JULHO 2011

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ANO XIV - No. 174

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JULHO/2011 - ANO XIV - No 174

O ESTAFETAFoto arquivo Pro-Memória

Julho, mês de férias. Piquete recebe umnúmero maior de visitantes. A maioria, filhosda cidade que vêm rever parentes e amigose matar a saudade das paisagens man-tiqueiras. A expectativa dos que chegam ésempre encontrar a cidade bonita, bemcuidada, motivos dos quais possam seorgulhar. No entanto, deparam-se com ruasmal cuidadas, prédios abandonados, lixo àsmargens dos rios e praças, encostascalcinadas, desprovidas de arborização.Falta de cuidado estético com a paisagem.Poderia ser muito diferente. No entanto...

Todos os moradores sonham com umacidade bonita, que lhes ofereça qualidadede vida. Para que isso ocorra, porém, épreciso que haja envolvimento dos mo-radores no cuidado com ela. A cidade é oespaço de compartilhamento da vida emsociedade, local de convivência plena, ondemoramos, trabalhamos, construímos nossosprojetos de vida. Por que, então, nem todosnós temos consciência do nosso papel nocuidado com esse espaço? Por que vemos,diariamente, cenas repetidas de depredaçãodo patrimônio público, de agressão notrânsito ou atitudes corriqueiras e simplóriascomo jogar lixo no chão ou em locais nãoapropriados? Se atitudes como essas

causam revolta à maioria, ao mesmo temponos perguntando: por que essa indignaçãonão atinge a todos? O que falta para quecada um dos moradores da cidade com-partilhe da mesma preocupação?

Precisamos é de ações afirmativas quebusquem despertar a responsabilidadesocial em cada um de nós, ou seja, fazerbrilhar em cada indivíduo seu papel decuidador da cidade. Este é um grandedesafio a ser vencido.

Cuidar da cidade é muito mais do quepreservar o patrimônio público. É, acima detudo, ter atitude fraterna e de respeito comos demais cidadãos, inclusive nas nossasrelações familiares, comunitárias e detrabalho. Cada morador consciente deveingressar num processo cívico de cuidar dacidade e levar a outras pessoas essaexperiência que, em rede, envolverá outras.

Vivemos um grande momento de ampliara consciência cidadã, pois, da mesma formaque somos detentores de direitos, tambémtemos responsabilidades. Dar exemplo decidadania é cuidar da nossa cidade comoextensão de nossa casa. Precisamos olharcom mais carinho por ela, mesmo diante detantos desafios. Seu futuro será melhor setrabalharmos para isso.

A soberania nacional não tem preço.Para assegurá-la é preciso, indiscu-tivelmente, investimento maciço em suaindústria bélica. No entanto, não é o quevem acontecendo no Brasil. No pas-sado, para suprir as necessidades dasForças Armadas e, consequentemente,assegurar a soberania de seu território,o Brasil, que dependia da importação deexplosivos e munições, instalou nomunicípio de Piquete uma fábrica depólvora química. Foi o embrião de umcomplexo industrial bélico sem pre-cedentes na América Latina. Essa in-dústria recebeu investimentos até osanos de 1970.

Em 14 de julho de 1975, o governocriou a IMBEL, empresa pública vincu-lada ao Ministério do Exército, da qual afábrica de Piquete passou a ser a unidadenº 1. A partir de então, a IMBEL vemacumulando dívidas e prejuízos. Desdeos anos 80 sua despesa é maior que suareceita. Sem investimento por parte dogoverno federal, nossa indústria bélicapassou a viver de sobressaltos, situaçãoque repercute de maneira negativa emseus funcionários e na comunidade. Essegrave problema, que se arrasta hádécadas, precisa ser efetivamenteequacionado. Segundo a revista ISTOÉ, em sua edição 410, o governo federalcriou recentemente um grupo de estudoscom representantes dos ministérios daDefesa, Planejamento e Fazenda com oobjetivo de encontrar um meio de tornaressas empresas menos vulneráveiseconomicamente. Segundo o professorRui Barbosa, pesquisador do Núcleo deAnálise Interdisciplinar de Políticas eEstratégia, da Universidade de SãoPaulo, “Nenhum fabricante de arma-mento bélico, em nenhum país domundo, tem lucro”. “Todo país precisaser independente em armamento, já quenunca se sabe quando poderá haverconflito”, complementa Gunther Rudzit,coordenador do curso de RelaçõesInternacionais da FAAP, de São Paulo.

A questão da sobrevivência daIMBEL é séria. Nossa indústria bélicanecessita de direto e efetivo investi-mento governamental, proporcionandoo apoio necessário à fabricação, pro-dução e comercialização de produtos dedefesa. É preciso, por parte do governo,uma estratégia visando à implantação demetas que permitam sua sobrevivênciaapoiada na Política Nacional de Defesa.Deixar de investir na indústria de defesaé miopia política, é retroceder na história.

Julho, mês de férias. Piquete recebe um número maior de visitantes. A maioria, filhos da cidade quevêm rever parentes e amigos e matar a saudade das paisagens mantiqueiras. A expectativa dos quechegam é sempre encontrar a cidade bonita, bem cuidada, motivos dos quais possam se orgulhar...

Cuidar da cidade é exemplo de cidadania

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Página 2 Piquete, julho de 2011

Imagem - Memória

Revendo uma antiga fotografia do álbumde Francisco Máximo Ferreira, uma delaschamou-nos a atenção: tirada durante aRevolução Constitucionalista de 1932,mostra o capelão militar Estanislau Lemejunto a essa família, uma das poucas quepermaneceram na cidade nos primeirosmomentos desse conflito. Com a eclosãodesse movimento revolucionário, a maioriada população se retirou para a zona rural.Aos poucos, retornaram, passando a contri-buir com os soldados paulistas.

