LENDO IMAGENS...ALBERTO MANGUEL LENDO IMAGENS Uma história de amor e ódio Tradução: RUBENS...

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L E N D O I M A G E N S

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Obras do autor publicadas pela Companhia das Letras

Uma história da leitura (1997)No bosque do espelho (2000)Stevenson sob as palmeiras (2000)Lendo imagens (2001)Dicionário de lugares imaginários (2003, com Gianni Guadalupi)Os livros e os dias (2005)Contos de horror do século XIX (2005, organização e introdução)O amante detalhista (2005)A biblioteca à noite (2006) A cidade das palavras (2008)À mesa com o chapeleiro maluco (2009)

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A L B E R T O M A N G U E L

L E N D O I M A G E N S Uma história de amor e ódio

Tradução: RUBENS FIGUEIREDO

ROSAURA EICHEMBERG CLÁUDIA STRAUCH

5a reimpressão

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PA RA CRAIG STE PHEN SON

Ah, pa ra on de ha ve re mos de ir quan do o gran de dia che gar,Com o res soar das trom be tas e o ri bom bar dos tam bo res?

Joel Chan dler Har ris, Un cle Re mus

Copyright © 2000 by Alberto Manguel

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original:Reading Pictures: A History of Love and Hate

Apoio:

Canadian Department of ForeignAffairs and International Trade

Capa:João Baptista da Costa Aguiar

Índice remissivo:Maria Claudia Carvalho Mattos

Preparação:Cássio de Arantes Leite

Revisão:Beatriz de Freitas Moreira

Ana Maria Barbosa

Atualização ortográfica:Página Viva

2009

Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz ltda.

Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 3204532-002 — São Paulo — sp

Telefone (11) 3707-3500Fax (11) 3707-3501

www.companhiadasletras.com.br

The Canada Council for the Arts

Le Conseil des Arts du Canada

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Manguel, Alberto Lendo imagens : uma história de amor e ódio / Alber ­to Manguel ; tradução de Rubens Figueiredo, Rosaura Eichemberg, Cláudia Strauch. — São Paulo : Companhia das Letras, 2001.

Título original. Reading pictures : a history of love and hate Bibliografia. isbn 978-85-359-0149-8

1. Arte — Apreciação 2. Arte — narrativa — Aspectos psi­cológicos 3. Percepção visual i. Título.

01-3187 cdd-701.1

Índice para catálogo sistemático:1. Imagens : Arte : Apreciação 701.1

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PA RA CRAIG STE PHEN SON

Ah, pa ra on de ha ve re mos de ir quan do o gran de dia che gar,Com o res soar das trom be tas e o ri bom bar dos tam bo res?

Joel Chan dler Har ris, Un cle Re mus

Copyright © 2000 by Alberto Manguel

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original:Reading Pictures: A History of Love and Hate

Apoio:

Canadian Department of ForeignAffairs and International Trade

Capa:João Baptista da Costa Aguiar

Índice remissivo:Maria Claudia Carvalho Mattos

Preparação:Cássio de Arantes Leite

Revisão:Beatriz de Freitas Moreira

Ana Maria Barbosa

Atualização ortográfica:Página Viva

2009

Todos os direitos desta edição reservados à editora schwarcz ltda.

Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 3204532-002 — São Paulo — sp

Telefone (11) 3707-3500Fax (11) 3707-3501

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A pin tu ra de ve de sa fiar o es pec ta dor […] e o es pec ta dor, sur preen­di do, de ve ir ao en con tro de la co mo se en tras se em uma con ver sa.

Ro ger de Pi les, Cours de pein tu re par prin ci pes, 1676

Mas, so bre obras de ar te, pou co se po de di zer.

Ro bert Louis Ste ven son, Books Which Ha ve In fluen ced Me, 1882

Afi nal, to da ima gem é uma his tó ria de amor e ódio quan do li da do ân gu lo cor re to.

