Klésia Bezerra de Moura

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Currículo é Cultura “Lugares de Aprender, a Escola sai da Escola” Klésia Moura¹ [email protected] Ruth Künzli² [email protected] 1 Graduanda em Geografia pela FCT-UNESP, campus de Presidente Prudente, São Paulo. Bolsista pela Pró Reitoria de Extensão (PROEX). ² Professora Emérita da FCT-UNESP, Departamento de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente, da Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus de Presidente Prudente.

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Currículo é Cultura

“Lugares de Aprender, a Escola sai da Escola”

Klésia Moura¹

[email protected]

Ruth Künzli²

[email protected]

1 Graduanda em Geografia pela FCT-UNESP, campus de Presidente Prudente, São Paulo. Bolsista pela

Pró Reitoria de Extensão (PROEX). ² Professora Emérita da FCT-UNESP, Departamento de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente, da

Faculdade de Ciências e Tecnologia, campus de Presidente Prudente.

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Presidente Prudente

2014

RESUMO

O Projeto “Lugares de Aprender” é um subprojeto do programa Cultura é Currículo,

que integra o conjunto de ações definidas pela Secretaria da Educação do Estado de São

Paulo através da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) para a

concretização da sua política educacional, visando propiciar melhor qualidade de ensino

às Escolas Públicas Estaduais, no sentido de atender aos desafios do mundo moderno,

em relação à função de transmissão do saber, para inserção social de seus alunos. O

Projeto “Lugares de aprender” prevê a visita dos alunos de Escolas Estaduais a locais

onde possam ter experiências que complementem seus estudos em sala de aula. O

programa também oferece oportunidade a escolas de periferias, que, de outra forma, não

teriam condições de visitar esses locais. Desde o ano de 2009 o Centro de Museologia,

Antropologia e Arqueologia CEMAARQ da FCT/UNESP, campus de Presidente

Prudente, passou a integrar um dos lugares estabelecidos pela FDE para essa parceria,

por se tratar de um espaço de conhecimentos organizados sobre o aspecto da vida social,

política, artístico-cultural e econômica da cultura indígena. O CEMAARQ possui três

exposições de longa duração, Exposição de Arqueológica: conta hoje peças entre líticos

lascados, líticos polidos e cerâmicas, que fazem parte do Patrimônio Arqueológico

Nacional.

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Palavras-chave: Antropologia – Educação – Arqueologia – Museologia

INTRODUÇÃO

As propostas e os objetivos do Projeto têm por alvo permitir aos alunos visitantes

visualizar materialmente as três exposições de longa duração do CEMAARQ, mediante

a explicação dos monitores, complementando o conhecimento teórico da sala de aula.

Democratizar o acesso de professores e alunos da Rede Pública Estadual a bens e

produções culturais que constituem Patrimônio Cultural da sociedade, tendo em vista

uma formação plural e a inserção social.

Fortalecer o ensino por meio de novas formas e possibilidades de desenvolvimento dos

conteúdos curriculares em articulação com produções socioculturais, diversificando-se

as situações de aprendizagens. Estimular e desenvolver a aprendizagem por intermédio

de interações significativas do aluno com o objeto de estudo/conhecimento de

disciplinas, reforçando-se o caráter investigativo da experiência curricular.

Tem como objetivo promover o acesso de professores e alunos da rede Pública Estadual

de ensino ao CEMAARQ, como atividade articulada ao desenvolvimento do currículo.

Proporcionar aos alunos e professores do ensino fundamental e médio da Rede Estadual

o contato direto com peças e artefatos que fazem parte do patrimônio cultural brasileiro.

Interagir com educadores estagiários e alunos, sugerindo novas formas e possibilidades

de ensino e aprendizagem através dos textos oferecidos pela Fundação de

Desenvolvimento da Educação FDE e através das visitas ao CEMAARQ.

O CEMAARQ, em especial oferece uma opção cultural muito rica à população.

Contudo, grande parte dos alunos das escolas públicas não tem acesso a ela e, muitas

vezes, até desconhecem sua existência. Por ser a cultura parte do patrimônio das

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sociedades, é função da escola fazer com que seus alunos reconheçam esses locais,

como também que a eles tenham acesso. Dessa forma, tendo em vista uma formação

plural, este projeto oferece oportunidades para que alunos e professores da rede pública

usufruam dessa visita.

