Kirsten Miller - Kiki Strike e a Tumba Da Imperatriz

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Kiki Strike vol. 2 A Tumba da Imperatriz

Kiki Strike vol. 2 A Tumba da Imperatriz Kirsten Miller"Se Harry Potter vivesse em Nova York, ficaria loucamente apaixonado por Kiki Strike." Vanity Fair.

Contra-capa: Kiki Strike e as Irregulares salvaram o mundo ontem noite. Talvez voc queira agradecer. Bem-vindos ao mundo de Kiki Strike

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Kirsten Miller

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Abas: A me de Ananka est determinada a mand-la para um colgio interno. As notas da menina esto baixas, ela dorme durante as aulas e as reclamaes da diretora sobre suas faltas viraram rotina. claro que ela no sabe que, na verdade, Ananka passa as noites resolvendo mistrios e investigando o submundo de Nova York. Se soubesse que a filha responsvel pela proteo de uma cidade secreta no subsolo de Manhattan, ela mudaria de idia... ou no? . Infelizmente Ananka no tem tempo nem de tentar convencer a me. No quando um fugitivo muito interessante pode ter roubado o mapa secreto da Cidade das Sombras (e ele estasva sob sua proteo) e segredos demais ameaam a existncia das Irregulares. . Para completar, a vida de Kiki est em perigo, Betty acredita ter encontrado o amor - pena que com a pessoa completamente errada - e Oona... bem, Oona a mais encrencada de todas! Das ruas de Chinatown at a Quinta Avenida, as Irregulares colecionam confuses: pais mafiosos, esquilos gigantes e at uma mmia chinesa que estava destinada a repousar tranquilamente em um museu esto na mira das garotas.

Kirsten Miller vive em Nova York, onde passa o dia bebendo caf, explorando a cidade e escrevendo.

Para SD, cujos segredos so a minha inspirao.

Prlogo A Imperatriz traidora Os cochichos comearam no dia em que ela chegou a cavalo aos portes do palcio do imperador. Eles sabiam que sua longa viagem comeara para alm da muralha que era construda a oeste. A princesa de Xiongnu, a tribo brbara que travava uma batalha interminvel com a China, viera se casar com o filho do imperador. Quando a viram, os membros da corte concordaram, pelo menos a maioria deles. A paz fora comprada a um preo alto demais. Ningum se atrevia a questionar a beleza da princesa, ento zombavam de suas bochechas redondas, rosadas pelos ventos de sua terra natal. Eles no lhe negariam sua nobreza, mas desdenhavam de uma mulher que podia atirar uma flecha mais retilnea a uma distncia maior do que faria qualquer homem. At os criados do palcio encontraram algo de que debochar no

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fato de que sua serva fiel, uma amazona brbara malnascida, sempre podia ser vista ao lado dela. O filho do imperador desconsiderava essas fofocas. Adorava a noiva rebelde e a cobria de seda, jade e ouro. Ela foi vestida em mantos pesados que a impossibilitaram de cavalgar e desfilou diante da corte como uma criatura extica do zoolgico do imperador. Com o tempo, comeou a parecer um pouco uma imperatriz chinesa. Mas as mulheres encarregadas de lhe ensinar as virtudes femininas da humildade, da subservincia e da obedincia sabiam que a menina jamais seria domada. Seria mais fcil ensinar um tigre a andar na pontinha das patas. noite, a princesa s sonhava com sua terra - de desertos, prados e montanhas que ficavam longe do imprio que um dia ela governaria. Por fim, desesperada, ela trocou seus mantos pela tnica de uma camponesa e fugiu dos muros do palcio. Ela e sua criada foram livres por trs gloriosos dias, at serem capturadas por soldados ao atravessarem o rio Amarelo. O velho imperador era um homem sensato e havia muito sabia que a menina jamais seria imperatriz. Despachou criados para entregarem uma refeio temperada com veneno, para que seu corpo continuasse imaculado e seu assassinato fosse encoberto do filho. Mas a princesa se recusou a morrer. Em vez disso, vagou num sono to profundo que seu batimento cardaco era pouco mais do que uma pancadinha fraca. O filho do imperador foi informado de que a princesa tinha expirado de febre. Planejou-se um funeral real, apesar de as fofocas da corte rotularem a menina de Imperatriz Traidora. Cochichava-se que ela fora desmascarada como espi e enterrada viva como pena pela traio. A fiel criada da princesa no teve poderes para provar a inocncia de menina. S o que pde fazer foi subornar um guarda para contrabandear dois objetos para o tmulo da princesa. Um era uma estatueta de si mesma a cavalo, para poder servir a sua alma no alm. O outro era a verdade. Ela sabia que o tempo revela todos os segredos.

CAPTULO UM

No foi por falta de aviso Antes de comearmos, d uma olhada rpida por sua janela. No faz diferena se voc olha uma rua movimentada de Calcut ou um pequeno shopping em Texarkana. Onde quer que voc esteja, todas as pessoas que voc v tm uma coisa em comum. Todas tm um segredo que preferem manter escondido. O cavalheiro elegante com a pasta executiva rouba no parqumetro nas horas vagas. A criana de bicicleta gosta de comer formigas. E a velha baixinha no banco do parque antigamente era conhecida como o Terror de Cleveland. claro

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que estou brincando. No conheo os segredos deles mais do que voc. Mas a que est a questo. Nunca se sabe. H muitas lies na vida que podem ser desagradveis. No seque um hamster no microondas. Chinelos no so adequados para um coquetel. E maionese no deve ter crosta. Mas para uma detetive, h uma lio deficlima de aprender. Por mais que voc tente, no tem como saber tudo sobre as pessoas de quem mais gosta. Mesmo que partilhem de incontveis aventuras e enfrentem a morte lado a lado, ainda pode haver segredos entre vocs. Quando estava histria comeou, eu tinha cinco grandes amigas. Eu sabia tudo sobre seus passatempos incomuns, alergias graves, antecedentes criminais e preferncias de xampu. O que eu no sabia era que duas de minhas amigas ainda guardavam segredos de mim - e que um desses segredos tinha o poder de destruir a todas ns.

***

Tudo comeou s oito horas de uma manh de sbado. Eu estava sentada mesa da cozinha de minha casa, lendo um livro de curtindo um caf da manh balanceado de pudim de caramelo, quando levantei a cabea e vi minha me parada na porta, segurando um jornal. No me lembro de me sentir particularmente culpada naquele dia, mas soltei um grito ao vla. Seus cachos curtos e escuros saltavam para fora dos grampos e cercavam o rosto como uma nuvem de fumaa txica. Havia bolsas sob seus olhos e tnis diferentes nos ps. - O que est lendo? - perguntou ela numa voz estranhamente formal. - Fantasmas, demnios e coisas em que se pode esbarrar noite - informei. - Encontrei debaixo da cama do quarto de hspedes. O que est fazendo acordada? - Em meus 14 anos de vida, nunca tinha visto minha me de p antes do meio-dia num fim de semana. - Vi uma matria no noticirio ontem noite. Pensei que voc poderia achar interessante, ento acordei cedo para comprar o jornal. - A caminho da mesa, ela tropeou numa pilha de livros, que se espalharam pelo cho da cozinha. Uma semana antes, o que a maioria das pessoas pensou ser um pequeno terremoto (eu sabia muito bem o que era) podara as torres altas de livros que revestiam as paredes de nosso apartamento. Mas a tarefa de recolocar em ordem a biblioteca grande e bizarra de meus pais era tediosa demais, e a maior parte dos livros ainda estava onde tinha cado. Minha me se jogou numa cadeira na minha frente, fixando os olhos no meu rosto. - Que matria era essa? - perguntei, tentando lembrar se eu tinha feito alguma coisa que pudesse chegar aos jornais. Na quarta-feira, eu tinha ajudado a prender um exibicionista no Grande Central Station, mas isso no parecia tremendamente digno dos noticirios. E, pelo que eu saiba, a origem daquele terremoto nunca foi determinada. Eu tentava me manter

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discreta. - Veja voc mesma. - Minha me bateu o jornal na minha frente. A primeira pgina do New York Post trazia uma foto de um orangotango jovem usando um short de boxeador roxo e brandindo uma pina para salada. Comecei a rir, at que li a manchete: Ser Obra de Kiki Strike?, perguntava o jornal. O sorriso sumiu da minha cara enquanto eu olhava de relance para minha me. - Continue. Leia - insistiu ela. - A reportagem est na pgina 3. Sob o olhar de minha me, passei os olhos pelo artigo. Ao que parecia, s oito horas da noite anterior, uma mulher de nome Marilyn Finchbeck acordou e encontrou um iguana de 1 metro arrastando-se para sua cama. O vizinho, ouvindo os gritos apavorados de Marilyn, chamou a emergncia ao entrar no quarto do beb e descobrir o filho de 1 ano brincando de escondeesconde com uma famlia de lmures de orelhas peludas. Pouco tempo depois, um homem do terceiro andar do mesmo prdio pulou da janela do quarto quando se viu diante do orangotango que aparecia na primeira pgina do jornal. Na hora, nenhum dos moradores do nmero 983 da Broadway percebeu que os animais que invadiram os apartamentos estavam com bilhetes manuscritos presos no pescoo. Ao responder a todos os chamados do prdio de Marilyn Finchbeck, a polcia rapidamente descobriu a origem do tumulto. Algum tinha arrombado a porta de uma pet shop no primeiro andar e soltado os animais. Filhotes de rottweiller foram encontrados banqueteando-se em sacos de rao premium. Meia dzia de cacatuas e um papagaio desbocado gritavam das vigas do teto. Mas em vez de procurar pelo misterioso benfeitor dos animais, a polcia prendeu o dono da pet shop. Nos fundos da sua loja, atrs de uma porta oculta, encontraram uma srie de gaiolas secretas. A maioria estava vazia. S dois coalas drogados continuavam presos, os dois aturdidos demais para se juntar festa. Os funcionrios do zoolgico que foram chamados para capturar os lmures e o orangotango (junto com um filhote de leopardo-daneve que tinha perseguido um entregador por 13 quadras) reconheciam um crime quando viam um. Todos os animais libertados das gaiolas secretas eram de espcies em risco de extino. No tinham de estar em Nova York. No pescoo de cada um deles, havia um bilhete que dizia: Quero ir para casa. O New York Post acreditava que a responsvel era Kiki Strike. Um homem do bairro dizia ter testemunhado um elfo de cara pastosa e roupas escuras observando atentamente a pet shop uma semana antes. (No era a descrio mais elogiosa de Kiki, mas tambm no era inteiramente imprecisa.) - Muito bem. Onde voc estava ontem noite, Ananka? - perguntou minha me. - Aqui - insisti, aliviada por poder dizer a verdade. - No sei nada sobre isso.

