Lendo partitura e aplicando-a ao violão: relato sobre minicurso realizado na oficina de música...

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LENDO PARTITURA E APLICANDO-A AO VIOLÃO: RELATO SOBRE O MINICURSO REALIZADO NA OFICINA DE MÚSICA IRMÃ ROSA Alexandre Santos de Azevedo[i] Diego Lima dos Santos[ii] Eixo Temático: Música (ensino da música, produção musical). RESUMO O presente artigo visa relatar uma experiência vivenciada na Oficina de Música Irmã Rosa, localizada no povoado Robalo, em Aracaju. Trata-se da realização de um minicurso cujo foco foi à importância da leitura de partitura e sua aplicabilidade ao violão. Além da exposição das informações do presente campo, este estudo busca discutir as possibilidades de adaptação de conteúdos em contextos fora do ensino de música em regime regular e a sua aplicação na vida dos estudantes. Percebe-se nesta vivência a relevância de um planejamento que leve em consideração o público alvo em suas particularidades, buscando uma maior conexão entre os conteúdos a serem apresentados e a realidade dos educandos. Pôde-se constatar um bom aproveitamento do minicurso através da realização de atividades avaliativas. PALAVRAS-CHAVE: ENSINO – VIOLÃO – LEITURA DE PARTITURA. ABSTRACT This article aims to report an experience in the Music Workshop Sister Rosa, located in the hamlet Robalo in Aracaju. It is the realization of a short course which focused on the importance of reading the score and its applicability to the guitar. In addition to the exposure of the information in this field, this study discusses the opportunities for content adaptation in contexts outside of music education in the regular system and its application in students&39; lives. Perceives this experience the importance of planning that takes into account the target audience and its particularities, seeking a greater connection between the content being presented and the reality of the students. It was found that a good use of the short course by conducting evaluation activities. KEYWORDS: EDUCATION – GUITAR-READING SCORE. 1. INTRODUÇÃO Pág.1/8

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O presente artigo visa relatar uma experiência vivenciada na Oficina de Música Irmã Rosa, localizada nopovoado Robalo, em Aracaju. Trata-se da realização de um minicurso cujo foco foi à importância da leiturade partitura e sua aplicabilidade ao violão. Além da exposição das informações do presente campo, esteestudo busca discutir as possibilidades de adaptação de conteúdos em contextos fora do ensino de músicaem regime regular e a sua aplicação na vida dos estudantes. Percebe-se nesta vivência a relevância de umplanejamento que leve em consideração o público alvo em suas particularidades, buscando uma maiorconexão entre os conteúdos a serem apresentados e a realidade dos educandos. Pôde-se constatar umbom aproveitamento do minicurso através da realização de atividades avaliativas.

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  • LENDO PARTITURA E APLICANDO-A AO VIOLO: RELATO SOBRE O MINICURSO REALIZADO NAOFICINA DE MSICA IRM ROSA

    Alexandre Santos de Azevedo[i]Diego Lima dos Santos[ii]

    Eixo Temtico: Msica (ensino da msica, produo musical).

    RESUMOO presente artigo visa relatar uma experincia vivenciada na Oficina de Msica Irm Rosa, localizada nopovoado Robalo, em Aracaju. Trata-se da realizao de um minicurso cujo foco foi importncia da leiturade partitura e sua aplicabilidade ao violo. Alm da exposio das informaes do presente campo, esteestudo busca discutir as possibilidades de adaptao de contedos em contextos fora do ensino de msicaem regime regular e a sua aplicao na vida dos estudantes. Percebe-se nesta vivncia a relevncia de umplanejamento que leve em considerao o pblico alvo em suas particularidades, buscando uma maiorconexo entre os contedos a serem apresentados e a realidade dos educandos. Pde-se constatar umbom aproveitamento do minicurso atravs da realizao de atividades avaliativas.

    PALAVRAS-CHAVE: ENSINO VIOLO LEITURA DE PARTITURA.ABSTRACTThis article aims to report an experience in the Music Workshop Sister Rosa, located in the hamlet Robaloin Aracaju. It is the realization of a short course which focused on the importance of reading the score andits applicability to the guitar. In addition to the exposure of the information in this field, this studydiscusses the opportunities for content adaptation in contexts outside of music education in the regularsystem and its application in students&39; lives. Perceives this experience the importance of planning thattakes into account the target audience and its particularities, seeking a greater connection between thecontent being presented and the reality of the students. It was found that a good use of the short courseby conducting evaluation activities.KEYWORDS: EDUCATION GUITAR-READING SCORE.

