José Marques da Silva, economista em entrevista ao Novo Jornal Economia

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NOTÁRIOS LIBERALIZADOS A ministra da Justiça, Guilhermina Prata, explicou quarta-feira, em Luanda, que a criação do regime do Notariado e respectivo regula- mento vai permitir a liberalização do sector, passando esta activi- dade a ser exercida em regime concorrencial entre os notários públicos e privados. Guilhermina Prata, que falava durante uma cerimónia de apresentação de cumprimentos de novo ano, disse que a pretendida liberalização do sector do Notariado não deve ser confundida com privatização. AMBIENTE NA FIL O Ministério do Ambiente promo- ve, de 26 a 29 de Maio próximo, em Luanda, a primeira feira in- ternacional de ambiente, equi- pamentos, serviços e tecnologias ambientais. O evento, a ser orga- nizado pela Feira Internacional de Luanda (FIL), em colaboração com a iiR Exhibitions, será o lo- cal para a apresentação de novos produtos, serviços e tecnologias ambientais, contando ainda com a realização de seminários e con- ferências. A feira contará com a participação do Governo angolano, bem como de fornecedores de soluções, uti- lizadores de tecnologias, inves- tidores de vários países, além de institutos académicos e outros. Os dirigentes do Ministério do Ambiente e da Feira Internacional de Luanda (FIL) rubricaram um protocolo, em Novembro de 2010, para a realização desta iniciativa. NOVAS TARIFAS Os clientes da Emirates Airline po- dem viajar, de 1 a 28 de Fevereiro, para os Emirados Árabes Unidos pagando tarifas especiais, que na classe económica começam nos mil dólares norte-americanos, sem taxas. O lançamento da tarifa sazonal enquadra-se num momento em que o Dubai se prepara para o “Dubai Shopping Festival”, que decorre entre os dias 20 de Ja- neiro e 20 de Fevereiro. Neste período, os turistas beneficiarão de compras isentas de impostos, bem como de descontos de até 50 porcento numa vasta maioria de produtos. 1156 milhões de dólares Saldo negativo da balança comercial entre Angola e Portugal MERCADOS Petróleo Preços sobem em 2011 >>P. 10 OPINIÃO Economia Pelos caminhos da história >>P. 09 NÚMERO DA SEMANA Entrevista a Marques da Silva Internacionalizar ou “atacar” o mercado interno? FECHO Importações China encosta-se a Portugal >>P.11 >>P.06 s s

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Negócios no espaço lusófono, CPLP, relações Portugal Angola, economia angolana, internacionalização, desafios da globalização e modelos de internacionalização

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NOTÁRIOS LIBERALIZADOSA ministra da Justiça, Guilhermina Prata, explicou quarta-feira, em Luanda, que a criação do regime do Notariado e respectivo regula-mento vai permitir a liberalização do sector, passando esta activi-dade a ser exercida em regime concorrencial entre os notários públicos e privados. Guilhermina Prata, que falava durante uma cerimónia de apresentação de cumprimentos de novo ano, disse que a pretendida liberalização do sector do Notariado não deve ser confundida com privatização.

AMBIENTE NA FIL O Ministério do Ambiente promo-ve, de 26 a 29 de Maio próximo, em Luanda, a primeira feira in-ternacional de ambiente, equi-pamentos, serviços e tecnologias ambientais. O evento, a ser orga-nizado pela Feira Internacional de Luanda (FIL), em colaboração com a iiR Exhibitions, será o lo-cal para a apresentação de novos produtos, serviços e tecnologias ambientais, contando ainda com a realização de seminários e con-ferências.A feira contará com a participação do Governo angolano, bem como de fornecedores de soluções, uti-lizadores de tecnologias, inves-tidores de vários países, além de institutos académicos e outros. Os dirigentes do Ministério do Ambiente e da Feira Internacional de Luanda (FIL) rubricaram um protocolo, em Novembro de 2010, para a realização desta iniciativa.