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- Voc conhece Kiki Strike. Ela estava aqui na quinta-feira vendo filmes de kung fu na sala. - , mas a menina que eu conheo tem 14 anos e no d a mnima para o reino animal. O Post s est querendo vender jornal, me. Todo mundo quer acreditar que h uma adolescente justiceira agindo em Nova York. - Deixe-me entender isso direito. Voc ainda espera que eu acredite que sua amiga no tem nada a ver com o desbaratamento do sequestro de uns meses atrs? - Vamos ter que passar por isso de novo? Voc viu o noticirio - expliquei a ela, evitando a verdade. - A histria de Kiki estrike em junho era um embuste. Essa menina que Kiki supostamente resgatou dos sequestradores mentiu. Ela inventou a histria porque queria aparecer na TV. Quem sabe de onde ela tirou o nome Kiki? Pode ter escolhido na lista telefnica. Minha me se recostou na cadeira e me fuzilou com os olhos semicerrados. Tinha mais coisas em mente e eu sabia que no podia ser coisa boa. Vi um camundongo dar um passo cauteloso para fora do armrio debaixo da pia da cozinha. Ele olhou para minha me e correu de volta segurana. - A diretora Wickham ligou ontem noite - anunciou por fim minha me. - Seu professor de histria disse que voc no tem prestado ateno nas aulas. Ele alega que voc dormiu durante uma aula sobre a fundao de Nova York. Ao que parece, voc nem se incomodou em limpar a baba quando voc foi embora. - Enfim, eu tinha entendido aonde minha me queria chegar. Minhas atividades extracurriculares no estavam em questo. Eu podia me fantasiar de Mulher Maravilha e combater as foras do mal, desde que tirasse boas notas. - Eu no babei. O sr. Dedly no gosta de mim porque eu sei mais sobre a histria de Nova York do que ele. - Isso pode parecer convencimento meu, mas no era exagero. Passei dois anos vasculhando a imensa biblioteca de meus pais e devorando cada livro que pude sobre o assunto. Eu sabia quantos trabalhadores infelizes foram sepultados na ponte do Brooklyn, que cemitrio antigamente fornecia cadveres novos para dissecao dos estudantes de medicina e a localizao da ferrovia subterrnea secreta para uso pessoal da famlia Vanderbilt. Eu mesma podia dar a aula - e com muito mais talento do que o sr. Dedly devo acrescentar. - O que pode ser verdade, Ananka. Mas o sr. Dedly no o nico professor que a pegou cochilando em aula. - Quem mais reclamou? - rebati, no inteiramente surpresa em descobrir que a esnobe Escola para Meninas Atalanta estava cheia de espies e traidores. - Isso no importa - disse minha me. - O que importa que as aulas comearam h trs semanas e voc j est encrencada. No quero mais boletins como os do ano passado. Mais

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uma nota C ou D e vou mand-la para um internato. No estou brincando, Ananka. Vou encontrar um to distante da civilizao que a nica coisa que voc ter para fazer ser o dever de casa. - Voc est blefando. - Eu ri de nervoso. Minha me nunca me fez ameaa alguma e eu no sabia bem se devia lev-la a srio. Mas eu no conseguia imaginar um destino mais horroroso do que ser banida de Manhattan. - A diretora Wickham ligou ontem noite - anunciou por fim minha me. - Seu professor de histria disse que voc no tem prestado ateno nas aulas. Ele alega que voc dormiu durante uma aula sobre a fundao de Nova York. Ao que parece, voc nem se incomodou em limpar a baba quando voc foi embora. - Enfim, eu tinha entendido aonde minha me queria chegar. Minhas atividades extracurriculares no estavam em questo. Eu podia me fantasiar de Mulher Maravilha e combater as foras do mal, desde que tirasse boas notas. - Eu no babei. O sr. Dedly no gosta de mim porque eu sei mais sobre a histria de Nova York do que ele. - Isso pode parecer convencimento meu, mas no era exagero. Passei dois anos vasculhando a imensa biblioteca de meus pais e devorando cada livro que pude sobre o assunto. Eu sabia quantos trabalhadores infelizes foram sepultados na ponte do Brooklyn, que cemitrio antigamente fornecia cadveres novos para dissecao dos estudantes de medicina e a localizao da ferrovia subterrnea secreta para uso pessoal da famlia Vanderbilt. Eu mesma podia dar a aula - e com muito mais talento do que o sr. Dedly devo acrescentar. - O que pode ser verdade, Ananka. Mas o sr. Dedly no o nico professor que a pegou cochilando em aula. - Quem mais reclamou? - rebati, no inteiramente surpresa em descobrir que a esnobe Escola para Meninas Atalanta estava cheia de espies e traidores. - Isso no importa - disse minha me. - O que importa que as aulas comearam h trs semanas e voc j est encrencada. No quero mais boletins como os do ano passado. Mais uma nota C ou D e vou mand-la para um internato. No estou brincando, Ananka. Vou encontrar um to distante da civilizao que a nica coisa que voc ter para fazer ser o dever de casa. - Voc est blefando. - Eu ri de nervoso. Minha me nunca me fez ameaa alguma e eu no sabia bem se devia lev-la a srio. Mas eu no conseguia imaginar um destino mais horroroso do que ser banida de Manhattan. - No acho que v querer descobrir se sou capaz disso. Sugiro que comece a passar mais tempo estudando e menos andando por a com suas amigas. Algumas delas no parecem se importar com os estudos, e duas so trapaceiras de carteirinha. Oona Wong nunca bate na porta quando vem aqui. S pe a mo na maaneta e entra sozinha.

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Estremeci. Eu tinha pedido a Oona para parar de arrombar trancas, mas este era um hbito que ela achava difcil de largar. - Minha amigas so gnios - foi a resposta ridcula. - No duvido disso nem por um minuto. Elas at podem ajudar voc a ganhar uma bolsa para a universidade comunitria de sua preferncia. - Minha me se levantou da mesa. - Voc e Kiki Strike esto aprontando alguma - disse ela. - No sei o que , mas se continuar afetando seu rendimento escolar, descobrir ser minha misso. Enquanto ela se arrastava para fora da cozinha, olhei o jornal aberto na minha frente. Se Kiki era a responsvel, ela deveria ter sido mais discreta.

***

claro que minha me tinha razo. Minhas amigas e eu estvamos aprontando alguma. Mas mesmo que as possibilidades fossem apresentadas na forma de uma pergunta de mltipla escolha (Ananka e as amigas trapaceiras esto... A: Passando tempo com grupos de ambientalistas radicais; B: Cheirando canetas permanentes e descuidando do dever de casa; C: Caindo sob a influncia de uma mini-hipnotista que lhes garantir uma vaga de atendente na Better Burger; D: Salvando a cidade de Nova York), minha me nem poderia ter adivinhado a verdade. Como muitas pessoas daquela idade, ela sofria de uma estranha forma de amnsia que a impedia de lembrar como era ser jovem. Apesar de suas desconfianas, ela no conseguia acreditar que um grupo de meninas de 14 anos era capaz de alguma coisa alm de travessuras insignificantes. Como estou com humor para compartilhar, vou lhe contar a verdade. Aos 12 anos, eu me juntei s Irregulares, um bando de bandeirantes em desgraa lideradas pela infame Kiki Strike. Juntas, ns seis partilhamos um segredo extraordinrio. Descobrimos um vasto labirinto de passagens esquecidas debaixo do centro de Nova York, construdo pela comunidade do crime da cidade h mais de duzentos anos. Entradas secretas para a Cidade das Sombras podem ser encontradas em pores de bancos, lojas de grife e casas elegantes de toda Manhattan, e qualquer um que tenha acesso aos tneis infestados de ratos pode entrar e roubar os prdios vontade. claro que as Irregulares no estavam interessadas em rechear os bolsos com produtor adquiridos ilicitamente. Apenas queramos que os tneis fossem s nossos. Mas sabamos que nosso playground subterrneo tinha um preo. Em vez de deixar que as autoridades estragassem a diverso, assumimos a responsabilidade de evitar que uma nova gerao de criminosos usasse a Cidade das Sombras. Prefiro pensar que tivemos sucesso. Mas como os corpos inchados de lulas gigantes que do

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na praia da Nova Zelndia, at os segredos mais bem guardados um dia, cedo ou tarde, vm tona. Seis meses atrs, um mapa incompleto da Cidade das Sombras caiu nas piores mos possveis e os parentes assassinos de Kiki Strike - a cruel rainha da Pocrvia e sua filha de moral questionvel - usaram-no para tramar sua destruio. Depois que as Irregulares frustraram um atentado contra a vida de Kiki, Livia e Sidonia Galatzina fugiram para a Rssia. Mas era s uma questo de tempo at elas voltarem - e, pelo que sabemos, elas ainda tm uma cpia de nosso mapa. Enquanto esperamos que as Galatzina faam seu movimento seguinte, as Irregulares se mantm ocupadas. No vero, exploramos novos tneis e expandimos nosso mapa da Cidade das Sombras, recolhendo os tesouros que encontramos pelo caminho (moedas de ouro, relgios de prata, comadres antigas surpreendentemente valiosas). Sempre que demos numa entrada que podia ser descoberta, ns a bloqueamos, ou montamos armadilhas. Foi um trabalho exaustivo e grande parte dele foi feito noite, quando a maioria das meninas de nossa idade estava aninhada na cama. Espervamos completar nosso mapa antes de setembro, quando as aulas comeassem. Mas quando a diretora Wickham decidiu me dedurar, ainda havia um tnel a ser explorado. Nenhuma ameaa de minha me pode me impedir de concluir este trabalho. No que eu no d importncia a suas advertncias. Como diria minha amiga Verushka, quando um co silencioso comea a latir, melhor prestar ateno. Eu at tentei atacar o dever de geometria que andei deixando de lado, mas a matemtica sempre me faz divagar e no ajudou em nada que cada cmodo de nosso apartamento estivesse apinhado de livros sobre temas mais interessantes. (Civilizaes perdidas da Amrica do Sul, anlise forense de esterco pr-histrico e a trama M15 contra a princesa Diana, para citar alguns.) Enquanto preparava um bule de caf forte, vi um livro intitulado Envenenadoras do sculo XVII encostado numa caixa de adoante. Incapaz de resistir, convenci-me de que precisava de uma curta parada nos nmeros e deixei que meus olhos imergissem na histria da gananciosa marquesa de Brinvilliers, que envenenou metade da famlia antes de ser queimada na fogueira. Quando levantei a cabea de novo, eram quase nova da noite. Enquanto vestia cala e camiseta pretas, eu me xinguei por minha falta de disciplina. Os livros sempre foram meu fraco. Tranquei a porta de meu quarto e desci a escada de incndio do lado de fora da minha janela. Vou admitir que no havia muita razo para a ao furtiva no estilo Mulher-gato. Minha me e meu pai nem estavam em casa. Eu tinha dado um show to convincente de que estava estudando o dia todo que eles decidiram brindar ao sucesso dos dois num restaurante prximo. Uma simples placa de Estudando: No Perturbe os manteria longe de meu quarto quando eles voltassem. Mas como eu ia encontrar Kiki Strike para uma noite de aventura (talvez minha ltima noite, por algum tempo), no parecia l muito conveniente sair pela porta da frente.

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O tempo estava estranhamente quente havia semanas, e o ar estava denso do cheiro ranoso de um milho de latas de lixo. Raios estalavam nas nuvens no alto, avisando que uma tempestade se aproximava de mansinho da cidade. Enquanto ia para o Cemitrio de Mrmore, um cemitrio secreto com uma entrada para a Cidade das Sombras, contei os ratos que se enfiavam nos bueiros ao som de meus passos. Eu tinha passado por quarenta deles quando entrei em uma rua curta e mal iluminada chamada Jersey Street. Os pelos de minha nuca comearam a levitar e meus dedos se agarraram latinha de spray de pimenta que eu tinha escondida no bolso. Tentei me preparar para um encontro com uma gangue de arruaceiros de punhos ligeiros ou um dos lendrios assaltantes de Manhattan. E me vi cara a cara com um roedor imenso.

