Justificacao Pela Fe
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Justificação
pela Fé “Ao menos alguns de vós têm sido isso. Mas fostes lavados, mas fostes
santificados, mas fostes justificados, em nome do Senhor Jesus Cristo e
pelo Espírito de nosso Deus.” (1 Coríntios 6,11)
Gledson Meireles
Só a imputação ou a real infusão da justiça?
1. A importância da doutrina e a divisão católica e protestante
A justificação pela fé é uma das doutrinas mais profundas e importantes da Religião
cristã, que é o Evangelho, que é a Igreja de Jesus Cristo, a Igreja Católica. É
imprescindível que esteja no início da compreensão da fé, e esteja presente para o
aprofundamento nessa mesma fé. É algo que deve sempre acompanhar o crescimento do
entendimento da Palavra de Deus. Neste opúsculo será tratado, de forma breve, o
coração dessa importante doutrina da fé cristã católica. Trata-se do ponto fundamental
que diferencia os ramos católico e protestante nesse particular. Isso será feito por meio
da apresentação das posições solidamente defendidas nos debates que ocorrem no
campo católico e protestante, em especial o católico e o reformado, utilizando a
exposição do teólogo protestante calvinista John Piper, em defesa da doutrina
reformada, bem como, de forma breve, nas ações de diálogo ocorridas entre católicos e
protestantes, considerando a posição advinda do movimento teológico iniciado por João
Calvino, que é o ramo Reformado, que diferencia-se de outros movimentos da Reforma,
como o Luteranismo e o Zwinglianismo, para a partir disso elucidar a posição
fundamental da fé cristã católica nesse tema.1
O período em que essa doutrina encontrou ocasião para seu maior desenvolvimento e
expressão foi aquele da Reforma Protestante, no século 16, quando vários clérigos e
teólogos da época propuseram uma compreensão diferente da doutrina que não se
harmonizava completamente com a fé cristã católica de sempre, e em sua essência
contrariava muitos dos pressupostos bíblicos nela contidos, para não dizer os
pressupostos fundamentais.
Por isso é necessário algum questionamento. De que trata a justificação pela fé, qual a
fonte dessa justificação, e quais os seus efeitos? Essa questão deve ser respondida em
atenção às definições oficiais do Concílio de Trento, e dos documentos formativos do
magistério, como o Catecismo da Igreja Católica. Conta ainda, e isso é importante, com
as contribuições dos doutores da Igreja.
A fé considerada meio de justificação é a fé nas verdades da Revelação, e não a simples
confiança de que Deus imputou a justiça de Cristo a seu favor, e não mais imputa seu
pecado. É a fé a fonte da confiança, pois em si traz a boa vontade de crer em tudo o que
Deus ensina. Desse modo, não basta confiar que Cristo nos salvou e o pecado não nos é
mais contado, mas crer realmente em Cristo e no Seu verdadeiro perdão, onde Sua
justiça vem a nós para nos justificar e santificar, purificando-nos de todo pecado e nos
transferindo para o reino da graça.
1 Normalmente não faço exposição detalhada da doutrina, pois há obras específicas para tal. Utilizo dados
sólidos e estabelecidos, sobre a mesma, para o diálogo sincero para apreensão da verdade.
1. A doutrina da justificação
O Catecismo da Igreja Católica, em seu artigo número 1987, sobre a Justificação,
explica que a graça do Espírito Santo justifica-nos, perdoando os pecados e
comunicando a justiça de Deus por meio de Jesus, pela fé em Jesus e pelo batismo.
(conforme o Catecismo, ler Rm 3,22).
No número 1989 ensina o Catecismo que: “A primeira obra da graça do Espírito Santo é
a conversão que opera a justificação segundo o anúncio de Jesus...”. Prosseguindo,
ensina que: “A justificação alcança a remissão dos pecados, a santificação e a renovação
do homem”.
Podemos ver nessa explicação que a graça suscita no homem a sua volta para Deus, e
assim fazendo ele aparta-se do pecado, o que constitui a conversão. Então, assim
convertido, recebe a justificação pela fé e pelo batismo. No batismo, os efeitos da
“justificação” são a remissão dos pecados, que é o perdão total e real dos pecados.
Ainda, o segundo efeito é a “santificação”, pela ação do Espírito Santo. O terceiro
efeito, conforme a citação do Catecismo, é a “renovação do homem interior.” É a
justificação que alcança as duas outras graças salvíficas. Então, pode-se concluir que o
início da vida na graça é a justificação, que traz em si, e simultaneamente, baseado nela,
junto a ela, indissociável dela, a santificação e renovação do homem.
Continuando no número 1990, o Catecismo desenvolve os efeitos da justificação, que
“aparta o homem do pecado”, e que “purifica o coração”, “reconcilia o homem com
Deus” e: “Liberta-o da servidão do pecado e o cura”. A justificação tem assim um
amplo efeito de justiça, pois confere a justiça de Deus ao homem, e que o santifica, e o
renova, e purifica-lhe o coração, o reconcilia com Deus e o liberta do domínio do
pecado. Essa fé na libertação ocorrida na justificação encontra-se em comum acordo na
declaração conjunta entre a Igreja Católica e a Confederação Luterana.
As graças da fé, da esperança e da caridade são derramadas no coração do homem
justificado, e esse recebe o dom da obediência. (cf. CIC, 1991) O homem torna-se justo
em seu interior mais profundo.
Ao explicar antecipadamente a doutrina de Romanos 6,19-22, o Catecismo ensina que
“a justificação implica a santificação de todo o ser.” (CIC, 1995, ênfase no original)
Implicar parece conter o sentido de acarretar, de ser o motor propulsor, o início que
alavanca algo imediatamente. Entende-se que o primeiro ato de Deus nesse âmbito é a
justificação, que é a raiz da santificação. Por isso o número 1999 explica que a graça é a
“fonte da obra santificadora”.
Nesse ínterim de tremendo mistério de Deus, no número 2001, tratando da graça, o
Catecismo ensina: “Esta é necessária para suscitar e manter nossa colaboração na
justificação pela fé e na santificação pela caridade”. Como a justificação pela fé traz a
santificação, que é também, portanto, pela fé, nesse momento a justificação pela fé e a
santificação pela caridade, pode estar referindo-se à fé que age por meio do amor já na
justificação, e está tratando também da vida de obediência aos mandamentos de Deus,
na prática das boas obras. É a graça que nos justifica e santifica (cf. CIC 2003).
