, amor!Que não admite o teu sofrimentoAmor que fala tão alto e sem orgulhoQue é incapaz de deixar-te sem alimento.

Sinto por ti, amor!Amor acima do meu tormentoAcima da dor que o meu corpo recenteSinto por ti, amor! Amor cá de dentro...

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AMOR II

Seu amor, amor!É amor frágilAmor possessivoAmor pequeno demais.

Seu amor, amor!Não é amor de lutaAmor consistenteAmor de pouca labuta.

Seu amor, amor!É amor para as “Helenas”Pessoas pequenasCom pequenos dotes que lhe interessam.

Seu amor, amor!É amor arranjadoAmor dependenteAmor de boteco.

Seu amor, amor!É amor passageiroAmor de agradecimentosNão é amor das Marias

Meu amor, amor!É amor que suplanta as suas baixas ideologiasQue perdoa a sua insignificânciaÉ amor cá de dentro.

Para o seu futuro amor, amor!Não serão os haveres aos quais pertenceQue superarão as suas doresSempre serei eu, que estarei aí dentro.

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AMOR III

Se for amor o que sente por mimEntão fique caladinhoRespire bem de mansinhoFale baixinhoPara não espantar os coelhinhosPara não afugentar as borboletinhasPra não quebrar a taça de vinho.Amor é assim, silencioso,Sentimento sentidoÉ sem fim.

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CASTIDADE?

Mantive-me em castidadeDurante anos a fioPara não trair pelo carnalMantendo a jura ao falo divino.

Ora, não foi possível,Em saber por terceiros, tão grave desleixo,Por quem tive apreçoE deixou-me a ver navios.

Não suportou o enorme desejoEm derramar o líquido quenteCom prazer veementeEntre as coxas das alcoviteiras.

E eu, diante de tamanha negligência,Purificada ficaria?Oh! Não, não tenha tamanha presunção,E não me acuse com as suas queixas.

Que imaginação asquerosaTipo, homens de Atenas.Que ingenuidade ordináriaImaginando existentes as melenas.

Meu caro!O tempo remontam outrosO que desejas para siÉ imagem e semelhança para o outro.

O que dói é saberQue outras dores iguais, provarás,Se não modificares esse cérebro nefastoE não aprenderes a perdoar.

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SILÊNCIO PERVERSO

Ações são acontecimentos naturais,São as previsibilidades conforme as assimetriasQue quando passado algum tempoTornam-se plausíveis.

Quando a fala articula argumentosExtravasam-se inquietudes perturbadorasEntra-se ao final em cooperação mentalNum entendimento consensual.

A voz deve dizer o que não se quer escutarAo anunciar muitos dissaboresMas, pior é o mistério e inação,Que prepara golpes aniquiladores.

Atormenta muito, o mundano silêncio,Feito, integro por perversão,Porque quem cala, consente a alguém imaginação,E nessa calada, escuta-se golfadas de intenção.

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MULHER

(Para Elizabeth Boina)

Como é linda a mulher que passaPassa todos os dias na mesma ruaAlta esquia e límpidaBrilhante como a lua.

Meu Deus! Quem é a mulher que passa?Num balançar singular de cinturaQue o meu olhar se distraiE o meu compromisso descontinua.

Que desejo ardente que tenhoE não posso fraquejarSerá que alguém sabe me informarQuantas primaveras já se passaram por ela?

Procurei saber um pouco maisE alguém confiante e clarividente, disse-me,E mulher da mais pura desenvoltura.

Não caia nessa, amigo,É mulher dos anos cinquenta que desfrutaDa inteligência, beleza e plenitude infindas.

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CORRUPTO

No mais nobre terno de linho brancoCaminhando no deserto vazioCabeça alucinadaA duna era um palco.No seu topo e decentementeA boca seca como depois de um porreDe aguardenteDeclamou versos de BandeiraÀs areias infinitas.Testamento era o poemaSentimento agonizante da vidaMalfadado, desventuradoCalamitosa sina.Reina o condenadoCom acabrunhada colheitaDum monólogo terminadoSem aclamação.

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CRITICIDADE

Aos tolos e iletradosFalsos leitores de poesiasJulgam-se interpretes inatosNa sua horrenda analogia.

As artes nascem de esforços hercúleosDa solidão à perseverançaEngaiolada num verão de janeiroDesabrocha a criação.

Muitas vezes vivo o que escrevoMomentos que trago à clausuraOutras vezes do nada sai o pensamentoSão palavras que se amoldam com formosura.

Os asnáticos nunca saberãoO que escrevo é somente à minha interpretaçãoO que eles leem...Não é mais a minha poesia.

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ESPÍRITO SANTO

Espírito Santo, Estado da região sudeste,Que no mapa do Brasil quase não aparece,E que deve mesmo ter o “espírito santo”Para não ser engolido pelo Atlântico.Tem por capital o nome de rainhaVitória, vulgarmente, Vitorinha,Menininha lindinhaMisteriosa, uma ilha.Aqui nascidos, somos tupiniquins,Capixabas do roçado para milho e mandioca.Os nativos com os imigrantes se entrelaçaramFormando uma raça compatriota.Dos imigrantes, o quê dizer?Português a procriarFormando a etnia popular.Raças puras... Os alemães a labutarA beleza italianaPara o mundo se encantar.Têm as praias, que lindeza!A Bacutia, com a sua elegância,É das pessoas belas da nobrezaÉ de entusiasmar.Quem aqui vem, nunca mais volta,Porque aqui, Deus não escreve por linhas tortas,É o “espírito santo” a comandar.

