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1 1. ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO E SEU SENTIDO: GÊNERO DO TEXTO (LITERÁRIO E NÃO-LITERÁRIO; NARRATIVO, DESCRITIVO, INJUNTIVO E ARGUMENTATIVO). INTERPRETAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTERNA O Conteúdo Literário de um Texto Tem-se um conteúdo informativo quando se escreve sobre coisas que acontecem, como nas notícias que aparecem em jornais, revistas e na Internet, bem como nas leis e bulas. Nota-se que a variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. A variação sempre existirá, no Brasil há apenas uma língua nacional, e assim mesmo existe diferenças de pronúncias, no emprego de palavras e outros aspectos da língua. Hoje, ninguém escreve como fala, e nas sociedades letradas, aquelas que usam intensamente a escrita, estas pessoas tomam as regras estabelecidas para o sistema de escrita como padrões de correção de todas as formas lingüísticas. No meio dessas letras que o homem espalha por todos os lugares, há algo em comum. Existem dois tipos de textos: o informativo e o ficcional. Informativo: quando se escreve sobre coisas que acontecem, como nas notícias que aparecem em jornais, revistas e na Internet, bem como nas leis e bulas. Ficcional: quando se escreve histórias inventadas, como nos livros e gibis. Observe os dois casos práticos abaixo. 1. Você escreve um recado para o amigo que senta ao seu lado na escola, inventando uma história: "Estou namorando a Julieta". Que tipo de texto é esse? Ficcional. Tem gente que chama isso de mentira. 2. Por outro lado, vamos supor que o bilhete é verdadeiro. Isto é, você pediu a Julieta em namoro e ela respondeu "sim, Romeu!". E agora você está louco para contar vantagem para o amigo da carteira do lado. Se o bilhete diz "Estou namorando a Julieta", neste caso é verdade, isso acontece mesmo. Então, esse bilhete é um texto informativo. Isto quer dizer então que a história inventada é mentira? Digamos que é "de mentirinha". Alguém já disse que a literatura é "a mentira que encanta". As histórias inven-tadas saem da cabeça do escritor. O Sítio do Pica-pau Amarelo, que Monteiro Lobato inventou, nunca existiu em lugar nenhum que nossos olhos pudessem ver. O Sítio foi criado pela imaginação de Lobato e existe na imaginação de quem lê a história. Ou seja, o Sítio existe em outro mundo, que a gente não vê: é o mundo da imaginação. “Texto é um tecido verbal estruturado de tal modo que as idéias formam um todo coeso, uno, coerente. Todas as partes devem estar interligadas e manifestar um direcio-namento único. Assim, um fragmento que trata de diver-sos assuntos não pode ser considerado texto. Da mesma forma, se lhe falta coerência, se as idéias são contradito-rias, também não se constitui texto. Se os ele-mentos da frase que possibilitam a transição de uma idéia para outra não estabelecem coesão entre as partes expostas, o fragmento não se configura um texto. Essas três qualidades - unidade, coerência e coesão - são essenciais par a existência de um texto”. Veja-se um exemplo apresentado por João Bosco Medeiros, em “Português Instrumental”.: “O carnaval carioca é uma beleza, mas mascara, com o seu luxo, a miséria social, o caos político, o desequilíbrio que se estabelece entre o morro e a Sapucaí. Embora todos possam reconhecer os méritos de artistas plásticos que ali trabalham, o povo samba na avenida como herói de uma grande jornada. E acrescente-se: há manifestação em prol de processos judiciais contra costumes que ofendem a moral e agridem a religiosidade popular. O carnaval carioca, porque se afasta de sua tradição, está tornando- se desgracioso, disforme, feio.” O trecho anterior é um fragmento que não se constitui texto. Falta-lhe coerência entre a afirmativa inicial e a final. A oração subordinada que se inicia com embora não apresenta coesão em relação à oração principal; não é possível entender o que o autor quis dizer com aquelas palavras. Como o texto senta várias informações, várias direções: moral, política, social, religiosa, estática, acaba por não constituir um todo. Não completude, inteireza, unidade. Os elementos estruturais do texto são: o saber partilhado, a informação nova, as provas, a conclusão, o tema, a referência. Por saber partilhado entende-se a informação antiga, do conhecimento da comunidade. De modo geral, o saber partilhado aparece na introdução, um local privilegiado para a negociação com o leitor. Não é difícil admitir que a informação que vai de “não é fácil escrever sobre seu próprio pai” até “sentimental” pertence ao saber partilhado. O emissor-negocia com o leitor, coloca-se num nível de entendimento, estabelece um do, para, em seguida, expor informações novas. A informação nova caracteriza-se como uma necessidade para a existência do texto. Sem ela, não há razão para o emissor escrever nada. Um texto só se configura texto quando veicula uma informação que não era do conhecimento do leitor, ou que não o era da forma como será exposta, o que implica, naturalmente, matizes novos e, conseqüentemente, uma nova maneira de ver os A informação nova não significa originalidade total, absoluta. É análoga ao contrato que o leitor faz com o ficcionista. Ninguém, ao ler “Dom Casmurro”, estará interessado em saber se os acontecimentos relatados são reais, se houve tempo e naquele espaço uma pessoa que se identificava com a personagem -do livro. O leitor entra em acordo com o narrador, admitindo como verossímeis os acontecimentos relatados. Da mesma forma, o leitor de “Memórias de Brás Cubas” não contesta a possibilidade de um defunto ser narrador. Aceita o fato e dá prosseguimento à leitura”. É sabido que, conforme a perspectiva teórica que se adote, o mesmo objeto pode ser concebido de maneiras diversas. O conceito de texto não foge a regra. Antes de discutirmos sua estrutura é preciso saber o que é um texto. Segundo Ingidore Koch, o conceito de texto depende das concepções que se tenha de língua e de sujeito. Na concepção de língua como representação do pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como um produto - lógico - do pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor/ouvinte senão captar essa representação mental,

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1. ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO E SEU SENTIDO: GÊNERO DO

TEXTO (LITERÁRIO E NÃO-LITERÁRIO; NARRATIVO, DESCRITIVO, INJUNTIVO

E ARGUMENTATIVO). INTERPRETAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTERNA

O Conteúdo Literário de um Texto Tem-se um conteúdo informativo quando se escreve sobre coisas que acontecem, como nas notícias que aparecem em jornais, revistas e na Internet, bem como nas leis e bulas. Nota-se que a variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. A variação sempre existirá, no Brasil há apenas uma língua nacional, e assim mesmo existe diferenças de pronúncias, no emprego de palavras e outros aspectos da língua. Hoje, ninguém escreve como fala, e nas sociedades letradas, aquelas que usam intensamente a escrita, estas pessoas tomam as regras estabelecidas para o sistema de escrita como padrões de correção de todas as formas lingüísticas. No meio dessas letras que o homem espalha por todos os lugares, há algo em comum. Existem dois tipos de textos: o informativo e o ficcional.

Informativo: quando se escreve sobre coisas que acontecem, como nas notícias que aparecem em jornais, revistas e na Internet, bem como nas leis e bulas.

Ficcional: quando se escreve histórias inventadas, como nos livros e gibis.

Observe os dois casos práticos abaixo. 1. Você escreve um recado para o amigo que senta ao seu lado na escola, inventando uma história: "Estou namorando a Julieta". Que tipo de texto é esse? Ficcional. Tem gente que chama isso de mentira. 2. Por outro lado, vamos supor que o bilhete é verdadeiro. Isto é, você pediu a Julieta em namoro e ela respondeu "sim, Romeu!". E agora você está louco para contar vantagem para o amigo da carteira do lado. Se o bilhete diz "Estou namorando a Julieta", neste caso é verdade, isso acontece mesmo. Então, esse bilhete é um texto informativo. Isto quer dizer então que a história inventada é mentira? Digamos que é "de mentirinha". Alguém já disse que a literatura é "a mentira que encanta". As histórias inven-tadas saem da cabeça do escritor. O Sítio do Pica-pau Amarelo, que Monteiro Lobato inventou, nunca existiu em lugar nenhum que nossos olhos pudessem ver. O Sítio foi criado pela imaginação de Lobato e existe na imaginação de quem lê a história. Ou seja, o Sítio existe em outro mundo, que a gente não vê: é o mundo da imaginação. “Texto é um tecido verbal estruturado de tal modo que as idéias formam um todo coeso, uno, coerente. Todas as partes devem estar interligadas e manifestar um direcio-namento único.

Assim, um fragmento que trata de diver-sos assuntos não pode ser considerado texto. Da mesma forma, se lhe falta coerência, se as idéias são contradito-rias, também não se constitui texto. Se os ele-mentos da frase que possibilitam a transição de uma idéia para outra não estabelecem coesão entre as partes expostas, o fragmento não se configura um texto. Essas três qualidades - unidade, coerência e coesão - são essenciais par a existência de um texto”. Veja-se um exemplo apresentado por João Bosco Medeiros, em “Português Instrumental”.: “O carnaval carioca é uma beleza, mas mascara, com o seu luxo, a miséria social, o caos político, o desequilíbrio que se estabelece entre o morro e a Sapucaí. Embora todos possam reconhecer os méritos de artistas plásticos que ali trabalham, o povo samba na avenida como herói de uma grande jornada. E acrescente-se: há manifestação em prol de processos judiciais contra costumes que ofendem a moral e agridem a religiosidade popular. O carnaval carioca, porque se afasta de sua tradição, está tornando-se desgracioso, disforme, feio.” O trecho anterior é um fragmento que não se constitui texto. Falta-lhe coerência entre a afirmativa inicial e a final. A oração subordinada que se inicia com embora não apresenta coesão em relação à oração principal; não é possível entender o que o autor quis dizer com aquelas palavras. Como o texto senta várias informações, várias direções: moral, política, social, religiosa, estática, acaba por não constituir um todo. Não há completude, inteireza, unidade. Os elementos estruturais do texto são: o saber partilhado, a informação nova, as provas, a conclusão, o tema, a referência. Por saber partilhado entende-se a informação antiga, do conhecimento da comunidade. De modo geral, o saber partilhado aparece na introdução, um local privilegiado para a negociação com o leitor. Não é difícil admitir que a informação que vai de “não é fácil escrever sobre seu próprio pai” até “sentimental” pertence ao saber partilhado. O emissor-negocia com o leitor, coloca-se num nível de entendimento, estabelece um do, para, em seguida, expor informações novas. A informação nova caracteriza-se como uma necessidade para a existência do texto. Sem ela, não há razão para o emissor escrever nada. Um texto só se configura texto quando veicula uma informação que não era do conhecimento do leitor, ou que não o era da forma como será exposta, o que implica, naturalmente, matizes novos e, conseqüentemente, uma nova maneira de ver os A informação nova não significa originalidade total, absoluta. É análoga ao contrato que o leitor faz com o ficcionista. Ninguém, ao ler “Dom Casmurro”, estará interessado em saber se os acontecimentos relatados são reais, se houve tempo e naquele espaço uma pessoa que se identificava com a personagem -do livro. O leitor entra em acordo com o narrador, admitindo como verossímeis os acontecimentos relatados. Da mesma forma, o leitor de “Memórias de Brás Cubas” não contesta a possibilidade de um defunto ser narrador. Aceita o fato e dá prosseguimento à leitura”. É sabido que, conforme a perspectiva teórica que se adote, o mesmo objeto pode ser concebido de maneiras diversas. O conceito de texto não foge a regra. Antes de discutirmos sua estrutura é preciso saber o que é um texto. Segundo Ingidore Koch, o conceito de texto depende das concepções que se tenha de língua e de sujeito. Na concepção de língua como representação do pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como um produto - lógico - do pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor/ouvinte senão captar essa representação mental,

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juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor, exercendo, pois, um papel essencialmente passivo. Na concepção de língua como código - portanto, como mero instrumento de comunicação - e de sujeito como (pré)determinado pelo sistema, o texto é visto como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, o conhecimento do código, já que o texto, uma vez codificado, é totalmente explícito. Já na concepção interacional (dialógica) da língua, afirma Koch, na qual os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que - dialogicamente - nele se constroem e são construídos. Desta forma, há lugar, no texto para toda gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. Ingidore adota ainda uma última concepção na qual a compreensão deixa de ser entendida como simples “captação” de uma representação mental ou como a decodificação de mensagem resultante de uma codificação de um emissor. Ela é uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução deste no interior do evento comunicativo. O sentido de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não algo que preexista a essa interação. Resumindo, texto é uma unidade lingüística concreta, percebida pela audição (na fala) ou pela visão (na escrita), que tem unidade de sentido e intencionalidade comunicativa. Entretanto é possível notar que os enunciados (falas) não são o único elemento responsável pelo sentido da interação lingüística. Além do texto, há na situação comunicativa, outros elementos que também auxiliam na construção do sentido, como os papéis sociais que os interlocutores desempenham, a intenção do locutor, o conhecimento de mundo do interlocutor, as circunstâncias históricas ou sociais em que se dá a comunicação, etc. Um texto pode ser formado apenas pela linguagem verbal (por exemplo, um poema, um romance), apenas pela linguagem visual (um desenho, uma pintura), como também pelas linguagens verbal e visual (uma história em quadrinhos, um filme). Quando há o emprego dos dois tipos de linguagens, o sentido global do texto só se faz com o cruzamento das duas linguagens. Podemos classificar os textos, quanto a sua estrutura, em narrativo, descritivo e dissertativo. Vejamos aqui as características de um texto dissertativo e seu conceito. • O texto dissertativo, ou seja, a dissertação é uma explanação lógica de idéias. É um texto que analisa e interpreta dados da realidade por meio de conceitos abstratos. • O texto narrativo envolve uma dinamicidade que determina uma transformação nos fatos e nas personagens. Chamamos isto de progressão narrativa. Para que a progressão narrativa aconteça é preciso que se entabule um conflito entre as personagens. Narração é a exposição escrita ou falada de um fato. É um relato de acontecimentos em determinada seqüência, tendo como elementos integrantes:

a) As personagens,

b) Os fatos,

c) O tempo,

d) O espaço e

e) O foco narrativo.

• O texto descritivo é a exposição minuciosa de um fato; a representação das características de uma pessoa, de uma cena, de um objeto ou de um processo. Para fazerse uma boa descrição, dois recursos são necessários: a particularização do espaço, apresentando-se detalhadamente as características do ser ou objeto e a sensibilização dos sentidos, mobilizando as sensações olfativas, táteis, visuais, gustativas e auditivas. De acordo com sua finalidade, podemos falar em dois tipos de descrição:

a) técnica ou

b) literária. O Conteúdo Literário de um Texto Tem-se um conteúdo informativo quando se escreve sobre coisas que acontecem, como nas notícias que aparecem em jornais, revistas e na Internet, bem como nas leis e bulas. Informações Literais e Inferências Literal é literalmente, textualmente, palavra por palavra. É a informação que consta na literatura. Já a inferência é a afirmação (conclusão ou indução) de algo já conhecido como verdadeiro. É confirmar algo como correto. É alguém que corrobora com o que já foi dito. Designa-se por inferência a operação mental pela qual obtemos de uma ou mais proposições outra ou outras que nela(s) estava(m) já implicitamente contida(s). As inferências podem ser divididas em dois tipos: imediatas e mediatas. A inferência imediata consiste em extrair de uma só proposição outra proposição, à qual se atribui o valor de verdade ou falsidade. A inferência imediata pode ser obtida por oposição ou conversão. A inferência mediata consiste numa conclusão obtida a partir de duas ou mais proposições. Este tipo de inferência pode ser de três tipos: analógicas, indutivas e dedutivas. O termo inferência usa-se por vezes como sinônimo de raciocínio. Embora tal associação não seja incorreta, a verdade é que inferência possui um sentido mais abrangente que raciocínio. O termo raciocínio será reservado aplicado apenas a um tipo de inferências, as mediatas. Significação Contextual de Palavras e Expressões Em sentido largo, pode-se entender semântica como um ramo dos estudos lingüísticos que se ocupa dos significados produzidos pelas diversas formas de uma língua. Dentro dessa definição ampla, pertence ao domínio da semântica tanto a preocupação com determinar o significado dos elementos constituintes das

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palavras (prefixo, radical, sufixo) como o das palavras no seu todo e ainda o de frases inteiras. Diz-se, por exemplo, que o verbo haver é sinônimo de existir numa frase como “Há flores sem perfume.” Isso quer dizer que seus significados se equivalem. Pode-se também dizer que uma frase passiva como “A praça foi ocupada pelos peregrinos.” é semanticamente equivalente à sua correspondente na voz ativa “Peregrinos ocuparam a praça.” Dentre os conceitos de semântica indispensáveis para qualquer vestibular, relacionam-se os seguintes: Sinônimos: formas lingüísticas que apresentam o mesmo significado (coragem / destemor; rápido / ligeiro / lépido). Antônimos: formas lingüísticas de significado oposto (progredir x regredir; bom x mau). Polissemia: propriedade que a mesma palavra tem de assumir significados diferentes.

Luísa bate a porta. (fechar) Antônio bate o carro no poste. (trombar) O sino bate três vezes. (soar) O coração bate rápido. (pulsar)

Obs.: o significado específico assumido pela palavra dentro do contexto lingüístico em que ela aparece é denominado significação contextual .

Ambigüidade : possibilidade de interpretar de maneiras diferentes a mesma palavra ou frase.

Ministro falará da crise no Canal 17 .

Nessa frase, usada em questão do vestibular da FGV/SP, não é possível saber se a expressão “no Canal 17” se refere a “falará” (“falará no Canal 17”, sobre uma crise que a frase não especifica) ou a “crise” (“crise no Canal 17”, sobre a qual o ministro falará num lugar não mencionado pela frase). Para resolver a ambigüidade, optando pela primeira interpretação, basta mudar a ordem dos termos na frase:

No Canal 17 , ministro falará da crise.

Optando pela segunda interpretação, a melhor solução é deixar clara a relação entre os termos, lançando mão de outro recurso diferente da mudança de posição das palavras, como, por exemplo:

Ministro falará da crise que atinge o Canal 17 .

Denotação : conceito ou significado que uma palavra evoca. Os dicionários trazem dominantemente o significado denotativo das palavras (descrevem conceitos associados a elas). Conotação: conjunto de valores, impressões ou reações psíquicas que se superpõem a uma palavra. Palavras com praticamente a mesma denotação possuem conotações nitidamente diversas. É o caso de amante,

amásia, companheira, amigada, concubina. As impressões que cada um desses termos provoca são francamente diferentes, embora a denotação (o conceito a que o termo se refere) não varie. É nesse sentido que se diz que não existem sinônimos perfeitos, pois se o são no nível da denotação, raramente ocorre o mesmo no nível da conotação. Sentido literal: significado usual de uma palavra; sentido próprio.

Ex.: Abelhas produzem mel.

Sentido figurado: significado não usual de uma palavra, decorrente de associações com outros significados.

Ex.: “Iracema, a virgem dos lábios de mel.” Ponto de Vista do Autor O ponto de vista do autor geralmente interfere na produção do texto. Existe o ponto de vista físico e o ponto de vista mental.

O Ponto de Vista Físico: consiste na posição física do autor. Ou seja, a perspectiva que este tem do objeto pode determinar a ordem na enumeração dos pormenores.

O Ponto de Vista Mental: consiste numa impressão pessoal e interpretação do objeto. A simpatia ou antipatia do observador pode resultar em imagens bastante diferenciadas do mêsmo objeto.

� Gêneros Textuais � Editorial O editorial é um artigo que exprime a opinião do órgão jornalístico. Geralmente, é escrito pelo reda-tor-chefe, possuindo uma linguagem própria, e pu-blicado com destaque na Segunda ou terceira pá-gina do jornal ou da revista.

As características da linguagem são: ser formal, padrão, objetiva, conceitual; por ser impessoal, emprega-se a terceira pessoa; quanto ao conteúdo, sua estrutura é disser-tativa, organizada em tese (apresentação sucinta de uma questão a ser discutida); de-senvolvimento ( possuir argumento e con-tra-argumentos indispensáveis à discussão e à defesa do ponto de vista do jornal) e conclusão (síntese das idéias anteriormente desenvolvidas) Além disso, deve-se usar exemplos que ilustram o assunto em ques-tão. Possuir coerência entre o título e o con-teúdo, não ter assinatura e expressa o ponto de vista do veículo ou da empresa responsável pela publicação. Desta forma, o editorial é um texto opinativo, cujas idéias expressas contêm a visão de seus res-ponsáveis.

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Os editoriais são textos de um jornal em que o conteúdo expressa a opinião da empresa, da dire-ção ou da equipe de redação, sem a obrigação de ter alguma imparcialidade ou objetividade. Geral-mente, grandes jornais reservam um espaço prede-terminado para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais são normalmente demarcados com uma borda ou tipografia diferente para marcar claramente que aquele texto é opinativo, e não informativo. Editoriais maiores e mais analíticos são chamados de artigos de fundo. O profissional da redação encarregado de redigir os editoriais é chamado de editorialista. Na chamada "grande imprensa", os editoriais são apócrifos - isto é, nunca são assinados por ninguém em particular. A opinião de um veículo, entretanto, não é expressada exclusivamente nos editoriais, mas também na forma como organiza os assuntos publicados, pela qualidade e quantidade que atribui a cada um (no processo de Edição jornalística). Em casos em que as próprias matérias do jornal são imbuídas de uma carga opinativa forte, mas não chegam a ser separados como editoriais, diz-se que é Jornalismo de Opinião. � Reportagem e Notícia A reportagem pode ser televisionada ou impressa! A reportagem é um gênero de texto jornalístico que transmite uma informação por meio da televisão, rádio, revista. O objetivo da reportagem é levar os fatos ao leitor ou telespectador de maneira abrangente. Isso implica em um fator essencial a um jornalista: falar bem e escrever bem. Se televisionada, a reportagem deve ser transmitida por um repórter que possui dicção pausada e clara e linguagem direta, precisa e sem incoerências. Além de saber utilizar a entonação que dá vida às palavras, uma vez que representa na fala os sinais de pontuação! Se impressa, a reportagem deve demonstrar capacidade intelectual, criatividade, sensibilidade quanto aos fatos e uma escrita coerente, que dinamiza a leitura e a torna fluente! Por estas questões, a subjetividade está mais presente neste tipo de reportagem do que no outro, apontado acima! Atualmente, com o desenvolvi-mento dos softwares, os repórteres têm mais recur-sos visuais e gráficos disponíveis, o que chama a atenção para a notícia. Em meio aos fatos presen-ciados e que deverão ser transmitidos, cada repór-ter tem seu estilo próprio de conduzir ou de narrar os acontecimentos. Por isso, a reportagem pode ser a mesma, mas a maneira como é comunicada é diferente de um profissional para outro! Para o leitor ou telespectador é ótimo, pois ele poderá optar, por exemplo, por um jornal falado no qual se identifique com o tipo de linguagem! Qual a diferença entre notícia e reportagem? A primeira informa fatos de maneira mais objetiva e aponta as razões e efeitos. A segunda vai mais a fundo, faz investigações, tece comentários, levanta questões, discute, argumenta. A reportagem escrita é dividida em três partes:

1. Manchete

2. Lead

3. Corpo.

1. Manchete: compreende o título da reportagem que tem como objetivo resumir o que será dito. Além disso, deve despertar o interesse do leitor. 2. Lead: Pequeno resumo que aparece depois do título, a fim de chamar mais ainda a atenção do leitor. 3. Corpo: desenvolvimento do assunto abordado com linguagem direcionada ao público-alvo! � Resenha Resenha é uma produção textual, por meio da qual o autor faz uma breve apreciação, e uma descrição a respeito de acontecimentos culturais (como uma feira de livros, por exemplo) ou de obras (cinema-tográficas, musicais, teatrais ou literárias), com o objetivo de apresentar o objeto (acontecimento ou obras), de forma sintetizada, apontando, guiando e convidando o leitor (ou espectador) a conhecer tal objeto na integra, ou não (resenha crítica). Uma resenha deve conter uma análise e um julgamento (de verdade ou de valor). Uma resenha pode ser:

Descritiva: É o caso dos resumos de livros técnicos, também chamada de resenha té-cnica ou cientifica. A apreciação, ou o jul-gamento em uma resenha descritiva julga as idéias do autor, a consistência e a per-tinência de suas colocações, ao longo da descrição da obra, ou seja, trata-se de um julgamento de verdade. Crítica ou Opinativa: Nesse tipo de re-senha o conteúdo apresentado é um pouco mais detalhado do que na resenha descri-tiva, pois os critérios de julgamento são de valor, de beleza da forma, estilo do objeto (acontecimento ou obra). A exploração um pouco maior dos detalhes ocorre devido à necessidade de que o autor da resenha fundamente suas críticas, sejam elas posi-tivas ou negativas, utilizando outros autores que trabalharam o mesmo tema.

Antes da produção da resenha de um livro (por exemplo) devem ser seguidos os seguintes passos:

- Leitura e reflexão sobre o texto do qual será feito a resenha, sendo que muitas vezes são necessárias leituras complemen-tares para um melhor entendimento do tema. - Resumo da obra, no qual deverão ficar clara as idéias principais do autor. Este re-sumo será a base para a resenha, mas não ela. - Selecionar dentre as idéias principais, uma que será destacada, e até aprofundada (no caso das resenhas críticas). - Emitir um julgamento de verdade (resenha descritiva) ou de valor (resenha crítica), sendo necessária a fundamentação no caso da resenha crítica.

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- Elaborar a resenha a partir dos passos anteriores, sendo que a organização do texto fica a critério do autor.

A resenha deve conter, ainda, uma brevíssima identificação do autor da obra (vida e outras obras). Ao fim da resenha, o autor da mesma deve se identificar. Alguns autores indicam ainda outro tipo de resenha, chamada pelos mesmos de resenhas temáticas. Nesse caso, são apresentados vários textos e autores que falam sobre o mesmo tema, fazendo as devidas referências. � Crônica Crônica é um gênero literário produzido essencial-mente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jor-nal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade uti-litária e pré-determinada: agradar aos leitores den-tro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o es-critor e aqueles que o lêem. Características A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Assim o facto de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições. Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém. Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia. A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam. Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê. Em resumo, podemos determinar cinco pontos:

• Narração histórica pela ordem do tempo em que se deram os fatos.

• Seção ou artigo especial sobre literatura, assuntos

científicos, esporte etc., em jornal ou outro periódico.

• Pequeno conto baseado em algo do cotidiano. • Normalmente possuiu uma crítica indireta.

• Muitas vezes a crônica vem escrita em tom humorístico. Exemplos de autores deste tipo de crônica são Fernando Sabino, Helyda Rezende, Leon Eliachar.

Origem A palavra crônica deriva do Latim chronica que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos. No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats, publicado em Paris. Tipos de Crônica

Crônica Descritiva: Ocorre quando uma crônica explora a caracterização de seres animados e inanimados num espaço, viva como uma pintura, precisa como uma foto-grafia ou dinâmica como um filme publi-cado. Crônica Narrativa: Tem por eixo uma his-tória, o que a aproxima do conto. Pode ser narrado tanto na 1ª quanto na 3ª pessoa do singular. Texto lírico (poético, mesmo em prosa). Comprometido com fatos cotidianos (“banais”, comuns). Crônica Dissertativa: Opinião explícita, com argumentos mais “sentimentalistas” do que “racionais” (em vez de “segundo o IBGE a mortalidade infantil aumenta no Bra-sil”, seria “vejo mais uma vez esses peque-nos seres não alimentarem sequer o cor-po”). Exposto tanto na 1ª pessoa do sin-gular quanto na do plural. Crônica Narrativo-Descritiva: É quando uma crônica explora a caracterização de se-res, descrevendo-os. E, ao mesmo tempo mostra fatos cotidianos ("banais", comuns) no qual pode ser narrado em 1ª ou na 3ª pessoa do singular. Crônica Humorística: Apresenta uma vi-são irônica ou cômica dos fatos. Crônica Lírica: Linguagem poética e meta-fórica. Expressa o estado do espírito, as emoções do cronista diante de um fato de uma pessoa ou fenômeno.No geral as emo-ções do escritor. Crônica Poética: Apresenta versos poéti-cos em forma de crônica. Crônica Jornalistica: Apresentação de as-pectos particulares de noticias ou fatos. Po-de ser policial, esportiva ou política. Crônica Histórica: Baseada em facto reais, ou factos históricos

� Carta

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Nos últimos concursos do país, além dos textos mais comuns (narração, descrição e dissertação) novos textos vêm sendo propostos. Um deles é a carta . Esse é um tipo de texto que se caracteriza por envolver um remetente e um destinatário. É normalmente escrita em primeira pessoa, e sempre visa um tipo de leitor. É necessário que se utilize uma linguagem adequada com o tipo de destinatário e que durante a carta não se perca a visão daquele para quem o texto está sendo escrito. Dependendo do leitor há até mesmo tratamentos específicos, no caso de autoridades como o papa (Vossa Santidade), o juiz, o presidente, entre outros. Há algumas características que marcam esse tipo de texto:

- Local e Data - Destinatário - Saudação - Interlocução com o destinatário - Despedida

Obs: Esses itens estão na ordem em que devem aparecer. No caso dos concursos há um tipo de carta comumente sugerido: a carta argumentativa . Sobre esse tipo de texto destacaremos algumas “regras” que ajudaram na composição da mesma.

Adequação ao tema: Como são argumen-tativas devem sustentar uma tese e defen-dê-la, de modo a persuadir seu interlocutor a concordar com os argumentos utilizados. Além disso, é bom que traga também da-dos, fatos, exemplos, etc., que possam au-xiliar o processo de convencimento do leitor e atestar a veracidade e coerência das opiniões expostas. Adequação ao tipo de texto: A carta deve obedecer às mesmas características das outras cartas, as quais já foram citadas. Precisam ser coesas e coerentes, constru-indo um texto, e as informações não devem ser repetidas, ao invés disso é adequado utilizar citações ou opiniões de outros autores, explorando em profundidade essas opiniões. É indispensável que sejam objeti-vas e analíticas, fazendo observações inte-ligentes e fundamentadas, sempre criando relações entre os argumentos. Adequação à norma da língua portugue-sa: Deve obedecer, assim como os demais textos, às regras de sintaxe, paragrafação, grafia, concordância, regência (nominal e verbal), colocação pronominal, pontuação e regras de coerência e coesão.

O que diferencia a carta argumentativa das demais cartas é o compromisso que ela assume com o convencimento do interlocutor, e o que a diferencia de uma simples dissertação argumentativa é que esta é dirigida a um interlocutor universal, enquanto aquela é dirigida a um interlocutor previamente especificado. Este fato torna mais fácil o processo de argumentação, já que eu

conheço o leitor da minha carta, e assim posso prever os questio-namentos e interesses possivelmente vindos dele. É importante que se saiba que o foco da carta é a persuasão do destinatário. Conhecendo-o podemos fundamentar melhor os argumentos a serem utilizados e adequá-los à realidade daquele público.

Modelo de Carta Comercial

Loja da Maria

Maria e Cia. Ltda. Comércio de utensílios Av. João, 1000 Goiânia – GO

Goiânia, 03 de março de 2008.

Ao diretor Joaquim Silva Rua das Amendoeiras, 600 Belo Horizonte – MG

Prezado Senhor:

Confirmamos ter recebido uma reivindicação de depósito no valor três mil reais referente ao mês de fevereiro. Informamo-lhe que o referido valor foi depositado no dia 1º de março, na agência 0003, conta corrente 3225, Banco dos empresários. Por favor, pedimos que o Sr. verifique o extrato e nos comunique o pagamento. Pedimos escusas por não termos feito o depósito anteriormente, mas não tínhamos ainda a nova conta bancária.

Nada mais havendo, reafirmamos os nossos protestos de elevada estima e consideração.

Atenciosamente,

Amélia Sousa Gerente comercial

� Artigo de Opinião É comum encontrarmos circulando no rádio, na TV, nas revistas, nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição por parte dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso o autor geralmente apresenta seu ponto de vista sobre o tema em questão através do artigo de opinião. É importante estar preparado para produzir este tipo de texto, pois em algum momento e/ou circunstância poderá surgir oportunidades ou necessidades de expor idéias pessoais através da escrita. Nos gêneros argumentativos em geral, o autor tem a intenção de convencer seus interlocutores e para isso precisa apresentar bons argumentos, que consistem em verdades e opiniões. O artigo de opinião é fundamentado em impressões pessoais do autor do texto e, por isso, são fáceis de contestar. A partir da leitura de diferentes textos, o escritor poderá conhecer vários pontos de vista sobre um determinado assunto. Para produzir um bom

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artigo de opinião é aconselhável seguir algumas orientações. Observe:

a) Após a leitura de vários pontos de vista, anote num papel os argumentos que achou melhor, eles podem ser úteis para fundamentar o ponto de vista que você irá desenvolver. b) Ao compor seu texto, leve em consideração o interlocutor: quem irá ler sua produção. A linguagem deve ser adequada ao gênero e ao perfil do público leitor. c) Escolha os argumentos, entre os que anotou, que podem fundamentar a idéia principal do texto de modo mais consciente e desenvolva-os. d) Pense num enunciado capaz de expressar a idéia principal que pretende defender. e) Pense na melhor forma possível de concluir seu texto: retome o que foi exposto, ou confirme a idéia principal, ou faça uma citação de algum escritor ou alguém importante na área relativa ao tema debatido. f) Crie um título que desperte o interesse e a curiosidade do leitor. g) Formate seu texto em colunas e coloque entre elas uma chamada (um importante e pequeno trecho do seu texto) h) Após o término, releia seu texto observando se nele você se posiciona claramente sobre o tema; se a idéia é fundamentada em argumentos fortes e se estão bem desenvolvidos; se a linguagem está adequada ao gênero; se o texto apresenta título e se é convidativo e por fim observe se o texto como um todo é persuasivo. Reescreva-o se necessário.

� Relatórios Um relatório configura-se como a exposição objetiva, informativa e apresentável de resultados referentes atividades variadas. Estrutura Interna Este documento deverá conter em sua estrutura um título, sintético e objetivo, dando uma idéia do todo; o objeto de trabalho e a delimitação, mencionando tanto os pontos abordados quanto aqueles que foram preteridos. Acompanhando estes elementos virão as referências de consultas que foram utilizadas para elaborar o relatório; um texto principal, contendo observações, dados, números e, por último, as conclusões e as sugestões para que providências sejam tomadas no sentido de resolver alguma questão apontada. É importante evidenciar que o relatório deve ser escrito, datilografado, mimeografado ou digitado em apenas uma das partes do papel, cujo formato, preferencialmente, seja de 21 x 29,7cm, ABNT. Vejamos um exemplo:

RELATÓRIO DA SUBSTITUIÇÃO DO PREFEITO EM PORTO DE GALINHAS Em cumprimento às ordens legais da Constituição Brasileira, substitui o Prefeito de Porto de Galinhas Dr. Paulo Pinto, no dia 24 de maio de 2004, efetuando às seguinte medidas: 1. Fornecimento de incentivos financeiros aos pescadores para que comprem um caminhão frigorífico. 2. Pagamento dos funcionários públicos. É o meu relatório. Porto de Galinhas, 21 de maio de 2004 Patrícia Silva � Parecer O parecer constitui-se em um texto formado a partir do resultado de análises relativas a determinado projeto, ato ou relatório técnico, pertencente a um processo para o qual aponte uma solução favorável ou contrária, justificada através de dispositivos legais e informações. Estrutura Interna Este documento deve ser confeccionado de maneira que contenha um timbre escrito em caixa alta e centrado na folha; uma ementa traduzindo o assunto; uma síntese histórica do caso, relatório, projeto de que trata o parecer. Seguindo estes elementos virá a apreciação que consiste num trecho do parecer em que o redator argumenta em relação à validade e importância do objeto em análise; a informação sobre a legislação que ampara o tema do parecer. E por último, o encerramento, dado através da expressão formal que traduz a posição favorável ou não, sobre o assunto analisado, a data grafada em continuação do texto ou em linha nova e parágrafo e a assinatura localizada ao lado ou sob a assinatura de cada membro. Segue abaixo um exemplo: PARECER Trata o seguinte processo da solicitação da professora Maria da Silva, aprovado pelo colegiado do DLA, que tem como proposta executar um projeto de extensão junto à Editora da FURG, dispondo-se a prestar serviço de assessoria através da revisão de textos originais, nos semestres 97/02 e 98/02, dedicando 12 horas semanais ao mesmo. Constam do Processo a solicitação da professora, com a alteração da carga horária, o projeto de extensão, em seu formulário próprio, e ofício do professor Paulo Cintra, diretor da Editora da FURG e membro deste colegiado, através do qual convida a professora Lúcia Flores a colaborar no trabalho de revisão de originais e, em alguns casos, revisão final das provas para impressão. E acrescenta: “Compreendemos que este serviço pode ser realizado como atividade de extensão, com carga de 20 horas semanais”. Considerando a importância da participação da professora Maria da Silva dentro do projeto global que o professor Paulo Votto pretende desenvolver para otimizar o trabalho da Editora da FURG e a perfeita adequação do projeto em apreciação a Resolução nº44/CEPE/96 que regulamenta

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as atividades de extensão, recomendamos ao colegiado que aprove o projeto em pauta. Rio Grande, 12 de maio de 2004.

Cecília Meireles

Relatora � Ofício Um ofício é um documento utilizado por órgãos do governo ou autarquias para correspondência externa e que tem por finalidade tratar de assuntos oficiais. Estrutura Interna: Um ofício deve conter em sua estrutura um timbre representado por um símbolo e o nome da unidade impressa no alto da folha e a numeração, dentro do ano, que o ofício recebe, em ordem cronológica de feitura, seguido da sigla de indicação do órgão eminente. Este, por sua vez, faz-se anteceder o nome da correspondência escrito por extenso ou abreviado. Acompanhando estes elementos virá o local e data (dia, mês e ano) que devem ser escritos a sete espaços duplos ou a 6,5cm. da borda superior. O mês é escrito por extenso. Entre o espaço e a centena se deixa um algarismo do ano, deve ser feito o ponto final e o término da data deve coincidir com a margem direita, que é de cinco espaços duplos ou de 5cm. A seguir virá o vocativo que deve ser escrito a dez espaços duplos ou 10cm da borda superior, na linha do parágrafo, a dez espaços ou 2,5cm da margem e, por fim, um texto, em forma de parágrafo expondo o assunto, que inicia-se a 1,5cm do vocativo. Os parágrafos são enumerados rente a margem, com exceção do 1º e do fecho. A apresentação do ofício é feita no primeiro parágrafo, no decorrer do texto aprecia-se e se ilustra o assunto com os devidos esclarecimentos e informações pertinentes. Na conclusão se faz a reafirmação da posição recomendada pelo emitente do ofício sobre o assunto. Quanto ao fecho este deve estar localizado a um espaço duplo (ou 1cm) do último parágrafo do texto, centrado à direita e seguido de vírgula. Seguindo este elemento virá o nome do signatário datilografado em maiúsculas, do cargo só com as iniciais maiúsculas, escritas sob o nome, a assinatura que deverá ser feita imediatamente acima do nome. Estes dados devem estar centralizados à direita na direção vertical da fecho, a três espaços duplos ou 2,5cm. deste . A identificação do destinatário deverá conter um pronome de tratamento, acima da designação da função exercida pelo mesmo, seguido do nome deste e, após, o endereço. Caso o ofício seja constituído por mais de uma folha, o endereço do destinatário deve constar da primeira. Na diagramação dos dados, o último deve estar a dois espaços duplos ou 2cm. da borda inferior do papel, e todas as linhas devem coincidir com o texto, rentes a margem esquerda. Entre os parágrafos do ofício deve ser deixado um espaço duplo ou 1cm. O espaço entre as linhas também é duplo; nas transcrições e citações é um ou um e meio; estes, preferencialmente, devem vir salientados por aspas e, se ultrapassarem cinco linhas, devem distar cinco espaços da margem esquerda. Se o ofício tem por objetivo transmitir um assunto do interesse de diversos setores, é necessário que sejam tiradas tantas cópias forem preciso. Nesse caso, o ofício passará

a se chamar de ofício circular, grafado com inicial maiúscula, antes do número de ordem. Vejamos um exemplo: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS UNIÃO CÍVICA FEMININA SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL GABINETE DA PRESIDENTE OF. GAB. Nº 43/2003 São Carlos, 17 de maio de 2004 Senhor Governador A União Cívica Feminina de São Carlos cumprimenta prazerosamente Vossa Excelência e agradece a honra de sua visita. A entidade, eterna vigilante das atitudes e ações cívicas de nossa comunidade e de seus representantes, vem solicitar uma verba para poder atender aos diferentes programas sociais que desenvolve. Nosso atendimento, que abrange os mais diversos setores carentes de São Carlos, é amplamente conhecido e elogiado pela comunidade sãocarlense. O produto auferido pelas contribuições de seus associados, não é suficiente para continuar mantendo nossas obras assistenciais. Confiando no criterioso senso de Vossa Excelência para atender nosso pedido, esperamos poder contar com sua generosa colaboração. Antecipadamente agradecidas, subscrevemo-nos,

ALINE ALESSANDRA FORMENTON Presidente

Exmo. Sr

Doutor Geraldo Alkmin D.D. Governador do Estado

São Paulo

� Tirinha As histórias em quadrinhos são definidas por Santos (2002) como uma forma de comunicação visual impressa que se soma a elementos verbais para compor uma narrativa. Pode ser publicada de diversas maneiras, entre elas em formato de tiras, como vemos diariamente nos cadernos de cultura dos principais jornais do país. Especificamente sobre as tiras, Santos entende que elas podem ser apresentadas de duas formas. Primeira: como trecho de uma narrativa maior, em que apenas uma parte da história é apresentada ao leitor. O funcionamento seria parecido com o de uma novela de televisão, em que o telespectador vivencia em doses diárias uma história mais longa. Nas tiras, a cada dia, o leitor lê um pedaço da aventura (servem de exemplo personagens como Mandrake, Fantasma e outros). Em geral, não tem cunho cômico. A segunda forma –e é a que nos interessa- é a tira humorística, como foi chamada pelo autor. Seria uma história que apresenta uma gag, termo entendido por Santos como uma piada diária (dado que, na maioria dos casos, é publicada diariamente pelos jornais). Para explicar esse tipo de tira, vale-se de texto de Morin (1973). A autora européia abordava textos de humor, ou historietas cômicas, como foi traduzido para o português.

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Tais produções teriam em comum três funções: a de normalização apresentava os personagens, a locutora de deflagração colocaria o problema a ser resolvido e a interlocutora de distinção se encarregaria de transitar a narrativa vigente de um modo sério para o modo cômico. A mudança de um modo para outro seria feita por meio de um elemento disjuntor, que se encarregaria de proporcionar um desfecho "absurdo" o suficiente para causar humor no interlocutor. O modelo de Morin vai ao encontro dos trabalhos de Possenti e, em especial, de Gil. Pode-se supor que o elemento disjuntor tem a mesma aplicação e características do elemento mediador, de Gil. Fica a ressalva de que o trabalho de Morin abordava especificamente textos curtos, publicados no periódico France-soir. Santos não polemiza o assunto, dando como certa a aplicação do modelo nas tiras humorísticas. A “convicção” de Santos encontra reforço em obra de Cagnin (1975) que, apesar de publicada há três décadas, ainda conserva sua grande relevância. O autor não cita Morin, mas se aproxima muito do que a autora escreveu. Cagnin vê três funções narrativas nas histórias em quadrinhos de humor: uma situação inicial; um elemento que muda o curso da narrativa; uma disjunção provocada pelo elemento anterior. O resultado da mudança de curso na história surpreenderia a expectativa inicial do leitor, provocando em seu desfecho uma função narrativa anormal, fonte do riso. Como vemos, há muitas aproximações possíveis. Entendemos que Santos, Morin e Cagnin usam estradas teóricas distintas, que encontram morada num mesmo ponto. Mudam-se os termos e os caminhos; conservam-se as idéias semelhantes. Semelhança vista também com relação a Possenti e Gil, o que autoriza o questionamento: a tira humorística é uma forma diferente de se contar piadas? Analisando casos Propomos a análise de quatro tiras. Primeira:

A tira é uma das muitas criações do escritor Luiz Fernando Veríssimo, que, no exemplo, também responde pelos desenhos. Trata-se de uma narrativa curta, desenvolvida em três quadros. Ao leitor, é exigido o conhecimento prévio de que os protagonistas são duas cobras, caracterizadas de forma caricata. O humor é gerado com o auxílio dos diálogos, mais especificamente pela inferência sugerida no último quadrinho: alguém deve se sentir como o personagem, já que ele se sente como outra pessoa. O desfecho inesperado é o que provoca o efeito de humor. O que reforça a idéia de que a história surpreende em seu final é a expressão facial da outra cobra, sugerindo ao leitor um ar de desdém. No caso da figura 1, a fonte de comicidade reside mais nos elementos verbais. O aspecto visual, embora importante, é tido como complementar. Outro caso parecido: Figura 2.