Leo pol do Sa las-Ni ca nor, Es pe jo de las ar tes, 1731

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S U M Á R I O

Agra de ci men tos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

O es pec ta dor co mum: A ima gem co mo nar ra ti va . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Joan Mit chell: A ima gem co mo au sên cia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Ro bert Cam pin: A ima gem co mo enig ma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

Ti na Mo dot ti: A ima gem co mo tes te mu nho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

La vi nia Fon ta na: A ima gem co mo com preen são . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

Ma rian na Gart ner: A ima gem co mo pe sa de lo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

Fi lô xe nos: A ima gem co mo re fle xo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

Pa blo Pi cas so: A ima gem co mo vio lên cia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201

Alei ja di nho: A ima gem co mo sub ver são . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221

Claude-Nicolas Le doux: A ima gem co mo fi lo so fia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247

Pe ter Ei sen man: A ima gem co mo me mó ria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269

Ca ra vag gio: A ima gem co mo tea tro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 287

Con clu são . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311

No tas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 317

Cré di tos das ilus tra ções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343

Ín di ce remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349

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A G R A D E C I M E N T O S

Há uma tra ves sia pe lo no roes te ru mo

ao mun do in te lec tual.

Lau ren ce Ster ne, A vi da e as opi niões

do ca va lhei ro Tris tram Shandy

Sou um via jan te in qui si ti vo e caó ti co. Gos to de des co brir lu ga res ao aca so, por meio de qual quer ima gem que es ses lo cais te nham a ofe re cer: pai sa gens e pré dios, car tões-pos tais e mo nu men tos, mu seus e ga le rias que abri gam a me mó ria ico no grá fi ca de um lu gar. As sim co mo ado ro ler pa la vras, ado ro ler ima gens, e me agra da des co brir as his tó rias ex plí-ci ta ou se cre ta men te en tre la ça das em to dos os ti pos de obras de ar te — sem, con tu do, ter de re cor rer a vo ca bu lá rios ar ca nos ou eso té ri cos. Es te li vro de sen vol veu-se a par tir da ne ces si da de de rei vin di car, pa ra os es pec ta do res co muns, co mo eu mes mo, a res pon sa bi li da de e o di rei to de ler es sas ima gens e es sas his tó rias.

Mi nha ig no rân cia de cul tu ras mais vas tas li mi tou meus exem plos à ar te oci den tal, da qual se le cio nei cer to nú me ro de ima gens pin ta das, fo-to gra fa das, es cul pi das e edi fi ca das — que achei es pe cial men te as som-bro sas ou su ges ti vas. Eu po de ria ter es co lhi do um pu nha do de ou tras ima gens: o aca so, atra ti vos par ti cu la res e a sus pei ta de uma his tó ria in-te res san te me im pe li ram a es co lher aque las que ago ra com põem es te li vro. Não bus quei in ven tar ou des co brir um mé to do sis te má ti co de ler ima gens (co mo aque les pro pos tos por gran des his to ria do res da ar te, co-mo Mi chael Ba xan dall1 ou E. H. Gom brich2). Mi nha úni ca des cul pa é que não fui guia do por qual quer teo ria da ar te, mas sim ples men te pe la cu rio si da de.

Mi nha pró pria e frá gil ha bi li da de pa ra ler ima gens, fo ra de cír cu los aca dê mi cos e de teo rias crí ti cas, foi pos ta à pro va em um nú me ro de ins ti tui ções que gen til men te abri ram suas por tas pa ra um ama dor. En-tre elas, de vo agra de cer a Lynne Kury lo, na Ga le ria de Ar te de On tá rio; Sherry-An ne Chap maan, no Mu seu Glen bow em Cal gary, Al ber ta; Ca-

