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Letrt^Artes Ano 3o— N.° 12* 4 C C ^ E cu"' °*crov° o apóstolo, J^soubcsso folor com o lén- ^-'gua do» lum.ni, otú com o dos anjos, o nào tivesse a cori- doJ a minha voz seria op na» um tom metálico o vazio, tintí- lor h cimbafo"; o nunca so opli* eou à poesia critério mais rigoro- sa do que Cite Uma ontologia do poemas pascoais reuniria sem dúvida muitas p.ças magníficas: dos hinos da Igreja oriental, a* traves cios "licd;" populares da Id.iJc /¦'...i .- in _ v .a c alemã, otô o "Risurrezionc" de Manzoni; ata a poesia francesa moderna esta* ria representada por uma dai «rendes ode; de Claudel, cântico do mundo renovado na monhã di domingo dos domingos: "Salul dane, ô mondo nouvcau o me* yeuXj ô mondo r-.-*.-.; nant total' O credo entier des choses vísiblai et Inyisibles, . ." E os versos ala dos do Georgo Hcrbcrt levantar se-iam como pássaros do Espirito para o céu. No entanto, o apor tolo cama critico d: poesia desço- bri-ia quase cm todos esses po»> mos, menos nos hinos litúrg.coi da 'greja, qualquer coisa do sica profena, ate na "allegrozza cc'e:to" de Manzoni, até no vo ccbulário triunfal do poeta fran* eis; concluindo que c:tcs poema» cristãos são meis poóHcos do que crhtcos. Mas o fracasso da poe- sia cm traduzir para "a lin-juo do* homens" a inefÓYol "Aleluia* doa anjos tem motív?-. profundo*. so citeu a verdade de que a fi cristã se baeoia cm três pa radoxos: o perto do uma virgem, a morte de um jusio, a re>su-- roição d." um mo.to. As festas da cristnndado também são "pc •eJe-xais" ossim, sobretudo o ju- büo da neste do Metal, da noite nnls longa e mai; escura da ano cm que n~dj dei-ca prever a au- rora Mas Páscoa não c para- dotal assim. Nos poisos do Ori- cn--o e da Europa em que a reli güo cristã se reveiou c propa gou, a festa da Ressurreição coin clde com a ressurreição da No turcza'quc, dorportendo do som hibernai, se prepara para ser un monde nouvcau à nos ycux, mondo maintcnsnt total". Da! nada mais fácil do que a con- fusão da Esperança cristã com es- poranços profanas. Aquele hino de Manzoni, por exemplo, po- dia ser definido como cântico do uma democracia cristã dos tem* pos modernos. Até nas simples o profundamente religiosas poesia* populares da Idado Média mistu- ra-se com a "aleluia" a alegria dos campos e árvores em flor das danças rústicas, assim como cinda acontece em certo poema d? ^onqoro ("A Ia dina dana d:na dann dina, Mudanza divina"); e na poesia moderna a aleqria «a Páscoa quase sempre é júbilo do oiimavrra, às vêzos apenas s^n-^ienroiísmo con:o!odo pela m-itança do tempa; por outro Iodo, a misteriosa transf'<*urn<-âo d<! nue faln o apóstolo, tronsfor- ma-^e facilmente om mera con* vchõo moral, como acontece no «rindo romn-ice russo ciio se cha- mo tioçni,, "p,o^„„.rr.;c30« Mos onde encontrar, então, a verdadeira poesia de Páscoa? Até oos grandes músicos, composito- 'cs de Oratórios de Natal e de Pa ixoes, poucos sabiam trodu- «'r para sua linrjua tronscnnden- to» 1 "«»<*.!,,}«•. j„ . w, -_, SUFLEM- Domingo. 17-4-1949 IJMUt- }±Jl.^ .,..JH»K '.J.I. r *¦—* íi *t *' * ^7 r /1, j*p——-*,**--*-*t---íji f[0\ W^àÉ. k^-^ r «Jlls^ "^^ T"- íí%@^ 'Jteft •* Zí: *"*" •-'¦JÊmwÊ£S"L'*?' _•;i—»t»7fí?P***Jr?*- - 4&\^mt~^àartaWt,&// <iJrZi ¦ ,<¦¦ 'iJfff */'»' 4*tK '/* W% 1''*'*jà4f*!-*••*'''••¦'• V mm SBiEr gr-if*v\.\V-ii..'LV/;< /**•»*_J kV~-. n3SFfm?&£& ~ t fer,' :-¦ Aí;;^: *sg-'-iy.-w-. - -rrr-*\ma\ i jSsatA. -^ i>- -* ~~Z^- -*-—tt^^. •- -•-» . '4LV w -¥.v v^ . H\OTI^y^^^?"Vi g£g^j?fi^ U#5g ^k ' fflÊfâmX :'/márlmma\ ^m m£m\M ê^T ^r^ V \\s^Ê^Í *L/mr r-ígaxMB?/ >!*.- ,'-i»rBlkAmB «WEkVLímí P- ¦n »8S 1/ æ_Jl5k_---r--*fr^r->^r- \i****L Ü ^^^ÉMMB^^^^^M-rlffi^ ^^Lm\f^9mW9&''" ->!0wPSB/ ^T^'* Wr^^^^^Kk ¥\\?Jà ^mí^m^WmmBh^ WTWmi* im^f gRm fo w^üÊ WÊÊÊÊKÊi ' ¦ ^^SÊLWÊá^f- ^^amUà^ímw^í. JStg^^L •> Jl/iAíÉMí mja^^Mmf/^mâym/m^ Ressurreição rVLBERT DÜRER POESIA DE PÁSCOA 07TO Moí^/// CARPEAUX leb o ' des onjis. Na ré- gravura de Rembrandt, re- presentando os discípulus do Fmaus janiando com o Mestre, o rosto do Ressurrecto desapareço irreconhecível numa aura de luz. No entanto, reconheceram Elo porque, como diziam um ao outro: "nosso co»*cão ardia em nos quando Ele nus falava no caml- nho, abrlndo-nos o sentido da Es- •tritura Sagrada". A verdadeira poesia de Páscoa deve encontrar- se no próprio texto bíblico. O que os Evangelhos dizem da Ressurreição é porem muito laço- nlco. Não se abre por inteiro o véu do r*^ério. M*-*- logo depois, a narração se amplia; a historio dos discípulos de Emaus quaso pareço pequena novela. No ca- minho para aquela aldeia, pouco distante do Jerusalém, encontra- ram homem que não sabia nada do que acontecera com o profeta de Nazaré, falando-lhes porém do sentido da Escritura Sagrada de tal modo que lhes "ardia o co- ração". E quandi chegaram lá, de noite, pediram-no entrar com eles na casa pobre, tomar com eles a refeição de gente pobre, "o entrou tom êtes. E aconteceu, quando se .-.entou com eles, quo receou o pão o o crbens?"-*' e o partiu o distribuiu a êlcs; a abrmvm-se os óculos deles e re- conheceram Ele; o Ele desapa- recou". A beleza poética dessa narra- ção reside justamente naquilo quo a poesia dos poetas não cons-- guiu exprimir mas sim apenas desfigurar: a mistura de luz ce- leste e pobreza humana, de ma- jestade sobrenatural e de simpli- cidade proletária, do divina e do profano. Mas essa mistura é o p-óprio conteúdo "paradoxal" do mistério pascoal: porque não ha- veria ressurreição de um morto se não h-uv! "¦'**-*¦ a inenm^âo do Deus vivo num homem pobre assim como os discípulos óm Emaus. O dogma cm quo »e apoia o "rorodoz" da Rcssurrcl* Ção c o da Incamaçaj Sem osso dogmo nca se con- ceberia a bclczo poética da hit-> tória dos discipuios d. Emaus. Toda poesia pascoal dtsflgure-sey transformando-se cm..j da alegria profana ou de s.nrimcnra* lismo consolado ou de moralis- mo trivial, enquanto o ritmo dos versos náo se apoia cm estrutura de "poeme maintenant to^d", que c por sua vez a expressão pocti- ca do dogma da Incarnaçao. Existem poemas assim, sobrei uda cm latim medieval, o "Salve festo dies" de Venai.tius Fortunatus a certos "scqusntioc"; também oi* guns cânticos luteranos Mas po- decem do defeito de todo poesia dogmaticamente certa, do mesmo defeito que desfigura também um eu outro canto do "Paraíso" de Dantc: c poesia didática. Falta o entusiasmo que vibra nos hnos da Igreja primitiva c que ainda anima as odes de um Manzoni ou Claudcl, prenuncio pascoal da inspiração de P?nlccostes. Contra o didaticismo algo seco da poesia dogmática existe, poe- ticamente, um rem~d'o: a an- titese que con?crc ao poema, conforme a poética de Calcridge e dos modernas, a tensão íntima, resultante de conceitos epostos. Grandes poetas religiosos, como sobretudo os "mefaphysical poe» ts" ingleses, têm si^emeticamen- te aplicado êsse processo. Mas quando se trata do "conceito oposto" à dogmática que cons- tltuí a base de determineda poe- sia, introduzido para evitar o di- daticismo, então, ésse conceito oposto seria a d-.ívida E se- conccbivel poesia religiosa, pretendendo celebrar o milagre da Ressurreição e exprimindo ao mesmo tempo dúvida contra a dogma fundamen^l do cristla- nismor Ai se abre um abismo entre verdade divina e a poesia hu- mana: verificação que daria pa- ro reiniciar-se a discussão bre- mondiana sôlre "ooésic et priè- re" e até paro duvidar-se da fun- ção da poesia en» *• -1 '; c do qualquer jogem humana mo. so Un * ug .1 divina seria capax de lançar sobre a quê- le abismo a ponte da poesia. Mo» esta poesia também se encontra no Evangelho: é a história do apóstolo São Tomaz que duvido- va; que não quis acreditar na Ressurreição de Jesus antes de ter visto as feridas nas mãos d'Ele a antes de ter posto seu dedo ne*- sas feridas e suo mãos nas cos- tas d'Ele. E Jesus apareceu quan- do estavam reunidos atrás de portas fechadas, e o apóstolo in- crédulo botou-lhe o dedo nas fe- ridas e a mão nas costas, ajoe- lhando-se depo;s, dizendo... mas não se pode traduzir a sim- plicidade poética das palavras fi- nais: 'T.espondit Thomas, et di- xit ei: Dominus meus et Deus meus". A prosa simples dessas últimos palavras é mais poética do que "o som metálico e vazio, tintilar de címbalo" de versos. Além dessa poesia definitiva existe a região do que é in-*1" ' - -uo se exprime op?ni<; n- ' - U3 dos anjos, pela palavra intraduxivel "Aleluia".

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Letrt^ArtesAno 3o— N.° 12*

4 C C ^ E cu"' °*crov° o apóstolo,J^soubcsso folor com o lén-^-'gua do» lum.ni, otú com

o dos anjos, o nào tivesse a cori-doJ • a minha voz seria op na»um tom metálico o vazio, tintí-lor h cimbafo"; o nunca so opli*

eou à poesia critério mais rigoro-sa do que Cite Uma ontologiado poemas pascoais reuniria semdúvida muitas p.ças magníficas:dos hinos da Igreja oriental, a*traves cios "licd;" populares daId.iJc /¦'...i .- in _ v .a c alemã, otôo "Risurrezionc" de Manzoni; ataa poesia francesa moderna esta*ria representada por uma dai«rendes ode; de Claudel, cânticodo mundo renovado na monhã didomingo dos domingos: "Saluldane, ô mondo nouvcau o me*yeuXj ô mondo r-.-*.-.; nant total'O credo entier des choses vísiblaiet Inyisibles, . ." E os versos alados do Georgo Hcrbcrt levantarse-iam como pássaros do Espiritopara o céu. No entanto, o aportolo cama critico d: poesia desço-bri-ia quase cm todos esses po»>mos, menos nos hinos litúrg.coida 'greja, qualquer coisa do música profena, ate na "allegrozzacc'e:to" de Manzoni, até no voccbulário triunfal do poeta fran*eis; concluindo que c:tcs poema»cristãos são meis poóHcos do quecrhtcos. Mas o fracasso da poe-sia cm traduzir para "a lin-juodo* homens" a inefÓYol "Aleluia*doa anjos tem motív?-. profundo*.

Já so citeu a verdade de quea fi cristã se baeoia cm três paradoxos: o perto do uma virgem,a morte de um jusio, a re>su--roição d." um mo.to. As festasda cristnndado também são "pc•eJe-xais" ossim, sobretudo o ju-büo da neste do Metal, da noitennls longa e mai; escura da anocm que n~dj dei-ca prever a au-rora Mas Páscoa não c para-dotal assim. Nos poisos do Ori-cn--o e da Europa em que a religüo cristã se reveiou c propagou, a festa da Ressurreição coinclde com a ressurreição da Noturcza'quc, dorportendo do somhibernai, se prepara para ser un

monde nouvcau à nos ycux,mondo maintcnsnt total". Da!nada mais fácil do que a con-fusão da Esperança cristã com es-poranços profanas. Aquele hinode Manzoni, por exemplo, já po-dia ser definido como cântico douma democracia cristã dos tem*pos modernos. Até nas simples oprofundamente religiosas poesia*populares da Idado Média mistu-ra-se com a "aleluia" a alegriados campos e árvores em flor •das danças rústicas, assim comocinda acontece em certo poemad? ^onqoro ("A Ia dina dana d:nadann dina, — Mudanza divina");e na poesia moderna a aleqria«a Páscoa quase sempre é júbilodo oiimavrra, às vêzos apenass^n-^ienroiísmo con:o!odo pelam-itança do tempa; por outroIodo, a misteriosa transf'<*urn<-âod<! nue faln o apóstolo, tronsfor-ma-^e facilmente om mera con*vchõo moral, como acontece no«rindo romn-ice russo ciio se cha-mo tioçni,, "p,o^„„.rr.;c30«

Mos onde encontrar, então, averdadeira poesia de Páscoa? Atéoos grandes músicos, composito-'cs de Oratórios de Natal e dePa ixoes, só poucos sabiam trodu-«'r para sua linrjua tronscnnden-to» 1 "«»<*.!,,}«•. j„ „ . • w, -_,

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Ressurreição — rVLBERT DÜRER

POESIA DE PÁSCOA07TO Moí^/// CARPEAUX

lebo ' des onjis. Na ré-r« gravura de Rembrandt, re-

presentando os discípulus doFmaus janiando com o Mestre, orosto do Ressurrecto desapareçoirreconhecível numa aura de luz.No entanto, reconheceram Eloporque, como diziam um ao outro:"nosso co»*cão ardia em nosquando Ele nus falava no caml-nho, abrlndo-nos o sentido da Es-

•tritura Sagrada". A verdadeirapoesia de Páscoa deve encontrar-se no próprio texto bíblico.

O que os Evangelhos dizem daRessurreição é porem muito laço-nlco. Não se abre por inteiro ovéu do r*^ério. M*-*- logo depois,a narração se amplia; a historio

dos discípulos de Emaus quasopareço pequena novela. No ca-minho para aquela aldeia, poucodistante do Jerusalém, encontra-

ram homem que não sabia nadado que acontecera com o profetade Nazaré, falando-lhes porém dosentido da Escritura Sagrada detal modo que lhes "ardia o co-ração". E quandi chegaram lá,de noite, pediram-no entrar comeles na casa pobre, tomar comeles a refeição de gente pobre,"o entrou tom êtes. E aconteceu,quando se .-.entou com eles, quoreceou o pão o o crbens?"-*' e opartiu • o distribuiu a êlcs; a

abrmvm-se os óculos deles e re-conheceram Ele; o Ele desapa-recou".

A beleza poética dessa narra-ção reside justamente naquilo quoa poesia dos poetas não cons--guiu exprimir mas sim apenasdesfigurar: a mistura de luz ce-leste e pobreza humana, de ma-jestade sobrenatural e de simpli-cidade proletária, do divina e doprofano. Mas essa mistura é op-óprio conteúdo "paradoxal" domistério pascoal: porque não ha-veria ressurreição de um morto senão h-uv ! "¦'**-*¦ a inenm^âodo Deus vivo num homem pobre

assim como os discípulos ómEmaus. O dogma cm quo »eapoia o "rorodoz" da Rcssurrcl*Ção c o da Incamaçaj

Sem osso dogmo nca se con-ceberia a bclczo poética da hit->tória dos discipuios d. Emaus.Toda poesia pascoal dtsflgure-seytransformando-se cm ..j daalegria profana ou de s.nrimcnra*lismo consolado ou de moralis-mo trivial, enquanto o ritmo dosversos náo se apoia cm estruturade "poeme maintenant to^d", quec por sua vez a expressão pocti-ca do dogma da Incarnaçao.Existem poemas assim, sobrei udacm latim medieval, o "Salve festodies" de Venai.tius Fortunatus acertos "scqusntioc"; também oi*guns cânticos luteranos Mas po-decem do defeito de todo poesiadogmaticamente certa, do mesmodefeito que desfigura também umeu outro canto do "Paraíso" deDantc: c poesia didática. Faltao entusiasmo que vibra nos hnosda Igreja primitiva c que aindaanima as odes de um Manzoniou Claudcl, prenuncio pascoal dainspiração de P?nlccostes.

Contra o didaticismo algo secoda poesia dogmática existe, poe-ticamente, só um rem~d'o: a an-titese que con?crc ao poema,conforme a poética de Calcridgee dos modernas, a tensão íntima,resultante de conceitos epostos.Grandes poetas religiosos, comosobretudo os "mefaphysical poe»ts" ingleses, têm si^emeticamen-te aplicado êsse processo. Masquando se trata do "conceitooposto" à fé dogmática que cons-tltuí a base de determineda poe-sia, introduzido para evitar o di-daticismo, então, ésse conceitooposto seria — a d-.ívida E se-rá conccbivel poesia religiosa,pretendendo celebrar o milagreda Ressurreição e exprimindo aomesmo tempo dúvida contra adogma fundamen^l do cristla-nismor

Ai se abre um abismo entre •verdade divina e a poesia hu-mana: verificação que daria pa-ro reiniciar-se a discussão bre-mondiana sôlre "ooésic et priè-re" e até paro duvidar-se da fun-ção da poesia en» *• -1 '; c doqualquer fé jogemhumana mo. so Un * ug .1 divinaseria capax de lançar sobre a quê-le abismo a ponte da poesia. Mo»esta poesia também se encontrano Evangelho: é a história doapóstolo São Tomaz que duvido-va; que não quis acreditar naRessurreição de Jesus antes de tervisto as feridas nas mãos d'Ele aantes de ter posto seu dedo ne*-sas feridas e suo mãos nas cos-tas d'Ele. E Jesus apareceu quan-do estavam reunidos atrás deportas fechadas, e o apóstolo in-crédulo botou-lhe o dedo nas fe-ridas e a mão nas costas, ajoe-lhando-se depo;s, dizendo...mas não se pode traduzir a sim-plicidade poética das palavras fi-nais: 'T.espondit Thomas, et di-xit ei: Dominus meus et Deusmeus".

A prosa simples dessas últimospalavras é mais poética do que"o som metálico e vazio, tintilarde címbalo" de versos. Alémdessa poesia definitiva só existea região do que é in-*1" ' - -uose exprime op?ni<; n- ' - U3 dosanjos, pela palavra intraduxivel"Aleluia".

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iMgina — L LETRAS E 'ARTESDomingo, 17-4-1949

O El »R«ra que náo me en-

Ô sinaram o puio du onça,Mm, tomo n gente sem-

pro aprendo apanhando, ncou-tese que, já envolvido nn litc-raturn Ue um mudo irrcmediá-vel, sinto que nau avançaria osinal tentando üenm colunas,vez por outra, uma caricatura-«Unha literária. Julgaiulo-morico, e isso para nfto contrariaro inglês Uczcrra dc Freitas quesempre me recomenda — "athieí passes for a gcnüemanVfhen stealing has made himrich" — , meto-me pois semsipio na pele do um desses ca-valhehos. Vamos, assim, ao fo-go. Mas, como infelizmente nãodtsponho aqui entre os terecosdoa úiiimos "best-seller" naolo-nais, como os ilustres autoresindígenas ainda nâo se digna-ram enviar ao dégas os seus ca-tntáus, eontento-me por en-quanto em voar sobre a ilhacomo aquele Polo do romancecie dona Dinah Silveira deQueiroz. E começo por dizer,contrariando aliás o colegaAfronto Coutinho, e dizer comas bochechas cheias:

O folêgo da critica está nareticência...

Esotérica, não. Muito menosum objeto cie limpar como u cs-cova. No fundo, um taximetroque pode marcar o câmbio cialiteratura. Mas, como 03 senti-jnentos sempre acabam por es-trangular as razões eapcculati-vos, um livro afinal sempre seimpõe como um "bolero" parauma mulher ou a simpática fi-sionomia de Stalin para o sr.Egídio Squeffe, estas modestasaiças de esquííe da candidatura«so sr. Homero Pires. Ingrata,como se vê, c sobretudo inútil,ainda como se vê, a função docritico. Sua função e sua tare-

.ia. Adiantará pouco o esforçoilógico para provar que.o .sr. Jo-sue de Castro é um bom geó-grafo ou o sr. Humberto Bas-los um bom economista. Adian-tara menos ainda citar Cazuza

Íiara demonstrar que o sr. Aní-

>al Machado, sem publicar umanovela, chegou a ser o maiorromancista da República. Comisso, está claro, podemos admi-tir uma conclusão:

O efeito da crítica não ul-trapãssa a sua localização emüm dos menores departamentosda publicidade.

E náo será por outra coisa"íue os editores tanto se interes-«sara pelos críticos. Podem fal-

VAMOS, ASSIM, AO FOGO

tar os selos. Pode faltar o con-tabilista. Pode faltar o papel doembalagem. Mas uma boa rela-çâo de crítico:!, c que o diga oesplêndido José Olímpio, issonâo falta nunca. Instrumentode provocação, como clirtii o Ja-raraca, ao critico compete aíir-mar que o relógio do sr. JosuéMontelo náo devia ter paradopara que um outro alirme que,funcionando o relógio, quem fa-talmcnte teria parado seria osr. Josué Montelo. Em língua-gem mais prática:

Os críticos náo se enten-dom. Seus olhos nâo combl-nam quando se i>õom diante daluz.

Canta o sr. Antônio Cândido:E' péssimo!

Geme o sr. Sérgio Milliet:E' ótimo!

Dc resto, culpa das coisas domundo, o crítico não usa anel— e critico pode ser qualquerum, mesmo o sr. Eioy Pontesjá foi critico, e impossível nãoserá que se invente um outroAlirio Meningite. Apesar de tu-do, porém, assim como há poe-tas e poetas, também ha críti-cos e críticos. O sr. Alva:o Lins,por exemplo, que espero emDeus não tenha deixado o pon-tetro da gaiola, sabe em causaprópria até onde vai a críticae onde podem ficar certos cri-ticos. O diabo, porém, é que to-do o crítico autêntico, ao con-trário do crítico postiço, entre-ga os pontos cedo. O oposto dasdentaduras, sem a menor dú-vida.