Novamente, narrativa curta, diálogos somados a elementos visuais, necessidade de conhecimento prévio. O leitor tem de saber que os personagens são Mônica e Cebolinha, e que Cebolinha troca os erres pelos eles. Daí “polta”, e não “porta”. Neste exemplo, a graça surge pelo duplo sentido da palavra “batido”, depreendido contextualmente. A história conduz para o sentido de que a personagem de Maurício de Sousa deveria ter acusado sua presença dando batidas na porta, já que a campainha não funcionava. A surpresa está na outra leitura, autorizada pelo último quadrinho (“Oras! Ela não me fez nada!”): por que bater (na acepção de agredir) na porta, já que ela, a porta, não havia feito mal algum. Aceita-se tal interpretação admitindo como possível o fato de que uma porta pudesse proporcionar dano a alguém. Outra vez, a explicação se ancora em elementos lingüísticos, colocando o visual num segundo plano. Nem sempre funciona assim. Há tiras em que o aspecto visual sobrepõe-se ao verbal. Como neste exemplo:

A frase no canto esquerdo superior (”Nem sempre peixes soltam bolhas de ar”) dá as condições para que o leitor depreenda o humor. A fonte da comicidade, no entanto, está na leitura visual e na inferência que ela permite: peixes se afastam porque um deles, ao invés de soltar bolhas de ar, solta gases. O sorriso irônico do peixe ao centro reforça tal interpretação, igualmente inesperada. Vale mencionar que esta narrativa resolve-se com um quadro só e sem diálogos, além de que tem como elemento mediador ou disjuntor um recurso visual, e não lingüístico, como nos casos anteriores. Há casos em que os elementos visual e verbal trabalham de forma mais harmoniosa, sendo ambos igualmente relevantes. Vejamos:

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“Basta ensinar o truque certo” traz uma quebra de expectativa: ao invés de ser um truque artístico, o truque é o fato de os macacos roubarem a carteira do espectador. Percebe-se tal interpretação com o auxílio do elemento visual, no último quadro, quando o macaco tira a carteira do homem mais alto. Há um duplo sentido sugerido pela palavra "truque", compreendido apenas com a leitura da imagem. � Charge Uma Charge é um Texto? Pode-se constatar que em provas de vestibulares, principalmente na área de redação, várias instituições de ensino utilizam os textos não-verbais como subsídio a mais para o debate de determinados temas, polêmicos ou não, funcionando como um objeto concreto para a produção textual. Além disso, estes “pequenos grandes” textos são atração a parte em revistas e jornais diariamente. Quem não abriu o jornal no final de semana e se deteve, nem que por alguns momentos, na leitura de tiras, quadrinhos e/ou charges? A imagem visual da charge, através de um processo interno de leitura e análise parece dizer e exigir algo a mais ao/do leitor. Professores, historiadores, filósofos, psicólogos e outros estão, mais que em outros tempos, preocupados em esclarecer os problemas e dar soluções para os possíveis motivos de não-criticidade na escola. O que durante anos ficou restrito a pesquisadores e estudiosos das áreas da linguagem, hoje é de interesse geral. Muitos se habilitam a falar que o problema da leitura está na precária condição sócio-econômica das pessoas; outros dizem haver falta de interesse e/ou de preparo dos profissionais da área (professores) que, sem salários dignos, não conseguem manter seu aperfeiçoamento contínuo. Alguns acreditam que o hábito da leitura se dá desde o nascimento (leitura de mundo) e que um dos aspectos importantes a serem analisados em assíduos e bons leitores é o fato de terem contato com os livros desde a infância, sempre incentivados pelos pais. Existe uma infinidade de estudos que analisam livros, poesias, crônicas, contos e outros tipos de textos como objeto simbólico de pesquisa em áreas diferentes da Lingüística. Particularmente, no caso da charge, não é freqüente o trato com esta tipologia textual, embora ela contenha os elementos essenciais para ser considerada enquanto processo de comunicação (texto), podendo ser verificada em suas formações discursivas, dentro de um contexto sócio-histórico-ideológico. Na leitura de charges pode-se aplicar, como diz Koch, a “metáfora do iceberg: como este todo texto possui apenas uma pequena superfície exposta e uma imensa área imersa subjacente”. Portanto, a partir disso, o que interessará é desvendar “um jogo de linguagem”, ou seja, a heterogeneidade da charge, tudo que ela suporta explícita ou implicitamente, o que ela fala ou deixa de falar. Inicialmente a justificativa para a análise da charge é sustentada pelo fato de pode ser considerada texto, conforme Koch (1995), pois “... texto é resultado da atividade verbal de indivíduos socialmente atuantes, na qual estes coordenam suas ações no intuito de alcançar um fim social, em conformidade com as condições sob as quais a atividade verbal se realiza” e, ainda, “Um texto passa a existir no momento em que parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação lingüística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situacional,

cognitiva, sociocultural e interacional, são capazes de construir, para ela, determinado sentido.” Essa abordagem inicial vai ao encontro da proposta de Orlandi (1998), que vê a interpretação como uma das formas de ligar a língua e a história na produção de sentidos, sem esquecer de situar a ideologia como parte do funcionamento da interpretação. No caso da charge, esta foi escrita em determinado contexto histórico-social e, possivelmente, pode revelar-se em sua discursividade. Vista deste ângulo, a análise da charge supõe a leitura da imagem e da escrita. Partindo da visão de que texto é construção de sentidos, a charge pode ser considerada um texto? Por ser o objeto que alia o verbal ao não-verbal, teremos como ponto de partida o fato de ser o texto a unidade de sentidos em construção e não aqueles que estão ali previamente automatizados, prontos e construídos. Não tomemos o texto somente como o que está escrito no papel ou como o objeto de estudo gramatical, mas aquilo que se forma ao logo da leitura: a “construção de sentidos”. No caso a charge seria o texto que utiliza o verbal e o não-verbal na construção de sentidos. O Processo de Apreensão de Sentidos nas Charges Nesta fase do trabalho, feita a sondagem da turma, o debate e reflexão sobre o assunto das charges, serão observadas marcas textuais como coerência, coesão, ironia, intencionalidade e outros em sua relação. A partir da experiência leitora, a abordagem de tais recursos textuais será relatada conforme a experiência feita com os discentes do ensino médio selecionados. A Coerência A incoerência textual se dá quando o receptor não consegue perceber qualquer continuidade no sentido e arrisca uma opinião desfocada, ou mesmo não entende a quebra dos sentidos. No caso das charges estudadas (Figuras 2 e 3), podemos perceber pistas. Primeiramente percebe-se a presença de figuras específicas e logo parte-se para a leitura de falas ou de outras marcas presentes. Alguns destes textos apresentam somente as ilustrações dispensando a parte verbal, mas, neste caso, as charges em questão apresentam tanto uma parte verbal quanto uma não-verbal complementares no sentido o que dá certa coerência ou deslizamento de sentidos. No caso, a figura mostra concretamente ações, atitudes, expressões, gestos que auxiliam na produção de determinados sentidos. A parte escrita explica o que está ocorrendo e dá uma “pitada de pimenta” ao texto, pois além de ser um objeto de análise temporal, utiliza muito humor, sátira e/ou ironia. Portanto, existe coerência na charge se ela tiver os elementos que façam com que o leitor descubra sentidos possíveis em sua leitura, mas nem sempre eles apresentarão a apreensão de sentidos mesmos ou na mesma ordem, isso depende de experiências leitoras, de mundo e as próprias vivências de cada um. Neste sentido o encaminhamento que o leitor dá a interpretação do texto que não precisa ter necessariamente coerente, pois estamos diante de um processo de antecipação de sentidos e estes podem sempre ser outros. O importante aqui é fazer com que os alunos percebam os elementos constitutivos de uma charge na maioria dos casos (ilustrações e escrita) e que uma faz com que a outra tome corpo, que tenha significação. Ficaria fácil demonstrar esse fenômeno se o

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leitor apenas olhasse para as figuras e fizesse sua leitura sem a parte escrita e vice-versa. Como seria sua interpretação do texto desta forma? Talvez faltassem alguns dados essenciais para que o assunto fosse abordado da mesma forma, pois se testarmos com a figura 2, o aluno veria apenas a cena de um bandido apontando o dedo para um policial. Com a escrita inserida existe a constatação de que o bandido está repreendendo o policial pelo uso de arma de fogo. Por vezes a charge pode trazer o inesperado como a mudança de foco, um gesto diferente que faz a interpretação tomar outro rumo, mas isso depende da intenção do chargista. A Coesão Ao ler/analisar uma charge, verificamos que a escrita está vinculada a imagem, em muitos casos. Uma é dependente da outra. Pode-se dizer que a imagem não sobreviveria sem a escrita e viceversa. Isso depende do material, não é regra. Talvez, para alguns leitores, os sentidos poderão estão ali e não causam nenhuma surpresa. Para outro leitor que não tem as mesmas experiências leitoras do primeiro pode ser mais trabalhoso. A leitura de charges depende em muito do universo em que o leitor está inserido, suas experiências de mundo, leituras, pensamentos, sentimentos,... Nas charges das figuras 2 e 3, quem sabe, não existiria a mesma leitura se não estivesse ali a escrita indicando parte da construção de sentidos. Se não estivesse posta ali a figura, a leitura poderia se dirigir a outro enfoque. Portanto, coesão é a relação de dependência entre as imagens e a escrita em determinadas charges. É uma dependência para o/os sentido(s), para que a interpretação se mantenha. É como se o chargista quisesse encaminhar o leitor. São os mínimos detalhes que mantém o leitor ligado em determinadas idéias e não em outras. São os detalhes do desenho e da escrita que dão uniformidade ao texto. Ele relaciona as partes e tem um todo organizado de sentido quando da sua compreensão. A Intencionalidade Kleiman (2000, p.92) reflete em torno da interação em um texto como sendo a atribuição de intencionalidade: “Processar um texto é perceber o exterior, as diferenças individuais superficiais, perceber a intenção, ou seja, atribuir uma intenção ao autor é chegar ao íntimo, à personalidade através da interação. É uma abstração que se fundamenta nas outras”. Com isso percebe-se que, em uma charge, esse processo se dá desde a escolha dos personagens ou elementos até a verbalização de determinados pontos de expressão. Na charge a intencionalidade certamente é alvo do chargista e do leitor. Sempre que nos deparamos com esse tipo de texto nos perguntamos “O que ele quis dizer com isso?”. Isso significa dizer que esse texto não é neutro e não se preocupa com a censura. Koch (2003, p. 20) comenta que A pretensa neutralidade de alguns discursos (o científico, o didático, entre outros) é apenas uma máscara, uma forma de representação (teatral): o locutor se representa no texto “como se” fosse neutro, “como se” não tivesse engajado, comprometido, “como se” não estivesse tentando orientar o outro para determinadas conclusões, no sentido de obter dele determinados comportamentos e reações. Entretanto, essa carga de

sutilizas é percebida através da competência do leitor. Em alguns instantes pode ficar clara a intenção não só do chargista, mas do personagem da charge. Eis aqui o poder da linguagem. O homem cria formas de se comunicar com os semelhantes seja apelando para a visão, tato, gustação ou audição. Depende em muito do que o leitor vai entender da charge, que sentidos vai construir, onde ou até onde ele vai chegar? Se por um lado existe a intencionalidade, na sua contraparte existe a aceitabilidade. Ou seja, quando duas pessoas se comunicam existe um esforço de ambas para se fazer entender, portanto, procuram “calcular” os sentidos do texto, partindo de pistas que ativem seu conhecimento de mundo, de situação. Assim, mesmo que um texto se apresente incoerente, aos poucos os elementos de coesão vão auxiliando para uma interpretação cabível para que se construa a textualidade. O leitor é orientado para uma determinada conclusão. A intencionalidade na charge também está relacionada a um fato social de determinada época ou tempo. É um texto temporal, que pode não ser compreendido de um ano para outro. Corre o risco de ser esquecido de uma hora para outra. O que parece interessar é a crítica, é a oportunidade de fazer o leitor pensar e repensar a situação e, quem sabe, a sua vida.

Figura 2

Figura 3

� Pinturas e Placas No caso de pinturas em muros, paredes, placas, o ideal é que se use um texto simples, com a linguagem simplificada, onde todos consigam entender.

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� Propaganda Texto curto ou texto longo? Muita gente, por achar que as novas gerações de consumidores representam o que não se poderia chamar exatamente de letradas, por seus níveis insuficientes de leitura e crescente apego à imagem – acredita que textos publicitários devam ser curtos ou, até, inexistentes. É o pessoal que advoga a comunicação eminentemente conceitual, seja lá o que isso signifique. Por falar nisso, existe um conceito por aí que diz que a atual geração (nascidos nos anos oitenta e após) é predominantemente formada por Xers (leia–se écsers), isto é, a turma do X, das opções por múltipla escolha, da linguagem de videogame, em suma, gente que não gosta de ler e quer receber a informação já mastigada, prontinha para digestão. Esta rapaziada estaria em contraposição aos boomers, no caso eu, nascido no boom populacional da década de 1950, e meus contemporâneos, os quadradões que estudaram filosofia e latim no colégio e foram obrigados a ler na marra Machado de Assis e demais expoentes da literatura em língua portuguesa (eu era um sortudo e não sabia). Se partimos deste princípio de Xers, boomers, geração isso, geração aquilo, corremos apenas o risco de alimentar preconceitos que, como já vimos, são puro veneno para a boa comunicação. O que é indispensável é conhecer bastante bem o público–alvo para falar com ele de modo a mais facilmente persuadi–lo para as virtudes do produto anunciado. Em outras palavras, faça seu texto publicitário do tamanho que você achar que deve fazer e em função do que o seu feeling disser. Use palavras simples. Nada desse negócio de querer ganhar o Prêmio Nobel de literatura com um anúncio. Embora devamos respeitar a inteligência do Sr. Target, temos a obrigação de lembrar sempre que a simplicidade, no caso, é a mãe dos resultados. Anúncios, embora valham–se de texto e arte, não são obras artísticas a priori; são peças construídas em função de uma expectativa de vendas! Daí, a necessidade da simplicidade, o que não nos desobriga do bom gosto e dos argumentos inteligentes. O Sr. Target não é uma pessoa só, são milhões de pessoas com bagagens culturais e vocabulários necessariamente diferentes, então não podemos nos arriscar com o uso de termos estranhos àquilo que consideramos o conhecimento do homem médio. Coloquial é bom: Propaganda é, por definição, um ato de persuasão. E ninguém melhor para nos persuadir do que um amigo próximo, certo? A linguagem coloquial representa exatamente alguém próximo, em quem podemos confiar. O produto passa a ser esse alguém em quem podemos confiar! Claro que não se trata, principalmente no caso da mídia eletrônica, daquele locutor com voz de travesseiro sussurrando no ouvido do Sr. Target. O coloquial, aqui, tem o sentido de proximidade, mas – atenção! – tenha sempre muito cuidado na escolha das idéias, e das palavras que as expressarão, pois, por falarmos com grupos, não iremos nos arriscar a ofender as suscetibilidades individuais de quem quer que seja, por mínima que possa parecer esta ofensa.

Informativo: É evidente que tudo depende das circunstâncias, do briefing específico, mas não poderemos jamais relegar para segundo plano o caráter informativo que o anúncio deve ter sobre características e virtudes do produto. Se o produto tem algum ingrediente inédito, por exemplo, explique o que é e para que serve. Se houver espaço e oportunidade, mostre como este ingrediente age. Se o produto ou serviço incorpora alguma nova tecnologia, estude–a o suficiente para estar seguro de que seu texto é realmente esclarecedor. Algum benefício ou alguma promessa muito facilmente identificáveis devem estar claramente estampados lá no anúncio. Nada de rodeios, e nada de presumir que o Sr. Target vai entender suas intenções geniais, porém ocultas. Clareza e conteúdo na informação é metade do sucesso garantido! E nada de preguiça: O publicitário, particularmente aquele que trabalha em Criação, é sobretudo um artesão. Por isso, fazer um bom texto publicitário também é buscar a perfeição. Tá bom, raras vezes isso é possível, porque o Atendimento e o cliente não saem mesmo do pé, ficam enchendo o saco, querem tudo para ontem, etc. Mas, quando dá, é seu dever como redator brincar com o texto até a beira da exaustão. Pesquise, vá à biblioteca mais próxima, vá à internet, procure literatura e referências sobre o tema. Escreva e reescreva o anúncio mil vezes, troque palavras, experimente sonoridades, mude as abordagens, tente o humor, tente o sentimentalismo, tente o apelo à razão, tente idéias antagônicas, tente o escambau… pois sabe–se lá qual poderá ser o resultado. Tire a primeira frase, se não fizer diferença, é porque ela estava a mais; continue fazendo o mesmo com as demais frases. Faça isso também com algumas palavras, e preste muita atenção aos vícios de linguagem, coisas como “vai estar fazendo” em lugar de um simples “fará”, ou “temos a certeza” em vez de “temos certeza”. E para matar a pau, enxugue ao máximo textos e idéias, porque a síntese na sua comunicação é o pulo do gato da Propaganda eficaz. Invente!: O bom texto publicitário deve, enfim, ser trabalhado como se trabalha na confecção de um mosaico, unindo peças (as palavras) as mais vari-adas para obter um resultado surpreendente. Eis mais uma razão para se esforçar continuamente no desenvolvimento de um bom vocabulário, coisa que se obtém, nunca é demais lembrar, pelo exercício constante da leitura de todos os gêneros literários e de tudo que possa estar ao seu alcance. Uma coisa eu garanto: o texto que nascer depois de muita transpiração do redator será, certamente, um ótimo texto publicitário. Cuidado com redundâncias. As redundâncias de texto/imagem ocorrem, mais freqüentemente, no filmes publicitários, e são um desperdício de recursos.

Exemplo: a imagem mostra uma maçã. E o texto diz: maçã.

Agora vejamos de outra forma. A imagem mostra uma maçã e o texto diz: a tentação do sabor. Faz muita diferença, não? Evitar a redundância significa ganho de tempo e de espaço que poderá ser utilizado para o desenvolvimento de algo mais, como um novo

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argumento, uma idéia acessória, etc. Se, num filme de trinta segundos, por exemplo, tivermos redundância texto/imagem, teremos aí os mesmíssimos trinta segundos de informação. Mas se o texto ocupar trinta segundos com a informação X, e a imagem ocupar trinta segundos com a informação complementar Y, o filme continuará com trinta segundos de tempo, mas com sessenta segundos de informação. Pura malandragem para fazer o anúncio crescer; é fermento de publicitário! Um outro cuidado a se tomar é evitar o reaproveitamento do mesmo texto para diferentes mídias (muita gente apela para este recurso). Isto, porque diante de cada mídia o comportamento do Sr. Target poderá alterar–se, e um texto que eventualmente funcione bem na TV talvez não repita o mesmo desempenho no rádio. Finalmente, se for o caso, radicalize no combate à redundância: elimine o texto e veja se a imagem fala melhor sozinha! Não é incomum que isto aconteça. Caso real. Antes, alerto que já no Volume 1 deste livro evitei a todo custo a reprodução de anúncios pelas razões que lá expus na Apresentação. Havia me proposto a fazer o mesmo neste segundo volume, mas abro uma exceção para um anúncio maravilhoso que eu e o Newton Cesar criamos, certa vez, e que foi um caso típico da eliminação pura e simples do texto. Era um anúncio para um cliente de varejo – Lojas Camicado, de São Paulo, SP – e Dia das Mães no calendário promocional. Note que outra imagem já havia sido produzida e o texto correspondente redigido, mas o sem–graça do Newton resolveu mudar a imagem de última hora. Quando vi o que ele tinha aprontado, decidi simplesmente eliminar o texto. Faça o Sr. Target sonhar! Ninguém compra produtos, compram–se pro-messas, compram–se benefícios. Compram–se, enfim, idealizações, projeções, sonhos. Faça, portanto, o Sr. Target sonhar. Charles Revson, fundador da indústria de cosméticos Revlon, dizia: “na indústria fabricamos cosméticos, na loja vendemos esperança”. Ou, como dizem alguns publicitários “ninguém compra uma broca, compra buracos na parede!” Em suma, o que o consumidor quer – e paga por isso – é a obtenção de resultados (para entender melhor a extensão do significado de “o que o consumidor quer”, veja capítulo O marketing e as necessidades humanas). Este princípio cabe perfeitamente em qualquer produto que você vá anunciar. Seu anúncio promete resultados? Nada mais a dizer. � Cartaz Observe os seguintes critérios na produção de cartazes:

• Tamanho: o tamanho mínimo para um cartaz é o de uma cartolina e deverá ter um espaçamento de 3 cm entre as bordas e o conteúdo. Não é necessário fazer margem no cartaz.

• Título: os títulos, normalmente, são escritos com

letras grandes e com cores fortes para chamar a atenção. Pode ter um destaque com relação ao restante do texto do cartaz.

• Textos: os textos usados em cartazes são curtos

ou em tópicos. Eles são divididos em blocos

menores. A idéia é transmitir algumas informações de maneira rápida e objetiva.

• Palavras Chaves: colocar em destaque as

palavras chaves para chamar a atenção do assunto apresentado no cartaz.

• Desenhos, fotos ou imagens: esses recursos

têm como objetivo ilustrar as informações, tornando o cartaz mais atraente, estando sempre integrado ao conteúdo.

Tenha bom senso na escolha das figuras (prefira imagens grandes e visíveis ao espectador).

• Uso de cola: ao usar cola para fixar as imagens no cartaz, lembre-se de limpar as bordas das figuras. Nunca deixar pontas soltas e sem colar.

• Referência: pode aparecer em destaque menor,

mas não deve deixar de ser escrita no cartaz. • Cores: usar no máximo três cores. Evitar cores

claras, como: amarelo, verde limão ou similares. • Linhas de Suporte: sempre que for necessário o

uso de linhas como suporte para auxílio na hora de escrever o texto, lembre-se de riscá-las a lápis sem pressionar muito para evitar marcas, apagando ao término da escrita.

• Esboço: antes de colar ou escrever, faça um

esboço ou uma montagem prévia do seu cartaz para evitar rasuras ou borrões.

• Rasuras: não serão permitidos rasuras e borrões

nos cartazes. • Revisão: Sempre fazer uma revisão do texto.

� Anúncio Anúncio de jornal é uma informação publicada em um jornal, que faz uma propaganda, um pedido, ou outros tipos de comunicação que interesse ao público em geral, necessitando ou não de uma resposta para o autor. Em jornais impressos e revistas, além de websites, os anúncios podem ser publicados junto ao conteúdo editorial ou em seções separadas, denominadas Classificados. Já na televisão e no rádio, os anúncios são normalmente veiculados durante os intervalos da

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programação. Nas empresas jornalísticas, os anúncios são gerenciados e negociados pelo Departamento Comercial, que funciona à parte - porém em contato - da redação (os jornalistas propriamente ditos). Nas sociedades capitalistas industralizadas, a publicidade é a principal fonte de sustentação financeira das empresas jornalísticas. Este modelo, teoricamente, garantiria a independência da imprensa em relação aos governos e poderes políticos locais, ainda que, por outro lado, crie uma dependência dos interesses comerciais dos próprios anunciantes. Exemplo:

� Bula No texto de Bula deve conter detalhadamente as especificações do medicamento em questão:

- Forma Farmacêutica e Apresentação - Indicações - Contra-Indicações - Precauções e Advertências - Reações Adversas - Interações Medicamentosas - Posologia

Exemplo:

� Artigo de Divulgação Científica "Os Bons Artigos de Divulgação Científica São Peças Literárias" Aos 69 anos, o químico francês Paul Caro continua a dedicar-se à divulgação científica e a pensar nas melhores maneiras de transmitir a ciência ao grande público. Começou a fazê-lo por acaso, depois de ter encontrado na rua um amigo jornalista, que lhe perguntou se não gostava de escrever no jornal "Le Monde". Foi assim que se fez jornalista de ciências. Mais tarde, foi convidado para director de assuntos científicos da Cidade das Ciências e da Indústria de La Villette, em Paris, um dos grandes museus de ciência, de onde se reformou em 2000. Em Portugal, faz parte do conselho científico da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica - Ciência Viva, um programa de divulgação da ciência junto de todos, em particular das escolas. Autor de vários livros, Paul Caro tem um traduzido em português: "A Roda das Ciências - Do Cientista à Sociedade, os Itinerários do Conhecimento". Hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, fala sobre as últimas avaliações à cultura científicas dos europeus, sem esquecer os portugueses. É difícil, ou não, comunicar a ciência? É difícil, porque a linguagem da ciência é bastante diferente da comum. A linguagem da ciência é construída por palavras difíceis, símbolos, fórmulas, imagens e números, muito diferentes das coisas normais. Mesmo para os cientistas, é difícil compreender as palavras de outros colegas longe da sua especialidade. O que significa que a ciência, na sua própria linguagem, só pode ser comunicada a um pequeno grupo de pessoas que conseguem compreendê-la. Para falar de ciência num jornal não se pode usar a linguagem da ciência. O que se faz não é a simplificação da linguagem - o que não é muito possível -, mas construir uma história, que tem de ser suficientemente atractiva. Mas depende muito do tema. É muito difícil de traduzir numa história um tema que envolva muita matemática e símbolos, como a química.

Ou a física quântica? A física quântica é um bom exemplo. Para compreendê-la, é preciso formação em matemática. Mas a maioria da divulgação científica não é sobre áreas difíceis, mas sobre coisas que apelam à imaginação e transmitem imagens e histórias. Uma das áreas mais fáceis de divulgar é a astrofísica, porque tem belas imagens do céu e a origem da Universo é muito interessante. A história da criação é uma história clássica de qualquer religião ou conto de fadas. Por exemplo, a criação das estrelas, num processo que envolve química nuclear, é uma história atraente e as pessoas aprendemna. Se fosse uma palestra sobre a química nuclear, não ouviriam.

Portanto, uma boa maneira de divulgar a ciência é contar uma história?

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Quase todos os bons artigos de divulgação científica nos jornais e nas revistas são peças literárias. É certo que é uma literatura popular, mas de facto é um trabalho literário que os jornais e revistas fazem a partir de artigos científicos. Pegam nesses artigos e constroem uma história para a tornar dramática, atraente e fascinante, usando todos os truques do trabalho literário - pessoas, lugares, tempos, circunstâncias e grandes imagens dos contos de fadas clássicos, como a metamorfose e as catástrofes. Os monstros e os dinossauros são um bom exemplo de como se usa a espectacularidade para familiarizar as pessoas com o trabalho do paleontólogo, que é alguém que descobre o passado. Às vezes, esse passado é extraordinário, como no caso dos dinossauros. As pessoas ouvem isso. Se o jornal é bom, explica o trabalho do paleontólogo e dá uma lição de ciência. E depois disto, temos uma espécie de ressurreição do monstro.

Por vezes, não é fácil para os cientistas divul-gare m o que fazem. Como poderão aprender a comunicar melhor? Alguns cientistas trabalham em áreas espectaculares, como a astrofísica ou os dinossauros, que é fácil de divulgar. Mas a maioria não trabalha nesses campos. É muito difícil. Mas há a comunicação com os jornalistas, que depois dizem o que os cientistas estão a fazer. Os cientistas também podem comunicar directamente com as pessoas. Em França, há os Cafés des Sciences, onde as pessoas interessadas em assuntos como os transgénicos se encontram à noite. Estão lá os especialistas, as pessoas vão lá e há uma discussão livre. Claro que os cientistas também têm a possibilidade de escrever artigos e livros, e há muitos livros de cientistas que são "best-sellers". Quais são as ciências mais divulgadas? A medicina e a saúde? Tudo o que diz respeito ao corpo - comida, medicina, cosmética - é o primeiro tópico de interesse. O segundo é o ambiente e o terceiro as novas tecnologias. No fim da lista está a física e a química. As pessoas não se interessam pelas disciplinas académicas.

E onde inclui a astronomia? Está em sexto ou sétimo lugar. Como fornece belas imagens, é popular em revistas sobre ciência. Outro tópico divulgado é o que diz respeito à Terra como um lugar terrível, como os vulcões, os sismos.

O que concluíram as últimas avaliações sobre a cultura científica na Europa e em Portugal? O Eurobarómetro indica o nível de conhecimentos e de interesse pela ciência dos cidadãos. Em geral, o nível de conhecimentos é maior nos países do Norte. Mas o interesse é maior no Sul - não tanto em Portugal, onde não é muito, mas por exemplo na Grécia. A Alemanha tem um nível mau de interesse, porque a imagem da

ciência é má, mas o conhecimento é muito bom. Mas as perguntas do Eurobarómetro são um pouco estranhas. Não mudam há dez anos, porque querem manter as mesmas perguntas, mas assim não se faz uma avaliação real. Mas há muitos inquéritos nacionais à cultura científica. Sabe-se que apenas 20 por cento das pessoas têm algum interesse pela ciência.

E qual é a opinião que o público tem dos cientistas? É bastante boa. Há uma série de dados sobre em quem se confia. Os cientistas aparecem logo depois dos médicos. No último lugar, vêm os políticos e, logo acima, os jornalistas. Exemplo:

Modo de Organização Textual Argumentativo Como você viu brevemente na primeira lição deste manual, um texto pode ser composto de mais de modo de organização textual. Assim, diversos gêneros utilizam-se da argumentação, pois é muito freqüente, quando escrevemos, precisarmos justificar determinadas colocações e posicionamentos. A argumentação é um modo de organização textual que visa à defesa de pontos de vista, por meio da apresentação de provas, exemplos, refutações de opiniões opostas etc. Mesmo fora do domínio acadêmico, estamos o tempo todo argumentando, quando queremos explicar por que preferimos um time, por que tomamos determinada atitude, por que deixamos de fazer algo. Na verdade, argumentar envolve sempre explicitar o porquê de algo. Na lição anterior, você estudou o modo de organização expositivo, cujos textos tinham um propósito predominantemente informativo, levando o leitor a conhecer algo. Nesta unidade, você vai aprender a convencer, muito mais do que informar, fazendo-o por

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meio de argumentos consistentes e lógicos. Para perceber claramente a diferença entre os modos de organização textual expositivo e argumentativo, observe atentamente os textos a seguir. Pena de morte A pena de morte é um tipo de punição aplicado pelo Estado em casos de crimes hediondos. É a punição máxima que um criminoso recebe, sendo utilizada em mais de cinqüenta países. As execuções mais utilizadas são:

Lapidação ou Apedrejamento: Forma de execução bastante antiga e ainda utilizada em países como Afeganistão, Nigéria, Irã, Arábia Saudita, Paquistão e Sudão. Consiste em enterrar a vítima até a altura do peito e apedrejá-la com pedras pequenas até a morte. Fuzilamento: Forma de execução bastante usada em guerras, sendo utilizada na China, Somália, Vietnam, Bielorrússia, Taiwan e Uzbequistão. Consiste em disparar várias armas de fogo contra o condenado de uma só vez. Cadeira Elétrica: Forma de execução inventada pelos Estados Unidos ainda utilizada na Flórida, Alabama, Carolina do Sul, Nebraska, Virgínia e Tennessee. Consiste em sentar e amarrar o condenado na cadeira, molhá-lo com uma solução condutora e aplicar choques de 20.000 watts até a morte. Forca: Forma de execução bastante antiga e ainda utilizada no Iraque, Japão, Egito, Paquistão, Cingapura e Jordânia. Consiste em colocar uma corda num poste de madeira e em seguida amarrá-la ao pescoço do criminoso. O mesmo é colocado em pé sobre uma cadeira que é retirada, fazendo com que o condenado morra por asfixia. Injeção Letal: Forma de execução mais rápida utilizada nos Estados Unidos, Japão, Guatemala, Tailândia e Filipinas. Consiste em aplicar uma grande quantidade de substâncias químicas que anestesiam levemente o condenado e paralisam o diafragma, os pulmões e o coração.

Você acabou de ler um trecho do artigo “Pena de morte”, de Gabriela Cabral. O texto acima é claramente expositivo, pois tem como objetivo informar o leitor sobre um assunto. No texto que estamos analisando, o tema central é a pena de morte. Assim, observe que o parágrafo de introdução apresentou uma definição, embora simplificada, do que é pena de morte. Nesse sentido, é importante chamar atenção para o fato de que a maneira de construir o texto precisa levar em conta quem vai lê-lo. O texto acima foi retirado de um site voltado para alunos da Educação Básica, logo não seria interessante utilizar uma definição técnica e complexa de pena de morte. Além disso, como esse é um texto expositivo, é preciso perceber que, ao passar as informações, o autor tenta se manter o mais imparcial possível. Veja que, ao longo do texto, a organização das idéias enumera de forma isenta algumas das mais conhecidas técnicas de execução, sem envolvimento pessoal do autor com aquilo que escreve. Agora, observe

o texto abaixo, intitulado “Violência e impunidade andam juntas”, de Maurício Forneck. Atente para as diferenças principais entre ambos os textos. Violência e Impunidade andam Juntas Há muito tempo, estudiosos, políticos e intelectuais brasileiros tentam buscar respostas para as causas da crescente e interminável onda de violência que assusta nosso país. Por mais que soluções sejam discutidas, por mais que medidas sejam tomadas e por mais interesse que haja na população em mudar tal quadro, nada parece surtir efeito. A cada minuto somos “brindados” com uma nova notícia de estupro, homicídio ou seqüestro. A principal causadora desse estado de descontrole tem apenas um nome: impunidade. O que realmente intimida um criminoso é a certeza do castigo que sofreria pelo seu ato. O indivíduo pratica o crime pois sabe, de antemão, que a probabilidade de ser preso é pequena. Logo, o nascimento de um crime reside na deficiência das autoridades que o deviam coibir. Uma polícia despreparada e corrupta é um incentivo às mentes mal-intencionadas. Some-se a isso a morosidade e a complacência com o crime de nosso sistema penal. Um réu, além de poder levar anos até ser julgado, encontra atalhos e falhas em uma legislação confusa, de um ordenamento jurídico despadronizado e complexo. Há sempre algum caminho obscuro na lei que justifica a impunidade de pessoas comprovadamente culpadas. Paulo Maluf passou apenas um mês na prisão, o juiz Nicolau passa os dias em sua mansão, os irmãos Cravinho e Suzane Richthofen estão de volta às ruas... Esta é a imagem que a justiça brasileira passa à população. Radicalizar, porém, não é a solução. Muitos defendem a pena de morte e a prisão perpétua no Brasil. Não é o caminho. Enquanto não estiver presente uma estrutura confiável e eficiente, que dê garantias ao cidadão de bem do cumprimento correto de sua função, não será a maior ou menor rigidez de uma outra lei que intimidará a ação dos que sabem que não serão atingidos. Crimes e criminosos existem e existirão em todas as partes do mundo. A resposta das sociedades às suas agressões é que dá a dimensão de sua seriedade e o exemplo aos que pensam em agir de forma semelhante. Esse texto, diferente do anterior, pode ser considerado predominantemente argumentativo, pois, por meio dele, o autor defende um posicionamento pessoal diante do tema discutido: a relação entre violência e impunidade. Em um texto argumentativo, o autor visa a provar/negar determinado ponto de vista, chamado, em um contexto mais técnico, de tese. Assim, diferente da exposição, a argumentação pressupõe envolvimento do autor, que deve lançar mão de diferentes argumentos para sustentar seu posicionamento. Isso faz do texto argumentativo sempre parcial, pois o autor visa a convencer o leitor acerca de algo. Em “Violência e impunidade andam juntas”, o primeiro parágrafo do texto já apresenta a tese que será defendida, expressa na seguinte frase: “A principal causadora desse estado de descontrole tem apenas um nome: impunidade.” As frases que antecedem essa servem para situar a tese no contexto maior sobre o qual fala o texto: a violência. Desse modo, as primeiras frases do texto descrevem brevemente o panorama malsucedido das discussões anteriores sobre violência, enquanto o último período do parágrafo introdutório

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revela o ponto de vista do autor, segundo o qual a violência é resultado da impunidade. Veja que, ao escrever seu texto argumentativo, você deve logo de início apresentar ao leitor que posicionamento defenderá ao longo da argumentação, de modo a tornar claro seu objetivo ao redigir o texto. Isso é importante para situar a pessoa que lerá seu texto e para que você mesmo não se perca ao longo da escrita, evitando se desviar do tópico central ou mesmo cair em contradição. Agora observe os argumentos empregados pelo autor para defender seu ponto de vista. A primeira frase do segundo parágrafo sintetiza a argumentação nele contida: “O que realmente intimida um criminoso é a certeza do castigo que sofreria pelo seu ato”. Como você viu na segunda lição deste manual, chamamos essa frase-resumo do parágrafo de tópico frasal, a qual deve brevemente apresentar o tópico do parágrafo, como uma pequena introdução. Assim, o autor do texto que estamos analisando desenvolve no segundo parágrafo o argumento de que um criminoso só se sente intimidado pela certeza do castigo. Observe que tal afirmação respalda a tese defendida pelo autor, de que a impunidade é a principal causa da violência no país. O terceiro parágrafo, para apresentar outro argumento que justifique o ponto de vista exposto no texto, inicia-se com a expressão “some-se a isso”. Tal construção expressa idéia de adição entre as informações de ambos os parágrafos, de modo que o argumento que o terceiro parágrafo apresenta auxilie o segundo para sustentar a tese. O tópico frasal novamente sintetiza o argumento desenvolvido no terceiro parágrafo: a morosidade e a complacência com o crime de nosso sistema penal. Tais fatores também reforçam o papel central da impunidade na manutenção da violência no Brasil. O quarto parágrafo apresenta, por outro lado, uma ressalva, modalizando o discurso. Ao afirmar que “radicalizar, porém, não é a solução”, o autor expressa seu posicionamento de que, apesar de a impunidade ser nociva, não adianta radicalizar as medidas punitivas. Veja que, para introduzir tal ressalva ao que foi dito ao longo do texto, foi utilizado um conectivo de valor opositivo (“porém”), como você estudou na lição sobre coesão deste manual. Por fim, no último parágrafo do texto, o autor concluiu seu posicionamento perante o tema, reafirmando a tese ao dizer que “a resposta das sociedades às suas agressões é que dá a dimensão de sua seriedade e o exemplo aos que pensam em agir de forma semelhante”. Quando você escrever seus textos argumentativos, não deixe de, na conclusão, reafirmar o posicionamento defendido ao longo do texto. Assim, introdução e conclusão apresentam um paralelo, que garante ao texto unidade e progressão. O modo de organização textual argumentativo está presente na maior parte das situações cotidianas de comunicação, mas, no meio acadêmico, ele se concentra primordialmente nos gêneros texto de opinião e ensaio. Texto de opinião é um termo bem genérico que abrange produções textuais voltadas à defesa de um ponto de vista. Geralmente nesses textos não se emprega a primeira pessoa do singular, preferindo-se formas mais impessoais. Assim, em vez de “defendo”, dá-se preferência a construções como “defendemos”, “defende-se” ou “é defendido”. A extensão do texto é variável, mas o aprofundamento da argumentação é bem menor do que em um ensaio, podendo caber as reflexões em uma ou duas laudas. Grosso modo, pode-se dizer que um texto de opinião tem estrutura parecida com suas redações dissertativo-argumentativas do Ensino Médio, embora se esperem maiores maturidade e capacidade de argumentação e abstração de um aluno universitário. O ensaio é um texto

de mais fôlego, exigindo reflexões mais maduras, profundas e pesquisa sobre determinado tema, para que a argumentação leve em consideração estudos e posicionamentos de especialistas acerca da questão discutida. Dessa forma, o ensaio é um texto longo, podendo ser inclusive dividido em subseções para facilitar a organização das idéias. Basicamente, o ensaio deve conter elementos pré-textuais (resumo/abstract), pelo menos três seções na parte textual, a serem nomeadas com subtítulo (introdução, desenvolvimento e conclusão) e elementos pós-textuais (referências bibliográficas e, caso necessário, anexos). Conhecendo os Métodos de Raciocínio Agora que você já conhece a estrutura geral do texto argumentativo, precisa aprimorar sua capacidade de argumentar, isto é, construir justificativas consistentes e lógicas que sustentem sua tese. Para isso, vamos estudar os principais métodos de raciocínio empregados na formulação de argumentos, a saber: o raciocínio indutivo e o raciocínio dedutivo. A palavra “método” significa um conjunto de procedimentos que conduzem a um determinado objetivo. No texto argumentativo, esses métodos conduzem à formulação de justificativas sólidas que embasam a tese, por meio de operações lógicas. Veja a seguir os principais métodos de raciocínio que você pode empregar na construção de seu texto. 1. Método Indutivo: esse método parte de afirmações particulares para chegar a uma conclusão maior, de cunho geral. No entanto, como você viu na lição sobre coerência, deve ter cuidado para não criar uma generalização falsa, o que desrespeita o princípio de relação. Assim, ao selecionar os fatos em relação aos quais você vai traçar uma lei universal, tome cuidado para não afirmar algo que não se aplica a todos os casos. Veja agora como o método indutivo pode ser usado na formulação de argumentos, observando o trecho abaixo, retirado de um texto de Salvatore Santagada. O filme Central do Brasil, de Walter Salles, tem como protagonista a professora aposentada Dora, que ganha um dinheiro extra escrevendo cartas para analfabetos na Central do Brasil, estação ferroviária do Rio de Janeiro. Outra personagem é o menino Josué, filho de Ana, que contrata os serviços de Dora para escrever cartas passionais para seu ex-marido, pai de Josué. Logo após ter contratado a tarefa, Ana morre atropelada. Josué, sem ninguém a recorrer na megalópole sem rosto, sob o jugo do estado mínimo (sem proteção social), vê em Dora a única pessoa que poderá levá-lo até seu pai, no interior do sertão nordestino.(...). No filme, a grande questão do analfabetismo está acoplada a outro desafio, que é a questão nordestina, ou seja, o atraso econômico e social da região. Não basta combater o analfabetismo, que, por si só, necessitaria dos esforços de, no mínimo, uma geração de brasileiros para ser debelado, pois, em 1996, o analfabetismo da população de 15 anos e mais, no Brasil, era de 13,03%, representando um total de 13,9 milhões de pessoas. Segundo a UNESCO, o Brasil chegaria ao ano 2000 em sétimo lugar entre os países com maior número de analfabetos. No Brasil, carecemos de políticas públicas que atendam, de forma igualitária, a população, em especial aquelas voltadas para as crianças, os idosos e as mulheres. A permanência da questão nordestina é um exemplo constante das nossas desigualdades, do desprezo à vida e da falta de políticas