A Revolução Constitucionalista de 1932,desencadeada em São Paulo, foi um dos maisimportantes acontecimentos da históriapolítica brasileira, ocorrido durante oGoverno Provisório de Getúlio Vargas.Foram três meses de combate que colocaramfrente a frente, nos campos de batalha,forças rebeldes e forças legalistas. Essemovimento revolucionário teve apoioimediato de vários setores da sociedadepaulista. Pegaram em armas intelectuais,industriais, estudantes e outros segmentos.O que os movia era, principalmente, a lutaantiditatorial e a constitucionalização dopaís. Nesses poucos meses de conflito, SãoPaulo viveu um verdadeiro esforço deguerra. Não apenas as indústrias se mobi-lizaram para atender às necessidades dearmamentos, como ocorreu com a Fábricade Pólvoras sem Fumaça, de Piquete, mastambém a população, que se uniu, contri-buindo de diversas maneiras para a causarevolucionária.

Com a eclosão da revolução, foi grandeo número de denodados paulistas que se

apresentaram voluntariamente para seincorporar às tropas regulares, cujos efetivoseram reduzidos. Entre esses voluntários,encontrava-se o estudante Luiz GonzagaNaclério Homem, que, àquela época, estavamatriculado na Escola de Direito de SãoPaulo. Apresentou-se em um dos postos derecrutamento, foi incluído em uma sub-unidade de uma Companhia de Reserva do6º Regimento de Infantaria e seguiu para oVale do Paraíba, onde se desenvolvia umasangrenta e fratricida luta. Esta subunidadetinha como finalidade preencher os clarosque se dessem nessa frente de combate.Essa Companhia chegou a Piquete na manhãde domingo, dia 17 de julho de 1932. Vieramguarnecer a Fábrica de Pólvoras. Encon-traram a cidade quase deserta.

Engastada no pendor da Mantiqueira,Piquete era uma importante posição militarnão apenas por causa da Fábrica, mas pordistar poucos quilômetros de Minas Gerais,sendo passagem natural de Itajubá paraLorena. Em Piquete, encontravam-se volun-tários conscritos do Exército, e, constituindoa maioria, praças da Força Pública e do seuCorpo Escola, perfazendo o total aproximadode oito mil homens, inclusive os dois milque se encontravam no alto da serra. O sinoda antiga matriz pontuava as horas. O friode julho, o incessante matraquear dasmetralhadoras e os tiros dos canhõesreforçavam o medo. Entre os soldados dessaCompanhia estava o padre Estanislau Leme,descrito por Naclério Homem como “sisudo,mas que conquistou sua integral simpatia,apesar de sua face muda como um túmulo,

impenetrável como um mistério, fechadacomo o limiar da igreja local (...)”. Todas asperipécias da 6ª Companhia foram regis-tradas por Naclério Homem em um diário.Após passar por Piquete, Quilombo, Fa-zenda Passa-Quatro, Serra dos Marins,Garganta do Diabo, recuou, a exemplo deoutras tropas, no dia 14 de setembro.Embarcou às 7h30min da manhã num trempara Lorena. O pelotão foi a última tropa asair de Piquete. Naquela noite, ali chegaramos soldados ditatoriais. Em seu diário,assinala: “Quando partimos, não vimos nemao menos um soldado na pequena estaçãonem nos seus arredores. Durante a viagem,notamos, com mágoa, o êxodo dos mora-dores de toda a região de Piquete. Era tristeobservar a longa fila de fugitivos que,apavorados com a aproximação dos ini-migos, abandonavam suas lojas, suasoficinas, suas casas, suas lavouras, suascriações e lá se iam a pé, a cavalo, emcarroças, estrada a fora, sem destino certo,com mulheres, velhos, crianças, enfermos,alguns animais de estimação e os poucoshaveres que conseguiam carregar (...)”.

Essas memórias de Luiz GonzagaNaclério Homem foram publicadas pelaBIBLIEX com o título de “Lembranças deum Belo Ideal”. Francisco Máximo, mestredo 2º Grupo da Fábrica de Pólvora semFumaça, e sua família se retiraram para SãoPaulo num trem especial, com partes domaquinário da Fábrica e outras famílias deoperários. Foram sumariamente demitidospor Getúlio Vargas e readmitidos emdezembro de 1932.

Foto Arquivo Pro-Memória

Lembranças de um belo ideal

Padre Estanislau Leme e família de Francisco Máximo Ferreira, durante a Revolução de 1932. Sentados: Armando de Castro Ferreira, senhor ChiquinhoMáximo e o padre. Em pé: ?, Zeli, Quiti, Maria Aparecida Leite Ferreira, com Clélia de Castro Ferreira ao colo, Eurípedes de Castro Ferreira, Maria deLourdes Ferreira e José de Castro Ferreira, com a filha Dóli de Castro Ferreira ao colo.

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, julho de 2011

Mirthes MazzaPoucos sabem que 18 de julho é o dia

consagrado aos trovadores.Trovador é uma palavra derivada do

provençal “trobador” (poeta), provenientedo verbro “trobar” (compor por versos).

Segundo Jorge Amado, não pode havercriação literária mais popular e que maisfale diretamente ao coração do povo doque a trova. É através dela que o povotoma contato com a poesia. Por issomesmo, a trova e o trovador são imortais.

Todo trovador é poeta, mas nem todopoeta é trovador, pois nem todos sabemmetrificar, visto que a trova é um poema dequatro versos setissílabos, com rima esentido completo. Quando surgiu, estavaintimamente ligada à poesia da IdadeMédia, época em que trova era sinônimode poema e letra de música.

A cultura trovadoresca refletia bem opanorama histórico desse período: asCruzadas, a luta contra os mouros, ofeudalismo, o poder espiritual do clero.Na Literatura, desenvolveu-se em Por-tugal um movimento poético chamado“trovadorismo”. Os poemas produzidosnessa época eram feitos para ser can-tados por poetas e músicos, e foram osprimeiros a ser publicados. Hoje, en-tretanto, a trova possui conceituaçãoprópria, diferenciando-se da quadra e dapoesia de cordel, bem como do poemamusicado da Idade Média.

