LEITORES NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM RELATO DE...

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5002 LEITORES NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM RELATO DE PESQUISA Kenia Adriana de Aquino MODESTO SILVA, UFG/Jataí e UNESP/Presidente Prudente/CELLIJ Renata Junqueira de Souza, UNESP/Presidente Prudente/CELLIJ Eixo temático 4: Formação de Professor da Educação Infantil Agência Financiadora: CNPq [email protected] 1. Introdução Este artigo tem como propósito responder à questão: Como realizar práticas de leitura literária com bebês e crianças de até três anos? O texto apresenta um relato da pesquisa “Bebês e literatura: uma bebeteca na formação de leitores”. Para tanto, apresenta o projeto e, na sequência, discute sobre o desenvolvimento dos bebês e a linguagem, biblioteca para bebês, apresenta a Bebeteca “Colunas do Saber”, aborda o letramento literário na primeira infância e descreve e analisa uma mediação literária na Bebeteca, lócus da pesquisa. Pela linguagem verbal nos comunicamos e interagimos com os demais, sendo assim, ela é constitutiva do bebê e da criança como ser humano. Justamente por isso, as práticas de leitura e a utilização da literatura infantil com crianças ainda pequenas são temas que permeiam inúmeros estudos de pesquisadores das áreas de linguagem e de educação. Sabemos que os bebês e as crianças pequenas da primeira infância ainda não leem convencionalmente, mas também sabemos que a leitura consiste em uma complexa atividade de interpretação e compreensão. Ler vai muito além da decodificação, é compreender o que foi lido; pode-se dizer que quem não compreende, não lê, ou seja, “aprender a ler é aprender a construir sentido” (CHARMEUX, 2000, p. 89), o que implica que o leitor é ativo nessa construção. Em outras palavras, ao buscar sentidos e significados para o que lê, o leitor, independentemente de sua idade, constrói e reconstrói a partir de suas próprias vivências e aprendizados. E desde muito pequenos começamos a compreender e dar sentido ao que está em nosso entorno e essa compreensão do mundo é o primeiro estágio para aprender a ler também o escrito. Como exercício efetivo da linguagem incluem-se as experiências de audição de histórias ou mesmo “leitura” individual realizada pelos pequenos, inclusive se ainda não alfabetizados. Afinal, para aprender a compor significados, as crianças precisam experimentar os atos sociais e cognitivos de leitura. Disso depende sua formação como leitores, pois mesmo quando não alfabetizadas podem e devem compreender o que “leem”. E caso não tenham compreensão, é função docente ensinar a construi-la por meio da mediação pedagógica. Diante de tudo isso, sabe-se que a postura adotada pela criança perante o livro dependerá de como os adultos (família e professores) permitem seu acesso a ele. Desse modo, apresentamos este texto como subsídio aos mediadores docentes e como proposta pedagógica para o desenvolvimento de práticas de leitura literária a partir de nossas experiências mediadoras

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LEITORES NA PRIMEIRA INFÂNCIA: UM RELATO DE PESQUISA

Kenia Adriana de Aquino MODESTO SILVA, UFG/Jataí e UNESP/Presidente Prudente/CELLIJRenata Junqueira de Souza, UNESP/Presidente Prudente/CELLIJ

Eixo temático 4: Formação de Professor da Educação InfantilAgência Financiadora: CNPq

[email protected]

1. Introdução

Este artigo tem como propósito responder à questão: Como realizar práticas de leitura

literária com bebês e crianças de até três anos? O texto apresenta um relato da pesquisa “Bebês

e literatura: uma bebeteca na formação de leitores”. Para tanto, apresenta o projeto e, na

sequência, discute sobre o desenvolvimento dos bebês e a linguagem, biblioteca para bebês,

apresenta a Bebeteca “Colunas do Saber”, aborda o letramento literário na primeira infância e

descreve e analisa uma mediação literária na Bebeteca, lócus da pesquisa.

Pela linguagem verbal nos comunicamos e interagimos com os demais, sendo assim, ela é

constitutiva do bebê e da criança como ser humano. Justamente por isso, as práticas de leitura e

a utilização da literatura infantil com crianças ainda pequenas são temas que permeiam inúmeros

estudos de pesquisadores das áreas de linguagem e de educação.