    1. INTRODUO

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  • A Parquia Santa Terezinha do Menino Jesus fica situada no povoado Robalo, localizado na zona deexpanso de Aracaju.[iii] Desde maro de 2009, nesta mesma parquia, realizada a Oficina de MsicaIrm Rosa, aos domingos pela manh, contando com Carlos Augusto Correia de Oliveira como professordesde seu incio.O conceito de oficina de msica amplo, podendo abranger prticas bastante distintas.Dentre as vriasdefinies contidas no Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa (2010, p. 1498), a que nos diz respeitoinforma ser oficina no mbito pedaggico:

    Ambiente destinado ao desenvolvimento das aptides e habilidades, medianteatividades laborativas orientadas por professores capacitados, e em que estodisponveis diferentes tipos de equipamentos e materiais para o ensino ouaprendizagem, nas diversas reas do conhecimento. [Tcnica educativa que visaensinar uma habilidade, um saber.].

    De acordo com Almeida (2005, p. 106), para o professor de msica, a oficina est inserida, nacontemporaneidade, na multiplicidade de espaos onde este profissional pode atuar. A escola constituiriamais um dentre estes muitos espaos. Todavia, o estabelecimento da disciplina de msica nas nossasescolas encontra srias dificuldades. Desta forma, a educao no-formal[iv]no s constitui uma opo,de atuao profissional, como tem representado uma das principais formas de ensino de msica em nossopas. Sobre este fenmeno, Fonterrada (2008, pp. 280-281) nos oferece um interessante panorama:

    Hoje, paradoxalmente, embora a msica esteja em toda parte, quaseonipresente, no se sabe mais como inclu-la no elenco de disciplinas na escola.Em contrapartida, talvez a necessidade da arte para o ser humano seja topremente que, mesmo quando o sistema educacional fecha-lhe espaos, eleteima em aparecer. Assim, ao lado dos modelos homogneos impostos pelaindstria cultural sociedade, no param de ocorrer exemplos de qualidademusical, no se sabe de onde surgidos. As recentes verses de um prmiooferecido a compositores e intrpretes de msica popular constatam esse fato; domesmo modo, o surgimento de jovens talentos na rea da chamada msicaerudita palpvel, embora se conjeture que, se a msica tivesse mais espao naescola, o nmero de msicos seria maior, no se limitando queles que renemcondies especiais para andarem quase por si prprios, at a realizaoprofissional. E no se pode deixar de mencionar os projetos sociais que incluem amsica e atestam a viabilidade de se fazer msica com diferentes segmentos dapopulao.

    O professor de msica que atua em oficinas geralmente chamado de oficineiro. Sobre a formao dooficineiro, Almeida (2005, p. 107) nos fornece dados importantes, a partir de pesquisa de campo, sobre oque considerado necessrio na viso dos mesmo: As habilidades apontadas pelos oficineiros para umaboa atuao profissional so muitas, mas uma delas unanimidade: necessrio ser msico para ser umoficineiro. Por mais bvio que possa parecer, esta informao nos de extrema importncia, poisidentifica o tipo de ensino que realizado em uma oficina, o de carter prtico, com nfase na realizaoartstica atravs da performance. Outro aspecto levantado pela autora como fator considerado importantedentro das atribuies de um oficineiro que o mesmo saiba tocar vrios instrumentos, ou que pelomenos conhea de forma elementar as tcnicas para toc-los.Quanto necessidade e aplicabilidade da oficina de msica, Penna e Marinho (2008, p. 164) afirmam quea proposta da oficina de msica pode ser a mais indicada quando se visualiza uma necessidade mais

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  • imediata de ensino ou familiarizao com um determinado contedo, adequando-se melhor a diferentesrealidades.

    Conforme as exigncias da situao pedaggica concreta, por vezes a proposta deoficina de msica a abordagem mais indicada, como quando se trata de umaturma composta por adolescentes ou adultos jovens que no tiveram aoportunidade de se familiarizar com a msica erudita, ou ainda quando no setem a perspectiva de continuidade do trabalho de educao musical a longoprazo.