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públicas que atendam aos anseios mínimos do povo trabalhador. Não saber ler nem escrever, no Brasil, é um elemento a mais na desagregação dos indivíduos que serão párias permanentes em uma sociedade que se diz moderna e globalizada, mas que é debilitada naquilo que é mais premente ao povo: alimentação, trabalho, saúde e educação. Sem essas condições básicas, praticamente se nega o direito à cidadania da ampla maioria da população brasileira. Os ensinamentos que podemos tirar de Central do Brasil são que devemos atacar a questão social de várias frentes, em especial na educação de todos os brasileiros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que direcionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econômico e social. Esse é um texto predominantemente argumentativo sobre a questão do analfabetismo, embora sua introdução tenha sido dedicada à descrição do filme Central do Brasil. Longe de constituir um desvio ao tema, essa breve sinopse do roteiro, acompanhada por rápida apresentação das personagens, desempenha papel importante na construção da argumentação do texto. Ao chamar atenção para um caso específico, mesmo que fictício, de problemas sociais atrelados ao analfabetismo, o autor apresenta um exemplo claro e particular de uma idéia mais geral, que apresenta no último parágrafo, como conclusão ao texto: “Os ensinamentos que podemos tirar de Central do Brasil são que devemos atacar a questão social de várias frentes, em especial na educação de todos os brasileiros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que direcionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econômico e social”. Assim, a referência ao filme é apresentada como um argumento de natureza mais específica, em vistas a traçar, na conclusão, uma generalização ao que foi dito sobre a questão do analfabetismo na obra de Walter Salles. Assim, o autor do texto estendeu aos demais casos de analfabetismo o que Central do Brasil apresenta em um contexto mais específico. Salvatore Santagada empregou, pois, o método indutivo em sua argumentação, pois partiu do particular (caso de analfabetismo em Central do Brasil) para o geral (analfabetismo em geral). 2. Método Dedutivo: esse método parte de uma afirmação mais geral para chegar a conclusões mais específicas, aplicando essa regra mais genérica a casos particulares. Esse método tem a vantagem de que, caso a afirmação geral esteja correta, as conclusões sempre estarão corretas. Veja agora como o método dedutivo pode ser empregado na condução da argumentação, observando o trecho abaixo, retirado do artigo “Direito de morrer ou direito à dignidade?”, de Daniele Carvalho. No início da semana, uma menina inglesa, de apenas 13 anos, foi notícia no mundo. Hannah Jones teve leucemia e os fortes remédios ingeridos desde os 5 anos de idade enfraqueceram seu coração. Hannah precisaria passar por uma cirurgia para tentar evitar a morte, mas teria poucas chances de sucesso. Além disso, se sobrevivesse, a adolescente teria que se submeter a cuidados médicos intensivos pelo resto da vida. Hannah optou por não fazer a cirurgia e disse que prefere morrer com dignidade. O hospital onde ela estava internada entrou com um processo na Justiça para obrigá-la a fazer

a operação. Após ser examinada por uma assistente social, o hospital desistiu da causa, dando à menina o direito de morte e de voltar para casa. No caso de uma criança ou adolescente, as doenças terminais ficam ainda mais complexas. De acordo com a legislação, os pais são responsáveis legais dos seus filhos até completarem a maioridade, aos 18 anos, interferindo em qualquer tipo de atitude que possa influenciar suas vidas. Embora os pais de Hannah tenham apoiado sua decisão, foi a própria menina que fez a escolha. Segundo o bioeticista e chefe da Divisão Técnico-Científica do INCA, Dr. Carlos Henrique Debenedito, as crianças tem após os 8 anos um desenvolvimento cognitivo, ou seja, uma capacidade de ouvir e compreender. “A partir desta idade, são capazes de ter uma posição definida sobre qualquer assunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de maturidade intelectual nessa idade permite uma decisão consciente e, no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”. Nesse trecho, a autora do artigo cita a fala do Dr. Carlos Henrique Debenedito, que apresenta seu ponto de vista sobre o caso da menina Hannah Jones. Veja que, antes de o biocientista posicionar-se diante desse caso específico, seu raciocínio parte de uma afirmação mais ampla, que se refere a todas as crianças após os oito anos de idade: “A partir desta idade, são capazes de ter uma posição definida sobre qualquer assunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de maturidade intelectual nessa idade permite uma decisão consciente”. Só depois de fazer uma afirmação de natureza mais geral, o chefe da Divisão Técnico-Científica do INCA define seu posicionamento quanto à possibilidade de decisão de Hannah Jones: “no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”. Isso mostra a aplicação de sua idéia mais geral – a capacidade de decisão das crianças com mais de oito anos – a uma situação particular: o caso de Hannah, a qual, segundo ele, tem capacidade cognitiva para tomar sua decisão. Conhecendo os Tipos de Argumentos Ora construída por indução ora por dedução, a argumentação é obviamente a parte central do texto argumentativo. Apenas uma seleção inteligente de argumentos pode convencer alguém da relevância da tese defendida pelo autor. Assim, é fundamental que você baseie seu discurso em argumentos aceitos pelo leitor, de modo que ele também se convença de sua tese, mesmo que não esteja inicialmente de acordo com ela. Para isso, você agora vai estudar os principais tipos de argumentos, de modo que possa fazer uso deles, da melhor forma possível, em seus próprios textos. 1. Argumentação por Causa/Conseqüência Uma maneira eficaz de defender um ponto de vista é explicar os motivos que levaram você a posicionar-se daquela forma. Esse é um dos tipos de argumentos mais freqüentes e eficazes, visto que argumentar é, justamente, dizer os porquês que sustentam sua tese. Veja o trecho abaixo, retirado do artigo “Por um país da mala branca”, de Mauro Chaves. Já que os valores

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morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento), é preciso buscar novas formas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa já precária coesão social. E já que nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas), façam ola, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos. Recente moda futebolística pode-nos apontar o caminho dessa transformação, que troca a sanção pelo estímulo e a punição pela perda de vantagem. É a chamada prática da "mala branca", pela qual um clube paga a outro para que este ganhe. É claro que isso nada tem que ver com o suborno da "mala preta" a execrável compra de goleiros, zagueiros e outros de um time para que deixem a bola passar e percam o jogo. A "mala branca", ao contrário, é um saudável incentivo para que os profissionais do esporte ajam corretamente, isto é, esforcem-se ao máximo para ganhar um jogo. Logo no primeiro parágrafo, o autor explicita nos seguintes trechos a tese que defende: “é preciso buscar novas formas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa já precária coesão social” e “façam ola, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos”. Segundo o autor, para tornar a lei mais eficiente, é preciso substituir práticas punitivas por incentivos a quem cumpre os regulamentos. Para sustentar essa tese, lança mão no mesmo parágrafo de dois argumentos de valor causal: “os valores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento)” e “nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas)”. Veja que ambos os argumentos expressam os motivos pelos quais o autor adota sua tese; logo, são introduzidos por um conectivo que expressa relação de causa (“já que”), como você viu na lição sobre coesão textual. No entanto, na hora de produzir seu próprio texto, tome cuidado para não expressar uma falsa relação de causa/conseqüência entre idéias que são apenas próximas, mas não desencadeadoras uma da outra. 2. Argumentação por Exemplificação Um exemplo sempre traz força à argumentação, pois mostra casos reais em que a tese se prova verdadeira. Nesse sentido, é muito importante selecionar exemplos fortes, preferencialmente de conhecimento geral ou surpreendentes. Um exemplo mal escolhido, por ser pouco representativo, por exemplo, pode suscitar no leitor desconfiança e uma forte contra-argumentação. Veja abaixo, em um trecho da reportagem “Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?”, de Sérgio Pires, como a exemplificação foi empregada para defender determinado ponto de vista. Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras? Há anos o assunto é motivo de discussões. Nessa semana, de novo. O professor do Instituto de Computação da Universidade de Campinas, Jorge Stolfi, disse em audiência na Câmara Federal que as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: que o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro candidato sem que a fraude seja detectada. Lembrou que vários países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outros – não utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque já detectaram que elas não são imunes ao que chamou de “riscos incontornáveis” de fraude. Destacou que a única maneira de fazer com que o sistema seja totalmente seguro é adotar o voto impresso, como

maneira complementar para a segurança da votação. O professor afirmou ainda, contrariando técnicos dos TREs e do próprio TSE, que há sérios riscos “de fraudes feitas por pessoas internas ao sistema, que não podem ser detectadas antes, durante ou depois da eleição". E agora, José? Jorge Stolfi manifesta claramente seu ponto de vista no trecho “as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: (...) o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro candidato sem que a fraude seja detectada”. Para defender essa opinião, utiliza como argumento exemplos de países que discordam do sistema de votação eletrônica: “vários países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outros – não utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque já detectaram que elas não são imunes ao que chamou de ‘riscos incontornáveis’ de fraude”. Perceba que o professor do Instituto de Computação da Universidade de Campinas foi cuidadoso na seleção dos países que empregou para respaldar sua tese: Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra são todos países desenvolvidos que têm organizações políticas democráticas mundialmente reconhecidas. 3. Argumentação por Dados Estatísticos Para provar o que se diz, dados estatísticos são comumente utilizados, visto que são fruto de pesquisas feitas por órgãos de reconhecimento público. É preciso tomar cuidado, no entanto, para selecionar quais dados serão usados, citando a fonte de que foram retirados. Veja abaixo como o uso de valores numéricos calculados por agências especializadas foi usado no artigo “Mulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorar em 2009”. Mulheres das classes C e D são as que mais crêem que Brasil vai melhorar em 2009. De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, a pedido da agência de publicidade 141 SoHo Square, as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%. Além disso, a pesquisa intitulada "O Sonho é maior que o medo Panorama sobre o comportamento de compra das mulheres brasileiras" apurou que 41% das mulheres da classe C e 36% da D avaliam que a economia brasileira está sólida, mas vai sofrer o impacto da crise. Na opinião do presidente da agência que encomendou o estudo, Mauro Motryn, os números mostram que as mulheres de menor poder aquisitivo parecem não querer acreditar na crise. "Elas estão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora (...) Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando." Mauro Motryn tem um ponto de vista claro diante do comportamento das mulheres das classes C e D em relação à crise econômica: "Elas estão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora (...) Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando." Para justificar esse posicionamento, o presidente da agência de publicidade 141 SoHo Square baseiase em dados estatísticos de pesquisa que encomendou ao IBOPE, segundo a qual “as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%”.

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4. Argumentação por Testemunho de Autoridade Nos textos de escrita acadêmica, é muito freqüente que, para respaldar uma tese, um autor se refira a pesquisas anteriores, de outro pesquisador. Para isso, cite a fonte de onde retirou a citação empregada em seu texto, tendo cuidado de empregar como argumento as palavras de alguém reconhecido como profundo conhecedor da causa discutida. Veja abaixo como esse recurso foi empregado na argumentação do artigo “Produção científica no Brasil sobe, mas não o número de patentes”, do qual transcrevemos um trecho a seguir. A produção científica brasileira subiu de 2006 para 2007 e representa 2,02% de todos os artigos científicos publicados no mundo, mas esse conhecimento ainda não se traduz na prática. Quando se analisa o registro de patentes nos Estados Unidos, o índice brasileiro é próximo a zero. "O Brasil está muito atrás de outros países que até produzem menos artigos científicos. Dificilmente um País que produz ciência não faz as duas coisas. Todos têm ciência e patentes, mas não é o caso do Brasil", disse Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). O autor do artigo, em sua argumentação, denuncia o baixo número de patentes registrado no Brasil, apesar da alta produção científica. Para defender essa tese, clara logo no primeiro parágrafo, o autor se vale das palavras de uma autoridade no assunto, Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). A própria instituição por ele presidida é reconhecida internacionalmente como referência no que diz respeito à pesquisa científica. 5. Argumentação por Contra-Argumentação Muitas vezes, ao redigir um texto argumentativo, você já imagina quais serão os possíveis posicionamentos contrários de alguns leitores. Para fortalecer sua argumentação, você pode citar essas visões diferentes da sua e contrapor-se a elas, utilizando o que chamamos de contra-argumentação. É preciso tomar cuidado, no entanto, para refutar com consistência os argumentos que se opõem à sua tese, ou seu posicionamento pode perder credibilidade. Observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Crise e poder”, de Rubens Ricupero, e atente para o uso que o autor fez da contra-argumentação para respaldar sua tese. A crise econômica é também uma crise da globalização. Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização. Ora, o que vimos é que esta foi de fato responsável pelo contágio da doença. O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros. A primeira conclusão, portanto, é que, apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Está-Nação, cujo poder em relação ao mercado e à sociedade é reforçado pela crise. A tese central defendida pelo autor no trecho analisado é que, “apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Está-Nação”. No entanto, para chegar a essa afirmativa, o texto parte de uma idéia contrária a ela: “Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização”. Veja que essa idéia contrária à tese foi introduzida pela expressão “dizia-se”, a qual não define quem é que dizia que o poder do

Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização. O agente responsável por essa ação não pode ser identificado no texto. Só o que sabemos é que não se diz mais isso; chega-se a tal conclusão pelo tempo do próprio verbo em “dizia-se”. É importante perceber que a oposição entre essa afirmativa inicial e a tese defendida pelo autor não torna o texto contraditório. Na verdade, para fortalecer sua argumentação, o autor afirma algo que era dito antigamente para logo rechaçar essa idéia, na frase: “O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros”. A palavra “porém”, conectivo de oposição (conforme você estudou na lição sobre coesão textual) introduz uma ressalva à idéia inicial do texto, dando suporte à tese defendida pelo autor. Parágrafo Como se forma o sentido de um texto? De que recursos dispõe quem escreve para conferir ao texto os sentidos que quer expressar? E quem lê, a que elementos deve prestar atenção para “descobrir” os sentidos do texto? Ou seja, que elementos e que recursos são mobilizados no processamento de textos, tanto na recepção quanto na produção? Afinal, escrever um texto implica deixar nele as marcas necessárias para que seja “lido” de acordo com os sentidos que lhe quis dar quem o escreveu. E ler um texto implica percorrer o caminho inverso: decifrar as marcas e sinais deixados pelo autor para decifrar-lhe o sentido, ou os sentidos. Enfim, que recursos, marcas, sinais, elementos compõem os textos? Sabe-se que o sentido de um texto não se forma exclusivamente pela decifração das marcas e sinais deixados nele pelo autor, já que o leitor não é um decifrador passivo de signos. O leitor é um construtor de sentido (KOCH, 2006, p. 13). Interferem, nessa formação de sentido, o conhecimento de mundo do leitor, suas crenças, seu passado, suas leituras anteriores, além do contexto e de muitos outros fatores. E recorremos ainda a vários tipos de conhecimento: lingüístico, enciclopédico, interacional, comunicacional, meta-comunicativa, superestrutural (conhecimento da estrutura dos gêneros dos textos), etc. Percebe-se, então, que tanto a produção quanto a recepção de textos são atividades complexas. Segundo Maingueneau (2002, p. 20) “compreender um enunciado não é somente referir-se a uma gramática e a um dicionário, é mobilizar saberes muito diversos, fazer hipóteses, raciocinar, construindo um contexto que não é um dado preestabelecido e estável.” Já Kress et al. (1997, p. 270, apud BALOCCO, 2005, p. 65) acrescentam que “a linguagem sozinha não é mais suficiente como foco de atenção para aqueles interessados na construção e reconstrução social do significado.” Esses dois autores já sinalizam o caminho que pretendo percorrer neste artigo. A intenção é abordar o texto em sentido amplo, incluindo e destacando elementos pouco considerados. Recomendam as estratégias de leitura que, antes de avançar na leitura do texto, seja observado o entorno dele, seus contextualizadores, a distribuição do material no suporte, a ocupação da página pela mancha gráfica, o tratamento dado ao material lingüístico e não-lingüístico, a presença (ou não) de elementos extralingüísticos, etc. Qual o sentido dessa recomendação? Certamente, a justificativa está no fato de que ler um texto, em sentido pleno, não se limita, reforçando, a decifrar os parágrafos do primeiro ao último, levando em consideração somente o material lingüístico. Da mesma forma como compor um texto não deve se limitar a cuidar da estruturação e

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ordenação de frases e parágrafos. O modo como esse material é tratado interfere na formação do texto e, portanto, na constituição de seu sentido, da mesma forma como interferem outros, variados, recursos ativados no processamento dos textos, tais como o contexto de enunciação, as vivências e saberes do leitor. E interferem, ainda, recursos materiais não-lingüísticos. Creio que não se estará falseando a intenção de Maingueneau (2002, p. 12) se estendermos a todos os textos o que o autor afirma sobre o texto publicitário, quando diz que “[...] um texto publicitário, em particular, é fundamentalmente imagem e palavra; nele, até o verbal se faz imagem” (p. 12). Em outro momento, o autor reforça a idéia do texto visto como imagem: “Um enunciado que não é oral constitui, assim, uma realidade que não é mais puramente verbal. Em um nível superior, todo texto constitui em si uma imagem, uma superfície exposta ao olhar.” (p. 81 – grifos do autor). Também para Kress et al. (1997, apud BALOCCO, p. 65), “é preciso analisar a forma como a linguagem e elementos visuais articulam-se num texto, funcionando como ancoragens para leituras ideológicamente marcadas.” Koch (2006, p. 19) igualmente, a par de destacar a importância de levar em consideração os conhecimentos do leitor, ressalta que “necessário se faz considerar a materialidade lingüística do texto, elemento sobre o qual e a partir do qual se constitui a interação.” Não é intenção repassar aqui a bibliografia que aborda a complexidade de fatores que intervêm para o processamento dos textos, que aqui apenas tangenciamos. O objetivo dessa abordagem inicial foi somente contextualizar o assunto. O espectro que forma esse conjunto de fatores é vasto. Que trata do material lingüístico, até já existe razoável literatura. Por isso, a intenção, aqui, é trazer à consideração elementos pouco e esparsamente abordados na análise de textos. A intenção é incluir o material visual do texto, sem excluir os demais componentes. O tema que vai nos ocupar será o da formação do sentido dos textos, mas adotando uma metodologia um pouco diferente. Vamos começar introduzindo a noção de texto global. Em seguida, será feita análise de parte dos componentes do texto global. Organização Interna do Texto Não só os alunos afirmam gratuitamente que a interpretação depende de cada um. Na realidade isto é para fugir a um problema que não é de difícil solução por meio de sofisma (=argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má fé por parte de quem o apresenta). Podemos, tranquilamente, ser bemsucedidos numa interpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte: 01. Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto; 02. Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente; 03. Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo menos umas três vezes; 04. Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas; 05. Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; 06. Não permitir que prevaleçam suas idéias sobre as do autor;

07. Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão; 08. Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto correspondente; 09. Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão; 10. Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de ...), não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que se pediu; 11. Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a mais exata ou a mais completa; 12. Quando o autor apenas sugerir idéia, procurar um fundamento de lógica objetiva; 13. Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais; 14. Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto; 15. Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denuncia a resposta; 16. Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo autor, definindo o tema e a mensagem; 17. O autor defende idéias e você deve percebê-las; 18. Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são importantíssimos na interpretação do texto.

Ex.: Ele morreu de fome .

De fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na realização do fato (= morte de "ele").

Ex.: Ele morreu faminto.

faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que "ele" se encontrava quando mor-reu.;

19. As orações coordenadas não têm oração principal, apenas as idéias estão coordenadas entre si; 20. Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele maior clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o significado. Nota: Diante do que foi dito, espero que você mude o modo de pensar, pois a interpretação não depende de cada um, mas, sim, do que está escrito. "O que está escrito, escrito está." Lembre-se: TEXTO: é um conjunto de idéias organizadas e relacionadas entre si, formando um todo significativo

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capaz de produzir interação comunicativa (capacidade interpretar e compreender o texto) . O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a identificação de sua idéia principal. A partir daí, localizamse as idéias secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explicações, que levam ao esclarecimento das questões apresentadas na prova. Normalmente, numa prova, o candidato é convidado a:

1. Identificar: é reconhecer os elementos fundamentais de uma argumentação, de um processo, de uma época (neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o tempo). 2. Comparar: é descobrir as relações de semelhança ou de diferenças entre as situações do texto. 3. Comentar: é relacionar o conteúdo apresentado com uma realidade, opinando a respeito. 4. Resumir: é concentrar as idéias centrais e/ou secundárias em um só parágrafo. 5. Parafrasear: é reescrever o texto com outras palavras.

Erros de Interpretação É muito comum, mais do que se imagina, a ocor-rência de erros de interpretação. Os mais freqüen-tes são:

a) Extrapolação (viagem): Ocorre quando se sai do contexto, acrescentando-se idéias que não estão no texto, quer por conhecimento prévio do tema quer pela imaginação. b) Redução: É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção apenas a um aspecto, esquecendo que um texto é um conjunto de idéias, o que pode ser insuficiente para o total do entendimento do tema desenvolvido. c) Contradição: Não raro, o texto apresenta idéias contrárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivocadas e, conseqüentemente, errando a questão.

Observação: Muitos pensam que há a ótica do escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova de concurso qualquer, o que deve ser levado em consideração é o que o autor diz e nada mais. Roteiro de Interpretação Na hora de interpretar um texto, alguns cuidados são necessários:

a) ler atentamente todo o texto, procurando focalizar sua idéia central; b) interpretar as palavras desconhecidas através do contexto;

c) reconhecer os argumentos que dão sustentação a idéia central; d) identificar as objeções à idéia central; e) sublinhar os exemplos que foram empregados como ilustração da idéia central; f) antes de responder as questões, ler mais de uma vez todo o texto, fazendo o mesmo com as questões e as alternativas; g) a cada questão, voltar ao texto, não responder “de cabeça”; h) se preferir, faça anotações à margem ou esquematize o texto; i) se o enunciado pedir a idéia principal, ou tema, estará situada na introdução, na conclusão, ou no título; j) se o enunciado pedir argumentação, esta esta-rá localizada, normalmente, no corpo do texto.

Dicas para Interpretação de Textos

- Leia o texto mais de uma vez, minuciosamente, para encontrar a resposta correta. - Na terceira ou quarta leitura do texto, pode-se destacar as palavras e expressõeschave. - É necessário limitar-se às informações contidas no texto. - Tente compreender o texto, fragmentandoo em parágrafos ou mesmo, em períodos; fica mais fácil interpretar. - Sempre restam duas alternativas consideradas possíveis. Nesse caso, é necessária uma nova leitura.

As mensagens que uma comunicação pretende transmitir nem sempre estão contidas somente na linguagem verbal (texto) ou na linguagem não verbal (fotografias, gráficos, tabelas, desenhos, esquemas). O conjunto dessas linguagens é que estabelece, em sintonia, a comunicação entre quem a emite e seu destinatário. É o lingüístico e o imagético presentificando um só fato. A linguagem verbal é o instrumento mais eficaz na comunicação que estabelecemos um com o outro e com nós mesmos. Ela organiza nosso pensamento, faz com que possamos explicitálos e nos acompanha em inúmeras atividades que desenvolvemos ao longo de nossas vidas. A humanidade tem veiculado, por intermédio da palavra, de geração a geração, um volume enorme de conhecimentos, comportamentos e valores que constituem a cultura das várias comunidades existentes. A linguagem verbal apresenta uma estrutura bastante complexa: além de representar todos os objetos, permite a sua análise, caracterização e interligação com outros conceitos, num sistema amplo de relações. Linguagem não verbal - na comunicação diária, utilizamo-nos de meios que dispensam o uso da palavra. Nossos gestos e

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olhares são prova disso. A maneira como nos vestimos e até como os portamos nos vários ambientes que freqüentamos também comunica, a quem nos observa, preferências e modos de vida. A mímica, a pintura, a música e a dança são artes que, em sua expressão, prescindem da palavra. Hoje convivemos com freqüência cada vez maior e mais intensamente com a linguagem visual. O cinema, a televisão, os computadores, a fotografia, os veículos publicitários (outdoors, revistas) têm encontrado, nesse tipo de linguagem, um instrumento de comunicação extremamente eficaz, devido sobretudo à velocidade com que transmite as mensagens. Apesar disso, a palavra continua sendo um meio poderoso, capaz de traduzir, analisar e criticar qualquer outro tipo de linguagem. Como pudemos ver, a interpretação de textos é de fundamental importância para o candidato. Você já se perguntou por quê? Há alguns anos, as provas de Português, nos principais concursos do país, traziam uma frase, e dela faziam-se as questões. Eram enunciados soltos, sem conexão, tão ridículos que lembravam muito aquelas frases das antigas cartilhas: "Ivo viu a uva". Os tempos são outros, e, dentro das modernas tendências do ensino de línguas, fica cada vez mais claro que o objetivo de ensinar as regras da gramática normativa é simplesmente o texto. Aprendem-se as regras do português culto, erudito, a fim de melhorar a qualidade do texto, seja oral, seja escrito. Nesse sentido, todas as questões são extraídas de textos, escolhidos criteriosamente pelas bancas, em função da mensagem/conteúdo, em função da estrutura gramatical. Ocorrem casos de provas contextualizadas, em que todos os textos abordam o mesmo assunto, ou seja, provas monotemáticas. Dessa maneira, fica clara a importância do texto como objetivo último do aprendizado de língua. Quais são os textos escolhidos? Textos retirados de revistas e de jornais de circulação nacional têm a preferência. Portanto, o romance, a poesia e o conto são quase que exclusividade das provas de Literatura (que também trabalham interpretação, por evidente). Assim, seria interessante observar as características fundamentais desses produtos da imprensa. Os Artigos São os preferidos das bancas. Esses textos autorais trazem identificado o autor. Essas opiniões são de expressa responsabilidade de quem as escreveu - chamado aqui de articulista - e tratam de assunto da realidade objetiva, pautada pela imprensa. Vejamos um exemplo: um dado conflito eclode em algum ponto do planeta (a todo o instante surge algum), e o professor Décio Freitas, historiador, abordará, em seu artigo em ZH, os aspectos históricos do embate. Portanto, os temas são, quase sempre, bem atuais. Trata-se, em verdade, de texto argumentativo, no qual o autor/emissor terá como objetivo convencer o leitor/receptor. Nessa medida, é idêntico à redação escolar, tendo a mesma estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Exemplo de Artigo “Os nomes de quase todas as cidades que chegam ao fim deste milênio como centros culturais importantes seriam familiares às pessoas que viveram durante o final do século passado. O peso relativo de cada uma delas pode ter variado, mas as metrópoles que contam ainda são basicamente as mesmas: Paris, Nova Iorque, Berlim, Roma, Madri, São Petesburgo.” (Nelson Archer - caderno Cidades, Folha de S. Paulo, 02/05/99) Os Editoriais Novamente, são opinativos, argumentativos e possuem aquela mesma estrutura. Todos os jornais e revistas têm esses editoriais. Os principais diários do país produzem três textos desse gênero. Geralmente um deles tratará de política; outro, de economia; um outro, de temas internacionais. A diferença em relação ao artigo é que o autor, o editorialista, não expressa sua opinião, apenas serve de intermediário para revelar o ponto de vista da instituição, da empresa, do órgão de comunicação. Muitas vezes, esses editoriais são produzidos por mais de um profissional. O editorialista é, quase sempre, antigo na casa e, obviamente, da confiança do dono da empresa de comunicação. Os temas, por evidente, são a pauta do momento, os assuntos da semana. As Notícias Aqui temos outro gênero, bem diverso. As notícias são autorais, isto é, produzidas por um jornalista claramente identificado na matéria. Possuem uma estrutura bem fechada, na qual, no primeiro parágrafo (também chamado de lide), o autor deve responder às cinco perguntinhas básicas do jornalismo: Quem? Quando? Onde? Como? E por quê? Essa maneira de fazer texto atende a uma regra do jornalismo moderno: facilitar a leitura. Se o leitor/receptor desejar mais informações sobre a notícia, que vá adiante no texto. Fato é que, lendo apenas o parágrafo inicial, terá as informações básicas do assunto. A grande diferença em relação ao artigo e ao editorial está no objetivo. O autor quer apenas "passar" a informação, quer dizer, não busca convencer o leitor/receptor de nada. É aquele texto que os jornalistas chamam de objetivo ou isento, despido de subjetividade e de intencionalidade. Exemplo de Notícia “O juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, negou-se a responder ontem à CPI do judiciário todas as perguntas sobre sua evolução patrimonial. Ele invocou a Constituição para permanecer calado sempre que era questionado sobre seus bens ou sobre contas no exterior.” (Folha de S. Paulo, 05/05/99). As Crônicas Estamos diante da Literatura. Os cronistas não possuem compromisso com a realidade objetiva. Eles retratam a realidade subjetiva. Dessa maneira, Rubem Braga, cronista, jornalista, produziu, por exemplo, um

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texto abordando a flor que nasceu no seu jardim. Não importa o mundo com suas tragédias constantes, mas sim o universo interior do cronista, que nada mais é do que um fotógrafo de sua cidade. É interessante verificar que essas características fundamentais da crônica vão desa-parecendo com o tempo. Não há, por exemplo, um cronista de Porto Alegre (talvez o último deles tenha sido Sérgio da Costa Franco). Se observarmos o jornal Folha de S. Paulo, teremos, junto aos editoriais e a dois artigos sobre política ou economia, uma crônica de Carlos Heitor Cony, descolada da realidade, se assim lhe aprouver (Cony, muitas vezes, produz artigos, discutindo algo da realidade objetiva). O jornal busca, dessa maneira, arejar essa página tão sisuda. A crônica é isso: uma janela aberta ao mar. Vale lembrar que o jornalismo, ao seu início, era confundido com Literatura. Um texto sobre um assassinato, por exemplo, poderia começar assim:" Chovia muito, e raios luminosos atiravam-se à terra. Num desses clarões, uma faca surge das trevas..." Dá-se o nome de nariz de cera a essas matérias empoladas, muito comuns nos tempos heróicos do jornalismo. Sobre a crônica, há alguns dados interessantes. Considerada por muito tempo como gênero menor da Literatura, nunca teve status ou maiores reconhecimentos por parte da crítica. Muitos autores famosos, romancistas, contistas ou poetas, produziram excelentes crônicas, mas não são conhecidos por isso. Carlos Drummond de Andrade é um belo exemplo. Pela grandeza de sua poesia, o grande cronista do cotidiano do Rio de Janeiro foi abafado. O mesmo pode-se falar de Olavo Bilac, que, no início do século passado, passou a produzir crônicas num jornal carioca, em substituição a outro grande escritor, Machado de Assis. Essa divisão dos textos da imprensa é didática e objetiva esclarecer um pouco mais o vestibulando. No entanto, é importante assinalar que os autores modernos fundem essa divisão, fazendo um trabalho misto. É o caso de Luis Fernando Veríssimo, que ora trabalha uma crônica, com os personagens conversando em um bar, terminando por um artigo, no qual faz críticas ao poder central, por exemplo. Martha Medeiros, por seu turno, produz, muitas vezes, um artigo, revelando a alma feminina. Em outros momentos, faz uma crônica sobre o quotidiano. Exemplo de Crônica “Quando Rubem Braga não tinha assunto, ele abria a janela e encontrava um. Quando não encontrava, dava no mesmo, ele abria a janela, olhava o mundo e comunicava que não havia assunto. Fazia isso com tanto engenho e arte que também dava no mesmo: a crônica estava feita. Não tenho nem o engenho nem a arte de Rubem, mas tenho a varanda aberta sobre a Lagoa - posso não ver melhor, mas vejo mais. Otto Maria Carpeaux não gostava do gênero "crônica", nem adiantava argumentar contra, dizer, por exemplo, que os cronistas, uns pelos outros, escreviam bem. Carpeaux lembrava então que escrever é verbo transitivo, pede objeto direto: escrever o quê? Maldade do Carpeaux. (...) Nelson Rodrigues não tinha problemas. Quando não havia assunto, ele inventava. Uma tarde, estacionei ilegalmente o Sinca-Chambord na calçada do jornal. Ele estava com o papel na máquina e provisoriamente sem assunto. Inventou que eu descia de um reluzente Rolls Royce com uma loura suspeita, mas equivalente à suntuosidade do carro. Um guarda nos deteve, eu tentei subornar a autoridade com dinheiro, o guarda não aceitou o dinheiro, preferiu a loura. Eu fiquei sem a multa e sem a mulher. Nelson não ficou sem

assunto.” (Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 02/01/98) Nota-se que a variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. A variação sempre existirá, no Brasil há apenas uma língua nacional, e assim mesmo existe diferenças de pronúncias, no emprego de palavras e outros aspectos da língua. Hoje, ninguém escreve como fala, e nas sociedades letradas, aquelas que usam intensamente a escrita, estas pessoas tomam as regras estabelecidas para o sistema de escrita como padrões de correção de todas as formas lingüísticas. No meio dessas letras que o homem espalha por todos os lugares, há algo em comum. Existem dois tipos de textos: o informativo e o ficcional.

Informativo: quando se escreve sobre coisas que acontecem, como nas notícias que aparecem em jornais, revistas e na Internet, bem como nas leis e bulas.

Ficcional: quando se escreve histórias inventadas, como nos livros e gibis.

Observe os dois casos práticos abaixo. 1. Você escreve um recado para o amigo que senta ao seu lado na escola, inventando uma história: "Estou namorando a Julieta". Que tipo de texto é esse? Ficcional. Tem gente que chama isso de mentira. 2. Por outro lado, vamos supor que o bilhete é verdadeiro. Isto é, você pediu a Julieta em namoro e ela respondeu "sim, Romeu!". E agora você está louco para contar vantagem para o amigo da carteira do lado. Se o bilhete diz "Estou namorando a Julieta", neste caso é verdade, isso acontece mesmo. Então, esse bilhete é um texto informativo. Isto quer dizer então que a história inventada é mentira? Digamos que é "de mentirinha". Alguém já disse que a literatura é "a mentira que encanta". As histórias inven-tadas saem da cabeça do escritor. O Sítio do Pica-pau Amarelo, que Monteiro Lobato inventou, nunca existiu em lugar nenhum que nossos olhos pudessem ver. O Sítio foi criado pela imaginação de Lobato e existe na imaginação de quem lê a história. Ou seja, o Sítio existe em outro mundo, que a gente não vê: é o mundo da imaginação. “Texto é um tecido verbal estruturado de tal modo que as idéias formam um todo coeso, uno, coerente. Todas as partes devem estar interligadas e manifestar um direcio-namento único. Assim, um fragmento que trata de diver-sos assuntos não pode ser considerado texto. Da mesma forma, se lhe falta coerência, se as idéias são contradito-rias, também não se constitui texto. Se os ele-mentos da frase que possibilitam a transição de uma idéia para outra não estabelecem coesão entre as partes expostas, o fragmento não se configura um texto. Essas três qualidades - unidade, coerência e coesão - são essenciais par a existência de um texto”. Veja-se um exemplo apresentado por João Bosco Medeiros, em “Português Instrumental”.: “O carnaval carioca é uma beleza, mas mascara, com o seu luxo, a miséria social, o caos político, o desequilíbrio que se estabelece entre o morro e a Sapucaí. Embora todos possam reconhecer os méritos de artistas plásticos que ali

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trabalham, o povo samba na avenida como herói de uma grande jornada. E acrescente-se: há manifestação em prol de processos judiciais contra costumes que ofendem a moral e agridem a religiosidade popular. O carnaval carioca, porque se afasta de sua tradição, está tornando-se desgracioso, disforme, feio.” O trecho anterior é um fragmento que não se constitui texto. Falta-lhe coerência entre a afirmativa inicial e a final. A oração subordinada que se inicia com embora não apresenta coesão em relação à oração principal; não é possível entender o que o autor quis dizer com aquelas palavras. Como o texto senta várias informações, várias direções: moral, política, social, religiosa, estática, acaba por não constituir um todo. Não há completude, inteireza, unidade. Os elementos estruturais do texto são: o saber partilhado, a informação nova, as provas, a conclusão, o tema, a referência. Por saber partilhado entende-se a informação antiga, do conhecimento da comunidade. De modo geral, o saber partilhado aparece na introdução, um local privilegiado para a negociação com o leitor. Não é difícil admitir que a informação que vai de “não é fácil escrever sobre seu próprio pai” até “sentimental” pertence ao saber partilhado. O emissor-negocia com o leitor, coloca-se num nível de entendimento, estabelece um do, para, em seguida, expor informações novas. A informação nova caracteriza-se como uma necessidade para a existência do texto. Sem ela, não há razão para o emissor escrever nada. Um texto só se configura texto quando veicula uma informação que não era do conhecimento do leitor, ou que não o era da forma como será exposta, o que implica, naturalmente, matizes novos e, conseqüentemente, uma nova maneira de ver os A informação nova não significa originalidade total, absoluta. É análoga ao contrato que o leitor faz com o ficcionista. Ninguém, ao ler “Dom Casmurro”, estará interessado em saber se os acontecimentos relatados são reais, se houve tempo e naquele espaço uma pessoa que se identificava com a personagem -do livro. O leitor entra em acordo com o narrador, admitindo como verossímeis os acontecimentos relatados. Da mesma forma, o leitor de “Memórias de Brás Cubas” não contesta a possibilidade de um defunto ser narrador. Aceita o fato e dá prosseguimento à leitura”. É sabido que, conforme a perspectiva teórica que se adote, o mesmo objeto pode ser concebido de maneiras diversas. O conceito de texto não foge a regra. Antes de discutirmos sua estrutura é preciso saber o que é um texto. Segundo Ingidore Koch, o conceito de texto depende das concepções que se tenha de língua e de sujeito. Na concepção de língua como representação do pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como um produto - lógico - do pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor/ouvinte senão captar essa representação mental, juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor, exercendo, pois, um papel essencialente passivo. Na concepção de língua como código - portanto, como mero instrumento de comunicação - e de sujeito como (pré)determinado pelo sistema, o texto é visto como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, o conhecimento do código, já que o texto, uma vez codificado, é totalmente explícito. Já na concepção interacional (dialógica) da língua, afirma Koch, na qual os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que - dialogicamente - nele se constroem e são construídos. Desta forma, há lugar, no texto para toda gama de

implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. Ingidore adota ainda uma última concepção na qual a compreensão deixa de ser entendida como simples “captação” de uma representação mental ou como a decodificação de mensagem resultante de uma codificação de um emissor. Ela é uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução deste no interior do evento comunicativo. O sentido de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não algo que preexista a essa interação. Resumindo, texto é uma unidade lingüística concreta, percebida pela audição (na fala) ou pela visão (na escrita), que tem unidade de sentido e intencionalidade comunicativa. Entretanto é possível notar que os enunciados (falas) não são o único elemento responsável pelo sentido da interação lingüística. Além do texto, há na situação comunicativa, outros elementos que também auxiliam na construção do sentido, como os papéis sociais que os interlocutores desempenham, a intenção do locutor, o conhecimento de mundo do interlocutor, as circunstâncias históricas ou sociais em que se dá a comunicação, etc. Um texto pode ser formado apenas pela linguagem verbal (por exemplo, um poema, um romance), apenas pela linguagem visual (um desenho, uma pintura), como também pelas linguagens verbal e visual (uma história em quadrinhos, um filme). Quando há o emprego dos dois tipos de linguagens, o sentido global do texto só se faz com o cruzamento das duas linguagens. Podemos classificar os textos, quanto a sua estrutura, em narrativo, descritivo e dissertativo. Vejamos aqui as características de um texto dissertativo e seu conceito. • O texto dissertativo, ou seja, a dissertação é uma explanação lógica de idéias. É um texto que analisa e interpreta dados da realidade por meio de conceitos abstratos. • O texto narrativo envolve uma dinamicidade que determina uma transformação nos fatos e nas personagens. Chamamos isto de progressão narrativa. Para que a progressão narrativa aconteça é preciso que se entabule um conflito entre as personagens. Narração é a exposição escrita ou falada de um fato. É um relato de acontecimentos em determinada seqüência, tendo como elementos integrantes:

a) As personagens,

b) Os fatos,

c) O tempo,

d) O espaço e

e) O foco narrativo. • O texto descritivo é a exposição minuciosa de um fato; a representação das características de uma pessoa, de uma cena, de um objeto ou de um processo. Para fazerse uma boa descrição, dois recursos são necessários: a particularização do espaço, apresentando-se detalhadamente as características do ser ou objeto e a

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sensibilização dos sentidos, mobilizando as sensações olfativas, táteis, visuais, gustativas e auditivas. De acordo com sua finalidade, podemos falar em dois tipos de descrição:

a) técnica ou

b) literária.

2. SEMÂNTICA: SENTIDO E EMPREGO DOS VOCÁBULOS; CAMPOS SEMÂNTI-COS; EMPREGO DE TEMPOS E MODOS

DOS VERBOS EM PORTUGUÊS

� Sinônimos

As palavras que possuem significados próximos são chamadas sinônimos .

Exemplos:

casa - lar - moradia – residência longe – distante delicioso – saboroso carro – automóvel

Observe que o sentido dessas palavras são próximos , mas não são exatamente equivalentes. Dificilmente encontraremos um sinônimo perfeito, uma palavra que signifique exatamente a mesma coisa que outra. Há uma pequena diferença de significado entre palavras sinônimas. Veja que, embora casa e lar sejam sinônimos, ficaria estranho se falássemos a seguinte frase:

Comprei um novo lar.

Obs.: O uso de palavras sinônimas pode ser de grande utilidade nos processos de retomada de elementos que inter-relacionam as partes dos textos.

� Antônimos

São palavras que possuem significados opostos, contrários.

Exemplos:

mal / bem ausência / presença fraco / forte claro / escuro subir / descer cheio / vazio possível / impossível

� Parônimos

São palavras que possuem significados diferentes e apresentam pronúncia e escrita parecidas.

Exemplos:

Emergir – vir à tona

Imergir – afundar

Infringir – desobedecer

Infligir – aplicar

Relação de Alguns Homônimos

Acender – pôr fogo

Ascender – subir

Acento – sinal gráfico

Assento – tampo de cadeira, banco

Aço – metal

Asso – verbo (1ª pessoa do singular, presente do indicativo)

Banco – assento com encosto

Banco – estabelecimento que realiza transações financeiras.

Cerrar – fechar

Serrar – cortar

Cessão – ato de ceder

Sessão – reunião

Secção/seção - divisão

Cesto - cesta pequena

Sexto – numeral ordinal

Cheque – ordem de pagamento

Xeque – lance no jogo de xadrez

Xeque – entre os árabes, chefe de tribo ou soberano

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Concerto – sessão musical

Conserto – reparo, ato ou efeito de consertar

Coser – costurar

Cozer – cozinhar

Expiar – sofrer, padecer

Espiar – espionar, observar

Estático – imóvel

Extático – posto em êxtase, enlevado

Estrato – tipo de nuvem

Extrato – trecho, fragmento, resumo

Incerto – indeterminado, impreciso

Inserto – introduzido, inserido

Chácara – pequena propriedade campestre

Xácara – narrativa popular

Relação de Parônimos

Absolver – perdoar

Absorver – sorver

Acostumar – habituar-se

Costumar – ter por costume

Acurado – feito com cuidado

Apurado – refinado

Afear – tornar feio

Afiar – amolar

Amoral – indiferente à moral

Imoral – contra a moral, devasso

Cavaleiro – que anda a cavalo

Cavalheiro – homem educado

Comprimento – extensão

Cumprimento – saudação

Deferir – atender

Diferir – adiar, retardar

Delatar – denunciar

Dilatar – estender, ampliar

Eminente – alto, elevado, excelente

Iminente – que ameaça acontecer

Emergir – sair de onde estava mergulhado

Imergir – mergulhar

Emigrar – deixar um país

Imigrar – entrar num país

Estádio – praça de esporte

Estágio – aprendizado

Flagrante – evidente

Fragrante – perfumado

Incidente – circunstância acidental

Acidente – desastre

Inflação – aumento geral de preços, perda do poder aquisitivo

Infração – violação

Ótico – relativo ao ouvido

Óptico – relativo à visão

Peão – homem que anda a pé

Pião – brinquedo

Plaga – região, país

Praga – maldição

Pleito – disputa eleitoral

Preito – homenagem Campos Semânticos O conjunto das significações assumidas por uma palavra e as relações precisas que se podem estabelecer entre os termos diz-se campo semântico. Todorov (Langages) considera campos semânticos as "microestruturas" que constituem a estrutura semântica de uma língua, "no

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interior das quais os termos constitutivos entretecem relações precisas e formalizáveis". O Dicionário de Termos Linguísticos (vol. II, de Maria Francisca Xavier e Maria Helena Mateus) considera campo semântico" um conjunto de lexemas ou outras unidades linguísticas que se encontram ligadas semanticamente. O termo surge muitas vezes como sinónimo de campo lexical, mas é necessário ter em consideração que este, ao contrário de campo semântico, tem uma significação menos ampla, pois designa apenas conjuntos de lexemas".As associações possíveis entre palavras que se relacionam por significado, símbolo, conotação ou mesmo um aspeto rítmico, contribuem para a compreensão e leitura do texto. Exemplos:

- campo semântico de navegar: navegar, marear, velejar, sulcar, vogar, singrar, navegar (na net) - campo semântico que traduz o sentido genesíaco: cio, procriar, fermento, germinar, semente, semear, sexo, sémen, fecunda, seiva, parir - campo semântico em torno do conceito de morte: dar o badagaio; bater a bota; partir; ir de esta para melhor; falecer; apagar-se; etc.

