Literatura em vídeo · Observe o livro “Sonhos de uma Noite de Verão”, de William...

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Realização: Apoio: Literatura em vídeo: Como integrar a produção de vídeos ao ensino da literatura

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Caro educador,

Bom proveito!Equipe Abril Educação

Este é o material de apoio para você e sua escola participarem do Festival Literatura em Vídeo. Nele você encontrará uma sequência de dicas e exemplos que irão ajudá-lo a produzir vídeos com seus alunos de maneira prática, objetiva e produtiva, tendo a sala de aula como cenário privilegiado para essa prática cultural.

Pois educar é crer na perfectibilidade humana, na capacidade inata de aprender e no desejo de saber que a anima, em que há coisas (símbolos, técnicas, valores, memórias, fatos...) que podem ser sabidas e que merecem sê-lo, e que nós, homens, podemos melhorar uns aos outros por meio do conhecimento.

(Fernando Savater, em “O valor de educar”)

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... E NO PRINCÍPIO ERA O VERBO ...

“O ser humano tem uma demanda pela eternidade. Por isso, conta histórias.” (Karen Worcman, diretora do Museu da Pessoa)

Conteúdos:

• Diferenças entre os textos informativo e literário

• Critérios de seleção de textos para leitura e trabalho em sala de aula

• Diferenças entre as linguagens literária e videográfica

Competências desenvolvidas:

• Desenvolver a capacidade de interpretação e de produção de diferentes gêneros de texto

• Saber identificar a finalidade de diferentes gêneros de texto

• Reconhecer as diferenças entre os textos literário e informativo

• Saber reconhecer e selecionar bons textos, textos de qualidade

• Desenvolver habilidades de expressão em diversas linguagens

• Saber avaliar a adequação da linguagem à situação comunicativa

ESCOLHENDO O LIVRO

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Se definirmos a narrativa como o ato de contar algo, podemos dizer que os homens, de uma forma ou de outra, valendo-se das mais diferentes linguagens, sempre procuraram contar histórias. Dos desenhos nas cavernas às formas mais sofisticadas (tecnologicamente falando), sabemos que não há povo sem narrativas, pois elas são fundamentais para a preservação da memória, da história e da própria espécie. Nesse sentido, antes de se iniciar o trabalho com essas duas linguagens – literatura e vídeo –, é fundamental pensar na história que se quer contar. E a escolha dessa história é sempre um desafio.

Para começar, vamos tentar definir o que é literatura e qual a diferença

entre os textos literário e informativo, para que você, professor, possa fazer

uma escolha que renda uma boa história para ser contada em vídeo.

De uma maneira bem simples, podemos dizer que o texto informativo é

marcado pela objetividade, que busca certa neutralidade e imparcialidade,

na tentativa de reconstrução dos fatos para contá-los ao leitor. Já a

literatura, por ser uma expressão artística, desfruta uma liberdade maior

para a criação, valendo-se da invenção que transita sem restrições entre o

real e o imaginário.

Neste projeto, o desafio é selecionar um texto de ficção ou literário e

transformá-lo em um vídeo. Para começar, veja algumas dicas e critérios

que poderão ser úteis na hora de escolher o texto:

COMO ESCOLHER UM TEXTO LITERÁRIO PARA O TRABALHO EM SALA DE AULA? Em primeiro lugar, é preciso

deixar bem clara a diferença

entre um texto literário e um

informativo, por exemplo. Na

escola, esses dois tipos de

texto são amplamente

trabalhados, mas nem

sempre o aluno sabe quais

são suas especificidades.

ESCOLHENDO O LIVRO

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• Selecione textos que sejam adequados às habilidades de leitura e ao repertório dos alunos. De nada adianta trabalhar os clássicos, por exemplo, só porque são clássicos e você acha que eles têm que lê-los de qualquer maneira!

