le paysage c´est comme un visage - isadora bellavinha

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  • 7/26/2019 le paysage cest comme un visage - isadora bellavinha

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    Le Paysage cest comme un visage

    A relao entre indivduo e paisagem de extrema porosidade, seja na natureza

    desrtica ou no caos urbano. Essa membrana fluida do sujeito e do espao faz com que a

    troca entre essas dimenses opere significativas modulaes e mutaes nesses copos !"umano e espacial. # possvel tecer din$micas extremamente particulares e idiossincr%ticas

    na experi&ncia de paisageisao 'e tambm de auto(paisageisao), no entanto, comum !

    e parece corresponder ainda mais *s necessidades do sistema capitalista ! a predomin$ncia

    de uma relao est%tica e facilmente identific%vel entre eu e +meu lugar, eu e +meu rosto.

    -as metrpoles e cidades grandes, onde o sistema monet%rio e o caldeiro cultural

    instauram seus principais polos, a tenso entre os indivduos, as paisagens e esses

    +agenciamentos de poder/! a mdia, a ordem de consumo, a poltica, a cultura, a lngua !

    atinge seu cume. -um movimento cada vez mais alienante, esses sistemas enrijecem o

    quanto podem os rostos e paisagens que os integram, colando determinada face *

    determinada geografia, determinado ol"ar a determinada identidade.

    # impossvel escapar a esses agenciamentos de poder, ns +nascemos dentro deles e

    dentro dele que devemos nos debater. -o "% possibilidade de se voltar a um estado

    primitivo onde no "aja mil"es de rostos, paisagens e padres comportamentais

    compostos e impostos culturalmente0 onde no se impere um movimento solidificador e

    ordenador das identidades culturais que transforma cada semel"ana num car%ter tribal,cada diferena num abismo identit%rio. A questo colocada por 1eleuze e 2uatarri no

    ensaio Ano Zero: Rostidade exatamente como operar dentro dessas condies

    determinantes, como "abitar a imagem, "abitar a paisagem a partir de desvios e

    deslocamentos que impedem a captura absoluta, de um corpo absoluto, numa paisagem

    absoluta. 3omo transitar sem fixar morada.

    4ic"el 3ollot, a partir da fenomenologia da percepo de 4erleau(5ont6, coloca

    que +a paisagem definida do ponto de vista a partir do qual ela examinada, portanto,

    faz parte da sua condio mesma de exist&ncia a atividade constituinte do sujeito. -essa

    solidariedade entre paisagem percebida e sujeito perceptivo, +o sujeito se confunde com seu

    11E7E89E, 2illes0 28A:A;;. v. :rad.Aurlio 2uerra -eto, Ana 7?cia de @liveira0 7?cia 3l%udia 7eo e uel6 ;olniB. ;io de CaneiroDEditora >. /FFG, p. H.

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    "orizonte e se define como ser(no(mundoH.

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    Oue bronzeadoP 5or onde tem andadoQ -a ;?ssia. @ndeQ Silncio. Em7eningrado. Eles so legaisQFelicidade. Eles so como qualquer um. :em vistoos 1uperrets ultimamenteQ Eu os vi momentaneamente, perto de 2are t(7azare. verdade embora auelas !essoas nunca con"e#am umas as outras. E ascrianas, vo bemQ Ro bem.Palavras nunca di$em o ue eu uero realmentedi$er. Elas so boas, mas no so comportadas.%u es!ero& eu observo.

    -a loja de roupas o entrelaamento de discursos tambm ocorre. 1essa vez Culiette se voltaa todo tempo para a c$mera enquanto busca saias, blusas, vestidos. A fala se mistura a

    perguntas contextuais dirigidas *s vendedoras, coment%rios das mesmas, cria(se uma

    estran"a "armonia na disson$ncia ( como a cidade. As prprias atendentes ol"am

    diretamente para o espectador e afirmam seus rostos ! dizem de onde so, o que fazem,

    fixam uma identidade de modo quase estreo, como se isso as encerrassem enquanto

    indivduosD

    Eu posso falar. Ento vamos falar juntos. Cunto uma palavra que eu gosto, juntosignifica mil"ares de pessoas, talvez uma cidade inteira. -ingum sabe como acidade do futuro ser%. 5arte do sentido que teve uma vez ser% indubitavelmente

    perdida. em d?vida. :alvez. @s papis criativos e formativos da cidade serofeitos por outras formas de comunicao. I...J Ainda -en"um almoo e so tr&s"oras. Seteress"et(land azul marin"o. 8ma nova linguagem necess%ria. Eu melevantei *s oito da man". Eu ten"o ol"os cor de avel. Eu posso provar esteQ3laro. Tranco vai te cair bem. Roc& ode guardar pra mimQ im mas s at *s seis.# por isso que meus sentimentos nunca t&m um objeto especfico. 1esejo, porexemplo. Us vezes se sabe o que deseja, outras no. Rolto *s seis.

