LEDI LÍNGUA ESTRANGEIRA, DISCURSO E IDENTIDADE ... · de um recorte de aspectos culturais...

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São Carlos, Setembro de 2018 LEDI LÍNGUA ESTRANGEIRA, DISCURSO E IDENTIDADE: REPRESENTAÇÕES E REGIMES DE VERDADE Coordenadora: Marisa Grigoletto Instituição: USP Universidade de São Paulo Pesquisadores: Marisa Grigoletto; Beatriz Jorge; Daniella Menezes; Maria Dolores Wirts Braga; Inês Confuorto; Laura Fortes; Patricia Helena Nero; Vania Ricarte. Resumos: Resumo de apresentação do grupo. Resumos das pesquisas realizadas pelo grupo.

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São Carlos, Setembro de 2018

LEDI – LÍNGUA ESTRANGEIRA, DISCURSO E

IDENTIDADE: REPRESENTAÇÕES E REGIMES DE

VERDADE

Coordenadora: Marisa Grigoletto

Instituição: USP – Universidade de São Paulo

Pesquisadores: Marisa Grigoletto;

Beatriz Jorge;

Daniella Menezes;

Maria Dolores Wirts Braga;

Inês Confuorto;

Laura Fortes;

Patricia Helena Nero;

Vania Ricarte.

Resumos:

Resumo de apresentação do grupo.

Resumos das pesquisas realizadas pelo grupo.

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São Carlos, Setembro de 2018

GRUPO LEDI – PESQUISA EM LÍNGUA ESTRANGEIRA, DISCURSO E

IDENTIDADE: REPRESENTAÇÕES E REGIMES DE VERDADE

Coordenadora:

Marisa GRIGOLETTO (USP)

[email protected]

Este grupo de pesquisa, cadastrado no CNPq, congrega pesquisadores e pós-graduandos que

têm como objetivo o estudo da relação entre língua estrangeira, discurso e processos

identitários, pelo viés teórico da análise do discurso inaugurada por Michel Pêcheux. Os

membros do grupo são todos pesquisadores atuantes no campo do ensino de línguas e de língua

inglesa em particular, seja como professor, seja como formador de professores, de modo que a

língua que se constitui como foco das pesquisas é, predominantemente, o inglês. O grupo realiza

reuniões periódicas, nas quais são estudados textos teóricos que ajudam a refletir sobre a

temática comum que nos dá identidade como grupo e que fornecem subsídios para as pesquisas

individuais. Dentre outros tópicos, as pesquisas do grupo focalizam processos de subjetivação e

identificação decorrentes do contato com a língua estrangeira, por professores ou aprendizes;

representações – no sentido de construções imaginárias concretizadas em/por discursos e

resultantes do processo de interpelação ideológica – sobre a própria língua estrangeira, sobre

professor, aluno e sobre o ensino ou o aprendizado dessa língua; discursos de domínios diversos

(científico, político-educacional, didático-pedagógico, midiático) sobre a língua inglesa, o livro

didático, o bilinguismo e os efeitos desses discursos nas identificações que produzem sujeitos.

Para este evento, o grupo apresentará pesquisas reunidas em dois eixos temáticos: 1)

representações de língua (inglesa), cultura, professor e aprendiz; 2) discursos sobre o

bilinguismo e sobre o livro didático e seus regimes de verdade. No primeiro eixo temático,

analisaremos o discurso de professores, de alunos, de editoras de materiais didáticos e recortes

do discurso midiático. No segundo, focalizaremos discursos sobre o bilinguismo no campo da

ciência linguística e o discurso de professores sobre o livro didático de inglês. De modo geral,

as pesquisas do grupo colocam questões de reflexão para: a) o ensino e a aprendizagem de

línguas (tais como, o posicionamento subjetivo de professores e aprendizes e seus processos de

identificação, concepções sobre língua, cultura, material didático e sobre o próprio ensinar, entre

outras); b) a construção de verdades em funcionamentos discursivos determinados e

possibilidades de ressignificação de sentidos.