De fato, Santo Tomás afirma que o coração do homem necessita da justificação para
que possa realizar boas obras.i E a respeito da fé que é contada como justiça, ensina que
o próprio ato de crer é ato de justiça que Deus opera no homem.ii Pois, aquilo que falta
no homem ele o recebe por colocar sua fé em Deus que o completa, tratando-o
gratuitamente como se tivesse feito o todo.iii
E esclarece que contar como justiça é
conferir a justiça.
Essa afirmação já propõe uma explicação bastante pertinente nessa altura da reflexão,
pois trata da imputação da justiça, quando afirma que o homem recebe a justificação
pela fé onde Deus o trata de forma gratuita como se o mesmo houve realizado toda a
justiça. No entanto, para não ficar na esfera meramente declarativa, do contar o homem
justo apenas “como se” fosse justo, Santo Tomás reitera que contar como justiça é
conferir a justiça, ou seja, o homem recebe em seu ser a justiça de Deus.
Na “The Confutatio Pontificia”iv, 1530, está escrito que a negação dos méritos
adquiridos pelo salvo na graça é mais uma concordância com o Maniqueísmo do que
com a Igreja Católica. Essa é uma desaprovação da doutrina protestante contrária ao
mérito que conseguimos através da graça.v E essa doutrina cristã está esclarecida no
mesmo artigo, onde é negado todo mérito humano, e que somente a graça de Deus faz
as obras “dignas da vida eterna”.
A doutrina da justificação pela fé foi sempre ensinada, mas não aquela pela fé somente.
Assim, traz a Confutatio a seguinte afirmação, de que a justificação é também
pertencente à graça e ao amor.vi
Na apologética atual têm sido tratados temas de relevância tamanha. Lembrando a
doutrina de Lutero de que Deus apenas cobre o “monte de esterco” com a “neve” sem
transformar o “monte de esterco”, e outras considerações, escreve David Paul Deavel
que nesse entendimento, a justificação é totalmente separada da santificação.vii
Já vê-se
assim que esse ponto de divergência continua a existir.
Para João Calvino, ao mesmo tempo em que o homem é justificado acontece também a
santificação. E o reformador cita 1 Coríntios 1,30. David afirma que o padre Louis
Boyer, ex-luterano, reporta que Lutero cresceu na direção que havia iniciado, de que a
graça não transforma o homem. E David mostra que Calvino insiste que a justificação
não acorre sem as obras, mas não sendo através das obras, já que a santificação está
inclusa junto com a justificação. No entanto, Calvino manteve a mesma linguagem de
Lutero, o que torna a distinção das doutrinas uma tarefa árdua.viii
(cf. David Deavel)
Então, Lutero saiu do caminho original com sua doutrina inovadora, levando a
resultados que não mais seriam conformados com o Evangelho puro. João Calvino,
ainda que tentando sistematizar e abranger o sentido da doutrina inteira continua usando
conceitos que traem sua própria sistematização abrangente. Lembra isso o que já havia
mostrado São Francisco de Sales, que os protestantes estão desunidos até entre os
próprios “reformadores originais”.ix
Considerando a doutrina da justificação, que seria feita apenas por imputação, afirma-
se, como mostra Brumley, que o homem não mudado na justificação.x
Mark Brumley afirma, citando Bouyer, que a separação entre justificação e santificação
não é bíblica, já que ambos os termos são parte de um único processo.xi
Por isso, lembro
o que escreveu da justificação o grande Santo Afonso de Ligório. Ele afirma que a fé
somente não justifica. Considerando a doutrina dos reformadores protestantes, afirma
que a fé entendida como a confiança no perdão ou a crença certa na infalível absolvição
seria o único e somente meio de obter a justiça de Cristo por imputação, segundo a
doutrina protestante. Dessa forma, Deus imputaria a justiça de Cristo, cobrindo o
pecado do pecador arrependido, por meio da fé somente. Ao contrário, a doutrina
católica ensina que a fé é a raiz de toda justificação, mas não somente ela. É necessário
ter a disposição para receber a graça da justificação. Essa disposição está enraizada na
fé. De igual modo são necessários “os atos de esperança, amor, pesar, e um propósito de
emenda”. Assim, Deus concede a graça da justificação “que remite a ele seus pecados e
o santifica”.xii
E ainda, mais adiante, no parágrafo 34, Santo Afonso explica que Deus
não justifica por causa das “nossas obras, mas através somente da Sua misericórdia, e
dos méritos de Jesus Cristo”.
O que o doutor da Igreja está explicando é que não basta uma fé que não seja
acompanhada de arrependimento, e do amor, e das justas disposições da alma para
receber a justificação. Essas coisas não são obras humanas, nem possuem mérito diante
de Deus, de forma a não contribuir para a justificação, como se originadas na natureza
humana. Por isso afirma que é apenas dom da misericórdia divina e dos méritos de
Cristo. Está excluída qualquer fé no mérito como base para a justificação.
O apologista Jimmy Akin mostra que a justificação inclui a santificação. A justificação,
explica o autor, não é apenas a declaração de justiça, mas também a libertação do
pecado. A justificação é o ato de perdão bem como a ação de conferir a justiça. Isso está
fundamentado na leitura de Romanos 6,7.xiii
No entanto, o Dr. John Piper escreve sobre essa mesma passagem, de Romanos 6,7,
negando a interpretação apresentada por Jimmy Akin, e esposada por vários eruditos
protestantes. Lendo os versos 1 e 15 do capítulo 6 de Romanos, Jonh Piper escreve que
a justificação não inclui a libertação do pecado.xiv
Para ele, essa posição não é plausível,
diante da questão posta por São Paulo nesse capítulo.xv
Em nota esclarece que a
justificação é a base para a santificação. Ou seja, Piper exclui a santificação da
justificação, separando-a radicalmente, e mostrando que para os reformados a
justificação, declaração, imputação, é a base para a ulterior santificação.xvi
Portanto, analisando Romanos 6,7, o protestante Dr. Piper e o apologista católico
Jimmy Akin chegam a conclusões opostas. Piper afirma que a libertação do pecado é
parte da santificação, e não da justificação, pois morrer ao pecado está no contexto de
santificação.xvii
Gundry escreveu algo no mesmo sentido que Jimmy Akin, o que foi
considerado e respondido como refutação por Piper.xviii
E após contextualizar, conforme
acredita, explica que os versos 6 e 7 de Romanos 6 são a explicação da base para a
transformação do homem, e não a definição da justificação.xix
A santificação é também
citada juntamente com a justificação, e a redenção, e mesmo com a concessão da
sabedoria de Deus, em 1 Coríntios 1,30. Isso indicaria, considera Piper, que a
justificação também é como a santificação, que é um trabalho de Deus em nós. Mas o
mesmo desfaz esse entendimento, afirmando, e o faço resumidamente, que a sabedoria
vence a ignorância, a justificação a condenação, a santificação a corrupção, e a redenção
a miséria e a morte, com base em 1 Cor 1,24; Rm 8,1; 1 Cor 1,2; Ef 2,10 e Rm 8,23.