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rol Phil lips, no Cen tro Banff de Ar tes em Al ber ta; Kay Ra der, na Bi blio-te ca Ame ri ca na, em Pa ris; Si mo ne Su chet, no Cen tro Cul tu ral Ca na-den se, em Pa ris; An thea Pep pin, Re bec ca McKie, Kathy Adler e Lor ne Camp bell, na Ga le ria Na cio nal, em Lon dres; e a pro fes so ra Moi ra Roth, no Mills Col le ge, em Oa kland, Ca li fór nia. Pe ter Timms acei tou uma pri mei ra ver são de meu ca pí tu lo so bre Ca ra vag gio pa ra pu bli car na Art Monthly, Mel bour ne; Ka ren Mu lhal len pu bli cou ver sões ini ciais de meus ca pí tu los so bre Pi cas so e Ma rian na Gart ner em Des cant, To-ron to; mui tos anos atrás, Bar ba ra Moon pu bli cou um re la to so bre a mi-nha pri mei ra vi si ta ao Arc-et-Se nans em Sa tur day Night, To ron to: a to-dos os três, meu agra de ci men to por sua con fian ça. Um tex to um pou co di fe ren te so bre o mo nu men to do Ho lo caus to, em Ber lim, veio a pú bli-co na re vis ta Sinn und Form, Ber lim, gra ças aos bons ofí cios de Joa chim Mei nert, bem co mo em Svens ka Dag bla det, Es to col mo, gra ças a An-ders Björns son, e na re vis ta Ne xus, da Uni ver si da de Til burg, na Ho lan-da, a pe di do de Rob Rie men e Kirs ten Wal green. O Pro gra ma Mark--Fla na gan da Uni ver si da de de Cal gary me ofe re ceu um ano de apoio fi nan cei ro, tem po du ran te o qual es cre vi par te des te li vro: por sua aju da ge ne ro sa, sou sin ce ra men te gra to.

Vá rios ami gos e co le gas le ram o ma nus cri to e me de ram con se lhos sen sa tos, in fe liz men te nem sem pre aca ta dos. Mi nha ca ra ami ga e edi to-ra mui to so fri da, Loui se Dennys, for mu lou to das as per gun tas cer tas e me fez vol tar atrás sem pre que eu me ha via afas ta do de mais do lei tor; mi nhas edi to ras, Liz Cal der, Ma rie-Ca the ri ne Va cher e Li se Ber ge vin me ofe re ce ram co men tá rios es ti mu lan tes e in te li gen tes; Ali son Reid cor ri giu o ma nus cri to com o olho de um mi nia tu ris ta me ti cu lo so; o ín di-ce e o tra ba lho ma nual de Bar ney Gil mo re — a es ses, o meu mui to obri ga do; John Sweet leu as pro vas com sa ga ci da de e cui da do; Si mo ne Vau thier, cu ja aná li se es cla re ce do ra da mi nha His tó ria da lei tu ra re ve-lou-se fun da men tal, foi per sua di da a pres tar a es te no vo li vro o mes mo im pe cá vel ser vi ço in qui si to rial; Li lia Mo ritz Schwarcz guiou-me com des tre za atra vés dos dé da los do bar ro co bra si lei ro; a pro fes so ra Ste fa nia Bian ca ni fez a gen ti le za de ler meu ca pí tu lo so bre La vi nia Fon ta na; Die ter Hein pro vi den ciou pa ra mim in for ma ções co pio sas so bre o de-ba te acer ca do mo nu men to do Ho lo caus to; Gott walt e Lu cie Pan kow me pro por cio na ram, além de hos pi ta li da de amis to sa, bi blio gra fia re côn-di ta; Deir dre Mo li na, da Knopf, Ca na dá, mos trou-se ines ti má vel ao ras-trear os de ten to res de di rei tos de re pro du ção: a to dos eles, meu sin ce ro

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obri ga do. E, co mo de há bi to, mi nha gra ti dão pa ra Bru ce Wes twood e a equi pe do Wes twood Crea ti ve Ar tists, em To ron to, pa ra De rek Johns na A. P. Watt, em Lon dres, e pa ra Mi chel le La pau tre, em Pa ris.

Co me cei es te li vro pen san do que es cre ve ria so bre nos sas emo ções e co mo elas afe tam (e são afe ta das por) nos sa lei tu ra das obras de ar te. Pa re ço ter ter mi na do lon ge, mui to lon ge, do al vo que ha via ima gi na do. Mas, con for me Lau ren ce Ster ne afir mou com tan ta pro prie da de, “acho que há nis so uma fa ta li da de — ra ra men te che go ao lo cal pa ra on de par-ti”. Co mo es cri tor (e co mo lei tor), creio que es se, de al gum mo do, de ve ter si do sem pre o meu le ma.