    Podemos dizer que a Oficina Irm Rosa possui semelhanas com as situaes descritas acima. formadapor crianas, jovens e adultos de ambos os sexos, possuindo o objetivo imediato de preparar msicos paraos ofcios litrgicos da parquia. O repertrio trabalhado, como se pode ver, formado por canesreligiosas, constituindo a primeira particularidade da Oficina. Outro ponto peculiar o fato de que amesma, embora tendo objetivos e necessidades imediatas, que pressupem uma abordagem tambmimediata de ensino, busca desenvolver contedos de educao musical que necessitam de uma abordagemmais aprofundada envolvendo mais tempo de trabalho. Desta forma, a Oficina de Msica Irm Rosa existeh mais de quatro anos, sendo que alguns alunos a frequentam desde seu incio.Na Oficina so ofertadas aulas de canto, teclado e violo, todas ministradas pelo professor Carlos. Oaprendizado instrumental se d por meio de cifras. Para que se entenda o que vem a ser cifra necessrioexplicar que a mesma est relacionada representao de acordes. Almir Chediak (2008, p. 75) defineacorde como o conjunto de trs ou mais sons ouvidos simultaneamente.. Deste modo, cifras sosmbolos criados para representar o acorde de uma maneira prtica. A cifra composta de letras, nmerose sinais. o sistema predominantemente usado em msica popular para qualquer instrumento.(CHEDIAK, 1986, p. 75). Em outras palavras, o sistema de cifras representa uma alternativa de leituramusical mais simples e prtica que a partitura. Todavia, aquela representa, com relao a esta, limitaescomo a carncia de representao grfica de elementos musicais como ritmo e melodia, ficando restrita aombito da harmonia.Tendo em vista esta limitao bem como as caractersticas da Oficina descritas acima, foi-nos solicitadopelo professor a realizao de um minicurso que tratasse da importncia da partitura e sua aplicao aoinstrumento, sobretudo no violo, que o instrumento mais utilizado na oficina, alm de ser nossaespecialidade. Neste artigo pretendemos fazer um relato desta experincia. Com base na observao decampo, no levantamento de informaes com o professor Carlos e numa literatura de referncia,procurou-se verificar se as estratgias adotadas foram vlidas e se os objetivos foram alcanados. Quantoao formato do minicurso, algumas adaptaes foram necessrias. Para isso procurou-se levar em conta arealidade da clientela envolvida bem como suas preferncias musicais, conhecimentos prvios (repertriosj trabalhados) e o desejo de cada um de seguir ou no profissionalmente no meio musical.

    1. O PLANEJAMENTO

    O objetivo geral de nosso trabalho seria proporcionar aos alunos da Oficina o contato com a leitura demsica atravs da partitura e, desta forma, a compreenso da sua importncia para a preservao e aperpetuao do discurso musical. Pretendamos tambm, ao final do minicurso, promover a execuopelos alunos de um trecho musical por meio da leitura pelo sistema recm-trabalhado. Para atingirmosesta finalidade consideramos que seria necessrio adequar o contedo proposto realidade de cada aluno,ou ento, na impossibilidade de faz-lo, adequ-lo realidade da Oficina. Esta estratgia visa obtenode um melhor aproveitamento, pois, como adverte Pimenta (2002, p.18): Frente a novas situaes queextrapolam a rotina, os profissionais criam, constroem novas solues, novos caminhos, o que se d porum processo de reflexo na ao.

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  • A partir das informaes levantadas sobre o trabalho realizado na Oficina e sobre seus alunos procuramosplanejar o curso dividindo-o em duas partes distintas, uma terica e outra prtica. Para a parte tericacuidaramos de explicar a importncia de se dominar a leitura da partitura para o aperfeioamento tcnicomusical e, por conseguinte profissional aos que pretendiam fazer da msica uma profisso,alm de exporos elementos bsicos de uma partitura. Para a parte prtica procuramos aplicar estes conceitos aoinstrumento, demonstrando a localizao das notas da partitura no brao do violo.Teramos quatro horas para realizar o trabalho. Como recursos teramos um notebook e um Datashow,ambos de propriedade da parquia, alm dos instrumentos musicais (os nossos violes e os dos alunos).No planejamento da primeira parte do minicurso de carter terico procuramos estabelecer umdiscurso sobre os benefcios do aprendizado do sistema de leitura musical: a partitura. Tnhamos emmente que o pblico que assistiria ao minicurso seria misto e possuiria diversas faixas etrias, portantoplanejamos mostrar as possveis vantagens na absoro da tcnica de leitura musical para os estudantesque apresentam dois diferentes perfis:os que pretendem seguir a msica como profisso e aqueles quebuscam no instrumento musical uma diverso ou simplesmente gostam de estudar msica.Portanto formulamos alguns pontos para a apresentao em slides no momento do minicurso tais como:1)Independncia nos estudos musicais; 2) Mercado de Trabalho; 3) Prosseguimento nos estudos (Faculdade,Conservatrio, Institutos de Msica etc.); 4) O entender sobre o que se est tocando.Como no tivemos um contato prvio com os alunos e no havia como saber muito sobre suaspreferncias musicais,ficou definido que o contedo musical seria o mais simples possvel, possibilitando odilogo com as realidades particulares. Desta forma, utilizamo-nos do livro Teoria da Msica, de BohumilMed (1996), e do mtodo Minhas Primeiras Notas ao Violo, de Othon Gomes da Rocha Filho (s/d). Oprimeiro possui uma definio bastante sinttica e direta, da constituio da partitura, e o segundo propeexerccios prticos de leitura, demonstrando ao mesmo tempo a localizao das notas na pauta musical eno brao do violo. Devido ao fator mencionado acima, optamos por preparar um arranjo da msicaBuscai Primeiro, de M. Frankreich comum liturgia catlica brasileira. Desta forma procuramosadequar-nos, pelo menos, prtica corrente na Oficina.

