Karapaça

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Fanzine lançada pela república dos Kágados de Coimbra, Portugal.

Transcript of Karapaça

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

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A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

p.11 receitaveganaCRSTP

p.6 receitaos conselhosda amiga mariaFLAX

p.21 ensaioP.I.G.S.CRSTP

visual-literárioraízes-dispositivosana_almeida

p.14 poesiaas rosaszé_morcego

p.18 contociclo daimperfeiçãopaulo_lemos

p.32 entrevistabanda freedoompaulo_lemos

p.8 ensaioo free jazz e o expressionismo abstractoinês_silva

p.27 ensaioa alta de coimbra e seus “anfiteatros acidentais”bernardo_carvalho

p.24 ensaioperformance em coimbra - anos 80 mariana_frazão

p.16 ensaioSxEtiago_plácido

índice

p.15 visualo labirintocircularana_almeida

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

cartazesatividades kagadais 2012/2013

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

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receitaos conselhosda amiga mariaFLAX

Na primeira receita dos conselhos da amiga maria vamos abordar a melhor forma para produzir a famosa manteiga de erva ou hash, também conhecida como manteiga de Marrakech, sendo que a mesma é base para qualquer receita que queiras produzir com a finalidade de viajar.

A melhor forma para extrair o THC da planta para uso culinário é através da manteiga, visto o mesmo só se dissolver em gordura, sendo que a partir do momento que temos a manteiga pronta ela pode e deve (ehehe) ser utilizada em todos as receitas que conheces.

SE pretenderes extrair da própria planta:

- 1 tablete de manteiga de 250 g (pode-se utilizar manteiga salgada).- 25g para as cabeças ou 50g para as folhas.

Coloca em uma grande panela: 1 litro de água junto com a manteiga e a cannabis, deixa ferver durante 15 minutos mexendo de vez em quando, cobre e deixa em fogo lento durante mais 15 minutos.

Depois passa o preparado por um coador para retirares as folhas/cabeças (que em seguida poderás aproveitar para outros fins visto que as mesmas ainda contém um pouco de THC) e ficas só com o líquido. Então depois é só esperar que a manteiga solidifique para retirar a água do preparado e assim obter a tão desejada manteiga.

Para a manteiga de hash:

- 1 tablete de manteiga de 250 g (pode-se utilizar manteiga salgada).- 12g de hash.

Para o hash o método mais rápido e fácil é derreter a manteiga acrescentar hash ate que se dissolva completamente e claro deixar arrefercer até voltar ao estado sólido e está pronta a ser utilizada.

Nao te esqueças que irás obter um preparado bastante forte em que a dose por pessoa nao deverá ultrapassar uma colher para qualquer uma das manteigas. E só começará a fazer efeito após aproximadamente 1h30m, por isso nao sejas gulotão.

Para a próxima edição prometo voltar com mais conselhos para utilizar esta dádiva da natu-reza que é a nossa queridíssima Maria.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

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A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

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A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

ingredientes para o seitan (ou satan):

250g de gluten100 ml água 100ml molho de soja1 colher de salespeciarias a gosto (pimentao doce, pimenta preta, orégãos, tomilho, alho em pó...)

Opcionais:50g de pão ralado ou farinha integral 1 cc de fermento em pó (fica mais esponjoso)1 c. de levedura de cerveja100 ml de cerveja ou vinho (no lugar da água)

PRIMEIRO E O MAIS IMORTANTE: PÔR BOA MÚSICA A BOM VOLUME E DEPOIS SE CALHAR DEVEMOS LIMPAR AS MÃOS COM ABUNDANTE SABONETE...

1- Agora só misturar os ingredientes secos numa tigela (Glúten, sal, especierias, femento ...) e por outro lado fazemos o mesmo com os líquidos: água (ou o vinho ou cerveja) mistu-rado com molho de soja.

2- Vertemos o líquido pouco a pouco e vamos amassando até conseguirmos um bolo firme e grudento. Se ficaram muito grandes, podemos dividi-lo e fazer duas bolinhas menores.

3- Numa panela pomos água (é preferível usar caldo de legumes) e adicionamos mais meio copo de molho de soja e pomos a ferver. Se não tivermos caldo ou cubos, podmos faze-lo com cebola a ferver em água, cenoura, algum dente de alho, gengibre ralado, folhas de louro, alga kombu... 4 – Quando já estiver a ferver, incorporamos as bolas de 4 –

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receitaseitana (vegan)CRSTP

Receitas veganas cheias de estilo!

Muitas vezes encontramo-mos nessa situação fodida de que um vegano (ou mais, pois sempre vão em grupo) aparece em nossa casa à horas de jantar sem sequer avisar e quer comer alguma coisa, mas um por um vai recusando tudo o que oferecemos... Vamos mostrar como preparar o seitan e depois vamos ver uma ideia de como cozinhá-lo para assim, quando nos encontrarmos nessa situação outra vez possamos resolve-la.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

4 – Quando já estiver a ferver, incorporamos as bolas de seitan na panela. De vez em quando, vai ser preciso mexer, especialmente no caso de ter mais de uma bola, para que não se cole no fundo da panela, Tapamos, deixamos ferver em fogo-alto durante uns bons 40-60 min (vai depender do tamanho das bolas).

5 – Quando o seitan já estiver pronto, tiramo-lo da panela e deixamo-lo esfriar. Reserva-mos o caldo, pois serve tanto para conservar o seitan como para fazer sopas ou arroz. O seitan pode estar até uma semana no frigorífico.

"Prego" de seitan no pão (ou Seitana)

Agora vamos ver como preparar umas seitanas cheias de estilo como as que já estivemos a oferecer durante as matinés kagadais do mês de Abril e que tanto succeso causaram.