*** Pintado na lateral de um prdio, o esquilo assomava com um metro e oitenta de altura e no pareceu satisfeito por me ver. Dois olhos pretos de conta encaravam debaixo de sobrancelhas bastas, e um sinistro sorriso de sarcasmo revelava a dentua. Uma das patas carnudas do esquilo segurava uma placa com letras em negrito. Dizia: SEU DINHEIRO LIBERTAR TODOS OS ANIMAIS. Olhei por sobre o ombro, na esperana de que um esquilo em carne e osso no estivesse ali para cumprir a ameaa. A viela estava vazia. Estendi a mo e rocei o dedo na pintura da parede. Ainda estava mida. Quem pintara o esquilo tinha acabado o trabalho havia pouco. Em qualquer noite em Nova York, h centenas de artistas deslizando pelas sombras, deixando suas marcas pelas paredes da cidade. Alguns so viciados na adrenalina e na correria; outros tm algo a dizer e querem que o mundo todo os oua. Havia poucas dvidas de que o artista do esquilo tinha uma misso - suspeitei de que podia ser a mesma pessoa cuja aventura na pet shop ganhara a primeira pgina do New York Post. Mas uma coisa era certa: no era Kiki Strike. Ela podia falar umas dez lnguas e derrubar homens com duas vezes seu tamanho, mas nunca desenharia nem um bonequinho de criana convincente. Havia um novo justiceiro na cidade. Tendo absolvido Kiki do trabalhinho de libertao dos animais, eu estava me coando para contar a ela sobre o esquilo que tinha visto. Cheguei trs minutos adiantada ao cemitrio e andei na frente dos portes, consultando o relgio a cada poucos segundos como um gordo faminto olhando um lote de brownies no forno. As nove horas chegaram sem sinal de Kiki. s 9h15, passou um caminho de entrega de pet shop, com um esquilo cor-de-rosa adornando a lateral. O esquilo segurava uma placa que anunciava LIBERTE-OS OU SOFRA AS CONSEQUNCIAS. Perguntei-me quais seriam as consequncias enquanto o cu trovejava como os intestinos de um gigante com priso de ventre. s nove e meia eu estava espremida no toldo da funerria do bairro. Chovia a cntaros e eu comeava a me preocupar. Kiki Strike

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se orgulhava de sua pontualidade. Se estava atrasada, tinha de ser encrenca. Liguei para o celular dela, mas ningum atendeu. s 19h40, parei um txi e dei o endereo da casa de Kiki.

***

Para qualquer uma que pense que eu estava exagerando, inclu uma curta lista das pessoas que querem Kiki Strike morta. A lista aumenta consideravelmente com o passar dos anos mas, dado o fato de que Kiki no tinha idade para dirigir (embora em geral fizesse isso) na poca desta histria, acho que voc vai achar a lista bem impressionante. 1. Livia Galatzina, rainha (exilada da Pocrvia). Monarca com sede de poder e gosto por mveis bregas, Livia Galatzina envenenou toda a famlia da irm mais velha para subir ao trono do minsculo reino da Pocrvia. Kiki Strike, a infeliz sobrinha de Livia, foi salva por Verushka Kozlova, membro da Guarda Real. Depois que o povo da Pocrvia deu um p na bunda em Livia, ela se mudou para Nova York. Kiki e Verushka vieram logo depois, com a inteno de se vingar. 2. Sidonia Galatzina, princesa da Pocrvia. Filha de Livia e minha ex-colega na Escola para Meninas Atalanta, a Princesa antigamente era considerada a It Girl de Nova York. Ela tambm tentou matar Kiki Strike. Para atrair Kiki a suas garras, a Princesa sequestrou duas meninas cujos pais tinham acesso a um mapa perigoso. Quando as Irregulares conseguiram resgatar as meninas, Sidonia e sua me fugiram para a Rssia, onde foram vistas pela ltima vez jogando croqu na casa de um notrio gngster. 3. Sergei Molotov. Ex-membro corrupto da Guarda Real de Pocrvia e brao direito de Livia, Molotov imputou o assassinato dos pais de Kiki a Verushka Kozlova, obrigando Kiki e Verushka a se esconderem. Mais tarde, o esperto assassino atirou na coxa de Verushka enquanto tentava capturar Kiki Strike. Ele tambm escapou impune. 4. Toda a gangue Fu-Tsang. Enquanto exploravam a Cidade das Sombras, as Irregulares descobriram que a Fu-Tsang, uma gangue de contrabandistas chineses, usava salas na Cidade das Sombras para esconder seu butim. Alertamos a polcia e, em retaliao pela batida que se seguiu, a Fu-Tsang uniu foras com a Princesa para matar Kiki Strike. A maior parte da gangue foi presa, embora alguns membros continuem em liberdade. 5. Lester Liu. O misterioso lder da Fu-Tsang. Houve boatos de que Lester Liu administrava seus negcios direto de Xangai. 6. Vendedor de cachorro-quente da esquina da rua 14 com a Sexta Avenida. Vamos colocar da seguinte maneira: desde que Kiki denunciou as atividades dele vigilncia sanitria, eu

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nunca mais comi um cachorro-quente. Tenho escapado da justia, o vendedor ainda era procurado por vrias acusaes de crueldade com animais. Quando uma rainha, um contrabandista e um vendedor de cachorro-quente esto decididos a matar ou capturar voc, melhor no ficar em um lugar s por muito tempo. Em julho, Kiki e Verushka mudaram-se para novos aposentos na rua 18. Originalmente uma garagem de carruagens, o prdio comprido e estreito de tijolos aparentes tinha um nico andar. Uma vez que Sergei Molotov a havia baleado dois anos antes, Verushka, aos poucos perdera o uso de uma perna, ento estava fora de cogitao usar uma escada. No vero, Luz Lopes, a brilhante mecnica das Irregulares, passou trs semanas preparando uma cadeira de rodas exclusiva para o sexagsimo aniversrio de Verushka. Quando terminada, trazia um assento que podia se erguer 1 metro no ar, um brao robtico e um pequeno canho para lanar granadas de gs lacrimogneo. Naquela noite, quando o trnsito da cidade diminuiu, Verushka pde ser vista disparando com sua cadeira pela Stima Avenida. Um policial registrou que ela seguia a 80 quilmetros por hora. Verushka sempre se gabava de ele ter ficado to impressionado que nem lhe deu uma multa. Na rua 18, sa de meu txi e entrei num rio de gua de chuva que corria junto ao meio-fio. Espremendo-me ao passar pelos postes do prdio, eu no sabia se Kiki e Verushka estavam em casa. Uma hera voraz tinha tragado as duas janelas que davam para a rua e agora suas gavinhas famintas atacavam os prdios vizinhos. Subi s portas altas de madeira em arco, estendi a mo fundo pela hera e apertei a campainha escondida. Como ningum atendeu, esperei que um pedestre ruidoso virasse a esquina e comecei a escalar a parede. Se voc for meio parecida comigo, deve ter visto uns mil filmes em que as pessoas escalam prdios usando uma ampla variedade de plantas trepadeiras. Acredite em mim quando eu lhe digo que muito mais difcil do que parece e voc no deve experimentar, a no ser que esteja salvando a vida de algum ou fugindo da polcia. Antes de chegar beira do telhado de Kiki, escorreguei uma meia dzia de vezes, esfolando os ns dos dedos. Por fim, consegui subir e olhei pela imensa claraboia no telhado do prdio. As luzes estavam acesas, mas Kiki e Verushka no estavam ali. Toda a habilitao estava tranquila e silenciosa como uma casa de bonecas de uma criana morta. No vi sinais de luta - pelo que eu podia dizer, tudo estava em seu lugar. Na realidade, s percebi um sinal de que havia algo errado. No meio da sala, a cadeira de rodas de Verushka estava vazia. Por mais que quisesse investigar, eu no podia invadir a casa de Kiki. As Irregulares passaram semanas montando armadilhas e uma nuvem de gs de riso explodiria se algum se atirasse na lateral do prdio. Force uma tranca e voc se ver presa numa rede de lasers que vo chamuscar sua pele. Fiquei agachada no telhado e pensei em minhas alternativas. S havia uma, e no gostei dela: ter de esperar. Enquanto eu me preparava para uma descida pela trepadeira, olhei a rua, para ver se algum passava. No final da quadra, vi uma figura escura e magra parada junto a uma parede, abrigada pelo beiral do prdio. Dada sua postura e a ausncia de um guarda-chuva, imaginei

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que estava atendendo a um chamado da natureza. Meu celular vibrou e eu o peguei no bolso, na esperana de ouvir Kiki do outro lado da linha. Em vez disso vi o cone de mensagem de texto. "Reunio amanh: 7h. FFat Frankie's. Oona." Decepcionada, comecei a descer centmetro por centmetro a lateral do prdio. S quando pousei em segurana a calada percebi que eu podia ter sido vista. Corri par a figura que vi perto da parede. A pessoa se fora, mas deixou sua marca - um esquilo feliz de 2 metros de altura com uma placa que dizia NO FOI POR FALTA DE AVISO.

COMO PARECER MISTERIOSA Apesar de que alguns livros lhe diro, voc no precisa de poderes mgicos nem amigos no reino das fadas para desfrutar de uma emocionante aventura de vez em quando. O que voc precisa de um pouco de bom senso - e alguns conselhos prticos. o que ofereo aqui. Posso no ser a maior aventureira do mundo, mas o que aprendi foi com os melhores. (E costumo fazer anotaes muito boas.) Vamos comear por uma coisa simples. At que ponto voc gostaria de intrigar os outros, inspirar romances e talvez se tornar uma lenda em sua poca? Voc no precisa de um passado de crimes, nem de um segredo perigoso, nem mesmo de um sobretudo impermevel para parecer misteriosa. Gritos silenciosos Se voc do tipo que gosta de contar a histria de sua vida a algum que voc conhece no metr, pode achar difcil cultivar um ar de mistrio. (No se preocupe - provavelmente voc ter um futuro incrvel como apresentadora de talk-show.) Nada a far parecer menos misteriosa do que um ataque de diarreia verbal. Isso no quer dizer que voc deva ser taciturna ou antiptica. Simplesmente fique de boca fechada e deixe que as pessoas faam o que mais gostam de fazer - falar delas mesmas.

Invente um segredo Escolha uma assunto a evitar na conversa. Pode ser o trabalho (ou a profisso de seus pais), o que aconteceu nas suas frias de vero, ou por que sempre h um segurana seguindo voc. Sempre que o tema surgir, sorria e mude de assunto.

Vista-se para o papel Cores ousadas e corpo exposto no transmitem uma imagem misteriosa. Em vez disso, pense em preto, alinhado e sofisticado. Alm disso, tenha pelo menos um item curioso e jamais seja

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vista sem ele. No precisa ser um par de bastes de carat - um medalho antigo, um bracelete indiano estranho, ou um exemplar surrado de International Affairs podem funcionar igualmente bem.

Ostente sua cicatriz Poucas coisas so mais intrigantes do que uma cicatriz. Se voc j tiver uma, considere-se uma pessoa de sorte. Se no tiver, deve encontrar uma alternativa razovel em uma loja de fantasias. Mais uma vez, melhor no discutir o assunto. Nenhuma histria que voc inventar ser to fascinante quanto aquelas que as pessoas forjaro sozinhas.

Escolha uma rea de especialidade Faa um curso de arrombamento. Aprenda a fazer ligao direta num carro. Esforce-se para ser faixa preta em carat. Fique famosa no mercado de aes. Mas jamais se sabe de sua especialidade. Espere pela oportunidade certa para exibir suas habilidades e ver o queixo de todos caindo. Aprenda a desaparecer Desaparecer mais fcil do que parece. Voc sempre almoa com seus amigos no mesmo lugar? Escolha um dia para comer atum num lugar diferente. No explique sua ausncia. Recuse-se a atender o telefone ou responder a e-mails por 24 horas. Diga s pessoas que voc estava ocupada. Quando sair com um grupo, espere at que ningum esteja olhando e abandone-o. Quando indagada, diga que tinha uma coisa para fazer.

