Lista de questões dissertativas modelo Vunesp-Prof WelingtonFernandes

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1) Considere o fragmento a seguir: Dos que furtam com unhas reais Quando Alexandre Magno conquistava o mundo, repreendeu um corsário, que houve às mãos, por andar infestando os mares da Índia com dez navios. Ele respondeu-lhe discreto: "Eu, quando muito, dou alcance e saco a um ou dois navios, se os acho desgarrados por esses mares, e Vossa Alteza, com um exército de quarenta mil homens, vai levando a ferro e fogo toda redondeza da terra, que não é sua. Eu furto o que me é necessário, Vossa Alteza o que lhe é supérfluo. Diga-me agora: qual de nós é o maior pirata e qual merece melhor essa repreensão?" Quis dizer nisso que também há reis ladrões, e que há ladrões que furtam o que lhes é necessário; e há ladrões que furtam também o supérfluo. Estes são ladrões por natureza e aqueles o são por desgraça. Deus nos livre de ladrões por natureza, porque nunca têm emenda; os que furtam por desgraça mais sofríveis são, porque não são contínuos. Se há reis ladrões é questão muito arriscada. Quando empolgam são como as águias reais, que só em coisas vivas e grandes fazem presa. Excerto da obra Arte de Furtar. Texto anônimo do século XVII (1652, por vezes, atribuída ao jesuíta Padre Manuel da Costa (1601-1667). a) O autor se vale de uma estratégia (narrativa alegórica) para dicorrer acerca da arte de furtar. A partir daí, tece considerações sobre os tipos de furto, bem como do alcance para tal ‘arte de furtar’. Dito isso, indique qual seria, na opinião do autor, o pior ladrão? Por quê? b) Compare os fragmentos e, em seguida, responda ao que se pede: I - "Quando empolgam são como as águias reais, que só em coisas vivas e grandes fazem presa." II - "...o ladravaz de vistas curtas, sem olhos para o futuro. Citava-te até o velho, e hoje atualíssimo dito popular: ladrão é (só) quem rouba um pão..." De acordo com a gramática normativa, o sufixo ‘-az’ é formador de aumentativo Sintético em palavras como “cartaz” e “ladravaz”. Com base nisso, avalie a frase II e explique se podemos entender “Ladravaz”, da frase II como equivalente semântico de “águias reais”, ou se devemos interpretar “Ladravaz” diferentemente do que o sugerido pela gramática normativa? Justifique sua resposta. 2) Considere o fragmento a seguir:

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Lista de questões de Literatura para estudo para o vestibular da Unesp. As questões foram selecionadas ou adaptadas por Welington Fernandes.

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1) Considere o fragmento a seguir:

Dos que furtam com unhas reaisQuando Alexandre Magno conquistava o mundo, repreendeu um corsário, que houve às mãos, por andar infestando os mares da Índia com dez navios. Ele respondeu-lhe discreto: "Eu, quando muito, dou alcance e saco a um ou dois navios, se os acho desgarrados por esses mares, e Vossa Alteza, com um exército de quarenta mil homens, vai levando a ferro e fogo toda redondeza da terra, que não é sua. Eu furto o que me é necessário, Vossa Alteza o que lhe é supérfluo. Diga-me agora: qual de nós é o maior pirata e qual merece melhor essa repreensão?" Quis dizer nisso que também há reis ladrões, e que há ladrões que furtam o que lhes é necessário; e há ladrões que furtam também o supérfluo. Estes são ladrões por natureza e aqueles o são por desgraça. Deus nos livre de ladrões por natureza, porque nunca têm emenda; os que furtam por desgraça mais sofríveis são, porque não são contínuos. Se há reis ladrões é questão muito arriscada. Quando empolgam são como as águias reais, que só em coisas vivas e grandes fazem presa.Excerto da obra Arte de Furtar. Texto anônimo do século XVII (1652, por vezes, atribuída ao jesuíta Padre Manuel da Costa (1601-1667).

a) O autor se vale de uma estratégia (narrativa alegórica) para dicorrer acerca da arte de furtar. A partir daí, tece considerações sobre os tipos de furto, bem como do alcance para tal ‘arte de furtar’. Dito isso, indique qual seria, na opinião do autor, o pior ladrão? Por quê?b) Compare os fragmentos e, em seguida, responda ao que se pede:

I - "Quando empolgam são como as águias reais, que só em coisas vivas e grandes fazem presa."II - "...o ladravaz de vistas curtas, sem olhos para o futuro. Citava-te até o velho, e hoje atualíssimo dito popular: ladrão é (só) quem rouba um pão..."