No Brasil, a partir de 1950, surgiu ummovimento cultural em torno da trova: otrovismo. A palavra foi criada pelo poeta epolítico José Guilherme de Araújo Jorge epor Gilson de Castro, poeta cujo pseu-dônimo era Luiz Otávio, responsáveis porestudar e divulgar a quadra popularbrasileira. Em 1960, após um congressode trovadores em Salvador, foi fundada aUnião Brasileira de Trovadores.

Considerado o Príncipe dos Tro-vadores Brasileiros pelo seu trabalho emprol da trova, o carioca Luiz Otávio,nascido em 18 de julho de 1916, teve adata de seu nascimento escolhida comoo Dia Nacional do Trovador.

Nas últimas décadas vem desper-tando o neotrovismo, que é a renovaçãodo movimento em torno da trova no Brasil.Em Piquete não podemos nos esquecerde nomes como Mariinha Motta, CidaReis, Myrthes Mazza, Élbia Priscila deSouza, Domingos Sávio Vidal, GeraldoGonçalves, que se dedicaram e se dedicamà arte de trovar.

Dia Nacional doTrovador

“Amizade é sol que aqueceAonde quer que se vá;Nem sempre o sol aparece,Mas se sabe que está lá...”

(Trova vencedora em “Juegos Florales delCaribe”, em Santo Domingo, na RepublicaDominicana, em 2009)

***************

Mirthes Mazza

Laureada como poeta e declamadora,Mirthes Mazza Masiero coleciona títulos emedalhas obtidos em recitais e concursosde poesia e declamação. É conhecida portodo o Vale do Paraíba pelo talento, arte ebrilho com que expressa a palavra. A poesiapor ela recitada ganha vida, tem sonoridadee brilho especiais. Interpreta como poucos.

Pedagoga, professora, militante ativa naárea da cultura e da educação, foi diretorade escola, professora da UNIVAP, as-sistente técnica da Divisão Regional deEnsino do Vale do Paraíba. Neste cargo, foiresponsável pelo ensino de primeiro graurural e profissionalizante de todo o Vale eLitoral Norte. Tem poemas publicados emvários jornais, revistas e antologias. Éautora de “Poemínimos” e co-autora de“Mulheres de São José”, “Bons Autores”,“Saciedade dos Poetas Vivos”...

Filha do professor Pedro Mazza e deIdalina Marcondes Romeiro Mazza, Mirthesnasceu em Lorena num 29 de julho doséculo passado. Iniciou seus estudosprimários na escola Gabriel Prestes. O pai,que trabalhava na FPV, e viajava diariamenteno trenzinho dos operários, achou por bemmudar-se com a família para Piquete, em1948. Vieram morar na “rua dos professores”e foram vizinhos de José Geraldo Evan-gelista, Leopoldo Marcondes, RicardaGodoy, Miguel Médice, João Evangelista doPrado, Odaísa Frota, Pini e Maravalha.Cursou o quarto ano do Grupo no AntônioJoão. Cita as colegas Mabel Viana, AlziraRosa, Dinho Maduro, Shirley e Suely Villar,Diná Encarnação. Após a conclusão doGrupo, matriculou-se no Ginásio da FPV. “Aformação que recebi no DepartamentoEducacional da FPV foi o que de melhorpoderia ter recebido”, afirma. “Lutgardes deOliveira, diretor e professor de matemática,Marília Ester, Ozires Araújo, Zito... O corpodocente era excepcional”, complementa. Emseguida, ingressou na Escola Normal LivreDuque de Caxias, formando-se professoraem 1957. “Fui a primeira da turma...”, diz,orgulhosa. Como prêmio, recebeu a “Cadeira

Prêmio”, isto é, foi contratada para lecionarno Curso de Aplicação Duque de Caxias.

A paixão pelos versos veio desdepequena. Com facilidade para decorar, donaSinhá, sua mãe, a colocava em cima de umacadeira para declamar poesias. Assim foi seapaixonando ainda mais... Em 1956, repre-sentando Piquete, ganhou a medalha“Arnolfo de Azevedo”, num concurso dedeclamação em Lorena. Fazia parte do júriPéricles Eugênio da Silva Ramos, MenottiDel Pichia e Cassiano Ricardo. Mirthesdeclamou “A Iara”. Foi ovacionada. “Cas-siano Ricardo se levantou para me abraçar”,conta. Mais tarde, Cassiano escreveu“Bando de Canários” especialmente paraque declamasse. “É uma preciosidade queguardo com muito amor. Não consta de suaantologia”. Mirthes conta que, em Piquete,nos anos 50 e 60, Michel Gosn, entusiastada poesia, promovia encontros e concursospara estimular os jovens. Foi aí que co-nheceu Thaís Florinda, Ritinha Cezimbra,Mariná Sarmento, poetizas e declamadorasrenomadas.

A paixão pelas letras fez nascer,também, a atração pela representação. Em1957, a professora Nely Quadrado e oMajor Lessa Bastos resolveram criar oGrupo Arte, de teatro. Encenaram “YayáBoneca”, peça em que Mirthes fez o papelprincipal. A peça foi premiada e o grupoviajou por várias cidades. Encenaram,entre outras peças: “Pluft, o Fantas-minha”, “Comédia do Coração”, “Assolteironas do Chapéu Verde”.

Foi no teatro que conheceu Palmyro“Yeyé” Masiero, “um conquistadornato...”. Casaram-se em 26 de dezembrode 1959. Tiveram quatro filhos e trêsnetas. Em 1968, a família mudou-se paraSão José dos Campos. Mirthes e Yeyésempre estiveram ligados à arte e àcultura. Em São José, participaram ativa-mente da vida daquela cidade, comoeducadores e agentes culturais. Cidadãjoseense, Mirthes faz parte da UniãoBrasileira de Trovadores, da AcademiaJoseense de Letras e é membro fundadorda Academia de Letras de Lorena.

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O ESTAFETA Piquete, julho de 2011Página 4

As pessoas ocupam, dinamicamente,seu espaço, lugar de habitação. Ou seja,movimentando-se entre as instalações,criando paisagem, modificando o meioambiente, convivendo, criando e recriandopelo trabalho e atividades. Alterações que,se não forem bem controladas, poderãotrazer males e resultados negativos. Hajamvista os índices de poluição cada vez maisdramáticos.