• A qualidade do texto é o primeiro item a ser observado. Quem escreveu – ou adaptou – (bons escritores nem sempre são bestsellers, vale observar!), se o texto está bem escrito, numa linguagem acessível, gramaticalmente correto, se há ritmo, diálogos bem construídos, etc. são elementos que atestam a qualidade da obra literária.

Selecionando bons textos

• Outros elementos como a qualidade das ilustrações, as relações entre as imagens e o texto, aspectos relacionados ao objeto livro (durabilidade, tamanho das letras, qualidade do papel, etc.) também devem ser levados em conta nessa seleção.

• E, por fim, para este projeto, a escolha também deve ser feita pensando nas possibilidades de adaptação desse texto para a linguagem do vídeo. E, para tanto, é fundamental observar se a história escolhida tem condições de chamar a atenção e envolver o espectador por meio de imagens também, como bem observa o autor e roteirista Marcos Rey em seu livro “O roteirista profissional – Televisão e Cinema”/Editora Ática (SP, 1989): “A adaptação boa é aquela que concentra, impactua e afunila a carga de atrativos de um livro. (...) Tem de prender o espectador logo no começo e desenvolver em alguns minutos uma história que ele leria em dez ou em muito mais horas”

• Escolha textos que tratem de questões atemporais, como os dilemas humanos, por exemplo. Observe o livro “Sonhos de uma Noite de Verão”, de William Shakespeare, adaptado pela escritora Ana Maria Machado para a Editora Scipione: os temas ali abordados são Amor, Aventura, Fantasia, Humor, Literatura Universal, Mitologia. Ou seja, temas eternos, que interessarão a qualquer pessoa, independentemente de sua faixa etária. O critério “interesse” é fundamental para a seleção da obra;

• Observe se a abordagem realizada e a faixa etária à qual se destina o texto estão em harmonia, como por exemplo em “Mano Descobre o @mor”, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, da Editora Ática, que trata de temas ancestrais como o Amor e a Amizade, utilizando como cenário a Internet. Com certeza, os leitores do Ensino Fundamental II vão encontrar elementos que despertem sua atenção nesta obra.

ESCOLHENDO O LIVRO

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Para garantir o sucesso deste projeto, é preciso certificar-se de que os alunos compreenderam muito bem a obra com a qual vão trabalhar. Veja abaixo um roteiro que facilita essa tarefa:

• Apresente o autor e o contexto de publicação do livro em questão;• Confira se, feita uma primeira leitura, os alunos apreenderam as ideias centrais do autor. Para isso, há uma técnica bastante simples: basta perguntar ao leitor: “Do que trata o texto?” A resposta obtida revelará o tema central. Em seguida, pergunte: “O que se fala sobre o tema?” Com isso, aparecerá a relação (lista) de argumentos do autor sobre o tema de que ele trata.• Proponha uma “leitura orientada”, ou seja, peça que destaquem parte por parte do texto, relacionando palavras-chave ou frases que expressem ideias importantes na construção do argumento do autor.• Um roteiro de perguntas que funcione como “guia de tradução” do texto também pode ser um bom expediente. Suprimidas as perguntas, o rol de respostas acaba por compor um resumo do texto, o que ajuda os alunos a se manterem atentos ao foco do tema.

Compreendido o texto com o qual se vai trabalhar, é importante também esclarecer aos alunos os gêneros de vídeos existentes, para que o cruzamento entre essas duas linguagens se dê de maneira harmônica. São eles:1.Ficção – trata-se de uma história imaginária sobre quaisquer temas ou ainda podendo se basear em fatos reais. Esses fatos, entretanto, podem ser tratados da maneira que melhor convier ao autor da história.2.Documentário – tem o compromisso de mostrar fatos, pessoas e lugares reais. Como diz o nome, é um “documento” do que estava acontecendo na hora em que foi produzido, é um registro feito com textos, imagens, entrevistas, músicas e outros recursos. Pode ser longa-metragem (mais que uma hora de filmagem), média (entre 20 e 50 minutos) e curta (entre 10 e 20 minutos).3.Videoclipe – é uma combinação de música e imagens. Normalmente não possui textos, sua linguagem é rápida, ágil e a música é seu principal elemento condutor.4.Videorreportagem – gênero próximo do documentário, pois trabalha basicamente com elementos da realidade. Como se trata de uma reportagem, seu estilo é jornalístico, contendo entrevistas mediadas pela presença de um repórter.