Nisso, Piper não abre mão em reafirmar que a justificação é feita por imputação apenas,
e que as outras realidades são feitas nossas “como cada realidade requer”.xx
Faz isso em
consideração às demais passagens já comentadas por ele em sua obra.
E interessantemente os reformados e sua doutrina, como exposta pelos teólogos
abalizados no meio protestante, como John Piper, aqui como expoente da doutrina
historicamente defendida pelos Reformados, procuram defender-se das acusações da
concepção da “ficção legal” na doutrina da justificação. E para clarear mais sua
exposição, o Dr. Piper em nota afirma que as obras não são meios de justificação, nem
aquelas da Lei, nem as realizadas pela fé. O autor indica a leitura de Douglas J. Moo.
(cf. p. 89, nota 35)
Tem-se que a justificação na doutrina católica é o perdão, remissão, adoção,
santificação, renovação do homem interior, ao lado da justificação na doutrina
protestante como apenas declaração de justiça da parte de Deus. A qual dessas a Bíblia
dá o seu aval? Qual desses dois entendimentos é ensinado nas Escrituras Sagradas? No
próximo item vamos ler algumas afirmações da carta aos Romanos para o devido
entendimento da doutrina como exposta em sua fonte direta.
2. Dados importantes dos capítulos 1-8 de Romanos
A doutrina da justificação é, de forma específica, tratada na Epístola aos Romanos. A
grandiosa riqueza que Deus opera na justificação é encontrada nessa carta, assim como
em outras. No entanto, baseio-me na carta aos Romanos, pois é nela que a discussão e
debate sobre a justificação têm mais busca, por ser o documento bíblico mais citado
nessas controvérsias.
Tendo iniciado o capítulo 1, vemos que “a graça e o apostolado” conferido por Deus é
para levar os gentios “à obediência da fé”. (cf. Rm 1,5) Essa palavra é importante.
Obedecer implica em haver um código legal ao qual deve-se obedecer, e a alguém que é
o Autor dessa Lei. A santidade é preconizada já no verso 6, pois o chamado de Deus à
santidade está nessa obediência da fé. O Evangelho é mostrado como a “força de Deus”
que atua para salvar os pecadores, no qual a justiça de Deus é revelada. (Rm 1,16-17) O
tema da justiça de Deus é introduzido aqui.
Ao falar do juízo, que será realizado na volta de Cristo, São Paulo mostra o fim dos que
obedecem e dos que não obedecem a Deus. Aos últimos haverá a condenação, e aos
primeiros a glória, a honra e a paz. (Rm 2,12-13) É o contexto para toda a discussão.
Esses versos são contextuais, pois estendem-se por toda a vida do cristão, a começar
pelo início da obediência da fé, onde o Evangelho é ouvido e aprendido, onde Deus atua
no homem justificado, até o momento da salvação final.
Em Romanos 3 temos que a “justiça de Deus”, que já foi mencionada, “manifestou-se”.
E o verso 22 desse capítulo diz qual a forma dessa manifestação e por meio de quem o
foi: “pela fé em Jesus Cristo”. A justiça de Deus manifesta-se pela fé em Jesus Cristo.
O verso 24 afirma que somos “justificados gratuitamente” pela graça. E essa
justificação é a “obra de redenção, realizada em Jesus Cristo”. A justificação pela graça
é a redenção realizada em Jesus Cristo na cruz. Assim, a justiça de Deus manifestou-se
na cruz. Para essa discussão, não esqueçamos desse dado da Escritura. Isso fica claro no
verso 25: “Deus o destinou para ser pelo seu sangue, vítima de propiciação mediante a
fé. Assim, ele manifesta a sua justiça...”.
Na cruz e na justificação do pecador Deus manifesta a Sua justiça. É o que ensina o
próximo versículo: “exercendo a justiça e justificando aquele que tem fé em Jesus.”
(Rm 3,26)
A justificação é assim realizada por meio de Jesus, pela fé. É graça de Deus. Dessa
forma, a justiça da Lei é dada ao justificado. Entre a “Lei das obras”, como é chamada a
Lei do Antigo Testamento, e a “Lei da fé”, designação da Lei do Novo Testamento, é
essa última Lei o meio pelo qual somos justificados: crendo em Jesus Cristo.
Ocorrendo isso, temos a Lei de Deus estabelecida, com “toda a sua força” (Rm 3,31).
De fato, o que manda a Lei não é revogado, mas estabelecido pela nova Lei. A Lei da fé
não é contraposta à Lei de Deus para fazê-la desaparecer, mas para alcançar a justiça de
Deus que a letra da Lei não podia alcançar.
