kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

88
KÁTIA MARIA SAMPAIO GOMES PARTICIPAÇÃO DA ENZIMA ALDEÍDO DESIDROGENASE 2 NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA INDUZIDA POR INFARTO DO MIOCÁRDIO São Paulo 2014 Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Morfofuncionais do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do Título de Mestre em Ciências.

Transcript of kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

Page 1: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

KÁTIA MARIA SAMPAIO GOMES

PARTICIPAÇÃO DA ENZIMA ALDEÍDO DESIDROGENASE 2 NA

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA INDUZIDA POR INFARTO DO

MIOCÁRDIO

São Paulo

2014

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Morfofuncionais do

Instituto de Ciências Biomédicas da

Universidade de São Paulo, para a obtenção

do Título de Mestre em Ciências.

Page 2: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

KÁTIA MARIA SAMPAIO GOMES

PARTICIPAÇÃO DA ENZIMA ALDEÍDO DESIDROGENASE 2 NA

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA INDUZIDA POR INFARTO DO

MIOCÁRDIO

São Paulo

2014

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Ciências

Morfofuncionais do Instituto de

Ciências Biomédicas da Universidade

de São Paulo, para a obtenção do

Título de Mestre em Ciências.

Área de concentração: Ciências

Morfofuncionais

Orientador: Prof. Dr. Julio Cesar

Batista Ferreira

Versão original

Page 3: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

Gomes, Kátia Maria Sampaio.

Participação da enzima aldeído desidrogenase 2 na insuficiência cardíaca

induzida por infarto do miocárdio / Kátia Maria Sampaio Gomes. -- São

Paulo, 2014.

Orientador: Prof. Dr. Julio Cesar Batista Ferreira.

Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Instituto de Ciências

Biomédicas. Departamento de Anatomia. Área de concentração: Ciências

Morfofuncionais. Linha de pesquisa: Doença cardiovascular, estresse

oxidativo e teste de novos fármacos.

Versão do título para o inglês: Role of aldehyde dehydrogenase 2 in

myocardial infarction-induced heart failure.

1. Estresse oxidativo 2. Insuficiência cardíaca 3. ALDH2 4. 4HNE 5.

Alda-1 I. Ferreira, Prof. Dr. Julio Cesar Batista II. Universidade de São

Paulo. Instituto de Ciências Biomédicas. Programa de Pós-Graduação em

Ciências Morfofuncionais III. Título.

ICB/SBIB044/2014

DADOS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Serviço de Biblioteca e Informação Biomédica do

Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São

Paulo

© reprodução total

Page 4: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS

Candidato(a): Kátia Maria Sampaio Gomes.

Título da Dissertação: Participação da enzima aldeído desidrogenase 2 na

insuficiência cardíaca induzida por infarto do miocárdio.

Orientador(a): Prof. Dr. Julio Cesar Batista Ferreira.

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa da Dissertação de Mestrado,

em sessão pública realizada a .............../................./................., considerou

( ) Aprovado(a) ( ) Reprovado(a)

Examinador(a): Assinatura: ............................................................................................

Nome: ...................................................................................................

Instituição: .............................................................................................

Examinador(a): Assinatura: ............................................................................................

Nome: ...................................................................................................

Instituição: .............................................................................................

Presidente: Assinatura: ............................................................................................

Nome: ..................................................................................................

Instituição: .............................................................................................

Page 5: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...
Page 6: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

Dedico esse projeto a DEUS que sempre guiou

e iluminou os meus caminhos e aos meus pais

Raimundo e Cilene que abriram mão de seus

sonhos para viverem os meus.

Page 7: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Julio Cesar Batista Ferreira que me agraciou com a oportunidade de

fazer parte de sua equipe de pesquisa, por todas as horas dedicadas ao meu crescimento

profissional, ajudando-me a pensar como pesquisadora. Certamente tudo que sou hoje

profissionalmente dedico a ele que com muita paciência direciona-nos, sempre com

muita ética, profissionalismos e altruísmo.

À minha mãe Cilene, ao meu pai Raimundo e aos meus irmãos Juscélio,

Andréia, Rafaele e Rafael pelo apoio que sempre deram às minhas decisões e pela

compreensão nas horas mais difíceis desse processo.

À algumas pessoas importantes que estiveram em meu caminho e ajudaram-me

financeiramente, espiritualmente e moralmente. Obrigada Luciano, Telma, Nathalie,

Katt, Cláudio, Cristiano, Silmara, Débora, Tábata, Lívia, Juliane, Fátima, Beatriz, Eneli,

Patricia, Mendonça, Ana Paula, Ricardo, Ana Claudia, Pamella, João Artur, Alessandra,

Magda e Rosiane.

À Juliane que foi a minha primeira mentora em técnicas laboratoriais, boa parte

do que sei devo a ela. E a todos os meus amigos de laboratório e agregados que fizeram

ou fazem parte da minha formação. Obrigada Vanessa Lima, Cintia, Luiz, Marcinho,

Laís, André, Vanessa Zambelli, Glória, Marcele, Ney, Úsula, Alex, Vanessa Voltarelli,

Paulo, Máx, Fabi, Chris, Aline, Tiago, Marcelo e Meiri.

À Profa. Dra. Patrícia Brum pelo empenho e dedicação no início da minha

caminhada e ao Prof. Dr. Carlos Negrão que abriu as portas iniciais para o meu

ingresso.

Ao Dr. Paulo Magno pelas análises ecocardiográficas, pelo tempo desprendido

em orientações e ensinamentos, e pelo apoio constante em todas as minhas conquistas.

À Profa. Dra. Viviane Cárceres pelas análises hemodinâmicas e pela dedicação

aos finais de semana.

À Profa. Dra. Alicia Kowaltowski e seus alunos Bruno Queliconi, Fernanda e

Bruno Chausse, e sua técnica Camille por toda a ajuda nos ensaios de função

mitocondrial.

À Rosana profissional de estatística e Patrícia secretária, ambas do

departamento, pelo suporte prestado, sempre com muito profissionalismo e dedicação.

À FAPESP pelo apoio financeiro (processo 2012/02654-5).

Page 8: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

“Face à realidade, o que julgamos saber

claramente ofusca o que deveríamos

saber” - Gaston Bachelard

Page 9: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

RESUMO

Gomes KMS. Participação da Enzima aldeído desidrogenase 2 na insuficiência cardíaca

induzida por infarto do miocárdio. [dissertação (Mestrado em Ciências

Morfofuncionais)]. São Paulo: Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São

Paulo; 2014.

A formação e o acúmulo de aldeídos decorrentes do estresse oxidativo são

extremamente cardiotóxicos e contribuem para o aparecimento das doenças

cardiovasculares. O 4-hidroxi-2-nonenal (4HNE), um aldeído originado a partir da

oxidação de fosfolipídios, apresenta grande poder deletério ao coração. A enzima

mitocondrial aldeído desidrogenase 2 (ALDH2) é uma das principais responsáveis pela

eliminação do 4HNE e manutenção do controle de qualidade mitocondrial.

Recentemente, nossos colaboradores realizando experimentos ex vivo, observaram uma

correlação inversa entre a atividade da ALDH2 e o grau de infarto do miocárdio após

isquemia cardíaca. Esse estudo ainda demonstrou que a inibição farmacológica da

ALDH2 resulta em acúmulo de 4HNE e maior dano ao miocárdio. De forma

interessante, a utilização de uma pequena molécula ativadora da ALDH2 desenvolvida

pelo grupo, chamada Alda-1, foi capaz de minimizar os efeitos nocivos da isquemia ao

tecido cardíaco. Esses resultados apontam a ALDH2 como uma enzima-chave na

manutenção da viabilidade cardíaca durante o processo de isquemia e abrem uma nova

perspectiva no tratamento de doenças cardiovasculares. Tendo em vista que a

insuficiência cardíaca (IC) é a via final comum da maioria das doenças cardiovasculares

e que até ao momento não há nenhuma caracterização da participação da enzima

ALDH2 nessa síndrome, tivemos como objetivos: 1) caracterizar a atividade da ALDH2

em diferentes tempos pós-infarto do miocárdio, 2) estudar o efeito da ativação

sustentada da ALDH2, através da ativação seletiva por Alda-1, sobre a função e

ultraestrutura cardíaca, função mitocondrial e balanço redox na IC. Nossos resultados

apontam que na 1ª, 2ª, e 4ª semana pós-infarto do miocárdio a atividade da ALDH2

cardíaca apresenta-se reduzida. Nesse período também observamos aumento da

peroxidação lipídica e disfunção mitocondrial, caracterizada pelo aumento na liberação

de peróxido de hidrogênio e redução do consumo de oxigênio em mitocôndria cardíaca

isolada. Todos esses processos são acompanhados pela disfunção cardíaca. O tratamento

com Alda-1 por um período de seis semanas em animais com IC induzida por infarto do

miocárdio (entre a 4ª e 10ª semana pós-infarto do miocárdio) proporciona uma melhora

na função sistólica cardíaca, aumento da complacência do ventrículo esquerdo e redução

da disfunção diastólica em condições basais e após sobrecarga de estresse com

fenilefrina. Além disso, os animais tratados com Alda-1 apresentam uma redução da

fibrose cardíaca quando comparados ao grupo IC tratado com solução veículo. O

tratamento também é capaz de reduzir os níveis de 4HNE e proteínas carboniladas no

coração, além de melhorar a função mitocondrial. A ativação seletiva da ALDH2 reduz

a formação de poros de permeabilidade mitocondrial e a liberação de citocromo c no

grupo IC, além de prevenir a disfunção mitocondrial mediada pelo 4HNE in vitro. Por

fim o tratamento com Alda-1 reduz níveis de hidroperóxidos lipídicos, previne redução

da atividade da enzima superóxido dismutase e não apresenta toxicidade. Podemos

concluir que a ativação seletiva da ALDH2 reduz os níveis de aldeídos citotóxicos,

preserva a função mitocondrial e melhora a função cardíaca de ratos com insuficiência

cardíaca, podendo ser considerada um importante alvo terapêutico no tratamento da IC.

Palavras-chave: Estresse oxidativo. Insuficiência cardíaca. ALDH2. 4HNE. Alda-1.

Page 10: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

ABSTRACT

Gomes KMS. Role of aldehyde dehydrogenase 2 in myocardial infarction-induced heart

failure. [Masters thesis (Morphofunctional Science)]. São Paulo: Instituto de Ciências

Biomédicas, Universidade de São Paulo; 2014.

We previously demonstrated that acute pharmacological activation of mitochondrial

aldehyde dehydrogenase 2 (ALDH2) protects the heart against acute

ischemic/reperfusion events. Here we characterized the ALDH2 activity and aldehydic

load in a time-window of 10 weeks after myocardial infarction as well as determined the

benefits of chronic activation of ALDH2 on the progression of heart failure after the

onset of symptoms using a post-myocardial infarction model in rats. We observed a

significant reduction of cardiac ALDH2 activity until the 4th

week after myocardial

infarction surgery. This response was followed by aldehydic overload in failing hearts.

We also showed that a six-week treatment of myocardial infarction-induced heart

failure rats with Alda-1, a selective ALDH2 activator, enhanced contractile function,

improved left ventricular compliance and increased diastolic function under basal

conditions and after sudden pressure-overload stress. Moreover, sustained Alda-1

treatment showed no toxicity and promoted a cardiac anti-remodeling effect by

suppressing myocardial fibrosis. In addition, accumulation of 4-hydroxynonenal (4-

HNE)-protein adducts and protein carbonyls seen in heart failure was not observed in

Alda-1-treated rats, suggesting that increasing the activity of ALDH2 contributes to the

removal of excessive 4-HNE in failing hearts. Moreover, ALDH2 activation-mediated

cardioprotection was associated with improved mitochondrial function, including

elevated mitochondrial respiratory control ratios and reduced H2O2 release. Importantly,

selective ALDH2 activation decreased mitochondrial Ca2+

-induced permeability

transition and cytochrome c release in failing hearts. Further supporting a mitochondrial

mechanism for ALDH2, Alda-1 treatment preserved mitochondrial function in vitro

upon 4-HNE addition. Therefore, selective activation of mitochondrial ALDH2 reduces

aldehydic load, preserves mitochondrial function and improves heart failure outcome,

suggesting that ALDH2 activators, such as Alda-1, have a potential therapeutic value

for treating heart failure patients.

Keywords: Oxidative stress. Heart failure. ALDH2. 4HNE. Alda-1.

Page 11: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Esquema ilustrativo do funcionamento da cadeia de transporte de

elétrons (CTE) --------------------------------------------------------------- 25

FIGURA 2 Estrutura química da Alda-1 ----------------------------------------------- 29

FIGURA 3 Esquema ilustrativo da hipótese do trabalho ----------------------------- 32

FIGURA 4 Esquema ilustrativo do período experimental, cirurgia e tratamento

na IC induzida por infarto do miocárdio --------------------------------- 34

FIGURA 5 Modelo Experimental do Curso Temporal após Infarto do

Miocárdio e Dados Ecocardiográficos ------------------------------- 48

FIGURA 6 Curso Temporal da Atividade da ALDH2 cardíaca após Infarto do

Miocárdio e Correlação com a Fração de Ejeção ----------------------- 51

FIGURA 7 Formação de Hidroperóxidos Lipídicos e Níveis de Glutationa

cardíacos ---------------------------------------------------------------------- 52

FIGURA 8 Consumo de Oxigênio e Liberação de Peróxido de Hidrogênio em

Mitocôndria Cardíaca Isolada --------------------------------------------- 54

FIGURA 9 Desenho Experimental e Dados Ecocardiográficos no modo M dos

períodos pré- e pós-tratamento dos grupos Sham, Insuficiência

cardíaca (IC) e Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1 (IC Alda-

1) ------------------------------------------------------------------------------- 58

FIGURA 10 Avaliação do ciclo cardíaco e Análises Morfométricas Cardíacas --- 64

FIGURA 11 Atividade e Expressão da ALDH2 e Expressão de Proteínas

Danificadas no lisado cardíaco total -------------------------------------- 66

FIGURA 12 Consumo Máximo de Oxigênio e Liberação de Peróxido de

Hidrogênio em Mitocôndria Cardíaca Isolada --------------------------- 68

FIGURA 13 Permeabilidade de Poros Mitocondriais, Liberação de Citocromo c e

4HNE in vitro ---------------------------------------------------------------- 71

Page 12: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

FIGURA 14 Peroxidação Lipídica, Atividade da Superóxido dismutase e

Catalase ----------------------------------------------------------------------- 73

FIGURA 15 Análise da Toxicidade da Alda-1. ----------------------------------------- 75

Page 13: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Dados Ecocardiográficos no modo M referentes aos períodos 1, 2, 4 e

10 semanas pós-infarto do miocárdio (IM). ------------------------------- 49

TABELA 2 Dados Ecocardiográficos referentes aos períodos pré- e pós-

tratamento dos grupos Sham, Insuficiência Cardíaca (IC) e

Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1 (IC Alda-1). ---------------- 59

TABELA 3 Parâmetros Fisiológicos. ----------------------------------------------------- 61

TABELA 4 Parâmetros Hemodinâmicos ------------------------------------------------- 62

Page 14: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SIMBOLOS

4HNA 4-hidroxi-2-nonenóico

4HNE 4-hidroxi-2-nonenal

A Velocidade do fluxo mitral A

ACDA Artéria coronária descendente anterior

ADH Álcool desidrogenase

Alda-1 Aldehyde dehydrogenase activator 1

ALDH2 Aldeído desidrogenase 2

ALDH2*2 Aldeído desidrogenase mutante

ALDHs Aldeído desidrogenases

ALT Alanina aminotransferase

Ang II Angiotensina II

ANOVA Análise de variância

ASP Aspartato aminotransferase

ATP Adenosina trifosfato

CaCl2 Cloreto de cálcio

CAT Catalase

CCCP Carbonyl cyanide m-chlorophenil hydrazone

CR Glutationa redutase

CTE Cadeia de transporte de elétrons

Cys Resíduos de cisteína

DC Débito cardíaco

DdVE Diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo

DMP Distância máxima percorrida

DNA Ácido desoxirribonucléico

+dP/dt max Elevação máxima da pressão do ventrículo esquerdo

-dP/dt max Declínio máximo da pressão do ventrículo esquerdo

DsVE Diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo

DTNB 5,5' DITIOBIS-2-NITROBENZÓICO

DTT DL-Ditiotreitol

E Velocidade do fluxo mitral E

ʎem Absorbância emissão

Page 15: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

ʎex Absorbância excitação

FC Frequência Cardíaca

FE (%) Porcentagem da fração de encurtamento do ventrículo esquerdo

Fenc Fração de encurtamento do ventrículo esquerdo

FOX Ferrous oxidation in xylenol orange

GAPDH Gliceradeído - 3- fosfato desidrogenase

Glu Glutamato

GPx Glutationa peroxidase

GSH Glutationa reduzida

GS-TNB Glutationa oxidada TNB

H+ Hidrogênio

H2O Água

H2O2 Peróxido de hidrogênio

HCL Ácido clorídrico

I/R Isquemia e reperfusão

IC Insuficiência cardíaca

IC Alda Insuficiência cardíaca tratado com Alda-1

ID Isocitrato desidrogenase

IDM Índice de desempenho do miocárdio

KCL Cloreto de potássio

KH2PO4 Fosfato de potássio monobásico

L• Radical lipídico

LOO• Radical peroxila

MgCl2 Cloreto de magnésio

NaCl Cloreto de sódio

NAD+ B-Nicotinamide adenine dinucleotide

NADH Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato reduzida

NYHA New York Heart Association

O2•−

Ânio superóxido

O2 Oxigênio

OH• Radical Hidroxila

ON Óxido nítrico

ONOO− Peróxido nitrito

Page 16: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

PAS Pressão Arterial Sistólica

PC Peso Corporal

PDFVE Pressão diastólica final do ventrículo esquerdo

PHE Fenilefrina

PPVEd Parede posterior do ventrículo esquerdo na diástole

PPVEs Parede posterior do ventrículo esquerdo na sístole

PSFVE Pressão sistólica final do ventrículo esquerdo

PTMs Poros de transição mitocondrial

PUFAs Ácidos graxos poliinsaturados

RPVDF Relação pressão volume na diástole final

RPVSF Relação pressão volume na sístole final

-SH Grupo tiol

Sham Grupo controle

SIVd Septo interventricular na diástole

SIVs Septo interventricular na sístole

SNS Sistema nervoso simpático

SOD Superóxido dismutase

SRAA Sistema renina angiotensina aldosterona

SUS Sistema único de saúde

TC Trabalho cardíaco

TE Tempo de ejeção

TNB Cromóforo

TRIV Tempo de relaxamento isovolumétrico

TrxP Tioredoxina peroxidase

TrxR Tioredoxina redutase

VS Volume sistólico

OMS Organização mundial da saúde

Unidades

g Micrograma

m Micrômetro

M Micromolar

µL Microlitro

Bpm Batimento por minuto

Page 17: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

g Grama

L Litro

m Metro

Mg Miligrama

Min Minuto

mm Milímetro

mM Milimolar

mmHg Milímetros de mercúrio

nM Nanomolar

Page 18: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------- 19

2 REVISÃO DE LITERATURA --------------------------------------------------------- 21

2.1 Insuficiência cardíaca ------------------------------------------------------------------ 21

2.2 Mitocôndria e estresse celular -------------------------------------------------------- 22

2.3 4HNE, disfunção mitocondrial e doenças cardiovasculares -------------------- 26

2.4 Aldeído desidrogenase 2 (ALDH2) e Alda-1 --------------------------------------- 28

3 JUSTIFICATIVA ------------------------------------------------------------------------- 31

4 OBJETIVOS ------------------------------------------------------------------------------- 34

5 MATÉRIAIS E MÉTODOS ------------------------------------------------------------ 36

5.1 Amostra ----------------------------------------------------------------------------------- 36

5.2 Protocolo de cirurgia cardíaca para indução do infarto ------------------------ 36

5.3 Tratamento ------------------------------------------------------------------------------- 37

5.4 Avaliação da função ventricular ----------------------------------------------------- 37

5.5 Teste de tolerância ao esforço -------------------------------------------------------- 38

5.6 Medidas de frequência cardíaca de pressão arterial ---------------------------- 38

5.7 Avaliação da hemodinâmica cardíaca ---------------------------------------------- 39

5.8 Sacrifício e coletas de tecido ---------------------------------------------------------- 40

5.9 Avaliação morfométrica cardíaca --------------------------------------------------- 40

5.10 Atividade da enzima ALDH2 ------------------------------------------------------- 41

5.11 Caracterização da função mitocondrial cardíaca ------------------------------- 41

5.12 Análise da expressão de proteínas mitocondriais e citosólicas --------------- 43

5.13 Peroxidação lipídica ------------------------------------------------------------------ 44

5.14 Avaliação da atividade de enzimas antioxidantes ------------------------------- 45

5.15 Análise de toxidade hepática -------------------------------------------------------- 46

5.16 Análise estatística --------------------------------------------------------------------- 46

6 RESULTADOS (Estudo 1) -------------------------------------------------------------- 47

6.1 Modelo experimental e ecocardiograma modo M do curso temporal após

infarto do miocárdio ------------------------------------------------------------------------ 47

6.2 Curso temporal da atividade da ALDH2 pós-infarto do miocárdio ---------- 50

6.3 Formação de hidroperóxidos lipídico e níveis de glutationa no coração ---- 52

6.4 Consumo de oxigênio e liberação de peróxido de hidrogênio em 53

Page 19: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

mitocôndria cardíaca isolada -------------------------------------------------------------

7 RESULTADOS (Estudo 2) -------------------------------------------------------------- 56

7.1 Modelo experimental e caracterização do fenótipo ------------------------------ 56

7.1.1 Análises ecocardiográficas ---------------------------------------------------------- 56

7.1.2 Parâmetros fisiológicos --------------------------------------------------------------- 60

7.1.3 Análises hemodinâmicas e morfométricas cardíaca ----------------------------- 61

7.2 Perfil de atividade e expressão da enzima ALDH2 cardíaca e acúmulo de

proteínas danificadas ----------------------------------------------------------------------- 65

7.3 Caracterização da função mitocondrial -------------------------------------------- 65

7.3.1 Permeabilidade dos poros mitocondriais, liberação de citocromo c e 4HNE

in vitro ------------------------------------------------------------------------------------------ 69

7.4 Peroxidação lipídica e atividade da superóxido dismutase e da catalase ---- 72

7.5 Toxicidade da Alda-1 ------------------------------------------------------------------ 73

8 DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------------------------- 76

9 CONCLUSÃO ----------------------------------------------------------------------------- 80

REFERÊNCIAS ----------------------------------------------------------------------------- 81

Page 20: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

19

1 INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares são consideradas um importante problema de saúde pública

em todo mundo, estando associadas a elevadas taxas de morbidade e mortalidade. De acordo

com a organização mundial da saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são responsáveis

por cerca de 17 milhões de óbitos anualmente (WHO, 2014), nos Estados Unidos 1 a cada 3

americanos possui 1 ou mais tipos de doença cardiovascular. No Brasil as doenças

cardiovasculares representam 29,4% da mortalidade no país, atingindo mais de 300 mil

pessoas anualmente (Brasil, 2014)

A maioria das doenças cardiovasculares tem como via final comum a insuficiência

cardíaca (IC), uma síndrome degenerativa multifatorial associada a alterações neuro-

hormonais (ex, hiperativação dos sistemas nervoso simpático, SNS, e renina-angiotensina-

aldosterona, SRAA) e consequente prejuízo da função cardíaca. Na IC, a capacidade de um ou

de ambos os ventrículos apresenta-se comprometida, fazendo com que o coração diminua a

sua eficácia no bombeamento adequado de sangue para atender as necessidades metabólicas

do organismo (Liu, Eisen, 2014).