NOVAS TARIFASOs clientes da Emirates Airline po-dem viajar, de 1 a 28 de Fevereiro, para os Emirados Árabes Unidos pagando tarifas especiais, que na classe económica começam nos mil dólares norte-americanos, sem taxas. O lançamento da tarifa sazonal enquadra-se num momento em que o Dubai se prepara para o “Dubai Shopping Festival”, que decorre entre os dias 20 de Ja-neiro e 20 de Fevereiro. Neste período, os turistas beneficiarão de compras isentas de impostos, bem como de descontos de até 50 porcento numa vasta maioria de produtos.

1156 milhões de dólares

Saldo negativo da balança comercial entre Angola e Portugal

MERCADOS

PetróleoPreços sobemem 2011>>P. 10

OPINIÃO

EconomiaPelos caminhos da história>>P. 09

NÚMERO DA SEMANA

Entrevista a Marques da Silva

Internacionalizar ou “atacar” o mercado

interno?

FECHO

ImportaçõesChina encosta-se a Portugal>>P.11

>>P.06

s s

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FALAR DE INDÚSTRIA na província de Benguela é falar do sector indus-trial não piscatório, designadamen-te a montante e a jusante da agro-indústria. Neste sub-sector estão em funcionamento ou com possibi-lidade de recuperação algumas uni-dades industriais, designadamente nos óleos, sabão, moageiras (indus-triais e artesanais), massas alimen-tares, refrigerantes, duas unidades de produção de açúcar (avultando a do DombeGrande que oferece algumas possi-bilidades de recuperação), rações, salineiras e unidades de produção de inputs agrícolas.Todavia, os níveis de operaciona-lidade persistem relativamente

baixos, verificando-se a existência de uma elevada percentagem de unidades industriais paralisadas ou semi-paralisadas.Assiste-se, presentemente, à cons-ciencialização da necessidade de inversão de ciclo, potenciado pelas infra-estruturas de apoio à activi-dade económica pré-existentes na província de Benguela, de entre elas avultando o parque industrial da Catumbela e o Porto do Lobito, as quais não deixarão, certamente, de desempenhar no futuro um pa-pel fundamental na revitalização da base económica da província.

COMÉRCIO E SERVIÇOSO comércio na província de Ben-

guela beneficia da influência geo-estratégica do porto marítimo na cidade do Lobito, permitindo-lhe beneficiar da localização, do ponto de vista do comércio com o interior do País, bem como no eixo nacional norte-sul. Este acesso privilegiado funciona ainda como principal en-trada de mercadorias vindas do sul do continente africano.A actividade comercial tem alguma expressão na vertente formal, mas caracteriza-se ainda sobretudo pela importância do mercado informal que é desenvolvido com regularida-de nos municípios do litoral, nome-adamente no Lobito, em Benguela e em Baía Farta.Turismo

Análise04 7 Janeiro 2011

Muito trabalho pela frenteBenguela

A análise à província de Benguela prossegue, desta vez com um levantamento acerca das possibilidades em diversos sectores estratégicos. Na próxima edição, o olhar ajeita-se perante as perspectivas futuras.

As potencialidades turísticas da província de Benguela, de que são exemplos as praias, a paisagem e o património natural, as facilidades de transporte e o dinamismo evi-denciado pela oferta hoteleira e de restauração deixam antever que a província será, a médio prazo, um importante destino turístico do país e, caso evolua de forma sustentável e consistente, um potencial destino internacional para férias.Trata-se de uma actividade que re-presenta uma aposta com grande in-teresse estratégico para a província, na medida em que gera um efeito multiplicador na economia da região ao estimular o desenvolvimento de um vasto conjunto de actividades

«A actividade comercial tem alguma expressão na vertente formal, mas caracteriza-se ainda sobretudo pela importância do mercado informal»

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como os transportes, a construção, o comércio e serviços, a agricultura e indústria, entre outras. Trata-se, também de uma actividade intensi-va em mão-de-obra, criando, como tal, muitos postos de trabalho. Gera importantes rendimentos, origina a arrecadação de divisas e de receita pública, conserva e valoriza o patri-mónio e a cultura e encoraja a pre-servação do ambiente.