Na comparação da justificação de Abraão, São Paulo mostra que o salário é dívida ao
trabalhador, e constitui a justiça dele. Suas obras são a base pelo qual recebe o devido
salário, a justiça. Mas, na justificação pela fé, a fé é o instrumento pelo qual vem a
justiça. Não houve obras, não houve esforço, não houve nada que pudesse contrair
dívida, mas Deus concedeu a fé, e pelo simples ato de crer o homem recebeu a justiça
que a Lei exige. (cf. Rm 4,1-6)
Assim, a Lei continua em vigor, mas a “justiça da fé” é aquela preconizada para o Novo
Testamento, pois a Lei é impotente para justificar. Foi em “virtude da justiça da fé” que
a promessa foi feita. (Rm 4,13) É por meio da fé que o homem torna-se herdeiro de
Deus. (cf. Rm 4,16) É então necessária a fé em Deus que ressuscitou a Jesus. (Rm 4,24)
Cristo foi entregue para a morte de cruz para livrar do pecado, e ressuscitou para
conceder a justificação: “o qual foi entregue por nossos pecados e ressuscitado para a
nossa justificação”. (Rm 4,25)
Estando já justificado, o homem tem a paz com Deus. (Rm 5,1), e o Espírito Santo é
derramado nos nossos corações. (Rm 5,5) O texto contrapõe “pecadores”, antes da
justificação (v. 8), e “justificados”, termo empregado após a justificação (v. 9). Antes
éramos “inimigos”, agora estamos “reconciliados com Deus pela morte de seu Filho”.
(Rm 5,10) Então, assim reconciliados, seremos salvos da ira de Deus. (cf. Rm 5,11) Isso
mostra que o ato de justificação realiza a justiça de Deus no homem, faz do inimigo um
reconciliado, e daquele digno de condenação, um salvo da ira.
Mostrando a raiz do pecado em Adão, a Escritura ensina que a salvação origina-se em
Jesus. O pecado de Adão afetou a todos os descendentes dele. Mais eficazmente ainda a
graça de Deus salva a todos. (cf. Rm 5,12) A justificação “dá a vida”, torna justos. (Rm
5,18-19) O pecado reina para a morte, e a graça reina, através da justiça, para a vida
eterna. (cf. Rm 5,21)
Nessa libertação, a Escritura exorta a não permanecermos no pecado, já que o mesmo
não tem mais poder sobre o homem salvo. (cf. Rm 6,1) Fomos “sepultados com ele na
sua morte pelo batismo”. (Rm 6,4) O sacramento do batismo foi o meio realizado para
sepultar o pecador com Cristo, na morte de Cristo: “Sabemos que o nosso velho homem
foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo (outrora)
subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado”. (Rm 6,6) Desse modo, o
batismo realizou a libertação do homem, a subjugação do corpo de pecado. Entende-se
claramente que essa subjugação do corpo ocorrida no batismo é a libertação do homem,
tendo a partir daí a graça para viver em obediência, e não mais sob a servidão do
pecado.
Ensina o verso 12: “Não reine, pois o pecado em vosso corpo mortal”. Embora seja
possível que o pecado volte a reinar, a exortação é para que isso não mais ocorra, visto
estarmos libertos e capacitados para viver a vida de Cristo. “O pecado já não vos
dominará, porque agora não estais mais sob a lei, e sim sob a graça.” (Rm 5,14) Então,
a justificação transpõe o cristão do domínio da Lei para o domínio da graça. Esse é o
motivo: “porque agora não estais mais sob a lei, e sim sob a graça”, pelo qual o pecado
não pode mais dominar.
Ainda, para não restar dúvida, essa libertação em relação à Lei não significa que o
cristão esteja em liberdade de viver em desacordo com os preceitos da Lei. Isso seria um
resultado crasso, uma conclusão disparatada, diante de toda a argumentação feita desde
o início: “obediência da fé”, “serão tidos por justos os que praticam a lei”; “damos-
lhe”, à Lei, “toda a sua força” (Rm 1,5; 2,13; 3,31) Significam essas afirmações de
autoridade, que a Lei continua em vigor, e que o homem libertado do pecado pode agora
viver segundo a natureza santa, justa e boa da Lei. (cf. Rm 7,12). Por isso, São Paulo
mostra que os membros do corpo agora devem ser colocados como instrumentos não
“do pecado para a morte”, mas “da obediência para a justiça”. (cf. Rm 6,16)
Em linguagem simples, o apóstolo escreve: “(...) assim ponde agora os vossos membros
a serviço da justiça para chegar à santidade”. Essa justiça a qual deve-se chegar pela
obediência, é o resultado das obras realizadas com os membros a serviço da justiça, que
é a santidade. A justiça e a santidade estão, assim, de modo indissociáveis, e muitas
vezes são intercambiáveis. Diz o Espírito Santo por meio do apóstolo: “tendes por fruto
a santidade; e o termo é a vida eterna”. (Rm 6,22) Nada podia ser mais claro. A
santidade é exigência para ser salvo, assim como o pecado é motivo de condenação: “o
salário do pecado é a morte”. (Rm 6,23) Esse aspecto refuta o Dr. Piper quando
esforçou-se por separar a justificação, como simples imputação da justiça de Cristo ao
pecador, e a santificação como obra de Deus no justificação, a partir de sua leitura dos
versos 6, 7 e 15 do capítulo 6 de Romanos. O contexto do capítulo juntam a justificação
e santificação, de forma a concluir nos versos 22 e 23 aquilo que não é possível na
doutrina reformada, de que o fruto da vida de obediência a Deus é o termo da vida
eterna.
Em continuação da exposição do estado de libertação alcançado através da justificação
pela fé e pelo batismo, aprendemos que devemos dar frutos para Deus (Rm 7,4),
operando pela “renovação do Espírito e não mais sob a autoridade envelhecida da
letra” (Rm 7,6).
A grande notícia de que não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus (Rm
8,1) está nesse cenário: “A Lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da Lei
do pecado e da morte”. (Rm 8,2) Essas duas leis, uma do Espírito, que é a Lei de Cristo,
a Lei da Graça, e a outra, a Lei do pecado e da morte, que usava da ocasião da Lei de
Deus para trazer maldição, são opostas uma à outra aqui. A primeira é fonte de
libertação, a segundo era o meio de escravidão.
É profundo o mistério. Muitos entendem que a Lei do pecado e da morte refere-se à Lei
de Deus escrita, mas não é assim. De fato, o verso 4 desse modo ensina: “a fim de que a
justiça, prescrita pela Lei, fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne,
mas segundo o Espírito”. A justiça da Lei de Deus não poderia ser realizada enquanto a
Lei do pecado e da morte estivesse em operação.
Essa é a necessidade de viver segundo o Espírito, conforme as exigências da santa Lei,
por força da renovação do Espírito, na Lei do Espírito de Vida, sofrendo com Cristo
para sermos glorificados com Ele. (Rm 8,1-2.13-17)
Em resumo, vemos que a justificação é a justiça de Deus comunicada ao homem, que
livra da morte e do pecado, é a vida de Deus no homem, que remite seus pecados, o
reconcilia com Deus, o liberta da escravidão, o transporta da servidão da Lei para o
domínio da graça, e que capacita a viver conforme a renovação do Espírito Santo.