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ARLINDO VIDA’BOA

Arlindo Vida’Boa fugiu da crise econômica de seu país,Veio tentar, outra vida boa, aqui pelo Brasil.Fincou pé numa metrópole, de águas quentes e boa brisa,Esqueceu-se de se abstrair da realidade convincente das grandes capitais.Os arredores são cruéis, não são pintados a pincéis.Arlindo Vida’Boa!Não é de brisa que se vive em terras de coronéis.

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SEM ANALOGIA DE ALMAS

Sou puro sentimento, sou mulher,É na constância sentimental que alimento a minha alma,Os céticos que a lê, dizem que em mim não existe.

Digo com solidez que a vida não é arbitrária,Tenho como princípio o antagonismo,Para alimentar o meu sentimento, ajo com a razão.

Sou uma imperfeição de pessoaTenho como causa primária às exceçõesProfano as regras capazes de eliminar a minha abstração.

Quem comigo conjumina, leva-me a uma triste impressão,De tirar-me o privilégio do desvio, do habitual.Quem clarividência minha alma, elimina a minha consciência sutil.

Não aceito esse dogmatismo que dissimula a minha regaliaSou uma semideusa, assim, onipotente,Tenho uma alma conceitual sem similitude.

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AS BARATINHAS

Não gosto de baratinhasDe nenhuma delas precisamente,Mas existem as francesinhasSão traquinas, brincalhonas,Correm velozmente.Por saberem do meu dissaborInsistem em serem minhas amiguinhasFicam a brincar comigo persistentemente.Quando no joguinho eu entroE empunho a vassourinhaAs danadinhas todas afáveisCorrem e imergemPara dentro do ralinho.

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MONSTRO

Homem que possui o domínioEleva-se de formosa ternuraCom palavras simples e agradáveisEmana a delicadeza das plumas,Olhos claros, límpidos,Que encanta o femininoCom os louvores da doçura.

Homem que o domínio perdeNo cume do ciúme enraiveceComo fera ferida enlouquece.As paredes ressoam sons monstruosos,Torna-se pétreo à doçuraE olhos matam as pessoas que mirar.Mentecapto na humanidade já insana.

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SEGREGADA

Por estar sentada, trabalhar, construir e pensarEscrever e exaltar sentimentos inerentes ao meu serDecidir, externar, incomoda?Sim, torno-me inoportuna.Sei que sou pouco, quase nada,Diante de tudo que me circunda.Mas ser capaz de corroer minha essênciaAtravés da inveja e críticas infundadasPela fala que fere mais que bala.Não, assim não vale nada,Não poderei tirar proveito desse juízoÉ ironia impensadaDe quem julga livros pela lombada.Diante de tão pequeno discernimentoDou imenso valor em estar segregada.

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LIMITAÇÃO

Tenho uma coisa assim, sentida,Que não pode ser entendidaMas causa desilusão.

É de fato coisa sériaTraz sensação deletériaQue melhor, não professar.

Caminhando com graça, vou seguindo,Com diadema ornando a cabeçaE os pés encaixando na estreiteza,Entre as valas do caminho.

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VERDUGO

Foram tantas as injuriasForam tormentas ensurdecedorasQue matou o prazerEm que se deliciavaO imolado morreu,Gritar, não é mais preciso.Por certo, sente um vazio,Escapou entre os seus dedosA sua sensação mais deleitosa.Não sofra por essa perdaNovos caminhos sempre se abremPara outros desatinados.Viver de rancor é a sua bravura.Portanto, não fique abatido,Sua caça não será debalde.Para os seus gritosOutros ouvidosEntrarão em dissabores.E como carrasco que éDeliciar-se-á certamenteNa perversidade que irás causarNo próximo desavisado.

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CONDENADO POR SI SÓ

Que lindo o mundo dos computadores e das tecnologiasQue linda a nanotecnologia,Vamos com ela a todos os lados.Tu não podes utilizá-las?Mas o quê aconteceu a ti?Naufragou neste mar revolto?Fez coisas que te prejudicouE agora estás no submundo tecnológico?Usou-a de maneira incorretaTrucidou a descobertaE acabou com a própria liberdade,Usando codinomes e tornou-te um stalker?Porque será? E que belo codinome utiliza!Casou com uma pequena, ilegalmente,Usou pessoas como amantes para o próprio bemAniquilou a própria personalidade.Que pessoa medíocre és tu?Imagina que o telefoneNão registra a montanteTudo o aquilo que dizes?Ainda não percebeu que tens um chip incrustadoNo teu antebraçoE tens por merecê-lo.Não adianta mais a suas artimanhasA falta de fotos e e-mailsAs cartas que nunca envias,E tudo mais que tens a esconder.Os Juízes são absortosSeus ordenados são por merecer,Portanto, não darão folga,As pessoas de vida torta que os subestimam,Eles o colocarão como condenadoE verás o solNascer quadrado.

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ELEGÂNCIA

Senta-te a mesa mais sofisticadaCom os talheres postos à francesa,São tantos os adornos sobre o corpoQue confunde o brio da nobreza.

O que queres dizer com tanta altivez?Guardados nos inúteis pensamentos acresCom gritos no olhar silenciosoE semblante de vileza?

Perdeste a faculdade de julgar,Não sabes conceber a elegânciaQue se apresenta como atributo mais sutilNa mímica da prudência e da leveza.

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SUBLEVAÇÃO

Não te espante DoutorEssa é só a minha dor,Mas não toque o dedo na feridaSão os ais... Da minha vida.Observa DoutorAs minhas cordas vocaisNão são como as cordas das harpasSão pregas fenomenais.Os ais que grito e ouvesSão bem postosNão duvide, eu não gosto,São ais... De toda uma Nação.Não te engane DoutorDiagnosticando essa minha rouquidão.Terás de dar o mesmo diagnósticoA toda população.Admita doutorQue será muito difícil encontrarEste mesmo sintomaEm outros Doutores, discricionários.Encontro-me doente Doutor?Os meus ais não serão escutados?Não existe paliativo para essa dor?Ah! DoutorSe a dor vai continuarVou subir no mais alto dos montesSerão tantos os meus gritos em aisEmitindo ondas sonorasIntensamente vibrantesQue perturbará as cordas das harpasFazendo-as tocarMúsicas infernais.