De acordo com a gramática normativa, o sufixo ‘-az’ é formador de aumentativo Sintético em palavras como “cartaz” e “ladravaz”. Com base nisso, avalie a frase II e explique se podemos entender “Ladravaz”, da frase II como equivalente semântico de “águias reais”, ou se devemos interpretar “Ladravaz” diferentemente do que o sugerido pela gramática normativa? Justifique sua resposta.

2) Considere o fragmento a seguir:

Como a arte de furtar é muito nobre(...) A nobreza das ciências colhe-se de três princípios: o primeiro é o objeto, ou matéria, em que se ocupa; segundo, as regras e preceitos de que consta; terceiro, os mestres e sujeitos que a professam. Pelo primeiro princípio, é a teologia mais nobre que todas, porque tem a Deus por objeto. Pelo segundo princípio, é a filosofia, porque suas regras e preceitos são delicadíssimos e admiráveis. Pelo terceiro, é a música, porque a professam anjos, no céu, e, na terra, príncipes. E, por todos estes três princípios, é a arte de furtar muito nobre, porque o seu objeto e matéria em que se emprega é tudo o que tem nome de precioso. As suas regras e preceitos são sutilíssimos e infalíveis; e os sujeitos e mestres que a professam, ainda mal, que as mais das vezes são os que se prezam de mais nobres, para que não digamos que são senhorias, altezas e majestades.Excerto da obra Arte de Furtar. Texto anônimo do século XVII (1652, por vezes, atribuída ao jesuíta Padre Manuel da Costa (1601-1667).

a) Qual a tese defendida pelo autor para justificar que a "arte de furtar" é nobre?b) Uma das características do Barroco é a inversão dos termos da oração. Retire dois exemplos do fragmento acima, colocando-os em sua ordem direta (sujeito, verbo, complemento(s)).

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3) O corrupião, pássaro brasileiro e personagem (cujo nome é Queromeu) criado por Luis Fernando Veríssimo, é um assumido criminoso do colarinho branco. Leia a tira abaixo e, em seguida, responda às perguntas:

*Dogma: verdade indiscutível.

a) Pode-se dizer que a escolha feita por Veríssimo do tipo de ave usado como personagem (assim como o nome escolhido para a personagem: Queromeu) têm motivações tanto ligadas à forma quanto ao conteúdo? Explique como a palavra (do ponto de vista fonético e morfológico) que indica o tipo de ave colabora para sugerir o comportamento da personagem (conteúdo).b) As personagens manifestam duas opiniões contraditórias a respeito do que se entende por lucro. Aponte essas duas opiniões.

Gabarito1) a) Seriam os reis (pois roubariam muito) e que roubassem por natureza (pois roubariam – para – sempre)b) Diferentemente. Afinal, o ‘ladravaz’ da frase II, tem vista curta e rouba pouco. Como o ‘pequeno ladrão’ do dito popular: rouba apenas pão.

2) a) A tese segundo à qual, a nobreza de uma arte dependeria de três princípios: o 1º: é o objeto ou matéria; o 2º: as regras e preceitos de que consta; e o 3º: os mestres e sujeitos que a professam.

Desse modo, a arte de furtar seria muito nobre, porque o objeto de que se ocupa é tudo o que tem nome de precioso; suas regras e preceitos são sutilíssimos e infalíveis; e os sujeitos e mestres que a professam, são os que se prezam de mais nobres (senhorias, altezas e majestades)

b) resposta possível:

a frase ‘Pelo terceiro, é a música, porque a professam anjos’ficaria: “pelo terceiro, é a música, porque anjos professam-na.”

E a frase:“é a arte de furtar muito nobre”Ficaria: “A arte de furtar é muito nobre”

3)a) A palavra “Corrupião”, tanto pela grafia quanto pela sonoridade sugere ‘corrupção’, antecipando (e/ou confirmando) o comportamento da personagem;b) Lucro deve sempre ser honesto, na opinião das cobras;E Lucro não precisa ser (sempre) honesto, na opinião de Corrupião;

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