Nessa perspectiva de trabalho da escola com a arte e a cultura, o trabalho do professor,

responsável pela mediação do aluno com o conhecimento, será apoiado por materiais

pedagógicos que reforcem a intencionalidade das experiências no âmbito cultural,

articulando os conteúdos de diferentes áreas curriculares com os objetos socioculturais,

fenômenos naturais e outras fontes de conhecimento com as quais os alunos irão

interagir em suas visitas.

Durante as visitas são oferecidas várias atividades explicativas ou interativas, sendo que

cada atividade é direcionada à faixa etária correspondente. Para desenvolver e executar

tais atividades e direcioná-las às diferentes faixas etárias o CEMAARQ contou com a

participação de Docentes e Pesquisadores do departamento de Educação da

FCT/UNESP.

As atividades serão descritas a seguir:

A visita monitorada: consiste na visita guiada às Exposições de Arqueologia, de

Etnologia e de Paleontologia, sempre conduzida por um ou mais monitores. A visita é

aberta a perguntas, dúvidas, curiosidades e

questionamentos que possam vir por parte dos alunos e

também dos professores que participam e acompanham

os mesmos, durante as atividades, (Figura 1). A

participação de todos mostra-se de extrema importância,

visto que elas podem acompanhar o aprendizado e

necessidades dos seus alunos, para posteriormente

trabalhar tais aspectos em sala de aula.

Teatro de fantoches:

Figura 1: Visita monitorada

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“devemos sempre lembrar que a lógica infantil é diferente da lógica do adulto, sendo o teatro de bonecos

real para a criança, dentro da realidade do jogo, lúdico e do jogo da vida no qual está inserido no contexto

civilizacional do seu grupo social. O teatro de bonecos na formação do educando tem como

objetivos: a percepção visual, auditiva e tátil; a percepção da seqüência de fatos (noção espaço-temporal);

coordenação de movimentos; expressão gestual, oral e plástica; criatividade; imaginação; memória;

socialização e o vocabulário.” (JUNQUEIRA, Leitão e Silva. p. 2, 2002)

O Teatro de Fantoches foi implantado na tentativa de minimizar as dificuldades de

comunicação das crianças do Ensino Infantil e Fundamental, mais especificamente da

primeira, que necessitavam de atividades que incluíssem esse novo grupo que vem

crescendo consideravelmente sua participação ao roteiro do museu. Através do Livro “O

Curumim que Virou Gigante”, de Joel Rufino dos Santos, uma lenda indígena é contada

através de fantoches, cujas figuras foram copiadas do livro e ampliadas em papel

cartolina e decoradas com papel celofane, glitter e pintados com lápis de cor e

canetinhas coloridas. Para dar sustentação e mobilidade aos fantoches foram colados

palitos de sorvete no verso deles. Um cenário também foi montado para ilustrar a

história. Para que o teatro tivesse pleno êxito em seus objetivos, um CD de áudio foi

gravado para contar a história, o que facilita e melhora as condições do conto. Neste

CD, além da presença do narrador da história, também há vozes dos personagens

narrados pelos estagiários do museu. Hoje, com o auxílio das verbas obtidas pelo do

Projeto Ciência na UNESP, novos fantoches foram comprados e novas histórias podem

ser apresentadas aos visitantes. No mês de agosto, com a realização da Semana do

Folclore no Museu, a historinha do Saci-Pererê foi adequada com fantoches e som e

contada às crianças. (figura 2)

Ao término das apresentações o tema da história é discutido pelas crianças e

posteriormente folhas de sulfite são entregues a elas para que usem da imaginação para

recriar a história apresentada.

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Pintura facial: após a apresentação de Teatro de Fantoches, as crianças são convidadas a

pintarem suas faces, assim como os índios procedem. No momento da pintura facial, as

crianças ficam excitadas e bastante apreensivas para serem pintadas. A equipe utiliza

tinta antialérgica de diferentes cores e própria para fazer pintura na pele. Esta atividade

tenta aproximar a criança do contexto da sociedade indígena, trazendo a cultura deste

povo à vida das crianças.