Crie uma sociedade secreta Depois de voc conseguir criar uma aura de mistrio, pode ser a hora de transmitir seu conhecimento a novos amigos. Encontre uma causa que possa alardear - seja salvar ou dominar o mundo - e cria sua prpria sociedade secreta. Pense em criar seu logotipo, mas lembre-se - para que seja uma sociedade secreta mesmo, deve continuar sempre em SEGREDO.

CAPTULO DOIS Quem dormiu na minha cama? Acho que posso dizer com segurana que a maioria das meninas de 14 anos com histrico

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criminal teria guardado distncia do Fat Frankie's. Toda manh, dezenas de policiais se espremiam na pequena lanchonete para devorar o caf da manh antes de seus turnos matinais. Mas no vero, o Fat Frankie's tornou-se o ponto de encontro preferido de Oona Wong. Por mais ilcitos que fossem seus negcios, ela preferia realiz-los em pblico. Ela sabia que no tinha nada a temer. Poucos de seus clientes podiam imaginar que a menina elegante com cara de boneca fora uma das falsrias mais famosas de Chinatown. Oona dizia gostar de viver sob tenso - mas sempre desconfiei que ela tivesse uma queda por policiais. Enquanto eu abria caminho pela lanchonete abarrotada, perguntei-me qual seria o ltimo esquema de Oona. Um ano antes ela abrira o Golden Lotus, um salo de manicure de elite aonde mulheres ricas iam aos bandos para fazer as unhas e trocar fofocas com as amigas. Arrogantes e ignorantes, elas supunham que as jovens chinesas que trabalhavam no salo no sabiam falar ingls. Mas enquanto aparavam cutculas e cortavam unhas dos ps em silncio, as funcionrias de Oona registravam cuidadosamente as conversas das clientes. Oona fez uma pequena fortuna negociando os segredos das socialites e pegando dicas de aes, mas isso no a impedia de procurar novas maneiras de engordar sua conta bancria. O que Oona fazia com o dinheiro era um mistrio que o restante de ns jamais conseguiu resolver. Tremendamente indelicada, ela nunca hesitava em observar que seu brilho labial no combinava com a pele ou que uma espinha gigantesca estava prestes a estourar na sua testa. Mas por uma questo de princpios, recusava-se a discutir sua vida pessoal. Apesar do que soubemos dela com o passar dos anos, no fazamos ideia de onde Oona morava ou com quem preparava seus waffles toda manh. Minha nica tentativa de satisfazer a curiosidade terminou numa discusso franca em uma rua de Chinatown quando Oona me pegou seguindoa para casa, disfarada de uma sem-tato estranhamente jovem. No fim, prometi deix-la em paz. Eu sabia que um dia a verdade seria revelada e no valia a pena perder uma amiga para ter uma pr-estreia.

***

Encontrei as Irregulares reunidas em volta de uma mesa na ponta do Fat Frankie's, a pouco distncia do banheiro. Vestida de macaco de mecnico cinza, Luz Lopes estava sentada com as botas de trabalho apoiadas nas costas de uma cadeira. A cabea estava tombada de concentrao e os lbios formavam palavres em silncio enquanto os dedos mexiam em sua ltima inveno. DeeDee Morlock, a especialista em qumica das Irregulares, conversava com uma Hare Krishna careca que s podia ser Betty Bent, nossa mestre do disfarce. Enquanto as outras meninas prestavam pouca ateno ao ambiente, Oona estava sentada de costas para a parede, os olhos negros e ferozes indo de uma pessoa a outra. Tive a sensao de que ela contava os segundos at a reunio comear. Quando me viu indo para a mesa, tombou a cabea de lado e cruzou os braos, exigindo em silncio uma explicao para meu atraso. Oona Wong no gostava de esperar.

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- Que emoo. Voc finalmente conseguiu chegar, Fishbein. Foi abduzida por aliengenas quando vinha para c? Ou parou para incomodar outro turista com seu sermo sobre a histria secreta do Washington Square Park? - Oona adorava um confronto e na maioria das manhs eu podia ter cedido. Mas fiquei em silncio enquanto empurrava as botas de Luz da cadeira e me sentava de frente para DeeDee. - Cad a Strike? - perguntou Oona. - Acho que Kiki no vir - falei. Betty mordeu o lbio e os dedos de Luz paralisaram-se enquanto todas nos preparvamos para o que viria a seguir. - Do que est falando? - A cara bonita de Oona se enrugou de raiva. - Ela tem de estar aqui. Quando uma de ns convoca uma reunio, todas tm que comparecer. Esta a regra. - Baixe a voz. cedo demais para gritar. - De todas ns, DeeDee era a que tinha menos pacincia com as exploses de Oona. - Deixe Ananka terminar primeiro, est bem? A boca de Oona se cerrou com fora suficiente para quebrar um garfo ao meio. - Kiki sumiu - expliquei a elas. - Devia se encontrar comigo ontem noite para terminar o mapa. No apareceu no Cemitrio de Mrmore. - Vai ver estava invadindo outra pet shop - disse Luz, voltando a seu conserto. - Algum aqui viu os jornais de hoje? Aposto que algum viu um duende albino soltando outros macacos nas ruas ontem noite. - Kiki no soltou aqueles animais. Ela nunca foi irresponsvel. um milagre que nenhum deles tenha sido atropelado por um nibus. - De natureza dcil e crdula, Betty jamais acreditou que Kiki fosse capaz de qualquer coisa repreensvel. O restante do grupo sabia muito bem que era possvel. - s vezes eu me pergunto se conhecemos a mesma pessoa - eu disse a ela. - Mas desta vez voc tem razo. Kiki no teve nada a ver com a pet shop. J viram os esquilos gigantes? - Vi um quando vinha para c - disse DeeDee. - O que tm eles? - Luz deu de ombros. - Tenho certeza de que a pessoa que est pintando os esquilos soltou os animais da loja. Acho que o vi ontem noite. Ele deixou um esquilo perto da casa de Kiki.

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- Ento voc foi casa de Kiki? - perguntou DeeDee. - O que Verushka disse? Ela sabe onde Kiki est? - Verushka tambm sumiu. E no levou a cadeira de rodas. Por um momento, as Irregulares ficaram sentadas em silncio enquanto a informao batia de um lado a outra de nosso crebro como uma bola de boliche numa mquina de lavar. Oona suspiro e revirou os olhos. - L se vai a minha reunio - murmurou ela. - Eu lamento que seu mais recente esquema de enriquecimento rpido tenha sido temporariamente suspenso. - O volume da voz de DeeDee aumentava a cada palavra. - No acha que isso um pouco mais importante? - cedo demais para gritar - Oona zombou dela. - Kiki desaparece o tempo todo. isso o que ela faz. No sei por que esto todas preocupadas. Nenhuma de vocs perceberia se eu no aparecesse para uma reunio. - Sua famlia no est tentando matar voc - Betty tentou explicar. - E o que voc sabe, careca? - disse Oona. - Talvez estejam. - Ento, por onde anda a famlia real homicida da Pocrvia ultimamente? - perguntou Luz, arrastando a conversa de volta aos trilhos. - Ainda escondida na Rssia? - No sabemos - admiti. - Livia e Sidonia desapareceram h dois meses. As fontes de Verushka afirmaram que elas saram de So Petersburgo, mas outro dia ouvi um boato que me fez imaginar se a Princesa e sua me ainda podem estar aqui. - Elas podem estar em Nova York agora? - perguntou-se Betty. - Ouviu alguma coisa no salo, Oona? Por um momento, parecia que os lbios de Oona no iam se mexer. Sua raiva tinha desaparecido e ela comeou a ficar amuada. - No tenho passado muito tempo l - disse ela por fim. - Mas Livia e Sidonia so tpicos de prioridade mxima. Se houvesse alguma novidade, algum teria me avisado. - Ser que a gente deve dar uma olhada na casa de Kiki? - perguntou DeeDee. - Se nos derem algumas horas, Luz e eu podemos desativar as armadilhas. - E destruir aquele trabalho todo? - Luz gemeu. - O que isso, gente? Oona tem razo. Esta no a primeira vez que Kiki desaparece. Nem a quarta vez. A gente no devia estar um ou

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dois dias antes de destruir tudo? - Talvez Luz tenha razo - disse Betty. - Nossa reunio semanal amanh. Se Kiki no aparecer, podemos invadir sua casa e procurar pistas. - Muito bem - falei, levantando-me da mesa. - Se todas preferem aguardar, vamos aguardar. S espero que estejamos fazer a coisa certa. - Aonde voc vai? - perguntou Betty. - Tenho uma pesquisa para fazer. Se Livia e Sidonia voltaram a Nova York, pode haver uma nota nas colunas de fofocas. - Mas Oona convocou a reunio e ainda nem deixamos que ela falasse - protestou Betty. Oona no disse nada. Limitou-se a se concentrar na mesa diante dela como se desejasse que ela voasse pela janela. - Desculpe, Oona - eu disse. - O que queria discutir? - Deixa pra l - murmurou Oona. - Por favoooooor - pediu Betty, tentando tirar Oona de seu retraimento. - Vou esperar. No to importante - disse Oona, e de repente desconfiei de que fosse.

***

Naquela noite, o clima piorou. Mesmo com as janelas abertas, meu quarto estava quente o bastante para assar um bode. Deitei-me de camisola na minha cama, usando o Daily News como leque. Depois que voltei da reunio, passei um pente-fino em cada jornal de Nova York. No havia meno alguma a Livia ou Sidonia Galatzina. Os esquilos gigantes eram a grande matria do dia. Como que para provar cidade que eles no podiam ser ignorados, os esquilos invadiram o zoolgico do Central Park nas primeiras horas da manh e libertaram centenas de animais de suas jaulas. s seis da manh, um corredor contou ter visto um bando de pinguins num banquete de peixe no Harlem Meer. Uma jiboia foi vista tomando sol na escadaria de uma manso da Quinta Avenida, com o volume de um poodle no ventre. Rs arborcolas com cores de pedras preciosas pendiam dos galhos de um pinheiro feito uma decorao de rvore de Natal. Entre os nicos animais que ficaram no zoolgico estavam vrios esquilos enormes. Aquele que ganhou a primeira pgina do New York Times tinha sido pintado em um iceberg de

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plstico do habitat do urso polar. Era uma fera de aparncia homicida com uma placa que dizia grosseiramente: T OLHANDO O QU? Segundo os jornais, as gravaes da segurana do zoolgico capturaram uma figura obscura passando sorrateiramente por vrios seguranas adormecidos, parando de vez em quando para mostrar o traseiro para as cmeras. Como a cara do justiceiro estava disfarada com habilidade e sua bunda no trazia feies caractersticas, a polcia estava sem pistas. Comearam a procurar as pet shops e interrogar estudantes de arte, mas o culpado continuava solta. Todos em Nova York estava ansiosos para ver o que ele faria a seguir. Uma lufada de vento soprou pelo quarto, farfalhando os jornais que eu atirara no cho. Virei a testa milhada de suor para pegar a brisa e vi uma cara estranhamente plida emoldurada por cabelos brancos e desgrenhados me olhando da escada de incndio. Quando gritei de pavor, a cara sorriu e desapareceu. Segundos depois, a porta de meu quarto se abriu e meu pai, de culos, colocou a cabea para dentro. - Ainda est viva? - perguntou ele, dando uma olhada no quarto. - Mais ou menos. - Eu me sentia meio fraca devido ao choque. - Bicho-papo? - perguntou ele. - Aranha. Com diploma em entomologia, as simpatias de meu pai estavam com os insetos do mundo e ele nunca deixava passar uma oportunidade de falar mal de um aracndeo. - Criaturinhas repulsivas - disse ele, tremendo de repulsa. - Sabia que elas dissolvem as estranhas da presa e depois as chupam como um sacol? So os assassinos seriais de oito pernas do filo artrpode. Mas lembre-se: voc maior do que elas. - Obrigada pelo conselho - eu falei. - Meu trabalho esse - respondeu ele enquanto fechava a porta com um sorriso. Depois que ouvi seus passos sumirem, enfiei-me pela janela e cheguei sada de incndio. Kiki Strike estava encostada na parede, esperando por mim, as roupas pretas e chiques misturando-se na noite. No era exatamente a imagem de uma princesa - s vezes difcil acreditar que ela era humana. Embora o veneno que ela consumira quando beb no a tivesse matado, secara a cor da pele e do cabelo. E como o atentado contra sua vida a deixou alrgica maioria dos alimentos, era improvvel que ela passasse de um metro e meio de altura. Aos 14 anos, parecia uma criatura de um filme de fico cientfica, incrivelmente bonita e estranha.