Compreendendo o texto escolhido

Conhecendo os gêneros de vídeo

Esclarecidos os conceitos a respeito dos gêneros literário e videográfico que serão trabalhados, é hora de orientar os alunos a escolher o gênero do vídeo que vão realizar. A adaptação de uma obra literária pode ser feita para qualquer um dos gêneros videográficos aqui apresentados. O importante é fazer a escolha pensando nos recursos que os alunos possuem e usar a criatividade, pois há muitas maneiras de fazer dessa adaptação um exercício divertido e inteligente de “viajar” entre duas linguagens e dois mundos bastante diferentes! Eleito o gênero do vídeo que será realizado, o próximo passo é trabalhar o roteiro.

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ESCREVENDO O ROTEIRO

Conteúdos:

O roteiro é o átomo

• Principais características da adaptação de um texto literário para o vídeo

• Planejamento do roteiro

• Elaboração do roteiro passo a passo

• Síntese do roteiro

Competências e/ou habilidades a serem desenvolvidas comos alunos:

• Desenvolver a competência de planejar o que se vai escrever, considerando a intencionalidade, o interlocutor, o portador e as características do gênero videográfico • Desenvolver a competência da escrita e reescrita dos próprios textos (e contribuir com os dos outros), no que se refere a diversos aspectos do texto: concisão, coerência, ortografia, etc.

Estou convencido de que nada é mais importante na feitura de um filme do que um bom roteiro. (...) O essencial num roteiro parece-me o interesse mantido por uma boa progressão, que prende a atenção dos espectadores o tempo todo.

(Luís Buñuel, cineasta espanhol)

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O roteiro é o átomoÉ importante salientar que, neste projeto, os alunos

vão trabalhar com uma adaptação, o que nem

sempre é tão simples de ser feito, como diz Marcos

Rey (op. cit. pág. 63): “Toda adaptação é sempre

uma tentativa. E nela, mais que um roteiro original,

a participação da direção, da cenografia e do elenco

tem um peso maior ou igual do que o do texto”.

Isso quer dizer que é necessário, como já

afirmamos, que o grupo tenha compreendido e se

identificado com o texto, pois, só estando

suficientemente familiarizado com ele, poderá criar

e recriar um outro produto: o vídeo.

A grande “sacada” de uma adaptação de uma obra

de cunho literário para o vídeo é manter nela os

elementos essenciais da trama: os personagens

principais, o cenário e, principalmente, a essência

da história, ou seja, o que do enredo é capaz de

prender a atenção do espectador todo o tempo.

O roteiro é o átomo, ou seja, é onde tudo começa depois da ideia inicial. Segundo Doc Comparato, em Roteiro – arte e técnica de escrever para cinema e televisão/Nórdica (RJ/1983), é “a forma escrita de qualquer espetáculo áudio e/ou visual”. O roteiro é a descrição detalhada da história que se quer contar, na linguagem específica daquele espetáculo (teatro, cinema, vídeo, etc.), com as indicações correspondentes, tanto do texto como das imagens e dos sons da obra.

