JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de...

109
JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM CONCEITO DE FUTEBOL ALTERNATIVO COMO BASE PARA A REVISTA ESPECIALIZADA SÉRIE Z MARINGÁ 2015

Transcript of JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de...

Page 1: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

JORNALISMO

FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA

ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM CONCEITO DE FUTEBOL

ALTERNATIVO COMO BASE PARA A REVISTA ESPECIALIZADA SÉRIE Z

MARINGÁ

2015

Page 2: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA

ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM CONCEITO DE FUTEBOL

ALTERNATIVO COMO BASE PARA A REVISTA ESPECIALIZADA SÉRIE Z

Monografia apresentada ao Curso de

Jornalismo da Faculdade Maringá, como

requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Esp. Ronaldo Nezo.

MARINGÁ

2015

Page 3: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar
Page 4: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

AGRADECIMENTOS

São tantos a agradecer. Aqueles que me conhecem desde pequeno, aqueles

com quem convivo há quatro anos, aqueles por qual passei a conviver nesse período e aqueles

que não conheço pessoalmente, mas que me ajudaram na realização desse trabalho.

Agradeço a minha família. A minha mãe, Rosilda, por ser quem é, pelo

apoio e por todas as orações que faz com tanta devoção, que sei que me protegem. A paz na

realização desse trabalho concedida por meu pai. A minha avó, Josefina, que até semanas

atrás continuava a dizer que eu ia para a “escola”. Aos meus tios, Dirceu, Augusto e Edvaldo,

o primeiro por ter me mostrado os primeiros jornais e programas de rádio esportivos; o

segundo pelas mil histórias nos campos de futebol e o terceiro pela calma e sabedoria ao falar

do futebol. Se estou aqui é pelo amor ao futebol que vocês plantaram em mim. Agradeço a

todos da família que acreditaram e se orgulharam. Não poderia deixar de agradecer a Tia

Edna, que onde quer que esteja torce por mim e está me protegendo.

Agradeço aos professores. Ao Ronaldo Nezo pela orientação e por abrir os

caminhos quando pareciam nebulosos. A banca, Anderson e Juliana, pelos apontamentos e

principalmente, as aulas. Ao Samilo por embarcar nas ideias desde que essa pesquisa era um

“embrião”. A Luzia por ser a primeira incentivadora da minha “escrita científica”.

Agradeço aos amigos que fiz. Benício, Kaique, Everton, William e Maria

Antônia por todas as boas histórias que tivemos.

Agradeço os companheiros de trabalho que tive. Foram vários que

acompanharam essa caminhada, onde conseguia arrumar um tempinho que fosse para poder

estudar. Nessas experiências conheci pessoas como a Patrícia, Shirley e a Carol, esta pela

amizade e por ser a tradutora (para o inglês) oficial desse TCC.

Agradeço o Aldo Bizzocchi pela entrevista sobre a etimologia da palavra

alternativo.

Agradeço a Comunidade Futebol Alternativo. Não pude vivê-la desde 2004,

mas a encontrei e vi que muitos possuem a mesma predileção que eu. O grupo que foi tão

importante para essa pesquisa. Agradeço ao Daniel Paes Cuter, Emanuel Novaes Colombari,

Fernando Martinez, Gustavo Hofman, Julio Simões, Leonardo Bertozzi, Leonardo Bonassoli,

Matheus Cruz Laboissière e Sérgio Oliveira pelas entrevistas concedidas que trouxeram

elementos importantíssimos para a discussão. Alguns dos nomes que já admirava pelo

trabalho, antes de ser membro do grupo, e me ajudaram nessa etapa. Mal conheço a voz de

Page 5: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

alguns e se dispuseram a ajudar. Agradeço a todos os membros que compartilham de um

interesse ímpar.

Viva o futebol alternativo...

Felipe Augusto

Page 6: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

“Nunca vi o futebol apenas como um jogo.

Até mesmo por experiência própria. Afinal,

por tudo que já sofri com esse esporte ele não

pode ser apenas um jogo onde um time quer

vencer o outro marcando mais gols”

(HOFMAN, 2014, p. 11).

Page 7: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta a proposta editorial de uma revista

especializada, no formato digital, em futebol alternativo. Este termo conceitua o futebol, com

clubes, campeonatos, jogadores e eventos deste esporte que não são abarcados pela grande

mídia. O público do futebol alternativo se encontra na internet, mídia na qual os interessados

podem se reunir e trocar informações. O objetivo geral da pesquisa é desenvolver uma

proposta conceitual sobre futebol alternativo, como base para produção de um projeto

editorial para uma revista digital especializada. Entre os objetivos específicos, a pesquisa tem

como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e

jornalismo esportivo e relacionar estes conceitos de maneira específica. Os métodos utilizados

são a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. Entrevista e análise documental são

utilizadas como técnica.

Palavras-chave: Futebol Alternativo. Jornalismo Especializado. Jornalismo Esportivo.

Revista Digital.

Page 8: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

ABSTRACT

This Final Paper presents the editorial proposal from a specialized magazine, in the digital

format, in alternative football. This term conceptualizes football, with clubs, leagues, players

and events of this sport that are not covered by the mainstream media. The public alternative

football is on the internet, media on which those interested can meet and exchange

information. The overall objective of the research is to develop a conceptual proposal about

alternative football as a basis for producing a publishing project for a specialized digital

magazine. Among the specific objectives, the research focuses on presenting the concepts of

specialized journalism, magazine journalism and sports journalism and relate these concepts

in a specific way. The methods used are literature search and documentary search. Interview

and documentary analysis are used as technique.

Keywords: Alternative Football. Specialized Journalism. Sporting Journalism. Digital

Magazine.

Page 9: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

2 METODOLOGIA ........................................................................................................... 13

2.1 Conhecimento científico e senso comum ................................................................ 13

2.2 Metodologia: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista e análise

documental .......................................................................................................................... 14

3 FUTEBOL ALTERNATIVO ........................................................................................ 21

3.1 O contexto ................................................................................................................. 21

3.2 O histórico ................................................................................................................ 26

3.2.1 O termo no meio acadêmico ......................................................................... 29

3.3 O conceito ................................................................................................................. 30

3.3.1 O futebol que a grande mídia não mostra .................................................. 30

3.3.2 O lado inusitado do futebol .......................................................................... 36

3.4 A rotina e os hábitos de informação ....................................................................... 36

3.4.1 Presencial: o futebol alternativo diretamente dos estádios ........................ 37

3.4.2 O futebol alternativo antes da internet ........................................................ 37

3.4.3 O futebol alternativo e a internet .................................................................. 38

3.4.3.1 Transmissão em vídeo ................................................................................. 39

3.4.3.2 Sites para se informar sobre futebol alternativo.......................................... 40

3.5 A proposta ................................................................................................................ 42

4 JORNALISMO ESPECIALIZADO ............................................................................. 43

4.1 Jornalismo geral: notícia para todos ...................................................................... 43

4.2 O jornalismo especializado ..................................................................................... 44

4.3 Especialização e segmentação ................................................................................. 51

5 JORNALISMO ESPORTIVO ...................................................................................... 54

5.1 Jornalismo esportivo é jornalismo ......................................................................... 54

5.2 Jornalismo esportivo e a especialização ................................................................. 55

5.3 O jornalista esportivo: postura e ética ................................................................... 57

5.4 Futebol, entretenimento e espetáculo ..................................................................... 60

6 JORNALISMO DE REVISTA ...................................................................................... 63

6.1 A revista e suas características ............................................................................... 63

6.2 Os gêneros jornalísticos ........................................................................................... 66

6.2.1 Jornalismo Informativo ................................................................................ 67

6.2.2 Jornalismo Opinativo ................................................................................... 69

6.2.3 Jornalismo Interpretativo ............................................................................ 71

6.3 Mercado editorial de esportes: Placar e Trivela ................................................... 72

6.3.1 Placar ............................................................................................................. 72

6.3.2 Trivela ............................................................................................................ 74

6.4 Revista digital: conceito e histórico ........................................................................ 75

7 REVISTA SÉRIE Z ........................................................................................................ 78

7.1 Formato: revista digital ........................................................................................... 78

7.2 Nome da revista ........................................................................................................ 79

7.3 Público Alvo .............................................................................................................. 79

Page 10: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

7.4 Editorias .................................................................................................................... 80

7.5 Páginas ...................................................................................................................... 84

7.6 Periodicidade ............................................................................................................ 85

7.7 Circulação ................................................................................................................. 85

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 87

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 90

ANEXOS ................................................................................................................................. 95

ANEXO A – ENTREVISTA ALDO BIZZOCCHI ......................................................... 95

ANEXO B – ENTREVISTA DANIEL PAES CUTER ................................................... 96

ANEXO C – ENTREVISTA EMANUEL COLOMBARI .............................................. 97

ANEXO D – ENTREVISTA FERNANDO MARTINEZ ............................................... 99

ANEXO E – ENTREVISTA GUSTAVO HOFMAN .................................................... 100

ANEXO F – ENTREVISTA JULIO SIMÕES .............................................................. 101

ANEXO G – ENTREVISTA LEONARDO BERTOZZI .............................................. 103

ANEXO H – ENTREVISTA LEONARDO BONASSOLI ........................................... 104

ANEXO I – ENTREVISTA MATHEUS CRUZ LABOISSIÈRE ............................... 105

ANEXO J – ENTREVISTA SÉRGIO OLIVEIRA ....................................................... 107

ANEXO K – TABELA NÚMERO DE CLUBES BRASILEIROS ATIVOS EM 2015

............................................................................................................................................ 108

Page 11: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

10

INTRODUÇÃO

Premier League, Real Madrid, Copa do Mundo, Seleção Brasileira, Pelé,

Flamengo, Maracanã. Nomes que vivem no imaginário daqueles que acompanham o futebol.

A liga de clubes mais rica do mundo1, o clube que contratou o jogador mais caro da história

2,

a competição que reúne as melhores seleções e os melhores jogadores3, a seleção

pentacampeã mundial4, o atleta do século

5, o clube com maior torcida no Brasil

6 e o estádio

que é palco de grandes histórias do futebol7. Por tudo isso, é justificável que esses nomes

citados que têm uma popularidade maior ocupem um seleto espaço na grande mídia8. Mas o

futebol não é feito apenas disso.

O esporte é considerado o mais popular do mundo e é pauta diária da grande

mídia esportiva. Imprensa que por razões de concorrência e público privilegia um específico

número de clubes, campeonatos e jogadores. Dentro desse cenário, onde estão as outras

equipes? Há um número extenso de clubes que não são agendados, mas que existem. É nesse

contexto que se insere o futebol alternativo9, o interesse por campeonatos de divisões

inferiores10

, campeonatos de regiões sem tradição11

e clubes pequenos12

. Aquilo que a grande

1 Direitos de TV da Premier League crescem mais, mas isso não é necessariamente uma boa notícia. Trivela, 10

fev. 2015. Disponível em: <http://trivela.uol.com.br/direitos-de-tv-da-premier-league-crescem-mais-mas-isso-

nao-e-necessariamente-uma-boa-noticia/>. Acesso em: 15 abr. 2015. 2 Real Madrid anuncia a milionária contratação do galês Gareth Bale. Uol Esporte, 1 set. 2013. Disponível em:

<http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2013/09/01/real-madrid-anuncia-a-milionaria-contratacao-do-

gales-gareth-bale.htm>. Acesso em: 15 abr. 2015. 3 Copa do Mundo. Brasil Escola, 2014. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/educacao-fisica/copa-

mundo.htm>. Acesso em: 15 abr. 2015. 4 Brasil é pentacampeão do mundo. Acervo O Globo, s/d. Disponível em:

<http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/brasil-pentacampeao-do-mundo-9245814>. Acesso em: 15 abr.

2015. 5 Há 30 anos, Pelé era eleito o Atleta do Século. Estadão, 11 jul. 2010. Disponível em:

<http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,ha-30-anos-pele-era-eleito-o-atleta-do-seculo,579758>. Acesso

em: 15 abr. 2015. 6 Pesquisa LANCE! Ibope: Flamengo segue com a maior torcida do Brasil. Lancenet!, 27 ago. 2014.

<http://www.lancenet.com.br/minuto/Pesquisa-LANCE-Ibope-Flamengo-Brasil_0_1200480135.html>. Acesso

em: 15 abr. 2015. 7 Maracanã. Portal da Suderj, s/d. Disponível em: <http://www.suderj.rj.gov.br/maracana.asp>. Acesso em: 15

abr. 2015. 8 Emissoras de rádio, jornal, televisão e revista que alcançam a massa, devido ao número de pessoas que

consomem. 9 O termo futebol alternativo será redigido desta forma pelo decorrer do texto de acordo com a NBR 10520.

Nesse caso, por se tratar de um termo que não passou por análise científica. 10

Competições da segunda divisão para baixo de ligas nacionais e estaduais. No contexto que a pesquisa está

sendo realizada, a segunda divisão do Brasil pode conter clubes que não se enquadrem no futebol alternativo,

devido a suas características. 11

Esse termo refere-se a campeonatos, desde a primeira divisão, municipais, estaduais, nacionais e continentais

em regiões que o futebol não possui tradição em comparação com outras localidades. Campeonatos municipais

se enquadram totalmente neste termo. Campeonatos estaduais, aqui são considerados aqueles que não são vistos

em veículos da grande mídia. Campeonatos nacionais são considerados aqueles de países periféricos tendo em

Page 12: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

11

mídia não mostra ou mostra em menor escala. O interesse por acompanhar seja presencial ou

virtualmente tais eventos futebolísticos.

Em 2013, o blog Série Z13

foi criado voltado ao futebol alternativo, a partir

da vontade e interesse do pesquisador em buscar esse outro lado do futebol. Em meio a dúvida

sobre o que fazer para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)14

viu-se como uma

oportunidade realizar um trabalho científico que pudesse contribuir com a visibilidade deste

futebol, mas com uma metodologia científica que uma monografia exige. O projeto editorial

aqui proposto segue métodos e técnicas científicas, diferente da criação do blog. Essa ideia,

ainda, possibilita ao pesquisador criar uma referência sobre tal assunto, que não foi discutido

dentro da área acadêmica15

e contribuir com o crescimento profissional do autor desta

pesquisa. Justifica-se também, por acreditar que seja importante demonstrar que existe um

outro lado do futebol, cheio de histórias e contextos.

Esta pesquisa parte da pretensão de se criar um projeto editorial para uma

revista especializada em futebol alternativo para descobrir de que modo um produto de

jornalismo esportivo contribui para a visibilidade e abordagem do futebol alternativo? A ideia

é baseada em uma metodologia científica que consiste em desenvolver uma pesquisa sobre o

futebol alternativo, jornalismo especializado, jornalismo esportivo e jornalismo de revista

demonstrando as razões de tais pontos serem importantes para atingir os objetivos propostos.

A pesquisa tem como objetivo geral: desenvolver uma proposta conceitual

sobre futebol alternativo, como base para produção de um projeto editorial para uma revista

digital especializada. É preciso deixar claro que o que é apresentado como futebol alternativo

é uma visão do pesquisador, por meio da metodologia utilizada, sendo assim, uma proposta

conceitual.

Além disso, o projeto visa apresentar os conceitos de jornalismo

especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo; relacionar os conceitos de

jornalismo especializado e jornalismo de revista; desenvolver uma relação entre teorias da

comunicação e futebol alternativo e aplicar os preceitos do jornalismo esportivo em pautas

sobre futebol alternativo.

vista, o futebol como ponto de partida. Campeonatos continentais podem ser considerados aqueles fora da

Europa e América do Sul, mas clubes não conhecidos por parte do público podem participar dessas competições

e ser foco do futebol alternativo. 12

Clubes que não são abarcados pela grande mídia, com histórico de participações em divisões inferiores e com

recursos financeiros baixos comparados a outras equipes. 13

<www.seriezfutebol.com> 14

Trabalho de Conclusão de Curso será apresentado como TCC em determinados momentos deste projeto. 15

Será apresentado no capítulo Futebol Alternativo.

Page 13: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

12

Trabalha-se com as seguintes hipóteses: a revista digital é a mídia adequada

e viável para a veiculação de informações sobre futebol alternativo; o futebol alternativo tem

um conceito midiático e o futebol alternativo sustenta uma linha editorial de um veículo de

informação.

Os métodos da pesquisa utilizados serão a pesquisa bibliográfica para

embasar a monografia e a pesquisa documental, para se trabalhar com textos que não passam

por uma banca examinadora, mas que possuem caráter documental, o que garante segurança a

pesquisa e ao pesquisador. As entrevistas serão utilizadas como técnica, para coletar

informações de quem se interessa por futebol alternativo, enfatizando como conheceu o

termo, o que é, onde acompanha tal conteúdo, a rotina e os hábitos de informação. Outra

técnica utilizada será a análise documental, para ver como produções do tipo são ou foram

feitas.

O que se busca é apresentar como um fenômeno, no caso, o futebol

alternativo ocorre, por isso a pesquisa se classifica como explicativa. O capítulo Futebol

Alternativo demonstrará o contexto, o histórico, o conceito deste termo, além da rotina de

informações de quem tem esse interesse.

Em jornalismo especializado é apresentado o histórico, funcionamento,

papel e responsabilidade deste tipo de atuação; a discussão sobre as diferenças entre

especialização e segmentação e a revista como uma mídia adequada para se especializar em

um assunto. No capítulo sobre jornalismo esportivo, o desenvolvimento é feito a partir da

especificidade da área; a postura e a questão ética do profissional; o jornalismo esportivo

como especialização e as relações de futebol, mídia, entretenimento e espetáculo. Em

jornalismo de revista, se apresenta as características deste meio; os gêneros jornalísticos; o

mercado editorial de revistas esportivas e o conceito e histórico da revista digital.

A base teórica do primeiro capítulo tem como algumas referências

bibliográficas, Gustavo Hofman, Mauro Wolf e Jimmy A. Frazier e Eldon E. Snyder, para

sustentação, a pesquisa documental e as entrevistas16

. No capítulo seguinte se trabalha com

autores como Frederico Tavares, Ana Carolina Abiahy, Rosa M. Salazar Herrera, Fco. Jávier

F. Óbregon, entre outros; jornalismo de revista tem base nos estudos de Marília Scalzo,

Marcia Benetti, Sérgio Vilas Boas, Ricardo Minoru Horie e Jean Pluvinage, entre outros e

jornalismo esportivo, com autores como Paulo Vinicius Coelho, Celso Unzelte, Heródoto

Barbeiro e Patrícia Rangel.

16

Será apresentada na metodologia e no capítulo Futebol Alternativo.

Page 14: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

13

2 METODOLOGIA

Devido aos objetivos do trabalho, o que se busca é apresentar como um

fenômeno ocorre, por isso a pesquisa se classifica como explicativa, que segundo Gil (2007,

p. 42) se caracteriza por ser complexa e delicada e a “que mais aprofunda o conhecimento da

realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas”.

O resultado da pesquisa será a produção de uma revista especializada,

demonstrando o que é o fenômeno pesquisado, ou seja, um projeto experimental em

jornalismo especializado. A pesquisa tem caráter experimental nas ciências naturais, enquanto

nas sociais, dependendo do grau de controle são chamadas de “‘quase experimentais’” (GIL,

2007, p. 43).

2.1 Conhecimento científico e senso comum

Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho é necessária uma

pesquisa científica, pois todo processo de desenvolvimento teórico deste estudo será

determinante para a formulação da proposta editorial. Sendo assim, busca-se sair do senso

comum para o conhecimento científico e para isso é necessária uma sistematização, com base

em métodos e técnicas, que se relacionam para formar uma metodologia de pesquisa.

Primeiramente, é necessário entender que a “ciência não é o único caminho

de acesso ao conhecimento e à verdade” (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 58), o que os

diferencia é a forma de observação, “o modo ou o método e os instrumentos do ‘conhecer’”

(MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 58).

O senso comum é subjetivo já que “exprimem sentimentos e opiniões

individuais e de grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro,

dependendo das condições em que vivemos” (CHAUÍ, 2005, p. 217). A noção de senso

comum pode ser definida também como conhecimento popular, que é caracterizado por ser

valorativo, reflexivo, assistemático, verificável, falível e inexato (MARCONI; LAKATOS,

2010, p. 61). As autoras assim diferenciam os dois conhecimentos:

[...] o primeiro, vulgar ou popular, […] transmitido de geração em geração

por meio de educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal;

portanto, empírico […]; o segundo, científico, é transmitido por intermédio

de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo

racional, conduzido por meio de procedimentos científicos (MARCONI;

LAKATOS, 2010, p. 57).

Page 15: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

14

O conhecimento científico se diferencia do popular, por ser real, pois se

trabalha com fatos; contingente, por ser experimentado; sistemático, pelo sentido de formular

um sistema; verificável, pela questão das afirmações ou hipóteses; falível, que não é absoluta

ou final e inexato ou aproximadamente exato, pois é possível reformulá-la (MARCONI;

LAKATOS, 2010, p. 62).

No caso desta pesquisa, busca-se sistematizar o projeto, com métodos e

técnicas científicas, como a pesquisa bibliográfica, para se buscar o embasamento teórico; a

pesquisa documental, para demonstrar documentos ligados ao futebol alternativo; a entrevista,

como forma de trazer a experiência de pessoas ligadas a esse interesse e a análise documental,

para ver outras produções ligadas a esse projeto experimental.

2.2 Metodologia: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista e análise

documental

Como forma de embasar a pesquisa, que terá como capítulos, o futebol

alternativo, o jornalismo especializado, o jornalismo de revista e o jornalismo esportivo, faz-

se necessária a pesquisa bibliográfica, que segundo Stumpf (2005, p. 51), “num sentido

amplo, é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa que vai desde a

identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o assunto”.

Segundo Gil (2007, p. 44), as fontes bibliográficas podem ser classificadas

por livros, publicações periódicas e impressos diversos. Além disso, por artigos científicos,

monografias, teses e dissertações, ou seja, produção que passou por uma banca examinadora

ou análise científica.

A pesquisa bibliográfica se encontra em toda base teórica desta pesquisa.

Durante o trabalho foram utilizados meios físicos, como bibliotecas e meios digitais, como a

internet, para obtenção das obras selecionadas e que possuem relação com a linha teórica

deste.

Para apresentar o conceito de futebol alternativo, os autores utilizados serão:

Hofman (2014), que em “Quando o futebol não é apenas um jogo” relata em 11 capítulos17

,

17

Título dos capítulos do livro: Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch; A torcida que

não quis asas; A região mais perigosa da Europa; Um brasileiro no comando da Líbia em plena Revolução;

Futebol em Liechtenstein. Onde?; Split, mas pode chamar de Hajduk Split; O clássico do outro lado do mundo;

O diamante bósnio; A terra da cerveja e do futebol; Um clube sueco, representante da Assíria e Brasileiros para o

ataque e ucranianos para a defesa.

Page 16: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

15

histórias de clubes, jogadores e campeonatos que estão no contexto do futebol alternativo;

Hohlfeldt (1997) e Wolf (2001), pesquisadores das teorias da comunicação que serão base

para o desenvolvimento da relação entre futebol alternativo e agenda-setting, newsmaking,

gatekeepers, pois em determinada parte do capítulo, o futebol alternativo é demonstrado

como aquilo que a grande mídia não mostra e assim é relacionado com estes que mostram a

razão de um foco, neste caso, o futebol ser mostrado e o outro, não; Frazier e Snyder (1991)

relatam que há uma razão para que em tais eventos esportivos, os espectadores torçam pelo

azarão, os autores trabalham com o conceito de underdog e revelam que existem

características sociais para tal ocorrência, o que é relacionado com o conceito de futebol

alternativo; Recuero (2009) é utilizada para demonstrar que as redes sociais possuem um

papel importante para reunir em um mesmo espaço, o virtual, pessoas com o mesmo interesse.

Dahlberg (1978), De Holanda (2009), Serrano (2008) e Riboldi (2008) são referenciados em

momentos específicos, pelo uso de alguns termos que os autores trabalham.

Em jornalismo especializado são utilizados Beltrão (2006), Pena (2005) e

Erbolato (1991) se encontram na discussão sobre o que é jornalismo e notícia, como algo para

todos. Autores como Tavares (2007), Óbregon (1997) e Meditsch (1997) também contribuem

nesse tópico, mas são mais bem utilizados para basear o Jornalismo Especializado, com a

história e as características deste tipo de jornalismo, ao lado Salazar Herrera (2003),

Fontcuberta (1993), Lage (2006) e Tavares (2009). Abiahy (2000) e Carvalho (2007) são

utilizadas no segundo e terceiro tópico, este que discute a diferença entre segmentação e

especialização, junto a Rovida (2010), que trabalha com a ideia de jornalismo segmentado.

O jornalismo esportivo terá como base, Barbeiro e Rangel (2012), Coelho

(2014) e Unzelte (2009). Os autores possuem semelhanças em suas obras, como a discussão

da postura e a visão que se tem do jornalista esportivo, o modo de se fazer o texto, a questão

ética, a relação com o entretenimento e o jornalismo esportivo como negócio. Ainda, como

formas de sustentação serão utilizadas, Silva (2009) e Rangel (2008) que relacionam o

jornalismo esportivo e o entretenimento, ainda que a segunda citada também trabalhe com o

termo “Futebol Midiático” e a espetacularização do futebol e Pérez (2009) que cita que a área

esportiva talvez seja o primeiro tipo de jornalismo especializado.

O conceito de jornalismo de revista é desenvolvido em quatro tópicos. O

primeiro foca-se nas características da mídia revista, como a periodicidade, público, formato e

o texto em profundidade, base encontrada em Scalzo (2013), Nascimento (2002), Benetti

(2013), Vilas Boas (1996) e Bahia (2009). Os gêneros jornalísticos são discutidos no

subcapítulo seguinte, com base no jornalismo informativo, opinativo e interpretativo, que tem

Page 17: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

16

como autores pesquisados: Cordenonssi e Marques de Melo (2008), Erbolato (1991),

Figueiredo (2003), Lage (2006), Marques de Melo (2003) e Sousa (2001). O terceiro tópico

demonstra o mercado editorial de revistas esportivas, que tem como base Mira (1997) e os

acima citados, Abiahy (2000), Scalzo (2013) e Unzelte (2009). A revista especializada será

pensada para o meio digital e desta forma é necessário discutir o conceito de revista digital,

quarto tópico, que tem como bibliografia, Horie e Pluvinage (2012), que apresentam a história

e característica da revista digital; Lévy (1996), que discute a ideia da virtualidade do texto e

como a tela de um dispositivo digital muda a relação leitor e texto; Ferrari (2010) apresenta o

conceito de jornalismo digital e novamente, Scalzo (2013) é citada para demonstrar o que a

revista é independente do meio que a comporta.

Outra forma de referência será a coletada em sites. Nesse ponto, que entra

como segundo método, a pesquisa documental, que “vale-se de materiais que não recebem

ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos

da pesquisa” (GIL, 2002, p. 45). Textos de internet podem ser refeitos a qualquer momento,

mas a pesquisa documental garante ao pesquisador uma “fonte rica e estável” (GIL, 2002, p.

46), o que traz a possibilidade do projeto ter uma natureza histórica. Caso se perca no tempo,

haverá meios de se pesquisar tal assunto. Também por isso, as referências em sites, trazem

consigo o endereço da página e a data de acesso, o que assegura a estabilidade tanto da

pesquisa, como a do pesquisador.

Este método será utilizado para referenciar os sites/blogs Jogos Perdidos,

Última Divisão, FATV, Plano Tático e a Comunidade Futebol Alternativo do Orkut, que

serão encontradas no capítulo sobre futebol alternativo. A pesquisa documental é utilizada

também para embasar as características das revistas Placar e Trivela.

A entrevista será utilizada como uma das técnicas da pesquisa em dois

momentos. Para dar base a esse referencial, será utilizado o capítulo 13 do livro Pesquisa

Social: métodos e técnicas (2012), de Roberto Jarry Richardson. Com base neste capítulo,

viu-se que a entrevista utilizada nesta pesquisa será a não estruturada, que segundo o autor,

“procura saber que, como e por que algo ocorre, em lugar de determinar a frequência de certas

ocorrências, nas quais o pesquisador acredita” (RICHARDSON, 2012, p. 208). Durante o

desenvolvimento do texto, Richardson aponta os objetivos desse tipo de entrevista e definiu-

se que a utilizada será a de pesquisas, que segundo autor se caracteriza por: “1. Obter

informações do entrevistado, seja de fato que ele conhece, seja de seu comportamento. 2.

Conhecer a opinião do entrevistado, explorar suas atividades e motivações. 3. Mudar opiniões

ou atitudes, modificar comportamentos” (RICHARDSON, 2012, p. 209). As entrevistas

Page 18: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

17

foram feitas por questões enviadas em arquivo, via anexo do e-mail ou inbox de rede social,

pois seria inviável a realização presencial, devido as distâncias de localização de residência

entre entrevistador e entrevistados.

Nos dois momentos que as entrevistas serão utilizadas, a técnica terá uma

diferença. Enquanto as entrevistas realizadas com pessoas ligadas ao futebol alternativo, serão

dirigidas, a entrevista sobre a etimologia da palavra “alternativo”, será não diretiva. A

dirigida consiste em dar liberdade ao entrevistado, “a partir de perguntas precisas, pré-

formuladas e com uma ordem pré-estabelecida” (RICHARDSON, 2012, p. 210), o que vai de

encontro com o modelo pensado para essa pesquisa com seis perguntas18

relacionadas ao

futebol alternativo.

Os entrevistados sobre futebol alternativo foram escolhidos a partir de duas

variáveis: ter sido membro da comunidade do Orkut Futebol Alternativo ou trabalhar com o

futebol alternativo em algum tipo de mídia. Uma das fontes é o criador da comunidade no

Orkut, outros dois são contemporâneos de comunidade, sendo que um deles tem formação em

comunicação e o segundo, em história. Seis entrevistados possuem formação em comunicação

e trabalham com o futebol alternativo, seja em mídia independente ou não. Desta forma, são

nove entrevistados19

:

A. Daniel Paes Cuter é membro da comunidade Futebol

Alternativo desde 2005 e foi escolhido para ser entrevistado para

mostrar um olhar de um interessado pelo assunto, mas que não tenha

formação superior em comunicação, como no caso dos outros

entrevistados. Cuter é graduado em História pelo Centro Universitário

FIEO - Fundação Instituto de Ensino para Osasco (2011).

B. Emanuel Colombari é mestrando em Comunicação e graduado

em Jornalismo (2008), ambas pela Faculdade Cásper Líbero. É um dos

fundadores do formato atual do site Última Divisão e escreve

atualmente, também, para o site Uol. É membro da comunidade/grupo

Futebol Alternativo desde 2006.

18

As entrevistas se encontram disponíveis nos anexos deste trabalho. 19

Os nomes dos entrevistados serão destacados em negrito. A apresentação deles será repetida, por meio de nota

de rodapé, quando for referenciado pela primeira vez durante o desenvolvimento da base teórica, incluindo data

e por qual canal foi feita a entrevista.

Page 19: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

18

C. Fernando Martinez é um dos fundadores do blog Jogos

Perdidos. É jornalista. É fotojornalista da Gazeta Press. É integrante

da comunidade Futebol Alternativo desde 2004.

D. Gustavo Hofman é graduado em jornalismo pela PUC

Campinas (2002) e possui Pós-graduação em Comunicação e

Marketing pela Faculdade Cásper Líbero (2004). É comentarista e

blogueiro dos canais ESPN Brasil. Autor do livro Quando o futebol

não é apenas um jogo (2014) e é produtor da série de reportagens

Futebol Alternativo do canal fechado ESPN Brasil. Foi membro da

comunidade Futebol Alternativo no Orkut, mas não se recorda com

exatidão do ano de entrada.