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- Desculpe pelo atraso - sussurrou ela. Mesmo no escuro, eu sabia que havia alguma coisa errada. Seus olhos azul-claros estejam injetados, as bochechas ainda mais encovadas, e ela no escovava o cabelo havia dias. - Vinte e quatro horas. Acho que seu novo recorde de atraso. Por onde andou? Eu tinha certeza de que voc tinha sido raptada. Passei o dia todo tentando localizar Livia. - Verushka estava doente. Tive de lev-la ao hospital. - Verushka est no hospital? O que ela tem? Ela vai ficar bem? Posso v-la? - As perguntas disparavam de minha boca como projteis de mira ruim e minha viso se toldou enquanto as lgrimas tomavam meus olhos. Verushka no s era o tipo de guardi que eu sempre quis ter engraada, compreensiva e hbil com uma bazuca - mas eu tambm sabia que tinha sido ela quem convencera Kiki a me convidar a ingressar nas Irregulares. Sem a interveno dela, eu podia ter morrido de tdio muito antes de chegar ao ensino mdio. - Verushka j est em casa. Ela est indo bem. Houve um problema na perna dela... Aquela que Sergei Molotov baleou. Comeou a ficar azul h alguns dias. Mas agora est tudo sob controle. Na realidade, ela ia ficar possessa se soubesse que eu te contei. uma velha durona. Um dia e a vi suturar um ferimento na prpria cabea com uma agulha de costura e linha de pesca. Provavelmente ela vai viver mais do que todas ns. - Isso no me surpreenderia - conclu. - Mas como voc est se sentindo? Parece que foi mergulhada em gua sanitria. Tem certeza de que no pegou nada no hospital? - Nada que no possa ser tratado. O que acha de terminarmos o mapa esta noite? - No posso. Algumas de ns tm de ir escola de manh. Meus professores andaram se queixando de que eu apago durante as aulas. - Quer que eu cuide deles? - perguntou Kiki com uma sobrancelha arqueada que tive medo de interpretar. - Acho que posso lidar com eles sozinha - garanti a ela. - Mas preciso mesmo descansar um pouco. Minha me ameaou me deportar para o meio do nada se minhas notas no melhorarem. - Venha comigo esta noite e prometo que vai tirar um cochilo amanh tarde. - Ah, ? Como vai fazer isso? - surpresa. Eu no ia meter voc me problemas.

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- Mas no quero ir ao Cemitrio de Mrmore hoje - gemi. - trabalho demais. - Veja s - contra-atacou Kiki com um sorriso torto. - Eu tambm pensei nisso. Se voc se vestir rpido, podemos usar a entrada do poro de Iris. Os pais dela foram a uma festa. - E a bab? - A bab se trancou no banheiro h uma hora. Secou uma garrafa de xerez culinrios e agora est cantando musicais sozinha. - Sei no, Kiki. O sorriso de Kiki desapareceu enquanto ela tirava uma lasca de tinta da escada incndio. Por baixo de toda a arrogncia, alguma coisa ainda a perturbava. - Voc venceu - concordei, irritada. - Fiquei aqui enquanto visto alguma coisa mais prtica. Mas melhor pensar num plano infalvel para me tirar da escola amanh. - Voltando a meu quarto, estendi a mo pela janela e lhe passei a primeira pgina do New York Times. - Aqui tem uma coisa para voc ler enquanto espera. - , eu j vi os esquilos - disse Kiki. - Enquanto estiverem solta, vo me deixar longe dos jornais. Graas aos filmes do zoolgico, ningum prestou ateno em mim o dia todo. Aquela bunda nas gravaes de vigilncia era inegavelmente de homem. Coloquei a cabea pela janela. - Preocupada que seus 15 minutos de fama tenham acabado? - Aliviada - corrigiu Kiki. - Mais 15 teriam me matado.

*** Em junho, as Irregulares recompensaram Iris McLeod, de 11 anos, com uma associao honorria. Ela no s salvou a vida de Kiki, como tambm descobriu um perfume fedorento que afastava os ratos devoradores de gente da Cidade das Sombras. Sem a ajuda de Iris, jamais teramos continuado nossas exploraes, uma vez que nossas Flautas de Hamelin Reversas pararam de funcionar. Os dispositivos do tipo megafone em miniatura foram projetados para gerar um rudo que os ouvidos dos roedores no suportam. Por um tempo, a Flauta Hamelin Reversa funcionou maravilhosamente, deixando s alguns ratos surdos vagando pelos tneis. Mas com o tempo esses poucos animais proliferaram em um exrcito de um milho de ratos. Os roedores grandes, ferozes e com deficincia auditiva estavam novamente caa de invasores, e qualquer um sem a proteo do perfume de Iris rapidamente assumiria seu lugar

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ao lado das centenas de esqueletos mordidos por ratos que tomavam as passagens e cmaras da Cidade das Sombras. Semicerrei os olhos e me segurei na jaqueta de couro preto de Kiki enquanto ela acelerava o motor de sua Vespa na Bethune Street sem se incomodar em reduzir numa curva. Quando paramos numa derrapada diante da casa de arenito de Iris, a primeira coisa que vi foi o logo das Irregulares estampado na calada. Um i com o formato de uma menina em movimento, ele marcava todas as entradas conhecidas para os tneis subterrneos. Por baixo de um velho ba no poro de Iris, havia um alapo engenhosamente disfarado. Uma escada comprida e enferrujada levava a um quarto oculto a 20 metros do nvel da rua que antigamente pertencera a um contrabandista chamado Angus McSwegan. Segundo Vislumbres de Gotham, um guia do sculo XIX para o lado negro de Nova York, cada garrafa do usque de Angus era batizada com um tico de formaldedo, e graas a isso o efeito era rpido. Era a bebida preferida da Cidade das Sombras, que ficava do lado de fora da porta de Angus. Vi Iris olhando pela janela enquanto Kiki e eu subamos a escada de sua casa. Antes que tivssemos a chance de tocar a campainha, a porta se escancarou, revelando uma loura mnima com um jaleco branco exagerado. - Saudaes, Irregulares - disse Iris. Como Kiki, Iris era incomumente baixa para a idade. Ao contrrio de Kiki, ela possua bochechas de querubim que em geral eram beliscadas por estranhos que a tomavam por uma menina de 8 anos. Passamos pela porta e entramos no hall da frente, ladeado por mscaras horrendas e cabeas encolhidas que os pais de Iris colecionavam de expedies arqueolgicas. - Por que esse jaleco de laboratrio? - perguntou Kiki a Iris. - No me diga que andou fazendo experimentos com a bab de novo. H leis contra esse tipo de coisa, sabia? Iris riu. - Esqueci que estava com ele. Eu estava me preparando para amanh. - O que tem amanh? - perguntei. - Vai participar de uma pea? - Andei praticando para a reunio de amanh, lembra? - Iris pareceu ofendida quando sacudi a cabea. - DeeDee e eu vamos apresentar nossa grande descoberta. Aquela em que trabalhamos o vero todo. Lembra agora? Eu no me lembrava, mas deduzi que era melhor cooperar. - Ah, sim, essa apresentao. , estamos todas muito animadas. - Devem estar mesmo. Minha descoberta vai fazer o perfume repelente de ratos parecer gua de privada.

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- E por falar em repelente de ratos - disse Kiki -, vamos precisar de um novo frasco esta noite. O meu acabou da ltima vez e fui perseguida por umas duas centenas de ratos como se eu fosse feita de marzip. A propsito, quer vir? - Era o jeito dela de se desculpar por esquecer da apresentao de Iris. - Eu adoraria - disse Iris. - Mas meus pais vo chegar a qualquer minuto. Alm disso, quero me certificar de que tudo esteja perfeito para amanh. Se precisar do perfume, h um frasco a mais no ba l embaixo. S trate de ser super silenciosa quando sair. Minha me achou que tinha um ladro aqui da ltima vez que vocs vieram. - Desculpe por isso - disse Kiki. - Oona escorregou ao subir a escada. O nariz de Iris se retorceu ao som do nome Oona. - Era Oona fazendo todo aquele barulho? A pequena Mestre do Crime? - Ser que vocs no podem se entender? - Kiki suspirou. - Toda essa briga est comeando a encher o saco. - Eu me entendo muito bem com ela - reclamou Iris. - No culpa minha se ela no gosta de mim. Na segunda-feira ela disse que se eu no ficasse mais alta, vocs iam me vender a um circo. - Ela disse isso? - Kiki parecia ao mesmo tempo achar engraado e chocante. - S porque ela te sacaneia no quer dizer que no goste de voc - tentei tranquilizar Iris. Oona sacaneia todo mundo. Ela no sabe agir de outra forma. como se fosse socialmente retardada. - Retardada ou no, melhor ela ficar esperta - Iris fumegava -, ou um dia algum vai ensinar boas maneiras a ela. Ouvimos a porta se abrir no segundo andar e uma interpretao desafinada de "Hey, Big Spender" soou pela casa. - Hora de ir - cochichou Kiki, puxando-me para o poro. - A gente se v amanh, Iris. E sempre que tiver o impulso de colocar Oona no lugar dela, tem a minha permisso. - Obrigada - disse Iris com um riso malicioso. - Talvez eu faa isso mesmo.