Elaborando o roteiro

O roteiro é composto das seguintes etapas:1.Ideia – sem ideia, nada feito, certo? No caso do projeto em questão, a ideia já está posta, pois o roteiro deverá ser feito com base na obra literária escolhida em classe.2.“Story-line” (ou síntese) – é o termo que designa o enredo, a trama da história. É toda a história contada em, no máximo, cinco linhas. Por isso, ele é a síntese do roteiro. Segundo Doc Comparato (op. cit. pág. 53), a síntese abrangeria três aspectos da história: a apresentação do conflito (“Alguma coisa acontece”), seu desenvolvimento (“Algo precisa ser feito”) e a solução desse conflito (“Alguma coisa é feita”). Por exemplo: “Era uma vez um príncipe cujo tio, para ter o trono, matou o rei, pai desse príncipe. Foi aí que o príncipe entrou em crise, matou um monte de gente em seu reino e, no final, acabou assassinado”. Essa pode ser a “story-line” de Hamlet, de William Shakespeare, adaptado pela autora brasileira Telma Guimarães Castro Andrade (Editora Scipione, série Reencontro Infantil). A frase é o fio da meada, a ideia sintetizada de toda a história.

ESCREVENDO O ROTEIRO

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3. Argumento – a palavra “argumento” vem do latim e significa “justificativa”. Estamos falando da

estrutura do vídeo. Isso quer dizer definir o tempo, o espaço, o perfil dos personagens, o percurso

da ação. É um texto um pouco mais longo do que a “story-line”, é a história contada de forma um

pouco mais detalhada. Segundo Doc Comparato (pág. 59), deve conter as seguintes informações:

temporalidade, localização, percurso da ação e perfil dos principais personagens (destaque para o

protagonista ou principal personagem da história). No caso de Hamlet, começaria assim: “A história

se passa na Dinamarca, séc. XV. Tudo parecia bem até que...”. O argumento é uma peça

importantíssima para o roteiro. Quanto mais claro e objetivo ele for, maior dimensão se poderá ter

de toda a produção e um melhor roteiro poderá gerar.

4. Estrutura – agora é o momento de transformar o argumento em cenas, para ter uma ideia mais

precisa do tempo de duração do vídeo, dos recursos necessários para sua produção, etc. Por

exemplo:

Cena 1: O cenário é de uma feira típica nordestina. No painel pintado, poderá ter gente

vendendo passarinho, fruta, tapioca, macaxeira... Entra Lampião Júnior, carregando uma

sacola na qual traz os objetos de couro que ele faz e um toco, no qual senta para vender

suas mercadorias. Ele arma uma pequena barraca de feira.

Cena 2: “Logo em seguida, entram os atores, cantando e dançando uma música que fala

que Lampião Júnior, naquele dia, não encontrou na feira a maior parte dos seus amigos.

E, por isso, o menino andava preocupado....”

(Trecho de “A História de Lampião Jr. e Maria Bonitinha”, de Januária Cristina Alves,

2000)

5. Roteiro – com a estrutura pronta, agora é a hora de os alunos desenvolverem o roteiro

propriamente dito, que é a descrição, o mais detalhada possível, de toda a história, juntamente com

as indicações correspondentes a imagens, sons, planos de câmera, etc. Você pode discutir o

exemplo abaixo com eles:

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NARRADOROi, pessoal! Vamos conhecer o Apolônio? Então, deixe-me apresentá-lo a vocês. Apolônio é um garoto

comum, de mais ou menos 11 anos, que vai à escola, brinca e faz travessuras como todo mundo. Só que tem

um detalhe: ele é um menino sonhador... É só pegar um livro ou ver um filme, que Apolônio já começa a ver

coisas além das histórias e a se imaginar participando delas... E, como todo bom sonhador, Apolônio tem seu

grande sonho, é lógico! Hum... Qual será?

(CENÁRIO DO QUARTO DE APOLÔNIO. ELE ESTÁ NA CAMA, COM O ABAJUR ACESO, LENDO UM LIVRO).

APOLÔNIO - Ah, Ah! Essa é boa! Aí, cara! (E CONTINUA LENDO O LIVRO) Hum... Bom, fosse eu não fazia

assim, não... (SOLTA O LIVRO E FAZ UM AR PENSATIVO) Ah, se eu pudesse visitar o País dos Sonhos e reali-

zar tudo o que eu tenho vontade... Imagine só o que eu não faria! Será que não tem um jeito, um caminho, de

chegar até lá? Pra todo mundo que eu pergunto responde que isso é bobeira, “coisa de criança...” Eles não

sabem é de nada! (BOCEJA, APAGA O ABAJUR E SE DEITA).

