Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 263

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16 de julho 2013 • ANo XXII • N.º 263 • QuINZeNAl GRATuITo dIReToRA ANA duARTe • edIToRA-eXeCuTIVA ANA moRAIs joRNAl uNIVeRsITáRIo de CoImbRA acabra As ATuAlIZAções dA pRopRINA de NoRTe A sul do pAís ApeNAs QuATRo Ies AumeNTAm A pRopINA PÁG. 15 PÁG. 6 PÁGS. 2 E 3 PÁGS. 4 E 5 PÁG. 22 AuTáRQuICAs 2013 CoImbRA já se pRepARA pARA A CAmpANhA dos seIs CANdIdATos umA IdeIA pARA o eNsINo supeRIoR poR joão GAbRIel sIlVA “ReoRGANIZAR pARA deseNVolVeR” peRfIl: AmolAdoR de TesouRAs A peRsIsTêNCIA de umA pRofIssão esQueCIdA No Tempo lImITAções Ao GRAffITI e à ARTe uRbANA ‘WRITeRs’ INsuRGem-se Com NoVA leI

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Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 263

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16 de julho 2013 • ANo XXII • N.º 263 • QuINZeNAl GRATuITo dIReToRA ANA duARTe • edIToRA-eXeCuTIVA ANA moRAIs

joRNAl uNIVeRsITáRIo de CoImbRA

acabra

As ATuAlIZAções dA pRopRINA de NoRTe A sul do pAís ApeNAs QuATRo Ies AumeNTAm A pRopINA

PÁG. 15 PÁG. 6

PÁGS. 2 E 3 PÁGS. 4 E 5

PÁG. 22

AuTáRQuICAs 2013 CoImbRA já se pRepARA pARA A CAmpANhA dos seIs CANdIdATos

umA IdeIA pARA o eNsINo supeRIoR poR joão GAbRIel sIlVA“ReoRGANIZAR pARA deseNVolVeR”

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ProPinas

De norte a sul, as voltas que a propina dá

Em todo o país, apenas quatro instituições de Ensino superior (iEs) vão efetuar a atualização da propina no próximo ano letivo. o novo ano vai trazer um aumento de cerca de 35 euros para a comunidade estudantil. aqui se comparam as decisões levadas a cabo pelos Conselhos Gerais de algumas iEs. Por Liliana Cunha e ana Duarte

UC Da reunião realizada a 27 de maio apenas saiu a seguinte de-claração: “o Conselho Geral (CG) da Universidade de Coimbra decidiu não alterar a regra ante-rior”. A regra de que se fala é a inscrita na Lei do Financiamento do Ensino Superior 62/2007 na sua atualização. “As propinas e demais encargos devidos pelos estudantes pela frequência do estabelecimento de ensino são fixados pela entidade instituido-ra, ouvidos os órgãos de direção do estabelecimento, tendo de ser conhecidas e adequadamen-te publicitadas em todos os seus aspetos antes da inscrição dos estudantes”. Incide no aumento da propina de 1037 euros para 1065,72. O reitor da Universida-de de Coimbra (UC), João Ga-

briel Silva, ainda não se pronun-ciou sobre a decisão.

A reunião do CG ficou marca-da pela falta de quórum, dada a não comparência de membros ou pela saída antecipada de al-guns elementos - tal fez com que a votação fosse de maioria rela-tiva. Os estudantes conselheiros no CG tentaram apelar a uma votação favorável à manutenção do valor – 1037 euros. Este é já o segundo aumento de propinas que a UC implementa. O primei-ro, dado no ano letivo anterior, deveu-se à criação de um Fundo de Apoio Social. O segundo dar--se-á pelo subfinanciamento do ensino superior. Os protestos por parte da Direção-geral da Asso-ciação Académica de Coimbra (DG/AAC) fizeram-se sentir no

final da manhã anterior à reu-nião. O presidente da DG/AAC, Ricardo Morgado, ainda acredi-tava no congelamento da propi-na. No entanto, e nas palavras do estudante conselheiro, Luís Ro-drigues, em entrevista ao Jornal A CABRA, em maio deste ano, os estudantes “sofreram uma derro-ta”.

A Universidade de Coimbra vem a sofrer consecutivamente cortes no seu orçamento. Segun-do declarações do reitor à rádio TSF, a UC está com um orçamen-to 13 por cento abaixo daquilo que existia em 2005. Em 2013 o corte é de 8,5 por cento e coloca a UC “em grandes dificuldades” já estávamos com um funciona-mento muito complicado e agora ficámos com um funcionamen-

to mesmo no limite para abrir a porta com dignidade”, lamenta João Gabriel Silva. Na altura (no-vembro de 2012), o reitor amea-çava fechar as portas da univer-sidade. Mas tal não aconteceu. Para o próximo ano letivo, a UC praticará a propina máxima. Po-rém, os estudantes bolseiros não sofrerão do aumento, dado que o valor da bolsa é sempre indexado à inflação e ao valor que a univer-sidade pratica.