***

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A temperatura caa a cada passo que dvamos na escada que levava do poro de Iris cidade perdida abaixo de Manhattan. Na base, eu tremi ao ligar minha lanterna numa cmara decorada com engradados de usque vagabundo e o esqueleto mordido por ratos de Angus McSwegan, cujo maxilar se abria num sorriso desdentado. Abri meu mapa. O ltimo tnel inexplorado ficava do lado leste da Cidade das Sombras, a mais de um quilmetro e meio de distncia. - melhor irmos andando - falei com um bocejo. - Temos uma longa caminhada pela frente. - timo! - Naquele momento, as preocupaes de Kiki foram esquecidas. - Estou com vontade de andar. Depois da cmara havia um tnel largo e revestido de pedra. Um lado estava bloqueado por um monte de entulho, resultado de uma exploso infeliz dois anos antes que tinha mandado DeeDee Morlock para o hospital e Kiki para o esconderijo. O outro lado do tnel se estendia diante de ns. Um monstruoso rato cinza atirou-se de um buraco na parede e desapareceu na escurido. Ao passarmos pelas portas que levavam aos bares, sales de jogos e covis de ladres abandonados da Cidade das Sombras, podamos ouvir o bater de milhes de patinhas em volta de ns. Graas ao perfume repelente de roedores de Iris, os ratos mantinham distncia, mas ns duas sabamos que eles esperavam por uma oportunidade de atacar. Tnhamos acabado de virar uma esquina em uma parte conhecida dos tneis, a 5 metros abaixo das criptas da antiga catedral de St. Patrick, quando Kiki pegou meu brao e colocou um dedo nos lbios. Uma porta de madeira estava aberta, bloqueando o caminho a nossa frente. De incio tive aquela mesma sensao enervante que voc tem quando um dia volta da escola e encontra seus livros reorganizados ou sua mesa de cabeceira de cabea para baixo. Mas quando vi o que estava pintado nas tbuas de madeira da porta, quase disparei para a sada. Embora as Irregulares adorassem acima de tudo uma nova cmara para explorar, sempre tnhamos o cuidado de evitar portas trancadas por fora e rotuladas com uma grande cruz vermelha. Sabamos bem demais o que encontraramos. Quem quer que tivesse aberto a porta, no tinha sido uma de ns. Contando at trs em silncio, Kiki e eu pulamos diante da porta e iluminamos a cmara com nossas lanternas. O piso da sala estava cheio de esqueletos, alguns ainda com roupas mofadas e ternos rodos pelas traas. Estes eram os cidados da Segunda Cidade - os criminosos e trapaceiros que encontraram o Criador quando a peste de 1869 grassou nos tneis ocultos de Manhattan. Os poucos sobreviventes trancaram os doentes para morrer em quartos marcados com uma cruz vermelha. A crueldade deles evitou que a doena se espalhasse ao mundo no alto e garantiu que a Cidade das Sombras ficasse esquecida por mais de cem anos. - No estou vendo ningum - expliquei a Kiki enquanto minha lanterna circulava pela sala. -

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Acha que a porta pode ter se aberto sozinha? Kiki examinou a tranca. - Duvido - disse ela. Pouco alm do facho de minha lanterna, alguma coisa se mexeu e fui tomada por um terror que j conhecia. Como acontecera muitas vezes quando visitei a Cidade das Sombras, jamais consegui me livrar da sensao de que parte dos mortos ainda andava pelos tneis. - Talvez tenha sido um deles - conclu, apontando a lanterna para um esqueleto com um chapu de palhinha. - Talvez tenha sido um fantasma. - Um volume intenso apareceu por baixo da camisa do morto e se esgueirou devagar por seu peito. Um rato surgiu da gola e disparou por ns como se tivesse sido chamado para o jantar. - Voc to otimista, Ananka - brincou Kiki. - Tomara que tenha sido um fantasma. Mas fique de olhos abertos. Pode haver algum aqui embaixo. No percebeu nada estranho nos ltimos minutos? Eu estava prestes a sacudir a cabea quando finalmente entendi. - O silncio - falei. - No ouo mais os ratos. - Exatamente - disse Kiki. - Esse o primeiro rato que vejo h algum tempo. No faz voc se perguntar para onde eles foram?

*** O ltimo tnel no mapeado da Cidade das Sombras serpenteava por baixo do Lower East Side de Manhattan. Suas paredes de tijolos esfarelados eram menos impressionantes do que as passagens altas e arqueadas em toda parte da cidade, e s vezes parecia que estvamos andando pelo corredor de uma penitenciria abandonada. Tirei medidas e fiz anotaes enquanto Kiki investigava os cmodos por que passvamos. A maioria estava vazia, embora descobrssemos um depsito cheio de barris de ostras em conserva suficientes para alimentar uma pequena cidade por um ano (mas desconfio de que a maioria dos moradores preferisse passar de fome). Para nossa decepo, nenhuma das cmaras parecia ter uma sada para a superfcie. Quando o tnel deu num beco sem sada em uma porta de madeira simples, preocupei-me em silncio que nossa ltima explorao tivesse sido intil. Na sala cavernosa alm, encontramos dez catres frgeis em uma fileira e um grande guardaroupa encostado na parede mais distante. Nove das camas estavam feitas - os lenis e cobertores de l bem dobrados e enfiados pro baixo do colcho. A dcima cama, porm, estava amarfanhada e seu lenol num monturo no meio do colcho.

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- Quem dormiu na minha cama? - brinquei, mas Kiki estava com a orelha colada na parede ao lado do guarda-roupa e no prestava ateno. Peguei um livro antigo na mesa de cabeceira. A folha de rosto dizia Guia de uma canadense para as donas de casa. Folheei o livro, parando para olhar rapidamente os captulos que davam instrues convenientes para fazer suas prprias calcinhas de aniagem e preparar um nutritivo guisado de alce. - Ei - Kiki chamou. - Ouviu isso? - Ouviu o qu? Os ratos voltaram? - No. Parece gua - disse ela. - Me ajude a afastar esse armrio. Juntas, empurramos o mvel pesado, afastando-o da parede. Atrs dele havia um tnel estreito com altura suficiente para rastejarmos por ele. A superfcie subia em um ngulo acentuado. O rugido da gua corrente enchia o vazio. - Como eu desconfiava - disse Kiki. - Parece arriscado - falei, apontando um par de tbuas no teto do tnel que estavam vergadas com o peso da terra. - No acho que a gente deva verificar antes de Luz dar uma olhada. Pode estar prestes a desabar. - Tem toda razo. Mas sei aonde este tnel vai dar. uma rota de fuga para o rio. Voc sai subindo por aqui. - Ela ergueu os olhos para o teto. Ali, acima de nossas cabeas, havia uma abertura circular cavada na terra - uma sada da Cidade das Sombras. Achamos uma escada em um dos depsitos e a arrastamos para a ltima cmara. Ao lado do buraco, uma srie de degraus de metal levava a um alapo. Embora a maior parte das sadas dos tneis parecesse igual, nunca se sabia onde dariam. Voc podia se ver interrompendo um jantar festivo da mfia, olhando pasma as joias guardadas numa cmara secreta, ou encarando os olhos do pit bull de um contrabandista. A cabea de Kiki bateu no alapo e ela escutou com cuidado antes de abri-lo e se iar para o escuro. - No vai acreditar nisso - cochichou ela. Eu me icei para fora do buraco e segui sua lanterna, que circulava por uma sala enorme. As paredes eram pintadas com murais de prdios antigos e paisagens com palmeiras. Fileiras organizadas de bancos de madeira revestiam o cho. Na frente da sala, havia uma arca de dois nveis feita de madeira e ouro, decorada com um par de lees chorosos. - lindo - sussurrou Kiki. - Acho que sei onde estamos.

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- Parece um templo. - a sinagoga Bialystoker - informei a ela, querendo que o sr. Dedly estivesse aqui para ter um gostinho da minha percia. - H 150 anos, era conhecida como a igreja da Willet Street. Soube de boatos de que antigamente era uma estao da Ferrovia Subterrnea, mas isso ningum conseguiu provar. At agora. - Ento, para que so aquelas camas todas? - , antes da Guerra Civil, algum deve ter escondido escravos foragidos na Cidade das Sombras e os contrabandeados para barcos no rio noite. - Mas ora veja s - Kiki estava maravilhada. - Nosso ltimo tnel inexplorado e finalmente descobrimos que algum fez um bom uso da Cidade das Sombras. Minha f na humanidade foi restaurada. - Faz alguma idea da importncia disto aqui? Este alapo, esta sala, as dez caminhas... Tudo faz parte da histria americana. No h nada parecido em lugar algum. - por isso que uma pena que ningum possa saber deles, a no ser a gente. - Embora estivesse escuro demais para enxergar, eu podia ouvir a advertncia na voz de Kiki. Enquanto descamos sala abaixo, meu corao ainda martelava de empolgao e mil pensamentos quicavam por meu crebro. E se o descobridor do tmulo do rei Tut o tivesse selado e deixado que o deserto o tomasse? E se o explorador que descobriu a Cidade Perdida de Machu Picchu a tivesse deixado oculta nas nuvens? - Kiki, sente-se por um minuto. Temos que conversar sobre isso - pedi. De sobrancelhas arqueadas, Kiki se acomodou na lateral da cama desarrumada. De repente, sua testa se vincou. Ela bateu no lenol ao lado. - Poupe sua aula para depois. Tem alguma coisa na cama - disse ela, abrindo com cuidado o lenol. Uma pequena figura de argila caiu no colcho. Era uma mulher usando uma armadura chinesa antiga, montada num cavalo preto e gordo. No havia dvidas de que era muito mais antiga do que qualquer coisa que tivssemos encontrado na Cidade das Sombras. - As estaes na Ferrovia Subterrnea costumavam ser decoradas com arte chinesa antiga? perguntou Kiki. - Provavelmente no - admiti. - L se vai a sua teoria dos fantasmas. Algum desceu aqui. Ento acho que resta uma

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pergunta. - Kiki me abriu um sorriso perverso. - Qual? - perguntei. - Quem vai olhar embaixo da cama? COMO DETECTAR A PRESENA DE UM INVASOR Est preocupada que seu espao privativo possa ser invadido mas no tem dinheiro para seguranas armados ou feixes de laser? No precisa pirar - h dezenas de opes disponveis. Os dispositivos de segurana baratos e eficazes a seguir no s indicaro uma entrada no autorizada, como muitos tambm mataro um invasor de susto (o que pode ser muito divertido, se voc estiver olhando a cena por um binculo).

Contatos de portas e janelas Esses pequenos e baratos dispositivos magnticos so projetados para emitir um alarme ensurdecedor sempre que aberta uma porta ou janela. Podem ser encontrados em qualquer loja de ferragens e tambm so teis para cmodas, caixas de joias, cofres - ou qualquer coisa que voc possa pensar em abrir e fechar. (Seja prevenida: um determinado invasor pode procurar na internet dicas que ajudaro a desarmar essas engenhocas.)

Detectores de movimento Acredite se quiser, por um preo um pouco maior do que dois ingressos de cinema, voc pode comprar seu prprio sistema de alerta de movimento. Coloque o sensor no local certo e espere que algum entre de fininho em seu quarto enquanto voc est envolvida com seu filme de kung fu preferido. O sensor mandar um sinal a seu receptor porttil, que a avisar com um alarme penetrante ou luzes que piscam. (Os detectores de movimento tambm funcionam bem para a caa de fantasmas.)

Gravador ativado por voz Os dois itens anteriores so timos para proteger seus pertences quando voc no est longe mas e se voc suspeitar de que algum est fuando quando voc no est em casa? Se voc no rica e nem tem talento para instalar sistemas de segurana eletrnicos, recomendo um simples gravador ativado por voz, que comear a gravar ao som de movimento. Voc pode no pegar seu xereta no flagra, mas pelo menos ter uma prova concreta de que aconteceu uma invaso.

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Armadilhas de fios Se voc est com pouco dinheiro - ou precisa de um alarme a curto prazo -, uma armadilha de fios pode ser sua melhor opo. Pegue uma linha de pesca e a estique pela entrada ou numa rea de muito trnsito. (Cuide para que fique a 30 centmetros do cho). Amarre uma ponta da linha a um mvel e prenda a outra ponta a um copinho de plstico. Encha o copo de gua e coloque-o em cima de um jornal. Se, quando voc chegar em casa, o jornal estiver molhado ou no estiver ali -, voc saber que algum entrou em seu quarto. (Advertncia: este truque talvez s funcione uma vez.)

Alarmes do tipo faa voc mesmo Se voc tem habilidade manual e quer um alarme que faa muito barulho, uma rpida busca na internet e levar a instrues para produzir uma ampla variedade de alarmes com peas que talvez j estejam em sua garagem.