E. Julio Simões é um dos fundadores do formato atual do site

Última Divisão. Possui pós-graduação em Jornalismo Literário pela

Academia Brasileira de Jornalismo Literário (2010) e graduação em

Jornalismo (2008) pela Faculdade Cásper Líbero. É membro da

comunidade Futebol Alternativo desde que era hospedada no Orkut,

porém não se recorda do ano de entrada.

F. Leonardo Bertozzi é membro da comunidade Futebol

Alternativo desde os primeiros momentos do grupo, em 2004. É

graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte

- UniBH (2002). É comentarista e blogueiro dos canais ESPN Brasil.

G. Leonardo Bonassoli foi o fundador da comunidade Futebol

Alternativo no Orkut e atualmente é um dos administradores do grupo

no Facebook. Possui especialização em Comunicação Esportiva pela

Pontíficia Universidade Católica do Paraná (2009) e bacharelado em

Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela

Universidade Federal do Paraná (2006). Atualmente escreve para o

blog de sua autoria, Futebol Metrópole e contribui também com o blog

Amenidades.

Page 20: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

19

H. Matheus Cruz Laboissière é fundador do blog Plano Tático,

colunista do site Trivela e blogueiro do ESPN FC. Possui graduação

em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - UNIBH

(2009).

I. Sérgio Oliveira possui graduação em Rádio e Televisão pela

Universidade Anhembi Morumbi (2004) e em Jornalismo pela

Faculdade Cásper Líbero (2008). É coordenador geral da ALLTV, TV

online onde apresenta o programa semanal FATV (Futebol

Alternativo TV). É membro da comunidade Futebol Alternativo desde

o final de 2005 e atualmente, é um dos administradores do grupo no

Facebook.

A entrevista não dirigida “permite ao entrevistado desenvolver suas

opiniões e informações da maneira que ele estimar conveniente” (RICHARDSON, 2012, p.

210), já que essa não precisa de uma sequência de perguntas e sendo assim, pode ser

contextualizada. A intenção da entrevista é deixar o entrevistado livre para desenvolver a

resposta, que será utilizada para abordar a etimologia da palavra “alternativo”, que

primeiramente foi procurada por meio de pesquisas para conceituar o termo, mas decidiu-se

pela entrevista para debater o assunto, já que não se encontrou texto científico sobre o

assunto. O entrevistado20

se trata de:

A. Aldo Bizzocchi é Bacharel em Linguística pela Universidade de

São Paulo (1987), doutor em Semiótica e Linguística Geral pela

Universidade de São Paulo (1994), com pós-doutorado em Linguística

pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2010), membro do

Grupo de Pesquisa em Semiótica, Leitura e Produção de Textos

(SELEPROT), do Grupo de Pesquisa Morfologia Histórica do

Português (GMHP) e do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e

História da Língua Portuguesa (NEHiLP).

20

Idem nota anterior.

Page 21: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

20

A segunda técnica a ser utilizada nesta pesquisa é a análise documental,

como forma de ver como estão sendo feito processos semelhantes ao desta pesquisa. A análise

documental pode ser utilizada, como método ou técnica.

Conforme explica a própria designação, a análise documental compreende a

identificação, a verificação e a apreciação de documentos para determinado

fim. No campo da pesquisa científica é, ao mesmo tempo, método e técnica.

[...] Técnica porque é um recurso que complementa outras formas de

obtenção de dados, como a entrevista e o questionário (MOREIRA, 2005, p.

271-272).

As fontes de análise documental são geralmente secundárias, por se tratarem

de dados já existentes. “A opção por este tipo de análise indica que o pesquisador possui

intuição ou informação suficiente para guiá-lo na consulta a determinadas bases documentais”

(MOREIRA, 2005, p. 274). Serve para contextualizar fatos e tem “como objetivo descrever e

representar os documentos de maneira unificada e sistemática” (MOREIRA, 2005, p. 276).

Nesta pesquisa, a análise terá como objeto, a história e característica das revistas Placar e

Trivela, com foco em propostas destes periódicos que possam ser pensadas para o projeto

editorial deste trabalho. Toda essa construção é desenvolvida para dar sustentação teórica a

pesquisa, para que seja capaz de relacionar a teoria com a prática, atingir os objetivos e

solucionar o problema de pesquisa proposto.

Page 22: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

21

3 FUTEBOL ALTERNATIVO

Para uma melhor discussão do assunto, esta pesquisa reúne informações do

futebol da Inglaterra, por ser o local onde o futebol como jogado atualmente foi criado e o

Brasil, por ser o país onde esta pesquisa está sendo realizada. O que se busca é o

desenvolvimento do conceito do que é futebol alternativo, a partir da experiência do autor

desta pesquisa, pois o interesse existe, mesmo sem referências científicas sobre o assunto.

Assim sair do senso comum para o conhecimento científico.

Neste capítulo, a abordagem se dará inicialmente pelo contexto do futebol,

desde a criação na Inglaterra até as competições mais importantes do esporte, para daí sim,

contextualizar o que é futebol alternativo, por meio de entrevistas, relações com a mídia e a

etimologia. O capítulo, também, irá abordar os locais de informações sobre futebol

alternativo.

A pesquisa é desenvolvida no Brasil, por isso o conceito de futebol

alternativo será elaborado a partir do contexto do pesquisador, levando em consideração a

cidade, estado e país que reside. Mesmo assim, se busca um desenvolvimento onde seja

possível que futuros leitores de outras localidades do Brasil possam utilizar este estudo para

futuros trabalhos. Não é possível pensar o termo fora do país, pois por meio da metodologia

foi visto que há pontos que fazem crer que o futebol alternativo como conceito seja algo

brasileiro21

.

3.1 O contexto

O futebol como desporto começou a ser praticado na Inglaterra, onde o

esporte ganhou regras, como se assemelha, atualmente (GALEANO, 2010). O Sheffield FC

foi o primeiro clube fundado na história do futebol mundial. A equipe foi criada em 1857, na

cidade de mesmo nome. Apesar disso, o clube não disputou a primeira competição de clubes

do mundo, a FA Cup22

1871/72 que contou com a participação de 15 clubes23

. A disputa teve

cinco fases eliminatórias, com partidas realizadas em jogo único. A competição contou com

21

Será demonstrado no decorrer deste capítulo. 22

No Brasil, também chamada de Copa da Inglaterra. A competição é disputada em formato eliminatório, com

jogo único, caso tenha vencedor na primeira partida ou em dois jogos, caso a primeira partida termine empatada.

A FA Cup 2015/16, edição em andamento durante a realização desta pesquisa, conta com 736 equipes. 23

Barnes, Civil Service, Clapham Rovers, Crystal Palace, Hampstead Heathens, Harrow Chequers, Hitchin,

Maidenhead, Marlow, Royal Engineers, Reigate Priory, Upton Park, Wanderers (da Inglaterra), Donington

School e Queen's Park (da Escócia).

Page 23: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

22

equipes que desistiram antes e no decorrer do campeonato. Na final, o Wanderers24

venceu o

Royal Engineers25

por 1 a 0 e garantiu o título.

No Brasil, o clube mais antigo da história em atividade é o Sport Club Rio

Grande, da cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, que foi registrado em 19 de julho de

1900. Somente em 1902, o primeiro campeonato foi disputado, com a criação do Campeonato

Paulista, organizado pela Liga Paulista de Foot-Ball, que contou com cinco equipes26

. A

competição foi disputada no sistema de pontos corridos e em dois turnos. Ao final, o São

Paulo Athletic27

foi o clube que mais pontuou e conquistou o título (AQUINO, 2002).

Na FA Cup 1871/72, entre as equipes que disputaram, o Upton Park28

foi o

que sofreu a maior derrota na primeira fase: 3 a 0. No Campeonato Paulista de 1902, o

Internacional29

ficou no último lugar entre os cinco clubes. Possivelmente, estes clubes não

foram lembrados ao fim da competição, o que é compreensível, mas também, não é possível

afirmar que não tenha havido ninguém se interessado pelas piores equipes destes

campeonatos.

O futebol se popularizou (AQUINO, 2002) e ligas estaduais (no Brasil),

nacionais, continentais e mundiais foram criadas. Entre as competições, a Copa do Mundo30

e

a UEFA Champions League31

são exemplos de competições com números altos, seja

econômico ou de visibilidade. Segundo balanço financeiro da FIFA, a Copa do Mundo de

201432

rendeu o maior faturamento da história da competição. Entre 2011 e 2014, a entidade

24

O Wanderers Football Club foi fundado em 1859 na cidade de Wandsworth, distrito de Londres. A equipe foi

criada como Forest Football Club, mas um ano depois mudou de nome. A equipe possui cinco títulos da FA

Cup: 1872, 1873, 1876, 1877, 1878. Em 1887, a equipe foi extinta. Em 2009, um grupo de descendentes do

distrito decidiram refundar a equipe, que atualmente disputa a Surrey South Eastern Combination, equivalente a

12ª divisão inglesa. 25

O Royal Engineers Association Football Club foi fundado em 1863 por engenheiros do Exército Britânico. A

equipe possui apenas um título na história, a FA Cup de 1875. 26

São Paulo Athletic, Paulistano, Mackenzie, Internacional e Germânia 27

O São Paulo Ahtletic Club foi fundado por membros da comunidade britânica de São Paulo, em 1888, como

forma de praticar o críquete e ser um local de lazer para os familiares. O futebol chegou no clube por meio de

Charles Miller, que em 1895 organizou a primeira partida do clube. A equipe foi campeã paulista em 1902,

1903, 1904 e 1911. Atualmente, a equipe não disputa competições profissionais. 28

O Upton Park Football Club foi um clube de Londres que ficou em atividade entre 1866 e 1887 e 1891 e 1911.

O clube não conquistou títulos em sua história. O maior feito foi ter representado a Grã-Bretanha nas Olimpíadas

de 1900, quando conquistou a medalha de ouro. 29

O Sport Club Internacional foi fundado em 1899, na cidade de São Paulo (SP), por um grupo de jovens de

diferentes nacionalidades que desejavam praticar futebol e por esse cenário, o nome Internacional foi escolhido.

A equipe conquistou dois títulos em sua história, o Campeonato Paulista de 1907 e 1928. Em 1933, após várias

propostas se fundiu com o Antárctica Futebol Clube, assim criando o Clube Atlético Paulista. 30

Ainda que seleções menores possam participar da competição, mas isso será discutido adiante. 31

Idem nota acima. 32

Última edição da competição realizada até a finalização desta pesquisa.

Page 24: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

23

lucrou US$ 5,7 bilhões, que equivale no câmbio da época a R$ 18,6 bilhões33

. Em números de

audiência, cerca de um bilhão de espectadores assistiram o jogo final da edição34

. Entre as

competições de clubes, a UEFA Champions League reúne os campeões nacionais da Europa.

Segundo levantamento da revista Forbes, em maio de 2015, os vinte clubes mais ricos do

mundo estão no continente europeu35

.

O futebol, porém, tem muito mais clubes do que aqueles que disputam a

UEFA Champions League. A Inglaterra, por exemplo, tem sete mil clubes divididos em 24

divisões, com 480 campeonatos, em 140 ligas nacionais ou regionais36

. A primeira divisão do

futebol da Inglaterra é chamada de Premier League, que conta com 20 clubes37

. Os direitos de

transmissão da liga têm o valor mais alto entre os campeonatos de futebol do mundo38

,

segundo acordo feito para as temporadas entre 2016 e 201939

.

No Brasil, em 2015, foram 630 clubes ativos, divididos em 59 campeonatos

estaduais, organizados por 27 federações estaduais40

. O Campeonato Brasileiro da Série A ou

Brasileirão41

é a competição nacional que reúne os 20 clubes melhor divisionados do país. De

acordo com levantamento do núcleo de pesquisa Máquina do Esporte42

, as equipes que fazem

parte da competição recebem cerca de 500 milhões de reais em patrocínio43

.

Do universo de 7.630 clubes exemplificados, 40 clubes participam de uma

chamada primeira divisão. E os outros clubes?44

É nesse contexto que se insere o futebol

alternativo.

33

Mais lucrativa da história, Copa do Mundo de 2014 gera R$ 18 bilhões para a Fifa. Dinheiro em Jogo, 20

mar. 2015. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/dinheiro-em-jogo/post/mais-

lucrativa-da-historia-copa-do-mundo-de-2014-gera-r-18-bilhoes-para-fifa.html>. Acesso em: 01 jun. 2015. 34

Final da Copa do Mundo foi vista por mais de um bilhão de pessoas. Estadão, 23 set. 2014.

<http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,final-da-copa-do-mundo-foi-vista-por-mais-de-um-bilhao-de-

pessoas,1564835>. Acesso em: 01 jun. 2015. 35

Real Madrid Tops Ranking Of The World's Most Valuable Soccer Teams. Forbes, 6 mai. 2015. Disponível

em: <http://www.forbes.com/sites/mikeozanian/2015/05/06/real-madrid-tops-ranking-of-the-worlds-most-

valuable-soccer-teams/>. Acesso em: 02 jun. 2015. 36

Conheça a pirâmide do futebol inglês. Verminosos por Futebol, 11 fev. 2015. Disponível em:

<http://www.verminososporfutebol.com.br/deu-no-jornal/jornal-ingles-foca-em-times-pequenos/>. Acesso em:

13 fev. 2015. 37

Ainda que equipes menores possam participar da competição, mas isso será discutido adiante. 38

Até o término desta pesquisa. 39

Direitos de TV da Premier League crescem mais, mas isso não é necessariamente uma boa notícia. Trivela, 10

fev. 2015. Disponível em: <http://trivela.uol.com.br/direitos-de-tv-da-premier-league-crescem-mais-mas-isso-

nao-e-necessariamente-uma-boa-noticia/>. Acesso em: 02 jun. 2015. 40

Conforme Anexo K. 41

Ainda que equipes menores possam participar da competição, mas isso será discutido adiante. 42

Brasileirão começa com quase meio bilhão de reais em patrocínios. Máquina do Esporte, 8 mai. 2015.

Disponível em: <http://maquinadoesporte.uol.com.br/artigo/brasileirao-comeca-com-quase-meio-bilhao-de-

reais-em-patrocinios_28286.html>. Acesso em: 02 jun. 2015. 43

Até o término desta pesquisa. 44

Lembrando que esses números representam um recorte do futebol no todo. O futebol alternativo não é só

focado no Brasil e Inglaterra.

Page 25: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

24

O mundo do futebol não é feito apenas de Liga dos Campeões, salários

milionários e histórias cheias de glamour e fama. Ele é, acima de tudo,

composto por histórias de superação, curiosidades e fatos históricos que

mostram como o jogo, muitas vezes, é apenas um detalhe. Em diversos

casos, e em determinados momentos, o detalhe mais importante da vida

(HOFMAN, 2014, p. 11).

Para início de argumentação, o futebol alternativo pode ser definido como o

interesse por campeonatos de divisões inferiores, campeonatos de regiões sem tradição e

clubes pequenos. Aquilo que a grande mídia não mostra ou mostra em menor escala. O

interesse por acompanhar seja presencial ou virtualmente tais eventos futebolísticos.

Muitas pessoas gostam apenas de assistir partidas espetaculares, com um

nível de jogo altíssimo. Valorizam demais os principais times e torneios.

Assim, menosprezam competições menores ou de países que não têm

tradição na modalidade ou mesmo público. Deixam de conhecer histórias

sensacionais (HOFMAN, 2014, p. 11).

Segundo estudo sociológico de Frazier e Snyder (1991) há uma razão para

que em tais eventos esportivos, os espectadores torçam pelo “azarão”. Os autores trabalham

com o conceito de underdog45

e revelam que existem características sociais para tal

ocorrência.

[...] o apoio a uma equipe inferior (underdog), como o jogo de esportes,

fornece uma forma de "ação" (um jogo dentro do jogo) que satisfaz uma

busca de excitação sobre o resultado do concurso. Na verdade, essa

semelhança entre o jogo e o fenômeno underdog é digno de uma análise

adicional46

(FRAZIER; SNYDER, 1991, p. 386, tradução livre).

O modo que se vê um confronto onde se tenha um azarão também define tal

predileção, seja presencialmente, no local do evento, ou virtualmente, por meio de uma mídia.

“Pode ser que as preferências dos espectadores sejam afetadas por pagar a entrada de um jogo

ou juntando-se a uma multidão de partidários. Por outro lado, a experiência de assistir ao jogo

45

Pessoa, equipe, time, etc que é inferior aos demais. Todos esperam fracassar em algo que vai fazer, e por isso,

na maioria das vezes é tratado mal e desconsiderado. 46

Texto original: “[…] that supporting the underdog, like sports gambling, provides a form of "action" (a game

within the game) that satisfies a quest for excitement regarding the outcome of the contest. Indeed, this similarity

between gambling and the underdog phenomenon is worthy of additional analysis” (FRAZIER; SNYDER, 1991,

p. 386).

Page 26: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

25

na televisão ou ouvir no rádio pode ser afetada pelas preferências e lealdades de locutores47

(FRAZIER; SNYDER, 1991, p. 386, tradução livre).

A questão do contexto para ser um underdog é trabalhada pelos autores. A

cultura do local onde se vive é analisada, porém não é possível afirmar, segundo Frazier e

Snyder, que tal evento ocorra em todos os lugares, devido aos diferentes modos de vida.

[...] apoiar o underdog parece ter alguma legitimidade a partir do valor do

patrimônio ocidental. Assim, o manto de "herói atlético" é muitas vezes

atribuído àqueles que vencerem as chances para alcançar seu objetivo. No

entanto, não sabemos se esta tendência é evidente em muitas culturas

diferentes. Talvez o suporte para o oprimido seja um reflexo da ideologia

meritocrática que qualquer um pode fazê-lo se esforçar o suficiente48

(FRAZIER; SNYDER, 1991, p. 387, tradução livre).

É preciso esclarecer que ser um interessado pelo futebol alternativo não é

um sinônimo de underdog. O estudo de Frazier e Snyder demonstra a razão de se torcer pelo

azarão em determinados eventos. Entretanto, um confronto pode ser disputado por duas

equipes que não se englobam no futebol alternativo e mesmo assim, pode haver um azarão.

No caso do futebol alternativo, nessa relação, a predileção pelo azarão, ao invés de ocorrer em

eventos específicos, é contínua, pois os interessados pelo assunto têm uma cultura de

acompanhar tais clubes e campeonatos.

Para prosseguir o desenvolvimento do conceito, faz-se necessário, explicar

de onde advém o termo alternativo, que segundo Aldo Bizzocchi49

(2015) tem a seguinte

concepção:

O significado original da palavra está ligado à ideia de alternância, troca

(entre dois). Daí o substantivo "alternativa" no sentido de opção. Agora, o

sentido de "alternativo" como algo que foge ao padrão, que é cultuado por

uma minoria (por exemplo, música alternativa, cinema alternativo, futebol

alternativo) [...] é exclusivo do português e de introdução bem recente

47

Texto original: “It may be that spectators' preferences are affected by paying admission or by joining a crowd

of partisans. On the other hand, the experience of watching the game on television or listening to it on the radio

may be affected by the preferences and allegiances of announcers” (FRAZIER; SNYDER, 1991, p. 386). 48

Texto original: “[…] to support the underdog seems to have some legitimation from the western value of

equity. Thus the mantle of "athletic hero" is often accorded those who overcome the odds of achieving their goal.

However, we do not know whether this tendency is evident across many different cultures. Perhaps the support

for the underdog is a reflection of the meritocratic ideology that anyone can make it to the top if they try hard

enough” (FRAZIER; SNYDER, 1991, p. 386). 49

Em entrevista concedida, por meio de questão enviada por e-mail. Data de envio realizada no dia 8 de abril de

2015 e recebimento no mesmo dia. Aldo Bizzocchi é Bacharel em Linguística pela Universidade de São Paulo

(1987), doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (1994), com pós-doutorado em

Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2010), membro do Grupo de Pesquisa em Semiótica,

Leitura e Produção de Textos (SELEPROT), do Grupo de Pesquisa Morfologia Histórica do Português (GMHP)

e do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa (NEHiLP).

Page 27: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

26

(década de 60 para cá). Para [...] ter uma ideia, música alternativa em inglês

é indie music.

Ao se juntar os termos “futebol” e “alternativo”, podemos considerar esse

interesse como um contraponto do futebol, que ocupa parte dos noticiários midiáticos. Dessa

maneira, o futebol alternativo pode ter os mesmos objetivos, como por exemplo, dos

conceitos de rock alternativo e jornalismo alternativo, que consistem em fazer ou acompanhar

tal prática sem a presença da grande mídia.

3.2 O histórico

O pesquisador deste estudo conheceu o termo futebol alternativo de forma

espontânea, por meio de sites que mostram um outro lado do futebol. Antes mesmo de utilizar

o termo, o interesse existia. Essa situação, também, foi encontrada entre os entrevistados desta

pesquisa50

e possivelmente, em outros adeptos, também se encontraria. "Jogos alternativos, ou

no caso, 'jogos perdidos', sempre foram meu foco, desde que me conheço, por gente"

(MARTINEZ51

, 2015). O que mostra que o interesse não pode ser datado, mas o termo, sim.

Em 29 de abril de 2004, o jornalista Leonardo Bonassoli52

criou a

comunidade Futebol Alternativo, na rede social Orkut, que pode ser considerada um marco

deste termo. Em uma pesquisa no Google53

, se colocarmos o termo “futebol alternativo” na

área de busca e utilizar a ferramenta “Intervalo Personalizado” para delimitar o período entre

4 de setembro de 1998 e 28 de abril de 200454

é possível perceber que as palavras “futebol” e

“alternativo” não aparecem juntas. Caso essa busca seja feita entre 4 de setembro de 1998 e

50

As entrevistas serão utilizadas como citações deste capítulo, para trazer a experiência destes sobre o conceito

de futebol alternativo. As perguntas e respostas da entrevista estão disponíveis nos anexos desta pesquisa. 51

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via caixa de entrada da rede social Facebook. Data de

envio realizada no dia 31 de maio de 2015 e recebimento em 9 de junho de 2015. Fernando Martinez é um dos

fundadores do blog Jogos Perdidos. É jornalista. É fotojornalista da Gazeta Press. É integrante da comunidade

Futebol Alternativo desde 2004. 52

Leonardo Bonassoli foi o fundador da comunidade Futebol Alternativo no Orkut e atualmente é um dos

administradores do grupo no Facebook. Possui especialização em Comunicação Esportiva pela Pontíficia

Universidade Católica do Paraná (2009) e bacharelado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo

pela Universidade Federal do Paraná (2006). Atualmente escreve para o blog de sua autoria, Futebol Metrópole e

contribui também com o blog Amenidades. Bonassoli concedeu entrevista, por meio de questões enviadas por e-

mail. Data de envio e recebimento realizada no dia 27 de janeiro de 2015. 53

Disponível em:

<https://www.google.com.br/search?q=futebol+alternativo&biw=1366&bih=643&source=lnt&tbs=cdr%3A1%2

Ccd_min%3A04%2F09%2F1998%2Ccd_max%3A28%2F04%2F2004&tbm=#q=futebol+alternativo&tbs=cdr:1

,cd_min:04/09/1998,cd_max:28/04/2004&start=0>. Acesso em: 7 ago. 2015. 54

Esse período foi delimitado, pois em 4 de setembro de 1998, o Google foi fundado e o dia 28 de abril de 2004

é o dia anterior a criação da comunidade.

Page 28: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

27

29 de abril de 2004, data da criação da comunidade, o primeiro resultado da busca55

será o

endereço da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Desta forma, podemos considerar que

o termo, pelo menos, na internet foi visto primeiramente a partir da criação da comunidade.

Segundo Leonardo Bonassoli (2015), o termo surgiu de tal maneira:

Já me interessava pelo assunto. Digamos que forjei o tema. Nas conversas de

faculdade [...], se usava muito o termo "isso é muito alternativo" para

algumas coisas obscuras, como jogadores de passagens esquecíveis por

vários clubes, contratações inusitadas e tal. Juntar e forjar o tema foi questão

de tempo. E acabou pegando.

Dessa forma, podemos acreditar que o termo futebol alternativo seja algo

brasileiro, pois a palavra “alternativo”, segundo Bizzocchi (2015) é usado restritamente neste

país e que não há uma data exata para a inserção deste termo na língua brasileira. “[...] a

inexistência dessa acepção em outras línguas, bem como em dicionários de português mais

antigos nos dão a convicção de que se trata de um uso estritamente brasileiro e recente”.

A criação da comunidade no Orkut fez com que várias pessoas que tinham

um interesse em comum, se reunissem em um mesmo local, mesmo que virtual e muitos

conheceram o termo futebol alternativo, a partir desse momento.

[...] acho que o termo é algo brasileiro, nunca vi equivalente no exterior,

embora gente interessada em jogador bizarro, em campeonato obscuro, em

histórias perdidas exista em todo canto. Em todo caso, vale dizer que passei

a me interessar sobre o assunto a partir da comunidade FA56

no [...] Orkut.

Não tenho certeza, mas acho que antes da comunidade eu mal sabia que

existia gente que também gostava do lado B do futebol, que geralmente é

muito rico em histórias, algo de que gosto bastante (SIMÕES57

, 2015).

A descrição da comunidade58

demonstra qual o assunto que prevalece nas

discussões: “Times obscuros, jogadores obscuros, histórias obscuras do futebol. Figuras

bizarras, histórias de arquibancada, etc, etc e tal” (FUTEBOL ALTERNATIVO, 2004, s/p).

Segundo Leonardo Bonassoli (2015), a criação da comunidade aproveitou o momento que o

55

Disponível em:

<https://www.google.com.br/search?q=futebol+alternativo&biw=1366&bih=643&source=lnt&tbs=cdr%3A1%2

Ccd_min%3A04%2F09%2F1998%2Ccd_max%3A29%2F04%2F2004&tbm= >. Acesso em: 7 ago. 2015. 56

Sigla utilizada pelos membros, para referenciar a comunidade Futebol Alternativo. 57

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas por e-mail. Data de envio realizada no dia 30 de maio

de 2015 e recebimento em 8 de junho de 2015. Julio Simões é um dos fundadores do formato atual do site

Última Divisão. Possui pós-graduação em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário

(2010) e graduação em Jornalismo (2008) pela Faculdade Cásper Líbero. É membro da comunidade Futebol

Alternativo desde que era hospedada no Orkut, porém não se recorda do ano de entrada. 58

A descrição também é utilizada nas outras redes sociais.

Page 29: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

28

Orkut vivia. “Criei porque achei que poderia ter espaço numa plataforma que estava

nascendo. Existiam basicamente comunidades genéricas. E curiosamente, ela foi pegando aos

poucos, muito graças ao antigo sistema do Orkut que associava automaticamente

comunidades”. Segundo Bertozzi59

(2015), a comunidade foi importante sobre vários

aspectos.

O grande mérito das redes sociais, e do Orkut em particular, foi aproximar

pessoas de interesses comuns e enriquecer as discussões. Muitas histórias

que eu desconhecia vinham à tona graças aos companheiros da FA. Além

disso, a comunidade criou grandes grupos de amigos.

Essa reunião possibilitou uma interação maior, ao perceber, que havia

interessados em diferentes localidades. De acordo com Recuero (2009, p. 133) uma “das

primeiras mudanças importantes detectadas pela comunicação mediada por computador nas

relações sociais é a transformação da noção de localidade geográfica das relações sociais”.

Sobre essa aproximação, Martinez (2015) cita que: “[...] é fato que a comunidade concentrou

todo mundo no mesmo espaço. Isso foi muito bom, pois descobri que existiam pessoas com o

mesmo gosto em todos os cantos”. Dessa forma:

[...] é preciso compreender que estudar redes sociais na Internet é estudar

uma possível rede social que exista na vida concreta de um indivíduo, que

apenas utiliza a comunicação mediada por computador para manter ou criar

novos laços. Não se pode reduzir a interação unicamente ao ciberespaço, ou

ao meio de interação. A comunicação mediada por computador corresponde

a uma forma prática e muito utilizada para estabelecer laços sociais, mas isso

não quer dizer necessariamente que tais laços sejam unicamente mantidos no

ciberespaço (RECUERO, 2009, p. 143-144).

A comunidade no Orkut foi encerrada no dia 30 de setembro de 2014, com

cerca de 7.400 membros, pois a rede social encerrou as atividades60

. A comunidade segue em

três plataformas, no Facebook, no VK e no Ericko. Em 30 de novembro de 2012, a

comunidade ganhou uma versão no Facebook61

, que até o dia 11 de dezembro de 2015

59

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas por e-mail. Data de envio realizada no dia 30 de

janeiro de 2015 e recebimento em 18 de fevereiro de 2015.Leonardo Bertozzi é membro da comunidade Futebol

Alternativo desde os primeiros momentos do grupo, em 2004. É graduado em Jornalismo pelo Centro

Universitário de Belo Horizonte - UniBH (2002). É comentarista e blogueiro dos canais ESPN Brasil. 60

Google encerra Orkut nesta terça; rede terá "museu online" de comunidades. Uol, 30 set. 2014. Disponível em:

<http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/09/30/google-encerra-orkut-hoje-rede-tera-repositorio-de-

comunidades-publicas.htm>. Acesso em: 9 ago. 2015. 61

Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/futebol.alternativo/>.

Page 30: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

29

contava com 3.629 membros. Na VK62

, a comunidade contava com 584 pessoas até 11 de

dezembro de 2015. Na rede social, Ericko63

, a comunidade foi criada durante o processo de

encerramento das atividades do Orkut. Essas mudanças mesmo que forçadas fazem com que o

grupo de interessados continuem se relacionando e trocando informações de interesse comum.

[...] as interações através do computador estão possibilitando o surgimento

de grupos sociais na Internet, com características comunitárias. Esses grupos

seriam construídos por uma nova forma de sociabilidade, decorrente da

interação mediada pelo computador, capaz de gerar laços sociais

(RECUERO, 2009, p. 136).

A comunidade ou grupo (no caso do Facebook) reúne um diversificado

número de pessoas de determinadas regiões, que com o interesse comum de se informar sobre

o outro lado do futebol publicam coisas relacionadas ao que acompanha, tendo em vista, que o

futebol alternativo abarca vários clubes, campeonatos e jogadores. “Estar na FA me fez olhar

mais definido para esse viés diferente que eu tinha de futebol. [...] Talvez a FA fosse um

reflexo de um cenário maior, que já apresentasse espaços para veiculação de informação”

(COLOMBARI64

, 2005), o que será apresentado adiante neste capítulo.

3.2.1 O termo no meio acadêmico

Uma das justificativas deste trabalho é a possibilidade de oferecer referência

para futuros trabalhos, que tenham a mesma temática deste, pois este conceito não é foco de

tratamento científico. Para demonstrar isso, o pesquisador realizou uma busca no Google

Scholar65

, como exemplo. O único trabalho encontrado com “futebol alternativo” escrito junto

trata-se de uma análise das interações na comunidade Futebol Alternativo Off Topics66

, uma

extensão da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Para contextualizar a pesquisa,

Serrano (2008, p. 4), autor da análise, cita que o objetivo da comunidade Futebol Alternativo

“é a discussão sobre futebol e equipes de futebol da segunda divisão para baixo”.