Nota: Aparentemente parece não existir grande diferença entre campo lexical e campo semântico. No entanto, o primeiro apenas agrupa palavras referentes a uma determinada área da realidade (por exemplo, as cores do arco-íris formam um campo lexical) e o segundo organiza-se pelo sentido (valor semântico) que a palavra (ou a expressão) pode adquirir conforme o contexto em que acontece ou pelas relações precisas com um determinado significado. Podemos, de forma prática, quase dizer, que o campo lexical remete para os significantes e o campo semântico para os significados. Sentido e Emprego dos Vocábulos Semântica é o estudo do sentido das palavras de uma língua. Na língua portuguesa, o significado das palavras leva em consideração: Sinonímia: É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados iguais ou semelhantes, ou seja, os sinônimos:

Exemplos: Cômico - engraçado / Débil - fraco, frágil / Distante - afastado, remoto.

Antonímia: É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados diferentes, contrários, isto é, os antônimos:

Exemplos: Economizar - gastar / Bem - mal / Bom - ruim.

Homonímia: É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica, ou seja, os homônimos: As homônimas podem ser:

Homógrafas: palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.

Exemplos: gosto (substantivo) - gosto / (1ª pessoa singular presente indicativo do verbo gostar) / conserto (substantivo) - conserto (1ª pessoa singular presente indicativo do verbo consertar);

Homófonas: palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.

Exemplos: cela (substantivo) - sela (verbo) / cessão (substantivo) - sessão (substantivo) / cerrar (verbo) - serrar ( verbo);

Perfeitas: palavras iguais na pronúncia e na escrita.

Exemplos: cura (verbo) - cura (substantivo) / verão (verbo) - verão (substantivo) / cedo (verbo) - cedo (advérbio);

Paronímia: É a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem significados diferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita, isto é, os parônimos:

Exemplos: cavaleiro - cavalheiro / absolver - absorver / comprimento - cumprimento/ aura (atmosfera) - áurea (dourada)/ conjectura (suposição) - conjuntura (situação decorrente dos acontecimentos)/ descriminar (desculpabilizar - discriminar (diferenciar)/ desfolhar (tirar ou perder as folhas) - folhear (passar as folhas de uma publicação)/ despercebido (não notado) - desapercebido (desacautelado)/ geminada (duplicada) - germinada (que germinou)/ mugir (soltar mugidos) - mungir (ordenhar)/ percursor (que percorre) - precursor (que antecipa os outros)/ sobrescrever (endereçar) - subscrever (aprovar, assinar)/ veicular (transmitir) - vincular (ligar) / descrição - discrição / onicolor - unicolor.

Polissemia: É a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados.

Exemplos: Ele ocupa um alto posto na empresa. / Abasteci meu carro no posto da esquina. / Os convites eram de graça. / Os fiéis agradecem a graça recebida.

Homonímia: Identidade fonética entre formas de significados e origem completamente distintos.

Exemplos: São(Presente do verbo ser) - São (santo)

Conotação e Denotação : Conotação é o uso da palavra com um significado diferente do original, criado pelo contexto.

Exemplos: Você tem um coração de pedra.

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Denotação é o uso da palavra com o seu sentido original.

Exemplos: Pedra é um corpo duro e sólido, da natureza das rochas.

� Modos Verbais Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato. Em Português, existem três modos: Indicativo - indica uma certeza, uma realidade.

Ex: Eu sempre estudo. Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade.

Ex: Talvez eu estude amanhã. Imperativo - indica uma ordem, um pedido.

Ex: Estuda agora, menino. Formas Nominais Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes ( substantivo, adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe: a) Infinitivo Impessoal: Exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substantivo.

Ex: Viver é lutar. (= vida é luta) É indispensável combater a corrupção. (= combate à).

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por Exemplo:

É preciso ler este livro. Era preciso ter lido este livro.

b) Infinitivo Pessoal: É o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira: 2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu)

1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.: termos (nós)

2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.: terdes (vós)

3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.: terem (eles)

Ex: Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

c) Gerúndio: O gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio.

Ex: Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio). Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função adjetivo).

Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta, uma ação concluída.

Ex: Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro. Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro.

d) Particípio: Quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau.

Ex: Terminados os exames, os candidatos saíram.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo (adjetivo verbal).

Ex: Ela foi a aluna escolhida para representar a escola.

� Tempos Verbais Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos. Veja: 1. Tempos do Indicativo Presente - Expressa um fato atual.

Ex: Eu estudo neste colégio. Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual mas que não foi completamente terminado.

Ex: Ele estudava as lições quando foi interrompido. Ele estudou as lições ontem à noite.

Pretérito Perfeito (simples) - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado.

Ex: Ele estudou as lições ontem à noite. Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato que teve início no passado e que pode se prolongar até o momento atual.

Ex: Tenho estudado muito para os exames.

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Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado.

Ex: Ele já tinha estudado as lições quando os amigos chegaram. (forma composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. (forma simples)

Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual.

Ex: Ele estudará as lições amanhã.

Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato que deve ocorrer posteriormente a um momento atual mas já terminado antes de outro fato futuro.

Ex: Antes de bater o sinal, os alunos já terão terminado o teste.

Futuro do Pretérito (simples) - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado.

Ex: Se eu tivesse dinheiro, viajaria nas férias. Futuro do Pretérito (composto) - Enuncia um fato que poderia ter ocorrido posteriormente a um determinado fato passado.

Ex: Se eu tivesse ganho esse dinheiro, teria viajado nas férias.

2. Tempos do Subjuntivo Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual.

Ex: É conveniente que estudes para o exame. Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado mas posterior a outro já ocorrido.

Ex: Eu esperava que ele vencesse o jogo. Obs.: O pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou desejo.

Ex: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato totalmente terminado num momento passado.

Ex: Embora tenha estudado bastante, não passou no teste.

Pretérito Mais-Que-Perfeito (composto) - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado.

Ex: Embora o teste já tivesse começado, alguns alunos puderam entrar na sala de exames.

Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual.

Ex: Quando ele vier à loja, levará as encomendas.

Obs.: O futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo.

Ex: Se ele vier à loja, levará as encomen-das. Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato posterior ao momento atual mas já terminado antes de outro fato futuro.

Ex: Quando ele tiver saído do hospital, nós o visitaremos.

Formação dos Tempos Simples Quanto à formação dos tempos simples, estes dividem-se em primitivos e derivados. Primitivos:

- presente do indicativo - pretérito perfeito do indicativo - infinitivo impessoal

Derivados do Presente do Indicativo:

- Presente do subjuntivo - Imperativo afirmativo - Imperativo negativo

Derivados do Pretérito Perfeito do Indicativo:

- Pretérito mais-que-perfeito do indicativo - Pretérito imperfeito do subjuntivo - Futuro do subjuntivo

Derivados do Infinitivo Impessoal:

- Futuro do presente do indicativo - Futuro do pretérito do indicativo - Imperfeito do indicativo - Gerúndio - Particípio

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Tempos Primitivos Presente do Indicativo

1ª conjugação

2ª conjugação 3ª conjugação Desinência

pessoal

CANTAR VENDER PARTIR

cantO vendO partO O

cantaS vendeS parteS S

canta vende parte -

cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS

cantaIS vendeIS partIS IS

cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo O pretérito perfeito do indicativo é marcado basicamente pela desinência pessoal.

1ª conjugação

2ª conjugação

3ª conjugação

Desinência pessoal

CANTAR VENDER PARTIR

canteI vendI partI I

cantaSTE vendeSTE partISTE STE

cantoU vendeU partiU U

cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS

cantaSTES vendeSTES partISTES STES

cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

Infinitivo Impessoal

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação CANTAR VENDER PARTIR

Tempos Derivados do Presente do Indicativo Presente do Subjuntivo Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação)

1ª conjugaç

ão

2ª conjugaç

ão

3ª conjugaç

ão

Des. tempor

al

Des. tempor

al

Desinência

pessoal

1ª conj. 2ª/3ª conj.

CANTAR VENDER PARTIR

cantE vendA partA E A Ø

cantES vendAS partaAS E A S

cantE vendA partaA E A Ø

cantEMOS

vendAMOS partAMOS E A MOS

cantEIS vendAIS partAIS E A IS

cantEM vendAM partAM E A M

Imperativo Imperativo Afirmativo ou Positivo Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda pessoa do plural (vós) eliminando-se o "S" final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Imperativo Negativo Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo. Obs.: O verbo ser no imperativo faz, excepcional-mente: sê (tu), sede (vós). Tempos Derivados do Pretérito Perfeito do Indicativo Pretérito mais-que-perfeito Para formar o pretérito mais-que-perfeito do indicativo elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -RA mais a desinência de número e pessoa correspondente. Existem gramáticos que afirmam que este tempo origina-se da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito (cantaram/venderam/partiram), mediante a supressão do m final e acréscimo da desinência de número e pessoa.

Ou simplesmente: tema + {-ra, -ras, -ra, -ramos, -reis, -ram (1ª, 2ª e 3ª conj.)

Observe o quadro:

1ª conjugação

2ª conjugação

3ª conjugaçã

o

Des. tempora

l

Desinência pessoal

1ª/2ª e 3ª conj.

CANTAR VENDER PARTIR

cataRA vendeRA partiRA RA Ø

cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S

cantaRA vendeRA partiRA RA Ø

cantáRAMOS

vendêRAMOS

partíRAMOS RA MOS

cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS

cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número e pessoa correspondente. Outros gramáticos afirmam que este tempo origina-se da

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terceira pessoa do pretérito perfeito (cantaram / venderam / partiram) mediante a supressão do -ram final e acréscimo da desinência modo-temporal -SSE e da desinência de número e pessoa.

Ou simplesmente: tema +{ -sse, -sses, -sse, -ssemos, -sseis, -ssem (1ª, 2ª e 3ª

conj.)

Observe o quadro:

1ª conjugação

2ª conjugação

3ª conjugação

Des. tempor

al

Desinência pessoal

1ª /2ª e 3ª conj.

CANTAR VENDER PARTIR

cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø

cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S

cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø

cantáSSEMOS

vendêSSEMOS

partíSSEMOS SSE MOS

cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS

cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e pessoa correspondente. Outros gramáticos afirmam que este tempo origina-se da terceira pessoa do pretérito perfeito (cantaram / venderam / partiram) mediante a supressão do -am final e acréscimo da desinência de número e pessoa.

Ou simplesmente: tema + { -r, -res, -r, -rmos, -rdes, -rem (1ª, 2ª e 3ª conj.)

Observe o quadro:

1ª conjugação

2ª conjugação

3ª conjugação

Des. temporal

Desinência pessoal

1ª /2ª e 3ª conj.

CANTAR VENDER PARTIR

cantaR vendeR partiR Ø

cantaRES vendeRES partiRES R ES

cantaR vendeR partiR R Ø

cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS

cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES

cantaREM VendeREM PartiREM R EM

Atenção:

Sempre que tivermos dúvidas sobre a conjugação do futuro do

subjuntivo, bastar-nos-á verificar a 3ª p. p. do pretérito perfeito. Se formos confrontar o futuro do subjuntivo com o infinitivo pessoal, notaremos haver igualdade de forma para muitos verbos, o que não ocorre sempre. O verbo fazer, por exemplo, conjuga-se no infinitivo pessoal: fazer, fazeres, fazer, fazermos, fazerdes, fazerem; mas no futuro do subjuntivo veremos as formas: quando eu fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem, pois este tempo se origina da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo.

Tempos Derivados do Infinitivo Impessoal Futuro do Presente do Indicativo Infinitivo Impessoal + { -ei, -ás, -á, -emos, -eis, -ão (1ª,2ª e 3ª conj.) } Veja:

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação

CANTAR VENDER PARTIR

cantar ei vender ei partir ei

cantar ás vender ás partir ás

cantar á vender á partir á

cantar emos vender emos partir emos

cantar eis vender eis partir eis

cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo Infinitivo Impessoal + { -ia, -ias, -ia, -íamos, -íeis, -iam (1ª, 2ª e 3ª conj.) Veja:

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação

CANTAR VENDER PARTIR

cantarIA venderIA partirIA

cantarIAS venderIAS partirIAS

cantarIA venderIA partirIA

cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS

cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS

cantarIAM venderIAM partirIAM

Infinitivo Pessoal Infinitivo Impessoal + { -es (2ª pessoa do singular), -mos (1ª pessoa do plural), -des (2ª pessoa do plural), -em ( 3ª pessoa do plural) (1ª, 2ª e 3ª conj.) Veja:

1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação

CANTAR VENDER PARTIR

cantar vender partir

cantarES venderES partirES

cantar vender partir

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cantarMOS venderMOS partirMOS

cantarDES venderDES partirES

cantarEM venderEM partirEM

Tempos Compostos São formados por locuções verbais que têm como auxiliares os verbos ter e haver e como principal, qualquer verbo no particípio . São eles: 1. Pretérito Perfeito Composto do Indicativo: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Presente do Indicativo e o principal no particípio, indicando fato que tem ocorrido com frequência ultimamente.

Ex: Eu tenho estudado demais ultimamente. 2. Pretérito Perfeito Composto do Subjuntivo: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Presente do Subjuntivo e o principal no particípio, indicando desejo de que algo já tenha ocorrido.

Ex: Espero que você tenha estudado o suficiente, para conseguir a aprovação.

3. Pretérito Mais-que-perfeito Composto do Indicativo: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Pretérito Imperfeito do Indicativo e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o Pretérito Mais-que-perfeito do Indicativo simples.

Ex: Eu já tinha estudado no Maxi, quando conheci Magali.

4. Pretérito Mais-que-perfeito Composto do Subjuntivo: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Pretérito Imperfeito do Subjuntivo e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o Pretérito Imperfeito do Subjuntivo simples.

Ex: Eu teria estudado no Maxi, se não me tivesse mudado de cidade.

Obs.: Perceba que todas as frases remetem a ação obrigatoriamente para o passado. A frase Se eu estudasse, aprenderia é completamente diferente de Se eu tivesse estudado, teria aprendido. 5. Futuro do Presente Composto do Indicativo: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Futuro do Presente simples do Indicativo e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o Futuro do Presente simples do Indicativo.

Ex: Amanhã, quando o dia amanhecer, eu já terei partido.

6. Futuro do Pretérito Composto do Indicativo: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Futuro do Pretérito simples do Indicativo e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o Futuro do Pretérito simples do Indicativo.

Ex: Eu teria estudado no Maxi, se não me tivesse mudado de cidade.

7. Futuro Composto do Subjuntivo: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Futuro do Subjuntivo simples e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o Futuro do Subjuntivo simples.

Ex: Quando você tiver terminado sua série de exercícios, eu caminharei 6 Km.

Veja os exemplos:

Quando você chegar à minha casa, telefonarei a Manuel. Quando você chegar à minha casa, já terei telefonado a Manuel.

Perceba que o significado é totalmente diferente em ambas as frases apresentadas. No primeiro caso, esperarei "você" praticar a sua ação para, depois, praticar a minha; no segundo, primeiro praticarei a minha. Por isso o uso do advébio "já". Assim, observe que o mesmo ocorre nas frases a seguir::

Quando você tiver terminado o trabalho, telefonarei a Manuel. Quando você tiver terminado o trabalho, já terei telefonado a Manuel.

8. Infinitivo Pessoal Composto: É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Infinitivo Pessoal simples e o principal no particípio, indicando ação passada em relação ao momento da fala.

Ex: Para você ter comprado esse carro, necessitou de muito dinheiro.

3. MORFOLOGIA: RECONH ECIMENTO, EMPREGO E SENTIDO DAS CLASSES

GRAMATICAIS; PROCESSOS DE FORMA-ÇÃO DE PALAVRAS; MECANISMOS DE

FLEXÃO DOS NOMES E VERBOS As classes gramáticas apresentam 10 classes de palavras: Substantivo, Artigo, Adjetivo, Pronome, Numeral, Verbo, Advérbio, Preposição, Conjunção e Interjeição. Elas podem ser variáveis ou invariáveis.

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� Variáveis As seis classes que são do grupo das variáveis são:

1. Substantivo: Palavra que dá nome aos seres em geral.

- Casa, sapato, carro, mesa... - Casarão,casebre, sapatos, sapatinho, carros, carrinho, mesas..

Os substantivos aceitam flexão, portanto são variáveis.

2. Artigo: Palavra que acompanha o substantivo determinando-o:

- Uma casa, os sapatos, o carro, uma mesa - Umas casas, o sapato, os carros, umas mesas... Os artigos podem sofrer modificação e são usados no plural ou singular, portanto, também pertencem ao grupo das variáveis.

3. Adjetivo: palavra que expressa a qualidade ou característica do substantivo:

- Casa bonita, sapato grande, carro novo, mesa pequena... - Casas bonitas, sapatos grandes, carros novos, mesas pequenas...

4. Numeral: palavra que quando flexionada pode indicar:

Quantidade : Aqui trabalham três ajudantes. Ordem : Passei na USP em terceiro lugar. Múltiplo : Aquela casa tem o triplo do tamanho da minha. Fração : Um terço dos deputados votou contra o projeto.

5. Pronome: Palavra que acompanha ou substitui o substantivo, para indicar a pessoa do discurso:

- Nossa casa, meu sapato, o carro dele , sua mesa... - Nossas casas, meus sapatos, o carro deles, suas mesas...

6. Verbo: Palavra que indica ação:

IR: irei, irá, iria, etc... CASAR : casarei, casaremos, casarão

GOSTAR: gostou, gostei, gostará, gostaria, etc... � Invariáveis O grupo das invariáveis é composto por:

1. Advérbio: Palavra que modifica o sentido:

Do verbo : Suas palavras nos sensibili-zaram profundamente . Do Adjetivo : Ela estava maravilhosa-mente bela. Do próprio advérbio : Você sabe muito bem minha opinião.

2. Preposição: Palavra que liga dois termos entre si:

- Falou sobre suas viagens.

- Lutarei contra todos.

3. Conjunção: palavra que liga:

Termos : Brigavam como cão e gato. Orações : Vibramos com a divulgação do resultado.

4. Interjeição: palavra que exprime sentimento ou emoção:

- Oba! Hoje é feriado nacional!

OBS: Preposição, interjeição, conjunção e advérbio pertencem a classe das palavras invariáveis, pois, não podem sofrer flexão alguma.

� Substantivo

Aspectos Morfológicos: Substantivo é todo nome com que designamos os seres. ”É a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral“. (Celso Cunha) São, portanto, substantivos: 1. Os nomes de pessoas, animais, legumes, verduras, frutas, lugares, coisas.

Pedro, Mário, boi, cavalo, chuchu, beterraba, repolho, couve, laranja, manga, Vitória, Argentina, Brasil, caderno, mesa, livro, lápis etc.

NOTA: Qualquer palavra precedida de artigo é um substantivo, ou seja, pode ser uma palavra substantivada.

O sim, o não, o porquê, o ser, o amar, o querer, o triste, o alegre, etc., são palavras substantivadas.

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Ex.: O não é uma palavra amarga.

2. Os nomes tomados como seres, indicando ação, estado ou qualidade:

Tristeza, bondade, patriotismo, velhice, colheita, limpeza, firmeza, inteligência, etc.

Classificação do Substantivo

O substantivo pode ser: Comum: quando se refere a todos os seres de uma mesma espécie.

Revista (esse nome se refere a toda a espécie de revista) Cidade (identifica toda a espécie de cidade)

Próprio: quando se refere a um só ser de uma mesma espécie.

A Gazeta ( refere-se a um só ser da espécie jornal), Recife ; (identifica um ser da espécie cidade)

Simples: quando o substantivo é formado por um só radical.

Árvore, flor, repolho, menino, pé, mão...

Composto: quando o substantivo for formado por mais de um radical.

Salário-família Azul-marinho Pé- de- moleque

Primitivo: dá origem a outro substantivo.

Carro, terra...

Derivado : quando se origina de outro substantivo, primitivo.

Carroça, carroceiro, carretel, carruagem, Terreiro, terreno, terremoto...

Concreto: quando indica um ser de existência independente, real ou não.

Menino, Deus, alma, terreiro, couve-flor...

Abstrato: quando indica um ser de existência dependente, isto é, ser que não existe no mundo exterior, mas apenas em nossa consciência.

Amor, saudade, inveja, entrada, dor...

Formação do Substantivo

O substantivo pode ser primitivo ou derivado. Primitivos: são os que não derivam de outra palavra.

pedra, ferro, dente, trovão...

Derivados: são os que derivam de outra palavra.

pedrada, pedraria, pedregal, pedregoso, pedregulho, ferroada, ferrolho, ferroso, fer-rovia, ferraria, ferreiro, dentada, trovoada

Substantivos Coletivos

São os substantivos comuns que, no singular, designam um conjunto de seres ou coisas da mesma espécie. É assim chamado o substantivo comum que, embora na forma singular, exprime, quanto à idéia, diversos seres ou coisas da mesma espécie. Alguns esclarecimentos: a) Não estão relacionados nesta lista coletivos formados do próprio radical da palavra acrescidos de sufixos designativos de coleção.

Árvore arvoredo Casa casario Corda cordame Sapo sapataria Taquara taquaral

b) A lista de coletivos não é completa, mas não existem coletivos para todo e qualquer substantivo. c) Se você estiver procurando coletivos que indiquem o número certo dos elementos da coleção, isto é, o conjunto de dois, de três, de quatro, ..., estes devem ser procurados na lista ou dicionário. d) Às vezes, ao usar um coletivo - miríade, por exemplo - não basta escrever miríade, é necessário acrescentar o especificativo, “de estrelas”, um “cardume de peixes”, “um enxame de abelhas” e não basta simplesmente - “um cardume”, “um enxame”, a menos que o contexto já esclareça o coletivo. Eis alguns coletivos: Abelhas - colméia, cortiço, enxame Amigo - quando em assembléia - tertúlia Anedota - anedotário, repertório Apetrecho - apeiragem Aplaudidor - quando pagos - claque

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Argumento - carrada Asneira - chorrilho, acervo Assassino - choldra, choldraboldra Ator - elenco Ave - quando em grande quantidade bando, nuvem Bêbedo - corja, súcia, farândula Borboleta - panapaná Botão - abotoadura Burro - manada, tropa, récua Cabelo - cacho, trança, madeixa Cobra - fato Cálice - baixela Camelo - cáfila Cão - matilha, canzoada, chusma Capim - feixe, paveia Carta - correspondência, carta geográfica, Atlas Cem anos - século Chave - molho Cigano - bando, cabildo Cinco anos - qüinqüênio, lustro Cobra - quando instaladas em lugar - serpentário Coluna - colunata, renque Corda - cordoalha Credor - junta Dez - dezena Dez anos - década Disco - discoteca Dois animais - casal, par Duas pessoas - casal, par Doze - dúzia Égua - piara Erro - barba Escravo - na mesma morada - senzala Estrela - constelação Feiticeiro - conciliábulo � Flexão do Substantivo a) Plural dos Substantivos Forma-se o plural dos substantivos, acrescentando-se um “s“ ao singular quando terminados em vogal ou ditongo.

Cadeira cadeiras Livro livros Baú baús Boi bois Pai pais Rapé rapés Caderno cadernos Chapéu chapéus Vaca vacas Cavalo cavalos Boné bonés Boneca bonecas

Observação: Podemos incluir nesta relação os subs-tantivos terminados em “m”, havendo simplesmente a troca do “m” por “n” e o acréscimo do “s”.

Álbum álbuns Bem bens Som sons Flautim flautins

Boletim boletins Plural dos nomes terminados em ZINHO, ZITO. Regra: Põe-se, no plural, os dois elementos e suprime-se o ‘’s’’ do primeiro :

Flor+zinha = flores+zinha = florezinhas Papel = zinho = papéis+zinho = papeizinhos Colar+zito = colares+zitos = colarezitos Réptil+zito = répteis+zitos = repteizitos Coração+zito = corações+zito = coraçõe-zitos

b) Plural dos Substantivos Compostos Substantivos Compostos estão ligados sem hífen, for-mam o plural normalmente.

Pontapé pontapés Aguardente aguardentes Clarabóia clarabóias Madrepérola madrepérolas Planalto planaltos Fidalgo fidalgos Girassol girassóis Pernalta pernaltas Madressilva madressilvas Lobisomem lobisomens Varapau varapaus Montepio montepios Terrapleno terraplenos Cantochão cantochãos

- Nos compostos formados por verbo ou palavras invariáveis mais substantivo ou adjetivo, só o 2º termo varia.

Beija-flor beija-flores Guarda-roupa guarda-roupas Abaixo-assinado abaixo-assinados Vice-rei vice-reis Salva-vida salva-vidas Mata-borrão mata-borrões Ante-sala ante-salas

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Bate-papo bate-papos Pára-choque pára-choques

- Nos compostos cujos elementos denotam sons de coisas só o 2º elemento varia.

reco-reco reco-recos tique-taque tique-taques

Só o 1º elemento (termo) varia: a) Nos substantivos compostos cujos elementos são ligados por preposição.

Pé-de-moleque pés-de-moleque Pão-de-ló pães-de-ló Chefe-de-seção chefes-de-seção Rabo-de-galo rabos-de-galo Estrada-de-ferro estradas-de-ferro Chapéu-de-sol chapéus-de-sol Peroba-do-campo perobas-do-campo João-de-barro joões-de-barro Mula-sem-cabeça mulas-sem-cabeças

b) Quando o 2º elemento exprime idéias de finalidade ou semelhança, só o 1º varia.

Salário-família salários-família Navio-escola navios-escola Saia-balão saias-balão Manga-rosa mangas-rosa Peixe-boi peixes-boi Escola-modelo escolas-modelo Caneta-tinteiro canetas-tinteiro Café-concerto cafés-concerto Laranja-pêra laranjas-pêra Banana-maçã bananas-maçã

Ambos os elementos (termos) variam. Nos compostos de palavras variáveis (substantivos, adje-tivos, numerais).

Cirurgião-dentista cirurgiões-dentistas

Gentil-homem gentis-homens Carta-bilhete cartas-bilhetes Obra-prima obras-primas Parede-mestra paredes-mestras Rico-homem ricos-homens Água-marinha águas-marinhas Vitória-regia vitórias-regias Amor-perfeito amores-perfeitos Tenente-coronel tenetes-coronéis Couve-rébano couves-rebanos Salvo-conduto salvos-condutos Chave-mestra chaves-mestras Pronto-socorro prontos-socorros Cobra-cega cobras-cegas Guarada-mor guardas-mores Quarta-feira guartas-feiras Guarda-civil guardas-civis Porco-espinho porcos-espinhos Redator-chefe redatores-chefes

Ambos os elementos (teRmos) SÃO invariáveis a) Nas formas substantivas:

A estou-fraca as estou-fraca O disse-me-disse os disse-me-disse O bumba-meu-boi os bumba-meu-boi

b) Nos compostos de verbo e palavra invariável:

O ganha-pouco Os ganha-pouco. O pisa-mansinho Os pisa-mansinho. O cola-tudo Os cola-tudo. O bota-fora Os bota-fora

c) Nos compostos de verbo de sentido oposto

O leva-e-traz os leva-e-traz O vai-e-volta os vai-e-volta

Algumas Variações Independentes:

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1. Nos termos que indicam nomes de preces, só o se-gundo termo varia.

Ave-Maria Ave-Marias Padre-Nosso Padre-Nossos Glória-patri Glória-patris Pai-nosso Pai-nossos

2. Nos compostos com as combinações do qualificativo “BEL” - “GRÃO” - “GRÔ com substantivo, só o 2º termo varia.

Grão-prior grão-priores Grão-duque grão-duques Grão-mestre grão-mestres Grão-ducado grão-ducados Grã-cruz grã-cruzes Bel-prazer bel-prazeres Grão-ducal grão-ducais Grão-lama grão-lamas

3. Nos compostos de palavras repetidas, só o segundo termo varia.

Luze-luze luze-luzes Ruge-ruge ruge-ruges Corre-rorre corre-corres Lufa-lufa lufa-lufas Lenga-lenga lenga-lengas Zumzum zunzuns

4. Nos compostos que têm como último termo um verbo, antepondo-lhe um pronome, só o 2º termo varia.

Bem-te-vi bem-te-vis Bem-me-quer bem-me-queres

Observações: 1. O composto MAPA-MUNDI, faz o plural MAPAS-MUNDI. 2. Os compostos que têm o segundo termo no plural, sendo o primeiro termo invariável, serão assim flexio-nados:

Um quebra-nozes dois quebra-nozes

Um saca-rolhas dois saca-rolhas c) Plural de Substantivos com outras Termina-ções 1. Os terminados em “ÃO” fazem o plural: a) em “AES”

Alemão alemães Capitão capitães Catalão catalães Escrivão escrivães Pão pães Tabelião tabeliães

b) em “ÕES”

Canção canções Mamão mamões Limão limões Eleição eleições

2. Quando os substantivos terminarem am “al”, “el”, “il”, “ol” e “ul”, regra geral, troca-se o “l” por “is”.

Coronel coronéis

Nível níveis Jornal jornais Papel papéis Lençol lençóis Paul pauis

3. Nos substantivos terminados em “il”, sendo o vocábulo oxítono, muda-se “il” por “is”

Barril barris Canil canis Covil covis Fuzil fuzis

Observação 1: a) Réptil e projétil, como paroxítonas, fazem plural répteis e projéteis e como oxítonos, fazem o plural: reptis e pro-jetis.

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4. Aos substantivos terminados em “r” ou “z” acrescenta-se a terminação “es”

Altar altares Açúcar açúcares Rapaz rapazes Exemplar exemplares Cartaz cartazes Éter éteres

5. Aos substantivos terminados em “s”, sendo monos-sílabos, acrescentam-se-lhes “es”.

mês meses camponês camponeses francês franceses português portugueses inglês ingleses chinês chineses holandês holandeses

Sendo os substantivos paroxítonos, ficam invariáveis, e o adjunto adnominal indicar-lhe-á o número:

O lápis os lápis

O cais os cais O xis os xis

Observação 2: O mesmo acontece com as palavras que só se usam no plural. São chamadas “pluralia tantum”

O Estados Unidos os Estados Unidos O lápis os lápis O pires os pires

6. Os substantivos terminados em “x”, ficam invariáveis

O ônix-os ônix O fênix-os fênix O tórax-os tórax

Plural Metafônico O plural de alguns substantivos troca o “o” fechado tônico pelo “o” tônico aberto.

singular (ô) plural (ó)

fogo fogos corpo corpos olho olhos miolo miolos forno fornos tijolo tijolos corno cornos caroço caroços esforço esforços coro coros

Gênero do Substantivo Os substantivos podem ser dos gêneros masculino ou feminino

Os masculinos são: Homem, menino, rapaz, boi, etc. Os femininos são: Mulher, menina, moça, vaca, etc.

Formação do Feminino Forma-se o feminino: Regra geral , mudando a terminação “o” em “a”

boneco boneca menino menina macaco macaca filho filha aluno aluna

gato gata

As palavras terminadas em “e”, têm a terminação femi-nina “a” nos seguintes casos:

mestre mestra parente parenta alfaiate alfaiata elefante elefanta infante infanta monge monja

Apenas acrescentamos “a” em:

leitor leitora professor professora eleitor eleitora bacharel bacharela

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zagal zagala oficial oficiala juiz juíza doutor doutora

As palavras terminadas em “ão”, são trocadas por “ã”, “ão” ou “ona”:

anão anã irmão irmã folião foliã leão leoa valentão valentona anfitrião anfitrioa ou anfitriã cidadão cidadã ermitão ermitoa chorão chorona hortelão horteloa valentão valentona

Existem, ainda, substantivos que têm uma só forma para os dois sexos. São os chamados COMUM DE DOIS. Distingue-se o sexo, quando se lhe antepõe o “o” para o masculino e o “a” para o feminino:

o camarada a camarada o estudante a estudante o mártir a mártir o capitalista a capitalista o doente a doente

Em muitos substantivos - como os nomes de animais - empregamos as palavras: MACHO e FÊMEA para distinção do sexo:

cobra macho cobra fêmea jacaré macho jacaré fêmea

Observação: Estes nomes de animais são chamados EPICENOS. São SOBRECOMUNS os nomes de um só gênero gramatical que se aplicam, indiferentemente, a homens e a mulheres:

- o cônjuge

- o ser - o algoz - o carrasco - a testemunha - a vítima.

Certos nomes de animais:

bode cabra boi vaca cão cadela carneiro ovelha cavalo égua

Certos nomes de pessoas:

cavaleiro amazona cavalheiro dama compadre comadre genro nora marido mulher padrasto madrasta padrinho madrinha

pai mãe

Certos nomes formam o feminino com as terminações “esa”, “essa”, “isa”:

abade abadessa duque duquesa etíope etiopisa papa papisa barão baronesa bispo episcopisa píton pitonisa poeta poetisa profeta profetisa sacerdote sacerdotisa visconde viscondessa diácono diaconisa

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cônsul consulesa

Certos substantivos são irregulares na formação do feminino, e não se enquadram em nenhum dos casos precedentes:

avô avó capiau capioa confrade confreira czar czarina dom dona grou grua judeu judia maestro maestrina pierrô pierrete rei rainha sandeu sandia embaixador embaixatriz europeu européia frade freira guri guria ilhéu ilhoa

marajá marani pigmeu pigméia rapaz rapariga réu ré tabaréu tabaroa herói heroína

Atenção: a mulher do embaixador é embaixadora Grau do Substantivo Grau é o acidente que exprime:

a) O aumento ou diminuição de um ser relativa-mente ao seu tamanho normal (dimensivo). b) A intensidade maior ou menor de uma qua-lidade (intensivo).

O primeiro tipo de gradação é próprio dos substantivos e o segundo é próprio dos adjetivos. Os substantivos apre-sentam-se com a sua significação aumentada ou dimi-nuída:

Homem - homenzarrão - homenzinho

Há dois graus de significação do substantivo:

a) Aumentativo = homenzarrão b) Diminutivo = homenzinho

A flexão do grau do substantivo realiza-se por dois processos: 1. Sintético: acréscimo de um final especial chamado sufixo aumentativo ou diminutivo:

Meninão menininho Homenzarrão homenzinho

2. Analítico: emprego de uma palavra de aumento ou de diminuição (grande, enorme, pequeno etc.) junto ao substantivo.

Homem grande homem pequeno Menino grande menino pequeno

Observação: Fora da idéia de tamanho, as formas aumentativas e diminutivas podem traduzir o nosso desprezo, a nossa crítica, o nosso pouco caso para certos objetos e pessoas:

Coisinha, livreco, padreco, poetastro Dizemos, então, que os substantivos estão em sentido pejorativo. A idéia da pequenez se associa facilmente à de carinho que transparece nas formas diminutivas: Paizinho, irmãozinho, mãezinha, avovozinha, qu-eridinha Existem SUBSTANTIVOS que mudam de gênero e mudam de significado: são femininos ou masculinos conforme o significado que possuem na frase.

O águia esperto, velhaco, vigarista... A águia ave, perspicácia O banana palerma, imbecil A banana fruta da bananeira O cabeça chefe, líder A cabeça parte co corpo O cabra homem valente A cabra animal O caixa funcionário(a) A caixa objeto O capital dinheiro

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A capital cidade sede do governo O cisma separação religiosa A cisma receio, desconfiança O coma sono mórbido A coma cabeleira, juba O foca jornalista principiante A foca animal O grama peso, medida de massa A grama capim O guarda soldado A guarda vigilância, corporação O guia cicerone A guia documento O lente professor A lente vidro de aumento O moral coragem, estado de espírito A moral ética, conclusão O nascente lado onde nasce o sol A nascente fonte O rádio aparelho receptor A rádio estação emissora

Atenção: Os substantivos que vêm após palavras de idéia coletiva devem ficar sempre no plural.

Caixa de fósforos Maço de velas Dúzia de ovos Grupo de estudantes Par de chinelos Porção de batatas Boa parte de mulheres

Cuidado: De modo nenhum se aceita, na norma culta, uso de: um bules, um chopes, um clipes, um chicletes, um ciúmes, um dropes, um parênteses, um pastéis. Mas se emprega: um bule, um chope, um clipe, um chiclete, um ciúme, um drope, um parêntese, um pastel.

Alguns substantivos mudando de número, mudam de significado.

O amor-afeto Os amores-namoro

A ânsia-aflição As ânsias-nauseas O ar-vento Os ares-clima, aparência A arte-ofício As artes-astúcia A costa-litoral, região à beira-mar As costas -dorso A féria-renda diária As férias-repouso, descanso O fogo-lume Os fogos-pirotecnia A honra-dignidade As honras-distinção A letra-símbolo gráfico As letras-literatura A liberdade-livre arbítrio As liberdades-atrevimento A meia-metade As meias-peça do vestuário O meio-metade Os meios-recursos

O sapinho-animal Os sapinhos-doença O sentimento-sensibilidade Os sentimentos-condolências O vencimento-fim Os vencimentos-salário A vontade-desejo As vontades-caprichos

Existem certos diminutivos irregulares como:

A artéria a arteríola A árvore a arvoreta, o arbusto O astro o asteróide A barba a barbicha O beijo o beijota A câmara o camarim, o camarote O caminhão caminhonete, caminhoneta A casa o casebre

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O corpo o corpete A cruz a cruzeta O diabo o diabrete A espada o espadim A estátua a estatueta O farol o farolete A fazenda a fazendola O galo o galispo A laje a lajota O palácio o palacete A pedra o pedrisco A perdiz o perdigoto A porta a portinhola O rabo o rabicho O rio o riacho A rua a ruela A via a viela O verão o veranico

Eis uma relação dos principais diminutivos eruditos:

A cela a célula

O corpo o corpúsculo

O eixo axículo

O feixe o fascículo A folha a folícula O globo o glóbulo A gota a gotícula O grão o grânulo O homem o homúnculo O nó o nódulo A obra o opúsculo A orelha a aurícula O ovo o óvulo A parte a partícula A pele a película

A porção a porciúncula A questão a questiúncula O verso o versículo

� Adjetivo Adjetivo é a palavra variável que serve para caracterizar seres e objetos exprimindo aparência, modo de ser, estado, qualidade.

Inteligência lúcida Homem perverso Pessoa descontraída Céu azul Mulher bonita Jovem sentimental Homem mortal Água morna Mata verde Menino estudioso Praia limpa Laranjeiras floridas Terras secas Animais lindos Roupa suja Papel branco Água mole Gelo pequeno

Classificação dos Adjetivos

O adjetivo pode ser: a) Uniforme : quando tem uma só forma para os dois gêneros:

Feliz, alegre Menina feliz Menino feliz Menina alegre Menino alegre

b) Biforme: quando tem uma forma para cada gênero. Bom boa mau má

c)Simples : têm um só radical

Verde azul

d) Composto : tem mais de um radical.

Azul-claro Amarelo-ouro Formação do Adjetivo

Quanto à formação o adjetivo pode ser:

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a) Primitivo: O que não deriva de outra palavra: Bom forte baixo veloz

b) Derivado: O que deriva de outro substantivo ou verbo:

Altaneiro (de alto) Aceitável (de aceito)

Brioso (de brio)

c) Simples: O que tem uma só palavra.

Marinha brasileira

Menina prodigiosa

Noite escura

d) Composto: O que tem mais de uma palavra;

Comissão luso-brasileira Mata verde-escuro

� Flexão do Adjetivo O adjetivo pode variar em:

- Gênero - Número - Grau

Flexão de Gênero - Quanto ao gênero, os adjetivos classificam-se em uni-formes e biformes. Adjetivos Biformes São adjetivos que têm duas formas diferentes: uma para o masculino e outra para o feminino.

Exemplos: copo ocupado / casa ocupada. Adjetivos Uniformes São adjetivos que têm uma só forma para indicar tanto o masculino quanto o feminino.

Exemplo: macaco selvagem / macaca selvagem Flexão de Número

- formação do plural. (Adjetivos simples / Adje-tivos Compostos)

Flexão de Grau:

- normal / comparativo / superlativo Grau do Adjetivo O Grau do Adjetivo exprime a intensidade das qualidades dos seres. Dois são os Graus do Adjetivo: Comparativo e Superla-tivo, cada um deles compreendendo tipos:

Grau Comparativo Grau Superlativo De Superioridade Analítico De Superioridade Sintético De Igualdade De Inferioridade

Absoluto Sintético Absoluto Analítico Relativo de Superioridade Relativo de Inferioridade

� Artigo Dá-se o nome de artigo à palavra que, anteposta ao substantivo, serve para determina-lo ou inde-termina-lo. Observe a frase: “O menino entrou na sala”. Nesse caso, a palavra grifada é artigo defi-nido, pois determina o substantivo, individualizando. Nesta outra frase: “Um menino entrou na sala”, a palavra grifada é artigo indefinido, pois o subs-tantivo a que ele se refere passa a ter um sentido indeterminado. O artigo pode ser, então:

- definido – o, a, os, as - indefinidos – um, uma, uns, umas

� Numeral Dá-se o nome de numeral à palavra que quantifica os seres ou indica a posição que podem ocupar numa série. Os numerais dividem-se em: Cardinais: designam quantidades determinadas de seres ou quantidades em si mesmas.

Ex: Dois meninos acabaram de chegar. Três e dois são cinco.

Ordinais: designam a rdem em que um substantivo se coloca no interior de uma série. Ex: Pedro é o segundo da fila. Multiplicativos: referem-se à multiplicação de quantidades. Ex: Ele tem o dobro de minha idade. Fracionários: referem-se à divisão das quantidades. Ex: Ela tem um terço da minha idade.

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� Pronome Pronome é a palavra que substitui ou acompanha um substantivo, relacionando-o à pessoa do discurso. As pessoas do discurso são três:

- Primeira pessoa: a pessoa que fala - Segunda pessoa: a pessoa com quem se fala - Terceira pessoa: a pessoa de quem se fala

Classificação dos Pronomes Há seis tipos de pronomes:

- Pessoais - Demonstrativos - Possessivos - Indefinidos - Relativos - Interrogativos

Pronomes pessoais Os pronomes pessoais substituem os substantivos, indicando as pessoas do discurso. São eles:

- retos - oblíquos e - de tratamento

Pronomes pessoais Retos e Oblíquos:

Pessoas do Discurso

Pronomes

Retos Pronomes Oblíquos

1º Pessoa do Singular 2º Pessoa do Singular 3º Pessoa do Singular

Eu Tu

Ele/Ela

Me, mim, comigo Te, ti, contigo

Se,si,o,a,lhe,consigo

1º Pessoa do Plural 2º Pessoa do Plural 3º Pessoa do Plural

Nós Vós

Eles/Elas

Nos, conosco Vos, convosco

Se,si,os,as,lhes,consigo

Formas Pronominais Os pronomes o, a, os, as, adquirem as seguintes formas: 1. -lo, la, los, las, quando associados a verbos terminados em r, s ou z.

Ex.: encontrá-lo, fê-las...

2. no, na, nos, nas, quando associados a verbos terminados em som nazal.

Ex.: encontraram-no, põe-nas. Pronomes pessoais de Tratamento Os pronomes pessoais de tratamento representam a forma de se tratar as pessoas: trato cortês ou informal. Os mais usados são: PRONOME ABREVIATURA USADO PARA

Você V. Tratamento familiar

Senhor (a) Sr. Sra.

No tratamento respeitoso às pessoas que se mantém um certo distanciamento.

Vossa Senhoria V.S.ª

Pessoas de cerimônia, principalmente em correspondências comerciais.

