LEAL&RODRIGUES_13CBGE
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13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1
ANÁLISE TEMPORAL DA MORFOLOGIA E PROCESSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO MÉDIO/BAIXO RIO ARAGUARI (MG).
LEAL, Pedro Carignato Basilio1; RODRIGUES, Silvio Carlos2;
RESUMO
A racionalização do uso de recursos ecológicos, por vezes irracional e cega, também pode servir
para se ordenar e planejar determinados territórios. Começa-se atualmente pensar o território de
uma forma sistêmica, holística e, portanto, através de uma nova consciência ecológica.
Considerando o avanço da fronteira agrícola e crescente processo de urbanização fez-se uma
análise da interação das formas e processos em sistemas da Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo
Rio Araguari dos anos de 1973 e 2009. Para tanto, utilizou-se da Ecodinâmica, Ecologia Política e
Sistemas de Informação Geográfica (SIGs). Percebeu-se a mudança de um meio relativamente
estável para um meio fortemente instável. Nesse processo a ecologia e economia caminham
separadas, apesar de não o ser em realidade. Este trabalho pode servir como fonte de informação
para projeção de cenários e planejamentos.
.
ABSTRACT
The management of the ecological resources, sometimes irrational, can provide the territorial
planning of the space. Nowadays the tendency is taking into account the territory systemically and
holistically, and therefore, with a new ecological awareness. Considering the expansion of the
agricultural activities and the urbanization process, the issue of this paper was to make the
analysis of the forms and process, in the River Basin Systems of the Medium/Lower Valley of
Ararguari River, in 1973 and 2009. It was used the Ecodynamics and Political Ecology Methods,
and Geographic Systems Information. It was noticed the change from a relatively stable to a highly
unstable environment, and the separation of the political and ecological process. Finally, it is hoped
that this paper contributes as an information source, in order to project future scenarios and
planning projects.
Palavras-chave: Ecodinâmica, SIG’s, Uso do Solo, Bacia Hidrográfica
1 Instituto Geológico; Av. Miguel Stéfano, 3.900, 04301-903, São Paulo SP; fone: (11) 5073-5511 R. 2015,
2 Universidade Federal de Uberlândia; Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1H - Sala1H16, 38408-100, Uberlândia – MG; fone: (34) 3239-4169, [email protected].
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2
1- INTRODUÇÃO
A importância de um olhar sistêmico sobre a realidade se faz presente nos dias atuais a fim
de que ao se estudar uma unidade (bacia hidrográfica) não a desintegre da realidade total. A visão
cartesiana fragmentada dá lugar a uma visão holística. Com o aumento da urbanização e fronteira
agrícola, aumento da população do Triângulo Mineiro e as demandas pela utilização cada vez
maior da infraestrutura urbana, o planejamento do ordenamento territorial da expansão do urbano
e rural se faz necessário. A Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio Araguari é uma importante
bacia que drena e abastece o Triângulo Mineiro. Nesse sentido, as ações antrópicas e o uso da
terra dentro desse sistema natural influenciam na dinâmica ecologica dessa unidade territorial. A
conectividade entre os meios bióticos, abióticos e antrópicos dessa unidade territorial dependem
desse sistema ecológico. Compreender esta ecodinâmica propicia a melhor compreensão dessa
unidade territorial e possivelmente um melhor planejamento do ordenamento territorial do local e
região.
2- OBJETIVO
Identificar e caracterizar os diferentes usos e ocupação da terra em dois períodos nos
últimos 30 anos, correlacionando-os com os problemas ambientais recorrentes e ecologia política.
Auxiliado pelo instrumento de gestão SIG, informações para gestão (geoprocessamento), conceito
formas de Ecodinâmica e Ecologia Política, fazer uma análise da evolução do uso e ocupação da
terra dos anos de 1973 e 2009, da Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio Araguari.
3- CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
O Cerrado brasileiro está classificado como um tipo de bioma savanico. Warming na década
de 1960 defendia que o cerrado brasileiro ocorria em decorrência da sazonalidade marcante de tal
ambiente (CONTI; FURLAN, 2005). Porém, Rawitsher e Ferri na mesma década realizaram
pesquisas sobre a transpiração das plantas do cerrado e chegaram à conclusão de que as
mesmas não sofriam de déficit hídrico. A partir dessa pesquisa provou-se que os solos dos
cerrados brasileiros são úmidos apesar da sazonalidade, em contraponto com as savanas
africanas. Novas pesquisas surgiram para explicar o aparente xerofitismo (planta que se
desenvolve em região árida) dos cerrados e conclui-se que a composição dessa cobertura vegetal
é antes de tudo condicionada pelas queimadas e pelos solos muito antigos e pobres em nutrientes
(solos ácidos e extremamente pobres em bases trocáveis). As concentrações de alumínio também
permitem as trocas catiônicas (os principais cátions envolvidos nesta troca são o sódio, o cálcio e
o magnésio), que ajudam à regular o metabolismo nutricional das plantas. Os cerrados ocupam
em sua maioria terrenos planos com rios permanentes acompanhados por matas galerias e
buritizais. (CONTI; FURLAN, 2005).
A fitofisionomia do cerrado se caracteriza por haver árvores tortuosas e espaçadas, com
troncos de cortiça e folhagem coriácea e pilosa. As precipitações anuais são superiores a 1000
mm, onde estações secas e chuvosas são bem definidas (AB’SÁBER, 2003). As suas raízes são
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3
profundas podendo atingir mais de 15 m e essa adaptação se dá para retirada de água em
grandes profundidades (CONTI; FURLAN, 2005).
Apesar da baixa fertilidade do solo em relação à produção agrícola, as ocupações para
pastagem e monocultura no cerrado só fazem progredir a fronteira agrícola. Extensas áreas desse
domínio servem para a pecuária e também produção de grãos, especialmente soja (CONTI;
FURLAN, 2005). Nas três últimas décadas houveram grandes modificações em muitas áreas do
interior do Brasil. A urbanização e o avanço da fronteira agrícola desse período deram-se de
forma a modernizar e ampliar as cidades e campos para novas funções. “Essa mudanças
ocorreram, principalmente, devido à implantação de novas infra-estruturas viárias e energéticas,
além da descoberta de impensadas vocações dos solos regionais para atividades agrárias
rentáveis” (AB’SÁBER, 2003: 35).
A área de estudo está localizada em uma bacia hidrográfica do médio-baixo curso do Rio
Araguari em uma escala de 1: 250.000 e que compreende o complexo energético Amador Aguiar I
e II. Localizado entre as coordenadas 7.950.000 e 764.000 UTM e, 7.895.000 e 825.000 UTM, no
município de Uberlândia (figura 1). O Rio Araguari tem 475 Km de extensão nascendo na Parque
Nacional da Serra da Canastra e tendo sua foz no Rio Paranaíba (BACCARO; MEDEIROS;
FERREIRA; RODRIGUES, 2004). O domínio morfoclimático e fitogeográfico a qual pertence à
área estudada é o dos Chapadões recobertos por cerrados e penetrados por florestas-galerias
(AB’SABER, 1977).
4- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
4.1- Ecologia e Sistemas: conceitos para uma Ecodin âmica
Leff (2007) e Shiva (2006) nos ensinam que a origem do conceito ecologia deriva do
vocábulo grego oikos (casa) e logos (estudo). O sentido deste vocábulo para os gregos era o de
acesso a vida ou lugar onde de desenvolve a vida. Foi Ernst Haeckel, em 1869, que sistematizou
Figura 1 - Localização da área de estudo (sem escala).
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4
o conceito de ecologia designando-o como o estudo das relações entre os seres vivos e o
ambiente em que vivem.
Christofoletti (1999) diz da dificuldade da identificação do conjunto de fenômenos presentes
na realidade, seus atributos (variáveis) e suas relações, a fim de se estabelecer um sistema.
