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13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 ANÁLISE TEMPORAL DA MORFOLOGIA E PROCESSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO MÉDIO/BAIXO RIO ARAGUARI (MG). LEAL, Pedro Carignato Basilio 1 ; RODRIGUES, Silvio Carlos 2 ; RESUMO A racionalização do uso de recursos ecológicos, por vezes irracional e cega, também pode servir para se ordenar e planejar determinados territórios. Começa-se atualmente pensar o território de uma forma sistêmica, holística e, portanto, através de uma nova consciência ecológica. Considerando o avanço da fronteira agrícola e crescente processo de urbanização fez-se uma análise da interação das formas e processos em sistemas da Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio Araguari dos anos de 1973 e 2009. Para tanto, utilizou-se da Ecodinâmica, Ecologia Política e Sistemas de Informação Geográfica (SIGs). Percebeu-se a mudança de um meio relativamente estável para um meio fortemente instável. Nesse processo a ecologia e economia caminham separadas, apesar de não o ser em realidade. Este trabalho pode servir como fonte de informação para projeção de cenários e planejamentos. . ABSTRACT The management of the ecological resources, sometimes irrational, can provide the territorial planning of the space. Nowadays the tendency is taking into account the territory systemically and holistically, and therefore, with a new ecological awareness. Considering the expansion of the agricultural activities and the urbanization process, the issue of this paper was to make the analysis of the forms and process, in the River Basin Systems of the Medium/Lower Valley of Ararguari River, in 1973 and 2009. It was used the Ecodynamics and Political Ecology Methods, and Geographic Systems Information. It was noticed the change from a relatively stable to a highly unstable environment, and the separation of the political and ecological process. Finally, it is hoped that this paper contributes as an information source, in order to project future scenarios and planning projects. Palavras-chave: Ecodinâmica, SIG’s, Uso do Solo, Bacia Hidrográfica 1 Instituto Geológico; Av. Miguel Stéfano, 3.900, 04301-903, São Paulo SP; fone: (11) 5073-5511 R. 2015, [email protected]. 2 Universidade Federal de Uberlândia; Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1H - Sala1H16, 38408-100, Uberlândia – MG; fone: (34) 3239-4169, [email protected].

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13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

ANÁLISE TEMPORAL DA MORFOLOGIA E PROCESSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO MÉDIO/BAIXO RIO ARAGUARI (MG).

LEAL, Pedro Carignato Basilio1; RODRIGUES, Silvio Carlos2;

RESUMO

A racionalização do uso de recursos ecológicos, por vezes irracional e cega, também pode servir

para se ordenar e planejar determinados territórios. Começa-se atualmente pensar o território de

uma forma sistêmica, holística e, portanto, através de uma nova consciência ecológica.

Considerando o avanço da fronteira agrícola e crescente processo de urbanização fez-se uma

análise da interação das formas e processos em sistemas da Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo

Rio Araguari dos anos de 1973 e 2009. Para tanto, utilizou-se da Ecodinâmica, Ecologia Política e

Sistemas de Informação Geográfica (SIGs). Percebeu-se a mudança de um meio relativamente

estável para um meio fortemente instável. Nesse processo a ecologia e economia caminham

separadas, apesar de não o ser em realidade. Este trabalho pode servir como fonte de informação

para projeção de cenários e planejamentos.

.

ABSTRACT

The management of the ecological resources, sometimes irrational, can provide the territorial

planning of the space. Nowadays the tendency is taking into account the territory systemically and

holistically, and therefore, with a new ecological awareness. Considering the expansion of the

agricultural activities and the urbanization process, the issue of this paper was to make the

analysis of the forms and process, in the River Basin Systems of the Medium/Lower Valley of

Ararguari River, in 1973 and 2009. It was used the Ecodynamics and Political Ecology Methods,

and Geographic Systems Information. It was noticed the change from a relatively stable to a highly

unstable environment, and the separation of the political and ecological process. Finally, it is hoped

that this paper contributes as an information source, in order to project future scenarios and

planning projects.

Palavras-chave: Ecodinâmica, SIG’s, Uso do Solo, Bacia Hidrográfica

1 Instituto Geológico; Av. Miguel Stéfano, 3.900, 04301-903, São Paulo SP; fone: (11) 5073-5511 R. 2015,

[email protected].

2 Universidade Federal de Uberlândia; Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1H - Sala1H16, 38408-100, Uberlândia – MG; fone: (34) 3239-4169, [email protected].