3. A doutrina protestante da justificação pela fé
Em 1530 foi escrita a Confissão de Fé de Augsburgo. Esse é o documento base para o
entendimento geral da justificação pela fé, embora não possamos afirmar total
concordância por parte de todos os reformadores no que tange a todos os pormenores da
doutrina. No entanto, é a expressão da tradição histórica do Protestantismo em formação
e estabelecimento. A fé da justificação é aquela em que o fiel crê que é recebido no
favor de Deus, e que o perdão é por causa de Cristo, que por Sua morte satisfez pelos
nossos pecados.xxi
Contudo, o que era um artigo breve, tornou-se extenso e robusto na defesa da nova
doutrina, e foi publicado em A Defesa da Confissão de Fé de Augsburgo. Tanto os
méritos, a contrição, o amor, a adoração são descartadas para a justificação. Ou seja,
nem mesmo o arrependimento entra nas exigências da justificação, mas a fé somente.
Esse ponto é muitíssimo controverso. Mas, nessa confissão é bastante claro.xxii
Há afirmação nessa confissão que parece ter a fé na conta de justiça. Se assim o for, a
tradição reformada não confessa essa fé, conforme a clara posição defendida por John
Piper.xxiii
A justificação na tradição reformada, conforme conservada na Confissão de Fé de
Westminster, é entendida como perdão dos pecados, não infusão da justiça. É negada
essa particularidade. A justificação é a aceitação do pecador como justo. Nada é feito no
homem, nem pelo homem. Somente a justiça imputada de Cristo é considerada. A fé
não é tida como justiça, mas somente a “obediência e satisfação de Cristo”.xxiv
Essa é a
essência da doutrina como exposta acima por Piper.
A fé é ensinada como único instrumento para justificação, mas não sozinha no
justificado. É “acompanhada por todas as outras graças salvíficas”. Ainda, não é a fé
morta, mas que obra pela caridade. Essas outras graças salvíficas, se assim o forem
realmente, são parte da justificação, não somente a fé. Pois, não poderiam ser salvíficas
se não estivessem relacionadas à salvação. Talvez esse ponto é ambíguo na Confissão
de Fé de Westminster, embora seja elucidado, em outro sentido, como acima mostrado
pelos teólogos. E também como mostra John Owen, que viveu no século 17,
considerado entre os maiores teólogos reformados que já existiram. Owen afirma que e
santificação é uma corrupção da doutrina, por tornar o fruto da justificação meritório.xxv
4. A justificação pela fé exposta pelos Reformadores Protestantes
A começar por Martinho Lutero, um monge católico da ordem agostiniana, nascido na
Alemanha em 1483, que viveu até o ano 1546, e que foi o maior expositor e defensor da
doutrina da justificação pela fé somente, naquele início de movimento de reforma,
passando pelo eminente sistematizador da teologia mais difundida e influente da
Reforma, o suíço João Calvino, pelas confissões de fé, que são expressões de um
consenso autorizado e legítimo na compreensão daquela doutrina por parte dos
protestantes históricos preocupados pela exatidão da doutrina bíblica, conforme a
interpretavam, tem-se com exatamente o que ensinam sobre a justificação, no ponto
examinado, e torna possível identificar as diferenças importantes que há entre a
definição católica e a protestante sobre tão salutar doutrina.
Quando em Romanos 4,5 temos que Deus justifica o ímpio, sabemos que após a
justificação não há mais ímpio. De fato, Provérbios afirma que é anátema quem
justificar o ímpio e condenar o justo. Deus não pode condenar o justo, assim como não
há possibilidade de justificar o ímpio, se ele está na impiedade. Assim, na justificação, a
justiça é comunicada ao homem, e a declaração de Deus já está conforme a nova
realidade do homem, a justiça.
O que John Piper apresenta e critica com toda energia é a doutrina posta por Robert
Gundryxxvi
, conforme apresenta que: “Ela nega a imputação da justiça de Cristo e afirma
que não há tal ensino na Bíblia”. (tradução minha, p. 35) Supõe-se pelas fontes usadas
de Francis Turretin e Jonathan Edwards, que Piper está em harmonia com a tradição
protestante, ou nas palavras mais usuais entre os protestantes, está harmonia com a
visão protestante histórica. Contudo, como adepto da doutrina da Sola Scriptura, onde
nenhuma outra fonte de autoridade é infalível, a não ser as Escrituras, o autor afirma
que a questão deverá ser respondida pelos textos bíblicos. E isso ele faz em sua obra
aqui utilizada.
John Piper define imputação de forma que podemos afirmar resumidamente “contar
pecadores como justos”. Por sua vez, o pastor batista, expositor da Teologia da Missão
Integral, Ed René Kivitz, que considera João Calvino e Martinho Lutero “os dois
grandes ícones do Cristianismo Ocidental”, fala da cruz não apenas “apontando para a
morte de Jesus, mas para totalidade Pessoa de Jesus”. xxvii
Parece não haver unidade
entre a doutrina da justificação nessas duas afirmações, entre os dois autores. De fato,
em nota na página 42 escreve Piper sobre a tendência atual de autores protestantes
confundirem, por assim diz, a instrumentalidade da justificação e da obediência na
questão da salvação. Talvez contenha a afirmação de Ed René uma das coisas atacadas
por Piper.xxviii
Tratando da imputação da justiça diretamente, John Piper afirma: “Cristo
cumpriu por mim as exigências feitas sobre mim pela lei de Deus”. (p. 43)
Como sua obra responde a Robert Gundry, o qual afirma que a fé é contada como
justiça, Piper ainda diz que o autor considera a justificação como incluindo a libertação
do pecado, o que a doutrina reformada não admite.xxix
Na página 50 Piper insiste na
distinção entre os efeitos ocorridos na justificação e na santificação. Mas, como notei
acima, há a real separação das duas ações.
A imputação da justiça inclui crer que Cristo sofreu a pena por nós e tornou-se uma
perfeita justiça por nós igualmente, imputada pela união do homem salvo com ele.