Sabemos que os bebês e as crianças pequenas da primeira infância ainda não leem

convencionalmente, mas também sabemos que a leitura consiste em uma complexa atividade de

interpretação e compreensão. Ler vai muito além da decodificação, é compreender o que foi lido;

pode-se dizer que quem não compreende, não lê, ou seja, “aprender a ler é aprender a construir

sentido” (CHARMEUX, 2000, p. 89), o que implica que o leitor é ativo nessa construção. Em

outras palavras, ao buscar sentidos e significados para o que lê, o leitor, independentemente de

sua idade, constrói e reconstrói a partir de suas próprias vivências e aprendizados. E desde muito

pequenos começamos a compreender e dar sentido ao que está em nosso entorno e essa

compreensão do mundo é o primeiro estágio para aprender a ler também o escrito.

Como exercício efetivo da linguagem incluem-se as experiências de audição de histórias

ou mesmo “leitura” individual realizada pelos pequenos, inclusive se ainda não alfabetizados.

Afinal, para aprender a compor significados, as crianças precisam experimentar os atos sociais e

cognitivos de leitura. Disso depende sua formação como leitores, pois mesmo quando não

alfabetizadas podem e devem compreender o que “leem”. E caso não tenham compreensão, é

função docente ensinar a construi-la por meio da mediação pedagógica.

Diante de tudo isso, sabe-se que a postura adotada pela criança perante o livro dependerá

de como os adultos (família e professores) permitem seu acesso a ele. Desse modo,

apresentamos este texto como subsídio aos mediadores docentes e como proposta pedagógica

para o desenvolvimento de práticas de leitura literária a partir de nossas experiências mediadoras

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e de estudos. Para tanto, o presente parte de pesquisa bibliográfica e possui natureza de

aplicação, sendo, assim, um texto que pode contribuir com a formação de professores, bem como

com suas práticas referentes à leitura literária na primeira infância.

Introduzido nosso tema, apresentamos, então, o projeto que originou esta comunicação.

2. O projeto de pesquisa em questão

“Bebês e literatura: uma Bebeteca na formação de leitores” é o nome do projeto que

fomenta a ação de duas acadêmicas de Pedagogia da UNESP, de Presidente Prudente, e

bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) na creche, lócus da

pesquisa.

A proposta nasceu de resultados de pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos em

Leitura e Literatura Infantil e Juvenil (CELLIJ – UNESP, Presidente Prudente) e pelo Centro de

Estudos e Pesquisas em Leitura e Escrita (CEPLE – UNESP, Marília), por meio dos quais se

observou a necessidade de se selecionar metodologias para o ensino da leitura às crianças.

Acreditamos que atividades de leitura como o contar e o ler histórias, bem como as ações

e práticas delas resultantes podem colaborar para que as crianças utilizem suas capacidades

psíquicas, permitindo seu desenvolvimento intelectual de maneira prazerosa. Acreditamos

também que a literatura infantil exerce um papel influente na formação de bebês e crianças que

vivenciam a leitura ou a contação de textos como poemas, contos, parlendas, cantigas de roda,

dentre outros, pois podem realizar mecanismos de leitura, mesmo que ainda não sejam

alfabetizadas. Aliás, estudos demonstram que mesmo aqueles pequenos que ainda não dominam

convencionalmente a escrita são capazes de serem ativos nos processos de leitura ao escutarem

uma história ou verem um texto imagético (MUKHINA, 1996).

Assim nasceu o projeto em questão que tem como objetivo central verificar de que maneira

os livros de uma Bebeteca podem valer-se de uma metodologia e de um programa de leitura

distinto, articulados às especificidades das crianças de 0 a 3 anos, a fim de contribuir, desde a

mais tenra idade, em sua formação como leitoras autônomas.

Metodologicamente, esta pesquisa é de campo com abordagem qualitativa, sendo um

estudo de caso e tendo como universo a Bebeteca “Colunas do Saber”, na creche Anita Ferreira

Braga de Oliveira, em Presidente Prudente – SP. São seus sujeitos as gestoras, professoras e

educadoras da instituição, bem como as crianças frequentadoras do espaço. Em relação a seus

objetivos, a investigação pode ser classificada como exploratória, pois pretende auxiliar a

formação das professoras de educação infantil atuantes na creche estudada e colaborar na

formação leitora das crianças ali atendidas, oportunizando uma adequada utilização do espaço e

de estratégias que favoreçam a vivência lúdica e prazerosa de leitura pelos bebês.