“A UC não esteve à altura. É um momento difícil para os estu-dantes”, declarou o presidente da DG/AAC, Ricardo Morgado, em entrevista ao Jornal A CABRA, em maio deste ano. O presidente afirma que a situação financeira volátil que a UC atravessa “não é desculpa”.

Outras:

Aumenta:

As restantes IES a proceder à atualização da propina encon-tram-se na Grande Lisboa: Uni-versidade de Lisboa (UL), Univer-sidade Técnica de Lisboa (UTL) e Instituto Politécnico de Lisboa

(IPL).No que respeita à UL e à UTL,

ainda não foram adiantados mui-tos dados relativamente à atualiza-ção visto, que estas universidades encontram-se, neste momento,

em processo de fusão. A isto junta--se, ainda, um processo eleitoral para a escolha de um novo reitor. A presidente do CG da UL, Leonor Beleza, foi contactada, no entan-to, o Jornal A CABRA não obteve

qualquer resposta.O Jornal A CABRA também con-

tactou o presidente do IPL, Luís Vicente, porém, até ao fecho da edição, não recebeu declarações sobre este aumento.

carolina varela

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ProPinas

Não Aumenta:

UBIO reitor da Universidade da Bei-

ra Interior (UBI), António Fidalgo, não prestou declarações dado que a proposta ainda vai ser levada a vota-ção na próxima reunião do Conselho Geral. António Fidalgo é também a favor da não atualização da propina na UBI.

MINHOA 1 de julho, o Conselho Geral

(CG) da Universidade do Minho (UM) reuniu para decidir sobre o va-lor da propina a aplicar no ano letivo de 2013/2014. A proposta do reitor, António Cunha, foi no sentido de manter o valor aplicado no ano an-terior – 1037,20 euros. No entanto, segundo o presidente do CG, Álvaro Laborinho Lúcio, o debate teve em conta “não só o impacto financeiro da medida, como o seu efeito social interno”. A votação não foi consen-

sual, já que os quatro estudantes presentes votaram a favor de uma redução e não de uma manutenção do valor da propina. Por altura do último Encontro Nacional de Dire-ções Associativas (ENDA), o presi-dente da Associação Académica da UM, Carlos Videira, acreditava que a proposta do reitor iria ser do aumen-to para os 1066 euros. Os estudantes haviam organizado um calendário reivindicativo e uma petição para le-var ao reitor.

UAlgNo Algarve, a atualização da pro-

pina revertia para a criação de um Fundo de Apoio Social (FAS). O CG não aprovou a atualização e as propi-nas mantiveram-se nos 965 euros. O reitor da UAlg, João Pinto Guerreiro, explica que o impacto da decisão não será no orçamento da universidade mas “no que seria um benefício para os estudantes em dificuldades”. O reitor partilha da opinião de Carlos Sequeira e não crê que a propina

condicione as opções das famílias na escolha da universidade. “As di-ferenças entre propinas nas univer-sidades são relativamente pequenas. O que condiciona as opções das fa-mílias ou é a qualidade ou a proxi-midade do ensino”, frisa. Quanto ao aumento em quatro IES, Pinto Guerreiro não considera relevante, já que “tem de haver um esforço das famílias no sentido da educação dos seus filhos”.

UTADNa região norte, a par da UP, a

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), aplica o mes-mo valor. Perspetivando a possibi-lidade de um aumento por parte do governo, o reitor da UTAD, Carlos Sequeira, propôs os 1037 euros. Contudo, a proposta foi recusada. A propina mantém-se mas vão passar a cobrar e taxar a título de exemplo, os estacionamentos no campus uni-versitário e emolumentos. “Vamos penalizar de outro modo, já que os carros usufruem sem pagar nada do

estacionamento”, explica o reitor. Os motivos para a recusa incidiram na grande percentagem de alunos des-locados e na situação económico-fi-nanceira das famílias que “têm que suportar os alojamentos, a estadia, e as deslocações dos estudantes”. Outro dos motivos é a competição com o preço praticado na UP. Carlos Sequeira acredita que o aumento da propina em outras instituições não leva à perda de novos alunos. “Não é fator de discriminação ou de escolha. Não acredito nisso”, remata.

UPO reitor da Universidade do Por-

to (UP), José Marques dos Santos, apresentou em CG a proposta de aumento da propina (de 999 euros para 1037,20 euros), que foi rejei-tada por unanimidade. Marques dos Santos ainda não tomou uma posição sobre a decisão à imprensa. O estudante conselheiro, Pedro Bra-gança, afirma que “o bom senso fa-lou acima de tudo e foi tomada uma decisão pela defesa dos estudantes”. Quanto à rejeição da proposta do reitor, o estudante explica que não

se “tratou de uma votação contra uma proposta do reitor, mas sim uma posição contra a forma como as universidades públicas têm sido as-fixiadas”. Do ponto de vista imedia-to, o impacto nas contas da UP está na ordem dos 1,6 milhões de euros nos últimos dois anos. No entanto, Pedro Bragança acredita que “está demonstrado nos relatórios de con-tas que a boa gestão financeira tem capacidade de suportar estes impac-tos”. O movimento estudantil mobi-lizou-se e entregou uma carta que foi

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ELEiçõEs

Autárquicas em Verão quente

“Dar continuidade a um projeto”

A junção do Partido Social De-mocrata, do Partido Popular Mo-nárquico e do Movimento Partido da Terra dá origem à coligação Por Coimbra, já participante em pro-cessos eleitorais autárquicos an-teriores, com algumas alterações. Desta feita não há junção do Parti-do Popular e este lugar é ocupado pelo Movimento Partido da Terra. Quem dá a cara pela coligação é o atual presidente da autarquia, João Paulo Barbosa de Melo.