Ingredientes:Pão250 g. seitan2 cebolas100ml molho de soja100ml cerveja

Cebola caramelizada:

1- Cortamos a cebola em rodelas, e pomo-la numa fritadeira com azeite.2- Adicionamos açucar amarelo e mexemos.3- Depois adicionamos o vinho branco. 4- Deixamos reduzir e esperamos até que esteja pronta e a reservamos num prato.

Seitanas:

1 – Cortar o seitan às fatias (dos 250g de glúten vão sair mais ou menos umas 14 seitanas)e temperar com o molho de soja, alho, sumo de limão, sal e pimenta. Envolver bem e deixar marinar pelo menos uns 15 minutos.

2 – Pôr azeite numa fritadeira, dourar o seitan de ambos os lados sem deixar torrar muito, pois se o fizermos vai ficar duro.

3- Quando o seitan estiver práticamente no ponto, adicionamos a cerveja e o molho de soja na fritadeira e deixamos reduzir.

Agora só falta abrir o pão e pôr, primeiro abundante cebola caramelizada, e depois uma (ou duas) seitanas e dar uma boa trinca. bom proveito!

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vinho brancosumo de limãosalazeite açúcar

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

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poesiaas rosaszé_morcego

Os poemas são como as rosas. Abrem em recordação o nascimento da palavra Poeta.

Brotam recordação, sentimento, angústia, revolta, justiça, paz, amor, carinho e saudade.

Voos em bebedeiras de ozono na tentativa de te pintar.

Sim, tu! Que passas por mim e não me falas.Sim, tu! Que nunca se pode contar contigo.Sim, tu! Que te ris de mim de eu não saber rir, falso como tu.Sim, tu! Que falas de mim, sem me conhe-cer.

Sim, tu! Que me acusas, sem eu te ter feito mal.Sim, tu! Que temes a verdade, e não conse-gues encontrar a paz.Sim, tu! Que te promoves a ti próprio.Sim, tu! Que construíste a tua própria estátua.

Sim, tu! Que não me deixas, construir a minha mensagem.Sim, tu! Que te deixas levar, por vícios, que te enfraquecem.Sim, tu! Que não consegues, decifrar a tua mensagem humana.Sim, tu! Que tens o poder e ficaste pela vaidade e extravagancia justificada.Sim, tu! Que pões os outros a pedir e alimentas-te deles.

Sim, tu! Que tens tudo para ter tudo e nada tens.Sim, tu! Que só pensas no teu bem-estar e não o encontras.Sim, tu! Que me desejas um bom Natal, a pensares no teu conforto.Sim, tu! Que nunca conheceste as trevas, nem te viste pintado de preto.Volto ao palácio em voo rasteiro, em direc-ção à minha gruta, gotejando a seiva de mal conseguir dizer liberdade.

Morcego J A.2007

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

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ensaioSxEtiago_plácido

Boas pessoal, venho aqui dar a minha pequena contribuição ao pessoal da zine, falar um pouco sobre straight edge. Para quem não sabe, de uma forma muita rápida, o straight edge é uma forma de desenvolvimento pessoal em prol da vida e do bem-estar do corpo, defendendo a abstinência do mesmo a vícios e drogas. Tenho 24 anos e durante toda a minha vida nunca senti necessidade de usar drogas. Sincera-mente nunca entendi muito bem: muitas pessoas dizem que usam drogas para se divertir. Sempre me diverti como qual-quer pessoa e não é a droga que vai aumentar a diversão, aliás, muitas vezes é a droga que acaba com essas diver-sões. Penso que não seja necessário estar aqui com discursos moralistas acerca dos perigos do uso de drogas, toda a gente sabe isso. A parte interes-sante do movimento straight edge é que ele não consiste numa proibição ou em algo forçado, claro. Trata-se de uma escolha pessoal. Ninguém deve ser forçado a nada, toda a gente deve ter liberdade de escolher o seu caminho. Eu escolhi este porque é assim que me sinto bem, não me imagino a beber até cair de podre ou com uma ressaca enorme! Não tenho dúvidas que este modo de vida só tem aspetos positivos, agora é importante sensibilizar os nossos amigos para este estilo positivo de vida. Já pararam para pensar o quanto as drogas nos aprisionam?

Eu nem vou falar de cenas pesadas mas, por exemplo, um cigarro. Estamos num restaurante a meio da refeição, levantar e ter de ir lá fora fumar um cigarro? Isto é um exemplo completamente simples para pararmos e pensarmos um pouco. Queremos ser tão livres e ter a suposta rebeldia e "liberdade" de consumir drogas que não nos apercebemos de que elas nos aprisionam sem darmos conta. Como este, há mil exemplos que aposto que conseguem lembrar-se já de seguida. O modo como eu comecei foi muito simples, quando era miúdo o álcool e as ditas "drogas" nunca me atra-íram e então nunca consumi, comecei a frequentar concertos de HC/Punk e o pessoal mais velho começou a perguntar-me se era straight e eu nem fazia ideia do que era isso. Pesquisei um pouco a coisa e, passado uma porrada de anos, continua a fazer todo o sentido para mim. A parte mais importante disto tudo é ressalvar o quão positivo é o movimento straight edge e o bem que pode trazer para a vossa vida. Se vos fiz pensar nisso, nem que seja por um segundo, já valeu a pena!

Queria agradecer aos Kágados pela incessante contribuição na cultura!Um abraço!

"Beber e fumar, tomar drogas e foder - Há coisas mais importantes que tu podes fazer" X-Acto - X-Acto.