Trabalha-se aqui com um sistema ambiental físico que o mesmo autor apoiados em Forter,
Rapoport e Trucco, estabelecerá a organização e funcionalidade para caracterizá-lo. Portanto, a
caracterização que se faz do trecho da Bacia Hidrográfica do Médio-Baixo Rio Araguari é de um
sistema aberto e controlado. Chorley e Kennedy (1971) apud Christofoletti (1999) já anunciavam o
aspecto da conectividade do conjunto de fenômenos para se formar uma unidade e propõe uma
classificação estrutural. O sistema aberto pressupõe trocas constantes de energia e matéria e o
controlado trabalha com quatro categorias: I - análise morfológica de sistemas, II - análise dos
processos em sistemas, III - análise da interação formas e processos em sistemas e IV - avaliação
dos sistemas e atividades de planejamento (atuação antrópica).
Dentro dessa perspectiva a Política de Gestão dos Recursos Hídricos do Brasil estabelece trabalhar com unidade sistêmica ou unidade de paisagem (campo particular) que contemplem
bacias hidrográficas, visto que, a conectividade dentro dos componentes de uma bacia é muito
grande. “... Os rios devem ser examinados sob a ótica das bacias de drenagem, uma vez que
refletem a forma de uso do solo e sua dinâmica, além de considerar as dimensões temporal e
espacial” (CUNHA, 2003: 219).
Contudo o conceito de Ecologia somado a visão sistêmica dá base para, se não quantificar,
ao menos qualificar as interações entre os vários fenômenos e seres vivos no meio ambiente, ou
seja, estabelece base para a Ecodinâmica. Cada unidade é uma “entidade individualizada, única,
em sua ocorrência” (CHRISTOFOLETTI, 1999: 3) O conceito de Unidade Ecodinâmica pode ser
entendido como uma unidade que se caracteriza pela dinâmica do meio ambiente de um
ecossistema (ecótopos) influenciando em maior ou menor grau no conjunto de seres vivos do
mesmo (biocenoses). A mesma utiliza-se da Teoria Geral dos Sistemas e aborda as relações
mútuas entre os diversos componentes da dinâmica e os fluxos de energia e matéria no meio
ambiente (TRICART, 1977).
A proposta de Tricart estabelece ainda uma classificação ecodinâmica dos meios
ambientes, que são: meios estáveis, meios intergrades e os meios fortemente instáveis. Para o
autor a idéia de estabilidade está na interface atmosfera-litosfera, que por sua vez, geram
modelados (litologia, pedogênese, morfogênese, recursos ecológicos e clima) mais ou menos
lentos. “Esta noção de estabilidade aplica-se ao modelado à interface atmosfera-litosfera”
(TRICART, 1977: 35).
Os meios estáveis são aqueles de evolução lenta. São meios morfodinamicamente estáveis
e necessitam de certas condições, como: 1-cobertura vegetal densa para frear processos
mecânicos da morfogênese; 2-dissecação moderada, sem incisão violenta dos cursos d’água,
sem sapeamentos vigorosos dos rios, e vertentes de lenta evolução; 3-ausência de manifestações
vulcânicas suscetíveis de desencadear paroxismos morfodinâmicos de aspectos mais ou menos
catastróficos.
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5
Os meios intergrades são a transição de um meio estável para um meio instável. A evolução
é de cunho convencional já que a evolução da instabilidade ou estabilidade é um contínuo.
Interferem principalmente neste meio a morfogênese e a pedogênese em função de critérios
qualitativos e quantitativos. Os qualitativos se ligam apenas aos processos morfogênicos e os
quantitativos se dão no balanço entre morfogênese e pedogênese. Nesse último critério a
cobertura vegetal tem papel importante.
Os meios fortemente instáveis a interferência da morfogênese é predominante. Dentro do
sistema natural é ele que subordina todos os outros elementos. Nesse ambiente há uma
dissecação acelerada com incisão violenta de cursos d’água e com vertentes com rápida
evolução. Também podem ocorrer através de eventos catastróficos como manifestações
vulcânicas. Por outro lado, as condições meteorológicas extremas podem oferecer um grande
potencial energético. Somado a estas condições ainda se sobrepõem a degradação antrópica.
A preocupação de Jean Tricart é com a gestão dos recursos ecológicos. Pensar em gestão
dos recursos ecológicos pressupõe pensarmos o ordenamento e gestão territorial e ambiental. A
preocupação de Tricart se liga ao que Hegel chamou de “a base geográfica da história universal”.