Richard Martin afirma o seguinte: “A justificação é a declaração de Deus de que uma
pessoa é justa à Sua vista. A justiça que nos justifica é imputada ou creditada, não
comunicada ou infusa.”.xxx
O professor Azenilto G. Brito, adventista, em seu artigo onde contrasta as doutrinas
católica e protestante histórica sobre a Justificação, escreve que essa “não é uma mera
doutrina, mas a própria base racional do plano da salvação”. Ainda, em resumo, afirma:
“A graça de Deus que opera no coração do homem não pode, ipso facto, torná-lo
aceitável à vista de Deus. Para sermos aceitos e aprovados por Deus (justificados,
declarados inocentes pelo veredito do perfeito Juiz) requer-se infinitamente mais graça
do que jamais poderia ser contida no coração humano. Somos justificados pela graça de
Deus em Cristo.” “Não há graduações de justiça para com Deus. Ou o homem é
completamente justo diante de Deus, ou não.”xxxi
Esse entender é o tradicional no
Protestantismo, conforme o Dr. William Lane Craig.xxxii
Afirma ainda o Dr. Craig, que
Lutero não ensinou a justificação no seu apecto legal apenas, e não a transformação
moral na justificação.xxxiii
Dessa forma, a justificação na tradição protestante é vista como apenas uma mudança na
relação entre Deus e o pecador. O homem continua moralmente o mesmo, mas o pecado
não lhe é mais contado, não sendo mais imputado. Assim, o Dr. Craig afirma da
doutrina católica que: “É a justiça de Cristo que é imputada a você. Não é sua própria
justiça que Deus produz”. A justificação não é um processo na visão dos Reformadores,
explica o Dr. Craig, e para fugir das acusações da ficção legal, afirma que o perdão é
real.xxxiv
Diante de tudo isso, uma exposição feita pelo Dr. Roy E. Gane, PhD, (Seventh-day
Adventist Theological SeminaryAndrews University) é de grande importância, pois
informa algo que não coaduna-se com o ramo principal do Protestantismo, ao mesmo
tempo em que expressa conhecimento da doutrina, preocupação com a correta
interpretação bíblica, e desejo de estar em conformidade com ela. Dessa forma, essa
inclinação diante da busca pela defesa da doutrina é a mesma encontrada no Dr. John
Piper.
Roy ensina que é essencial para a graça salvífica a “declaração legal de absolvição”.
Esse pormenor está de acordo com tudo o que foi visto do lado Reformado. Porém, o
Dr. Roy afirma que a “graça salvífica inclui mais: Porque o dom da justificação traz a
transformadora presença de Cristo, ela naturalmente fornece força para dar o fruto na
vida (santificação)”. Tratando do legalismo, o Dr. Roy expõe a verdadeira face desse
erro, e afasta a doutrina errônea que procura ligá-lo à necessidade de obedecer à Lei.
Em sua exposição, ele está conformado com a ideia de que justificar tem a ver com as
“metáforas legais”, e isso não significa, reitera o mesmo, que isso seja irreal. Explica
que a “substituição não é “como se””, ao falar da imputação. A isso, afirma que os
resultados são ligados à realidade, e alude ao poder da Palavra de Deus, que ao fazer
uma declaração produz o que foi dito: “sua declaração é assim porque sua Palavra
criadora fez assim”. Adiante, afirma que o ímpio é transformado “pela sua justificação”.
Ao tratar da santificação afirma que essa inicia-se com a pertença a Deus, na conversão,
e que cresce no amor enquanto o caráter é transformado durante a vida, pela ação de
Deus através do Espírito Santo. Sua visão mostra que a justificação e a santificação são
distintas, mas “experimentalmente interligadas”, ou seja, acontecem na vida ao mesmo
tempo, e possuem aspecto de continuidade, sendo ambos aspectos de salvação. O que
diz está claro que confirma a doutrina católica de que a justificação produz a
santificação, e que ambas são necessárias à salvação: “e ambas são pela graça de Deus
aspectos essenciais da sua salvação”, escreve o Dr. Roy. Afirma, mais adiante, que
Cristo é o Senhor e Mestre, o que reporta à obediência aos mandamentos da Lei de
Deus, algo que o Protestantismo não costuma ressaltar.
O que o Dr. Roy Gane está falando é aquilo que a doutrina católica já expõe, e não o
que a doutrina reformada apresenta. Ainda, essa forma de entendimento está em
contraste com o que foi apresentado pelo professor Azenilto, da mesma denominação de
Roy. No entanto, ao lê-lo, assim como qualquer outro teólogo protestante, numa
generalização, tem-se a impressão de que a doutrina que expõem é a mesma, e contrária
à doutrina católica. Verifica-se que possui pontos de contato profundos, ainda que os
autores talvez não tenham ciência clara desse fato.
Conclusão
A doutrina cristã católica está conforme a revelação da Bíblia, enquanto que a doutrina
reformada, de acordo com a apresentação de John Piper, restringe a justificação a
apenas um aspecto da doutrina geral. Também nas divergências que ocorrem nesse
ponto fundamental, no âmbito geral do Protestantismo, aparece uma nítida oposição ao
Catolicismo, ainda que muitos autores protestantes estejam aproximando-se da verdade
católica de forma inconsciente, mesmo que usando terminologia protestante, que
encobre uma doutrina já de essência diversa daquela que sua denominação específica
adota, ou que usa de apresentação da doutrina que trai a própria doutrina professada.
A definição de justificação do Dr. William Craig contém muito do que foi mostrado
aqui, na verdadeira doutrina da justificação, porém, essa ainda, como mostra o autor,
restringe-se ao seu aspecto de “ato jurídico de Deus” e não como uma transformação de
Deus no homem como base desse ato jurídico.xxxv
Por tudo o que foi mostrado neste estudo, fica claro que a posição oficial do
Protestantismo histórico Reformado é a da justificação como apenas um ato forense,
que não afeta a condição moral do pecador, mas que apenas o coloca numa situação
diferente daquela que estava. De fato essa é a parte crucial que não é aceita pela Igreja
Católica, que ensina ser a justiça de Cristo infusa em nós, sendo essa realidade a base
pela qual Deus declara nossa justiça e inocência, santificando, renovando o nosso ser
para que vivamos a vida nova que Ele nos Deus em Jesus Cristo.