Palavras-chave: Língua; Representação; Ideologia.

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São Carlos, Setembro de 2018

REPRESENTAÇÕES SOBRE LÍNGUA, CULTURA E INTERCULTURALIDADE NO

DISCURSO DO PROFESSOR DE INGLÊS CONSIDERADO NÃO NATIVO

Beatriz JORGE (USP)

[email protected]

Tem-se verificado, na prática de sala de aula de língua estrangeira, a busca pelo ensino

de um recorte de aspectos culturais supostamente inerentes à cultura do outro (MORAN, 2001;

VALDES et al., 1986). Tal prática ainda tem sido realizada com base no discurso de uma

cultura una e homogênea, pertencente a uma circunscrição geográfica arbitrária e

tradicionalmente denominada “nação” (HALL, 1997). Em contrapartida, teorias pós-

estruturalistas (BHABHA, 1994; HALL, 1997) dirigem-se a uma noção instável, híbrida e

heterogênea acerca da ideia de cultura e identidade. Essas teorias analisam não só as

consequências do contexto histórico-social da aceleração da globalização nestas últimas décadas

mas, principalmente, o descentramento do sujeito ocorrido na modernidade tardia –

notadamente, na segunda metade do século XX. A base de tais paradigmas está alinhada de

forma consoante com os principais conceitos da Análise do Discurso pecheutiana (AD), que

leva em consideração a relação dinâmica do tripé: linguagem subjetividade ideologia.

Havendo, a nosso ver, uma ligação entre a interpelação pela ideologia – assim proposta por

Althusser (1971) e adotada como um dos principais paradigmas da AD – e a influência do

contexto cultural na constituição histórico-social do sujeito (RAMOS e FERREIRA, 2016),

analisamos as representações de língua, cultura e interculturalidade encontradas nos dizeres de

sujeitos-professores de língua inglesa em condições de produção de discurso peculiares, se

considerarmos as relações de poder que configuram: entrevistas de trabalho em um instituto de

idiomas na cidade de São Paulo. Nosso olhar sobre essa materialidade linguística indica quatro

grupos principais de representações: (1) a presença do que se poderia definir como uma cultura

una e homogênea específica a ser “ensinada” – sempre tendo como referência países do Inner

Circle de Kachru (1986) – que daria suporte ao ensino de inglês como língua estrangeira na

práxis em sala de aula; (2) uma demanda pela internalização de aspectos da cultura do outro que

resultaria no desenvolvimento de uma competência/habilidade comunicativa intercultural no

aprendiz (DE NARDI, 2009); (3) um atravessamento ideológico da disseminação da língua

inglesa como um sistema neutro e fechado de comunicação, resultando em uma mescla do

significado dos sintagmas Lingua Franca Global Language (CRYSTAL, 1997); (4) uma

posição de entre-lugar por parte desse profissional refletida no discurso de se considerar peça

chave na intermediação entre o aprendiz e uma cultura alvo, o que faria do professor um

instrumento de disseminação cultural.

Palavras-chave: Língua; Cultura; Identidade.

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MODOS DE SUBJETIVAÇÃO NOS AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM:

O PROFESSOR DA ERA DIGITAL

Daniella MENEZES (EEAR)

[email protected]