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1- INTRODUÇÃO

A importância de um olhar sistêmico sobre a realidade se faz presente nos dias atuais a fim

de que ao se estudar uma unidade (bacia hidrográfica) não a desintegre da realidade total. A visão

cartesiana fragmentada dá lugar a uma visão holística. Com o aumento da urbanização e fronteira

agrícola, aumento da população do Triângulo Mineiro e as demandas pela utilização cada vez

maior da infraestrutura urbana, o planejamento do ordenamento territorial da expansão do urbano

e rural se faz necessário. A Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio Araguari é uma importante

bacia que drena e abastece o Triângulo Mineiro. Nesse sentido, as ações antrópicas e o uso da

terra dentro desse sistema natural influenciam na dinâmica ecologica dessa unidade territorial. A

conectividade entre os meios bióticos, abióticos e antrópicos dessa unidade territorial dependem

desse sistema ecológico. Compreender esta ecodinâmica propicia a melhor compreensão dessa

unidade territorial e possivelmente um melhor planejamento do ordenamento territorial do local e

região.

2- OBJETIVO

Identificar e caracterizar os diferentes usos e ocupação da terra em dois períodos nos

últimos 30 anos, correlacionando-os com os problemas ambientais recorrentes e ecologia política.

Auxiliado pelo instrumento de gestão SIG, informações para gestão (geoprocessamento), conceito

formas de Ecodinâmica e Ecologia Política, fazer uma análise da evolução do uso e ocupação da

terra dos anos de 1973 e 2009, da Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio Araguari.

3- CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

O Cerrado brasileiro está classificado como um tipo de bioma savanico. Warming na década

de 1960 defendia que o cerrado brasileiro ocorria em decorrência da sazonalidade marcante de tal

ambiente (CONTI; FURLAN, 2005). Porém, Rawitsher e Ferri na mesma década realizaram

pesquisas sobre a transpiração das plantas do cerrado e chegaram à conclusão de que as

mesmas não sofriam de déficit hídrico. A partir dessa pesquisa provou-se que os solos dos

cerrados brasileiros são úmidos apesar da sazonalidade, em contraponto com as savanas

africanas. Novas pesquisas surgiram para explicar o aparente xerofitismo (planta que se

desenvolve em região árida) dos cerrados e conclui-se que a composição dessa cobertura vegetal

é antes de tudo condicionada pelas queimadas e pelos solos muito antigos e pobres em nutrientes

(solos ácidos e extremamente pobres em bases trocáveis). As concentrações de alumínio também

permitem as trocas catiônicas (os principais cátions envolvidos nesta troca são o sódio, o cálcio e

o magnésio), que ajudam à regular o metabolismo nutricional das plantas. Os cerrados ocupam

em sua maioria terrenos planos com rios permanentes acompanhados por matas galerias e

buritizais. (CONTI; FURLAN, 2005).

A fitofisionomia do cerrado se caracteriza por haver árvores tortuosas e espaçadas, com

troncos de cortiça e folhagem coriácea e pilosa. As precipitações anuais são superiores a 1000

mm, onde estações secas e chuvosas são bem definidas (AB’SÁBER, 2003). As suas raízes são

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profundas podendo atingir mais de 15 m e essa adaptação se dá para retirada de água em

grandes profundidades (CONTI; FURLAN, 2005).

Apesar da baixa fertilidade do solo em relação à produção agrícola, as ocupações para

pastagem e monocultura no cerrado só fazem progredir a fronteira agrícola. Extensas áreas desse

domínio servem para a pecuária e também produção de grãos, especialmente soja (CONTI;

FURLAN, 2005). Nas três últimas décadas houveram grandes modificações em muitas áreas do

interior do Brasil. A urbanização e o avanço da fronteira agrícola desse período deram-se de

forma a modernizar e ampliar as cidades e campos para novas funções. “Essa mudanças

ocorreram, principalmente, devido à implantação de novas infra-estruturas viárias e energéticas,

além da descoberta de impensadas vocações dos solos regionais para atividades agrárias

rentáveis” (AB’SÁBER, 2003: 35).