Mapa da mina: a ideia principal deste método é fazer com que alunos do Ensino

Fundamental e Médio aprendam conhecimentos geográficos, cartográficos,

arqueológicos e antropológicos, brincando de caça ao tesouro, a partir da criação de um

mapa construído em escala, com pistas que contêm informações da localização

geográfica e que estão espalhadas pelo museu para que os alunos as encontrem, além da

manipulação da bússola como auxílio na busca do “tesouro”, foi possível com que a

atividade pudesse ser desenvolvida e aplicada. (Figura 3).

Cada grupo é acompanhado por um monitor e lhe é entregue uma bússola para que

possa orientar-se espacialmente. Cada equipe deve procurar três pistas, sendo que a

última pista informa o achado do tesouro. O grupo que primeiro encontra o tesouro é

considerado o vencedor da gincana e presenteado com um marcador de livro de

confecção própria do museu. (figura 4).

Figura 2: Teatro de Fantoches

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Figura 3: Alunos procurando o “tesouro”. Figura 4: Mapa, pistas e brinde (marcador)

Simulação de escavação de sítio arqueológico: esta atividade tem por objetivo fazer com

que as crianças e os adolescentes simulem uma escavação de um sítio arqueológico,

utilizando ferramentas que normalmente são usadas em uma escavação verdadeira como

pás, colheres de pedreiro, espátulas, pincéis, caderneta de anotação e outros. Deste

modo as crianças e os adolescentes, ao escavarem um sítio arqueológico, estarão

fazendo ciência brincando, e também saberão quais procedimentos deverão ser tomados

quando encontrarem um sítio arqueológico.

Manuseio das peças (percepção tátil): a percepção tátil faz com que o visitante perceba a

importância da confecção e principalmente a preservação das peças indígenas. As

crianças são convidadas a entrar na sala e sentarem-se no chão (como os índios), em

forma de círculo em volta dos objetos, até então cobertos, (Figura 5). Tal procedimento

é uma forma de aguçar a curiosidade das crianças, bem como aproximá-las da cultura e

objetos do cotidiano indígena, fazendo com que o aluno possa sair um pouco da

abstração e sinta-se próximo das riquezas desta cultura. O contato entre o estagiário e os

alunos se dá por meio dos objetos, que se tornam a fonte de informação do tempo e do

espaço em que foram confeccionados. É possível estabelecer um novo diálogo com os

objetos das vitrines, descobrindo assim, a “linguagem do documento material”, o aluno

por sua vez irá aprender um novo processo de coleta e interpretação dos dados.

(MARQUES, pag. 203, 1994) Utilizamos como base a forma, a matéria-prima utilizada,

a técnica empregada na sua confecção, a sua aparente função, para se chegar às

particularidades culturais do povo que a produziu.

A atividade do Manuseio das peças permite aos alunos entrar em contato com artefatos

de pedra lascada, pedras polidas e fragmentos de cerâmica que não fazem parte das

coleções, geralmente peças de procedências desconhecidas, podendo ser manuseadas.

Os artefatos arqueológicos pertenceram a populações nômades que viveram no Extremo

Oeste do Estado de São Paulo, populações essas que viviam predominantemente da

caça, pesca e coleta e posteriormente da lavoura.

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Figura 5: Manuseio das peças

Exibição de filmes: outra atividade desenvolvida pelos estagiários com os alunos

consiste na reprodução e explicação, feitas durante a apresentação dos vídeos sobre

Parque Indígena do Alto Xingu e sobre a Tribo Canela. A atividade se torna muito

interessante, principalmente quando é realizada após a visita monitorada, pois os alunos

podem ver mais facilmente o funcionamento de uma aldeia e o modo de vida indígena e

também os rituais que fazem parte da cultura indígena e as vestimentas características

dos mesmos, fazendo assim uma associação e sistematização das principais ideias

apresentadas durante as atividades. Vale ressaltar que o vídeo vem se constituindo em

um importante recurso de ensino e que foi incorporado pelo museu para auxiliar neste

processo com os alunos, visto que os professores proferem elogios ao mesmo,

argumentando que é muito bom para o entendimento da cultura indígena, que é o objeto

central de estudo do CEMAARQ, sendo de fácil assimilação pelos alunos.