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SUA EXISTÊNCIA

Sua existência me confortaNão importando saber se você,Está rico ou pobreMagro ou gordoCom a aparência mais jovem ou envelhecidaFeliz ou infelizAcompanhado ou sóViajando ou enclausuradoComendo ou minguandoNervoso ou apáticoCom saudade ou desprezandoDrogado ou de caraOrando ou resmungandoSendo assim ou assado.Assando.O que mais me importaÉ você existir,Para que não desapareçaEste ser inconsequenteQue se tornou a minha fonte inspiradoraDos meus momentos mais sublimesEm que deslizo os meus dedos no tecladoCriando poesias.

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SEM FIM

O que você está fazendo aí parado em pé?Para onde te levará essa fila?Você tem certeza se ela terminará?Sabe o que irá encontrar?Sinto que você está bastante ansiosoObservando e esticando o pescoçoE é uma fila indianaParece mais uma romaria.Suas mãos estão suadas?Porque o seu corpo se move constantemente?Será algo que você não poderá perder?Existe uma hora marcada para chegar ao fim da fila?Você está entorpecido por isso?Tem de alcançar?Você agora externa pela face certa raivaSeu semblante mudou muito,Foi pela certeza das vozes em sua mente,Que disseram que não mais chegaria?Agora você está agonizando na fila,E olha para trásNão existe mais ninguém?A fila anda lentamente e você é o último da fila?Não adianta se penalizarNada mais fará diferença,Você se apossou da fila erradaEla não tem fim nem começoÉ uma fila em espiral, infinita.

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DESEJAS-ME

Desejas-me como quem deseja colher camélias em vasos de varandaComo quem sonha em surfar na mais alta das ondasOu escalar a mais íngreme montanha.

Desejas-me como quem deseja chegar por teletransporteComo quem conta com a sorteOu desconsidera a morte.

Desejas-me pela ilusão do quererPela fantasia do egoOu imanência e transcendência de poder.

Desejas-me sem as caméliasCingido pela epopeiaTransmutado pelo épico.

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RELACIONAMENTO

O relacionamento acabou mas existe amor?O ódio, a vingança se apresenta.E o vazio? Que tormenta!E chora-se e ri-se.O corpo fica esquálido.Os olhos não veem os campos, as ruas e as cidades.Não se escuta os cumprimentos, são sussurros desnexos.Quer-se a amizade?Não, não existe possibilidade – É amor.Sente-se a senhora de cetim negro, mais próxima.Caminha junto a todos os passos.Então o que é melhor?Lembrar-se que a vida é uma peça de teatro,E o vivido não foi mais que meio ato.

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INVÍDIA

Estou tão longe,Longe dos espíritos mausMas, que possuem uma fúria de bestas,Que ecoam sons a esgoelar.

Esbravejam o meu nomeNa esperança de secá-loCom um amor de invejaPrestes a lhes trucidar.

Não, não mereço tanto amor assim,Não mereço que vivam a mim,Não se degolem aindaA hora não se faz.

Sei que sou este mal necessárioQue suplanta os desejosAlimentando ódiosNas meninas dos olhos.

É sofrimento que abundaNos sorrateirosQue não possuem espírito próprioDesejando ser a mim, por inteiros.

Ainda hão de se enganar,Competir com a minha valente almaRequer hercúleo esforço, e o meu espírito,Não lhes irão encarnar.

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TEMPO

Você achou que o tempo não passaria?Tentou se convencer de que nada aconteceria?Fez com que o seu cérebro queimasse no alto-forno?Esqueceu-se de que o fogo queima?Mas o produto escorreuPetrificou com o arTentou a picareta para quebrar e nadaTentou um componente químicoMas a química não permitiu que se liquidificasse novamentePronto, você envelheceu e ficou pronto.Nada mais é capaz de modificarNem os vermes conseguirão devorarE você ainda nem percebeuQue o tempo passou e se foi para bem longeNem é capaz de processar lembranças e a dor aumentaMas o que solidificou nem pensaSó sofre e nem sabe discernir em que consiste.

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MUROS DA VIDA

Você deveria saber que para as pessoas civilizadasE em mundos civilizados,Existem tendências de derrubar muros.Então como você pode imaginar-se civilizadoPossuindo a vertente contrária?Criando um muro tão elevadoQue é impossível transpor.E se um dia o seu muro cair?Como você irá olhar para o outro lado?Com a mesma estupidez, coragem insossa,e imperícia que o fez construir?Ou já tem na ponta da línguaAs evasivas para o diálogo?Possui tanta presunção de achar-se assim tão diplomático?Você acredita que para a sua indulgênciaEncontrará complacência?Você deveria saber,Que em todo ato de indiferençaNão existe a possibilidade de encontrarDo outro lado do muroPessoas solícitas e afáveis.

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ESPERANÇA

Não nego que tenho esperançasFico a espreita para uma brechaAlucino à beça.É o meu estágio de loucuraPermanecer aqui sentadaToda de verde e imóvelA pugnar o nada.Vejo a luzÉ vermelhaMas afunda lentamenteE vai ficando cada vez mais negra.Qual a cor que se apresente?Não, não sou inconsequente,Tem de ser a transparente,Que nas profundezas do marSobrevive resplandecente.