A área de estudo está localizada em uma bacia hidrográfica do médio-baixo curso do Rio

Araguari em uma escala de 1: 250.000 e que compreende o complexo energético Amador Aguiar I

e II. Localizado entre as coordenadas 7.950.000 e 764.000 UTM e, 7.895.000 e 825.000 UTM, no

município de Uberlândia (figura 1). O Rio Araguari tem 475 Km de extensão nascendo na Parque

Nacional da Serra da Canastra e tendo sua foz no Rio Paranaíba (BACCARO; MEDEIROS;

FERREIRA; RODRIGUES, 2004). O domínio morfoclimático e fitogeográfico a qual pertence à

área estudada é o dos Chapadões recobertos por cerrados e penetrados por florestas-galerias

(AB’SABER, 1977).

4- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

4.1- Ecologia e Sistemas: conceitos para uma Ecodin âmica

Leff (2007) e Shiva (2006) nos ensinam que a origem do conceito ecologia deriva do

vocábulo grego oikos (casa) e logos (estudo). O sentido deste vocábulo para os gregos era o de

acesso a vida ou lugar onde de desenvolve a vida. Foi Ernst Haeckel, em 1869, que sistematizou

Figura 1 - Localização da área de estudo (sem escala).

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o conceito de ecologia designando-o como o estudo das relações entre os seres vivos e o

ambiente em que vivem.

Christofoletti (1999) diz da dificuldade da identificação do conjunto de fenômenos presentes

na realidade, seus atributos (variáveis) e suas relações, a fim de se estabelecer um sistema.

Trabalha-se aqui com um sistema ambiental físico que o mesmo autor apoiados em Forter,

Rapoport e Trucco, estabelecerá a organização e funcionalidade para caracterizá-lo. Portanto, a

caracterização que se faz do trecho da Bacia Hidrográfica do Médio-Baixo Rio Araguari é de um

sistema aberto e controlado. Chorley e Kennedy (1971) apud Christofoletti (1999) já anunciavam o

aspecto da conectividade do conjunto de fenômenos para se formar uma unidade e propõe uma

classificação estrutural. O sistema aberto pressupõe trocas constantes de energia e matéria e o

controlado trabalha com quatro categorias: I - análise morfológica de sistemas, II - análise dos

processos em sistemas, III - análise da interação formas e processos em sistemas e IV - avaliação

dos sistemas e atividades de planejamento (atuação antrópica).

Dentro dessa perspectiva a Política de Gestão dos Recursos Hídricos do Brasil estabelece trabalhar com unidade sistêmica ou unidade de paisagem (campo particular) que contemplem

bacias hidrográficas, visto que, a conectividade dentro dos componentes de uma bacia é muito

grande. “... Os rios devem ser examinados sob a ótica das bacias de drenagem, uma vez que

refletem a forma de uso do solo e sua dinâmica, além de considerar as dimensões temporal e

espacial” (CUNHA, 2003: 219).

Contudo o conceito de Ecologia somado a visão sistêmica dá base para, se não quantificar,

ao menos qualificar as interações entre os vários fenômenos e seres vivos no meio ambiente, ou

seja, estabelece base para a Ecodinâmica. Cada unidade é uma “entidade individualizada, única,

em sua ocorrência” (CHRISTOFOLETTI, 1999: 3) O conceito de Unidade Ecodinâmica pode ser

entendido como uma unidade que se caracteriza pela dinâmica do meio ambiente de um

ecossistema (ecótopos) influenciando em maior ou menor grau no conjunto de seres vivos do

mesmo (biocenoses). A mesma utiliza-se da Teoria Geral dos Sistemas e aborda as relações

mútuas entre os diversos componentes da dinâmica e os fluxos de energia e matéria no meio

ambiente (TRICART, 1977).

A proposta de Tricart estabelece ainda uma classificação ecodinâmica dos meios

ambientes, que são: meios estáveis, meios intergrades e os meios fortemente instáveis. Para o

autor a idéia de estabilidade está na interface atmosfera-litosfera, que por sua vez, geram

modelados (litologia, pedogênese, morfogênese, recursos ecológicos e clima) mais ou menos

lentos. “Esta noção de estabilidade aplica-se ao modelado à interface atmosfera-litosfera”

(TRICART, 1977: 35).

Os meios estáveis são aqueles de evolução lenta. São meios morfodinamicamente estáveis

e necessitam de certas condições, como: 1-cobertura vegetal densa para frear processos

mecânicos da morfogênese; 2-dissecação moderada, sem incisão violenta dos cursos d’água,

sem sapeamentos vigorosos dos rios, e vertentes de lenta evolução; 3-ausência de manifestações

vulcânicas suscetíveis de desencadear paroxismos morfodinâmicos de aspectos mais ou menos

catastróficos.