Vossa Excelência V.Ex.ª

Altas autoridades: presidentes da República, senadores, deputados.

Vossa Eminência V.Em.ª Cardeais

Vossa Alteza V.A. Príncipes e duques

Vossa Santidade

V.S O Papa

Vossa Majestade V.M. Reis e rainhas

Pronomes Possessivos Pronomes Possessivos são palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical (possuidor), acrescentam a ela a idéia de posse de algo (coisa possuída). São eles:

1º Pessoa do Singular 2º Pessoa do Singular 3º Pessoa do Singular

Meu, minha, meus, minhas Teu, tua, teus, tuas

Seu, sua, seus, suas

1º Pessoa do Plural 2º Pessoa do Plural 3º Pessoa do Plural

Nosso, nossa, nossos, nossas

Vosso, vossa, vossos, vossas

Seu, sua, seus, suas O pronome possessivo concorda em pessoa com o possuidor e em gênero e número com a coisa possuída. Pronomes Demonstrativos Pronomes Demonstrativos são palavras que indicam, no espaço ou no tempo, a posição de um ser em relação às pessoas do discurso.

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São eles:

Variáveis Invariáveis

Este, esta, estes, estas Esse, essa, esses, essas Aquele,aquela, aqueles,

aquelas

Isto Isso

Aquilo

Pronomes Indefinidos

Pronomes Indefinidos são palavras que se referem à terceira pessoa do discurso, dando-lhe sentido vago ou expressando quantidade indeterminada. São eles:

Variáveis Invariáveis

Algum, nenhum, todo, muito Pouco, certo, outro, quanto

Tanto, vários, diversos Um, qual, bastante

Algo, alguém Nada, ninguém

Tudo, cada Outrem, quem

mais Menos, demais

Pronomes Interrogativos Pronomes Interrogativos são aqueles usados na formulação de perguntas diretas ou indiretas. Assim como os indefinidos, referem-se a Terceira Pessoa do Discurso.

São eles: que, quem, qual, quanto... Pronomes Relativos São pronomes relativos aqueles que representam nomes já mencionados anteriormente e com os quais se relacionam.

Ex.: Eu estou lendo um livro.

O livro que estou lendo é muito bom. Podemos, então, utilizarmo-nos de um pronome relativo, para nos referirmos à palavra livro que se repete.

Assim: O livro que estou lendo é muito bom. Os Pronomes Relativos são:

Variáveis Invariáveis O qual, cujo, quanto Que, quem, onde

Flexão dos Pronomes Quanto à forma, o pronome varia em gênero, número e pessoa:

• Gênero (masculino/feminino)

Ele saiu/Ela saiu Meu carro/Minha casa

• Pessoa (1ª/2ª/3ª)

Eu saí/Tu saíste/Ele saiu Meu carro/Teu carro/Seu carro

O Uso do Pronome Relativo "Onde" Essa palavra deve ser utilizada, quando o antecedente for um termo que indique lugar. Exemplo:

Os regimes democráticos onde todos têm direitos iguais deve vigorar em todas as nações. (ERRADO)

As nações onde os regimes democráticos vigoram têm mais condições de desenvolverem-se. (CERTO)

O Uso de Sua e Vossa Os pronomes de tratamento são de 3º pessoa. Por esse motivo, a concordância deve ser feita em 3º pessoa: Exemplo:

Vossa Senhoria deve comparecer com seus convidados à festa.

Sua Majestade partirá com sua comitiva amanhã de manhã.

Usa-se vossa quando estamos falando diretamente com a pessoa e sua quando falamos da pessoa. Exemplo:

Lembrem-se dos pedidos que Sua Excelência fez entes de partir. Vossa Excelência, conte-nos as novidades.

� Verbo Verbo é a palavra que expressa processos, ação, estado, mudança de estado, fenômeno da natureza, conveniência, desejo e existência. Desse modo, enquanto os nomes (substantivo, adjetivo) indicam propriedades estáticas dos seres, o verbo denota os seus movimentos, por isso sua característica de dinamicidade. Exemplos: 1. Um homem já escorregou neste chão molhado. ...[escorregar: verbo = ação que expressa a dinamicidade de "homem"] 2. Por enquanto as matas continuam indefesas. ...[continuar: verbo = estado que expressa a dinamicidade de "matas"] 3. Anoitecia rapidamente! ...[anoitecer: verbo = fenômeno dinâmico da natureza] 4. Convém aguardar mais alguns minutos.

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...[convir: verbo = conveniência que expressa a dinamicidade de "aguardar..."] 5. Nossos estudantes anseiam um bom emprego. ...[ansiar: verbo = desejo que expressa a dinamicidade de "nossos estudantes"] 6. Houve tumulto no momento da votação. ...[haver: verbo = existência que expressa a dinamicidade de "tumulto..."] � Verbos Regulares e Irregulares

Verbos Regulares

São aqueles que não apresentam modificações no seu radical em qualquer uma de suas formas. Ao mesmo tempo, as desinências verbais são as mesmas para todos os verbos regulares na mesma conjugação. Os verbos regulares com terminação -AR, são conjugados da seguinte forma:

Amar - eu amo - você ama - ele/ela ama - nós amamos - vocês amam - eles/elas amam

Os verbos regulares com terminação -ER, são conjugados da seguinte forma:

Escrever - eu escrevo - você escreve - ele/ela escreve - nós escrevemos - vocês escrevem - eles/elas escrevem

Os verbos regulares com terminação -IR, são conjugados da seguinte forma:

Abrir - eu abro - você abre - ele/ela abre - nós abrimos - vocês abrem - eles/elas abrem

Outros Verbos Regulares podem ser: Cantar, Dever, Partir, etc.

Verbos Irregulares

Os Verbos Irregulares são aqueles que sofrem alterações no seu radical e as desinências podem não ser as mesmas para todos os verbos. Exemplos: Passear - eu passeio - você passeia - ele/ela passeia - nós passeamos - vocês passeiam - eles/elas passeiam Querer - eu quero - você quer - ele/ela quer - nós queremos - vocês querem - eles/elas querem Ser - eu sou - você é - ele/ela é - nós somos - vocês são - eles/elas são. Estar - eu estou - você está - ele/ela está - nós estamos - vocês estão - eles/elas estão. Outros Verbos Irregulares: Dar, Perder, Fazer, Dizer, Pôr, Rir, etc.

Verbos Regulares Os verbos regulares são aqueles que não sofrem alterações em seu radical. 1ª conjugação:

Canto Cantas Canta Cantamos

2ª conjugação:

Vendo Vendes Vende

3ª conjugação:

Parto Partes Parte

Verbos Irregulares Os verbos irregulares são aqueles que sofrem alterações, em geral, em seu radical.

Tenho Tens Tem Temos Tendes Têm

Observação: note que o verbo TER sofreu alterações em seu radical em praticamente todas as pessoas na conjugação do presente do indicativo. � Advérbio Aspectos Morfológicos: Advérbio é a palavra que modifica o verbo, o adjetivo e o advérbio, denotando circunstância.

Exemplos: Procedeste lealmente (verbo). És muito corajoso e pouco prudente (adjetivos). Cheguei muito tarde (advérbio).

O advérbio pode modificar uma oração inteira.

Exemplo: Lamentavelmente todos saíram.

Observação: Quando o advérbio modifica o adjetivo ou outro advérbio, indica apenas intensidade.

Classificação dos Advérbios

Os advérbios classificam-se de acordo com a circunstância que expressam, podendo ser de: 1. Afirmação: certamente, certo, decididamente, efetivamente, positivamente, sim.

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Exemplos: Certamente ele fará a prova. Sim, farei o que for preciso. 2. Dúvida: acaso, possivelmente, provavelmente, porventura, quiçá, talvez. Exemplos: Ver-nos-emos acaso outra vez? Provavelmente iremos lá. 3. Intensidade: algo, assaz, bastante, bem, demais, excessivamente, mais, meio, menos, mui, muito, pouco, quanto, quão, quase, que, sobremaneira, sobremodo, tanto, tão, todo. Exemplos: Trabalhas excessivamente. Quão educada és, menina. 4. Lugar: abaixo, acima, acolá, adentro, adiante, afora, aí, além, algures (=em algum lugar), alhures (=em outra parte), ali, aquém, aqui, cá, debaixo, defronte, dentro, detrás, diante, embaixo, em cima, fora, lá, longe, nenhures (=em nenhuma parte), perto. Exemplos: Caminha acima e abaixo. Além cintilam estrelas. 5. Modo: alerta, assim, bem, debalde (=inutilmente), depressa, devagar, mal, melhor, pior. Exemplos: Implorava debalde a proteção do amigo. A criança fala bem. 6. Negação: não, nem (=não). Exemplo: Não fui à praia. 7. Tempo: afinal, agora, ainda, amanhã, anteontem, antes, breve, cedo, depois, enfim, hoje, já, jamais, logo, nunca, ontem, ora (=nesta ocasião), outrora, primeiramente, sempre, súbito, tarde. Exemplos: Rui Barbosa é o gênio que ora exaltamos. Jamais te contrariarei, disse-me ela. 8. Interrogativo: são certas palavras empregadas nas interrogações diretas ou indiretas. Classificam-se em: a) Causa - por que. Exemplos: Por que sorriste? Indagaram-me por que sorriste.

b) Modo - como. Exemplos: Como vai você? Quero saber como vai você. � Interjeição Dá-se o nome de interjeição às palavras invariáveis que exprimem emoções e sentimentos ou que procuram imitar ruídos.

Ex: "De repente, no melhor da festa, plaft!, uma jabuticaba cai do galho e lhe acerta em cheio o nariz" (M. Lobato)

"Ai, que meus olhos choram!" (C. Meireles) A idéia expressa pela interjeição dependa da entonação com que é pronunciada; por isso, pode ocorrer que uma interjeição tenha mais de um sentido.

Ex: Oh! Que surpresa desagradável! (contrariedade) "Oh! Que bom encontra-lo novamente! (alegria)

Comumente, as interjeições expressam sentido de: a) Advertência - cuidado!, devagar! b) Afugentamento - fora!, passa! c) Alegria ou satisfação - oh!, ah! d) Alívio - arre!, ufa! e) Animação ou estímulo - vamos! Força! f) Aplauso ou aprovação - bravo! Bis! g) Repulsa ou desaprovação - credo!, irra! h) Desejo ou intenção - tomara! Oxalá! i) Desculpa - Perdão! � Preposição Preposição é a palavra ou expressão (locução prepositiva) que serve para ligar duas palavras, estabelecendo relação entre elas. As principais preposições são:

- A, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás.

� Conjunção Dá-se o nome de conjunção à palavra ou locução invariável que liga orações ou termos semelhantes da mesma oração.

Ex: O inverno passou e eles não voltaram.

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Encontrei meu pai e minha irmã no cinema. As conjunções se dividem em: corrdenativas (que ligam orações de sentido completo e independente) e subordinativas (que ligam orações quando uma delas depende da outra). � Formação de Palavras Existem dois processos básicos pelos quais se formam as palavras:

1. derivação

2. composição A diferença entre ambos consiste basicamente em que, no processo de derivação, partimos sempre de um único radical, enquanto no processo de composição sempre haverá mais de um radical. 1. Derivação É o processo pelo qual se obtém uma palavra nova, chamada derivada , a partir de outra já existente, chamada primitiva . Observe o quadro abaixo:

Primitiva Derivada

mar marítimo,

marinheiro, marujo

terra enterrar, terreiro, aterrar

Observamos que "mar" e "terra" não se formam de nenhuma outra palavra, mas, ao contrário, possibilitam a formação de outras, por meio do acréscimo de um sufixo ou prefixo. Logo, mar e terra são palavras primitivas, e as demais, derivadas. Tipos de Derivação Derivação Prefixal ou Prefixação: Resulta do acréscimo de prefixo à palavra primitiva, que tem o seu significado alterado.

Exemplos:

crer- descrer ler- reler capaz- incapaz

Derivação Sufixal ou Sufixação: Resulta de acréscimo de sufixo à palavra primitiva, que pode sofrer alteração de significado ou mudança de classe gramatical.

Exemplo:

Alfabetização

No exemplo acima, o sufixo -ção transforma em substantivo o verbo alfabetizar. Este, por sua vez, já é derivado do substantivo alfabeto pelo acréscimo do sufixo -izar. A derivação sufixal pode ser: a) Nominal , formando substantivos e adjetivos. Por Exemplo: papel – papelaria ; riso – risonho

b) Verbal, formando verbos. Por Exemplo: atual - atualizar c) Adverbial , formando advérbios de modo. Por Exemplo: feliz – felizmente

Derivação Parassintética ou Parassíntese: Ocorre quando a palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo à palavra primitiva. Por meio da parassíntese formam-se nomes (substantivos e adjetivos) e verbos. Considere o adjetivo " triste". Do radical "trist-" formamos o verbo entristecer através da junção simultânea do prefixo "en-" e do sufixo "-ecer". A presença de apenas um desses afixos não é suficiente para formar uma nova palavra, pois em nossa língua não existem as palavras "entriste", nem "tristecer".

Exemplos:

Palavra Inicial Prefixo Radical Sufixo Palavra

Formada

mudo e mud ecer emudecer

alma des alm ado desalmado

Atenção! Não devemos conf undir derivação parassintética, em que o acréscimo de sufixo e de prefixo é obrigatoriamente simultâneo, com casos como os das palavras desvalorização e desigualdade. Nessas palavras, os afixos são acoplados em seqüência: desvalorização provém de desvalori zar, que provém de valorizar, que por sua vez provém de valor. É impossível fazer o mesmo com palavras formadas por parassíntese: não se pode dizer que expropriar provém de "propriar" ou de "expróprio", pois tais palavras não existem. Logo, expropriar prov ém diretamente de próprio, pelo acréscimo concomitante de prefixo e sufixo.

Derivação Regressiva: Ocorre derivação regressiva quando uma palavra é formada não por acréscimo, mas por redução . Exemplos:

comprar (verbo) beijar (verbo)

compra (substantivo)

beijo (substantivo)

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Saiba que: Para descobrirmos se um substantivo deriva de um verbo ou se ocorre o contrário, podemos seguir a seguinte orientação:

- Se o substantivo denota ação , será palavra derivada , e o verbo palavra primitiva . - Se o nome denota algum objeto ou substância, verifica-se o contrário.

Vamos observar os exemplos acima: compra e beijo indicam ações, logo, são palavras derivadas . O mesmo não ocorre, porém, com a palavra âncora , que é um objeto. Neste caso, um substantivo primitivo que dá origem ao verbo ancorar .

Por derivação regressiva, formam-se basicamente substantivos a partir de verbos. Por isso, recebem o nome de substantivos deverbais. Note que na linguagem popular, são freqüentes os exemplos de palavras formadas por derivação regressiva. Veja:

- o portuga (de português) - o boteco (de botequim) - o comuna (de comunista)

Ou ainda:

- agito (de agitar) - amasso (de amassar) - chego (de chegar)

Obs.: O processo normal é criar um verbo a partir de um substantivo. Na derivação regressiva, a língua procede em sentido inverso: forma o substantivo a partir do verbo.

Derivação Imprópria: A derivação imprópria ocorre quando determinada palavra, sem sofrer qualquer acréscimo ou supressão em sua forma, muda de classe gramatical. Neste processo: 1. Os adjetivos passam a substantivos Ex.: Os bons serão contemplados.

2. Os particípios passam a substantivos ou adjetivos Ex.: Aquele garoto alcançou um feito passando no concurso.

3. Os infinitivos passam a substantivos Ex.: O andar de Roberta era fascinante.

O badalar dos sinos soou na cidadezinha.

4. Os substantivos passam a adjetivos Ex.: O funcionário fantasma foi despedido.

O menino prodígio resolveu o problema.

5. Os adjetivos passam a advérbios

Ex.: Falei baixo para que ninguém escutasse.

6. Palavras invariáveis passam a substantivos

Ex.: Não entendo o porquê disso tudo.

7. Substantivos próprios tornam-se comuns . Ex.: Aquele coordenador é um caxias ! (chefe severo e exigente)

Observação: Os processos de derivação vistos anteriormente fazem parte da Morfologia porque implicam alterações na forma das palavras. No entanto, a derivação imprópria lida basicamente com seu significado, o que acaba caracterizando um processo semântico. Por essa razão, entendemos o motivo pelo qual é denominada "imprópria". Composição É o processo que forma palavras compostas, a partir da junção de dois ou mais radicais. Existem dois tipos:

1. Composição por Justaposição: Ao juntarmos duas ou mais palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética. Exemplos: passatempo, quinta-feira, girassol, couve-flor Obs.: Em "girassol" houve uma alteração na grafia (acréscimo de um "s") justamente para manter inalterada a sonoridade da palavra. 2. Composição por Aglutinação: Ao unirmos dois ou mais vocábulos ou radicais, ocorre supressão de um ou mais de seus elementos fonéticos. Exemplos: embora (em boa hora)

fidalgo (filho de algo - referindo-se a família nobre) hidrelétrico (hidro + elétrico) planalto (plano alto)

Obs.: Ao aglutinarem-se, os componentes subordinam-se a um só acento tônico, o do último componente.

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Redução: Algumas palavras apresentam, ao lado de sua forma plena, uma forma reduzida. Observe:

- auto - por automóvel - cine - por cinema - micro - por microcomputador - Zé - por José

Como exemplo de redução ou simplificação de palavras, podem ser citadas também as siglas , muito freqüentes na comunicação atual. (Se desejar, veja mais sobre siglas na seção "Extras" -> Abreviaturas e Siglas) Hibridismo: Ocorre hibridismo na palavra em cuja formação entram elementos de línguas diferentes.

Por Exemplo: auto (grego) + móvel (latim)

Onomatopéia: Numerosas palavras devem sua origem a uma tendência constante da fala humana para imitar as vozes e os ruídos da natureza. As onomatopéias são vocábulos que reproduzem aproximadamente os sons e as vozes dos seres.

Exemplos : miau, zumzum, piar, tinir, urrar, chocalhar, cocoricar, latir e etc.

Prefixos Os prefixos são morfemas que se colocam antes dos radicais basicamente a fim de modificar-lhes o sentido ; raramente esses morfemas produzem mudança de classe gramatical . Os prefixos ocorrentes em palavras portuguesas se originam do latim e do grego , línguas em que funcionavam como preposições ou advérbios, logo, como vocábulos autônamos. Alguns prefixos foram pouco ou nada produtivos em português. Outros, por sua vez, tiveram grande vitalidade na formação de novas palavras.

Veja os Exemplos: a- , contra- , des- , em- (ou en-) , es- , entre- re- , sub- , super- , anti-

Prefixos de Origem Grega a-, an-: Afastamento, privação, negação, insuficiência, carência. Exemplos : anônimo, amoral, ateu, afônico ana-: Inversão, mudança, repetição. Exemplos : analogia, análise, anagrama, anacrônico

anfi -: Em redor, em tomo, de um e outro lado, duplicidade. Exemplos : anfiteatro, anfíbio, anfibologia

anti -: Oposição, ação contrária.

Exemplos : antídoto, antipatia, antagonista, antítese

apo -: Afastamento, separação. Exemplos : apoteose, apóstolo, apocalipse, apologia

arqui -, arce -: Superioridade hierárquica, primazia, excesso. Exemplos : arquiduque, arquétipo, arcebispo, arquimilionário cata -: Movimento de cima para baixo. Exemplos : cataplasma, catálogo, catarata di -: Duplicidade. Exemplos : dissílabo, ditongo, dilema dia -: Movimento através de, afastamento. Exemplos : diálogo, diagonal, diafragma, diagrama dis -: Dificuldade, privação. Exemplos : dispnéia, disenteria, dispepsia, disfasia ec-, ex-, exo -, ecto -: Movimento para fora. Exemplos : eclipse, êxodo, ectoderma, exorcismo en-, em-, e-: Posição interior, movimento para dentro. Exemplos : encéfalo, embrião, elipse, entusiasmo endo -: Movimento para dentro. Exemplos : endovenoso, endocarpo, endosmose epi -: Posição superior, movimento para. Exemplos : epiderme, epílogo, epidemia, epitáfio eu-: Excelência, perfeição, bondade. Exemplos : eufemismo, euforia, eucaristia, eufonia hemi -: Metade, meio. Exemplos : hemisfério, hemistíquio, hemiplégico hiper -: Posição superior, excesso. Exemplos : hipertensão, hipérbole, hipertrofia hipo -: Posição inferior, escassez. Exemplos : hipocrisia, hipótese, hipodérmico meta -: Mudança, sucessão. Exemplos : metamorfose, metáfora, metacarpo para -: Proximidade, semelhança, intensidade. Exemplos : paralelo, parasita, paradoxo, paradigma peri -: Movimento ou posição em torno de.

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Exemplos : periferia, peripécia, período, periscópio pro -: Posição em frente, anterioridade. Exemplos : prólogo, prognóstico, profeta, programa pros -: Adjunção, em adição a. Exemplos : prosélito, prosódia proto -: Início, começo, anterioridade. Exemplos : proto-história, protótipo, protomártir poli -: Multiplicidade. Exemplos : polissílabo, polissíndeto, politeísmo sin -, sim -: Simultaneidade, companhia. Exemplos : síntese, sinfonia, simpatia, sinopse tele -: Distância, afastamento. Exemplos : televisão, telepatia, telégrafo Prefixos de Origem Latina a-, ab-, abs- : Afastamento, separação. Exemplos : aversão, abuso, abstinência, abstração a-, ad- : Aproximação, movimento para junto. Exemplos : adjunto,advogado, advir, aposto ante -: Anterioridade, procedência. Exemplos : antebraço, ante-sala, anteontem, antever ambi -: Duplicidade. Exemplos : ambidestro, ambiente, ambigüidade, ambivalente ben(e)-, bem- : Bem, excelência de fato ou ação. Exemplos : benefício, bendito bis-, bi- : Repetição, duas vezes. Exemplos : bisneto, bimestral, bisavô, biscoito circu(m) - : Movimento em torno. Exemplos : circunferência, circunscrito, circulação cis- : Posição aquém. Exemplos : cisalpino, cisplatino, cisandino co-, con-, com- : Companhia, concomitância. Exemplos : colégio, cooperativa, condutor contra- : Oposição. Exemplos : contrapeso, contrapor, contradizer

de-: Movimento de cima para baixo, separação, negação. Exemplos : decapitar, decair, depor de(s)-, di(s)- : Negação, ação contrária, separação. Exemplos : desventura, discórdia, discussão e-, es-, ex -: Movimento para fora. Exemplos : excêntrico, evasão, exportação, expelir en-, em-, in- : Movimento para dentro, passagem para um estado ou forma, revestimento. Exemplos : imergir, enterrar, embeber, injetar, importar extra- : Posição exterior, excesso. Exemplos : extradição, extraordinário, extraviar i-, in-, im- : Sentido contrário, privação, negação. Exemplos : ilegal, impossível, improdutivo inter-, entre -: Posição intermediária. Exemplos : internacional, interplanetário intra- : Posição interior. Exemplos : - intramuscular, intravenoso, intraverbal intro- : Movimento para dentro. Exemplos : introduzir, introvertido, introspectivo justa- : Posição ao lado. Exemplos : justapor, justalinear ob-, o- : Posição em frente, oposição. Exemplos : obstruir, ofuscar, ocupar, obstáculo per- : Movimento através. Exemplos : percorrer, perplexo, perfurar, perverter pos- : Posterioridade. Exemplos : pospor, posterior, pós-graduado pre- : Anterioridade. Exemplos : prefácio, prever, prefixo, preliminar pro- : Movimento para frente. Exemplos : progresso, promover, prosseguir, projeção re-: Movimento para trás. Exemplos : rever, reduzir, rebater, reatar retro- : Movimento para trás. Exemplos : retrospectiva, retrocesso, retroagir, retrógrado

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so-, sob-, sub-, su- : Movimento de baixo para cima, inferioridade. Exemplos : soterrar, sobpor, subestimar super-, supra-, sobre- : Posição superior, excesso. Exemplos : supercílio, supérfluo soto-, sota- : Posição inferior. Exemplos : soto-mestre, sota-vaga, sotopor trans-, tras-, tres-, tra- : Movimento para além, movimento através. Exemplos : transatlântico, tresnoitar, tradição ultra- : Posição além do limite, excesso. Exemplos : ultrapassar, ultra-romantismo, ultra-som, ultraleve, ultravioleta vice-, vis- : Em lugar de. Exemplos : vice-presidente, visconde, vice-almirante Quadro de Correspondência entre Prefixos Gregos e Latinos

Prefixos Gregos

Prefixos Latinos Significado Exemplos

a, an des, in privação, negação

anarquia, desigual,

inativo

anti contra oposição, ação contrária

antibiótico, contraditório

anfi ambi duplicidade, de um e outro lado,

em torno

anfiteatro, ambivalente

apo ab afastamento, separação

apogeu, abstrair

di bi(s) duplicidade dissílabo, bicampeão

dia, meta trans movimento através

diálogo, transmitir

e(n)(m) i(n)(m)(r) movimento para dentro

encéfalo, ingerir,

irromper

endo intra movimento para dentro, posição

interior

endovenoso, intramuscular

e(c)(x) e(s)(x) movimento para fora, mudança

de estado

êxodo, excêntrico, estender

epi, super, hiper

supra posição superior, excesso

epílogo, supervisão, hipérbole, supradito

eu bene excelência, perfeição, bondade

eufemismo, benéfico

hemi semi divisão em duas partes

hemisfério, semicírculo

hipo sub posição inferior hipodérmico, submarino

para ad proximidade, adjunção

paralelo, adjacência

peri circum em torno de periferia, circunferência

cata de movimento para baixo

catavento, derrubar

si(n)(m) cum simultaneidade, companhia

sinfonia, silogeu, cúmplice

Sufixos São elementos (isoladamente insignificativos) que, acrescentados a um radical, formam nova palavra. Sua principal característica é a mudança de classe gramatical que geralmente opera. Dessa forma, podemos utilizar o significado de um verbo num contexto em que se deve usar um substantivo , por exemplo. Como o sufixo é colocado depois do radical, a ele são incorporadas as desinências que indicam as flexões das palavras variáveis. Existem dois grupos de sufixos formadores de substantivos extremamente importantes para o funcionamento da língua. São os que formam nomes de ação e os que formam nomes de agente . Sufixos que Formam Nomes de Ação

-ada - caminhada -ez(a) - sensatez, beleza

-ança - mudança -ismo - civismo

-ância - abundância -mento - casamento

-ção - emoção -são - compreensão

-dão - solidão -tude - amplitude

-ença - presença -ura - formatura

Sufixos que Formam Nomes de Agente

-ário(a) - secretário -or - lutador

-eiro(a) - ferreiro -nte - feirante

-ista - manobrista

Além dos sufixos acima, tem-se:

Sufixos que formam nomes de lugar, depositório -aria - churrascaria

-or - corredor

-ário - herbanário -tério - cemitério

-eiro - açucareiro -tório - dormitório

-il - covil

Sufixos que Formam Nomes Indicadores de Abundância, Aglomeração, Coleção

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>-aço - ricaço -ario(a) - casario, infantaria

-ada - papelada -edo - arvoredo

-agem - folhagem -eria - correria

-al - capinzal -io - mulherio

-ame - gentame -ume - negrume

Sufixos que Formam Nomes Técnicos usados na Ciência

-ite bronquite, hepatite (inflamação)

-oma mioma, epitelioma, carcinoma (tumores)

-ato, eto, ito sulfato, cloreto, sulfito (sais)

-ina cafeína, codeína (alcalóides, álcalis artificiais)

-ol fenol, naftol (derivado de hidrocarboneto)

-ite amotite (fósseis)

-ito granito (pedra)

-ema morfema, fonema, semema, semantema (ciência lingüística)

-io sódio, potássio, selênio (corpos simples)

Sufixo que Forma Nomes de Religião, Doutrinas Filosóficas, Sistemas Políticos

-ismo budismo kantismo comunismo

Sufixos Formadores de Adjetivos a) de substantivos

-aco - maníaco -ento - cruento

-ado - barbado -eo - róseo

-áceo(a) - herbáceo, liláceas -esco - pitoresco

-aico - prosaico -este - agreste

-al - anual -estre - terrestre

-ar - escolar -ício - alimentício

-ário - diário, ordinário -ico - geométrico

-ático - problemático -il - febril

-az - mordaz -ino - cristalino

-engo - mulherengo -ivo - lucrativo

-enho - ferrenho -onho - tristo nho

-eno - terreno -oso - bondoso

-udo - barrigudo

b) de verbos

Sufixo Sentido Exemplificação

-(a)(e)(i)nte ação, qualidade, estado

semelhante, doente, seguinte

-(á)(í)vel possibilidade de praticar ou sofrer uma ação

louvável perecível punível

-io, -(t)ivo ação referência, modo de ser

tardio afirmativopensativo

-(d)iço, -(t)ício

possibilidade de praticar ou sofrer uma ação, referência

movediço, quebradiço, factício

-(d)ouro,-(t)ório

ação, pertinência casadouro, preparatório

Sufixos Adverbiais Na Língua Portuguesa, existe apenas um único sufixo adverbial: É o sufixo "-mente", derivado do substantivo feminino latino mens, mentis que pode significar "a mente, o espírito, o intento".Este sufixo juntou-se a adjetivos, na forma feminina, para indicar circunstâncias, especialmente a de modo.

Exemplos: altiva-mente, brava-mente, bondosa-mente, nervosa-mente, fraca-mente, pia-mente.

Já os advérbios que se derivam de adjetivos terminados em –ês (burgues-mente, portugues-mente, etc.) não seguem esta regra, pois esses adjetivos eram outrora uniformes.

Exemplos: cabrito montês / cabrita montês. Sufixos Verbais Os sufixos verbais agregam-se, via de regra, ao radical de substantivos e adjetivos para formar novos verbos. Em geral, os verbos novos da língua formam-se pelo acréscimo da terminação-ar.

Exemplos: esqui-ar; radiograf-ar; (a)doç-ar; nivel-ar; (a)fin-ar; telefon-ar; (a)portugues-ar.

Os verbos exprimem, entre outras idéias, a prática de ação. Veja:

-ar: cruzar, analisar, limpar -ear: guerrear, golear -entar: afugentar, amamentar -ficar: dignificar, liquidificar -izar: finalizar, organizar

Observe este quadro de Sufixos Verbais:

Sufixo Sentido Exemplificação

-ear freqüentativo, durativo cabecear, folhear

-ejar freqüentativo, durativo gotejar, velejar

-entar factitivo aformosentar, amolentar

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-(i)ficar factitivo clarificar, dignificar

-icar freqüentativo-diminutivo bebericar, depenicar

-ilhar freqüentativo-diminutivo dedilhar, fervilhar

-inhar freqüentativo-diminutivo-pejorativo

escrevinhar, cuspinhar

-iscar freqüentativo-diminutivo chuviscar, lambiscar

-itar freqüentativo-diminutivo dormitar, saltitar

-izar factitivo civilizar, utilizar

Observações:

Verbo Freqüentativo: é aquele que traduz ação repetida.

Verbo Factitivo: é aquele que envolve idéia de fazer ou causar.

Verbo Diminutivo: é aquele que exprime ação pouco intensa.

� Flexão Nominal Em vogal ou ditongo: “+s” ( exs: asas, táxis) Derivados em “r”, “z”: “+es” (exs: colheres, colares) Em “al”, “el”, “ol”, “ul”: l = “is” (exs: jornais, anéis)

Exceções: males, meles, cônsules Oxítonos em “il”: il = “is” (exs:barris, funis) Paroxítonos em “il”: il = “eis” (exs: fósseis, répteis) Em “m”: m = “ns” (ex: nuvens, jovens, fins) Monossílabos ou oxítonos em “s”: “+es” (exs: ingleses, lilases, gases) Em “x”, paroxítonos ou proparoxítonos em “s”: invariáveis (ex: lápis, tórax) Flexão dos Substantivos Compostos Regra geral: subs. e adj. variam, verbo não Os Dois

SUBST + Subst (ex: couves-flores) Subst + Adj (ex: amores-perfeitos) Adj + Subst (ex: bons-dias) Numeral + Subst (exs: segundas-feiras, primeiros-ministros)

Só o Primeiro

Com preposição (ex: pés-de-moleque)

O segundo é finalidade ou semelhança (exs: sofás-cama, peixes-boi)

Só o Segundo

Verbo + Subst (ex: guarda-roupas) Invariável/Prefixo + Variável (exs: sempre-vivas, ex-chefes) Repetidos (ex: reco-recos) *Exceção: corres-corres

Nenhum

Verbo + Advérbio (ex: bota-fora) Verbo + Subst Plural (ex: saca-rolha)

Obs: mangas-rosa, meios-fios, os leva-e-traz Flexão dos Adjetivos Compostos Só o Último

Adj + Adj (ex: verde-claros) *Exceção: surdos-mudos Invariável + Adj (ex: mal-educados)

Nenhum

Adj + Subst (exs: verde-oliva, amarelo-limão) Cor + de + Subst (ex: cor-de-rosa) Azul-celeste, azul-marinho

Flexão dos Diminutivos

Em “zinho”, “zito”: “+s” (limãozitos, papeizinhos) Em “r”: 2 formas (exs: florezinhas, florzinhas) Invariável: bem-te-vi, arco-íris

Flexão dos Substantivos veriam em Números Numerais (exs: milhão, bilhão) Variam em Gênero

Cardinais: um, dois e > Duzentos “Ambos” substituindo “os dois”

Variam em Número e Gênero

Ordinais (exs: primeiro, segundo)

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Nenhum

Multilicativos (ex: triplo, dobro) � Flexão Verbal

Voz verbal , em linguística, é como se denomina a flexão verbal que denota a forma segundo a qual o sujeito se relaciona com o verbo e com os complementos verbais. Voz é a categoria verbal da qual se marca a relação entre o verbo e seu sujeito . Essa relação pode ser de atividade, passividade ou ambas. As vozes verbais são:

Voz reflexiva: é como se denomina a flexão verbal que denota que o sujeito pratica a ação sobre si mesmo.

- O garoto magoou-se. - Eu me arrumei para a festa. - José se queimou.

- Marcos se feriu. - Eu penteio meu cabelo.

Voz reflexiva recíproca: quando há um sujeito composto e o verbo indica que um elemento do sujeito pratica ação sobre o outro, mutuamente.

- José e Maria se casaram.

Voz ativa: é como se denomina a flexão verbal que indica que o sujeito pratica ou participa da ação denotada pelo verbo,dá destaque é quem pratica a ação(agente). Não possui verbo ser nem pronome "se".

- Maria Joana quebrou a janela de dona Télia. - A torcida aplaudiu os jogadores.

Voz passiva: é como se denomina a flexão verbal que indica que o sujeito recebe a ação,dá destaque a quem recebe a ação(paciente).

Voz passiva sintética ou pronominal: formada por verbo transitivo direto, pronome se como partícula apassivadora e sujeito paciente.

- Alugam-se casas. - Compram-se carros velhos. - No verão,pede-se um sorvete. - No inverno, pede-se um café. - Compraram-se as roupas. - Alugam-se as casas. - Destruiu-se a casa.

Voz passiva analítica : formada por sujeito paciente, verbo auxiliar ser ou estar, verbo principal no particípio, formando locução verbal passiva e agente da passiva.

- As casas são alugadas pelo corretor. - Durante um jogo de futebol, vários jogadores foram machucados por torcedores. - Quando a aula de matemática terminou fomos surpreendidos com a morte de um professor. - A janela de Dona Télia foi quebrada por Maria Joana. - Os jogadores foram aplaudidos pela torcida.

Importante: Para admitir flexão de voz, o verbo precisa ser transitivo direto ou transitivo direto e indireto. 4. SINTAXE: FRASE, OR AÇÃO E PERÍODO;

TERMOS DA ORAÇÃO; PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO; CON-CORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL; TRAN-

SITIVIDADE E REGÊNCIA DE NOMES E VERBOS; PADRÕES GERAIS DE COLO-CAÇÃO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS;

MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL Frase: É a reunião de palavras que expressam uma idéia completa, constitui o elemento fundamental da linguagem, não precisam necessariamente conterem verbos.

Ex.:"Final de ano, início de tormento". ( Revista Nova Escola, 11/00)

Oração: É idéia que se organiza em torno de um verbo.

Ex.: "Tudo começa com o pagamento da dívida." O verbo pode estar elíptico (não aparece, mas existe). Ex.: "O Jeca-Tatu de Monteiro Lobato fez tanto sucesso quanto (fizeram) os Fradinhos que Henfil lançou nas páginas do Pasquim."

Período: É o conjunto de orações. Ele pode ser constituído por uma ou mais orações.O período pode ser:

Simples- constituído por apenas uma oração

Ex.: "Macunaíma é o herói com muita preguiça e sem nenhum caráter".

Composto- constituído por mais de uma oração.

Ex.: "Nós não podemos fingir /que as crianças não têm inconsciente".

� Termos Essenciais, Integrantes e Acessórios

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Sujeito é um dos temos essenciais da oração. Tem por características básicas:

• estabelecer concordância com o núcleo do sintagma verbal.

• apresentar-se como elemento determinante em

relação ao predicado.

• constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo ou, ainda, qualquer palavra substantivada.

O sujeito só é considerado no âmbito da análise sintática, isto é, somente na organização da sentença é que uma palavra (ou um conjunto de palavras) pode constituir aquilo que chamamos sujeito . Nesse sentido, é equivocado dizer que o sujeito é aquele que pratica uma ação ou é aquele (ou aquilo) do qual se diz alguma coisa. Ao fazer tal afirmação estamos considerando o aspecto semântico do sujeito (agente de uma ação) ou o seu aspecto estilístico (o tópico da sentença). Já que o sujeito é depreendido de uma análise sintática, vamos restringir a definição apenas ao seu papel sintático na sentença: aquele que estabelece concordância com o núcleo do predicado. Quando se trata de predicado verbal, o núcleo é sempre um verbo; sendo um predicado nominal, o núcleo é sempre um nome. Exemplos: 1. A padaria está fechada hoje.

...[está fechada hoje: predicado nominal]

...[fechada: nome adjetivo = núcleo do predicado]

...[fechada: nome feminino singular]

...[a padaria: sujeito]

...[núcleo do sujeito: nome feminino singular] 2.Nós mentimos sobre nossa idade para você.

...[mentimos sobre nossa idade para você: predicado verbal] ...[mentimos: verbo = núcleo do predicado] ...[mentimos: primeira pessoa do plural] ...[nós: sujeito] ...[sujeito: primeira pessoa do plural]

A relação de concordância é, por excelência, uma relação de dependência, na qual dois (ou mais) elementos se harmonizam. Um desses elementos é chamado determinado (ou principal) e o outro, determinante (subordinado). No interior de uma sentença, o sujeito é o termo determinante, ao passo que o predicado é o termo determinado. Essa posição de determinante do sujeito em relação ao predicado adquire sentido com o fato de ser possível, na língua portuguesa, uma sentença sem sujeito , mas nunca uma sentença sem predicado. Exemplos: 1. As formigas invadiram minha casa.

...[as formigas: sujeito = termo determinante] ...[invadiram minha casa: predicado = termo determinado]

2. Há formigas na minha casa.

...[há formigas na minha casa: predicado = termo determinado] ...[sujeito: inexistente]

O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma nominal , isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse nome se refere a objetos das primeira e segunda pessoas, o sujeito é representado por um pronome pessoal do caso reto (eu, tu, ele, etc.). Se o sujeito se refere a um objeto da terceira pessoa, sua representação pode ser feita através de um substantivo, de um pronome substantivo ou de qualquer conjunto de palavras, cujo núcleo funcione, na sentença, como um substantivo. Exemplos: 1. Eu acompanho você até o guichê.

...[eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoa]

2. Vocês disseram alguma coisa?

...[vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoa]

3. Marcos tem um fã-clube no seu bairro.

...[Marcos: sujeito = substantivo próprio] 4. Ninguém entra na sala agora.

...[ninguém: sujeito = pronome substantivo] 5. O andar deve ser uma atividade diária.

...[o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa oração]

Além dessas formas, o sujeito também pode se constituir de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o nome de oração substantiva subjetiva: Ex: É difícil optar por esse ou aquele doce...

...[É difícil: oração principal] ...[optar por esse ou aquele doce: oração subjetiva = sujeito oracional]

É importante conhecer outras particularidades do sujeito: sujeito posposto Sujeito Posposto Embora a Língua Portuguesa se apresente predominantemente pela ordem direta (sujeito + verbo+ predicado), é comum encontrarmos alguns termos em

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posições variadas na oração. É o que se entende por ordem inversa , na qual alguns termos são encontrados em combinação contrária ao esperado (ex.: verbo + sujeito = sujeito posposto. Exemplos:

1. Vivendo sozinho o ancião , sua saúde se tornara precária. 2. Sobre esse assunto falo eu!

O fato de se inverter a posição dos termos na oração é movido por fatores gramaticais (ex.: colocação pronominal) ou por fatores estilísticos. A construção de sentenças em que o sujeito é colocado após o verbo (sujeito posposto ) surge em decorrência da ênfase que se pretende dar à idéia expressa pelo termo que ocupa a primeira posição na sentença. Trata-se da valorização de algum termo em detrimento de outro e, portanto, de uma alteração estilística. O sujeito posposto pode ser encontrado:

• nas orações interrogativas; • em orações com verbos na forma passiva

pronominal;

• em orações com verbos na forma imperativa;

• em orações reduzidas;

• em orações que expressem o discurso direto;

• em orações absolutas com verbos no subjuntivo;

• em orações subordinadas adverbiais condicionais sem conjunção;

• em orações com verbos unipessoais;

• em orações iniciadas pelos complementos verbais.

É muito importante que se localize o sujeito e o verbo na oração. Mesmo em posição que não é a sua habitual, o verbo deve sempre concordar com o sujeito. Predicado é um dos termos essenciais da oração. Tem por características básicas:

• apresentar-se como elemento determinado em relação ao sujeito.

• apontar um atributo ou acrescentar nova

informação ao sujeito. Assim como o sujeito, o predicado é um segmento extraído da estrutura interna das orações ou das frases, sendo, por isso, fruto de uma análise sintática. Isso implica dizer que a noção de predicado só é importante para a caracterização das palavras em termos sintáticos. Nesse sentido, o predicado é sintaticamente o segmento lingüístico que estabelece concordância com outro termo essencial da oração – o sujeito -, sendo este o termo determinante (ou subordinado) e o predicado o termo determinado (ou principal). Não se trata, portanto, de definir o predicado como “aquilo que se diz do sujeito” como fazem certas gramáticas da língua portuguesa, mas

sim estabelecer a importância do fenômeno da concordância entre esses dois termos essenciais da oração. Exemplos: 1. Carolina conhece os índios da Amazônia.

...[sujeito: Carolina = termo determinante]

...[predicado: conhece os índios da Amazônia = termo determinado] ...[Carolina: 3ª pessoa do singular = conhece: 3ª pessoa do singular]

2. Todos nós fazemos parte da quadrilha de São João.

...[sujeito: todos nós = termo determinante]

...[predicado: fazemos parte da quadrilha de São João = termo determinado] ...[Todos nós: 1ª pessoa do plural = fazemos parte: 1ª pessoa do plural]

Nesses exemplos podemos observar que a concordância é estabelecida entre algumas poucas palavras dos dois termos essenciais. Na frase (1), entre “Carolina” e “conhece”; na frase (2), entre “nós” e “fazemos”. Isso se dá porque a concordância é centrada nas palavras que são núcleos, isto é, que são responsáveis pela principal informação naquele segmento. No predicado o núcleo pode ser de dois tipos: um nome, quase sempre um atributo que se refere ao sujeito da oração, ou um verbo (ou locução verbal). No primeiro caso, temos um predicado nominal e no segundo um predicado verbal. Quando, num mesmo segmento o nome e o verbo são de igual importância, ambos constituem o núcleo do predicado e resultam no tipo de predicado verbo-nominal. Exemplos: 1. Minha empregada é desastrada .