IEncostado a um balcão, com a mais pesada das penúrias e lamenta-ções, ergui e bebi um copo pois é esta a minha redenção (o bar é o meu confessionário e o alcóol o meu confidente). Aqui, todos os meus pecados são absolvidos atra-vés do whisky e as minhas culpas expiadas pela embriaguez.A alteração do meu estado de espí-rito, de um modo mais sóbrio para outro, é a realidade que me é mais dócil (e acima de tudo natural). Estar absorvido numa apatia emer-gente refundida num pânico que nunca é demonstrado, e muito menos confidenciado, faz com que este comportamento seja a minha catárse pessoal.Tal como pensas, a solução que me é mais óbvia não poderá exorcizar de todo os demónios que me inva-dem. Sou um agarrado e possuo um vício. E tal como todos os vícios, a minha energia é-me tomada de uma forma impiedosa e sem mise-ricórdia por todos aqueles os que me rodeiam.A apatia e a indulgência já tomaram a totalidade do meu ser e a felicida-de que outrora existiu em mim.

IIConversando comigo mesmo e com a minha Solidão (foi sempre a minha companheira e nunca me abandonou... nem mesmo nos mais árduos tempos), sei que posso contar com esta para a altura turbulenta que vivo:- E agora, que faço?- O caminho certo será o retorno para reparar tais erros que come-teste - respondeu-me de forma calma.- Mas tal não é possível...- Sim, tens razão, mas contigo tenho o defeito da sinceridade.- E serás verdadeira comigo até ao fim dos meus dias?- Sempre.E por mais estranho que tal pudes-se parecer, esta conversa com a Solidão levantou um pouco do meu ânimo, tendo-se esboçado um leve sorriso no meu enrugado rosto.

IIIEra esta uma noite longínqua que parecia não ter fim. As ruas esta-vam desertas e a única iluminação da rua onde caminho provém dos poucos candeeiros que iluminam uma deserta rua. Ao chegar ao fim desta, observei a liberdade da minha amada, a Penúria. Perante a leveza do som da música que per-corria os silenciosos e harmoniosos

becos desta cidade, pensei:-Como é possível não ser-se livre ao som desta melodia?

IVDe facto, a Penúria em tudo emana-va uma enorme paz de espírito. E quando tal acontece, ou estamos perante alguém que nos completa, ou perante alguém que te irá des-truir. Os extremos opostos são a melhor qualidade que definem este género de perfeição que entra na tua vida. E de rompante tal terá de acontecer; de forma natural e nunca (mas nunca) poderás esperar esse encontro... Ou antecipá-lo ou forçá-lo. Perder-se-á assim o encanto... Pois quando prevês crias figuras e isso destruirá toda e qual-quer magia da realidade existente.

VE é assim... Este é o meu o maior pecado, que nunca poderá ser con-fessado nem ao meu maior confi-dente. Como dizem os antigos, e tal como um mau alfaiate, simplesmen-te não soube tirar medidas. Toda a minha energia foi absorvida na plenitude.

VIDancemos então e liberte-mo-nos dos demónios que regem os teus sentimentos, as aspirações e o mais íntimo do teu ser – sussurou-me a Sedução.

Mas eu sabia que estas eram falsas promessas e meras vis traições... Mas mesmo assim continuou: “Façamos a festa, festa esta que dançaremos ao som dos risos do povo e aquecermos-emos ao aproximarmo-nos das chamas que nos preenchem”. E assim foi-me seduzindo, deixando-me levar pela sua maliciosa oratória e pelo seu poder de encantar através da fala.

VIICada vez mais fui-me aproximando da falésia, do abismo e da grande queda... Nada me levou à derradeira felicidade mas sim a uma brutal queda vertiginosa sem regresso.

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contociclo da imperfeiçãopaulo_lemos

becos desta cidade, pensei:-Como é possível não ser-se livre ao som desta melodia?

IVDe facto, a Penúria em tudo emana-va uma enorme paz de espírito. E quando tal acontece, ou estamos perante alguém que nos completa, ou perante alguém que te irá des-truir. Os extremos opostos são a melhor qualidade que definem este género de perfeição que entra na tua vida. E de rompante tal terá de acontecer; de forma natural e nunca (mas nunca) poderás esperar esse encontro... Ou antecipá-lo ou forçá-lo. Perder-se-á assim o encanto... Pois quando prevês crias figuras e isso destruirá toda e qual-quer magia da realidade existente.

VE é assim... Este é o meu o maior pecado, que nunca poderá ser con-fessado nem ao meu maior confi-dente. Como dizem os antigos, e tal como um mau alfaiate, simplesmen-te não soube tirar medidas. Toda a minha energia foi absorvida na plenitude.

VIDancemos então e liberte-mo-nos dos demónios que regem os teus sentimentos, as aspirações e o mais íntimo do teu ser – sussurou-me a Sedução.

Mas eu sabia que estas eram falsas promessas e meras vis traições... Mas mesmo assim continuou: “Façamos a festa, festa esta que dançaremos ao som dos risos do povo e aquecermos-emos ao aproximarmo-nos das chamas que nos preenchem”. E assim foi-me seduzindo, deixando-me levar pela sua maliciosa oratória e pelo seu poder de encantar através da fala.

VIICada vez mais fui-me aproximando da falésia, do abismo e da grande queda... Nada me levou à derradeira felicidade mas sim a uma brutal queda vertiginosa sem regresso.

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Pensar que o estado natural das sociedades, com frequência estabelecidas em estados ou estados-nação, é meramente composta pela população étnica e culturalmente autóctone é simples ficção. O fenómeno da migração é algo que nos caracteriza e que sempre existiu durante toda a história da humanidade; tentar isolá-lo pensando que se trata de algo que só toma lugar na actua-lidade (seja no contexto de mundialização, ou de crise económica, entre outros) é ter, não uma, mas duas vendas nos olhos. Nas sociedades contemporâneas concebe-se a heterogeneidade como algo disfuncional embora haja quem entenda a questão da homogeneidade como estado natural quando, na realidade, ser estrangeiro é mais uma forma de interacção social.