Após apresentarmos o motivo deste relato, explicitamos uma breve discussão teórica

acerca do desenvolvimento dos bebês e sua linguagem.

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3. Livros e leitura para bebês: sinônimo de desenvolvimento da linguagem

Em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento dos bebês, a Pediatric Academic

Societies, dos Estados Unidos, defende que quanto mais prematuramente eles tiverem contato

com a leitura, muito mais se desenvolverão as conexões neurais relacionadas à compreensão da

linguagem em seus cérebros. Além disso, quanto mais cedo se aproximar as crianças pequeninas

dos livros, aumenta-se a probabilidade delas transformarem-se amantes das palavras e da leitura.

Parreiras (2012) afirma que quando o bebê nasce, ele está pronto para aprender, crescer e

conhecer. Cabrejo-Parra (2011) vai além e defende que ao nascer, o pequeno possui uma enorme

capacidade de percepção auditiva. Diz também que rapidamente o recém-nascido aprende a ler e

a interpretar a voz humana, sendo muito sensível às nuances da fala e, justamente por isso,

devemos conversar bastante com ele, dialogar como se compreendesse, pois o neném apresenta

uma capacidade de “armazenar” o que escuta e, em algum momento, reutilizará o que escutou ao

se transformar em sujeito enunciador.

E é nesse período da vida, que o bebê mais aprende e de maneira surpreendente. De uma

semana para outra, são perceptíveis consideráveis mudanças no desenvolvimento físico,

emocional, cognitivo e linguístico dos pequenos. Por isso, nos três primeiros anos de vida, os

adultos que convivem com o bebê devem ler para ele, cantar, recitar e contar muitas histórias.

Fundamentamos a relevância dessas práticas em Vigotski (1996), quando ele considera

que:

[...] a relação da criança com a realidade circundante é social desde o princípio. Desteponto de vista podemos definir o bebê como um ser maximamente social. Toda relação dacriança com o mundo exterior, inclusive a mais simples, é a relação refratada por meio darelação com outra pessoa. A vida do bebê está organizada de tal modo que em todas assituações se faz presente de maneira visível ou invisível outra pessoa. (p. 285)

Em outras palavras, no início de sua vida, o bebê não pode ser considerado como um ser

apenas biológico e que precisa unicamente do contentamento de suas necessidades vitais. Além

disso, o mundo exterior desperta bastante interesse dos pequenos: os lugares que conhecem, os

objetos que são avistados, as pessoas que se aproximam, tudo é atraente e deve dispor da

apresentação de um adulto mediador.

Nesta fase das crianças miúdas, o oferecimento de ações que estimulem a observação

mediada de situações, objetos e pessoas é substancial. E compete aos adultos, a partir da

expressão e da comunicação oral, explicar o que acontece nessas ocasiões, esclarecer o que são

os objetos e apresentar as pessoas a sua volta, ponderando os contextos sociais em que estão

inseridos, bem como quais suas características. Como bem defendeu Cabrejo-Parra (2011),

crescer, e aqui acrescentamos desenvolver-se, é constituir-se sujeito linguístico de uma

comunidade.

Tais mediação e intervenção dos adultos não podem ficar restritas aos momentos de fala

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cotidianos, elas devem ser estendidas à oferta de literatura na primeira infância. Nesse ponto, são

cruciais as ações de recitação de poesias e parlendas, entoação de cantigas de roda e canções

de ninar, leitura e contação de histórias, uma vez que os bebês apresentam necessidades afetivas

que devemos alimentar com tudo o que é rítmico, pois isso favorecerá seu desenvolvimento não

só emocional e psicológico, mas também linguístico e cognitivo. Afinal, o suporte livro para os

bebês é um estímulo importante, no entanto, não substitui a influência da fala e da voz do adulto.

É na primeira infância, que as crianças aprendem a simbolizar, “e simbolizar é a base da

experiência de pensamento” (LÓPEZ, 2013, p. 42). Se não brincarem, escutarem histórias e

“lerem” os livros literários, os pequenos não conseguirão exercer sua capacidade de pensar. Por

isso, precisamos observar que atenção é dada à leitura e à apresentação dos livros literários aos

pequenos infantes.