...[predicado: é desastrada]

...[núcleo do predicado: desastrada = atributo do sujeito] ...[tipo de predicado: nominal ]

2. A empreiteira demoliu nosso antigo prédio.

...[predicado: demoliu nosso antigo prédio]

...[núcleo do predicado: demoliu = nova informação sobre o sujeito] ...[tipo de predicado: verbal ]

3. Os manifestantes desciam a rua desesperados .

...[predicado: desciam a rua desesperados]

...[núcleos do predicado: 1. desciam = nova informação sobre o sujeito; 2. desesperados = atributo do sujeito] ...[tipo de predicado: verbo-nominal ]

Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é responsável também por definir os tipos de elementos que aparecerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho basta para compor o predicado (verbo intransitivo). Em outros casos é necessário um complemento que, juntamente com o verbo , constituem a nova informação sobre o sujeito. De qualquer forma,

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esses complementos do verbo não interferem na tipologia do predicado. São elementos que constituem os chamados termos integrantes da oração. Complemento Nominal Dá-se o nome de complemento nominal ao termo que complementa o sentido de um nome ou um advérbio, conferindo-lhe uma significação completa ou, ao menos, mais específica. Como o complemento nominal vem integrar-se ao nome em busca de uma significação extensa para nome ao qual se liga, ele compõe os chamados termos integrantes da oração. São duas as principais características do complemento nominal:

- sempre seguem um nome, em geral abstrato; - ligam-se ao nome por meio de preposição, sempre obrigatória.

Os complementos nominais podem ser formados por substantivo, pronome, numeral ou oração subordinada completiva nominal. Exemplos: 1. Meus filhos têm loucura por futebol.

...[substantivo] 2. O sonho dele era saltar de pára-quedas.

...[pronome]

3. A vitória de um é a conquista de todos.

...[numeral] 4. O medo de que lhe furtassem as jóias a mantinha afastada daqui.

...[oração subordinada completiva nominal] Em geral os nomes que exigem complementos nominais possuem formas correspondentes a verbos transitivos, pois ambos completam o sentido de outro termo. São exemplos dessa correlação:

- obedecer aos pais? obediência aos pais - chegar em casa? chegada em casa - entregar a revista à amiga? entrega da revista à amiga - protestar contra a opressão? protesto contra a opressão

Objeto Direto Do ponto de vista da sintaxe, objeto direto é o termo que completa o sentido de um verbo transitivo direto, por isso, é complemento verbal, na grande maioria dos

casos, não preposicionado. Do ponto de vista da semântica, o objeto direto é:

- o resultado da ação verbal, ou - o ser ao qual se dirige a ação verbal, ou - o conteúdo da ação verbal.

O objeto direto pode ser formado por um substantivo, pronome substantivo, ou mesmo qualquer palavra substantivada. Além disso, o objeto direto pode ser constituído por uma oração inteira que complemente o verbo transitivo direto da oração dita principal. Nesse caso, a oração recebe o nome de oração subordinada substantiva objetiva direta. Exemplos: 1. O amor de Mariana transformava a minha vida.

...[transformava: verbo transitivo direto]

...[a minha vida: objeto direto]

...[núcleo: vida = substantivo] 2. Conserve isto na tua memória: vou partir em breve.

...[conserve: verbo transitivo direto]

...[isso: objeto direto = pronome substantivo] 3. Não prometa mais do que possa cumprir depois.

...[prometa: verbo transitivo direto]

...[mais do que possa cumprir depois: oração subordinada substantiva objetiva direta]

Os objetos diretos são constituídos por nomes como núcleos do segmento. A noção de núcleo torna-se importante porque, num processo de substituição de um nome por um pronome deve-se procurar por um pronome de igual função gramatical do núcleo. No exemplo (1) acima verificamos um conjunto de palavras formando o objeto direto (a minha vida), dentre as quais apenas uma é núcleo (vida = substantivo). Podemos transformar esse núcleo substantivo em objeto direto formado por pronome oblíquo, que é um tipo de pronome substantivo. Além disso, nesse processo de substituição, devemos ter claro que o pronome ocupará o lugar de todo o objeto direto e não só do núcleo do objeto. Vejamos um exemplo dessa representação:

- O amor de Mariana transformava a minha vida. - O amor de Mariana a transformava. - Os pronomes oblíquos átonos (me, te, o, a, se, etc.)

Funcionam sintaticamente como objetos diretos. Isso implica dizer que somente podem figurar nessa função de objeto e não na função de sujeito, por exemplo. Porém algumas vezes os pronomes pessoais retos (eu, tu, ele, etc.) ou pronome oblíquo tônico (mim, ti, ele, etc.) são chamados a constituir o núcleo dos objetos diretos. Nesse caso, o uso da preposição se torna obrigatório e, por conseqüência, tem-se um objeto direto especial: objeto direto preposicionado.

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Exemplos: 1. Ame ele que é teu irmão. [Inadequado]

Ame-o que é teu irmão. [Adequado] 2. Você chamou eu ao teu encontro? [Inadequado]

Você me chamou ao teu encontro? [Adequado]

...[me: pronome oblíquo átono = sem preposição] Você chamou a mim ao teu encontro? [Adequado]

...[a mim: pronome oblíquo tônico = com preposição]

Objeto Indireto Do ponto de vista da sintaxe, objeto indireto é o termo que completa o sentido de um verbo transitivo indireto e vem sempre acompanhado de preposição. Do ponto de vista da semântica, o objeto indireto é o ser ao qual se destina a ação verbal. O objeto indireto pode ser formado por substantivo, ou pronome substantivo, ou numeral, ou ainda, uma oração substantiva objetiva indireta. Em qualquer um desses casos, o traço mais importante e característico do objeto indireto é a presença da preposição. Exemplo: A cigana pedia dinheiro a moça . [Inadequado] A cigana pedia dinheiro à moça. [Adequado]

...[pedia = verbo transitivo direto e indireto]

...[dinheiro = objeto direto]

...[à moça = destinatário da ação verbal = objeto indireto]

O objeto indireto pode ser representado por um pronome. Como o núcleo do objeto é sempre um nome, é possível substituí-lo por um pronome. Nesse caso, um pronome oblíquo, já que se trata de uma posição de complemento verbal e não de sujeito da oração. O único pronome que representa o objeto indireto é o pronome oblíquo átono lhe(s) – pronome de terceira pessoa. Os pronomes indicativos das demais pessoas verbais são sempre acompanhados de preposição. Exemplos:

1. Ela contava a seu pai como fora o seu dia na escola.

2. Ela lhe contava como fora o seu dia na escola.

3. Todos dariam ao padre a palavra final.

4. Todos dar-lhe -iam a palavra final.

5. Responderam a Fátima com delicadeza.

6. Responderam a mim com delicadeza.

Não é difícil confundir objeto indireto e adjunto adverbial, pois ambos os termos são construídos com preposição. Uma regra prática para se determinar o objeto indireto e até mesmo o identificar na oração é indagar ao verbo se ele necessita de algum complemento preposicionado. Esse complemento será: 1. Adjunto adverbial , se estiver expressando um significado adicional , como lugar, tempo, companhia, modo e etc. 2. Objeto indireto , se estiver apenas completando o sentido do verbo, sem acrescentar outra idéia à oração. Exemplos:

1. Ele sabia a lição de cor. [Adjunto adverbial “de modo”] 2. Ele se encarregou do formulário. [Objeto indireto]

Predicativo do Objeto É o termo ou expressão que complementa o objeto direto ou o objeto indireto, conferindo-lhe um atributo. O predicativo do objeto apresenta duas características básicas:

• acompanha o verbo de ligação implícito ; • pertence ao predicado verbo-nominal.

A formação do predicativo do objeto é feita através de um substantivo ou um adjetivo. Exemplos: 1. O vilarejo finalmente elegeu Otaviano prefeito .

...[objeto: Otaviano]

...[predicativo: substantivo] 2. Os policiais pediam calma absoluta .

...[objeto: calma]

...[predicativo: adjetivo] 3. Todos julgavam-no culpado .

...[objeto: no]

...[predicativo: adjetivo] Alguns gramáticos admitem o predicativo do objeto em orações com verbos transitivos indiretos tais como crer, estimar, julgar, nomear, eleger. Em geral, porém, a ocorrência do predicativo do objeto em objetos indiretos se dá somente com o verbo chamar, com sentido de “atribuir um nome a”.

Exemplo: Chamavam-lhe falsário , sem notar-lhe suas verdades.

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Agente da Passiva É o termo da oração que complementa o sentido de um verbo na voz passiva, indicando-lhe o ser que praticou a ação verbal. A característica fundamental do agente da passiva é, pois, o fato de somente existir se a oração estiver na voz passiva. Há três vozes verbais na nossa língua: a voz ativa, na qual a ênfase recai na ação verbal praticada pelo sujeito; a voz passiva, cuja ênfase é a ação verbal sofrida pelo sujeito; e a voz reflexiva, em que a ação verbal é praticada e sofrida pelo sujeito. Nota-se, com isso, que o papel do sujeito em relação à ação verbal está em evidência. Na voz ativa o sujeito exerce a função de agente da ação e o agente da passiva não existe. Para completar o sentido do verbo na voz ativa, este verbo conta com outro elemento – o objeto (direto). Na voz passiva, o sujeito exerce a função de receptor de uma ação praticada pelo agente da passiva. Por conseqüência, é este mesmo agente da passiva que complementa o sentido do verbo neste tipo de oração, substituindo o objeto (direto). Exemplo: O barulho acordou toda a vizinhança. [oração na voz ativa]

...[o barulho: sujeito]

...[acordou: verbo transitivo direto = pede um complemento verbal] ...[toda a vizinhança: ser para o qual se dirigiu a ação verbal = objeto direto]

Toda a vizinhança foi acordada pelo barulho . [oração na voz passiva]

...[toda a vizinhança: sujeito]

...[foi: verbo auxiliar / acordada: verbo principal no particípio] ...[pelo barulho: ser que praticou a ação = agente da passiva]

O agente da passiva é um complemento exigido somente por verbos transitivos diretos (aqueles que pedem um complemento sem preposição). Esse tipo de verbo, em geral, indica uma ação (em oposição aos verbos que exprimem estado ou processo) que, do ponto de vista do significado, é complementada pelo auxílio de outro termo que é o seu objeto (em oposição aos verbos que não pedem complemento: os verbos intransitivos). Como vimos, na voz passiva o complemento do verbo transitivo direto é o agente da passiva; já na voz ativa esse complemento é o objeto direto. Nas orações com verbos intransitivos, então, não existe agente da passiva, porque não há como construir sentenças na voz passiva com verbos intransitivos. Observe: 1. Karina socorreu os feridos.

...[verbo transitivo direto na voz ativa] 2. Os feridos foram socorridos por Karina

...[verbo transitivo direto na voz passiva] 3. Karina gritou .

...[verbo intransitivo na voz ativa] 4. Karina foi gritada . (sentença inaceitável na língua)

...[verbo intransitivo na voz passiva] *Os feridos: objeto direto em (1) e sujeito em (2) Karina: sujeito em (1) e agente da passiva em (2) A oração na voz passiva pode ser formada através do recurso de um verbo auxiliar (ser, estar). Nas construções com verbo auxiliar, costuma-se explicitar o agente da passiva, apesar de ser este um termo de presença facultativa na oração. Em orações cujo verbo está na terceira pessoa do plural, é muito comum ocultar-se o agente da passiva. Isso se justifica pelo fato de que, nessas situações, o sujeito pode ser indeterminado na voz ativa. Porém mesmo nesses casos, a ausência do agente é fruto da liberdade do falante. Exemplos: 1. Os visitantes do zoológico foram atacados pelos bichos .

...[foram: verbo auxiliar / passado do verbo “ser”] ...[pelos bichos: agente da passiva]

2. Nossas reivindicações são simplesmente ignoradas.

...[são: verbo auxiliar / presente do verbo “ser”] ...[agente da passiva: ausente]

3. Cercaram a cidade. [voz ativa com sujeito indeterminado]

A cidade está cercada. ...[está: verbo auxiliar / presente do verbo “estar”] ...[agente da passiva: ausente] A cidade está cercada pelos inimigos . ...[pelos inimigos: agente da passiva]

O agente da passiva é mais comumente introduzido pela preposição por (e suas variantes: pelo, pela, pelos, pelas). É possível, no entanto, encontrar construções em que o agente da passiva é introduzido pelas preposições de ou a. Exemplos: 1. O hino será executado pela orquestra sinfônica .

...[pela orquestra sinfônica: agente da passiva] 2. O jantar foi regado a champanhe .

...[a champanhe: agente da passiva] 3. A sala está cheia de gente .

...[de gente: agente da passiva]

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Adjunto Adnominal É a palavra ou expressão que acompanha um ou mais nomes conferindo-lhe um atributo. Trata-se, portanto, de um termo de valor adjetivo que modificará o nome a que se refere. Os adjuntos adnominais não determinam ou especificam o nome, tal qual os determinantes. Ao invés disso, eles conferem uma nova informação ao nome e por isso são chamados de modificadores. Além disso, os adjuntos adnominais não interferem na compreensão do enunciado. Por esse motivo, eles pertencem aos chamados termos acessórios da oração. Os adjuntos adnominais podem ser formados por artigo, adjetivo, locução adjetiva, pronome adjetivo, numeral e oração adjetiva. Exemplos: 1. Nosso velho mestre sempre nos voltava à mente.

...[nosso: pronome adjetivo]

...[velho: adjetivo] 2. Todos querem saber a música que cantarei na apresentação.

...[a: artigo]

...[que cantarei na apresentação: oração adjetiva]

Adjunto Adverbial É a palavra ou expressão que acompanha um verbo, um adjetivo ou um advérbio modificando a natureza das informações que esses elementos transmitem. Por esse seu caráter, o adjunto adverbial é tido como um modificador. Pelo fato de não ser um elemento essencial ao enunciado, insere-se no rol dos termos acessórios da oração. A modificação que os adjuntos adverbiais conferem aos elementos aos quais se liga na sentença é de duas naturezas: a primeira, de modificação circunstancial , e a segunda, de intensidade. Exemplos: 1. Os candidatos foram selecionados aleatoriamente .

...[aleatoriamente: modifica o segmento verbal “foram selecionados”] ...[natureza do adjunto adverbial: modificador]

2. Os preços dos remédios aumentaram demais .

...[demais: intensifica o segmento verbal “aumentaram”] ...[natureza do adjunto adverbial: intensificador]

Os adjuntos adverbiais podem ser representados por meio de um advérbio, uma locução adverbial ou uma oração inteira denominada oração subordinada adverbial. Exemplos:

1. Os ingressos para o espetáculo de dança esgotaram-se hoje .

...[hoje: advérbio = adjunto adverbial] 2. Acompanharemos de perto todos os teus passos!

...[de perto: locução adverbial = adjunto adverbial]

3. Eles sabiam que me magoavam com aquela maneira de falar.

...[com aquela maneira de falar: oração subordinada adverbial]

Freqüentemente observa-se certa confusão estabelecida entre o adjunto adverbial expressado por uma locução adverbial e o objeto indireto. Isso se dá porque ambas as construções são introduzidas por uma preposição. Deve-se ter claro, no entanto, que o objeto indireto é essencial para complementar o sentido de um verbo transitivo indireto, ao passo que o adjunto adverbial é elemento dispensável para a compreensão do sentido tanto de um verbo como de qualquer outro elemento ao qual se liga. Além disso, o objeto indireto é complemento verbal; já o adjunto adverbial pode ou não estar associado a verbos. Exemplos: 1. Essa minha nota equivale a um emprego.

...[a um emprego: complementa o sentido do verbo transitivo indireto”equivaler”] ...[a um emprego: objeto indireto]

2. Estávamos todos reunidos à mesa.

...[à mesa: modifica a informação verbal “estávamos reunidos”] ...[à mesa: adjunto adverbial (de lugar)]

Aposto É o termo da oração que se associa a outro termo para especificá-lo ou explicá-lo. O aposto tem caráter nominal, ou seja, é representado por nomes e não por verbos ou advérbios. Seu emprego é tido como acessório na oração porque o enunciado sobrevive sem a informação veiculada através do aposto. Exemplos: 1. Meu nome estava definitivamente fora da lista dos aprovados.

...[oração sem aposto] Meu nome, Espedito , estava definitivamente fora da lista dos aprovados. ...[Espedito: aposto / substantivo próprio = nome] ...[idéia expressada pelo aposto: especificação (do sujeito)]

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2. Nas festas de Santo Antônio as pessoas faziam promessas.

...[oração sem aposto] Nas festas de Santo Antônio, santo casamenteiro , as pessoas faziam promessas. ...[santo casamenteiro: aposto / núcleo: substantivo = nome] ...[idéia expressada pelo aposto: explicação (do adjunto adnominal)]

Na língua portuguesa o aposto costuma vir acompanhado de uma pausa expressada através da vírgula ou do sinal de dois pontos. No entanto, o uso da pontuação para marcar a posição do aposto na sentença não é obrigatório . Trata-se de uma elegância textual, para a qual a utilização, especialmente das vírgulas, torna o aposto mais destacado. Exemplos: 1. Aquela rodovia de São Paulo a Campinas foi ampliada recentemente.

...[aposto não separado por vírgulas] 2. Tua cunhada, solteira e de muitas posses , ainda quer se casar?

...[aposto separado por vírgulas] 3. Ninguém sabia informar sobre a prova: data, horário e local.

...[aposto introduzido pelos dois pontos] É comum notarmos certa confusão entre aposto e adjunto adnominal, já que o aposto pode ser introduzido por meio da preposição de. Deve-se ter claro, no entanto, que o aposto tem sempre o substantivo como seu núcleo, ao passo que o adjunto adnominal pode ser representado por um adjetivo. Uma maneira prática de identificar um ou outro termo da oração é transformar o segmento num adjetivo. Se a operação tiver sucesso, tratar-se-á de um adjunto adnominal. Exemplos: 1. As paredes de fora estão sendo pintadas agora.

...[de fora > externo = adjunto adnominal] As paredes externas estão sendo pintadas agora.

2. A praça da República foi invadida pelos turistas.

...[da República: aposto] Uma oração inteira também pode exercer a função de aposto. Nesse caso ela recebe o nome de oração subordinada substantiva apositiva:

Normalmente optamos pelo futebol, o que é típico de brasileiro . ...[aposto associado ao núcleo do objeto indireto “futebol”]

Vocativo É a palavra ou conjunto de palavras, de caráter nominal, que empregamos para expressar uma invocação ou chamado . O vocativo é um elemento que, embora colocado pelos gramáticos dentre os termos da oração, isola-se dela. Isto é, o vocativo não se integra sintaticamente aos termos essenciais da oração (sujeito e predicado) e pode, sozinho, constituir-se uma frase. Essa propriedade advém do fato de que o vocativo insere, na oração, o interlocutor discursivo , ou seja, aquele a quem o falante se dirige na situação comunicativa. Exemplos:

1. Por Deus, Amélia , vamos encerrar essa discussão! 2. Posso me retirar agora, senhor ? 3. Meninos! ...[vocativo constituindo uma frase]

A entonação melódica da língua falada costuma acentuar os vocativos. Essa forma de expressão é reproduzida, na língua escrita, por meio de sinais de pontuação. Assim, o vocativo é obrigatoriamente acompanhado de uma pausa: curta, através do recurso da vírgula; longa, através do recurso da exclamação ou das reticências. Não há posição definida para o vocativo na sentença, porém, quando se apresenta no interior da oração, deve ser colocado entre vírgulas. Além disso, é bastante comum encontrarmos o vocativo associado a alguma forma de ênfase. Se não através da pontuação, o recurso mais popular é vê-lo associado a uma interjeição. Exemplos:

1. Ah, mãe! Deixe-me ir ao jogo hoje! 2. Ó, céus , para quê tanto espetáculo em dias tão desastrosos?

Há de atentarmos para uma distinção entre o vocativo e frases constituídas por um único substantivo. Nestas não se verifica qualquer invocação ao interlocutor do discurso, mas, antes, se dirigem a alguém expressando um aviso, um pedido ou um conselho. No vocativo, porém, o interlocutor é chamado a integrar o discurso do falante. Exemplos: 1. Perigo!

...[frase constituída por um substantivo] 2. Rebeca !

...[vocativo]

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Período é a unidade lingüística composta por uma ou mais orações. Tem como características básicas:

1. a apresentação de um sentido ou significado completo 2. encerrar-se por meio de certos símbolos de pontuação.

Uma das propriedades da língua é expressar enunciados articulados. Essa articulação é evidenciada internamente pela verificação de uma qualidade comunicativa das informações contidas no período. Isto é, um período é bem articulado quando revela informações de sentido completo , uma idéia acabada. Esse atributo pode ser exibido em termos de um período constituído por uma única oração - período simples – ou constituído por mais de uma oração – período composto . Exemplos: 1. Sabrina tinha medo do brinquedo.

...[período simples]

2. Sabrina tinha medo do brinquedo, apesar de levá-lo consigo todo o tempo.

...[período composto] Não há uma forma definida para a constituição de períodos, pois se trata de uma liberdade do falante de elaborar seu discurso da maneira como quiser ou como julgar ser compreendido na situação discursiva. Porém a língua falada, mais freqüentemente, organiza-se em períodos simples, ao passo que a língua escrita costuma apresentar maior elaboração sintática, o que faz notarmos a presença maior de períodos compostos. Um dos aspectos mais notáveis dessa complexidade sintática nos períodos compostos é o uso dos vários recursos de coesão . Isso pode ser visualizado no exercício de transformação de alguns períodos simples em período composto fazendo uso dos chamados conectivos (elementos lingüísticos que marcam a coesão textual). Exemplos: 1. Eu tenho um gatinho muito preguiçoso. Todo dia ele procura a minha cama para dormir. Minha mãe não gosta do meu gatinho. Então, eu o escondo para a minha mãe não ver que ele está dormindo comigo. 2. Eu tenho um gatinho muito preguiçoso, que todo dia procura a minha cama para dormir. Como a minha mãe não gosta dele, eu o escondo e, assim, ela não vê que o gatinho está dormindo comigo. Notem que no exemplo (1) temos um parágrafo formado por quatro períodos. Já no exemplo (2) o parágrafo está organizado em apenas dois períodos. Isso é possível articulando as informações por meio de alguns conectivos (que, como, assim) e eliminando os elementos redundantes (o gatinho, minha mãe = ele, ela). Período Composto por Coordenação

Períodos compostos por coordenação são os períodos que, possuindo duas ou mais orações, apresentam orações coordenadas entre si. Cada oração coordenada possui autonomia de sentido em relação às outras, e nenhuma delas funciona como termo da outra. As orações coordenadas, apesar de sua autonomia em relação às outras, complementam mutuamente seus sentidos. A conexão entre as orações coordenadas podem ou não ser realizadas através de conjunções coordenativas. Sendo vinculadas por conectivos ou conjunções coordenativas, as orações são coordenadas sindéticas. Não apresentando conjunções coordenativas, as orações são chamadas orações coordenadas assindéticas. Orações Coordenadas Assindéticas

São as orações não iniciadas por conjunção coordenativa. Ex. Chegamos a casa, tiramos a roupa, banhamo-nos, fomos deitar.

Orações Coordenadas Sindéticas São cinco as orações coordenadas, que são iniciadas por uma conjunção coordenativa. A) Aditiva: Exprime uma relação de soma, de adição.

Conjunções: e, nem, mas também, mas ainda. Ex. Não só reclamava da escola, mas também atenazava os colegas.

B) Adversativa: exprime uma idéia contrária à da outra oração, uma oposição.

Conjunções: mas, porém, todavia, no entanto, entretanto, contudo. Ex. Sempre foi muito estudioso, no entanto não se adaptava à nova escola.

C) Alternativa: Exprime idéia de opção, de escolha, de alternância.

Conjunções: ou, ou...ou, ora... ora, quer... quer. Ex. Estude, ou não sairá nesse sábado.

D) Conclusiva: Exprime uma conclusão da idéia contida na outra oração.

Conjunções: logo, portanto, por isso, por conseguinte, pois - após o verbo ou entre vírgulas. Ex. Estudou como nunca fizera antes, por isso conseguiu a aprovação.

E) Explicativa: Exprime uma explicação.

Conjunções: porque, que, pois - antes do verbo.

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Ex. Conseguiu a aprovação, pois estudou como nunca fizera antes

Período Composto por Subordinação Períodos compostos por subordinação são períodos que, sendo constituídos de duas ou mais orações, possuem uma oração principal e pelo menos uma oração subordinada a ela. A oração subordinada está sintaticamente vinculada à oração principal, podendo funcionar como termo essencial, integrante ou acessório da oração principal. As orações subordinadas que se conectam à oração principal através de conjunções subordinativas são chamadas orações subordinadas sindéticas. As orações que não apresentam conjunções subordinativas geralmente apresentam seus verbos nas formas nominais, sendo chamadas orações reduzidas. 1. Orações Subordinadas Substantivas: São seis as orações subordinadas substantivas, que são iniciadas por uma conjunção subordinativa integrante (que, se) A) Subjetiva : funciona como sujeito da oração principal. Existem três estruturas de oração principal que se usam com subordinada substantiva subjetiva: verbo de ligação + predicativo + oração subordinada substantiva subjetiva.

Ex. É necessário que façamos nossos deveres. verbo unipessoal + oração subordinada substantiva subjetiva. Verbo unipessoal só é usado na 3ª pessoa do singular; os mais comuns são convir, constar, parecer, importar, interessar, suceder, acontecer.

Ex. Convém que façamos nossos deveres. Verbo na voz passiva + oração subordinada substantiva subjetiva. Ex. Foi afirmado que você subornou o guarda.

B) Objetiva Direta: funciona como objeto direto da oração principal.

(sujeito) + VTD + oração subordinada substantiva objetiva direta. Ex. Todos desejamos que seu futuro seja brilhante.

C) Objetiva Indireta: funciona como objeto indireto da oração principal.

(sujeito) + VTI + prep. + oração subordinada substantiva objetiva indireta. Ex. Lembro-me de que tu me amavas.

D) Completiva Nominal: funciona como complemento nominal de um termo da oração principal.

(sujeito) + verbo + termo intransitivo + prep. + oração subordinada substantiva completi-va nominal. Ex. Tenho necessidade de que me elogiem.

E) Apositiva: funciona como aposto da oração principal; em geral, a oração subordinada substantiva apositiva vem após dois pontos, ou mais raramente, entre vírgulas.

oração principal + : + oração subordinada substantiva apositiva. Ex. Todos querem o mesmo destino: que atinjamos a felicidade.

F) Predicativa: funciona como predicativo do sujeito do verbo de ligação da oração principal.

(sujeito) + VL + oração subordinada substantiva predicativa. Ex. A verdade é que nunca nos satisfazemos com nossas posses. Nota: As subordinadas substantivas podem vir introduzidas por outras palavras: Pronomes interrogativos (quem, que, qual...) Advérbios interrogativos (onde, como, quando...) Perguntou-se quando ele chegaria. Não sei onde coloquei minha carteira.

Orações Subordinadas Adjetivas As orações subordinadas adjetivas são sempre iniciadas por um pronome relativo. São duas as orações subordinadas adjetivas: A) Restritiva: é aquela que limita, restringe o sentido do substantivo ou pronome a que se refere. A restritiva funciona como adjunto adnominal de um termo da oração principal e não pode ser isolada por vírgulas.

Ex. A garota com quem simpatizei está à sua procura.

B) Explicativa: serve para esclarecer melhor o sentido de um substantivo, explicando mais detalhadamente uma característica geral e própria desse nome. A explicativa funciona como aposto explicativo e é sempre isolada por vírgulas.

Ex. Londrina, que é a terceira cidade do região Sul do país, está muito bem cuidada.

Orações Subordinadas Adverbiais São nove as orações subordinadas adverbiais, que são iniciadas por uma conjunção subordinativa

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A) Causal: funciona como adjunto adverbial de causa.

Conjunções: porque, porquanto, visto que, já que, uma vez que, como, que. Ex. Saímos rapidamente, visto que estava armando um tremendo temporal.

B) Comparativa: funciona como adjunto adverbial de comparação. Geralmente, o verbo fica subentendido

Conjunções: (mais) ... que, (menos)... que, (tão)... quanto, como. Ex. Diocresildo era mais esforçado que o irmão(era).

C) Concessiva: funciona como adjunto adverbial de concessão.

Conjunções: embora, conquanto, inobstante, não obstante, apesar de que, se bem que, mesmo que, posto que, ainda que, em que pese. Ex. Todos se retiraram, apesar de não terem terminado a prova.

D) Condicional: funciona como adjunto adverbial de condição.

Conjunções: se, a menos que, desde que, caso, contanto que. Ex. Você terá um futuro brilhante, desde que se esforce.

E) Conformativa: funciona como adjunto adverbial de conformidade.

Conjunções: como, conforme, segundo.

Ex. Construímos nossa casa, conforme as especificações dadas pela Prefeitura.

F) Consecutiva: funciona como adjunto adverbial de conseqüência.

Conjunções: (tão)... que, (tanto)... que, (tamanho)... que. Ex. Ele fala tão alto, que não precisa do microfone.

G) Temporal: funciona como adjunto adverbial de tempo.

Conjunções: quando, enquanto, sempre que, assim que, desde que, logo que, mal. Ex. Fico triste, sempre que vou à casa de Juvenildo.

H) Final: funciona como adjunto adverbial de finalidade.

Conjunções: a fim de que, para que, porque. Ex. Ele não precisa do microfone, para que todos o ouçam.

I) Proporcional: funciona como adjunto adverbial de proporção.

Conjunções: à proporção que, à medida que, tanto mais. Ex. À medida que o tempo passa, mais experientes ficamos.

Orações Reduzidas Quando uma oração subordinada se apresenta sem conjunção ou pronome relativo e com o verbo no infinitivo, no particípio ou no gerúndio, dizemos que ela é uma oração reduzida, acrescentando-lhe o nome de infinitivo, de particípio ou de gerúndio.

Ex. Ele não precisa de microfone, para o ouvirem.

� Concordância Verbal

O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa: Eu sei (sei: 1a pessoa do singular, concordando com o sujeito eu). Havendo mais de um sujeito, o verbo vai para o plural:

(1) na 1a pessoa (nós), se entre os sujeitos houver um da 1a pessoa (Eu, tu e ele saímos);

(2) na 2a pessoa (vós), se, não existindo sujeito da 1a pessoa, houver um da 2a (Tu e ele saístes);

(3) na 3a pessoa (eles ou elas), se os sujeitos forem todos da 3a pessoa (João, Carlos e seus irmãos saíram). A concordância do verbo na 2a pessoa do plural (vós), na linguagem corrente do Brasil, é de uso raro, não sendo poucos os exemplos literários em que o verbo com sujeito tu e ele aparece na 3a pessoa do plural.

Casos particulares (com um só sujeito). Havendo um só sujeito, ocorrem, entre outros, os seguintes casos particulares de concordância verbal:

1. Verbo no singular:

a) Mais de um aluno não resolveu essa questão (sujeito = mais de um + substantivo);

b) Qualquer de nós (ou de vós) se apresentará? (sujeito = pronome interrogativo singular, seguido de de nós, de vós, dentre nós ou dentre vós);

c) Algum (nenhum, qualquer) de nós (ou de vós) se apresentará (sujeito = pronome indefinido singular, seguido de de nós, de vós, dentre nós, dentre vós).

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2. Verbo no plural:

a) Aproximaram-se cerca de vinte pessoas (sujeito = cerca de + substantivo plural);

b) Ele era um dos que sabiam a resposta (sujeito = um dos que, um daqueles que);

c) Quais (quantos) de vós sabeis a resposta? Quais (quantos) de nós teremos tempo para isso? (sujeito = quais? quantos? + de nós ou de vós;

d) Alguns (muitos, vários, poucos, quaisquer) de nós sabemos o que ocorreu. Quaisquer de vós sabeis (sujeito = indefinido plural + de nós, ou de vós);

e) Os Estados Unidos se empenharam na solução desse problema (sujeito = nomes de lugar com forma plural, precedidos de artigo);

f) As Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, são de publicação póstuma (sujeito = títulos de obras com forma plural, com artigo);

g) Deram (bateram, soaram) sete horas (verbos dar, bater, soar e sinônimos, empregados com referência às horas do dia: concordam com o número que indica as horas);

h) Disseram que você não viria (sujeito indeterminado, sem a partícula se).

3. Verbo no singular ou no plural:

a) Parte (o grosso, o resto, a metade) dos espectadores protestaram ou protestou (a concordância no plural evidencia os elementos componentes do todo; o verbo no singular realça o conjunto como unidade);

b) João foi um dos competidores que mais se destacaram ou que mais se destacou (o singular põe em realce o sujeito dentro do grupo em relação ao qual está sendo referido).

4. Sujeito pronome relativo "que":

a) Sou eu que quero;

b) Fomos nós os que resolvemos;

c) Sereis vós aqueles que tereis de resolver (o verbo concorda em número e pessoa com o pronome pessoal antecedente imediato ou mediato do relativo).

5. Sujeito pronome relativo "quem": O verbo com sujeito pronome relativo "quem", vai para a 3a pessoa do singular (Sou eu quem tem de resolver) ou concorda com o pronome pessoal sujeito da oração anterior (Sou eu quem tenho de resolver).

6. Verbo "ser" com o predicativo plural:

a) Que são três dias? Quem és tu? (oração iniciada pelos interrogativos que? e quem?;

b) Eram quatro horas (orações impessoais);

c) Tudo (isto, isso, aquilo, o = aquilo, o resto, o mais) são mentiras (sujeito um dos pronomes tudo, isto, isso, aquilo, o = aquilo, ou expressão de sentido coletivo, como o resto, o mais);

d) Minha vida são eles, os meus filhos (substantivo como primeiro termo da oração; pronome pessoal como segundo).

7. Outros casos de concordância do verbo "ser":

a) Três semanas é pouco (sujeito = expressão numérica considerada como um todo;

b) da Vinci era muitos artistas num só gênio (sujeito nome de pessoa singular; o verbo deixa de concordar com o predicativo plural;

c) Ele era todo ouvidos (sujeito pronome pessoal; o verbo deixa de concordar com o predicativo plural;

d) Nós é que decidimos partir (frases construídas com a locução invariável de realce é que; o verbo concorda normalmente com o sujeito).

Casos particulares (com sujeito composto). Com sujeito composto, o verbo pode concordar com o sujeito mais próximo, em casos como os que se seguem:

(1) Imperava a violência, o crime, o desrespeito à pessoa humana (sujeitos pospostos);

(2) Minha casa, minha pátria é aqui (sujeitos sinônimos ou quase sinônimos;

(3) Um grito, uma palavra, um olhar bastava (sujeito com enumeração gradativa);

(4) Castigos, conselhos, nada o corrigia (sujeito resumido por um pronome indefinido: nada, tudo, ninguém);

(5) Nem luz de vela, nem luz de lampião lhe iluminavam o quarto. Jamais um grito ou uma palavra áspera lhe saíram dos lábios (substantivos no singular ligados por nem ou ou, podendo o fato expresso pelo verbo ser atribuído a todos os sujeitos);

(6) Nem Pedro nem Antônio conseguirá eleger-se. Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me (composição do sujeito idêntica à anterior, só se podendo, todavia, atribuir o fato expresso pelo verbo a um dos sujeitos);

(7) Ou eu ou ela iremos à festa. Nem eu nem ela iremos à festa (sujeitos de pessoas gramaticais diferentes, ligados por ou ou nem: o verbo concorda, no plural, com a pessoa que tiver precedência na ordem das pessoas gramaticais);

(8) Um ou outro (um ou outro aluno) haverá de acertar. Nem um nem outro (nem um nem outro aluno) haverá de acertar (sujeito um ou outro, nem um nem outro, como pronomes substantivos ou como pronomes adjetivos: verbo no singular);

(9) Um e outro são competentes (ou é competente) para isso (locução um e outro: admite verbo no plural ou no singular;

(10) O menino com seu amigo brincavam à beira do lago. César, com suas legiões, levou o inimigo de vencida (sujeitos unidos pela partícula com: verbo no plural, quando não houver realce de nenhum dos sujeitos; no

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singular, quando o primeiro sujeito estiver sendo realçado);

(11) Você, como eu, parece ter jeito para música. Você como eu temos jeito para música (sujeitos ligados pelas conjunções comparativas como, assim como, bem como etc.; verbo no singular, quando se quer dar destaque ao primeiro sujeito; no plural, sem esse destaque).

Concordância figurada (silepse): Concordância que se faz com o sentido ou idéia que as palavras exprimem, não com sua forma gramatical. A silepse pode ser:

a) de número (Era uma gente [coletivo] difícil de lidar: não sabiam o que queriam. Vós [referindo-se a uma única pessoa] fostes injusto; b) de gênero (Vossa Senhoria [referindo-se a pessoa do sexo masculino] foi bem tratado?); c) de pessoa (Estávamos presentes [incluída a pessoa que fala, ou 1a pessoa] uns dez interessados).©Encyclopédia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

� Concordância Nominal

O adjetivo concorda em gênero e número com o termo a que se refere (substantivo ou pronome), quer exerça a função de adjunto adnominal (Comprei um bom livro), quer a de predicativo (O livro é bom). Adjunto adnominal. Referindo-se a mais de um substantivo ou pronome, o adjunto adnominal a estes antepostos concorda em gênero e número com o mais próximo (O professor exigiu completo silêncio e disciplina. Galoparam por estreitas estradas e caminhos); sendo nomes próprios ou de parentesco os termos modificados pelo adjunto, este vai para o plural (os dedicados Pedro e Paulo; os estudiosos João e Maria). Se o adjunto adnominal está posposto a mais de um substantivo ou pronome, pode concordar em gênero com o termo mais próximo a que se refira, ou adotar a flexão masculina, se os termos modificados tiverem gêneros diferentes; e pode concordar em número com o termo mais próximo a que se refira, ou ir para o plural. Exemplos (a concordância mais rara está entre parênteses):

(1) livro e caderno encapado (ou encapados);

(2) livro e caderneta encapada (ou encapados);

(3) livros e caderno encapados (ou encapado);

(4) livros e cadernetas encapadas (ou encapados).

Predicativo.

As normas de concordância do predicativo com o sujeito composto são idênticas às que se aplicam ao adjunto adnominal, com as seguintes ressalvas:

(1) Sendo do mesmo gênero os termos que compõem o sujeito, o predicativo conserva esse gênero e, de preferência, vai para o plural (O livro e o caderno estão encapados);

(2) se os gêneros dos termos que compõem o sujeito forem diversos, o predicativo vai, normalmente, para o masculino plural (O livro e a caderneta estão encapados).

A concordância do predicativo do objeto segue, em geral, as mesmas normas que se aplicam à concordância do predicativo do sujeito. Se o sujeito for uma oração, o predicativo fica no masculino singular (É vantajoso saber-se uma língua estrangeira = É vantajoso que se saiba uma língua estrangeira). Concordância dos pronomes pessoais o, a, os, as. Os pronomes o (lo) e a (la) substituem, respectivamente, um nome masculino singular ou um nome feminino singular (Encontrei João = Encontrei-o. Vou encontrar João = Vou encontrá-lo. Encontrei Maria = Encontrei-a. Vou encontrar Maria = Vou encontrá-la); o pronome os (los) substitui um nome masculino plural ou mais de um nome de gêneros diferentes (Encontrei meus amigos, ou meu amigo e minha amiga = Encontrei-os. Vou encontrar meus amigos, ou meus amigos e minhas amigas = Vou encontrá-los); o pronome as (las) substitui um nome feminino plural ou mais de um nome feminino (Encontrei minhas amigas, ou encontrei Maria e Júlia = Encontrei-as. Vou encontrar minhas amigas, ou vou encontrar Maria e Júlia = Vou encontrá-las). Concordância dos pronomes possessivos. Os pronomes possessivos concordam em gênero e número com o substantivo designativo do objeto possuído, e em pessoa com o possuidor desse objeto: João vendeu sua casa (sua = dele, João, 3a pessoa; sua = feminino singular, concordando com casa). Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo concorda com o que estiver mais próximo: Teu juízo e serenidade...

� Regência Nominal Alguns nomes também exigem complementos preposicionados. Conheça alguns: 1- acessível a 2- acostumado a, com 3- adaptado a, para 4- afável com, para com 5- aflito com, em, para, por 6- agradável a 7- alheio a, de 8- alienado a, de 9- alusão a 10- amante de 11- análogo a 12- ansioso de, para, por 13- apto a, para 14- atento a, em 15- aversão a, para, por 16- ávido de, por 17- benéfico a 18- capaz de, para 19- certo de 20- compatível com 21- compreensível a 22- comum a, de 23- constante em 24- contemporâneo a, de

34- digno de 35- entendido em 36- equivalente a 37- erudito em 38- escasso de 39- essencial para 40- estranho a 41- fácil de 42- favorável a 43- fiel a 44- firme em 45- generoso com 46- grato a 47- hábil em 48- habituado a 49- horror a 50- hostil a 51- idêntico a 52- impossível de 53- impróprio para 54- imune a 55- incompatível com 56- inconseqüente com 57- indeciso em 58- independente de, em 59- indiferente a 60- indigno de 61- inerente a

67- natural de 68- necessário a 69- negligente em 70- nocivo a 71- ojeriza a, por 72- paralelo a 73- parco em, de 74- passível de 75- perito em 76- permissivo a 77- perpendicular a 78- pertinaz em 79- possível de 80- possuído de 81- posterior a 82- preferível a 83- prejudicial a 84- prestes a 85- propenso a, para 86- propício a 87- próximo a, de 88- relacionado com 89- residente em 90- responsável por 91- rico de, em 92- seguro de, em 93- semelhante

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25- contrário a 26- curioso de, para, por 27- desatento a 28- descontente com 29- desejoso de 30- desfavorável a 31- devoto a, de 32- diferente de 33- difícil de

62- insaciável de 63- leal a 64- lento em 65- liberal com 66- medo a, de

a 94- sensível a 95- sito em 96- suspeito de 97- útil a, para 98- versado em

� Regência Verbal

1. Chegar/ ir – deve ser introduzido pela preposição a e não pela preposição em. Ex.: Vou ao dentista./ Cheguei a Belo Horizonte. 2. Morar/ residir – normalmente vêm introduzidos pela preposição em. Ex.: Ele mora em São Paulo./ Maria reside em Santa Catarina. 3. Namorar – não se usa com preposição. Ex.: Joana namora Antônio. 4. Obedecer/desobedecer – exigem a preposição a. Ex.: As criaCRnças obedecem aos pais./ O aluno desobedeceu ao professor. 5. Simpatizar/ antipatizar – exigem a preposição com. Ex.: Simpatizo com Lúcio./ Antipatizo com meu professor de História. Estes verbos não são pronominais, portanto, são considerados construções erradas quando os mesmos aparecem acompanhados de pronome oblíquo: Simpatizo-me com Lúcio./ Antipatizo-me com meu professor de História. 6. Preferir - este verbo exige dois complementos sendo que um usa-se sem preposição e o outro com a preposição a. Ex.: Prefiro dançar a fazer ginástica. Segundo a linguagem formal, é errado usar este verbo reforçado pelas expressões ou palavras: antes, mais, muito mais, mil vezes mais, etc. Ex.: Prefiro mil vezes dançar a fazer ginástica. Verbos que apresentam mais de uma regência 1 – Aspirar a) no sentido de cheirar, sorver: usa-se sem preposição. Ex.: Aspirou o ar puro da manhã. b) no sentido de almejar, pretender: exige a preposição a. Ex.: Esta era a vida a que aspirava. 2 – Assistir a) no sentido de prestar assistência, ajudar, socorrer:

usa-se sem preposição. Ex.: O técnico assistia os jogadores novatos.

b) no sentido de ver, presenciar: exige a preposição a. Ex.: Não assistimos ao show.

c) no sentido de caber, pertencer: exige a preposição a.

Ex.: Assiste ao homem tal direito.

d) no sentido de morar, residir: é intransitivo e exige a preposição em. Ex.: Assistiu em Maceió por muito tempo.