62

Disponível em: <http://vk.com/falternativo>. 63

Disponível em: <http://72.14.179.138/index.php?p=/categories/fa>. 64

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via caixa de entrada do Facebook. Data de envio

realizada no dia 30 de maio de 2015 e recebimento em 3 de junho de 2015. Emanuel Colombari é mestrando em

Comunicação e graduado em Jornalismo (2008), ambas pela Faculdade Cásper Líbero. É um dos fundadores do

formato atual do site Última Divisão e escreve atualmente, também, para o site Uol. É membro da

comunidade/grupo Futebol Alternativo desde 2006. 65

Disponível em: <https://scholar.google.com.br/scholar?start=0&q=futebol+alternativo&hl=pt-

BR&as_sdt=0,5>. Acesso em: 15 out. 2015. 66

Comunidade voltada a discussões entre os membros da comunidade Futebol Alternativo, mas destinada a

assuntos que não são relacionados ao futebol.

Page 31: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

30

O objetivo da pesquisa de Serrano não é conceituar o termo, porém a

explicação do interesse exclui alguns cenários. Pela citação, há uma exclusão da “primeira

divisão”. Dessa forma, as primeiras divisões de regiões sem tradição no futebol não são

agregadas, mas estes campeonatos são objetos de interesse de quem acompanha tal conceito.

Este cenário também pode ser visto na Copa do Mundo e na UEFA Champions League. Outro

cenário seria, por exemplo, se um clube estreia em uma primeira divisão, que tem cobertura

da grande mídia, o fato desse clube chegar com esse cenário torna-o, também, objeto do

futebol alternativo, mesmo que seja em um determinado período.

3.3 O conceito

Como já iniciado no tópico anterior, o futebol alternativo apresenta alguns

cenários e o histórico do termo é recente, por isso mesmo, esta pesquisa tem como um dos

objetivos desenvolver uma proposta conceitual, pois não é possível definir o termo e assim,

fechá-lo. Segundo Dahlberg (1978, p.2), a formação de um conceito pode ser definida “como

a reunião e compilação de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto”. Nesta

pesquisa, o objeto seria o futebol alternativo, enquanto os enunciados verdadeiros podem ser

considerados textos documentais de referências de veículos especializados67

, autores que tem

relação com o conceito (Hofman, Frazer e Snyder, Wolf) e as entrevistas. Essas referências

fazem o futebol alternativo existir, mas não há uma reunião desses textos, um dos objetivos

desta pesquisa.

Durante a fundamentação teórica, com destaque para o processo de

entrevistas, o futebol alternativo foi visto de duas formas: como aquilo que a grande mídia

não mostra e como o lado inusitado do futebol.

3.3.1 O futebol que a grande mídia não mostra

Para o pesquisador e os entrevistados desta pesquisa, ao nosso ver, o futebol

alternativo tem como um dos contextos, ser aquilo que a grande mídia não mostra. Neste

sentido, o futebol alternativo seria “toda notícia (clubes, jogadores) que não tem a devida

atenção da grande mídia” (LABOISSIÈRE68

, 2015) e sendo assim, é o “futebol que vive fora

67

Demonstrado no tópico 3.4 deste capítulo. 68

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via e-mail no dia 30 de maio de 2015 e recebimento

via caixa de entrada da rede social Facebook no dia 9 de junho de 2015. Matheus Cruz Laboissière é fundador do

Page 32: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

31

dos grandes centros, dos clubes de massa, dos times midiáticos. É o futebol que muitas vezes

fica distante dos holofotes, mas nem por isso deixa de ter importância” (BERTOZZI, 2015).

Rangel (2008, p. 26) cita que a mídia impulsionou a popularização do

futebol, tornando-o em um fenômeno voltado a massa e que não existe sem a mídia. Porém, a

mídia abarca um seleto grupo de objetos ligados ao futebol, por questões financeiras e

populares, assim, existem grupos, no caso do futebol, algumas torcidas, que não são

agregadas devido à preferência da mídia em noticiar repetidamente tais clubes, campeonatos e

jogadores. Deste lado, possivelmente, está o interessado por clubes pequenos e que fazem

parte de divisões inferiores, tema projeto editorial desta pesquisa.

A grande mídia tem uma razão para excluir tais fatos do futebol e assim

preferir um seleto número de clubes, campeonatos e jogadores, se sustentarmos essa ideia, por

meio das teorias da comunicação, como a agenda-setting69

, newsmaking e gatekeepers.

De acordo com Shaw (1979 apud WOLF, 2001, p. 144), as “pessoas têm

tendência para incluir ou excluir dos próprios conhecimentos aquilo que os mass media

incluem ou excluem do seu próprio conteúdo”. Essa é a base dos estudos da agenda-setting

que visa entender como a mídia pode se portar na transmissão de notícias. Ainda, sobre essa

perspectiva, os autores não sustentam que a mídia tenta persuadir os receptores, mas sim que

elas apresentam ao “público uma lista daquilo sobre que é necessário ter uma opinião e

discutir” (SHAW, 1979 apud WOLF, 2001, p.145).

Como descrito, o futebol alternativo é visto como aquilo que a grande mídia

não mostra, por isso, neste contexto que se dará o desenvolvimento dessa relação entre as

teorias da comunicação e futebol alternativo. O noticiário da grande mídia foca-se nos

mesmos clubes, campeonatos e jogadores, elas apresentam o conteúdo que será debatido,

assim, por razões que serão demonstradas adiante, os espectadores recebem as mesmas

informações diariamente e isso só será mudado, caso a mídia mude esse cenário. Para

Hohlfeldt (1997), existem três pressupostos que caracterizam esta hipótese:

blog Plano Tático, colunista do site Trivela e blogueiro do ESPN FC. Possui graduação em Jornalismo pelo

Centro Universitário de Belo Horizonte - UNIBH (2009). 69

A agenda-setting será tratada como uma hipótese, ideia sustentada por Antonio Hohlfeldt (1997), que trabalha

com o pressuposto: “Comecemos por esclarecer por que falamos em “hipótese” e não em “teoria”, simplesmente.

Ora, antes de mais nada, porque uma teoria, [...] é um paradigma fechado, um modo “acabado” e, neste sentido,

infenso a complementações ou conjugações, pela qual “traduzimos”uma determinada realidade segundo um

certo “modelo”. Uma “hipótese”, ao contrário, é um sistema aberto, sempre inacabado, infenso ao conceito de

“erro” característico de uma teoria. Assim, a uma hipótese não se pode jamais agregar um adjetivo que

caracterize uma falha: uma hipótese é sempre uma experiência, um caminho a ser comprovado e que, se

eventualmente não “der certo” naquela situação específica, não invalida necessariamente a perspectiva teórica.

Pelo contrário, levanta, automaticamente, o pressuposto alternativo de que uma outra variante, não presumida,

cruzou pela hipótese empírica, fazendo com que, na experiência concretizada, ela não se confirmasse”

(HOHLFELDT, 1997, p. 43).

Page 33: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

32

a) o fluxo contínuo de informação [...]; b) os meios de comunicação, por

conseqüência, influenciam sobre o receptor não a curto prazo, como boa

parte das antigas teorias pressupunham, mas sim a médio e longo prazos [...];

c) os meios de comunicação, embora não sejam capazes de impor o que

pensar em relação a um determinado tema, como desejava a teoria

hipodérmica, são capazes de, a médio e longo prazo, influenciar sobre o que

pensar e falar, o que motiva o batismo desta hipótese de trabalho

(HOHLFELDT, 1997, p. 3).

Diante desses aspectos, um seleto grupo de eventos futebolísticos estão

neste meio e possuem um contínuo fluxo de informação em um trabalho que é feito a médio e

longo prazo, considerando determinados pontos, como estimativa de torcedores e importância

histórica. Para um clube do meio do futebol alternativo ser inserido na agenda leva-se um

tempo, porém, caso isso aconteça, ele deixa de ser alternativo. Geralmente, os eventos

futebolísticos alternativos aparecem na grande mídia caracterizados como “zebra”, que

segundo Riboldi (2008, p. 66) tem o seguinte contexto no futebol:

Resultado inesperado. A expressão "deu zebra" surgiu, inicialmente, no

futebol para designar a vitória do time bem mais fraco, no qual ninguém

apostava ou dava crédito. Ficou mais famosa e popular com a criação da

loteria esportiva, baseada nos jogos de futebol. Da relação dos animais desse

jogo, que vai do número um (avestruz) até o vinte e cinco (número da vaca),

a zebra não consta. Portanto, no jogo do bicho, é impossível dar o número da

zebra, já que ele não existe. Atualmente, a expressão é empregada em

qualquer circunstância em que ocorre um resultado fora do previsto. Não

aconteceu o que se esperava: deu zebra.

Dessa forma, os clubes pequenos passam a ser assunto da grande mídia

quando vencem um clube grande70

e isso o torna uma “zebra”, neste momento acaba-se

veiculando informações ao seu respeito, mas em um período curto, pois os campeonatos têm

determinados regulamentos e períodos, o que impede que este clube seja agendado ao público,

tendo como base a hipótese da agenda-setting.

Neste cenário, o receptor pode ter a sensação que existe apenas um futebol,

com as mesmas pautas cotidianas, fazendo assim, com o que o espectador veja o mundo desta

70

Clubes de futebol que se destacam pelo valor histórico, financeiro e popular. A questão histórica leva em conta

a tradição e o número de títulos e participações em campeonatos importantes. O financeiro diz respeito ao valor

em dinheiro que ronda tal equipe, como contratações milionárias, salários altos e estrutura física que o clube

comporta. O terceiro valor leva em consideração a estimativa de torcedores que esse clube tem, pois quanto

maior o número, maior será a presença deste clube na mídia, devido ao retorno de audiência que a equipe pode

conceder.

Page 34: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

33

maneira, neste caso, vendo o futebol a partir de um olhar. Esses critérios do que será ou não

veiculado podem ser compreendidos por meio dos estudos dos gatekeepers e newsmaking.

Os gatekeepers são considerados os porteiros da notícia, que definem o que

pode ou não ser veiculado. De acordo com Donohue-Tichenor-Olien (1972 apud WOLF,

2001, p. 181-182):

O gatekeeping nos mass media inclui todas as formas de controle da

informação, que podem estabelecer-se nas decisões acerca da codificação

das mensagens, a seleção, a formação da mensagem, da difusão, da

programação, da exclusão de toda mensagem ou das suas componentes.

Assim, apenas um lado do futebol é demonstrado devido a seleção de

notícias que um gatekeepeer pode fazer, o que são chamados de critérios de noticiabilidade,

foco da teoria do newsmaking, considerada uma superação da primeira explicitada. Nela, é

estudada o modo que os profissionais produzem a notícia, que se baseia “em dois limites: a

cultura profissional dos jornalistas e a organização do trabalho e dos processos de produção”

(WOLF, 2001, p. 188).

Os critérios de noticiabilidade trabalham com a relevância, significação e

interesse que tal fato pode ter para virar notícia, o que cria os “valores/notícia” (WOLF, 2001,

p. 196) que são utilizados de duas maneiras:

São critérios de seleção dos elementos dignos de ser incluídos no produto

final, do material disponível até a redação. Em segundo lugar, funcionam

como linhas-guia para a apresentação do material, sugerindo o que deve ser

realçado, o que deve ser omitido, o que deve ser prioritário na preparação

das notícias a apresentar ao público. Os valores/notícia são, portanto, regras

práticas que abrangem um corpus de conhecimentos profissionais que,

implicitamente e, muitas vezes, explicitamente, explicam e guiam os

procedimentos operativos redatoriais (GOLDEN-ELLIOTT, 1979 apud

WOLF, 2001, p. 196).

Estes valores são considerados a partir de critérios substantivos (conteúdo),

critérios relativos ao produto, ao público e a concorrência.

A primeira categoria de considerações diz respeito ao acontecimento a

transformar em notícias; a segunda, diz respeito ao conjunto dos processos

de produção e realização; a terceira, diz respeito à imagem que os jornalistas

têm acerca dos destinatários e a última diz respeito às relações entre os mass

media existentes no mercado informativo (WOLF, 2001, p. 200).

Page 35: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

34

Os critérios substantivos trabalham com o interesse e importância da notícia.

Podem ser divididos em quatro aspectos que serão relacionados ao futebol alternativo, pois

este cenário demonstra que nestes casos a grande mídia se interessa pelo lado alternativo do

futebol, pois está dentro dos critérios de noticiabilidade.

O primeiro aspecto, “Grau e nível dos indivíduos envolvidos no

acontecimento noticiável” (WOLF, 2001, p. 201) tem relação com o futebol alternativo

quando um clube pequeno ou desconhecido anuncia a contratação de um jogador considerado

de clube grande, casos, por exemplo, como o do atacante Aloísio Chulapa no Grêmio

Maringá71

ou do meio-campo Rivaldo no Kabuscorp (Angola)72

. A notícia é dada pela grande

mídia, não pelo clube em si, mas pelo que o atleta representa. A segunda variável diz respeito

ao “Impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional” (WOLF, 2001, p. 202), aqui neste

caso vamos considerar a seleção brasileira de futebol como exemplo, pois estamos

trabalhando com o futebol. Em 2010, a seleção se preparava para a Copa do Mundo, e como

forma de treinar a equipe foi marcado um amistoso com a Tanzânia, por ser considerada uma

seleção que pode ser foco de interesse do futebol alternativo, a grande mídia passou a veicular

informações sobre aquela seleção devido ao confronto com a seleção brasileira73

.

Em seguida, o outro critério é a “Quantidade de pessoas que o

acontecimento envolve” (WOLF, 2001, p. 203), que está ligado a tragédias ou desastres, caso,

por exemplo, em 2009, de um acidente de ônibus envolvendo a delegação da equipe do Brasil

de Pelotas, que matou três jogadores74

. A última variável tem relação com a “Relevância e

significatividade do acontecimento quanto à evolução futura de uma determinada situação”,

um fato que pode ser relacionado a este aspecto é o caso do massagista da Aparecidense, que

nas oitavas de final do Campeonato Brasileiro da Série D (quarta divisão) de 2013 entrou em

campo para evitar um gol do adversário, fato que se desenrolou até a punição do clube devido

71

Incansável, Aloísio Chulapa anuncia: "Vou defender o Grêmio Maringá”. globoesporte.com, 9 jul. 2015.

Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/al/futebol/noticia/2015/07/incansavel-aloisio-chulapa-anuncia-

vou-defender-o-gremio-maringa.html>. Acesso em: 24 ago. 2015. 72

Rivaldo anuncia pelo Twitter que acertou com time de Angola. globoesporte.com, 13 jan. 2012. Disponível

em: <http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2012/01/rivaldo-anuncia-pelo-twitter-

que-acertou-com-time-de-angola.html>. Acesso em: 24 ago. 2015. 73

Brasil enfrenta Tanzânia no último amistoso antes da Copa. Jornal O Globo, 6 jun. 2010. Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/esportes/brasil-enfrenta-tanzania-no-ultimo-amistoso-antes-da-copa-2998105>.

Acesso em: 24 ago. 2015. 74

Milar e mais 2 morrem em acidente de ônibus do Brasil-RS. Terra, 16 jan. 2009. Disponível em:

<http://esportes.terra.com.br/futebol/estaduais/campeonato-gaucho/milar-e-mais-2-morrem-em-acidente-de-

onibus-do-brasil-rs,fe089eeef81fd310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 24 ago. 2015.

Page 36: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

35

a atitude do funcionário75

. Por esta visão, podemos sustentar que o futebol alternativo é

mostrado em menor escala na grande mídia, mas por estar enquadrado em critérios de

noticiabilidade.

O critério relativo ao produto é definido pela disponibilidade do material

pautado, dessa maneira, os veículos da grande mídia preferem a cobertura dos clubes que

fiquem na mesma cidade de onde o veículo está, mas levando em conta a estimativa de

torcedores e importância histórica. A questão do número de torcedores pode ser relacionada

com os critérios relativos ao público, pois estes são os que trazem possivelmente a audiência

para os veículos da grande mídia, assim, as pautas seguem um fluxo de informação contínua,

como visto nos desenvolvimento da hipótese da agenda-setting. Esses dois últimos critérios

interferem nos critérios relacionados a concorrência, pois as empresas competem entre si e

demonstram os mesmos clubes e os mesmos campeonatos, dando a impressão que existe

apenas um futebol.

Sustentado por esses estudos é perceptível que há um privilégio, mas

também, uma razão para que a grande mídia selecione um grupo de campeonatos, jogadores e

clubes para serem abordados na rotina da redação. Assim, a cobertura não agenda o futebol no

todo, com isso, o futebol alternativo representa também uma abrangência maior que o futebol

apresentado pela grande mídia. “Times do interior, times de bairro, times que podem não

significar muita coisa para muitos, mas significam para alguém, e isso já basta para justificar

sua existência” (BERTOZZI, 2015).

Daniel Paes Cuter76

(2015) cita que não vê a necessidade do futebol

alternativo ser abordado pela grande mídia: “Sendo algo alternativo, é necessário que circule

por vias alternativas também”. O fato de um clube existir e não ter cobertura da grande mídia

já o torna foco do futebol alternativo, mesmo que não esteja em discussão em algum produto

ou grupo, pois os torcedores vivenciam a rotina da equipe.

Dessa forma, entendemos que a questão geográfica pode ter influência nesse

conceito. Para exemplificar, o cenário do futebol brasileiro serve de base. O clube de uma

cidade pode não ser alternativo para quem mora em tal cidade, já que o torcedor pode ir ao

75

STJD exclui Aparecidense da Série D por lance do gol do massagista. globoesporte.com, 16 set. 2013.

Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-d/noticia/2013/09/stjd-exclui-

aparecidense-go-da-serie-d-por-lance-com-massagista.html>. Acesso em: 24 ago. 2015. 76

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via caixa de entrada da rede social Facebook. Data de

envio realizada no dia 16 de agosto de 2015 e recebimento em 24 de agosto de 2015. Daniel Paes Cuter é

membro da comunidade Futebol Alternativo desde 2005 e foi escolhido para ser entrevistado para mostrar um

olhar de um interessado pelo assunto, mas que não tenha formação superior em comunicação, como no caso dos

outros entrevistados. Cuter é graduado em História pelo Centro Universitário FIEO - Fundação Instituto de

Ensino para Osasco (2011).

Page 37: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

36

estádio e a mídia local faz a cobertura dessa equipe. Mas esse clube pode ser alternativo para

quem mora fora daquela região. No cenário estadual, um clube pode ser considerado grande,

devido ao número de títulos estaduais, a presença na mídia local e pela estimativa de

torcedores, mas no cenário nacional pode ser considerado alternativo. Se a equipe tem

representação nacional, pelo número de títulos nacionais, participações em edições da

primeira divisão e tem presença na grande mídia nacional, o clube não é alternativo em

nenhum dos locais.

3.3.2 O lado inusitado do futebol

O futebol alternativo também pode ser considerado como o “lado inusitado

do futebol” (BONASSOLI, 2015). Inusitado que será considerado como: “Não usado; não

usual; incomum, estranho” (DE HOLANDA, 2009, p. 1126). Neste contexto, seria o lado

curioso e engraçado do futebol dentro ou fora de campo.

Dentro de campo, podemos considerar lances que fogem do comum, como

gols contra ou jogadas mal ensaiadas. Fora de campo, pode ser considerado algo feito por

qualquer pessoa ligada ao futebol, como torcedor, dirigente, treinador ou jogador, que tenha

se tornado inusitado, como por exemplo, o “Fora Waldemar”77

, como ficou conhecida a

revelação de que Waldemar Lemos, treinador de futebol, iria assumir o comando técnico do

Flamengo, em 2003. Após o nome ser revelado, parte da torcida, que estava presente no

momento protestou contra a escolha do treinador.

Após o desenvolvimento do conceito de futebol alternativo, a ideia do

tópico 3.3.1 será trabalhada adiante no desenvolvimento dos outros capítulos, pois o lado

inusitado do futebol pode estar no todo deste esporte. Um lance inusitado pode ser encontrado

em uma partida com cobertura da grande mídia e estes fatos interessam ao público, devido a

audiência. Porém, uma partida sem cobertura da grande mídia é alternativa por si só, ela não

precisa de um fato inusitado para ser assim. Neste ponto, para o pesquisador, o futebol

alternativo e o inusitado se convergem. Assim, o futebol que não tenha uma cobertura

midiática pode novamente ter uma concorrência em uma produção midiática voltada para o

futebol alternativo.

3.4 A rotina e os hábitos de informação

77

Fora Waldemar - vídeo original sem cortes. Youtube, 26 abr. 2015. Disponível em: <Fora Waldemar - vídeo

original sem cortes>. Acesso em: 7 ago. 2015.

Page 38: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

37

Como destacado no começo deste capítulo, o futebol alternativo pode ser

acompanhado presencial ou virtualmente. Enquanto o primeiro trata de acompanhar os jogos

diretamente no estádio, o virtual tem como característica acompanhar os eventos pela mídia.

Para melhor compreensão, este tópico será dividido em três pontos para ser verificado de uma

maneira mais clara.

3.4.1 Presencial: o futebol alternativo diretamente dos estádios

Independente de saber ou não o que é futebol alternativo, um torcedor que

acompanhe um clube que não tem cobertura da grande mídia está em um contexto deste

interesse.

Há ainda, aqueles que acompanham partidas deste meio, simplesmente por

preferirem o outro lado do futebol. “Indo ao estádio é a melhor maneira de consumir futebol

seja alternativo ou não. [...] vou a jogos pelo menos três vezes por semana. Respiro futebol

alternativo mesmo” (OLIVEIRA78

, 2015).

3.4.2 O futebol alternativo antes da internet

Um dos conceitos apresentados sobre futebol alternativo é o interesse por

acompanhar clubes pequenos, campeonatos de divisões inferiores e campeonatos de regiões

sem tradição, mas essa aptidão não necessariamente precisava de um nome para existir. O

termo teve como marco, a comunidade no Orkut, um canal da internet, meio no qual segundo

Hofman79

(2015) “foi fundamental nesse processo. Ela tornou acessíveis campeonatos que

nem imaginávamos como eram disputados”, mas antes disso era possível seguir eventos do

78

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via e-mail no dia 30 de janeiro de 2015 e recebimento

via caixa de entrada da rede social Facebook em 8 de junho de 2015. Sérgio Oliveira possui graduação em

Rádio e Televisão pela Universidade Anhembi Morumbi (2004) e em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero

(2008). É coordenador geral da ALLTV, TV online onde apresenta o programa semanal FATV (Futebol

Alternativo TV). É membro da comunidade Futebol Alternativo desde o final de 2005 e atualmente, é um dos

administradores do grupo no Facebook. 79

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas por e-mail. Data de envio realizada no dia 16 de maio

de 2015 e recebimento em 17 de maio de 2015.Gustavo Hofman é graduado em jornalismo pela PUC Campinas

(2002) e possui Pós-graduação em Comunicação e Marketing pela Faculdade Cásper Líbero (2004).É

comentarista e blogueiro dos canais ESPN Brasil. Autor do livro Quando o futebol não é apenas um jogo (2014)

e é produtor da série de reportagens Futebol Alternativo do canal fechado ESPN Brasil. Foi membro da

comunidade Futebol Alternativo no Orkut, mas não se recorda com exatidão do ano de entrada.

Page 39: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

38

tipo, seja diretamente dos estádios ou pela mídia, o que foi verificado, por meio das

entrevistas realizadas.

Segundo Leonardo Bonassoli (2015), antes da internet e até mesmo da TV

fechada, “a oferta de futebol em televisão aberta era maior. Campeonatos e amistosos

obscuros eram figurinha fácil nas emissoras menores”. Ainda na televisão aberta, Sérgio

Oliveira (2015) cita a Zebrinha do Fantástico, quadro do programa dominical da Rede Globo

nos anos 198080

, que se referia aos resultados surpreendentes da rodada, onde geralmente, um

clube pequeno vencia um grande. Nos veículos impressos, dois títulos foram citados, a

Revista Placar, que segundo Colombari (2015) “conseguia ser abrangente antes da internet”; o

Jornal Gazeta Esportiva, em sua “fase áurea” (SIMÕES, 2015) e entre os livros, o Almanaque

do Futebol Paulista, que reúne informações históricas dos clubes de São Paulo81

, considerada

a “bíblia do futebol alternativo” (SIMÕES, 2015).

A Rede Vida transmite as competições estaduais de São Paulo desde os anos

1990. A emissora, em 2015, televisiona os campeonatos inferiores da Federação Paulista de

Futebol: Campeonato Paulista Série A-2 (segunda divisão do estado), Campeonato Paulista

Série A-3 (terceira divisão), Campeonato Paulista Segunda Divisão (quarta divisão), Copa

São Paulo de Futebol Júnior, Copa Paulista e Campeonato Paulista Sub-17. O Campeonato

Paulista Sub-20 e Campeonato Paulista Feminino também foram transmitidos pelas emissoras

em outros anos. As transmissões ocorrem nos finais de semana, geralmente aos sábados, com

duas transmissões, às 10h45 e às 19 horas, e aos domingos, às 10 horas. A emissora começou

as transmissões esportivas antes da consolidação da internet ou da criação da comunidade

Futebol Alternativo no Orkut e continua com as transmissões até a finalização deste trabalho.

3.4.3 O futebol alternativo e a internet

Conforme desenvolvido, a internet é o meio no qual o público do futebol

alternativo se encontra. Segundo Colombari (2015), este canal é responsável por deixar os

interessados informados. “A discussão na internet alcançou um patamar bastante sólido, e

consegue se sustentar. Quando algo do cenário alternativo repercute na TV, por exemplo,

costuma soar repetitivo para quem já vinha acompanhando o assunto na internet”. Simões

80

Surge a Zebrinha. Memória Globo, s/d. Disponível em:

<http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/programas-jornalisticos/fantastico/a-zebrinha.htm>.

Acesso em: 16 ago. 2015. 81

Farah revela histórias inéditas sobre a bíblia do futebol alternativo. Última Divisão, 17 nov. 2011. Disponível

em: <http://www.ultimadivisao.com.br/farah-revela-historias-ineditas-sobre-a-biblia-do-futebol-alternativo/>.

Acesso em: 16 ago. 2015

Page 40: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

39

(2015), afirma que tem “sentido que o número de sites independentes que tratam o assunto

têm aumentado, o que prova que há cada vez mais pessoas interessadas em ler e escrever

sobre o assunto”. Por meio de estudos e da experiência do pesquisador, alguns exemplos de

locais para acompanhar o futebol alternativo serão apresentados para mostrar que a internet é

a mídia no qual o público que tem esse interesse concentra a busca por informações.

3.4.3.1 Transmissão em vídeo

A internet deu aos interessados pelo futebol alternativo, a oportunidade de

acompanhar jogos ao vivo de partidas determinadas partes do mundo, como citado por

Hofman (2015). As transmissões em streaming82

, as opções de transmissões ao vivo do

Youtube e o programa FATV são exemplos de sites que fazem parte da rotina e hábito de

informações dos interessados por futebol alternativo.

Segundo Bonassoli (2015), a transmissão via streaming é um modo de

acompanhar partidas que não são televisionadas. “Varia muito de pessoa para pessoa. Tem

gente que consegue ir aos locais, tem gente que vai na base do streaming. Conheço gente que

liga streaming na madrugada para ver OFC Cup83

ou campeonato de El Salvador”. Alguns

sites que fazem este tipo de transmissão são: Wiziwig84

, Rojadirecta85

, Live TV86

, entre outros

que podem ser encontrados por meio de pesquisa.

O Youtube também pode ser uma forma de acompanhar jogos deste meio e

que não são televisionados. A página Live87

do site reúne as transmissões que estão sendo

feitas ao vivo em determinado momento. Caso queira ser mais específico, outra página

conferida pode ser a voltada ao futebol, a #Soccer88

. É necessário explicar, que estas páginas

apresentam diversas opções de partidas, incluindo partidas que tem cobertura da grande

mídia, mas também é uma forma de certos eventos do futebol alternativo serem transmitidos.

82

“Streaming é uma forma de transmissão de som e imagem (áudio e vídeo) através de uma rede qualquer de

computadores sem a necessidade de efetuar downloads do que está se vendo e/ou ouvindo, pois neste método a

máquina recebe as informações ao mesmo tempo em que as repassa ao usuário.” O que é Streaming?.

Interrogação Digital. Disponível em: <http://www.interrogacaodigital.com/central/o-que-e-streaming/>. Acesso

em: 18 fev. 2015. 83

Em português, conhecida como Copa das Nações da Oceania. A competição contou com nove edições. A

primeira edição foi disputada em 1973. Os maiores campeões são a Austrália e a Nova Zelândia, com quatro

títulos, em seguida o Taiti, com um título, conquistado na última edição, em 2012. A 10ª edição será realizada

entre 28 de maio e 12 de junho de 2016. 84

http://www.wiz1.net/schedule 85

http://www.rojadirecta.me/ 86

http://livetv.sx/pt/allupcomingsports/1/ 87

https://www.youtube.com/channel/UC4R8DWoMoI7CAwX8_LjQHig 88

https://www.youtube.com/channel/UCnF_kucm6h5Jw77mMxonWdA

Page 41: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

40

O programa FATV Futebol Alternativo89

é exibido pela TV online allTV90

,

semanalmente, às segundas-feiras, a partir das 20h3091

. O programa tem como foco: “Na

FATV, o assunto é o verdadeiro futebol nacional, as copas estaduais, as divisões de acesso

pelo país e as Séries C e D do Campeonato Brasileiro. Tudo o que nenhum outro programa

esportivo fala” (FATV FUTEBOL ALTERNATIVO, 2014, s/p).

3.4.3.2 Sites para se informar sobre futebol alternativo

Nesse tópico serão apresentados sites onde é possível se informar sobre este

interesse. Apresentar esses endereços contribui para entender de uma melhor forma, o que

este conceito significa. Os endereços serão divididos em três pontos: especializados,

específicos e gerais.

Os sites especializados em futebol alternativo foram escolhidos pela

abordagem e também, por se definirem voltados a esse público. A seguir demonstraremos os

locais e os objetivos de cada site ou blog, segundo os próprios veículos:

A. Jogos Perdidos92

: “Campeonatos pouco divulgados pela grande mídia e

times desconhecidos pela maioria fazem parte obrigatória das nossas páginas. Confira uma

cobertura futebolística como nos velhos tempos” (JOGOS PERDIDOS, 2011, s/p).

B. Plano Tático93

: “Um portal interativo focado em matérias e pesquisas

alternativas. Com artigos exclusivos escritos pela nossa equipe buscamos passar uma

informação clara e objetiva, através de curiosidades, histórico dos atletas, informações,

vídeos, fotos e muito mais” (PLANO TÁTICO, s/d, s/p).

89

http://www.portal.alltv.com.br/programa/fatv-futebol-alternativo/ 90

A allTV (www.portal.alltv.com.br) foi criada em maio de 2002 com um conteúdo multimídia voltado a

transmissão audiovisual na internet. A emissora tem programação diária de 24 horas, com programas voltados ao

jornalismo, tecnologia, esportes, música, gastronomia e prestação de serviços. A emissora conta com a

possibilidade de interação via redes sociais, chat próprio e pode ser acessada de qualquer país. 91

O noticiário é apresentado por Sérgio Oliveira, Fernando Martinez e Milton Haddad. 92

Disponível em: <http://jogosperdidos2.blogspot.com.br/>. O blog foi criado em 2004, com cinco fundadores

do blog, apenas Fernando Martinez continua escrevendo regularmente. O blog conta com mais de 2.700 jogos

publicados. A primeira postagem data de 1º de novembro de 2004, com a cobertura da partida entre Taboão da

Serra e Itararé, na final do extinto Campeonato Paulista Série B-2, equivalente a quinta divisão estadual. 93

Disponível em: <http://planotatico.com/>. O Plano Tático foi fundado em 2010, pelo jornalista Matheus Cruz

Laboissière. O logomarca do blog conta com o termo “Futebol Alternativo”, que demonstra qual o foco, que é

composto por reportagens sobre casos do futebol que não são abarcados pela mídia, séries especiais e por trazer

lances curiosos do futebol do Brasil e do mundo.