O sr. Rosário Fusco, que ago-ra prefere o teatro e com umavocação que não se pressentiano crítico, fatigou-se de tal mo-do que não há santo que o façamexer com a língua. Fatigou-setambém o sr. Tristão de Ataíde.E o sr. Agripino Griecco. Natu-ramente, e para quem quer quequeira enxergar os gatos na ne-blina, difícil não será diagnos-

Letras e AriesORIENTAÇÃO

DE5 JORGE LACERD/r»COLABORADORES :

Áüonias Filho, Afrânio Coutinho, Alcântara Silveira, AlceuAmoroso Lima, Almeida Fischer, Almeida Sales, AlphonsusGuimaráéns Filho, Álvaro Gonçalves, Anibal Machado, AnorButler Maciel. Antônio Rangel Bandeira, Ascendino Leite,Augusto Frederico Schmidt, Augusto Meyer Batista da Costa,Breno Acioli, Brito Broca, Carlos Drummond de Andrade,Cassiano Ricardo, Cecília Meireles, Christiano Martins, Cirodos Anjos, Clarisse L—pector, Cláudio T. Barbosa, DaltonTrevisan, Dâmaso Rocha, Dantas Mota, Dinah S. de Queiroz.Eugênio Gomes, Euryalo Canabrava, Fernando Ferreira deLonnd.i. Franklin de Oliveira, Geraldo Ferraz, GabrielMunhoz da Rocha, Guerreiro Ramos, Gustavo Barroso, Gil-berto Freyre. Herbert Parentes Fortes, Herman Lima, JaymeAciour da Câmara, João Conde, Joaquim Ribeiro, J. P. Mo-reíra da Fonseca, José Lins do Rego, Jorge de Lima, JoséF. Coelho^ José Geraldo Vieira, José Simeão Leal. Josué deoastro. Josué Montello, Leony de Oliveira Machado, LedoIvo, lagla Fagundes Teles. Lopes de Andrade, Lúcio Cárdó-so, Luiz Jardim. Manüelito de Ornelas, Manuel Ban-deira, Marcos Konder Reis, Mário da Silva Brito, MarioQuintana, Marques Rebelo, Murilo Mendes, Novelíi JúniorNeli Dutra, Octavio dc Faria, Olímpio Moura o Filho. Oii-veira e Silva, Otto Maria Carpeaux. Paulo Ronai, PeregrinoJun|or, Renato Almeida, Rehzo MasSaràni, Ribeiro Couto.Rodrigo M F. de Andrade, Roger Bastido, Rogério Gorçáo,Roland Corbisier, Rosário Fusco, Rubem Biafora. SantaRosa, Sérgio Milliet, Servido de Melo, Silvio Elia. 'Sylvio aaCunha, Tásso da Silveira, Terrustpcles Linhares." ThiersMartins Moreira. Umberto Peregrino, Vicente Ferreira da

Silva, Wilson Figueiredo; Xavier Piacer.ILUSTRADORES :

Alfredo Cesehiatti. Armando Pacheco, Athos Bulcão, Mar-cier, Fayga Õstrowér, libere Camargo, Luiz Jardim, Noemia,Osv/aldo Gocldi, Paulo O. Flores, Paulo Vincent, RenhiaKatz, Percy Deane, Santa Rosa. Van Rogger e Ylltn Kerr.

DJALMA VIANA

ticar a cnferinldaclo cpic tãoprococemento leva á aposenta*doria:

O bagaço que rumlnn, oindigesto miolo que mastiga, és-se espeto (|iu- c a literatura semfaísca provoca fatalmente adlspepsla, a Ulccra, tudo tcrml-nando numa invencível utoniaintestinal.

Por mais forte que seja ,pormais robusto que, tenha osmúsculos c os nervos, aindamais atlético que o filósofo Eu-ryalo Cannabrava — tambémum critico retirado —, a verdadeé que a "subissima" sempre cs-bodega qualquer critico. Umacatástrofe nnti-crítica: a Su-bisslma! Indiretamente, umavingança. Maltratada, condena-da, muitas vezes não conseguin-do sequer baixar ás mãos docrítico, a subissima vence o cri-tico pelo excesso. Hoje, o sr.Théo Filho. Amanhã, o sr. ThéoFilho. No fim do ano, o sr. ThéoFilho. E o critico, que semprerecebe o correio com uma mui-tiplicação do sr. Théo Filho,baixa a cabeça, entrega os pon-tos e exclma:

Critica, um caracol!Isso, porém, é um lado. O ou-

tro lado, ainda mais sério, emais grave, se reflete no confli-to diário que o critico mantémcom a própria comunidade. Pri-meiro, a patroa. Depois o cole-ga. A seguir, o autor de qua-tro ou cinco qualidades. Se éromancista não espera do cri-tico outra coisa senão que de-clare ter éle superado Balzac eDostoievski — mas, se é poeta,não faz por menos senão umacomparação superlativa comGoethe ou Keats. Muito humil-de, o autor deseja ser chamadode gênio. E, se o pobre crítico,sobretudo o crítico que esquecerelacionar o seu trabalho com aarte dos diplomatas, não con-cede, não rasga os lábios, en-tão o banze é preto. Evidente-mente ,sendo um homem nasci-do de mulher, o crítico, quandoresiste, resiste aí uns vinte anos— precisamente a média da vi-da de um cachorro...

No entanto, apesar de tantoscontratempos, a crítica sempreprovoca enorme sedução. Raros,os que não a detestam, mas apraticam em todas as oportuni-dades. Nos bons autores, sobre-tudo, seu exercício é infalível.Não será a crítica, mas será acrítica de si mesmo, a auco-crí-tica. Infelizmente, porém a au-to-crítica, que devia ser o san-gue da crítica, sempre falta àmaioria dos críticos... Comoquer que seja, a verdade é quea crítica seduz. Há no seú bojoalguma coisa de sadismo, umresto assim de superioridadesem razão, uma espécie de pa-triarcado que bem ficaria emuma das casas grandes do sr. 'Gilberto Freyre. E por isso mes-mo, explica-me o critico OttoMaria Carpeaux, risonho e pi-tando:

— E por isso mesmo é que asmulheres, tão boas na ficção,geralmente naufragam na cri-tica..Anti-romântica, pois, e por

Juliò Da nicas no

«¦¦—Iim—

i&rcssi

Acaba de chegar ao Brasil, oeminente escritor luso, JúlioDantas, que vem ao nosso paisem missão cultural, represen-tando o governo português 1104.° Congresso de História Na-cional.

excelência, a critica. Na lltcra-tura, uma tarefa de jagunço, decangaceiras, de capitão de ma-to, do capoeira de morro. Sempancada, sem cuspir grosso, sembofetões — sempre mni3 SilvioHomero o sempre menos JosóVeríssimo —, a crítica poderáser erudita, sábia, douta como odoutor Artur Ramos, mas nãoserá critica. Originalmente, vln-da do grego para a língua dosPapas, o criticus Já significa umsujeito quo decido definitivac decisivamente. Um juiz, porcerto. Mas um Juiz que, sem au-tos mastigados, precisa esmur-rar com violência para que nãodigam os cocadas que éle co-meu mosca na sentença. Natu-rnlmente, quando por mais nãofôsse, bastaria isso para que cmmim mesmo descobrisse um cri-tico.

Dc resto, velho descrente dajustiça, cético cm relação aqualquer espécie de julgamen-to, posso a critica fazer exata-mente porque não sou um ca-bra imparcial. E a parcialidadena critica, é provcrbial. Não ei-tarei, com ares dc erudito cmprimeiro grau. o caso de Bru-netiérc metendo o pâu em Bau-delaíre. Náo citarei também,com ares dc erudito cm oitavograu, o caso do sr. Guilhcrmi-mino César, um ex-romancista,tentando vingar-se como críticodo bom romancista que é o ZéLins do Rego. Em defesa da mi-nha tese, quero palpites, e nãoexemplos. E acrescento, comfirmeza:

— Quem pode, trazendo umcoração dentro do peito e umalíngua dentro da boca, ser im-parcial neste mundo?

Imparcial, no duro, só um im-becil. Üm imbecil ou um hi-pócrita bastante descarado. Pormim acho que a parcialidade,na crítica ou fora da critica, éque nos leva rigorosamente àarte porque nos sepulta na pai-

xáo e nn inconsolônola, «cm aparelolidodo, seria um chu «,monogamia, a Inaplroefto, u pm-xâo, o uniu.iiuhino, a íè e o som-bu. Nossa mulher náo seria amais bonita, n.. .. poema naonasceria, o extinto teria otrime passional, pereceriam o»partidos políticos o os heróis,sem samba o carnaval. A par-cialidade, mesmo que o juiz se-ja do pedra sempre contorna aviolação que uma loura "girl"foz a certos parágrafos do Códl-go Penal. E porque a parciuli-dade so insere usslm nu biusodisso quo o existencialista in-titula "os profundezas", é quenão posso tlror da critica oatributo mais batatal da pró-pria criatura humana.

Mas, se por destino a criticaé parcial, é irreverente, é do ba-rulho — como permitir aqui odégas que a critica oscilasse deAlmeida Sales para Ollvlo Mon-tenegro sem que pusesse nomelo a minha velha espada?Sa há críticos, se todos são cri-ticos, posso também fazei crítl-ca. E confesso que estou dispôs-to a entrar no terreiro, a Um-par o enfio, a riscar com a pon-ta dn faca o circulo dos debates.Quando começarei, nâo sei. Evi-dcntcmcntc, todo começo, emse tratando dc critica literária,depende dc um bode expiató-rio. No quintal, é verdade, vejomuitos... Mas como nfto soucapaz dc admitir um começosem sangue — que toda gentecomeça mesmo debaixo dc san-gue c de gritos —, como nãosou capaz de topar a cri-tica para cair no elogio que sóse compreende entre os namo-radOS noturnos, detenho-me. Eeis que escuto novamente os bo-tões:

— Os inimigos sempre- publi-cam livros. Sempre publicam li-vros os Inimigos. E um inimi-go, mesmo que venha a gerarem um só livro uma literaturainteira, não tem o direito domerecer coisa alguma a não serpau, sempre pau, e quanto maispau, melhor.

Fechando, pois, esta minhaintrodução ã critica, de-ver será o meu de prevenir aosadversários que estou com oolhar grelando. Pagarei o prê-ço do exemplar ao livreiro mascomo serão altos os juros! Porenquanto, porém, miseráveloperário habituado à sua má-quina:— Voltemos aos suplementos.

VIRGÍNIA WOOIF, EDITORA DE "NOVOS"

VIRGÍNIA

Woolf era filha de sir Leslie Stephen,critico e filosofo muito estimado na Inglaterra,amigo de William James e, sobretudo, de Meredith

que o fez um dos personagens do seu romance "Õ Egois-ta". Homem douto, mas com um espirito muito liberal,amigo do modernismo, educou livremente a filha fora dequalquer preconceito da época. Adivinha-se o partidoque podia ter tirado um temperamento de artista e es-critora, como Virginia Woolf, do meio letrado em quepassou a mocidade. Aliás, não se pode dizer que o seucaso fosse de simples vocação. Tendo nascido num meiode intelectuais e nele evoluído era natural que ali mani-festasse sua atividade.

Seu casamento com Leonard Woolf, escritor políticoe jornalista, fe-la entrar logo em ação no mundo das le-trás. Tendo escrito seu primeiro romance "The VoyagoOut", em 1915, fundou em 1917, com o marido a casaeditora "The I-Iogarth Press", cujo fim era editar os ta-lentos jovens que não encontravam meios para manifes-tar-se. E foi aí que encontraram guarida e conseguiramlevar seus primeiros livros ao público escritores como T.S. Eliot, E. M. Forster, Hope Mirrless, Katherine Mans-field. Em 1920 o estabelecimento cresceu, tornando-se oque veio a ser depois; uma das editoras mais reputadasde Londres, tanto pela qualidade do que publicava,quanto pelo movimento intelectual que impulsionava."The Hogarth Press" passou a constituir na Inglaterraum verdadeiro ccnáculo, onde se reunia o que as letrasinglesas contemporâneas tinham cie mais sutil de maisraro. E' preciso convir que o esteticismo, o" esnobismotambém ali encontravam abrigo, mas dada a maneirapela qual Virginia Woolf "oficiava", nunca se perdiaaquilo que nm critico chamou "a medida da inteligência".

E' preciso ainda lembrar, que antes de ser roman-cista, a autora de "Orlando" exerceu a crítica literáriamilitante, tendo se destacado extraordinariamente nogênero.

Depois, nos dias trágicos de 1940, quando Londresestava sendo impiedosamente bombardeada, VirginiaWoolf saiu uma tarde de casa para nunca mais voltar,..

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Dominue. 17-4-1949 TETRAS A RTES Página — 3*¦*«¦*•*¦'¦**-—¦ ¦" ¦¦ mmmnmi^^^^^^mmm^smsmmmmaamsmmmi^^mmm—mmm*——*—---^-----^^^—*j^M—w

rA quinta serie do "Diário Critico**Sérgio Milliet ê um trabalhador

infatigávcl. Freqüentando com amaior assiduidade as colunas dosornais, mostra-se sempre a par de.udo que se publica no lirasll e noHtrangelro Ah letras francesas en-ontram. por exemplo, nele um ro-mentador bem informado ngudo c•enetrante, sobretudo na (nterpre-•çáo de certos escritores modernos,utclircnte e compreensivo, sua cri«•a náo se limita apenas á hura-ara, abrange também as artes pias-tcas, em que nos dá com frequen-ia Interessantes trabalhos de exe-

gesc, quando náo de vulgarização no«ais elevado sentido do termo. De uns quatro anospara cá. Sérgio Milliet vem reunindo em livro essessrtigos publicados na imprensa sob o titulo geral de"Diário Critico". Quatro substanciosos volumes cias-tlfirados por séries já apareceram. A quinta serieícaba de surgir agora, possuindo a mesma densidadei o mesmo interesse dos anteriores.

Registrando esse acontecimento editorial, acrescen-tamos que Sérgio Milliet está dc partida para Paris,a convite do governo francês.

Novo livro de José Américo dc Almeida Os próximos livros de Ágripino Grieco

"O único (jue não morde... •«

Numa tarde de chuva, nos fins do século passa-do. nao entrando ninguém na Confeitaria Colombo,para o Rocha Alazào, famoso boêmio da época, mor-der. estava éle em companhia de alguns colegas, to-dos muito tristonhos, sentado numa mesa. Olhandopara o grupo se achava um grande cão terra nova,multo manso, propriedade do dono do estabelcclmen-to. Rocha encarou o animal e melancòlicamente con-jecturou:'*— Ironia da sorte! — O único que não mordeiqui é o cão..."

r Uma revista de Curitiba para o Brasil .Foi lançada recentemente cm Curitiba, sob a dl-reçao do escritor De Plácido e Silva e secretariada

por José Cury, "Guaira", ótima revista de essuntosgerais, destinada ao nosso grande público. Esplén-didamente impressa e estampando em suas páginasoportunas reportagens sobre fatos e acontecimentosmundanos e artísticos de grande significação, além decolaborações de escritores e jornalistas de renomenacional, "Gauíra**, que já vem tendo curso nos prin-cipals centros do pais, está destinada á geral aceí-taçao por parte de nosso público.

fJJm Começo de Vida"*, de Raimundo dcSousa Dantas

' Aparecea-á dentro de breves dias o livro "Um Co-meço de Vida", de Raimundo de Sousa Dantas, emque esse conhecido escritor da geração nova narra asua formação intelectual. Analfabeto e na maiorpenúria aos dezoito anos, conseguiu êle aos vinte etels tornar-se um romancista apreciado e redator deim dos diários cariocas. O livro traz um prefácio dotr. Clemente Mariani, Ministro da Educação.

Três anos de crônicaHá três anos, precisamente, Ledo

Ivo, a convite de Álvaro Lins, ini-lava suas crônicas dominicais nouplemento literário do "CorreiodaManhã". Temperamento genuíno de>oeta, Ledo Ivo imprime uma feiçãoloética a tudo que escreve. Assim.em sido com os dois romances queá publicou. Assim se deu tambémom as crônicas. Acontece que o gê-íero de crônica poética se esgotou,.nais ou menos, entre nós, sob a in-luêneia do simbolismo. O autor de'As Alianças" conseguiu rctoma-io,ransfundindo-lhe uma graça e um

encanto novos. A vida da cidadenos seus mistérios, nos seus flagrantes dramáticos oumvolos, no seu admirável espetáculo humano vempassando, há três anos, pelas crônicas de Ledo Ivo,como num "trailer" feérico, transfigurada por umamagia poética, que lhe desvenda a verdade secreta.

Theodore Dreiser e Nova Yorkrt« „Numa Palestra, pouco antes da sua morte, o gran-ue romancista americano Theodore Dreiser aludia áimpressão atordoante que lhe causava a atividade ire-netica do ambiente novalorquino:A„„"7 U1timamente — explicava êle — estive em LosAngeles. Na volta, à medida que o trem, no qual euviajava se aproximava de Nova York comecei a per-i-erjer qualquer coisa esquisita no ar e a experimentarerpe es.pécie de opressão, de nervosismo e agitaçãolescentes. Não cheguei a compreender ainda comopuaem seres humanos viver em tal atmosfera".

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Mulato, não; gregonnn^VaVta a José Veríssimo, Nabuco achava que-a «oi vm cnam&r cie mulato a Machado de Assis.npiftín*, V""" dizia Nabuco — não é literária e éler míi *h basta ver"*he o etimologia". Demais, ofcacãn «J, 0çe.m nada afetava sua perfeita caracterl-vi nrV„ Slca«; De S*'ego, sim, "Eu pelo menos** -«ue o grego*** ..¦

"***p ^*****k

^E*>*

José Américo de Almeida vai publicar próxima-mente, em edição da Livraria Jo.ié Olympio, o seunovo livro ••Campanha de Ihmre.sn",Agunrda-.se com grande Interesse o novo traba-tho do famoso autor de "A Bagaceira".

Atividades de "Orfcu*A turma da revista "Orfcu" constitui sem dúvidaum significativo acontecimento «le nossa renovarão Ue

valores, distinguindo-sc náo so pela lirme/a de seusvalores pessoais, alguns dos quais hojr valores nado-'talmcnte consagrados, como pelo seu arrojado progra-ma estético.

Além du tempestade que causou em nossos meiosliterários, o último numero de "Orfeu*' mereceu ashonras dr ser-ihe dedicado um suplemento Inteiro do"Diário de S. Paulo". Outro número da revista estaen«lo anunciado, dentro do mesmo programa dc com-

bate que se traçou a sua direção.O testamento espiritual de Gicie

O próximo livro de André Gtdc será "Le Testa-oient Splrituel", em que — segundo se diz — o e-scrl-tor mostrará de como após as angústias pascallanaso a constante procura de Deus de que cstfto cheiosseus livros, vclu o tornar-se ateu. Aliás, era artigo-publicado há cerca de um ano. numa revista cultu-ral francesa, Glde já fez profissão de fé de oteismo.

Obras completas dc Armando de SalesOliveira

Anuncia-se para breve a publica-çáo das Obras Completas do saudo-m» escritor e político paulista Ar-mando de Sales Oliveira. A famíliado ilustre brasileiro, em combinaçãocom o Instituto Progresso Editorial,incumbiu o escritor Paulo Duarte docoligir o farto material deixado porArmando dc Sales Oliveira, consti-tuldo de artigos, ensaios, um livroiniciado e um sensacional "Diário"cuja parte final náo foi ainda en-ontrada, devendo achar-se cm Por-ugal. Estados Unidos, Argentina onUruguai. No exílio, o ex-governadordc São Paulo escreveu vários traba-

lhos da mais alta importância politica e social, querevelam a formação espiritual de um estadista lú-cido e moderno.

O último romance dc Téo FilhoTéo Filho continua fiel ás letras. Há dois anos

publicou um romance. Agora, caba de lançar outro,sob o titulo "Ao Sol de Copacabana". E' o mesmoambiente mundano dos seus livros anteriores que aiencontramos, pois Téo Filho se especializou na psico-logia dessas criaturas futeis, da alta burguesia, cujavida decorre toda entre chás dançantes, recepções eestações de água: vida aparentemente dolrada, masque no fundo esconde, por vezes, grandes dramas. Osleitores que ainda não se esqueceram de Dea Lacerda,uma das mais interessantes criações do romancista,procurarão, de certo, com a maior curiosidade êsse úl-timo livro.Faleceu o tradutor francês das "Mil e unia

noites"Faleceu, há pouco, na França, o escritor e orienta-

lista Mardrus, a quem devemos uma admirável tra-dução francesa das "Mil e Uma Noites", tradução- que contribuiu, naturalmente, para vulgarizar no ocl-dente êsse tesouro da imaginação árabe.A revista "Atualidades" de Florianópolis

Recebemos, de Florianópolis, os números 11 e 12da revista "Atualidades", interessante publicaçãomensal da capital catarinense, e que nos apresentaum circunstanciado noticiário das brilhantes come-morações do 2.° Centenário da Colonização Açoria-na efetuadas por ocasião do 1.° Congresso de Histó-ria Catarinense.

"Kritcrion"Essa magnífica revista cultural mineira, órgão

da Faculdade de Filosofia de Belo Horizonte, con-tinua a sua brilhante carreira. O último número emnada desmerece os anteriores, trazendo substancio-sos estudos, entre os quais um de Eduardo Frieiro,sobre o Cid, o famoso herói espanhol.

Mauro Mota no RioEncontra-se nesta capital, há ai-

guns dias, uma das mais firmes ex-pressões da nova geração brasilei-ra: o poeta Mauro Mota, que no Kc-cife vem desenvolvendo uma adml-rável tarefa de intensificação inte-lectual da velha província.

O nome de Mauro Mota já é dosmais conhecidos e admirados des-de que a imprensa carioca começoua divulgar os seus sonetos e elogias.Aliás, ainda oste ano. Mauro Meta* * ' '""" í*ã o sett livro /'e estréi'1.. iu-titulado "íí^j-etos e E !egiás"<

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Numa recente entrevista conceula a Homero Sena, para a "He¦sta do (.lobo", Ágripino Grieco de(arou estar ocupado, ai uai menu>m dois empreendimentos: as sua.*

rtemòrisi e uma "História da LI-eraturs Brasileira". Das merao-IftS disse pretender que elas sejamatitumas" e apareçam dentro d.*im ano, mais ou menos, no planrIas suas Obras Completas. A "Illsorla da Literatura Brasileira" ser:»im livro "meio jornalístico e mel»*lidatico. sem o anedótico e o ton

polétnloo dos volumes anteriores,mas não excessivamente sisuda, poi*armai o publico se vinga dos escritores maeantes náolhes comprando os livros" A obra que se rempor»

de dois ou três volumes deverá também estur á ver-da no próximo ano.

Alcântara Silveira no RioEncontra-se no Rio o escritor paulista AlcantarxSilveira, um dos colaboradores mais apreciados i *

LETRAS E ARTES. O autor de "Gente da Franc.goza de simpatias igualmente fortes na sua terra •no Rio: 6 uma ponte de compreensão e amizade entre as duas capitais literárias do Brasil.