Tendência de muitos cursos em nível de graduação e de pós-graduação no país, a modalidade de

educação a distância (EAD) tem se mostrado uma alternativa de formação acadêmica

consolidada e legitimado práticas discursivas nessa situação específica de interlocução

intermediada pelo computador conectado à internet. Nesse espaço virtual, em que o empírico e

o discursivo se entrelaçam (GRIGOLETTO, E., 2011), constituem-se múltiplas materialidades,

entre as quais os “ambientes virtuais de aprendizagem” (AVA). Assim, os discursos que

circulam nos AVA – como os comentários retirados de um fórum de discussão de um curso de

pós-graduação lato sensu a distância em “Docência no Ensino Superior” de uma universidade

brasileira analisados nesta pesquisa – também podem ser vistos como regimes de verdade e

determinam, dessa forma, os modos de subjetivação, atravessados pela dimensão histórica,

nessa situação específica de interlocução mediada pela internet, fato que explica, portanto, as

transformações pelas quais passa o sujeito, e no caso desta pesquisa, especificamente o sujeito-

professor. Partindo-se do princípio de que o sujeito “não está dado, mas se constitui nos dados

da experiência, no contato com os acontecimentos” (MANSANO, 2009), a heterogeneidade do

sujeito-professor em situação de educação a distância é um reflexo desse momento histórico

pelo qual passa o ambiente escolar de virtualização dos sujeitos pela mediação tecnológica do

processo de ensino e aprendizagem. Resultado dessa confluência de acontecimentos em que se

entrecruzam experiências conhecidas, porque já vividas, e experiências em construção,

proporcionadas pelos recursos tecnológicos utilizados na educação, o sujeito-professor

tampouco é um sujeito acabado que tem adicionadas a uma suposta “essência” características

que o classificariam como “a” ou “b”. Nessa perspectiva, não se pode pensar numa identidade

fixa e imutável, mas numa arena de vozes em que ora algumas delas são mais fortemente

ouvidas, ora aquelas que estavam abafadas se fazem ouvir, mesmo que à revelia do sujeito,

conferindo-lhe contornos mais ou menos estáveis, conforme as forças atuantes sobre elas. Dessa

forma, esta pesquisa pretende discutir e problematizar as representações de professor

construídas por professores-alunos do curso supracitado em fóruns de debates em circulação na

internet, em específico para este trabalho a do professor mediador. Para isso, servirão como

corpus de análise os dizeres desses sujeitos coletados de recortes discursivos selecionados entre

os comentários postados no fórum de discussão, tomados aqui como “discursos alternativos ou

competidores”, já que “constroem suas próprias versões de verdade, suas próprias versões

daquilo que conta, de quem está autorizado a falar” (GORE, 1994).

Palavras-chave: Representação; Sujeito-professor; Educação a Distância.

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O PODER DE DISCURSO DE VERDADE DO LIVRO DIDÁTICO NOS DIZERES DE

PROFESSORES

Maria Dolores Wirts BRAGA (USP)

[email protected]

O efeito de sentido compartilhado socialmente sobre o poder do livro, como um lugar

de saber e verdade, data de antes da metade do século XVIII, quando o estilo antigo de leitura se

definia pela “reverência e respeito pelo livro porque ele é raro, porque está carregado de

sacralidade mesmo quando é profano, porque ensina o essencial” (CHARTIER, R., [1945]1996,

p. 86). Apesar de esse modo de leitura ter sido suplantado pela leitura volumosa, silenciosa e

individual, com muitos textos laicos, a partir de 1750, como afirma Chartier (idem), o poder do

livro que ensina o essencial, e justamente por ensinar o essencial, parece ter sobrevivido ao

tempo e marcado o livro didático desde o surgimento das primeiras cartilhas. Além disso, o

lugar da autoridade de saber, fruto dessa concentração da relação saber-poder, garante poder

inquestionável ao livro didático. Segundo Foucault, não há verdade que se faça sem poder e, do

mesmo modo, o poder não deve ser entendido como algo que se possui, pois ele circula. São

essas as motivações que nos levam a crer que o livro didático não pode funcionar como uma

verdade sem a contribuição do discurso sobre ele, visto que o saber que ele encerra necessita de

investimentos de poder para garantir sua circulação e, assim, se colocar como verdade.