Page 42: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

41

C. Última Divisão94

: “Aquela que sempre existe, mas pouca gente enxerga.

Aquela que alguns torcedores mais fanáticos até consideram, mas que a maioria ignora.

Aquela que alguns veículos de imprensa até sabem da existência, mas que também não fazem

questão de acompanhar” (SIMÕES, 2013, s/p).

Em certos endereços95

é possível consumir o futebol alternativo, mas nesses

locais, este tipo de interesse se mistura com o futebol da grande mídia, pois os dois se

encontram no mesmo local. São os sites gerais, que é o caso, por exemplo, de sites

especializados em fichas de jogadores, clubes, treinadores e estádios, como o

futebolnacional.com96

, ogol.com97

e o Soccerway98

; os placares em tempo real, como por

exemplo, Futebol Interior99

, Meus Resultados100

, ScoresPro101

e Livescore102

; sites de

colecionadores de escudos, como o Escudos de Clubes103

e o Escudos Futebol Clube104

e sites

com fichas de resultados de campeonatos, como a RSSSF105

, Bola na Área106

e o Arquivo dos

Mundiais107

.

Apesar do encontro entre o futebol e o futebol alternativo, conforme

demonstrado no tópico 3.3.1, a grande mídia tem como foco um seleto grupo de eventos do

futebol, mas esse esporte é feito por outros clubes, campeonatos e jogadores, assim, é possível

trabalhar que pelo menos em quantidade, o futebol alternativo se sobressai nesses sites.

O futebol alternativo possui inúmeras possibilidades de acompanhamento

deste esporte, mas um cenário que pode ser visto é o interesse específico por determinado

clube ou campeonato, seja estadual, nacional ou internacional.

Hoje há canais para se informar sobre praticamente tudo. A internet

diminuiu a dependência da grande mídia para a busca da informação. [...]

Buscar sempre novas fontes. No Twitter, por exemplo, se você segue contas

pontuais de diversas partes do mundo é capaz de ficar informado sobre todo

tipo de competição que passa batida para o grande público. E o papel de

94

Disponível em: <http://www.ultimadivisao.com.br/>. O Última Divisão foi criado em 10 de agosto de 2008,

como um blog para publicar histórias sobre futebol alternativo. Em novembro de 2013, o site passou por

reformulação e passou a funcionar como um portal. 95

Os sites citados serão utilizados como exemplo, pois existem outros do tipo. 96

http://www.futebolnacional.com.br/ 97

http://www.ogol.com.br/home.php 98

http://br.soccerway.com/ 99

http://www.futebolinterior.com.br/placar?id_ano=-1 100

http://www.meusresultados.com/ 101

http://www.scorespro.com/soccer/ 102

http://www.livescore.com/ 103

http://www.escudosdeclubes.com.br/ 104

http://www.escudosfc.com.br/ 105

http://www.rsssf.com/ 106

http://www.bolanaarea.com/ 107

http://www.arquivodosmundiais.com/index.htm

Page 43: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

42

quem gosta do futebol alternativo também é ajudar a difundir essas

informações (BERTOZZI, 2015).

Sites oficiais de clubes e campeonatos, ou até mesmo, sites de notícias de

outras localidades. Alguns exemplos que estão no meio do futebol alternativo, mas que não o

abordam de uma maneira geral este interesse são: Do rico ao pobre108

, site voltado à cobertura

do futebol amador de Curitiba e interior paranaense; Toda Cancha109

, voltado ao futebol do

interior gaúcho; Futebol no Japão110

, blog voltado à cobertura do futebol japonês;

Championship Brasil111

, site especializado na segunda divisão inglesa; HJK Brasil112

, blog em

português sobre o HJK Helsinki, clube da Finlândia; O Cancheiro113

, sobre competições

estaduais menores do Sul do Brasil; entre outros, que possuem estas características.

3.5 A proposta

Todo o desenvolvimento do conceito feito neste capítulo é necessário para

se entender o que é o futebol alternativo e em que meio este interesse se sobressai. Como foi

possível verificar, o futebol alternativo possui mais de uma definição e a internet é o local que

concentra o publicado interessado no assunto. A partir de então, esta pesquisa irá demonstrar

os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo esportivo, jornalismo de revista, que

darão base a criação de um projeto editorial para uma revista especializada, a Série Z, que terá

formato digital.

108

http://www.doricoaopobre.com.br/ 109

http://www.todacancha.com/ 110

http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/futebol-no-japao/1.html 111

http://www.championshipbrasil.com.br/ 112

https://hjkbrasil.wordpress.com/ 113

https://ocancheiro.wordpress.com/sobre/

Page 44: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

43

4 JORNALISMO ESPECIALIZADO

A pesquisa tem como foco a criação de um produto segmentado e para isso

é necessário apresentar o conceito de jornalismo especializado. No capítulo serão discutidas

questões como características, papel e responsabilidade desse modo de se fazer jornalismo. As

relações entre especialização e segmentação e a mídia revista como local adequado para se

especializar.

4.1 Jornalismo geral: notícia para todos

O jornalismo é a prática social de contar histórias (TAVARES, 2007, p. 42),

porém, tal ideia, com o tempo foi se transformando e ganhando novos conceitos. “Diremos

primeiro que fazer jornalismo é informar. Jornalismo é antes de tudo, informação”

(BELTRÃO, 2006, p. 29). Informação que atende o interesse público, ainda segundo Beltrão.

Para Pena (2005), a notícia é a matéria-prima do jornalismo. Como esta

pesquisa tem como propósito a produção de uma revista, iremos usar como exemplo, o jornal,

por se tratar de mídias impressas114

. A notícia responde aos fatos cotidianos, que são

desenvolvidos por meio do lead, que segundo Pena (2005), consiste em um "relato sintético

do acontecimento logo no começo do texto, respondendo as perguntas básicas do leitor: o quê,

quem, como, onde, quando e por quê?" (PENA, 2005, p. 42). Porém, a notícia, inserida no

jornal é feita para a massa, para um único público e se cria que um texto que seja acessível a

todos.

O segredo da boa notícia depende da maneira compreensível como chega ao

receptor. É preciso evitar, ainda, que ela seja influenciada pelo repórter, que

poderá distorcê-la, com a sua apreciação pessoal e apaixonada. É difícil

escrever com imparcialidade, porque o jornalista, ao narrar um

acontecimento pode encará-lo do ponto de vista favorável aos seus interesses

e sujeito às suas emoções momentâneas (ERBOLATO, 1991, p. 90-91).

O jornalismo teve como marco a Segunda Guerra Mundial. Na ocasião, as

notícias eram desejo da população para saber a situação que se encontrava tal acontecimento,

porém sem aprofundamento (ÓBREGON, 1998), mas nos anos 1950, a crise chega ao

jornalismo impresso, pois o rádio e a televisão ganham força e a informação geral apresentada

114

Apesar da revista dessa pesquisa ter formato digital, os preceitos da revista serão utilizados, como aborda o

capítulo 6.

Page 45: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

44

pelas publicações tem a partir daquele momento, uma concorrência. Neste cenário, que a

intenção de se especializar surge no jornalismo. “Se assiste a um novo conceito de jornalismo,

mais comprometido com a realidade, um jornalismo que abandona a obsessão pela

objetividade. Se adotam novos estilos e novas linguagens115

” (OBREGÓN, 1998, p. 3,

tradução nossa).

Meditsch (1997) cita que o jornalismo trabalha com a universalidade, algo

para todos. Serve ao mesmo tempo para conhecer e reconhecer. Neste caso, tal ideia remete-se

ao objeto desta pesquisa, pois os clubes grandes são mais abordados e assim foca-se em se

especializar no outro lado do futebol.

4.2 O jornalismo especializado

Frederico de Mello Tavares (2009), com base nos estudos de Fernández Del

Moral (1993-1994), trabalha com a ideia de que o jornalismo especializado seja o responsável

por responder aos fatos que o “jornalismo geral” não consegue.

[...] o jornalismo especializado dá aos meios de comunicação a oportunidade

de responder aos desafios do conhecimento em uma sociedade [...] que vem

perdendo referências amplas por não saber estabelecer análises profundas e

rigorosas da vida cotidiana, relacionando-a à realidade da pesquisa científica

(FERNÁNDEZ DEL MORAL, 1993/1994 apud TAVARES, 2009, p. 127).

A especialização segue a tendência da diversidade do saber, por qual passou

a sociedade no século XX. “A abundância e complexidade dos fluxos informativos que

recebemos de forma constante requer uma sistematização das estruturas116

” (SALAZAR

HERRERA, 2003, p. 2, tradução nossa).

Ainda nesta perspectiva, Ana Carolina Abiahy (2000, p. 2) demonstra que a

formação acadêmica é generalista, pois a “formação profissional dos jornalistas valoriza a

aquisição de básicos conhecimentos gerais, postura esta que não entra em consonância com a

tendência atual”. Nesta tendência, o jornalista deve ter um preparo maior que os antecessores.

“O jornalista do nosso tempo deve possuir conhecimentos teóricos e técnicos que o convertam

115

Texto original: “Se asiste a un nuevo concepto del periodismo, más comprometido con la realidad, un

periodismo que abandona la obsesión por la objetividad. Se adoptan nuevos estilos y nuevos lenguajes”

(OBREGÓN, 1998, p. 3). 116

Texto original: “La abundancia y complejidad de flujos informartivos que recibimos en forma constante

requiere de uma sistematización de las estructuras” (SALAZAR HERRERA, 2003, p. 2).

Page 46: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

45

como especialista em comunicação dentro de uma seção específica da informação

jornalística117

” (OBREGÓN, 1998, p. 4, tradução nossa).

A preocupação com a especialização na formação dos jornalistas surgiu na

Espanha, como exemplo, na década de 1970. Na década seguinte, se tornou objeto de estudo e

foco científico. O país não é o único a investigar tal área, pois “encontra-se hoje,

comparativamente a outros países, na ‘vanguarda’ das reflexões sobre o jornalismo

especializado” (TAVARES, 2009, p. 116). No Brasil, segundo Tavares, a discussão é

considerada inexistente, pois há poucas publicações e cursos com esta abordagem.

O jornalismo especializado pode ser dividido em três classes, ainda segundo

Tavares (2009, p. 115):

1) A especialização pode estar associada a meios de comunicação

específicos (jornalismo televisivo, radiofônico, ciberjornalismo etc) e 2) a

temas (jornalismo econômico, ambiental, esportivo etc), ou pode estar

associada 3) aos produtos resultantes da junção de ambos (jornalismo

esportivo radiofônico, jornalismo cultural impresso etc).

A primeira tem como característica a especialização como modo de se fazer

jornalismo em diferentes meios de comunicação e suas especificidades, como a linguagem e

funcionamento. O modo de se informar na televisão, no rádio, na internet e no impresso são

diferentes. Este cenário se apresenta, devido às crises dos meios de comunicação tiveram com

o tempo, por meio do surgimento de mídias novas. “Tal cenário acabou por contribuir para

uma questão fundamental, [...]: menos uma questão de conteúdos ou de audiências, a

especialização deve ser pensada também como ligada a uma nova metodologia do trabalho

jornalístico, fundadora de novos produtos” (TAVARES, 2009, p. 118).

A segunda característica é ligada ao conteúdo do produto, onde se deixa de

fazer algo geral para se focar em um assunto. Abiahy (2000) trabalha com a ideia da

“globalização do fragmento”, a criação de um conteúdo para uma classe de tal racionalidade e

se acredita que as outras classes sejam iguais, por isso torna-se necessária a especialização.

Dessa forma, esta pesquisa se baseia na ideia que “não são os meios que se especializam, sim

os conteúdos. Em todo caso, os novos meios facilitam a difusão dos conteúdos especializados,

117

Texto original: “El periodista de nuestro tiempo debe poseer unos conocimientos teóricos y técnicos que le

conviertan como especialista en comunicación dentro de una sección específica de la información periodística ”

(OBREGÓN, 1998, p. 4).

Page 47: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

46

mas, hoje, a imprensa foi que levou ainda mais a tendência da especialização118

(FONTCUBERTA, 1993, p. 53, tradução nossa). Esta pesquisa terá como base, o jornalismo

especializado ligado a esta característica, pois a proposta é a criação de uma revista, com base

nos preceitos do jornalismo esportivo, com foco no futebol alternativo.

A especialização se torna uma tendência da lógica econômica que busca

segmentar o público, para melhor atingi-lo. De acordo com Abiahy (2000, p. 1), os

monopólios dos meios de comunicação perceberam que ao criar inúmeras revistas, com

títulos, temas e públicos diferentes. “A lógica de diferenciar as produções informativas, por

um lado atende às estratégias econômicas das empresas comunicativas, mas também

democratiza a escolha do público. É então, um jogo que substitui a massificação pela

personalização” (ABIAHY, 2000, p. 1-2). Essa personalização fez com que a publicidade nas

publicações impressas também mudasse de atuação, pois cada produto especializado tem um

público específico e assim, as marcas se adequam para atingir o público alvo (OBREGÓN,

1998).

As características do jornalismo especializado não podem ser fechadas,

porém Mar de Fontcuberta (s/d), citada por Salazar Herrera (2003, p. 5), demonstra que há

duas características para que um texto jornalístico esteja dentro da área de especialização:

a) Coerência temática: uma área de conteúdo jornalístico trata determinadas

parcelas da realidade e constrói, em consequência, uma agenda coerente. b)

Tratamentos específicos da informação que implica: construção de textos

coerentes, fontes de informação específica [...]; coerência com o público

segmentado que se dirige [...], o qual implica a adoção de códigos comuns;

jornalistas especialistas no campo específico de que trata a área, capazes de

sistematizar a informação e contextualizá-la em um determinado âmbito do

discurso jornalístico119

(FONTCUBERTA, s/d apud SALAZAR HERRERA,

2003, p. 5, tradução nossa).

Lage (2009) diferencia a matéria-prima do jornalismo geral e especializado,

em notícia e informação jornalística, respectivamente. “A informação jornalística é o espaço

privilegiado da reportagem especializada. Uma peculiaridade dela é destinar-se a públicos

118

Texto original: “[...] no son los medios los que especializan sino los contenidos. En todo caso los nuevos

medios facilitan la difusión de los contenidos especializados, aunque, hoy por hoy, es la prensa la que ha llevado

más lejos la tendencia a la especialización” (FONTCUBERTA, 1993, p. 53). 119

Texto orginal: “a) Coherencia temática: un área de contenido periodístico trata determinadas parcelas de la

realidad y construye, en consecuencia, un temario coherente. b) Tratamiento específico de la información que

implica: construcción de textos coherentes; fuentes de información específicas […]; coherencia con el segmento

de audiencia al que va dirigida […], lo cual implica la adopción de códigos comunes; periodistas especialistas en

el campo específico de que se trate el área, capaces de sistematizar la información y contextualizarla en un

determinado ámbito del discurso periodístico” (FONTCUBERTA, s/d apud SALAZAR HERRERA, 2003, p. 5).

Page 48: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

47

mais ou menos heterogêneos” (LAGE, 2009, P. 113). Resumidamente, o autor apresenta desta

forma, os dois tipos:

1. a notícia trata de um fato, acontecimento que contém elementos de

ineditismo, intensidade, atualidade, proximidade e identificação que o

tornam relevante; corresponde, frequentemente, à disfunção de algum

sistema [...]. Já informação trata de um assunto, determinado ou não por fato

gerador de interesse; 2. a notícia independe, em regra, das intenções do

jornalistas; a informação decorre de intenção, de uma “visão jornalística”

dos fatos; 3. a notícia e a informação jornalística contêm, em geral, graus

diferentes da profundidade no trato do assunto; a notícia é mais breve,

sumária, pouco durável, presa à emergência do evento que a gerou. A

informação é mais extensa, mais completa, mais rica na trama de relações

entre os universos de dados; 4. a notícia típica e da emergência de uma fato

novo, de sua descoberta ou revelação; a informação típica dá conta de um

estado-de-arte, isto é, da situação momentânea em determinado campo de

conhecimento (LAGE, 2009, p. 114).

Ainda, de acordo com Lage (2009), a cobertura esportiva, por exemplo, é

um tipo que exige mais que a notícia, pois o acontecimento envolve outras situações, como

classificação no campeonato ou algo externo. Segundo o autor, a notícia esportiva foca-se na

disputa ou o jogo, mas há sempre um contexto envolvido. “Cabe ao repórter [...] documentar

essas declarações e decisões; atento ao contexto emocional em que situam e à natureza

empresarial [...]. Mas não deve perder de vista os aspectos éticos do esporte, seu poder de

catarse [...] e a finalidade educativa de sua prática” (LAGE, 2009, p.115).

A profundidade do texto é característica do jornalismo especializado, que

apresenta um foco, que vai para além do lead. Busca-se uma discussão acerca do

acontecimento, há um tratamento específico.

Atribui-se a esse tipo de jornalismo, portanto, o papel de buscar intermediar

saberes especializados na sociedade, construindo um tipo de discurso que,

noticioso, ou “apenas” informacional, promova um outro tipo de

conhecimento que se funde – geralmente – na compreensão conjunta do

universo científico e do senso comum (TAVARES, 2009, p.123).

Apesar de relacionar o jornalismo especializado com questões de bem estar,

Tavares (2007) cita que nessa atuação se presentificam “acontecimentos invisíveis”.

[...] se o objeto primeiro do jornalismo é o acontecimento, sendo daí

derivada a notícia e a construção discursiva do real, o que acontece quando o

jornalismo não se volta para um acontecimento pontual, para um fato

extraordinário, mas para certos “acontecimentos invisíveis” da e na

sociedade? Tal indagação caminha para questionamentos a respeito do

Page 49: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

48

jornalismo que se dirige não para acontecimentos factuais propriamente

ditos, mas para os valores, os hábitos, os costumes, comportamentos e

sentimentos que compõem a sociedade contemporânea (TAVARES, 2007, p.

42).

Segundo Tavares (2007), os “acontecimentos invisíveis” estão e fazem parte

da construção da sociedade, mas a cultura120

da mídia é uma e tais fatos podem ser deixados

de lado no noticiário.

Apresenta- se nesse contexto uma relação entre o jornalismo e a cultura,

deixando mostras de uma relação maior e direta em que mídia e sociedade

são lidas e re-lidas uma pela outra, configurando aí um processo de

mediação. A mediação, nesse sentido, apresenta-se como prática midiática

de captar a realidade e transmiti-la a partir de um processo de produção

próprio, sem fugir da idéia de interação comunicativa que a envolve.

Percebemos assim, a mediação como um processo socialmente

contextualizado, inserido numa lógica comunicativa mais ampla, que

abrange diversos âmbitos de produção, recepção e de relação entre ambos.

No terreno do diálogo entre cultura e cultura de massa/comunicação de

massa, caminhamos hoje para uma idéia da existência de uma cultura da

mídia, que influencia e participa diretamente da vida cotidiana ora como

base, ora com pano de fundo para certos processos de criação e identificação

dos sujeitos (TAVARES, 2007, p. 47).

Esta pesquisa tem a pretensão de presentificar, por meio da proposta de um

produto especializado, a revista Série Z, que existe um futebol “invisível”, que vai além do

que é transmitido pela grande mídia, que passa a sensação que existe apenas este futebol.

Tavares (2007) também demonstra o ethos social do jornalismo

especializado. O ethos é uma construção própria do indivíduo. No jornalismo, o profissional

participa de uma constante construção e desconstrução do caráter e comportamento da

sociedade. “O ethos social é afetado pelas mudanças nas instituições e sistemas aos quais se

liga, bem como os afeta” (TAVARES, 2007, p. 51). O jornalismo geral foca-se no factual, em

demonstrar o fato ocorrido no ato do acontecimento, respondendo as perguntas do lead, sem

aprofundamento, enquanto o especializado “para os valores, os hábitos, os costumes,

120

Ao apresentar o termo cultura em seu artigo “O jornalismo especializado e a mediação de um ethos na

sociedade contemporânea” (2007), Frederico de Mello Brandão Tavares toma nota com base na obra “A Cultura

da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno” (2001) de Douglas Kellner,

que cita: “A cultura, em seu sentido mais amplo, é uma forma de atividade que implica alto grau de participação,

na qual as pessoas criam sociedades e identidades. A cultura modela os indivíduos, evidenciando e cultivando

suas potencialidades e capacidades de fala, ação e criatividade. A cultura da mídia participa igualmente desses

processos, mas também é algo novo na aventura humana. [...] o melhor modo de desenvolver teorias sobre mídia

e cultura é mediante estudos específicos dos fenômenos concretos contextualizados nas vicissitudes da sociedade

e da história contemporânea” (KELLNER, 2001 apud TAVARES, 2007, p. 11-12).

Page 50: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

49

comportamentos e sentimentos que compõem a sociedade contemporânea” (TAVARES,

2007, p. 42).

Acompanhada pela ciência experimental, o jornalismo especializado

representou um avanço científico e intelectual, devido ao aprofundamento necessário para se

abordar tal tema, pois a sociedade passou por um avanço tecnológico que interferiu na

demanda de informação, que melhoraram a qualidade de vida e passamos a discernir o que

queremos consumir, assim, a especialização jornalística aparece como uma opção. Assim, o

público passa a querer, saber e exigir mais da informação e consumir aquilo que é de seu

interesse. Jornalismo especializado é uma exigência social: “transmissão dos saberes de forma

precisa clara é uma missão jornalística121

” (SALAZAR HERRERA, 2003, p.9, tradução

nossa).

[...] a especialização jornalística surge com uma exigência da própria

audiência, cada vez mais setorizada e como uma necessidade dos próprios

meios de alcançar uma maior qualidade informativa e uma maior

aprofundamento dos conteúdos. Isto é, alcançar uma profundidade na

imprensa122

(FERNÁNDEZ DEL MORAL; ESTEVE, 1993 apud

OBREGÓN, 1998, p. 1, tradução nossa).

A questão da especialização ser positiva ou negativa gerou opiniões

diversas. “Alguns afirmam que uma excessiva divisão da área pode gerar uma atomização

jornalística, produzir situações de absoluta falta de comunicação entre os atores do processo e,

como consequência, uma deformação da realidade123

” (SALAZAR HERRERA, 2003, p. 3,

tradução nossa). Ainda sobre esta questão, Óbregon afirma que: “Enquanto um setor

considera positiva este parcelamento do conhecimento, como instrumento necessário para um

maior aprofundamento do mesmo, outros veem a especialização como uma limitação do saber

humano.124

” (OBREGÓN, 1998, p. 1, tradução nossa). Para este projeto, o pesquisador visa o

aprofundamento dentro de um tema, pois tal não é abarcado pela grande mídia, como

desenvolvido no capítulo anterior.

121

Texto original: “transmisión de saberes en forma precisa y clara es una misión periodística ” (SALAZAR

HERRERA, 2003, p.9). 122

Texto original: “[…] la especialización periodística surge como una exigencia de la propia audiencia cada vez

más sectorizada y como una necesidad de los propios medios por alcanzar una mayor calidad informativa y una

mayor profundización en los contenidos. Se trata de lograr una prensa en profundidad” (FERNÁNDEZ DEL

MORAL; ESTEVE, 1993 apud OBREGÓN, 1998, p. 1). 123

Texto original: “Hay quienes afirman que una excesiva división de áreas puede generar una atomización

informativa, producir situaciones de absoluta incomunicación entre los actores del proceso y, como

consecuencia, una deformación de la realidad ” (SALAZAR HERRERA, 2003, p. 3). 124

Texto original: “Mientras un sector considera positiva esta parcelación de los conocimientos, como

instrumento necesario para una mayor profundización en los mismos, otros ven la especialización como una

limitación del saber humano” (OBREGÓN, 1998, p. 1).

Page 51: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

50

Dentro do público que consome o jornalismo há uma diversificação do

interesse e a especialização pode abarcar grupos específicos, pois “o público especializado,

embora esteja disperso e até certo ponto é anônimo e heterogêneo, está composto por pessoas

que têm interesses comuns [...] que leva-os a procurar mensagens semelhantes125

” (MERRIL;

LEE; FRIEDLANDER, s/d apud FERNÁNDEZ DEL MORAL; ESTEVE RAMÍREZ, 1996

apud SALAZAR HERRERA, 2003, p.10, tradução nossa). Um caso de reunião, mesmo que

virtual, é a comunidade Futebol Alternativo. Os membros da comunidade são dispersos

quanto à localização; anônimos, devido ao interesse por algo que a mídia não mostra e por ter

interesse comum, o futebol alternativo. Os membros são clientes potenciais da revista

especializada desenvolvida nesta pesquisa.

As informações de interesse pessoal tornaram-se mais importantes para a

maior parte dos leitores do que assuntos que ao longo do tempo eram

reconhecidos como fundamentais para a sociedade inteira. Provavelmente

esta é a consequência da evolução dos meios de comunicação. A Sociedade

da Informação, ao oferecer tanta variedade de veículos informativos,

aumentando a capacidade de escolha do receptor, tornou-o mais qualificado

a identificar-se com determinado material informativo (ABIAHY, 2000, p.

13).

Como demonstrado, a formação acadêmica do jornalista é generalista. Desta

forma, Scalzo (2013, p. 55) cita que o jornalista inicialmente é “especialista em generalidade”.

Uma das premissas do jornalista é perguntar algo em que não é especializado, para uma

autoridade no assunto, para que possa passar ao leitor de forma compreensível. “Quando o

jornalista se especializa em uma área, ele até pode ganhar em profundidade, mas corre o risco

de se comportar exatamente como o especialista que entrevista, ou seja, perder a curiosidade

típica do leitor comum” (SCALZO, 2013, p. 55).

Para Salazar Herrera (2003, p. 6), o jornalista especializado deve continuar

se informando sobre as outras áreas, pois a especialização não divide, mas sim multiplica o

saber. Cabe ao profissional, estar atento aos acontecimentos e assim, apresentar ao leitor

relações e enfrentamentos sobre tais assuntos. Quanto mais se eleva o grau de especialização,

melhor será produzido e transmitido o texto. “A especialização do jornalista não implica em

125

Texto original: “[...] el público especializado, a pesar de que está disperso y hasta cierto punto es anónimo y

heterógeneo, está compuesto por personas que sí tienen intereses comunes […] que los llevan a buscar mensajes

similares ” (MERRIL; LEE; FRIEDLANDER, s/d apud FERNÁNDEZ DEL MORAL; ESTEVE RAMÍREZ,

1996 apud SALAZAR HERRERA, 2003, p. 10).

Page 52: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

51

um parcelamento do seu conhecimento ou uma limitação do seu trabalho profissional126

(SALAZAR HERRERA, 2003, p. 6, tradução nossa).

Nilson Lage (2009, p. 109-111) levanta a questão do “porque não

transformar especialistas em jornalistas”. O autor trabalha com a “a teoria da inocência”, pois

um especialista não precisa ser de uma classe para abordar tal assunto, como por exemplo,

“um professor de primeiro grau não precisa ser criança para comunicar-se com seus alunos”.

Outro problema desta possível transformação tem relação com a ética, pois certas áreas tem

como premissa não poder criticar um outro profissional da mesma área. O jornalista escreve

um texto jornalístico sobre outras áreas de serviço, com isso um médico, por exemplo, não

poderia criticar outro médico devido a ética da profissão. Para se tornar jornalista deveria

abandonar essa visão. Caso abandone a profissão que se especializou, isso representaria em

uma perda social, pois o especialista desfalcaria a área de formação. Para ao autor então, uma

especialização127

seria o suficiente para que o jornalista possa cobrir as diversas áreas do

conhecimento.

4.3 Especialização e segmentação

Por se tratar de um modo específico de se fazer jornalismo com a ligação

com o público, a especialização em alguns momentos é confundida com a segmentação.

Rovida cita que o jornalismo especializado “não é uma variação do jornalismo geral, mas sim

uma característica da própria evolução” (ROVIDA, 2010, p. 52) do jornalismo, enquanto que

o “Jornalismo Segmentado” tem como característica ser:

[...] um tipo de comunicação jornalística focado em grupos sociais

específicos formados com base em um interesse comum que, em geral, se

relaciona a temas profissionais. O Jornalismo Segmentado é apresentado em

veículos com distribuição dirigida. O texto desse tipo de comunicação

jornalística apresenta aspectos de proximidade com o público-alvo e traz

características que contradizem os preceitos de pluralidade encontrados no

jornalismo de informação geral. Dessa forma, os veículos segmentados são

voltados para públicos restritos, trabalham com uma lógica de proximidade

com o público, possuem uma periodicidade mais flexível e, portanto, não há

uma ênfase na atualidade, mas sim no aprofundamento objetivando a

informação, a interpretação e a formação do público (ROVIDA, 2010, p.

75).

126

Texto original: “La especialización del periodista no implica una parcelación de su conocimiento ni una

limitación en su quehacer profesional” (HERRERA, 2003, p. 6). 127

Especialização aqui se entende como uma pós-graduação.

Page 53: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

52

Para Carvalho (2007), que tem ideia semelhante, a segmentação tem como

propósito atingir um nicho específico. Para se segmentar pode-se trabalhar com pesquisas,

números de público e pauta acessível e estável. Existem dois tipos de segmentação: “a da

divisão do mercado e a da classificação do consumidor” (CARVALHO, 2007, p.5). A

primeira tem como característica afirmar que nenhuma empresa tem a capacidade de oferecer

tudo que um cliente quer. A segunda tem relação com as preferências do leitor, pois cada um

dos indivíduos possui uma preferência específica. Desta forma, a segmentação está ligada ao

público, enquanto que a especialização é ligada ao assunto do produto.

Abiahy (2000) cita que houve uma fragmentação dos meios de comunicação

para atingir um público específico, seja pelos canais de TV por assinatura, programas

televisivos especializados e internet, mas a revista, devido a variedade de títulos

especializados tornou-se o “veículo mais propício à segmentação, [...] o melhor meio para

observar a especialização jornalística, expondo um panorama das temáticas trabalhadas no

jornalismo especializado” (ABIAHY, 2000, p.2). As revistas, como regra, oferecem opções a

vários públicos, mas específicos e segmentados. Por esta razão, que este projeto será voltado à

mídia revista. Sobre o jornalismo especializado e jornalismo esportivo, Abiahy afirma que:

Numa temática tão extensa quanto esporte, encontraremos inúmeras

publicações. Esta é uma matéria que sempre alcança espaços generosos na

mídia. Podemos até considerar que o noticiário esportivo da tevê é uma das

primeiras experiências de jornalismo especializado. Em se tratando de

revistas a especialização será ainda mais evidente. Além de uma abordagem

profunda do assunto, para os leitores que buscam este tipo de informação

sobre o esporte que os interessam, estas publicações se destacam ainda por

adequarem-se ao estilo de vida dos adeptos dos esportes abordados

(ABIAHY, 2000, p. 19).