No primeiro ano de vida, os pequenos aprendem a sorrir intencionalmente; estabelecem

diálogo comunicativo com outros, exercitando seu aparelho fonador e treinando sua expressão

corporal; e começam nessa fase a expressar suas necessidades. O adulto mediador aqui,

segundo Rigolet (1998), precisa fomentar tais aquisições de forma consciente, permitindo às

crianças e favorecendo que elas aprendam a: nomear coisas, situações e pessoas; repetir

palavras e ações; imitar; observar o contexto; esperar; escutar; estabelecer e manter o contato

visual; trabalhar os cinco sentidos; e expandir sua comunicação não verbal e verbal. Ao longo

desse primeiro ano, o educador precisa, além de estimular a linguagem oral, permitir o contato

com a escrita também. E em todas essas situações, a leitura literária faz-se representativa.

No segundo ano de vida, do ponto de vista linguístico, os pequenos intervêm por meio de

uma única palavra que produzida em contexto funcional pode adquirir inúmeros sentidos e,

posteriormente, começam a produzir pequenos enunciados compostos em sua maioria por

substantivos e verbos comuns, quase nunca utilizam adjetivos ou advérbios e é quase nulo o

emprego de artigos, pronomes, conjunções ou preposições (RIGOLET, 1998). Nesta época, há

uma espécie de “explosão” em seu vocabulário e começam a surgem novas palavras diariamente

que o bebê produz com prazer, mesmo que de certa forma constituam um linguajar próprio e

onomatopaico dos pequenos. Além disso, a partir dos 18 meses, o infante inicia a vivência da

função simbólica por meio do jogo.

Na leitura, conforme o mediador nomeia as ilustrações e situações das páginas que são

passadas, sua voz ensina que as imagens se juntam e formam uma história (REYES, 2010).

Como se percebe, neste ano da vida, a leitura literária também se faz imperativa, pois não é só o

vocabulário do adulto que serve de modelo a ser imitado, sua postura social e suas práticas

culturais como o ler também contribuem para a formação integral da criança, ao favorecer os

jogos simbólicos seja por meio de brincadeiras, brinquedos ou livros.

Tendo discutido sobre o desenvolvimento da linguagem nos bebês, no próximo item,

falaremos sobre a Bebeteca, espaço onde podem ser vivenciados esses momentos de

experimentação literária entre adultos e crianças, favorecendo o desenvolvimento da linguagem

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dos pequenos.

4. Bebeteca: biblioteca para bebês

O estímulo à leitura na primeira infância pode ser promovido nos mais diversos ambientes,

principalmente se estimularem os cinco sentidos dos miúdos e atenderem suas necessidades

físicas e emocionais. Entre esses espaços, temos o lar, que pode oferecer momentos prazerosos

no quarto, na sala, na cozinha, no quintal, na varanda etc.; outros lugares sociais como praças e

parques; e a escola, que pode propiciar vivências literárias na sala de aula, no parquinho, no

pátio, na biblioteca ou mesmo na Bebeteca, isto é, uma biblioteca para bebês.

Senhorini e Bortolin (2008) resgatam o conceito de Bebeteca proposto por Escardó (2003)

como sendo um serviço de atenção especial à primeira infância, que inclui, além de um local e

livros escolhidos para satisfazer as necessidades dos menores e seus responsáveis, empréstimo

destes e palestras que falem sobre a importância da convivência neste ambiente. Em outras

palavras, a escritora espanhola Escardó, conceitua Bebeteca como um gênero de biblioteca que

se atenta ao bebê e sua prática de leitura, diferenciando-o de outros espaços.

As Bebetecas são bem presentes em países como Argentina, Colômbia, Espanha e

Portugal. No Brasil, porém, ainda são poucas e as que existem nem sempre têm como principal

objetivo a presença dos responsáveis durante as práticas de leitura. Mesmo assim, as Bebetecas

brasileiras constituem-se em um ambiente onde são estabelecidos vínculos afetivos por meio de

recontos, de leitura de imagens, de escuta e de partilha de sensações entre bebês, crianças e

mediadores adultos, algumas vezes pais, mas na maioria delas, professores.

Seu acervo deve ser diversificado, pois atenderá desde bebês com meses de vida a pais e

professores. Deve ser composto por: livros de papel; de papel cartonado; de banho; de pano; de

espuma; livros-brinquedo; de imagem; ilustrados; bem como possuir materiais de apoio para as

leituras e contações ou outras atividades lúdicas como: fantoches, fantasias, chapéus, aparelho

de cd, brinquedos entre outros.