    1. O MINICURSO

    Ocorreu no dia 13 de janeiro de 2013, com durao total de quatro horas. Procuramos, a princpio, pelosmotivos expostos acima, conhecer os alunos. H quanto tempo participavam da oficina, se j estavamtocando, o que estavam tocando e quais suas preferncias musicais. Nossa ideia original era faz-lostocar, com a finalidade de deix-los mais vontade.Contudo, por limitaes de tempo, no houve estapossibilidade. Iniciamos o minicurso falando um pouco de nossas trajetrias musicais e tambm sobrenossas atividades na Universidade Federal de Sergipe, sobretudo no Programa Institucional de Bolsa deIniciao Docncia (PIBID), que nos possibilitava atuar na rede pblica de ensino.Dando incio ao contedo procuramos mostrar aos alunos os efeitos do aprendizado da leitura da partiturana vida de um msico, seja o que decide levar a msica como um passatempo ou aquele que possui umacarreira profissional. Uma das primeiras afirmaes foi que a leitura da partitura gera independncia nosestudos musicais, pois o msico que tem o domnio dos signos poder to bem us-los como umalfabetizado usa as letras para estudar sem o auxlio do professor, ou qualquer outra pessoa como afirmaGerling: Atravs de um paralelo com a linguagem, sabemos que podemos de alguma maneira prever oque vai ser dito dentro de um assunto da nossa competncia. (GERLING, 1995, pag. 27).Outro aspecto foi levado em conta, o de que o msico que tem o domnio da leitura da partitura tem umaferramenta a mais no mercado de trabalho sobre outros msicos que no possuem essahabilidade.Mencionamos o fato de que muitos msicos que atuam profissionalmente com artistas