Há diversos aspectos quando tratamos da especialização no jornalismo

esportivo. Uma revista especializada em basquete, com os preceitos do jornalismo esportivo,

não terá como público, adeptos de esportes radicais, pois são interesses diferentes dentro da

mesma área jornalística, a esportiva. Martínez de Sousa (s/d), citado por Óbregon (1998),

demonstra que o jornalismo especializado é responsável por informar a um público que tenha

um determinado interesse. Cada área do jornalismo sendo especializada possui subáreas,

assim, o jornalismo esportivo, por exemplo, pode se especializar em um esporte específico e

dentro disso ainda há várias possibilidades. No caso deste estudo, se especializar em futebol

alternativo, uma subárea do futebol. Adiante, iremos apresentar os conceitos de jornalismo

Page 54: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

53

esportivo e jornalismo de revista, também, bases desta pesquisa, que tem como proposta a

criação de um projeto editorial para uma revista especializada em futebol alternativo.

Page 55: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

54

5 JORNALISMO ESPORTIVO

Após o desenvolvimento do conceito de jornalismo especializado, este

capítulo irá apresentar os preceitos do jornalismo esportivo, que será base para a produção e

desenvolvimento da revista Série Z. O que é jornalismo esportivo, a postura do profissional

desta área, o jornalismo esportivo como uma especialização e a questão da cobertura

esportiva, relacionando-a com o entretenimento e o espetáculo serão os pontos apresentados.

5.1 Jornalismo esportivo é jornalismo

O jornalismo esportivo é a prática do jornalismo voltada à cobertura de

eventos esportivos, desde as competições até o que envolve o esporte externamente, como

casos de corrupção, política e doping, por isso é acima de tudo jornalismo. “Jornalismo é

jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. Pode ser propagado em televisão,

rádio, jornal, revista ou internet. [...] A essência não muda porque sua natureza é única e está

intimamente ligada às regras da ética e ao interesse público” (BARBEIRO; RANGEL, 2012,

p. 13).

Unzelte (2009, p.17) cita que a produção de uma matéria possui os mesmos

processos das outras editorias, como a criação da pauta, a apuração e a redação (reportagem).

A pauta na cobertura esportiva, assim como nas outras áreas, é o primeiro passo para a

realização da reportagem. Tem como objetivo ser um roteiro que o repórter deve seguir. No

jornalismo esportivo, as pautas enfrentam a questão da instantaneidade. “Na hora de cumpri-

la, o repórter deve ter em mente dois mandamentos: ‘pauta não é bíblia’ e ‘repórter não é filho

da pauta’. Isso significa que a pauta partirá sempre de uma tese, que, na prática, pode ser

confirmar ou não” (UNZELTE, 2009, p. 25), ou seja, como exemplo, o repórter sai com uma

pauta que tem como finalidade a entrevista de um jogador de futebol e um foco específico,

porém, em meio a apuração, o jogador pode não estar no local ou outro fato surgir, que o

paute em meio a produção. As circunstâncias fizeram com que a pauta mudasse e o que o

jornalista leva para a redação é uma matéria diferente, o que deve ser feito nestas situações. A

instantaneidade pode influenciar na apuração dos fatos, pois como afirma Barbeiro e Rangel

(2012, p. 25):

Alguns veículos são tomados pela histeria de divulgar os fatos antes e

afundam no pântano da falta de credibilidade. Um mal que atinge boa parte

Page 56: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

55

das emissoras do país. [...] É preciso ser ágil para não perder a oportunidade

de oferecer ao torcedor a informação atualizada e completa, porém com

acurácia. Sem ela, nada feito. Não é jornalismo.

Caso a pauta e a apuração encontrem problemas, a consequência se dará na

reportagem e sua redação. “É preciso tomar cuidado com a vontade de dar notícia em primeira

mão sem a devida checagem. Isso tem corrompido a boa reportagem” (BARBEIRO;

RANGEL, 2012, p. 21). Assim como a pauta, a redação de uma matéria esportiva tem as

mesmas premissas do jornalismo. A notícia deve corresponder a estrutura do lead e apresentar

respostas sobre o fato apresentado. Caso não se trabalhe pura e simplesmente com a notícia,

como no caso das revistas, a pauta também serve como um foco para a produção da matéria e

deve conter os resultados esperados.

5.2 Jornalismo esportivo e a especialização

O jornalismo esportivo é considerado como uma das primeiras

especializações, mas é menos desenvolvido que outras áreas, de acordo com Pérez (2009),

que teve como ponto de partida deixar de se apresentar apenas resultados e estatísticas para

que os gêneros jornalísticos fossem agregados a prática. No começo a informação esportiva

era ligada a “área de especialização recreativa”, por isso se misturava com o jornalismo

cultural.

Como discutido anteriormente128

, com base em Salazar Herrera (2003) e

Óbregon (1998), existem opiniões diversas sobre a especialização ser positiva ou negativa. No

jornalismo esportivo, Unzelte (2009, p. 117-118) vai ao encontro de tal pensamento. Segundo

o autor, a especialização pode tornar o jornalista uma referência na área, o que resultaria em

ser consultado sobre o assunto não só por leitores, espectadores e ouvintes, mas também por

profissionais da mesma área. Para isso, o profissional deve investir em si, desde a formação,

consumo de informação e uma agenda com as fontes corretas para sanar dúvidas.

Outro trunfo do jornalista especializado está no fato de seu maior

conhecimento específico diminuir a possibilidade de erros de informação no

que diz respeito aos temas com que trabalha. Não que esses erros passem

simplesmente a inexistir. Mas o jornalista esportivo sabe muito bem, por

exemplo, que tem de chamar o time Anapolina […], de “a” Anapolina, por

conta da razão social do clube (Associação Atlética Anapolina), e não de “o”

Anapolina, como faz eventualmente os jornalistas de outras áreas quando

128

No capítulo Jornalismo Especializado.

Page 57: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

56

têm de citar o nome desse clube em seus textos. Pode parecer apenas um

detalhe, mas conta muito para um leitor tão específico. Ainda mais se ele

morar na cidade de Anápolis ou for torcedor da própria Anapolina”

(UNZELTE, 2009, p. 119-120).

O lado ruim (UNZELTE, 2009, p. 120) vem da imagem que jornalistas de

outras áreas têm sobre a área esportiva.

Os que não trabalham com esporte […] orgulhosamente confessam “não

entender nada disso”, costumam encarar o tema como uma coisa menor […].

Você já viu algum jornalista se orgulhar publicamente de não entender nada

de cinema, música, política? Mas não entender de esporte, ao contrário, […]

conta pontos para a imagem intelectual que possam fazer de você

(UNZELTE, 2009, p. 121).

O autor ressalta que tal visão é certa, pois em alguns momentos, o

jornalismo esportivo deixou a desejar, como por exemplo, repetição de assuntos, mas que

assim, como nas outras áreas, trabalhar com esportes requer prática, habilidade e atenção. Há

também o risco do jornalista ficar “bitolado” (UNZELTE, 2009, p. 122), por ficar fixado em

um assunto, por isso é recomendável que se tenha a rotina de ler sobre outros assuntos, para

não ter problemas caso saia da área em que se especializou.

O jornalismo esportivo, devido, ao variado número de esportes que existem

não consegue contemplá-los no noticiário. A audiência é o que determina o que deve ser

noticiado e assim tais assuntos tem preferência levando em consideração o que o público

prefere acompanhar. O “mundo dos esportes, por ser vasto, jamais conseguiria reunir a

diversidade de estímulos temáticos que qualquer noticiário oferece atualmente. Mas, é certo

que o jornalismo esportivo tende a atrair audiências com interesses muito específicos129

(PÉREZ, 2009, p. 6, tradução nossa). Essa é a proposta do projeto editorial dessa pesquisa:

abarcar os clubes que não são agendados pela grande mídia.

A proposta desta pesquisa é se especializar na área de futebol alternativo,

que pode ser considerada uma espécie de subespecialização, pois Unzelte (2009, p. 123) diz

que o jornalismo esportivo oferece, devido a abertura que se tem, “cada vez mais campos

dentro desse guarda-chuva chamado esporte”. O autor apresenta várias subespecializações em

sua obra, mas nenhuma delas ligadas a um outro lado do futebol. Cita o futebol internacional,

mas com relação aos campeonatos com cobertura da grande mídia. Uma das intenções do

129

Texto original: […] el mundo de los deportes, por vasto que sea, jamás alcanzaría a congregar la diversidad de

estímulos temáticos que ofrece hoy cualquier espacio noticioso. Pero, si bien es cierto que el periodismo

deportivo suele atraer audiencias con intereses muy específicos (PÉREZ, 2009, p. 6).

Page 58: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

57

pesquisador é exatamente se especializar em uma área e demonstrar tal trabalho, por meio de

uma revista especializada, seguindo as premissas jornalísticas desde a pauta, apuração e

redação, mas também com uma postura que condiga com a profissão.

5.3 O jornalista esportivo: postura e ética

Segundo Barbeiro e Rangel (2012, p. 21), o jornalismo esportivo em muitos

momentos convive com a “mesmice” das pautas e é de responsabilidade do jornalista fugir

disso. De acordo com os autores, a área esportiva é mais vasta que as disputas esportivas em

si, abrangendo, como por exemplo, política, violência, defesa do consumidor e do torcedor.

Para qualquer matéria jornalística que se preze, as fontes são essenciais, um

dos pontos mais discutidos por Coelho (2014) e Unzelte (2009). Assim, como nas outras

áreas, a fonte é a responsável por passar as informações que o jornalista deseja, em uma

relação profissional, porém, em alguns momentos tal relação pode se transformar em amizade.

Amizade não combina com jornalismo. Por outro lado, ajuda muito a

conseguir informações […] antes dos demais colegas. Duro é separar as duas

coisas. Muitos jornalistas não conseguem separar amizade de relacionamento

profissional. Não é raro ouvi-lo elogiar jogadores por conta apenas da

amizade (COELHO, 2014, p. 75).

As fontes devem ser mantidas continuamente, mas não pode haver a mistura

do profissional e o pessoal, pois a isenção da informação fica prejudicada. Deve-se ter a

relação, indagando-o sobre todas as dúvidas na apuração da notícia e sempre deixando claro

que não se trata de troca de favores.

Não é porque eu tenho um bom relacionamento com determinada fonte que

vou poupá-la, deixar de dar informação, que afinal é a minha primeira

obrigação profissional como jornalista. [...] eventuais informações em

primeira mão que sejam passadas, ou qualquer outro tipo de facilidade para a

realização do meu trabalho, jamais serão pagas com a posterior publicação

de algo que interesse à fonte (UNZELTE, 2009, p. 105-106).

Segundo Coelho (2014), o jornalismo esportivo é visto com certo

preconceito por jornalistas de outras áreas, que enxergam neste profissional, um “mero

‘palpiteiro’, que segundo o autor, é o perfil apresentado por muitos jornalistas da área. O autor

cita que há vários destes no mercado e em todas as áreas, com erros em seus prognósticos,

mas que no jornalismo esportivo, que muitas vezes é ocupado por profissionais de outras

Page 59: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

58

áreas, como ex-atletas, tal ação tem efeito maior. “O que se verifica atualmente, no entanto, é

a ditadura do oposto. Despreza-se muito o conhecimento teórico adquirido por jornalistas. E o

exercício do jornalismo vira atividade técnica pura e simples. O comentarista de televisão é

geralmente alguém com história dentro do esporte” (COELHO, 2014, p. 53).

Ainda nesta questão, Coelho (2014, p. 81) afirma que uma maneira de

mudar a visão que se tem da área esportiva depende das propostas de pautas que fujam de um

ponto comum, como defendem Barbeiro e Rangel (2012), exigindo do jornalista criatividade e

disciplina.

As discussões acima se relacionam com o dia-a-dia da redação, que ganhou

novos capítulos desde o final do século XX: a questão ética e o merchandising130

. Segundo

Rangel (2008, p. 6), o fator econômico provocou fenômenos culturais, sociais, políticos e

comunicacionais e acabou por interferir no jornalismo, com uma “contaminação da linguagem

jornalística pela publicitária”. Esse cenário acentuou a presença de jornalistas que se utilizam

do merchandising nos programas esportivos os transformando em garotos-propaganda

(RANGEL, 2008, p. 96).

No jornalismo esportivo, o dilema ético é um debate corriqueiro, como

trabalha Unzelte (2009) e Barbeiro e Rangel (2012), estes, que citam que a “ética no

jornalismo esportivo tem a mesma importância que qualquer outra área, uma vez que ela

baliza as ações humanas, critica a moralidade e se constitui em princípios e disposições”

(BARBEIRO; RANGEL, 2012, p. 113). Segundo Unzelte (2009, p. 101), ética e jornalismo

esportivo são desafiadas a partir do momento que há uma relação entre redação e publicidade.

Certas empresas acreditam que anúncios publicitários partem da redação de um veículo

jornalístico, mas, como explica o autor, tal relação não existe, pois as áreas “não se

misturam”.

Outra prática que desafia a postura ética é a do jabá, que segundo Unzelte

(2009, p. 101) “são os presentes [...] que um jornalista pode ou não receber de suas fontes,

seus entrevistados, do objeto, enfim, de seu trabalho”.

Publicidade, por meio do merchandising, é uma prática comum em

programas esportivos, por isso, o jornalismo se encontra no meio do entretenimento e do

espetáculo, que o esporte se tornou. Unzelte (2009, p. 109-111) apresenta sete argumentos de

130

“Merchandising é qualquer técnica, ação [...] promocional [...] que proporcione informação e melhor

visibilidade a produtos, marcas ou serviços, com o propósito de motivar e influenciar as decisões de compra dos

consumidores” (BLESSA, 2011, p. 1).

Page 60: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

59

quem é contrário a mistura de jornalismo e merchandising131

e outros sete de quem é

favorável132

. Posteriormente, o autor resume a ideia.

Quem é contra argumenta, entre outras coisas, que a ligação com o

merchandising tira a independência e a credibilidade do jornalista e que, no

caso de querer exercer a publicidade, o profissional deve deixar o

jornalismo. Quem é a favor argumenta que jornalistas esportivos sempre

leram textos publicitários durante as coberturas de futebol e que programas

esportivos são também de entretenimento, não apenas informação, e que por

isso podem comportar o merchandising (UNZELTE, 2009, p. 112).

Cabe aqui frisar que a cobertura de esportes pode ser feita de várias

maneiras, o problema ocorre quando o comunicador afirma fazer jornalismo, mas não faz na

prática. O que é passado terá um efeito no receptor, que pode encarar de diversas formas, o

modo que está se informando. O “que é verdade, o que é opinião e o que é lenda se misturam

e nem todo mundo é capaz de diferenciar o que é jornalismo do que não é” (COELHO, 2014,

p. 19). Esse cenário fez com que o jornalista esportivo conviva no meio do entretenimento e

do espetáculo, o que pode confundir a prática jornalística.

131

“A ligação com o merchandising fere o que um jornalista tem de mais precioso, sua independência e

credibilidade.

Jornalismo esportivo é área especializada, e, portanto, o jornalista não pode acumular essa função com outras

incompatíveis, como a de assessor de imprensa, empresário ou garoto-propaganda. No caso de desejar exercer

alguma dessas outras funções, terá, antes de tudo, que deixar de ser jornalista.

O jornalista que faz publicidade está cultivando uma relação perigosa e antiética, pois, ao fazer propaganda de

determinado produto, como poderá apurar de forma imparcial um fato que envolva alguém ligado àquele mesmo

produto? No meio esportivo, no qual tantos dirigentes são também empresários, essa situação é recorrente.

O patrão do jornalista é o leitor, ouvinte ou telespectador, não o anunciante.

Quanto mais merchandising houver, mais a informação fica em segundo plano.

Vantagens conseguidas com a prática do merchandising, como hospedagens e jantares em troca de pequenas

inserções durante a programação, principalmente no rádio e na TV, constituem o famoso “jabaculê” (também

chamado de “jabá”) e destroem a credibilidade do jornalista.

Pelos mesmos motivos expostos anteriormente, o merchandising é aceitável em programas de entretenimento,

mas não nos programas em que a informação é o foco” (UNZELTE, 2009, p. 109-110). 132

“Jornalistas esportivos sempre leram textos publicitários durante as coberturas de futebol. Faz parte da

atividade.

Programas esportivos são também entretenimento, não apenas informação, e por isso podem comportar, sim, o

merchandising.

Os anunciantes que procuram esses programas são empresas sérias e profissionais, e os escolhem por visualizar

neles a credibilidade necessária para o merchandising.

Se o produto que anunciam não for bom, ele, pelo fato de serem as estrelas das mensagens publicitárias, não têm

nada a ver com isso, pois não têm acesso à vida íntima e fiscal das empresas que anunciam.

Quem é contra o merchandising no jornalismo esportivo é invejoso, pseudojornalista ou patrulheiro fracassado.

Cada um age como quiser e o julgamento deve ser do público, do mercado, dos veículos de comunicação, do

torcedor, do ouvinte, do telespectador, dos clientes patrocinadores e das agências de publicidade contratantes.

O espaço que o merchandising está ganhando na mídia mundial deve-se à desvalorização do intervalo comercial

tradicional. Trata-se de um processo irreversível.

Os empregos, principalmente dos jornalistas, são alavancados pelos recursos obtidos com o mercado

publicitário. Portanto, se o jornalismo tem vergonha da publicidade, que viva sem ela” (UNZELTE, 2009, p.

110-111).

Page 61: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

60

5.4 Futebol, entretenimento e espetáculo

Por ser o futebol, foco desta pesquisa, neste ponto as relações deste esporte

serão utilizadas como base de discussão para entender a relação que o futebol tem com o

entretenimento junto ao espectador, a discussão sobre o futebol como espetáculo133

e o

jornalista esportivo dentro deste contexto.

Pérez (2009) cita que talvez, o jornalismo esportivo seja a primeira

especialização voltada ao entretenimento. O autor frisa que neste contexto, a informação

pode ficar em segundo plano se confundida com o mero entretenimento, formando um

desequilíbrio. Entretenimento e jornalismo podem ser relacionados, pois peças de teatro, o

cinema e as expressões artísticas fazem parte deste meio e há uma cobertura jornalística sobre

estes assuntos. No esporte, assim como nas outras, o papel do jornalista é informar.

A fim de ser não ser apenas o primeiro, mas sim o melhor dos jornalismos

especializados, ao jornalismo esportivo resta equilibrar o que há de sério no

entretenimento, verificar o funcionamento do conjunto que estão atrás do

espetáculo, buscar criatividade informativa ao invés do exagero habitual, e

em especial, assumir os compromissos de um exercício jornalístico

competente134

(PÉREZ, 2009, p. 11, tradução nossa).

O entretenimento também é informação e o esporte para o espectador tem a

função de entreter. “Um evento esportivo é lúdico e distrai as pessoas, é um lazer, um

momento de descontração. Uma disputa esportiva é um espetáculo e o jornalista checa e

informa os acontecimentos, mas não deveria participar deles” (RANGEL, 2008, p. 92). Silva

(2009) cita que a competição mexe com a emoção das pessoas que acompanham e por vezes

tal ação influencia o profissional na cobertura e como consequência disso:

[...] o esporte não é levado a sério porque é paixão, os jornalistas esportivos

não são exigidos da mesma maneira em sua formação e acabam confundindo

sua situação de repórter com a de torcedor, produzindo um jornalismo que,

133

O desenvolvimento deste tópico terá como base a dissertação de mestrado “O Futebol Midiático: Uma

reflexão crítica sobre o jornalismo esportivo nos meios eletrônicos”, de Patrícia Rangel. Na pesquisa, a autora

trabalha o termo espetáculo, com base na obra “Sociedade do Espetáculo” (2009) de Guy Debord. De acordo

com Rangel (2009, p. 64), Debord “critica a sociedade que se organiza em torno de uma constante falsificação da

vida comum”. 134

Texto original: Con miras a ser no nada más el primero, sino el mejor de los periodismos especializados, al

periodismo deportivo le resta sopesar lo que hay de serio en el entretenimiento, verificar la operación de los

aparatos que están detrás del espectáculo, procurar creatividad informativa antes que exageración consabida, y

en concreto, asumir los compromisos de un ejercicio periodístico competente (PÉREZ, 2009, p. 11).

Page 62: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

61

ao aproximar-se do entretenimento, acaba por ser entendido como uma

editoria menor (SILVA, 2009, p. 18).

As mudanças no futebol, com o tempo, fizeram o jornalismo esportivo

voltado a tal cobertura, mudar também: do amadorismo para a profissionalização, da elite para

as massas, do esporte para o negócio. O futebol transformado em espetáculo teve como

contribuidor, as transmissões esportivas do rádio, o que ajudou a popularizar o futebol, por

meio de formas de se transmitir que prendiam o público com humor, abuso de bordões e

vozes marcantes.

Depois que o futebol foi assimilado pelas massas, ele passou a ser apreciado

como espetáculo por meio das imagens veiculadas pela televisão, num

fenômeno produzido com as mais altas tecnologias, incorporando beleza ao

gesto técnico, buscando a imagem mais que espetacular. Na verdade, isto

não acontece somente com o futebol, mas sim com todo esporte que

consegue atingir às massas e fornecer imagens espetaculares aos

telespectadores. Ou seja, o esporte parece ser o parceiro preferencial da

espetacularização na mídia televisiva, porque oferece, em contrapartida, o

show já pronto; possui elementos fortes para esta parceria, porque ganha

características de um show de entretenimento (RANGEL, 2008, p. 64).

Rangel (2008) relaciona o futebol como um produto da Indústria Cultural,

ancorada nos estudos de Theodor Adorno e Max Horkheimer (1985)135

, onde há um processo

de massificação da cultura, onde a massa é homogênea. Devido as mudanças, o futebol passou

a fazer parte deste processo. Segundo a autora, os programas esportivos de mesa-redonda

demonstram tal processo na relação informação e futebol. “Praticamente em todos os canais

da televisão aberta, [...] estes programas são exibidos com conteúdo e perfil muito

semelhantes. A sensação ao mudar de canal é que não mudamos de emissora. Quando o

conteúdo não é bom, ele tende a se assemelhar com outros” (RANGEL, 2008, p. 52). Assim,

há uma repetição de fatos esportivos, o que pode tornar para o espectador, como algo único

naquele meio, pois a cada programa reforça-se os mesmos clubes, campeonatos e jogadores,

consequência disso, é que uma considerável parte do meio futebolístico não existe nos

noticiários.

Ainda nesta perspectiva, Rangel (2008) cita que um espetáculo é criado

nestes programas, por meio do apelo a diversão como forma de distrair os espectadores, em

135

Rangel (2008) demonstra essa relação no primeiro subtítulo do Capítulo II, em cinco páginas onde relaciona

os estudos de Adorno e Horkheimer com o produto futebol. A autora baseia sua discussão na obra “Dialética do

Esclarecimento” (1985), dos dois autores. A referência da Dissertação de Mestrado de Rangel (2008) está

disponível nas referências desta pesquisa, para consulta.

Page 63: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

62

meio as informações. “Os apresentadores se desdobram em entreter seus telespectadores com

prêmios, piadas, risadas, humilhações de colegas, vale até encenar algum papel neste

espetáculo” (RANGEL, 2008, p. 54) e complementa afirmando que em “vários programas,

estes jornalistas assumem um papel teatral na atração, sendo um o bonzinho, o outro o

ranzinza, o ingênuo, [...] o bravo. Com isso, as discussões crescem, tornam-se até polêmicas

gerando audiência” (RANGEL, 2008, p. 55).

É neste espetáculo criado na cobertura esportiva que se insere o jornalista

esportivo. Em muitos momentos, ele está no meio do espetáculo e acredita ser parte dele, mas

a sua função é a de informar sobre tal evento. O espetáculo criado em torno do futebol fez

com que houvesse uma mudança na relação futebol e público, onde se cria espectadores e não

mais, atores do processo.

O futebol gera notícias extraordinárias, informações de vendas milionárias

de jogadores, a vida cada vez mais glamourosa destes, pautas sobre

superfaturamento de eventos esportivos, CPIs do futebol, e muito mais. Ou

seja, futebol dá visibilidade. E as tecnologias aliadas na constituição do

futebol espetáculo da atualidade como: transmissões via satélite, câmeras

cada vez mais potentes e detalhistas, computação gráfica, etc, nos colocam

numa condição de contempladores deste espetáculo. É como se não

tivéssemos mais contato com o verdadeiro esporte, fôssemos apenas

espectadores e não mais atores destes (RANGEL, 2008, p. 65).

Como Rangel (2008) cita, o futebol dá visibilidade, no entanto, este futebol

é aquele com cobertura da grande mídia. A intenção desta pesquisa é dar visibilidade ao

futebol alternativo.

Page 64: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

63

6 JORNALISMO DE REVISTA

A revista surgiu como veículo impresso e com o passar dos tempos seu

estilo foi adaptado, diferenciando-se das propostas da televisão, rádio e jornal. Apesar da

revista Série Z ser destinada ao meio digital, os preceitos do impresso serão incorporados a

produção, pois como será discutido, a revista mesmo que em outras plataformas deve acolher

o que seja positivo de tal tecnologia, mas sem deixar de ser revista.

Este capítulo trabalhará a questão das especificidades que caracterizam a

revista, os gêneros jornalísticos utilizados, a análise de dois periódicos esportivos do Brasil e

o conceito de revista digital.

6.1 A revista e suas características

Apesar de a primeira revista ter sido criada em 1663, pelo alemão Johann

Rist, em Hamburgo, intitulada Erbauliche Monaths-Unterredungen, o termo “revista” ter sido

utilizado pela primeira vez, pelo inglês Daniel Defoe, em 1704, quando criou em Londres, a A

Weekly Review of the Affairsof France e a primeira revista com formato semelhante ao atual

ser a inglesa The Gentleman’s Magazine criada em 1731136

, a revista precursora com caráter

de imprensa é a americana Time (1923) criada por Briton Hadden e Henry Luce, “para atender

à necessidade de informar com concisão em um mundo já congestionado pela quantidade de

informações impressas [...]. A ideia era trazer notícias da semana, do país e do mundo,

organizadas em seções, sempre narradas de maneira concisa e sistemática (SCALZO, 2013, p.

22). Mesmo a Time, como as anteriores, as revistas desde então traziam características que

ainda são vistas atualmente, como a periodicidade e foco específico.

No Brasil, de acordo com Scalzo (2013), a história das revistas tem relação

com o crescimento econômico e industrial. A revista As Variedades ou Ensaios de Literatura

foi criada em 1812, em Salvador e é a primeira publicação do tipo no Brasil, que tinha

características de livro e trazia textos sobre cultura e costumes da época. Antes destes títulos,

outra publicação merece destaque como marco da revista no Brasil, o Correio Braziliense. O

jornal pertencia a Hipólito da Costa, que tinha como objetivo defender a liberdade de

imprensa no Brasil e em Portugal, para isso, o periódico era feito em Londres, pois a

Inglaterra não tinha ligações com Portugal. Em 1º de junho de 1808, o jornal chega ao Brasil e

136

A história das revistas de uma maneira mais completa pode ser consultada nas obras de Scalzo (2013) e

Nascimento (2002).

Page 65: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

64

logo impacta o governo, que acaba o proibindo. O Correio Braziliense circulou até 1822, mas

as características do jornal, como era chamado, trazia especificidades de revista.

O Correio Braziliense ou Armazém Literário – um título que busca associar

no seu tempo o jornal, a revista e o livro, num contexto de informação geral,

cultura, ciência e história – é uma brochura mensal de 140 páginas in-8.º

grande, capa azul escuro. Política, Comércio e Artes, Literatura e Ciências,

Miscelânea, Reflexões sobre as novidades do mês, e Correspondência são as

principais seções (BAHIA, 2009, p. 33).

Quatro publicações merecem destaque para a popularidade que as revistas

alcançaram no Brasil: O Cruzeiro, Manchete, Realidade e Veja. A primeira foi fundada em

1928, pelo jornalista Assis Chateaubriand, com foco em grandes reportagens e fotojornalismo.

Em 1952, a Manchete foi criada e é considerada uma superação da primeira, devido aos

aspectos gráficos e fotojornalismo. A Realidade, criada em 1966, aproveitou a decadência das

duas primeiras citadas e se tornou uma conceituada revista, devido a postura crítica e o

jornalismo investigativo. A Veja se destaca pelos números, pois a publicação criada em 1968,

contou com circulação média entre janeiro e setembro de 2014 de 1.167.928 exemplares137

, a

maior no mercado editorial brasileiro, atualmente138

.

Como visto, a revista possui características próprias que a diferencia dos

outros meios, como a periodicidade, público, formato e o texto em profundidade. Nascimento

(2002); Vilas Boas (1996), Benetti (2013) e Scalzo (2013) demonstram essas diferenças

comparando esta mídia com o jornal, dois veículos impressos. Para Nascimento (2002, p. 18),

revista pode ser definida desta forma:

Em linhas gerais, define-se revista como uma publicação periódica de

formato e temática variados que se difere do jornal pelo tratamento visual

(melhor qualidade de papel e de impressão, além de maior liberdade na

diagramação e utilização de cores) e pelo tratamento textual (sem o

imediatismo imposto aos jornais diários, as revistas lidariam com os fatos já

publicados pelos jornais diários ou já veiculados pela televisão de maneira

mais analítica, fornecendo um maior número de informações sobre

determinado assunto.

Para Vilas Boas (1996, p. 9) a “revista semanal preenche vazios

informativos deixados pelas coberturas dos jornais, rádio e televisão. Além de visualmente

mais sofisticada, outro fator a diferencia sobremaneira do jornal: o texto”.

137

Dados da Associação Nacional de Editores de Revista (ANER). Disponível em: <http://aner.org.br/dados-de-

mercado/circulacao/>. Acesso em: 29 ago. 2015. 138

A história das revistas no Brasil de uma maneira mais completa pode ser consultada na obra de Bahia (2009).

Page 66: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

65

Benetti (2013, p. 45) cita que o jornalismo apresenta fatos atuais ou

presentes, mas no jornalismo de revista essa “noção é estendida: atual é sinônimo de

contemporâneo, não de novo”. Para a autora, o jornalismo de revista possui três contratos de

comunicação. O primeiro contrato é a função de não só apresentar o presente social, mas que

o “mundo é diverso, complexo e interessante”, o que demonstra ao leitor que existem coisas

que ele não conhece e a partir disso, precisa. O contrato seguinte é a questão da identidade

entre quem escreve e para quem, neste Trabalho de Conclusão de Curso, o pesquisador se

identifica com o interesse e tem como objetivo oferecer o seu interesse a um público que

comunga por tal assunto. O terceiro contrato se refere ao contexto do trabalho, que comporta a

linha editorial e os recursos humanos, físicos e financeiros (BENETTI, 2013, p. 50-51).

Devido à periodicidade deste meio, as revistas “cobrem funções culturais

mais complexas que a simples transmissão de notícias. Entretêm, trazem análise, reflexão,

concentração e experiência de leitura” (SCALZO, 2013, p. 13). Ao contrário do jornal, TV,

rádio e internet (sites e portais), a revista não trabalha com a instantaneidade que o fato

ocorre, por isso a abordagem deve ser diferente das demais, caso contrário, será mais uma a

noticiar algo em meio a vários veículos e o que a difere dos outros meio é exatamente isso, a

sua abordagem dos fatos.