Em relação aos objetivos da Bebeteca, Senhorini e Bortolin (2008) elencam: oportunizar

um espaço adequado e agradável para o incentivo à leitura de crianças de até 5 anos; estimular a

imaginação e a criatividade dos pequenos e seus mediadores, a partir de um ambiente divertido e

alegre; aumentar a interação entre bebês e seus pais, bem como com outros mediadores, como

os professores; auxiliar no desenvolvimento social e psicológico das crianças, por meio da

convivência com outros bebês, ampliando seu círculo de relacionamentos interpessoais; e

demonstrar aos familiares responsáveis a influência e a importância da leitura na vida dos

pequenos desde a mais tenra idade.

Souza e Bortolanza (2012) argumentam que a organização física deve ser aconchegante e

possibilitar tranquilidade no momento da leitura e o livre acesso dos bebês aos materiais; deve

conservar livros em locais que os pequenos usuários consigam pegar e fazer as escolhas,

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explorando-os sozinhos; precisa ter mesas adequadas ao tamanho das crianças; favorecer a

acessibilidade às obras infantis em estantes de tamanho proporcional ou em outros meios como

cestas e baús; além disso, deve dispor de cantos decorados de acordo com o gênero textual ou a

temática da obra, com o apoio de fantoches e outros adereços em locais inusitados como tapetes

com almofadas e diversas formas de organização que sejam acolhedoras e que possibilitem

mobilidade, escolha e conforto aos que buscam a leitura.

A decoração do espaço também é importante para acolher os usuários. Silva (2009)

orienta que as tonalidades que irão compor o ambiente devem ser escolhidas para dar

continuidade à tendência de acolher os visitantes e convidá-los a apreciação das obras, portanto,

as paredes da parte interna podem ser pintadas de cores diferentes das que compõem as salas

de aula com matizes claros e alegres, mas sem poluição visual, pois os livros são as “estrelas”

da Bebeteca.

Tendo esclarecido o conceito e os objetivos de uma Bebeteca, apresentamos a seguir o

lócus desta pesquisa.

5. A Bebeteca “Colunas do Saber”

Em Presidente Prudente – SP, em maio de 2015, foi inaugurada a primeira Bebeteca do

município, que foi batizada de “Colunas do Saber”, com o apoio do Poder Público e da

Organização Não-Governamental (ONG) Saúde Global, sendo estes os fornecedores da verba

necessária à reforma e à adaptação do recinto e à compra do acervo. A inauguração contou com a

parceria do CELLIJ com a oferta dos contadores de histórias que atuam semanalmente no espaço

e a formação para os professores da creche fazerem uso do acervo e do lugar; além disso, o

Centro de Estudos também realiza pesquisas naquele ambiente com as crianças e professoras,

como a relatada nesta comunicação.

Foto 1 – Bebeteca “Colunas do Saber”Fonte: As autoras

Esclarecidas as possíveis dúvidas a respeito do que consiste uma Bebeteca, e

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apresentado o lócus de nossa pesquisa, discorreremos sobre o letramento literário na educação

infantil com os bebês e as crianças de até três anos.

6. Letramento literário na primeira infância

Ter claro o conceito de letramento literário é fundamental por que como este estudo se

propõe a trabalhar com crianças ainda não alfabetizadas, o professor, que exerce papel de

mediador, precisa estar ciente que a formação dos leitores se dará a partir do momento em que as

crianças e os bebês adquirirem letramento literário e, posteriormente, após alfabetizadas,

inserirem-se efetivamente no universo da leitura.

Ao se falar de letramento, tem-se que, na contemporaneidade, o mais correto fosse se

falar de letramentos ou multiletramentos, pois, assim, o termo abrangeria a complexidade das

diversificadas práticas sociais de escrita (SOUZA e COSSON, 2011).

Dentre essas possibilidades de letramento, interessa a esta investigação o literário,

diferente dos demais porque necessita da literatura, ou seja, o letramento literário consiste na

“construção literária dos sentidos” (SOUZA e COSSON, 2011, p. 103). De acordo com Cosson

(2014), a experiência literária além de nos permitir saber a respeito de nossa própria vida a partir

do que o outro viveu, também nos oportuniza dizer o que não sabemos expor de maneira mais

precisa, por comunicar em forma de narrativa ficcional. Além disso, o texto literário oferece, aos

bebês e às crianças pequenas, material simbólico para que descubram não apenas quem são,

mas também quem podem ser. O letramento literário faz-nos descobrir que nossa imaginação nos

permite ser nós mesmos e ainda outras pessoas, e isso é o que atribui sentido à experiência

literária (REYES, 2010).