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O

E S P E C T A D O R

C O M U M

A

ima gem

co mo

nar ra ti va

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To da boa his tó ria é, es tá cla ro, uma ima gem e uma ideia, e quan to mais elas es ti­

ve rem en tre mea das me lhor te rá si do a so lu ção do pro ble ma.

Henry Ja mes, Guy de Mau pas sant

Vin cent van

Gogh, Bar cos

na praia de

Sain tes­Ma ries.

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Uma das pri mei ras ima gens de que me lem bro, com ple na cons-ciên cia de ter si do cria da so bre a te la e pin ta da por mão hu ma-na, foi um qua dro de Vin cent van Gogh, de bar cos de pes ca so-

bre a praia de Sain tes-Ma ries. Eu ti nha no ve ou dez anos, e uma tia, que era pin to ra, me con vi da ra pa ra ir ao seu ate liê para co nhe cer o lo cal on de ela tra ba lha va. Era ve rão em Bue nos Ai res, quen te e úmi do. O pe-que no apo sen to es ta va frio e ti nha um chei ro ma ra vi lho so de te re bin ti-na e óleo; as te las ar ma ze na das, apoia das umas nas ou tras, me pa re ciam li vros de for ma dos no so nho de al guém que sou bes se va ga men te o que eram li vros e os hou ves se ima gi na do enor mes, fei tos de uma úni ca pá gi-na, du ra e gros sa; os es bo ços e os re cor tes de jor nal que mi nha tia ha via pen du ra do na pa re de su ge riam um lo cal de pen sa men tos par ti cu la res, frag men ta dos e li vres. Em uma es tan te de li vros bai xa, ha via vo lu mes gran des de re pro du ções co lo ri das, a maio ria pu bli ca da pe la fir ma suí ça Ski ra, um no me que, pa ra ela, era si nô ni mo de ex ce lên cia. Mi nha tia pu xou o vo lu me de di ca do a van Gogh, aco mo dou-me em uma pol tro na e pôs o li vro so bre os meus joe lhos. Em se gui da, dei xou-me só.

A maio ria dos meus li vros ti nha ilus tra ções que re pe tiam ou ex pli ca-vam a his tó ria. Al gu mas, eu sen tia, eram me lho res do que ou tras: eu pre fe ria as re pro du ções de aqua re las, da mi nha edi ção ale mã dos Con­tos de fa da de Grimm, às ilus tra ções a nan quim da mi nha edi ção in gle-sa. Creio que, a meu juí zo, aque las ilus tra ções con di ziam me lhor com a for ma co mo eu ima gi na va um per so na gem ou um lu gar, ou for ne ciam mais de ta lhes pa ra com ple tar mi nha vi são da qui lo que a pá gi na me di-

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zia es tar acon te cen do, real çan do ou cor ri gin do as pa la vras. Gus ta ve Flau bert opu nha-se de for ma in tran si gen te à ideia de ilus tra ções acom-pa nha rem as pa la vras. Ao lon go da sua vi da, re cu sou-se a ad mi tir que qual quer ilus tra ção acom pa nhas se uma obra sua por que acha va que ima gens pic tó ri cas re du ziam o uni ver sal ao sin gu lar. “Nin guém ja mais vai me ilus trar en quan to eu es ti ver vi vo”, es cre veu ele, “por que a des-cri ção li te rá ria mais be la é de vo ra da pe lo mais re les de se nho. As sim que um per so na gem é de fi ni do pe lo lá pis, per de seu ca rá ter ge ral, aque la con cor dân cia com mi lha res de ou tros ob je tos co nhe ci dos que le-va o lei tor a di zer: ‘eu já vi is so’, ou ‘is so de ve ser as sim ou as sa do’. Uma mu lher de se nha da a lá pis pa re ce uma mu lher, e só is so. A ideia, por tan-to, es tá en cer ra da, com ple ta, e to das as pa la vras, en tão, se tor nam inú-teis, ao pas so que uma mu lher apre sen ta da por es cri to evo ca mi lha res de mu lhe res di fe ren tes. Por con se guin te, uma vez que se tra ta de uma ques tão de es té ti ca, eu for mal men te re jei to to do ti po de ilus tra ção.”1 Nun ca con cor dei com es sas se gre ga ções in fle xí veis.