HOTELARIA E RESTAURAÇÃOA actual capacidade instalada a ní-vel dos meios de alojamento e da restauração em toda a província é de 21 unidades hoteleiras, 61 pen-sões e outros meios de alojamento e, ainda, 871 restaurantes e 56 es-tabelecimentos classificados como meios complementares de aloja-mento. Refira-se que mais de 75% da capacidade de alojamento e mais de 90% da restauração instalada concentra-se nas cidades de Ben-guela e Lobito.A actividade na província tem-se caracterizado por uma forte dinâ-mica de evolução, mesmo acima do desempenho global da economia. Estima-se que a taxa média de cres-cimento da actividade deste sector se tenha estabelecido em torno de 12%, ao ano. Entre os muitos pro-dutos turísticos que sustentam a actividade, o turismo de negócios é aquele que, por enquanto, tem um maior significado.Porém, as actividades turísticas não dependem apenas do potencial tu-rístico, mas de um conjunto muito mais complexo, onde para além dos elementos internos ao sector, como a hotelaria, a restauração, o trans-porte e a animação, estão incluídos elementos como a segurança públi-ca, a segurança alimentar, a assis-tência hospitalar, o abastecimento de água e energia eléctrica, a limpe-za urbana, entre outros. A este nível a província ainda terá que evoluir bastante para se tornar um destino turístico consistente e sustentável.Entre os elementos internos ao sec-tor da hotelaria e restauração mere-ce destaque a necessidade de recur-sos humanos qualificados capazes, na medida em que se tratam de acti-vidades essencialmente prestadoras de serviços, pelo que a qualidade da sua prestação depende directamen-te do desempenho da sua mão-de-obra. A este nível há que encontrar rapidamente as respostas que o sec-tor já necessita.Os Principais Activos de Benguela para Vencer o Desafio do Desenvol-vimentoBenguela dispõe de um elevado po-tencial de desenvolvimento, o qual se alicerça num importante conjun-to de Activos.

OS RECURSOS HUMANOSA juventude da população, em que 50% tem menos de 15 anos e 40%

menos de 10 anos, o que possibilita uma oferta de mão-de-obra cres-cente;O incremento dos alunos inscritos no sistema escolar, ano após ano, superior a 40% ao ano. A província de Benguela apresenta uma taxa de escolarização superior a 60%;A província de Benguela continua a liderar os pedidos de procura de emprego e está, a par de Luanda, na liderança das colocações;A população da província deverá registar um crescimento assinalável nos próximos anos, decorrente do desenvolvimento económico espe-rado.

OS RECURSOS NATURAISA agricultura da província de Ben-guela, apresenta uma diversidade elevada, que a torna a par do Kwan-za-Sul, da Huíla e de Malanje, uma das áreas mais férteis do país;A pecuária tem também uma rele-vância importante, sobretudo ao nível do consumo local;A pesca, quer artesanal, quer de fro-ta, é o sector de recursos naturais mais forte da província de Benguela, para o que muito contribui o porto e as condições naturais que lhe estão associadas;Nos minérios, é de salientar a exis-tência de Cobre, Chumbo e Zinco, Manganês, Estanho, Enxofre, Diato-nite, Calcário-Dolomite, Volfrâmio, Molibdénio, Fluorite, Gesso.

«A agricultura da província de Benguela, apresenta uma diversidade elevada, que a torna a par do Kwanza-Sul, da Huíla e de Malanje, uma das áreas mais férteis do país»

A POSIÇÃO GEO-ESTRATÉGICAA província de Benguela detém uma centralidade excepcional, que apoiada pela existência de um Porto natural, do CFB, do aeroporto e do Pólo Industrial, lhe confere um posi-cionamento geo-estratégico impar no contexto nacional e regional.A localização da província é também alavancada pelo Corredor de Bengue-la, que une Angola à Republica Demo-crática do Congo e à Zâmbia (zona de mineração e capital zambiana).