Para construir o letramento literário, o professor precisa selecionar o livro de literatura

infantil a ser utilizado e aqui há a importância do suporte original e não apenas fragmentos de

livros didáticos ou publicações com prejuízo de conteúdo para as crianças. A experimentação de

textos literários na vida dos bebês e das crianças, por intermédio de seu principal suporte, o livro,

exerce uma “função humanizadora insubstituível e indispensável para o desenvolvimento integral

de sua personalidade” (SOUZA e BORTOLANZA, 2012, p. 69).

Vygotsky (1996) defende que o desenvolvimento da linguagem na criança desempenha o

norte do seu progresso como um todo, pois é a partir da tentativa de dominar linguagem que a

criança pequena inicia relações com as pessoas e as coisas em seu entorno. Por isso, o

letramento literário nesse período da vida contribui para o alargamento não só das experiências

linguísticas como também do desenvolvimento integral da criança.

Após esta explanação sobre letramento literário na primeira infância, a seguir, apresentamos

a mediação literária ocorrida na Bebeteca “Colunas do Saber”.

7. Relato da pesquisa

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Quando se fala em leitura com os bebês e os pequenos de até três anos, ela seria,

inicialmente, um ato de ouvir, ver, cheirar e pegar. “Durante o ato de ouvir, ele vê o mediador e,

por sua proximidade, sente seu cheiro, toca e é tocado, transformando o ato de audição num

processo neurofisiológico” (TUSSI; RÖSING, 2009, p. 48), ou seja, os pequenos passam a ter a

possibilidade de “ler” ao pegar, olhar e imaginar a partir dos livros literários infantis.

As primeiras leituras realizadas para os recém-nascidos e as crianças de até três anos

propõem-se a oferecer o desenvolvimento inicial da linguagem e acostumá-los com a voz do

mediador; posteriormente, no entanto, isso favorecerá a compreensão. Todavia, é imprescindível

descobrir como fazer essa mediação entre o bebê e a literatura. Assim, nesse tópico,

apresentamos como vem acontecendo a pesquisa na Bebeteca “Colunas do Saber”.

Após leituras e discussões acerca do desenvolvimento infantil e de sua comunicação

verbal, bem como sobre a importância da leitura literária nesta etapa, duas bolsistas do PIBIC

foram até a creche para observar, entrevistar as professoras e intervir, mediando a leitura com os

bebês de 4 meses até 2 anos. Assinalamos que uma doutoranda, vinculada ao CELLIJ por suas

pesquisas, participa das discussões teóricas e metodológicas das pesquisadoras PIBIC e observa

a aplicação das intervenções na creche. Além disso, colabora na orientação das acadêmicas de

Pedagogia, auxiliando, assim, a Profa. Dra. Renata Junqueira de Souza, na realização do trabalho

de Iniciação Científica na UNESP.

Ao iriem para a creche, as bolsistas observaram o cotidiano dos bebês, deixando de serem

corpos estranhos para eles e, depois de um período de observação participante, iniciaram as

mediações literárias uma vez por semana, sempre no ambiente da Bebeteca.

Os momentos de leitura têm sido realizados, a maior parte do tempo, individualmente com

cada bebê. As bolsistas vão até as salas de aula e, de acordo com a rotina da turma, levam para a

Bebeteca as crianças que estão acordadas ou alimentadas, a ordem da seleção é feita com o

auxílio das docentes da creche.

Nos atendimentos, são estabelecidos dois polos de contação em cada extremidade da sala

para que uma leitura não atrapalhe a outra. Posicionadas confortável e adequadamente no tatame

emborrachado, e apoiadas em Bajard (2014), com os pequenos de até um ano, as pesquisadoras

colocam as crianças em seu colo. De maneira que o corpo do bebê fique aconchegado no do

adulto. Assim, a comunicação é feita pela voz e pelo contato físico entre mediador e infante. Além

disso, os dois possuem o mesmo ponto de vista sobre o livro e a criança percebe as imagens e o

texto escrito. De maneira que se abrem os acessos da visão e da escuta.