O estabelecimento e o agravamento da IC estão associados ao desbalanço metabólico

cardíaco caracterizado muitas vezes pelo prejuízo do funcionamento da mitocôndria (Abel,

Doenst, 2011; Schwarz et al., 2014; Tsutsui et al., 2011). A mitocôndria é uma organela

importante para a sobrevivência celular, não apenas por gerar ATP (adenosina trifosfato), mas

também por controlar o balanço redox, sintetizar aminoácidos não essenciais, bases

precursoras do DNA (ácido desoxirribonucléico) e moléculas envolvidas na sinalização

intracelular. Além disso, a mitocôndria regula diretamente processos apoptóticos,

diferenciação, crescimento e proliferação celular (Handy, Loscalzo, 2012). Atualmente

sabemos que o prejuízo na produção de energia, associado aos efeitos deletérios da

exacerbada produção de radicais livres está diretamente relacionado à menor viabilidade

cardíaca tanto em modelos animais de IC quanto em pacientes portadores de IC (Abel,

Doenst, 2011; Tsutsui, Kinugawa et al., 2011; Ventura-Clapier et al., 2011).

Recentemente, os conhecimentos sobre a fisiopatologia das doenças cardiovasculares

estabeleceram que a produção exacerbada de radicais livres resulta na formação e no acúmulo

de aldeídos cardíacos (Chen et al., 2014). Dentre os diversos aldeídos acumulados no coração,

o 4-hidroxi-2-nonenal (4HNE), originado a partir da oxidação de fosfolipídios presentes na

membrana interna da mitocôndria, apresenta grande poder nocivo ao coração (Budas et al.,

2010). Esse aldeído eletrofílico é capaz de atacar aminoácidos nucleofílicos e formar adutos

Page 21: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

20

com proteínas (adutos de Michaelis), resultando na inativação da proteína-alvo e consequente

desarranjo/disfunção celular (Raza, John, 2006).

A principal enzima responsável pela remoção desse aldeído tóxico é a aldeído

desidrogenase 2 (ALDH2), uma proteína localizada na matriz mitocondrial. Chen e

colaboradores demonstraram que a atividade da ALDH2 cardíaca apresenta uma correlação

inversa com a área de infarto após isquemia cardíaca em ratos (Chen et al., 2008). De fato, a

ativação direta (farmacológica) ou indireta (etanol) da ALDH2 durante a isquemia cardíaca

tem efeito protetor e resulta em menor dano ao miocárdio (Chen, Budas et al., 2008). Este

efeito benéfico é decorrente, pelo menos em parte, da maior remoção do 4HNE pela ALDH2.

A utilização de uma pequena molécula ativadora da ALDH2 desenvolvida por nossos

colaboradores da Universidade de Stanford, denominada Alda-1, foi capaz de minimizar os

efeitos nocivos da isquemia ao tecido cardíaco (Chen, Budas et al., 2008). Recentemente,

nosso grupo demonstrou que a Alda-1 também tem efeito protetor em modelo ex vivo de

isquemia cardíaca (Sun et al., 2011). Esses resultados apontam a ALDH2 como uma enzima-

chave na manutenção da viabilidade cardíaca durante o processo isquêmico e abrem uma nova

perspectiva no tratamento das doenças cardiovasculares. Baseados nos resultados

supracitados, levantamos a hipótese que a ativação sustentada da ALDH2 é capaz de proteger

contra a progressão da IC. Sendo assim, estabelecemos como objetivos do presente estudo: 1)

caracterizar o perfil de ativação da ALDH2 e remoção de aldeídos cardíacos ao longo da

progressão da disfunção cardíaca induzida pelo infarto do miocárdio em ratos (1, 2, 4 e 10

semanas pós-infarto do miocárdio) e 2) estudar o efeito da ativação sustentada da enzima

ALDH2, através do tratamento farmacológico com Alda-1, sobre a função e ultraestrutura

cardíaca, função mitocondrial e balanço redox na IC de etiologia isquêmica em ratos.

Page 22: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

21

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Insuficiência cardíaca

A IC atualmente atinge mais de 23 milhões de pessoas em todo o mundo, em taxas

crescentes a cada ano (Liu, Eisen, 2014). Nos Estados Unidos surgem 550 mil novos

casos/ano, e 1 a cada 5 pessoas corre o risco de desenvolver IC (Liu, Eisen, 2014). No Brasil a

IC é a causa mais frequente de internação por doenças cardiovasculares e, em 2007 foi

responsável pelo gasto de 3% dos recursos totais destinados à internação do sistema único de

saúde (SUS) (Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC, 2012).

A etiologia mais recorrente da IC é a cardiomiopatia isquêmica (SBC, 2012),

caracterizada pela redução do aporte sanguíneo nas coronárias cardíacas. O estabelecimento

da IC ocorre da seguinte forma: após o infarto do miocárdio ocorre inicialmente uma redução

do débito cardíaco, essa redução gera uma ativação dos barorreceptores do coração que são

capazes de sinalizar a ativação do SNS na tentativa de preservar a homeostase circulatória,

como conseqüência ocorre um aumento da freqüência cardíaca, pressão arterial sistêmica,

vasoconstrição e consequente aumento da contratilidade cardíaca, essas adaptações atenuam a

queda do débito cardíaco (Montera, 2009). Embora originalmente vista como uma resposta

compensatória benéfica, a liberação endógena sustentada de neuro-hormônios parece exercer

papel deletério no desenvolvimento da IC, pelo aumento da sobrecarga de volume e da pós-

carga do ventrículo com contratilidade já diminuída. Esses neuro-hormônios podem exacerbar

as anormalidades metabólicas presentes, ocasionando o estabelecimento da IC. Essa pode ser

caracterizada (não em sua totalidade) por algumas alterações cardíacas funcionais (disfunção

sistólica e diastólica ventricular esquerda, e redução do debito cardíaco), estruturais (dilatação

ventricular, redução da complacência cardíaca) e elétricas (taquicardia e arritmias cardíacas)

(Chatterjee, 2005). Considerada uma síndrome degenerativa, a IC também pode ser

caracterizada, dependendo do estágio da doença, pela intolerância aos esforços físicos e pela

formação de edema pulmonar.

Em detrimento da hiperativação sustentada de sistemas neuro-humorais, a progressão da

IC também é caracterizada por uma série de anormalidades celulares cardíacas. Um estudo

publicado recentemente pelo nosso grupo demonstrou que ratos com IC de etiologia

isquêmica, apresentam um aumento do estresse oxidativo, acompanhado por elevadas taxas da

peroxidação lipídica e acúmulo de proteínas danificadas. Além disso, esses animais

apresentam uma disfunção mitocondrial e uma redução na atividade do sistema proteolítico

Page 23: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

22

ubiquitina-proteassoma (Campos et al., 2012). O sistema ubiquitina-proteassoma auxilia na

remoção de proteínas danificadas, uma vez que o acúmulo dessas proteínas contribui para o

agravamento da disfunção cardíaca e o estabelecimento da IC (Campos, Queliconi et al.,

2012). Outra anormalidade presente na IC, causada pela hiperativação neuro-humoral, é o

aumento dos níveis de angiotensina II (Ang II) no coração. Daí e colaboradores demonstraram

que o aumento nos níveis de Ang II em cardiomiócitos de ratos com IC contribui para o

aumento da fibrose cardíaca, hipertrofia e dano mitocondrial (Dai et al., 2011).

Apesar dos avanços no tratamento da IC, as taxas de morbidade e mortalidade dos

pacientes ainda é alta (Hummel et al., 2010). Portanto, a busca por novos alvos terapêuticos é

importante na tentativa de melhorar a qualidade de vida e a sobrevida desses pacientes. A

disfunção mitocondrial é apontada como uma importante alteração celular associada à

progressão e agravamento da IC (Abel, Doenst, 2011; Schwarz, Siddiqi et al., 2014; Tsutsui,

Kinugawa et al., 2011). Atualmente sabemos que o prejuízo na produção de energia,

associado aos efeitos deletérios do desbalanço redox está diretamente relacionado à menor

viabilidade cardíaca tanto em modelos animais de IC quanto m pacientes portadores de IC

(Abel, Doenst, 2011; Tsutsui, Kinugawa et al., 2011; Ventura-Clapier, Garnier et al., 2011).

2.2 Mitocôndria e estresse celular

A mitocondrial é responsável por produzir a maior parte da energia do coração, > 95% do

ATP gerado no coração é proveniente da mitocôndria (Doenst et al., 2013). O processo de

produção aeróbia de ATP é denominado fosforilação oxidativa, que ocorre devido ao

gradiente eletroquímico mantido entre a membrana interna e o espaço intermembranar da

mitocôndria. O interior da mitocôndria é denominado matriz mitocondrial, onde ocorre boa

parte de suas reações. A oxidação de substratos, aminoácidos e ácidos graxos pela β-oxidação

fornece energia para a cadeia de transporte de elétrons (CTE) por meio das coenzimas

NADH+ e FADH2, essas coenzimas doam elétrons para proteínas que compõem a CTE, dando

início a fosforilação oxidativa. Ao final da CTE esses elétrons são transferidos para o

oxigênio que por sua vez é reduzido à água (H2O), A passagem dos elétrons pela CTE gera o

bombeamento de prótons para espaço intermembranar mitocondrial criando um gradiente

eletroquímico, ou seja, a matriz mitocondrial torna-se mais negativa que o espaço

intermembranar. Os prótons são atraídos para a matriz mitocondrial por essa diferença de

carga. A passagem dos prótons pela ATP sintase (Complexo V) gera uma força mecânica

Page 24: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

23

suficiente para a síntese de ATP (Hernandez-Resendiz et al., 2013; Kowaltowski et al., 2009)

(Figura 1).

Alterações no fluxo de elétrons através da CTE podem resultar na formação de radicais

livres. Radicais livres são moléculas que possuem elétrons desemparelhados em sua órbita

mais externa. O ânion superóxido (O2•-) é o primeiro radical a ser gerado. Sua formação

ocorre por uma adição de um elétron a uma molécula de oxigênio (O2). A formação do

peróxido de hidrogênio (H2O2) ocorre quando o O2•- recebe um elétron e dois íons de

hidrogênio. Essa reação ocorre por meio da enzima superóxido dismutase (SOD). O H2O2 não

é considerado um radical, mas é um precursor direto de outros radicais. O radical hidroxila

(OH•) é formado quando H2O2 recebe um elétron e um próton, ou quando o H2O2 reage com

íons de ferro ou cobre, esse radical também pode ser gerado através da reação do H2O2 com o

O2•-

catalisada por íons de metal. Outro importante radical formado é o peróxido nitrito

(ONOO-) que é originado a partir da reação do O2

•- o oxido nítrico (ON) (Kowaltowski, de

Souza-Pinto et al., 2009). Os OH•

e ONOO- são os principais precursores da peroxidação

lipídica.

Uma mitocôndria saudável possui um sistema de defesa antioxidante capaz de combater a

formação exacerbada desses radicais, mantendo níveis fisiológicos para o bom funcionamento

celular (Hernandez-Resendiz, Buelna-Chontal et al., 2013). No entanto, o desbalanço redox,

ou seja, quando a produção de radicas livres é maior que a remoção, resulta na disfunção

mitocondrial e morte celular. A disfunção mitocondrial e o aumento na formação de radicas

livres estão associados à patogênese e progressão de diversas doenças degenerativas, como

Alzheimer, Parkinson, Hipertensão e IC (Abel, Doenst, 2011; Gandhi, Abramov, 2012;

Tsutsui, Kinugawa et al., 2011).

A mitocôndria é a principal fonte de O2•-

e H2O2, oriundos principalmente dos complexos I

e III da CTE. No coração, grande parte das espécies reativas de oxigênio é produzida na CTE

(Poyton et al., 2009). Em condições de homeostase, as espécies reativas de oxigênio são

tamponadas por enzimas como a SOD, catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx),

tioredoxina peroxidase (TrxP) ou por “scavengers” como a vitamina E ou ubiquinol

(Kowaltowski, de Souza-Pinto et al., 2009) (Figura 1). Contudo, em processos como

envelhecimento, hipóxia ou hiperativação neuro-humoral, pode ocorrer uma alteração no

controle redox, resultando em aumento excessivo nas concentrações das espécies reativas de

oxigênio.

Em geral, o aumento exacerbado da produção de EROs pela mitocôndria, resulta em

redução da viabilidade celular. Esse fenômeno está diretamente associado à oxidação de

Page 25: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

24

DNA, lipídios, açúcares e proteínas, resultando em uma série de anormalidades na

mitocôndria, com a drástica redução do potencial da membrana interna mitocondrial,

diminuição na síntese de ATP, aumento nas concentrações de cálcio na matriz mitocondrial,

prejuízo no controle de qualidade de proteína mitocondrial e ativação de vias pró-apoptóticas

(Campos, Queliconi et al., 2012; Kowaltowski, de Souza-Pinto et al., 2009). A ativação das

vias pró-apoptóticas ocorre pela da liberação do citocromo c através dos poros de transição

mitocondrial (PTMs), ocasionada pela perda do potencial de membrana mitocondrial,

sobrecarga de cálcio e aumento de espécies reativas de oxigênio (Lumini-Oliveira et al.,

2011). O aumento das espécies reativas de oxigênio leva a formação do radical H•, que por

sua vez oxida o grupo tiol (-SH) do PTM, e resulta na liberação do citocromo c. No citosol, o

citocromo c ativa o complexo apoptosoma e induz a morte celular programada (apoptose). A

abertura de PTMs depende da redução na expressão das proteínas anti apoptóticas (Bcl-2/Bcl-

x), aumento na expressão de proteínas pró-apoptóticas (Bad, que inibe a expressão Bcl-2/ Bcl-

x) (Kroemer et al., 2007).

Page 26: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

25

Figura 1 – Esquema ilustrativo do funcionamento da cadeia de transporte de elétrons (CTE): A

oxidação de substratos, aminoácidos e ácidos graxos fornece elétrons para a CTE através das

coenzimas NADH e FADH2, Ao final da CTE esses elétrons são transferidos para o oxigênio (O2) que

por sua vez é reduzido à água (H2O), A passagem dos elétrons pela CTE gera o bombeamento de

prótons para espaço intermembranar mitocondrial, criando um gradiente eletroquímico, ou seja, a

matriz mitocondrial torna-se mais negativa que o espaço intermembranar, Os prótons são atraídos para

a matriz mitocondrial por essa diferença de carga, A passagem dos prótons pela ATP sintase

(Complexo V) gera uma força mecânica suficiente para a síntese de ATP, O escape de elétrons forma

radicais livres como ânion superóxido (O2•-) e peróxido de hidrogênio (H2O2), esses radicais livres

podem ser tamponados por enzimas antioxidantes como superóxido dismutase (MnSOD), catalase

(CAT), glutationa peroxidase (GPx) ou a tioredoxina peroxidase (TrxP), A NADP+ é reduzida pela

isocitrato desidrogenase (ID) a NADH que é utilizada tanto pela glutationa redutase (GR) quanto pela

tioredoxina redutase (TrxR), Figura adaptada de Kowaltowski et al,, 2009 e Tahara et al,, 2009

(Kowaltowski, de Souza-Pinto et al., 2009; Tahara et al., 2009).

Os radicais livres são moléculas muito reativas, porém pouco estáveis, e portanto, agem

em locais próximos aos locais onde são produzioas e por um curto período de tempo.

Entretanto, a oxidação de lipídios insaturados, presentes na membrana interna da mitocôndria,

pelos radicais livres, pode formar moléculas extremamente estáveis, reativas e lipofílicas, que

são capazes de atuar em regiões distantes de sua origem e reagir com diferentes proteínas e

DNA. Dentre os oxidantes produzidos pelos radicais livres, encontram-se os peróxidos

lipídicos, que podem ser metabolizados pela glutationa peroxidase. Contudo, na presença de

um doador de elétron, este peróxido sofre uma reação não-enzimática e se divide para

Page 27: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

26

produzir um aldeído tóxico, o 4-hidroxi-2-nonenal (4HNE). Esta molécula, gerada

endogenamente a partir da clivagem de hidroperóxidos lipídicos, é altamente reativa e pode

ligar-se aos resíduos cisteína, lisina e histidina das proteínas. Resumidamente, o processo da

peroxidação lipídica pode ser definido como uma deterioração auto-oxidativa de ácidos

graxos poliinsaturados (PUFAs). Em particular, o 4HNE é formado pela degradação de

PUFAs ômega 3 e 6 presentes em alta quantidades nas membranas biológicas (Yang et al.,

2003).

É interessante mencionar que, quando produzidos em níveis basais (ou seja, < 1 μM), os

aldeídos como o 4HNE, atuam como moléculas sinalizadoras intracelulares (Esterbauer et al.,

1991). Entretanto, sob condições de estresse oxidativo, ocorre produção exacerbada destes

aldeídos, saturando as vias de seu metabolismo, o que favorece modificações irreversíveis de

moléculas biológicas e o início de processos patológicos. A importância clínica do 4HNE

decorre de sua habilidade em se difundir a locais mais distantes de onde é produzido. Assim,

ele pode formar adutos, ligações químicas de alta afinidade, com diversas proteínas. Estudos

têm demonstrado que o 4HNE pode se ligar a albumina plasmática, enzimas do metabolismo,

proteínas de membrana e citosólicas, proteínas da CTE, dentre outros (Houglum et al., 1990;

Hummel, Pauli et al., 2010; Kaplan et al., 2007). O acúmulo desse aldeído tem sido

relacionado à etiologia de diversas doenças, como doenças cardiovasculares, hepáticas e

câncer (Petersen, Doorn, 2004; Takagi et al., 2002; Tanaka, 2014).

2.3 4HNE, disfunção mitocondrial e doenças cardiovasculares

O 4HNE é o principal produto da peroxidação lipídica, possui um carbono reativo

(eletrofílico) localizado na posição 3 (posição central) da molécula. Este carbono pode formar

uma ligação (ligação de Michaelis, ou seja, a ligação do carbono reativo do 4HNE a

proteínas) com resíduos de cisteína, histidina ou lisina da proteína alvo, modificando-a

irreversivelmente (Petersen, Doorn, 2004). Estudos têm demonstrado que cerca de 1 a 8% do

4HNE formado na célula modifica proteínas, resultando em perda de função dessas proteínas.

Outro tipo de modificação decorrente de ataque eletrofílico é a carbonilação de proteínas

(ligação de grupamentos carbonila), um tipo de oxidação protéica que pode ser produzida pela

reação direta de espécies reativas de oxigênio com resíduos de arginina, lisina e treonina. As

carbonilas podem também ser geradas pela reação de Michaelis, entre resíduos de cisteína,

Page 28: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

27

lisina ou histidina e intermediários da peroxidação lipídica, como o 4HNE (Backos et al.,

2011; Yang, Sharma et al., 2003).

Devido à sua forte eletrofilicidade, o 4HNE tem elevada capacidade de modificar

covalentemente componentes celulares como fosfolipídios, DNA, e proteínas (Yang, Sharma

et al., 2003). De fato, a formação de adutos de Michaelis e carbonilação de proteínas pelo

4HNE são observados em diferentes modelos animais de doenças cardiovasculares (Awasthi

et al., 2003; Raza, John, 2006). Resultados prévios do nosso grupo mostram que níveis

elevados de proteínas carboniladas são encontrados no coração de roedores e humanos

portadores de IC (Campos, Queliconi et al., 2012; Ferreira et al., 2012), assim, a carbonilação

pode ser considerada um importante biomarcador na IC.