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MEIO CAMINHO

O laço está apertado demais?Não consegue fazer com que a corda deslize nas polias?Folgue um pouco, a escalada é longa.Mas não folgue tanto assimVocê poderá escorregarE você já fez um terço da escaladaE não sabe das dificuldades que virão.Faça uma coisa de cada vez no seu estribo de um degrauE bem planejada.Olhe para cima e veja os obstáculos.Não verificou o tempo?Chove e a pedra está escorregadia?Verificou o sistema de ancoragem?Você tem tantas primaverasMas é um novato.Você sai rápido demais para as suas aventuras.Agora já tão alto está com fobia.Olha para o lado e não vê ninguém para ajudar.Ficou a meio caminho penduradoEntrou num dilema sem conseguir subirNão consegue descer.Tome qualquer decisãoJá que nunca decidiu por nada.E hora de mostrar o seu valor.Grite peça socorroDesvincule-se da sua altivezOu prefere continuar na corda bambaPara não ferir a sua soberba.

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HOMEM DE RUA

Depois de anos continuava ele ali sentadoSempre a observar o nadaOu a pedir uns trocados.Sujo, imundo e maltrapilho,Na sua liberdade ambulanteDe súbito viu distanteUm brilho desconcertante.Levantou com certa preguiça dada pela fome,Caminhou lentamente,Abaixou e pegou o diamante.Ele não tinha por certo o que era,Mas a intensidade do brilhoFez guardar nos seus trapos.Assustou-se com o que ali perto ocorria,Aquietou-se nos seu espaço.Era uma batida policial por um assalto.Mandaram que se levantasseE acharam a pedra maldita.Perguntando quando a roubaraEle nem chegou a abrir os lábios,Colocaram nos seus pulsos e pés as algemas.E o levaram ao delegado.O desgraçado apanhara e fora preso,O pobre que nem sabia o quanto valiaA pedra que achara ao acaso.Agora lá sentado a olhar para as paredesQue nunca tivera um dia,Por causa de uma estranha pedra brilhanteQue para ele pouco valia.A pedra lhe tirou a vida de vagamundoA única liberdade que tinha.

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AMIGO

Amigo, o que queres de mim?Todas as melhores pedras incrustadas no marfim?Todas as minhas virtudes?Quantas cobranças que me faz!Pergunto ainda:O que tens para mim?Somente as loucuras dos seus lamentos?Nunca esquece as minhas conjecturas?Mas as suas, nunca haverás de lembrar?Amigo, esqueço sempre as nossas desavenças,Perdoo sempre, mas voltas a lesar.Em cada mau trato, uma pedra se desprende do marfim,A joia vai perdendo o seu valorFicando somente uma nuanceDe uma amizade hesitante.

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ARMADILHA

A dor moral é a pior das doresO estomago passa a ser uma úlceraVeneno que o aniquilou.São acusados,O importunante e o importunadoPois existem os que só veemApenas um dos lados.Com as atitudes malogradasArma-se o alçapãoE tolhe toda a sorte que poderia advir.

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AMIGA ANACONDA

Encantei-me por uma anacondaAcabei por adotá-laAlimentei-a com animais inofensivosVivos.Com o tempo fui me aproximadoToquei-a, escamosa e fria,Grande, aconchegante,Era tudo que eu queria.Começamos as nos enroscarEram toques suaves sem malícias.Nesses anos de convivênciaEncontrávamos sempre a luz do dia.Numa noite fria ela veio até a mimComo o remanso de um rio arrefecidoLento e vagarosoEsfregando sua texturaComo um gato preguiçoso.Deixei-a enrolar em meu corpo,Que de mansinho sentia a suas carícias.Fui sentindo-a bem devagarE encontrei-me em ardilosa companhia.Seu abraço estava ficando cada vez mais apertadoMeus pelos ficaram eriçadosOs ossos com uma sensação desagradável.Ei! Amiga anaconda! Gritei!Foi um lapso, não te alimentei.E ela não perdoouO meu engano involuntárioPela falta de comida.

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REPRESÁLIA

Eximir-se da atenção em momento delicadoDa hipocrisia e dissimulação de alguns Quando a alma lastima por medoE saber-se tolerante racional.

Os agastados necrófagos se alimentamDeste equilíbrio frágil que em alguém se apresentaPara mostrar-se viripotenteSobre esperanças já pouco alicerças.

Grandes heróis valentesInvocam a morte de um ente“Que morra bem distante”Para que não sintam o mau odor.

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SAÍDA DA VITRINE

Não pense que eu vou dizer um simSó para te agradar.Não pense que o meu nãoSerá para te prejudicar.Só pretendo ser assertivaNão estou no mundo para satisfazer.Não sou perfeitaPara que todos me admirem.Não tenho vaidade ao pontoDe querer ser unanimidade.Não gosto do que não gostoNão vou admirar o que não admiro.Não tenho que aceitar a tua opiniãoE isto não me causa constrangimento.Meu íntimo é libertárioIgualdade para todos.Não preciso de aceitaçãoEscravizando-me por opiniões.Parece sentimento tiranoO sincero é ofensivo.Mas, se assim eu não pensasse,Seria uma hipócrita só para terA tua aprovação.