A motivação é “dar continuidade a um projeto no qual já tinha vindo a trabalhar e dar-lhe continuidade num tempo em que os desafios são diferentes e quando se abriram um

conjunto de janelas novas na cida-de”, assume o candidato, acrescen-tando a necessidade de estes desa-fios “exigirem conhecimento dos dossiês e uma ideia de fundo sobre a cidade”.

No que diz respeito aos grandes objetivos deste projeto para autar-quia, o grande enfoque vai para a vontade de “tornar a cidade mais competitiva e economicamente mais forte e mais robusta”, pois, só assim, segundo Barbosa de Melo, é que uma cidade consegue a sua independência. O atual presidente conta ainda que “Coimbra tem um problema de base económico”, e para esta coligação o objetivo é “tra-

balhar afincadamente para renovar a barra económica de Coimbra”.

Quanto ao balanço do mandato, Barbosa de Melo assume que “a esmagadora maioria dos projetos foram conseguidos”. E ressalva que houve projetos mais demorados e que podiam já estar concluídos, contudo alguns procedimentos “im-postos” a uma autarquia tornaram isso “completamente impossível”.

Quanto a ausência do Partido Po-pular, Barbosa de Melo é sucinto: “tudo fizemos para que a coligação com o CDS pudesse ser de novo ree-ditada. Fizemos o possível mas não aconteceu”.

João Paulo BarBoSa dE MElo, Por CoiMBra“JuntoS Por CoiMBra”

“Defendemos que os serviços públicos sejam valorizados”

Uma coligação entre o Partido Comunista e o Partido Ecologis-ta Os Verdes constitui a Coliga-ção Democrática Unitária, mais uma vez candidata à autarquia de Coimbra com Francisco Queirós a cabeça de lista. Francisco Quei-rós recandidata-se depois de em 2009 o ter feito e ter conseguido ser eleito como vereador, assu-mindo a área da Habitação. As-sim, este apresenta-se como um projeto de sequência. “Continuar o projeto de participação de de-cisões do concelho. Participação na proposta, na crítica e evolução em muitas lutas fundamentais para a cidade”, avança o candida-

to pela CDU.Atualmente a CDU lidera cinco

freguesias do concelho e é nesse trabalho, bem como no trabalho feito na Assembleia Municipal e na CMC, que o candidato encon-tra a valorização dessa política de combate. “Temos provas dadas na denúncia, na crítica e na pro-posta nestes anos todos”, subli-nha.

“É possível que um conce-lho de Coimbra em luta ofereça uma vida melhor aos cidadãos”: é com esta premissa que Fran-cisco Queirós esmiuça algumas linhas gerais desta candidatura. “Melhoria da qualidade de vida

das pessoas, valorização dos ser-viços públicos da cidade, como os transportes públicos, a água, a higiene e a limpeza” são alguns dos pontos fulcrais da candidatu-ra da CDU à autarquia. Em suma, Queirós ressalva: “defendemos que os serviços públicos sejam valorizados em Coimbra”.

Fazendo um balanço “extrema-mente positivo” quanto a traba-lho desenvolvido na sua vereação, bem como nas várias juntas de freguesia CDU, o candidato não se aventura em previsões elei-torais, mas assume: “aquilo que nos propomos é dar qualidade de vida” aos cidadãos de Coimbra.

FranCiSCo QuEiróS, ColiGação dEMoCrÁtiCa unitÁria (Cdu)“CoiMBra EM luta Por uMa vida MElhor”

“Há muita coisa que tem de ser alterada”

“Somos um partido pela tran-sição e há muita coisa que tem de ser alterada”. É desta forma que Cláudio Trindade, candidato pelo PAN à presidência da Câmara Mu-nicipal de Coimbra (CMC), justifica a motivação desta candidatura. A vontade de mudar as políticas para algo “mais sustentável” é notória no discurso do candidato.

Seguindo as linhas do próprio partido, quer o ambiente quer os animais merecem especial desta-que. Assim, melhorar a legislação no que toca aos animais ou apostar em ideias que promovam a susten-tabilidade ambiental integram o projeto do PAN para a autarquia de

Coimbra.O partido, fundado em 2009,

apresenta pela primeira vez a sua candidatura à CMC. Quando se per-guntam as expetativas para resulta-dos eleitorais, a resposta é clara: “não alimentamos grandes espe-ranças”. Contudo, a ressalva é feita: “as pessoas chegaram a um ponto em que não podem continuar como estão, elas querem algo diferente”.