Um grande livro de Oliveira Fia naO novo livro de Oliveira Viana. ."Instituições Pc-htlcas do Brasil", ora lançado, em dois volumes devser considerado uma das obras mais importantes pibllcadas no Brasil nestes últimos tempos. Todas a;

qualidades reveladas nos trabalhos anteriores o aute-as apura desta vez na realização de um ensaio soclo-lógico, táo vasto quanto profundo, em que não «-e s: -be o que de preferência distinguir, se a extensão d .pesquisa, a amplitude dos conhecimentos ou a caps-cidade de interpretação dos fenômenos brasileiroSeguindo na esteira de Alberto Torres no terreno alr. -da tão áspero da nossa sociologia. Oliveira Viana pc-de-se dizer que alargou extraordinariamente o terre-no aberto por aquele, agindo como verdadeiro des-bravador. Não se contentando com a análise dos as-pectos particulares da psique brasileira, êle tem pre-curado dar-nos uma verdadeira suma sociológica d »nosso pais. O trabalho de hoje, em dois alentados vt -lumes, moldado pelos métodos mais modernos de to-vestigação, reunindo uma documentação imensa, rt -veste-se de extraordinária importância. No primeir ivolume, o autor estabelece os fundamentos sociais d »Estado e no segundo trata da metodologia do direit >público, da tecnologia das reformas e da organizaçâda democracia no Brasil. Um dos capítulos mais ir-teressantes deste último volume é, por exemplo. >que estuda as Idéias de Rui Barbosa em face da m -todologia clássica ou dialética.

Cientista, Oliveira Viana é, igualmente, um exc -lente escritor; expõe sempre com elegância essência -mente literária suas idéias. E nisso devemos ver. me -mo, um dos principais méritos de sua obra tão séria eprofunda, de que o livro de hoje constitui um br:-lhante coroamento.

A dispersividade de Valcntim Magalhãe;Valentim Magalhães foi um

exemplo típico de despersividac •em nossas letras. Não houve géhc-ro que ele não abordasse, tendo es-•rito até, de colaboração com A"-;ur Azevedo, revistas do ano. IJ- í«ia, tratou êle de realizar a obra ti -finitiva, que há muito lhe exigia:»v* amigos. E produziu um romar.-•e, no prefácio do qual, por um t,nexplicável contradição, declarav si rapidez com que o escrevera. Ess.i

,; , obra, "Flor de Sangue", foi receb -*r M$$&>-' ,a cia maneira mais hostil pei i*¦%.»>

quase unanimidade da critica, dar.-v do oportunidade a José Verissim >li»***"" íí""*«Esk . para um ^og seus famoSos artigo;

sobre o titulo "Literatura apressada". Somente Ra -mundo Correia, deixando-se levar mais pelo cora cã »do que pela inteligência, foi ao socorro do am'g' .elogiando o livro. O fracasso de "Flor de Sangue 'mostrava que Valentim Magalhães estava irremedi^.-velmente condenado à dispersividade.

"Tentativa", de AtibaiaMais uni interessante periódico da província:"Tentativa", de Atibaia, tendo cemo diretor-secretr. -

rio o sr. César Memolo Júnior, que nos deu ultima-mente o prazer de sua vista. Êsse bem feito periódic iapresenta colaboração original de nomes de destaquedas letras contemporâneas, como Oswaldo de Andra-de, Alcântara Silveira, Menotti Del Picchia.

Uma Bíblia "falada" para os cegoiíUma edição "falada" da Bíblia acaba de ser feita

pela Divisão para Cegos da Biblioteca do Congresso,em Washington. A editora informa que o texto com-pleto em discos de 12 polegadas, dá para 85 horasde audição.

'-¦•<*§*»*- *Va-ir?t¦ *'«jhT * -,-5t>£;"*?»

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Correspondência e publicações literárias devemser endereçadas *>ára Jorge^"Lacerda, rua Republicado..Veru 101, apt. \}QZ.

Page 4: Letrt^Artes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1949_00122.pdf · ccbulário triunfal do poeta fran* ...-. profundo*. Já so citeu a verdade de que a fi cristã se baeoia

Página — 4 LETRAS R ARTES Domingo, 17-4-1949

A revista "Atlântico" presta,em ¦•¦•! numero 7 (eeganua se*n<- . oomosida homenagem ámemória d? Crus e Bousai um•oneto de Antouiu Alves Mar-tius. í.iniiii. ..li.i.i o pocia Ne-gro; um .nu, •• compreensivo chonesto de Josc Osório de 011"

"feira; uma seleção de sonetosdo grande cantor de "larols".

O soneto de Alves Martins,extraído do livro "Fogueira•eterna" puldieado em Lisboa nouno de 1926, deve ser lianscritoporque poucos o couberem noqtr.i ii. IC o seguinte:

"Poeta Negro — bronze d'al-[ma clara,

Humana trova de esplendor[divino;

Profundo sentimento, cm dc-[satinOi

Subindo, pela dor, à Pedra[d'Ara!

Fora o teu verbo fogo c In-[cendiará•— Prodigioso, redentor des-[tino! -

Tudo que ao teu olhar de pe[regrinr.

Em matéria servil sc escravi[7a ra.

Ccmcste, mas sonhaste! Dia[a dia,

Rompendo preconceitos, mal-[diçôcs,

A tua noite cm Deus ama-[nhecia!

flumana treva a despedir ela-[ròcs,

Nos teus soluços fundos dc[agonia

1'uisa a vida imortal dos co-[rações! *'

Do artigo dc José Osório dc.Oliveira peço venia para trás-Ifadar para estas colunas osfragmentos abaixo:

"Podemos dizer, de um artls-como Gonçalves Crespo, que

oi admirável; de Cruz e Souzalevemos dizer que foi grande,

ipois que na sua poesia há grl-e sc.uç.s que ultrapassam a

rtc e sc imitam ao clamoruversal das almas. Agora quo

artista português vai fazerviver na tela a figura de

iCastro Alves, "Poeta dos Es-íeravos", mais injusta se torna,m meus olhos, a sombra em que"Vive. mesmo no Brasil, a obradesse negro filho de escravos,que foi grande poeta tambémpela arte, mas, sobretudo, pelo

profundo sentimento humano.k) que cm Castro Alves era ge-pierosa intenção de ideólogo c sejexprimia pela eloqüência, era.•«m Cruz e Souza drama numa-

v^avg^yl,tWWaa f^^m^^^<M^^Ê^^^:^M^£.^^a^Rjm \ W% # W.%$..^p^fflj[

O POETA NEGRO EM PORTUGAL

no vivido, e táo sofrido que atéas palavras lhe faltaram para otraduzir**.

Citando o paralelo estabeleci*do por um critico brasileiro en*tre Cruz c Souza e Anlero, Jo*sé Osório dc Oliveira acrcsccn-ta: **No poder criador dc Ima-gens ouso eu compará-lo ao cx-traordlnarlo poeta que foi tio-mes Leal. "Monja Negra", essemagnífico cântico á Noite, pu*dia ter sido escrito pelo poetadas "Claridades do Sul" e de"A mulher dc luto...**

Os sonetos selecionados doCruz sáo realmente dos maisbelos do Poeta Negro c de lôda

TASSO DA SILVEIRA

a poesia em lingua portuguesa:"Cárcere de almas", "llenditascadelas" "Alma fatigada","Alma malcr", "Assim seja**.

Aliás, todo esse número 7 do"Atlântico' está magnífico.Destaco do sumário, pelo altoprazer intelectual que me de-ram, além da já citada liomc-nagem a Cruz c Souza, os "Se-te poemas líricos" dc ArmandoCortes - ltodrigucs, o conto"Hitinha" de delicioso humo-risnui, de José dc Lemos, o con-to "As três toucas brancas%donosso Dreno Accloly, o ensaiode Cunha leão "Da poesia pa-ra a filosofia", as "Quatro poe-

alas", dc Cabral do Nascimento,o estudo de Orlando Vllormo"As quatro mentiras conveneto*nais de uma geração".

PASSEIO PUBLICO

Nao sáo, Mestre Valcntlm.sombras de sonho c saudadeas que andam no teu Jardim,

quando o mundo a sombra(invade:

são sombrat de carne. Sim.de carne, dòr e ansiedade.

Uma delas veio a mimE eu. medindo-lhe a tristeza,fiquei meditam.'-! assim:

O HUMANISMO TERIACHEGADO AO SEU FIM?

NA FRANÇA. NÃO! ASSEGURA BEGUIN, COMENTANDOPALAVRAS DE JUL1EN BENDA

ALBERT

BEGUIN comen-ta, om artigo para "LesNouvelles Litteralrcs" es-

tas palavras escritas por JulienBenda, recentemente, a propó-sito de Chateaubriand:"Essa forte educação huma-nista, tanto grega como lati-na, que se verifica em nossoftuU)r (e que antes não se en-eontrou senão em Racine, Pé-líf.loa, André Chenier) prosse-gae, entre os escritores france-bes, até Paul Bourget e Anato-ic France. Em Barres, ela seenfraquece grandemente. Maisainda, com a promoção dos Gi-dt-s, dos VoJérys e dos Claudel.Finalmente, desaparece porcompleto nos mestres de ago-ra".

tícrá certo isto? indaga Be-guin. Assistimos, realmente, nosescritores deste século, a umaprojressiva degradação da cul-tura clássica? E, se é mesmo

verdade que o humanismo ces-sou dc alimentar os letras fran-cesas — Benda seria exato noassinalar o momento em queisto se verifica?

Beguin demonstra que não.James, Proust, Claudel, Vale-ry, Gidc, Péguy, são todos eleseinbebidos de cultura humanis-tica. Apenas o humanismo doum Gide ou de um Valéry si-tua-se noutro plano.

Desapareceu a herança hu-manístlca? Ora, Já se falavanisto há um século, entre osclássicos retardatários. Ter-se-ia podido dizer o mesmo na Re-nascença, quando a ciência doseruditos pôs fim, para sempre,à lenda viva do Virgílio medie-vai, profeta do Cristo ou heróide aventuras romanescas maisou menos nonrosas.

Não vejo em que os críticosatuais sejam mais alheios à cul-tura clássica do que os seus

predccciüores do último século.Thibaudet era um helcnista,André Rousseaux escreveu so-lidas páginas sobre Sófocles,Claude — Edmonde Magny nâose distrai do romance amerlca-no senão para trabalhar numlivro sobre Platáo e as materna-ticas, Emile Mlreaux dá-nos umlivro sobre o mundo homérico eMarrou, sôore a educaçáo an-tlga.

Finalmente, diz Beguln, te-mos a concra-prova do púbh-co: a Franca permanece o paísem que as peças de Giradoux—¦ dificilmente acessíveis aquem ignore os heróis gregos —têm feito longa e brilhantecarreira.

Também Anouilh, Cocteau,Sartre, Camus, Thierry Maul-nier acertaram era confiar nacultura do público, escrevendopeças de estofo clássico.

tanta e lAu pura bclcra(qua*l junto, o mar sem fim,no alto, a grande noitt: acesa,

o nos .-anal*, do Jardiman linhas de Iluminurade tua arte, Valetim)

tanta estranha formosurapara eseoíher Valenlnu,a secreta desventura

dns que vflo, na hun luxe.(«ura.

perder-se no teu Jardim,trio dentro da noite pura,táo periu do mur sem fim..

I* It li LUDI O

r.m todos os momentos do[mundo os poetas cantaram.

Km todos os lunares e tempo*loa poetas sempre cantaram.

I*. seu canto perene imnrcg*..nou todas as vidas e o.-, seres,

Ficou ressoando nas frondes[frescas como cigarra invisível.

IColou-se, como um patino so-

[nora, ás paredes dos edhicios,

Aos muros humildes do?quintais, às torres altas doa

í templos.

Deu novo acento à voz do?{pássaros e das águas, e noveLritmo ao sofrimento e á ale-

fgria dos homens.

Através dc todos os milêniosfos poetas cantaram.

**£ o canto perene fLtuVvagun-do perpeluamente coaio um

[ventosòbrc as florestas c o mar, só-[bre as cidades c os desertos.

E subiu no éter puro.E foi fundir-se na pulsação

[eterna das cstiêlas...

0 espírito de Pedro LuisAo poeta Pedro Luis Pereira

de Sousa apresentou-se certavez um indivíduo com uma car-ta de recomendação que lhe In-dicava o nome como sendoAmérico Brasil Mineiro de Bac-pendi. "- Diga-me uma coisa —observou Pedro Luis — o senhorpelo que conjeturo é natural deBacpendi" "— Sim senhor"."— E quer com o nome queadotou dar uma Infórmáçáocompleta da sua oripem? Nes-te caso, porque nâo acrescentaao final do nome a rua c unúmero da casa em auc nas-ceu"?

REGISTRA-SE

pela pri-meira vez no campo dasartes a criação dc um

/Museu de Arte Moderna Oficial.{ Cabe a Florianópolis a glória¦da iniciativa.

Pelo decreto de 18 de marçoHfdtimo, o governador interinoÍJosé Boabaid, e o Secretário da{^Educação, Armando Simone Pe-b-eira, dão um passo a frente nasbrelacões culturais entre artistas10 o Estado c vincam num atotlefinitivo as bases dc um futu-ro progressista para a arte ca-larinense.

Entre nós, num momento emijque a Arte Moderna ainda aba-'ia e confunde os ideais tradicio-calistas, véu os administradorestcatarinenses, acentuar c pôr cmtrelêvo foros de inteligência eUvanço cultural bem raros. Lou-hremos, pois, o brilho de seme-llhante atitude, honrosa peta ai-na compreensão dos problemasptuais.

bCriado

o Musel, desenvolveu-os planos de atividade. Na

ópria sede do Museu, funcio-jatará a Escola Livre de Pintura,fBob a orientação do pintor Mar-tUnho De ílaro, um dos nossos

Novo Museu de Arte, em FlorianópolisPrêmios dc Viagem do SalãoNacional.

Será, também, inauguradauma seção de Estampas, com-

posta dc primorosas reproduçõeseuropéias, desenvolvendo toda alinha evolucionista da Históriada Pintura.

Essa selecionada coleção ser-virá de útil material didáticopara instrução dos alunos doCurso de Pintura, que. através

8*Salão Municipal de Belas Artes

PROSSEGTJINDO

em suaatividade no sentido dodesenvolvimento das Ar-

tes Plásticas, realiza-se nos sa-lões do Ministério da Educação,o I Salão Municipal de BelasArtes, organizado pela Socicda-de Brasileira de Belas Artes.

Fraco contraponto ao SalãoNacional, essa Exposição nosapresenta a face escura de nos-sas artes.

E' difícil compreender o sen-tido do que procuram esses ar-

tistas, divagando numa lingua-

gem de chavões, enfática c ob-soleta.

Os grandes nomes fazem umademonstração pública de inca-pacidade. Os demais, balbuciamum estranho dialeto, vago eidiota.

Numa tão vasta reunião demediocridades, o difícil é saber-se qual o pior.

Tradicionalistas derivam dosrigores da Academia para umacontrafacção cada vez mais dis-tanciáda dos seus próprios ca-nones eleitos.

Modernos especulam cie ouvido sobre problemas que a igno-rãncia impede dc resolver.

Esse é o esquema geral de umcertame falhado e inoperante.

Melhor que a Municipalidadecontinui nas suas modestas cexcelentes exposições do Assírio,desenvolvendo a cultura popu-lar, como e com as exposiçõesde gravura e caricatura.

O Salão Municipal de BelasArtes é um triste depoimentosobre a mentalidade artística deuma cidade,

dela será iniormado sóbre asmais destacadas obras do patri-mônio artístico universal.

O Museu de A:íc Moderna deFlorianópolis, já possui 14 pe-ças de artistas nossos.

Ultimamente, acaba de rece-ber valiosa doação do governa-dordc_J^_PajjJar_s*—Adtrcilíãr"têTBãll;õs7doação composta de í)

importantes telas dc artistaspaulistas.

Esse donativo vem, assim, en-riquecer a série dc obras queserá pròximàmente exposta aopúblico.

A sua inauguração oficial serealizara em maio próximo,quando será apresentada uma

exposição organizada pelo escri-tor Marques Rebelo. O papeldesenvolvido pelo autor de "Os-cariná", nesse movimento, temsido de relevante valor. A pri-meira mostra de arte modernacontemporânea, incluindo gran-des nomes da nossa c da pin-tura européia, que estimulou acriação do centro de arte queora se criou, foi por êle orga-nizada.

Muito deve assim Fiorianópo-lis aos esforços de Marques Re-beto, nessa fase decisiva •¦*..» seu

desenvolvimento artístico. I

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íomlngo, 17-4-1949 LETRAS E ARTES

lltoaiicCíksMBiM|

Corria — 5

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MURILO MENDESA Rodrigo M. F. de Andrade

Minha alma sobe ladeiras,Minha alma desce ladeirasCom uma candeia na mão,Procurando nas igrejasDa cidade e do sertãoO gênio das .Minas GeraisOue marcou estas paragens,Estas sombras benfazejas,Estas frescas paisagens,listes ares salutares,Lavados, finos, porosos,Minerais essenciais,Este silencio c sossego,Estas montanhas severas,Esta antiga solidão,Com o sinal do seu lirismo,Com a cruz da sua paixão.Igrejas de Minas Geraisl>as cidades e arraiais,Templos cm pedra-sabãolie S abará e Maria na,Dc Ouro Freto c Ouro BrancoDc «rumado e Catas Altas,Dc Santa Rita Durão,Santa Bárbara, Congonhas,Cacié, Conceição do Serro,Cachoeira, São João dcl-Rel,Quantas vezes mediteiOs novíssimos do homemQue o tempo n£o consomeNem a ciência dcslról,Nesses templos soberanos,De riscos audaciosos,De curvas acentuadas,Dc linha; voluptuosas,íntimos, líricos, profanos,Refinados, populares,Que inspiram poesia c dó,Nesses Carmos c Pilares,Nesses Rosários c Dores,Nesses Perdões c Mercês,Em São Francisco de Assis,Km Nossa Senhora do O !Em capeliuhas caiadasNa colina levantadas,Vestidas de branco c azul.Minha alma desce ladeiras,Minha alma sobe ladeiras,Desce becos, sobe viciasCom uma candeia na mãoProcurando a forma altivaDa cruz, viva tradição,Pedra de ângulo, baseDa rude religião.Diviso lividog Cristo»Diviso Cristos sangrentos,Monumentos de terror,O Cristo da pedra frio,O Senhor da cana verde,O Cristo atado ã coluna,O Senhor morto esticadoEnvolto em branco sudârloDebaixo do próprio altar.Vejo agora mãos chagadas,Nossa Senhora de espadasCravadas no coração,Coroas de espinhos, vasosPor onde escorreu o fel,Tíbias, caveiras coroadasPinturas já desmaiadasNas telas emolduradasEm forma de medalhão,Representando o Paraíso,A Trindade, a Anunciação,° ^ava-pés, o Batismo,A Morte e a Ressurreição;Relicários, oratórios,Pelicanos de coral,Sinistro baixo-relvo

Libertos por São Miguel, r**lLongas louças de Longuinho,Atlantes do Aleijadinho,Portos, púlpitos, profetasMarcados por seu cinzcLRedondos anjos barrocosQue o torcuto retorceuArabcscos sensuais,Apóstolos duros, secos.Peregrinos medievaisCobertos de amplos sacos,Marchando com seu bastaofCalvários extraordinários.Tarja com estrelas e asas.Tocheiros, lâmpadas, lustres.Galerias, balaustrcs.Grades cm jacarandã.Anjos-aurora, arcanjosDe panejamentos estranhos;Com as asas espalmadas.Pias de escuras sacristiasLavradas cm pedra-sabão.Tetos altos do AtaideExaltando a religião;Paredes cm falseado,Consistórios, corredoresOnde vagueiam fantasmasDc poetas inconfidentes,Do frades conspiradores;Olcogravuras mostrandoA via sacra da Paixão,Carátulas, gárgttlas negraa.Colunas tremidas, gregas,Caixas pedindo dinheiroEm antiquados IctrcirosDc oremus e ora pro nobls,Exvotos comemorandoCuras por intercessão;E a nobre talha dourado,Patinada, trabalhada.As imagens ressaltandoDe nossos oragos, tantosSantos de esgarçados mantos,De arbitrárias cabeleiras.Roxas, pisadas olheiras,Os membros caídos, feridos.Desfeitos, dcsmilinguidos.Contemplando comovidosO descimento da cruz!Minha alma sobe ladeiras;Minha alma desce ladeirasCom uma candeia na mão,Ilumina embevecidaSeus santos de devoção,Çfompaiohelros vigilantes

Das a-mas do purgatório

Da crus da sua paixãoQue deu corpo, força e vidaAos templos de pedra-sabão iSão Pedro, Santo Isidoro,São Gregório, São Leão,Santo Bárbara, Sâo JerõnlmeSão Paulo, Santo Juliana,SanCAna, São Sebastião,Santo Agueda, Santo Mônlea,São José, Santo Verônica,São Francisco, Santo Ciara,São Policorpo, São João.A igreja agora agasalhaUma densa multidãoQue procura comovidaNos mistérios redivivosDa nossa religiãoNovo alento, lus e vida,Sustento, consolação.Sinos de bronze ressoam,Ressoam sonoros sinos.Vejo figuras de orantes,Orantes e comungantosCom os braços estendidosOrando intima oração,

Assim se vê nas pinturasDas antigas catacumbas,Nos afrescos bizantinos,Mulheres, moços, meninos,Catccúmcnos, anciãos.Assim oravam outroraOs primitivos cristãos.Vejo beatos sofredoresTrazendo bentinhos. fitas.Rezando gastos, rosários.De olhos fixados no cén,Velhas bíblicas, cevera»,Nos ombros escapulãiios.Perfil talhado a formão,Muitas vestem â maneiraDe senhoras dc outras erasCom filo preto, fichu,Dona Engracia, i ,na Urbana,Donana, Dona Juju;Irmãos da santa irmandadeEncostados as paredes,Pensando na procissão.Vaidr -rs nas opas verdes.Vermelhas, brancas, violetas.Pretos dc vela na mão;Pretinhas dc laçaroíes.Rapazes cm seus capotes.Cõr de cinza c vcrmelhúo,Garotinhcs retorcidosDescendentes dos garotosQue inspiraram o AlcijadiiihoNcs anjos do medalhão.A grande ação começou.A sublime teologiaRevela a sabedoriaDo sacrifício inefável,Do mistério universalDe que todos participamNa terra, no ar, no ecu,Unidos na comunhãoDo Deus eterno, uno e trino,De um só mesmo batismo,Uma só fé, um só pão.Vozes ascendem aos aresQue desprezam o cantochão,Rompe um canto pela naveA Santa Maria Etcruu,Um canto sentimentalQue ofende a liturgia,Fonte viva, genuim»,Da santo religião,Mas que toca a alma ingertvDo povo rústico e chão.Agora um baixo profundoCanto um hino de paixão,Esconjura o diabo imundo,Clama os pecados do mundoEm longa lamentaçãoChorando com gravidadeChorando oculto nas gradesAs saudades de Sião.Mas chega a missa ao momentoDe maior concentração.Surdo silêncio se fa».Abre-se agora o sacrárlo»No seu recesso repousaO Cristo em sua nova leiJá que o antigo documentaCede ao novo testamento,Cede ao novo mandamento,Mistério de caridade,Mistério de comunidadeE total despojamento.O sacramento do altar,Saúde, força, sustento,Ante o qual todo elemeniSe inclina para adorar.O celebrante apresentaA Santíssima TrindadeEm nome da humanidade

Ao Pai eterno riemente.Ao l-nJi.i. verbo humanado,Ao Espirito DivinoUnidos na cai idadePor um no que náo detata,O corpo de Nosso SenhorNa santa cruz imoladoVencendo assim o pecadoPela presteza do amor.O Cristo, Homem compassa.Deus trasladado do céu.Transferido a dura terra,Solidário na sua dor,Se reparte nos fiéisQue traçam cruzes nos aresRelembrando a salvação.Curvando-se ante os altaresOnde se aprende esculpidaEm silêncio oferecidaNa talha e pedra-sabãoAo culto do Deus criadorA historia da Incarnaçáo,Paixão c RessurreiçãoDc Cristo Nosso Senhor.Murmuram o Agnus Dei.O celebrante di-spcdcO povo Itc missa estPara esto cumprir na ruaO que no templo aprendeu.Depois lê meio apressadoO cnvaugclho de Sâo João,Cosmogonia do Verbo.Afinal com o povo fielRecita a Salve Rainha,i?anta e solene oração.Senhora benigna e pura.Mãe dc esperança e doçuraA quem todos nós bradamos.Gememos c suspiramosNeste desterro do ecu,Os olhos consoladores.Clementes, a nós volvei.Vossos filhos pecadores,E mais tarde nos mostrai,Espelho de todo bem,Depois de serena morte.A face do Cristo, amen.A multidão se dispersaNos seus trajes dominrrueird*»,Cada um retorna ao lar.Minha alma sobe ladeirasDe Ouro Preto e Mariana,De Sabará c São Joáo,Evoca no ar lavadoEvoca no ar lavadoO drama da Redenção, ~Minha alma sobe ladeiras,Minha alma desce ladeirasCom uma candeia na mãoProcurando comovidaProcurando comovidaA cruz da sua paixãoQue deu corpo, alento e vidaAos templos de pedra-sabão.Por isso escrevi um cantoCom palavras essenciaisBaseado na belezaDa antiga Minas Gerais,Inspirado na grandezaDa rude religião,Principio è fim da existência.Essência da perfeição,Origem de todo bem,Penhor de ressurreição,Doutrina de vida inteira,Em louvor de Cristo, amen.