    @s rostos endurecidos da cidade vo sendo apresentados aos poucos, sempre em

    identidade com um lugar especfico, seja um departamento, seja uma regio. V% tambm o

    narrador, que longe de assumir um ol"ar onisciente como faz muitas vezes o narrador do

    romance, se indaga, observa, comenta e complementa o discurso de Culiette numa reflexo

    sobre o estar no mundo, sobre o "abitar da paisagem, e ainda, como ess&ncia do cinema, a

    "abitao da imagem. V% uma constante relao da fala desse narrador com a observao

    dessa cidade, das suas problem%ticas polticas e como isso condiciona aquele espao e

    aqueles "abitantes0 da lngua constituidora da paisagem, e da paisagem determinante *

    constituio dessa linguagem. Atestando um caos degenerado pelo espao terrestre e a

    solido incorruptvel do "umano, o narrador cava sadas, possiblidades atravs da

    disposio para escutar e ol"ar ao redor ! pare, ol"e, escute ! +o mundo, meu parente, meu

    g&meo. # interessante marcar a no "ierarquizao entre narrador e personagemD "% um

    di%logo complementar que se d% pelo discurso indireto livre daquele que narra, uma relao

    42@1A;1, Cean(7uc. ' ou ( coisas ue eu sei sobre eleD a regio parisiense. 5A;

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    que aponta exatamente para essa membrana fluida entre sujeito e objeto, rosto e paisagem,

    voz e imagem. A forma como o filme estrutura suas enunciaes opera com o prprio

    sentido do discurso ! esse inespecfico, em devir.

    :ambm a retratao da regio parisiense se estrutura nessa condio de devir. A

    cidade no identificada por seus referenciais paisagsticos ! cidade das luzes, torre Eiffel,

    4oulin ;ouge ! mas sim atravs de recortes alternativos desse espaoD a lateral de um

    prdio, de uma placa, cenas de construo e reformas urbanas, um depsito, um andaime,

    uma escavadeira que deforma o c"o e d% a ver as entran"as desse lugar. 2odard abre

    espao para uma outra 5aris, e ainda ela mesma, desprendida do seu peso "istrico

    especfico, da sua captura absoluta pelo turstico, uma 5aris mais real, mais brutal, mais

    "umana ! ou menos "umana.

    1eleuze, aps identificar os condicionamentos gerados pelos agenciamentos depoder, pela +m%quina abstrata de rostidade ! pot&ncia sociocultural externa e interna ao

    sujeito que determina os traos do seu rosto e de sua identidade !, ele sugere que, se

    debatendo dentro dessas foras, preciso refazer, para alm do rosto, as inumanidades das

    quais feito o "omem, compondo a inumanidade das +cabeas pesquisadoras. Essas

    seriam aquelas que operam pontos de desterritorializao, que formam novas

    +polivocidades, que armam uma +desrostificao, que +atravessam os muros da

    signific$ncia, que criam novas m%quinas de rostidade, novos traos de rostidade que, nesse

    novo uso, atravessam para a fronteira do +a(significante0 do a(subjetivo, do sem(rosto.

    Essa proposta de composio de traos que se liberem do prprio cdigo me parece ser a

    dimenso crtica e potica do filme do 2odard. Culiette e o narrador se armam no

    movimento "brido e fluente das cabeas pesquisadoras. ;ompem com as fronteiras

    definitivas entre espao e sujeito, ultrapassam os contornos da objetividade e da

    subjetividade, da paisagem e do ol"ar ! +Eu fui o mundo. Eu era o mundo ! e percebem

    assim suas amarras com esse mundo. Culiette recon"ece a deformidade do seu prprio rosto

    que tambm conforme a deformidade de 5aris ! e a relao de identificao do rosto com

    a paisagem se d% por um desvio de ambos, ambos rostos em formao ! como em =rancis

    Tacon. Essa exist&ncia intransigente, me parece, movimentar a zona confort%vel do ol"ar

    !ara, da dist$ncia saud%vel, da fronteira territorial. # colocar na borda, e a ponto de

    despencar, o que +o ser , entre, quase, mas irrevog%vel na sua multiplicidade. # propor

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    um ol"ar atrav)s, perfurante, um devir(cidade, devir(rosto, sempre a entrar e sair

    simultaneamente, atravessando os ol"os a nado.

    @ projeto poltico filosfico de 4aria 2abriela 7lansol, que se arma no atravs de

    um manifesto, mas entorno de uma disposio ao mundo, voltado para a escrita da

    paisagem, para a reinveno do mundo. 5ara a escritora portuguesa, uma das coisas que

    +metem medo o corpo a escrever, e exatamente isso o que ela prope e pratica como

    tcnica de escritaD escrever escrever com o corpo, e no com o rosto.

    @ falar e negociar o produzir e explorar constroem, com efeito, os acontecimentos do5oder. @ escrever acompan"a a densidade da ;estante Rida, da @utra =orma de 3orpo,que, aqui vos digo qual D a 5aisagem.Escrever vislumbra, no presta para consignar. Escrever, como neste livro, levafatalmente o 5oder * perca de memria.W

    5ara esse projeto de escrita, filosfico e poltico da 7lansol, escrever ( essa escritacom o corpo ( romper com os agenciamentos de poder, levar o poder * perda de

    memria, propor uma paisagem ( a escrita de uma paisagem ( onde no "% poder sobre os

    corpos, onde no "% rostificao dos corpos, onde no "% "ierarquias. # tomar a paisagem

    por seu car%ter de incompletude, saber que ela escapa * plenitude da significao, que segue

    para um car%ter de a(signific$ncia, de sem(rosto. =ica, como pergunta que deriva pelo caos

    urbano, para ns, 7ERED 3omo desfazer o rosto, como "abitar de fato a imagem, a

    paisagem, o mundo sem ser simplesmente uma marionete das nossas identificaes

    pessoais, dos nossos traos tribais, de bando que perambula turisticamente pela 3idadeQ

    BIBLIOGARFIA

    3@77@:, 4ic"el.Pontos de vista sobre a !erce!#*o de !aisagens.

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    2@1A;1, Cean(7uc. H ou > coisa eu sei sobre elaD a regio parisiense. 7anamentomundialD /FG.

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