Nessa oferta, contam-se, entre outras, as propostas de aumento de número de hortas urbanas, dimi-nuição da quantidade de edifícios abandonados, sobretudo no centro da cidade, melhoramento do siste-ma de transportes ou alargamento

da área do Choupal.No que concerne a problemas

atuais da autarquia, como é o exemplo da ameaça de privatização da água, o Partido pelos Animais e pela Natureza é “absolutamente contra a privatização”, justificando esta postura com o argumento de que “a água é um bem fundamen-tal”.

O candidato de 40 anos dá a cara a um projeto que não se pretende centrar numa só pessoa mas sim no conjunto. Dessa forma, assume que podem haver “surpresas”: “po-demos atingir o público que quer algo diferente”, adianta Cláudio Trindade.

ClÁudio trindadE, Partido PEloS aniMaiS E PEla naturEza (Pan) “PElo BEM dE tudo E dE todoS”

com João Valadão

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ELEiçõEs

numa altura em que o país se debate ora com reformas do governo ora com intervenções presidenciais a pedir compromissos partidários, as autarquias preparam-se para acolher as eleições a 29 de setembro. na autarquia de Coimbra são seis os candidatos que se apresentam a votos. Já com programas definidos ou ainda com programas por definir, as propostas para o concelho já se desenham. Por ana Morais

“Ajudar a valorizar Coimbra e vencer esta vida amorfa”

Depois de dois mandatos a as-sumir a presidência da autarquia de Coimbra, entre 1990 e 2001, Manuel Machado regressa à vida política da cidade com “a vontade de ajudar a valorizar Coimbra e vencer esta vida amorfa, desin-teressada, com falta de espírito crítico”. Assim, o objetivo é “que a instituição municipal seja uma parte para empreender a mudan-ça que resolve os problemas”.

Nesse sentido, Manuel Macha-do apresenta algumas propostas para vencer essa crise, nacional e local, com a criação de empre-gas, estimulação de empresas, in-centivo de indústrias ‘high-tech’

e “i-ferrugem”, potencializar as entidades e associações da ci-dade, entre outras. Só assim, no entender do candidato socialista, “Coimbra tem todas as condições para ser uma cidade melhor”. To-davia, ressalva a necessidade de existir “um catalisador”. “Quere-mos que as pessoas que escolhem aqui viver o possam fazer com dignidade e para isso é preciso haver emprego, estabilidade e ter motivação para empreender em coisas novas”, clarifica Manuel Machado.

Não se poupando a críticas ao último executivo, o candidato so-cialista reconhece que há na ci-

dade “muitos problemas penden-tes”. “Por falta de articulação a nível da instância municipal exis-tem iniciativas notáveis que não são conhecidas”, critica Manuel Machado, ao acrescentar que um dos objetivos para a autarquia é “desafiar as pessoas a participar no projeto e conhecer a opinião, a vontade e a motivação de todos”. Quanto a perspetivas de resulta-dos eleitorais, o candidato não arrisca; ainda assim, clarifica: «a vontade é tudo fazer para fazer renascer a esperança nesta “en-cantada e fantástica Coimbra”, como dizia Antero de Quental».

ManuEl MaChado, Partido SoCialiSta (PS)“valorizar CoiMBra”

“Ser uma opção para os eleitores de Coimbra”

O atual vereador para o Des-porto e Lazer, Luís Providência, é o candidato pelo CDS-PP à au-tarquia de Coimbra. Desde 1997 que o Partido Popular não apre-sentava uma candidatura isolada à autarquia de Coimbra. Ainda assim, Luís Providência explica que “não há regra nenhuma em o CDS ir coligado ou não” e acres-centa que esta decisão foi tomada entre as duas comissões políticas concelhias dos partidos, que “não chegaram a um entendimento”.

“O que motiva a candidatura é o CDS apresentar-se a votos e ser uma opção para os eleitores de Coimbra”, justifica o candidato.

Também o contributo do CDS--PP nesta câmara serve de moti-vação, pois Providência considera que o seu partido contribui para “o enriquecimento da cidade em variadíssimos pontos e para o de-senvolvimento das freguesias pe-riféricas do concelho de Coimbra”.

Ainda sem apresentar o seu pro-jeto, sublinhando que esta apre-sentação será feita de igual forma para toda a comunicação social, Luís Providência adianta que o programa está a ser escrito com o contributo de pessoas de várias áreas desde a cultura ao despor-to, passando pelo urbanismo. Po-rém, o projeto do CDS-PP para a

autarquia vai apostar em todas as áreas, visto que a “CMC interfere na vida dos cidadãos em variadís-simas áreas, é muito abrangente essa atividade municipal”.