As modificações são frutos das rupturase ensejam a continuidade, pois, mesmo oque se torna habitual e, portanto, tradicional,altera-se por comodidade, necessidade,interesse ou imitação. Assim são hábitosde convivência, de celebração, comemo-rações e festas, e, a partir dos sistemasbásicos, os de vestir e os de alimentar. Amoda movimenta um enorme centro deinteresses para produção e consumo, alémdo uso da criatividade e de mão-de-obra.Não o fazem menos os produtos alimentaresde consumo e as receitas nas quais têm suasraízes. Grupos distinguem-se em seuslugares de vivência, expressados por línguas(idiomas), símbolos, trajes típicos, ar-quiteturas, contatos sociais – festas, porexemplo –, cozinhas nos pratos prefe-renciais.

Por exemplo, há os pratos de natal e osde festas juninas. Entre estes, no sudoestedo Brasil estão presentes o bolo de fubá

Pé-de-Moleque ou Pede, moleque!(bolão), a canjica, o doce de abóbora e o debatata, o milho verde, a pamonha, a pipoca,o quentão, e ainda as toalhas e flores depapel crepom e as bandeirinhas coloridas,além dos mastros dos santos homena-geados: Santo Antônio, São João e SãoPedro. Mas os antigos arraiais das festasjuninas estão desaparecendo, e, com eles,os mastros. Remanescem as bandeirinhascoloridas que, nas áreas cada vez maisurbanizadas, se misturam aos postes e fioselétricos.

Os doces, já substituídos pelos“churros”, e o quentão, pela forte misturade álcool de outras bebidas de designaçõesjocosas ou globalizadas. Onde perceber ospés-de-moleque, por exemplo? De ondesurgiu esse nome? A receita original, hojetransformada nos “quebra-queixos” indus-trializados, exige ingredientes básicos comoo melado e a rapadura, com um pouco deágua, para serem mexidos até aparecer ofundo do tacho. Atividade doméstica, ouseja, caseira antiga, de paciência e dedi-cação, com fogo mantido firme. É quandoentra o amendoim torrado. Sem parar demexer até o ponto de cristalização. O pontotem de ser respeitado até que a massa possaser espalhada sobre uma pedra lisa untadacom manteiga. Quando esfria, dá-se o corteem pequenos quadrados. Em outros lugaresdo Brasil usa-se substituir amendoim por

nozes ou soja, e em Pernambuco, informa-nos o colunista Dias Lopes do “Estado deSão Paulo” (junho de 2011), usa-se o nomede pé-de-moleque para um bolo de mandiocacom leite de coco, açúcar, cravo, erva-doce,castanha de caju, ovos e manteiga.

Mas, enfim, o nome do doce seriaproveniente das pedras irregulares doscalçamentos antigos – coloniais, como osencontrados em Paraty e Ouro Preto. Aosolidificar-se, a textura e a aparêncialembrariam a superfície das ruas dos lugarescitados.

Outra versão refere-se ao assédio aostabuleiros que eram levados pelos vende-dores, os quais, para afastar os indesejáveis“espertos” gritavam “Pede, moleque”!

Para outros, trata-se de uma invençãoárabe apreciada pelos califas e, como tal, osdoces ganharam a Península Ibérica durantea Idade Média. Os portugueses chamam-nonougado, palavra derivada do francês,nougat, preparado com mel e amêndoas.Outros, ainda, admitem ter sido originadoda cozinha dos escravos. Estes, entretanto,envolveram-se em sua produção no Brasil,substituindo o mel pelo melado de cana,bastante disponível no fabrico do açúcar.Nas rupturas e continuidades, o pé-de-moleque se assemelha ao nougat francês,ao torrone italiano e ao turron espanhol.

Dóli de Castro Ferreira

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Já há algum tempo as chamadas “redessociais” dominaram a rotina dos adoles-centes. Para os mais jovens, que nãoconhecem outra realidade a não ser a dos“bits e bytes”, “já nasceram teclando”, sobo domínio das fibras óticas e da internet, éinconcebível não ter amigos e gruposvirtuais. Os poucos que não se renderam ànuvem de comunicação são os “desconec-tados”, versão virtual dos ultrapassados“antissociais”, aqueles que não parti-cipavam das brincadeiras...

Bem... Não há dúvidas de que há prós econtras a utilização da internet para angariaramigos e participar de grupos. Não é este,porém, o motivo deste texto. Achei im-portante, porém, apresentar esta minhavisão de quem conheceu o mundo antes edepois da internet. Deixo a análise maisprofunda para os especialistas...

A internet veio para ficar. Atualmente, éferramenta essencial para nossas vidas, sejaela a profissional ou a pessoal. Quanto àprofissional, os motivos são óbvios. Comrelação à pessoal, essa afirmação podeparecer que veio de um jovem que passahoras diante do teclado... Mas não é... Nãome é possível ficar o dia inteiro “twittando,facebooking, orkuting...” Acredito, porém,que a internet é uma ferramenta muitointeressante para nos comunicarmos comamigos e familiares, retomar contatos há

tempos perdidos, trabalhar... Essa é minhaexperiência na “net”. Utilizo-a como fontesde pesquisas, de contato e de recordação...Parece um contraponto, mas a modernidadeestá trazendo à tona a saudade dos “bonstempos” em que ela não existia, em que aseda era a base das cartas, a chamada“interurbana” demorada era o meio decomunicação mais eficiente...

Acessem o Facebook, a maior rede socialdo mundo. Procurem comunidades cujotema seja Piquete, por exemplo. São várias.Mas uma delas está excepcionalmente ativaem função de jovens nem tão jovens assim...São piquetenses ausentes que vêm pos-tando fotos antigas para rememorar temposque “não voltam mais”. E a procura égrande... As imagens suscitam lembrançasas mais variadas: alguns tentam identificaros personagens (sempre há alguém queconhece todos...); outros apontam asmudanças da paisagem... Mas todos têm umponto em comum: o carinho pela cidade e ashistórias da cidade e da família, que podenem estar mais em Piquete. Vale lembrar quetambém são postadas fotos atuais, prin-cipalmente de paisagens e eventos. Para osque estão longe mas continuam ligados àcidade são oportunidades de momentosprazerosos.