É preciso, por um lado, ter noção que todo este fenómeno é muito complexo e, com frequência, erra-se ao assumir que um só se encontra integrado pelas pessoas migrantes uma vez estabelecido no lugar de destino. É necessário ter-se em conta que neste processo intervêm as ideias, os preconcei-tos, as convicções e os envolvimentos políti-cos e sociais... E faz falta saber ver que os efeitos da migração também comportam consequências aos lugares de origem das pessoas migrantes e não só aos países receptores, como muitos insistem em fazer-nos crer. Esta visão particular, que infelizmente ocorre muitas vezes, mutila as raízes e os ramos que na verdade são o mesmo fenómeno, e assim as separa numa falsa dicotomia que só serve para dar conti-nuidade à ma interpretação da migração.

Parece de fácil compreensão que para definir qualquer coisa é primeiro preciso descortinar o seu significado e, portanto,

uma definição não será adequada ao definirmo-la por aquilo que não é. Assim, da mesma maneira que nos riríamos de alguém que definisse uma mesa dando dizendo que esta é um “não carro”, é igual-mente importante apontar que não podemos definir o eu, ou o autóctono, mediante a negação do outro, neste caso do estrangei-ro. Contudo, se tomamos como certo que todos somos diferentes e que existimos por diferenciação dos outros, isto não deverá implicar oposição nenhuma. Podemos falar do conceito de alterização quando toma lugar no momento de se relacionar duas heterogeneidades, é dizer relacionamentos entre pessoas de origem cultural diferente.

Migrar não é só cruzar fronteiras mares ou oceanos, senão que sempre que não tenha sido uma migração forçada (isto quer dizer que se tenha produzido por impulsos deses-perados ou esperançados) a destruição do próprio mundo e que isto pode supor, ou uma nova reformulação cultural, ou uma perda ou desorientação.

É preciso saber diferenciar as situações de estrangeirismo com as quais um indivíduo se pode deparar: de um lado há o estrangei-ro a quem o estado não lhe reconhece a cidadania por motivos jurídicos, como o caso de ser alguém que ali não nasceu, nem se encontra casado e tão pouco teve filhos no país de destino. O outro é aquele indiví-duo, ou colectivo, que ainda que tenha a nacionalidade jurídica não compartilha a os mesmos costumes, o modo de vida da cultu-ra dominante. Um exemplo de um estrangei-ro jurídico poderia ser alguém extracomuni-tário (da UE) que entrou no país de destino à margem da lei estatal; no estado espanhol existem muitos exemplos como a realidade marroquina ou pessoas provenientes do Saara Ocidental ou Senegaleses.

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ensaioP.I.G.S.CRSTP

Um estrangeiro, socialmente falando, poderá ser um cigano que, embora possa ter nascido aqui, não “compartilha” a normali-zação cultural, linguística com o resto da sociedade e portanto existirá um forte distanciamento devido ao facto de não se encontrar integrado entre a população homogeneizada.

Assim, embora a posição social da popula-ção seja a de não identificação com ideias xenófobas, continuam a existir tendências para a estratificação dos imigrantes segun-do os lugares de proveniência. Deste modo, se o país de origem tiver um PIB maior do que o do país de destino, é que o indivíduo será, ou não, bem-vindo; basta olharmos para a relação entre as migrações e a crise económica para nos apercebermos disto.

Refiro-me justamente, mas não só, sobretu-do aos países do sul de Europa: Portugal, Itália, Grécia e Espanha e à relação do seu crescente endividamento e ao alto deficit público. Faço também notar que curiosa-mente a primeira letra destes 4 países forma o acrónimo P.I.G.S. (porcos) e que o mesmo é utilizado de forma depreciativa pelos meios de comunicação de língua inglesa e tal só nos demonstra, uma vez mais, os seus verdadeiros interesses. E de se utilizar um comportamento tão ruim a hora de tratar aos que chegam de outros países, sendo também aqui mais pobres que em outros países (mas não só por isso), tal comporta-mento também vai-se virar ao contrário quando sejamos nós os que tenhamos que migrar, e não podemos viver obviando e esquecendo que também nós fomos, somos e seremos emigrantes também.

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“PERFORMANCE > É A CAPTAÇÃO DE UM GESTO LIMITE PRETENSAMENTE SUBLIME. UMA AURA NO CONTORNO INTERIOR, QUE RESISTA AO RIDÍCULO; À MÁSCARA QUE BUSCA A 'PERSONA': A IDENTIDADE - SEM POETAR A SUA CONDIÇÃO”- António Barros –

Os anos 80, em Portugal, foram marcados por uma nova conjuntura cultural. Esta foi possível, apenas, após a rutura democrática do 25 de Abril de 1974, altura em que se deu o aparecimento de uma nova vaga de criadores e agentes culturais. Ao nível das artes plásticas, a década de 80, reuniu um conjunto de artistas, de diferentes gerações. As práticas artísticas vinham no seguimento do que se havia passado na década anterior, de um Pós--Conceptualismo. A década de 70 teve um papel muito impor-tante na experimentação e promoção de novas atitudes estéticas, foi fundamental no alerta de uma comunidade para o atraso cultural que se fazia sentir nas instituições em geral.