Mas as ima gens que mi nha tia me apre sen tou na que la tar de não ilus tra vam ne nhu ma his tó ria. Ha via um tex to: a vi da do pin tor, frag men-tos das car tas ao seu ir mão, que não li se não mui to mais tar de, o tí tu lo das pin tu ras, sua da ta e lo cal. Mas, em um sen ti do mui to ca te gó ri co, aque las ima gens se man ti nham iso la das, de sa fia do ras, me ali cian do pa ra uma lei tu ra. Na da ha via pa ra eu fa zer ex ce to olhar pa ra aque las ima-gens: a praia cor de co bre, o bar co ver me lho, o mas tro azul. Olhei pa ra elas de mo ra da e aten ta men te. Nun ca as es que ci.

A praia mul ti co lo ri da de van Gogh vi nha à to na com fre quên cia na ima gi na ção da mi nha in fân cia. Em al gum mo men to do sé cu lo xvi, o emi nen te en saís ta Fran cis Ba con ob ser vou que, pa ra os an ti gos, to das as ima gens que o mun do dis põe dian te de nós já se acham en cer ra das em nos sa me mó ria des de o nas ci men to. “Des se mo do, Pla tão ti nha a con cep ção”, es cre veu ele, “de que to do co nhe ci men to não pas sa va de re cor da ção; do mes mo mo do, Sa lo mão pro fe riu sua con clu são de que to da no vi da de não pas sa de es que ci men to.”2 Se is so for ver da de, es ta-mos to dos re fle ti dos de al gum mo do nas nu me ro sas e dis tin tas ima gens que nos ro deiam, uma vez que elas já são par te da qui lo que so mos: ima-gens que cria mos e ima gens que emol du ra mos; ima gens que com po-mos fi si ca men te, à mão, e ima gens que se for mam es pon ta nea men te na ima gi na ção; ima gens de ros tos, ár vo res, pré dios, nu vens, pai sa gens, ins-tru men tos, água, fo go, e ima gens da que las ima gens — pin ta das, es cul-pi das, en ce na das, fo to gra fa das, im pres sas, fil ma das. Quer des cu bra mos

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nes sas ima gens cir cun dan tes lem bran ças des bo ta das de uma be le za que, em ou tros tem pos, foi nos sa (co mo su ge riu Pla tão), quer elas exi-jam de nós uma in ter pre ta ção no va e ori gi nal, por meio de to das as pos-si bi li da des que nos sa lin gua gem te nha a ofe re cer (co mo Sa lo mão in-tuiu), so mos es sen cial men te cria tu ras de ima gens, de fi gu ras.

As ima gens, as sim co mo as his tó rias, nos in for mam. Aris tó te les su-ge riu que to do pro ces so de pen sa men to re que ria ima gens. “Ora, no que con cer ne à al ma pen san te, as ima gens to mam o lu gar das per cep ções di re tas; e, quan do a al ma afir ma ou ne ga que es sas ima gens são boas ou más, ela igual men te as evi ta ou as per se gue. Por tan to a al ma nun ca pen-sa sem uma ima gem men tal.”3 Sem dú vi da, pa ra o ce go, ou tras for mas de per cep ção, so bre tu do por meio do som e do ta to, su prem a ima gem men tal a ser de ci fra da. Mas, pa ra aque les que po dem ver, a exis tên cia se pas sa em um ro lo de ima gens que se des do bra con ti nua men te, ima-gens cap tu ra das pe la vi são e real ça das ou mo de ra das pe los ou tros senti-dos, ima gens cu jo sig ni fi ca do (ou su po si ção de sig ni fi ca do) va ria cons-tan te men te, con fi gu ran do uma lin gua gem fei ta de ima gens tra du zi das em pa la vras e de pa la vras tra du zi das em ima gens, por meio das quais ten ta mos abar car e com preen der nos sa pró pria exis tên cia. As ima gens que for mam nos so mun do são sím-bo los, si nais, men sa gens e ale go-rias. Ou tal vez se jam ape nas pre-sen ças va zias que com ple ta mos com o nos so de se jo, ex pe riên cia, ques tio na men to e re mor so. Qual-quer que seja o caso, as ima gens, as sim co mo as pa la vras, são a ma té-ria de que so mos feitos.

