KITSCH...A discussão sobre kitsch nasceu na década de 1930 com as formulações de Theodor Adorno...
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Antonio Castelnou
KITSCH
Introdução
❖ Denomina-se como KITSCH o fenômeno
cultural contemporâneo que se caracteriza pelo
mascaramento estético, por meio da falsificação
e/ou deturpação de objetivos artísticos sejam
eles quais forem, com vistas ao lucro.
❖ Atualmente, ele atingiu amplas esferas da
comunicação, arte e arquitetura, alcançando
a vida e o comportamento das massas,
independente do seu nível social e econômico;
e banalizando conceitos e valores estéticos.
❖ A discussão sobre kitsch
nasceu na década de 1930
com as formulações de
Theodor Adorno (1903-69),
Hermann Broch (1886-1951)
e Clement Greenberg (1909-
94), as quais o definiram
como o avesso das
vanguardas artísticas, ou
seja, um PSEUDO-ESTILO
que produz falsas sensações
e é fruto da indústria cultural.
❖ Hoje, apesar de fazer parte
do nosso cotidiano,
o KITSCH tem sua definição
bastante complexa, já que
pode ser considerado como
um tipo de “tradução” de um
código estético mais amplo
(arte erudita) para um mais
reduzido que é voltado a uma
camada social maior,
composta pela população em
geral (massificação). Gárgulas
Catedral de Notre-Dame(1163/1250, Paris - França)
Termômetro e
mesa kitsch
❖ KITSCH não pode ser
confundido com mau
gosto – como algo, em
linguagem chula, brega
ou cafona –, pois isto se
trata de um conceito
essencialmente subjetivo,
relacionado com a moda,
o status econômico e a
classe social de quem
julga, já o fenômeno
kitsch é UNIVERSAL.
Kitsch
arquitetônico
❖ Através da distorção e simplificação de obras de arte
originais e consagradas, um objeto KITSCH – que pode
ser de uma caneta a uma edificação – visa torná-las
acessíveis ao grande público e, assim, mais rentáveis.
Vênus de Milo(Séc. II aC) ~2 m de alturaMusée du Louvre(Paris - França)
Hermes com omenino Dionísio
(c. 350 a.C.)~2 m
Olímpia(Grécia)
Praxíteles
David (1501)~5 m de alturaFlorença (Itália)Michelangelo
O que é Kitsch
❖ Típico da Era Contemporânea
e um fenômeno essencialmente
urbano, o KITSCH nasceu com
a industrialização, na
passagem do século XVIII
para o XIX; e difundindo-se
mundialmente com a sociedade
de massas que cresceu da
segunda metade do século XX
em diante até se alastrar pelos
meios eletrônicos.
Urna funeráriaem forma de coca-cola
BibelôsInspirados em obrasde arte consagradas
❖ As origens do termo KITSCH
datam por volta de 1870, na
Alemanha, quando se usava
o vocábulo verkitschen
(“sentimentalizar”) para dar
a ideia de “vender gato por
lebre”, isto é, algo de baixa
qualidade como se fosse alta;
ou ainda fazer móveis novos
a partir dos restos de antigos,
resultando em produtos
exagerados e/ou distorcidos.
Stonehenge5,50 m de altura x 97,5 m de diâmetro
(3000-1500aC, Wiltshire GB)
O Nascimento de Vênus (1485)172 x 278 cm – Florença (Itália)
Sandro Botticelli
❖ A partir de então, o termo foi mudando de sentido e, após
a Primeira Guerra Mundial (1914/18), já designava toda
produção que reproduzia ou imitava objetos exclusivos
(criados pelo artista individual) para comércio em geral.
O Jardim das Delícias Terrenas (c.1495/1505) – 220 x 389 mMuseo del Prado (Madrid) Hieronymus Bosch
Noite Estrelada (1889) – 74 x 92 cm MoMA (N. York) Vincent Van Gogh
Êxtase de Sta. Teresa~3,5 m (1647/52, Roma It.)
GianlorenzoBernini
❖ Diferenciando-se da verdadeira
ARTE, que é uma forma de
desvendar e conhecer a
realidade, o KITSCH é uma
pseudo-arte, pois a disfarça,
distorcendo-a ou ocultando-a
❖ Enquanto o artista comunica
mensagens que enriquecem
a informação sobre o real e
permite que cada pessoa
interprete-as à sua maneira;
o KITSCH não estimula ideias
nem promove indagações
sobre o mundo. Apenas, aliena.O Terraço (1881)80 x 100 cm Pierre Auguste Renoir
❖ Baseado na filosofia do “meio-termo”, o KITSCH reduz os
significados da informação estética, voltando-se para uma
arte das massas. Seu apelo “digestivo” ou de “doce vício”
torna-o uma falsa arte: fácil e consumível por todos.