Em texto no mês passado, escrevi sobrea importância que aprendi a dar à memória.

Acredito que esse sentimento está ganhan-do forças com a internet. A tecnologia veiopara ficar; é essencial, como já disse. Ointeressante é que está sendo útil, vejamsó, para provocar saudades... Não confun-dam, no entanto, saudade com o saudo-sismo, que nos causa sofrimento. Estou mereferindo às lembranças de bons momentos,dos quais não queremos e não podemos nosesquecer... Esses nos fazem querer compar-tilhar a alegria... E é o que fazemos ao postarfotos e textos que nos agradam. A internet,portanto, se bem utilizada, traz saudade...

Vamos lá... Compartilhemos muitasfotos... Compartilhemos a história...Compartilhemos as saudades...

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

A internet e a saudade...

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O ESTAFETA Página 5Piquete, julho de 2011

Os livros registram que Thomas Moore(Morus em latim) ensinou a língua latina –língua da ciência à época – à sua esposa,para que a permanência de Erasmo deRotherdam em sua casa se desse da maneiramais agradável possível.

Eram duas mentalidades que se com-plementavam. Enquanto, pela boca daloucura, Erasmo descrevia os vícios daépoca, Moore projetava a cidade ideal.

Aplicando os dados colhidos nas duasobras essenciais ao entendimento doscaminhos da humanidade – Utopia e OElogio da Loucura – podemos concluir quetudo pode ser resumido em um só vocábulo:interesses.

Dois exemplos atualíssimos: 1. O livretrânsito na Comunidade Europeia. Quandoos governantes se recusam a receberestrangeiros em seu país não se trata dexenofobia. Trata-se de falta de empregos.Uma população pobre e desempregada sópode trazer problemas.

2. O Mercosul. Se o Brasil importa trigoe arroz da Argentina, os nossos produtoresficam prejudicados. Pero Vaz de Caminhacometeu um erro de geografia. Não é no

Brasil que “em se plantando tudo dá”; é naArgentina. Em matéria de solos, Deus não ébrasileiro; é argentino. Os custos deprodução na Argentina são muito maisbaixos.

A Organização das Nações Unidas foi agrande esperança da humanidade no após-guerra.

Esperança vã. Quem acompanha onoticiário conclui que no mundo só há doispaíses antidemocráticos: Cuba e Irã. A Líbia,após marchas e contramarchas, tinha sidoreabilitada.

Há pouco, o Sudão, um dos países maispobres do mundo, foi dividido em dois –agora são dois países miseráveis que aindavão ter de dividir o petróleo. Vai ser muitofácil. Mais alguns milhares de mortos devemser contabilizados.

No meu entendimento, o papel da ONUé proteger as populações civis. Impedir quefiquem vagando famintas, com privação deseus bens e sendo consideradas ameaçapelos países vizinhos.

Em vez disso, nas guerras civis, a ONUtoma partido e envia tropas, ainda permiteque países que têm interesses na região se

Utopiasfaçam presentes com armas – como estáacontecendo no mundo árabe.

Se Erasmo vivesse hoje, o que diria pelaboca da Loucura?

E Moore, como projetaria a sociedadeideal?

A grande utopia da humanidade é a paz.E o mundo sempre foi um balaio de gatos deinteresses.

A ONU tem-se mostrado incompetentepara administrar o balaio.

O Brasil é um país com grandesproblemas.

Vamos projetar nossas utopias commodéstia – que o país seja realmentedemocrático; que do Caburaí ao Chuí, daContamana ao Seixas cada cidadão brasileirotenha voz e vez.

Sem querer ficar bonito na foto, o Brasildeve ser solidário com os vizinhos, dandoaquilo que pode dar.

Vamos ser comedidos nas utopias. E quea Loucura não cochile esquadrinhando edenunciando, na medida do possível, ointricado balaio de interesses.

Abigayl Lea da Silva

Nos últimos tempos, usamos comfrequência o termo cidadania em qualquerdiscurso ou diálogo trivial, pois estevocábulo consiste, devido ao seu sig-nificado abrangente, em designação quetende a ser oportuna e adequada eminúmeras situações.

Todos experimentamos o exercício dacidadania ou o seu desrespeito na vida e,assim, acabamos perfeitamente aptos paraapontar a existência ou a falta da mesma,

sem dificuldades. Um espaço em que acidadania deve por todos ser exercida é nocotidiano das cidades. Buscar o desen-volvimento sustentável, não agredindo omeio ambiente, de maneira a não prejudicaro desenvolvimento futuro, é o objetivo aser alcançado.

O desenvolvimento sustentável nãodeve ser visto como uma revolução, ou seja,uma medida brusca que exige rápidaadaptação, mas, sim, uma medida evolutiva,

que progride de forma mais lenta, a fim deintegrar o progresso ao meio ambiente, paraque se consiga, em parceria, desenvolversem degradar. Existem três colunas impres-cindíveis para sua aplicação: os de-senvolvimentos econômico e social e aproteção ambiental. Essas colunas devemser dependentes uma da outra, para quecaminhem lado a lado. Dessa maneira, aparticipação cidadã vem contribuir parauma sociedade justa e fraterna.

Por uma cidade sustentável...

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O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, julho de 2011

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroQuestões metodológicas...

O nó da gravata

Sábado, dia de baile.

A banda faz sucesso.

Os ternos encontram-se à risca, de-pendurados e encapados no guarda-

roupa.

As camisas estão dispostas, uma aolado das outras, no gavetão da cômoda.

Os sapatos ficam nas respectivas

caixas, envoltos em papel de palha.As meias aguardam os pés quarenta e

dois para se mandar.

Os lenços estão ansiosos para se exibirno bolso menor do paletó.