Com os bebês de até 2 anos, o aspecto de fusão entre criança e mediador se rompe e

sentam-se lado a lado. Isso porque, de acordo com Bajard (2014), ainda se mantém o mesmo

ponto de vista em relação ao livro, mas nessa posição, pode-se atender mais de uma criança ao

mesmo tempo, muito embora, seja preciso atenção, pois um número elevado de pequenos

ouvintes pode dificultar a visão do livro e sua consequente compreensão.

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Quando as crianças estão entre o segundo e o terceiro ano, a mediação já pode ser

realizada como Bajard (2014) chama de “face a face”. Assim, os ouvintes ficam em frente ao

mediador e podem ser atendidos vários pequenos simultaneamente, pois esta posição permite o

observar as imagens. Da primeira posição, no colo, a esta, aumenta-se a distância física, porém

amplia-se a autonomia e a capacidade de estabelecimento de representação simbólica com o

livro.

Nesses momentos de aconchego literário, as pesquisadoras bolsistas realizam ora leitura

dos textos, ora contação. O tipo de livro, o gênero da narrativa ou a própria criança indicarão se a

situação pede o ler ou o contar.

Do início da pesquisa até o momento, observamos alguns ganhos: o receio inicial dos

bebês já não existe mais, o que confirma a importância da afetividade, pois ao “ler ou contar uma

história e segurar o bebê ao colo, criamos um vínculo amoroso, de acolhimento” (PARREIRAS,

2012).

Além disso, apesar de falarem pouco, os pequenos interagem com o livro, inclusive,

colocando-o na boca e sentindo vontade de mordê-lo. A este respeito, Parreiras (2012) assinala

que a aproximação entre os pequenos e os livros não pode esperar efeitos instantâneos. Porque é

manuseando e tocando os livros, pouco a pouco, que a criança é introduzida no universo mágico

da literatura, pois assim ela conhecerá outras experiências que apurarão o olhar, o observar, o

ouvir, importantes para a apreciação artística e estética.

A mediação que acontece na Bebeteca é planejada, pensando-se em momentos que

privilegiem uma conversa antes da leitura; leitura em voz alta de forma compartilhada com os

pequenos e depois disso um diálogo sobre o lido e o ouvido (SOLÉ, 1998). Mesmo que esse

diálogo seja constituído por balbucios, movimentação de perninhas e bracinhos eufóricos que

tentam, com o corpo, expressar seu imaginário.

As mediadoras de leitura aproveitam toda a cultura oral: acalantos, cantigas de roda e

outras brincadeiras, parlendas, trava-línguas, contos de fada, que possuem valor afetivo, musical,

cultural, e podem ser educativos, colaborando no desenvolvimento cognitivo dos infantes, além de

aprimorar a linguagem; mas também apoiam suas práticas de mediação em textos escritos,

valendo-se, às vezes, da leitura de narrativas curtas, ou até convidam a criança a “ler” junto a

partir dos livros de imagem, estimulando sua imaginação, cognição e a expressividade.

Nessas mediações, as pesquisadoras preocupam-se com a adequação do texto à idade e

aos interesses dos leitores-ouvintes. Elas também trabalham com situações que educam até o

virar das páginas em uma direção e não em outra (PRADES, 2012).

As mediadoras procuram favorecer o envolvimento das crianças, seja imitando sons, com

brincadeiras, indo além da narrativa, ampliando-a ou apresentando alguma ideia nova trazida pelo

livro, este, por sua vez, pode ser manuseado juntamente com o bebê e não há necessidade de lê-

lo todo de uma vez, em outro momento continua-se a leitura ou se repete o que chamou atenção.

Primeiramente, uma relação lúdica, de brincadeira mesmo. A criança precisa sentir e gostar do

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livro” (PARREIRAS, 2009); além de ler ou contar uma história, e aqui não há uma ação mais

importante do que a outra, pois atingem objetivos diferentes (GIROTTO e SILVEIRA, 2013).

Em outras ocasiões, os livros já lidos aos pequenos são disponibilizados pelo chão, ficando

acessíveis a grupos de três crianças por vez. Nestas ocasiões, todos eles demonstraram iniciativa

para explorar os livros e suas texturas. Apresentaram, principalmente, entusiasmo pelas obras de

animais, confirmando o que Coelho (2004) expõe sobre a fase pré-mágica das crianças de até

três anos que preferem histórias de bichos, objetos e seres da natureza animados.