O POTENCIAL TURÍSTICOA restinga, as praias e todo o enqua-dramento urbanístico-histórico, fa-zem da província de Benguela, uma área apetecida para o investimento hoteleiro, restauração e oferta de serviços complementares, nomeada-mente, ligados ao mar;O crescimento da região em termos de oferta hoteleira é verificável e au-mentou com o CAN 2010;

OS FACTORES EDAFO-CLIMÁTICOS E A APTIDÃO AGRÍCOLAA província de Benguela situa-se na parte setentrional e ocidental do País, sob o paralelo 12º 34’ 17’’ no hemisfé-rio austral, e o meridiano 13º 22’ 33’’ leste de Greenwich;A província de Benguela, tem uma área territorial de 39.826,83 Km2, o que corresponde a 3,2% da superfície total de Angola;Está em contracto directo com as

províncias do Kwanza-Sul (a Norte), Huambo (a Leste), Huíla (a Sudeste) e Namibe (Sul);Este posicionamento territorial é fa-vorável ao desenvolvimento de um ‘cluster’ alimentar (agro-pecuário e pescas).

OS RECURSOS ENERGÉTICOSOs investimentos em curso ou pre-vistos em matéria de abastecimento de electricidade e/ou recuperação de infra-estruturas de suporte as-cende a 172 MUSD;A refinaria de Benguela será um factor importante para o fortaleci-mento energético da província de Benguela, a par do desenvolvimen-to de projectos ‘piloto’ de utilização de energias renováveis.

OS RECURSOS HÍDRICOSA província é drenada por vários cursos de água que se estendem por quatro bacias hidrográficas im-portantes, do Cubal, da Hanha, da Catumbela e do Coporolo, que de-finem vales essenciais para cinco municípios litorais. Nesta conflu-ência hidrográfica da província de Benguela, apenas 3% da capacidade potencial está a ser utilizada;Encontram-se em curso investi-mentos na ordem dos 304 MUD que visam a construção do Sistema de Abastecimento Integrado de Água para a Província de Benguela, a par-tir da Baía Farta.

A província de Benguela continua a liderar os pedidos de procura de emprego e está, a par de Luanda, na liderança das colocações

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Fala-se de Internacionalização na era da globalização. O que incum-be a cada um destes conceitos na vida das empresas? Ambos os conceitos fazem parte da vida quotidiana das empresas. A glo-balização é uma contingência, uma característica incontornável do am-biente externo, ou macroestrutura, em que as empresas desenvolvem a sua actividade. A internacionali-zação não é meramente uma opção estratégica mas um verdadeiro ob-jectivo nacional para as empresas e para os Estados. Angola não será excepção e não passará à margem desse importante desígnio. As empresas beneficiam directamen-te e os cidadãos angolanos também, pois ao adquirem novas competên-cias, aperfeiçoam as suas vanta-gens e oferecem aos consumidores novos produtos e serviços. Embora numa fase muito embrionária e em sectores específicos de actividade observam-se já alguns exemplos in-teressantes de internacionalização na economia angolana.

Como é que as empresas estão a responder estrategicamente à Globalização no momento de in-ternacionalizar? Para serem competitivas no merca-do internacional as empresas têm de saber repartir as actividades da sua cadeia de valor por várias partes do mundo. O mundo tornou-se numa mega fábrica mundial, ou nas pala-vras do pensador americano Thomas Friedman “o mundo é plano”. Pode-

mos perceber melhor a realidade descrita recorrendo a três exemplos que, a este propósito, parecem bas-tante elucidativos.As conhecidas calças de ganga Levi’s, antes de chegarem às prate-leiras das lojas, percorrem milhares de quilómetros para lhe serem colo-cados os respectivos botões. Uma boa parte das powerbox para sintonização dos canais de televisão que temos em nossas casas, são hoje produzidas na Índia ou na China.A conhecida marca mundial de cal-çado Nike não fabrica os seus pró-prios sapatos porque não consegue competir com alguns produtores asiáticos que são muito mais com-petitivos. As competências chave da Nike são hoje o design, o de-senvolvimento de novos produtos, tendências e estilos de vida e o mer-chandising do seu calçado. É nesses factores imateriais que a Nike con-centra e investe os seus recursos. A eficiência com que os gestores souberem coordenar essas activi-dades é hoje crítica para maximizar o valor e a criação de riqueza para

todos os interessados, ou stakehol-ders, no futuro e desempenho das empresas.No limite a competição deixou de ser meramente entre empresas, ou como afirma o guru internacional de marketing Philipe Kotler “na competição global vence a empresa que tiver melhor network”.