Os primeiros animadores e protagonistas destas novas experiências artísticas foram os estudantes, alguns elementos do corpo docente e cidadãos vindos de certas agre-miações (círculos intelectuais estritos). Estiveram envolvidos neste universo Ernes-to Sousa, Alberto Carneiro, António Barros, Helena Almeida, Ângelo de Sousa, António Palolo, Álvaro Lapa, Julião Sarmento, Fernando Calhau, Joana Rosa, José Conduto, José de Carvalho, Ana Hatherly, E. M. de

Melo e Castro, António Aragão, Alberto Pimemta e Silvestre Pestana, João Dixo, Rui Órfão, Teresa Loff, Túlia Saldanha entre outros. A nivel internacional artistas como James Coleman, Nigel Rolfe, Julian Maynard Smith, Stathion House Opera, Peter Trachsel, Ernst Thoma, The Base-ment Group, Erna Nijman, Alistar MacLen-nan, Plassum Harel, Frank Na, Dominique Labaume, Gzregorz Sztabinski, Mineo Aayamaguchi...

Estas experiências eram entendidas como necessárias ao serviço da educação e da sociabilidade gerais (reação a uma certa alienação das artes e dos públicos). Surgiram diversos artistas com novos discursos no que diz respeito às questões da dinâmica corporal e à abordagem espacio-temporal, mostrando que estavam de facto a viver num paradigma diferente.

Coimbra era um foco importante do meio artístico-cultural português e teve um papel fundamental no aparecimento e desenvolvimento do happening e da performance em território nacional.Cidade desde sempre extremamente conservadora revelava a importância na formação não só de novos artistas como de novos públicos.Os projectos culturais inovadores que tiveram lugar nesta época eram marcados pelo experimentalismo, pela aventura em territórios desconhecidos ou ainda pouco explorados que acabaram por se tornar, de certa forma, imagem de marca desta gera-ção.

Aqui, o CAPC (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra) teve um papel fundamental, tal como o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra).Os diferentes grupos (mesmo em activida-des distintas), trabalhavam muitas vezes em projectos comuns, numa espécie de intercâmbio artístico e criador, onde

acabaram por disfrutar de aprendizagens recíprocas, onde o sentido de comunidade e partilha de experiências constituía um princí-pio e um modo de actuação. Coimbra era considerada como cidade capital das artes performativas em Portugal.

O Happening e a Performance ganharam espe-cialmente força nos anos 60, iniciados com os Gallots, as acções de Vostell em Paris e atingem um ponto fulminante com o Maio de 1968. Conjeturava-se um tempo de luta pelos direitos civis, um tempo de reivindicações do poder negro, insurreições de estudantes e a crise académica de 1969 em Coimbra, onde o CITAC tão bem se contextualizava.

Nesta altura surgem também acções como a de Yves Klein, em França, estabelecendo uma nova realidade em que a arte não está nos objectos mas sim nos actos.

O Happening e a performance surgem como uma nova linguagem de reacção face a uma civilização puritana, tendo como objetivo denunciar o caracter ditatorial e absolutista da arte anterior, fazendo com que o público, acomodado, se desprendesse das amarras do convencional.

ensaioperformance em Coimbra - anos 80mariana_frazão

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“PERFORMANCE > É A CAPTAÇÃO DE UM GESTO LIMITE PRETENSAMENTE SUBLIME. UMA AURA NO CONTORNO INTERIOR, QUE RESISTA AO RIDÍCULO; À MÁSCARA QUE BUSCA A 'PERSONA': A IDENTIDADE - SEM POETAR A SUA CONDIÇÃO”- António Barros –

Os anos 80, em Portugal, foram marcados por uma nova conjuntura cultural. Esta foi possível, apenas, após a rutura democrática do 25 de Abril de 1974, altura em que se deu o aparecimento de uma nova vaga de criadores e agentes culturais. Ao nível das artes plásticas, a década de 80, reuniu um conjunto de artistas, de diferentes gerações. As práticas artísticas vinham no seguimento do que se havia passado na década anterior, de um Pós--Conceptualismo. A década de 70 teve um papel muito impor-tante na experimentação e promoção de novas atitudes estéticas, foi fundamental no alerta de uma comunidade para o atraso cultural que se fazia sentir nas instituições em geral.

Os primeiros animadores e protagonistas destas novas experiências artísticas foram os estudantes, alguns elementos do corpo docente e cidadãos vindos de certas agre-miações (círculos intelectuais estritos). Estiveram envolvidos neste universo Ernes-to Sousa, Alberto Carneiro, António Barros, Helena Almeida, Ângelo de Sousa, António Palolo, Álvaro Lapa, Julião Sarmento, Fernando Calhau, Joana Rosa, José Conduto, José de Carvalho, Ana Hatherly, E. M. de

Melo e Castro, António Aragão, Alberto Pimemta e Silvestre Pestana, João Dixo, Rui Órfão, Teresa Loff, Túlia Saldanha entre outros. A nivel internacional artistas como James Coleman, Nigel Rolfe, Julian Maynard Smith, Stathion House Opera, Peter Trachsel, Ernst Thoma, The Base-ment Group, Erna Nijman, Alistar MacLen-nan, Plassum Harel, Frank Na, Dominique Labaume, Gzregorz Sztabinski, Mineo Aayamaguchi...

Estas experiências eram entendidas como necessárias ao serviço da educação e da sociabilidade gerais (reação a uma certa alienação das artes e dos públicos). Surgiram diversos artistas com novos discursos no que diz respeito às questões da dinâmica corporal e à abordagem espacio-temporal, mostrando que estavam de facto a viver num paradigma diferente.