O público também interfere na produção de uma revista. Enquanto o jornal

trabalha para um público geral, a revista possui públicos delimitados para os diferentes títulos

existentes. Caso um leitor tenha interesse em determinado assunto que o jornal retrata, ele

deverá comprar todas as editorias. Na revista, os títulos para diferentes públicos tornam o

meio mais segmentado possibilitando chamar o leitor de você, pois o público a quem o

jornalista se reporta é específico (SCALZO, 2013). O jornal oferece a possibilidade de se

informar sobre variados fatos em uma mesma edição, o que não acontece nas revistas. Para

“saber sobre outro tema, é necessário ler outra revista. Com exceção das revistas semanais de

informação geral, que pretendem fornecer ao leitor uma visão panorâmica de todo tipo de

acontecimento, as demais são dirigidas a interesses pontuais” (BENETTI, 2013, p. 46).

Ainda na relação com o público, Benetti (2013, p. 46) cita que a experiência

é outra característica da revista, pois esta mídia apresenta estímulos de experimentação e

identificação, o que faz com que a revista e o leitor criem uma relação, sendo assim “é preciso

também construir um vínculo emocional, para que o leitor sinta a revista como ‘sua’, como

parte de sua rotina, como uma necessidade, como algo a ser esperado e cujo consumo possa

ser ritualizado” (BENETTI, 2013, p. 47). A revista Série Z tem essa pretensão: fazer com que

Page 67: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

66

o público do futebol alternativo tenha mais uma opção na internet, definindo da melhor forma

a periodicidade e a circulação da revista.

Outra característica que diferencia a revista dos outros meios é o formato,

que garante ao leitor a possibilidade de carregá-la para onde quer139

. No caso das revistas

digitais, esta especificidade também é encontrada, mas problemas de conexão podem ser um

empecilho em determinados momentos, mas o público do foco da revista é espalhado e seria

inviável a impressão.

Todas essas características determinam o estilo do texto jornalístico para as

revistas, com a valorização da reportagem e da profundidade. Para Vilas Boas (1996), o texto

em revista é escrito com base no estilo magazine, que conta com especificidades diferentes do

estilo jornalístico que é voltado aos outros meios. Para o autor, a revista tem uma gramática

própria, devido a linguagem e ao estilo gráfico diferente do jornal, que preserva o texto

coloquial, ao invés do literário, no caso da revista, onde o profissional pode trabalhar com a

contemporaneidade, atualidade e a fuga da ordem tradicional da narrativa. “O fato é pretexto

para uma análise mais aprofundada do tema ao qual se refere” (VILAS BOAS, 1996, p. 74).

A segunda especificidade trata-se do diagnóstico, que tem relação com a

interpretação que o jornalista dará sobre o fato, com profundidade, ética e objetividade. Em

seguida, o estilo magazine deve oferecer ao leitor o preenchimento das lacunas que o jornal

diário pode deixar. “A revista tem de responder aos porquês do fato; é por aí que se mede sua

consistência. Os jornais diários, extremamente objetivos, buscam a menor ambiguidade

possível. Na revista, ao contrário, o texto precisa ter ecos e ressonâncias” (VILAS BOAS,

1996, p. 81). A tendência dos leitores é outra característica, pois o jornalista deve saber o que,

para quem e quando escreve. A quinta especificidade é quanto à contemporaneidade da pauta,

que de acordo com Vilas Boas (1996, p. 87-88), podem não ser suficientes para

desdobramentos devido a periodicidade ou até mesmo pelo fato em si render uma maior

abordagem do que as páginas de uma revista oferece, sendo assim, a solução seria um livro-

reportagem, para demonstrar tal fato.

Estas especificidades tornam a revista uma forma de pesquisa e

documentação (VILAS BOAS, 1996), de entretenimento e educação, devido às informações

específicas que traz (SCALZO, 2013).

6.2 Os gêneros jornalísticos

139

O jornal também garante essa possibilidade, mas o foco do capítulo é a revista.

Page 68: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

67

A questão dos gêneros e discurso tem como precursor o filósofo russo

Mikhail Bakhtin, que trabalha com a ideia de que a enunciação de um indivíduo é própria dele

e funciona como uma ferramenta de interação. Ao contrário do empreendido pelos estudos

linguísticos, que tomaram a língua por objeto e começaram pela busca de unidades mínimas

ou de unidades até a dimensão da frase. Bakhtin afirma que a especificidade das ciências

humanas está no fato de que seu objeto é o texto (BARROS, 2005 apud ALVES-FILHO, DA

SILVA, 2010, p. 3). Dessa maneira, os gêneros se tornam fenômenos de linguagem, que

servem para compreender determinado tipo de discurso.

No jornalismo, o texto possui diferenças em determinados momentos, o que

os caracterizam em gêneros, que possuem especificidades e funções distintas. Os gêneros

jornalísticos possuem diferentes separações em determinados países. No século XVIII,

Samuel Buckeley separou os textos do jornal inglês Daily Courant em dois gêneros news

(notícia) e comments (comentário). No século seguinte, os Estados Unidos passaram a separar

os gêneros jornalísticos, algo que foi disseminado por outros países (SEIXAS, 2009, p. 47).

No Brasil, os gêneros jornalísticos têm como precursores Luiz Beltrão140

e

José Marques de Melo, considerado um seguidor do primeiro (SEIXAS, 2009, p. 55). A

divisão foi feita da seguinte maneira: jornalismo informativo, jornalismo opinativo e

jornalismo interpretativo. Neste tópico, a intenção é mostrar quais são os gêneros que fazem

parte da classificação, mas com ênfase naqueles que serão utilizados nesta pesquisa.

6.2.1 Jornalismo Informativo

Como demonstrado no capítulo anterior, a revista é a mídia adequada para

esse tipo de jornalismo, devido a segmentação e a valorização da reportagem, que é um dos

quatro gêneros informativos, que consistem em textos, que tem como função, a informação

sobre fatos, sem juízos ou visão de mundo, por parte do jornalista.

A notícia é o relato factual de um acontecimento, com objetividade

jornalística e que responde as perguntas do lead. É o gênero diário dos noticiários de

televisão, rádio e jornal. A reportagem trabalha com o aprofundamento do factual passado

pela notícia, com foco criativo, investigativo e mais trabalhado. O tamanho e estilo do texto

140

Luiz Beltrão é autor de “O Jornalismo interpretativo: filosofia e técnica” (1976) e “Jornalismo Opinativo”

(1980).

Page 69: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

68

são diferentes. A revista é a mídia onde se encontra frequentemente este gênero, além de

noticiários especiais de outros veículos.

O principal objectivo de uma reportagem é informar com profundidade e

exaustividade, contando uma história. [...] neste género, procura-se ainda que

o leitor “viva” o acontecimento. Para o conseguir, a reportagem pode abrigar

elementos da entrevista, da notícia, da crónica, dos artigos de opinião e de

análise, etc. Desta perspectiva, pode considerar-se a reportagem um género

jornalístico híbrido, que vai buscar elementos à observação directa, ao

contacto com as fontes e à respectiva citação, à análise de dados

quantitativos, a inquéritos, em suma, a tudo o que possa contribuir para

elucidar o leitor (SOUSA, 2001, p. 259).

A entrevista é outro gênero que será utilizado na revista. Deve-se esclarecer

que a entrevista, neste caso, não é o exercício de perguntar, como técnica de reportagem, mas

como texto informativo. Como gênero, a entrevista “corresponde à transposição das perguntas

e respostas feitas durante a entrevista, enquanto técnica de obtenção de informações, para um

determinado modelo de enunciação” (SOUSA, 2001, p. 235).

Na revista Série Z, o estilo pingue-pongue (FOLHA DE S.PAULO, 2010, p.

41) será utilizado e consiste na transcrição do texto no modo pergunta e resposta, com a

questão do entrevistador, seguida pela fala do entrevistado. Esse modo será utilizado para

manter a fidelidade a fala, pois devido ao público do futebol alternativo não ser centrado em

uma localidade, as entrevistas devem ser feitas por e-mail ou chat de redes sociais. Segundo

Lage (2006, p. 78), as ferramentas que a internet oferece funcionam como uma superação do

telefone e possui na digitação ponto importante para sua condução.

No caso da troca de e-mails, ou chats, via teclado do computador, o

resultado depende em parte da destreza do entrevistado na digitação. Se é

muito ágil, a conversa pode correr quase normalmente, e as respostas serão

mais espontâneas. Se é pouco ágil – e é grande o número de pessoas que

perdem a espontaneidade quando escrevem –, as respostas tenderão a ser

formais, mais ou menos como aquelas que se obtêm para um questionário

escrito (LAGE, 2006, p. 78).

Esses pontos são importantes para a relação com as fontes, não apenas,

como gênero, mas também, como técnica, pois as entrevistas das matérias propostas na revista

Série Z em muitos momentos serão feitas por e-mail ou chat, devido as pautas que podem

abordar fontes de outras localidades distantes a do pesquisador.

A nota é o quarto gênero informativo e também será utilizado. Esse estilo se

caracteriza pelo texto breve, sem aprofundamento, que pode ser usado como relato de fatos

Page 70: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

69

sem relevância ou registro rápido do que irá acontecer e não se tem maiores informações.

Segundo Figueiredo (2003), existem três tipos de nota:

a) nota noticiosa: relata uma notícia de modo sintético; b) nota comentário:

apresenta um ponto de vista do escritor/jornalista sobre determinado fato ou

aspecto da realidade, oscilando entre a análise e a opinião; c) nota

comentário relatado: relata o ponto de vista de algum opinante [...] sobre

determinado fato ou aspecto da realidade (FIGUEIREDO, 2003, p. 40-41).

Dentre os tipos apresentados, esta pesquisa se utilizará da nota noticiosa,

pela característica informativa que contém em comparação as outras, pois será necessário um

breve texto sobre o histórico sobre alguns jogadores de futebol.

6.2.2 Jornalismo Opinativo

Segundo Marques de Melo (2003, p. 101), toda instituição jornalística

possui uma orientação definida, por onde suas mensagens são estruturadas, mas o teor

opinativo se diferencia e subsiste. De acordo com o autor, os gêneros opinativos se encontram

em quatro núcleos, que comportam oito gêneros.

A opinião da empresa, ademais de se manifestar no conjunto da orientação

editorial [...] aparece oficialmente no editorial. A opinião do jornalista

entendido como profissional regularmente assalariado e pertencente aos

quadros da empresa, apresenta-se sob a forma de comentário, resenha,

coluna, crônica, caricatura e eventualmente artigo. A opinião do

colaborador, geralmente personalidade representativas da sociedade civil que

buscam os espaços jornalísticos para participar da vida política e cultural,

expressa-se sob a forma de artigos. A opinião do leitor encontra expressão

permanente através da carta (MARQUES DE MELO, 2003, p. 102).

O editorial é um texto argumentativo que expressa a posição da empresa

jornalística, sem assinatura pessoal. “Geralmente, o editorial é motivado por assuntos tratados

no jornal e é elaborado em conformidade com a linha de orientação do órgão jornalístico”

(SOUSA, 2001, p. 282). De acordo com Marques de Melo (2003), o gênero é quase exclusivo

do impresso, no caso, o jornal, mas nas revistas, aparece em periódicos culturais e políticos e

pode ser visto como carta do editor.

O artigo é um texto que expressa a opinião ou ideia de um jornalista ou

pessoa influente na área abordada, o que faz com que o gênero seja assinado. Sousa (2001, p.

299) apresenta que há dois tipos de artigo: de opinião e de análise. O primeiro consiste em

Page 71: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

70

“opinar, por vezes com intenção persuasiva, para convencer ou levar à acção, para converter e

ganhar partidários”, enquanto no segundo “se procura, predominantemente, explicar, debater

e interpretar um acontecimento, uma problemática, uma ideia ou qualquer outro assunto da

actualidade” (SOUSA, 2001, p. 299).

A crônica como um texto que se baseia em fatos cotidianos e escrito com

tom literário é algo “tipicamente brasileiro, não encontrado equivalente na produção

jornalística de outros países” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 148). Segundo o autor, a

crônica em outros países tem como característica, o relato cronológico de um acontecimento.

A “palavra crônica designa um gênero jornalístico criativo, o gênero jornalístico que mais se

pode aproximar da literatura, independentemente da periodicidade com que o cronista é

publicado” (SOUSA, 2001, p. 292).

A coluna não tem como característica, o jeito de se escrever, mas por ser um

espaço fixo nos periódicos impressos, como jornal e revista. Dessa forma, o espaço pode

conter diferentes gêneros como notas, artigo de opinião, crônica e resenha.

Os gêneros desenvolvidos acima serão utilizados no periódico desta

pesquisa. O editorial da revista Série Z será utilizado para demonstrar o processo de criação

da revista e apresentá-la aos leitores, dessa maneira, o periódico terá uma carta do editor. O

artigo de análise, como citado por Sousa (2012, p. 299) acima, é o tipo de gênero que será

utilizado nesta pesquisa, devido a interpretação de um acontecimento que a caracteriza, como

por exemplo, em uma análise tática. O tom literário da crônica será o mais utilizado dentre os

gêneros opinativos, devido a “fidelidade ao cotidiano” e a “crítica social” (MARQUES DE

MELO, 2003, p. 156). Nem todos os textos da revista serão escritos por apenas um autor,

assim sendo, contará com colaboradores, o que garante tal característica, por estarem ou

serem personagens da história. Na linguagem gráfica, a caricatura será utilizada para ilustrar

crônicas que a peça comportar, pois estas, geralmente, não possuem fotos para ilustrar. A

coluna será destinada a parceiros da revista Série Z, este espaço será dedicado periodicamente

a outros autores do futebol alternativo, o que garante outra oportunidade de circulação da

revista, por meio de publicações nas mídias sociais dos convidados.

Resenha, caricatura, comentário e carta do leitor não serão utilizados, pelo

menos de início na revista. A primeira é ligada a crítica a produções culturais ou artísticas, o

que não é foco, por enquanto, do futebol alternativo. A caricatura, de acordo com Marques de

Melo (2003, p. 163) é o retrato exagerado ou simplista de uma pessoa ou objeto, com

finalidade satírica. O gênero é pensado futuramente para a revista, mas devido ao tempo de

execução do trabalho preferiu-se não contê-la na primeira edição.

Page 72: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

71

Segundo Marques de Melo (2003, p. 113), o comentário “surgiu como

tentativa de quebrar o monopólio opinativo do editorial”, pois quem o realiza é um jornalista

experiente, assim, respeitado em seu meio, mas por ser um gênero ligado ao rádio e a

televisão e pelo editorial da revista Série Z ter um papel de mostrar o que seja o futebol

alternativo, preferiu-se que este gênero não fosse inserido de início. A carta do leitor não

poderia ser utilizada na primeira edição da revista, pois não há o que ser discutido

anteriormente, apesar do título do periódico existir em formato de blog. Caso, seja necessário,

a partir das outras edições será inserido um espaço ao leitor, pois como afirma Marques de

Melo (2003, p. 173), o leitor deveria, mas não é ouvido pela imprensa. A carta é um “recurso

para expressar seus pontos de vista, suas reivindicações, sua emoção” e os interessados pelo

futebol alternativo, como foi demonstrado anteriormente, são indivíduos que tomam a

iniciativa para se informar sobre o assunto.

6.2.3 Jornalismo Interpretativo

No jornalismo interpretativo, a grande reportagem é o gênero que baseia o

estilo, que é encontrado no Jornalismo Literário e Investigativo. Segundo Erbolato (1991, p.

30), este gênero é “também conhecido como jornalismo em profundidade, jornalismo

explicativo ou jornalismo motivacional”.

Marques de Melo (2007 apud CORDENONSSI; MARQUES DE MELO,

2008, p. 4-5) cita que existem quatro tipos de gêneros interpretativos: dossiê, perfil, enquete e

cronologia. O primeiro se caracteriza pela tentativa de fazer com que o leitor tenha a mais

detalhada das informações sobre o assunto pautado, feito um “mosaico destinado a facilitar a

compreensão dos fatos noticiosos. Condensação de dados sob a forma de ‘boxes’, ilustrados

com gráficos, mapas ou tabelas”. O perfil é focado nos personagens do tema retratado, como

uma biografia sintética “identificando os ‘agentes’ noticiosos. Focaliza os protagonistas mais

frequentes da cena jornalística, incluindo figuras que adquirem notoriedade ocasional”. O

terceiro gênero é caracterizado pela interpretação do ponto de vista de indivíduos consultados

em uma pesquisa. A enquete, como gênero, tem a função de “acionar os mecanismos

psicológicos de projeção ou identificação. Tanto pode ser quantitativa (ibope) quanto

qualitativa (mini-depoimento) ou combinar as duas formas”. A cronologia é o gênero que

reconstitui fatos ocorridos em determinado período, possibilitando ao leitor uma revisão ou

compreensão do acontecimento.

Page 73: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

72

6.3 Mercado editorial de esportes: Placar e Trivela

De acordo com Abiahy (2000, p. 16), no Brasil há um multifacetado

mercado de revistas de variados segmentos. “O crescimento dessas produções revela que a

proposta de informação dirigida a interesses específicos está de acordo com a necessidade do

público receptor. [...] Há espaço para investir em segmentos do público elaborando produções

jornalísticas com temáticas diferenciadas” (ABIAHY, 2000, p. 16-17). Dentre os segmentos

está o esporte. Segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), o Brasil comporta 212

revistas auditadas e a única da lista ligada ao futebol é a Placar141

. Scalzo (2013) e Unzelte

(2009) questionam a razão do “país do futebol” não ter uma revista que cubra o esporte com o

devido destaque.

Quando o assunto é revista, uma pergunta sempre surge: por que o chamado

“País do futebol” não tem uma publicação que acompanhe esse esporte na

periodicidade que ele exige [...]? A resposta do mercado é que não há como

competir com a velocidade e o bombardeio com que o rádio, a televisão e,

mais recentemente, a Internet transmitem informações factuais, como a

cobertura dos jogos (UNZELTE, 2009, p. 60).

Entre as publicações esportivas que o Brasil comportou, a citada revista

Placar é a que conseguiu se manter com o tempo entre inúmeras publicações que o mercado

editorial teve, pois, como por exemplo, a “Esporte Ilustrado, A Gazeta Esportiva Ilustrada e

Manchete Esportiva tiveram vida curta” (SCALZO, 2013, P. 36).

Uma das técnicas desta pesquisa é a análise documental, utilizada para ver

como outras produções são ou foram feitas, para servir como base para a peça deste estudo.

Em meio aos variados títulos voltados ao futebol, duas serão destacadas: Placar e Trivela. A

primeira por ser, como descrito por Mira (1997, p. 253), a “última das ‘grandes revistas’,

consolidando a revista esportiva no Brasil”, enquanto que a segunda foi escolhida por se

assemelhar em partes, com o foco do projeto editorial proposto neste trabalho.

6.3.1 Placar

141

Dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC). Disponível em:

<http://ivcbrasil.org.br/auditorias/aPublicacoesAuditadasRevista.asp>. Acesso em: 3 set. 2015.

Page 74: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

73

As vésperas da Copa do Mundo de 1970, a Editora Abril anunciou a criação

da revista Placar. Segundo Mira (1997, p. 253), a revista tinha como proposta “cobrir sua

especialidade, mas também de apresentar denúncias sobre a falta de profissionalismo e a

corrupção no futebol”.

Na primeira edição da revista, em março de 1970, o diretor e editor da

Editora Abril, Victor Civita destacou que a publicação era pensada desde 1950. “Resolvemos

que uma das publicações de nosso plano editorial deveria ser, [...] uma revista esportiva - tão

explosiva e tão sensacional como este nosso povo que vai aos estádios fazer uma das mais

belas festas do mundo” (CIVITA, 1970, p. 38).

A publicação era semanal e nos primeiros meses teve sucesso de venda, com

cerca de 100 mil exemplares, mas após a Copa do Mundo daquele ano, a venda caiu. Em

1972, na edição de número 131, a Placar criou o “Tabelão”, um encarte que contava com

fichas e resultados de jogos realizados semanalmente no Brasil. Junto a isso, a revista investia

em reportagens e perfis. Um dos casos de reportagem investigativa foi a Loteria Esportiva,

que foi responsável em parte pela popularidade da revista, que trazia análises dos jogos

semanais para os apostadores. Na edição 648, em outubro de 1982, a capa da revista trazia a

investigação da Máfia da Loteria Esportiva, que contou com 12 páginas destinadas a pauta142

.

Nos anos 1980, o periódico testa algumas alternativas, como abertura para

outros esportes. O “Tabelão” deixa de ser veiculado em 1985, mas depois de pedidos de

leitores volta em 1986, com foco apenas no Campeonato Brasileiro, com o número de

campeonatos crescendo a cada edição. No final da década, muda o formato da revista,

consegue aumentar a vendagem, porém, isso causava prejuízo a Placar (MIRA, 1997).

Devido a vários aspectos, como a campanha da seleção brasileira na Copa

do Mundo, uma final sem os clubes grandes no Campeonato Paulista e uma final do

Campeonato Carioca definida na justiça desportiva, em 1990, a revista passou a ter

periodicidade mensal.

Seja qual for o motivo, o Brasil esta órfão de uma revista semanal de

esportes que tenha sobrevivido às suas primeiras três ou quatro edições

desde agosto de 1990, quando a “Placar”, que circulava todas as semanas

desde 1970, passou a ser mensal. Houve ainda uma breve tentativa dessa

mesma revista em voltar à periodicidade anterior, de abril de 2001 a

fevereiro de 2002, que acabou não dando certo, principalmente porque, ao

manter sua linha editorial de comportamento, ao final de cada mês as quatro

revistas semanais pareciam mensais (UNZELTE, 2009, p. 60-61).

142

Disponível em: < https://books.google.com.br/books?id=MbkgXNe71hcC&printsec=frontcover&hl=pt-

BR&rview=1&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 6 set. 2015.

Page 75: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

74

O caso Placar é interessante para esta pesquisa por alguns aspectos. O

primeiro é quanto a novidade criada em 1970, quando a publicação foi lançada, característica

proposta nesta pesquisa, ao oferecer mais um espaço para os interessados em futebol

alternativo. O segundo ponto é a valorização da reportagem, tendo em vista o número de

páginas que oferecia para certos textos. O seguinte tem base nas entrevistas concedidas por

Oliveira (2015), Colombari (2015), Simões (2015) e Laboissière (2015) ao citarem que a

revista era um veículo, antes da internet, onde era possível se informar sobre o outro lado do

futebol. A periodicidade é o outro aspecto relevante demonstrado na história da Placar, pois

dependendo do contexto, como concorrência, mercado e época, o tempo entre as edições teve

que ser mudado. A periodicidade é um ponto que marca um periódico, por isso é necessário

delimitar bem o período em que a revista será publicada.

A revista ainda possui edições especiais, como os guias de campeonatos.

Anualmente, a Placar produz edições voltadas para o Brasileirão (Campeonato Brasileiro),

Libertadores, Europeus, Brasileirão 2º Turno e uma no começo da temporada. Nesses

especiais é possível que tenha clubes que estejam no meio do futebol alternativo, o que a

torna um local de informação sobre o assunto. Em junho de 2015, a revista foi vendida a

Editora Caras e passou por reformulação, para abarcar todos os esportes143

.

6.3.2 Trivela

A revista Trivela foi veiculada até setembro de 2009, após 43 edições. O

periódico surgiu a partir do site de mesmo nome, que foi criado em 1998, com foco na

cobertura do futebol internacional, que a época foi tratada como uma novidade no mercado.

A primeira edição da revista foi lançada em setembro de 2005, como uma

experiência, com o Guia da Liga dos Campeões 2005/06144

. Em fevereiro de 2006, a equipe

do site voltou a lançar uma edição dessa vez, com periodicidade mensal, mas com nome

diferente: Copa’06, que foi criada para fazer parte da cobertura da Copa do Mundo de 2006.

A revista teve seis edições. Em setembro de 2006, a sétima edição foi lançada com o nome

Trivela.

143

Revista Placar é vendida por Grupo Abril. Máquina do Esporte, 2 jun. 2015. Disponível em:

<maquinadoesporte.uol.com.br/artigo/revista-placar-e-vendida-por-grupo-abril_28452.html>. Acesso em: 6 set.

2015. 144

Disponível em: <http://issuu.com/f451midialtda/docs/lc_2005-6>. Acesso em: 6 set. 2015.

Page 76: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

75

Segundo o site da revista, a linha editorial se baseava no futebol

internacional, mas a partir da edição número sete, o futebol brasileiro foi abarcado.

O objetivo da revista Trivela não é atrair o torcedor comum, que quer

apenas ver o ídolo de seu clube na capa, esteja ele bem ou mal, mas sim o

leitor que gosta e entende de futebol. E isso se dará com reportagens

analíticas e profundas, buscando um enfoque diferente do comum, além de

entrevistas com figuras do mundo do futebol, falando sobre futebol

(EQUIPE TRIVELA, 2008, s/p).

A Trivela foi escolhida para ser um documento analisado nesta pesquisa,

por se tratar de uma publicação que abordava variados lados do futebol. O futebol alternativo

era foco de determinadas pautas, como a matéria intitulada “Futebol brasileiro onipresente”,

na edição 11, em janeiro de 2007145

, que contava histórias de jogadores brasileiros que

atuavam em ligas pequenas. Ao fim da revista, a Trivela continua como site146

. O objetivo

permanece similar:

Muita gente acha que futebol é apenas um jogo [...] com 11 jogadores de

cada lado, uma bola, um juiz e torcedores que só querem saber de ver seu

time vencer. Nós não caímos nessa. Futebol é mais que isso. Futebol é

manifestação cultural, futebol é arte, futebol é história, futebol é negócio e,

acima de tudo, futebol é diversão. Ganhar ou perder pode ser importante,

mas saber curtir o futebol em todas as suas faces é muito mais legal. É esse

tipo de abordagem que propomos aqui na Trivela. Não queremos nos limitar

ao resultado do jogo. É encontrar o detalhe que muitas vezes passa batido na

cobertura convencional. Pode ser uma análise profunda do jogo, uma

curiosidade, os efeitos futuros daquela partida, o momento histórico que

acabou de passar pelos nossos olhos. Sem diferenciar se ocorreu do outro

lado do mundo, no Brasil ou no time do seu bairro (TRIVELA, s/d, s/p).

Após a edição 43 da revista, parte da equipe passou a integrar outra

publicação, a revista ESPN147

, que circulou entre novembro de 2009 e janeiro de 2013. Em

2015, todas as edições foram publicadas na plataforma digital Issuu148

, rede onde a revista

Série Z será postada.

6.4 Revista digital: conceito e histórico

145

Disponível em: < http://issuu.com/f451midialtda/docs/trivela_11>. Acesso em: 6 set. 2015. 146

http://trivela.uol.com.br/ 147

Nova empresa de Caio Maia adquire Revista ESPN. Portal dos Jornalistas, 9 fev. 2012. Disponível em:

<www.portaldosjornalistas.com.br/noticias-conteudo.aspx?id=298>. Acesso em: 6 set. 2015. 148

Disponível em: <http://issuu.com/f451midialtda/docs>. Acesso em: 6 set. 2015

Page 77: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

76

A revista digital é uma publicação periódica, como a revista impressa, mas

voltada para a hospedagem em meios eletrônicos, como PCs, tablets e outros dispositivos

móveis, seja online (Issuu) ou offline (.pdf).

Segundo Horie e Pluvinage (2012), em 2010 notou-se o nascimento das

revistas digitais, em um momento que as vendas das publicações impressas vinham caindo e

também, pela concorrência que a internet provocou. Segundo os autores, a revista digital

[...] fornece uma narrativa diferente de uma revista tradicional. Diferente por

ter uma linguagem nova, que reúne o que há de melhor da mídia impressa

com a mídia digital: conteúdo segmentado, personalizado, portátil, com

recursos multimídia, interativos e hipertextuais (HORIE; PLUVINAGE,

2012, p. 4).

O avanço da internet fez com que o futuro da revista e dos outros meios de

comunicação fosse colocado à prova, porém para Scalzo (2013, p. 51), a “história mostra que

uma tecnologia pode substituir a outra, mas com os meios isso não acontece

necessariamente”. Para a autora, cada veículo possui sua especificidade, algo que o diferencia

de outro meio, como no caso da revista digital. “As revistas feitas para tablets, por exemplo,

aprofundam o que o meio tem de melhor e usam a tecnologia a seu favor. Na concorrência

difusa entre os meios, o segredo é ser o que realmente é. No caso, o segredo é ser ‘revista’”

(SCALZO, 2013, p. 51-52).

Para Horie e Pluvinage (2012, p. 11), as revistas digitais devem ter uma

linguagem que condiga com o meio. Para debater essa questão, esta pesquisa se baseará nos

estudos sobre a virtualidade do texto, em Pierre Lévy e jornalismo digital, em Pollyana

Ferrari, pois esta pesquisa segue o preceito jornalístico e é necessário debater a questão do

texto na internet.

A revista impressa é um meio físico, assim, palpável, porém, o texto, não,

pois de acordo com Lévy “é um objeto virtual, abstrato, independente de um suporte físico”

(LÉVY, 1996, p. 35). Ao citar o texto no meio digital, o autor trabalha com o termo texto

contemporâneo, que é caracterizado por ser “fluido, desterritorializado, mergulhado no meio

oceânico do ciberespaço” (LÉVY, 1996, p. 39). Essas questões mudam a relação de leitura,

entre um meio físico e digital, criando também, uma virtualização da leitura, pois de acordo

com o autor “o leitor em tela é mais ‘ativo’ que o leitor em papel: ler em tela é, antes mesmo

de interpretar, enviar um comando a um computador para que projete esta ou aquela

realização parcial do texto sobre uma pequena superfície luminosa” (LÉVY, 1996, p. 40).

Page 78: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

77

Na peça desta pesquisa, isso deve ser levado em conta. A revista Série Z não

sairá de um meio físico para o digital. O periódico será digital desde a primeira edição.

Segundo Scalzo (2013, p. 39), o formato da revista impressa oferece ao leitor um papel e

impressão que “garantem uma qualidade de leitura – do texto e da imagem – invejável”.

Sobre jornalismo digital, Ferrari (2010, p. 19) discute a relação entre o leitor e a informação,

pois segundo ela, a “informação é absorvida sem grande comprometimento com a realidade”;

este público se comporta de maneira parecida e dá importância maior a uma manchete de

revista, por exemplo.

Nesse cenário, a revista Série Z deve buscar o equilíbrio entre o jornalismo

de revista e digital: oferecer ao leitor um texto em profundidade, como pede a mídia revista,

mas se preocupar em manter o leitor atento a tela, como sugere Lévy. Uma das alternativas é

que o texto jornalístico não seja condensado nas páginas e que a leitura seja possível, sem a

necessidade de se aumentar o zoom do meio utilizado para ver a revista. Apesar deste projeto

não ter foco na parte gráfica, é importante frisar este aspecto, pois a profundidade do texto em

revista (impressa) não pode ser descartada no meio digital.

Page 79: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

78

7 REVISTA SÉRIE Z

O futebol alternativo tem como principal espaço de divulgação e troca de

informações, a internet. Um dos focos da revista Série Z é ser mais uma opção para que o

público que tem esse interesse possa ter mais um canal para acompanhar o outro lado deste

esporte. Tendo em vista que a grande mídia possui um seleto grupo de clubes, campeonatos e

jogadores de futebol, o futebol alternativo apresenta uma vasta possibilidade de pautas, mas é

necessário pesquisa e paciência, pois por ser abrangente, muitos fatos estão longe dos

produtores de conteúdo ligados ao futebol alternativo, o que faz com que entrevistas, por

exemplo, muitas vezes sejam feitas via e-mail ou redes sociais.

O que se propõe é a produção de um projeto editorial para uma revista

especializada em futebol alternativo, seguindo os preceitos do jornalismo esportivo. A revista

será voltada ao meio digital, devido ao público, o que será discutido adiante. O foco desta

produção é ligado ao conteúdo da revista, mas devido ao meio veiculado ser o digital,

algumas questões de diagramação devem ser consideradas.