O complexo biogeográfico que é composto a América Latina levaram esses autores a pensar a
mesma como um lugar de grande importância no futuro. “América es el país del porvenir. En
tiempos futuros se mostrará su importancia histórica...” (HEGEL, 1830 apud ROJAS, 2007). A
importância futura se dá pelo complexo biogeográfico que em primeiro lugar é base para o
desenvolvimento e reprodução da vida humana e em segundo é fonte para geração de
conhecimento. Confirma-se assim a função econômica, social e intelectual que ocupa tal
complexo.
4.2- Ecologia Política: bases e marcos para uma ges tão ambiental legal
Cunha e Coelho (2003) propõem uma periodização das políticas ambientais no Brasil a
partir de 1930 (século XX). Em cada período houveram políticas regulatórias, estruturadoras e
indutoras. As regulatórias são as normas e institutos legais (Código Florestal, Secretária do Meio
Ambiente) para regulamentação das políticas ambientais. As estruturadoras são estruturas
(Unidades de Conservação, reservas extrativistas) que são criadas para dar suporte e gerir as
políticas regulatórias. E as indutoras que não estão em normas mais persuadem a sociedade a fim
do bem comum (Agenda 21, certificação ambiental – ISO).
Cunha e Coelho (2003) se referem a novas políticas ambientais construídas através do
modelo de gestão ambiental participativa, entre elas está a Política Nacional dos Recursos
Hídricos. Através da Lei das Águas (Lei 9.433/1997) fundamentam-se os princípios básicos da
gestão dos recursos hídricos nacionais. É nesse contexto que surgem os Comitês de Bacias
Hidrográficas (regulado pelo Decreto 2.612/ 1998).
Ao saber que atualmente poucas áreas no planeta terra não passaram por essas práticas de
expressão espacial de políticas, então, é salutar a compreensão da dinâmica atual do uso e
ocupação da terra. Essa compreensão do que foi a unidade ecodinâmica e do que ela é, ajudará
na criação de cenários futuros. Não obstante, as leis do poder vigente orientam o planejamento
ambiental desse ordenamento territorial. Como observa Cunha (2003), as atividades antrópicas
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6
(construções de reservatórios e canalizações) realizadas nos rios podem alterar de várias formas
e escalas de intensidade o equilíbrio dinâmico da bacia hidrográfica.
4.3- USOS DA TERRA: Instrumentos de Gestão (SIGs), Geoprocessamento e
Classificação Supervisionada.
Da mesma forma que os procedimentos teórico-metodológicos (informações para gestão),
ao se trabalhar com sistemas naturais, não podem ser estáticos, da mesma forma, os
procedimentos operacionais (Instrumentos de gestão) também não podem seguir estas
características. A complexidade dos sistemas ambientais naturais estabelece ferramentas que
apoiem atividades e planejamentos também complexos. Os Sistemas de Informações Geográficas
(SIGs) cumprem essa tarefa dinâmica.
As imagens que foram utilizas para o trabalho foram as dos satélites LANDSAT 1 e 5
disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Utilizou-se a Imagem LANDSAT 1
de 14/07/1973 (resolução 80x80 metros) antes de qualquer barragem. E outra LANDSAT 5 de
29/04/2009 (resolução 30x30 metros) com as barragens do Complexo Energético Amador Aguiar.
O software utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi o Sistema de Processamento de
Informações Georreferenciadas (SPRING). A partir da base cartográfica pode-se georreferenciar
as imagens de satélite. Com as imagens georreferenciadas fez-se o recorte da mesma utilizando-
se o plano de informação contorno da bacia retirado do caderno de mapas do plano diretor da
bacia. Logo em seguida, o contraste da imagem foi alterado da operação linear para a operação mínimo/ máximo . Nesta operação a imagem se mostrou mais contrastada facilitando a detecção
de amostras na imagem no processo seguinte de Classificação Supervisionada .
Classificação Supervisionada: Tendo a Imagem processada e georreferenciada clicou-se
em Imagem na barra de ferramenta e selecionou-se a opção Classificação . Na janela
Classificação criar um Contexto em diretório previamente determinado. Na janela Criação de Contexto é necessário nomeá-lo , marcar em Tipo de Análise a opção Pixel e escolher as
bandas a serem analisadas. Clicar em executar e fechar. De volta a Janela Classificação
selecionar o Contexto criado e a partir daí fazer quatro processos: Treinamento , Classificação ,
Pós-Classificação e Mapeamento .