3 - Esquecer/lembrar a) Quando não forem pronominais: são usados sem

preposição. Ex.: Esqueci o nome dela.

b) Quando forem pronominais: são regidos pela preposição de. Ex.: Lembrei-me do nome de todos.

4 – Visar a) no sentido de mirar: usa-se sem preposição.

Ex.: Disparou o tiro visando o alvo.

b) no sentido de dar visto: usa-se sem preposição. Ex.: Visaram os documentos.

c) no sentido de ter em vista, objetivar: é regido pela preposição a.

Ex.: Viso a uma situação melhor. 5 – Querer a) no sentido de desejar: usa-se sem preposição.

Ex.: Quero viajar hoje.

b) no sentido de estimar, ter afeto: usa-se com a preposição a. Ex.: Quero muito aos meus amigos.

6 – Proceder a) no sentido de ter fundamento: usa-se sem

preposição. Ex.: Suas queixas não procedem.

b) no sentido de originar-se, vir de algum lugar: exige a preposição de. Ex.: Muitos males da humanidade procedem da falta de respeito ao próximo.

c) no sentido de dar início, executar: usa-se a preposição a.

Ex.: Os detetives procederam a uma investigação criteriosa.

7 - Pagar/ perdoar a) se tem por complemento palavra que denote coisa:

não exigem preposição. Ex.: Ela pagou a conta do restaurante.

b) se tem por complemento palavra que denote pessoa: são regidos pela preposição a.

Ex.: Perdoou a todos, 8 – Informar a) no sentido de comunicar, avisar, dar informação: admite duas construções: 1) objeto direto de pessoa e indireto de coisa (regido

pelas preposições de ou sobre). Ex.: Informou todos do ocorrido.

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2) objeto indireto de pessoa ( regido pela preposição a) e direto de coisa.

Ex.: Informou a todos o ocorrido. 9 – Implicar a) no sentido de causar, acarretar: usa-se sem

preposição. Ex.: Esta decisão implicará sérias conseqüências.

b) no sentido de envolver, comprometer: usa-se com dois complementos, um direto e um indireto com a preposição em. Ex.: Implicou o negociante no crime.

c) no sentido de antipatizar: é regido pela preposição com. Ex.: Implica com ela todo o tempo.

10- Custar a) no sentido de ser custoso, ser difícil: é regido pela

preposição a. Ex.: Custou ao aluno entender o problema.

b) no sentido de acarretar, exigir, obter por meio de: usa-se sem preposição. Ex.: O carro custou-me todas as economias.

c) no sentido de ter valor de, ter o preço: usa-se sem preposição.

Ex.: Imóveis custam caro. � Colocação Pronominal Os pronomes oblíquos átonos (o, a, os, as, lhe, lhes, me, te, se, nos, vos) costumam apresentar problemas de colocação, uma vez que podem ocupar três posições: 1. antes do verbo (próclise ou pronome proclítico):

Nunca me revelaram os verdadeiros motivos. 2. no meio do verbo (mesóclise ou pronome mesoclítico):

Revelar-me-iam os verdadeiros motivos.

3. depois do verbo (ênclise ou pronome enclítico):

Revelaram-me os verdadeiros motivos.

Convém lembrar que os pronomes oblíquos átonos nunca podem vir no início da frase, embora na linguagem popular isso ocorra com freqüência. Assim, não são aceitas pelas norma culta construções como:

Me convidaram para a festa. Nos revelaram os verdadeiros motivos. Devemos dizer: Convidaram-me para a festa. Revelaram-no os verdadeiros motivos.

Uso da Próclise: É obrigatória quando houver palavra que atraia o pronome para antes do verbo. As palavras que atraem o pronome são as seguintes: a) palavras ou expressões negativas:

Nunca me informavam os verdadeiros motivos. b) advérbios:

Sempre me informavam os verdadeiros motivos.

Obs.: Se houver vírgula depois do advérbio, ele deixa de atrair o pronome.

Aqui se trabalha. Aqui, trabalha-se.

c) pronomes indefinidos e pronomes demonstrativos neutros:

Alguém me informou os verdadeiros motivos. Isto me pertence.

d) conjunções subordinativas:

Embora me informassem os verdadeiros motivos, não acreditei.

e) pronomes relativos:

A pessoa que me informou os verdadeiros motivos não compareceu.

Obs.: Se houver duas palavras atraindo um mesmo pronome, pode-se colocar o pronome oblíquo entre as duas palavras atrativas.

É difícil entender quando se não ama. Ou, como é mais freqüente:

É difícil entender quando não se ama. A palavra que atrai o pronome, mesmo que venha subentendida.

Desejo me compreendam. (Desejo que me compreendam.)

A próclise é obrigatória também nas orações: a) interrogativas diretas:

Quem nos revelou os verdadeiros motivos?

b) exclamativas:

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Quanto nos custou tal procedimentos!

c) optativas (orações que exprimem um desejo):

Deus te abençoe.

Uso da Mesóclise: A mesóclise é obrigatória com o verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito. Desde que não haja antes palavra atrativa.

Convidar-me-ão para a cerimonia. Convidar-me-iam para a cerimônia.

No caso de haver uma palavra atrativa, a próclise será obrigatória.

Não me convidarão para a cerimônia. Nunca me convidariam para a cerimônia.

Obs.: É sempre errado o uso do pronome oblíquo depois de verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito. Uso da Ênclise: A ênclise é obrigatória: a) com o verbo no início da frase:

Entregaram-me as mercadorias. Obs.: Lembre-se de que é sempre errado o pronome oblíquo átono no início da frase. b) com o verbo no imperativo afirmativo:

Alunos, comportem-se c) com o verbo no gerúndio:

Saiu, deixando-nos por instantes. Obs.: Se o gerúndio vier precedido de preposição ou de palavra atrativa, ocorrerá próclise. Em se tratando de cinema, prefiro as comédias.

Saiu da sala, não nos revelando os motivos d) com o verbo no infinitivo impessoal:

Era necessário ajudar-te. Obs.: Se o infinitivo impessoal vier precedido de palavra negativa, é indiferente o uso da ênclise ou da próclise.

Era necessário não te ajudar.

Era necessário não ajudar-te.

Se o infinitivo impessoal vier precedido de preposição, é indiferente o uso da ênclise ou da próclise.

Estou apto a te ajudar. Estou apto a ajudar-te.

Com o infinitivo pessoal precedido de preposição ocorre próclise.

Foram censurados por se comportarem mal.

Colocação dos Pronomes nas Locuções Verbais a) Locução verbal com verbo principal no particípio. Nas locuções verbais cujo verbo principal é um particípio, o pronome deve ficar depois do verbo auxiliar. Se houver palavra atrativa, deverá ficar antes do verbo auxiliar.

Havia-lhe contado a verdade. Não lhe havia contado a verdade.

Obs.: Se o auxiliar estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito, ocorrerá a mesóclise, desde que não haja atração.

Ter-me-iam falado a verdade, se a soubessem. Veja que é sempre errada a colocação do pronome depois de um particípio. b) Locução verbal com o verbo principal no infinitivo ou no gerúndio. Se não houver palavra atrativa, coloca-se o pronome oblíquo depois do verbo auxiliar ou depois do verbo principal.

Quero-lhe dizer a verdade. OU Quero dizer-lhe a verdade. Ia-lhe dizendo a verdade. OU Ia dizendo-lhe a verdade.

Caso haja palavra atrativa, coloca-se pronome antes do verbo auxiliar ou depois do verbo principal.

Não lhe quero dizer a verdade. OU Não quero dizer-lhe a verdade. Não lhe ia dizendo a verdade. OU Não ia dizendo-lhe a verdade.

� Mecanismos de Coesão Textual

A coesão, ou conectividade seqüencial, é a ligação, o nexo que se estabelece entre as partes de um texto, mesmo que não seja aparente. Contribuem para esta ligação elementos de natureza gramatical (como os pronomes, conjunções, preposições, categorias verbais), elementos de natureza lexical (sinônimos, antônimos,

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repetições) e mecanismos sintáticos (subordinação, coordenação, ordem dos vocábulos e orações). É um dos mecanismos responsáveis pela interdependência semântica que se instaura entre os elementos constituintes de um texto. A coesão sequencial é um dos requisitos fundamentais para a construção de qualquer texto - seja ele um texto literário, jornalístico, científico ou até mesmo uma conversação espontânea.

� Coerência

É a relação que se estabelece entre as partes do texto, criando uma unidade de sentido. Que mecanismos podem ajudar a produzir um texto unitário:

a) encadeamento de figuras compatíveis entre si.

Num jantar de gala do Itamarati, os guardanapos não serão de papel.

b) não contradição de sentidos.

Não podemos estar em Portugal à beira do Pacífico.

c) combinação de termos compatíveis.

uma “pedra não vê o lago”, porque o verbo “ver” exige sujeito humano, no entanto; se considerarmos uma pedra em sentido metafórico de “pessoa rígida, pesada e imóvel”, o pequeno texto passa a ganhar coerência porque passa a existir compatibilidade entre “pedra” e “ver”.

d) não contradição de argumentos.

Não posso ser a favor da pena de morte por ser contra tirar a vida de alguém.

e) combinação de atos de fala adequados.

Não posso responder a uma “pergunta” com outra; um pedido com algo que nada tem que ver com ele: Você me traz o dinheiro ? / A professora nova é bonita.

f) presença de elementos semânticos logicamente pressupostos entre si.

X não pode ser casado e não ter esposa; Y não pode estar saciado e não ter comido nada.

� Coesão

É a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto. A coesão é manifestada por elementos formais. Os elementos coesivos assinalam a conexão entre partes do texto. São muitos os mecanismos de coesão textual, mas vamos citar três deles:

1. A retomada ou a antecipação de termos:

André e Pedro são ambos fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes. Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz.

O termo “isso” retoma o predicado “são ambos fanáticos torcedores de futebol”, “este” retoma o termo “Pedro”; “aquele”, a palavra “André”; “o faz”, “briga com quem torce para outro time”. Todos os termos que servem para retomar outros são chamados anafóricos. Quando esses mesmos termos antecipam outro (por exemplo, na frase Meu pai me disse isto: vá deitar cedo, onde “isto” antecipa “vá deitar cedo”) são chamados catafóricos.

2. O encadeamento:

É feito por conectores, que são palavras e expressões responsáveis pela concatenação, pela criação de relações entre os segmentos do texto.

CONECTIVOS:

Os conectivos ligam palavras ou orações. São elementos de ligação na frase.

Ex: O prazer e a dor são passageiros.

A espada vence mas não convence.

No primeiro exemplo, o conectivo e liga duas palavras; no segundo, o conectivo mas liga duas orações.

Os conectivos dividem-se em duas classes: coordenativos e subordinativos.

Quadro dos conectivos:

Coordenativos: ligam orações coordenadas.

1. Conjunções coordenativas a. aditivas: e b. adversativas: mas c. alternativas: ou d. conclusivas: logo e. explicativas: pois

Subordinativos: subordinam orações dependentes às principais.

1. Conjunções subordinativas a. causais: porque b. comparativas: como c. concessivas: embora d. condicionais: se e. conformativas: conforme f. consecutivas: [tão] que g. finais: para que h. proporcionais: à medida que i. temporais: quando

- INICIAM ORAÇÕES ADVERBIAIS -

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2. integrantes: que, se

- INICIAM ORAÇÕES SUBSTANTIVAS -

3. Pronomes relativos: que, quem, cujo, cuja, o qual, a qual, etc.

- INICIAM ORAÇÕES ADJETIVAS -

3 – Presença de todos os termos necessários ao sentido da oração e do período.

A escrita não exige que os períodos sejam longos, mas que sejam completos e que as partes estejam absolutamente conectadas entre si. Se faltam partes, não pode haver coesão. 5. ORTOGRAFIA. ACENT UAÇÃO GRÁFICA.

EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE. PONTUAÇÃO

� Ortografia Ortografia: palavra constituída das partes: orto (correta) +grafia (escrita). A ortografia é a parte da gramática que trata da correta escrita das palavras. Nosso alfabeto é composto de 26 letras:

a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z

Observação: Você deve estar se perguntando pelas letras W, Y e K. Elas não pertencem mais ao nosso alfabeto. São usadas apenas em casos especiais:

- Nomes próprios estrangeiros ( Wellington, Willian.... ),

- Abreviaturas e símbolos de uso internacional (K- potássio, Y- ítrio..), - Palavras estrangeiras (show, play...)

Letra H Por que usar a letra H se ela não representa nenhum som? Realmente ela não possui valor fonético, mas continua sendo usada em nossa língua por força da etimologia e da tradição escrita. Emprega-se o H:

- Inicial, quando etimológico: horizonte, hulha, etc. - Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh, nh: chamada, molha, sonho, etc. - Em algumas interjeições: oh!, hum!, etc. - Em palavras compostas unidos por hífen, se algum elemento começa com H: hispano-ame-ricano, super-homem, etc. Palavras compostas

ligadas sem hífen não são escritas com H. Exemplo: reaver - No substantivo próprio Bahia (Estado do Brasil), por tradição. As palavras derivadas dessa são escritas sem H. Exemplo: baiano. . .

Letras E / I

E I

Prefixo ante- (antes, anterior)

Ex.: antecipar, antebraço...

Prefixo anti- (contra)

Ex.: antipatia, antitetânico...

Algumas formas de verbos terminados em -oar, -uar Ex.: doem (doar), flutuem

(flutuar)

Algumas formas de verbos terminados em -uir.

Ex.: possui (possuir),

retribui (retribuir)

Letras G / J

G J Palavras terminadas em -

agem, -igem, -ugem, -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio.

Ex.: garagem, vertigem,

ferrugem, relógio, refúgio, estágio, colégio, prodígio...

Exceções: pajem e lambujem

Palavras de origem africana ou indígena.

Ex.: jiló, Ubirajara,

acarajé...

Derivadas de palavras que

possuam G.

Ex.: rabugento (rabugem), selvageria (selvagem)

Derivadas de palavras que possuam J e verbos que

terminem em -jar ou -jear.

Ex.: gorjeta (gorja), nojento (nojo), cerejeira

(cereja), arranjar (arranjo, arranjaria...)

Letras S / Z

S Z

Derivadas de primitivas

com "s"

Ex.: visitante ( visita)...

Derivadas de primitivas

com "z".

Ex.: enraizar ( raiz), vazar (vazio)...

Nas formas dos verbos pôr, querer e seus derivados (repor,

requerer...).

Ex.: pusesse, quisesse...

Sufixo formador de verbo -izar.

Ex.: realizar, modernizar...

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Após um ditongo.

Ex.: maisena, pausa...

Sufixo -oso formador

de adjetivos .

Ex.: amoroso, atencioso...

Sufixo -ez (a) formador de substantivos abstratos.

Ex.: timidez, viuvez...

Sufixos -isa, -ês, -esa

usados na constituição de vocábulos que indicam:

profissão, nacionalidade, estado social e títulos.

Ex.: baronesa, norueguês,

sacerdotisa, cortês, camponês...

- O verbo catequizar é derivado da palavra catequese deveria ser escrito com "s", mas, como é derivado do grego, já veio formado para nosso vernáculo (língua do país). - MAIZENA é um substantivo próprio, marca registrada.

Letras X / CH

X CH

Depois de ditongo.

Ex.: peixe, ameixa...

Palavras derivadas de

outras escritas com pl, fl e cl.

Ex.: chumbo( plúmbeo),

chave (clave)...

Depois da sílaba me-.

Ex.: mexer, mexerico...

A palavra mecha (substantivo)

é uma exceção.

Depois da sílaba en-.

Ex.: enxoval, enxaqueca...

São exceções encher, encharcar, enchumaçar

e seus derivados.

Verbos encher, encharcar, enchumaçar e seus

derivados.

Ex.: preencher, encharcado...

Em palavras de origem indígena ou africana.

Ex.: orixá, abacaxi...

Palavras derivadas de

primitivas que tenham o ch.

Ex.: enchoçar (choça)...

Letras SS / Ç

SS Ç (só é grafado antes de a, o, u)

Terminação dos

superlativos sintéticos e do imperfeito de todos verbos.

Ex.: lindíssimo, corrêssemos...

Palavras derivadas de primitivas escritas com ç.

Ex.: embaçado

(embaço)...

Palavras ou radicais

iniciados por s que entram na formação de palavras derivadas ou compostas.

Ex.: homossexual (homo + sexual)

Verbos em -ecer, -escer.

Ex.: anoiteça (anoitecer)...

Palavras de origem árabe,

indígena e africana.

Ex.: paçoca, muçulmano, miçanga...

� Pontuação A língua escrita apresenta muitas diferenças em relação à língua falada. Na fala, podemos contar com uma série de recursos para dar eficácia à mensagem, tais como gestos, tom da voz, expressão facial, entoação, etc. Enfim, quando falamos, a nossa mensagem é reforçada por inúmeros recursos que não temos quando escrevemos. Há certos recursos da linguagem - pausa, melodia, entonação e até mesmo, silêncio - que só estão presentes na oralidade. Na linguagem escrita, para substituir tais recursos, usamos os sinais de pontuação. Estes são também usados para destacar palavras, expressões ou orações e esclarecer o sentido de frases, a fim de dissipar qualquer tipo de ambigüidade. Para tentar reproduzir na escrita os inúmeros recursos de que dispomos na fala, contamos com uma série de sinais gráficos denominados sinais de pontuação. Observe como as reticências são utilizadas para criar o clima de mistério: “era sexta-feira...” Os sinais de pontuação servem para marcar pausas (a vírgula, o ponto-e-vírgula, o ponto), ou a melodia da frase (o ponto de exclamação, o ponto de interrogação, etc.). Divisão e Emprego dos Sinais de Pontuação � 1. Vírgula Emprega-se a vírgula (uma breve pausa): a) para separar os elementos mencionados numa relação:

- A nossa empresa está contratando engenheiros, economistas, analistas de sistemas e secretárias.

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- O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois banheiros.

Nota: Mesmo que o e venha repetido antes de cada um dos elementos da enumeração, a vírgula deve ser empregada: Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e roía as unhas. b) para isolar o vocativo:

- Cristina, desligue já esse telefone! - Por favor, Ricardo, venha até o meu gabinete.

c) para isolar o aposto:

- Dona Sílvia, aquela mexeriqueira do quarto andar, ficou presa no elevador. - Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino.

d) para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás, além disso etc.):

- Gastamos R$ 5.000,00 na reforma do aparta-mento, isto é, tudo o que tínhamos economizado durante anos. - Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá.

e) para isolar o adjunto adverbial antecipado:

- Lá no sertão, as noites são escuras e perigosas. - Ontem à noite, fomos todos jantar fora.

f) para isolar elementos repetidos:

- O palácio, o palácio está destruído. - Estão todos cansados, cansados de dar dó!

g) para isolar, nas datas, o nome do lugar:

- São Paulo, 22 de maio de 1995. - Roma, 13 de dezembro de 1995.

h) para isolar os adjuntos adverbiais:

- A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio. - Os candidatos serão atendidos, das sete às onze, pelo próprio gerente.

i) para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e:

- Ele já enganou várias pessoas, logo não é digno de confiança. - Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir. - Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente.

j) para indicar a elipse de um elemento da oração:

- Foi um grande escândalo. Às vezes gritava; outras, estrebuchava como um animal. - Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente.

k) para separar o paralelismo de provérbios:

- Ladrão de tostão, ladrão de milhão. - Ouvir cantar o galo, sem saber onde.

l) após a saudação em correspondência (social e comercial):

- Com muito amor, - Respeitosamente,

m) para isolar as orações adjetivas explicativas:

- Marina, que é uma criatura maldosa, “puxou o tapete” de Juliana lá no trabalho.

- Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Graciliano Ramos.

n) para isolar orações intercaladas:

- Não lhe posso garantir nada, respondi seca-mente. - O filme, disse ele, é fantástico.

� 2. Ponto Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de um frase declarativa de um período simples ou composto.

- Desejo-lhe uma feliz viagem. - A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu interior era conservado com primor.

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O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas, por exemplo:

fev. = fevereiro, hab. = habitante, rod. = rodovia.

O ponto que é empregado para encerrar um texto escrito recebe o nome de ponto final. � 3. Ponto-e-vírgula Utiliza-se o ponto-e-vírgula para assinalar uma pausa maior do que a da vírgula, praticamente uma pausa intermediária entre o ponto e a vírgula. Geralmente, emprega-se o ponto-e-vírgula para: a) separar orações coordenadas que tenham um certo sentido ou aquelas que já apresentam separação por vírgula:

- Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tornou-se uma doidivanas.

b) separar vários itens de uma enumeração:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais; . . . . . . . . (Constituição da República Federativa do Brasil)

� 4. Dois-pontos Os dois-pontos são empregados para: a) uma enumeração:

- ... Rubião recordou a sua entrada no escritório do Camacho, o modo porque falou: e daí tornou atrás, ao próprio ato. - Estirado no gabinete, evocou a cena: o menino, o carro, os cavalos, o grito, o salto que deu, levado de um ímpeto irresistível... (Machado de Assis)

b) uma citação:

Visto que ela nada declarasse, o marido indagou: - Afinal, o que houve?

c) um esclarecimento:

- Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse, mas para magoar Lucila. - Observe que os dois-pontos são também usados na introdução de exemplos, notas ou observações.

Nota: A invocação em correspondência (social ou comercial) pode ser seguida de dois-pontos ou de vírgula:

- Querida amiga: - Prezados senhores,

� 5. Ponto de Interrogação O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta, ainda que esta não exija resposta:

O criado pediu licença para entrar: - O senhor não precisa de mim? - Não obrigado. A que horas janta-se? - As cinco, se o senhor não der outra ordem. - Bem. - O senhor sai a passeio depois do jantar? de carro ou a cavalo? - Não. (José de Alencar)

� 6. Ponto de Exclamação O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qualquer enunciado com entonação exclamativa, que normalmente exprime admiração, surpresa, assombro, indignação etc.

- Viva o meu príncipe! Sim, senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito repousante, Jacinto!

- Então janta, homem! (Eça de Queiroz)

Nota: O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas:

- Oh! - Valha-me Deus!

� 7. Reticências As reticências são empregadas para: a) assinalar interrupção do pensamento:

- Bem; eu retiro-me, que sou prudente. Levo a consciência de que fiz o meu dever. Mas o mundo saberá... (Júlio Dinis)

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b) indicar passos que são suprimidos de um texto:

- O primeiro e crucial problema de lingüística geral que Saussure focalizou dizia respeito à natureza da linguagem. Encarava-a como um sistema de signos... - Considerava a lingüística, portanto, com um aspecto de uma ciência mais geral, a ciência dos signos... (Mattoso Camara Jr.)

c) marcar aumento de emoção:

- As palavras únicas de Teresa, em resposta àquela carta, significativa da turvação do infeliz, foram estas: “Morrerei, Simão, morrerei. Perdoa tu ao meu destino... Perdi-te... Bem sabes que sorte eu queria dar-te... e morro, porque não posso, nem poderei jamais resgatar-te. (Camilo Castelo Branco)

� 8. Aspas As aspas são empregadas: a) antes e depois de citações textuais:

- Roulet afirma que “o gramático deveria descrever a língua em uso em nossa época, pois é dela que os alunos necessitam para a comunicação quotidiana”.

b) para assinalar estrangeirismos, neologismos, gírias e expressões populares ou vulgares:

- O “lobby” para que se mantenha a autorização de importação de pneus usados no Brasil está cada vez mais descarado. (Veja)

- Na semana passada, o senador republicano Charles Grassley apresentou um projeto de lei que pretende “deletar” para sempre dos monitores de crianças e adolescentes as cenas consideradas obscenas. (Veja)

- Popularidade no “xilindró” Preso há dois anos, o prefeito de Rio Claro tem apoio da população e quer uma delegada para primeira-dama. (Veja) - Com a chegada da polícia, os três suspeitos “puxaram o carro” rapidamente.

c) para realçar uma palavra ou expressão:

- Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não” sonoro. - Aquela “vertigem súbita” na vida financeira de Ricardo afastou-lhe os amigos dissimulados.

� 9. Travessão

Emprega-se o travessão para: a) indicar a mudança de interlocutor no diálogo:

- Que gente é aquela, seu Alberto? - São japoneses. - Japoneses? E... é gente como nós? - É. O Japão é um grande país. A única diferença é que eles são amarelos. - Mas, então não são índios? (Ferreira de Castro)

b) colocar em relevo certas palavras ou expressões:

- Maria José sempre muito generosa - sem ser artificial ou piegas - a perdoou sem restrições.

- Um grupo de turistas estrangeiros - todos muito ruidosos - invadiu o saguão do hotel no qual estávamos hospedados.

c) substituir a vírgula ou os dois pontos:

- Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem, a arte é a superioridade humana - acima dos preceitos que se combatem, acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga como a orgia e como o êxtase.(Raul Pompéia)

d) ligar palavras ou grupos de palavras que formam um “conjunto” no enunciado:

- A ponte Rio-Niterói está sendo reformada. - O triângulo Paris-Milão-Nova York está sendo ameaçado, no mundo da moda, pela ascensão dos estilistas do Japão.

� 10. Parênteses Os parênteses são empregados para: a) destacar num texto qualquer explicação ou comentário:

- Todo signo lingüístico é formado de duas partes associadas e inseparáveis, isto é, o significante (unidade formada pela sucessão de fonemas) e o significado (conceito ou idéia).

b) incluir dados informativos sobre bibliografia (autor, ano de publicação, página etc.): Mattoso Câmara (1977:91) afirma que, às vezes, os preceitos da gramática e os registros dos dicionários são discutíveis: consideram erro o que já poderia ser admitido e aceitam o que poderia, de preferência, ser posto de lado.

c) indicar marcações cênicas numa peça de teatro:

Abelardo I - Que fim levou o americano? João - Decerto caiu no copo de uísque! Abelardo I - Vou salvá-lo. Até já!

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(sai pela direita) (Oswald de Andrade)

d) isolar orações intercaladas com verbos declarativos, em substituição à vírgula e aos travessões:

- Afirma-se (não se prova) que é muito comum o recebimento de propina para que os carros apreendidos sejam liberados sem o recolhimento das multas.

� 11. Asterisco O asterisco, sinal gráfico em forma de estrela, é um recurso empregado para: a) remissão a uma nota no pé da página ou no fim de um capítulo de um livro:

- Ao analisarmos as palavras sorveteria, sapataria, confeitaria, leiteria e muitas outras que contêm o morfema preso* -aria e seu alomorfe -eria, chegamos à conclusão de que este afixo está ligado a estabelecimento comercial. Em alguns contextos pode indicar atividades, como em: bruxaria, gritaria, patifaria etc. - * É o morfema que não possui significação autônoma e sempre aparece ligado a outras palavras.

b) substituição de um nome próprio que não se deseja mencionar:

- O Dr.* afirmou que a causa da infecção hospitalar na Casa de Saúde Municipal está ligada à falta de produtos adequados para assepsia.

� Acentos O português, assim como outras línguas neolatinas, apresenta acento gráfico. Toda palavra da língua portu-guesa de duas ou mais sílabas possui uma sílaba tônica. Observe as sílabas tônicas das palavras arte, gentil, táxi e mocotó. Você constatou que a tonicidade recai sobre a sílaba inicial em arte, a final em gentil, a inicial em táxi e a final em mocotó. Além disso, você notou que a sílaba tônica nem sempre recebe acento gráfico. Portanto, todas as palavras com duas ou mais sílabas terão acento tônico, mas nem sempre terão acento gráfico. A tonicidade está para a oralidade (fala) assim como o acento gráfico está para a escrita (grafia). Regras de Acentuação de Acordo com a Nova Ortografia

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram)

Proparoxítonas Sempre Simpática, Lúcido, Sólido, Cômodo

Observações (como ficaram)

Continua tudo igual ao que era antes da nova ortografi a

Observe: Pode-se usar acento agudo ou circunflexo de acordo com a pronúncia da região: acadêmico, fenômeno (Brasil) aça-démico, fenómeno (Portugal).

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplo s

(como eram)

Paroxítonas

Se terminadas em: R, X, N, L, I, IS,

UM, UNS, US, PS, Ã, ÃS, ÃO, ÃOS;

ditongo oral, seguido ou não

de S

fácil, táxi, tênis, hífen, próton,

álbum(ns), vírus, caráter, látex,

bíceps, ímã, órfãs, bênção, órfãos, cárie, árduos, pólen, éden.

Observações (como ficaram)

Continua tudo igual. Observe: 1. Terminadas em ENS não levam acento: hifens, polens. 2. Usa-se indiferentemente agudo ou circunflexo se houver variação de pronúncia: sêmen, fêmur (Brasil) ou sêmen, fémur (Portugal). 3. Não ponha acento nos prefixo paroxítonos que terminam em R nem nos que terminam em I: inter-helênico, super-homem, anti-herói, semi-internato.

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram)

Oxítonas Se terminadas

em: A, AS, E, ES, O, OS, EM, ENS

vatapá, igarapé, avô, avós,

refém, parabéns

Observações (como ficaram)

Continua tudo igual. Observe: 1. terminadas em I, IS, U, US não levam acento: tatu, Morumbi, abacaxi. 2. Usa-se indiferentemente agudo ou circunflexo se houver vari-ação de pronúncia: bebê, purê (Brasil); bebé, puré (Portugal).

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram) Monossílabos tônicos (são

oxítonas também)

terminados em A, AS, E,

ES, O,OS

vá, pás, pé, mês, pó, pôs

Observações (como ficaram)

Continua tudo igual.

Atente para os acentos nos verbos com formas oxítonas: adorá-lo, debatê-lo, etc.

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram) Í e Ú em

palavras oxítonas Í e Ú levam acento

se estiverem saída, saúde,

miúdo, aí, Araújo,

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e paroxítonas sozinhos na sílaba (hiato)

Esaú, Luís, Itaú, baús, Piauí

Observações (como ficaram)

1. Se o i e u forem seguidos de s, a regra se mantém: ba-laústre, egoísmo, baús, jacuís. 2. Não se acentuam i e u se depois vier 'nh ': rainha, tainha, moinho. 3. Esta regra é nova : nas paroxítonas , o i e u não serão mais acentuados se vierem depois de um ditongo: baiuca, bocaiuva, feiura, maoista, saiinha (saia pequena), cheiinho (cheio). 4. Mas, se, nas oxítonas , mesmo com ditongo, o i e u esti-verem no final, haverá acento: tuiuiú, Piauí, teiú.

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram) Ditongos abertos

em palavras paroxítonas

EI, OI, idéia, colméia, bóia

Observações (como ficaram)

Esta regra desapareceu (para palavras paroxítonas). Escreve-se agora: ideia, colmeia, celuloide, boia. Observe: há casos em que a palavra se enquadrará em outra regra de acentuação. Por exemplo: contêiner, Méier, destróier serão acentuados por-que terminam em R.

Tipo d e Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram) Ditongos abertos

em palavras oxítonas

ÉIS, ÉU(S), ÓI(S) papéis, herói,

heróis, troféu, céu, mói (moer)

Observações (como ficaram)

Continua tudo igual (mas, cuidado: somente para palavras oxítonas com uma ou mais sílabas).

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram)

Verbos arguir e redarguir (agora

sem trema)

arguir e redarguir usavam acento

agudo em algumas pessoas do

indicativo, do subjuntivo e do

imperativo afirmativo.

Observações (como ficaram)

Esta regra desapareceu. Os verbos arguir e redarguir perderam o acento agudo em várias formas (rizotônicas): eu arguo (fale: ar-gú-o, mas não acentue); ele argui (fale: ar-gúi), mas não acentue.

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram)

Verbos terminados em

guar, quar e quir

Aguar, enxaguar, averiguar, apazi-guar, delinquir,

obliquar usavam acento agudo em algumas pessoas do indicativo, do subjuntivo e do imperativo afir-

mativo.

Observações (como ficaram)

Esta regra sofreu alteração. Observe: Quando o verbo admitir duas pronúncias diferentes, usando a ou i tônicos, aí acentuamos estas vogais: eu águo, eles águam e enxáguam a roupa (a tônico); eu delínquo, eles delínquem (í tônico). tu apazíguas as brigas; apazíguem os grevistas. Se a tônica, na pronúncia, cair sobre o u, ele não será acentuado: Eu averiguo (diga averi-gú-o, mas não acentue) o caso; eu aguo a planta (diga a-gú-o, mas não acentue).

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram)

ôo, ee vôo, zôo, enjôo, vêem

Observações (como ficaram)

Esta regra desapareceu. Agora se escreve: zoo, perdoo veem, magoo, voo.

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram)

Verbos ter e vir

na terceira pessoa do plural do presente do indicativo

eles têm, eles vêm

Observações (como ficaram)

Continua tudo igual. Ele vem aqui; eles vêm aqui. Eles têm sede; ela tem sede.

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram)

Derivados de ter e vir (obter,

manter, intervir)

na terceira pessoa do singular leva acento agudo;

na terceira pessoa do plural do

presente levam circunflexo

ele obtém, detém, mantém;

eles obtêm, detêm,

mantêm

Observações (como ficaram)

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Continua tudo igual.

Tipo de Palavra ou Sílaba Quando Acentuar Exemplos

(como eram) Acento

diferencial

Observações (como ficaram)

Esta regra desapareceu, exceto para os verbos:

PODER (diferença entre passado e presente.

Ele não pôde ir ontem, mas pode ir hoje. PÔR (diferença com a preposição por):

Vamos por um caminho novo, então vamos pôr casa-cos;

TER e VIR e seus compostos (ver acima). Observe: 1. Perdem o acento as palavras compostas com o verbo PARAR: Para-raios, para-choque. 2. FÔRMA (de bolo): O acento será opcional; se possível, deve-se evitá-lo: Eis aqui a forma para pudim, cuja forma de pagamento é parcelada.

Trema (O trema não é acento gráfico.) Desapareceu o trema sobre o U em todas as palavras do português: Linguiça, averiguei, delinquente, tranquilo, linguístico.

Exceto as de língua estrangeira: Günter, Gise-le Bündchen, müleriano

� Sinais Diacríticos Usa-se acento diferencial em algumas palavras, supostamente para diferenciá-las de outras com grafia idêntica, exceto pelo acento. Esse recurso é usado, por exemplo, para diferenciar entre duas flexões verbais como em: vem (singular) e vêm (plural). Em alguns casos, temos fonemas distintos, em outros não. Veja na tabela a seguir, alguns pares de palavras cuja grafia se diferencia pelos acentos diferenciais.

Sem Acento Com Acento As palavras. Às do volante. Siga pela estrada. Péla de borracha. Entrada pelo portão principal. Pêlo de barba. Vá para casa. Tenho medo que me pélo . Ele pode vencer mas é impro-vável.

O carro pára na esquina.

Cidade pólo regional. Ele pôde vencer porque se esforçou.

Venha por aqui. O pequeno pólo bateu as asas.

Ele sabe o porquê do proble-ma.

Vamos pôr combustível no tanque.

Ele tem um bom carro. Vou porque quero. Paulo vem para o almoço. Eles têm uma bela casa. Eles vêm para o almoço. � Crase Crase é a fusão da preposição a com o artigo a ou com o a inicial dos pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo ...etc. Na escrita é indicada por meio do acento grave ( ` ).Para que ela ocorra, é necessário que haja:

a) um termo regente que exija a preposição a; b) um termo regido que seja modificado pelo artigo a ou por um dos pronomes demonstrativos de 3.ª pessoa mencionados acima .

Regra Geral A crase ocorrerá sempre que o termo anterior exigir a preposição a e o termo posterior admitir o artigo a ou as.

Vou a a praia.= Vou à praia.

Para se certificar, substitua o termo feminino por um masculino, se a contração ao for necessária, a crase será necessária.

Ex.: Vou à praia./ Vou ao clube. Emprego Obrigatório da Crase Sempre ocorrerá crase: 1) Nos casos em que a regra geral puder ser aplicada.

Ex.: Dirigiu-se à professora.

2) Nas locuções conjuntivas, adverbiais e prepositivas (formadas por a + palavra feminina). - À medida que passa tempo a violência aumenta. - O povo brasileiro vive à mercê de políticos muitas das vezes corruptos. - Gosto muito de sair à noite .

3) Na indicação do número de horas, quando ao trocar

o número de horas pela palavra meio-dia, obtivermos a expressão ao meio-dia.

- Retornou às oito horas em ponto./( Retornou ao meio-dia em ponto.)

4) Nas expressões à moda de , à maneira de mesmo quando essas estiverem implícitas.

Ex.:Farei para o jantar uma bacalhoada (à moda de Portugal) à portuguesa.

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Emprego Facultativo da Crase 1) Diante de pronomes possessivos femininos.

Vou a sua casa./ Vou à sua casa.

2) Diante de nomes próprios femininos. Não me referia a Eliana./ Não me referia à Eliana.

3) Depois da preposição até. Foi até a porta./ Foi até à porta.

Casos em que Nunca ocorre a Crase 1) Diante de palavras masculinas.

Ex.:Saiu a cavalo e sofreu uma queda.

2) Diante de verbos. Ex.:Ele está apto a concorrer ao cargo.

3) Diante de nome de cidade (topônimo) que repudie o artigo. Ex.:Turistas vão freqüentemente a Tiradentes.

DICAS: Descubra se o nome da cidade aceita artigo: use o verbo VOLTAR . Se houver contração de preposição e artigo, existirá crase.

Ex.: Voltei da Espanha./ Fui à Espanha. Voltei de Tiradentes./ Fui a Tiradentes.

Se o nome da cidade estiver determinado, a crase será obrigatória. Ex.: Fui à histórica Tiradentes. 4) Em expressões formadas por palavras repetidas ( uma a uma, frente a frente, etc.)

Ex.: Olhamo-nos cara a cara . 5) Quando o a estiver no singular diante de uma palavra no plural.

Ex.: Como posso resistir a pessoas tão encantadoras?

6) Diante do artigo indefinido uma.

Ex.: Isto me levou a uma decisão drástica.

7) Diante de Nossa Senhora e de nomes de santos.

Ex.: Entregarei a Nossa Senhora da Conceição minha oferenda.

8) Diante da palavra terra, quando esta significar terra firme, tomada em oposição a mar ou ar.

Ex.: Os pilotos já voltaram a terra . 9) Diante da palavra casa (no sentido de lar, moradia) quando esta não estiver determinada por adjunto adnominal.

Ex.: Não voltarei a casa esta semana. Caso a palavra casa venha determinada por adjunto adnominal, ocorrerá a crase.

Ex.: Não voltarei à casa de meus pais esta semana.

10) Diante de pronomes que não admitem artigo: relativos, indefinidos, pessoais, tratamento e demonstrativos.

Ex.: Dei a ela oportunidade de se redimir./ Solicito a V.Sª a confirmação do pedido./ Convidei a várias pessoas para a reunião.

11) Diante de numerais cardinais quando estes se referem a substantivos não determinados pelo artigo.Ex.: Daqui a duas semanas retornarei ao trabalho. Crase da Preposição “A” com s Pronomes Demonstrativos Preposição a + pronomes = à, àquilo, àquele(s), àquela (s)

Ex.: Assistimos àquela peça teatral. A crase da preposição a com o pronome demonstrativo a ocorrerá sempre antes do pronome relativo que (à que) ou da preposição de (à de).

Ex.: Esta não é a pessoa à que me referia. 6. ESTILÍSTICA: FIGURAS DE LINGUAGEM As figuras de palavra consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empre-gado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação. São figuras de palavras: Comparação: Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, li-gados por conectivos comparativos explícitos - feito, as-sim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem - e alguns verbos - parecer, assemelhar-se e outros.

Exemplos: "Amou daquela vez como se fosse máquina. / Beijou sua mulher como se fosse lógi-co." (Chico Buarque);

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"As solteironas, os longos vestidos negros fecha-dos no pescoço, negros xales nos ombros, pare-ciam aves noturnas paradas..." (Jorge Amado).

Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também po-de ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido.

Exemplo: "Supondo o espírito humano uma vas-ta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão." (Machado de As-sis).

Metonímia: Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou impli-cação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa rela-ção objetiva, real, realizando-se de inúmeros modos:

- o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de sair, tomamos um cálice (o conteúdo de um cálice) de licor. - a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o o-perário ia / Com suor e com cimento (com traba-lho) / Erguendo uma casa aqui / Adiante um apartamento." (Vinicius de Moraes). - o lugar de origem ou de produção pelo produto: Comprei uma garrafa do legítimo porto (o vinho da cidade do Porto). - o autor pela obra: Ela parecia ler Jorge Amado (a obra de Jorge Amado). - o abstrato pelo concreto e vice-versa: Não de-vemos contar com o seu coração (sentimento, sensibilidade). - o símbolo pela coisa simbolizada: A coroa (o poder) foi disputada pelos revolucionários. - a matéria pelo produto e vice-versa: Lento, o bronze (o sino) soa.

- o inventor pelo invento: Edson (a energia ele-trica) ilumina o mundo. - a coisa pelo lugar: Vou à Prefeitura (ao edifício da Prefeitura). - o instrumento pela pessoa que o utiliza: Ele é um bom garfo (guloso, glutão).

Sinédoque: Ocorre sinédoque quando há substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa relação quantitativa. En-contramos sinédoque nos seguintes casos:

- o todo pela parte e vice-versa: "A cidade inteira (o povo) viu assombrada, de queixo caído, o pis-toleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (par-te das patas) de seu cavalo." (J. Cândido de Car-valho)

- o singular pelo plural e vice-versa: O paulista (todos os paulistas) é tímido; o carioca (todos os cariocas), atrevido. - o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo no-me comum): Para os artistas ele foi um mecenas (protetor).

Catacrese: A catacrese é um tipo de especial de metá-fora, "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação in-dividual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito lingüís-tico, já fora do âmbito estilístico." (Othon M. Garcia).

Exemplos: folhas de livro / pele de tomate / den-te de alho / montar em burro / céu da boca / ca-beça de prego / mão de direção / ventre da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco.

Sinestesia: A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).

Exemplo: "A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco e veludo de mus-go. Milagrosa aquela mancha verde [sensação visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal." (Augusto Meyer)

Antonomásia: Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue. Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome pró-prio.

Exemplos: "E ao rabi simples (Cristo), que a igualdade prega, / Rasga e enlameia a túnica inconsútil; (Raimundo Correia). / Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) / O Cisne de Mântua (= Virgílio) / O poeta dos escravos (= Castro Alves) / O Dante Negro (= Cruz e Souza) / O Corso (= Napoleão)

Alegoria: A alegoria é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que consiste em expressar uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um referencial e outro metafórico.

Exemplo: "A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lu-tam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numero-sos, muitos bailados, e a orquestra é excelen-te..." (Machado de Assis).

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7. REESCRITURA DE FRASES: SUBSTITUIÇÃO, DESLOCAMENTO,

PARALELISMO; VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: NORMA CULTA

A reescrita é o momento final do trabalho. Após todas as etapas anteriores cumpridas finalmente o texto é passado a limpo. A auto-correção deve ser observada nessa etapa, isto é, reescrever com as devidas correções e aperfeiçoamentos, por meio da elaboração de atividades que ofereçam instrumentos lingüísticos (questões lingüísticas e discursivas) para o aluno revisar o texto. Aqui entrarão os conteúdos metalingüísticos que devem ser estudados na respectiva série, mostrando as suas finalidades, e de que eles são um meio para a qualificação e não o todo descontextualizado, como ocorre tradicionalmente através de frases soltas, as quais só possuem finalidades didáticas e não comunicativas e sociais. Como afirmam os autores Guedes e Souza no seu artigo: Finalmente, é preciso que o professor seja professor e examine esses textos para orientar minuciosamente as reescritas que vão qualificá-los. Orientar a reescrita não é apenas adequar o conteúdo às verdades estabelecidas da ciência nem a forma do texto ao modo consagrado de escrever [...], é principalmente levar o autor a repensar a pertinência dos dados com que está lidando [...] perguntar-se para que vai servir o que está escrevendo. (GUEDES E SOUZA, 2001, p. 149). Os objetivos que foram prometidos no início da tarefa, nesse momento devem ser concretizados, isto é, o livro de autoria dos alunos, a feira do livro, o jornal da turma etc. Nesse instante podemos afirmar que a disciplina de língua portuguesa cumpriu a sua missão social. Como escreveu Paulo Freire um importante referencial pedagógico brasileiro: [...] somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. [...] Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. (FREIRE, 2002, 77). Parafrasear, criar e argumentar são caminhos para uma expressão escrita coerente, autêntica e adequada aos diferentes gêneros textuais. Visando aperfeiçoar a escrita, Lister elaborara uma seriação de exercícios, composta de cinco traçados:

a) linhas inclinadas, muito juntas, tomando duas pautas do papel comum, contando-se 1.2, 1.2, ...; b) ovais, na mesma inclinação do exercício anterior, primeiramente da esquerda para a direita, depois da direita para a esquerda; c) ovais, em série de seis ou oito; d) curvas; e) alças.