MadonnaSistina
(1513/14)196 x 265 cm
RafaelSanzio
Gravura e caixinha de música que alteram a
obra de arte verdadeira
Monalisa ou La Gioconda (1603/06) 53 x 77 cm Leonardo Da Vinci Musée du Louvre (Paris - França)
❖ Pode-se conceituar como
atitude KITSCH deturpar a
linguagem oficial – formas
eruditas do repertório das
camadas superiores da cultura
– para se fazer contato com
um público mais amplo.
❖ Isso é feito adaptando-se um
produto original ao pobre
repertório dessa população ou
fazendo referências vagas à
alta cultura, envaidecendo
o consumidor ansioso para
ser mais culto e/ou rico.
Persistência da Memória (1931) 24 x 33 cm Salvador Dali
❖ Atualmente, o KITSCH
consiste em uma forma de
entretenimento fantasiado
de arte, que simplifica a
realidade, tornando-a mais
fácil de digerir.
❖ Ele acontece por interesses
econômicos (venda e
lucro), políticos
(manutenção do poder) e
sociais (diferenciação de
classes); ou ainda, por
desinformação cultural.
Templo Grego(Séc. V aC)
❖ Ele sobrevive graças à indústria cultural e à embriagues do
consumo, o que fazem surgir objetos vendidos como sendo
“utilidades” – mas que são praticamente inúteis –, como os
GADGETS (produtos sem função ou com funções além
da que precisam ter, mas que são considerados “práticos” ).
❖ Como principais propriedades
do KITSCH, podem ser citadas
as seguintes:
✓ SENTIMENTALISMO: Atitude de valorização das emoções em detrimento da razão (carência emocional; excesso decorativo)
✓ SENSACIONALISMO: Atitude de exagero da resposta emotiva diante dos fatos (morfologia confusa e complicada; emaranhado visual; infantilidade)
✓ HEDONISMO: Atitude de busca do máximo de prazer com o mínimo de esforço (acumulação de funções)
✓ ALIENAÇÃO: Atitude mental de desvio ou negação de questões
fundamentais ou pertinentes ao indivíduo (associações
medíocres e banais)
✓ ASCETISMO: Atitude de desprezo do corpo
e das sensações corporais (flores e frutos artificiais)
✓ PRESUNÇÃO: Atitude de aspiração ou
convencimento em relação ao poder aquisitivo ou status
pessoal (cópia de imagens, formas e símbolos)
Bibelôs
Houses of Parliament(1835/59,
Londres GB)
Souvenirs
Tour Eiffel(1889, Paris - França)
◼ .
❖ Embora aparentemente
inofensivo, o KITSCH esconde
o perigo da alienação social e
cultural – pincipalmente
quando esconde suas origens
–, assim como a perda do
potencial criativo e crítico
da arte e do design.
❖ Alterando significados e distorcendo mensagens, o fenômeno KITSCH oculta complexos mecanismos, os
quais necessitam ser denunciados e combatidos.
Pantufas e chinelos
KITSCH ERÓTICO
Galheteiro
Canetas
Cinzeiro
Jesus é meu craque
KITSCH RELIGIOSO
Power Virgins
Princípios do Kitsch
❖ A universalidade KITSCH pode ser explicada em
decorrência de suas características estarem ao
alcance do Homem comum; fato que não é
verificado na arte erudita, que, sendo acadêmica
e oficial, é praticamente inatingível a todos.
❖ O uso kitsch de elementos “substitutivos”
[colocados em lugar de] e usados não segundo
sua natureza efetiva – em uma qualidade que
não é sua – constitui uma falsificação e/ou
adulteração da sua autêntica razão de ser,
resultando no seu caráter falso (fake).
❖ Sendo um fenômeno protótipo
do consumo e massificação,
o KITSCH apresenta alguns
princípios fundamentais:
1 Princípio da Inadequação:
Ocorre quando se associa duas ou
mais coisas que não têm uma relação
direta entre si, inclusive de modo
inconveniente.
Por exemplo: Decorar
saca-rolhas com a cabeça do
presidente; fazer uma associação
chula ou descontextualizada; remixar
um clássico em ritmo dance; etc.
Campo de Íris (1889) – 71 x 93 cmVincent Van Gogh
Quarto-corrida
GoiabadaMonalisa
Pen-drive Sushi
2 Princípio da Mediocridade:Ocorre quando se faz alusões óbvias, produzindo emoções rápidas e prazer fácil, a partir de associações e/ou referências diretas e medíocres. Por exemplo:
Geladeira ➔ Frio ➔ Pólo Sul ➔ Pinguim
Chinelo ➔ Conforto ➔ Maciez ➔ Coelho
Jardim ➔ Vegetação ➔ Floresta ➔ Duendes
Enfeites de jardim
3 Princípio da Acumulação:Ocorre quando se exagera pelo acúmulo desmedido de coisas, visando expressar
criatividade, ostentação e luxo, prejudicando a funcionalidade.