CAPTULOS TRS Eau Irresistible s oito horas da manh seguinte, arrastei-me para dentro da Escola para Meninas Atalanta, uma academia particular no Upper East Side de Manhattan, e encontrei os sagrados corredores zumbindo de milhares de conversas aos cochichos. "Ela quase toda plstica, sabia?" "Que cadeia coisa nenhuma. Se a polcia um dia aparecer na minha casa, vou terminar dormindo numa caixa na Quinta Avenida." "Adivinha s quem jantou com o namorado de voc-sabe-quem no sbado?" "O presidente esteve na nossa casa no fim de semana, e ele disse..." Embora muitas de minhas ricas colegas de escola no soubessem ver a hora sem um relgio digital, todas eram insuperveis em um assunto - fofoca. Pelo menos uma vez por ano, em geral depois de um boato maldoso que leve uma aluna a se esconder de um de nossos professores toma para si a responsabilidade de nos alertas que a fofoca cruel e mesquinha, e uma perda de tempo. Embora eu esteja inclinada a concordar com a primeira parte, a segunda no podia estar mais distante da verdade. A fofoca apenas informao que foi empacotada de forma inteligente e pode ser um instrumento poderoso se voc souber us-la.

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Revolues comearam com um nico cochicho. Um papo meio despreocupado pode acabar com uma estrela de cinema. E qualquer bom detetive lhe dir que um comentrio descuidado pode revelar um crime. Quando se lida com fofoca, o truque ficar de boca fechada. Trocar histrias como nadar nua no rio Hudson. Parece muito divertido, at que voc acorda de manh com uma assadura braba onde no veria. Descobri que melhor observar (e ouvir) de longe e resistir ao impulso de participar. Como as aulas voltaram, fiquei zanzando pelos corredores fingindo cuidar da minha vida, enquanto pegava fragmentos de informaes que voavam pelo ar. Durante semanas, o tema mais quente foi a prima de Kiki Strike, Sidonia Galatzina, que todos na Atalanta conheciam como a Princesa. Rica, da realeza e totalmente cruel, a Princesa mandou na escola por anos antes de finalmente sucumbir ao escndalo. Em junho, quatro de nossas amigas mais ntimas foram presas sob a acusao de sequestro e a Princesa desapareceu antes que a polcia pudesse fazer alguma pergunta. Alguns, como as autoridades, acreditam que a prpria Princesa foi uma vtima. Eu era uma das pessoas que sabiam que a linda menina de cabelos pretos e olhos dourados tinha planejado todo o incidente. Parece que todo mundo na Atalanta tinha uma teoria sobre o paradeiro da Princesa. Em setembro, ouvi duas meninas do primeiro ano que conseguiram se convencer de que Sidonia estava morando em um castelo nos Alpes, noiva em segredo do prncipe Uder de Liechtenstein. (Kiki deu uma boa gargalhada com essa.) Mais tarde, ouvi que Dylan Handworthy tinha visto a Princesa em um anncio japons de desinfetante de privada. (Embora a modelo fosse somente parecida, cpias coloridas do anncio rapidamente foram coladas em cada banheiro da escola.) Mas a teoria mais promissora nunca chegou a pblico. Alex Upton insistia ter esbarrado na Princesa enquanto visitava a Galeria de Rubens no museu Hermitage em So Petersburgo. Alex se gabava de que Sidonia havia apresentado seu companheiro Oleg Volkov, um gngster russo que se acreditava ser um dos dez homens mais ricos do mundo. O que chamou minha ateno foi a data. Se Alex estava dizendo a verdade, a Princesa e sua me ainda estavam em So Petersburgo em agosto - um ms inteiro depois de as Irregulares perderem seu rastro. Fui a sombra de Alex por mais de uma semana, na esperana de obter mais informaes. Mas nesta manh eu estava cansada demais para o trabalho de detetive. Fo s por acaso que passei por perto enquanto ela conversava com uma amiga na frente do laboratrio de biologia. - Os esquilos no atacam pessoas - insistia a amiga. Parei e fingi mexer no meu caderno, morrendo de vontade de informar a elas que uma busca rpida na internet provaria que os esquilos tendem violncia contra seres humanos. - S estou te contando o que eu soube - disse Alex. - No ligo se voc acredita.

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Uma terceira menina se juntou ao grupo. - Acredita no qu? - Uma das bolsistas disse que foi atacada por esquilos ontem. - Esquilos? - repetiu a recm-chegada, incrdula. - Foi o que eu disse - zombou a segundo menina, sentindo-se mais confiante, agora que chegara apoio. - No, s que aquele amigo do meu irmo teve o iPod roubado por um esquilo ontem - disse a terceira menina. - Est vendo? - Alex parecia triunfante. - , ele tinha sado de uma exposio no museu e estava indo a p para casa pelo Central Park quando um esquilo desceu de uma rvore e pousou na cabea dele. Depois pegou o iPod dele e correu para os arbustos. - Como um esquilo pode pegar um iPod? - perguntou a ctica. - Ele disse que no era um esquilo comum. Era imenso... Tipo, com meio metro. Ele tentou avisar a um policial, mas o cara riu e disse a ele para no usar drogas. Ei, que cheiro esse? - Que cheiro? - Quer dizer que no est sentindo? Parece um banheiro qumico carregado de chili. Bastou uma farejada rpida para confirmar que havia mesmo um toque de esgoto no ar. O odor ficava mais forte e comeou a vagar por toda a escola. Centenas de narizes foram tapados de nojo e as paredes soavam com um coro de "Ecaaaa!" - Ateno! - ladrou a diretora Wickham pelo alto-falante. - Recebemos um alerta da vigilncia sanitria de que houve um refluxo de esgoto no prdio e precisamos evacu-lo. Alunas do oitavo ano para baixo, por favor, renam-se no ptio. Alunas do primeiro ano do ensino mdio para cima esto dispensadas at amanh de manh. Cem vozes nasaladas soltaram um grito. Kiki Strike cumpriu sua promessa.

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Enquanto eu ia para casa para uma soneca muito necessria, uma menina plida e baixinha de peruca preta e culos de sol se junto a mim na esquina da 68 com a Lexington. Como tinha sido aluna da Escola Atalanta, Kiki no podia se arriscar a ser reconhecida. Andamos em silncio para o metr e esperamos na extremidade da plataforma. - timo trabalho! - Eu a elogiei depois que no havia mais ningum por perto para ouvir. Como voc conseguiu que o esgoto flusse? - No fiz isso. S liguei para a diretora Wickham - ela se gabou. - Ah... E depois atirei uma daquelas belezinhas pela janela do banheiro. - Ela abriu a mo o bastante para revelar uma bomba de inhaca do tamanho de uma ameixa. - DeeDee tem uma caixa cheia delas no laboratrio. Adivinha qual o ingrediente secreto? - Coc? - arrisquei. - Fresquinho, das caladas do Upper West Side. Ela fez um acordo com um cara que leva ces para passear no bairro dela. - Que nojo - falei. - Espero que leve as suas mos quando chegar em casa. - Est vendo at que ponto eu vou para evitar que voc se lasque? - disse Kiki. - O que agradeo, acredite. S espero que eu consiga chegar em casa. Ser um milagre se no dormir no metr e parar no Brooklyn. Alis, soube de uma coisa interessante antes de voc evacuar a escola. - Onde dizem que Sidonia est agora... pastoreando cabras no Uzbequisto? - Kiki riu. - No, no era sobre Sidonia. Era sobre os esquilos. Eles comearam a assaltar as pessoas no fim de semana. - Foi o que eu soube. Eu estava pensando em fazer uma pequena busca por esquilos enquanto estiver por aqui. Mas agora os roedores cleptomanacos no so a minha maior preocupao. - Tem razo. Primeiro temos de descobrir quem esteve no tnel. Pelo mais breve dos instantes, Kiki pareceu confusa. - claro - disse ela, assentindo vigorosamente. - O invasor prioridade mxima. Um trem entrou na estao com um guincho de ensurdecer. Eu embarquei, mas Kiki ficou na plataforma. Acho que ela pde sentir a pergunta que eu estava morrendo de vontade de fazer.

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Inclinei-me para fora das portas. - Voc no vem? - Pensando bem, vou dar uma caminhada no parque - disse Kiki. - Vejo voc na reunio.

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- Rpido! Est atrasada! - DeeDee praticamente gritava ao abrir a porta de sua casa perto da Universidade de Columbia. - Todo mundo est l em cima no laboratrio e Oona est nos deixando doidas. - Desculpe. Dormi demais. - Segui DeeDee enquanto ela quicava por cinco lances de escada at o sto. Os fundilhos da cala davam a impresso de que ela tinha sentado num pudim de graxa, e uma gororoba roxa que balanava feito gelatina estava grudada em suas trancinhas. Kiki usou uma de suas bombinhas de inhaca para fechar a Escola Atalanta, ento eu pude tirar uma soneca. - Que bom que algum encontrou utilidade para elas. Meus pais ameaaram se mudar se eu no parasse a produo. Toda a casa fede a uma fbrica de fertilizante. Nem posso te dizer o alvio que foi quando comecei a trabalhar com Iris. - Ento essa a grande descoberta de que Iris andou falando? - perguntei. - Meus lbios esto selados, Nancy Drew. Iris me mataria se eu estragasse a surpresa respondeu DeeDee. - Trabalhamos nisso o vero todo. - Espero que voc no a deixe usar nenhuma substncia perigosa - ressaltei, sabendo que a elegncia no estava entre os muitos dons de Iris. - No estou a fim de morrer hoje. - Por que todo mundo trata Iris como uma criancinha? - DeeDee fungou. - Eu estava fazendo meus primeiros explosivos quando tinha 11 anos. - , e olha aonde isso te levou. - Apontei para a cicatriz que atravessava sua testa, resultado infeliz de um lote incomum de explosivos. - No acha que isso me deixa interessante? - DeeDee levava tudo a srio, menos sua aparncia. - Na minha escola, todo mundo quer conhecer a garota da cicatriz.

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No alto das escadas ficava o quarto e laboratrio de DeeDee. Ela tentou ao mximo arrum-lo para a reunio, mas o armrio estava inchado de roupas sujas e uma coleo impressionante de embalagens de comida chinesa delivery espiava por baixo da cama. Nem suportei pensar no que tinha sido varrido para baixo do tapete. Um monturo do tamanho de uma bola de softball emitia um odor que s podia ser descrito como catinga. Mas DeeDee no parecia se importar. No que dizia respeito a ela, o trabalho domstico era para pessoas que tinham tempo demais nas mos e de menos na cabea. S seu laboratrio, que tomava metade do quarto grande, era imaculado. Bqueres, frascos e tubos de ensaio de vidro cintilavam como cristal, e um arco-ris de substncias - algumas brilhando - estava organizado nas prateleiras. Na frente do laboratrio, seis cadeiras de armas foram dispostas em semi-crculo e todas, exceto duas, estavam ocupadas. Luz puxava impaciente o rabo de cavalo enquanto Betty Bent reaplicava um jogo de clios postios que tinham descolado. Eu esperava ter a oportunidade de perguntar a Kiki o que a incomodava, mas Oona j estava sentada ao lado dela. - Quanto tempo isso vai levar? - ouvi Oona perguntar. - Tenho uma coisa importante para falar. - Vai levar o tempo de que Iris precisar - disse Kiki, asperamente. - Ananka e eu tambm temos novidades, mas estamos dispostas a esperar nossa vez. Iris est ansiando por isso h meses. Oona revirou os olhos e fitou o teto. Peguei a cadeira mais distante possvel. DeeDee bateu de leve na porta do banheiro e a cabecinha de Iris espiou o laboratrio. - Esto todas aqui? - cochichou ela para DeeDee. - Podemos comear? - No podemos te ouvir, Iris - disse Oona. DeeDee lhe lanou um olhar desagradvel. - Sim, esto todas aqui - disse ela a Iris. A porta do banheiro se fechou de novo enquanto DeeDee se sentava. Exatamente dez segundos depois (ela devia estar contando), Iris fez sua entrada. Usava um jaleco de laboratrio enorme que chegava aos tornozelos e culos de proteo laranja. O cabelo tinha sido puxado num coque de aparncia oficial. Oona riu. - Por que ningum me contou que era Halloween? - ela cacarejou. - Qual o seu problema? - grunhiu DeeDee.