O 4HNE é capaz de inibir a atividade de importantes enzimas mitocondriais envolvidas no

ciclo de Krebs e na CTE como: -cetoglutarato, succinato desidrogenase, isocitrato

desidrogenase, citocromo c; e outras proteínas responsáveis pelo transporte de moléculas

através das membranas mitocondriais (Hummel, Pauli et al., 2010). A inibição dessas

proteínas parece ser mediada pelo ataque de resíduos de cisteína (Cys), críticos na

manutenção da estrutura e função das proteínas. Outros possíveis alvos do 4HNE são os

resíduos de histidinas, lisinas e os centros ferro-enxofre presentes nos complexos

mitocondriais. O resíduo de Cys possui uma maior reatividade ao 4HNE comparado aos

outros resíduos (histidina e lisina). O 4HNE reage com proteínas citosólicas, mitocondriais e

com o proteassoma, resultando na menor produção de ATP pela mitocôndria, formação de

poros mitocondriais, prejuízo do controle de qualidade de proteína e conseqüente acúmulo de

proteínas danificadas, reduzindo a viabilidade mitocondrial e celular. Dessa forma, o 4HNE

vem sendo considerado uma importante molécula envolvida no prejuízo cardíaco, associado à

redução da contratilidade celular e indução de apoptose (Hummel, Pauli et al., 2010; Kaplan,

Tatarkova et al., 2007).

A disfunção mitocondrial, bem como o desbalanço redox, são processos bem conhecidos

nas doenças cardiovasculares. Porém, os mecanismos celulares envolvidos nesses processos

ainda são controversos. Recentemente, nossos colaboradores da Universidade de Stanford

constataram em modelo animal (in vivo) que o processo de isquemia resulta em acúmulo de

4HNE cardíaco em decorrência de dois processos: 1) oxidação de lipídios presentes na

membrana mitocondrial; e 2) inativação da enzima aldeído desidrogenase 2 (ALDH2),

responsável pela remoção do 4HNE, Esse fenômeno acarreta na disfunção mitocondrial,

ativação de vias celulares pró-apoptóticas e consequente redução da viabilidade cardíaca. De

fato, agentes farmacológicos capazes de ativar diretamente ou indiretamente a enzima

Page 29: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

28

ALDH2 durante a isquemia são capazes de melhorar a viabilidade celular (Budas et al., 2009;

Budas, Disatnik et al., 2010; Chen, Budas et al., 2008). Dessa forma, o melhor entendimento

do metabolismo e ação do 4HNE, bem como o desenvolvimento de novas terapias capazes de

aumentar a remoção do 4HNE são de grande valia para o tratamento de doenças

cardiovasculares, como a IC.

2.4 Aldeído desidrogenase 2 (ALDH2) e Alda-1

As aldeído desidrogenases (ALDHs) são um grupo de enzimas que catalisa a oxidação de

aldeídos a seus ácidos correspondentes, não tóxicos, em uma reação irreversível dependente

de NAD+. Já foram descritas dezenove isoformas das ALDHs, que estão expressas em

diversos tecidos (Chen, Ferreira et al., 2014).

Nos últimos anos a isoforma ALDH2 vem sendo alvo de constante investigação por estar

associada ao aparecimento de câncer, Parkinson, Alzheimer e doenças cardiovasculares, em

especial na população asiática onde 40% dos indivíduos apresentam uma mutação nessa

enzima (ALDH2*2). Essa mutação é a mais freqüente no mundo, atingindo ~540 milhões de

pessoas, representando 8% da população mundial. A mutação ALDH2*2 é caracterizada pela

síndrome de intolerância ao consumo do álcool, uma vez que os portadores da mutação ao

consumirem baixas doses de álcool apresentam rubor facial, palpitações e náuseas. Esses

sintomas ocorrem devido ao acúmulo de acetaldeído. A mutação ALDH2*2 é caracterizada

pela substituição pontual do glutamato por uma lisina na região 487 da ALDH2, resultando na

perda de densidade dos elétrons próximos aos resíduos 245-262 que formam a α-hélice G, e

dos resíduos 466-478 que formam o “loop” do sitio ativo, gerando uma desestabilização do

sítio de ligação do co-fator NAD+, o que confere perda de até 95% na sua atividade

enzimática (Chen, Ferreira et al., 2014). Alguns estudos retratam a mutação na região 504 da

enzima por levar em consideração o peptídeo sinal da porção N-terminal.

A ALDH2 é uma enzima homo-tetramérica de ~56 kDa, possui 517 polipeptídeos e está

localizada na matriz mitocondrial. Sua codificação ocorre em um gene localizado no núcleo,

cromossomo 12 região q24,1. Após a codificação, a enzima é transportada para matriz

mitocondrial em um processo que depende do peptídeo sinal localizado na porção N-terminal

(17 aminoácidos). Na matriz mitocondrial ocorre a clivagem do peptídeo sinal, permitindo a

maturação completa da enzima, Cada subunidade da enzima é composta por três domínios:

um domínio catalítico (formado por 3 resíduos de cisteína: Cys 301, 302 e 303), um domínio

de ligação da co-enzima NAD+ e um domínio de oligomerização (Chen, Ferreira et al., 2014).

Page 30: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

29

A ALDH2 é responsável tanto pelo metabolismo do acetaldeído produzido a partir do

etanol, pela enzima álcool desidrogenase (ADH), como pelo metabolismo de aldeídos

alifáticos de cadeia curta e cadeia longa, sendo responsável pela conversão oxidativa do

4HNE a aldeídos menos tóxicos (4-hidroxi-2-nonenóico, 4HNA) (Hummel, Pauli et al.,

2010). A localização mitocondrial da ALDH2 é de particular importância na remoção de

4HNE, uma vez que a membrana interna da mitocôndria é rica em ácidos graxos insaturados,

sendo um importante alvo de ataque de radicais livres gerados na própria organela (Hulbert et

al., 2007).

Chen e colaboradores demonstraram que a atividade da ALDH2 cardíaca apresenta uma

correlação inversa com a área de infarto após isquemia cardíaca (Chen, Budas et al. 2008). De

fato, a ativação direta ou indireta da ALDH2 durante a isquemia cardíaca tem efeito protetor e

resulta em menores danos ao miocárdio (Chen, Budas et al., 2008). Este efeito benéfico é

decorrente, pelo menos em parte, da maior remoção do 4HNE pela ALDH2. É importante

ressaltar que esse aldeído regula negativamente a atividade da ALDH2, ou seja, quanto maior

a quantidade de 4HNE, menor é a atividade da ALDH2 (Petersen, Doorn, 2004). O

mecanismo sugerido para inativação da ALDH2 é a ligação covalente do 4HNE ao grupo tiol

do sitio catalítico da enzima (Cys 302). Até o momento, esse fenômeno foi demonstrado

apenas em modelo in vitro e na presença de altas concentrações de 4HNE (Doorn et al.,

2006).

Na tentativa de melhor elucidar os mecanismos envolvidos na remoção de aldeídos

tóxicos, bem como os seus feitos deletérios, diversos estudos utilizam modelos geneticamente

modificados para ALDH2, Fernandez e colaboradores analisaram animais nocautes para

ALDH2 e constataram que esses animais apresentam acúmulo de aldeídos tóxicos e maior

suscetibilidade à lesão cardíaca em modelo de isquemia e reperfusão (I/R) (Fernandez et al.,

2006). Outro estudo utilizando animais que hiper-expressam a ALDH2 demonstrou que esses

animais apresentam uma proteção contra lesões agudas e crônicas induzidas pelo estresse

oxidativo ou pela toxicidade do etanol (Doser et al., 2009). Esses resultados conferem um

papel cardioprotetor para enzima ALDH2.

Baseado nos efeitos cardioprotetores da ALDH2,

Mochly-Rosen e colaboradores descobriram por meio de

high–throughput screen uma molécula,N-(1,3-benzodioxol-

5-dylmethyl)-2,6-dichlorobenzamide, capaz de aumentar a

atividade da ALDH2, essa molécula foi chamada de Alda-1

Page 31: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

30

(aldehyde dehydrogenase activator 1). A Alda-1 aumenta a atividade da ALDH2 em até duas

vezes, em comparação com sua atividade basal. Essa molécula possui elevada especificidade,

não apresentando atividade sobre a enzima aldeído desidrogenase-1 (citosólica) ou sobre a

enzima aldeído desidrogenase-5 (mitocondrial) (Chen, Budas et al., 2008). A ativação da

ALDH2 pela Alda-1 é devido à ligação da molécula nas proximidades dos resíduos Cys

302/Glu 286 importantes para a catálise do substrato, isso causa uma drástica redução do Km

da ALDH2 para o co-fator NAD+ e aumento do Vmáx, da catálise do substrato, aumentado a

hidrólise e liberação do produto catalítico. Na enzima mutante a Alda-1 restaura a estrutura da

α-hélice e do “loop” da enzima mutante, aumentando em até 11 vezes sua atividade (Chen,

Ferreira et al., 2014).

Recentemente nosso grupo demonstrou em modelo de I/R que a ativação seletiva da

ALDH2, pela Alda-1, foi suficiente para induzir cardioproteção após processo isquêmico

(Sun, Ferreira et al., 2011). A Alda-1 foi desenvolvida por nossos colaboradores (Chen, Budas

et al., 2008) e a partir de 2008 diversos estudos utilizaram a Alda-1 em diferentes modelos

experimentais na tentativa de reduzir os danos causados pela toxicidade de aldeídos. Solito e

colaboradores demonstraram que 20 µM de Alda-1 foi capaz de prevenir disfunção de células

endoteliais de humanos e restaurar a angiogênese (Solito et al., 2013). Outros estudos

demonstraram que a Alda-1 é capaz de melhorar o fluxo autofágico (Ge et al., 2011) e de

reduzir a disfunção contrátil, apoptose e dano mitocondrial cardíaco em modelo experimental

de diabetes, (Zhang et al., 2012), sendo estes efeitos decorrentes, pelo menos em parte, da

diminuição na formação dos adutos de 4HNE. De fato, Nakamura e colaboradores

demonstraram que a redução de 40% das concentrações de 4HNE foi capaz de melhorar a

função cardíaca em pacientes com cardiomiopatia dilatada (Nakamura et al., 2002).

Baseado nesses resultados, concluí-se que a ativação da ALDH2 e consequente redução

do 4HNE se mostra de grande importância para o desenvolvimento de novas estratégias ou

fármacos que auxiliem no tratamento do infarto agudo do miocárdio. Entretanto, não se sabe

ao certo quais são os benefícios da ativação sustentada da ALDH2 no desenvolvimento e

progressão da IC.

Page 32: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

31

3 JUSTIFICATIVA

Além da hiperativação de fatores neuro-hormonais na IC, a progressão da síndrome é

caracterizada por uma série de anormalidades celulares associadas ao remodelamento

cardíaco e disfunção ventricular (Rolim et al., 2007). Dessa forma, a compreensão dos

mecanismos celulares responsáveis pelo agravamento da disfunção cardíaca na progressão da

IC é atualmente um importante foco de estudo. Mais especificamente, alterações na função

mitocondrial e o acúmulo de produtos oriundos do estresse oxidativo, como o 4HNE, parecem

contribuir para o desenvolvimento e/ou agravamento da IC. Considerando a contribuição da

enzima ALDH2 na remoção do 4HNE produzido durante o estresse oxidativo (Petersen,

Doorn, 2004), levantamos a hipótese que durante a IC, ocorre acúmulo de 4HNE pelo

aumento do estresse oxidativo, resultando na inativação de importantes proteínas envolvidas

no metabolismo celular através da formação de adutos de Michaelis (Figura 3). Esse processo

resulta em um ciclo vicioso, uma vez que cronicamente o acúmulo de adutos de Michaelis

contribui para o desbalanço redox e consequente progressão da IC.

Page 33: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

32

Figura 3 – Esquema ilustrativo da nossa hipótese: 1, O desequilíbrio redox observado na IC,

decorrente da alteração no metabolismo mitocondrial, resulta em elevada oxidação de fosfolipídios

presentes na membrana interna da mitocôndria e conseqüente formação do aldeído 4-hidroxi-2-

nonenal (4HNE); 2, Em condições fisiológicas o 4HNE é metabolizado pela enzima aldeído

desidrogenase 2 (ALDH2), presente na matriz mitocondrial; 3, O acúmulo de 4HNE, resultado do

estresse oxidativo exacerbado e/ou inativação da ALDH2, resulta na formação do aduto de Michaelis

entre 4HNE e resíduos nucleofílicos (cisteína, histidina e lisina) de diferentes proteínas, acarretando na

inativação de proteínas-alvo; 4/5, O aumento da formação dos adutos de Michaelis resulta em

disfunção mitocondrial, desequilíbrio redox, prejuízo contrátil e colapso/morte celular, e

consequentemente, agravamento da IC; 6/7, A identificação dos alvos celulares do 4HNE bem como a

utilização de terapias farmacológicas capazes de aumentar a atividade da ALDH2 serão de grande

valia para o tratamento da IC,

Esse estudo torna-se interessante uma vez que a compreensão mais detalhada do papel

da ALDH2 na IC poderá contribuir para o futuro emprego de terapias que atuem em

mecanismos-chave envolvidos na fisiopatologia da IC, como o ativador da ALDH2, Alda-1.

Além disso, tendo em vista que a mutação a ALDH2*2 se relaciona com o aparecimento de

diversas doenças cardiovasculares, o nosso estudo poderá ter relevância clínica para esta

população. Até o momento foram publicados apenas 16 estudos utilizando a Alda-1. As

publicações deram início no ano de 2008, sendo 1 artigo de caracterização da molécula (Chen,

Budas et al., 2008), 2 artigos de revisão (Ferreira, Mochly-Rosen, 2012; Hummel, Pauli et al.,

2010), 1 sobre os mecanismos moleculares (Perez-Miller et al., 2010), 3 com modelo de

Page 34: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

33

isquemia e reperfusão cardíaca (Fu et al., 2014; Gu et al., 2013; Masi et al., 2013; Sun,

Ferreira et al., 2011), e 9 envolvendo estresse do retículo (Zhang et al., 2013), autofagia (Ge,

Guo et al., 2011), radiação (Ning et al., 2012), diabetes (Zhang, Babcock et al., 2012),

nitroglicerina (Beretta et al., 2010), disfunção endotelial (Solito, Corti et al., 2013),

regeneração hepática (Ding et al., 2014), cardioplegia (Gong et al., 2012) e seletividade da

ALDH2 (Kotraiah et al., 2013).

Atualmente, não foi publicado nenhum trabalho utilizando o tratamento sustentado com

Alda-1 e sua contribuição na função/morfologia cardíaca em modelos crônicos de doenças

cardiovasculares, o que fortalece a relevância e originalidade do presente projeto.

Page 35: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

34

4 OBJETIVOS

Estudo 1: Caracterizar a atividade da ALDH2, o balanço redox e o metabolismo mitocondrial

nos períodos de 1, 2, 4 e 10 semanas após o infarto do miocárdio em ratos. Para isso

avaliamos ao longo do tempo as seguintes variáveis:

Função cardíaca;

Atividade da ALDH2;

Peroxidação lipídica no lisado cardíaco;

Quantidade total de glutationa cardíaca;

Consumo de oxigênio da mitocôndria cardíaca isolada;

Liberação de peróxido de hidrogênio (H2O2) pela mitocôndria cardíaca isolada.

Estudo 2: Melhor compreender o papel da ALDH2 na progressão da IC de etiologia isquemia

com a utilização da Alda-1 em ratos. Para isso, os animais Sham e IC foram tratados com

Alda-1 por seis semanas. O tratamento iniciou-se quatro semanas após a cirurgia (Figura 4).

Figura 4 - Esquema ilustrativo do período experimental, cirurgia e tratamento na IC induzida por

infarto do miocárdio.

Ressaltamos que nesse momento os ratos infartados apresentam sinais de IC, como

remodelamento cardíaco, dilatação ventricular e disfunção diastólica. As variáveis analisadas

foram:

Função cardíaca em repouso e mediante estresse;

Tolerância à realização de esforços físicos;

Comportamento da pressão arterial e freqüência cardíaca no repouso;

Page 36: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

35

Morfologia cardíaca (área de infarto, diâmetro dos cardiomiócitos e deposição de

colágeno cardíaco);

Atividade e expressão da ALDH2 no lisado cardíaco;

Formação do aduto de Michaelis (4HNE-proteína) no lisado cardíaco;

Expressão de proteínas carboniladas no lisado cardíaco;

Consumo de oxigênio da mitocôndria cardíaca isolada;

Liberação de peróxido de hidrogênio (H2O2) pela mitocôndria cardíaca isolada;

Permeabilidade dos poros mitocondriais;

Liberação de citocromo c pela mitocôndria;

Ação do 4HNE em mitocôndria cardíaca isolada in vitro;

Peroxidação lipídica no lisado cardíaco;

Atividade das enzimas antioxidantes: superóxido desmutase e catalase no lisado

cardíaco;

Toxidade da Alda-1.

Page 37: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

36

5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Amostra

O presente estudo teve a aprovação do comitê de Ética do Instituto de Ciências

Biomédicas da Universidade de São Paulo (n° 036/127/02). Para a realização projeto, foram

utilizados ratos Wistar machos (250-300 gramas) provenientes do Biotério Central do

Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Os ratos utilizados neste

estudo foram mantidos em Biotério, com temperatura controlada entre 22 e 25oC, ciclo claro-

escuro 12: 12 horas. Água e comida foram administradas ad libitum. Este estudo foi

conduzido de acordo com os princípios éticos em pesquisa animal adotado pela Sociedade

Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL, www,cobea,org,br).

5.2 Protocolo de cirurgia cardíaca para indução do infarto do miocárdio

A cirurgia cardíaca para a indução do infarto do miocárdio foi realizada em ratos com

doze semanas de idade. Inicialmente os ratos foram anestesiados com uma mistura de

ketamina (50 mg/kg) e xilazina (10 mg/kg) intraperitoneal e foram entubados para ventilação

mecânica (frequência respiratória de 60-70 ventilações/minuto e volume tidal de 2,5 mL).

Uma toracotomia esquerda, sob condições assépticas, foi realizada no terceiro espaço

intercostal e o pericárdio foi aberto. Foi realizada uma ligadura permanente na artéria

coronária descendente anterior esquerda distalmente a 2 mm de sua origem com fio de

polipropileno não absorvível (5,0, ETHICON, Brasil), finalizando com o fechamento do

tórax, conforme protocolo descrito por Johns e Olson (Johns, Olson, 1954). No período pós-

cirúrgico os animais foram tratados com injeções intraperitoneais de Ampicilina (7 mg/kg) e

Dipirona (7 mg/kg). Para o estudo 1, os animais foram acompanhados ao longo de 10

semanas pós-infarto do miocárdio, sendo as análises realizadas nas semanas 1, 2, 4 e 10. Já no

estudo 2, os grupos experimentais foram divididos da seguinte forma: grupo Sham, que

passou por uma cirurgia fictícia; grupo insuficiência cardíaca (IC) tratado com uma solução

veículo (50% DMSO/50% PEG 400); e grupo insuficiência cardíaca tratado com Alda-1 (IC

Alda-1). As análises foram realizadas 4 e 10 semanas após a cirurgia.

Page 38: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

37

5.3 Tratamento

No estudo 2, os animais dos grupos IC foram tratados com Alda-1 (10 mg/kg/dia) ou

solução veículo (50% DMSO/50% PEG 400) por meio da implantação de mini-bombas

osmóticas (Alzet, modelo 2 ml2, 50 l/hora) no dorso. O tratamento teve duração de 6

semanas, iniciando na 4ª semana após a cirurgia de infarto do miocárdio, fase em que a IC

já está estabelecida. Para a implantação das mini-bombas osmóticas, os ratos foram

anestesiados com uma mistura de ketamina (50 mg/kg) e xilazina (10 mg/kg)

intraperitoneal, Após a cirurgia, os animais receberam injeções intraperitoneais de

Ampicilina (7 mg/kg) e Dipirona (7 mg/kg) por um período de cinco dias. As mini-

bombas osmóticas foram trocadas a cada duas semanas de tratamento. A Alda-1 foi

gentilmente cedida pela nossa colaboradora da Universidade de Stanford, Profa. Dra.

Daria Mochly-Rosen.

5.4 Avaliação da função ventricular

A avaliação da função ventricular no estudo 1 foi realizada por ecocardiografia modo

M no Laboratório de Biologia Vascular do Instituto do Coração (InCor) em colaboração com

o Dr. Paulo M, M, Dourado. Já no estudo 2, realizamos tanto o modo M quanto o Doppler

tecidual. Para a análise ecocardiográfica os animais foram anestesiados com uma mistura de

ketamina (50 mg/kg) e xilazina (10 mg/kg) intraperitoneal. A partir da visualização do

ventrículo esquerdo (corte transversal) na altura dos músculos papilares foi realizado o exame

e obtidos os seguintes parâmetros: Diâmetro diastólico e sistólico final do ventrículo

esquerdo, espessura do septo intraventricular na diástole e na sístole e espessura da parede

posterior do ventrículo esquerdo na diástole e na sístole. Além disso, baseado nos dados

oferecidos pelo equipamento calculamos a fração de encurtamento do ventrículo esquerdo

(FEnc), pela fórmula FEnc (%) = [(DdVE-DsDV)/DdVE)]x100, onde DsVE é o diâmetro

sistólico final do ventrículo esquerdo, o DdVE é o diâmetro diastólico final do ventrículo

esquerdo. As medidas ecocardiográficas seguiram as recomendações do Comitê de

Padronização do modo M (monodimensional) da Sociedade Americana de Ecocardiografia

(Sahn et al., 1978).

O método Doppler tecidual foi realizado no sistema Vevo 770 ultra-som (Visual Sonics,

Canadá), equipado com um transdutor mecânico de alta resolução (17 MHz-scanhead

RMV716). Em resumo, o fluxo sanguíneo cardíaco foi avaliado no eixo longo paraesternal de

Page 39: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

38

acordo com as recomendações da Sociedade America de Ecocardiografia (Pellikka et al.,

2013). O fluxo mitral padrão foi avaliado a partir do corte apical das 4 câmaras com Doppler

pulsátil. Da mesma forma, foi realizada a avaliação do Doppler tecidual.

5.5 Teste de tolerância ao esforço

O teste de esforço ou teste ergométrico é utilizado na clínica para determinar a classe

funcional da IC de acordo com as determinações da New York Heart Association (NYHA)

(Tang et al., 2010), uma vez que algumas anormalidades cardíacas podem ser aparentes

somente após a realização de um exercício máximo até a exaustão.