Mas qual quer ima gem po de ser li da? Ou, pe lo me nos, po de-mos criar uma lei tu ra pa ra qual-quer ima gem? E, se for as sim, to da ima gem en cer ra uma ci fra sim ples men te por que ela pa re ce a nós, seus es pec ta do res, um sis-te ma au tossu fi cien te de sig nos e re gras? Qual quer ima gem ad mi te tra du ção em uma lin gua gem com preen sí vel, re ve lan do ao es pec ta-dor aqui lo que po de mos cha mar de Nar ra ti va da ima gem, com N maiús cu lo?

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O E S P E C T A D O R C O M U M : A I M A G E M C O M O N A R R A T I V A

No ro man ce oní ri co

Nad ja, de An dré

Bre ton, o poe ta

Paul Éluard

ob ser va que,

vis to de

de ter mi na do

ân gu lo, o le trei ro

“Bois-Char bons”

se lê “Po li ce”.

(Eu gè ne At get,

Quai aux

Fleurs, 1902.)

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As som bras na pa re de da ca ver na de Pla tão, os le trei ros de néon em um país es tran gei ro cu ja lín gua não fa la mos, o for ma to de uma nu vem que Ham let e Po lô nio veem no céu, cer ta tar de, o le trei ro Bois­Char­bons que (se gun do An dré Bre ton) se lê Po li ce quan do vis to de de ter mi-na do ân gu lo, a es cri ta que os an ti gos su mé rios acre di ta vam po der ler nas pe ga das dos pás sa ros so bre a la ma do rio Eu fra tes, as fi gu ras mi to ló gi cas que os as trô no mos gre gos iden ti fi ca vam na con ca te na ção dos pon tos as-si na la dos por es tre las dis tan tes, o no me de Alá que o fiel vis lum brou num aba ca te aber to e no lo go ti po dos ar ti gos es por ti vos da Ni ke, a es cri-ta ar den te de Deus na pa re de do pa lá cio de Baltazar, ser mões e li vros que Sha kes pea re en con trou em pe dras e em re ga tos, as car tas do ta rô por meio das quais o via jan te de Cal vi no lia nar ra ti vas uni ver sais em O cas te lo dos des ti nos cru za dos, pai sa gens e ima gens iden ti fi ca das por via jan tes do sé cu lo xviii nos veios de pe dras de már mo re, o bi lhe te ras-ga do de um qua dro de avi sos e rea lo ja do em uma pin tu ra de Tà pies, o rio de He rá cli to que é tam bém o flu xo do tem po, as fo lhas de chá no fun do de uma xí ca ra na qual os sá bios chi ne ses acre di tam po der ler nos-sas vi das, o va so es ti lha ça do do Sa hib Lur gan que qua se se re com põe por in tei ro dian te dos olhos in cré du los de Kim, a flor de Tenny son na pa re de gre ta da, os olhos do cão de Ne ru da nos quais o poe ta des cren te via Deus, o He ko hau ron go ron go, ou “pau que fa la”, da ilha da Pás coa, que sa be mos guar dar uma men sa gem in de ci fra da até ho je, a ci da de de Bue nos Ai res que, pa ra o ce go Jor ge Luis Bor ges, era “um ma pa de mi-nhas ilu mi na ções e de meus fra cas sos”, os pon tos de cos tu ra na rou pa de Ki si ma Ka ma la, al faia te de Ser ra Leoa, nos quais ele viu o fu tu ro al fa be-to da es cri ta man dê, a ba leia er ran te que são Bren dan to mou por uma ilha, os três pi cos das Mon ta nhas Ro cho sas que de li neiam o per fil de três ir mãs con tra o céu oci den tal do Ca na dá, a geo gra fia fi lo só fi ca de um jar-dim ja po nês, os cis nes sel va gens em Coo le, nos quais Yeats de ci frou nos-sa tran si to rie da de — tu do is so ofe re ce ou su ge re, ou sim ples men te com-por ta, uma lei tu ra li mi ta da ape nas pe las nos sas ap ti dões. “Co mo sa ber se ca da pás sa ro que cru za os ca mi nhos do ar/ não é um imen so mun do de pra zer, ve da do por nos sos cin co sen ti dos?”, in da gou Wil liam Bla ke.4