7.1 Formato: revista digital

A proposta desse trabalho é uma revista pensada para o meio digital, porém

seguindo os preceitos do jornalismo de revista149

. A justificativa para a veiculação neste meio

é que é inviável a produção de uma revista física, devido às características específicas público

que consome o futebol alternativo.

O público que tem este interesse está na internet e não se concentra em um

determinado local. Por exemplo, essa produção é feita em Maringá, cidade do Paraná e o

pesquisador não conhece um número adequado de pessoas que comportassem uma revista

física. Quem consome futebol alternativo está em locais diferentes e na internet encontra

pessoas com o mesmo interesse. Por isso, a revista digital é um modo de fazer que o conteúdo

não tenha fronteiras para chegar aos interessados.

Por ser digital, a revista deve ter um tamanho em que o leitor não fique

aumentado o zoom de maneira exagerada para ler a revista e não se cansar. Após alguns testes

definiu se que a revista terá o formato de 200 mm x 240 mm, um tamanho parecido com

149

Conforme mostrado na seção 6.4.

Page 80: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

79

inúmeras revistas impressas (como a revista Placar, que tem 200 mm x 265 mm), mas que

não prejudica a leitura dos textos.

7.2 Nome da revista

Série Z é o nome do blog criado pelo autor em 2013, a partir do interesse do

pesquisador pelo assunto, mas no caso desta revista há toda uma metodologia de pesquisa

científica, onde a base teórica deve conversar com a peça proposta. Apesar das diferenças, a

revista é uma plataforma a mais com este nome. Por isso, deve ser mantido, para manter a

relação com o público do blog.

O nome foi pensado na época com relação ao Campeonato Brasileiro de

futebol. A competição conta com quatro divisões que são chamadas de Série A, para a

primeira divisão; Série B, segunda divisão; Série C, terceira divisão e Série D, quarta divisão.

Série Z, então, seria a última divisão do futebol, tendo em vista que a letra Z é a última no

alfabeto brasileiro. Como o futebol alternativo tem como uma das definições ser o interesse

por clubes pequenos e campeonatos inferiores, o nome produz um sentido de que um outro

futebol é abordado na revista.

Além do nome, a revista contará com um subtítulo para também caracterizar

o foco do periódico: “A revista do Futebol Alternativo”. Para marcar a proposta, não deixar

dúvidas aos leitores sobre o que se trata a publicação e atiçar a curiosidade de possíveis

leitores que não conheçam o termo.

7.3 Público Alvo

Não é possível delimitar o público alvo desta pesquisa, especificando faixa

etária e sexo, pois os potenciais leitores da revista consomem esse interesse “garimpando”

conteúdo na internet, onde se reúnem, por meio de grupos em redes sociais para discutir sobre

o assunto150

. Um público potencial são os membros do grupo Futebol Alternativo no

Facebook. Até o dia 11 de dezembro de 2015, esta comunidade contava com 3.629 membros.

Outro tipo de consumidor pode ser específico de certas edições, como por

exemplo, alguém que se interesse por uma matéria do clube que torce. Possivelmente, esse

150

Conforme demonstrado nos tópicos 3.2 e 3.4.3.

Page 81: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

80

torcedor terá como foco esta matéria, mas ao passar pelas páginas, pode se interessar por

alguma outra pauta e se tornar leitor da revista.

7.4 Editorias

O projeto editorial da revista Série Z conta com 11 editorias. Tal número foi

escolhido com relação ao número de jogadores de uma equipe de futebol. Apesar do foco

editorial, essa relação foi feita para que o índice da revista brinque com a ideia de uma

escalação de um time, neste caso, uma escalação de editorias.

As pautas foram pensadas a partir do contexto da pesquisa151

, por isso, a

maioria das pautas tem como foco, o futebol brasileiro. Mesmo assim, a proposta editorial

tem como objetivo abarcar o Brasil e as seis confederações continentais que são divididas em

Europa, Ásia, África, América do Sul, Oceania e a América Central, Norte e Caribe. Pelo

menos uma pauta será destinada a essas confederações, pois dentro do público de futebol

alternativo, existem interessados em países ou continentes específicos. Isso faz com que este

público se interesse em acompanhar a revista a cada edição.

A ordem das editorias foi pensada de uma maneira coerente, começando

com assuntos mais atuais, passando pela história e relações externas, uma editoria sobre novos

acontecimentos e finalizando com textos mais entretidos.

As fotos utilizadas em sua maioria serão de outros autores, pois é inviável

para o pesquisador realizar tais imagens, devido as distâncias. As fotos utilizadas podem ser

retiradas de banco de imagens, cedidas gentilmente por fontes das matérias ou de

colaboradores, todas obviamente, com o devido crédito.

A. Conexão Futebol: esta editoria traz uma entrevista com um

jogador brasileiro que atue em um campeonato de divisões menores

ou sem tradição no futebol mundial, ou seja, apenas jogadores que

estejam fora do Brasil. A intenção da Conexão Futebol é fazer com

que o leitor entenda que existem brasileiros não só nas grandes ligas,

mas também, espalhados pelo mundo.

O entrevistado é Bruno Figueiredo, meia, que joga há três anos em

Macau, além de passagem por outras ligas sem tradição.

151

Conforme desenvolvido no início do capítulo 3.

Page 82: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

81

B. Apito inicial: assuntos atuais fazem parte desta editoria, mas

com uma linguagem atemporal, sem foco simplesmente noticioso. É

importante frisar que nesta editoria as pautas podem ser pensadas

entre o período da edição anterior e a seguinte.

Na primeira edição, a revista conta com duas pautas. Uma reportagem

sobre brasileiros que moram fora do país e que acompanham o futebol

de onde moram e uma crônica abordando clubes que ao subirem de

divisão devem procurar outro estádio, pois o seu não comporta a

capacidade exigida.

C. Peleja: dentro do meio futebolístico, a palavra “peleja” é uma

expressão utilizada para denominar o jogo, a partida, o confronto entre

equipes. Essa editoria traz uma sessão fotográfica de uma partida que

aconteceu no período de produção da revista. Além das fotografias, a

editoria conta com notas sobre o jogo, que pode abordar um jogador,

membro da comissão técnica ou torcedor.

A partida que será demonstrada é um amistoso entre Grêmio Maringá

(PR) e URSO Mundo Novo (MS), que se preparavam para

competições estaduais. As fotografias do jogo foram retiradas por

Kaique Augusto, amigo e colega de semestre.

D. Lado B: o futebol alternativo muitas vezes é citado como o

“lado B” do futebol. O “lado A” assim, seria o futebol dos clubes

grandes e midiáticos. Essa editoria tem como foco demonstrar

jogadores que já foram do “lado A”, mas atualmente estão em um

clube ou campeonato considerado pequeno. Outra proposta que pode

aparecer futuramente seria o inverso, com jogadores que estão em

clubes ou campeonatos grandes, mas que um dia já estiveram no “lado

B” do futebol. Dependendo da oportunidade, a editoria pode focar em

clubes e treinadores, também.

A edição de estreia mostrará jogadores que foram do lado A, mas

estão, atualmente, jogando em equipes que disputam uma terceira

divisão nacional. A editoria usará o gênero jornalístico nota.

Page 83: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

82

E. Contexto: nessa parte, o futebol será relacionado com outras

áreas da sociedade, assim, demonstrando o futebol em tal contexto.

Hofman (2014, p. 11) cita que um clube futebol “pode representar

uma pátria sem terra; mostrar ao mundo o sofrimento de um povo;

explicar com outros olhos uma guerra; traduzir a indignação de uma

torcida; exemplificar paixões; traduzir geopolíticas; trazer a economia

mundial para uma roda de bar”. É essa a função desta editoria: mostrar

o futebol em contextos sociais, políticos e culturais.

Duas pautas fazem parte dessa editoria. A primeira é um artigo sobre a

situação do futebol profissional da Região Metropolitana de Maringá,

em relação à questão financeira dos municípios e as taxas cobradas

pela federação estadual. A segunda é uma reportagem sobre a situação

do interior uruguaio, tendo em vista, que o país pode sediar a Copa do

Mundo de 2030.

F. 2-3-5: essa editoria traz uma análise tática de uma equipe ou

partida, que pode ser atual ou histórica, desde que esteja no meio do

futebol alternativo. “2-3-5” é uma das primeiras formações táticas que

o futebol teve. Atualmente, as formações de uma maneira geral são o

“4-4-2”, “4-2-3-1”, “4-3-3” ou “3-5-2” e esse nome foi escolhido para

se diferenciar do usual. É importante deixar claro que a editoria não é

para “formações táticas alternativas”, mas para clubes e jogos que

estão dentro do tema da revista.

A editoria será baseada no gênero artigo de análise. A primeira edição

conta com a colaboração de João Vitor Poppi, egresso de Jornalismo

da Faculdade Maringá, que analisa a partida entre Turquia e Senegal,

pela Copa do Mundo de 2002.

G. Bola de Capotão: capotão é como se chama o couro curtido,

material utilizado nas primeiras bolas fabricadas para a prática do

futebol, inclusive sendo utilizada na Copa do Mundo de 1930, a

primeira edição do mundial de seleções. Por ser algo antigo, o termo

Page 84: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

83

“bola de capotão” será utilizado na revista para a editoria que tem

como foco, fatos históricos do futebol alternativo.

Ao menos na primeira edição, a Bola de Capotão será a editoria com

mais pautas: três. Duas reportagens, uma sobre o título goiano do

Goiatuba, em 1992 e o relato de uma partida escondida entre Seleção

Caribenha e São Paulo. A terceira pauta é uma entrevista com Marco

Bianchi, abordando o extinto programa televisivo RockGol.

H. Camisa 12: nessa editoria, o leitor do blog terá espaços para a

criação de crônicas sobre histórias que vivenciou no futebol, seja para

acompanhar um clube ou jogando futebol. A ideia da “Camisa 12” é

afeiçoar o leitor com tal história para se inspirar e publicar sua história

futuramente na revista.

A edição é dedicada totalmente a colaboradores. Nessa edição, serão

duas crônicas: Benício Júnior, acadêmico de Jornalismo da Faculdade

Maringá, conta a história do dia que, em campo, enfrentou Neymar em

sua cidade e Álisson Albino, torcedor do Genus, equipe de Porto

Velho (RO), conta a história do título estadual do clube em 2015.

I. Escrete: a editoria “Escrete” será uma coluna da revista, onde

será cedido um espaço para um texto de um blog/site parceiro do Série

Z. Disponibilizando este espaço, a revista contará com mais um local

para a circulação da revista nas mídias sociais do parceiro.

As redatoras do site Dibradoras152

, que abordam o futebol feminino

são as convidadas da primeira edição. Elas disponibilizaram uma

crônica sobre uma menina que insistiu junto à mãe para obter

permissão de jogar futebol.

J. Guia: o objetivo dessa editoria é trazer um guia sobre uma

competição ou fase de campeonato que irá se iniciar relativamente

perto da publicação de uma edição da revista. Na “Guia”, o espaço

152

http://www.dibradoras.com

Page 85: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

84

contém informações sobre o campeonato, os clubes participantes e

estatísticas, com a possibilidade de usar a infografia.

A HK Senior Shield, uma copa entre os clubes da primeira divisão de

Hong Kong, será a competição do primeiro Guia da revista Série Z.

Porém, o foco será a semifinal do campeonato, que será disputado no

fim de dezembro de 2015. A editora funciona como uma coluna

dentro do periódico, com diferentes gêneros incluídos.

K. Futebol Utópico: quem se interessa por futebol alternativo tem

como um dos passatempos, imaginar clubes, campeonatos e seleções

que não existem mais ou nunca existiram oficialmente. Essa editoria

tem como proposta discutir, como seriam esses eventos. É importante

deixar claro, que esta editoria se baseia em casos reais, mas que

podem ser utilizados para exemplificar tais criações, como por

exemplo, para uma seleção imaginária da extinta Iugoslávia é preciso

analisar os jogadores dos países que faziam parte do antigo país, para

formar esse time. Esse caso ilustra o foco desta editoria.

O primeiro ato de imaginar da revista será o começo da construção das

sete divisões de uma Copa do Mundo de 2018, que leva em conta as

eliminações que ocorreram nas eliminatórias da competição. A ideia é

inspirada em uma postagem do blog, que imaginou como seria a

mesma situação na Copa do Mundo 2014153

.

7.5 Páginas

O número de páginas será determinado pelo número de textos que a revista

terá; por isso será flexível ao projeto gráfico. A primeira edição contará com 80 páginas. É

importante frisar que a organização dos textos dialogará com o meio digital, onde os textos

serão distribuídos uniformemente e espaçados, para que o leitor não canse na tela, como por

exemplo, em uma página carregada de texto. Isso também influenciará no número de páginas

da revista.

153

As sete divisões da Copa do Mundo. Série Z. Disponível em: <http://seriezfutebol.com/2014/06/11/as-sete-

divisoes-da-copa-do-mundo/>. Acesso em: 15 nov. 2015.

Page 86: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

85

7.6 Periodicidade

A periodicidade da revista leva em conta a relação entre conteúdo e autor da

revista. O futebol alternativo tem várias possibilidades de pauta, que poderiam dar base a uma

publicação mensal, mas no caso da revista Série Z, o autor desta pesquisa é o único

administrador do periódico, o que torna inviável uma publicação com este período. A revista

contará com a contribuição de colaboradores pontuais, mas mesmo com essa ajuda, não seria

viável essa periodicidade, pois estes contribuintes devem ter outras obrigações diárias. Uma

publicação trimestral teria a vantagem do tempo de produção, mas os conteúdos, mesmo com

abordagem atemporal, poderiam se tornar obsoletos, tendo em vista, a velocidade das

informações na internet.

A periodicidade bimestral então foi escolhida para a publicação da revista,

pois o período de dois meses, considerando a relação conteúdo e autor e uma proposta mensal

ou trimestral é viável para a produção das edições posteriores.

Nesse período, a revista continuará ativa no modo blog, pois isso reforça

que a marca permanece ativa e, na mesma medida, não deixa os leitores sem informações

sobre o assunto. Afinal, a internet requer esse tipo de trabalho, devido a instantaneidade.

7.7 Circulação

Por ser veiculada no meio digital não é possível denotar uma tiragem e

distribuição da revista, por isso demonstraremos como se dará a circulação da revista154

. O

periódico será postado no Issuu155

, no endereço <http://issuu.com/seriezrevista>. Após a

publicação, a revista será anexada em uma postagem no blog156

. Feito isso, o link da

postagem será encurtado e compartilhado nas redes sociais do blog/revista, junto com uma

imagem: Facebook157

, Tumblr158

e Twitter159

. No Facebook, a imagem será compartilhada no

grupo Futebol Alternativo, público potencial da revista.

154

Primeira edição da revista disponível em: http://issuu.com/seriezrevista/docs/revista_s__rie_z_-_n__mero_1. 155

O Issuu foi criado em 2006, por Michael Hansen, Ruben Bjerg Hansen, Mikkel Jensen e Martin Ferro-

Thomsen, em Copenhagen, capital da Dinamarca, com o intuito de democratizar e digitalizar publicações ditas

impressas. A rede comporta revistas, livros, documentos e periódicos diversos em formato digital. 156

<http://seriezfutebol.com/> 157

<https://www.facebook.com/seriezfutebol> 158

O link da rede social ligada ao Série Z é: <http://seriezfutalternativo.tumblr.com/>. O Tumblr é uma

plataforma para blogs, onde é possível publicar textos, áudios, vídeos e imagens. A rede é caracterizada pelo uso

em sua maioria de textos curtos, acompanhados de imagens. É um meio termo entre os sites de blogs e o Twitter.

A plataforma começou a ser desenvolvida, em 1992, pelo francês Thomas Müller, mas apenas 15 anos depois, a

rede passou a funcionar comercialmente.

Page 87: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

86

Uma segunda forma de circulação será por meio das parcerias que o blog

conta. Com a imagem que circulará pelas redes sociais, será pedido para que compartilhem a

imagem nas redes parceiras. Outra maneira será por compartilhamento por parte dos

colaboradores da revista. Por estar em um meio sem fronteiras, a revista pode ter um alcance

maior do que fosse impressa, o que é inviável para esse periódico, devido ao público.

O Issuu oferece a opção de baixar a revista, caso tenha uma conta

específica. Dependendo da recepção do público, a revista contará com uma versão PDF que

será disponibilizada um mês depois da publicação anterior e um mês antes da publicação

seguinte.

159

<https://twitter.com/seriezblog>

Page 88: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

87

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O outro lado do futebol apresentado pela grande mídia, mas que possui

adeptos, seja por preferir esse contexto ou por torcer pelos clubes que não estão abarcados

pela imprensa esportiva. Um interesse ou uma forma de ver o futebol, que apresenta inúmeras

histórias se transformou na base de um trabalho científico. A revista Série Z surgiu dessa

maneira e com esse propósito: mostrar que o futebol é grandioso e é disputado por jogadores

que não tem a fama e o dinheiro das estrelas internacionais; por clubes desconhecidos, mas

que existem e que levam torcidas aos seus estádios.

A proposta de se criar um projeto editorial para um veículo especializado

em futebol alternativo é mais uma forma de se abordar o outro lado do futebol na internet,

meio que é a principal mídia para os interessados pela visão alternativa deste esporte, seja

pela busca ou troca de informações. Oferecer este modo de informação sobre o assunto

contribui para a visibilidade e abordagem do futebol alternativo.

Dessa maneira, foi possível alcançar o objetivo geral, pois a proposta

conceitual de futebol alternativo foi apresentada e comportou um projeto editorial para uma

revista digital especializada, devido ao número de possibilidades de pauta que oferece, mesmo

que se leve em conta a questão da periodicidade, em relação entre o conteúdo e o autor.

Cabe frisar que a pesquisa desenvolveu um conceito de futebol alternativo,

que representa a noção do que significa tal termo para o pesquisador, com base na

metodologia utilizada. Durante as entrevistas realizadas neste estudo, verificou-se que seria

impossível definir o que é futebol alternativo, tanto que se preferiu conceituá-lo desde o

início. Além disso, foi perceptível as diferenças de conceituação do interesse entre os

entrevistados, por isso é importante salientar que essa pesquisa é apenas uma visão sobre, que

não se trata de um guia sobre o que é futebol alternativo. A intenção dessa demonstração era

dar base para o projeto editorial e como justificativa, a possibilidade de oferecer referência a

futuros trabalhos acadêmicos.

Os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo esportivo e jornalismo

de revista foram apresentados a partir do que era necessário para a produção do projeto

editorial. A relação entre jornalismo especializado e jornalismo de revista foi realizada, onde

foi demonstrado que a mídia revista é o local adequado para a especialização jornalística.

Por ser o futebol alternativo, pelo nosso entendimento, aquilo que a grande

mídia não mostra ou mostra em menor escala, a relação com as teorias da comunicação

newmasking, gatekeepers e agenda-setting (como hipótese) contribuiu para mostrar as razões

Page 89: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

88

que a grande mídia tem para demonstrar ou não, os eventos acerca do futebol alternativo. A

base teórica do jornalismo esportivo forneceu os preceitos necessários para a aplicação nas

pautas que comportam a revista.

A pesquisa utilizou de três hipóteses para serem confirmadas ou refutadas.

A primeira afirmava que a revista digital é a mídia adequada e viável para a veiculação de

informações sobre futebol alternativo; o que foi confirmado, por ser inviável a impressão da

revista, pois o público deste interesse não é concentrado no local que esta pesquisa foi

realizada, por isso a internet é o local adequado para a circulação do periódico, porque o

conteúdo nesta mídia pode ser circulado de diversas formas, tornando-se uma publicação sem

fronteiras para alcançar o público.

A segunda hipótese sustentada era que o futebol alternativo tem um

conceito midiático, o que foi comprovado, através do desenvolvimento das relações entre as

teorias da comunicação e o futebol alternativo e por meio das entrevistas, onde foi possível

verificar que este termo tem como uma das conceituações, ser aquilo que a grande mídia não

mostra ou mostra em menor escala.

O último ponto era que o futebol alternativo sustenta uma linha editorial de

um veículo de informação, que foi demonstrado, pois é apresentasa uma vasta possibilidade

de pautas, que sustentam uma linha editorial de uma revista especializada, desde que o projeto

editorial analise pontos importantes, como periodicidade, para a produção das matérias, que

denotam pesquisa e paciência para o pesquisador, por essa razão, a revista será bimestral.

A metodologia deu base para o percurso requerido pela proposta da

pesquisa. A pesquisa bibliográfica ofereceu a base teórica necessária para um trabalho

científico e no caso deste trabalho contribuiu para a apresentação dos conceitos apresentados.

A pesquisa documental foi fundamental para demonstrar alguns pontos sobre o futebol

alternativo, pois o método ofereceu um maior número de referências, que não seria possível

apenas com a bibliografia. Sobre as técnicas, a entrevista possibilitou o referencial de pontos

importantes do assunto da pesquisa, como a parte histórica, conceitual e a rotina e hábitos de

quem se interessa por futebol alternativo e a questão etimológica da palavra “alternativo”,

trazendo a experimentação para o desenvolvimento da pesquisa. A análise documental serviu

para ver os pontos positivos e negativos de duas produções editoriais do Brasil. A revista

Placar pelo que representa para a mídia impressa esportiva e a revista Trivela por algumas

semelhanças, com o que é proposto na revista Série Z.

Este trabalho possibilitou unir interesses que o pesquisador tinha antes da

faculdade e que adquiriu durante o período acadêmico, como a prefrência pelo futebol

Page 90: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

89

alternativo, a vontade de atuar na área esportiva, a predileção pela escrita, logo pelos veículos

impressos, que resultou em uma pesquisa, com foco em revista, na versão digital, e a questão

da especialização em futebol alternativo, que é um foco do pesquisador. Para o autor da

pesquisa, no Trabalho de Conclusão de Curso ficou perceptível o quão importante são as

disciplinas empregadas durante o curso, que contribuíram, mesmo que em diferentes níveis,

para a execução do trabalho.

A pesquisa científica é outra questão pela qual o pesquisador se interessou

durante os quatro anos de faculdade. O estudo oferece relações que podem ser base para

textos científicos, com destaque para o capítulo de futebol alternativo, pois tal termo ainda

não foi discutido noutras pesquisas, o que oferece ao pesquisador a possibilidade de

referências em futuros estudos acadêmicos. A intenção é a publicação, sem modo definido,

por enquanto, para demonstrar a pesquisa feita aos interessados pelo assunto. Quanto à peça, o

trabalho a partir de então é fortalecer a marca, agregar ideias e público e com o passar das

edições, oferecer números especiais, como por exemplo, guias de campeonatos.

Page 91: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

90

REFERÊNCIAS

ABIAHY, Ana Carolina. O jornalismo especializado na sociedade da informação. João

Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2000.

AQUINO, Rubim Santos Leão de. Futebol, uma paixão nacional. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar Editor, 2002. p. 24-30.

BAHIA, Juarez B.. História, jornal e técnica: história da imprensa brasileira. 5.ed. Rio de

Janeiro: Mauad X, 2009. p. 30-38.

BARBEIRO, Heródoto; RANGEL, Patrícia. Manual do jornalismo esportivo. 2. ed. São

Paulo: Contexto, 2012.

BELTRÃO, Luiz. Teoria e Prática do Jornalismo. Adamantina: FAI/Catédra Unesco

Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional/Edições Omnia, 2006. p. 29.

BENETTI, Marcia. Revista e jornalismo: conceitos e particularidades. In: TAVARES,

Frederico de Mello Brandão; SCHWAAB, Reges. (Org.). A revista e seu jornalismo. Porto

Alegre: Penso, 2013. c. 3.

BERTOZZI, Leonardo. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, fev. 2015.

BIZZOCCHI, Aldo. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, abr. 2015.

BLESSA, Regina. Merchandising no ponto-de-venda. 4. ed. 7. reimpr. São Paulo: Atlas,

2011.

BONASSOLI, Leonardo. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, jan. 2015.

CARVALHO, Carmen. Segmentação do jornal, a história do suplemento como estratégia

de mercado. Congresso Nacional de História da Mídia, 5, São Paulo, mai.-jun. 2007.

CIVITA, Victor. CARTA DO EDITOR. Revista Placar, São Paulo, n. 1, p. 38, mar. 1970.

COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo esportivo. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2014.

COLOMBARI, Emanuel. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, jun. 2015.

CORDENONSSI, Ana Maria; MARQUES DE MELO, José. Jornalismo Interpretativo: os

formatos nas revistas Veja e Época. In: XIII CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA

COMUNICAÇÃO NA REGIÃO SUDESTE, 2008, São Paulo. Anais... Mídia, Ecologia e

Sociedade. São Paulo: Intercom, 2008.

CUTER, Daniel Paes. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, ago. 2015.

DAHLBERG, Ingetraut. Teoria do conceito. Tradução para o português do Prof. Astério

Tavares Campos, do Departamento de Biblioteconomia da Universidade de Brasília. Ciência

Page 92: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

91

da Informação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 101-107, 1978a. p. 2. Disponível em:

<http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/1680/1286>. Acesso em: 7 ago. 2015.

DE HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Ed.

Positivo, 2009. p. 1126.

EQUIPE TRIVELA. Conheça a revista Trivela. Trivela, 2008. Disponível em:

<http://trivela.uol.com.br/conheca-a-revista-trivela/>. Acesso em: 6 set. 2015.

ERBOLATO, Mário L.. Técnicas de Codificação em Jornalismo: redação captação e edição

no jornal diário. 5. ed. São Paulo: Ática, 1991.

FATV FUTEBOL ALTERNATIVO. Sobre o Programa. allTV, 2014. Disponível em:

<http://www.portal.alltv.com.br/programa/fatv-futebol-alternativo/>. Acesso em: 20 out.

2015.

FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2010. p. 18-24.

FIGUEIREDO, Lisette Fernandes. A nota jornalística no Jornal do Brasil: um estudo do

gênero textual e de sua função no jornal. 2003. 133f. Dissertação (Mestrado)- Curso de

Mestrado em Ciências da Linguagem, Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2003.

p. 39-41. Disponível em: <http://busca.unisul.br/pdf/69879_Lisette.pdf>. Acesso em: 13 set.

2015.

FOLHA DE S.PAULO. Manual de redação: Folha de S.Paulo. 16.ed. São Paulo: Publifolha,

2010.

FONTCUBERTA, Mar de. La noticia. Barcelona: Paidós. 1993. p. 49-53.

FRAZIER, Jimmy A.; SNYDER, Eldon E..The Underdog Concept in Sport. Sociology of

Sport Journal, Bowling Green, v. 8, n. 4, p. 380-388, 1991. Disponível em: <

http://www.humankinetics.com/acucustom/sitename/Documents/DocumentItem/9592.pdf >.

Acesso em: 31 mai. 2015.

FUTEBOL ALTERNATIVO. Orkut. Disponível em:

<http://orkut.google.com/c49510.html>. Acesso em: 9 ago. 2015.

GALEANO, Eduardo. El fútbol a sol y sombra. Siglo XXI de España Editores, 2010.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de Pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.

42-47

HOFMAN, Gustavo. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, mai. 2015.

HOFMAN, Gustavo. Quando o futebol não é apenas um jogo. Rio de Janeiro: Via Escrita,

2014. p. 11

HOHLFELDT, Antonio. Os estudos sobre a hipótese de agendamento. Revista Famecos,

Porto Alegre, v. 7, p. 42-66, 1997.

Page 93: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

92

HORIE, Ricardo Minoru; PLUVINAGE, Jean. Revistas Digitais para iPad e outros tablets

– Artefinalização, Geração e Distribuição. São Paulo: Bytes & Types (eBook), 2012.

JOGOS PERDIDOS. Quem somos nós. Jogos Perdidos, 2011. Disponível em:

<http://jogosperdidos2.blogspot.com.br/>. Acesso em: 2 fev. 2015.

LABOISSIÈRE, Matheus C.. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, jun. 2015.

LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. 6. ed. Rio

de Janeiro: Record, 2006.

LÉVY, Pierre. O que é virtual. São Paulo: Editora 34, 1996. c. 3.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia

científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MARQUES DE MELO, José. Jornalismo opinativo. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.

c. 4.

MARTINEZ, Fernando. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, jun. 2015.

MEDITSCH, Eduardo. O jornalismo é uma forma de conhecimento?. Universidade

Federal de Santa Catarina, 1997.

MENESES FERNÁNDEZ, Maria Dolores. En torno al Periodismo Especializado. Consensos

y disensos conceptuales. Anàlisi, Barcelona, n. 35, 2007. p. 137 – 152.

MIRA, Maria Celeste. O leitor e a banca de revistas: o caso Editora Abril. 1997. 359f. Teste

(Doutorado)-Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas,

Campinas, 1997. c. 4.

MOREIRA, Sônia Virgínia. Análise documental como método e como técnica. In: Jorge

Duarte; Antonio Barros. (Org.). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São

Paulo: Atlas, 2005. p. 269-276.

NASCIMENTO, Ceolin Patrícia. Jornalismo em revistas no Brasil: um estudo das

construções discursivas em Veja e Manchete. São Paulo: Annablume, 2002. p. 15-19.

OBREGÓN, Fco. Javier Fernández. Especialización, futuro del periodismo. Revista

LATINA de Comunicación Social, La Laguna, n. 7, jul. 1998. Disponível em: <

http://www.ull.es/publicaciones/latina/latina_art83.pdf >. Acesso em: 5 jul. 2015.

OLIVEIRA, Sérgio. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, jun. 2015.

PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.

PÉREZ, Jaime Pablo Domínguez. Ensayo sobre la cuádruple espectacularidad del periodismo

deportivo. Razón y palabra, n. 69, p. 47, 2009.

Page 94: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

93

PLANO TÁTICO. Sobre. Plano Tático. Disponível em: <http://planotatico.com/sobre/>.

Acesso em: 2 fev. 2015.

RANGEL, Patrícia. O Futebol Midiático: Uma reflexão crítica sobre o jornalismo esportivo

nos meios eletrônicos. 2008. 151f. Dissertação (Mestrado)-Faculdade Cásper Líbero, São

Paulo, 2008.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. p. 135-146.

RIBOLDI, Ari. Cabeça-de-bagre: termos, expressões e gírias do futebol. Porto Alegre: AGE,

2008. p.66.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3.ed.. São Paulo: Atlas, 2012.

c.13

ROVIDA, Mara Ferreira. A segmentação no jornalismo sob a ótica durkheimiana da

divisão do trabalho social. 2010. 170f. Dissertação (Mestrado)-Linha de pesquisa B –

Produtos midiáticos: jornalismo e entretenimento, Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, 2010.

Disponível em: < http://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2014/02/08-A-

segmenta%C3%A7%C3%A3o-no-jornalismo-sob-a-%C3%B3tica-durkheimiana-da-

divis%C3%A3o-do-trabalho-social.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2015. p. 52-75.

SALAZAR HERRERA, Rosa Milagros. Hacia un periodismo especializado ágil y creativo:

la experiencia de la revista de transportes Señales (1996-1998). Tesis Digitales UNMSM,

2003. c. 1. Disponível em: <

http://sisbib.unmsm.edu.pe/bibvirtualdata/tesis/Human/Salazar_HR/enPDF/Cap1.pdf >.

Acesso em: 3 jul. 2015.

SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2013.

SEIXAS, Lia. Redefinindo os gêneros jornalísticos: Proposta de novos critérios de

classificação. Covilhã: Labcom, 2009.