A capacidade máxima de realização do exercício físico foi avaliada na 4ª e 10ª semana

após a cirurgia de infarto do miocárdio por meio de um teste progressivo até a exaustão em

esteira rolante (estudo 2). Foi realizado um exercício progressivo escalonado até a exaustão

em esteira rolante, onde a velocidade inicial da esteira foi de 6 m/min sem inclinação. A cada

três minutos, a velocidade da esteira sofreu um acréscimo de 3 m/min até a exaustão do

animal (Ferreira et al., 2007). As variáveis medidas foram o tempo total e a distância em

metros percorrida por cada animal durante o teste máximo. Essas análises foram realizadas

em colaboração com a Profa. Dra. Patrícia Chakur Brum, no laboratório de Fisiologia Celular

e Molecular do Exercício da EEFE-USP. Não foi possível realizar essas análises no estudo 1

pela logística proposta no estudo.

5.6 Medidas de frequência cardíaca e pressão arterial

Com o intuito de acompanhar possíveis alterações hemodinâmicas no estudo 2, realizamos

a medida indireta da pressão arterial sistólica e da frequência cardíaca através do método de

pletismografia de cauda (RTBP 101 Kent Scientific Corporation, Litchfield, conn., EUA),

conforme previamente padronizado (Rolim, Medeiros et al., 2007). Depois de um período de

adaptação dos animais, foram coletados cinco registros consecutivos por meio de um

esfigmomanômetro de cauda. Esses registros foram realizados em três diferentes dias da

semana, sendo ulteriormente calculada a média dos valores obtidos. As medidas forma

coletadas na 4ª e 10ª semana pós-infarto do miocárdio.

Page 40: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

39

5.7 Avaliação da hemodinâmica cardíaca

A avaliação da hemodinâmica cardíaca (método invasivo) foi realizada em repouso e

frente ao aumento da pós-carga induzido por fenilefrina. Essa análise foi realizada em

colaboração com o Prof. Dr. José Eduardo Krieger no Laboratório de Genética e Cardiologia

Molecular do InCor-HCFMUSP. Para a realização desse experimento a veia femoral esquerda

foi canulada para anestesia suplementar, injeção de drogas e salina. Um cateter de pressão-

volume MicroTip (modelo 1,4 French SPR 839; Millar Instruments, Houston, TX) foi

inserido na artéria carótida direita e posicionado imediatamente acima da válvula aórtica para

monitorar a pressão sanguínea cardíaca. Após 5 minutos de medição da pressão sanguínea

arterial, o cateter foi introduzido na cavidade do ventrículo esquerdo para medidas

simultâneas e contínuas de pressão e volume. A veia jugular direita também foi canulada, e 10

µl de solução salina 15% foram injetados para medir a condutância paralela. A calibração

para volume foi realizada usando uma regressão linear da condutância do volume de sangue

total (4 câmaras cilíndricas contendo um volume especificado de sangue de rato recém

heparinizado) versus o sinal adquirido pelo cateter de condutância. Os dados foram adquiridos

através do LabChart 7 Software System (PowerLab, ADInstruments, Bella Vista, NSW,

Austrália) (Pacher et al., 2008). Os seguintes parâmetros foram obtidos: frequência cardíaca

(FC), pressão arterial diastólica e sistólica final do ventrículo esquerdo (PDFVE e PSFVE,

respectivamente), derivada positiva de pressão do ventrículo esquerdo sobre o tempo (+dP/

dtmax) e derivada negativa de pressão do ventrículo esquerdo sobre o tempo (-dP/dtmax),

volume sistólico (VS), débito cardíaco (DC) e trabalho cardíaco (TC). Os parâmetros

hemodinâmicos foram determinados sob condições basais e durante uma sobrecarga de

pressão com a injeção do vasoconstrictor fenilefrina (PHE) (25–75 mg/kg peso corporal) na

veia femoral esquerda após vagotomia, que foi realizada para prevenir alterações nos valores

de frequência cardíaca pelo baroreflexo. As doses de PHE foram ajustadas para cada animal

para produzir elevações comparáveis de pressão sanguínea (60% a 80% maior que no basal).

A inclinação da relação linear entre a pressão e o volume sistólico final foi obtida durante a

oclusão transiente da veia cava inferior nos grupos de animais, para medir os resultados

médios do desempenho cardíaco (Pacher, Nagayama et al., 2008).

Page 41: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

40

5.8 Sacrifício e coletas de tecidos

Vinte e quatro horas após o último experimento, os animais foram anestesiados e

decapitados, sendo os tecidos rapidamente coletados e armazenados a -80°C. Após o

sacrifício foi realizada a excisão do coração para ulterior pesagem. Para as análises

moleculares cardíacas utilizamos a região do coração não infartada (área remota). Para o

isolamento da mitocôndria utilizamos todo o coração. Também foram coletados pulmão e

fígado para calcular a razão peso úmido/seco, além do soro plasmático para posteriores

análises.

5.9 Avaliação morfométrica cardíaca

Para as análises histológicas, parte do ventrículo esquerdo (porção medial) foi colocada

em solução KCl e fixada em paraformaldeído a 4% por um período de 48 horas à temperatura

ambiente. Em seguida, os tecidos foram desidratados por lavagens com etanol 70%, 80%,

90% e 100% sequencialmente. Após as lavagens, o tecido passou por um processo de fixação

em parafina por 48 horas, e posteriormente submetido ao processamento histológico com

cortes de 5 µm ao longo de seu maior eixo (Savergnini et al., 2013). A análise morfométrica

cardíaca foi realizada através da determinação do tamanho da área infartada (corado com

tricomo de Masson), medida do diâmetro dos cardiomiócitos (corado com hematoxilina e

eosina) e avaliação do grau de fibrose do miocárdio (corado com Picrosírius Red).

Todas as análises foram realizadas em corte medial do ventrículo esquerdo. A medida do

diâmetro transverso dos cardiomiócitos foi realizada em sistema computadorizado (LEICA

QUANTIMET 500) acoplado a um microscópio óptico com aumento de 400x. Os

cardiomiócitos utilizados para medida estavam localizados na área remota, ou seja, fora da

área infartada, na parede livre do ventrículo esquerdo e orientados em corte longitudinal. O

diâmetro dos cardiomiócitos foi calculado a partir de uma média de 10 valores por animal

(Ferreira et al., 2008). Para a análise do grau de fibrose foi realizada uma varredura completa

da parede ventricular por sistema computadorizado (Imaging Software NIS- Elements AR

3,1). As imagens foram capturadas em objetiva 20x e a densidade de fibras do colágeno tipo I

(vermelho) e tipo III (verde) foi quantificada com uma ferramenta do programa que reconhece

a variação de cor da imagem usando canais de cor vermelha, verde e azul, permitindo

identificar uma cor por vez, dando a intensidade média da cor na área determinada, sendo que

cada campo equivale a 75384,53 m2. As fibras colágenas foram analisadas sob luz

Page 42: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

41

polarizada (Whittaker et al., 1994). Esta análise teve como objetivo identificar possíveis

alterações histopatológicas decorrentes da IC de etiologia isquêmica, bem como os possíveis

benefícios do tratamento com o ativador da ALDH2, Alda-1, As análises histológicas foram

realizadas somente no estudo 2.

5.10 Atividade da enzima ALDH2

A atividade da enzima ALDH2 foi avaliada em mitocôndria cardíaca isolada e medida por

espectrofotometria. Na reação foram adicionados 100 mM de pirofosfato de sódio (pH 9,5),

10 mM de β-Nicotinamide adenine dinucleotide (NAD+), 10mM de acetaldeído e 0,1% de

DL-Ditiotreitol (DTT) em volume final de 1 ml. A cinética enzimática da ALDH2 foi

avaliada através da formação de NADH. Esta pode ser medida pelas mudanças na absorbância

(ʎex= 340 nm) por um período de 10 minutos (Chen, Budas et al., 2008). O ensaio consiste na

clivagem do acetaldeido em ácido acético com doação do próton H+ para coenzima NAD+

(forma oxidada), formando NADH (forma reduzida).

5.11 Caracterização da função mitocondrial cardíaca

Isolamento da mitocôndria

Logo após o sacrifício dos animais, os corações foram retirados e a mitocôndria foi

isolada conforme descrito previamente por Tahara et al, 2009 (Tahara, Navarete et al., 2009).

O tecido foi colocado no tampão de lise (Sacarose 300 mM, Hepes 10 mM, EGTA 2 mM,

pH 7,2, 4° C) e triturado na presença de 0,1 mg/ml de protease do tipo I (bovine pancreas)

para liberação das mitocôndrias das fibras musculares cardíacas. Após esse procedimento, a

suspensão foi lavada no mesmo tampão, na presença de 0,1 mg/ml de BSA e homogeneizada

em um moedor de tecido de 40 ml. O homogenato foi centrifugado a 1000g por 5 min (4oC).

O sobrenadante resultante foi centrifugado a 9500g por 10 min (4°C). O pelete resultante foi

lavado, ressuspendido no tampão de lise e submetido a uma nova centrifugação (9500g por 10

Page 43: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

42

min, 4ºC). O pelete mitocondrial resultante foi lavado e o pelete final foi ressuspendido no

tampão de lise.

Consumo de oxigênio na mitocôndria cardíaca isolada

A medida do consumo de oxigênio mitocondrial foi realizada utilizando-se um eletrodo

específico de oxigênio (do tipo Clark) acoplado a um registrador (Oxygraph System,

Hansatech), previamente descrito por da Silva et al, 2003 (da Silva et al., 2003). O eletrodo é

composto por um cátodo de platina e um ânodo de prata, imersos em solução eletrolítica de

KCl. A reação se processa pela corrente gerada entre os eletrodos e é relacionada à

concentração de oxigênio na superfície do cátodo. Cada amostra de mitocôndria cardíaca foi

diluída em tampão de KCl (Sacarose 125 mM, KCL 65 mM, Hepes, 10 mM, KH2PO4 2 mM,

MgCl2 2 mM, 0,01% BSA, pH 7,2) numa concentração final de proteína de 0,125 mg/ml. Os

registros de consumo de oxigênio foram feitos na presença de succinato (2 mM), malato-

glutamato (2 mM) e ADP (1 mM). Um inibidor do complexo V (Oligomicina 1 µg/ml) foi

adicionado para inibir sua atividade durante esse ensaio. Além disso, utilizamos um

desacoplador da membrana interna da mitocôndria (CCCP – Carbonyl Cyanide m-

Chlorophenyl Hydrazone, 1 µM) para estimular o consumo máximo de oxigênio. Os valores

estão expressos em micromoles por minuto por miligrama de proteína.

Liberação de peróxido de hidrogênio pela mitocôndria cardíaca isolada

A produção de peróxido de hidrogênio (H2O2) mitocondrial foi avaliada por

espectrofluorimetria. Cada amostra de mitocôndria cardíaca foi diluída em um tampão de KCl

Page 44: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

43

(Sacarose 125 mM, KCL 65 mM, Hepes, 10 mM, KH2PO4 2 mM, MgCl2 2 mM, 0,01%

BSA, pH 7,2) numa concentração final de proteína de 0,125 mg/ml. A produção de H2O2 foi

determinada pela geração de resorufina, fruto da oxidação do Amplex Red (25 μM) na

presença de horseradish peroxidase (0,5 U/ml), identificada pelos comprimentos de onda de

563 nm para excitação e 587 nm para emissão. O ensaio foi realizado na presença de

succinato (2 mM), malato-glutamato (2 mM), ADP (1 mM) e Oligomicina (1 µg/ml) (Tahara,

Navarete et al., 2009). Também foi realizada a quantificação da produção de H2O2 na

presença de inibidores do complexo I (rotenona, 2 μM), complexo III (antimicina A, 0,15

μg/ml) e CCCP (1 µM). A quantificação dos valores foi feita após uma calibração com

quantidades conhecidas de H2O2, expressos em micromoles por minuto por miligrama de

proteína. Esse procedimento foi realizado em colaboração com a Profa. Dra. Alicia Juliana

Kowaltowski, no Laboratório de Mitocôndrias e Viabilidade Celular do Instituto de Química

da Universidade de São Paulo (IQ-USP).

Permeabilidade dos poros da mitocôndria cardíaca isolada

A abertura dos poros mitocondriais foi determinada pela máxima captação de cálcio

medida por espectrofluorimetria. Cada amostra de mitocôndria cardíaca foi diluída em um

tampão de KCl (Sacarose 125 mM, KCL 65 mM, Hepes, 10 mM, KH2PO4 2 mM, MgCl2 2

mM, 0,01% BSA, pH 7,2) numa concentração final de proteína de 0,125 mg/ml. Após a

adição de Calcium Green (0,1 μM), succinato (2 mM), malato-glutamato (2 mM) e

subsequentes adições de 50 µM de CaCl2, a abertura dos poros foi determinada por mudanças

na fluorescência (ʎex= 506 nm e ʎem= 532 nm), e os valores foram expressos em micromoles

por minuto por miligrama de proteína. Para confirmar se o inchamento é derivado da abertura

dos poros de transição mitocondrial (PTM), realizamos o mesmo ensaio na presença de

ciclosporina A (15 nM) um inibidor dos PTMs (Hermes-Lima et al., 1995).

5.12 Análise da expressão de proteínas mitocondriais e citosólicas

A análise da expressão protéica no tecido cardíaco foi realizada por meio da técnica de

Western blot. Na fração mitocondrial foram quantificadas as proteínas: ALDH2 e citocromo

c; já na fração citosólica foram quantificados os adutos de Michaelis, proteínas carboniladas e

citocromo c. Para isso, as amostras contendo tampão Laemmli (Tris-HCl 240 mM, SDS 0,8%,

Glicerol 40%, Azul de bromofenol 0,02%, β-mecaptoetanol 200 mM) (Laemmli, 1970),

Page 45: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

44

foram submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE 10%) no aparelho para

minigel (Mini-Protean). Em seguida as proteínas foram transferidas eletricamente para uma

membrana de PVDF utilizando o aparelho Mini-Trans Blot da Bio-Rad. A transferência teve

duração de ~1h sob 100 volts. As membranas foram coradas com Ponceau S (0,1%), para a

verificação da qualidade das amostras bem como da eficácia da transferência. A ligação

inespecífica de proteínas na membrana de nitrocelulose foi diminuída pela incubação de 10 ml

de solução bloqueadora (5% BSA em TBS - Tris-Base 50 mM, NaCl 0.9%) por 2 horas em

temperatura ambiente. Estas membranas foram posteriormente incubadas com os anticorpos

primários para as respectivas proteínas, diluídos em solução bloqueadora a 4°C overnight. Na

sequência as mesmas foram lavadas 3x10 min com TBS-T (Tris-Base 50 mM, NaCl 0.9%,

Tween 20 0,1%), incubada por 1 hora com o anticorpo secundário anti-IgG marcado com

peroxidase em solução bloqueadora. Por fim, a imuno-detecção foi realizada por meio do

método de quimioluminescência de acordo com as instruções do fabricante (Enhancer Chemi-

Luminescence, Amersham Biosciences, EUA). As análises quantitativas dos blots foram

realizadas por meio do programa Image J (Scion Corporation based on NIH image), fornecido

gratuitamente pela NIH (USA) via Internet. O gliceroldeído-3-fosfato desidrogenase

(GAPDH) foi utilizado como normalizador (Rolim, Medeiros et al., 2007).

5.13 Peroxidação lipídica

Para a análise da peroxidação lipídica utilizamos o método FOX (Ferrous Oxidation in

Xylenol Orange), que é baseado na oxidação do ferro II a ferro III pelos hidroperóxidos

lipídicos. O ferro III reage com o xilenol orange produzindo um cromóforo azul púrpura que

tem absorção máxima em 560 nm (Hermes-Lima, Willmore et al., 1995). Parte do tecido

cardíaco foi homogenizado em tampão fosfato (50 mM, pH 7,8), centrifugadas a 12,000 rpm

por 15 minutos (4 °C) , após a centrifugação foi retirado o sobrenadante e adicionado metanol

absoluto em uma proporção de 1:10 (metanol:amostra). As amostras ficaram no gelo por um

período de 10 minutos e uma nova centrifugação foi realizada por um período de 10 minutos a

1000 g (4 °C), o sobrenadante foi retirado para a realização do experimento. Na reação foi

adicionado sulfato de ferro amonical (1 mM), ácido sulfúrico (250 mM) e xylenol orage (1

mM). A análise foi realizada em espectrofotômetro e os resultados foram expressos em

nmol/mg de proteína.

Page 46: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

45

5.14 Avaliação da atividade de enzimas antioxidantes

Superóxido dismutase

A atividade da superóxido dismutase (SOD) foi avaliada por um método que consiste na

queda da frequência de redução de citocromo c por radicais superóxidos gerados pelo sistema

xantina-xantina oxidase, proporcionada pela SOD presente na amostra testada, que compete

com o citocromo c pelos radicais gerados, conforme ilustrado abaixo:

Parte do tecido cardíaco foi homogeneizado em tampão fosfato (50 mM PBS pH7,4,

EDTA 1mM) e centrifugado em 12000g durante 15 minutos (4°C). Inicialmente, a taxa de

redução de citocromo c foi avaliada na ausência de amostra, pela leitura da taxa de alteração

de absorbância em 550 nm durante 5 minutos, em solução contendo citocromo c (19 mM),

xantina (1,18 mM) e xantina oxidase diluídos em tampão fosfato (0,05 M, pH 7,8). A

concentração de xantina oxidase foi ajustada para uma taxa de redução de citocromo c de

0,025 unidades de absorbância por minuto (UA/min). Na sequência a taxa de redução de

citocromo c foi acompanhada durante 5 minutos na presença da amostra diluída na solução

supracitada. A atividade da SOD da amostra foi então calculada pela diferença entre a taxa de

oxidação de citocromo c na ausência e na presença de amostra (McCord, Fridovich, 1969).

Atividade da catalase

A atividade da catalase foi avaliada pelo acompanhamento da decomposição de peróxido

de hidrogênio adicionado às amostras e por meio de leitura de absorbância em 240nm em

espectrofotômetro. Os tecidos cardíacos foram homogeneizados em tampão fosfato (50 mM

PBS, pH 7,4 + 1mM EDTA) e centrifugados a 12000 g durante 15 minutos (4°C). A fração

Page 47: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

46

sobrenadante foi utilizada no ensaio. Peróxido de hidrogênio foi adicionado ao lisado na

concentração final de 10 mM e a absorbância em 240nm foi acompanhada durante 4 minutos

(Avramovic et al., 2012). A taxa de decaimento da absorbância corresponde à atividade de

catalase presente na amostra testada. Os resultados foram expressos em U/mg de proteína.

Níveis de glutationa

Os níveis de glutationa do tecido cardíaco foram determinados espectrofotometria, tal

como descrito anteriormente (Correa-Costa et al., 2011). O ensaio é baseado na reação da

glutationa reduzida (GSH) com o ácido 5,5’ ditiobis-2-nitrobenzóico (DTNB) que produz

aduto de glutationa oxidada TNB (GS-TNB) e o cromóforo TNB, que tem máxima

absorbância a 412 nm. O produto GS-TNB é, então, reduzido pela glutationa redutase na

presença de NADH. A taxa de formação de TNB é proporcional à concentração de glutationa

da amostra.

5.15 Avaliação da toxicidade hepática

Para avaliar a possível toxicidade causada pelo tratamento sustentado com Alda-1,

utilizamos como marcadores as enzimas alanina aminotransferase (ALT) e aspartato

aminotransferase (ASP) analisados no soro dos animais. Para as análises foram utilizados kits

comerciais da marca Randox, produtos AL3801 e AS3804, respectivamente. A análise foi

realizada no aparelho analisador bioquímico automatizado, marca Randox, modelo Daytona.

Essas análises foram realizadas pela Dra. Clara Satsuki Mori da Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da USP/SP.

5.16 Análise estatística

Inicialmente a distribuição dos dados obtidos nesse estudo foi testada por meio do teste de

Shapiro-Wilk. Os dados obtidos neste estudo foram apresentados na forma de média ± erro

padrão e comparados pela análise de variância (ANOVA) de um ou dois caminhos (cirurgia e

tratamento como fatores independentes) seguida de post hoc de Duncan. Para todas as

análises, foi adotado como nível de significância p ≤0,05.

Page 48: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

47

6 RESULTADOS (Estudo 1)

6.1 Modelo experimental e ecocardiograma modo M do curso temporal após infarto do

miocárdio

O desenho experimental utilizado para caracterizar a atividade enzimática da ALDH2 na

progressão da disfunção cardíaca após infarto do miocárdio está ilustrado na Figura 5A. Ratos

com doze semanas de idade foram submetidos à cirurgia cardíaca, que consiste na ligadura

crônica da artéria coronária descendente anterior (ACDA). No dia seguinte, os animais

realizaram um exame de ecocardiograma modo M para avaliação da função cardíaca e análise

da efetividade da cirurgia. Os animais foram selecionados para o estudo com base na função

cardíaca (fração de encurtamento ventricular esquerda <30%) e divididos em 4 diferentes

grupos: 1, 2, 4 e 10 semanas pós-infarto do miocárdio. Com o intuito de acompanhar a

evolução da disfunção cardíaca após infarto do miocárdio, o exame ecocardiográfico modo M

foi realizado no final de cada período experimental. Em seguida, os animais foram

sacrificados e avaliamos os seguintes parâmetros: atividade da ALDH2, peroxidação lipídica,

níveis de glutationa e consumo de O2 e liberação H2O2 mitocondrial. Essas análises foram

realizadas no tecido cardíaco total, incluindo áreas viáveis e não viáveis.