Essa diferença é importante, não pode ser negligenciada, e seus desdobramentos ainda
são maiores se a rigidez lógica exigida for devidamente presa a esse princípio, o que
afetará muito do que o cristão professará e viverá em sua relação com Deus. Esse ponto
ainda não foi superado por muitos protestantes nos dias atuais.
i Saint Thommas Aquinas, in Commentary on Romans 4: “a man’s heart needs first to be justified
inwardly by God, so that he can perform works proportioned to divine glory.”
(https://sites.google.com/site/aquinasstudybible/home/romans/st-thomas-aquinas-on-romans/chapter-
1/chapter-2/chapter-3/chapter-4 (Acesso em10-10-2015) ii Santo Tomás de Aquino: “not that he merits justice through faith, but because the believing itself is the
first act of the justice God works in him.” iii
Santo Tomás: “"it was reckoned to him as righteousness (Gen 15:6)" a saying which is used when that
which is lacking on someone’s part is reckoned to him gratis, as if he had accomplished the whole.” iviv
http://bookofconcord.org/confutatio.php#article1 vv
“For if any one should intend to disapprove of the merits that men acquire by the assistance of divine
grace, he would agree with the Manichaeans rather than with the Catholic Church” Disponível em:
http://bookofconcord.org/confutatio.php#article3 Acesso 10-10-2015 vi “On this account their frequent ascription of justification to faith is not admitted since it pertains to
grace and love.” (artigo VI) vii
In this understanding, justification, being set right with God, has been identified with an "experience of
salvation," a moment of belief and trust, and completely separated from sanctification, the holiness which
produces good works. https://www.catholicculture.org/culture/library/view.cfm?recnum=6563 Acesso em
10-10-2015. viii
The first problem is that, though Calvin's position on faith and works was much closer to the Catholic
position, he maintained Luther's rhetoric of "faith alone."
<https://www.catholicculture.org/culture/library/view.cfm?recnum=6563> 10-10-2015. ix
Protestants themselves differ as much among themselves as they do with us, even if they go back to the
"original Reformers."https://www.catholicculture.org/culture/library/view.cfm?recnum=6563 (10-10-
2015) x “But they also insisted that when God justifies man, man is not changed but merely declared just or
righteous. God treats man as if he were just or righteous, imputing to man the righteousness of Christ,
rather than imparting it to him.” (BRUMLEY, Mark. http://www.catholiceducation.org/en/religion-and-
philosophy/apologetics/why-only-catholicism-can-make-protestantism-work-louis-bouyer-on-the-
reformation.html) xi
“Yet, argues Bouyer, this systematic distinction isn't biblical. In the Bible, justification and
sanctification as many modern Protestant exegetes admit are two different terms for the same process.” xii
History of Heresies and their refutation, p. 252, capítulo IV, parágrafo 29. Disponível em:
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CB4QFjAAahUKEwi
t7aLn1efIAhXC8x4KHSE5D9s&url=http%3A%2F%2Fwww.saintsbooks.net%2Fbooks%2FSt.%2520Al
phonsus%2520Maria%2520de%2520Liguori%2520-
%2520The%2520History%2520of%2520Heresies%2520and%2520Their%2520Refutation.pdf&usg=AF
QjCNEvueDcSC3K7FRYJvLsgBit8XAhAQ xiii
“We therefore see that in Paul's thought being justified from sin includes being freed from sin—not
just forensically, but sanctificationally.” E, mais adiante: “"To be made righteous" and "to be made holy"
can be the same thing, and in Romans 6:7 they are.” (AKIN, Jimmy) xiv
“The raising of these questions is a powerful indication that justification does not include liberation
from the mastery of sin.” xv
“It is not in the least plausible to object, “Well, Paul, if justification is the work of God’s grace to
liberate us from sin, then let us sin that this grace may abound.” “It does not include sanctification.” (pp.
77-78) xvi
“Justification is the necessary and prior basis of sanctification (“for,” v. 7).” Piper, John. Counted
Righteous in Christ, p. 78. xvii
“Notice the last verse in that passage (v 7). Paul states that he who has died has been freed from sin,
and the context is obviously sanctificational.” E mais: “We died with Christ, and so now we have been
freed from the power of sin, which is why we must no longer live in sin.”” Como vimos: “We therefore
see that in Paul's thought being justified from sin includes being freed from sin—not just forensically, but
sanctificationally.” xviii
“In other words, Gundry thinks that Romans 6:6-7 implies that justification is a liberation from
slavery to sin—that is, it overlaps with sanctification.” (p. 75) A isso, John Piper diz: “There is no reason
for Gundry to assume (as he seems to) that “justification from sin” (v. 7) means liberation from the
mastery of sin, when in fact it may refer to the indispensable foundation for that subsequent liberation.” xix
“If so, the point of verse 7 would be to give not a definition but a ground for the ethical transformation
in verse 6.” xx
PIPER, John. Op. Cit. p. 87. He may become each of these things for us as each reality requires.
xxi
Disponivel em: <http://www.reformed.org/documents/wcf_with_proofs/> 10-10-2015 xxii
“not for the sake of our merits, not for the sake of our contrition, attrition, love, worship, works.” xxiii
“Faith, therefore, is that thing which God declares to be righteousness, and he adds that it is imputed
freely, and says that it could not be imputed freely, if it were due on account of works.” xxiv
Disponível em: <http://www.reformed.org/documents/wcf_with_proofs/>(10-10-2015) xxv
John Owen: “Justification through the free grace of God, by faith in the blood of Christ, is evacuated
by it. Sanctification is turned into a justification, and corrupted by making the fruits of it meritorious.”
(Disponível em: http://www.monergism.com/thethreshold/sdg/justification.html) xxvi
Robert Gundry recebe o documento “The Gospel of Jesus Christ: An Evangelical Celebration”, e é
pedida sua opinião. Nesse documento há o desejo de unificar os protestantes na fé tradicional recebida na
Reforma Protestante. Gundry é erudito protestante, especialmente no campo de estudos do Novo
Testamento.
Em seu “tom e substância”, sua posição anti-católica, etc., logo notou tratar-se de um documento
“fortemente Reformado”. Gundry inicia sua crítica na fé na contribuição da vida sem pecado de Cristo
bem como na Sua morte para a reconciliação e justificação, exigida pelo documento. Esse “selo
Reformado” não é endossado por muitos outros protestantes. Esse é um dos aspectos analisados pelo Dr.