Há modelos de internacionaliza-ção a seguir no espaço lusófono? Qual o papel e a experiência de Angola?O espaço lusófono representa hoje uma verdadeira oportunidade es-tratégica que não pode, nem deve, ser ignorada. A língua portuguesa é um activo estratégico da maior importância e um importante elo de promoção de uma comunidade, dinâmica, que representa hoje mais de 250 milhões de consumidores em todo o mundo. A comunidade empresarial, os deci-sores de política económica dos di-ferentes Estados e as organizações multilaterais, como a CPLP, têm o dever e até a responsabilidade de

colocarem o potencial da comu-nidade lusófona ao serviço de um modelo de desenvolvimento mais sustentado capaz de assegurar uma maior prosperidade e fomentar uma integração entre os seus povos.Para percebermos bem o alcance deste enorme potencial, por vezes não plenamente potenciado, entre 2004 e 2010, a comunidade lusófo-na foi, juntamente com a Índia e a China, o espaço económico que mais consumidores conseguiu “resga-tar” da comunidade dos que vivem abaixo do limiar de pobreza, para as categorias dos consumidores com poder de compra. Só nesse período mais de 40 milhões de novos consu-midores, tendo o Brasil contribuído com mais de 90% do total, passaram a existir para o mercado do grande consumo. Ou seja, em número de consumidores, nasceu uma nova Es-panha para o mercado da lusofonia!

O que fizeram as empresas do espaço lusofono para beneficiar dessa alteração estrutural? Como reagir ao aumento da intensidade

Os decisores e as organizações multilaterais, como a CPLP, têm o dever colocar o potencial da comunidade lusófona ao serviço do desenvolvimento

Entrevista06 7 Janeiro 2011

Internacionalizar a partir da lusofoniae das organizações regionais

Economista Marques da Silva

O economista-consultor, em conversa com o Novo Jornal, aborda a internacionalização das empresas em tempos de globalização acelerada.

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para ajudar à criação de riqueza, de emprego e a potenciar as muitas oportunidades comuns. Por razões de natureza cíclica e con-juntural Angola assumirá um papel cada vez mais relevante na econo-mia portuguesa. O Investimento Di-recto Estrangeiro de Angola em Por-tugal, avaliado pelas participações tomadas em empresas cotadas na Bolsa Portuguesa, Euronext Lisbon, representará actualmente acima de 4% da sua capitalização bolsista O movimento de privatizações que o Governo português pretende levar a cabo nos próximos anos e a inevitá-vel consolidação do seu sistema fi-nanceiro, que se não ocorrer antes, as novas regras conhecidas por “Ba-sileia III”, ao exigirem reforço dos capitais próprios, vão certamente precipitar, ajudarão a tornar este quadro mais nítido.

Exceptuando a Sonangol, quais são os principais grupos econó-micos angolanos e os primeiros passos rumo à internacionaliza-ção da sua economia?É evidente que pela missão institu-cional, pela natureza da actividade que desenvolve e pela importante liquidez a que tem acesso a Sonan-gol apresenta-se como um player incontornável e central do mapa an-golano da internacionalização.Parece-me extremamente impor-tante para a economia angolana que a Sonangol possa “arrastar” e levar consigo outras empresas e sectores de actividade na cruzada da inter-nacionalização. Trata-se de um mo-delo ”tutorial” que tem dado muito bons resultados noutras geografias e em particular quando se trata de empresas de menor dimensão que assim beneficiam da experiência e know-how das maiores.Mas também o sector financeiro angolano, com cerca de 20 institui-ções em funcionamento, algumas das quais, como o Banco Atlântico, o BIC ou o BAI, já presentes nou-tras geografias será um importante agente da internacionalização da economia angolana e um pilar mui-to importante do desenvolvimento da economia e de Angola enquanto país. O sector das telecomunicações e em particular as operadoras Unitel e Movicel podem vir a assumir posi-ções relevantes e vir a integrar redes regionais e globais de telecomunica-ções, como se verificou no interesse recente no mercado de moçambica-no por uma dessas operadoras. O sector das bebidas e em particu-lar o sector cervejeiro, onde Angola tem boas condições para ter três ou quatro grupos empresariais indus-triais/distribuição fortes, com boa capacidade de internacionalização, como o mostram as recentes ini-ciativas de colocação nos canais de distribuição dos países vizinhos da