Os exercícios tinham por finalidade desenvolver inclinação, espessura e leveza das linhas. Depois de otimizada a técnica motriz, aprendiam os alunos e alunas a fazer letras isoladas e, finalmente, ligações. Os cuidados com a posição do corpo do/a escolar, do papel e do lápis ou pena, eram apontados como fundamentais. Escrever bem não é uma das tarefas mais simples dessa

vida, isso é fato, mas, de modo geral, escrever corretamente é algo acessível a todas as pessoas praticamente. Deixando de lado os fatores sociais e econômicos, escrever, pelo menos de maneira adequada, depende de uma série de fatores, que, normalmente, podem ser conseguidos individualmente, sem dependência de mestres ou incentivos de qualquer natureza. Evidentemente, a habilidade de combinar palavras, aliada a capacidade de inventar (ou narrar) histórias e descrever cenários interessantes são bastante pessoais, porém, podem ser desenvolvidas e treinadas. Felizmente, ninguém está fadado a escrever mal toda a vida. Não pretendo fazer nenhuma espécie de manual de boa escrita ou de como se tornar um escritor, até mesmo porque não saberia como fazê-lo. Para isso, basta procurar na web que há inúmeros textos desse tipo, estilo manual de redação para vestibulandos (aliás, geralmente péssimos, pois, quase sempre não parecem considerar fatores fundamentais). Desejo, entretanto, explicar a minha visão de como evoluir no assunto e de como criarei meu filho para que aos 18 anos ele não precise ler manuais de como escrever bem para fazer a redação do vestibular, se ele quiser prestar, a propósito. Antes de entrar nas Maroldicas, convém inicialmente oficializarmos a separação entre os tipos de escrita, afinal, escrever para um blog não é similar a escrever para o New York Times, assim como escrever para o saudoso Notícias Populares não é como escrever um livro. Pretendo abordar todos esses tipos de escrita, se possível, estendendo-o até as colunas futuras, se o editor desse Digestivo não me der o bilhete azul antes. Como escrever clara, coerente e objetivamente Nenhum humano nasce escrevendo, parece. Logo, deve existir algo que ocorre entre a saída do útero materno e o recebimento do Pulitzer. Bem, eu não sei o que é esse algo, mas posso chutar. Evidentemente, há casos extremos em que percebemos nitidamente que o escritor é um gênio, o que significa que o cérebro dele foi concebido para fazer aquilo – escrever - melhor do que as demais atividades (e, portanto, melhor que as demais pessoas). Esse tipo de escritor não me interessa pois é assunto da ciência, ele não é um cara qualquer. Interessa-me sim o escritor comum que escreve bem e que é igual a mim, e que deve ter sido “treinado” para isso. De modo geral – e já até demorei demais para falar isso – essas pessoas lêem muito. Diariamente. Incessantemente, às vezes. Na minha opinião, qualquer tipo de leitura treina o cérebro. Portanto, se você não se importar em treiná-lo apenas com vocabulário e linguagem web, leia apenas blogs. Se você não se importar em treiná-lo em frases triviais com apenas 3 ou 4 palavras, leia gibi. Mas, se você quiser um pouco de tudo isso, leia de tudo, mas privilegie as pessoas que escrevam bem, pois elas podem te ensinar mais sobre como escrever do que os que escrevem não adequadamente. Está bem, está bem, eu disse o óbvio agora. Mas, então, porque as pessoas não fazem isso? Um dia conheci um rapaz que fazia jornalismo e tinha como ídolo literário nosso best-seller Paulo Coelho. Percebi que tinha algo errado, mas fiquei quieto, desconfiado, até receber um e-mail dele, contendo mais erros em 10 linhas do que todos os erros que Olavo Bilac escreveu na sua obra toda. Conversamos umas vezes depois... Ele ouvia os nomes e obras consagrados como se ouvisse pela primeira vez o grito de guerra da equipe iraquiana de hóquei sobre o gelo. Um dia, comentei: se

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você quer escrever bem, não pode ler mal. O modo como se lê também é importante. Eu sei, ler é ler, certo? Errado. Não são todas as pessoas que lêem da mesma maneira... Ler como lazer não é como ler para aprender. Infelizmente. Seria muito mais fácil se cada vez que eu lesse um texto assimilasse tudo o que está nele, mesmo se naquele dia lia apenas para me distrair, enquanto o bebê confecciona uma sinfonia doce e meu time corria na TV ligada. Esse dia não devo ter prestado muita atenção porque até precisei voltar umas páginas atrás, depois, somente para descobrir o que tinha acontecido nelas... E, se eu quisesse ter aprendido mais, deveria ter analisado o texto, as frases, aprendido com as construções, o modo como ele descrevia a arma usada no crime, os adjetivos desconhecidos que ele atribuía ao assassino. E não fiz nada disso, só li. Eu me distraí, é verdade, mas foi só isso. Eu não tive uma aula de literatura na sala da minha casa naquele dia, ainda que o autor tivesse me mostrado exatamente como ele escrevia. Bem, meu moleque já sabe que terá que ler, o que ler, quanto ler e até como ler. Agora é só esperar pelo sucesso, não? Não. Ele vai ter que escrever, escrever, escrever. Quando, aos 7, ele me trouxer uma poesia própria (que a mãe dele vai guardar, acredito), não vai ser tão boa quanto aquela que ele escrever aos 10. Nem a dos 15. Se ele parar para analisar, verá que tudo parece ser uma evolução na arte da escrita. Ele poderá ler todos os livros da biblioteca do rei Salomão, mas, se jamais escrever algo, minha editora terá que recusar seu primeiro conto, que estará fraco e imaturo. Daí, quando ele estiver revoltado comigo e ameaçar sair de casa, terei que explicar que o segundo geralmente sai melhor que o primeiro e assim por diante. É treino, meu filho. Você já aprendeu a ler, já o fez suficientemente, agora treine escrever suas próprias histórias e seus próprios personagens... Ele irá até me agradecer, anos depois dessa última aula, pois ele mesmo verá que o texto passa a fluir mais tranqüilamente quando já se escreveu dezenas deles pela vida. Você passa a arriscar mais, repete construções que lhe agradaram, insere vocabulário novo, sabe o que interessa ao leitor, sabe, enfim, escrever. Substituição: substituição de um nome (pessoa, objeto, lugar etc.), verbos, períodos ou trechos do texto por uma palavra ou expressão que tenha sentido próximo, evitando a repetição no corpo do texto.

Ex.: Porto Alegre pode ser substituída por “a capital gaúcha”; Castro Alves pode ser substituído por “O Poeta dos Escravos”; João Paulo II: Sua Santidade; Vênus: A Deusa da Beleza.

Ex.: Castro Alves é autor de uma vastíssima obra literária. Não é por acaso que o "Poeta dos Escravos"é considerado o mais importante da geração a qual representou. Assim, a coesão confere textualidade aos enunciados agrupados em conjuntos. A mãe pediu para a menina ir ao supermercado e que, na volta, passasse na farmácia. Se você prestou atenção à frase, percebeu que existe um problema na sua construção. Por quê? Vamos analisá-la.

A oração para a menina ir ao supermercado é reduzida de infinitivo; a oração que, na volta, passasse na farmácia é uma oração desenvolvida. Tal estrutura apresenta incorreção, pois orações coordenadas entre si devem apresentar a mesma estrutura gramatical, ou seja, deve haver paralelismo. Veja como fica a frase, respeitando-se o paralelismo:

A mãe pediu para a menina ir ao supermercado e, a volta, passar na farmácia.

Segundo as regras da norma culta, não se podem coordenar frases que não comportem constituintes do mesmo tipo. O paralelismo dá clareza à frase ao apresentar estruturas idênticas, pois para idéias similares devem corresponder formas verbais similares. Paralelismo nas Construções a) Ricardo estava aborrecido por ter perdido a hora do teste e porque seu pai não o esperou.

Correção: Ricardo estava aborrecido por ter perdido a hora do teste e por seu pai não tê-lo esperado. Ricardo estava aborrecido porque perdeu a hora do teste e porque seu pai não o esperou.

b) Manda-me notícias de minha prima Isoldina e se meu pai resolveu aquele problema que o atormentava.

Correção: Manda-me notícias de minha prima Isoldina e descobre se meu pai resolveu aquele problema que o atormentava.

Paralelismo Semântico a) Meu pai pratica tênis e faz um ótimo churrasco.

Correção: Meu pai tem duas paixões: praticar tênis e fazer churrasco.

b) Ela possui lindos cabelos loiros, um corpo fantástico e muita simpatia.

Correção: Ela possui lindos cabelos loiros, um corpo fantástico e é muito simpática.

Paralelismo Sintático O que se denomina paralelismo sintático é um encadeamento de funções sintáticas idênticas ou um encadeamento de orações de valores sintáticos iguais. Orações que se apresentam com a mesma estrutura sintática externa, ao ligarem-se umas às outras em processo no qual não se permite estabelecer maior relevância de uma sobre a outra, criam um processo de ligação por coordenação. Diz-se que estão formando um paralelismo sintático.

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e, sem

Ele conseguiu transformar-se no Ministro das Relações Exteriores e no homem forte do governo. Não adianta destruir a Bolívia sem romper o contrato do gás.

não só... mas também

O projeto não só será aprovado, mas também posto em prática imediatamente.

mas

Não estou descontente com seu desempenho, mas com sua arrogância.

ou

O governo ou se torna racional ou se destrói de vez. " Maria Rita, ou seja amiga dos alunos ou perca o emprego."

tanto... quanto

Estávamos questionando tanto seu modo de ver os problemas quanto sua forma de solucioná-los.

isto é, ou seja

Você deveria estar preocupado com seu futuro, isto é, com sua sobrevivência.

Variação Linguística A língua escrita, estática, mais elaborada e menos econômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada. A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação (melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e a evoluções. Nenhuma, porém, se sobrepõe a outra em importância. Nas escolas principalmente, costuma se ensinar a língua falada com base na língua escrita, considerada superior. Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, a que os professores sempre estão atentos. Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mostrando as características e as vantagens de uma e outra, sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade ou inferioridade, que em verdade inexiste. Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na língua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de dialetos, conseqüência natural do enorme distanciamento entre uma modalidade e outra. A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-elaborada que a língua falada, porque é a modalidade que mantém a unidade lingüística de um povo, além de ser a que faz o pensamento atravessar o

espaço e o tempo. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, se processam lentamente e em número consideravelmente menor, quando cotejada com a modalidade falada. Importante é fazer o educando perceber que o nível da linguagem, a norma lingüística, deve variar de acordo com a situação em que se desenvolve o discurso. O ambiente sociocultural determina. O nível da linguagem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não fala com uma criança como se estivesse dizendo missa, assim como uma criança não fala como um adulto. Um engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e na sala de aula. Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre esses níveis, se destacam em importância o culto e o cotidiano, a que já fizemos referência. A Gíria Ao contrário do que muitos pensam, a gíria não constitui um flagelo da linguagem. Quem, um dia, já não usou bacana, dica, cara, chato, cuca, esculacho, estrilar? O mal maior da gíria reside na sua adoção como forma permanente de comunicação, desencadeando um processo não só de esquecimento, como de desprezo do vocabulário oficial. Usada no momento certo, porém, a gíria é um elemento de linguagem que denota expressividade e revela grande criatividade, desde que, naturalmente, adequada à mensagem, ao meio e ao receptor. Note, porém, que estamos falando em gíria, e não em calão. Ainda que criativa e expressiva, a gíria só é admitida na língua falada. A língua escrita não a tolera, a não ser na reprodução da fala de determinado meio ou época, com a visível intenção de documentar o fato, ou em casos especiais de comunicação entre amigos, familiares, namorados, etc., caracterizada pela linguagem informal. Toda língua possui variações lingüísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações lingüísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.

1. Em sociedades complexas convivem variedades lingüísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;

2. Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;

3. Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.

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Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo. Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco. Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho. Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado. Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe. Simplificação da concordância: as menina/as meninas. Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças. Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora. Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também). Desnasalização das vogais postônicas: home/homem. Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe. Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor. Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama. Variações Regionais: Os Sotaques Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma linguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil: Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo. Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação lingüística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil. Antigamente "Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio." Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do século 21? Toda língua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era usado na época medieval. Língua e Status Nem todas as variações lingüísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas

variações usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regiões, para percebers que há preconceito em relação a elas. Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto: O Poeta da Roça

Sou fio das mata, canto da mão grossa, Trabáio na roça, de inverno e de estio. A minha chupana é tapada de barro,

Só fumo cigarro de paia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé De argun menestré, ou errante canto Que veve vagando, com sua viola,

Cantando, pachola, à percura de amô. Não tenho sabença, pois nunca estudei,

Apenas eu sei o meu nome assiná. Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,

E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graça, Não entra na praça, no rico salão,

Meu verso só entra no campo e na roça Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

(...) Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por essa poesia? Patativa do Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa. Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, já em 1922, enfatizou a busca por uma "língua brasileira". Vício na Fala

- Para dizerem milho dizem mio - Para melhor dizem mio - Para pior pio - Para telha dizem teia - Para telhado dizem teiado

Uma certa tradição cultural nega a existência de determinadas variedades lingüísticas dentro do país, o que acaba por rejeitar algumas manifestações lingüísticas por considerá-las deficiências do usuário. Nesse sentido, vários mitos são construídos, a partir do preconceito lingüístico. Locutor e Interlocutor No texto dialogal (entrevista, debate, chat, etc.), há duas (ou mais) instâncias produtoras de discurso que interagem: aquilo que um interventor diz determina e é determinado pelo que lhe é dito pelo outro interventor. Os

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locutores num texto dialogal são automaticamente interlocutores e são identificados à cabeça do texto. Num texto não dialogal, ou seja, em textos dominados por seqüências descritivas ou narrativas ou instrucionais ou argumentativas, o locutor é a instância que produz a enunciação, e o interlocutor é aquele a quem se dirige a enunciação. O interlocutor pode estar explicitado:

- por um vocativo:Aceitou este Maia; mas, gostando dele, e muito, por que é que não acabava de casar? Por quê? Eis aí o mais difícil de aventar, amigo leitor. Jucunda não sabia o motivo» (in Machado de Assis, D. Jucunda).

- através de formas pronominais e verbais de 2.ª pessoa: Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? (...) Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir» (in Padre António Vieira, Sermão da Sexagésima).

O interlocutor tem de ser inferido: por exemplo, as respostas dadas aqui, na Editora, têm como interlocutor imediato o consulente que faz a pergunta. Isso sabe-se porque o enquadramento comunicacional em questão é o de um consultório lingüístico. � Linguagem Formal e Norma Culta Liguagem Formal: É aquela linguagem que ultilizada de acordo com as normas cultas do nosso português. Norma Culta: Para os lingüistas, a língua-padrão se estriba nas normas e convenções agregadas num corpo chamado de gramática tradicional e que tem a veleidade de servir de modelo de correção para toda e qualquer forma de expressão lingüística. Querer que todos falem e escrevam da mesma forma e de acordo com padrões gramaticais rígidos é esquecer-se que não pode haver homogeneidade quando o mundo real apresenta uma heterogeneidade de comportamentos lingüísticos, todos igualmente corretos [não se pode associar “correto” somente a culto].

Em suma: há uma realidade heterogênea que, por abrigar diferenças de uso que refletem a dinâmica social, exclui a possibilidade de imposição ou adoção como única de uma língua-modelo baseada na gramática tradicional, a qual, por sua vez, está ancorada nos grandes escritores da língua, sobretudo os clássicos , sendo pois conservadora. E justamente por se valer de escritores é que as prescrições gramaticais se impõem mais na escrita do que na fala. “ A cultura escrita, associada ao poder social, desencadeou também, ao longo da história, um processo fortemente unificador (que vai alcançar

basicamente as atividades verbais escritas), que visou e visa uma relativa estabilização lingüística, buscando neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome de norma-padrão ou língua-padrão ” (Faraco, Carlos Alberto, “Norma-padrão brasileira”. In Bagno, M. (org.). Lingüística da norma . SP: Loyola, 2002, p.40).

Aryon Rodrigues (in Bagno 2002, p.13) entra na discussão: “ Freqüentemente o padrão ideal é uma regra de comportamento para a qual tendem os membros da sociedade, mas que nem todos cumprem, ou não cumprem integralmente ”. Mais adiante, ao se referir à escola, ele professa que nem mesmo os professores de Língua Portuguesa escapam a esse destino: “ Comumente, entretanto, o mesmo professor que ensina essa gramática não consegue observá-la em sua própria fala nem mesmo na comunicação dentro de seu grupo profissional ” (p. 18). Vamos ilustrar os argumentos acima expostos. Não há brasileiro – nem mesmo professores de português – que não fale assim:

- Me conta como foi o fim de semana... - Te enganaram, com certeza! - Me explica uma coisa: você largou o emprego ou foi mandado embora?

Ou mesmo assim:

- Tive que levar os gatos, pois encontrei eles bem machucados. - Conheço ela há muito tempo – é ótima menina. - Acho que já lhe conheço, rapaz.

Então, se os falantes cultos, aquelas pessoas que têm acesso às regras padronizadas, incutidas no processo de escolarização, se exprimem desse modo, essa é a norma culta . Já as formas propugnadas pela gramática tradicional e que provavelmente só se encontrariam na escrita [ conta-me como foi / enganaram-te / explica-me uma coisa / pois os encontrei / conheço-a há tempos / acho que já o conheço ] configuram a norma-padrão ou língua-padrão. Se para os cientistas da língua, portanto, existe uma polarização entre a norma-padrão (também denominada “norma canônica” por alguns lingüistas) e o conjunto das variedades existentes no Brasil, aí incluída a norma culta, no senso comum não se faz distinção entre padrão e culta. Para os leigos, a população em geral, toda forma elevada de linguagem, que se aproxime dos padrões de prestígio social, configura a norma culta. Fica evidente em todas as consultas recebidas no saite Língua Brasil que as pessoas transitam pela norma culta e norma-padrão sem fazer distinção entre as duas, pois é realmente tênue a linha demarcatória entre elas. � Linguagem Informal A linguagem coloquial, informal ou popular é uma linguagem utilizada no cotidiano em que não exige a

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observância total da gramática, de modo que haja mais fluidez na comunicação feita através de jornais, revistas e principalmente num diálogo. Na linguagem informal usam-se muitas gírias e palavras infanto-juvenis e livros de muitos diálogos. Em contrapartida a linguagem formal ou culta é aquela que carrega consigo a rigidez das normas gramaticais, utilizada principalmente em textos e profissões que a exigem como no Direito. � Clareza, Coesão e Coerência Coerência é a ligação, a harmonia, a conexão ou o nexo entre os fatos ou as idéias dentro de um texto. Coesão é o conjunto de recursos lingüísticos responsáveis pelas ligações que se estabelecem entre as partes de uma frase, entre as orações de um período ou entre os parágrafos de um texto. Em outras palavras, coesão é a costura necessária para que as partes componham harmonicamente o todo. Pela similaridade das definições abordaremos “coerência e coesão” como um único tema. Existem dois tipos de coesão: a referencial e a seqüencial. A coesão referencial permite a recuperação de termos do texto, evitando repetições. Os pronomes, os advérbios ou locuções adverbiais e os sinônimos são os recursos lingüísticos mais usados no estabelecimento da coesão referencial. A coesão seqüencial permite a ordenação das idéias num encadeamento lógico, compreensível. Este tipo de coesão utiliza, na maioria das vezes, os conectivos: as preposições ou locuções prepositivas e as conjunções ou locuções conjuntivas. O uso correto dos tempos verbais e do vocabulário pertinente ao assunto também ajuda na seqüência de idéias. Em um mesmo texto podemos encontrar recursos de coesão referencial e seqüencial. Agora, sabendo dessas definições, perguntamos: você quer expressar suas idéias? É claro que, para isso, terá de usar frases. As frases são os blocos de idéias, que precisam ser estruturados adequadamente, como os blocos de tijolos em uma construção, para que seu texto realmente fique de pé. A organização das frases representa a organização de suas próprias idéias. Quem irá acreditar em idéias bagunçadas? Para isso é preciso que haja, no texto, coerência e coesão, conforme explicitado acima e que dependem do nosso pensamento, o qual funciona basicamente por dois tipos de raciocínio:

Indução: que vai de uma parte ao todo Dedução: que vai do todo a uma parte

Imagine que certo dia, visitando um país estrangeiro, você conhece uma loja de "frifru" (sem saber o que isso significa), e percebe que ela vende guardachuvas; no dia seguinte, ao ver uma outra loja de "frifru", você poderá induzir que esta também vende guarda-chuvas. Se você fizer uma pesquisa em todas as lojas de "frifru" existentes e descobrir que todas vendem guarda-chuvas, sempre que encontrar uma qualquer dessas lojas poderá deduzir que ela também vende guarda-chuvas. A indução é o raciocínio próprio aos investigadores (criminais, por exemplo) e cientistas pesquisadores. A dedução é uma forma mais segura de raciocinar, porque ela é baseada em dados mais abrangentes e já aceitos. Por isso, é possível transformá-la numa espécie de fórmula, que nos permite avaliar mais facilmente se determinado raciocínio foi realizado de maneira correta. Essa fórmula é

conhecida como silogismo. Não é por ser mais seguro que nós só empregaremos o raciocínio dedutivo. Quando nos faltam informações (como os dados concretos para os cientistas, ou as pistas de um crime para o detetive), temos necessariamente de empregar o raciocínio indutivo. Imagine, por exemplo, que um médico pesquisador ache que descobriu um remédio que cure a AIDS (ou outra enfermidade qualquer). Ele não pode afirmar que seu remédio funciona sem testálo. Para isso, ele deverá ministrar o medicamento a um certo número de doentes. Se ele tratar de 100 doentes com seu remédio, e todos ficarem curados, ele poderá induzir que encontrou a cura para a AIDS. Não se trata de dedução porque ele fez a experiência em apenas 100 doentes, e não em todos os milhões do mundo todo. Trata-se de uma legítima indução porque é possível imaginar que um grande número de outros pacientes também possa se curar, ainda que a tentativa falhe para alguns. O Silogismo O silogismo é uma espécie de fórmula que representa o raciocínio dedutivo. Ele é formado por três enunciados:

1. Premissa maior (a que contém a totalidade que se conhece)

2. Premissa menor (a que menciona uma parte daquela totalidade)

3. Conclusão

Exemplo:

1. Todo homem é mortal.(premissa maior) 2. Sócrates é homem. (premissa menor) 3. Sócrates é mortal. (conclusão)

Para analisarmos um silogismo, precisamos verificar se ele atende a duas condições:

- é válido? - é verdadeiro?

Um silogismo válido é aquele formalmente correto. Se A=B e B=C, logo A=C. Sabemos que o formato está correto, independentemente de saber o que é "A", "B" ou "C". Um silogismo verdadeiro é um silogismo válido cujas premissas são verdadeiras. Por esses critérios, percebemos que o silogismo do exemplo é válido e verdadeiro. Outros Silogismos comentados:

Todo vevé é jajá. Eu sou vevé. Eu sou jajá.

Esse silogismo também é válido, ainda que não saibamos o significado de vevé e jajá. No primeiro caso, como sabemos que as premissas são verdadeiras, sabemos que a conclusão é verdadeira. Nesse segundo caso,

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porém, sabemos apenas que o raciocínio é válido; como não sabemos se as premissas correspondem à verdade, não podemos afirmar que a conclusão seja verdadeira.

Todo pobre pode estudar. Joãozinho é pobre. Joãozinho pode estudar.

Esse silogismo é válido, porque empregou um raciocínio correto. Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também será. Sabemos, porém, que, em nossa realidade, infelizmente a primeira premissa não corresponde à verdade. Dessa forma, a conclusão não é necessariamente verdadeira.

Todo homem é mortal. O cão é mortal. O cão é homem.

Nesse silogismo, o erro do raciocínio - que é inválido - consistiu em se considerar que, se todo homem é mortal, então todo mortal é homem, o que evidentemente não é verdade.

Toda cidade tem casas. Belo Horizonte tem casas. Belo Horizonte é uma cidade.

Apesar de as premissas e a conclusão serem verdadeiras, o silogismo é inválido. A conclusão é verdadeira acidentalmente, não necessariamente. O erro do raciocínio ficará claro se trocarmos "Divinópolis" por "Minha fazenda", por exemplo. A falha é semelhante à do silogismo anterior: a premissa maior afirma que toda cidade tem casas, e não que todo lugar em que há casas é uma cidade (o que seria falso). A coesão, ou conectividade seqüencial, é a ligação, o nexo que se estabelece entre as partes de um texto, mesmo que não seja aparente. Contribuem para esta ligação elementos de natureza gramatical (como os pronomes, conjunções, preposições, categorias verbais), elementos de natureza lexical (sinônimos, antônimos, repetições) e mecanismos sintáticos (subordinação, coordenação, ordem dos vocábulos e orações). É um dos mecanismos responsáveis pela interdependência semântica que se instaura entre os elementos constituintes de um texto. A coesão sequencial é um dos requisitos fundamentais para a construção de qualquer texto - seja ele um texto literário, jornalístico, científico ou até mesmo uma conversação espontânea.

TESTES O texto abaixo é base para as questões de 1 a 5.

Geração Mutante (Revista Veja, 17 de julho de 1996)

O brasileiro está mudando a olhos vistos. Em quinze anos, a estatura média da população do Brasil au-mentou 4 centímetros – 2,5 centímetros acima do es-perado pelos especialistas em crescimento. Ao me-nos nas camadas sociais mais favorecidas, os ado-lescentes de hoje parecem gigantes desengonçados perto de seus avós e mesmo dos pais, quase sempre mais baixos. Esses jovens, com padrões de alimen-

tação e saúde iguais aos do Primeiro Mundo, estão crescendo mais do que a média dos brasileiros, que já é elevadíssima. Os pés e as mãos, maiores a cada geração, acompanham essa tendência. Também es-tamos engordando: o número de obesos é o dobro do total de desnutridos no país. As mudanças não se li -mitam ao corpo. O rosto está mais afilado, pois o t a-manho da arcada dentária diminuiu. Sem espaço para a acomodação de todos os dentes, o aparelho orto-dôntico virou ferramenta necessária na boca de Jô-vens e adultos. A metamorfose se completa com a mu-dança do perfil racial na segunda metade deste século, devido à miscigenação e ao conseqüente au-mento da população de pele escura. 1. O artigo afirma que, em quinze anos: a) os brasileiros, em média, estão 4 centímetros mais altos b) os brasileiros, em média, estão 2,5 centímetros mais altos c) cada brasileiro cresceu 4 centímetros d) cada brasileiro cresceu 2,5 centímetros e) os brasileiros só crescem até 4 centímetros 2. Analise, com atenção, as afirmações abaixo: Os jovens das camadas sociais mais favorecidas I – costumam ser mais altos do que seus pais e avós II – têm padrões de alimentação e saúde iguais aos do Primeiro Mundo III – são mais obesos do que os jovens das camadas mais pobres A(s) afirmação (ões) correta(s) é (são): a) I b) II c) III d) I e II e) I, II e III 3. Analise, com atenção, as afirmações abaixo: Hoje, no Brasil: I – o número de desnutridos é maior do que o número de obesos II – aumentou a miscigenação entre raças III – os jovens têm arcada dentária menor do que os dos jovens de 15 anos atrás IV – os jovens têm pés e mãos menores do que os dos jovens de 15 anos atrás As afirmações corretas são: a) I e II b) II e III c) III e IV d) I, II e III e) I, II, III e IV 4. Ainda segundo o texto, as mutações estão acontecendo : a) somente no corpo dos adolescentes b) também na formação do rosto c) somente nos adultos d) nas pessoas que estão gerando filhos e) nos recém nascidos 5. Nesse texto é utilizado o discurso: a) direto b) indireto c) direto e indireto d) formal e) metalingüístico

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6. Indique o único item que serve como argumento favorável à defesa da legalização da pena de morte no Brasil: a) A incapacidade de um ser humano julgar o outro com a isenção de ânimo. b) O sistema carcerário encontra-se privado das condições necessárias capazes de promover a reabilitação para a plena convivência social. c) A irreparabilidade do erro jurídico. d) O sensacionalismo da mídia ao expor o sentimento dos familiares e amigos do réu diante da consumação da pena. e) Os estados americanos que legalizaram a pena de morte apresentaram um recrudescimento no número de crimes violentos. 7. Leia o seguinte texto adaptado de "A Folha de São Paulo" de 24/04/94: "A arte brasileira dos anos 60 começa com um movi-mento aparentemente conservador, a volta à figura depois do domínio dos abstratos na década de 50. Mas estava ali a senha para uma revolução. A pop arte não incorpora só os símbolos do consumo, tira -dos das propagandas, dos quadrinhos e das placas de trânsito. Tenta incorporar os objetos do mundo. E o mundo não se reduz a quadros, esculturas e gravuras – suporte tradicional da arte." Interprete com F (Falsa) ou V (Verdadeira) as seguintes afir-mações a respeito do texto. A seguir, assina a alternativa que contém a seqüência correta: ( ) A pop arte dos anos 60 rompeu com o suporte tradicional da arte. ( ) Os abstratos da década de 50 cederam lugar às figuras na década de 60. ( ) Os anos 60 revelaram-se conservadores em relação à arte dos anos 50. 1. VVV 2. VVF 3. VFF 4. FVV 5. FVF 8. Leia com atenção o segmento abaixo para respon-der á questão: "As relações dos cidadãos com os dirigentes se pau-taram, ao longo dos séculos, pelo assistencialismo e a subserviência. Os indivíduos nunca participaram d e nada. E isso faz com que nosso espírito de mobi-lização seja mínimo e o de organização, caótico. Ma is difícil mesmo que reunir as pessoas é conseguir or-denar, sistematizar a sua participação. A verborrag ia dissipa a capacidade de ação. E é crítica a nossa ca -pacidade crítica; não fomos formados para a análise desapaixonada de fatos ou situações; por isso mês-mo, nossas opiniões são tão fluidas e nossas posi-ções, tão personalistas." Marque o item que não com -pleta corretamente a sentença abaixo, de acordo com o que se depreende do trecho lido: A dificuldade de arregimentação e de organização participativa dos cidadões deve-se ao fato de: a) nas reuniões, as pessoas falarem coisas sem relevância para o que se está discutindo b) ao longo dos séculos, o povo ter sido excluído das decisões dos dirigentes c) no momento da ação, à vontade dos indivíduos sobrepor-se o interesse coletivo d) historicamente, a classe dirigente ter-se colocado como provedora dos seus subordinados e) a eles, faltar a capacidade de análise crítica e objetiva

9. Indique o único segmento que serve como argumento contrário à defesa da manutenção do ensino superior gratuito no Brasil: a) Há um princípio de justiça social segundo o qual o pagamento por bens e serviços deve ser feito desigualmente conforme as desigualdades de ganho. b) A Europa considera investimento a formação de quadros de nível superior. c) Nos EUA, a maior parte do orçamento das melhores universidades é composta por doações, convênios com empresas ou órgãos federais, fundos privados, cursos de atualização profissional. d) Nos EUA, o montante arrecadado pelas universidades de seus estudantes, a título de taxas escolares, não chega ao percentual de 20% de seu orçamento global. e) No Brasil, país com renda per capita de aproximadamente US$ 2 mil, uma raxa escolar de US$ 13 mil/ano por aluno, conforma estimativa do Banco Mundial, é quantia astronômica. 10. "Um dos mais respeitados colégios particulares da cidade do Rio de Janeiro está fechando as portas por causa da briga crônica entre pais de alunos e donos de escolas em torno das mensalidades esco-lares" Assinale a alternativa que contém uma conseqüência do fato relatado: a) Duas escolas se prontificaram a admitir os alunos da escola extinta. Uma delas está contratando boa parte de seu corpo docente. b) A interferência do governo na fixação dos índices de reajuste das mensalidades escolares é conseqüência do "lobby" bem sucedido dos proprietários de escolas privadas junto ao MEC. c) O triste desfecho desse fato emblemático da situação da educação brasileira. d) Dois meses depois que o governo federal liberou os preços das mensalidades escolares, a Justiça de São Paulo decidiu que os reajustes voltam a ser controlados, não podendo exceder os índices mensais de inflação. e) O Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro realizou levantamento segundo o qual esta é a escola que melhor remunera os professores. 11.Quem .......... seu amigo, jamais ..........., m as sim lhe dá bons ........... a) preza, o dilata, conselhos b) preza, o delata, conselhos c) presa, delata-o, conselhos d) preza, dilata-o, conselhos e) presa, o dilata, concelhos 12.Eles ................. ajudar e ............... a s ................... no arquivo. a) quiseram, puzeram, fixas. b) quizeram, puseram, fixas. c) quiseram, puzeram, fichas. d) quiseram, puseram, fichas. e) quizeram, puseram, fichas. 13. Assinale a alternativa em que todas as palavras são escritas com “g”: a) _ibóia, _eca, pa_em; b) ferru_em, estran_eiro, verti_inoso; c) ma_estade, _lo, vare_ista; d) _irau, pa_é, ri_eza; e) _enipapo, _erico, tra_etória.

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14. Assinale a alternativa onde não ocorre erro de grafia : a) pobreza, através, fertilisar, maisena; b) taxa, indigesto, paisano, enchoval; c) defesa, obesidade, profetizar, anestesia; d) expatriar, babaçu, camursa; e) n.d.a. 15. “ Uma _____deliciosa tomou conta dos que se apertavam de encontro às cordas, em toda a _____do percurso ”. a) espectativa, espectadores, extensão; b) espectativa, expectadores, extenção; c) expectativa, expectadores, extenção; d) expectativa, espectadores, extensão; e) expectativa, expectadores, extensão. 16. Assinale a alternativa em que há uma palavra escrita incorretamente: a) quisermos, marquesa, surgir; b) sujeito, mochila, chícara; c) flecha, granjeiro, exceção; d) ojeriza, perquisar, girassol; e) n.d.a. 17. Escreve-se com CH a palavra: a) _inqar; b) pu_ar; c) en_oval; d) me_er; e) en_ente. 18. Marque a alternativa em que estão grafados corretamente os substantivos derivados de: limpo, defender, barão, surdo. a) limpeza, defeza, baroneza, surdeza b) limpeza, defesa, baronesa, surdez c) limpesa, defeza, baronesa, surdesa d) limpeza, defeza, baronesa, surdez e) limpeza, defesa, baroneza, surdez 19. Indique a alternativa em que todas as palavras seriam completadas com a mesma letra: a) bu_ina, bu_linar, ca_ar; b) fu_ilar, a_ilar, ga_olina; c) introdu_ir, reali_ar, desli_ar; d) ca_ebre, anali_ar, gentile_a; e) n.d.a. 20. Em que alternativa usaríamos somente “X”? a) _ícara, pi_e, be_iga; b) en_endo, en_erto, _epa; c) ta_ativo, sinta_e, bro_e; d) bre_a, ni_o, en_ova; e) n.d.a. 21. Na oração “A partir daquele dia, começaram a maltratá-lo na escola”, o sujeito é: a) naquele dia b) oculto – “eles” c) na escola d) indeterminado e) posposto 22. Em qual das orações abaixo o sujeito é inexis-tente? a) Tristonha, escondia o rosto com as mãos. b) Durante o dia, caminhamos sob um sol terrível. c) Nesta terra faz muito frio.

d) Precisa-se de operários nesta obra. e) Ela estava logo ali na esquina. 23. Em: “Um peixe resvalou à flor da água ; do céu baixou um raio de sol ”. Os termos grifados são: a) adjunto adnominal – adjunto adnominal b) adjunto adverbial – adjunto adnominal c) objeto indireto – objeto direto d) adjunto adverbial – objeto indireto e) objeto direto – adjunto adnominal 24. Em “O Brasil foi descoberto pelos portugueses ”, o termo grifado é: a) adjunto adverbial de modo b) sujeito c) objeto indireto d) agente da passiva e) aposto 25. Considere os termos grifados nas frases: 1. O ar campestre é muito saudável. 2. Ela anda meio triste ultimamente. 3. Brevemente chegará o carnaval. Pela ordem, eles se classificam como : a) adjunto adnominal – predicativo do sujeito – sujeito b) predicativo do sujeito – adjunto adverbial de modo – sujeito c) adjunto adnominal – adjunto adverbial de modo – objeto direto d) predicativo do sujeito – predicativo do objeto – objeto direto e) adjunto adverbial – complemento nominal – predicativo do sujeito 26. No verso: "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas", o sujeito é: a) Ipiranga b) Inexistente c) As margens plácidas d) Oculto e) Indeterminado 27.Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram o presente , ninguém cuidou do futuro. Os termos grifados no período acima exercem a função sintática, respectivamente de: a) sujeito e objeto direto b) adjunto adnominal e objeto indireto c) objeto direto e objeto direto d) predicativo do sujeito e sujeito e) adjunto adverbial e sujeito 28.É objeto indireto: a) Fomos e voltamos a cavalo. b) Precisamos de auxílio c) Leitura é útil a todos. d) Vivemos para aprender e) Aprendemos através do estudo. 29.Vende tudo, Henrique ! Os termos grifados são, respectivamente: a) complemento verbal e sujeito b) adjunto adverbial e vocativo c) adjunto adverbial e sujeito d) complemento verbal e vocativo e) complemento verbal e aposto 30.O rapaz de emocionou e todos o respeitaram. A palavra destacada é:

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a) pronome pessoal: sujeito b) artigo: objeto direto c) artigo: adjunto adnominal d) pronome pessoal: objeto indireto e) pronome pessoal: objeto direto 31. Eu fui para casa, eles não. 1. Período com duas orações 2. Eu e Ele são pronomes 3. Para é preposição a) apenas a primeira alternativa é correta b) apenas a segunda alternativa é correta c) apenas a terceira alternativa é correta d) todas são corretas e) apenas a primeira é incorreta 32. Sou favorável a que você não desista da luta. Essa oração é uma oração: a)coordenada sindética b)subordinada adjetiva explicativa c)a principal do período d)subordinada substantiva completiva nominal e)subordinada adverbial concessiva 33. À medida em que o tempo passa, as nossas ilusões desaparecem. Essa oração é: a)subordinada adverbial proporcional b)oração principal c)subordinada adverbial concessiva d)coordenada assindética e)subordinada substantiva 34. Assinale a alternativa que contém um período formado por três orações: a)Dona Glória prometera a Deus que Bentinho seria padre. b)Depois de formado, Bentinho casa-se com Capitu. c)O livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica. d)Nas noites de verão, ou todas as noites, o pai abandona a mesa. e)Poucos são os livros didáticos favoráveis aos investimentos. 35. No período: Se ele foi aprovado, não sei. A oraç ão "Se ele foi aprovado" é: a)principal b)coordenada assindética c)subordinada substantiva subjetiva d)subordinada substantiva objetiva direta e)subordinada adverbial causal 36. No período: "São tais as injustiças econômicas, que suas conseqüências se refletem nas transações especulativas", há uma oração subordinada: a)adjetiva restritiva b)adverbial condicional c)adverbial causal d)adverbial consecutiva e)objetiva direta 37. Há oração subordinada substantiva subjetiva no período: a) Decidiu-se que a microinformática seria implantada naquele Município. b) Um sistema tributário obsoleto não permite que haja conscientização dos contribuintes. c)A prefeitura necessitava de que os computadores fossem instalados com urgência.

d)Ninguém tem dúvida de que a microinformática racionaliza o sistema tributário. e)Alguns prefeitos temiam que a utilização do computador gerassem emprego. 38. Só compramos frutas que estão maduras . A oração grifada é: a)a principal do período b)subordinada adjetiva restritiva c)subordinada adverbial temporal d)subordinada substantiva objetiva direta e)coordenada sindética 39. Preparem-se bem: logo terão sucesso. A oração destacada é: a) coordenada assindética b)coordenada sindética adversativa c)coordenada sindética conclusiva d)subordinada adverbial temporal e)subordinada adverbial condicional 40. Assinale a alternativa que contém a classificaç ão do seguinte período: A Lei Afonso Arinos é a única norma legal que proíb e a discriminação racial no país. a) principal e subordinada adjetiva b) coordenadas assindética e sindética c) subordinada adjetiva e adverbial d) principal e subordinada adverbial e) principal e subordinada substantiva 41. Assinale a alternativa incorreta quanto à com-cordância verbal: a) As crianças parecem gostarem do filme. b) Já tinha havido muitas brigas na família. c) Dava dez horas o relógio da sala. d) Já tinha feito dois anos que ele não ia lá. 42. Assinale a alternativa que completa corretament e a frase: “Não se ________ mais esses móveis. Antigamente ________ muitas fábricas que os ____________. “ a) encontram – haviam – fabricava b) encontra – havia – fabricavam c) encontram – havia – fabricava d) encontram – havia – fabricavam 43. Igual à anterior: “Já ________ dez anos que ele morreu. Nunca mais ______ pessoas com sensibilidade como a dele.” a) vai fazer – vão haver b) vão fazer – vão existir c) vai fazer – vão existir d) vão fazerem – vai haver 44. Indique a alternativa correta quanto à concor-dância: a) Comumente se vê ruas bem floridas. b) Com os novos computadores, obtêm-se resultados excelentes. c) Quais dentre vós fará esse trabalho? d) Nunca tantos devera a tão poucos. 45. Assinale a alternativa correta: a) Seria vinte e sete de março, quando a esquadra partiu da Europa. b) Há muito tempo: poderiam fazer uns vinte anos. c) Há de existir alguns moços corajosos para isso. d) Há de haver algumas coisas que mereçam atenção.

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46. Assinale a alternativa em que a concordância es tá errada: a) A gramática francesa e a língua inglesa é ensinada nesta escola. b) Os Alpes é a maior cordilheira da Europa. c) Eu mesmo irei buscar o livro, disse a moça. d) Admiramos as magníficas selvas e rios brasileiros. 47. Os .................. anunciaram que as relaçõe s ................ estavam .................... a) alto-falantes – luso-brasileiras – melhor b) altos-falantes – lusos-brasileiros – melhor c) altos-falantes – lusas-brasileiras – melhores d) alto-falantes – luso-brasileiras – melhores 48.Indique a alternativa correta : a) Filmes, novelas, boas conversas, nada o tiravam da apatia. b) A pátria não é ninguém: são todos. c) Se não vier as chuvas, como faremos? d) É precaríssima as condições do prédio. 49.Assinale a alternativa correta: a) Mais de um avião caíram no mar. b) A geada foi uma das coisas que destruíram a lavoura. c) É vedada entrada de estranhos. d) Fazem três anos que me preparo para o vestibular. 50.Aponte a alternativa correta: a) Considerou perigoso o argumento e a decisão. b) É um relógio que torna inesquecível todas as horas. c) Já faziam meses que ele não a via. d) Os atentados que houveram deixaram perplexa a po-pulação.

GABARITO

1. A 11. B 21. D 31. E 41. A 2. D 12. D 22. C 32. D 42. D 3. B 13. B 23. B 33. A 43. C 4. B 14. C 24. D 34. C 44. B 5. B 15. D 25. A 35. D 45. D 6. B 16. B 26. C 36. D 46. A 7. B 17. E 27. A 37. A 47. D 8. E 18. B 28. B 38. B 48. B 9. A 19. C 29. D 39. C 49. A 10. A 20. B 30. E 40. A 50. A

ANOTAÇÕES

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