Conforme observado na Figura 5, os animais que realizaram a cirurgia de infarto do

miocárdio apresentaram significativa redução das frações de encurtamento e ejeção cardíaca

ao longo do tempo quando comparados ao grupo controle (Sham) (Figuras 5B-C). Além

disso, os animais com infarto do miocárdio apresentaram aumento crescente dos diâmetros

diastólico e sistólico finais ao longo do tempo (Figuras 5D-E). Também observamos um

aumento na espessura da parede posterior do ventrículo esquerdo na diástole na 4ª e 10ª

semanas pós-infarto do miocárdio (Figura 5F), o que sugere uma hipertrofia cardíaca nesse

período. O septo interventricular na diástole não apresentou diferença entres os grupos (Figura

5G). Outras alterações podem ser melhor observadas na Tabela 1.

Page 49: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

48

Figura 5 - Modelo Experimental do Curso Temporal após Infarto do Miocárdio e Dados

Ecocardiográficos, A) Protocolo experimental, B) Fração de encurtamento, C) Fração de ejeção, D)

Diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo (DdVE), E) Diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo

(DsVE), F) Parede posterior do ventrículo esquerdo na diástole (PPVEd), G) Septo interventricular na

diástole (SIVd). Os dados foram analisados pela ANOVA um fator, seguido de post hoc de Duncan *,

p<0,05 vs Sham.

Page 50: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

49

Tabela 1: Parâmetros Ecocardiográficos:

Parâmetros Sham 1 sem pós-IM 2 sem pós-IM 4 sem pós-IM 10 sem pós-IM

FC, bpm 295±12

(n=9)

319±6

(n=8)

306±12

(n=13)

271±6

(n=11)

267±14

(n=7)

FEnc, % 45±3

(n=9)

26±2*

(n=8)

20±1*

(n=13)

20±1*

(n=11)

18±3*

(n=7)

FEje, % 81±3

(n=9)

55±4*

(n=8)

46±2*

(n=13)

46±3*

(n=11)

50±3*

(n=7)

DdVE, cm 0,601±0,03

(n=9)

0,833±0,02*

(n=8)

0,902±0,02*

(n=13)

0,931±0,05*

(n=11)

0,967±0,06*

(n=6)

DsVE, cm 0,333±0,02

(n=9)

0,620±0,03*

(n=8)

0,722±0,03*

(n=13)

0,799±0,049*

(n=11)

0,783±0,06*

(n=6)

SIVd, cm 0,103±0,008

(n=9)

0,081±0,006

(n=8)

0,072±0,003

(n=13)

0,087±0,004

(n=13)

0,091±0,007

(n=6)

SIVs, cm 0,173±0,010

(n=9)

0,095±0,006*

(n=8)

0,091±0,008*

(n=13)

0,079±0,006*

(n=11)

0,117±0,007*

(n=10)

PPVEd, cm 0,117±0,003

(n=9)

0,113±0,006

(n=8)

0,118±0,004

(n=13)

0,141±0,008*

(n=12)

0,159±0,009*

(n=5)

PPVEs, cm 0,211±0,009

(n=9)

0,181±0,010

(n=8)

0,190±0,010

(n=13)

0,206±0,014

(n=11)

0,235±0,017

(n=11)

Tabela 1 - Dados Ecocardiográficos no modo M referentes aos períodos 1, 2, 4 e 10 semanas pós-infarto do miocárdio (IM).

Frequencia cardíaca (FC), Fração de encurtamento (FEnc), Fração de ejeção (Feje), Diâmetro diastólico final do ventrículo

esquerdo (DdVE), Diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo (DsVE), Septo intraventricular na diástole (SIVd), Septo

intraventricular na sístole (SIVs), Parede posterior do ventrículo esquerdo na diástole (PPVEd), Parede posterior do ventrículo

esquerdo na sístole (PPVEs). Dados apresentados como média ± erro padrão da média. Os dados foram analisados pela

ANOVA dois fatores, seguida de post hoc de Duncan. *, p<0.05 vs. Sham.

Page 51: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

50

Após observarmos essas alterações na função cardíaca dos animais com infarto do

miocárdio ao longo do tempo, tivemos como objetivo caracterizar a atividade da enzima

ALDH2 nesse período.

6.2 Curso temporal da atividade da ALDH2 pós-infarto do miocárdio

Como pode-se observar na figura 6A, a atividade da enzima ALDH2 estava reduzida no

período entre 1ª e 4ª semana após infarto do miocárdio quando comparada ao grupo Sham. Na

10ª semana após a cirurgia de infarto do miocárdio a atividade da ALDH2 foi restabelecida

para valores semelhantes aos encontrados no grupo Sham (controle). Essa resposta pode ser

melhor visualizada na figura 6B, que representa o delta da atividade da ALDH2 (em relação

ao grupo Sham). Além disso, observamos uma correlação positiva entre a fração de ejeção

cardíaca e a atividade da ALDH2 quando agrupamos todos os animais estudados no curso

temporal, ou quando avaliamos isoladamente nas semanas 1, 2 e 4 após infarto do miocárdio

(Figuras C-F). Já na 10ª semana pós-infarto do miocárdio essa associação foi perdida.

Page 52: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

51

Atividade ALDH2

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0.0

2.0

4.0

6.0

* **

12 5 6 8 4

Infarto do Miocárdio

m

ol.m

in-1

.mg

-1

Infarto do Miocárdio - 10 semanas

0 2 4 6 80

20

40

60

80

100

r2=0,01p=0,74

Atividade ALDH2 (mol.min-1.mg-1)

Fra

ção

de E

jeção

(%

)

0 2 4 6 80

20

40

60

80

100

r2=0,30p=0,001

Infarto do Miocárdio

Atividade ALDH2 (mol.min-1.mg-1)

Fra

ção

de E

jeção

(%

)

Infarto do Miocárdio - 1 semana

0 2 4 6 80

20

40

60

80

100

r2=0,57p=0,001

Atividade ALDH2 (mol.min-1.mg-1)

Fra

ção

de E

jeção

(%

)Infarto do Miocárdio - 2 semanas

0 2 4 6 80

20

40

60

80

100

r2=0,72p=0,001

Atividade ALDH2 (mol.min-1.mg-1)

Fra

ção

de E

jeção

(%

)

Infarto do Miocárdio - 4 semanas

0 2 4 6 80

20

40

60

80

100

r2=0,48p=0,002

Atividade ALDH2 (mol.min-1.mg-1)

Fra

ção

de E

jeção

(%

)

Atividade ALDH2

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

-100

-80

-60

-40

-20

0

* *

*

5 5 84

Infarto do Miocárdio

%

B)

C) D) E)

F) G)

A)

Figura 6 – Curso Temporal da Atividade da ALDH2 cardíaca após Infarto do Miocárdio e Correlação

com a Fração de Ejeção. A) Atividade da enzima ALDH2, B) Delta da atividade da enzima ALDH2,

C) Correlação entre a atividade da ALDH2 e a fração de ejeção cardíaca de todos os grupos com

infarto do miocárdio e sham. Correlação entre a atividade da ALDH2 e a fração de ejeção na 1ª (D),

2ª (E), 4ª (F) e 10ª (G) semana após infarto do miocárdio. O grupo sham foi incluído em todas as

análises associativas. Os dados obtidos nas Figuras A e B foram analisados pela ANOVA um fator,

seguida de post hoc de Duncan *, p<0,05 vs Sham. Para os demais dados calculamos o coeficiente de

Pearson e o coeficiente de determinação (r2).

A inativação da enzima ALDH2 pode ocorrer pelo aumento das espécies reativas de

oxigênio e consequente formação de hidroperóxidos lipídico como o 4HNE. Esses

hidroperóxidos lipídicos podem ligar-se covalentemente ao sítio catalítico da enzima

causando sua inativação. No entanto, até o momento essa inativação por acúmulo de peróxido

lipídico só foi demonstrada in vitro. Tendo em vista que 1, 2 e 4 semanas pós-infarto do

miocárdio ocorreu uma inativação da ALDH2, o nosso próximo passo foi analisar a

peroxidação lipídica no lisado cardíaco desses animais. Analisamos também os níveis

Page 53: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

52

cardíacos de glutationa, uma enzima antioxidante que auxilia na remoção desses aldeídos.

6.3 Formação de hidroperóxidos lipídico e níveis de glutationa no coração

Os animais com infarto do miocárdio apresentaram um aumento na hidroperoxidação

lipídica cardíaca em relação ao grupo controle (Sham) (Figura 7A). Esse aumento ocorreu em

todos os momentos analisados e foi acompanhado pela elevação dos níveis totais de

glutationa (Figura 7B). Apenas na 10ª semana pós-infarto do miocárdio houve uma redução

nos níveis cardíacos de hidroperóxidos lipídicos (porém ainda diferente do grupo controle) e

glutationa total. Acreditamos que o aumento nos níveis de glutationa ocorre na tentativa de

combater o estresse causado pelo acúmulo de hidroperóxidos lipídicos nos corações

infartados.

Figura 7 – Formação de Hidroperóxidos Lipídicos e Níveis de Glutationa. A) Hidroperóxidos lipídico

e B) Níveis de glutationa no lisado cardíaco de animais Sham, 1, 2, 4 e 10 semanas pós-infarto do

miocárdio. Os dados foram analisados pela ANOVA um fator, seguido de post hoc de Duncan *,

p<0,05 vs Sham.

Sabendo que a alta taxa de peroxidação lipídica associada à redução da atividade

enzimática da ALDH2 pode gerar danos na bioenergética mitocondrial, nosso próximo passo

foi caracterizar a função mitocondrial através das análises do consumo máximo de oxigênio e

liberação de peróxido de hidrogênio em mitocôndria isolada do coração desses animais.

Page 54: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

53

6.4 Consumo de oxigênio e liberação de peróxido de hidrogênio em mitocôndria

cardíaca isolada

Observamos que os animais que passaram pela cirurgia de infarto do miocárdio

apresentaram uma redução do consumo de oxigênio basal (Estado 2 – Figura 8A) e máximo

(Estado 3 – Figura 8B). Na figura 8C podemos observar que apenas os grupos de 1 e 4

semanas apresentaram um consumo de oxigênio reduzido após o bloqueio da ATP sintase,

representado pelo estado 4. A figura 8D representa o consumo de oxigênio no estado

desacoplado, ou seja, com adição de CCCP. Nesse caso os animais com infarto do miocárdio

também apresentaram um consumo de oxigênio reduzido quando comparados ao grupo

controle. Todas as alterações metabólicas mitocondriais supracitadas podem ser melhor

visualizadas na Figura 8E, onde os animais com infarto do miocárdio apresentam significante

redução no controle respiratório mitocondrial. Paralelo ao reduzido consumo de oxigênio foi

observado um aumento na liberação de peróxido de hidrogênio pela mitocôndria,

especialmente no estado 3 (Figura 8G). Esses dados apontam para uma disfunção

mitocondrial cardíaca nos animais com infarto do miocárdio, independente do estágio de

evolução da doença.

Page 55: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

54

Consumo de Oxigênio - Estado 2

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0

40

80

120

* * **

Infarto do Miocárdio

20 9 7 8 5

nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a Consumo de Oxigênio - Estado 3

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0

100

200

300

* * * *

Infarto do Miocárdio

18 9 7 8 5

nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a

Consumo de Oxigênio - Estado 4

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0

40

80

120

* *

Infarto do Miocárdio

18 9 7 8 5

nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a

Consumo de Oxigênio - CCCP

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0

100

200

300

* *

* *

Infarto do Miocárdio

13 9 7 8 5nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a

Controle Respiratório

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

* **

*

Infarto do Miocárdio

18 9 7 8 4

Esta

do

3/4

Liberação de H 2O2 - Estado 2

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

* *

*

Infarto do Miocárdio

20 8 10 7 12

nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a

B) C)

D) E) F)

A)

Liberação de H2O2 - Estado 3

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0.0

0.5

1.0

1.5

** *

*

Infarto do Miocárdio

178 10 7 10

nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a

G) Liberação de H2O2 - Estado 4

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0.0

1.0

2.0

3.0

*

*

Infarto do Miocárdio

15 8 10 7 10

nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a

H)

Liberação de H2O2 - CCCP

Sham

1 se

m.

2 se

m.

4 se

m.

10 s

em.

0.0

0.5

1.0

1.5

Infarto do Miocárdio

168 10 7 12

* *

*

nm

ole

s.m

g-1

pro

teín

a

I)

Figura 8 – Consumo de Oxigênio e Liberação de Peróxido de Hidrogênio em Mitocôndria Cardíaca

Isolada. A) Consumo de oxigênio no estado 2 (presença de substratos), B) consumo de oxigênio no

estado 3 (presença de ADP), C) Consumo de oxigênio no estado 4 (presença de Oligomicina), D)

Consumo de oxigênio com CCCP, E) Controle respiratório (Estado 3/4), F) Liberação de peróxido de

hidrogênio no estado 2, G) Liberação de peróxido de hidrogênio no estado 3, H) Liberação de

peróxido de hidrogênio no estado 4, I) Liberação de peróxido de hidrogênio com CCCP, ou estado

desacoplado. Os dados foram analisados pela ANOVA um fator, seguido de post hoc de Duncan *,

p<0,05 vs Sham.

Sintetizando os resultados, observamos que animais com 1, 2, 4 e 10 semanas pós-

infarto do miocárdio apresentam disfunção cardíaca, representada pela redução na fração de

encurtamento e fração de ejeção cardíaca. A atividade da ALDH2 está reduzida até a 4ª

semana pós-infarto do miocárdio. Além disso, há uma correlação positiva entre a função

cardíaca e a atividade da ALDH2 em 1, 2 e 4 semanas pós-infarto do miocárdio. Entretanto

essa correlação se perde na 10ª semana pós-infarto do miocárdio. Por fim, observamos uma

redução no consumo máximo de oxigênio, aumento da produção de peróxido, peroxidação

Page 56: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

55

lipídica e níveis de glutationa durante a progressão da doença. Apenas na 10ª semana não

observamos alterações nos níveis totais de glutationa, momento em que a atividade da

ALDH2 está restabelecida.

A partir dos resultados supracitados decidimos investigar os possíveis benefícios

terapêuticos da Alda-1 (ativador seletivo da ALDH2) no mesmo modelo experimental.

Escolhemos iniciar o tratamento na 4ª semana pós-infarto do miocárdio, momento em que a

atividade da ALDH2 está reduzida e os animais já apresentam sinais de insuficiência cardíaca

como dilatação ventricular esquerda e disfunção diastólica (ver próximos resultados). O

tratamento teve duração de 6 semanas e foram avaliadas todas as variáveis descritas no

objetivo do estudo 2.

Page 57: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

56

7 RESULTADOS (Estudo 2)

7.1 Modelo experimental e caracterização do fenótipo

Os ratos com doze semanas de idade foram submetidos à cirurgia cardíaca, que

consistiu na ligadura crônica da artéria coronária descendente anterior. Após quatro semanas

esses animais foram pré-selecionados com base na função cardíaca (fração de encurtamento

ventricular esquerda <30%) e divididos randomicamente em dois grupos: um grupo tratado

com Alda-1 (IC Alda-1, 10mg/kg/dia) e outro grupo tratado com solução veículo (IC,

50%DMSO+50% PEG). Ainda, outro grupo de animais foi submetido à cirurgia fictícia do

infarto do miocárdio (Sham), utilizado como controle saudável no estudo. O início do

tratamento realizou-se quatro semanas após a cirurgia de infarto do miocárdio, fase em que os

animais já apresentavam sinais de insuficiência cardíaca. A Alda-1 foi administrada através de

mini-bomba osmótica por um período de seis semanas. Durante o período do estudo (período

de tratamento) não tivemos perdas significantes de animais nos diferentes grupos

supramencionados.

7.1.1 Análises ecocardiográficas

As avaliações ecocardiográficas foram realizadas pré- e pós-tratamento com o intuito

de avaliar o efeito da terapia com Alda-1 sobre a função cardíaca e o remodelamento

ventricular esquerdo após infarto do miocárdio. Observamos que os animais com insuficiência

cardíaca apresentaram uma significante redução na fração de encurtamento ventricular

esquerda 4 semanas após a cirurgia de infarto do miocárdio (Figura 9B), a qual foi

acompanhada por dilatação da câmara ventricular esquerda (caracterizada pelo aumento no

diâmetro ventricular ao final da diástole, Figura 9C). Após seis semanas de tratamento com

Alda-1 os animais com insuficiência cardíaca melhoraram a fração de encurtamento

ventricular esquerda comparada ao período pré-tratamento, enquanto os animais tratados com

solução veículo apresentaram um agravamento da disfunção cardíaca no mesmo período

experimental (Figuras 9B e E). Ainda, a ativação sustentada da ALDH2 foi capaz de amenizar

a dilatação ventricular esquerda comparada aos animais infartados tratados com solução

veículo no mesmo período experimental (Figura 9C). A Alda-1 também foi eficaz em evitar a

hipertrofia cardíaca causada pela insuficiência cardíaca na 10ª semana, representada pela

redução da parede posterior do ventrículo esquerdo comparada ao grupo insuficiência

Page 58: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

57

cardíaca tratado com solução veículo (figura 9D). Essas modificações benéficas podem ser

melhor observadas nas figuras 9E, 9F e 9G, que representam o delta da fração de

encurtamento, diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo e diâmetro da parede posterior do

ventrículo esquerdo, respectivamente. Esse delta está representado em relação ao período pré-

tratamento.

Além do ecocardiograma modo M, realizamos a análise ecocardiográfica doppler

tecidual, tornando possível a medida de parâmetros funcionais cardíacos (sistólicos e

diastólicos) através da avaliação do fluxo sanguíneo cardíaco. Os dados do ecocardiograma

Doppler tecidual estão apresentados na Tabela 2. Observamos que quatro semanas após o

infarto do miocárdio os animais apresentaram sinais de disfunção diastólica ventricular

esquerda como aumento da onda E de enchimento ventricular esquerdo e elevado índice de

desempenho do miocárdio em relação ao grupo Sham. Já quando avaliados na 10ª semana

pós-infarto do miocárdio, os animais com insuficiência apresentaram um agravamento da

disfunção diastólica, caracterizado pelo aumento da onda E, redução da onda A, e

consequente aumento da razão E/A, além de significante elevação do tempo de relaxamento

isovolumétrico, bem como do índice de desempenho do miocárdio. Esses resultados mostram

que nesse período os animais apresentam sinais mais claros de insuficiência cardíaca. O

tratamento sustentado com Alda-1 foi capaz de minimizar a progressão da disfunção

diastólica cardíaca nos animais com insuficiência cardíaca.

Page 59: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

58

Figura 9 – Desenho Experimental e Dados Ecocardiográficos no modo M dos períodos pré- e pós-

tratamento dos grupos Sham, Insuficiência cardíaca (IC) e Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1

(IC Alda-1). O grupo Sham não recebeu nenhum tratamento nesse momento, A) Desenho

experimental, B) Fração de encurtamento ventricular esquerda (FE), C) Diâmetro diastólico do

ventrículo esquerdo (DdVE), D) Parede posterior do ventrículo esquerdo na diástole (PPVEd), E)

Delta da fração de encurtamento, F) Delta do diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo, G) Delta da

parede posterior do ventrículo esquerdo. Os dados foram analisados pela ANOVA um e dois fatores,

seguida de post hoc de Duncan, *,p<0,05 vs, Sham; #, p<0,05 vs, IC; &, p<0,05 vs, Pré-

tratamento.

Page 60: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

59

Tabela 2: Parâmetros Ecocardiográficos

Grupos Sham (n=8-22) IC (n=8-14) IC Alda-1 (n=8-13) Sham (n=8-22) IC (n=8-12) IC Alda-1 (n=8-12)

Período Pré-tratamento Pré-tratamento Pré-tratamento Pós-tratamento Pós-tratamento Pós-tratamento

FEje, % 82±2 48±2 * 45±2* 76±3 43±3* 57±4*†‡

FEnc, % 43±1 25±3 * 20±4* 42±2 18±2* 27±4*†‡

DdVE, cm 0,753±0,023 0,849±0,025* 0,865±0,030* 0,767±0,018 0,991±0,029* 0,881±0,038*†‡

DsVE, cm 0,414±0,015 0,758±0,024* 0,718±0,037* 0,489±0,023 0,679±0,050* 0,631±0,026*†‡

SIVd, cm 0096±0,003 0,085±0,004 0,098±0,004 0,101±0,004 0,094±0,004 0,105±0,004

SIVs, cm 0,160±0,004 0,134±0,008* 0,133±0,006* 0,176±0,008 0,117±0,006* 0,134±0,007*

PPVEd, cm 0,129±0,005 0,134±0,007 0,134±0,009 0,145±0,004 0,159±0,006* 0,140±0,004†

PPVEs, cm 0,218±0,008 0,193±0,001 0,211±0,001 0,232±0,007 0,235±0,017& 0,224±0,017

TE, ms 78,5±0,6 68,0±2,3* 64,9±3,9* 81,7±2,4 66,3±2,6* 79,2±4,4

E, cm/s 70,7±1,0 80,8±1,7* 79,9±2,6* 70,5±1,8 93,0±2,7* 74,4±3,7†

A, cm/s 43,5±1,0 43,8±1,8 41,5±2,1 41,9±1,5 31,0±2,1* 39,1±1,5

E/A 1,6±0,1 1,9±0,1* 2,0±0,1* 1,7±0,1 3,1±0,3*‡ 1,9±0,1†

TRIV, ms 24,2±1,7 25,9±1,6 28,2±1,4 26,0±1,8 32,3±3,0* 27,2±2,2

IDM 0,40±0,02 0,54±0,03* 0,58±0,06* 0,41±0,03 0,63±0,03* 0,43±0,04†‡

FC, bpm 295±12 272±6 285±7 296±5 266±14 274±9

Tabela 2 - Dados Ecocardiográficos referentes aos períodos pré- e pós-tratamento dos grupos Sham, Insuficiência Cardíaca (IC) e Insuficiência Cardíaca

tratado com Alda-1 (IC Alda-1). Fração de encurtamento (FE), Diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo (DdVE), Diâmetro sistólico final do

ventrículo esquerdo (DsVE), Septo intraventricular na diástole (SIVd), Septo intraventricular na sístole (SIVs), Parede posterior do ventrículo esquerdo na

diástole (PPVEd), Parede posterior do ventrículo esquerdo na sístole (PPVEs), Tempo de ejeção (TE), Velocidade do fluxo mitral E (E), velocidade do

fluxo mitral A (A), Tempo de relaxamento isovolumétrico (TRIV), Índice de desempenho do miocárdio (IDM) e Frequência cardíaca (FC). Dados

apresentados como média ± erro padrão da média. Os dados foram analisados pela ANOVA dois fatores, seguida de post hoc de Duncan. *, p<0.05 vs.