(MOVIMENTO DA CÂMERA SIMULANDO PASSAGEM DE TEMPO. A FADA DAS ESTRADAS PULA A JANELA

DO QUARTO - MEIO DESAJEITADA - E ENTRA)

(Trecho de “A Ponte dos Sonhos”, de Januária Cristina Alves, Bambalalão, TV Cultura, 1990)

Vale destacar a importância dos diálogos num roteiro. “Enquanto as imagens explicam e falam por si, o diálogo

deve ser um condutor de emoções”, diz Marcos Rey (op. cit. pág. 42). Muitas vezes, há excesso de imagens e

também de diálogos, o que toma tempo – e paciência do espectador. Saber dosar, portanto, é o segredo!

No trabalho a que os alunos estão se propondo, é importante lembrar que a produção deve ser simples,

possível de ser feita na escola ou mesmo em casa. O que vai contar é a criatividade e busca de soluções

simples para a execução do vídeo. É comum que o roteiro tenha que ser refeito em função das condições da

produção. Portanto, é bom que os alunos o encarem como um exercício, que terá a primeira, segunda e até

terceira versão. É importante que sua finalização seja bastante clara e precisa. Um bom roteiro facilita o

trabalho de todos os envolvidos na produção do vídeo, desde os atores até os responsáveis pela edição do

material. É como uma viagem na qual o mapa é específico: a probabilidade de chegar ao destino errado será

mínima!

ESCREVENDO O ROTEIRO

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Conteúdos:

• Planejamento da produção de um vídeo

• Dicas para uma boa coleta de imagens

• Dicas para o cinegrafista

• Dicas para o editor do vídeo

Competências desenvolvidas:

• Desenvolver a competência de planejar uma ação em grupo, envolvendo a comunidade• Desenvolver a habilidade de articular recursos para a execução das tarefas previstas• Desenvolver competências para ampliar o “olhar” sobre si mesmo e sobre o mundoem que vive (educar o olhar para diferentes percepções da realidade)• Desenvolver competências e habilidades para uma leitura crítica das diferentesmídias existentes

Atenção... ação

Que pode a câmara fotográfica?Não pode nada.Conta só o que viu.Não pode mudar o que viu.Não tem responsabilidade no que viu.A câmara, entretanto,Ajuda a ver e rever, a multi-verO real nu, cru, triste, sujo.

(Carlos Drummond de Andrade)

PRODUZINDO O VÍDEO

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Atenção... ação

Coletando as imagens

Planejando a produção do vídeoCom o roteiro na mão, chegou a hora de gravar, de concretizar, em imagens, o que está no texto. O primeiro passo é fazer o planejamento da produção. Peça aos alunos que preparem adequadamente:

O cronograma de produção(desde o dia, hora e local da filmagem até a edição final)• Os atores• O figurino• Os cenários• As locações (lugares) de filmagem• O equipamento de filmagem• As condições para a filmagem (se o roteiro especifica uma cena num dia de sol, só se pode filmar num dia de sol, por exemplo)• Autorizações para uso de imagem (se houver figurantes ou entrevistados que aparecerão no filme, recolher uma autorização por escrito dessas pessoas, permitindo o uso de sua imagem para aquele vídeo específico).

Planejamento feito, inicie o trabalho!

Para que o vídeo seja bem-sucedido é

preciso ter boas imagens. Imagens

claras, nítidas, com qualidade. Para

tanto, é necessário ter um bom

equipamento (não precisa ser

profissional, apenas que faça

imagens adequadas), podendo ser,

inclusive, uma câmera fotográfica

que filme ou ainda um celular.