Ouro Preto. 9 de Fevereiro de 1Vív.Festa de Sâo Cirüo dc Alexandria.

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^fW*!*&f ::--JVí*^M!s^;-í'

Página L E T R A S E A R T E 8

CONTRA

os que acentuama iiupurtanria da l'-i-rologia na apreciação e

Julgamento dos fenômeno este-ilcon, lliMirgein-se llão iin-iiit*.nuuicrooo!», «»•» que aliiurlitauí, aesse tc!»neito, a mais injustifica-da prevenção, a ponto de con-siderarem inédita uu aleatóriaa Intromissão da ciência pslro-lógica no terreno da Arte. Acontrovérsia resulta, a meuver. de nial-enteudldos que sevéin perpetuando, através dasgerações, á custa de uma ar-guiitciitaçáo sofistica, habllnirti.te explorada por ambas ascorrentes.

O equivoco inicial teve mi-gein, ao que parece, em épocasremotas, quando se procurou,pela primeira vez, Identificar o(ciiio á loucura —> noção hi-perbolica que, como se sabe, ai-raiiiuu o seu desenvolvimentoma .iiun no século passado, soba influência das Idéias de Lom-broso. Mcdiros-cscritotcs de tõ-tias as parles do mundo entro-garam-ie então a ésse gênerooc investigações citntifico-lite-rárias e publicaram estudos deInteresse indissimulável, acèr-ra das anormalidades mentaisc caracleriológicas, apresenu-das por alguns homens de ge-nlo. 1.' certo que muitas dessasmonografias pecaram pela au-afinela de espirito literário, oupelo mau gosto de sua língua-liem excessivamente técnica,tu ainda pelo dogmatismo sim-pli i.i de suas conclusões. Tõ-«Ias, porém, contribuíram, cmcerta medida, para a constru-cáo -le uma verdadeira nosog»-a-fia do talento, tendente a de-monstrar o desequilíbrio e aanormalidade de alguns dosmais altos e vigorosos repre-scr.íanlcs da espécie humana.

Isso, entretanto, não provanada. Porque uma coisa é re-conhecer que alguns dos gran-des espíritos da humanidade —nrtistas, guerreiros, santos e fl-lósofos — foram doentes. E ou-tra coisa é querer estabelecerhipotéticas relações de causali-dade biológica entre doença egènto.

oe que o gênio, em si, é umann. muna, nao há quem possaduvidar. Anômala estatística,bem entendido. E náo na accp-çao particular de morbidez —•cond.ção acidental e contingen-te, que não pertence ao genlo,porque é de todos. Está visto,pois, que anomalia, no caso, étudo que representa uma de-formação do homem-médio eque exprime uma infração àordem evolutiva. Será, digamos,em desvio não patológico dotipo padrão de humanidade,eleito como objeto de confron-to. Dir-me-ão que, desse modo,o psicopata fronteiriço, não en-íermo propriamente, e o ho-meai de gênio, não psicopata,serão estatisticamente equiva-

—lenies.-por-isso-que ambos com-portam, em última instância,essa mesma delimitação con-ce'tuaL A objeção é válida, emprincipio, mas não destrói osignificado da premissa. Achoaté admissível que o aoarecl-»ic"to de úxa e de .outro, naevolncão humana, possa ser re-fiiâo por um mesmo determinis-mo biolóídco. E dai. quem sa-fcc, a freauêncía eom que sesurpreendem perversões do ea-rt*+,ir e anormal^^vles-dc con-d'?írv em tantas homens parn-ÍO.t^Jnwjçié dotílílos de IntcU-gcXr"*,a éxrenÇíonfil. Se^ra-os,jpevé.nt. nr*»'»is?*rt'»,K»te. cia iwr-

*f^*»»o — *>*q ó, a eawfída^e 'leír'1» içVp novo", ou como ?»^0*"!"!TJ fC*»*»*. — "O f"'"***^ •*>«<|

I»».,"--*-"* o~*-"n mm *-*•* ~« HO-de ensinar nem aprender".

PSICOLOGIA E ARTEIA. L. NOBRE DE MELv.

Outro pressuposto que, nonu o cnle.iucr, muito tem con-tribuido para a lucomptceiisaoque paira nessa matei ia c jádo nosso tempo e se deve uogosto de Freutl pelas frases doefeito, rlrutificamcnte duvido-sas, mas litcrárlanuntc bemconstruídas. Sua obra, alias,como já o havia notado lies-nard, tem sido mais atacadapor esses aspectos do que peloque constitui propriamente •corpo de sua doutrina. "A neu-rose é uma obra de Arte maio-grada, diz o Professor de Vle-na, dn mesmo modo que a obrade Arte será uma neurose bemsucedida". Eis a frase enge-nhosa e ambígua, que tem da-do lugar a tantas interpreta-ções errôneas e a um sem nú-mero de conclusões precipita-das por parte daqueles queacham de ver, conseqüente-mente, em todo artista um neu-rótico ou um degenerado.

Esse conceito, no entanto,está bem longe de merecer asignificação que Ibc atribuemos leigos. Antes de mais nada,convém esclarece-, de uma vezpor todas, que a ortodoxia psi-canalitica considera mais oumenos neurótico a todo indivi-duo que não solucionou pelaanálise o seu conflito básico.Nesse sentido, neuróticos somostodas nós, que nunca fomospslcanaUzados. Como neuróticoserá também o próprio criadorda psicanálise...

Não é verdade, porém, queFrcud e seus continuadoresconsiderem a Arte uma enfer-midade, ou qualquer coisa queesteja a solicitar a "atençãoprofissional dos médicos". Aenfermidade, como bem obser-va Jung, é uma condição hn-manamente geral, que nadatem de específico para o artis-ta e que é, sobretudo, inessen-ciai para a sua Arte. Tudo queFreud pretendeu exprimir coma sua frase famosa foi simples-mente isto — que as condiçõespsicológicas que precedem oacareei mento de uma neurosesáo, em geral, semelhantes àsqne antecedem a produção donma obra de Arte. Aludia, dês-se modo. ao estado de Insatls-fa^o e de relativa inadaptabi-lldade que, em nns, pode levar

a uma coiiMi-ção mórbida, ccm outros, a uma criação ar-tlstica ou cultural de qualquerespécie. Como a própria psica*iiálise, por exemplo...

Isto posto, tudo o que resttaveriguar é até que ponto podea Arte ser objeto de estudu daPsicologia. L' claro que a cs-semi a ou natureza da Arte nãopertence ao âmbito das invés-ligações psicológicas e somentedevo ser alvo tle consideraçõesde ordem estética. A contribui-çao da Psicologia no particulardiz respeito tão somente aomecanismo da criação aiiistl-ca, a Arte considerada aqui co-mo atividade psicológica do serhumano, e também quanto aosentido da obra de Arte, emsuas relações com o artista.Nessa direção, não há como ne-gar que a psicanálise veio, defato, trazer para o campo daArte um mundo de sugestõesvaliosas e de esclarecimentosmagníficos, graças aos quais sa-bemos hoje, por exemplo, oquanto uma obra de Arte rc-flcte as vivências intimas epessoais do seu criador, a in-fluência que sobre ele exerce-ram certos acontecimentos rc-motos da infância e até mes-mo o segredo das imagens e dossímbolos de que se utiliza,consciente ou inconseientemen-te, em sua mensagem.

"Escrevo para não me ma-tar", responde André Gide."Madamc Bovary c'est moi",exclama Flaubert. E se nâo fô-ra o auxilio da psicanálise, aca-so teríamos podido decifrar, ai--rum dia, o misterioso sorrisoda Gioconda? A tortura secre-ta de llamlct? A simbólica an-cestral das velhas lendas e dosmitos?

Diga-se, a bem da verdade,que não somente a psicanálise,mas também outras correntespsicológicas da atualidade mui-to têm contribuído para a eín-cldaçãa dos problemas estéti-cos. notadamente a caracterlo-logia, com a sua noção básicade "postura", Introvertida ouextrovertida, de tão fundamen-tal significação para a com-preensão humana dos produtosda elaboração artística. Quemquiser, por outro lado, Investi-gar as fases por que passa o

processo criador, dei.de o In»-taute Ua inspiração ato a cou-crclitaçáo da obra acabada •correta, certo nao poderá pres-cindir dos subsídios da velhapsicologia de Riboi, especial-mente dos que se referem aocapitulo do "esforço intclec-tual", uinda atualissimos, e quotanta repercussão tiveram sobroos estetas da época. A questãodo "tempo interior", de que nosfala Bergson, é outra noçãopsicológica da mais ampla •corrente aplicação ã critica doArte, por isso que pode até ser-vir como critério de aferiçãodos produtos intelectuais, espe-cialmente quando oriundos decerta classe de introspectivos. amaneira de um Joyce, ou deum Proust. Que dizer então das"vivências Intuicionais de an-tecipaçáo" da fenomcnologlade llusscrll, como ponto departida para a explicação domecanismo do gênio e da na-tureza da inspiração? Comodesprezar ainda as contribui-ções da "Gestalt", que vieramrevolucionar, por inteiro, oconceito de "forma" c, portan-to, influir, decisivamente, napercepção do fato estético e nojulgamento dos valores?

E' sabido, por exemplo, que,até Kant e Ilcgel, a estéticaera dominada, quanto ao essen-ciai, por Aristóteles, que ca-racterizava a Arte como imita-ção da natureza, e não distin-guia o belo do bom, do útil edo agradável. A estética deKant, que representa, sem amenor dúvida, um avanço con-siderarei para a sua época,velo mostrar-nos o que há doativamente criador no proces-so da produção artística. Emais ainda: veio ensinar-nosque o belo é prazer desinteres-sado, por isso diferente doagradável, que é prazer sensí-vel, do útil, que se assenta nasatisfação de um desejo, dobom, qne tem sentido moral, edo sublime, que é um valor,so mesmo tempo, estético emoral.

Qne • belo é um fim. em simesmo, coneorda-se facilmente.Dal a pretensão à validadeuniversal de um julgamento es-tétleo. fundamentado em rs-teóes "s priori". Mas existira,

Domingo, 17-4-1949

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Xilogravura do OSWALDO C0L01

«caso, a contemplação purae totalmente desinteressada ?Não, porque se o belo é um fim,em si mesmo, s finalidade dobelo não está nele próprio, •sim na sua relação com a aos»sa consciência. O belo não 4uma propriedade estável r oh-Jetiva, por Isso que varia como sentimento do Indivíduo queo contempla ou julga. "A pai-sagem é um estado d alma",dizia Proust. E com Isso sa-lienlava toda a precariedade donosso julgamento estético, sem-pre perturbado por interferen-cias subjetivas e estados de ai-ma Individuais.

Mas que espécie de relação êessa que se estabelece entre •objeto estético e o contempla-dor? Para Kant, como se sabe,só s forma condiciona o pra-ter estético especifico. O signl-ficado do objeto é conteúdo dasensação e tem caráter náo-estético, mas scnsorial. Essarelação seria, pois, unicamenteformal. E' a forma, efetiva-mente, que confere ao objetos "unidade Interior do vário",exigência essencial da obra doArte.

Esse conceito de forma emKant é, entretanto, rulimcnia-rissimo. Basta ver, por exem-pio, que, quanto â pintura, sóo desenho é considerado por-tador de agrado estético, ascores possuem apenas o caráterde agrado sensível.

i. aHui, ii.cun.iii.ciitc, que amoderna à*sicologia da Formaveio trazer-nos eseiarccimen-tos uicàuuiaveis, através de seufoimiuavcl contingente expe-rniiciit.il, relativo aos camposespacial c temporal da pereci»-çao e da representação. A for-ma e um todo, uma organiza-çao, em cujo interior as par-tes possuem tunçòes determina-das, como unidades autônomasde segunda ordem. Isso querdizer que uma parte num todoé diferente de quando isoladaou cm outro todo — condiçõesque tanto podem operar mu-dança local na forma percebi-da, como traduzir-se por mu-dança nas propriedades da lor-ma total. A percepção das for-mas, isto é, dos diferentes mo-dos de organização de um todo.depende de uma constelação deexcitantes, não só objetivos,mes também subjetivos. E Is*so porque o nosso próprio psi-quismo náo é, igualmente, emessência, outra coisa mais queuma forma, ou melhor, umaestrutura organizada em teta-Udade e resultante da Integra-çâo sucessiva de funções bloló*gicas inferiores, em uma evolu-çâo total, dinâmica.

Tenno para m»m que essespostulados não são sem impor-tancia para a Estética e, con-Ecquentcmente, para o exerci-cio da crítica de Arte, em quepesem à candura de certos"ases" de nossa critica oficial,que não vêem nisso mais que"probalismos científicos". Oude outros ainda mais radicais,embora não menos inocentes,que se referem a essas questõescomo a — "uma ciência que seresume no maior consumo determos técnicos"...

Tinha, pais, razão o nossoadmirável Eduardo Friciro, és-se ático perdido nas montanhasde Minas, quando profetizava,há alguns anos, que os críticosdo futuro teriam "de se inspi-rar nas direções da psicologiado instinto e não em capricho-sas preceptivas de gosto ou emarbitrários postulados das es-colas". Adotado esse critériocom senso e medida, a análisepsicológica «H «**»»•» de a**4'» »»o-

(conciui na pag. 1ml j

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Domingo, 17-4-1949 LETRA* fc ARTES

AHliINKi

um manifestocontrário uo « ¦> i :i • ..,da Paz, ora promovido

nu Hão Paulo por um grupo doIntelectual». I. esta minha ..u-ttide, aparentemente entranhaexige um» explicação, puta ouçoa cadu instante intcrpelaçoc*:vot. é nii.io pela guerra?

Não hou u favur da guerra.Quem o seria cm s.i eonseien»cia? A favor du guerra mo osfabricantes dc munições, o» po-li ticos sem escrúpulos, os aluei-nados. Alas náo sou pela pro-p.iganda pacifista em beneficione um grupo dc potências tãoestreita mente imperlalisusquanto as do grupo contrário.Sou contra cs.se congrcvso daPaz, como amanhã seria contra0.1 Estodoss Unidos se viessemsolicitar minha adesão a umCongresso que se reunisse como fito in lis ou menos declara-do dc hospitalizar a Rússia ououtro qualquer Pais. Sou contrao congresso da Paz porque nosprecedentes congressos deste ti-po o tom dos dtacursos c a qua-í»c unanimidade das atitudes rc-velaram a preocupação Qnleade justificar erros Injustificá-veia c jogar sobre o adversárioa responsabilidade peto queOcorre neste mundo de loucos,evidenciaram a preocupação deatacar na sua dignidade escri-toro; que mc sao particular-mente taroj, c obras que eu ad-miro como as mais realizadas,dolorosas e belas dc norso tem-pe, unicamente porque esses cs-critores e essas obrr-.s não pres-riam a Ideologia da parte queorganiza os congressos de Paz.Isso não quer dizer entretantoque eu justifique a intolerânciadM oolrcs c aplauda a atual•líica noríc-americana dehostilidade ao pensamento da

Levantei de madrugada,'ui varrer a Conceição.Encontrei Nossa Senhor*Cum ramo de ouro na w?,st>Eu lhe pedi um galhinho,Ela me disse que náo.Eu tornei a repetir,Ela me deu seu cordão.Ele era tão compridoQue arrastava pelo chão,Emendava sete voltasE um nó no coração.Ah! meu padre São Francisç*Ah! meu padre São João,Que me deu Nossa Senhora,Sexta-Fcira da Paixão!Eu também trago comigo,Minha Virgem Conceição,Um cordão feito de doresCom um nó no coração.Debaixo da Candelária.Estava um cruzeiro armado,Dc estrelas feito 1113Ele estava rodeadoNos' Senhor, Nossa Senhora,Lá estavam bem sentado.E pediu Nossa Senhora :Não vá em JerusalémNem hoje por todo o diaNem na semana que vem.Peixài-me Senhora Mãe,Quem quiser há-de me acharCom uma coroa de espinho.Pela rua da amarguraQuem quiser há-de me achar.0 sangue marca o caminho.Quctn esta oração rezarSete Scxta-Feira Santa0 inferno não verá4 Porta do ParaísoAberta sempre estaráp«''« grandes e pequenos,

,Pc':ra quem quiser entrarQueni esta oração esquecer

PáginaAS RAZOES I>K UMA ATITUDE

3

EM TORNO DO"CONGRESSO DA PAZ"

{SÉRGIO M1LIJET,

esquerda mesmo sob as formasmais democráticas.

Acima de tudo Isso, viso, comminha tomada dc posição, u de*fesa da liberdade do homem oa possibilidade dc sua realiza-çâo integral, o que só se me ali-gura alcançável cm um climademocrático. Sou socialista, massó vejo a solução socialista den-tro da liberdade dc pensamen-to, c de palavras, dentro do quea humanidade conquistou nc.i-tes últimos cem anos. Como umpasso â frente portanto. Em ht-potese alguma aceitaria o sa-crificio da democracia como nc-cessãrio a realização do sócia-lísmo. pois seria uma vitóriaapenas exterior c que redun-daria afinal na perda dc tudoe na criação dc um estadismotão perigoso quanto o fascista,dc má recordação.

O dilema socialismo ou liber-dade náo existe. E' uma chan-lagem dc quem se interessa me-nos p?lo socialismo do que pelatomada imediata do poder c aimposição sectária de sua poli-tico. Mesmo, porém, que cxls-tlsse o dilema, não hesitaria cmopíar pela liberdade, pois deu-

tro dela se realizará o social In-mo, ao passo que se escolhessea outra ponta do dilema teriacomo único resultado a perdada liberdade. Ora, de que adi-atilaria o socialismo se não dc-vesse levar também ã realizaçãoespiritual?

Sou pela paz c multo maissinceramente do que os arautosimprovisados dela, os paclfla-tas de última hora, que nâo ra-Iam cm nome da paz mas exe-cutam tão sõmcnteuma mano-bra dc retard.uuerff, da guerra,visando adiá-la para melhoroportunidade. Bem sei queno Congresso se encontramparticipantes honestos. Bem setque a maioria do púbiico prn-sente é formada dc indivíduosdesejo3os dc concórdia e boavontade entre os homens. Masa maioria é manobrada poruma minoria ativa, hahll. eobediente aos homens que des-prezam os anseias das masssasc atentam exclusivamente paraos próprios programas rtc ca-pansao c dominação.

Dirão que pensando assim fa-ço o jogo do reacionarismo. K*mais uma chantagem a que re-

cuüo dar ouvidos. Com essa ad-vertem ia os totalitários dc es-querda destruíram aos poucosas forças sadias do socialismo.

Acenando com c.s.*a falsa ver-dade, tomaram com-; dos sin-dicatos, das associações dc cias»se, dos lugares-chaves da vidasocial e subverteram jí ordemdemocrática cm inúmeros pai-ses. Terão tido esses países acompensação do socialismo? E*possivel, mas eu indago: ondose acha mais feliz o homem co-mum, onde goza mais elevadopadrão dc vida, onde pode mc-lhor realizar-se cspiritualmcu-te? Será na Bulgária ou serános Estados Unidos? Na própriaRússia ou na França? Na Che-coslováquia ou na Suíça.' E on-de estará éle mais perto do so-cialismo? Não será porventurana Inglaterra trabalhista?

Censuram aos Estados Uni-dos a recusa da permissão t*eentrada no pais oposta aos de-sejos dc Portinari e Nicmcyer.E têm razão em lese os que fa-zem a censura. Mas náo se ob-serva do outro lado intolerãn-cia ainda maior? Não é maisIntransponível a "cortina de

ferro-? Nâo é menos devassava!a situação dos Estados coniu-nlutas ou da» chamadas dento»era cias popular»»?

Se me perguntaram que par-tido deveria ter tomado du *•»•le a* odiosas guerra» tir «-gião, o francês do século a VI»eu responderia: nenhum. Tãointransigentes, violentos e peri-;: o. na nua cegueira eram en-t.to o* protesta 111 es como os ca-tolices. A verdade náo estava,nem com uns, nem com outros,mas com o bom .Montaigne e amaioria dos humanistas, com os"intelectuais" da época e náocom os homens dc açáo ou ossermonciroí de ambos os lados.Pois nosso tempo se assemelhapor demais aos dias sangrentosdc outrora. A verdade não es»tá com nenhum dos adversários,mas com os que vêem lúcida»mente a síntese necessária de»sas teses c antíteses ero^pro»eença.