Gundry. O documento parece excluir alguns protestantes, entre outros aqueles de persuasão arminiana,
pentecostais, carismáticos.
Robert Gundry ainda afirma que a tradição dos protestantes denominados “evangélicos” inclui aqueles
que creem na aniquilação dos condenados, os “inclusivistas” que acreditam na salvação mesmo daqueles
fora da comunhão cristã, e ainda outros que creem na salvação universal. São problemas mais sérios que a
campanha contra a doutrina da justificação como ensinada pela Igreja Católica, segundo Gundry. Essa
última opinião é fortemente atacada por John Piper.
Gundry não concebe a imputação da justiça de Cristo, e afirma que a fé recebida é contada como a justiça,
e que a vida de Cristo não é o que o apóstolo refere-se quando trata da obediência de Cristo.xxvi
A falta de
consideração de muitos teólogos protestantes atuais a respeito da “imputação” é afirmada por Robert
Gundry como fidelidade ao texto bíblico.xxvi
E, ao final, o autor expõe sua posição contrária tanto à
doutrina da imputação como da infusão da justiça de Cristo, colocando-se em oposição, considerando
amplamente a doutrina, às duas mais importantes posições no diálogo sobre a justificação pela fé.
Gundry opõe-se a uma doutrina fortemente estabelecida nos fundamentos da fé protestante, e claramente
justifica sua posição pela doutrina da Sola Scriptura. A imputação percebida por Robert Gundry não é
aquela que a tradição Reformada defende.
Quando estudando a Epístola aos Romanos, capítulo 4, escrevi sobre a justificação o seguinte: “A Palavra
de Deus é eficaz, e uma vez pronunciada a justificação do pecador ele se torna justo verdadeiramente.” A
justificação de Deus é explicada como a obra de imputação ou crédito de Deus. Mas, tal coisa não
acontece sem a real ação de Deus justificando interiormente o coração do ímpio, tornando-o justo.
Há algo profundo no texto de Romanos 4,2-5. Na tradução de John Piper, o texto lê no verso 4: “Now to
the one who works, his wage is not credited/imputed (logizvetai, logizetai) according to grace (kata ;
carvin, kata charin), but according to debt (kata; ojfeivlhma, kata opheil∑ma).” Isso significa que ao
trabalhador o salário é “creditado” ou “imputado” como dívida. Ou seja, é imputado segundo a dívida, ou
é imputado de acordo com a dívida.
De acordo com a doutrina da imputação da justiça de Cristo ao pecador, que é feita apenas legalmente, de
forma forense, pois a fé é o meio pelo qual o pecador é contado como se fosse justo. Segundo Rm 4,4, as
obras são “imputadas” ao trabalhador segundo a graça. Essa imputação é o pagamento devido por conta
do trabalho prestado, o que não significa ser creditado ou imputado como se fosse um pagamento por um
trabalho feito, mas é realmente a imputação do justo salário na conta do trabalhador.
Da mesma forma, ao que não trabalhou mas creu em Deus, a sua fé é imputada ou creditada segundo a
graça, de acordo com a graça, que faz o homem justo sem merecimento, sem obra e mérito próprio, mas
realmente recebe a justiça por causa da fé.
Essa não é a interpretação de Robert Gundry, que viu na fé de Abraão a sua justiça, imputada por Deus.
De igual maneira não é a forma que apresenta a teologia reformada segundo John Piper que o salário seria
“tratado como” (p.56) justiça do trabalhador. Na verdade, o sentido usual e comum é que o salário
daquele que trabalha é sua justiça. Por isso São Paulo usa de comparação, quando o salário é creditado
por pagamento pela obra prestada, e a justiça é creditada levando em conta a fé em Deus, Aquele que
justifica. O salário é o pagamento, mas a justiça é gratuita. Essa é a comparação feita. O salário é
imputado, creditado, e realmente entregue ao trabalhador, assim como o é a justiça. Essa é a infusão
espiritual da justiça, comparada à entrega material do salário. (ser imputado como algo que ele não é ver
Gn 15,6; Gn 31,15; Nm 18,27)
A respeito da infusão da graça na justificação, Santo Tomás responde que é necessário que a graça seja
infusa na justificação do ímpio, pois é proveniente do amor de Deus, que “implica um certo efeito da
graça”. xxvii
https://vimeo.com/39973910?fb_ref=Default%2C%40Total xxviii
Essa é uma mera suposição. xxix
“Gundry understands justification to include liberation from slavery to sin. In other words, he blurs
the distinct operations of God in justifying and sanctifying.” xxx
Destaques em Romanos, http://www.c-224.com/20aTHINKING.html xxxi
Disponível em: http://www.c-224.com/20ENTENDER.html. xxxii
“The traditional Protestant Reformation understanding of justification is that justification is a
forensic term.” Disponível em: http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-podcast/transcript/s11-
09#ixzz3nvoW3yxs. Isso concorda com a visão dos Reformadores protestantes, de que “God declares us
just on the basis of Christ’s work and our faith in him.” (Read more:
http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-podcast/transcript/s11-10#ixzz3nvAPLw4J) xxxiii
“In contrast to the Roman Catholic view, Luther’s view is that justification is a legal transaction that
affects our status before God, but it is not a moral transformation.
(http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-podcast/transcript/s11-09#ixzz3nvyFlzF6)” xxxiv
“Rather, we really are acquitted by God; we really are
pardoned.(http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-podcast/transcript/s11-09#ixzz3nw3bW7py)” E,
para esclarecer: “Rather, he really does forgive us and pardon us and declare us to be righteous on the
basis of Christ’s righteousness. (http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-podcast/transcript/s11-
09#ixzz3nw46pzT7)” xxxv
“Justification may be defined as that judicial act of God’s free mercy whereby he pronounces guiltless
sinners condemned under the law, constitutes them as righteous once for all in the righteousness of Christ
on the ground of his atoning work by grace through faith alone apart from works, and assures them of: a
full pardon, acceptance in his sight, adoption as sons, heirs of eternal life, the present gift of the Holy
Spirit, and enables them to perform good works.(http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-
podcast/transcript/s11-09#ixzz3nw7iYvQx)”