Sham; †, p<0.05 vs. IC; ‡, p<0.05 vs. Pré-tratamento.

Page 61: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

60

7.1.2 Parâmetros fisiológicos

Consideramos como parâmetros fisiológicos as seguintes variáveis: tolerância ao

esforço físico, pressão arterial sistólica (medida indireta), freqüência cardíaca basal (medida

indireta), e peso corporal dos animais. Essas análises foram realizadas em colaboração com a

Profa. Dra. Patrícia Chakur Brum da Escola de Educação Física e Esporte-USP.

Com relação às variáveis distância máxima percorrida, pressão arterial sistólica e

frequência cardíaca não foram observadas diferenças entre os grupos (Tabela 3). Com relação

à massa corporal, todos os animais ganharam peso durante o tempo do protocolo

experimental, não havendo diferença entre os grupos sham e IC pós-período experimental

(Tabela 3).

Page 62: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

61

Tabela 3: Parâmetros Fisiológicos

Parâmetros Sham IC IC Alda-1 Sham IC IC Alda-1

Período Pré-tratamento Pré-tratamento Pré-tratamento Pós-tratamento Pós-tratamento Pós-tratamento

DMP, metros 514±36

(n=18)

537±54

(n=13)

447±59

(n=11)

500±38

(n=20)

525±53

(n=10)

478±52

(n=13)

PAS, mmHg 123±5

(n=18)

125±5

(n=13)

125±4

(n=12)

125±5

(n=14)

113±5

(n=10)

119±5

(n=11)

FC, bpm 476±17

(n=18)

484±27

(n=13)

522±23

(n=12)

488±15

(n=13)

479±19

(n=10)

531±23

(n=12)

PC, gr 365±11

(n=14)

337±21

(n=9)

347±18

(n=12)

429±11*

(n=13)

419±21*

(n=6)

419±19*

(n=12)

Tabela 3 - Parâmetros Fisiológicos. Distância máxima percorrida (DMP) em teste de esforço com cargas incrementais até a exaustão em

esteira rolante, Pressão arterial sistólica (PAS), Freqüência cardíaca (FC), Peso Corporal (PC), em ratos Sham, Insuficiência Cardíaca

(IC) e Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1 (IC Alda-1) pré e pós-tratamento. Dados apresentados como média ± erro padrão da

média. Para análise estatística foi realizada ANOVA dois fatores, seguida de post hoc de Duncan. *, p<0.05 vs. Pré-tratamento.

Page 63: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

62

7.1.3 Análises hemodinâmicas e morfométrica cardíaca

Para a realização das medidas hemodinâmicas, um cateter com sensores de pressão e

volume foi inserido no ventrículo esquerdo através da artéria carótida direita, sendo possível a

análise do ciclo cardíaco. Essas medidas foram realizadas somente no período pós-

experimental. Inicialmente analisamos a função sistólica representada pela derivada positiva

de pressão sobre o tempo (+dP/dTmáx) e a função diastólica representada pela derivada

negativa de pressão sobre o tempo (-dP/dTmáx) no estado basal. Também avaliamos a pressão

diastólica final do ventrículo esquerdo (PDFVE), volume sistólico (VS) e trabalho cardíaco

(TC).

Como podemos observar na Tabela 4, os animais com insuficiência cardíaca

apresentaram uma redução na +dP/dTmáx, volume sistólico e trabalho cardíaco, além de

menor complacência cardíaca, demonstrada pela maior pressão diastólica final do ventrículo

esquerdo. Entretanto, não observamos alterações significativas na -dP/dTmáx cardíaca quando

comparada aos valores do grupo controle (Sham). O tratamento com Alda-1 foi capaz de

minimizar a disfunção cardíaca basal, melhorando os índices de função sistólica e

complacência cardíaca (Tabela 4).

Tabela 4: Parâmetros Hemodinâmicos:

Pós-protocolo experimental (22 sem,)

Parâmetros Sham IC IC Alda-1

PDFVE (mmHg) 3,2±0,6

(n=4)

8,9±1,2*

(n=5)

4,6±0,6#

(n=4)

+dP/Dt máx, (mmHg,s-1

) 10034±455

(n=4)

6913±344*

(n=6)

8521±336#

(n=4)

-dP/Dt máx, (mmHg,s-1

) 6599±467

(n=4)

6220±448

(n=6)

6682±815

(n=4)

VS (mL) 120±5

(n=4)

57±7*

(n=7)

85±9#

(n=5)

TC (mmHg,mL-1

) 12,9±0,9

(n=4)

4,9±1,1*

(n=7)

9,4±1,3#

(n=5)

Tabela 4 - Parâmetros Hemodinâmicos, Pressão Diastólica Final do Ventrículo Esquerdo (PDFVE),

Velocidade Máxima de Elevação da Pressão (+dP/dT máx), Velocidade Máxima de Declínio da

Pressão (-dP/dT máx), Volume Sistólico (VS), Trabalho Cardíaco (TC). Os dados foram analisados

pela ANOVA um fator seguido de post-hoc de Duncan, *, p<0,05 vs, Sham; #, p<0,05 vs, IC.

Muitas alterações cardíacas (positivas ou negativas) podem ser visualizadas somente

quando ocorre um aumento da demanda energética, não podendo ser identificadas em

Page 64: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

63

condições basais. Na tentativa de investigar quais os efeitos da insuficiência cardíaca e do

tratamento com Alda-1 sobre a função cardíaca mediante ao estresse, decidimos avaliar a

curva pressão-volume cardíaca desses animais na presença de um vasoconstritor (fenilefrina),

que promove aumento de pós-carga cardíaca (dos Santos et al., 2010). Nossos resultados

demonstram que os animais com insuficiência cardíaca apresentam um déficit nos parâmetros

funcionais cardíacos sistólico (delta de aumento +dP/dTmáx em relação à condição basal)

(Figura 10A) e diastólico (delta de aumento -dP/dTmáx em relação à condição basal) frente ao

estímulo com fenilefrina (Figura 10B), além de apresentarem uma drástica redução da

complacência ventricular esquerda, demonstrada pelo aumento na razão pressão volume no

final da diástole (RPVDF) (Figuras 10C-F).

Diferente dos dados obtidos no ecocardiograma e na avaliação do ciclo cardíaco no

repouso, o tratamento sustentado com Alda-1 foi capaz de normalizar, em relação ao grupo

controle, a porcentagem de aumento dos índices sistólicos e diastólicos frente ao estímulo

com fenilefrina (Figuras 10A-F). Vale ressaltar que as alterações cardíacas que levam à

falência normalmente acontecem em situações de estresse, fortalecendo assim os possíveis

benefícios da Alda-1 no tratamento da insuficiência cardíaca e na melhora da morbidade dos

pacientes.

Além das avaliações funcionais, caracterizamos possíveis alterações morfológicas

cardíacas oriundas da progressão da doença, bem como do tratamento sustentado com Alda-1

nos animais com insuficiência cardíaca. Para isso realizamos as seguintes análises

histológicas: área de infarto, deposição de colágeno cardíaco e diâmetro dos cardiomiócitos.

Todas as análises, exceto a medida da área de infarto, foram realizadas na área remota, ou

seja, área livre de infarto,

Como esperado, a área de infarto não apresentou diferença entre os grupos infartados

(Figuras 10G e K), Os animais com insuficiência cardíaca apresentaram hipertrofia cardíaca,

caracterizada pelo aumento do diâmetro dos cardiomiócitos, e aumento na deposição de

colágeno total e tipo I cardíaco quando comparados ao grupo Sham (Figuras 10G-M), O

tratamento com Alda-1 foi capaz de diminuir parcialmente tanto a hipertrofia do

cardiomiócito quanto a deposição de colágeno cardíaco nos animais com insuficiência

cardíaca. Acreditamos que o aumento do colágeno tipo I observado somente no grupo

insuficiência cardíaca tratado com solução veículo está associado à menor complacência

ventricular esquerda. Não observamos diferenças entre os grupos quando avaliamos as

concentrações do colágeno tipo III, como apresentado na Figura 10I. A Figura 10J apresenta

as razões entre o colágeno tipo I e tipo III.

Page 65: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

64

Figura 10 – Avaliação do ciclo cardíaco e Análises Morfométricas Cardíaca, A) Velocidade Máxima

de Elevação da Pressão (+dP/dTmáx,), B) Velocidade Máxima de Declínio da Pressão (-dP/dTmáx,),

C) Razão Pressão Volume Diastólica Final do Ventrículo Esquerdo (RPVDF), D) Imagem

representativa do ciclo cardíaco em animal Sham, E) animal Insuficiência Cardíaca, F) e Insuficiência

Cardíaca tratado com Alda-1 por 6 semanas, G) Imagem da área de infarto (superior) e colágeno total,

tipo I e tipo III (inferior), H) Colágeno tipo I, I) Colágeno tipo III, J) Razão do colágeno Tipo I/Tipo

III, K) Quantificação da área de infarto, L) Diâmetro de cardiomiócitos, M) Deposição de colágeno

total dos grupos Sham, Insuficiência Cardíaca (IC) e Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1 (IC

Alda-1). Os dados foram analisados pela ANOVA um fator, seguida de post hoc de Duncan, *, p<0,05

vs, Sham; #, p<0,05 vs, IC.

Considerando os efeitos benéficos observados no tratamento com Alda-1 referentes à

melhora da função cardíaca e prevenção do remodelamento ventricular na insuficiência

Page 66: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

65

cardíaca, nosso próximo passo foi caracterizar a efetividade do tratamento sobre a atividade

da ALDH2 e o acúmulo de proteínas danificadas.

7.2 Perfil de atividade e expressão da enzima ALDH2 cardíaca e acúmulo de proteínas

danificadas

Para confirmar se o nosso tratamento foi efetivo em aumentar a atividade da enzima

aldeído desidrogenase 2 (ALDH2) em animais com insuficiência cardíaca, analisamos a

atividade enzimática da ALDH2 mitocondrial por espectrofotometria, como descrito

anteriormente. Constatamos que, de fato, a Alda-1 aumentou em 120% a atividade da enzima

ALDH2 em animais com insuficiência cardíaca tratados com Alda-1 (Figura 11A). Ainda, o

aumento da atividade da ALDH2 não estava relacionado à maior expressão da enzima

(Figuras 11B e F). Esse resultado já era esperado, pois sabemos que a Alda-1 aumenta a

atividade da ALDH2 através da facilitação tanto da entrada do substrato (no caso o

acetaldeído) quanto do co-fator NAD+, como já descrito anteriormente. A atividade da

ALDH2 não se alterou na insuficiência cardíaca em relação ao grupo controle.

Após a constatação da eficácia da Alda-1 em aumentar a atividade ALDH2 na

insuficiência cardíaca, avaliamos os possíveis benefícios desse processo. Considerando que

um dos papéis da ALDH2 é a remoção do principal aldeído produzido durante o estresse

oxidativo, o 4-hidroxi-2-nonenal (4HNE), decidimos caracterizar os níveis desse aldeído no

coração dos animais com insuficiência cardíaca. Como pode-se observar nas Figuras 11C-D,

os animais com insuficiência cardíaca apresentaram um significante aumento na expressão

tanto de adutos 4HNE-proteína quanto de proteínas carboniladas quando comparados com

grupo controle (Sham). Esses resultados sugerem uma ineficiência enzimática da ALDH2 na

insuficiência cardíaca, caracterizada pelo exacerbado acúmulo de aldeídos tóxicos cardíacos

normalmente metabolizados pela ALDH2 (Figuras C-E). A ativação sustentada da enzima

mitocondrial ALDH2 foi eficaz em normalizar na insuficiência cardíaca os valores de adutos

4HNE-proteína e proteínas carboniladas cardíacas para próximos do grupo sham.

Page 67: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

66

Figura 11 – Atividade e Expressão da ALDH2 e Expressão de Proteínas Danificadas no lisado

cardíaco total, A) Atividade da ALDH2, B) Expressão da ALDH2, C) Quantificação de adutos 4-

hidroxi-2-nonenal-proteína (4HNE), D) Proteínas carboniladas nos grupos Sham, Insuficiência

Cardíaca (IC) e Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1 (IC Alda-1), E)- Blot representativo dos

adutos de Michaelis (4HNE-proteína) e proteínas carboniladas, F) Blot representativo da ALDH2. Os

níveis cardíacos de adutos de Michaelis e proteínas carboniladas e ALDH2 foram normalizados pela

GAPDH. Os dados foram analisados pela ANOVA um fator, seguida de post hoc de Duncan, *,

p<0,05 vs, Sham; #, p<0,05 vs,IC.

Sabe-se que a propagação do sinal deletério oriundo da peroxidação lipídica e do

desbalanço redox ocorre em parte pelo acúmulo de 4HNE, onde o excesso desse aldeído

resulta em disfunção mitocondrial e colapso metabólico cardíaco durante processos

isquêmicos (Chen, Budas et al., 2008). Entretanto, ainda não se sabe a contribuição do

acúmulo desse aldeído para com a progressão da disfunção ventricular e insuficiência

cardíaca. Acreditamos que o 4HNE apresenta papel chave na disfunção cardíaca induzida por

infarto do miocárdio, afetando diretamente o metabolismo mitocondrial cardíaco. Sendo

assim, nosso próximo passo foi avaliar a bioenergética mitocondrial e a produção de peróxido

de hidrogênio mitocondrial no coração dos animais com insuficiência cardíaca tratados com

Alda-1 ou veículo.

7.3 Caracterização da função mitocondrial

Para caracterizar a função mitocondrial realizamos os seguintes experimentos:

avaliação do consumo de oxigênio mitocondrial, liberação de peróxido de hidrogênio e

Page 68: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

67

captação máxima de cálcio pela mitocôndria. Todos esses experimentos foram realizados com

mitocôndrias isoladas do coração dos animais sham, IC veículo e IC Alda-1.

O consumo de oxigênio mitocondrial foi avaliado utilizando um oxígrafo do tipo Clark,

conforme descrito anteriormente. Todos os experimentos foram realizados na presença dos

substratos malato (complexo I), glutamato (complexo I) e succinato (complexo II). As

medidas avaliadas foram: consumo de oxigênio no Estado 2 (respiração basal), consumo de

oxigênio no Estado 3 (respiração máxima após adição de ADP), consumo de oxigênio no

estado 4 (respiração após adição de oligomicina, uma droga que bloqueia o complexo V) e

consumo de oxigênio no estado desacoplado (após adição de CCCP, um desacoplador -

Carbonyl Cyanide m-Chlorophenyl Hydrazone, 1 µM). Ainda, para avaliar a eficiência

respiratória mitocondrial calculamos a razão estado3/estado4, descrita como controle

respiratório mitocondrial.

Na figura 12B pode-se observar que a mitocôndria isolada do coração dos animais com

insuficiência cardíaca apresentou um déficit no consumo máximo de oxigênio, representado

pela redução no estado 3. A respiração mitocondrial também estava prejudicada no estado

desacoplado em relação ao grupo controle (Figura 12D). Ainda, o controle respiratório

mitocondrial estava reduzido na insuficiência cardíaca (Figura 12E), apontando para um

prejuízo no acoplamento entre a cadeia transportadora de elétrons e a fosforilação oxidativa

mitocondrial na insuficiência cardíaca. O tratamento sustentado com Alda-1 foi capaz de

restaurar o consumo de O2 nos estados respiratórios 3 e desacoplado (CCCP) (Figuras 12C e

D), bem como melhorar o controle respiratório mitocondrial (Figura 12E). Esses resultados

sugerem que a ativação crônica da enzima mitocondrial ALDH2 é suficiente para impedir a

disfunção mitocondrial associada à fisiopatologia da insuficiência cardíaca. Baseado nesses

resultados, nosso próximo passo foi avaliar a produção de peróxido de hidrogênio pela

mitocôndria nos seus diferentes estados de ativação.

A liberação de H2O2 pela mitocôndria foi avaliada por espectrofluorimetria, conforme

descrito anteriormente. Nossos resultados apontam para uma exacerbada liberação de H2O2

mitocondrial na insuficiência cardíaca (Figuras 12 F-I). Esse aumento de radicais livres parece

acontecer tanto em situações basais (Estado 2) quanto extremas (Estados 3, 4 e

desacoplamento por CCCP) (Figuras 12 F-I). O tratamento com Alda-1 amenizou a liberação

de H2O2 mitocondrial na insuficiência cardíaca. Esses resultados são extremamente

promissores, pois demonstram que o acúmulo de 4HNE na insuficiência cardíaca é suficiente

para desencadear danos na maquinaria mitocondrial, sendo que a Alda-1 reverte todo esse

processo basicamente através da remoção do 4HNE com mais eficiência.

Page 69: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

68

Sham IC

IC A

lda-

10

50

100

150

24 7 13

Resp

iração

máxim

a e

sta

do

2

(nm

ole

s. m

g p

rot-1

. m

in-1

)

Sham IC

IC A

lda-

1

0

100

200

300

400

*

918 12

Resp

iração

máxim

a e

sta

do

3

(nm

ole

s. m

g p

rot-1

. m

in-1

)

#

Sham IC

IC A

lda-

1

0

50

100

150

918 12

Resp

iração

máxim

a e

sta

do

4

(nm

ole

s. m

g p

rot-1

. m

in-1

)

A) B) C)

Sham IC

IC A

lda-

1

0

50

100

150

200

250

*

616 5

Resp

iração

máxim

a C

CC

P

(nm

ole

s. m

g p

rot-1

. m

in-1

)

Sham IC

IC A

lda-

1

0

1

2

3

4

#

**

918 12

Co

ntr

ole

Resp

irató

rio

(Esta

do 3

/4)

Sham IC

IC A

lda-

1

0

1

2

3

4

#

*

917 8H2O

2/O

2E

sta

do 2

Sham IC

IC A

lda-

1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

#

*

717 8H2O

2/O

2E

sta

do 3

Sham IC

IC A

lda-

1

0

1

2

3

4

#

*

713 9H2O

2/O

2E

sta

do 4

D) E) F)

G) H)

Sham IC

IC A

lda-

1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

#

*

*

412 6

H2O

2/O

2C

CC

P

I)

Figura 12 - Consumo Máximo de Oxigênio e Liberação de Peróxido de Hidrogênio em Mitocôndria

Cardíaca Isolada, A) Consumo de oxigênio no estado 2, B) Consumo de oxigênio no estado 3, C)

Consumo de oxigênio no estado 4, D) Consumo de oxigênio com CCCP, E) Controle respiratório

(Estado 3/4), F) Liberação de peróxido de hidrogênio no estado 2, G) Liberação de peróxido de

hidrogênio no estado 3, H) Liberação de peróxido de hidrogênio no estado 4, I) Liberação de peróxido

de hidrogênio com CCCP, ou estado desaclopado. Os dados foram analisados pela ANOVA um fator,

seguido de post hoc de Duncan *, p<0,05 vs Sham, # , p<0,05 vs IC.

Após a constatação da exacerbada liberação de radicais livres pela mitocôndria na

insuficiência cardíaca, decidimos avaliar outros parâmetros da biologia mitocondrial

importantes para sua funcionalidade. Essas análises foram realizadas com o intuito de

entender quão fragilizada estava a mitocôndria na insuficiência cardíaca, e quais seriam os

possíveis benefícios da ativação seletiva da enzima mitocondrial ALDH2. Para isso,

avaliamos a permeabilidade dos poros mitocondriais e liberação do citocromo c para o citosol

no coração dos animais com insuficiência cardíaca.

Page 70: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

69

7.3.1 Permeabilidade dos poros mitocondriais, liberação de citocromo c e 4HNE in vitro

A formação de poros de transição mitocondriais está relacionada ao aumento da

permeabilidade mitocondrial e consequente morte celular (Kroemer, Galluzzi et al., 2007).

Avaliamos a permeabilidade dos poros de transição mitocondrial utilizando o ensaio de

captação máxima de cálcio pela mitocôndria cardíaca isolada, como descrito anteriormente.

Observamos que a captação máxima de cálcio mitocondrial estava debilitada no coração dos

animais com insuficiência cardíaca em relação ao grupo sham, demonstrando uma maior

abertura dos poros de transição mitocondriais (Figura 13A). O tratamento com Alda-1 foi

capaz de restaurar este efeito. Esses resultados foram validados com a utilização de

ciclosporina A, uma molécula capaz de bloquear a formação dos poros mitocôndrias

(Broekemeier et al., 1989). De fato, a utilização de ciclosporina A nos ensaios in vitro foi

capaz de normalizar a captação máxima de cálcio pela mitocôndria isolada dos corações dos

animais com insuficiência cardíaca (Figura 13A).

Uma outra forma de avaliar a abertura dos poros mitocondriais é analisar o

extravasamento de citocromo c da mitocôndria (uma proteína ancorada na membrana interna

da mitocôndria) para o citosol. Já está bem descrito na literatura que o citocromo c no citosol

ativa diretamente proteínas apoptóticas da família Bcl2 e induz morte celular (Kroemer,

Galluzzi et al., 2007). Nossos resultados apontam que na insuficiência cardíaca existe um

exacerbado extravasamento de citocromo c para o citosol, caracterizado pela elevada razão

citocromo c citosol/mitocôndria (Figuras 13 B-D). Esses resultados comprovam a maior

abertura dos poros mitocondriais na insuficiência cardíaca. O tratamento com Alda-1 foi

capaz de reverter esse processo, normalizando os valores de citocromo c no citosol para

próximo do grupo sham.