PSICOLOGIA E ARTE(conclusão da 6* pag.»

de-sc dizer que em nada se dé*»tingue dc uma critica literária*viva e penetrante.

I.' fácil, aliás, verificar queas grandes correntes estéticascontemporâneas, dc Henncqui*»a Bcncilotto Croce, de YYilliam,Blakc a Charles Lado, todas es-tão fortemente impregnadas deconceitos psicológicos, noçõesconsideradas imprescindíveis a.honestidade c segurança dosuas interpretações. Porque ocerto, queiram ou não queiramos corifêtis do arbitrismo im-prrssionista. é que a Estéticatom sido tão in-eparávol da,Historia da Filosofia, ouanto arPsicologia o é da Estética»

"LEVANTEI DE MADRUGADA's^to íM^mm i»«& %£&&£&gia Fagundes Telles. Em um de seus trechos, apresenta ã^i^^^^-élmseZlaTánT^^mn^**^^series au Lundi ,c em que a Virgem Maria roga insistentemente a seu niha nuc«ao se dexe suplieiar. obtendo sempre, como resposta, uma tra nègatía9

Xilogravuia de EJRIC GILL (1926).

Quem ouvir, não aprendeLá no Dia do JuizoGrande castigo há-de terrTodo aquele qua rezarUm ano continuadoTerá tanto de perdãoComo os anjos teve a guarda*Meu anjo da guardaBem-aventuradoComvosco meu anjoMe tenho guardadoQuando ouvi o etiamadsDaquele SenhorAjudei n.eu anjoCom todo o fervorSe fervor levar,Muito hei-de sentir^, \Ajudar meu anjo <Para ao céu subir.Três horas da tardeA terra tremeuTão duro foi o povoQue não se arrependeu*..Se se arrependesseTeria o perdão,Seria perdoadoComo o bom ladrão,A Virgem MariaPor mim está rogancCsE o anjo, da guardaTambém está ajudando^Naquela madrugadaDe grande alegriaNasceu Jesus CristoDa Virgem Maria.A Virgem MariaFoi minha madrinha,Só nela eu acheiUm amor de valia,Amor de valiaVos peço tambémDai-me o reino da glórfat\Para semore* Amérn^,

Page 8: Letrt^Artes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1949_00122.pdf · ccbulário triunfal do poeta fran* ...-. profundo*. Já so citeu a verdade de que a fi cristã se baeoia

HffÜil itiillílM

ARQUIVO SMPLACAVEIS

DE

JOÃO CONDE'... Se um dio eu rasgasse w meu» ver-sot por desencanto ou nojo da poesia,

não estaria certo do sua extinção: restariamOS ARQUIVOS IMPLACÁVEIS de João

Conde'

Corlos Drummond de Andrade

POEMA DE ASCENÇO FERREIRA

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O HOMtM t>AS3CICATRIZES

"arlos Drummond de AndradeFernando SabinoDinah Silveira da Oueíro*.José CondeAdonios FilhoRubem 3raga

ILuís Jardim

1Cyro dos AnjosCarlos LacerdcRosário FuscoLedo IvoLúcio CardosoMarques RebeloCornai"

CARTA ESCRITA EM IS15, PELO I#H#*» (Âá9 nw*lt.lt** •/#.. li **

OETA PAUL ELUARD k*>«/»i.t nr..i «•-...

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MANUEL BANDEIRA'. ¦« •V«4

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NOTA — ,4 tTí/Wa íy/tt' anz/w reproduzimos, tem sua ci\ ciai significação por ser a primeira vez que o grande poeta francês, Pa ul - Eugéidonimo — Paul Eluard — hoje tão famoso. Outrade danças c contradanças dc nomes) é de ter sido d iqiila a "Nir Souza", que outro não c senão o nosso querido poeta Manuel Bati ira, que no registro civil sechama Manoel Carneiro de Souza Bandeira... N6

Cunha", outro não é senão o escritor T

Mon Amorencyle 6 juilletMon cher monsietir

ftbuza,jespère que vous me

pardonnerc-z d'être reste silongtemps sans vous écrire.

Pensez-vous toujours àma revue-* tlle ne paraítraqu'en Seotembre. Vous au-rez donc ainsi tout le tempsde me faire une chroniquepour le premier numero.Comme bien entendu, oc-cupez-vous du mouvemen!le plus avance à votre idée

(et je compre sur une traduetion pour mon seconco°).

Ci-inclus un calque d'undessín de Rimbaud. je voussnvoie par le même coiu-rier et une Saison en En-fer... et 1'Otage, de Clau-dei (loin d'être sa meilleu-re pièce).

lei nous cuisons certalnajours et gelons d'autres.

Néanamoins je me portetrês bien et j'ai gagné plu9de deux kilogs. Escrlvez-moi Io plus vite possible et

de votreleures.

Pourlirterjires

Grindel, passa a usar o pseuvtiatlaridadc desta carta {rico

ost-seriptum. o "Monsicur Jastão da Cunha...

donncz-rfi des nouveíicsnté — les meti-

nongroía

les raisons trêsje change mon

nom. ízciIrez désormaís àPaul Elufrí i La Revue Ouverte por ira en épigraphecette phr, ;e de Hei Io: "Labeauté e Ia forme qua1'amour d nne aux choses"

Cest- \ >us dire 1'espritde mes cj laborateurs et lemien.

J'ai aus i, pour mon premier nun ro, une traduc-

íion de Doemesd'André ^dy.

je veux vous en laísserIa surprise: un Verlaine daSagesse plus sombre, plusoriental. . Cest une vén-table joie --"uir moi de lercenaitre

Bien à vous,Paul Fluard28, rue St jacquesMon Amorenc)

(S et O.)

P. S. Mes amitiés âMonsieur da Cuhna,

AULAS A DOMICILIO r «

í3.

aPfvOFF.SSOR HABILITADO PROPÕE-SE A LE( [I0NAR A iX)MICIL30

PORTUOUEZ, ERANCEZ, ARlTflktlCA ^ ^EGEOGRAPHIA

i^rtiífARA aij~m5:^-: pau a o kxamJdê admissão \0CíYM&AtílO MINl^i— .---..

OA r>5 MELHORES REFEREriCIflS SOBRE SUflJI Ç&DnDE MORAL P SmPRDFISSIOnflL * "

CHAMADOS A

CYRO DOS A^IjOS««¦««•«w* mmmammmattSSMMMmmSSSt1SBaS3S3SSM ****

RUI BERUROO GUIMARÃES, 1200

Quando adolescente, em Belo Horizonte, Cyro Jos Ar! teu

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iiMm. m

S

U 0««nor „ .,fda dondo ¦ ^

o autor de "O Àmonuen^poro isto fex distribuir o cartão que reproduzimos . Certa tem "te-nc.(;

Belmiro": "Pota bem do ensino, nem um só aluno me oparce* i « tiVe de covor ^ emprê üpúblico"

'$&Sm$^/$ff?u ¦¦-•• "6m^:::'~:"'—"" ~ü,;..^-.".-:¦-. ¦¦¦¦,>:¦:;¦'¦¦'- ¦:¦¦¦¦.•-¦¦ *--\:¦¦..¦»'¦-¦- •¦ ^¥v^.ti^^^-iY<^^^''y^^'^^'.i^ 'tmaitàsàuA •-: ¦vv.v^^iPWW.

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C 0 N f IS J ó í,

ALUAJOEl SILVEIRA

..Meu raro João CondemV. Já conhece a metade da

história da "Lua". Lembro-mequando fui para a Itália, dei-«ri com você um material umtanto confuso — recortes deJornais e originais etisios decorreções — que sua daliloirra-fia Incipiente (na epora, vocêera uai datilografo de dois dedos) passou a limpo — ato lie-mico que ainda hoje me como*ve. Sua dedicação foi tamanha~tuc rttnda hoje- me sinto inibidodc me queixar de algumas in-correções que encaparam á suadtivencia. Mas aqui não é o lu-gar de tratar dr.'..*

Quanto aos contra do livro,loram todos produziáu* num

-. ¦ i* MM HhBBHHM WmW

• Ví,: ¦ '¦ ¦ * '• ¦.¦-."' i•¦ K - ¦¦¦:'"/¦''¦''»**% .:**:¦••¦ :¦:.- ..... '. >j

: :snM.m* *fi*rtns wmt&i 1

tempo — .... se». .r-« sete anospassados — em que minha pre-duçfio literária, segundo aflr-

inativa do Marques Rebelo, eraverdadeiramente inflacionarla.Cheguei, na época, ao ponto decompor ama história num tr?.-Jéto de bonde, entre o Trapl-cheiro e a cidade, o que cau-sou verdadeira indignação e no-Jo ao au*<v dc "Oscarina", pa->ra quem a literatura é um ver»dadeirc artesanato

Antes de serem enfeixadn? ei»livro, toda? as histórias do vo-lume já haviam sido publica-das. em revistas e suplementosliterários. "A Lua", que dá ti-tulo à brochura, saiu cm "Lei-

tura", c foi composto eom omaterial que me forneceu umalonga amizade com o sambistaPaulo da Portela, recentemen-ie falecido. "Ismael" é o capi-tulo incial de um romance frus-trado. Aliás, o livro, todo êle, éa última tentativa de nm lite-rato frustrado. A última ou apenúltima? Ainda não sei o cer-to-

Sempre seu, •JOEL SILVEIRA

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O ^^///jo acima, em que se destaca, à esquerda, o pro-fessor Pereira Lira, aos 13 anos de kiaae, foi tiradode uma fotografia em que aparecem os componentesda "Areadia', sociedade literária dos alunos do Cole-

gio Diocesano Pio X, dc capital da Paraíba.

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pi^WBI P^^P^spRRI

O escritor Afonso Arinos dc Melo Franco, quandoaluno do Colégio Pedro II. com o seu professor

João Ribeiro.

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„ „ r-vv-^-.^mmmmm ijpp^p"

Página — 10 LETRAS E ARTES Domingo, 17-4-1949

MAIS UM CRÍTICOLITERÁRIO

E' com oíegria quo registro-mos o aparecimento de manum crítico menina oficial nosjornais paulistas: Carlos Bur-lauuq.it Kopkc. Não è uma cs-trela no ofi«io, eis que o autorde "Faces Descobertas'' já mi-lttou na crítica e os seus estu*dos. reunidos em volume, me-receram palavras elogiosas deoutros colegas ..eus. O nome deBurlamaqui Kopke dispensa,portanto, apresentação a todosos leitores quo quiseram lè-lona página dominical do "Diá-rio de São Paulo".

A noticia 6 auspiciosa por-que cm geral os bons livros, co-mo "Repouso" dc Cornélio Pe-na (para só citar um dos maio-res aparecidos ultimamente»continuam sem critica, enquan-to outros autênticos "abacaxis"sáo elevados ás nuvens pelosanúncios dos editores especla-lizados em traduções de "best-sellers", nem sempre fiéis c di-minuidas de alguns capítulosdo original...

Sáo Paulo está dc parabénscom a dupla Osmar Pimcntcl-Burlamaqui Kopke, uma zagaque pode figurar an qualquerselecionado nacional de críticosliterários oficiais.

SÉRGIO MILLIET DEVIAGEM

Por motivo de sua viagem áFrança e arredores, Sérgio Mil-liet tem sido alvo de manifes-tações de simpatia por partede sous amigos que estão lhodesejando uma boa viagem comaperitivos, jantares e outrasformas ar.tropofágicas de sim-patia.

E por falar em antropofagia,dizem que Oswald dc Andradefalou numa roda de intelectuais

Cantinho para os novíssimosDe Dulce G. Carneiro, a

quem Oswald de Andradechama de "doce poetisa",transcrevemos hoje "Ten-tativa", sempre lembrandoque esta coluna não ê an-tologia nem elogio, massimples registro da produ-ção dos novíssimos :

"Que curvas de somOndulamnesta permanência de so-

7iho. .

Paisagem,em árida busca eu procuro

e unotua partida impenctrabill-

rt.füc.

Poder insuflar uma densx-dade estável

no corpo abstrato aos poe-mas

que aguardam.Mas além do versomorrea fragmentação dvia Cas

palavras.

Tento absorver uma trans-parencia exata;

e prossigo anuladacondição de eco.Ressurge a mesmainsistência sem ruvio, in-

color esfinge.

Irei emergirde mar ou planície?"

i——,m».ii». • i ¦ i¦ .i ymmtmmmM«J—1

^^»yAyj^raL^..v. iiipm|ipiii ítm,**ffgf^

ALCÂNTARA SILVEIRA

O ANUNCIO DE LEO VAZI.eo Vaz, o vitorioso autor de "O Professor Jeremias" publicou no outro dia na páginadc arte e literatura de "O Estado de São Pardo" um anuncio que bem espelha a situação a

que chegou o intelectual brasileiro diante dus editores. Diz o anuncio :"Procura-se editorPara ai„.m • volumes de pequenos ensaios (já publicados cm Jornal) que porventura te-rio os seguintes títulos :•Trolóló» sni tanto ou quanto estéticos, com leves traços de filosofia" (escritos acerca

do modernismo na Arte, na Literatura e alhures)."-Hscólios bíblico»" (Ementas e comentários, diretos e indiretos, aos textos da Escritura)."Réplicas c Tréplicas" (Crônicas mais ou menos polcmlzantes).Cartas, se hipoteticamente at- houver, dirigi-las a Lco Vaz, na redação desta folha".Este anuncio, na sua simplicidade, vale por uma serie dc artigos que mostrassem com

gráficos, dado* estatísticos e outros elementos eomprobatorios, a situação em que se encon-ira o escritor brasileiro, obrigado a mendigar um editor para seus escritos. Certamente o.muncio de Lco Va7 vai ficar sem resposta, pois qual o editor que se arriscaria a perderdinheiro com ;• publicação de artigos já saídos cm jornal? Não existe editor que pregue seup.rguhiho sem cs topa...

Estou agora inclinado a crer qae o anuncio de Lco Vaz náo passa de uma piada sua.pois só mesmo como anedota pode ser levado a serio... Porque se assim não fõr então LcoVas poderá ser chamado o ultimo dos ingênuos.

Se eu não fosse mais moço que o festejado escritor dar-lhe-ia um conselho: escreva umromance bem pornográfico, consiga que uns padres o condenem antes de aparecer c garan-to que as ofertas doi editores choverão...

que estas manifestações são deregozijo pela ausência do autoide "Diário Critico"... Emboranão garant.ndo a aütenticlda-de da piada, passo-a adiantecomo a ouvi.

EXPOSIÇÕES

Clovis Graciano e Milton Da-costa estão expondo seus qua-dros. E' interesante ver as te-Ias dc um pintor que vai par-tir em viagem de estudos e asdo outro que cheça de umaviagem de estudos. Boa opor-tunidade para se fazer compa-rações... Boa ocasião tambémpara se ficar sabendo porqueGraciano recebeu o tão almc-jacio galardão.

RECADO PARA DINAHSILVEIRA DE QUEIROZ

Contaram- me que V. escreveuum artigo na "Folha da Ma-nhã" contra um tópico destapágina na qual eu falava dascolaborações "estrangeiras" em

jornais paulistanos. Quero lheinformar (como aliás já ficouexplicado nesta mesma paginaique n minha nota foi apenasporta-voz de alguns novíssimoscá da tona que não cns.vgutnpossibilidade alguma de verssus trabalhos publicados emjornais que sempre preferirame continuam a preferir os me-dalhões aos novos. Sabe o que.disse a um novo que me per-guntou como fazer para con-seguir publicar algo? Disse-lhe:trate dc tornar-se amigo do se-cretário do jornal ou parentedo compadre do diretor, porquecom uma dessas qualidadesvocê poderá pleitear qualquercoisa, como crônica esportiva,reportagem policial, crítica li-terária ou cinematográfica, por-que isto de vocação virá depoiscom o tempo e se Dous qui-ser...

Alegro-me de haver escrito anota contra a qual V. se rebelaporque só assim fiquei sabendoque entre meus kvtores se in-clui V. — ilustre, ilustrada e

não menos interessante criatu-ra. Beijo-lhe as mãos, respei-tosamente.

POLÍTICA O POESIAPor gentileza do velho c não

menos simpático José VictorPedioso Chagas, quo ainda ho-je faz versos no estilo de 22 oque, ao tempo de estudante.foi criador do "Alvares de Aze-vedo" — a melhor revista apa-recida até hoje na Faculdadede Direito de São Paulo — po-demos oferecer aos leitores cprincipalmente aos eleitores,um poema do deputado AtiroSoares ò? Moura Andrade, li-der da U.D.N. na AssembléiaLegislativa paulista, poema es-crito quando êle alisava, coma sua casimíra inglesa, os ban-cos sujos do antigo prédio daFaculdade do Largo de SãoFrancisco.

O poema intitula-se "OAmor" e foi publicado em "Al-vares de Azevedo", no seu nu-moro 2. correspondente a maiode 1935.

*:• -f ¦'fe:;,»,.^í#-vi;.|;v ,.,.: ¦: ^.vtfi.tWM^vSiv . .^w^.^»,^...,.,,.„.,,,,

BI' assim:"O amor hoje em dia é um

IFord V«H.E' um bangalô na Cidade... I «Jardim.E' um anel de brilhantes, é

luma pedra rubi...

Dutrorn o amor era um beijeI roubado

Oc lábios divinos, formosos,[eoradoa

Como a ouiara dos dias, ouI mesmo um caqui I

O amor hoje em dia é um bro*Iche de pedras.'¦:' um vestido de i 11 dc um

I conto de réisO amor hoje rm dia se vendo

fe sc compruEm trôuo de Jóias, em troco dt

laneis...

O amor hoje em dia nâo temIo "Dom João".

O amor das mulheres é urr.I «ronde leilão:

Rcccbe-o de pronto quem mais(lance der...

i

Outrora o amor era um beijoI roubado

Dc lábios divinos, formosos,{corados

Era a vida dc um homem nas.mãos da Mulher l

O amor hoje em dia sefmedo em dinheiro.

O amor hoje cm dia te#n[faro das notas:

Conhece o burguês sentindo-llhe o cheiro...

O amor hoje cm dia é u*riIxale roniado,

E* um casaco dc peles na Chi-lua comprado

São vinte mil contos p'ra verto Universo!

Oulrora o amor era um sonhe(dourado.

Era um beijo, o sorriso, era um[suave pcoado

Cabia em dois olhos, nas Ri-[mas do Verso 1*'

fotelecluais paulistas noAr».ip.3

Pintores primitivos" estão sendo revelados cm São Paulo por intermédio de intelectuais. HáDouco, surgiu, em Rio Preto, o •'primitivo'! José Antônio ó*-.. Silva, dc quem apresentámos, acima,a "Descida da Cruz "

Quando alguns intelectuaispaulistas tomaram o aviãopara a Argent niu, ludos ti-caram pensando que u via-gem era apenas uni passeiaprogramado vela "Exprinfer"ou outra agenda Je turismo.Sábe-se agora que os turistasforam tomar parte num con-gresso de filosofia realizado(sé não me falha a memória)cm Mcndoza...

Ora, eu que já desconfiavados congressos, fossem élev daPaz, de Medicina ou de Al-jaiates, hoje não acreditomais em nenhum. Pelo menosno de Mendoza não possoacreditar! Pois. então, quediabo de congresso de filoso-fia é esse ao qual vai gentecomo Helena Silveira. Jamillladdad e João de SouzaFerraz'*

Por certo ninguém duvidade que Helena Silveira c oli-ma contista e ainda melhorcronista, de que Jamil Had-daã é um poeta que ás vezesacerta e de que João Ferrazvublica um jornalzinho no in-terior. Mas de filosofia o quec nua essa turma entende?

Filósofo atualmente não cmais honraria que possa serapresentada com orgulho. Malcomparando passou a ter omesmo valor que o titulo dcsócio da A. B. D. E. Sem-pre soube aue na A. B. D. E.paulista há centenas de só-cios por equívoco, pois sò-mente porque escrevem ca>-tas ou fazem escritas comer-ciais julgam-se escritores...Mas as eleições da A. B. D. E.do .Rio vieram provar qv.e naCapital Federal a coisa c-•M*:>'/-i f)ior!

Page 10: Letrt^Artes - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1949_00122.pdf · ccbulário triunfal do poeta fran* ...-. profundo*. Já so citeu a verdade de que a fi cristã se baeoia

Domingo, 17-4-1949 l ETRAS E ARTES Pá s»'na 11

PK.o

licença pura pos-drrar que,.,— Cale-se!

Mas eu sou o vlcc-prcM-dente da associação.

1:11 tão pode falar.I.iiíh Jardim falaria de qoal-

•jiuer Jeito, NRia bom peruam-liurano que é. Mas, te «Hálo-l*o entre o aafor de "Maria Pe-rigosa" ?* um **u* "escritores"oue foram assistir à posse ianova diretoria da A.B.D.K.»na tarde dc 7 de abril, mostrabem como transcorreu a ri-u-nláo, e a qualidade dos asais-tentes «I» mesma.

Outro flagrante Incisivo podeper fixado. Permitamos a Car-iom Drummond de Andrade«•«tais foram os consóclos queae atracaram com o poeta, aaluta pela posse dos livros êmnus da A.B.D.E., confiados a•roa guarda (acabara êle dc em-possar-so no cargo de 1* se-o r c t à r i o). Respondeu-nosDrummond :

Resido no KIj 1i.\ quinsennos c rresumo conhecer nes-soalmcntc ou de vista os cscrl-«ores aqui domiciliados. Nun-ra vi em minha vida aquelescolegas. E acredito que elestambém não me connecessemMé então.

Teria-» chegado ha poucoao Rio?

Não. Chegaram lift pouco\ literatura. São dos escrito-res dc dez cruzeiros, mobiliza-«os à pressa pelo Partido Co-mu,lista, para votar contra 09velhos fundadores da ABDE.E talvez nem fsso : tornaram-m: escritores no ato dc nossafosse, .rntando esmurrar-nos.

O BIGODE E ACARRANCA

Mas, .1 narrativa pura e sim-pies do r.ue ocorreu na sede daABDE fala por st mesma. Osr. Álvaro Lins, presidente daantiga Diretoria, convidou 00«olegas de direção para a posseda nova, encabeçada pelo sr.Monso Arinos. Os jornais pa-Miraram a noticia: não have*ria convites para os consocloa.Cerimônia sem solenidade, nuina sala exígua.

Os numerosos consóclostinham dado o seu voto àpa Afonso Arinos abstiveram*?*e de comparecer. Mas quan-do os membros da nova direto-ria foram chegando ao 11* aa*dar da Casa do Estudante doI>»asil, onde funciona a ABDE.Ja lá estava, sorridente e «tovosinha fina, o sr. Pedro MotoUma.

Logo começaram a aparecercidadãos de bigode grosso • il-Bionomia carrancuda, com m"fades" característica do ex-tremista Entre eles, havia ai-guns escritores, poucos, de ca-cuerda. Estes se mostravamtímidos . encabalados, enqaaa-to aquele?- ostentavam uma «ser-leita naturalidade: bigodudos •fanáticos, não disfarçavam o

<:uc realmente eram — agita-dores e guarda-costas.