Acreditamos, portanto, que a análise dos dizeres de professores sobre o livro didático pode nos

apontar indícios de investimento de poder sobre o saber desse livro, garantindo seu

funcionamento como um discurso de verdade. Considerando que o discurso carrega as marcas

linguísticas, e também históricas e ideológicas, de cada sociedade, argumentamos que o poder

de discurso de verdade do livro didático é, agora, produzido discursivamente através de

princípios moduladores (DELEUZE, [1990] 2008), característicos da sociedade de controle.

Segundo Deleuze ([1990] 2008), a modulação é o modo de ação da sociedade de controle, que

não age por imperativos, como fazia a sociedade disciplinar. Modulações são moldes que se

autodeformam, garantindo que nada chegue ao término. Esse funcionamento interminável é

possibilitado pelos princípios moduladores – ou dizeres que funcionam como modulações –, que

regem a sociedade de controle, exigindo atualizações contínuas, promovendo a motivação e

assegurando o controle permanente. Para este estudo, observaremos o efeito de princípios

moduladores ao analisarmos o discurso de professores da rede pública de ensino sobre o livro

didático de inglês do Programa Nacional do Livro Didático 2011.

Palavras-chave: Verdade; Livro didático de inglês; Sociedade de controle.

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PROCESSOS DE (DES)IDENTIFICAÇÃO E CONTRAIDENTIFICAÇÃO NO

DISCURSO DO SUJEITO-PROFESSOR DE INGLÊS

Inês CONFUORTO (UNICSUL)

[email protected]

Esta comunicação tem como objetivo compartilhar uma das análises de minha pesquisa de

doutorado, defendida em 2016, relativa aos processos de (des)identificação e contraidentificação

no discurso do sujeito-professor de inglês. A análise está teoricamente fundamentada no

conceito de formações imaginárias de Pêcheux (1969) e sua aproximação com os processos de

identificação de Freud ([1921] 1990; [1925] 1976) e Lacan ([1961/1962] 2003). O recorte para

esta apresentação concentra-se nas representações que o sujeito-professor de inglês faz de si, do

outro e do objeto do discurso. Meu gesto de interpretação está focado em uma formação

discursiva que se denomina discurso da falha/ da falta, em que é possível identificar a cisão do

sujeito-professor de inglês em posições contraditórias. Essas posições causam um aparente

incômodo, pois a falta constitutiva do sujeito o leva a almejar a completude. Na instauração

deste círculo entre a falta e a completude, o sujeito-professor de inglês busca diminuir sua

culpabilização, por “nem sempre” se sentir preparado para o exercício de sua profissão, com

cursos de formação. Nesse movimento, em busca de melhor qualificação, é possível inferir o

desejo de alcançar uma posição de professor ideal, que pode aproximar o sujeito-professor de

um estado de confiança, colocando em funcionamento o “eu ideal” (ser bom professor, dominar

a língua, ser reconhecido pelos alunos), pois, frente a seus alunos e ao outro/Outro, que o

constituem, entra em funcionamento o “ideal do eu” (olhar do outro/Outro), momento em que a

culpabilização de si emerge e necessita de ser abafada. Dessa análise, pude apreender que se

cria um efeito-sujeito professor de inglês à deriva, marcado por momentos de (des)identificação

e contraidentificação deste sujeito ao discurso que circula nas instâncias educacionais,

principalmente aos relacionados às políticas públicas para o ensino de inglês expressos nos

documentos oficiais. Para concluir, defendo que somente uma formação com professores, em

um contexto local (sem excluir o global), mais articulado discursivamente, pode abrir brechas e

fissuras para discutir a complexidade que envolve o sujeito da educação e as possibilidades de

(res)significação de sentidos, provocando rupturas no modo estabelecido do fazer docente.

Palavras-chave: Professor de inglês; Identificação; Deriva.