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  • conhecidos tocam lendo a partitura no palco.No ltimo tpico de afirmaes procuramos mostrar a eles que um msico que possui a habilidade daleitura da partitura no enfrenta os problemas que muitos acadmicos mostram ao ingressar num curso denvel superior de msica. H alguma dificuldade no prosseguimento dos estudos, j que esse o aluno nopoder entender com totalidade o que explicitado pelos professores por meio desses signos. Citamosexemplos de graduandos que procuraram professores particulares para aprender a ler partitura. Esseproblema muito antigo nos cursos de nvel superior em msica no Brasil como j avaliava Gerling (1995,p. 23): Os alunos que entram no Curso de Graduao em Msica via de regra no tm uma leituramusical fluente e isto um forte indcio de uma educao musical deficitria em vrios aspectosperceptivos e conceituais..Geralmente aprendizes de instrumento especialmente de violo, onde o sistema predominante o decifras apresentam certa relutncia com relao leitura de partitura. Este trabalho prvio, portanto, sefez necessrio para demonstrar e, de certo modo, convenc-los de que dominar esta linguagem podetornar seu fazer musical mais pleno proporcionando-lhes autonomia.Para explicar os elementos bsicos formadores da partitura como pentagrama, claves, e a localizao dasnotas na pauta de acordo com cada clave, signos de compasso, figuras e unidades de tempo utilizamosslides especficos. Em seguida comeamos a trabalhar a aplicao deste contedo ao violo.Iniciamos apresentando a afinao do instrumento, que constitudo, comumente de seis cordas, sendotrs primas, as mais agudas, e trs bordes, as mais graves. Explicamos que a afinao comum do violo,com as cordas soltas, composta das seguintes notas, partindo da corda mais aguda para a mais grave,ou da primeira para a sexta corda: mi, si, sol, r, l e mi. Partindo deste princpio apresentamos aosalunos a localizao das notas naturais, ou seja, sem alteraes por sustenidos ou bemis, na primeiraposio do brao do violo, que compreende as quatro primeiras casas, ou trastes, partindo da mo para ocorpo do instrumento. As notas apresentadas para os alunos foram de acordo com a corda f e sol(sexta corda), si e d (quinta corda), mi e f (quarta corda), si e l (terceira corda), d e r (segundacorda), e f e sol (primeira corda).At este momento nosso curso estava se processando de forma expositiva. Apresentados estes conceitospassamos prtica, realizando exerccios especficos em cada corda e demonstrando a localizao dasnotas no brao do violo e na partitura. Para a realizao desta atividade utilizamos exemplos expostos nolivro Minhas Primeiras Notas ao Violo, de Othon Gomes da Rocha Filho. Pedimos aos alunos que tocassemcada nota ao seu instrumento, para que houvesse uma melhor assimilao.Estes exemplos eram seguidosde exerccios especficos onde se procurou, pela repetio, fixar a informao.O mesmo trabalho foi realizado nas demais cordas. Percebemos que alguns alunos demonstraram maiordificuldade na realizao dos exerccios devido ao fato de estarem iniciando o trabalho na oficina, nopossuindo contato anterior com o instrumento. Neste caso, a realizao dos exerccios perpassavam porum trabalho de educao motora, o que no era nosso objetivo ocasio.

    1. A MSICA

    Para a execuo de uma obra musical utilizando o sistema recm-aprendido elaboramos um arranjo, comoj foi mencionado, da msica de carter litrgico Buscai Primeiro,de M. Frankreich. Este foi pensado para aformao de dois naipes de violo, coro e piano (ou teclado). A realizao de arranjos desta natureza, epara esta finalidade, pretende atender necessidades que vo alm de apenas proporcionar ao educando arealizao prtica do contedo trabalhado. De acordo com Penna e Marinho (2008, p. 162), a prtica dearranjar uma msica com finalidades pedaggicas deve ter na ressignificao seu norte.

    A estratgia criativa de re-arranjo parte de uma premissa bsica: a necessidade

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  • de considerar a vivncia cultural do aluno e, sempre que possvel, basear otrabalho pedaggico sobre ela ou seja, sobre a msica que ele ouve e que fazparte de sua vida. Se nossa premissa estabelece a vivncia do aluno como pontode partida da ao pedaggica, nossa meta final volta-se para essa mesmavivncia, no sentido de ampli-la, desenvolvendo os meios (de percepo,pensamento e expresso) para que o aluno possa apreender as mais diversasmanifestaes musicais como significativas, inclusive aquelas que, originalmente,no faziam parte de sua experincia musical. (PENNA; MARINHO, 2008, p. 162)

    Obviamente a prtica do re-arranjo, como definido pelos autores, estabelece a participao ativa doseducandos no processo de elaborao. Contudo, valendo-nos da premissa exposta acima, procuramosrealizar nosso arranjo possibilitando a realizao, por parte dos alunos, de uma msica que j conheciamde uma forma diferente, promovendo no s a aplicao prtica do contedo trabalhado, mas at mesmoa atribuio de novo significado mesma. Pois agora cada aluno seria parte significativa de um todomusical. A principal preocupao ao elaborar o arranjo foi fazer com que o mesmo pudesse ser exequvel auma turma que tinha acabado de conhecer a partitura. Desta forma, utilizamos figuras que representavammaiores unidades de tempo, como as mnimas, a fim de que houvesse um maior espao de tempo entreuma e outra nota, dando ao aluno o intervalo necessrio para pensar a nota seguinte que tinha acabadode tocar. O objetivo foi o de fazer com que eles de fato lessem a msica, e no ficassem imitando o que osprofessores estavam fazendo.Pudemos observar que a maioria dos alunos conseguiu realizar a atividade, salvo os alunos que estavamcomeando naquele dia, como relatado acima. Ao final disponibilizamos uma cpia do arranjo ao professorresponsvel, para que pudesse fazer parte da prtica musical local.