Coimbra era um foco importante do meio artístico-cultural português e teve um papel fundamental no aparecimento e desenvolvimento do happening e da performance em território nacional.Cidade desde sempre extremamente conservadora revelava a importância na formação não só de novos artistas como de novos públicos.Os projectos culturais inovadores que tiveram lugar nesta época eram marcados pelo experimentalismo, pela aventura em territórios desconhecidos ou ainda pouco explorados que acabaram por se tornar, de certa forma, imagem de marca desta gera-ção.

Aqui, o CAPC (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra) teve um papel fundamental, tal como o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra).Os diferentes grupos (mesmo em activida-des distintas), trabalhavam muitas vezes em projectos comuns, numa espécie de intercâmbio artístico e criador, onde

acabaram por disfrutar de aprendizagens recíprocas, onde o sentido de comunidade e partilha de experiências constituía um princí-pio e um modo de actuação. Coimbra era considerada como cidade capital das artes performativas em Portugal.

O Happening e a Performance ganharam espe-cialmente força nos anos 60, iniciados com os Gallots, as acções de Vostell em Paris e atingem um ponto fulminante com o Maio de 1968. Conjeturava-se um tempo de luta pelos direitos civis, um tempo de reivindicações do poder negro, insurreições de estudantes e a crise académica de 1969 em Coimbra, onde o CITAC tão bem se contextualizava.

Nesta altura surgem também acções como a de Yves Klein, em França, estabelecendo uma nova realidade em que a arte não está nos objectos mas sim nos actos.

O Happening e a performance surgem como uma nova linguagem de reacção face a uma civilização puritana, tendo como objetivo denunciar o caracter ditatorial e absolutista da arte anterior, fazendo com que o público, acomodado, se desprendesse das amarras do convencional.

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ensaioa alta de Coimbra eseus “anfiteatrosacidentais”bernardo_carvalho

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A alta de Coimbra é, sem dúvida, uma das regiões mais vivas da cidade. Seja devido a vida uni-versitária, ou simplesmente ao cotidiano de seus habitantes, este espaço labiríntico abriga diver-sos trajetos durante o dia e a noite, realizado por estudantes, moradores, trabalhadores, turis-tas, boêmios ou quem mais pos-suir por ali motivos que levem a trafegar por suas íngremes ruelas. Está implantada numa topografia que permite infinitas interpretações de caminhos, cuja escolha é determinada pelas múltiplas necessidades de quem os usa, e o fiel da balança pode ser o tempo que se tem para chegar a um sítio ou até mesmo as condições físicas de quem vai realizar a caminhada. O mais rápido pode ser também o mais doloroso, árduo, enquanto transi-tar pelas ruas de menor declivi-dade tomam mais tempo, apesar de mais confortável.

Na altura em que foi ocupada, a alta claramente não dispunha de meios burocráticos de urba-nização* que definissem o modo que as construções iriam operar, muito menos previa que por ali um dia passariam auto-móveis e veículos mais pesados. Sendo assim, tem-se uma con-figuração urbanística bastante orgânica, cuja altimetria é arti-culada por ruelas, rampas, arcos, escadarias de pedra e largos. Estes últimos são perfei-tos sítios onde não cabe uma definição de público ou privado e sim algo próximo do que o arquiteto holandês Herman Hertzberger chama de “interva-lo” no primeiro capítulo de seu livro Lições de Arquitetura (Editora Uitgeverji 010, 1991). Essas zonas intersticiais conju-gadas com as escadarias e as paredes das casas, geram ver-dadeiros “anfiteatros aciden-tais”, no sentido em que se per-cebe ali um sítio propício ao “es-petáculo”, onde é possível coe-xistir um público e um palco (ou uma tela).

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Coimbra, nesse sentido, é uma cidade que possui zonas convi-dativas a essas práticas e ao mesmo tempo é habitada por indivíduos interessantes e inte-ressados em se manifestar dessa maneira. Uma delas, e não por acaso a que salta mais aos olhos no momento, é integrando os ciclos de cinema, constantemen-te realizados por algumas das tradicionais repúblicas de estu-dantes da alta. Essa ação consis-te em dar a esses “anfiteatros aci-dentais” a possibilidade de serem utilizados para projeções de cinema engrendadas pelos repú-blicos, que pode atrair, acidental-mente ou não, determinados per-sonagens que dificilmente parti-cipariam dessas exibições caso elas fossem no ambiente interno das repúblicas.

Um outro aspecto importante de se abordar é a questão das articulações necessárias em prol da logística. Pois se uma república decide realizar uma exibição de filmes em um deter-minado sítio externo, é interes-sante e talvez fundamental que nesse lugar existam fichas onde se possa conectar os equipa-mentos. Isso tudo possivelmen-te demandaria um diálogo entre aqueles que querem exibir e as pessoas que possam viabilizar isso, que no caso são: morado-res, comerciantes e até mesmo outras repúblicas, além daque-les sítios que são de proprieda-de da Universidade de Coimbra. Essa abundância de opções é importante para que os grupos exibidores tenham alternativas após testar um determinado local, pois é interessante que seja observado se a projeção estava nítida, ou se os partici-pantes se agruparam de uma maneira que todos pudessem enxergar bem, além de possí-veis incômodos que o evento possa causar nas proximidades.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

Para esclarecer melhor a dinâmi-ca dessas atividades de projeção tomemos como exemplo ações similares já desenvolvidas em outros países. Em Berlim, na Ale-manha, o grupo “A Wall is a Screen” trabalha com projeções de filmes em sítios cuja vida noturna é pouca ou não existe, mesmo que de dia esses espaços estejam cheios de pessoas. O aspecto inóspito e inseguro dessas regiões de Berlim dão lugar às atividades desenvolvi-das pelo grupo, que se preocupa também em projetar preferen-cialmente produções locais, mas também abre espaço para que estudantes de cinema de outras partes do mundo estejam repre-sentados por seus filmes. É inte-ressante ressaltar o que conteúdo do filme e boa parte dos aspectos de sua concepção se relacionem com este modo de exibí-los, a rua é espaço de discussão, de embate de ideias, ver um filme ao ar livre na cidade é extremamente anta-gónico a estar numa sala de cinema dos grandes shopping centers.