Quanto ao balanço do trabalho feito pela autarquia, a resposta é inequívoca: “não tenho falhas a apontar”. Já no que toca a pers-petivas de resultados eleitorais, Providência afirma: “queremos ter um resultado melhor possí-vel”. Ainda assim, ressalva que este resultado seria melhor do que aquele que o CDS na última vez que concorreu à CMC em 1997.

luíS ProvidênCia, CEntro dEMoCrÁtiCo E SoCial – Partido PoPular (CdS-PP)“viva CoiMBra”

“Dar resposta ao anseio dos cidadãos do concelho”

“Queremos uma democracia participativa que complemente a democracia representativa”. É desta forma que José Ferreira da Silva, o candidato à autarquia pelo recém-criado movimento Cidadãos Por Coimbra, apresenta este projeto. O formato inovador na cidade conta, para além de alguns nomes bem conhecidos da comunidade académica, com inúmeros cidadãos conimbricen-ses que aos poucos se foram asso-ciando ao movimento.

Ainda sem nomes definidos para a liderança da autarquia, foram feitos vários encontros/reuniões para se discutir várias

temáticas da cidade. “Dar res-posta ao anseio dos cidadãos do concelho”, dar-lhes voz e espaço para participarem “nos destinos da autarquia” é o grande objetivo deste movimento. Como o pro-jeto é novo, torna-se mais difícil prever qualquer resultado. Ainda assim, Ferreira da Silva arrisca: “temos uma expetativa franca-mente positiva” e acrescenta que um bom resultado eleitoral “é um resultado que permita participar ativamente na governação da au-tarquia”.

Transparência na gestão da câ-mara, promoção no investimento e criação de condições quer no

incentivo à habitação quer no que toca ao impulso de emprego “para que os jovens formados na Universidade de Coimbra cá per-maneçam”, e a estimulação e aco-lhimento dos produtores locais são algumas das ideias integran-tes do projeto do movimento para o concelho.

No que toca à gestão autárqui-ca, o candidato clarifica: “os cida-dãos não sabem que gestão é fei-ta”. E nesse sentido, dá o exemplo do Convento de São Francisco, ainda em fase de construção: “es-tamos a pouco tempo da inaugu-ração e ninguém sabe o que vai lá ser feito”.

JoSé FErrEira da Silva, CidadãoS Por CoiMBra“CoiMBra é a noSSa CauSa”

com João Valadão

com António Cardoso e Carolina Varela

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GraffiTis

CALAR AS PAREDES PELA FORÇA DA INCOMPREENSÃOaprovada no passado dia 5 de julho, a nova lei do Governo restringe a execução de ‘graffitis’ e outras formas de arte urbana a autores licenciados, mediante autorização da autarquia local. Um pouco por todo o país, vários são os ‘writers’ que questionam a falta de conhecimento dos legisladores em distinguir os diversos estilos. Por João Valadão

“Tudo começou com o ‘tag’, com uma assina-tura”, conta o ‘writer’

do Porto, Nuno Palhas, mais co-nhecido pelo seu nome artístico, Third. É nos comboios urbanos de Nova-Iorque que o ‘graffiti’ toma a sua primeira forma, numa his-tória que se caminha lado a lado com a cultura hip-hop.

A partir de estilos simples e de execução rápida, como a ‘tag’ ou o ‘bombing’, o ‘graffiti’ desenvolve--se e deriva para obras mais com-plexas. Third explica que esse é o lado mais “ilegal”, mas que essa é a raiz da ‘street-art’ que hoje encontramos nas ruas de muitas cidades. Como uma técnica que recorre ao ‘spray’ para exprimir uma arte, o ‘graffiti’ divide-se em “duas grandes nuances: o lado le-gal e o ilegal”, adianta o ‘writer’ de Mangualde, Zela. Para o artista, o lado legal permite a exploração artística do autor, ao mesmo tem-po que dá vida ao local público in-tervencionado.

Para a comunidade artística, a indefinição do ‘graffiti’ e de outras formas de expressão artística na rua é uma questão fundamental

necessária para perceber os limi-tes legais da execução da própria arte. Em Ponta Delgada, nos Aço-res, o Festival Walk & Talk apre-senta, anualmente, trabalhos de ‘street-art’, caracterizado por uma multiplicidade de estilos. O fun-dador do festival, Jesse Moniz, alerta para uma “fronteira muito ténue” entre aquilo que é consi-derado arte pública e vandalismo.

“A ‘street-art’ pode ser bem aceite pelas pessoas, pela abran-gência, o ‘graffiti’ é, na maior par-te, um código para quem sabe o que isso é”, comenta o ‘writer’ de Lisboa, Pedro Campiche, ou Aka-corleone, como é conhecido nas ruas. “O ‘graffiti’ começa por ser uma técnica com atos, mas ultra-passa isso, é uma comunidade”, adianta.

“Uma lei castradora”Aprovada no quinto dia do presen-te mês, a nova proposta de lei do Governo estipula que a execução de ‘graffitis’, picotagem e outras formas de expressão artísticas de rua sejam feitas exclusivamente mediante uma licença do autor e respetiva apresentação do projeto

à autarquia local. As coimas (já existentes) atingem agora va-lores entre os 100 e os 25 mil euros. Segundo o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, em conferência de im-prensa sobre as conclusões do Conselho de Ministros, a então aprovada e apresentada propos-ta de lei à Assembleia da Repú-blica é “a instituição de um regi-me contraordenacional”. Apesar do reforço das leis que limitam a liberdade artística dos ‘writers’, o ministro diz que o Governo não prende confundir “esse tipo de atividades com arte que se realiza também em espaço público”.