O BILHETINMOIniciada a sessão, e lida •

sta pelo secretário Franciscode Assis Barbosa, o sr. DaM-dJo Jurandir, muito nervoso,entrou * interromper a leituraobservando que não fora dadauma cadeira ao sr Gr aduanoRamos. A falta dessa formall-dade assumia proporções deuma nulidade insanável paraa cerimônia.

Sentou-se mestre Gracillano,enquanto o vice-presidente LuisJardim várias outros conti-nuavam de pé, sem dar Isto«"" r importância. Finda aleitura, o sr. Mota Lima pediuabruptamente a palavra.— O consócio não pode fa-»••»", porque a reunião é apenas*» *'-<»toria — ponderou Alva--"o Lins.

BATALHA CAMPAL NA ABDEELEMENTOS COMUNISTAS PROCURARAM OBSTAR A

POSSE DO SK. AFONSO AKINOS, SIC.M COXSKGUI-LÓ— Então falo eu — atalhou

Dalcldlo. que antes, num peda-cinho ti • papel de jornal, man-dará a Mota Lima lata bilhe-Unho: "Devemos impugnar aata?*

COMEÇA O TUMULTOEra manifesta a preparação

da comédia que se Ia desenro-lar. Exprimindo-se com difl-culdadc, pois havia dc doer-lhe impugnar uma ata rlgoro-samente fiel, e assinada peloseu próprio correligionário Edl-son Carneiro, falou na necessl-dade de se convocar uma as-sembléia geral para discutir 09totós por procuração. E novador moral lhe cau.saria essa dc-claração, pois quinze dias an-les, naquele mesmo local, Dal-cldio se manifestara a favorcios votos por procuração...

Começou o tumulto, prepara*do como um tufão dc teatro. A

cada palavra ou gesto aparen-temente Irado de Dalcldlo cor-1 expandiam outros Iguais, oumais ferosea na assistência.

Alvará Lins nao se intimidae procura pôr ordem no debate.

Tenta-Sfi ler o estatuto daA. II. 1). E. na parle que re-gula a posse. Mas a desordemreinante naquele pequenino es-paço confinado impede qual-

quer esclarecimento da situa-çáo.

POLICIA? NAOSobre um armário modesto, a

cabeça cm bronze de Mario dcAndrade, feita por Bruno Glòr-gi, assiste ao destempero dos•escritores". Eram os "parti-clpantcs", os dotados dc cons-ciência social... Pobre Mário!Mas os bustos tem por si a sor-te dc náo ouvirem nem fala-rem.

O sr. Dalcldlo vai crescendocm violência estudada. O pre-

«Mdcnte suspende a sessão.Ktabre-a, minutos depois, masperdura a tensão nervosa, por*que ja agora os "escritores"si'10 sessenta ou oitenta, ocupa-ram a sallnha e o corredor doentrada, e os dezoito — rigo*rosamente dezoito — escrito-res democráticos, encurraladosao fundo, entre a mesa e otagitadores, se mostram dispôs*tos a defender-se a todo eus-So.

— Afonso Arinos só tomaraposse sol» a proteção da policia— dissera, horas antes, srrega-lando olhos de peixe, • sr.Moacir Werneck.

Evidenciava-se a manobracomunista: obstar a posse, pelaIntimidarão, ou fazer com queela se consumasse debaixo dsaparato policial.

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BE^iT '••* >»bbhB Bs' BI BT^Br ^fln*»«f*SU^^S bBBf^ ^íiBrH BS%»í,*??lBa lilií^iiMBn] IkPBl llsf mb^twJI I tsfW^K bbbbk> figiüsl mSPxsek tíbS BiBB&aBSBBv^EaaBttaet^^^A^íM m. JBf> ^m WkMbssVtJb! Wfm?^ir ^Tí ^bbWbI BTif •••••" BW*aai bbL ^ãl Bw-at^fl^^rmE gg 'ai bsw^ Jll bt%-RKBm a .t»m bsmuBB Bj^M sbiB b^sBh>^^i»^*B bsTbt jfJ *l sm2^JBigy*^»^^.7TÍ^Bl b^bSbcB ^BB B^B^ãí .^^Í^^IwbB Br ÜSHpím .»'. Wal màm BfcB .^bbIbIIIIw Jsf^ p/Bmiv!*

""Sr"! ÉllraiP^II! >-&*%ikm-'à.wm mfcàmwWxBwMsB

WÀi • •-< **; 5*ggasS^*^^*v * -w--' - ':^*w#^lt^l««Blf^B^^BBl»'.,rf -^.^^M •=,^;--^>. ^-\w^^>asw^Bmi^i3sBl

Ressurreição (1577-1579) — EL CRECO"Sepultaram-no, e a lápide fechou-se.Viu-se depois o túmulo deserto:Voara ao Céu Q"«">S o r.tn consigo trouxe*.

ÁXifJaOiNoUS DE GUIMAKAENS

A POSSE, AFINALFirmes, sermos, enCrglroit, o*

pout-os «M-iiiui.-», democrático»nao »e deixaram abater. Nin-r.ti-ni chaniou a i>olicia. E cr*gurtido a v«i/. com decisão, Al*varo l.ins impôs o respeito ao»estatutos :

-— Askumindo inteira rrspon-sabilidade do ,ato que vou pra*tirar, d«-<l.uu rmpuvada a no-va diretoria presidida pelo er.Afonso Arinos.

Em váo choveram sobre éi«os ataques mais rudes. A pos-s«» eslava perfeita e acabada.Em váo o sr. Dalcidio tenta umgesto dc desespero: agarra doli- ro de atas e atlra-o ao chão.Carlos Drummond dc Andradeprecipita-se para segurar o vo-lume, qur. por pouco náo seriarasgado ou Jogado fora pelos"escritores" braçals. Nele fi-gorava a ata da assembléiagirai que proclamara eleita achapa Afonso Arinos, e cam-preende-se por que, chutando-opara os seus companheiros,procurasse Dalcidio inutiliza-Io.A BATALHA DO LIVRO

DE ATASTrava-se então pequena ba-

talha em torno do livro, queDrummond resolve náo entre-gar dc maneira alguma aos as*f.iltantei O pequeno grupo deAfonso Arinos defende o poetadisse assalto. Na saiinha, cho-vem os insultos c os impropc-rios. Acusa-se Drumond de terfurtado o livro, de pretenderlevá-lo para casa, dc quererviciá-lo...

Não irei para casa nemlevarei livro nenhum — res-ponde o poeta da "Rosa dr1'ovo". Apenas, ficarei na sediua ABDE guardando os seu*livros, como primeiro secreta-rio empossado.

Os comunistas ficam de olhono poeta. Aqui e ali, esboçam-se pequenos conflitos. O siFloriano (lonçalvcs procuraimprensar entre a parede e smesa o sr Hermes Lima. Porém o deputado socialista con-torna a mesa, crava nela «

cotovelo direito e, olhando no.olhos o sr. Floriano, pergunta-lhe incisivamente:

Que é que há?Silencio do sr. Floriano.—* Que é que há? insiste «

membro do Conselho Fiscal, namesma atitude grave.

O sr. Floriano náo acha pa-lavra para explicar-se, e a me-sa deixa de ser empurrada. Eo livro náo foi arrebatado.

SERENIDADEEm meio aos impropérios, e

sr. Afonso Arinos desiste defazer ouvir a voz da razão (arazão estava ausente do cére-bro dos atacantes) e põe-se aler uma revista estrangeira, queencontrara a um canto. Ter-minada a sessão turbulenta,vimos um dos adversários Ir

rttt êle e cumprimentá-lo t—¦ Afonso, felicito-o pela Sua

serenidade. De coração «tstoucom você. mas por dever poli-tico tenho de ficar com o:outros...

GRAMÁTICAA sra. Maria da Graça Du-

tra, "escritora" da última for-nada (março de 49), não queriaparecer menos frenética do que;•. brigada masculina de cho-que. £, a uma ponderaçãoamistosa de Jayme Adour dr.Câmara (o mais cordial do?homens cordiais do Brasil),responde-lhe, azeda:

Não lhe conheço!Perdão, minha senhora

mas o pronome é evidentemente inadequado... observa Jay-me.

O sr. tem coragem êe In-

(Concluí na 15* aéf.)

"-%'.

B»lÍg(S»tei

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pagina — U LETRAS E ARTES Domingo, 17-4-1949

O PAULO, 4-10*27¦**! Manu. tuluatlo que a fuaKJo da máquina continua

roesrim e atua a mao da gente.Iiula náo tive dinheiro paracemprar outra o foi posta namáquina quando a limparam.Imagine qua atualmente estoudevendo seis contos o tanto!E' vordado que cinco cáo prnmeu irmão o irei pagando tiospoucos, O resto pretendo pagaresto principio do mês. Umacoisa que tem me nporrlnhnouum bocado 6 a minha "pobre-za". Sempre andei falanaopro» meus amigos do norte,Cascudlnho, Ascenso. que andona miqnln, que náo podia irpro norte por causa do arameetc. Ora, minha casa c espe-clalmcn'o meus quartos nacasa, a «ala dc alunos, a saiade meus estudas, são multobem arranjadinhos c náo dãoabsolutamente a Impressão ueIndivíduo que vive na miquta.Principalmente o CascudlnhoImagino que quando vier pracá vai falar que banco o po-bretão e que sou endinheirado,òlc que é mesmo rico ou quasec tem casa multo mais pobreque a minha. Náo sei sc estarácm condições de compreender.O Graça um tempo andou sopreocupando com as minhasfinanças e perguntando prósoutros se eu era rico. Isso foi«o tempo cm que por uma In-discrição desgraçada de náome lembro quem. éle soube queeu dera nem me lembro sc seis-centos ou quinhentos paus.ruma quantia assim, pra quesaísse o ultimo numero aeKlaxon dedicado a êle e quoos amigos não queriam dar dl-nheiro pra sair. Achei que craipapel indecente c dcl o dl*nheiro. Eu sou mesmo malucoie náo entendo nada de dinhci-fro. Imagine que o que o velho!nós deixou nem sei direito o quejé (minha parle ficou inteirinhamas mãos de minha mãe praleia viver folgada) nem como.está empregado. Meu mano êque trata dessas coisas, clicga<nz "assine aqui" e eu assino*cm mesmo saber o que a.ssino.'Ah! estou devendo êsse dinhei-rão e domingo passado compreijum Spix e Martius total, oa«três volumes e as gravuraa,por quinhentos paus. PagareiJá por dezembro e a divida apra companheiro paciente. SOtr(mesmo assim e náo posso mu-dar. mudar praquê? O quedevo posso pagar e nem sem-pre vivo devendo, são coisas enão me aporrinham porque te-nho aquela honestidade tiameu pai, o oue devo posso nn-gar e pronto. Isto c, uma ho-nestidade de meu pai. moaer-nizada, porque êle nunca quedeveu, falo de sair Uso.

O comentário de você sobre a**Vitoria Regia" quase queConcordo inteirinho. Vou expe-rimentar botar aquilo em linhade prosa pra ver o que 6 quo

(sal. Mas me doi não ficaremos versos quo possuem aquela"noble ordonnance" que a geii-te encontra em certo Gocthe oem certos ingleses como Wc-íds-tvorth. Você falando na poe-sia que se confunde cem o do-cuimnto, escreve: "Mas natemas como êsse da VitoriaRegia que são espetáculos»-mente poéticos, a alma maisbronca sente que há nêlcs poe-... sia e beleza, e naturalmente arealização fica aquém tio -do—cumento em si". Te juro quopensei exatamente isso e quedaí derivou inteiramente amaneira com que tratei a flor.Disse pra mim: Diante dum

.tema tão formidavelmente po«>-pticd pelos símbolos vagos que' comporta na sua contradição;de coisas sublimes e porcas, di-lente de tanta coisa lirica em«1, só contando mesmo só o quea gente viu, dizer e nada mais.'O leitor que leia e tire de si oque tem de mistério profundo,úe milagre Incompreensível naVitoria Regia. E dei o docu-mento mas em versos bem mo-Vidos com calma e suntuosl-dade. Apenas náo concordocom você no passo em que vo-«cê falou que só mesmo três dosversos possuem o isolamentorítmico que faz o verso. Acho

'que a poesia está mesmo toda. em versos verdadeiros que és-tão a cem metros da versifica-

CARTAS DE MARIO DE AN-DRADK A MANUEL BANDEIRA

çáo livre. Fia naturalismo emverso. O que me distingue dosque já o fizeram sobretudo uaAntigüidade grega o latina, eque fia por ser a Vitoria lte-gia. nflo faria nem mesmo como jcquitlbá. sinto que tem umlirismo objetivo (desculpe) naVitoria Regia, O documento aOsvaldo náo tem lirismo obje-tlvo. Somos nós que devido aosnossos preconceitos, aos nos-sos costumes etc. botamos nodocumento á Osvaldo aqueladose dc ridículo, dc contrasto,de inopinudo etc. que produza força lírica do documentoosvaldlano. Entende bem? Aprova é que o Osvaldo sempensar nisso usa em geral napoesia dele o pior dc todos osprocessos parnasianos: o versodc oiro. Pau Brasil está cheiodc poemas escritas unlcamcu-te por causa do verso dc olro,que no caso, cm vez de ser lin-do á parnasiana, é cômico eridículo etc. á Osvaldo. Nãonego o direito do verso de olro,é lógico. O poema ultimo deTeresa, mesmo a "Vitoria Re-gia" acaba com versos dcolro, porém é facll dc provarque êsses versos vieram fatall-zados pelo nosso estado líricointerior e não foi por causadeles que fizemos as poesias.Ao passo que será também fa-cll de reconhecer que pra tiraro efeito do verso de oiro é queo Osvaldo escreveu a maioriados poemas de Pau Brasil. Jáno Primeiro Caderno êle vembem modificado porém conhe-cia o artigo meu sobre PauBrasil e que não saiu por não

ter saido. "Estética n. 4". Leue por sinal que percebi que nãogostou. Mas a minha ressalvaa essa espécie de parnasianls-mo dele fez o efeito da mesmaforma que o Gul pisando noscalos pelo que eu tinha ditodo verso erradamente livre deMeu, falou, caçoou de mim auo"estava bobo querendo darconselhos" mas corrigiu. Eisporque, seu Manu, sou o ho-ttiem mais antipati.zado o maisIrritante da literatura modernabrasileira. Mas sou tambémdos mais úteis se não fôr o maisútil. E eis também porque acrítica mais lúcida que se feaaté agora de mim foi a queeu mesmo fiz quando falei queminha poesia minha obra todanão é arte, é ação. Capisce?"Vou me embora pra Pasár-gada" carece de sair como re-irão dum poema, seja em re-dondilha, seja livre. Que ve-nha quando puder.

Porquê você não dá um puloate aqui quando o Ascenso vier?Eu vou catar o dinheiro quetiver pra você aqui dos livrosvendidos e certamente isso da-ra um pouco, vocês vão juntospra um hotel modestinho e ha-via de ser bom.Vou escrever pro Ascenso in-da hoje. Tenho recebido cartas

gostosíssimas dele. E estoupassando a limpo o Macunal-ma. Acho que é a coisa maisderoutante que fiz até agora,

Osso sim é que vai dar bestei-ra cm letra dc forma. Como ôminha mania, escrevi um pre-fado pra éle quando escrevi olivro cm dezembro passado.Resolvi tirar o prefácio, E' umi -.i. >¦ dc malvadeza mas pala-via qua ó uma malvadeza gu-zadn, já passou o mau-humor

que me deu a incompreensãodo Idillo.

Bem clao. Tenho nove miltrabalhas pra fazer aqui.

Um abruço do verdadeiroMario

Não tenho tempo pra reler

s. Paulo, 27, xr, 27.M:UUÍ,faz tempo que náo escrevo...

Também!... Bom: aqui vfio col-«as pra você ler. I Iz essa pro-pagandinha do Ascenso quecreio êle vai gostar não acha?No mcMiio din que saiu o artigosobre o TrLstão, êle estava aquic vci i me visitar, lido o artigo.Foi uma tarde gostosa, êle oAlcântara o Couto c o degas.Você, creio que já pôs reparoque tenho uma bruta duma ter-nura pelo Tristão (4). Tenhomesmo. Acho êle bom de verda-de. Às vezes é pau porém é umsujeita sério como o diabo, mui-to bem intencionado e êsse meparece que tem mesmo culturae não é casquinha só. Escrevitambém uma Carta Aberta quedeverá de sair na'.gum númerodo Diário Nacional (mando)sobre as críticas que me fizerampro Air.ar. Minha convicção éque nãc devia de escrever essacarta. E' mais bonito a gentenão retrucar diante de certascoisas, parece que sc dá muitaImportância pra gente... Masé que desta feita fui mesmotão «-omoreendldo pela rama...Freud. toda a gente sabe daexistência de Freud porque êleestá nr moda porém outrasdoutrinas porquê não estão namoda ninguém não conhece.Dói. V.m falando sobre isso. ACarta não está malcriada nãoporém quando imagino nela medá um mau-estar... Acho quenão devia de escrever. E noentanto publico. Porquê meuDeus?... Palavra de honra quenão sei me analisar bem. O quepodia 'ser é uma manifestaçãomascarada de vaidade, eu jul-gandoque o livro era uma obra-prima e não terem chamado êledisso. Mas não é isso não. Porquê

palavra que não acho e nuncanão achei que o livro fosseobra-prima. Está claro que achoque êle é muito bom. isso acho.E Isso também os que falarammilhor sobre o livro, primeiroTristão denois o Rodrigo (5) eo Prudêntlco (6) tombem acha-ram. A crônica do Tristão ape-sar das inexatidões que vocêmesmo apontou acho esplendi-da. E sabia antes mesmo dolivro publicado quem que haviade gostar.dele e quem que não.RI me enganei a respeito do *Ronaid que eu esperava quegostasse mais. E mesmo que eudantes achasse que o livro era

_uma obra-prima depois d"" «••**-—

ticos reconheci deleito*] enor*mes nele. Portanto u Curta,não pede vir dessa seqüestro duvaidade. Scmostração, tambémnáo e porque agoi** tenho umacerta esperteza que não me per-mite mais irritar certas |>o&soasquu qturo bem inielcctualmcn-te e que desejo qi/e gostem domim. Ora em geral essas pes-SCOS se irritarão com a Carta.!•:* extraordinário. Afinal c coi-sa que nao tem multa Impor-tflneia náo c estou falando hls-so porque afinal a gente Jápode se falar coisas inúteis queelas ficam enormemente úteisentre a gente. Por isso que falo.No caso da Carta, pode ser ai-guma falha, alguma fraquezaque nu: tomou, fraqueza senti-mental pra comigo, mas me sin-to levado por um turbilhão, avida, me parece que é fatal:tenho de publicar isso. Náo 6pressentimento de alguma col-sa, bem ou mal, náo. Sinto sóque é fatal: tenho de publicaressa Carta. Você compreende,Manu. tudo isso no fundo mevem interessando tnormemen-te estes últimos dias, ando di-vertidisslmo dentro de mimmesmo, vivendo com uma in-tensidade louca um caso semImportância. Mas éle parecetão importante como uma pai-xáo, um escândalo enorme, umamorte, não sei. E o cora pra sercoerente com a sinceridade comque te escrevo sou obrigado aconfessar que quasi desde oprincipio que comecei a contaristo pra você estou sem vonta-de de contar uma outra razãoque me pareceu de sopotáo eem que inda não tinha imagi-nado. Eu sinto que certas pes-soas que gostavam multo dcmim estão esfriando o entuslas-mo. Você compreende: seguimeu caminho e hei mesmo deser sincero pra com^o sucedao que suceder, fique* sem nin-puem estimando as minhasobras, sigo mesmo. Ora a Cartavai certamente irritar maisessas pessoas c provocar nelastalvez uma decisão. Sei quenão \o\x brigar com ninguémpor causa disso porem me pa-rece aporá que a Carta foi di-tada por isso: uma vontade dedefinir depressa rórtns atitudes.Você afinal tem direito de por-guntar quem que fõo essas pes-soas Me desculpe po" enquan-to. Um certo pudor de me en-panar não me nermite dizer iá.Só .'alaria si estivasse nerisàndoem você. Mas como são outrasquero me calar por agora. Masrenace na boca dos oue falam:Mário e um poeta. A saída doClan vai provocar creio quemuito essa frase...

E rra mudar de assunto:Clan está sái não sâl, questãode quatro a cinco dias. Comoo Ascenso só chega aí no Riodia cinco, mandarei o exem-plar de você e guardarei o deleaqui Mas, olhe Manú não dei-xe de vir, hejm. Eu vou gastardinheiro com uma viagem de

—ftWjOIRQVd "QC btlQ ríXUlO ei oétllm

tos. Digo assim trancamentoporque ô inútil vocôs não que-*rea»m quu khmo mesmo, queroo gasto. Ja devotei estar doférias quando voees vierem aIsso 6 o olro sobre azul. Tnui-bem o pagino na íiuende duOsvaldo jà esta cumüuiauo. Vauser um dlasJnhoa desgraçadosde bons. Ai no Rio já quasl quunáo iHis.su mais n sossegadotanta gente que conheço e quugosta de nlm... Vivo at nu-ma nlobaçAo maluca c poucotempo a «ente tem pra conver-«ar. A "Moda Gozada" mandei"como estava, escrita duma vez«o, ou por outra unnseriiu, du-ma vez só porque dc lato can-tei ela andando na rua. E' oritma que so acomoda milhorcom o meu passo quando êlovai gorado. Achei quo você ti-nha ra7áo e Já cortei n estrofebesta o corrigi o verso "Pravida alcançar" po.- "Pra podergozar". Vale? E* bom isso doinaiul ir minhas coisas pra vo-cê como saem do primeiro jnc-to po.quc assim \ocê me evitaessa mcida de estar muito ra-cloclnando sobre o coso. E fa-lar wr-so, veja quo caso maisengraçado: Fui no tipógrafocom as provas e dei ordem doímpre.-ão. Não tinha maiserro. I'o dia soguinto indo lápra corrigir o Índice que falta-va, êle se rindo me falou: Olheisto. Num dos títulos, em lo-trás garrafais, em vez de Modada Cadela de Porto Alegre, es-tava Moda da Cadela do AlegrePorto Tive um bruto dum sus-to. imagine si saia assim! Maso fato t que o título errado mesugeriu um movimento líricoirreprimível. Nem bem chegueiem casa lasquei no papel estaModa do Alegre Porto, que estálonge de ser sublime mas é go-zada bem. repare*

MODA DO ALEGRE PORTOVelas encarnadas de pescadoresVelas coloridas de todas as

lcôrcsÁguas barrosas de rios maresMangueiras mangueiras palma-

ri es palmaresE a Kirbadlanlnha que ficou

fpor láOh nlcre portoBelém do Pará!

Oh alegre porto, Belém do[Pará!

Vamos no mercado, tem num-[gunzá

Vamos na baía, tem barco ve-[lc.ro

Vamos nas estrada? que tem1 mangueiras

Vamr.s no terraço beber nua-[raná

Ouo alegre portoBelém do Pará!