A gravata, estirada impecavelmente,

espera o colarinho em que vai se enfiar.As abotoaduras e os prendedores de

gravata ficam trancafiados no porta-joias.

O dia decorre na expectativa do bailão.Banho tomado, barba feita, bigode

aparado, cabelos cortados e penteados.

Numa noite de clima ameno, o ternotergal cinza pega bem e é acompanhado:

“Camisa de seda azul piscina, gravata

azul pavão listrada de branco, abotoadurase prendedor de gravata de fundos azuis,

meias cinzentas, sapatos mocassim

marrom, cinto marrom. No bolso menor dopaletó, lenço gris.

Perfume suave, cativante, aliciante.

O nó da gravata – cabecinha de cobra– fator preponderante da estética, fica porconta do amigo especialista que vouencontrar antes do baile.

Vestido com elegância, tudo se ajeita:

o cuba-libre desce redondo, a dança torna-se envolvente e o flerte facilitado...

www.issuu.com/oestafeta

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www. fundacaochristianorosa.cjb.netou

A professora pegou um rabo de foguete

pior que o arranque de um daqueles que

transportam nave espacial. Dentre seusalunos de primeira série pintou um índio.

Esse índio aí, entretanto, é hindu, indiano,

natural da Índia mesmo. Com sete anos deidade e três meses de Brasil, fala e entende

português como eu de política econômica

brasileira.Entre a mestra e o garoto estabeleceu-

se como meio de comunicação o sistema de

mímica para explicar determinadas coisas,da mostra de objetos ou desenhos para

outras, depois falar clara e vagarosamente

o nome de pretexto e a repetição dele pelohinduzinho; passo seguinte: aliar o nome

dito oralmente à escrita em letra de forma e

corrida. Olhem... Uma mão (deveria termostrado algum mamão para justificar o

cacófono atrás...) de obra fora do comum. E

sem jetons compensatórios.A metodologia aplicada pela professora

para a alfabetização é o sintético-analítico,

que, em linhas gerais, é mais ou menos isso:dá-se uma palavra chave e daí se parte para

a decomposição em sílabas. Estuda-se, a

seguir, a “família” de cada uma e assim pordiante...

Certa aula, a palavra chave foi “cavalo”.

Ponto pacífico para toda a petizada, exceçãoao indiano. Tarimbada, a mestra já havia

providenciado um enorme cartaz com a

figura do animal em foco e a mostrou a ele,que assentiu ter entendido. Todos passaram

a ler a palavra escrita no quadro, nas duas

formas, bem lentamente, frisando cadasílaba: ca-va-lo. A pergunta do número de

sílabas que formavam a palavra, qual a

primeira, a segunda, a terceira...O próximo passo era o estudo da primeira

sílaba: ca. Foi escrito no quadro a “família”

dela: “ca-que-qui-co-cu-cão”. Leitura

coletiva de cada uma. Foi quando um

monstrinho em embrião achou que deveria

tirar uma dúvida:– Tia!... Não é coisa feia?

O que ele considerava coisa feira era a

quinta sílaba da “família”.Com a velha experiência adquirida ao

longo dos períodos escolares, a mestra

naturalmente disse que não. Explicou queessa palavrinha é uma forma grosseira,

vulgar, um apelido que deram a uma parte

do corpo humano. Disse ainda que nossocorpo é um conjunto complexo, uma

máquina perfeita e que nenhuma parte dele

pode ser considerada “coisa feia”. Finalizoudizendo que o nome correto dessa parte é

ânus.

– Mas “ânus” não é quando a gente fazaniversário? – voltou o interessadinho...

– Aniversário é quando se completa mais

um ano de vida. A-NO... Você tem sete anos– falou, destacando bem o “o”. Indo ao

quadro, ela escreveu em letra de forma:

ÂNUS – a parte do corpo de que estamosfalando escreve-se e pronuncia-se assim:

ânus”

A pixotada ficou por dentro e os risinhoscessaram. Lembrou-se a professora da

ignorância do hinduzinho sobre nossa

língua e pensou em deixar a coisa passar embranco, mas quando chegou-se à sua

carteira viu que ele havia escrito duas linhas

do caderno só com a palavra ânus. Enquantomatutava se deveria ou não apagar o que o

guri escrevera, ele deu entender, através da

mímica, que queria saber o que era aquilo...Como sempre se utilizou do sistema de

ligar a palavra falada ou escrita a um desenho

ou objeto que o representasse, a soluçãodo impasse eu deixo por conta de cada um.

Afinal, convenhamos, não sou nenhum

garçom de PF, ora bolas...

“Minha paixão malograda,Sufocada entre segredos,É como nau destroçadaBatendo contra os rochedos.”

“Nesta vida – a mocidade –Tal qual roseiras viçosas,Dá botões na flor da idadeAntes de encher-se de rosas...”

Mirthes Mazza duas vezes trovadora...

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O ESTAFETAPiquete, julho de 2011 Página 7

Recentemente, um grupo de criançaspequenas passou por um teste muitointeressante. Psicólogos propuseram umatarefa de média dificuldade, mas que ascrianças executariam sem grandes proble-mas. Todas conseguiram terminar a tarefadepois de certo tempo. Em seguida, foramdivididas em dois grupos. O grupo A foielogiado quanto à inteligência. “Uau, comovocê é inteligente!”, “Que esperta que vocêé!”, “Menino, que orgulho de ver o quantovocê é genial!”… e outros elogios àcapacidade de cada criança. O grupo B foielogiado quanto ao esforço. “Menina,gostei de ver o quanto você se dedicou natarefa!”, “Menino, que legal ter visto seuesforço!”, “Uau, que persistência vocêmostrou. Tentou, tentou, até conseguir,muito bem!”… e outros elogios relaciona-dos ao trabalho realizado e não à criançaem si.

Depois dessa fase, uma nova tarefa dedificuldade equivalente à primeira foiproposta aos dois grupos de crianças. Elasnão eram obrigadas a cumprir a tarefa,podiam escolher se queriam ou não, semqualquer tipo de consequência. As respos-tas das crianças surpreenderam. A grandemaioria das crianças do grupo A simples-mente recusou a segunda tarefa. As crian-ças não queriam nem tentar. Por outro lado,quase todas as crianças do grupo B aceita-ram tentar. Não recusaram a nova tarefa. Aexplicação é simples e nos ajuda a compre-ender como elogiar nossos filhos e nossosalunos.