“Quiz CEMAARQ”: recentemente foi elaborado o “Quiz CEMAARQ”: é um jogo de

perguntas e respostas concernentes a estudos antropológicos, arqueológicos e

paleontológicos, cujos conhecimentos presentes nas perguntas são discutidos e

apresentados durante as atividades. Essa atividade é realizada em meio digital, através

de aparelhos de televisão e multimídia, o que faz com que os alunos se identifiquem

bastante tanto com o visual quanto com o conteúdo programado. Através dessa

atividade pode-se ter um parâmetro de avaliação da aprendizagem e a assimilação por

parte dos alunos no que se refere aos assuntos trabalhados, podendo assim, com base

nessa dinâmica, melhorar constantemente a didática e a forma de trabalhar com os

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alunos, visando sempre melhorar o entendimento por parte do público, e ir além do já

alcançado.

RESULTADOS PRELIMINARES

A tabela a seguir mostra que, no período de abril a outubro de 2013, o

CEMAARQ atendeu pelo Projeto FDE 163 turmas, somando 3.909 visitantes.

Fonte: sistema SISVIC

No primeiro semestre de 2014, recebemos cerca de, aproximadamente, 3100 alunos

(fonte: sistema SISVIC). Houve escolas provindas de outros municípios e de outras

diretorias de ensino além de Presidente Prudente – SP; acrescentou-se escolas da

diretoria de Ensino de Adamantina – SP e Tupã – SP. Vale ressaltar que as visitas

começaram na metade do mês de abril e encerraram-se no final de maio, voltando as

atividades novamente em agosto.

Mês/2012 Número de turmas atendidas Quantidade de alunos

abril 16 345

maio 38 912

junho 24 527

agosto 26 625

setembro 27 616

outubro 37 884

Total 168 3.909

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É notória a discussão que o projeto provoca no que refere ao aprendizado dos alunos.

Pode-se afirmar que o Projeto Lugares de Aprender cumpre um papel muito importante

no sentido de valorizar e incentivar os alunos a conhecerem o patrimônio artístico,

histórico e cultural da região e também valorizar a sua história e preservar a sua cultura.

Pode-se perceber que houve uma dinamização do trabalho do professor em sala de aula

com a realização desse projeto e das experiências desenvolvidas através das visitas,

aprofundando bastante a aprendizagem dos alunos. Nota-se também que ocorreu uma

maior valorização do patrimônio cultural, tendo em vista uma compreensão e respeito às

diferenças culturais de grupos e povos. Houve um aumento de público ao CEMAARQ,

pelo fato de estar inserido nesse processo educacional, uma vez que este projeto embora

local consegue uma enorme projeção regional, na medida em que a visitação ao museu

já faz parte do calendário escolar de boa parte das escolas públicas da região e também

de outras Regiões do Estado. Os incentivos financeiros que o Projeto vêm obtendo por

parte das Instituições parceiras e de outros projetos financiados estão contribuindo para

a continuidade e a qualidade dos serviços que são prestados à sociedade através do

museu. A participação do CEMAARQ nos projetos educativos possibilita a efetivação

enquanto um lugar de continuação do aprendizado e valorização da educação,

utilizando-se da riqueza cultural indígena, visto que este oferece uma opção cultural

muito rica à população e aos alunos e tratar-se de um espaço para conhecimento

organizado sobre aspectos da vida social, política, artístico-cultural e econômica da

cultura indígena desde a pré-história até os dias atuais, trazendo uma bagagem cultural e

de conhecimento que acrescentam e ampliam os horizontes de aprendizado dos mesmos.

A exposição paleontológica projeta outra realidade, mais antiga, mas não menos

interessante e importante.

REFERÊNCIA BBLIOGRÁFICA

AGUIRRE, Emiliano. A origem do homem. Salvat Editora do Brasil, S.A. Rio de

Janeiro, 1979.

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2002.

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FERREIRA, Regina Helena Penati Cardoso. Diálogo escola-comunidade. Presidente

Prudente, 2005.

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http://www.efdeportes.com

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MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil, 5º ed. São Paulo-Brasília: Hucitec/UnB, 1987.

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