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VEJA

Veja, a cada primavera o tempo vai se tornado mais cruel.O espelho em que você se vê está mais velho.A sua visão sem a mesma nitidezMesmo assim, o espelho revela as rugas da face,A flacidez do corpo.Veja a razão, é mais elevada que a emoção.Seus amigos também envelheceram.Parecem mais jovens que você?É que envelheceram juntos e não dá para perceber.As canções que você gosta são as mais velhasAquelas escutadas na vitrolinha.Veja os dias, estão mais curtos e as noites são mal dormidas.À vontade de realizar é grande e o corpo não responde.Os seus romances e paixões são coisas do passadoAgora só lhe resta a companhia sem seletividade.Veja o que fez de incongruente todo esse tempoO que plantou errado e não floresceu?Não adubou e regou para que florescesse.Veja o esforço mísero que fez em todo o tempoProcurando se calçar sobre um pilar sem sapata.Veja hoje o que o levou a esmorecer e a não fazerO seu ser não fez nada por merecer.Veja a sombra do seu passadoNo que se tornou o seu presenteA falta de um futuro.Veja o que lhe resta ao ladoNão é o bastante para o sonhado.Veja o seu ponto mais forte o elo mais fracoSeu calcanhar-de-Aquiles.Veja a vida como vivida com seus encantos de épocaO seu conhecimento ínfimoA sua sabedoria impotente.

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COVARDIA

Aprendi o que é covardiaÉ tentar penetrar no pensamento do outro.É tentar observar como o outro se sente,O quanto o outro pouco difama o que viveu.Sem que nada demonstre e permanece em sua segurança,Dos valores que já concebeu.Este é o meu ânimo traiçoeiro de viverSabendo que o outro não é meu.

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MAL TEU

Estás melancólico?Estás magoado por teres mentido?Mas a atitude não nega.Não é fiel a ti próprio?Fica embaraçado?Finge ingenuidade?Encontra-te acompanhado, mas em solidão?Trai a ti mesmo.Não és nem bom e nem mal?Estás sem essência para viver?Assegurou a sua alma?E a ti, perdeste.

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PORTO MAIOR

O meu édenO meu lugar de ócio, criativo.O menor mundoO mais vasto.O que não atormentaNão lamentaQue sustenta a almaQue faz viajar ao paraíso.A cada segundo uma corCom as suas nuances loucas.Histórias que nunca se repetemNum movimento contínuoDando a cada instanteO início à felicidade.E como melhor privilégioTodos os caminhos levamAo Porto Maior.

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ÓCIO

Sempre foi vigilante para o ócioPara fazer o que bem queriaFicar com a sua amada todo o diaViajar e viajar.Grandes são os prazeres inicialmenteCom o tempo um repenteO ócio passa a incomodarTodos os dias tudo sempre igualSem trabalho para realizarCom pouca habilidade para criar.As mesmas anedotasOs mesmos diálogosO senso comumDiscutindo novelasFutebol e pouca aquarelaA mesmice de fartar.O dinheiro ficando escassoA vida passando ao acasoUm enjoo de matar.

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CONHECIMENTO

A importância do conhecimentoTrazida das experiências vividasDevem ser passadas adiante.Não tem razãoGuardá-las a sete chaves,Isto não ajudaria uma pessoaOu uma Nação.Experiências levam-se anosA adquiri-las,E quando repassadasSe as são de negativasPassam a condená-lasComo se fossem maquinação.Não, não são,Foi a dor que se alojou em meio ao peitoDe cair em meio ao vão,E que alguém de alguma forma registrouPor escrito ou num contexto cerebral.Mas quando na ignorância se assentamAs pessoas não se apercebemQue não são conselhos dadosÉ critério é juízo,São conhecimentos vividos e literários,Que já estão prontos para protegê-las do itinerárioA que estão a se encerrar.É a proteção para não cair no mesmo erroDe quem um dia o cometeu.Mas quem destinado estáPara pagar com a sua experiênciaHaverá de se lamentar um diaPor ter ignorado todo o aramadoQue já lhe protegia.

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FAÇA

Está se lamentando de e do quê?Leia o livro que ainda não leuEscreva a carta que nunca escreveuDê a mão a quem nunca deuFaça o elogio que nunca fezDesculpe a quem nunca desculpouAgradeça a quem nunca agradeceuUse a tecnologia para o bemLamente menos e faça maisOlhe menos para o seu umbigoOlhe mais para o seu cérebroAinda dá tempoAme incondicionalmente.

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MULHER

MulherPorque estás ao meu lado?Escolhi a ti sem pensarNum espasmo de loucuraCom medo da solidãoAfoito e imediatistaAgonizo na mesma situação.Hoje noto que, não tens a idade que eu queria,Não possuis o corpo que eu pretendia,Não me agarro a ti com os olhos da paixão.MulherTira-me deste dilemaAinda preciso de ti,Que pretensão,Mas, o meu esquema,Por linhas tortas foi traçado.Não vês mulherQue o teu sorriso é outro sorriso marcado em minha memóriaTeu cabelo não tem a seda que eu imaginavaO teu cheiro vem de aromas artificiais,E o teu dançar não é o da minha bailarina.Mulher, o que te fiz, e agora não consigo,Ser honesto em dizer-teVai-te embora.

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CONFORTAVELMENTE

Escuta, falo baixinho...Estás confortável?A dor está menos intensa?Tente um sinal para que eu percebaFaça um movimento com os olhosSe não consegue por outra maneira.Deseja que eu levante mais a cama?Quer ver a luz da janela?Por favor, dê-me um sinal,A minha ânsia é muitaA sua não é?Como é? Agora estou mais curiosa,Como se sente agora?Tem luz, tem frio ou calor?Tem cor?Estás confortavelmenteEm sua nova dimensão?

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CINQUENTA ANOS

Sempre estive com o bit ligadoIsto a mim sempre foi ditoEsta analogia não foi um desatino,Acompanhou a minha anatomia.

A mente a mil estava conectadaA construir a cada momento.À inércia, só por estar sentada,De resto, nem melancolia.

Eis que os anos se passaramO bit de paridade foi interrompido.Agora me oriento pelo reversoE o foda-se foi disparado.