Se a na tu re za e os fru tos do aca so são pas sí veis de in ter pre ta ção, de tra du ção em pa la vras co muns, no vo ca bu lá rio ab so lu ta men te ar ti fi cial que cons truí mos a par tir de vá rios sons e ra bis cos, en tão tal vez es ses sons e ra bis cos per mi tam, em tro ca, a cons tru ção de um aca so ecoa do e de uma na tu re za es pe lha da, um mun do pa ra le lo de pa la vras e ima gens

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me dian te o qual po de mos re co nhe cer a ex pe riên cia do mun do que cha-ma mos de real. “Po de ser cho can te fa lar da Di vi na co mé dia ou da Mo na Li sa co mo uma ‘ré pli ca’”, diz Elai ne Scarry, au to ra de um li vro in co-mum so bre o sig ni fi ca do da be le za, “vis to se rem eles tão des pro vi dos de an te ce den tes, po rém o mun do re cor da o fa to de que al go, ou al guém, deu ori gem à cria ção des sas obras e per ma ne ce si len cio sa men te pre-

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O E S P E C T A D O R C O M U M : A I M A G E M C O M O N A R R A T I V A

Em 1999,

a in dús tria

de rou pas

es por ti vas Ni ke

foi obri ga da

a re ti rar um

ara bes co dos

cal ça dos de cor ri da

após gru pos

is lâ mi cos te rem

se quei xa do de

que o lo go ti po

es ti li za do da Ni ke

for ma va a pa la vra

Alá em ára be.

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sen te no ob je to re cém-nas ci do.”5 Ao que po de mos acres cen tar que o ob je to re cém-nas ci do po de, por sua vez, dar origem a uma mi ría de de ob je tos re cém-nas ci dos — as ex pe riên cias re cep ti vas do es pec ta dor ou do lei tor — que, to dos e ca da um de les, tam bém o con têm.

Quan do eu ti nha ca tor ze ou quin ze anos, nos so pro fes sor de his tó-ria, que nos mos tra va sli des de ar te pré-his tó ri ca, nos pe diu que ima gi-nás se mos o se guin te: du ran te to da a sua vi da, um ho mem vê o sol se pôr, cien te de que is so as si na la o fim cí cli co de um deus cu jo no me sua tri bo não pro nun cia. Cer to dia, pe la pri mei ra vez, o ho mem er gue a ca-be ça e, su bi ta men te, com to da a cla re za, vê o sol de fa to mer gu lhar em um la go de cha mas. Em res pos ta (e por ra zões que ele não ten ta ex pli-car), o ho mem afun da as mãos na la ma ver me lha e pres sio na a pal ma das mãos de en con tro à pa re de da sua ca ver na. Após um tem po, ou tro ho mem vê as mar cas da pal ma das mãos e sen te-se ate mo ri za do, ou co-mo vi do, ou sim ples men te cu rio so e, em res pos ta (e por ra zões que ele não ten ta ex pli car), se põe a con tar uma his tó ria. Em al gum lo cal des sa nar ra ti va, não men cio na do mas pre sen te, en con tra-se an tes de tu do o pôr do sol con tem pla do e o deus que mor re to do dia, an tes do cair da noi te, e o san gue des se deus der ra ma do pe lo céu oci den tal. A ima gem dá ori gem a uma his tó ria, que, por sua vez, dá ori gem a uma ima gem. “O con so lo do dis cur so”, dis se o me lan có li co fi ló so fo So ren Kier ke gaard (e po de ria ter acres cen ta do, “e de criar ima gens”), “é que ele me tra duz pa ra o uni ver sal.”6

For mal men te, as nar ra ti vas exis tem no tem po, e as ima gens, no es-pa ço. Du ran te a Ida de Mé dia, um úni co pai nel pin ta do po de ria re pre-sen tar uma se quên cia nar ra ti va, in cor po ran do o flu xo do tem po nos li-

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O mis te rio so

He ko hau

ron go ron go, ou

“pau que fa la”, da

ilha da Pás coa.

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