O ser humano foge de experiências quepossam ser desagradáveis. As crianças“inteligentes” não querem o sentimento defrustração de não conseguirem realizar umatarefa, pois isso pode modificar a imagemque os adultos têm delas. “Se eu nãoconseguir, eles não vão mais dizer que souinteligente”. As “esforçadas” não ficamcom medo de tentar, pois, mesmo que nãoconsigam, é o esforço que será elogiado.Nós sabemos de muitos casos de jovensconsiderados inteligentes não passaremno vestibular, enquanto aqueles jovens“médios” obterem a vitória. Os inteligentesconfiaram demais em sua capacidade edeixaram de se preparar adequadamente.Os outros sabiam que, se não tivessem umexcelente preparo, não seriam aprovados,e, justamente por isso, estudaram mais,resolveram mais exercícios, leram e seaprofundaram melhor em cada uma das

disciplinas.No entanto, isso não é tudo. Além dos

conteúdos escolares, nossos filhos pre-cisam aprender valores, princípios e ética.Precisam respeitar as diferenças, lutarcontra o preconceito, adquirir hábitossaudáveis e construir amizades sólidas.Não se consegue nada disso por meio deelogios frágeis, focados no ego de cadaum. É preciso que sejam incentivadosconstantemente a agir assim. Isso se fazcom elogios, “feedbacks” e incentivos aocomportamento esperado. Nossos filhosprecisam ouvir frases como: “Que bom quevocê o ajudou, você tem um bom coração”,“parabéns, meu filho, por ter dito a verdade,apesar de estar com medo… você é ético”,“filha, fiquei orgulhoso de você ter dadoatenção àquela menina nova ao invés detê-la excluído como algumas colegasfizeram… você é solidária”, “isso mesmo,filho, deixar seu primo brincar com seuvideogame foi muito legal, você é um bomamigo”. Elogios desse tipo estão funda-mentados em ações reais e reforçam ocomportamento da criança, que tenderá arepeti-los. Isso não é “tática” paterna, éincentivo real.

Por outro lado, elogiar superficia-lidades é uma tendência atual. “Que lindavocê é, amor”, “acho você muito esperto,meu filho”, “Como você é charmoso”, “quecabelo lindo”, “seus olhos são tãobonitos”. Elogios como esses não estãobaseados em fatos, nem em comporta-mentos, nem em atitudes. São apenasimpressões e interpretações dos adultos.Em breve, crianças como essas estarãofazendo chantagens emocionais, birras,manhas e “charminhos”. Quando adultos,não terão desenvolvido resistência àfrustração e a fragilidade emocional estarápresente.

Homens e mulheres de personalidadeforte e saudável são como carvalhos quecrescem nas encostas de montanhas. Osventos não os derrubam, pois cresceramna presença deles. São frondosos, copasgrandes, e o verde de suas folhas mostravigor, pois se alimentaram da terra fértil.Que nossos filhos recebam o vento e aterra adubada por nossa postura firme ecarinhosa.

Texto de Marcos Meier, Mestre em

Educação, psicólogo e escritor, reproduzido

por sugestão de Laura Chaves.

Educação dos filhos

No dia 14 de julho, o assessor especialdo Ministro da Defesa, José Genoíno,recebeu, em Brasília, o General de DivisãoAde-rico Mattioli, o deputado federalCarlinhos de Almeida, o diretor do Sindicatodos Químicos de Piquete, Jeferson PintoFerreira, Ana Maria de Gouvêa (TecaGouvêa), o Presidente da Câmara Municipalde Piquete, Mário Luiz Rodrigues, PauloFernando Junqueira, o Prefeito Municipalde Piquete, Otacílio Rodrigues, o VereadorHugo Soares e Joaquim Alves Jr, para umareunião em que foi tratada a seguinte pauta:demissões dos funcionários da FPV/IMBEL, assistência de moradia aos funcio-nários demitidos, o plano de cargos e saláriosdos funcionários da IMBEL, além de outrosassuntos de interesse comum.

Com relação aos funcionários demitidos,após análise de várias alternativas, a maisviável foi buscar uma solução judicial, pormeio do Ministério do Trabalho, parareivindicar junto à IMBEL a viabilização deum TAC (Termo de Ajuste de Conduta), paraque esses empregados não sejam prejudi-cados, uma vez que o problema social nãopode ser relegado. O Deputado CarlinhosAlmeida irá contatar as autoridades paratentar viabilizar a alternativa o mais rapida-mente possível. Genoíno assumiu o com-promisso de que o Ministério da Defesa nãoirá protestar, caso a justiça estabeleçaquaisquer atitudes a favor dos empregados.

Teca Gouvêa sugeriu que o assunto dosdemitidos seja tratado como de ordem sociale solicitou que os demitidos, até que seresolva definitivamente a situação, possamusufruir das moradias da FPV que hojeocupam, pois, caso contrário, a situaçãosocial se agravará. O General Mattioli disseque iria tratar do assunto de imediato einformaria ao Diretor do Sindicato.

Quanto ao Plano de Carreira, o GeneralMattioli ficou de dar um posicionamento,uma vez que, pelos relatos, detectou fatosnovos no encaminhamento da questão.Declarou que, na sua concepção, esteassunto já havia sido resolvido.

Foram discutidos outros assuntos deordem geral da sustentabilidade da IMBELe o Ministério informou que está estudandoações que irão dar fôlego e sustentabilidadepara a IMBEL, além da possibilidade do usoda PPP (Parceria Pública Privada) no casoda participação do Exército e da demandapor produtos e mecanismos orçamentários.