    1. CONSIDERAES FINAIS

    Embora tenhamos considerado o resultado satisfatrio deve-se ressaltar que acreditamos ser a partituramusical um recurso acessrio prtica musical. Esta pode se dar sem o auxlio de um cdigo escrito. conhecido de muitos o trabalho de msicos populares que tocam, como se diz, de ouvido. Sendo quemuitos desenvolvem at mesmo carreiras profissionais sem saber ler partitura. Desta forma, o cdigoescrito no pode ser considerado um a priori para o aprendizado musical. Nos mtodos ativos, a escrita,bem como a teoria, vem depois da prpria vivncia musical.Contudo, o aprendizado da partitura viabiliza a transmisso de contedos e uma melhor sistematizao doensino da msica, alm de contribuir para a preservao e documentao da mesma. Deve-se ressaltarque atravs da partitura que a msica de J. S. Bach, W. A. Mozart, Beethoven, entre outros importantescompositores da cultura ocidental, chegou at os dias atuais. Com o minicurso pretendemos transmitirestes fatores aos alunos da Oficina de Msica Irm Rosa. Estes apresentaram, de modo geral, um bomdesempenho prtico ao conseguirem executar a msica atravs do arranjo proposto lendo-o pela partitura.Esta atividade constituiu nosso principal instrumento de avaliao de aprendizado.Pudemos tambmconstatar atravs de relatos do oficineiro Carlos que houve, aps a realizao do minicurso, acompreenso por parte dos educandos da importncia de se dominar a leitura da partitura, tornando-se, amesma, corrente na prtica musical da oficina.O oficineiro passou a elaborar novos arranjos e, como nosafirmou, a reao dos alunos tem sido positiva. Em alguns casos estes chegaram a afirmar que gostaramdo resultado sonoro dos arranjos elaborados a partir da utilizao da partitura, onde cada um tem suaparte definida.Tambm levamos experincias nossa prtica docente a partir da situao do pblico alvo atingido nominicurso como explicita Del-Ben (2003, p.31): Para ensinar msica [] no suficiente somente sabermsica ou somente saber ensinar. Conhecimentos pedaggicos e musicolgicos so igualmente

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  • necessrios, no sendo possvel priorizar um em detrimento do outro. Pois levamos em conta nomomento do planejamento do minicurso as possveis lacunas na iniciao do processo de aprendizado demsica dos alunos da oficina, e a adaptao do novo contedo ministrado para eles, e o tipo de msicaque trabalhada pelo professor Carlos na oficina, sendo essa msica voltada para o ofcio litrgico daParquia.

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    [i]Acadmico do Curso de Licenciatura em Msica da Universidade Federal de Sergipe, Monitor daDisciplina de Violo e Bolsista do Programa de Iniciao Docncia (PIBID) do Ncleo de Msica(NMU-UFS).E-mail: [email protected][ii]Acadmico do Curso de Licenciatura em Msica da Universidade Federal de Sergipe, Monitor daDisciplina de Novas Tecnologias e a Educao Musical e Bolsista do Programa de Iniciao Docncia(PIBID)do Ncleo de Msica (NMU-UFS).E-mail: [email protected][iii]A zona de expanso de Aracaju est definida no Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, nosegundo pargrafo do artigo 37, presente na Constituio Estadual de Sergipe. O povoado Robalo emespecfico fica situado no litoral ao sul da capital sergipana, prximo aos povoados Mosqueiro, Terra Dura,Areia Branca e So Jos. Esta rea possui caractersticas econmicas mistas, sendo possvel observar aexistncia de casas de veraneio e condomnios de classe mdia e alta ao lado de conjuntos habitacionaisde baixa renda, stios e casas de pescadores (FONSECA; GONZAGA JNIOR apud FONSECA; SOARES;CORREIA, 2013, p. 85). Neste mbito, a Parquia Santa Terezinha do Menino Jesus representa umaimportante referncia para o ensino de msica, especialmente populao de baixa renda, dado o fatotambm de na localidade haver uma estrutura ainda deficiente de educao, transporte, sade, etc.(FONSECA; SOARES; CORREIA, 2013).[iv]Adotando os termos desenvolvidos por Libneo, Wille (2005, p. 41) demonstra que os conceitos deeducao formal e no-formal definem as modalidades de educao intencional. A primeira seriaestruturada, organizada, planejada intencionalmente, sistemtica, sendo que a educao escolarconvencional seria o exemplo tpico. Ao passo que a outra seria aquelas atividades que possuem carterde intencionalidade, mas pouco estruturadas e sistematizadas [...].

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