É preciso sempre checar o

equipamento antes de iniciar as

filmagens, inclusive exibindo o que

foi gravado na TV para ver como

ficou. Só depois de tudo verificado

pode-se começar a filmar.

PRODUZINDO O VÍDEO

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Algumas dicas podem ser úteis aos alunos para que façam uma boa coleta de imagens

LUZ

Em primeiro lugar, peça-lhes que verifiquem a luz quando forem filmar. Uma boa luz é o segredo para um

vídeo de sucesso. O grupo deve checar se o roteiro pede pouca luz, meia-luz, etc.

PLANOS

Os alunos devem escolher o plano que melhor se adapte ao que o roteiro pede. Por exemplo: o PLANO

GERAL (PG) é usado para revelar a grandiosidade do que está ocorrendo, pois mostra o local inteiro onde

se dá a ação. Já o PLANO MÉDIO é indicado para explorar o movimento de uma pessoa, enquanto ela

fala, por exemplo. É muito utilizado para os apresentadores de telejornal. Mas, se eles quiserem mostrar

um detalhe qualquer da cena, então os aconselhe a usar o PLANO DE DETALHE, como diz o próprio

nome. Para evidenciar o rosto do ator, suas expressões, devem usar o CLOSE, que revela os sentimentos

da pessoa naquele momento.

Plano geral (PG) Plano médio Plano de detalhe Close

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ÂNGULOS

Além dos planos, os alunos devem escolher bem os ângulos de sua filmagem. Eles são a posição que a

câmera deve ficar para gravar a cena. A CÂMERA ALTA é usada para dar a sensação de inferioridade,

para destacar a relação de altura ou ainda para mostrar a grandiosidade do que está acontecendo. A

CÂMERA BAIXA é o contrário, causa no espectador uma sensação de superioridade, mas é preciso ter

cuidado ao usar esse plano, pois facilmente se pode perder o foco e distorcer a imagem. O plano mais

comum de filmagem é o FRONTAL, no qual a câmera está na mesma altura do objeto ou da pessoa que

está sendo filmada.

MOVIMENTOS

Movimentar bem a câmera também é um desafio, exige destreza manual, equilíbrio e coordenação

motora. O aluno-cinegrafista poderá fazer uma PANORÂMICA, ou seja, sem sair do seu eixo (ou tripé)

a câmera se desloca horizontal ou verticalmente para descrever o que está sendo filmado, “conduzindo”

o olhar do espectador. Quando a câmera “corre” para acompanhar a imagem, está se usando o

TRAVELLING (viajando, em inglês), que é para dar a ideia do movimento exato da cena. Para isso, a

câmera normalmente está num carrinho, pois é difícil fazer esse movimento correndo ou andando, sem

desfocar.

EFEITOS

Há alguns efeitos que também podem ser utilizados na produção do vídeo, como o ZOOM – no qual o

cinegrafista (quem está filmando) apenas altera a lente da filmadora para aproximar ou afastar a

imagem que está sendo feita – e o FADE, que faz a imagem aparecer (fade-in) ou desaparecer (fade-out)

completamente, clareando ou escurecendo a cena aos poucos. O FADE é muito usado para iniciar o

filme ou fazer a passagem de sequências da história.

Plano frontalCâmera alta Câmera baixa

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Firmeza e boa postura Quem for fazer a filmagem deve estar calmo, tranquilo e atento ao roteiro. A postura deve ser relaxada, a

câmera deve estar pousada no ombro ou colocada no tripé, a respiração suave, e os pés devem estar

separados, numa posição confortável.

Objetividade e clareza do que quer filmarPeça que o cinegrafista escolhido pelo grupo observe o roteiro e tente visualizar a imagem que vai fazer como

se já estivesse pronta, já editada. O resultado final deverá ser a meta.

Por isso, o formato da imagem – ângulo, movimento, etc. – deve estar bem definido.