Funcionários da FPVna pauta em Brasília

Fotos Arquivo Pro-Memória

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O ESTAFETA Piquete, julho de 2011Página 8

No dia 5 de maio deste ano, o SupremoTribunal Federal aprovou, por unani-midade, o direito de reconhecimento civildas uniões estáveis entre pessoas domesmo gênero. Essa decisão, bem comooutras conquistas dos homossexuais noBrasil e em diversos países, tem provocadoreações extremadas em muitos setores dasociedade, sobretudo entre os religiososmais radicais.

A Igreja tem uma doutrina moral para afamília cristã, que é muito clara e conhecidapor todos nós: a família é formada pelaunião matrimonial monogâmica indis-solúvel entre um homem e uma mulher, quedevem se respeitar, ter comunhão e gerarprole. O fato de a união estável entrehomossexuais ser reconhecida comolegítima pelo Estado não muda a doutrinaideal da Igreja, os católicos continuam coma mesma orientação moral a este respeito;por isso não há motivo para tanto pânico,como se tem visto por parte de alguns.

Durante muito tempo vivemos numEstado católico, onde o pensamento daIgreja tinha força de lei. Paulatinamenteocorreram modificações profundas; nós,da Igreja, no entanto, continuamosquerendo impor nossos costumes e

Quem não é de Igreja não gosta de sermõestradições a toda a sociedade. É tempo decompreendermos que vivemos em umestado laico e democrático, em que aconteceo diálogo e convivem as diferenças. Nãotemos, atualmente, a supremacia, nãopodemos impor nossas posições, preci-samos aprender a viver numa sociedadeplural, na qual não são os cristãos católicosos únicos a pensar, a apontar caminhos edireções. Precisamos falar, mas tambémouvir. Isto é bom.

A Igreja deve pregar para os cristãos edialogar com o mundo. Quem não é de igrejanão gosta de sermões, não dá ouvido a eles.Se os cristãos que frequentam as igrejaspraticarem os ensinamentos que lá recebem,já estará de bom tamanho, a massa seráfermentada.

O Estado, por sua vez, precisa legislarsobre a vida de todos os seus cidadãos, semdistinção. O Censo 2010, realizado pelo IBGE,apontou que existem, no Brasil, mais de60mil casais homossexuais vivendo emrelação estável, 32 mil moram no sudeste.Este número constatado seria muito maiornão fosse a influência que o preconceitoexerce sobre as respostas dadas aosentrevistadores. Toda essa gente passou aser beneficiada pela decisão do Supremo

Tribunal, poderão constar como depen-dentes de seus parceiros nas declaraçõesà Receita Federal, receber benefícios daPrevidência Social, herdar bens, dentreoutros direitos que passaram a gozar. Adecisão do Supremo deu cidadania maisplena aos homossexuais que vivem emrelação estável. O Estado cumpriu, nestecaso, seu papel de fazer a sociedade sermais igualitária.

Compreendo que alguns cristãos sesintam afrontados por essas transfor-mações que têm acontecido em nossasociedade. Faz-se necessário, porém, umcoração mais generoso, desarmado,bondoso e confiante na graça de Deus,que, muitas vezes, como diz nosso povo,pode escrever certo por linhas quejulgamos tortas.

Não é preciso impor a moral cristã atodas as pessoas. É necessário que oscristãos a vivam, não só no que se refere àfamília, mas também à prática da miseri-córdia, à vivência da caridade, à justiça, àhonestidade, coisas tão esquecidas emnosso tempo. Assim, os cristãos não terãoque discursar muito e levantar a voz. A vidae o testemunho falarão por eles.

Pe. Fabrício Beckmann

Até meados do século 19, os tropeirosforam os grandes responsáveis pelo abas-tecimento no Brasil. Como não havia trens eveículos, o comércio de mercadorias erafeito pelos tropeiros. Por longos e duroscaminhos eles levavam café, sal, milho, arroz,aguardente, azeite, vinagre, vinho e outrositens para os mais distantes lugares... Tudoem lombo de burros ou mulas. Além detransportar alimentos e utensílios, ostropeiros ajudaram a construir o Brasil:muitas cidades surgiram nas proximidadesde antigos pousos e ranchos.

Cada tropa era composta de vinte acinquenta animais, sob a direção do arreeiro,como se diz em Minas, ou do arreador, comoé chamado em São Paulo. O arreadornegociava as mercadorias, arreava e car-regava as mulas. Seguia montado, enquantoos tocadores – escravos ou empregados do

arreador – seguiam a pé. Cada tocadorconduzia cerca de sete mulas. Era precisomuito cuidado quando da organização dastropas, para não sobrecarregar os animais.A carga era distribuída em cangalhas, peçasde madeira ou couro colocadas sobre osanimais para apoiar as cestas com mer-cadorias.

Apesar de sua importância econômica,a maioria das pessoas desconhece otropeirismo ou pouco sabe sobre suahistória. Eles estão intimamente ligados aPiquete que, devido à localização geográfica,foi caminho de tropas que cruzavam aMantiqueira: descendo a serra pela Tabuletae Vila Barão, passavam pela Praça daBandeira, ruas São Miguel e Major CarlosRibeiro e seguiam em direção a Cruzeiro eCachoeira Paulista. Nesse percurso haviaquatro grandes ranchos, destacando-se os

de Mariana Relvas e de Maria da Silva. Aospoucos, com a expansão das estradas derodagem, o movimento de tropas foidiminuindo. No entanto, ainda hoje, vez ououtra, algumas, com seus jacás, cruzamnossas estradas. Em 1979, com o intuito deresgatar, difundir e valorizar esse que foi omais importante de nossos ciclos eco-nômicos, que alavancou o comércio e ajudoua criar cidades, foi criada a 1ª Festa doTropeiro de Piquete. Foi um sucesso que serepetiu por vários anos até o surgimento daFesta do Peão, que, aos poucos, foi sesobressaindo e relegando a segundo planoo tropeirismo. A Festa do peão é importantepara o município, mas não podemos relegarao esquecimento esse personagem dahistória de Piquete e do Brasil – o tropeiro.Parabéns aos que lutam pela preservaçãodesse legado.

Fotos Andréa Marcondes

O tropeirismo e a Festa do Peão