5- RESULTADOS
A Bacia Hidrográfica do Rio Araguari é um sistema aberto (trocas constantes de matéria e
energia) e controlado. Sendo assim, se analisará a morfologia e o processo do sistema, as
interações dessas formas e processos para, ao final fazermos uma avaliação e discussão do
sistema e possíveis atividades de planejamento (cenários).
Foram gerados dois mapas de uso da terra do médio/ baixo curso da Bacia do Rio Araguari
dos anos de 1973 e 2009 . As classes para as análises foram: Água; Pasto; Cultura: permanente/
temporária; Mata, floresta, cerrado e Urbano.
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No mapa de 1973 (mapa 1) é possível verificar um predomínio da classe mata (781.479
km²) em toda área da bacia hidrográfica. A classe pasto (259.186 km²) está localizada
predominantemente em áreas de relevo tabular, porém distribuídas também nos planaltos
dissecados e canyons do Araguari. Da mesma forma está a classe cultura (122.966 Km²) que
apesar de se concentrar em áreas de planaltos dissecados, se distribui em todas as outras
unidades morfoesculturais. A hidrografia constitui 21.396 km² da bacia e a área urbana (7.234
km²) aparece tímida do lado da cidade de Uberlândia e já bem perceptível na cidade de Araguari.
Mapa 1 - Uso da Terra 1973: Médio/Baixo Rio Araguari (sem escala).
Já em 2009 (mapa 2) prevalece o domínio da agropecuária. A área em mata (403.563 km²)
tem uma queda vertiginosa e, inclusive, é ultrapassada em área pela classe pasto (472.136 km²).
A cultura (226.998 km²) tem aumento de mais de 100 Km² e sofre mudança no padrão de
ocorrência. Vê-se que a mesma sobe para os relevos tabulares, onde a nordeste do Rio Araguari
há predomínio de plantação de café. Nesse mapa atual fica evidente a relação entre
morfoescultura e o uso da terra, onde: cultura coincide com planos tabulares; pasto com planaltos
dissecados e mata com canyons do Araguari, planícies fluviais e veredas. Em 2004, houve a
instalação do Complexo Energético Amador Aguiar que acabou por alterar a hidrografia (57.102
km²) aumentando a área do rio em mais de duas vezes. Por fim, a área urbana (32.462 km²) tem
sua área aumentada em quase quatro vezes. Ao norte tem-se o crescimento da cidade de
Araguari e ao Sul o crescimento de Uberlândia.
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Mapa 2 - Uso da Terra 2009: Médio/Baixo Rio Araguari (sem escala).
6- DISCUSSÃO
A Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio Araguari é uma unidade territorial de estudo onde
foi possível verificar a dinâmica do meio ambiente de tal ecossistema. As informações obtidas na
ecologia política e na confecção de mapas foram utilizadas para a compreensão e sistematização
dessa dinâmica.
Gráfico 1 - Uso da Terra entre 1973 a 2009.
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 9
Os resultados obtidos mostram na década de 1970 já um meio intergrade onde a
morfodinâmica já é vista em evolução continua, com a cultura de subsistência e inicio do processo
da pecuária extensiva. Para confirmar este fato se vê uma cobertura vegetal densa, porém com
grandes partes desmatadas que não freiam processos mecânicos da morfogênese.
Provavelmente essa mesma cobertura realizasse uma dissecação não moderada, já com algumas
incisões violenta dos cursos d’água, iniciando pequenos sapeamentos dos rios, e vertentes de
continua evolução. Dentro da periodização das políticas ambientais no Brasil essa década se
encontra em um período onde predominam políticas regulatórias e estruturadoras, porém sob a
luz de uma crise ecológica anunciada que vai de encontro com as políticas de desenvolvimento
econômico (“milagre econômico”). Não é possível notar ainda suas consequências imediatas.