A comunidade artística critica, no entanto, os conhecimentos da-queles que irão ser os aprovado-res dos projetos apresentados às autarquias. “As pessoas responsá-veis não têm formação para isso e vai depender do seu gosto pes-soal, é subjetivo”, adianta Pedro Campiche. O ‘writer’ de Lisboa acredita que a aplicação da lei vai ter o efeito contrário: “o ‘graffiti’ ilegal e cru vai ficar mais forte, porque se não há legalização, a re-ação óbvia é o vandalismo”. Tam-

catarina carvalho

bém Jesse Moniz aponta defeitos à nova legislação: “é uma lei cas-tradora”. Para o jovem açoriano, as pessoas já se habituaram a ter “expressões presentes na rua” e a “validar a sua presença”.

Insegurança ou conforto?Sentimentos de insegurança cau-sados pelos ‘graffiti’ no seio das populações é uma das principais razões evocados pelo Governo. O também ‘writer’ de Lisboa, Hélio Bray, confessa que “esse senti-mento pode existir”, mas que não é “menos verdade” que com isso o executivo pense “ser mais fácil controlar [a população] ”.

A associação da execução de ‘graffitis’ e outras expressões em locais públicos a sentimentos ne-

gativos está diretamente relacio-nada com a dinâmica e objetivo do ato. Jesse Moniz ressalva, po-rém, que “não se pode ter a pre-tensão que tudo o que é espaço público é de todos, há que haver normas, consentimentos”. Pedro Campiche garante que a noção de que o ‘graffiti’ está associado ao crime é “retrógrada”. “As formas de expressão de arte urbana tra-zem cor, vida e pessoas às cida-des”, completa o ‘writer’ lisboeta.

Desassociado de uma compo-nente legal, o ‘graffiti’ pode voltar à simplicidade e multiplicação da prática do ‘tag’ e ficar desprovido da crítica política e cívica que o tem caraterizado. “A lei é apenas uma barreira mental, e a men-te pode ser livre”, conclui Hélio Bray.

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fUsinG

neste verão a figueira da foz não é apenas destino balnear. acolhe também um festival multidisciplinar impulsionado por jovens figueirenses, capaz de projetar a cidade no panorama

festivaleiro nacional - sem esquecer o que de melhor a cidade tem para oferecer. Por antónio Cardoso e Daniel alves da silva

Música, arte urbana, des-porto e gastronomia unem-se para o FUSING

Culture Experience. Entre 1 e 4 de agosto, a Figueira da Foz funde-se em experiências que transcendem os limites da própria cidade. O FU-SING é tudo isto. O conceito apre-senta-se como uma fusão, não só dessas quatro áreas, mas também “uma fusão muito grande com a ci-dade”, como afirma um dos mem-bros da organização do festival, Carlos Martins.

O evento surge da necessidade de colocar a zona centro no pano-rama cultural nacional, de “que-rer fazer alguma coisa” e mostrar o que de melhor anda a ser feito, acrescenta Carlos Martins, não só a nível local, mas também nacio-nal. A organização, constituída por um núcleo duro de jovens da Figueira da Foz, criou a associação cultural DoisTrêsTrês para que o festival fosse possível. Núcleo esse constituido por amigos, ligados à

música, às artes visuais, à gastro-nomia e ao desporto. Em colabo-ração com diversas entidades na-cionais, detentoras do ‘know how’ nas várias áreas, a equipa gere e articula as atividades e programa-ção do festival.

O projeto iniciou-se em setem-bro de 2012, já com reuniões pre-liminares a decorrer. “No início, o projeto não tinha esta dimensão”, confessa Carlos Martins. Contudo, à medida que os contactos foram sendo gerados, e o tempo avan-çava, a organização percebeu que poderia fazer “uma experiência única em Portugal”, congregando as diferentes vertentes do cartaz. Ainda em 2012, numa altura em que o projeto “já estava a ser fala-do”, decorreu o Criativa (Encontro de Criadores da Figueira da Foz), importante para compreender que “tipo de organizadores e agentes” culturais na Figueira poderiam ser contactados, acrescenta ainda o membro da organização.

Projetar a Figueira“Sempre defendi que a Figueira

necessita de ter um evento que a projete para fora”. Quem o afirma é o vereador da Cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz, An-tónio Joaquim Tavares, que alude à dinâmica cultural do município, “muito forte, mas muito virada para si própria”. O FUSING, pelas dimensões que está a ter, “começa já a parecer” ter alguma dimensão para o exterior, o que, refere ainda o vereador, é “muito importante”. A projeção que o festival obteve nos media nacionais – “é muito difícil passar essa barreira”, ga-rante o autarca – foi fruto de um “grande trabalho”. Carlos Martins assim o explica: “muitos contac-tos, muitas reuniões, muitos nãos, muitos sins, muitos talvez”. Acima de tudo não desistir e acreditar: “o lema sempre foi esse”, resume.