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VERGONHA

Tenho vergonha de ter acreditado em quem eu não podiaTenho vergonha de ter reverenciado perante mentes frouxasTenho vergonha de me ter deixado iludirTenho vergonha de não ter compreendido no momentoTenho vergonha de ter amado o ser fracassadoTenho vergonha de ter fraquejado perante o simplórioTenho vergonha de ter sido cúmplice de algumas pessoasTenho vergonha de ter sido substituída pelo vulgarTenho vergonha da minha falta de espertezaTenho vergonha de não saber decifrar no tempo certoTenho vergonha dos meus momentos de ignorânciaTenho vergonha de ter dito verdades a quem não mereciaTenho vergonha de ter tentado fazer crescer quem não queriaTenho vergonha de ter tirado o prazer de pessoas fora do meu alto nívelTenho vergonha de ter feito sofrer por issoTenho vergonha de ter investido mal os meus sentimentos.

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SEGREDOS

Sim, não nego,Tenho segredos e muitosNão são segredos nocivosSão particularidades de futuro promissorSão engenharias de construtosElementos de traços retilíneosDe uma visão límpidaCom grandeza de ânimoDe pura verdade e generosidade.Se descobertos ou revelados um diaA jura constituirá a essência do prazerDará lugar até ao ódio pela cisma que existiaPor não poder vingar o desejo contrárioDe uma imaginação que aos outros transmiteQue todo segredo por ser ele um segredoConduz a elementos contráriosPara a certeza do que é errado,Do que machucará.Os meus segredos são para os agradosO contentamento determinadoA alçar venturasPara o gozo do que é alvo de estima.

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LICENÇA POÉTICA

EscreverÉ a essência da liberdadeOusadia de pensamento sutil.Não quero valores de gêneros e estilosO barroco, o trovadorismo,O lirismo, o narrativo ou dramático,Nem mesmo o romantismo,Nada contesto destes e outros,São escritas de cada época no seu tempoQue escondem com sutiliza os sentimentosAssociado a uma ética social.Não quero a função poéticaAs rimas e emoção para encantarNão me importa se vem em prosa ou versos,Metafóricos para imaginar.Quero os momentos de criatividadeCom os sentimentos em devaneiosDar-me licença à poesiaQue nasce da autenticidade.

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CASAR

Hoje resolvi me casarNão com genteGente é coisa indecenteMagoa, fere e mata.

Não faz companhia quando se necessitaPerturba na hora do silêncioBate a porta no momento indevidoTira a concentração.

Gente é dependenteÉ o mais para o menosCondiciona o pensamentoSubtrai o pouco que tenho.

Principalmente determinadas gentesQue são as agentes sanguessugasQue não leem os parêntesesNo seu claustro foge pela tangente.

Casar-me-ei com a literaturaDe todos os tiposAs de brilho às aventurasÀquelas que desafiam o pensamento.

Essas sim são de grande valiaCausa provocação ao sentimentoFaz crescer e desenvolve muitoMuito o conhecimento.

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MULHER DE ESCORPIÃO

Profunda e misteriosaCom seus olhos penetrantesAté ao acender um cigarroMagnetiza qualquer homem.Mas o mesmo olhar que enfeitiçaDescobre os segredos dos mais reservados.Os seus elogios, para ela não cogitados,Serão analisados para as verdadeiras intenções.Sua fúria incontrolávelCiumenta e possessivaProfundamente vingativa.Perdoa com facilidadeAtos e fatos provados não intencionaisE manda no relacionamento.Se existe uma inquietação por traí-laNão há compaixão por ela medida.Irá alimentar várias mentirasPara fazê-lo sofrer até o chão.Manhosa como uma gatinhaCarente fragilizadaAo perder o controle das emoçõesO furacão entra em atividade.Ela poderá odiar amargamenteSua tamanha dedicaçãoE ignorá-lo totalmenteDepois de tê-lo destruído.

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RATO

Foge como um rato de esgotoCorre de um jeito meio tortoMesmo todo desengonçadoPula com facilidade os obstáculosDe um lugar fétido para o outro,Come o que vier ao alcanceE ainda acha que é gostoso.Mandrião cheio de talentoNa hora da guerraVira herói escondidoEm meio ao que está putrefato.Aumenta o seu portfólio de cobiçaPara ter muitas criasAgigantando seu exército de nojo.Seu cantar é um guincharDe dar arrepiosQue só pode encantarOutros ratos do mesmo escoadouro.

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NOVOS TEMPOS

Não estamos mais no tempo dos coronéisNaquele tempo que o homem tudo podiaEm que as mulheres escravizadasAceitavam as regras por intimidação,As pobres Amélias consumidas.Ainda existe por aí, homens coronéis,Que vivem no passadoAchando que indo aos bordéisAinda serão reverenciados.Pobres ignorantes do planetaIrão ficar somente embriagados.

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METAMORFOSE

Abriste a caixa de PandoraE agora, o que será de mim?Faça algo que acalante esses malesQue me está a consumir.Puseste-me neste desesperoNesta desconfiança bombásticaNeste desconforto intolerável.Sou essa borboleta pequenaDe asas incontroláveisIncerta dos desejos.Caça-me com a tua rede entomológicaTira-me dessa dança loucaA viver atrás de uma lanterna iluminada.Quero acreditar na luz e não consigoEla pode ser a minha maior inimigaMesmo assim a sigoE na armadilha posso cair.Desafoga-me dessa desconfiançaSem arrogânciaCom palavras de esperança.Faça de mim os teus desejosNão disfarce as verdades com lampejosPara fazer-me acreditar.Saia do teu invólucro de lagartaTransforma-te em borboletaVenha me beijar.

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E AGORA?

O que devo fazer agora?Lutar pelo que foi perdido?Ficar mais pobre de espírito?Jogar um jogo de cartas?