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Os meios intergrades são a transição de um meio estável para um meio instável. A evolução

é de cunho convencional já que a evolução da instabilidade ou estabilidade é um contínuo.

Interferem principalmente neste meio a morfogênese e a pedogênese em função de critérios

qualitativos e quantitativos. Os qualitativos se ligam apenas aos processos morfogênicos e os

quantitativos se dão no balanço entre morfogênese e pedogênese. Nesse último critério a

cobertura vegetal tem papel importante.

Os meios fortemente instáveis a interferência da morfogênese é predominante. Dentro do

sistema natural é ele que subordina todos os outros elementos. Nesse ambiente há uma

dissecação acelerada com incisão violenta de cursos d’água e com vertentes com rápida

evolução. Também podem ocorrer através de eventos catastróficos como manifestações

vulcânicas. Por outro lado, as condições meteorológicas extremas podem oferecer um grande

potencial energético. Somado a estas condições ainda se sobrepõem a degradação antrópica.

A preocupação de Jean Tricart é com a gestão dos recursos ecológicos. Pensar em gestão

dos recursos ecológicos pressupõe pensarmos o ordenamento e gestão territorial e ambiental. A

preocupação de Tricart se liga ao que Hegel chamou de “a base geográfica da história universal”.

O complexo biogeográfico que é composto a América Latina levaram esses autores a pensar a

mesma como um lugar de grande importância no futuro. “América es el país del porvenir. En

tiempos futuros se mostrará su importancia histórica...” (HEGEL, 1830 apud ROJAS, 2007). A

importância futura se dá pelo complexo biogeográfico que em primeiro lugar é base para o

desenvolvimento e reprodução da vida humana e em segundo é fonte para geração de

conhecimento. Confirma-se assim a função econômica, social e intelectual que ocupa tal

complexo.

4.2- Ecologia Política: bases e marcos para uma ges tão ambiental legal

Cunha e Coelho (2003) propõem uma periodização das políticas ambientais no Brasil a

partir de 1930 (século XX). Em cada período houveram políticas regulatórias, estruturadoras e

indutoras. As regulatórias são as normas e institutos legais (Código Florestal, Secretária do Meio

Ambiente) para regulamentação das políticas ambientais. As estruturadoras são estruturas

(Unidades de Conservação, reservas extrativistas) que são criadas para dar suporte e gerir as

políticas regulatórias. E as indutoras que não estão em normas mais persuadem a sociedade a fim

do bem comum (Agenda 21, certificação ambiental – ISO).

Cunha e Coelho (2003) se referem a novas políticas ambientais construídas através do

modelo de gestão ambiental participativa, entre elas está a Política Nacional dos Recursos

Hídricos. Através da Lei das Águas (Lei 9.433/1997) fundamentam-se os princípios básicos da

gestão dos recursos hídricos nacionais. É nesse contexto que surgem os Comitês de Bacias

Hidrográficas (regulado pelo Decreto 2.612/ 1998).

Ao saber que atualmente poucas áreas no planeta terra não passaram por essas práticas de

expressão espacial de políticas, então, é salutar a compreensão da dinâmica atual do uso e

ocupação da terra. Essa compreensão do que foi a unidade ecodinâmica e do que ela é, ajudará

na criação de cenários futuros. Não obstante, as leis do poder vigente orientam o planejamento

ambiental desse ordenamento territorial. Como observa Cunha (2003), as atividades antrópicas

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(construções de reservatórios e canalizações) realizadas nos rios podem alterar de várias formas

e escalas de intensidade o equilíbrio dinâmico da bacia hidrográfica.

4.3- USOS DA TERRA: Instrumentos de Gestão (SIGs), Geoprocessamento e

Classificação Supervisionada.

Da mesma forma que os procedimentos teórico-metodológicos (informações para gestão),

ao se trabalhar com sistemas naturais, não podem ser estáticos, da mesma forma, os

procedimentos operacionais (Instrumentos de gestão) também não podem seguir estas

características. A complexidade dos sistemas ambientais naturais estabelece ferramentas que

apoiem atividades e planejamentos também complexos. Os Sistemas de Informações Geográficas

(SIGs) cumprem essa tarefa dinâmica.