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DISCURSOS SOBRE O BILINGUISMO NA LINGUÍSTICA: REGIMES DE VERDADE

E (IM)POSSIBILIDADES DE DIZER SOBRE A LÍNGUA

Laura FORTES (UNILA)

[email protected]

Partimos de uma das análises discursivas desenvolvidas em nossa pesquisa de doutorado para

apresentar um recorte no qual investigamos o processo de formação de conceitos de bilinguismo

na linguística, constituindo um objeto de conhecimento da ciência. A análise, teoricamente

orientada pelos preceitos da análise de discurso pecheutiana, teve como base a configuração de

um arquivo do discurso científico sobre bilinguismo, com um levantamento da literatura

especializada sobre o tema em diferentes áreas da linguística, da sociolinguística e da linguística

aplicada. Assim, a análise está dividida em momentos: discursos da linguística e produção de

saberes sobre bilinguismo; conceitualizações sobre bilinguismo produzidas pela linguística e

suas filiações ideológicas; e a emergência de conceitos discordantes como processos de

ressignificação de sentidos de bilinguismo. O estudo desse arquivo levou-nos a compreender

que os sentidos predominantes de bilinguismo sustentam-se numa formação discursiva logicista,

em que impera o paradigma monolíngue vinculado a um regime de verdade que instaura a

concepção de língua como “unidade” e de sujeito como falante (nativo como modelo).

Entretanto, mudanças epistemológicas em diversas áreas dos estudos da linguagem filiadas a

uma virada multilíngue (linguística aplicada, antropologia linguística, letramento crítico, por

exemplo) têm produzido outras possibilidades de dizer sobre a língua, com a irrupção de

sentidos “discordantes”, mais heterogêneos, filiados a contradiscursos em relação de

coexistência com os discursos predominantes, historicamente mais estabilizados. Tais

abordagens, em ascensão teórica nas duas últimas décadas, demarcaram uma mudança

epistemológica vinculada a movimentos teóricos de abertura disciplinar, colocando em

circulação conceitos ressignificados de língua e de bilinguismo. A análise mostrou que , embora

remetam à ideologia do sociologismo, e mantenham o ideal de um “sujeito pragmático”, tais

processos de ressignificação dos conceitos de bilinguismo constituem contradiscursos,

deslocando a hegemonia do paradigma monolíngue para a preeminência do paradigma

multilíngue. Concluímos que esses contradiscursos podem constituir lugares profícuos para

práticas de entremeio com as teorizações da AD pecheutiana.

Palavras-chave: Bilinguismo; Verdade; Linguística.

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LÍNGUA (DES)?COLONIZADA OU LÍNGUA COLONIZADORA?

Patricia Helena NERO (USP)

[email protected]

[email protected]

Nossa pesquisa de mestrado analisa as autorrepresentações de editoras, as representações do

sujeito-aluno, do sujeito-professor e da língua inglesa em dois sites institucionais e

mercadológicos para ensino de inglês como língua estrangeira. Por muitos anos a língua inglesa

se faz presente como língua de prestígio. Sua expansão no século XXI e entrada em vários

canais midiáticos chamam a atenção de vários estudiosos que procuram discutir as implicações

políticas e sociais da transparência linguística cujos objetivos são facilitar a globalização e

oferecer melhores oportunidades para a sociedade tida como global. Todavia, como

pesquisadores em análise do discurso, nos atentamos ao fato de que qualquer elemento

discursivo é constituído em sua historicidade e sentidos silenciosamente escondidos em meio ao

óbvio (PÊCHEUX, 1975; 1983). Observando tais considerações, analisamos as representações

que emergem no discurso (verbal e não verbal) nos sites das editoras Pearson e Cengage para

divulgação de seus materiais didáticos e plataformas de ensino para aprendizagem de inglês. Em

nossa pesquisa, ambas as editoras, inglesa e norte-americana, parecem apresentar em suas

páginas virtuais resquícios linguísticos presentes em uma historicidade que evoca seu passado

colonial de nação dominadora e imperialista até hoje (PHILLIPSON, 1992; 2000). Voltando-

nos aos anos coloniais e pós-coloniais, seguindo a expansão do inglês como língua dominante,

analisando sua historicidade verbal e não verbal nos discursos dessas editoras. Ancorados na

teoria pecheutiana (PÊCHEUX, [1983] 2012, p. 43) que aponta para sentidos “estranhos à

univocidade lógica”, para além da transparência aparente, valendo-nos de contribuições de