Na década de 2000 é claramente uma situação de meio fortemente instável. A pecuária
passa em área a mata e, a cultura sobe vertiginosamente. Sem a cobertura vegetal a
morfogênese se intensifica e a dissecação é acelerada com incisão violenta de cursos d’água e
vertentes com rápida evolução. Por sua vez, o clima sazonal influencia nessa rápida evolução, já
que resseca o terreno ao longo de quatro a seis meses do ano para depois vir com as fortes
pancadas de chuva oferecendo grande potencial energético. Além do que, ainda há a ação
antrópica na construção de estradas, extração de terra, agricultura, pecuária, retirada de áreas de
proteção permanente e finalmente a construção das barragens do complexo Amador Aguiar I e II.
Observa-se que mesmo com as políticas regulatórias e estruturadoras como é a Lei de
Águas, a criação da Agência Nacional das Águas, IBAMA, Ministério/ secretarias do meio
ambiente, leis ambientais que estabelecem normas e também políticas indutoras como agenda
21, metas para o próximo milênio, etc; não se conseguiu manter a área de estudo preservada
como um meio estável. Talvez a culpa possa ser atribuída a Constituição por não atribuir o
cerrado como patrimônio nacional a ser protegido, porém na esfera estadual mineira tampouco há
uma preocupação com tal fato. Fatos assim podem ser explicados ou pela ganância ou
ignorância.
Os indicadores de degradação de uma bacia hidrográfica podem ser observados através de
feições embutidas na paisagem (Cunha, 2003). Na área de estudo é possível encontrar pelo
menos dois grandes indicadores de degradação do rio Araguari e seus canais. O primeiro é
relacionado ao barramento do rio que traz perdas irreparáveis ao meio físico, biológico e
antrópico. E o segundo é o desmatamento de matas ciliares (galerias) para a pecuária e cultura.
Além do mais a supressão da vegetação quebra o equilíbrio entre solo, água e vegetação
invariavelmente ocasionando erosão hídrica. Essas transferências aceleradas de fluxos de
matérias e energia ocasionam perda da produtividade agrícola e quando o processo erosivo está
conectado a uma rede hidrográfica ainda se corre o risco de assoreamento de canais.
7- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo identificar e caracterizar os diferentes usos e ocupação da
terra em dois períodos distintos (1973 e 2009) na Bacia Hidrográfica do Médio/Baixo Rio Araguari,
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental
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correlacionando-os com os problemas ambientais recorrentes e ecologia política. A escala de
estudo média (1:250.000) faz figurar fatores gerais em detrimento dos particulares.
Nesse contexto o auxilio do instrumento de gestão SIG, informações para gestão
(geoprocessamento), conceito de Ecodinâmica e Ecologia Política; foram fundamentais para fazer
uma análise da evolução do uso e ocupação da terra de 1973 a 2009 da Bacia Hidrográfica do
Médio/ Baixo Rio Araguari. Esse trabalho poderia ser ampliado com maior resolução temporal e
também com a criação de cenários futuros para o planejamento ambiental da área.
A tentativa de integrar este estudo de campo particular (unidade territorial) a realidade total
também foi importante para a compreensão de como a Bacia Hidrográfica do Médio/ Baixo Rio
Araguari contribui para constituição do sistema-mundo.
REFERÊNCIAS
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4ª Ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
- CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais . 1ª Ed. – São Paulo: Edgard
Blücher, 1999.
- CONTI, José B; FURLAN, Sueli A. Geoecologia – o clima, os solos e a biota. In: ROSS, Jurandyr
L. S. Geografia do Brasil – 5ªed. Ver. E ampl. – São Paulo: Editora da Universidade de São
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Uberlândia/ Instituto de Geografia; Brasília: CNPq, 2004.
- MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 3ª edição, 1969.
- RODRIGUES, Silvio C. OLIVEIRA, Paula C. A. de. Programa de Registro do Patrimônio
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- ROSS, Jurandyr L. S. Geomorfologia: ambiente e planejamento . 8ª Ed – São Paulo: Contexto,
2005.
- SILVA, Ardemirio de B. Sistemas de Informações Geo-referenciadas: conceitos e
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-TRICART, Jean. Ecodinâmica . Rio de Janeiro, IBGE, Diretoria técnica, SUPREN, 1977. 97p.