A Sonangol apresenta-se como um player incontornável e central do mapa angolano da internacionalização

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Angola deve substituir em condições competitivas importações ao mesmo tempo que se criam postos de trabalho nas diferentes províncias, sem dar tréguas à luta efectiva contra a corrupção

Internacionalizar a partir da lusofonia

biográficos

Dados

competitiva que se antecipa no es-paço lusófono? É certo que a dinâmica e o ciclo eco-nómico não é o mesmo entre os dife-rentes países da lusofonia. Portugal, na sequência da grave crise interna-cional e da ressaca de diferentes fra-gilidades acumuladas ao longo dos últimos 20 anos, atravessa um mo-mento muito crítico da sua história económica. Contudo países como o Brasil, Angola e Moçambique, em fases de ciclo bastante positivas po-dem e devem desempenhar o papel de locomotiva, o mesmo papel que é desempenhado no seio da União Europeia pela economia alemã. Ora este quadro de forças e fraque-zas estará certamente presente nos movimentos competitivos que se vão observar nos próximos anos nos diferentes sectores económicos. No entanto parece cada vez mais evidente que em sectores críticos e com maior intensidade competitiva como, telecomunicações, banca e seguros, grande distribuição e mer-cado de food & beverage com des-taque para os mercados de vinhos e cerveja, deverão estar entre os sectores que em Angola e nos outros países têm de ser entendidos numa lógica integrada onde o cruzamento da lusofonia será determinante.

O que representa Portugal no mapa estratégico de Angola ou vice-versa?Portugal e Angola têm todas as con-dições para, caso ambos elejam esse desígnio como um verdadeiro ob-jectivo estratégico e nele se empe-nham verdadeiramente, para apro-fundarem com vantagens evidentes as suas relações bilaterais. Há um ganho líquido evidente e ambos os países e respectivos povos ficariam a ganhar. As relações comerciais, económicas e empresariais, e mesmo políticas, entre os dois países, beneficiam de condições muito favoráveis e podem afirmar-se como um importante contributo para o fortalecimento de outros (desejáveis) compromissos e plataformas de cooperação: sociais; culturais; investigação científica; desenvolvimento e partilha de tec-nologia; construção de networking empresarial; ou projectos de desen-volvimento educativo entre muitos outros que podem resultar do es-treitamento das relações entre os dois países. É certo que tem havido progressos e algum trabalho diplomático e de coordenação de iniciativas de am-bas as partes. Contudo, a sensação que fica de quem conhece o terreno é a de que há um enorme potencial que está claramente subaprovei-tado e há muito trabalho por fazer de ambos os lados. Por outro lado há problemas estruturais que se eternizam nos livros da diplomacia bilateral que em nada contribuem

cerveja Cuca ou do refrigerante Bué em Portugal.Há um conjunto de outros grupos angolanos que merecem destaque pelo seu esforço de internaciona-lização como é o caso do Grupo Es-com, já presente em vários países e em diferentes negócios, ou em com capacidades críticas como o Grupo Gema, entre muitos outros.

Angola está em duas organizações subregionais (SADC) e a (CEAC). Que aproveitamento as empresas podem incorrer desta presença, numa altura em que os mercados comuns são emergentes?Os resultados dessa integração não têm sido muito visíveis ou relevan-tes para Angola. Contudo há traba-lho importante em curso que dará os seus frutos e a via da integração e da eliminação das diferentes bar-reiras ao comércio e à circulação de factores é determinante para o crescimento dos países envolvidos e para as regiões em causa.Angola e as empresas angolanas terão muito ganhar se apostar na sua crescente integração e reforço das posições quer na SADC quer na CEAC.