Por exemplo: Decoração abarrotada com mistura de estilos; exagero em uma composição de cores ou texturas; vestuário carregado associado a grande número de acessórios; etc.
4 Princípio do Conforto: Ocorre quando se expressa a ideia de bem-estar e alegria de viver sem esforço – do “estar à mão” e ser agradável aos sentidos e sentimentos.
Por exemplo: Trabalhar com sobreposição de forrações; colocar mais pontos de luz do que o necessário; dispor objetos em excesso para expressar graça e prazer; etc.
5 Princípio da Sinestesia:
Ocorre quando se apela, através de estímulos variados, para todos os sentidos de uma só vez, ou ainda, quando se associa várias funções ao mesmo objeto/edificação e que, muitas vezes, são desnecessárias.
Por exemplo: Um álbum de fotografias que toca música e exala perfume; uma caneta que é também relógio e lanterna; um enfeite de mesa que é porta-canetas, calendário, termômetro e cinzeiro; gadgets em geral etc.
Velas aromáticas
Saleiro ePaliteiro
Bibelôs
Pen-drive
dentário
Kitsch Arquitetônico
❖ Na arquitetura, o KITSCH
pode ser considerado
como uma forma de
conexão entre a
linguagem erudita e a
vernácula, já que se trata
de uma manifestação
popular que é inspirada
e/ou contaminada pela
arte maior (oficial).
Palácio da Alvorada(1951/52, Brasília DF)
Oscar Niemeyer
Brincos
Vaso
❖ Deturpando conceitos e
teorias arquitetônicas,
o KITSCH exagera e vem
em sintonia com a ideia de
afirmação individual e
socioeconômica.
❖ Rompendo com os
princípios de unidade,
harmonia e funcionalidade,
o KITSCH na decoração e
exteriores aproxima-se da
paródia e do pastiche.Falcão
Referênciasà Cultura Pop
Associações semjustificativasfuncionais
MOTÉIS KITSCH
KITSCH NOS CEMITÉRIOS
PAREIDOLIA ARQUITETÔNICA
❖ O FUNCIONALISMO
consiste no maior inimigo do
kitsch, pois combate todo
objeto que não concilia a
estética com padrões
funcionais, eliminando o
supérfluo e o exagero.
❖ Foi a POP ART que o
desmascarou, conferindo-lhe
o papel de denúncia social
e elevando-o à condição de
arte maior, além de outros
artistas de vanguarda.
Mae West Room (1974)(Teatro-Museu Dali, Gerona - Espanha)
Salvador Dali (1904-89)
Vênus comgavetas (1938)
Telefone-lagosta ouTelefone afrodisíaco (1936)
POP ART
Claes Oldenburg
RoyLichtenstein
Andy Warhol
Robert Rauschenberg
O que NÃO é Kitsch
❖ Na arquitetura e design pós-
modernos, o KITSCH tornou-se
fontes de inspiração para a
criações de objetos de apelo
comercial e de provocação.
❖ Do mesmo modo, gravuras,
memorabilia, quebra-cabeças
e brinquedos educativos
não podem ser vistos como
KITSCH, pois têm função
cultural e informativa.
Erwin Wurm (1954-)House Attack Instalation
(2006, Viena - Áustria)
Cadeira Favela (2003)
Irmãos Campana
Luxor Hotel & Casino(1990/93, Las Vegas NV)
PÓS-MODERNISMO
Kansas City Public Library(2000, Missouri EUA)
Hotel Unique (2003, São Paulo) Ruy Ohtake
PoltronaTeddy Bear(2004)Humberto & FernandoCampana
Furniture(1964/66)Allen Jones(1937-)
ANTI-DESIGN
Alessandro Mendini
Michael Graves
Ettore Sottsass
NÃO É KITSCH
Pantufas infantis
Gravuras
Brinquedos educativos
Quebra-cabeças
ParquesTemáticos ede Diversão
Moedas comemorativas
L.H.O.O.Q. (1919)(Elle a chaud au cul)Marcel Duchamp
PARÓDIAS
Leitura Complementar
❑APOSTILA – Capítulo 07.
❑CAVALCANTI, L.; GUIMARAENS, D. Arquitetura de
motéis cariocas: Espaço e organização social. Rio de
Janeiro: Paz & Terra, 2007.
❑ _____. Arquitetura kitsch: suburbana e rural. 3. ed.
Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2006.
❑ DORFLES, G. Novos ritos, novos mitos. Lisboa:
Edições 70, Col. Arte & Comunicação, n. 6, 1985.
❑ECO, U. Apolípticos e integrados. São Paulo:
Perspectiva, Col. Debates, n.19, 1987.
❑MOLES, A. O kitsch. 5. ed. São Paulo: Perspectiva,
Col. Debates, n. 68, 2001.