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- SHHHH! - insistiu Kiki. Iris fez o mximo para ignorar a comoo. - Boa tarde, companheiras Irregulares. - Oi, Iris - disse Betty. Em homenagem ao grande dia de Iris, ela vestiu um terninho Chanel vintage e sua peruca ruiva preferida. - Obrigada por virem. Espero que todas achem minha apresentao interessante e educativa. Iris abriu um armrio e pegou uma bandeja prateada. Nela havia dois frascos de cristal cheios de um lquido mbar. Luz virou-se para DeeDee. - O que , mais perfume? - Iris responder a suas perguntas esta noite - respondeu DeeDee. - Ento voc andou fazendo perfume? - bocejando, Luz perguntou a Iris. Tinha pouco interesse em coisas de mulherzinha. - Pode-se dizer que sim. - Iris deu um sorriso forado. - Posso cheirar? - Desculpe, Betty. Eu esperava que Oona fosse a primeira a experimentar minha nova criao. Chama-se Fille Fiable. - Pode esquecer, Iris. J estou com perfume - disse Oona. - Foi feito sob encomenda por um perfumista profissional e custa 400 dlares o frasco de 25ml. No estou interessada em feder a laboratrio de qumica. - Compreendo perfeitamente. - Quando Iris parece tomar o insulto com bom humor, comecei a ficar preocupada. - E se eu colocar um pouco no meu prprio pulso e deixar voc dar uma cheirada? - Iris... - disse DeeDee num tom de alerta. Vi uma das sobrancelhas de Kiki se erguer. - Est tudo bem, DeeDee - insistiu Iris. - Oona no precisa usar para apreci-lo. - Sei que vou sobreviver - disse Oona, revirando os olhos e levantando-se da cadeira.

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Iris pegou um dos frascos de cristal na bandeja. Puxando a manga do jaleco, passou um pouco do lquido no brao e o agitou no ar antes de oferec-lo a Oona. Oona se curvou e inalou fundo. Seu nariz de imediato se enrugou de nojo. - Acho que precisa de um nome melhor para isso - disse ela. - Que tal Eau de Sovaco? quase to horroroso quando se perfume repelente de ratos. Iris assentiu pensativamente. - Achei que diria isso. No especial o bastante para uma garota de seu gosto. Quer dizer, olhe para voc. So brincos de diamante que est usando, no so? - Dois quilates cada um - gabou-se Oona. Todo mundo tinha um ponto fraco, mas Oona tinha mais do que sua parcela de direito. No topo da lista que inclua bolsas de crocodilo e meias de cashmere, estavam diamantes. - So lindos - disse Iris, deixando perfeitamente claro que queria dizer o contrrio. - Mas voc fica meio vagabunda com eles. Acho que fica melhor em Ananka, no concorda? O restante de ns prendeu a respirao, esperando que comeasse a carnificina. Deslizei para a frente de minha cadeira, preparando-me para pular em resgate a Iris. Foi quando Oona surpreendeu a todas ns. - Sabe de uma coisa, voc tem razo - concordou ela. - Sempre pensei que eles eram meio bregas. Quer, Ananka? - Ela tirou os diamantes das orelhas e os jogou no meu colo. - E esse vestido - disse Iris. - No a valoriza muito. Li na Vogue, na semana passada, que est muito mais na moda usar s uma combinao durante o dia. - mesmo? - disse Oona. - Devo ter perdido essa edio. Acha que eu devia tirar o vestido? Estou com uma combinao por baixo. Mas no ia ficar meio frgido? - Frio, idiota - declarou Iris. - Uma mulher deve estar disposta a sofrer pela moda. - Mas no posso estar mais de acordo! - anunciou OOna, tirando o vestido. Ela se postou na nossa frente com uma combinao rosa-clara. - Que tal isso? Fabulosa, no ? Luz caiu da cadeira, rindo. - Est drogada, Lopes? - cortou Oona. - Tanto faz. Eu no esperaria a compreenso de uma garota que se veste como o Mr. Goodwrench. - Hmmm, Iris - eu disse, reprimindo uma gargalhada. - At que ponto voc vai com isso? - Iris

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me ignorou. - Voc est tima, Oona. Depois da reunio, vamos at sua casa nos livrar de todas as coisas feias do seu armrio. Alis, eu sempre me perguntei onde voc morava. Ningum jamais foi a sua casa, no ? Por que no nos conta? - J chega - ladrou Kiki antes que Oona tivesse a oportunidade de falar. Ela pegou o vestido de Oona e lhe entregou. - V ao banheiro e vista suas roupas - ela a instruiu. - Mas esse vestido horrendo! - Oona gemeu. - Confie em mim - insistiu Kiki. Depois que Oona fechou a porta do banheiro, Kiki passou um brao orgulhoso em Iris. - Impressionante - disse ela. - Cruel, mas impressionante. - Obrigada! - cantarolou Iris. - Oona estava pedindo por isso. - verdade, mas espero que no tenha ido longe demais. No queira ter Oona como inimiga. Voc sabia disso, DeeDee? - No, mas concordo com Iris. Oona estava pedindo por isso. - Estou com DeeDee. Ningum me faz rir tanto h meses - disse Luz. - Ento o perfume pode forar as pessoas a fazerem o que voc quer? - Bem que eu gostaria. O Fille Fiable s faz as pessoas confiarem em voc. Se derem uma fungada completa, ficaro mais dispostas a contar os segredos delas... Ou a acreditar no que voc lhes disser - explicou Iris. - Quanto tempo leva para passar o efeito? - perguntei. - S alguns minutos - DeeDee me garantiu. - Oona deve recuperar o juzo logo. Olhei para Iris. - Neste caso, eu recomendaria dar no p rapidinho. A porta do banheiro bateu na parede, tilintando os frascos de vidro de DeeDee. Por um momento, pensei que podia explodir uma briga, mas Oona simplesmente veio at mim e pegou os diamantes.

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- Truquezinho engraado - murmurou ela a ningum em particular antes de sair do sto num rompante e descer a escada. Enquanto o restante de ns ficava sem fala, Betty e DeeDee partiram atrs de Oona. - Epa - disse Luz, enfiando a mo no fundo dos bolsos do macaco. - Parece que Oona teve uma overdose do prprio remdio. - Eu no pretendia mago-la - disse Iris. - S estava tentando retribuir por todas as vezes em que ela se divertiu minha custa. - Voc deve ter atingido um ponto fraco - falei. - Ela vai perdo-la. - Acha mesmo? - perguntou Iris, cheia de esperana. - Claro. - Minha mentira no era convincente e Iris comeou a fungar assim que Betty e DeeDee voltaram, sem flego. - Ela no vai voltar - anunciou DeeDee. - Vamos continuar com o show. J tive o suficiente de Oona por hoje. Na verdade, eu mal me lembro de quando no fiquei enjoada de Oona. Se quer saber, a menina d mais trabalho do que vale. - DeeDee bateu a mo na boca. - Caramba... O que foi que eu disse? Esse perfume realmente solta a lngua da gente. - Oona s est chateada - disse Betty. - Tem alguma coisa errada. Ela agiu de forma estranha a semana toda. No acham melhor adiar a reunio? - No podemos - disse Kiki. - Vamos deixar Iris terminar a apresentao. Depois temos negcios importantes a discutir. Vou falar com Oona esta noite. Ela vai voltar. Vamos precisar da ajuda dela. Iris? Est pronta? Uma Iris de olhos meio lacrimosos voltou sua apresentao. - Humm. Onde eu estava mesmo? T legal. Depois que o perfume que meus pais trouxeram de Bornu funcionou to bem nos ratos, comecei a pensar em outras coisas que eu podia fazer. E a li no jornal sobre uns cientistas da Sua que inventaram um spray que faz as pessoas parecerem confiveis. Quando contei a DeeDee sobre isso, ela se ofereceu para me ajudar a melhorar a frmula deles. - Os suos usaram ocitocina, um hormnio secretado pela glndula pituitria, com funes de neurotransmissor... - comeou DeeDee. - D para falar na nossa lngua? - perguntei.

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- Claro. - DeeDee sorriu. - Para aquelas de vocs que preferem dormir nas aulas de biologia, a ocitocina uma substncia em nosso corpo que nos ajuda a formar laos com os outros. Compe o que nos ajuda a nos apaixonar. Mas em pequenas doses, ela faz com que voc confie nas pessoas a seu redor. Por exemplo, a ocitocina um dos motivos para que as meninas gostem de fofocar e trocar segredos. Isso bom. No precisamos mudar a frmula sua; s a tornamos um pouco mais potente. Foi assim que chegamos ao Fille Fiable. "Testamos nosso primeiro lote em um cinema desta rua. S passava filmes porn e pensei que poderia convencer o pessoal da bilheteria de que Iris tinha 17 anos. No foi a melhor ideia que tive. A mulher da bilheteria estava atrs de 5 centmetros de vidro e no conseguiu sentir o cheiro do perfume. Mas as pessoas na fila atrs da gente ficaram to ultrajadas quando no entramos que exigiram ver o gerente. - Eles foram to legais. - Iris comeava a gostar da apresentao de novo. - Eles foram expulsos do cinema - disse DeeDee. - Iris e eu tivemos de sair dali antes que o efeito do perfume passasse e eles deduzissem que brigavam para deixar uma menina de 11 anos ver um filme obsceno. Iris se intrometeu: - Mas depois pensei em outra maneira de testar o perfume. Meu pai uma vez me disse que h centenas de dinossauros no poro do Museu de Histria Natural que ningum jamais ver. Ento DeeDee e eu convencemos um dos seguranas para nos levar numa excurso. - um pouco mais complicado do que isso - explicou DeeDee. - preciso ter cuidado com a frmula. Voc no pode simplesmente inventar uma coisa que seja totalmente inacreditvel. No podamos dizer ao segurana que ramos professoras visitantes de paleontologia ou coisa assim, ento pensamos em algo mais realista. Dissemos a ele que o pai de Iris estava pesquisando nos arquivos de dinossauros e que precisvamos contar a ele que a me de Iris estava prestes a ter um beb. - Dissemos que o celular dele estava desligado - acrescentou Iris. - Funcionou perfeitamente. O segurana nos levou por todo o poro. Iris tinha razo. Eu nem acreditei no que eles tinham guardado l. Vimos ossos que eu juro que no vieram de nenhuma criatura da Terra sobre a qual eu tenha lido. claro que tivemos de reaplicar nosso Fille Fiable a cada vez que o segurana dava as costas. Quando estvamos prestes a ir embora, Iris fingiu receber uma mensagem de texto que dizia que o pai j estava a caminho do hospital. - Inteligente. - Kiki assentiu com aprovao. - E o que o troo no outro vidro? - perguntei.

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Iris ergueu o frasco de cristal. Seu contedo mbar brilhava na luz. - Este o Eua Irresistible. Nossa segunda obra-prima. - Percebemos que, com alguns retoques, nossa poo podia ter outras utilidades - disse DeeDee. - Ainda no testamos, mas se nossos clculos estiverem corretos, deve fazer jus ao nome. - uma poo do amor? Anda logo, borrifa um pouco aqui - ofereceu-se Betty, estendendo o brao. DeeDee sacudiu a cabea. - No acho que seja uma boa ideia. Como eu diss