Contudo, a inexistência de um histórico da parte da organização do festival foi um dos grandes obs-

táculos à obtenção de patrocínios. “A grande dificuldade foi conseguir passar a certeza de que o FUSING ia avançar”, revela o organizador figueirense. O evento ia acontecer e era tal e qual como tinham proje-tado, adita. Outra dificuldade com que os iniciantes se deparam foi a falta de uma equipa bem definida: “as pessoas certas para as ativida-des certas”, já que o primeiro ano é “fulcral para o sucesso ou não do projeto”, remata.

Um festival local O festival teve em toda a sua elabo-ração uma preocupação de âmbito local ao integrar as suas atividades com a dinâmica e as atividades da própria cidade. Há patrocínios de empresas e estruturas culturais lo-cais, as atividades do próprio festi-val foram concebidas em simbiose com a cidade. As intervenções dos artistas de rua, criadas num clima de proximidade, onde o artista está a pintar sob olhar do públi-

co, ficarão depois patentes nas paredes da urbe; as aulas de surf, gratuitas, aproximam o público do evento, numa fusão que também acontece através de ‘showcookin-gs’ ou ‘workshops’.

A Figueira da Foz, enquanto ci-dade de média dimensão, e pela suas características topográficas, potencia a utilização de meios de transporte sustentáveis. Aprovei-tando esta particularidade urbana, a organização do FUSING preten-de “um evento que prime também pelo uso da bicicleta”, afiança Car-los Martins que espera que quem visite a cidade aproveite para “an-dar, passear, conhecer e ver o que a Figueira tem de melhor”.

Fusão a 4

catarina carvalho

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baLanço DEsPorTiVo

BALANÇO DESPORTIVO

AACANDEBOL

Embora sem títulos, o vice-presi-dente da Secção de Andebol, Marcos Alves, ressalva o trabalho da equipa de iniciadas femininas e dos seus téc-nicos, sobretudo na vertente forma-ção. Quanto ao balanço propriamen-te dito, o vice-presidente assume que “correu como se esperava desporti-vamente”. Contudo, ressalva: “entre algumas lesões e outros fatores, foi uma época satisfatória, com a exce-ção de alguns resultados por parte da equipa sénior masculina”.

Com uma direção “muito reduzi-da” nesta época que termina, Mar-cos Alves explica que em breve uma nova direção irá tomar posse. Ainda assim, os problemas persistem e “são recorrentes”, como classifica o vice--presidente. Entre esses problemas destacam-se a falta de apoio finan-ceiro, a exigência de mais horários de treino e ainda a necessidade de mais técnicos.

ATLETISMO

O panorama não é o melhor para a Secção de Atletismo. E quem o diz é o presidente da secção, Mário Rui: “a época desportiva que ainda não ter-minou não está nada famosa”. Face aos problemas económicos, a secção ficou sem vários atletas de renome, que se viram obrigados a sair, e que se traduziu numa ausência das com-petições nacionais coletivas, o que “não era normal”, explica Mário Rui.

“Foi uma época um pouco desas-trosa face ao que vínhamos a fazer nos últimos anos”, confessa o presi-dente, apesar de ressalvar o trabalho feito no setor feminino. A justifica-ção reside na falta de financiamento e assume-se o risco de a secção poder não continuar.

“A secção está muito limitada. Não há dinheiro e alguns atletas e treina-dores é que suportaram alguns en-cargos feitos pela secção nesta época desportiva”, lamenta Mário Rui.

BADMINTON

“Foi a melhorar época que tivemos nos últimos 30 anos”, orgulha-se o presidente da Secção de Badminton, Celso Baía, ao enumerar os vários tí-tulos, com destaque para Nuno San-tos, com o primeiro lugar conquista-do no campeonato nacional.

Com cada vez mais atletas e me-nos espaços para treinar, a próxima

época já se desenha e há a vontade de conquistar o título nacional co-letivo, que nesta época “fugiu por pouco”, segundo Celso Baía. Apenas com atletas formadas na Associação Académica de Coimbra, ou “prata da casa”, como lhe chama Celso Baía, os resultados conseguiram-se.

A falta de espaços para treinar as várias modalidades é recorrente e, por vezes, a conjugação de horários torna-se complexa e os seniores são obrigados a treinar “em horários im-próprios, quando os pavilhões estão livres”.

BASEBOL

O ano da secção de Basebol e Softball começa com o reativar da atividade. O presidente, Patrick Gomes, salienta que houve alguns problemas durante a época, nome-adamente a nível financeiro. No entanto, já conseguiram “diminuir a dívida e obter bastantes jogado-res, cerca de 15”, explica o presi-dente. Até agora, a secção já con-seguiu ganhar dois torneios e ficar em segundo numa taça. Há jogo no próximo dia 27. Para o ano, a sec-ção quer “organizar um torneio em nome da AAC e trazer ainda mais gente para ter uma equipa mascu-lina e feminina”, sublinha o presi-dente. Persiste a contrariedade da Federação “ter perdido o estatuto de entidade pública, não responder e não auxiliar as outras equipas. É esse o grande problema do basebol em Portugal”, lamenta Patrick Go-mes.