Também demonstraram desejo de explorar o espaço, as estantes, os livros e os fantoches

da Bebeteca. E mesmo aqueles menores que ainda não conseguem articular as palavras,

apontavam para as ilustrações dos livros, balbuciavam ao folhear as páginas e procuravam os

olhos das mediadoras como que para dizer “- Veja, que bacana! Veja, o cachorro!”.

Os resultados também indicam que algumas das professoras/educadoras ainda não

solidificaram a importância do trabalho de leitura literária e contação de histórias para os bebês,

alegando que os pequenos ainda não compreendem a narrativa e não aparentam condições de

interação com o texto. Por outro lado, a gestão tem demonstrado abertura às pesquisadoras e

desejo de apreender as diversas possibilidades de se oportunizar a leitura e a contação de

histórias aos pequenos.

Além disso, alguns casos constatam os benefícios da leitura desde a mais tenra idade:

criança que repetia toda a história e se surpreendia a cada página virada; outra que ao chegar na

Bebeteca não demonstrava interesse, mas após o início da narração, entusiasmou-se e começou

a balbuciar; bebê de 8 meses que imitava os animais do livro, explorava-o, segurando e tentando

folhear e ao ser levado para a sala de aula, chorou pois queria continuar na Bebeteca; outro que

chorou ao ser retirado da sala, mas ao chegar na Bebeteca e receber a mediação da

pesquisadora em relação ao espaço, acalmou-se e quis explorar as obras nas estantes; outras

crianças que ao verem as bolsistas chegando na sala corriam para junto delas, pois sabiam que

iria para a Bebeteca.

Foto 2 – Bolsista com bebê no coloFonte: As autoras

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Em resumo, os bebês têm interagido bastante e, de modo geral, estão adquirindo o

comportamento leitor com menos choro, mais interação com os livros e prazer pelos momentos de

contação e leitura. Tais ações estão servindo como base para compreender o trabalho com os

bebês que não dominam a leitura sistematizada, mas são capazes de desenvolver outros modos

de leitura e de expressão.

A pesquisa vem mostrando, portanto, que a intervenção tem possibilitado a aquisição de

atos leitores embrionários por parte dos bebês que balbuciam, pegam os livros, levam-no à boca,

tentam folheá-los, voltam à capa, atentam-se por mais tempo em uma página do que em outra,

passam as mãozinhas para sentir a textura da folha, ou seja, a mediação planejada, realmente,

pode colaborar para a formação de “leitores” mesmo na primeira infância.

8. Conclusões

Para além da função mágica da literatura e da leitura realizada em voz alta pelo mediador

e a contação de histórias, práticas que usam o livro são muito importantes para a formação leitora

de bebês e crianças de até três anos, pois o suporte é um objeto cultural e favorece o

desenvolvimento da percepção visual e do cognitivo, pois, em uma “leitura” individualizada ou

mesmo numa leitura compartilhada, as crianças podem criar hipóteses a respeito: do conteúdo,

fazendo relações com outras histórias ou fatos de seu cotidiano; da compreensão linguística; da

expressão oral, ao recontar a história; da socialização; e da demonstração de seus sentimentos.

Diante desse panorama, é possível ratificar que durante o contato estabelecido entre os

bebês e os livros, no espaço da Bebeteca “Colunas do Saber”, o desenvolvimento cognitivo

desses sujeitos está se ampliando gradativamente, com melhoria na postura de leitor de seus

pequenos usuários como sentar para ouvir a história ou manusear os livros nas estantes; a

qualidade da atenção que direcionam para as atividades de leitura e escuta de textos também tem

se ampliado; há o estabelecimento de conexões entre o que foi lido e suas vivências; o

vocabulário também está sendo enriquecido e a função social da leitura vem ganhando significado

na vida desses bebês a partir de um contato prazeroso com o objeto livro e suas narrativas.

Desse modo, os resultados até agora reunidos são assertivos e promissores. O estímulo

agora se constitui em ampliar essa experiência para outros espaços e traçar considerações

teóricas concretas sobre as características das relações que os bebês estabelecem com os livros,

a contação de histórias e o espaço da bebeteca.

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