Empinar pipas na praça?Movimentar a pedra no xadrez?Olhar para a calopsita na gaiola?Ficar por mais tempo livre?

Ler um livro em português?Dominar a fúria que me consome?Mirar o míssel para além do horizonte?Colocar mais dinheiro no cofre?

Mandar flores por e-mail?Escrever cartas românticas?Ridicularizar as instâncias?Fazer mágicas?

Beber uma bebida forte?Olhar para o teto sem concentração?Sentir aversão por tudo isso?Enfrentar a flecha do inimigo?

Com muita coragemFicar na forca de frente para a multidãoSem reverenciar os aplausos e risos à agoniaQue estão a festejarCom o semblante mais brandoEscutando os risos e aplausos silenciandoNa minha mais sublime sensaçãoO ápice que se agiganta para minha bem-aventurançaQue estou a desfrutar.

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PARALELAS

Traço as retasInfinitas retas num papelBranco infinitoRetas que tendem ao infinitoNunca se fechamNão formam regiõesPoligonais.Nas equaçõesMais retas, retasPara onde vão?Já nem as traçoCom a réguaEssas equações das retasO dia inteiroNo cansaçoAcompanhando as retasAs paralelasComo no asfaltoFeitas pelos pneus do carroRetas para onde?Onde me levarão?Para o infinitoLá no finalO abismoMorrendo em meio ao vão.

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PROSTRAÇÃO

Os teus olhos estão vermelhos.E por que choras?Perdeste o teu amor?Já refletiste porque perdeste?Achou que tiveste dado tudo de tiMas não foi o suficiente?Agarraste no inútil pensamentoQue o concebidoJá era teu?Agora achas que ao trocar as fotografias dos porta-retratosTrará as forças para esquecer?Olhará para eleO quê verá?Não será a nova foto que irá entrar pelas retinas de teus olhosÉ a que já está registrada nos teus neurônios.E todo o enxoval que te acompanhaTerás de queimar ou quebrar?Faça todas as tuas cenas por agoraDestroçando tudo o que é material.Estás a te sentir mais leve?Mas não imaginas que em breveTudo que colocares na tonaIrás desaparecer nos rios de GoaLevados ao mar.Com o tempo e o oceano revoltoDevolverá os pertencesDevastados nas areias das praias.Em todas elas encontrarás os pedaçosE toda a fantasia recomeçará.Não, não é bem assim que te livrarás.Acho que perdeste o sensoNão poderás reduzir à cinzas as memóriasDe tudo o que te fez sonhar.

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DIÁLOGO AOS CELULARES À BRASILEIRA QUE OUÇO TODOS OS DIAS E, É MAIS OU MENOS ASSIM:

Tô no culto falando cum pastôCê num vem não?Tem de vim, ora pra Jesus.Ai! Só Jesus, pra intender ocê.Mas se ocê vim, fecha a porta com treta chaveAí tem muito ladrão drogado.Dispois, meu namorado vem buscá nóis.Então nóis vai até ao shopem.Agente podemos olhá as vitrini.Dispois ele leva nóis imbora.Ispera, to ouvindo minha patroa.- Num sei não onde tá-Já que ce num sabe se vemColoca a comida pra esquentáE o fango no fono.Tem cuidado num si quemá.Aí quando eu chegáPosso cumêLá no shopem é tudo caroE nóis num tem dinheiro pra gastá.

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CHÁ

Bebo chá de todos os tiposChás para ficar mais calmaChás para as doresChás para tudo,Mas sempre bastante céticaDa certeza sobre os chás.Um belo dia resolvi beber um XáA partir de então aprendi literalmente,Que chás são imprescindíveisPara aliviar todos os malesDos erros imprevisíveis.

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EGOÍSMO

Queria você sempre aquiDo jeito que fosse eu queriaQue você continuasse aqui.Quanta teimosia a minha!Não compreender a sua dorA sua agonia,Só queria que você continuasse aquiPara que eu tivesse a sua companhia,Para que eu pudesse compartilhar as minhas palavrasMesmo que você não compreendesse mais, o que eu dizia.Eu queria que você ficasse aquiSó por mim, nem era por você.Só você sabia o que sentiaE com toda a sua sabedoriaDesafogou a sua dorSilenciou.Deixou-me e nem explicou.E eu egoísta que souAinda choro e grito a te procurar.Imagino você aí no paraísoO que deve estar a pensar?Deve ser sobre a minha insensatezA minha pouca compreensãoSobre tudo que você me passou,Que a vida é assimUm holocausto dentro do uno.E eu egoísta que souParalisei na angustiaDe não compreender que o lugar onde estáÉ o mais aprazívelE iremos nos encontrar.

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DO MEU AMOR AO ÓDIO POR BETH

Beth, com a sua varanda cheia de pó,Suas chaves a darem nóSeu telefone é de dar dóSeu e-mail é um bagulho só.

E eu aqui tão inútilQueria ter Beth para mimTalvez mais, ser Beth,Com a sua clássica elegância e sabedoria.

Fico a penarSonhando com seu baúCorrendo atrás, com atitude ineficaz,Beth, rainha.

Eu esqueci a minha alma.Estrago o meu amor,Não vejo mais as flores nem as Marias,Só vejo Beth, a todo vapor.

Não sei mais o que é vidaViver é estar no encalço de BethQuero molestar, importunar, fatigar, do amor ao ódio,Já que eu não tenho Beth, minha rainha.

Como seria bom esquecer Beth,Gostar de uma mulher feia e sem vidaMas, o meu amor não tem bondade alguma,É fraco, como filhotes de passarinho.

E Beth, nem aí para tudo isso.Parto da minha inveja à vigília e vejo Beth,Indo e vindo, com seu andar de garça,Lindo! Lindo!