Até o momento, nossos achados apontam que o acúmulo de 4HNE no coração é

essencial para a progressão da insuficiência cardíaca, e que essa progressão está diretamente

associada à disfunção mitocondrial, exacerbada produção de radicais livres e abertura dos

poros mitocondriais. Entretanto, nossos dados são associativos e não podem explicar os

mecanismos pelos quais o acúmulo de 4HNE contribui para a disfunção mitocondrial na

insuficiência cardíaca. Dessa forma, com o intuito de traçar uma relação causal entre 4HNE e

alguns processos observados na insuficiência cardíaca, como a disfunção mitocondrial,

decidimos realizar experimentos mais pontuais. Para isso, incubamos mitocôndrias isoladas

com diferentes concentrações de 4HNE in vitro e avaliamos seu efeito na respiração

mitocondrial. Ainda, considerando que a Alda-1 foi uma importante ferramenta na reversão

Page 71: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

70

da disfunção mitocondrial na insuficiência cardíaca em nosso modelo, testamos se a

incubação in vitro com Alda-1 em mitocôndrias isoladas poderia prevenir agudamente os

efeitos negativos do 4HNE.

Portanto, o nosso objetivo neste experimento foi investigar se de fato o 4HNE in vitro

provoca danos na respiração mitocondrial e qual o efeito da Alda-1 nesse processo. Esse

experimento foi realizado em mitocôndria isolada do coração de ratos Wistar controle, ou

seja, não passaram por nenhum procedimento cirúrgico. Na Figura 13E, podemos observar o

consumo máximo de oxigênio no estado 3, consumo máximo de oxigênio no estado 4 e

controle respiratório. Os dados estão apresentados em porcentagem do controle (sem

tratamento).

Como mostra a Figura 13, o 4HNE reduziu o consumo de oxigênio mitocondrial no

estado 3. Esse processo parece ser dose-dependente, pois quanto maior a concentração de

4HNE menor é a respiração mitocondrial. A respiração mitocondrial no estado 4 (na presença

de oligomicina) não foi alterada pelo 4HNE, sugerindo que o 4HNE não afeta o acoplamento

mitocondrial. Por fim, quando calculamos o controle respiratório observamos um

comportamento semelhante ao estado 3 mitocondrial. Esses resultados apontam que o 4HNE

afeta negativamente a respiração mitocondrial cardíaca. Quando testamos a Alda-1,

observamos que a pré-incubação das mitocôndrias com Alda-1 ameniza os danos oriundos do

4HNE (10 M). Escolhemos essa concentração de 4HNE uma vez que é próxima da

observada no coração após processos isquêmicos. Nossos resultados in vitro reproduziram os

achados in vivo, demonstrando que a Alda-1 é capaz de reverter os danos mitocondriais

oriundos do 4HNE. Entretanto, as proteínas-alvo do 4HNE nesse processo ainda não foram

identificadas, Outro projeto do nosso laboratório identificará essas proteínas.

Page 72: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

71

Figura 13 – Permeabilidade de Poros Mitocondriais, Liberação de Citocromo c e 4HNE in

vitro, A) Captação máxima de cálcio, B) Blot representativo do citocromo c e da eficiência de

fracionamento celular, C) Expressão do citocromo c na fração citosólica, D) Expressão do

citocromo c na fração mitocondrial dos grupos Sham, Insuficiência Cardíaca (IC) e

Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1 (IC Alda-1), E) Avaliação da respiração mitocondrial

após incubação in vitro com 4HNE e Alda-1, As mitocôndrias foram isoladas do coração de

animais controle (sham). As doses de 4HNE variaram entre 0,5 e 10,0M e o tratamento teve

duração de 5 minutos. No experimento com Alda-1 e 4HNE as mitocôndrias foram incubadas

primeiramente com Alda-1 seguida de 4HNE. Os dados foram analisados pela ANOVA um

fator, seguida de post hoc de Duncan, *, p<0,05 vs, controle; #, p<0,05 vs, IC; &, p<0,05 vs,

Pré-tratamento; †, p<0,05 vs, 4HNE 10µM.

Page 73: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

72

Esses dados demonstram que um dos possíveis mecanismos associados aos efeitos

benéficos da ativação da ALDH2 na insuficiência cardíaca é pela maior remoção de aldeídos

tóxicos (ex, 4HNE) produzidos a partir da peroxidação lipídica. Portanto o nosso próximo

passo foi a avaliação a peroxidação lipídica no lisado cardíaco de animais Sham, IC veículo e

IC Alda-1. Além disso, como nossos resultados apontam para uma exacerbada liberação de

radicais livres pela mitocôndria na insuficiência cardíaca, decidimos avaliar a atividade de

algumas enzimas antioxidantes com o intuito de traçar um perfil do balanço redox na

insuficiência cardíaca, bem como os possíveis efeitos da ativação sustentada da ALDH2 nesse

processo.

7.4 Peroxidação lipídica e atividade da superóxido dismutase e da catalase

A formação de hidroperóxidos lipídicos ocorre devido ao ataque de espécies reativas, tais

como o H• e o ONOO

−, ocasionando uma autodestruição da membrana. O processo de

peroxidação ocorre em três etapas distintas, inicialmente ocorre o ataque o radical ao PUFA,

essa etapa é denominada iniciação e tem como produto um radical lipídico (L•), esse radical

associa-se com um O2 formando um radical peroxila (LOO•) que ataca outro PUFA e forma

um L• e um LOO

• em uma etapa denominada de propagação, a ultima etapa denominada

terminação ocorre quando L• e um LOO

• propagam-se até a auto destruição. A peroxidação

lipídica é considerada o principal indutor da disfunção mitocondrial e celular em situações de

estresse por induzir a formação de aldeídos tóxicos como o 4HNE (Hermes-Lima, Willmore

et al., 1995). Tendo em vista o aumento nas concentrações de 4HNE no nosso modelo de

insuficiência cardíaca, fomos analisar a formação desses hidroperóxidos lipídicos através de

espectrofotometria, como descrito anteriormente. Como podemos observar na Figura 14A o

grupo IC Alda-1 apresentou uma menor peroxidação lipídica quando comparado com o grupo

insuficiência cardíaca sem tratamento.

A superóxido dismutase e a catalase são importantes enzimas antioxidantes envolvidas

na manutenção do balanço redox na fisiopatologia da insuficiência cardíaca. Investigamos a

atividades dessas enzimas em nosso modelo através da técnica de espectrofotometria, como

descrito anteriormente. A atividade da superóxido dismutase estava diminuída nos animais

com insuficiência cardíaca (Figura 14B). O tratamento com Alda-1 foi capaz de restaurar a

atividade da enzima (Figura 14B). A enzima superóxido dismutase é uma enzima essencial

para a vida, pois a deleção sistêmica da SOD2 gera letalidade em camundongos neonatos e a

deleção condicional gera cardiomiopatia dilatada (Koyama et al., 2013; Lebovitz et al., 1996).

Page 74: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

73

Portanto, é de fundamental importância a melhora da atividade da SOD gerada após seis

semanas de tratamento com Alda-1 em animais com insuficiência cardíaca. A atividade da

enzima catalase não apresentou diferenças entre os grupos como mostra a Figura 14C.

Sham IC

IC A

lda-

1

0

2

4

6

8

12 7 6

#

*

Hid

rop

eró

xid

os L

ipíd

ico

s

(nm

ol/m

g p

rote

ína)

Sham IC

IC A

lda-

1

0

100

200

300

400

*

7 5 5

Ativid

ad

e S

OD

(U/m

g p

rote

ína)

Sham IC

IC A

lda-

1

0.0

0.1

0.2

0.3

8 5 6Ati

vid

ad

e C

ata

lase

(Redução H

2O

2m

ol/m

g p

rote

ína)

A) B)

C)

Figura 14 – Peroxidação Lipídica, Atividade da Superóxido Dismutase e Catalase, A) Hidroperóxidos

Lipídicos, B) Atividade da Enzima Superóxido Dismutase – SOD e C) Atividade da catalase nos

grupos Sham, Insuficiência Cardíaca (IC) e Insuficiência Cardíaca tratado com Alda-1 (IC Alda-1). Os

dados foram analisados pela ANOVA um fator, seguida de post hoc de Duncan, *, p<0,05 vs, Sham;

#, p<0,05 vs, IC.

O nosso próximo questionamento foi a respeito da toxidade da molécula Alda-1. Visto

que até o momento não existe nenhum dado na literatura a respeito da toxicidade causada pelo

tratamento sustentado com Alda-1. Decidimos então analisar no plasma dos animais enzimas

que apontam sinais de toxicidade hepática.

7.5 Toxicidade da Alda-1

As enzimas alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) são

enzimas que estão envolvidas no metabolismo celular. A quantificação dessas enzimas no

Page 75: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

74

plasma é comumente utilizada na clínica para identificação de dano hepático. A análise foi

realizada no plasma dos animais Sham, IC e IC Alda-1, como descrito anteriormente. Como

podemos observar na Figura 15, a razão dos níveis circulantes dessas enzimas apresenta-se

inalterada, sugerindo que o nosso tratamento não possui nenhum efeito tóxico.

Figura 15 - Análise da Toxicidade da Alda-1. Razão dos níveis circulantes das enzimas alanina

aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (ASP) em animais Sham, IC e IC tratado com

Alda-1. Os dados foram analisados pela ANOVA um fator, seguida de post hoc de Duncan.

Page 76: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

75

8 DISCUSSÃO

Nos últimos anos, o tratamento das doenças cardiovasculares, como a insuficiência

cardíaca, avançou consideravelmente. No entanto, a insuficiência cardíaca continua sendo

uma importante causa de mortalidade e morbidade mundial (Hummel, Pauli et al., 2010).

Assim, torna-se necessário a busca por novas terapias farmacológicas que melhorem a

qualidade de vida e sobrevida desses pacientes, uma vez que a disfunção cardíaca já está

estabelecida.

A mitocôndria é apontada como uma importante organela associada ao agravamento

e/ou aparecimento da insuficiência cardíaca devido ao seu importante papel na bioenergética e

balanço redox celular. A disfunção mitocondrial existente na insuficiência cardíaca leva a

redução da produção de energia, a diminuição da contratilidade dos cardiomiócitos e aumento

da morte celular, resultando no agravamento da disfunção ventricular (Ahuja et al., 2013).

Diversos mecanismos e vias moleculares são propostos para explicar a disfunção mitocondrial

e a disfunção cardíaca presente na insuficiência cardíaca, no entanto, o aumento da produção

de espécies reativas de oxigênio parece ser um importante fator deletério e está diretamente

relacionado à disfunção do miocárdio (Ide et al., 2000).

O aumento de espécies reativas de oxigênio gera um desbalanço redox e como

consequência ocorre o aumento da peroxidação lipídica e a formação de aldeídos tóxicos,

como o 4HNE. O 4HNE pode prontamente interagir com resíduos de cisteína, histidina e

lisina de proteínas chave, inativando-as e contribuindo para o prejuízo metabólico e contrátil

observado na insuficiência cardíaca (Petersen, Doorn, 2004). De fato, esse aldeído parece

estar diretamente relacionado com a disfunção cardíaca. Nakamura e colaboradores

demonstraram que a redução de 40% dos níveis circulante de 4HNE, em pacientes com

cardiomiopatia dilatada, está associada à melhora da função cardíaca (Nakamura, Kusano et

al., 2002).

A ALDH2 é a principal enzima responsável na remoção do 4HNE. Diversas

patologias estão diretamente relacionadas com a redução da atividade dessa enzima. A

deficiência na ALDH2 está associada com o aparecimento de doenças com Alzheimer (Wang

et al., 2008), câncer (Seitz et al., 2001) e doenças cardiovasculares como hipertensão (Hui et

al., 2007) e diabetes (Xu et al., 2010). Recentes estudos apontam a ALDH2 como enzima

chave em mecanismos de cardioproteção, uma vez que elimina de forma eficiente aldeídos

tóxicos. No entanto, o papel da ALDH2 na insuficiência cardíaca ainda não foi determinado.

Page 77: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

76

No presente estudo, utilizamos um modelo experimental de insuficiência cardíaca

induzida por infarto do miocárdio. Nossos resultados demonstram, pela primeira vez, a

caracterização da atividade da ALDH2 pós-infarto do miocárdio, além de concordarem com a

literatura, apontando a ALDH2 como uma enzima importante para a manutenção da

viabilidade cardíaca.

Na parte I dos nossos resultados (estudo 1) evidenciamos que a atividade da ALDH2

apresentam-se reduzida em 1, 2 e 4 semanas pós-infarto do miocárdio (Figura 6A). Essa

redução foi acompanhada pelo aumento da produção das espécies reativas de oxigênio (Figura

8) e aumento da formação de hidroperóxidos lipídicos (Figura 7A). Esses resultados sugerem

que a ALDH2 apresenta papel chave na remoção de aldeídos tóxicos, onde sua inativação

pode estar associada ao agravamento do desbalanco redox e disfunção contrátil observados na

progressão da disfunção cardíaca pós-infarto do miocárdio (Figura 6). Porém, nossos dados

apontam apenas uma associação entre os fatores supracitados. Estudos anteriores in vitro

demonstram que o 4HNE é capaz de inibir a atividade da ALDH2 através de uma ligação

covalente ao sítio catalítico da enzima (Doorn, Hurley et al., 2006). Contudo, são necessários

outros experimentos que comprovem o aumento desse aldeído nas primeiras semanas pós-

infarto do miocárdio.

O 4HNE pode ser removido também pela glutationa, uma importante enzima

antioxidante, através de uma ligação do 4HNE como o grupo tiol da enzima. Essa reação

ocorre por meio da enzima glutationa-s-transferase. Alterações nos níveis de glutationa

podem induzir aumento na produção de espécies reativas de oxigênio, danos mitocondriais e

cardíacos (Raza, John, 2006). Sendo assim, investigamos os níveis dessa enzima em nosso

modelo, nossos resultados apontam um aumento dos níveis de glutationa na 1ª, 2ª e 4ª semana

pós-infarto do miocárdio. Acreditamos que esse aumento ocorra na tentativa de combater a

redução da atividade da ALDH2 e o aumento de hidroperóxidos lipídico demonstrado na

Figura 7. Os efeitos deletérios do infarto do miocárdio ao longo do tempo, apresentados até o

momento, foram associados com redução do consumo máximo de oxigênio pela mitocôndria

(Figura 8E) e redução da fração de encurtamento e ejeção cardíaca (Figura 5), sugerindo uma

disfunção mitocondrial e cardíaca.

Após a caracterização do curso temporal da atividade da ALDH2 e acúmulo de 4HNE

e hidroperóxidos lipídicos após infarto do miocárdio, decidimos utilizar animais com quatro

semanas pós-infarto para compreender o papel da ALDH2 na insuficiência cardíaca de

etiologia isquêmica e investigar os possíveis benefícios terapêuticos da Alda-1 nessa

síndrome. A utilização de animais com quatro semanas pós-infarto foi baseada em nossos

Page 78: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

77

resultados que apontam que animais com infarto do miocárdio apresentam disfunção cardíaca

sistólica e diastólica em repouso, além de dilatação ventricular esquerda e maior índice de

desempenho do miocárdio nesse período (Tabela 2).

A segunda parte dos nossos resultados (estudo 2) aponta que a ativação sustentada da

ALDH2 utilizando Alda-1 aumenta a contratilidade cardíaca tanto em repouso (Figura 9)

quanto em estresse (Figura 10A-F), além de reverter o remodelamento cardíaco patológico

(Figura 10G-M). A cardioproteção induzida por Alda-1 é evidenciada pela melhora da função

cardíaca, diminuição da dilatação do ventrículo esquerdo e diminuição da fibrose cardíaca.

Para testar a efetividade do nosso tratamento realizamos a análise da atividade da

ALDH2. Constatamos que o nosso tratamento foi efetivo em aumentar 2,7 vezes a atividade

da ALDH2 sem alterar sua expressão. Em publicações anteriores foi demonstrado que a Alda-

1 é um agonista alostérico da ALDH2, sendo capaz de diminuir drasticamente o Km da

ALDH2 para o co-factor NAD+, e aumentar o Vmáx. da catálise do substrato de aldeídos

(Chen, Ferreira et al., 2014). De fato, o aumento da atividade da ALDH2 não está associado à

expressão da enzima (Figura 11B). Sendo assim, nossos resultados corroboram os dados

encontrados na literatura em outros modelos experimentais, onde o tratamento com Alda-1

torna a enzima mais eficiente. Testamos essa eficiência da ALDH2, por meio da técnica de

western blot para quantificação de acúmulo de aldeídos tóxicos e proteínas carboniladas.

Verificamos que o aumento da atividade enzimática da ALDH2 foi capaz de atenuar a carga

de aldeídos no miocárdio de ratos com insuficiência cardíaca, caracterizada pela redução de

adutos de proteína-4HNE e de carbonilação de proteínas, o que sugere uma redução de

proteínas danificadas cardíacas (Figura 11).

O acúmulo de aldeídos tóxicos pode inativar proteínas importantes, tanto da via

glicolítica como da via oxidativa e proteínas da cadeia de transporte de elétrons (Chen et al.,

2010) gerando disfunção mitocondrial. Além disso, sabemos que a produção excessiva de

espécies reativas de oxigênio e a sobrecarga de cálcio provoca a dissipação do gradiente

eletroquímico e consequente aberturas de poros de transição mitocondrial, o que resulta na

maior da produção de espécies reativas de oxigênio. Essas alterações podem levar a liberação

de citocromo c para o citosol e consequente ativação de vias pró-apoptóticas através de

proteínas da família Bcl (Kroemer, Galluzzi et al., 2007). Portanto decidimos investigamos se

o acúmulo desses aldeídos se relaciona com a disfunção mitocondrial.

De fato, nossos resultados apontam que os animais com insuficiência cardíaca

apresentam uma disfunção mitocondrial, caracterizada pela redução no consumo de oxigênio

pela mitocôndria (figura 12) e pelo aumento na liberação de espécies reativas de oxigênio pela

Page 79: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

78

mitocôndria (Figura 12). Além disso, os nossos resultados sugerem que a mitocôndria dos

animais com insuficiência cardíaca apresenta maior formação de poros de transição

mitocondrial (Figura 13A), visto que a mitocôndria desses animais apresentou baixa

tolerância às adições consecutivas de cálcio in vitro, sendo que o tratamento dessas

mitocôndrias com ciclosporina A (bloqueador de poros de transição mitocondrial) restaurou a

tolerância ao cálcio. O nosso tratamento com Alda-1 foi efetivo em melhorar a respiração

mitocondrial, reduzir a produção de espécies reativas de oxigênio e reduzir a formação de

poros de transição mitocondrial. Outro resultado que confirma a abertura de poros de

permeabilidade mitocondrial é a liberação do citocromo c para o citosol. Nossos resultados

apontam uma maior liberação do citocromo c para o citosol nos animais com insuficiência

cardíaca. O tratamento com Alda-1 foi eficaz em diminuir essa liberação, o que sugere uma

redução da ativação de vias apoptóticas. No entanto, experimentos mais pontuais são

necessários para avaliar morte celular nesse modelo experimental.

A literatura demonstra claramente que os aldeídos podem prejudicar diversas funções

celulares, como já descrito anteriormente. De fato, nossos resultados indicam que os aldeídos

são extremamente tóxicos e prejudicam a função mitocondrial e cardíaca. Quando testamos a

reatividade do 4HNE em mitocôndria cardíaca isolada de animais saudáveis in vitro, através

de uma curva de dose resposta, verificamos que o 4HNE reduz o consumo de oxigênio

mitocondrial proporcional as quantidades adicionadas. Além disso, a Alda-1 foi capaz de

evitar a disfunção mitocondrial ocasionada pelo 4HNE (Figura 13E). Portanto, nossos

resultados in vitro reproduziram os achados in vivo, demonstrando que a Alda-1 é capaz de

reverter os danos mitocondriais oriundos do 4HNE.

O aumento do 4HNE no tecido cardíaco do nosso modelo de insuficiência cardíaca se

relaciona com aumento da peroxidação lipídica e redução da enzima superóxido dismutase

(Figura 14A e 14B, respectivamente). O tratamento com Alda-1 reverteu esse processo,

reduzindo os níveis de hidroperóxidos lipídicos e restaurando a atividade da superóxido

dismutase cardíaca. Dados publicados anteriormente demonstram que pacientes com

insuficiência cardíaca crônica apresentam redução na atividade da superóxido dismutase (Xu,

Chen et al., 2010) corroborando com os nossos resultados.

Por fim, decidimos analisar a toxidade da Alda-1 visto que nenhum estudo até o

momento testou o efeito sustentado dessa molécula. Para testa a toxicidade da Alda-1 foi

realizada a análise dos níveis circulantes das enzimas alanina aminotransferase (ALT) e

aspartato aminotransferase (ASP), essa análise é muito utilizada na clínica para testa toxidade

hepática (Tahir, Sultana, 2011). A enzima ALT é encontrada principalmente no fígado, assim

Page 80: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

79

como a enzima ALT que também é encontrada no coração e músculo esquelético, danos

hepáticos causam aumento dos níveis circulantes dessas enzimas. Nossos resultados apontam

a não toxidade da Alda-1 (figura 15) sendo um tratamento seguro em longo prazo em ratos

com IC induzido por infarto do miocárdio.

Acreditamos que os aldeídos tóxicos, como o 4HNE, estão no centro de um ciclo de

retro-alimentação positivo em um coração insuficiente, em que espécies reativas de oxigênio

produzem aldeídos através da peroxidação lipídica, que, em seguida promovem disfunção

mitocondrial e levam a uma maior geração de espécies reativas de oxigênio. A interrupção

desse ciclo, através da maior remoção de 4HNE cardíaco pela ALDH2 melhora a função

mitocondrial e diminui a produção de espécies reativas de oxigênio, o que resulta na melhora

da função cardíaca e melhora do quadro de insuficiência cardíaca. Ao contrário dos

tratamentos antioxidantes, que visam reduzir os níveos de espécies reativas de oxigênio, que

são instáveis, e devem ser biologicamente disponível no local certo (por exemplo, no interior

da mitocôndria) a uma concentração estequiométrica, a Alda-1 funciona cataliticamente sobre

um produto estável de estequiométrica, a Alda - aldeídos - dentro do microambiente correto -

mitocôndria.