O que é o projecto i-PME Angola?O projecto i-PME Angola http://ipme.aeportugal.pt nasceu para apoiar as empresas e em particular as PME’s a vencerem o desígnio da internacionalização. A internacio-nalização deve ser uma preocupação de quase todas as empresas e não so-mente das médias ou grandes. Para muitas PME’s a internacionalização é hoje, cada vez mais, condição de sobrevivência. Promovido pelo movimento associa-tivo de ambos os países e em parti-cular pela AEP e a AIA e apoiado fi-nanceiramente pelo QREN - Quadro de Referência Estratégica Nacional em Portugal.A opção pela presença física nos mercados de destino, assente numa estratégia coerente de médio e longo prazo que se traduza pela in-ternacionalização, resultará como inevitável para muitas das nossas empresas e será uma nova fase e um desafio para muitas empresas ango-lanas. Exportar poderá ser o primeiro pas-so para muitas dessas empresas, mas para se compreender e explorar as potencialidades locais de cada mer-cado é necessário estar no terreno e acompanhar permanentemente a sua evolução.No entanto, esse caminho só é pos-sível com uma preparação adequada e reflectida. Acesso a informação fiável sobre os mercados, a uma rede colaborativa para o desenvol-vimento de projectos e negócios e a um acompanhamento contínuo da nossa presença no exterior é funda-mental ao sucesso da “nova cruzada

da internacionalização”. Qual o seu vaticínio em relação ao ano de 2011?O ano de 2011 vai continuar a ser marcado por uma forte instabilida-de. Prudência e ambição serão dois pratos de uma mesma balança. Par-ticularmente importante e a merecer acompanhamento a designada luta cambial e a forma como os diferen-tes blocos comerciais vão acomodar os efeitos sobre as suas moedas. A China que tem sido o grande com-prador de um dos mais importantes “produtos” americanos, os seus Bi-lhetes de Tesouro, tem financiado os défices americanos com a sua poupança e isso poderá não durar eternamente. Na União Europeia o quadro não se apresenta risonho e apesar da apa-rente pausa para o Natal a crise da dívida soberana deverá reacender antes do Carnaval, se houver esti-lhaços Portugal não deverá escapar a essa contenda.A AIE e os principais institutos de previsão indicam que o petróleo de-verá continuar em alta sustentada acima dos 85 USD por barril e cená-rios de picos de preços não serão de excluir em 2011, o que são segura-mente boas notícias para a estabili-dade orçamental angolana e para a sua economia. O próximo ano deverá também marcar a chegada de novos grupos económicos ao mercado angolano e talvez o inicio de uma trajectória de consolidação pela via das fusões e aquisições do seu sector bancário.

Que perspectivas (desafios) para a economia angolana?Seguramente o maior desafio de An-gola continua a ser o de fortalecer a democracia e as instituições demo-cráticas no país, como a melhor via para assegurar a paz e a prosperida-de económica e social da sua popu-lação. Apostar na educação, na generali-zação do acesso ao ensino, na for-mação dos seus cidadãos, na saúde, assegurar um quadro constitucional estável com uma justiça que fun-cione, no respeito dos direitos de propriedade e num quadro regu-lamentar transparente, são pilares indispensáveis para um país que quer assegurar um futuro melhor aos seus cidadãos e ser respeitado na comunidade internacional.Assegurar um quadro de estabili-dade macroeconómica, um mix de política públicas adequadas, a di-versificação da economia, a aposta na agricultura e na indústria como uma forma de fortalecer a economia angolana, substituindo em condi-ções competitivas importações ao mesmo tempo que se criam postos de trabalho nas diferentes provín-cias, sem dar tréguas à luta efectiva contra a corrupção.

JOSÉ MARQUES DA SILVAÉ economista de formação, mas profissionalmente as-sume-se como consultor, docente universitário e con-ferencista. Foi igualmente funcionário do Parlamento Europeu, para além de ter ti-do passagem pela adminis-tração de algumas empresas em Portugal e Angola. Actu-almente tem-se destacado na abordagem sobre inova-ção e internacionalização de marcas, produtos, empresas e serviços.