O So! molenrço do pouso amenoCalorüo batendo que nem um

TremoOue gostosura de dormir de diaQue luz que alegria que mono-

[toniaE' a barbadianinlu que ficou

[por láOh aUpre nôrtoBelém do Pará!

A barbadianlnha que ficou norriá

Relandc no branco dos mo^os[de Unho

Passeando no Sousa, nue lindo[caminho

Na sombra de enorme e fron-[dosa mangueira—

// MEMÓRIAS DE UM MASCATE". Sairá dentro de breves dias, a lume, o esplèndi.l o trabalho Iitero social histórico, do conhecido escritorc historiador Tanus Jorge Bastam, sob o titulo: "Memo rias de um mascate", obra de grande valor para a his-tona pátria.

Descrevendo uma grande parte da sua infância, quando mourejava na árdua profissão de mascate, Ta-nus Jorge Bastam, fa* um resposteiro admirável da ai vorada comercial do Brasil e dc inúmeros países ame-ricanos.

f ,i li, i II,3t°na (los Judcus' <lo» italianos, dos alemà es, dos -jortugueses, dos libaneses, dos sírios e outro»trabalha; ores de outras nacionalidades, nao apenas no Brasil, mas em outras nações do continente americano,e flcscnta com uma tantas

jca facilidade, elevando assl m, no conceito social do Novo Mundo, a redenção lou-vavel da grandeza do trabalho dessa heróica e dedicada gente.

i r .AS( nar''a4i1vas dos fatos que se passaram com os mascates pelo interior do Brasil, da Argentina, do Uruguai,cios ts.ados Unidos, da Bolívia e de outros países, até mesmo em Portugal, são casos emocionantes quo levao leitor a desfechos imprevistos c fascinantes.Obra fartamente documentada, será um valioso documentário para aqueles que buscaram as terras atue-ricanas e aqui encontraram a paz, a liberdade e a frat ernidade.Cada capítulo faz vibrar o leitor. Em todos eles, enrontra-se uma descrição mais emocionante. Entro fies,A Guerra, dos Mascates, Joana, a mascatinha, Aventuras do Zé Sir.ião. Jamil, ò enamorado, O

'Mascate 110 Uru-filiai, Os Judeus. Os alemães, O mascate no Ceará, A A urora do Brasil Comercial, Os italianos, c outros em-polgantes fatos históricos.

•¦•»¦•••••'•••¦»¦•••.•..»..?-»..»..«.,,..t..»..i..»,.«..„..#.. #„*„»„#..»..».,«..«..«..»..»~#H^,••••••¦•••»••••¦•••••••..»"f^.». *..»..»..«•.»..»..».,§..»..#,.(^.»,,»._».,»,,«..«..,,.5..».•»-.••* 1

Depois que choveu a chuva[pára-já.

Oh barbadianlnhaBelém do Pará!

Lá se goza mais que em New[York ou Viena

Sô cada grelada de cada pe-[quena

De tipo mexido íanque-hrasi-[leiroAlimenta mais que um assai-

[zeiroNosso gosto doce de hom^m

[com mulherNo Pará se pára, nada rrr*s.

[se querProva tucupí, prova tacacá...

Oh alepre nôrtoBelém do Pará!...

Não acha postos a mesmo0 Vbesra Não tem nada 6* im-portante. N*o t-->ni irm »-—a-

(conclui na 14* p»6-)

¦;>^;..'^)i'''--,;--,W-. ..,tK;iíiii.i;.',i:ytfr.if,, ft#tofr>iÒ!i^í=X&»S*S»,t »*> WK^WlfW-fW.«•*! »

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Domingo, 174-1949 LETRAS E ARTES ¦ n.i 13

Anui

ue compreender averdadeira significação daobra Ue ItusMdt scra ue-

COtiarill cunhei cr a situação do»estudo* dc loglea toruml naépoca cm que o filósofo Inglêspublicou seus primeiros cusíuos.,\ influencia tirânica da lógicaurtatutélica havia arrefecidocom a Introdução de uma novatécnica que permitia a analisomatemática uas leis do pensa»mento c do raciocínio. Essa no-va técnica s»e concretizou naprimeira tentativa dc aplicarconsistentemente formulas ai-gébricaa ao tratamento das rc-1.....H-S logíCOt».

Foi George Booic (1815-18M),matemático britânico, quempela pi lincha vez elaborou umateoria satisfatória sobre os ali-nldades existentes entre as pro-j< stçõcs da álgebra c as pi «.po-stções da lógica formai A pu-bheação dc um ensaio intitula-do' 'The Malhcmalical Aualy-w.i of Logic** (1817), cujo cen-tenario foi recentemente come-morado, assinalou uma fase Oc-cisiva no desenvolvimento dosestudos que culminaram na rc-duçáo da matemática a lógicac na vigoroso surto dos tcoruisdo íormalismo, da axiomatica«: da escola intuicionista-

Na obra de Boolc se encon-li nu claramente formulados osprincípios dc um cálculo tógi-co das classes (redução, ellmi-nação c solução) c as razoe*básicas por que a álgebra po-deria dcscnvolvcr-sc como umcisterna abstraio capaz dc vt>-rias Interpretações. O materna-tico ingiés percebeu nilidamen-to i,ue a validade dos processosda análise náo depende de umainterpretação estrita dos sim-bolos por ela utilizados, masoxciusivomente das leis que rc-gem a sua coinbinacáo.

Os resultados da combinaçãodesses símbolos, iudcpcndcuic-mente da senlido que se mesnossa atribuir, constituem aúnica finalidade visada pcicinstrumento dc análise mate-matica. A situação seria seme*lliantc á do jogo de xadrez, se-gundo a inuj-em dc Eülberth,•*nt cjuc a uplicaçáo tias regiasse fizesse independentementedo que representam ou simbo-linam as peças. Todo e qual-«n:er sistema de interpretação•2?sses símbolos seria perfeita--«tente aceitável, desde que não*5ti!asse as regras dc associação

e dissociação dos logariímos edus relações abstratas.

A teor.a dá mavemávicá, aa-cim compreehdida, cnmam acii-cu cóiuçxto quaiquer conteúdo*a resíduo empírico, e traiu»-k^iiiiu essa ciência cm unia dia-ctpixua puranaenve to. mal. Oearactsrislico essencial ditaprincipais correntes da mate-matica moderna consiste pre-cuamuntü—nessa—tmmsÜfÀcsointensiva de lüüos os seus c*-p-talou ti na lula contra a ita-t.-çâo. A ifzistica. partanto,i. i reconhece, em matemática,o ...ro método senão o nurámoh-tt dedutivo, e so atribui valida-cie aos axiemas da lozica for-mui,

iiin geometria, por exemplo,nuo há sentido alrruin na afir-maçáo de oue tal sistema cor-responde ao esoaço real e uuoluis uostulados são verdadeiros.As considerações sobre o espa-co físico escapam a competên-cia do geometra que deve oin-ldr-sc à manipulação de pro-Posições abstratas, verificandoapenas se há ou náo contradi-cao entre as conseqüências de-Ias deduzidas.

Foi Wcierstrass (1815-1897)•"taem assestou o mais rude sal-po na intuição geométrica atra-s üa fiara demonstração do

Bertrand Russell e a logísticaEURYÀLO CANNABRAVA

que â linha curva pode faltardireção, isto e, tangente paracada um tle seus pontos. A una-lise moderna, a axiomátlca doHilluiiii. o formalistno radical«Ia logística prosseguiram éssotrabalho dc eliminação das rc-prcsciilações empíricas da Un~guagem matemática. E' nessosentido que u contribuição dcBertrand Russell parece deci-alva, pois foi éle o primeiro fl-lósofo que percebeu cluramen-te u principal conseqüênciadesse movimento renovador dasciências dedutivas.

A tentativa dc redução damatemática ã lógica resultoun*stm de uma revisão criticaInspirada nas reivindicações daanálise, nos sistemas geométri-cos não-euclidianos e na intro-duçáo dc um vocabulário mini-mo, isto é, de um novo tipo dolinguagem cm que não figurampalavras ou termos que possamser definidos por outras pala-vras ou termos desse mesmnvocabulário. A unificação slsle-mátlca dc capítulos da mate-mútlca c da lógica foi simples•j-eiultatln de uma rclnterprcla-ção critica dos fundamentos dallnguapcm iniciada por Bcr-trnnd Rnsyell.

A análise da linguagem foi

que permitiu estabelecer comclareia a possibilidade dc sercdtirir os termos essenciais dovocabulário da matemática aostermos essenciais do vocabulâ-rio da lógica. Essa redução n.*iotala r»ldo realizada pela logis-tlca sem o trabalho dc um au-teutico precursor, Pcano, quesimplificou a terminologia daaritmética até o ponto tlc con-

servar, apenas, três palavras"zwrn". "numero", c •'suce*-sor".

Façanha idêntica a esta já ti-nha sido praticada pcia tísica,no período clássico, que defi-mu todos os suas entidades cmtermos de "massa", "extensão"o "tempo**. A teoria da língua-(em de Bertrand Russell pre-tendeu submeter a matemáti-ca ao mesmo regime dc rario-namento tcrrnlnológico que ti-nha se mostrado vantajoso cmoutras ciências, procurando ex-primir as principais proposi-rfies anaÜtico-dcdulivas atravésde um reduzido número de pa-lavras.

Náo re pode afirmar que atarefa tenha sido cumprida,mas apenas qti- elo foi tentadasistematicamente pelo filósofobritânico. Há sérias dúvidas.entretanto, sóbre a possibilida-

do dc converter os enunriuaosda lógica c da matemática aomesmo grupo de convençõeslingüísticas. Nado disso estaprovado, embora se admito quea logtatica lançou os funda meu-tos dessa unificação racionaldas ciências dedutivos atravésdo coiu.trur.iu dc um vocabulâ-rio mínimo.

Esse problema prende-se «II-retamente a uma outra quês-táo: a definição dos U-rinos deuma ciência mediante recursoaos lermos dc outra ciêtu-iaconsiderada básico em rvaçáoò primeira. E* o que se verifica,por exemplo, em relação á bío-logia, cujos termos podem serexplicitamente definidos me-diante recurso a um vocábulo-rio mínimo das teorias físico-químicas.

Em virtude dessa redução,todas as proposições da biolo-gia seriam deduziveis do con-texto teórico das disciplinas fi-sico-quimicas e do vocabulártoUsual da experimentação. O vi-talismo contesta precisamenteessa possibilidade, introduzindoconceitos, como "entelõquia"."força ou energia vital", queseriam irredutíveis ao conjun-to de processos fisico-quimicas.Essa posição parece eminente-

CURIOSIDADES SOBREAXEL MUNTHE

O TESIAMENTO DEAXEL MUNTHE

Axel Munlhc, o celebre au-tor do "Livro dc San Michcle",recentemente falecido, deixouum testamepto muito expres-sivo. O seu famoso solar deSan Michcle, na ilha de Capri,que deu o t.luio ao famoso li-vro, legou-ò a Suécia, junta-mente com a biblioteca e de-mais perfcnèes da residência.Paia a população pobre dessailha deixou 20 mil coroas. Associedades suecas de proteçãoaos animais legou 100 mil ca-roas para a propaganda con-tra a exploração dos animaisnos circos ç para a proteção dasaves migradoras.—Aos—lapões

via vários anos, num livro queprovisoriamente intitulara "ODrama da Velhice". Discor-dando dc muitos filósofos an-tigos, o autor de "San Miche-lc" considerava a velhice comoa pior das torturas infligidasao homem.

"O drama — disse êle ao

guardadores de renas, que la-zem prodígios para alimentaresses animais em longos inver-nos, couberam 100 mil coroas. E,finalmente, 5 mil coroas foramdestinadas ao ensino de con-d u tores de cegos.AXEL MUNTHE E MUS-

SOLINISabe-se que Axel Munthe

obteve dc Mussolini um deçre-to erigindo a ilha de Capri emparque nacional dos pássaros.Nenhum tiro podia ser dispa-rado na ilha, nenhum animalnela poderia ser caçado.

Munthc foi agradecer aoDuce, em Roma, e este o con-videu para almoçar.

Mas, que horror! O primei-ro prato que lhe foi servido*ra um "pâté" de calhandra.

VELHICEAxel Munthe trabalhava, na-

f&jfe

jtô&Èi %3§lfrj& f «W *¦ * í .ifif&f \ JSbí

•' .^W^"í»*íSi3^1uS"-¦' âE-*f^* 4»^^«^*%FmijdcSeHftóBtí*! dMUal* '' i"v ¦>'' iWFArTíjaT^--ys%í: • '¦ ?

ikfl.:SãmãAxel Munthe

seu amigo, o Rei Gustavo, daSuécia, ao festejar o 9Ò.° ani-versário... — "O drama náo émorrer, e, sim, não morrer jo-vem. depois de ter vivido tan-to tom no".

PORQUE "SAN MICHELE" FOI ESCRITO EM

INGLÊSQuando escreveu o seu fa-

moso livro, Axel Munthj- já cs-tava com a vista muito enfra-quecida. Foi preciso que fabri-cassem, para seu uso, uma ma-quina com teclado especial, deque éle pudesse servir-se semolhar as teclas, pois era pessi-mo dactiiografo. Ora, aconte-ceu que a disposição desse te-ciado era inglesa, nela f ai tan-do sinais c caracteres necessà-rios para o sueco.

Munthe, que conhecia perfei-lamente o inglês, resolveu, cn-táo, escrever o seu livro nessalíngua.A PROPÓSITO DE AXEL

MUNTHEOs jornais da França, por

ocasião da morte dc Axel Mun-thc, recentemente ocorrida, pu-blicaram muitas informações,noticias, comentários e anota-ções sobre o ilustre escritor fa-lecido.

Recordou-se, nessa oportuni-dade, as hostilidades com que ostécnicos dc certa editora fran-cesa receberam os originais datradução francesa do "Livrode San Michelc". O múdrnaque eles disseram £oi que so"tratava de um livro dessabo-rido, pretensioso, falso e pue-ril".

Mas. por intercessão de P?er-ro Bonoit, o editor Albin àli-chel resolveu traduzir a obra.ntie alcançou um dfts r<i^;irescrn.oç^QflS lí<«-n^J0S |.^ rocistr^1-¦dos na França.

mente aiiU-cienUfica na medi-do cm que drscoi.he.e a pussi-bihdado lógico de definir es-pliutaiucitte uu\ grupo Ue pro-p«»¦.-.«.-.. i-.í .»..«¦ (Molegia) atnt.-vrs do outro conjunto de pro-posições fundamenta Ia -n.w4.u-química).

Adtnitlndo-se que tal poiuibi-lidade extalc, iieio nu-nos tro-ritaiiicnle, ou adepto* do vito-ii -mu teriam que apresentar or-gumentos contra a lógica mo-temática e a teoria das ciéss-cias, demonstrando que o^ teuscritérios nâo prevalecem emrelação ás <i* ¦ p.n .- biológicosc procurando comprovar ousaafirmação, Caberia aos repro»sentontei do neo-ritolismo, aés*e propósito, demonstrarexaustivamente que o» prinet-pios logica-matc. atéagora validos para os ncuuasnaturais, náo podem ter . n-n-didos a biologia que dispõe tiamétodos e dc conceitos especl-ficos somente aplicáveis ao mudomínio.

Reitoria, ainda, a difiril in-cuinbctieia, pratiramente Irrruv»lixável no estado alurl dar tiAn-cias dedutivas, de definir curaclareza as prop-iedades e oscaracterísticos logioo-formaisdas ttorias biológicas que asdistinguem das propric:'.a'lcs ncaracterísticos tógico-fonuaisdas teorias ttsico-qttijulcas. En-quanto essa tare,"a náo íórcttm:»rida, os argumentos doneo-ritolismo toram upr.ias ascamadas sup<*rfk-ia'ta de omproblema que evige. para a suasolução, crilica mais penetcan-te da verdadeira finalidade dométodo cientifico e das condi-ções que tornam possível a re-duçáo de um setor da conheci-rivrtío a outro setor prériamen-te definido.

E' nesse Sentido qt!c* a r-on-tribuição da logljtica. cujo-técnica -foi evíraordinari-.nicn-

te flexibilizada pelos ensaioscríticos de Bertrand Russell,tem-se mostrado bastante fe-eunda. Parere necessário, en-tieíartío. reiterar qíie esses <vi-lerios surgiram estreiíam.v.toassociados aos estudos d--? llv.-gnistica e ?etr.f;r.íica. e que nâoseria justo om>*ir a ?mnf»rtín-cia das conclufces do penvtdorinclês sobre fi^-^sofia da lihgun-gem a propósito da técnica »*eredução das ciências e dos pro-blcmas da tervia do rordtcri-mento. Dc acordo c?m osra ob-servação. prct»nd*) dnlicar nspróximas crnrsscas à nnállst; daposição rir» P««~trB^d R-i^lFnodomin*o da ("''-^f^fín 'üa "í^rua-gp?n o dn íe-jria dt «-<•;-.;;p.-f-mento.

NOTA SOBRE O ARTIGO AN-TERIOR — Si .-,.-• P-.r-,?,-.f.vlinha sete, le;r.-se "censis-tèncla* cm vez de "consciên-cia" e na última linha do ar-ligo, leia-se "arijuimeàiana**em vez dc ''euclidiana*'.

0 Que Léon Baudôí d?ss3de Frsnçols Mauríec

Leon Daudet, que atacava fe-ío^niente todos aqueles com osquais não se simpatizava, diziaa 7 de setembro de 1937, em"L'Action Française", de Fran-çois Mauriac: **-MaUriac podeser comparado a ülement Vau-tel. que eu acho. como escritor,mais interesse e com mudomais espirito do que Mauriac".

Ora Glenient Vautel, todomundo sabc>, nunca passou deum foihetmista de sucesso quepunha a figura bonacheironade um cura nos séüs romancesde sucesso essencialmente po-pular. ,

risx^tMíèüt*ttK>'*i

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Página —- 1*1 LETRAS E ARTES Domingo, 17-4-1949

OCOItTO

humttito imii.miIMi.i própria forca der«prr«MMO. diferente da

r\iirr-.-..i.» |)HÍruloKÍra que 80mauifrkla na fare, no olhar, naroí; in in a» duas > m.ih llgn-d.ts Im homem que pretenden-/.ir. jtiiii.t a* m.mv ajorllian*do-se; in • um homem que senjorllu lambem scnle lensa-çoes >|tii- lhe Imitiram a reza.Até se i""ii- afirmar: os outrosmanifestam-se a nos prim-ipai-i--.i-ati- por meio dessas reaçõespsloo-llslolóflcas, i. Tolstoi émestre* e o maior mestre cmdescrever essas reações pararevelar suas personagens. Con-forme as leis da simpatia liu-mana. ((informe um Instintoinconsciente de imitaçá (omesmo que provoca nossos ri-sos «• ehoros quando ouvimosrir ou cfaorar outras pessoas»,o descrição dos acontecimentosnoa mOSCOlOS e nervos dospersonagens inspira ao nossocorpo movimentos semelhan-tes. Deste modo penetramosna própria alma dos persona-£*>ns, começando o viver coracies e até cm eles.

A serviço dessa arte está oestilo de Tolstoi: é. em geral,sóbrio e simples, sem muitosadjetivos. Mas quando se tra-ta de sensações corporais osadjetivos começam a abundar.For exemplo, quando Ivantlitch adoeceu, "sentia umaoor conhecida, antiga, oca, pe-netrante. tenaz, fina e scrian.Sâo nada menos do que 7 ad-jt-tivos para determinar nmsubstantivo! Mas todos eles di-ferentes. e necessários para su-gerir-nos uma dõr, não multoforte, vagamente conhecida oséria, mensageira de acontecl-mentos corporais que não co-nhecemos por experiência pro-pria mas de que sabemos queestão à nossa espera.

Depois, chegam os médicos,

A ARTE DE TOLSTOIDMITR1 MEREJKOVSKl

,t\Iercjkovski, famoso como romancista, è porôm mais importante comocritico literário. Para nós ocidentais, acostumados a considerar as obras dosgrandes escritores russos principalmente como objetos de discussão ideológicao pesquisa psicológica, a critica de Mercjkovskt possui o valor especial de const-derar os valores cstèttcos. Os trechos aqui traduzidos, que dizem respeito à estu-penda novela "A morte de Ivan llitch" de Tolstoi, fazem parte do livro "Tolstoie Dostoicvskl como homens c artistas"; a tradução foi feita contarmn a :?« edi-ção russa, Pctcrsburgo, 1906).

pronunrlando-sc com gravi-dade, corroborando os vagospressentimentos ("Afinal, éI reelso morrer!") que todosi.ós conhecemos assim comoIvan os conhece, sem pensar-mos Jamais que "esta vez é anossa". Mas na novela de Tols-tot, Ivan recebe a revela çaodecisiva ao olhar para o espe-lho. "Ivan começou a pente-ar-se, e o espelho assustou-o:os cabelos estavam colados nafrente pálida." Todo o medonatural da morte exprime-seali na colocação de uns cabe-los terrivelmente "colados".Ao mesmo tempo, o homemque sente esse medo Já está Iso-lado do mundo porque os ou-troa nio sentem assim o mes*mo medo. A indiferença na-tura! de quem tem saúde comrespeito ao doente, o abismoentre o fim já previsto do ago-nizante o o futuro indefinidodos outros, rcvcla-se a Ivanquando vin o noivo de sua fl-lha — -Fedor Fctrovitch tinhao pescoço forte, gordo, o cola-rinho parecia estreito de mais,assim como as calças pretasquase lhe premiam as coxasmuscnlosas."

Com o tempo, o corpo Intel-

ro de Ivan nitcn torna-se vasode sensações desconhecidas, ouantes de sensações ás quais naoprestara, antes, atenção. A sua\ida toda parece concentradaem certos movimentos elemen-tares. No dia em que Ivan Iamorrer, deram-lhe uma compo-ta de ameixas; lembraram-lhe"as ameixas secas, francesas

de que gostava tanto quandocriança.' O detalhe nfto temnada de extraordinário; muitosescritores já fariam pensar nainfância os agonizantes. MasTolstoi intensifica a sensação.Ivan lembra-se do gosto espe-cifico das ameixas, e que a sa-liva virou abundante quandose chegava ao caroço. A sali-va é que lhe sugere lembran-cas da ema seca que lhe enxu-gou a boca, e o brinquedo queficava sujo, e a infância intei-ra, tão if»ora nte do desesperoc do susto de agora, concluindoele: "Náo pensar mais em na-da, pensar dói". E essa dõrpsicológica intensifica de talmaneira a dõr física, quase es-quecida por um instante, queIvan começa a gritar. A lógi-ea dos movimentos é terrível-mente rigorosa. E essa últimadõr não quer acabar mais. Du-rante três dias Ivan gritou sem

interrupção "Ul U! U!" K*porque gritara "nckhotchu".Isto é, "não quero... "(pen-sar), e tinha esquecido suaprópria palavra, continuandoti penas com o "u" final, du-rante três dias. A palavra hu-mana transformara-se em grl-to de animal.