SERRANO, Paulo Henrique Souto Maior. O surgimento de socialidades virtuais na rede

social do Orkut: Interações na comunidade Futebol Alternativo Off-Topics. In: SIMPÓSIO

NACIONAL DA ABCIBER - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM

CIBERCULTURA, 2., 2008, São Paulo. Anais... João Pessoa: UFPB, 2008. Disponível em:

<http://www.cencib.com.br/simposioabciber/PDFs/CC/Paulo%20Henrique%20Souto%20Mai

or%20Serrano.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2015.

SILVA, Verônica Lima Nogueira da. Jornalismo esportivo ou de entretenimento: discussão

sobre a possibilidade de uma cobertura crítica. 2009. 90f. Dissertação (Mestrado)-Faculdade

de Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 2009. p. 15-18.

SIMÕES, Julio. Entrevista concedida à Felipe Augusto Pereira Silva, mai. 2015.

SIMÕES, Julio. Sobre o blog. Última Divisão, 2013. Disponível em:

<http://www.ultimadivisao.com.br/sobre-o-blog/>. Acesso em: 21 ago. 2015.

Page 95: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

94

SOUSA, Jorge Pedro. Elementos do jornalismo impresso. Covilhã: Univerisidade de Beira

Interior, 2001.

STUMPF, Ida Regina C. Pesquisa bibliográfica. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio

(Org.). Métodos e Técnicas da Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. p. 51-

61.

TAVARES, Frederico de Mello Brandão. O jornalismo especializado e a mediação de um

ethos na sociedade contemporânea. Em Questão, Porto Alegre, v. 13, n. 1, p.41-56, jan/jun

2007.

TAVARES, Frederico de Mello Brandão. O jornalismo especializado e a especialização

periodística. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Estudo em Comunicação nº 5, p. 115-

133, maio de 2009.

TRIVELA. Sobre nós. Trivela, s/d. Disponível em:

<trivela.uol.com.br/licenciamento/?tp=conteudo>. Acesso em: 6 set. 2015.

UNZELTE, Celso. Jornalismo esportivo: relatos de uma paixão. v. 4. São Paulo: Saraiva,

2009.

VILAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996.

WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. 6. ed. Lisboa: Editorial Presença, 2001.

Page 96: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

95

ANEXOS

ANEXO A – ENTREVISTA ALDO BIZZOCCHI

Aldo Bizzocchi é Bacharel em Linguística pela Universidade de São Paulo (1987), doutor em

Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (1994), com pós-doutorado em

Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2010), membro do Grupo de

Pesquisa em Semiótica, Leitura e Produção de Textos (SELEPROT), do Grupo de Pesquisa

Morfologia Histórica do Português (GMHP) e do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia

e História da Língua Portuguesa (NEHiLP). Entrevista concedida, por meio de questão

enviada por e-mail. Data de envio realizada no dia 8 de abril de 2015 e recebimento no

mesmo dia.

Felipe: Aldo, sou estudante de jornalismo da Faculdade Maringá e pesquisando na

internet, vi que você iria fazer um dicionário etimológico. Pois bem, nesse ano, concluo a

faculdade e como TCC, vou produzir uma revista especializada em futebol alternativo.

Futebol alternativo, de uma maneira subjetiva, é o interesse por clubes pequenos e

divisões inferiores. Aquilo que a grande mídia não mostra ou mostra em menor escala.

Esse conceito tem pouquíssimos referenciais científicos e uma das formas de explicá-lo

seria por meio da etimologia da palavra "alternativo". Você teria como me ajudar?

Desde já, agradeço.

Aldo: O adjetivo "alternativo" chegou ao português no século XV como empréstimo do

francês alternatif, por sua vez derivado do verbo alterner, empréstimo do latim alternare,

"alternar, fazer alternadamente (ora uma coisa, ora outra)", que, por sua vez, deriva

de alternus, "alternado, um depois do outro, que se reveza", e este finalmente provém

de alter, "o outro, o segundo (de dois)".

O significado original da palavra está ligado à ideia de alternância, troca (entre dois). Daí o

substantivo "alternativa" no sentido de opção.

Agora, o sentido de "alternativo" como algo que foge ao padrão, que é cultuado por uma

minoria (por exemplo, música alternativa, cinema alternativo, futebol alternativo), que é o

sentido com o qual você está trabalhando, é exclusivo do português e de introdução bem

recente (década de 60 para cá). Para você ter uma ideia, música alternativa em inglês é indie

music.

Não sei ainda precisar a data exata de introdução desse sentido na nossa língua porque nosso

projeto de pesquisa e elaboração do dicionário etimológico está em andamento e essa

ocorrência ainda não apareceu em nossas amostras. Mas a inexistência dessa acepção em

outras línguas, bem como em dicionários de português mais antigos nos dão a convicção de

que se trata de um uso estritamente brasileiro e recente.

Page 97: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

96

ANEXO B – ENTREVISTA DANIEL PAES CUTER

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via caixa de entrada da rede social

Facebook. Data de envio realizada no dia 16 de agosto de 2015 e recebimento em 24 de

agosto de 2015. Daniel Paes Cuter é membro da comunidade Futebol Alternativo desde 2005

e foi escolhido para ser entrevistado para mostrar um olhar de um interessado pelo assunto,

mas que não tenha formação superior em comunicação, como no caso dos outros

entrevistados. Cuter é graduado em História pelo Centro Universitário FIEO - Fundação

Instituto de Ensino para Osasco (2011).

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Daniel: Futebol Alternativo é o futebol praticado por times fora do eixo ou também por coisas

fora do comum que podem acontecer a qualquer time. Ou seja, o futebol em si, mas visto de

uma forma diferente da normal.

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

Conheci através da comunidade do Orkut mesmo, buscando comunidades sobre futebol, pelo

que me lembro. Achei ela diferente em relação a outras. Já me interessava pelo futebol,

principalmente o de várzea, antes disso.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão.

Após o fim da comunidade no Orkut, ficamos sem espaço, mas um tempo depois, foram

abertos o fórum, o grupo no VK e o grupo secreto no Facebook. Isso facilitou a circulação de

informações.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet?

Consumo futebol alternativo através de internet, por notícias, além do programa Várzea na

TV na TV Aberta, que passa jogos do futebol amador de São Paulo. Além disso, livros

específicos sobre futebol, seja em geral, como livros sobre Copa do Mundo e campeonatos e

específicos sobre times.

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

Há busca por notícias, informações e acesso aos próprios fóruns para que se obtenha

informações sobre o tema. Além disso, frequentar os jogos, coisa que geralmente não tenho

costume.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

Não, até por que não há necessidade de ser abordado por esta. Sendo algo alternativo, é

necessário que circule por vias alternativas também.

Page 98: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

97

ANEXO C – ENTREVISTA EMANUEL COLOMBARI

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via caixa de entrada da rede social

Facebook. Data de envio realizada no dia 30 de maio de 2015 e recebimento em 3 de junho de

2015. Emanuel Colombari é mestrando em Comunicação e graduado em Jornalismo (2008),

ambas pela Faculdade Cásper Líbero. É um dos fundadores do formato atual do site Última

Divisão e escreve atualmente, também, para o site Uol. É membro da comunidade/grupo

Futebol Alternativo desde 2006.

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Emanuel: A expressão futebol alternativo virou meio que um jargão para a gente definir o

futebol que foge das grandes emissoras de TV e dos jornais de circulação nacional. É meio

abstrato, mas define uma visão mais ampla – e talvez mais humana – sobre o futebol. Menos

estatísticas e esquemas táticos, mais histórias e personagens. Talvez o Futebol Alternativo

defina um olhar mais humano sobre os detalhes menos percebidos do futebol, que em geral

estão na periferia dos grandes investimentos do esporte.

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

Eu não sei se gostava do chamado Futebol Alternativo antes de um determinado marco inicial,

mas desde o começo gostei de um olhar secundário – times do interior, times estrangeiros.

Minha primeira lembrança neste sentido é de 1993, quando eu desenhava o escudo de cada

time que eu conhecia no canto de cada página do meu caderno de escola. Lembro de desenhar

os dos grandes, mas também de Bragantino, Novorizontino e até da Federação Paulista de

Futebol. Mas “Futebol Alternativo”, como termo técnico, eu diria que conheci em 2006,

graças à comunidade do Orkut com este mesmo nome e com este olhar para o futebol. Aí é

preciso falar com o Leonardo Bonassoli, jornalista que criou a comunidade, para ver de onde

ele tirou este nome.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão.

Eu diria que, para mim, o caminho foi o contrário. Estar na FA me fez olhar mais definido

para esse viés diferente que eu tinha de futebol. Estar lá fez com que me divertisse mais com o

esporte e menos com o meu clube, ou com isso de zoar o torcedor adversário. Desde então, eu

tenho mais apreço pelas histórias legais para contar, inclusive de equipes adversárias. Talvez a

FA fosse um reflexo de um cenário maior, que já apresentasse espaços para veiculação de

informação – eu me lembro, por exemplo, de ler, comentar e colaborar com o Balípodo, site

do Ubiratan Leal.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet?

O grande barato da internet nesta relação com o futebol alternativo é que ela te permite uma

aproximação de diversos interesses. Em qualquer bom site de venda de camisas, por exemplo,

você pode comprar o uniforme de times das mais variadas regiões do Brasil, da América do

Sul, e até de outros continentes – aí, vai do apreço que o consumidor tem pela camisa que ele

quer. Fora isso, em comunidades, a gente tem contato com diversas fontes de notícias, como

sites de jornais regionais que postam notícias de interesse geral. Antes da internet, a

informação se restringia ao Globo Esporte na TV – quase sempre com informações restritas

ao estado – e à revista Placar – que já conseguia ser abrangente antes da internet.

Page 99: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

98

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

A interação acaba sendo orgânica. Você entra na internet e as informações já estão próximas e

organizadas – seja por feed de Facebook, conta no Twitter ou qualquer outro grupo de

discussão. Como o gosto acaba se tornando reconhecido, as pessoas até procuram a gente para

falar sobre – como perguntas sobre a camisa do time que a gente está vestindo, ou

curiosidades a respeito de algum fato curioso. Às vezes, a gente vê um livro na banca sobre o

assunto, compra e lê, nem que o interesse pelo assunto possa surgir no futuro.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

Hoje em dia, para falar a verdade, não. A discussão na internet alcançou um patamar bastante

sólido, e consegue se sustentar. Quando algo do cenário alternativo repercute na TV, por

exemplo, costuma soar repetitivo para quem já vinha acompanhando o assunto na internet,

além de quase sempre cair no oba-oba. O Juventus é um caso bastante sintomático disso,

desse ‘momento hipster’ do futebol. Dez anos atrás, quando a comunidade alternativa do

futebol começou a se reunir, o Juventus era um assunto paralelo na mídia, então atraiu

bastante gente. Hoje em dia, você vê com frequência matérias sobre torcida na Rua Javari,

sobre o tiozinho que vende cannoli. Eu não sinto falta de uma abordagem maior, mas

certamente sinto falta de uma abordagem mais inclusiva sobre o futebol alternativo nas

grandes mídias.

Page 100: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

99

ANEXO D – ENTREVISTA FERNANDO MARTINEZ

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via caixa de entrada da rede social

Facebook. Data de envio realizada no dia 31 de maio de 2015 e recebimento em 9 de junho de

2015. Fernando Martinez é um dos fundadores do blog Jogos Perdidos. É jornalista. É

fotojornalista da Gazeta Press. É integrante da comunidade Futebol Alternativo desde 2004.

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Fernando: Todo campeonato, toda notícia, todo time que não tem espaço na “grande mídia”.

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

Conheci através da comunidade do Orkut em 2004. Jogos alternativos, ou no caso “jogos

perdidos”, sempre foram meu foco, desde que me conheço por gente, no começo dos anos 80.

A cobertura da mídia na época era muito mais decente, então não foi difícil me interessar por

isso. Soma-se a isso o fato da influência do meu pai na época, já que ele via jogo de toda e

qualquer competição.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão.

Falta mesmo não sentia tanto, pois já me conversava com muitos amantes desse futebol desde

os anos 90. Mas é fato que a comunidade concentrou todo mundo no mesmo espaço. Isso foi

muito bom, pois descobri que existiam pessoas com o mesmo gosto em todos os cantos.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet?

Eu consumo indo nos estádios e acompanhando tudo que é campeonato realizado no estado de

São Paulo. A internet ajudou demais sim, pois antes eu vivia ligando para clubes e buscando

informação nas próprias federações. Algumas coisas conseguia, outras ficava sem saber pela

desorganização dos mesmos.

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

Eu não tenho nenhuma fórmula para isso. A única rotina que talvez tenha seja acessar a

página das federações às segundas para me atualizar sobre o que aconteceu no final de

semana. No mais, as informações acabam chegando automaticamente.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

Hoje não mais, pois a cobertura de guerrilha feita por vários abnegados já me deixa

suficientemente informado.

Page 101: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

100

ANEXO E – ENTREVISTA GUSTAVO HOFMAN

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas por e-mail. Data de envio realizada

no dia 16 de maio de 2015 e recebimento em 17 de maio de 2015.Gustavo Hofman é

graduado em jornalismo pela PUC Campinas (2002) e possui Pós-graduação em

Comunicação e Marketing pela Faculdade Cásper Líbero (2004).É comentarista e blogueiro

dos canais ESPN Brasil. Autor do livro Quando o futebol não é apenas um jogo (2014) e é

produtor da série de reportagens Futebol Alternativo do canal fechado ESPN Brasil. Foi

membro da comunidade Futebol Alternativo no Orkut, mas não se recorda com exatidão do

ano de entrada.

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Gustavo: É o futebol que tem pouco espaço na grande mídia, não reúne os melhores

jogadores... Enfim, o futebol jogado muito além da Liga dos Campeões.

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

O termo, pra mim, é muito comum e não tem um marco inicial. Eu sempre gostei do futebol

do Leste Europeu e que se enquadra nessa definição.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão.

Sim, fui membro, mas nunca participei ativamente. Gostava bastante das descobertas, dos

achados.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet?

A internet, sem dúvida alguma, foi fundamental nesse processo. Ela tornou acessíveis

campeonatos que nem imaginávamos como eram disputados. Eu consumo futebol alternativo

no meu trabalho, torno isso livros, posts no meu blog e comentários na TV!

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

Pra mim é um hábito natural buscar informações de campeonatos secundários. Acho que,

quem gosta de futebol alternativo, acompanha por paixão e com naturalidade.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

Sim, falta. No entanto, faltam tantas outras coisas... Como por exemplo, uma cobertura

verdadeiramente nacional do Brasileirão, com o devido destaque para todos os jogos.

Page 102: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

101

ANEXO F – ENTREVISTA JULIO SIMÕES

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas por e-mail. Data de envio realizada

no dia 30 de maio de 2015 e recebimento em 1º de junho de 2015. Julio Simões é um dos

fundadores do formato atual do site Última Divisão. Possui pós-graduação em Jornalismo

Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (2010) e graduação em Jornalismo

(2008) pela Faculdade Cásper Líbero. É membro da comunidade Futebol Alternativo desde

que era hospedada no Orkut, porém não se recorda do ano de entrada.

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo? Julio: Meu entendimento sobre a definição de futebol alternativo tem a ver com a cobertura do

assunto na mídia. Para mim, futebol alternativo é basicamente aquele futebol que não é o foco

de interesse da grande imprensa - o que não significa que seja menos importante, claro. Por

isso, vejo o futebol alternativo como um assunto de nicho, para um público restrito, que acaba

descobrindo como é delicioso acompanhar os pormenores desse esporte nos cantos mais

remotos do mundo. Os critérios sobre o que é alternativo mudam de acordo com o ponto de

vista, mas em todos os casos envolvem temas, times, jogadores, etc., que geralmente não

tenham espaço na mídia. É difícil definir, mas acho que é por aí.

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo? Olha, não me lembro exatamente a primeira vez que tive contato com o termo, tampouco sei

quem o criou. Aliás, acho que o termo é algo brasileiro, nunca vi equivalente no exterior,

embora gente interessada em jogador bizarro, em campeonato obscuro, em histórias perdidas

exista em todo canto. Em todo caso, vale dizer que passei a me interessar mais sobre o assunto

a partir da comunidade FA no finado Orkut. Não tenho certeza, mas acho que antes da

comunidade eu mal sabia que existia gente que também gostava do lado B do futebol, que

geralmente é muito rico em histórias, algo de que gosto bastante.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão. Sim, fiz parte da comunidade FA no Orkut e agora sigo na comunidade FA no Facebook.

Como disse, foi a partir da comunidade que eu passei a acompanhar mais de perto o assunto, o

que acabou me levando a criar o Última Divisão. Como gosto de boas histórias, achei que

valia tentar abrir um site que se dedicasse a levantar essas histórias e personagens, e que

tentasse cobrir melhor os assuntos que a grande mídia ignorava. Acho que estamos

conseguindo fazer um bom papel, inclusive no papel de trazer novos fãs para essa

‘modalidade’, digamos assim.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet? Cara, meu consumo de futebol alternativo é bastante centrado na comunidade FA no

Facebook, além de assuntos que decidimos pesquisar e escrever para o UD. Na comunidade,

há muita gente muito mais fanática do que eu, mas mesmo assim é incrível acompanhar toda

aquela gente que se dedica com tanto afinco a assuntos esquecidos. Sobre a internet, eu diria

que ela é o pilar de sustentação do assunto, já que seria impossível ter acesso a tantos dados

sobre campeonatos, jogadores, etc. ao redor do mundo ou até mesmo nos confins do Brasil.

Antes da internet, a maioria de nós, fãs do futebol alternativo, bebia na fonte da revista Placar,

basicamente. Um ou outro deve ter pego a fase áurea do jornal Gazeta Esportiva, ou então ter

Page 103: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

102

tido contato com livros como a bíblia do futebol alternativo, o Almanaque do Futebol

Paulista, mas só. Não havia mesmo como ter contato com muitas outras coisas, e as

informações acabavam desarticuladas. Nesse sentido, a internet foi uma bênção.

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto? Creio que todo amante do futebol alternativo acompanha diariamente, e até várias vezes ao

dia, a comunidade FA no Facebook. Fora isso, quem se interessa busca por sites que se

dedicam ao assunto, como o Plano Tático, o seu Série Z, o Verminosos, o Jogos Perdidos, a

FATV, e até o próprio Última Divisão. Fora alguns sites um pouco maiores que às vezes

abordam o assunto, como a Trivela, o Torcedores.com, o blog Bola de Meia na Globo.com e

até algumas matérias no ESPN.com.br. Para quem se interessa por assuntos internacionais, há

muitas fontes gringas também, é fácil encontrar. Nesse sentido, a comunidade acaba sendo um

grande farol de informações e troca de ideias sobre o assunto, o que é muito saudável.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia? Ah, a gente sempre acha que o assunto vale ser melhor abordado na grande mídia, ainda que

isso gere uma concorrência para nós. Em todo caso, tenho sentido que o número de sites

independentes que tratam o assunto têm aumentado, o que prova que há cada vez mais

pessoas interessadas em ler e escrever sobre o assunto. É possível que isso seja fruto até da

exposição de algumas histórias alternativas na grande mídia. Imagino que muita gente tenha o

primeiro contato com o assunto nos veículos mais conhecidos, acaba indo procurar mais na

internet, encontra um mundo de informação sobre isso e acaba se apaixonando. E isso é lindo!

Page 104: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

103

ANEXO G – ENTREVISTA LEONARDO BERTOZZI

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas por e-mail. Data de envio realizada

no dia 30 de janeiro de 2015 e recebimento em 18 de fevereiro de 2015.Leonardo Bertozzi é

membro da comunidade Futebol Alternativo desde os primeiros momentos do grupo, em

2004. É graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH

(2002). É comentarista e blogueiro dos canais ESPN Brasil.

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Leonardo Bertozzi: Futebol Alternativo é o futebol que vive fora dos grandes centros, dos

clubes de massa, dos times midiáticos. É o futebol que muitas vezes fica distante dos

holofotes, mas nem por isso deixa de ter importância. Times do interior, times de bairro, times

que podem não significar muita coisa para muitos, mas significam para alguém, e isso já basta

para justificar sua existência.

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

Não respondido.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão.

O grande mérito das redes sociais, e do Orkut em particular, foi aproximar pessoas de

interesses comuns e enriquecer as discussões. Muitas histórias que eu desconhecia vinham à

tona graças aos companheiros da FA. Além disso, a comunidade criou grandes grupos de

amigos.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet?

Hoje há canais para se informar sobre praticamente tudo. A internet diminuiu a dependência

da grande mídia para a busca da informação. Por isso mesmo, antes da internet era mais difícil

buscar canais para se informar sobre o futebol alternativo.

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

Buscar sempre novas fontes. No Twitter, por exemplo, se você segue contas pontuais de

diversas partes do mundo é capaz de ficar informado sobre todo tipo de competição que passa

batida para o grande público. E o papel de quem gosta do futebol alternativo também é ajudar

a difundir essas informações.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

As exigências cada vez maiores por resultados e números praticamente forçam a grande

imprensa a destinar o foco aos clubes de massa. Mas acredito que ainda haja espaço para boas

histórias, boas matérias. De certa forma, o papel do jornalista é investigar, buscar a história

diferente fora do radar.

Page 105: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

104

ANEXO H – ENTREVISTA LEONARDO BONASSOLI

Leonardo Bonassoli foi o fundador da comunidade Futebol Alternativo no Orkut e atualmente

é um dos administradores do grupo no Facebook. Possui especialização em Comunicação

Esportiva pela Pontíficia Universidade Católica do Paraná (2009) e bacharelado em

Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná

(2006). Atualmente escreve para o blog de sua autoria, Futebol Metrópole e contribui também

com o blog Amenidades. Bonassoli concedeu entrevista, por meio de questões enviadas por e-

mail. Data de envio e recebimento realizada no dia 27 de janeiro de 2015.

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Leonardo Bonassoli: São, a grosso modo, duas coisas. Uma é o futebol fora do mainstream,

fora das divisões de topo. Outra é o lado inusitado do futebol.

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

Já me interessava pelo assunto. Digamos que forjei o tema. Nas conversas de faculdade, na

Comunicação da UFPR, se usava muito o termo "isso é muito alternativo" para algumas

coisas obscuras, como jogadores de passagens esquecíveis por vários clubes, contratações

inusitadas e tal. Juntar e forjar o tema foi questão de tempo. E acabou pegando.

Você foi o fundador da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Qual foi a intenção

ao criá-la? Sentia falta de um espaço para discussão e veiculação de informação?

Criei porque achei que poderia ter espaço numa plataforma que estava nascendo. Existiam

basicamente comunidades genéricas. E curiosamente, ela foi pegando aos poucos, muito

graças ao antigo sistema do Orkut que associava automaticamente comunidades.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet?

Acompanho, escrevo, discuto. E a internet melhorou porque ajudou a segmentar os meios e a

também encurtar distâncias entre os eventos e os que acompanham. Antes de existir TV a

Cabo, a oferta de futebol em televisão aberta era maior. Campeonatos e amistosos obscuros

eram figurinha fácil nas emissoras menores. Sem falar que a Bandeirantes tinha uma

programação ostensiva de esportes e passava divisões de baixo e teve ano até que passou

alguns jogos do Pernambucano em rede nacional. Além disso, a imprensa escrita, que hoje

cambaleia no impresso, era mais ampla.

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

Varia muito de pessoa para pessoa. Tem gente que consegue ir aos locais, tem gente que vai

na base do streaming. Conheço gente que liga streaming na madrugada para ver OFC Cup ou

campeonato de El Salvador.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

Na verdade, está bem mais abordado, pois, pelo menos no que tange à mídia de internet, você

vê portais grandes investindo em blogs ou seções sobre o assunto. E como a internet não tem

limite de espaço, o nicho está criado.

Page 106: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

105

ANEXO I – ENTREVISTA MATHEUS CRUZ LABOISSIÈRE

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via e-mail no dia 30 de maio de 2015

e recebimento via caixa de entrada da rede social Facebook no dia 9 de junho de 2015.

Matheus Cruz Laboissière é fundador do blog Plano Tático, colunista do site Trivela e

blogueiro do ESPN FC. Possui graduação em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo

Horizonte - UNIBH (2009).

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Matheus: Futebol Alternativo tem duas correntes principais em minha opinião. A primeira,

mais importante, é toda notícia (clubes, jogadores) que não tem a devida atenção da grande

mídia e possui fatos que fogem ao comum, sejam eles dentro ou fora de campo. A segunda é

abordar os lances por si só curiosos que acontecem durante as partidas (golaço, gol contra,

lances engraçados).

Como você conheceu o termo futebol alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

Eu me aproximei do Futebol Alternativo sem perceber, pois desde pequeno desenhava

bandeiras de todos os países em cadernos só para isso. Assim, fui criando curiosidade sobre as

nações e a partir do momento em que descobri o futebol, passei a imaginar se haveria o

esporte nesses países.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão.

Cada grupo de pessoas tem uma visão do que é Futebol Alternativo. A minha defendo no

Plano Tático, que é um site de minha propriedade, mas numa comunidade pública, mesmo

que moderada, várias visões vão coexistir. Nem tudo que era veiculado lá eu considerava

Futebol Alternativo, mas certamente algumas coisas que eu divulgava lá também os outros

não entendiam como assunto da comunidade.

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia o antes da internet?

O Plano Tático é o motivo simples pelo qual eu acesso informações do Futebol Alternativo,

até deixando o “futebol da TV” de lado, por falta de tempo. Antes da internet o jeito era

comprar as revistas Placar e os jogos de futebol, principalmente FIFA, nos quais eu tinha

acesso a alguns times mais distantes do grande futebol europeu.

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

A minha rotina, como jornalista especializado em Futebol Alternativo, não pode ser entendida

como a geral, mas acho que a pessoa que acompanha Futebol Alternativo como mero leitor o

faz como quando acessa as informações de seu clube do coração. A grande diferença é que

quem se interessa por Futebol Alternativo costuma ter um nível educacional mais apurado,

simplesmente porque teve acesso a informações sobre países, não só no que tange ao futebol,

mas política, economia. O futebol é só mais um viés.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

Page 107: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

106

A grande mídia não pode fazer o que faço no Plano Tático, pois não haveria tempo e nem

retorno financeiro suficiente. Entendo que as empresas de comunicação que podem investir

mais estão fazendo série de reportagens periódicas, mas ainda falta uma abordagem mais

sistemática, pois as histórias de Futebol Alternativo certamente também são valiosas. Mas

depende do jornalista ter este conhecimento apurado para aí sim desvendar as histórias que

merecem ser contadas. A mudança só ocorrerá a partir do interesse do profissional que lida

com a informação.

Page 108: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

107

ANEXO J – ENTREVISTA SÉRGIO OLIVEIRA

Em entrevista concedida, por meio de questões enviadas via e-mail no dia 30 de janeiro de

2015 e recebimento via caixa de entrada da rede social Facebook em 8 de junho de 2015.

Sérgio Oliveira possui graduação em Rádio e Televisão pela Universidade Anhembi

Morumbi (2004) e em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2008). É coordenador geral

da ALLTV, TV online onde apresenta o programa semanal FATV (Futebol Alternativo TV).

É membro da comunidade Futebol Alternativo desde o final de 2005 e atualmente, é um dos

administradores do grupo no Facebook.

Felipe: Para você, o que é futebol alternativo?

Sérgio: Futebol Alternativo na essência é o que não aparece na grande mídia. Divisões de

acesso principalmente. Tem o lado mais curioso também, que aí envolve qualquer equipe,

toda notícia mais curiosa ou engraçada será alternativa. Mas o verdadeiro futebol alternativo

brasileiro está nas divisões de acesso espalhadas país afora.

Como você conheceu o termo Futebol Alternativo? Você já se interessava pelo assunto

antes mesmo de conhecer o termo?

O termo foi graças ao Orkut mesmo. E sim, sempre me interessei pelo assunto, acompanho as

divisões de acesso desde criança. Sempre digo em entrevistas que só por torcer pela zebra, por

torcer pelo mais fraco isso já é ser alternativo. Muita gente que torce pela zebra é fã de futebol

alternativo e nem sabe.

Você fez parte da comunidade Futebol Alternativo no Orkut. Sentia falta de um espaço

para discussão e veiculação de informação? Caso não tenha sido membro da

comunidade, desconsidere essa questão.

Muita falta, achar gente que se interessava pelo mesmo assunto que eu foi ótimo. Meus

amigos mais próximos sempre me acharam louco por ir ver jogo do Guapira ou do Juventus.

Torcer pela Lusa então era crime (risos).

Como você consome o futebol alternativo? A internet melhorou a relação com este tipo

de interesse? Como você consumia antes da internet?

Indo ao estádio é a melhor maneira de consumir futebol seja alternativo ou não. A internet

melhorou muito no quesito pesquisa, ver fotos, imagens dos jogos de outros estados, conferir

ficha técnica nisso a internet melhorou muito. Antes era esperar o Tabelão da (Revista) Placar

ou torcer pela Zebrinha do Fantástico.

Qual é a rotina e os hábitos de informação ou acompanhamento de quem se interessa

pelo assunto?

Por conta da FATV, leio blogs de futebol alternativo todo dia, vou a jogos pelo menos três

vezes por semana. Respiro futebol alternativo mesmo.

Sente falta de uma maior abordagem do assunto na grande mídia?

Falta faz para atingir o grande público, para melhorar a situação dos times. Para mim,

pessoalmente não faz falta, pois sei onde procurar, para quem não acompanha, mas gosta de

futebol, informação sobre divisão de acesso é importante. Só aí vamos virar realmente o País

do Futebol.

Page 109: JORNALISMO FELIPE AUGUSTO PEREIRA SILVA · 2016-12-14 · como foco apresentar os conceitos de jornalismo especializado, jornalismo de revista e jornalismo esportivo e relacionar

108

ANEXO K – TABELA NÚMERO DE CLUBES BRASILEIROS ATIVOS EM 2015160

ESTADO 1ª

DIVISÃO

DIVISÃO

DIVISÃO

DIVISÃO

COPA161

TOTAL

Acre 8 4 12

Alagoas 9 3 12

Amapá 9 9

Amazonas 10 1 11

Bahia 12 9 21

Ceará 10 10 10 30

Distrito Federal 11 12 23

Espírito Santo 10 6 16

Goiás 10 10 9 29

Maranhão 9 5 14

Mato Grosso 10 4 14

Mato Grosso

do Sul

12 8 20

Minas Gerais 12 11 15 38

Pará 10 10162

20

Paraíba 10 12 22

Paraná 12 10 4 26

Pernambuco 12 15 27

Piauí 6 6 12

Rio de Janeiro 16 18 15 49

Rio Grande do

Norte

10 4 14

Rio Grande do

Sul

16 15 10 2 43

Rondônia 5 5

Roraima 6 6

Santa Catarina 10 10 8 28

São Paulo 20 20 20 30 90

Sergipe 10 12 22

Tocantins 8 9163

17

Total 283 223 91 30 3 630

160

Tabela feita com base nos sites das federações estaduais de futebol. 161

Nessa coluna são considerados os clubes que não disputaram nenhuma divisão estadual, mas participaram das

chamadas copas estaduais. 162

A segunda divisão do Pará contou com 12 equipes, entretanto, duas delas participaram da primeira divisão no

mesmo ano. 163

A segunda divisão do Tocantins contou com 11 equipes, entretanto, duas delas participaram da primeira

divisão no mesmo ano.