Courtine (1981; 2008) e Lagazzi (2010; 2011) quanto aos efeitos de sentido no discurso não

verbal, suspeitamos que nosso recorte discursivo ainda promove políticas colonizadoras

(PENNYCOOK, 1998) enquanto divulga o inglês como língua globalizada e de prestígio neste

século. Estudos de Heller reforçam nossa suspeita de que “entre as últimas críticas sobre a

globalização estão aquelas sobre o uso do inglês por corporações britânicas e norte-americanas

com o intuito de expandir mercados e criar consumidores” (2010, p. 105). Ou seja, por meio da

aprendizagem da língua e sob o pretexto da ajuda humanitária a minorias, os sites da Pearson e

da Cengage Learning induzem seus visitantes virtuais a acreditar que são elas as empresas

capazes de ajudar as nações “in need” para promover melhores perspectivas econômicas. Na

verdade, parecem insistir sub-repticiamente em manter o status quo político-economicamente

determinado pelas ideologias soberanas.

Palavras-chave: Pós-colonialismo; Língua Inglesa; Linguística.

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REPRESENTAÇÕES DE LÍNGUA EM ENSINO BILÍNGUE PORTUGUÊS-INGLÊS E

SUAS IMPLICAÇÕES NA (DES)CONSTRUÇÃO DE SUBJETIVIDADES

Vania RICARTE (USP)

[email protected]

Este trabalho é parte integrante de nossa pesquisa de mestrado, cujo tema é o lugar da língua

materna na constituição identitária de aprendizes e profissionais de escolas bilíngues português-

inglês. Nosso dispositivo analítico consiste em entrevistas com alunos, professores e

coordenadores dessa modalidade de ensino, e em recortes midiáticos relacionados, nos quais

irrompe a representação de língua enquanto código e instrumento de comunicação. Tal acepção

é ancorada em um pré-construído que concebe a língua como um sistema perfeito e homogêneo,

e apreensível em sua totalidade. Este efeito de “verdade” sobre a língua tem suas origens na

linguística estruturalista e na demanda da sociedade de mercado atual, que busca atender às

urgências do sujeito pragmático – dentre elas, o domínio da língua estrangeira. Postulamos que

a mídia exerce um papel fundamental na produção e repetição desses sentidos. Ao fazer circular

enunciados que interessam aos aparelhos que a dominam, ou seja, às escolas clientes e ao

próprio Estado, o discurso jornalístico contribui para a manutenção de modos de significação

hegemônicos, pautados na supremacia do falante nativo e na dimensão utilitária da língua

(materna ou estrangeira). Esse imaginário perpassa os dizeres dos sujeitos entrevistados,

evidenciando tanto seu caráter “factual” quanto sua perpetuação. Concluímos que tal

representação de língua como sistema e simples veículo de comunicação implica escamotear a

relação que o sujeito falante estabelece com a língua estrangeira, relação esta permeada por

conflitos e estranhamentos, determinantes no processo de inscrição e filiação a novas

discursividades nessa língua. Nosso objetivo, portanto, é investigar e problematizar a repetição

de “verdades” predominantes na mídia, a fim de contribuir para o deslocamento de já-ditos e

estereótipos sobre língua e identidade. Dessa forma, buscamos relacionar os pressupostos

teóricos da Análise de Discurso pecheutiana a estudos culturais e identitários, em um gesto de

interpretação que preconiza o campo da subjetividade nas práticas de ensino e aprendizagem de

língua estrangeira.

Palavras-chave: Ensino Bilíngue; Língua; Identidade.