Seria tão Impossível a me»-ma transformação em nós u-tros? Todos nós, conhecemosdores penetrantes, até a gentesentir vontade de gritar. Nioá nada Inimaginável uma dõralgo mais torto que nos Inspl-rasse também êsse grito terrt-vcl e absurdo: "U! U! U!"Neste momento o corpo do lei-tor é irmão do corpo de Ivanllitch. Ou antes, começamos aimitar-lhe os movimentos dosmúsculos e nervos. E* uma tra-gédia que vivemos, a tragédiado corpo humano. Mas Tolstoiainda a intensifica, acrescen-tando de maneira shakespcari-na certos elementos terrível-mente cômicos.

Ivan já não é capai de cul-dar das necessidades corporais,"Cada vez, era preciso chamaro jovem criado Gerasim, forte,borro e submisso. A procedamera torturante. A sujeira, a>

¦.decência, o cheiro, o peiua-vtenlo de que um outro itrve-ria assistir àquilo torturavam tlocnte. Certo dia, Ivan notatinha mal» a Jrça para vestir,icpols, a« cuecas: caiu ns poi.trona, olhando com pavor mascoxas nuas, magras em que srlestacaran. os useulostels." Gerasim, com toda pari-êncla, levanta a» pernas dedoente que fl i assim «uspen*so, cm atitude ridícula, iwlig*na. Uma pessoa torturada e aomesmo tempo ridicularizadaassim Já não é mais pessoahumana digna desse nome.Não tem mais independência;não é mais indivíduo Afinal,Ivan llitch é apenas um anl-mal que grita; mono* v cor-no do que um pedaço de carne,roldo pela dõr e já meio podre.

Tudo isso, todo esse furorcontra o corpo humano serveevidentemente ao» intuitosideológicos de Tolstoi: quisdesmoralizar orno, o vasoda con.-upiscéneia. Mas nuncahouve poeta mais penetrante

das sensações corporais em quea dõr e o prazer se misturamindefinidamente. Tolstoi c oiate, quase o profeta do corpohumano "O verda eiro artis*ta". dizia Tolstoi, "fax semprea experiência do falso profetaBaalam que amaldiçoou o quequis abençoar, abençoando oque êle pretendera amaldiçoar.Pois, não fex aquilo o que quisfazer e sim — como o artista— o que se lhe impôs, o que de*via fazer." A Tolstoi, ao poetado corpo humano, aconteceu •mesmo: durante a vida todaamaldi.oou em vez de aben-coar, abençoando em vez deamaldiçoar. Nâo fex aquuoqve quis fazer mas sim o quedevia fazer. Afigurava-sc-lhecomo vergonha e pecado seus• que é na verdade sua Justiíi-caeão e sua glória*

IMPRESSIONADA

com acrescente influência quoexercem o» escritores nor-

se-araericanos nas letras con-temporãneas, a escritora fran-eesa Claude-Edmonde Magnyacaba da publicar, a respeito,oa livro sob o titulo de "I/Agedor du roman américa.n".

A propósito dessa obra, es-ereve o crítico Mauríce Sché-ter em "Les Temps Moder-nes":

Toder-se-ia caracter!-sar exatamente a evoluca. daarte moderna pela tendência,cada vea mais flagrante, desubordinar-se o conteúdo à ex-pressão.

Nes'^ ponto, o gênero roman-eo parecia, até há bem poucotempo, curiosamente retarda-t»rio. Pode-se, pois, falar nu-ma autêntica "revelação" ame-rlcana. E o interesse do últimolivro da senhora Claude-Ed-monde Magny — dedicadoàquilo a que ela chama, comrazão, a idade de ouro do ro-mance americano —• está pre-clsamente cm que tal obra seconsagra aos problemas do es-tilo e mostra como estes con-dicionam os demais problemasdo romance."Os romances americanoscferecem-nos, diz a autora, oespetáculo singular, talvez, nomundo contemporâneo, de umaliteratura em que a técnica éverdadeiramente consunbstan-ciai à matéria".

Sente-se, na obra da senho-ra Magny, a presença de umapreocupação dominante, que a£-utora ^uida de afirmar, citan-do várias vezes uma frase deJean-Paul Sartre: "Toda téc-nica boa traz em si uma meta-física".

A par do conhecimento dohomem moderno, a literaturaamericana o'recf-nos, como apintura cubista, uma renovada

O período áureo do romance americanoA REVOLUÇÃO QUE TROUXE À TÉCNICA E AO

ESPÍRITO DO ROMANCEvisão do mundo. Convém qaeo linguagem, que assim nos éproposta, justifique sua anten-tlcidade pela necessidade darelação qne cada um dos sinaispor ela utilizados entretemcom os modos gerais de nossa

apreensão dos objetos. Desteponto de vista, o conceito detempo 6 • mais revelador —ainda que o estudo de nmsenso do espaço na escolha dassituações ou das metáforas, de-vesse Igualmente figurar em

uma fenomenologia da arte doFaulkner.

Arte da duração, a narrativaromanesca parece não poderfundar •» realidade de cada amdos instantes que retraça, so-não pela inserção deles numa

Cartas de Mario de Andrade(conclusão da 12* pag.)

mento. Mas 6 gostosa assimmesmo como está e deixei.

Quanto a Macunaíma as con-testações que você me fez naúltima carta enfim chegaram aprovar alguma coisa. Agoraprincipio .entrevendo onde -eporque vooê tem razão no casoda Carta prás Icamiabas. Issoinda nâo quer dizer que vá mo-dificar a história, embora o ai-vitre nele contar as impressõespra alguém no mato seja boa.Pro papagaio, por exemplo. Maso fato do livro não ter própria-mente uma conexão lógica depsicologia não obriga própria-mente... Isto é, conexão lógicade psicologia êle tem, quem nãotem é Macunaíma, e é justo,nisso que está a lógica de Ma-

cunaima: em não ter lógica.Não imagine que estou sofis-mando não. E' fácil de provarque estabeleci bem dentro detodo lívro que Macunaíma éuma contradição de si mesmo.O caráter que demonstra numcapítulo. _êle desfaz neutre.-Ete.Enfim o que você falou sobre ocaso agora foi suficiente. Voumatutar bem nisso. Porque poroutro lado, você acha a Cartapau, mas um outro que leu etem muita inteligência também,achou boa. Enfim vou matutare fique descansado que matutosem nenhuma paixão. E* certoque gosto da carta, isso gosto.Enfim vou pensar.

E por hoje ciao, oue me per-di falando com você.Não corri jo, se arranje.

NOTAS DE MANUELBANDEIRAt

L. Osvaldo'. Oswald de Ari'drade,

2. Gui: Guilherme de Afrmeidaz

3. Eu tinha comunicado a AfoVrio que me passara pela ca-beca êsse grito de desabafo,que pretendia aproveitarcomo refrão de um poemaem redondilha ou verso li-vre, ainda não sabia.

4. Trlstão: Tristâo de Alaide.f. Roarigo: Rodrigo M. F. de

Andrade.d. Prudêntico: Prudente de

Moraes, neto.¦*»"•"*—••»>•"•-«.^•¦«..«¦¦»¦¦«¦.»¦-,.,».,»,,t,...^.^^».^..»..,.,,,,,,,,„,,

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T TT-*. T A -Tà y-r A história edificante dos isra elitas nas Américas t

1 y*f"\ I J\ IYI A. Vida árdua e redentora, no trabalho, dos laboriosos Italianos, Alemães, Libaneses, Si-"^"^ !~"T -¦--*•¦*•-"-"-¦• rips(< Portugueses Espanhóis c outros mais, na formação econômica dos países americanos I.... Histórias dos Mascates no sertão das América». Contos, lendas, narrativas e failodocumentário sobre o alvor comercial do Brasil i

Ura livro maravilhoso: "MEMÓRIAS DE UM MASCATE", que surge na alvorada de 1949 1 Obra deI novel escritor TANUS JORCB BASTAM. Documento para todas as geraçõest

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totalidade temporal. O escrl-tor moderno rejeitará, pois, •convenção do romance clissl-eo, pela qual só o» fatos neces-saídos à comprensão da Intrigae do mecanismo da» paixõesc.erecem ser registrados nanarrativa. O senso da situaçãoImportará mais que a profun-dldade da análise psicológica.K, considerada a anedota comoelemento parasitário, o Interês-se do lei'»- trocará de objeto.Então, -j problema será apenassuscitar nele nm sentimentoporo do acontecimento, sem »utilização dos artifícios da tec-nica dramática tradiconai.

Nos capítulos consagrados aflemlngway, Dos Passos, bteln-òeck, mostra-nos a Sra. Magnycomo assistimos a uma valoriza-çao ou exaltação do Instante— deliberadamente recusado«ne ê, aos personagens, qual-quer apreensão acerca do tu-turo, a não ser o pressentimen-to, na sua mais vaga forma.

Concebe-se, assim, que ó ho-mera, encerrado em tal uni-verso, seja privado de todas asdeterminações — paixão, per-nuvnêncla de caráter, vontaderondada no interesse ou emmotivos morais — das quais apsicologia clássica o tinha ar-tificlalmcntc dotado, mas qnelhe davam a ilusão de dominare tempo.

O caso de Faulkner parece,a este respeito, desconcertante.Mas, a tensão constante para opassado, que se observa atra-vês da obra dêsse romancista,corresponderá, não, própria-mente, uma pesquisa do in-temporal, mas ã exigência ri-gorosa de atingir a própria es-sência do instante.

O artigo de Maurfci» Sché-rer estende-se por mais algi*-mas paginas, e é um convitepara que se leia o livro da s^"«hora Magny.., /

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Domingo, 17-4-1949

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A propósito de rundldatu.ias a Academia, o sr,tiilbeito Freire escreveu,

há dias, num suplemento litera-riu, um artigo extremamentecurioso e oportuno."He vez cm quundo — con-reata o autor de "Casa grande»• Senzala" — me perguntam sosou candidato á Academia doLetras. De vez em quando vejo,espantado, meu pobre Frcyre,com ou sem "y", numa onda denomes distintos que a Acadc-mia se dignaria a nreltur gene-rosamente como candidatos ¦um dos seus tronos. O que asvezes significa mcia-maiihã per-dida.

Nao fossem as conseqüênciasdesses boatos cór-dc-rosa e eudeixaria que élcs sc desfizessempor si com a mesma facilidadecom que sc formam. O diabo,porém, é que são boatos comconseqüências nem sempre acra»dãvcis para mim.

Por conta deles tenho ate si-do procurado no melo das ml-nlias manhãs dc estudo, pormais dc um candidato mctO-diro que vem, com antecipação; prudência assegurar-se do meuvoto dc futuro acadêmico.

Nao é só isto. Tais boatos fa-rem voltar-se contra mim, fu-riosos c tremendos, mestres dogramática c dc estilo c outrosimtiviiluos sôfregos dc consa-gração ou glorificacócs acadc-miras. Pelo que só faltam man-dar liquidar-me por sinistroscapangas disfarçados cm gatu-nns ou "chaulfeurs" dc gosto-soes.

Donde a necessidade désíc ar-tlgo desagradàvelmcntc perso-naüsta. Escrcvo-o porque naoposso deixar dc escrevê-lo. Pa-ra defender de interrupções Inu-teis minhas manhãs dc estu-do. Tara defender a própriavida de possíveis atentadostambém inúteis.

Que não percam seu tempocomigo os desejosos dc consa-graçao acadêmica. Que náome suponham candidato "cer-to" e "vitorioso" à "primeiravaga" na Academia. Que nãogastem suas preciosas manhasprocurando-mc para que iüesassegure meu voto de futuroacadêmico. Tratem dc infor-mar-se melhor sóbre o assun-to. De conhecer os verdadeiroscandidatos. E me deixem gene-rosamente em paz, deixandotambém cm paz os academi-cos ainda vivos. Por outro la-do, que não sc arrepiem inu-tilmente contra mim os impa-cientes gramáticos só por meImaginarem competidor "pode-roso" em futura atalha pelahonra ou pela glória de um tro-no acadêmico. Não é que meIrritem suas criticas, ás vezespitorescas e não apenas justas,ao meu português desordenado,confuso e realmente indigno deacadêmico ou mesmo de simplescandidato â Academia dc Letras.E' que devem esses mestresguardar as mais agudas farpasdo seu ódio quasi teológico dodevotos da Gramática ou das Le-trás Clássicas para aqueles belc-tristas relapsos na frase que sc-jani realmente candidatos a au-gusta sociedade; e possam lhesfazer dano na concorrência ás-pera.

Gramáticos c familiares dosclássicos os tais mestres se jui-gam, também estetas da língua.Sentem-se acadêmicos por todosos direitos. Sonham com dou-rai5as poltronazinhas dc cone-gos das Letras. E* natural quaprocurem destruir competido-res. Mas devem lutar contra oaroa?s e não perder tempo c la-Um com os imaginários.

Não se dêem ao trabalho de,eloqüentemente, mostrar quosoa quando muito, modesto pcs.çuisador de sub-hlstória ou sim-Pios perito em sub-ciência so-«ai* e náo escritor como eles.«era esteta da língua. Nem cs-iiíiría. Nem possuidor dc Qjuát-q«er qualidade capaz dc me re-Çemendatla uma Academia deloiras. Ei trabalho inútil. VãoesíGioo. Os inimigos são outros.Ms rivais são outros. Os candl-«atos são outros. Admiro a Aca-

LETRAS R ARTES Pagina — 15

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RIVALIDADES PREMATURAS

demla Brasileira de Letras. Ad.mlro-a por suas tradições. Peloseu passado. Pelas suas glorias.Admiro-a também pela» gran-des figuras de mestres que hojea enobrecem com o mesmo brt-lho de mestres de ontem.

Mas sosseguem os candidatosaos tronos acadêmicos. Gosto danossa boa Academia de Letrascomo o man baiano residente noItio gabava-se dc gostar da an-tlga Bahia: "Ela lá e eu aqui".

Ai está uma definição de ati-tudes Interessante o esclarece-Hora. Que os namorados daAcademia deixem o sr. Gilber-to Freire em paz: éle poderávir a ser da Academia, mas, porenquanto, náo c candidato...

DJOGBNES EAERCJQ

JÚLIO DANTASA bordo do "Alcântara" cite.

gou ao Itio o sr. Júliu Dantas, pretrás Clássicas para aqueles beie-leou ao Itio o sr. Júlio Dan-tas, presidente da Academiadas Ciências de Lisboa.O sr. Peregrino Júnior napresidência da Academia, dc.slgnou uma comissão para ela-borar o programa dc homena-gens ao autor da "Ceia dos car*dcais", c determinou que a me*sa, incorporada, comparecesseao seu desembarque. Além doum banquete, s Academia rcali*zará uma homenagem, cm ses*«Ao solene, a Júlio Itantas.

NOVAS COMISSÕESO sr. Peregrino Júnior, na

primeira ücssáo da Academiaapoü as férias, designou as co-missões julgadoras dos prêmiosliterários dc 1SH0.

A fim de julgar o Prêmio Vis*conde de Taunay, para livrossobre a PAIS, foi designada a sr.guinte comlsâo: Afonso TaunayCelso Vieira e Gustavo Barroso,HOMENAGEM A MEMóRIA DA SENHORA CAR*. LOS MAGALHÃES DE .

AZEREDOO sr. Peregrino Júnior, na

presidência, comunicou a cas-

BATALHA CAMPAL NA A.B.D.E.(Conclusão da 11.* pàg )

sultar a nossa companheira?:Intervém, irado, um dos "es-crítores".

— Absolutamente. Estooapenas sugerindo que ela cm-pregue melhor os pronomes...

Jaymc Adour, de resto, náosc limitou à defesa da sintaxe.Defcndeu-sc por igual, c semcompanheiros. Teve dc usar dopunho direito, e um soco bemaplicado por êle fez declinar a

ia de um "intelectual" maisencorpado.

FINALOutra "escritora" gritava

para Luis Jardim que fechas*sc a porta da sala. Qu?ria, porcerto, que a lula sc decidisseali dentro, sem maiores delon-gas. E descendo a.s escadas,com Francisco dc Assis lia roo-sa c Otávio Tarquinio dc Sou-sa, a sra. Lia Correia Dutraadvertia, zangada :

Vou descer com vocês,porque sc lá em baixo estiverum choque da Polida Especialpara me prender, irritarei tan-to que voces também irão nacana...

Náo terão êsse prazer —respondeu-lhe Chico Barbosa.

Lá cm baixo estava apenas anoite, sóbre as árvores da ruaSanta Luzia, e as luzes do Cas-telo, c uma grande lua cstuuc*facta.

Um quarto de escritorConta Rubcn Dario, na sua

auto-biografia, este curioso epi-sódio: "Ao chegar pela primei-ra vez em Madrid — diz êle-—hospedei-me no hotel das Qua-tro Nações, situado na rua deiArenal e hoje transformado.Como coubesse da minha qua-lidade de homem de letras, o"garçon" Manoel me propôs:"— Senhorito, quer conhecer oquarto de dom Marcelino? Eleestá agora em Santander e eulho posso mostrar". Tratava-se

de dom Marcelino Menendez yPelayo, uma das maiores figu-ras da literatura espanhola.Aceitei com muito prazer.

Era um quarto, como todosos quartos de hotéis, mas cheiode tal maneira, de livros e pa-pels, que não se compreendiacomo ali alguém pudesse mover-se. As paredes estavam man-chadas de tintas. 03 livros dodiferentes formatos empilha-vam-se desordenadamente. Ospapeis, amontoados por todos os

cantos, estavam ,cheios ae coVsas sábias, dc coisas sábias dedom Marcelino.

"— Quando está, dom Mar-celino não recebe ninguém'1 —disse-me o rapaz. Mas quise-ram os fados que, quando o es-critor retornasse de Santander,eu fosse admitido em seu apo-sento, pelo menos alguns minu-tos, todas as manhãs. E daí seiniciou entre nós uma larga ecordialissima amizade

Í?S à^'^^Sa^^a)%^^^^9mSSSÍKÊÊkf'-~* -.«*...—.- - : *=*».— mim y iBBlilim,» .LCuLiJHjTtiiHBÜatJhUU-LLI-

Dçsenho uv Y LL&iní KÊKft.

o falecimento da sra, CarlosMagalnaos de *. •- . .i e expies-sando o pesar da jne*a, deela-rau ler teie.aafa Io ao embolsa-dor Magalhães cio Azeredo, Pa-taram, pronunciando palavrascomovida» de aaudadOi oh srs.Aloihio de Casiro, Atauüo ocPaiva, Cláudio df.Hoiua, 1'cdroraimon, Kudrigo Otávio Flllio,Celso Vieira c Adelmar Tavarc.%

TRÊS ESCRITORESPORTUGUESES NA

ACADEMIAA Academia recebeu a visita

de três escritores portugueses:os srs. I. ma in Cidade, LduardoDias c Luiz Silveira. Os vui-iinii-, foram introduzidos nasala pelos srs. Lcvl Carneiro,Olcgario Mariano e padre Scra-fim Leite, sendo saudados pelosr. Pedro Calmon. Hespondcuagradecendo o sr. Ernani CLdade.DOIS LIVROS NOVOS DOSR. CARLOS MAGALHAFS

DE AZEREDOKstáo no prelo, cm provas, dois

novos livros dc poemas úo sr.Carlos Magalhães de Azeredo:"Verão" e "Outono".

POSSE DE ANIBALFREIRE

Tendo partido de novo para o'**3til. cm visita à sua mâc en-teima, o sr. João Neves da Fan-to ura não pude concluir o dis-curso dc saudação ao sr. Aníbal•rreire. E' possível que o novoacadêmico seja recebido na pri-mera quinzena de maio. A data,porem, esta dependendo do re-gresso do sr. João Neves daFontoura,

HOSPITALIDADE DAAMERICAN ACADEMY

OF ARTS AND SCIENCESO sr. ftalph W. Burhcc escre-

rcu ao Presidente da Academia:onvi(iando os acadêmicos qutforom aos Estados Unidos a vi*sltarcm a American Academy oiArts and Sciences, em lioston.

LEVI CARNEIRO NAACADEMIA DAS

CIÊNCIASEm elegante plaquete. aca*»

•am de ser publicados os dis-ursos pronunciados na Acadc-nia das Ciências de Lisboa, por»casiao da homenagem ali pres-!ada ao sr. Lcvi Carneiro. Alémdas palavras do sr. Júlio Dan-tas, contém essa plaquete os be-los discursos dos srs. EernandoEmigdio da Silva e Lcvi Car-lelro.SESSÃO ACADÊMICA NA

TERÇA-FEIRAPor proposta do sr. Afonso

Pena Júnior a sessão academi-ca da Semana Santa realizou-sena terça-feira ! A praxe indica-va a quarta-feira, mas comomuitos acadêmicos desejarampassar fora do Kio a SemanaSanta, a sessão foi antecipadapara a terça, com a aqotescen-cíi o,crnl6 MINISTRO HÉLIO LO-BO VOLTA À ACADEMIA

A última sessão ua Academiafoi marcada por uma nota dcgrande júbilo: a volta do minls-tro Hélio Lobo. Há alguns anosafastado da ilustre companhia,o ministro Hélio Lobo compa-receu à reunião de térca-feira,sendo saudado cem efusão cor-dial por todos cs acadêmico*!presentes.

ALMOÇO DOS"PEREGRINOS"O último almoço dos "pMC-

g/mos" teve concorrência exce-cloual, Alem do homenageadodo dia, Manuel Augusto GarciaVinòla, que está cie partida P»-ra a Fsnanha, sentaram-se amesa o Embaixador da Ingla-terra sr. Neville Baile, o ttiinis-tro Ilólio Lobo, o embaixadorBarros pimentel, o conselheiroVan Bérgmán, o adfdo dc im-prensa da Embaixada inglesa,Mr. Síov.e, etc. Fci um almoçoanimado e cõncõvrTdo;

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Pigina — 1*$ LETRAS E ARTES Domingo, 17-4-1' 19

A CRISTO CRUCIFICADO(DE AUTOR FSPANHOl NÃO IDENTIFICADO)

Tradução de MANUEL BANDEIRA

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Ilustração de SANTA ROS14

NÂO ME MOVE, MEU DEUS, PARA QUERER-TEO CEU QUE ME HAS UM DIA PROMETIDO:E NEM ME MOVE O INFERNO TÃO TEMIDOPARA DEIXAR POR ISSO DE OFENDER-TE.

TU ME MOVES, SENHOR, MOVE-ME O VERTECRAVADO NESSA CRUZ E ESCARNECIDO.MOVE-ME NO TEU CORPO TÃO FERIDOVER O SUOR DE AGONIA QUE ÊLE VERTE.

'

MOVESME AO TEU AMOR DE TAL MANEIRA,OUE A NÃO HAVFR O CÉU AINDA TE AMARA *E A NÂO HAVER O INFERNO TE TEMERA.

NADA ME TENS QUE DAR PORQUE TE QUEIRA;OUE SE O QUE OUSO ESPERAR NÃO ESPERARA,O MESMO QUE TE QUERO TE QUISERA.