As imagens que foram utilizas para o trabalho foram as dos satélites LANDSAT 1 e 5

disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Utilizou-se a Imagem LANDSAT 1

de 14/07/1973 (resolução 80x80 metros) antes de qualquer barragem. E outra LANDSAT 5 de

29/04/2009 (resolução 30x30 metros) com as barragens do Complexo Energético Amador Aguiar.

O software utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi o Sistema de Processamento de

Informações Georreferenciadas (SPRING). A partir da base cartográfica pode-se georreferenciar

as imagens de satélite. Com as imagens georreferenciadas fez-se o recorte da mesma utilizando-

se o plano de informação contorno da bacia retirado do caderno de mapas do plano diretor da

bacia. Logo em seguida, o contraste da imagem foi alterado da operação linear para a operação mínimo/ máximo . Nesta operação a imagem se mostrou mais contrastada facilitando a detecção

de amostras na imagem no processo seguinte de Classificação Supervisionada .

Classificação Supervisionada: Tendo a Imagem processada e georreferenciada clicou-se

em Imagem na barra de ferramenta e selecionou-se a opção Classificação . Na janela

Classificação criar um Contexto em diretório previamente determinado. Na janela Criação de Contexto é necessário nomeá-lo , marcar em Tipo de Análise a opção Pixel e escolher as

bandas a serem analisadas. Clicar em executar e fechar. De volta a Janela Classificação

selecionar o Contexto criado e a partir daí fazer quatro processos: Treinamento , Classificação ,

Pós-Classificação e Mapeamento .

5- RESULTADOS

A Bacia Hidrográfica do Rio Araguari é um sistema aberto (trocas constantes de matéria e

energia) e controlado. Sendo assim, se analisará a morfologia e o processo do sistema, as

interações dessas formas e processos para, ao final fazermos uma avaliação e discussão do

sistema e possíveis atividades de planejamento (cenários).

Foram gerados dois mapas de uso da terra do médio/ baixo curso da Bacia do Rio Araguari

dos anos de 1973 e 2009 . As classes para as análises foram: Água; Pasto; Cultura: permanente/

temporária; Mata, floresta, cerrado e Urbano.

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No mapa de 1973 (mapa 1) é possível verificar um predomínio da classe mata (781.479

km²) em toda área da bacia hidrográfica. A classe pasto (259.186 km²) está localizada

predominantemente em áreas de relevo tabular, porém distribuídas também nos planaltos

dissecados e canyons do Araguari. Da mesma forma está a classe cultura (122.966 Km²) que

apesar de se concentrar em áreas de planaltos dissecados, se distribui em todas as outras

unidades morfoesculturais. A hidrografia constitui 21.396 km² da bacia e a área urbana (7.234

km²) aparece tímida do lado da cidade de Uberlândia e já bem perceptível na cidade de Araguari.

Mapa 1 - Uso da Terra 1973: Médio/Baixo Rio Araguari (sem escala).

Já em 2009 (mapa 2) prevalece o domínio da agropecuária. A área em mata (403.563 km²)

tem uma queda vertiginosa e, inclusive, é ultrapassada em área pela classe pasto (472.136 km²).

A cultura (226.998 km²) tem aumento de mais de 100 Km² e sofre mudança no padrão de

ocorrência. Vê-se que a mesma sobe para os relevos tabulares, onde a nordeste do Rio Araguari

há predomínio de plantação de café. Nesse mapa atual fica evidente a relação entre

morfoescultura e o uso da terra, onde: cultura coincide com planos tabulares; pasto com planaltos

dissecados e mata com canyons do Araguari, planícies fluviais e veredas. Em 2004, houve a

instalação do Complexo Energético Amador Aguiar que acabou por alterar a hidrografia (57.102

km²) aumentando a área do rio em mais de duas vezes. Por fim, a área urbana (32.462 km²) tem

sua área aumentada em quase quatro vezes. Ao norte tem-se o crescimento da cidade de

Araguari e ao Sul o crescimento de Uberlândia.

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Mapa 2 - Uso da Terra 2009: Médio/Baixo Rio Araguari (sem escala).

6- DISCUSSÃO

A Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio Araguari é uma unidade territorial de estudo onde

foi possível verificar a dinâmica do meio ambiente de tal ecossistema. As informações obtidas na

ecologia política e na confecção de mapas foram utilizadas para a compreensão e sistematização

dessa dinâmica.

Gráfico 1 - Uso da Terra entre 1973 a 2009.