Sensibilidade e senso de oportunidadeO bom cinegrafista capta imagens que contenham, basicamente, emoções. Dessa forma, esclareça para o

cinegrafista do grupo que é bom que ele se atenha à expressividade – tanto das pessoas como dos objetos –

e ao que as imagens podem “dizer” para além do óbvio. Muitas vezes, o plano de filmagem e o roteiro indicam

uma coisa, mas a imagem coletada mostra além, um “algo mais” que fará a diferença. Por isso, é preciso ter

sensibilidade para ver o que vale a pena ser mostrado ao público, dentro do objetivo que se tem com aquele

vídeo.

É importante lembrá-los, professor, de que é preciso não ter preguiça de gravar e regravar a mesma cena.

Testar diferentes ângulos e movimentos faz parte do trabalho, para que a melhor imagem seja a escolhida na

edição final.

Como atrás da câmera tem sempre o olho do cinegrafista, é importante que você esclareça ao grupo de

alunos que a pessoa escolhida para filmar deve ter algumas habilidades e/ou qualidades:

A hora e a vez do cinegrafista

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Editando as imagens

Filmagem concluída, agora oriente os alunos que está na hora de pensar na edição das imagens, ou

seja, no processo que vai gerar o produto final: o vídeo!

Em primeiro lugar, é preciso que se faça a DECUPAGEM (corte) das imagens. Isso porque nem todas

as imagens que foram coletadas poderão ser usadas. Tendo o roteiro como base, é importante

selecionar as melhores imagens para dar conta do que foi planejado. Nesse momento, é indicado

anotar o tempo total da fita e o tempo de cada imagem, ou seja, o minuto no qual ela se encaixa no

total do conteúdo bruto, para que se possa encontrá-la depois, quando for feita a edição.

É importante lembrar que tanto a decupagem como a edição final do vídeo podem ser feitas usando-se

o próprio equipamento de filmagem e mais uma TV qualquer. O que vai contar é a inventividade e o

talento para contar a história adaptada!

Hora da pipocaMissão cumprida, vídeo editado? Então é hora de preparar, junto com o grupo, uma sessão de

exibição do trabalho: para os próprios alunos envolvidos, os colegas, os professores da escola e até

as famílias! Que a estreia seja um momento de celebração do trabalho e dos muitos aprendizados que

vieram com ele!

PRODUZINDO O VÍDEO

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AÇÃO – palavra de ordem do diretor para dar início à atuação dos atores. O movimento que acontece na hora da filmagem é a ação.

CENAS – são as “unidades dramáticas de ação contínua”, ou seja, são seções contínuas de uma ação, na mesma localização. Todo roteiro deve ser dividido em cenas.

CLÍMAX – sequência mais dramática e decisiva do roteiro. Ponto decisivo da ação.

ESPELHO – página de abertura do roteiro que traz informações sobre as características dos personagens, enumera e descreve os cenários e locações, etc.

EXTERNA – gravação feita fora do estúdio.

FLASHBACK – termo em inglês que designa as cenas que remetem ao passado da história. Normalmente nas filmagens elas aparecem de uma forma diferenciada (em preto e branco, por exemplo), para que o espectador possa identificá-las.

GANCHO – momento de grande interesse e suspense que serve para manter a atenção do espectador (é comum na TV, pois é o momento que antecede a exibição de um comercial, por exemplo).

MENSAGEM – sentido social, político, filosófico ou quaisquer outros que a história pode conter. É como se fosse a “moral da história”.

OFF – texto ou vozes presentes sem mostrar a imagem. Um personagem que fala, sem estar presente na cena, fala em off.

PLOT – é o centro da ação, núcleo da história, o seu gerador principal.

SCRIPT – roteiro entregue à equipe de filmagem. Termo bastante usado para os roteiros de programas de TV.

SLOW MOTION – movimento lento da câmera, “câmera lenta”.

TAKE – em inglês “tomada”, é o momento em que se começa a filmar a cena até quando a câmera é desligada.

Pequeno glossário de termos videográficos

Realização: Apoio:

GLOSSÁRIO