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VERGEL

Meu querido Vergel, mesmo sendo de bits.Hoje me despeço, pois vou estar fora por uns dias,Vou buscar novas aventurasPara te alimentar de fantasias.

Não fique com ciúmes,Será um tempo de passagemMesmo longe posso te acompanharMas não prometo que será realidade.

A liberdade que tenhoEstá em seu jardim mais floridoTêm canteiros mais nobresE outros esmaecidos.

Meu querido VergelDesde que te adotei, mudei de essência,Vou criá-lo até a minha morteÉ o que constrói a minha essência.

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AO MEU OU MINHA, AUSTRALIANA

Não sei quem ésMas agradeço todas as visitasNo meu Vergel.

Nunca se pronunciasE ao longe ou mais pertoFicarei.

Vou sair para curtirUm pouco mais da Europa, minha rota,Mochila nas costas, tênis nos pés e muita loucura na cabeça.

LiberdadeLiberdadeSem fim e no começo estarei.

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VAIDADE

Beber para ter coragem de gritarO grito dos indecentesDa inconsequênciaDa justificação que não convence.

Viajar para fugir da própria verdadeA verdade que está enraizadaQue acompanha em toda a caminhadaE da redoma não sairá.

Pássaro negro camuflado de mil coresPara manter os milhares de amores,Mas a chuva cairáE as cores irão desbotar.

Manter um tapete vermelho estendidoCaminhar sobre ele desmilinguidoCom a bebida, as viagens e as cores,Que causam dissabores.

Que presunção mal fundadaDe quem mantém ostentaçãoPara merecer admiraçãoDe uma qualidade do que é vão.

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FALSA FILOSOFIA

Eu sou quem deseja compreenderEssa sua doutrina de bem viverQue andas a defenderDa literatura ficcional árabe e europeiaDa Idade Média,Através dos sete mares,- Que se vive sem ordenado -.E se manifesta com veemênciaExteriorizando os sentimentos e pensamentosCom ardor e entusiasmo,- O que alimenta a vida é viver do amor -.Estou a dar o devido apreçoA essa ideia triunfal.Mas, como posso acreditar nisso, nessa sua espiritualidade?Nessa vã filosofia?E o vinho, o pão de onde virão?Pois acordo todos os dias,Vejo com transparênciaFamílias inteiras em penúriasNa míngua de víveres.Ah! Não sei se caio nessa ciladaDe um dia possuirA pedra filosofal.

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CAIÇARA

Caiçara, paira na praia,Vagabundo sem toalhaSem préstimos para a gandaiaMalandro que gosta de rabo de saia.

Caiçara, em sua estupidez de canalha,Vive na orla ordináriaTolamente selvagemNão se embaraça.

Caiçara, pouco polido,Medíocre, sem nada de extraordinário,Vivendo do conto do vigário,Inteiramente grosseiro e mal-educado.

Caiçara, mil quilos a mais sobre a terra,Que pesa pela sua ignorânciaDividindo-a sem elegância,Humanidade humilhada pela sua hipocrisia.

Caiçara, veste a sua carapuça,Saia de mansinhoBem devagarzinhoAssim, não nos atrapalha.

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DA NEUROSE À PSICOSE

Tens a neurose furtiva,Vives alucinado e em delírios.Na tua neura temos diálogos,Na tua psicose, espasmos.Nos diálogos rouba-me a distinção,Sente-te sobranceiroDenodado em seu valor.Quando entras na alma das sombrasVeste-te de altivez,Dos teus delírios à empáfiaRebusca com apreensãoCom esmero excessivoÀ sensação que precede o ataque,Que já na crise aflitivaSuga-me toda a energia,Abrindo sulcos na terra.Vejo pelos profundos rastrosDeslizando abaixoO primor que fostes um dia.Entro em profundo desassossegoDe ver-te neste estágio iminenteIndo ao encontro do desenlace fatal.Sinto-me rigorosamente impotenteDe controlar os teus propósitosDesde logo, subsistentes.

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ESTÉTICA

Estás linda, estás magra e eu gorda!Estás linda, estás gorda e eu macérrima!Então, quem é a mais linda, a mais atraente?A gorda infeliz por não ser magra?A magra com o mesmo presságio da gorda?O hipopótamo fêmea é feia por ser gorda?A libélula é horrenda por sua magreza?Não, ambas são lindas.Elas possuem o próprio palco para desfilar,Não vivem da ovação iniludível,Possuem originalidade.

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TACITURNIDADE

Zetalhões de poesias a disposição.Quanta literaturaLivre para ler.Tanta manifestaçãoDe falsas virtudes.Tenho saudade dos filmes mudosEstes sim, diziam muito.

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LÓGICA DO LOUCO

Vem..., loucoAtraído pela ira dos desencantosEm pele de cordeiroVoz doce Sonhos a realizar.

Vem..., loucoAmaciando a vítimaEncorajando-a com malíciaDesconcertando o enredoEspreitando na contramão.

Vem louco, nas suas diferentes formas,Surpreender com a sua metamorfoseCom sua opaca e colorida aparência,Tentar através da fresaEnviar um friso da sua maldita luz.

Vem...Mais uma vez como veludo,Emerge do seu submundo com a sua maleficênciaA repousar no colo amigoO seu mundo hostil.

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Gosto dissoMais que daquiloNão sei por que gosto dissoSe não conheço a quilo.

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CÓLOFON

Explicit.Este livro foi composto em fonte Life BT corpo 11, e paginado em InDesign. A impressão e o acabamento foram feitos por Gráfica MPAC, em Vitória -ES, O papel utilizado na impressão do livro é o alcalino original, alto alvura, opacidade 92 e gramatura 90 g/m², na cor branca e com espessura de 110 µm em abril de 2014.

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