Essa constraposição de situa-ções fica muito explicita numa experiência realizada em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, da qual fiz parte. Os estudantes do curso de Arquitetura e Urba-nismo da UFMG, Bernardo Car-valho (eu) e Thiago Flores, jun-tamente com o cineclube CinEA, realizaram algo similar ao que o grupo berlinense citado anteriormente faz. O grupo escolheu uma área da cidade que achavam interes-sante para se exibir uma série de curtas produzidos no Brasil por realizadores independen-tes, alguns deles de Belo Hori-zonte. Depois de escolher o local (uma pequena praça com um muro que dava pra uma linha ferroviária), articularam com o dono de um bar que havia nas proximidades para que ele pudesse ceder a ficha de energia que iria viabilizar a exibição. Durante a projeção dos filmes muitas pessoas não ficaram sentadas, ou caladas, não havia necessidade, não era

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A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

cinema. Haviam frequentadores do bar que cedeu a energia (Bar do Orlando) que ora olhavam pra o que acontecia, ora voltavam para suas atividades, enfim, o que estava em questão no fim das contas não era se os filmes exibi-dos eram bons ou não, era sim-plesmente o fato de que a situa-ção pode ter ocasionado reflexões sobre aquele e outros locais públi-cos da cidade que precisam ser relidos.

Portanto é uma questão das pes-soas se movimentarem, arruma-rem equipamento, escolherem os filmes, fazer a divulgação e final-mente exibirem as obras. Além disso, o trabalho académico citado anteriormente possui como subproduto uma cartilha explicativa de como as exibições foram montadas, lista, preço dos equipamentos e ideias de apro-priação de espaços.

*Com exceção do plano feito durante o Estado Novo na década de 40 na parte universitária da Alta.

QR CODE para o vídeo da exibição de Santa Teresa. Vimeo

QR CODE para a cartilha de montagem de uma exibição.Google Docs

QR CODE para o site do grupo “A Wall is a Screen”(em inglês).

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A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

etrevistabanda freedoompaulo_lemos

15/02/2004

Qual é a formação actual da banda neste momento?Rui: Sven Johnson-Voz, Oscardoom--Guitarra, Giro-Bateria , Ruidoom-Baixo.

Como é a cena aí no Porto? O facto de se intitularem como a “Única Banda Punk do Porto” ajudou-vos a ganhar algum crédito (na cena) ou isso acabou por chatear algu-mas pessoas?Giró: Crédito ganhamos pelo nosso traba-lho como banda e como indivíduos na cena punk desta zona...quanto ao resto não sei se chateou alguém ou não mas, since-ramente, tou-me a cagar...

E relativamente ao movimento em geral? Acham que existem mais pessoas a aderi-rem ao punk rock em Portugal?Giró: Não sei, já me perguntaram isso tantas vezes...Talvez, mas não tanto como deviam, mas quem sou eu para pregar...Rui: Acho que sim, tenho visto algumas caras novas nos concertos a que tenho ido por ai, se bem que acho que mais impor-tante que a quantidade, é a atitude do pessoal que se envolve na cena.

Qual foi o vosso concerto até à data com mais “feeling”?Giró: Todos os concertos têm o seu feeling. Se calhar o de Mangualde ou um dos do Barco Gandufe...digam-me vocês...Rui: Para mim foi o 1º que demos no barco, em Setembro de 2002.

Acham que o facto de terem a Freedoom Distro vos ajudou para uma maior divulga-ção do vosso CD?Giró: Pode ter ajudado por ser mais uma distro a "despachar" o disco, mas não pelo nome...Rui: A função principal da distro em relação ao CD foi “despacha-lo” mais para outros países através de trocas (cerca de um terço das copias editadas) do que cá em Portugal onde a divulgação foi feita basicamente pela venda directa e publici-dade boca a boca. Sobre o nome da distro a responsabilidade é minha e apesar de me parecer boa ideia no início, compreendo agora que não foi.

Se surgisse a oportunidade viriam tocar cá às Ilhas?Giró: Isso era algo que não pensava 2 vezes, arranja-nos viagens que seguimos para ai com uns dias de ferias.Ha ha ha...Rui: O ideal até era organizares uma tournée pelo arquipélago, uma vez que são várias ilhas. Falando a sério, não tenhas dúvidas que havendo condições partimos logo que seja possível!

Quais são os planos de Freedoom para o futuro?Giró: Álcool, drogas e CIRCO PORCO.Rui: ”If you want a vision of the future, imagine a boot stampin on a human face forever”.

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O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

Homenagem aoXLI Centenário da

República Rosa Luxemburgo

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

maio_2013_1ª edição

[email protected]

A Arte Como Processo

O Jazz não se identifica minimamente com as estéticas idealistas que comandam, nas sociedades capitalistas, a música e a arte. Histórica e culturalmente produzido segun-do forças diferentes, segundo outras neces-sidades, outras axiais, não faz parte da história da arte ocidental. Sendo um facto que a burguesia capitalista sempre tem pensado as suas artes como a única arte, referência e modelo, padrão de avaliação de todas as outras, o Jazz produzido pela Amé-rica Negra é visto como uma arte inferior. Contudo, sendo a arte um veículo de comu-nicação intercultural, onde podem dominar as ideias originais, as paixões, as inquietu-des e as grandes questões que atormentam o homem enquanto parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive, é natural que haja semelhanças entre as diferentes manifestações artísticas, porque, mesmo embora possam não ter, em termos estéticos, comparação, os princípios fundadores podem ser os mesmos. Aqui, o Free Jazz, nascido no coração da América Negra e o Expressionismo Abstracto, nasci-do no coração da América Branca, serão confrontados. São manifestações com origens culturais muito distintas e, ainda assim, conseguem expressar-se de forma semelhante.