Page 81: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

80

9 CONCLUSÃO

Nossos resultados fornecem evidências de que a ALDH2 é uma importante enzima

que auxilia na manutenção da viabilidade cardíaca pós-infarto do miocárdio, e que a redução

da carga de aldeídos cardíacos através da ativação seletiva ALDH2 é suficiente para atenuar

danos causados pela insuficiência cardíaca em ratos. Dessa forma, baseados em nossos

estudos pré-clínicos, podemos concluir que o ativador da ALDH2 (Alda-1) tem um

importante papel na melhora da bioenergética mitocondrial associada à redução do estresse

oxidativo, contribuindo sobremaneira para a reversão da fisiopatologia da insuficiência

cardíaca. Portanto, a ALDH2 pode ser apontada como um novo alvo terapêutico no

tratamento da insuficiência cardíaca. Entretanto, outros estudos, incluindo a utilização de

diferentes modelos experimentais de insuficiência cardíaca, são necessários para validar o uso

terapêutico da Alda-1 no tratamento desta síndrome.

Page 82: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

81

REFERÊNCIAS*

Abel ED, Doenst T. Mitochondrial adaptations to physiological vs. Pathological cardiac

hypertrophy. Cardiovascular Research. 2011;90(2):234-42.

Ahuja P, Wanagat J, Wang Z, Wang Y, Liem DA, Ping P, et al. Divergent mitochondrial

biogenesis responses in human cardiomyopathy. Circulation. 2013;127(19):1957-67.

Avramovic N, Dragutinovic V, Krstic D, Colovic M, Trbovic A, de Luka S, et al. The effects

of omega 3 fatty acid supplementation on brain tissue oxidative status in aged wistar rats.

Hippokratia. 2012;16(3):241-5.

Awasthi YC, Sharma R, Cheng JZ, Yang Y, Sharma A, Singhal SS, et al. Role of 4-

hydroxynonenal in stress-mediated apoptosis signaling. Molecular Aspects of Medicine.

2003;24(4-5):219-30.

Backos DS, Fritz KS, Roede JR, Petersen DR, Franklin CC. Posttranslational modification

and regulation of glutamate-cysteine ligase by the alpha,beta-unsaturated aldehyde 4-

hydroxy-2-nonenal. Free Radical Biology & Medicine. 2011;50(1):14-26.

Beretta M, Gorren AC, Wenzl MV, Weis R, Russwurm M, Koesling D, et al. Characterization

of the east asian variant of aldehyde dehydrogenase-2: Bioactivation of nitroglycerin and

effects of alda-1. The Journal of Biological Chemistry. 2010;285(2):943-52.

Brasil. Mistério da Saúde. 2014 [cited 2014 Fev 15]. Available from:

http://www.brasil.gov.br/saude/2011/09/doencas-cardiovasculares.

Broekemeier KM, Dempsey ME, Pfeiffer DR. Cyclosporin a is a potent inhibitor of the inner

membrane permeability transition in liver mitochondria. The Journal of Biological Chemistry.

1989;264(14):7826-30.

Budas GR, Disatnik MH, Chen CH, Mochly-Rosen D. Activation of aldehyde dehydrogenase

2 (aldh2) confers cardioprotection in protein kinase c epsilon (pkcvarepsilon) knockout mice.

Journal of Molecular and Cellular Cardiology. 2010;48(4):757-64.

Budas GR, Disatnik MH, Mochly-Rosen D. Aldehyde dehydrogenase 2 in cardiac protection:

A new therapeutic target? Trends in Cardiovascular Medicine. 2009;19(5):158-64.

Campos JC, Queliconi BB, Dourado PM, Cunha TF, Zambelli VO, Bechara LR, et al.

Exercise training restores cardiac protein quality control in heart failure. PloS One.

2012;7(12):e52764.

Chatterjee K. Neurohormonal activation in congestive heart failure and the role of

vasopressin. The American Journal of Cardiology. 2005;95(9A):8B-13B.

* De acordo com:

International Committee of Medical Journal Editors. [Internet]. Uniform requirements for manuscripts

submitted to Biomedical Journal: sample references. [updated 2011 Jul 15]. Available from:

http://www.icmje.org

Page 83: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

82

Chen CH, Budas GR, Churchill EN, Disatnik MH, Hurley TD, Mochly-Rosen D. Activation

of aldehyde dehydrogenase-2 reduces ischemic damage to the heart. Science.

2008;321(5895):1493-5.

Chen CH, Ferreira JC, Gross ER, Mochly-Rosen D. Targeting aldehyde dehydrogenase 2:

New therapeutic opportunities. Physiological Reviews. 2014;94(1):1-34.

Chen CH, Sun L, Mochly-Rosen D. Mitochondrial aldehyde dehydrogenase and cardiac

diseases. Cardiovascular Research. 2010;88(1):51-7.

Correa-Costa M, Braga TT, Semedo P, Hayashida CY, Bechara LR, Elias RM, et al. Pivotal

role of toll-like receptors 2 and 4, its adaptor molecule myd88, and inflammasome complex in

experimental tubule-interstitial nephritis. PloS One. 2011;6(12):e29004.

da Silva MM, Sartori A, Belisle E, Kowaltowski AJ. Ischemic preconditioning inhibits

mitochondrial respiration, increases h2o2 release, and enhances k+ transport. American

Journal of Physiology Heart and Circulatory Physiology. 2003;285(1):H154-62.

Dai DF, Johnson SC, Villarin JJ, Chin MT, Nieves-Cintron M, Chen T, et al. Mitochondrial

oxidative stress mediates angiotensin ii-induced cardiac hypertrophy and galphaq

overexpression-induced heart failure. Circulation Research. 2011;108(7):837-46.

Ding X, Beier JI, Baldauf KJ, Jokinen JD, Zhong H, Arteel GE. Acute ethanol preexposure

promotes liver regeneration after partial hepatectomy in mice by activating aldh2. American

Journal of Physiology Gastrointestinal and Liver Physiology. 2014;306(1):G37-47.

Doenst T, Nguyen TD, Abel ED. Cardiac metabolism in heart failure: Implications beyond

atp production. Circulation Research. 2013;113(6):709-24.

Doorn JA, Hurley TD, Petersen DR. Inhibition of human mitochondrial aldehyde

dehydrogenase by 4-hydroxynon-2-enal and 4-oxonon-2-enal. Chemical Research in

Toxicology. 2006;19(1):102-10.

dos Santos L, Antonio EL, Souza AF, Tucci PJ. Use of afterload hemodynamic stress as a

practical method for assessing cardiac performance in rats with heart failure. Canadian

Journal of Physiology and Pharmacology. 2010;88(7):724-32.

Doser TA, Turdi S, Thomas DP, Epstein PN, Li SY, Ren J. Transgenic overexpression of

aldehyde dehydrogenase-2 rescues chronic alcohol intake-induced myocardial hypertrophy

and contractile dysfunction. Circulation. 2009;119(14):1941-9.

Esterbauer H, Schaur RJ, Zollner H. Chemistry and biochemistry of 4-hydroxynonenal,

malonaldehyde and related aldehydes. Free Radical Biology & Medicine. 1991;11(1):81-128.

Fernandez E, Koek W, Ran Q, Gerhardt GA, France CP, Strong R. Monoamine metabolism

and behavioral responses to ethanol in mitochondrial aldehyde dehydrogenase knockout mice.

Alcoholism, Clinical and Experimental Research. 2006;30(10):1650-8.

Page 84: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

83

Ferreira JC, Bacurau AV, Evangelista FS, Coelho MA, Oliveira EM, Casarini DE, et al. The

role of local and systemic renin angiotensin system activation in a genetic model of

sympathetic hyperactivity-induced heart failure in mice. American Journal of Physiology

Regulatory, Integrative and Comparative Physiology. 2008;294(1):R26-32.

Ferreira JC, Boer BN, Grinberg M, Brum PC, Mochly-Rosen D. Protein quality control

disruption by pkcbetaii in heart failure; rescue by the selective pkcbetaii inhibitor, betaiiv5-3.

PloS One. 2012;7(3):e33175.

Ferreira JC, Mochly-Rosen D. Nitroglycerin use in myocardial infarction patients. Circulation

Journal : Official Journal of the Japanese Circulation Society. 2012;76(1):15-21.

Ferreira JC, Rolim NP, Bartholomeu JB, Gobatto CA, Kokubun E, Brum PC. Maximal lactate

steady state in running mice: Effect of exercise training. Clinical and Experimental

Pharmacology & Physiology. 2007;34(8):760-5.

Fu SH, Zhang HF, Yang ZB, Li TB, Liu B, Lou Z, et al. Alda-1 reduces cerebral

ischemia/reperfusion injury in rat through clearance of reactive aldehydes. Naunyn-

Schmiedeberg's Archives of Pharmacology. 2014;387(1):87-94.

Gandhi S, Abramov AY. Mechanism of oxidative stress in neurodegeneration. Oxidative

Medicine and Cellular Longevity. 2012;2012:428010.

Ge W, Guo R, Ren J. Amp-dependent kinase and autophagic flux are involved in aldehyde

dehydrogenase-2-induced protection against cardiac toxicity of ethanol. Free Radical Biology

& Medicine. 2011;51(9):1736-48.

Gong D, Zhang Y, Zhang H, Gu H, Jiang Q, Hu S. Aldehyde dehydrogenase-2 activation

during cardioplegic arrest enhances the cardioprotection against myocardial ischemia-

reperfusion injury. Cardiovascular Toxicology. 2012;12(4):350-8.

Gu C, Xing Y, Jiang L, Chen M, Xu M, Yin Y, et al. Impaired cardiac sirt1 activity by

carbonyl stress contributes to aging-related ischemic intolerance. PloS One.

2013;8(9):e74050.

Handy DE, Loscalzo J. Redox regulation of mitochondrial function. Antioxidants & Redox

Signaling. 2012;16(11):1323-67.

Hermes-Lima M, Willmore WG, Storey KB. Quantification of lipid peroxidation in tissue

extracts based on fe(iii)xylenol orange complex formation. Free Radical Biology & Medicine.

1995;19(3):271-80.

Hernandez-Resendiz S, Buelna-Chontal M, Correa F, Zazueta C. Targeting mitochondria for

cardiac protection. Current Drug Targets. 2013;14(5):586-600.

Houglum K, Filip M, Witztum JL, Chojkier M. Malondialdehyde and 4-hydroxynonenal

protein adducts in plasma and liver of rats with iron overload. The Journal of Clinical

Investigation. 1990;86(6):1991-8.

Page 85: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

84

Hui P, Nakayama T, Morita A, Sato N, Hishiki M, Saito K, et al. Common single nucleotide

polymorphisms in japanese patients with essential hypertension: Aldehyde dehydrogenase 2

gene as a risk factor independent of alcohol consumption. Hypertension Research : Official

Journal of the Japanese Society of Hypertension. 2007;30(7):585-92.

Hulbert AJ, Pamplona R, Buffenstein R, Buttemer WA. Life and death: Metabolic rate,

membrane composition, and life span of animals. Physiological Reviews. 2007;87(4):1175-

213.

Hummel SL, Pauli NP, Krumholz HM, Wang Y, Chen J, Normand SL, et al. Thirty-day

outcomes in medicare patients with heart failure at heart transplant centers. Circulation Heart

Failure. 2010;3(2):244-52.

Ide T, Tsutsui H, Kinugawa S, Suematsu N, Hayashidani S, Ichikawa K, et al. Direct evidence

for increased hydroxyl radicals originating from superoxide in the failing myocardium.

Circulation Research. 2000;86(2):152-7.

Johns TN, Olson BJ. Experimental myocardial infarction. I. A method of coronary occlusion

in small animals. Annals of Surgery. 1954;140(5):675-82.

Kaplan P, Tatarkova Z, Racay P, Lehotsky J, Pavlikova M, Dobrota D. Oxidative

modifications of cardiac mitochondria and inhibition of cytochrome c oxidase activity by 4-

hydroxynonenal. Redox Report : Communications in Free Radical Research. 2007;12(5):211-

8.

Kotraiah V, Pallares D, Toema D, Kong D, Beausoleil E. Identification of aldehyde

dehydrogenase 1a1 modulators using virtual screening. Journal of Enzyme Inhibition and

Medicinal Chemistry. 2013;28(3):489-94.

Kowaltowski AJ, de Souza-Pinto NC, Castilho RF, Vercesi AE. Mitochondria and reactive

oxygen species. Free Radical Biology & Medicine. 2009;47(4):333-43.

Koyama H, Nojiri H, Kawakami S, Sunagawa T, Shirasawa T, Shimizu T. Antioxidants

improve the phenotypes of dilated cardiomyopathy and muscle fatigue in mitochondrial

superoxide dismutase-deficient mice. Molecules. 2013;18(2):1383-93.

Kroemer G, Galluzzi L, Brenner C. Mitochondrial membrane permeabilization in cell death.

Physiological Reviews. 2007;87(1):99-163.

Laemmli UK. Cleavage of structural proteins during the assembly of the head of

bacteriophage t4. Nature. 1970;227(5259):680-5.

Lebovitz RM, Zhang H, Vogel H, Cartwright J, Jr., Dionne L, Lu N, et al. Neurodegeneration,

myocardial injury, and perinatal death in mitochondrial superoxide dismutase-deficient mice.

Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America.

1996;93(18):9782-7.

Liu L, Eisen HJ. Epidemiology of heart failure and scope of the problem. Cardiology Clinics.

2014;32(1):1-8, vii.

Page 86: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

85

Lumini-Oliveira J, Magalhaes J, Pereira CV, Moreira AC, Oliveira PJ, Ascensao A.

Endurance training reverts heart mitochondrial dysfunction, permeability transition and

apoptotic signaling in long-term severe hyperglycemia. Mitochondrion. 2011;11(1):54-63.

Masi LN, Rodrigues AC, Curi R. Fatty acids regulation of inflammatory and metabolic genes.

Current Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care. 2013;16(4):418-24.

McCord JM, Fridovich I. Superoxide dismutase. An enzymic function for erythrocuprein

(hemocuprein). The Journal of Biological Chemistry. 1969;244(22):6049-55.

Montera. III Diretriz brasileira de insuficiência cardíaca crônica. Arquivos Brasileiro de

Cardiologia. 2009; 93(1 supl.1):1-70.

Nakamura K, Kusano K, Nakamura Y, Kakishita M, Ohta K, Nagase S, et al. Carvedilol

decreases elevated oxidative stress in human failing myocardium. Circulation.

2002;105(24):2867-71.

Ning S, Budas GR, Churchill EN, Chen CH, Knox SJ, Mochly-Rosen D. Mitigation of

radiation-induced dermatitis by activation of aldehyde dehydrogenase 2 using topical alda-1

in mice. Radiation Research. 2012;178(1):69-74.

Pacher P, Nagayama T, Mukhopadhyay P, Batkai S, Kass DA. Measurement of cardiac

function using pressure-volume conductance catheter technique in mice and rats. Nature

Protocols. 2008;3(9):1422-34.

Pellikka PA, Douglas PS, Miller JG, Abraham TP, Baumann R, Buxton DB, et al. American

society of echocardiography cardiovascular technology and research summit: A roadmap for

2020. Journal of the American Society of Echocardiography : Official Publication of the

American Society of Echocardiography. 2013;26(4):325-38.

Perez-Miller S, Younus H, Vanam R, Chen CH, Mochly-Rosen D, Hurley TD. Alda-1 is an

agonist and chemical chaperone for the common human aldehyde dehydrogenase 2 variant.

Nature Structural & Molecular Biology. 2010;17(2):159-64.

Petersen DR, Doorn JA. Reactions of 4-hydroxynonenal with proteins and cellular targets.

Free Radical Biology & Medicine. 2004;37(7):937-45.

Poyton RO, Ball KA, Castello PR. Mitochondrial generation of free radicals and hypoxic

signaling. Trends in Endocrinology and Metabolism: TEM. 2009;20(7):332-40.

Raza H, John A. 4-hydroxynonenal induces mitochondrial oxidative stress, apoptosis and

expression of glutathione s-transferase a4-4 and cytochrome p450 2e1 in pc12 cells.

Toxicology and Applied Pharmacology. 2006;216(2):309-18.

Rolim NP, Medeiros A, Rosa KT, Mattos KC, Irigoyen MC, Krieger EM, et al. Exercise

training improves the net balance of cardiac ca2+ handling protein expression in heart failure.

Physiological Genomics. 2007;29(3):246-52.

Page 87: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

86

Sahn DJ, DeMaria A, Kisslo J, Weyman A. Recommendations regarding quantitation in m-

mode echocardiography: Results of a survey of echocardiographic measurements. Circulation.

1978;58(6):1072-83.

Savergnini SQ, Ianzer D, Carvalho MB, Ferreira AJ, Silva GA, Marques FD, et al. The novel

mas agonist, cgen-856s, attenuates isoproterenol-induced cardiac remodeling and myocardial

infarction injury in rats. PloS One. 2013;8(3):e57757.

Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da diretriz brasileira de insuficiência

cardíaca crônica 2012 [cited 2014 Fev 15]. Available from:

http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2012/Diretriz%20IC%20Cr%C3%B4nica.pdf.

Schwarz K, Siddiqi N, Singh S, Neil CJ, Dawson DK, Frenneaux MP. The breathing heart -

mitochondrial respiratory chain dysfunction in cardiac disease. International Journal of

Cardiology. 2014;171(2):134-43.

Seitz HK, Matsuzaki S, Yokoyama A, Homann N, Vakevainen S, Wang XD. Alcohol and

Cancer. Alcoholism, Clinical and Experimental Research. 2001;25(5 Suppl ISBRA):137S-

43S.

Solito R, Corti F, Chen CH, Mochly-Rosen D, Giachetti A, Ziche M, et al. Mitochondrial

aldehyde dehydrogenase-2 activation prevents beta-amyloid-induced endothelial cell

dysfunction and restores angiogenesis. Journal of Cell Science. 2013;126(Pt 9):1952-61.

Sun L, Ferreira JC, Mochly-Rosen D. Aldh2 activator inhibits increased myocardial infarction

injury by nitroglycerin tolerance. Science Translational Medicine. 2011;3(107):107ra11.

Tahara EB, Navarete FD, Kowaltowski AJ. Tissue-, substrate-, and site-specific

characteristics of mitochondrial reactive oxygen species generation. Free Radical Biology &

Medicine. 2009;46(9):1283-97.

Tahir M, Sultana S. Chrysin modulates ethanol metabolism in wistar rats: A promising role

against organ toxicities. Alcohol and Alcoholism. 2011;46(4):383-92.

Takagi S, Iwai N, Yamauchi R, Kojima S, Yasuno S, Baba T, et al. Aldehyde dehydrogenase

2 gene is a risk factor for myocardial infarction in japanese men. Hypertension research :

Official Journal of the Japanese Society of Hypertension. 2002;25(5):677-81.

Tanaka H. Advances in cancer epidemiology in japan. International journal of cancer Journal

International du Cancer. 2014;134(4):747-54.

Tang WR, Yu CY, Yeh SJ. Fatigue and its related factors in patients with chronic heart

failure. Journal of Clinical Nursing. 2010;19(1-2):69-78.

Tsutsui H, Kinugawa S, Matsushima S. Oxidative stress and heart failure. American Journal

of Physiology Heart and Circulatory Physiology. 2011;301(6):H2181-90.

Ventura-Clapier R, Garnier A, Veksler V, Joubert F. Bioenergetics of the Failing Heart.

Biochimica et Biophysica Acta. 2011;1813(7):1360-72.

Page 88: kátia maria sampaio gomes participação da enzima aldeído ...

87

Wang B, Wang J, Zhou S, Tan S, He X, Yang Z, et al. The association of mitochondrial

aldehyde dehydrogenase gene (aldh2) polymorphism with susceptibility to late-onset

alzheimer's disease in chinese. Journal of the Neurological Sciences. 2008;268(1-2):172-5.

Whittaker P, Kloner RA, Boughner DR, Pickering JG. Quantitative assessment of myocardial

collagen with picrosirius red staining and circularly polarized light. Basic Research in

Cardiology. 1994;89(5):397-410.

World Health Organization. Cardiovascular diseases prevention and control missed

opportunities: [cited 2014 Fev 15]. Avaliable from:

http://www.who.int/cardiovascular_diseases/prevention_control/en/.

Xu F, Chen Y, Lv R, Zhang H, Tian H, Bian Y, et al. Aldh2 genetic polymorphism and the

risk of type ii diabetes mellitus in cad patients. Hypertension Research : Official Journal of

the Japanese Society of Hypertension. 2010;33(1):49-55.

Yang Y, Sharma R, Sharma A, Awasthi S, Awasthi YC. Lipid peroxidation and cell cycle

signaling: 4-hydroxynonenal, a key molecule in stress mediated signaling. Acta Biochimica

Polonica. 2003;50(2):319-36.

Zhang B, Zhang Y, La Cour KH, Richmond KL, Wang XM, Ren J. Mitochondrial aldehyde

dehydrogenase obliterates endoplasmic reticulum stress-induced cardiac contractile

dysfunction via correction of autophagy. Biochimica et Biophysica Acta. 2013;1832(4):574-

84.

Zhang Y, Babcock SA, Hu N, Maris JR, Wang H, Ren J. Mitochondrial aldehyde

dehydrogenase (aldh2) protects against streptozotocin-induced diabetic cardiomyopathy: Role

of gsk3beta and mitochondrial function. BMC Medicine. 2012;10:40.