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Os resultados obtidos mostram na década de 1970 já um meio intergrade onde a

morfodinâmica já é vista em evolução continua, com a cultura de subsistência e inicio do processo

da pecuária extensiva. Para confirmar este fato se vê uma cobertura vegetal densa, porém com

grandes partes desmatadas que não freiam processos mecânicos da morfogênese.

Provavelmente essa mesma cobertura realizasse uma dissecação não moderada, já com algumas

incisões violenta dos cursos d’água, iniciando pequenos sapeamentos dos rios, e vertentes de

continua evolução. Dentro da periodização das políticas ambientais no Brasil essa década se

encontra em um período onde predominam políticas regulatórias e estruturadoras, porém sob a

luz de uma crise ecológica anunciada que vai de encontro com as políticas de desenvolvimento

econômico (“milagre econômico”). Não é possível notar ainda suas consequências imediatas.

Na década de 2000 é claramente uma situação de meio fortemente instável. A pecuária

passa em área a mata e, a cultura sobe vertiginosamente. Sem a cobertura vegetal a

morfogênese se intensifica e a dissecação é acelerada com incisão violenta de cursos d’água e

vertentes com rápida evolução. Por sua vez, o clima sazonal influencia nessa rápida evolução, já

que resseca o terreno ao longo de quatro a seis meses do ano para depois vir com as fortes

pancadas de chuva oferecendo grande potencial energético. Além do que, ainda há a ação

antrópica na construção de estradas, extração de terra, agricultura, pecuária, retirada de áreas de

proteção permanente e finalmente a construção das barragens do complexo Amador Aguiar I e II.

Observa-se que mesmo com as políticas regulatórias e estruturadoras como é a Lei de

Águas, a criação da Agência Nacional das Águas, IBAMA, Ministério/ secretarias do meio

ambiente, leis ambientais que estabelecem normas e também políticas indutoras como agenda

21, metas para o próximo milênio, etc; não se conseguiu manter a área de estudo preservada

como um meio estável. Talvez a culpa possa ser atribuída a Constituição por não atribuir o

cerrado como patrimônio nacional a ser protegido, porém na esfera estadual mineira tampouco há

uma preocupação com tal fato. Fatos assim podem ser explicados ou pela ganância ou

ignorância.

Os indicadores de degradação de uma bacia hidrográfica podem ser observados através de

feições embutidas na paisagem (Cunha, 2003). Na área de estudo é possível encontrar pelo

menos dois grandes indicadores de degradação do rio Araguari e seus canais. O primeiro é

relacionado ao barramento do rio que traz perdas irreparáveis ao meio físico, biológico e

antrópico. E o segundo é o desmatamento de matas ciliares (galerias) para a pecuária e cultura.

Além do mais a supressão da vegetação quebra o equilíbrio entre solo, água e vegetação

invariavelmente ocasionando erosão hídrica. Essas transferências aceleradas de fluxos de

matérias e energia ocasionam perda da produtividade agrícola e quando o processo erosivo está

conectado a uma rede hidrográfica ainda se corre o risco de assoreamento de canais.

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como objetivo identificar e caracterizar os diferentes usos e ocupação da

terra em dois períodos distintos (1973 e 2009) na Bacia Hidrográfica do Médio/Baixo Rio Araguari,

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correlacionando-os com os problemas ambientais recorrentes e ecologia política. A escala de

estudo média (1:250.000) faz figurar fatores gerais em detrimento dos particulares.

Nesse contexto o auxilio do instrumento de gestão SIG, informações para gestão

(geoprocessamento), conceito de Ecodinâmica e Ecologia Política; foram fundamentais para fazer

uma análise da evolução do uso e ocupação da terra de 1973 a 2009 da Bacia Hidrográfica do

Médio/ Baixo Rio Araguari. Esse trabalho poderia ser ampliado com maior resolução temporal e

também com a criação de cenários futuros para o planejamento ambiental da área.

A tentativa de integrar este estudo de campo particular (unidade territorial) a realidade total

também foi importante para a compreensão de como a Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio

Araguari contribui para constituição do sistema-mundo.

REFERÊNCIAS

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4ª Ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

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L. S. Geografia do Brasil – 5ªed. Ver. E ampl. – São Paulo: Editora da Universidade de São

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-TRICART, Jean. Ecodinâmica . Rio de Janeiro, IBGE, Diretoria técnica, SUPREN, 1977. 97p.