A Música em Imagem

Ornette Coleman:“There is a continuity of expression, a certain continually evolving strands of thou-

ght that link all my composition together. Maybe it’s something like the paintings of Jackson Pollock. Like action painting, it is the very act of improvisation that becomes significant.”

As propriedades formais destes dois movi-mentos tentam desmistificar a representa-ção tradicional, feita através da exposição evidente do método de produção. A suas composições não pretendem ter um centro, um início ou um fim; produzidos através de meios não convencionais e com um grande nível de abstracção, pretendem sim, redireccionar a atenção do espectador, levá-lo para lá do visível e daquilo que pode ser descrito em palavras, realçando o lado ambíguo e transcendente de cada peça criada. Qualquer artista envolvido num destes dois movimentos artísticos não pretende ilustrar sentimentos, mas sim expressá-los, de um modo espontâneo e imediato, sem uma técnica que se revele dominante face àquilo que a obra, de facto, nos transmite, que não são projectos, ideias preconcebidas, são sim, manifestações de vida.

Com a criação livre, com a fuga às regras e com o sentimento a dominar a criação em vez da razão, os artistas procuram expres-sar o seu verdadeiro eu, tentam transpor para a tela ou para a música aquilo que os consome naquele instante; e cada instante vale por si só. Qualquer obra de arte, enquanto expressão de sentimento humano, revela o que se está a passar. A obra exprime tudo – toda a experiência humana no momento exacto em que está a ser expres-sada. Uma das características mais marcan-tes e que une, indescutivelmente, estas duas formas de expressão artística, é a capacida-de que o artista tem para combinar a espon-taneidade com um sentido da forma. O músico negro pega no instrumento e produz sons em que nunca pensara. Improvisa, cria,

e isso vem de dentro. É a sua alma, é a música da sua alma.

De facto, o sentimento mais puro só pode ser expresso se forem postos em causa os princípios e as regras que aprisionam a maioria da criação. No jazz houve uma desarticulação da linha melódica em série de sons, de aparência caótica, numa busca constante pelos constrastes. No Expressio-nismo Abstracto os artistas queriam sentir as suas criações como verdadeiramente únicas, queriam sentir que, de facto, a sua obra tinha impresso o seu gesto e a sua marca pessoal, num mundo onde a máquina e os produtos criados em série regiam o dia-a-dia. Pollock dizia que a arte tinha que ser directa, imediata; e quanto mais próxima esta característica estivesse da obra, maio-res seriam as possibilidades de criar um marco na história.

A intenção máxima, tanto de Jackson Pollo-ck como de Ornette Coleman, era a de expressar um mundo interior, preexistente, tentanto libertar a cultura ocidental dos bloqueios racionais e emocionais em que caiu. Acima de tudo, afirmavam-se contra um conceito de cultura alicerçado na razão, na erudição e na teoria; criticam a cultura ocidental e a sociedade que o alimenta, surgindo como proposta de um novo enten-dimento com o mundo, que deve ser procu-rado num estado psíquico e não verbal. O pensamento em que se alicerçaram estes dois movimentos abalou as certezas sobre as quais se solidificou a cultura moderna ocidental, criticando, essencialmente, a liguagem que a caracteriza. Esta arte foi criada com o intuito de conseguir veicular forças e significados, energias e espirituali-dade, mostrando-se manifestamente contra o paradigma psicológico que dominava a cultura Europeia e Americana. Da mesma forma que Pollock tentava “dar forma aos seus desesperos pessoais, visões e medos

neuróticos, agia em nome da América e de toda uma época”, o músico negro é um refle-xo do povo negro, enquanto fenómeno cultural e social e o seu objectivo deve consistir em libertar, nos planos estético e social, a América da sua desumanidade.As artes plásticas e a música são mundos distintos e a verdade é que, na América, a música foi o único campo em que os negros tiveram plena liberdade para criar. E soube-ram dominá-la. O Jazz é uma das contribui-ções, sociais e estéticas, mais importantes para a América – o Jazz é contra a guerra, contra a do Vietname; é a favor de Cuba; é a favor da libertação de todos os povos. Esta é a natureza do jazz porque o jazz é música nascida, ela própria, da opressão, da sujei-ção do povo negro. Jackson Pollock e Ornet-te Coleman são dois génios que perdurarão com a humanidade. Se o primeiro pintou, o segundo fez-nos chegar melodias, que nunca antes haviam sido vistas ou mesmo pensadas e que nos fazem reflectir sobre as dimensões da humanidade. De facto, não vivemos num universo bidimensional; o ser humano habita num universo múltiplo, que não se fica por aquilo que é concreto, que se faz ou diz. A realidade é bem mais complexa que isso e é essa compreensão, que os artis-tas procuram. O artista improvisa, traz algo do fundo de si próprio e esta expressão é sentida pelo público quase que de uma forma mágica. Ambos os movimentos assentam na improvisação atemática, exprimem-se numa linguagem aparente-mente caótica, abrupta, onde o jogo inces-sante dos contrastes dá uma impressão de ebulição, de excpecional vitalidade. Assim, foram desconstruidas ideias impostas, rompidos os esquemas tradicionais e o público foi enfrentado de um modo tão forte, que se revelou transcendente.

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