BASQUETEBOL

Tendo em conta as dificulda-des no início da época, ninguém esperava, segundo o presidente, Carlos Gonçalves, que a época corresse “muito bem”. Contudo, as comemorações do 85º aniver-sário possibilitaram que muitas pessoas se juntassem à secção e assim “recuperar o prestígio des-portivo e o da instituição”, expli-ca o presidente.

Quanto aos principais obje-tivos cumpridos, o presidente destaca o facto da equipa sénior masculina ter sido vice-campeã nacional, bem como o facto de três atletas seniores terem sido selecionados em sub-18 para a seleção nacional. No que toca ao setor feminino, as atletas sub-

BILHAR

No bilhar, a AAC foi a única a chegar a todas as fases finais por equipas individuais das moda-lidades em que estava inscrita: ‘pool’, ‘pool português’, ‘ameri-can pool’ e ‘snooker’. “Ninguém conseguiu fazê-lo até agora, con-seguiu a Académica”, orgulha-se o presidente da secção de bilhar, Fernando Salgado. O sentimento de final de época é positivo. Há a destacar resultados individuais “importantes, como a manuten-ção na divisão de elite de um atle-ta apesar de um corte de metade de divisão” e o reforço da equi-pa universitária para a próxima época – “de modo a que subam de divisão”, refere o presidente. Fernando Salgado acredita que na próxima época, a Secção de Bilhar, também recente, chegue aos 50 atletas.

16 foram campeãs distritais e conquistaram ainda duas taças. Quanto aos problemas, Carlos Gonçalves explica que “a falta de espaços para treinar e para jogar foi a maior dificuldade”.

BOXE

O balanço da época no boxe é também positivo, mas com a circunstância de ser a vertente de kickboxing que assegura os títulos. “No boxe estamos com um grande problema a nível de organização. Houve situações de demissões de direções e proble-mas entre regiões e federações”, explica o presidente, Miguel Sil-va. Têm havido “boicotes de as-sociações nas provas nacionais”, conta o presidente. Têm um atle-ta na seleção nacional de ‘kickbo-xing’ e outras provas que vence-ram. Contudo, a próxima época baseia-se “numa situação igual ou pior”, lamenta o presidente. Em causa está de novo a proposta de utilizador-pagador no Estádio Universitário de Coimbra (EUC). “Se calhar os treinadores vão-se embora. Se avançarem com isso, muitas secções vão começar a ser fantasma”, remata Miguel Silva.

CULTURA FÍSICA

A Cultura Física foi “campeã nacional no torneio de ‘power-lifting’ e recordista mundial”,

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baLanço DEsPorTiVo

o desporto é, desde há muito, um pilar fundamental das atividades da associação académica de Coimbra (aaC) e da cidade. apesar da conjuntura financeira adversa às práticas desportivas e ao dirigismo e os recentes incidentes de penhoras, a aaC continua a arrecadar títulos e a trazer reconhecimento para a academia. Por Liliana Cunha, ana Morais e Carolina Varelaassinala o presidente, Fernando Reis. Nos campeonatos europeus bateram dois recordes mundiais e quatro nacionais. Para a próxi-ma época o destaque vai para o campeonato do mundo na República Checa. Mas, antes disso, ain-da há campeonatos nacionais. Esta não é uma secção com dívi-das, garante o presiden-te. O problema de sangue novo também existe nesta secção: os “estudantes são como as ondas do mar. Vão e vêm. Não podemos ter uma média dos es-tudantes que temos aqui”, afirma Fernando Reis. “Somos vaidosos e queremos estar no topo”, atesta o diri-gente.

DESPORTOSMOTORIZADOS“O nosso problema é que quan-

do sairmos de lá não sabemos se temos alguém para nos substi-tuir”, sublinha a presidente, Cá-tia Morais. A falta de pessoas a integrarem a secção de Desportos Motorizados é o problema mais evidente. A época ainda só vai a meio - termina no final do ano civil. Até agora contam-se dois campeões nacionais e as ativida-des que realizaram – ‘track day’ e o ‘rally paper’, que “tiveram bastante adesão”. Para o próximo meio ano esperam-se o resultado dos campeonatos de pilotos, que acabam em novembro, e, em se-tembro, já está programada uma corrida de ‘karts’ em resistên-cia. “Não somos uma secção que consegue angariar patrocínios, e estamos dependentes financei-ramente da AAC”, finaliza Cátia Morais.

DESPORTOSNAÚTICOS

Na semana passada a Secção de Desportos Náuticos foi alvo de

mais uma penhora. Desta vez, a dívida corres-

pondia à Secção de Basquetebol.

O presi-dente da secção, Ri-

cardo Reis, está preocupado:

“este fim-de-semana temos o campeonato

de juvenis e simples-mente a secção tem

zero no saldo dis-ponível. Tem de ser

o meu dinheiro e dos treinadores a pagar o ga-

sóleo, os transportes e a alimentação”. O dirigente

diz que a situação não é no-vidade e revela que já se encontra agendada uma reunião com a Di-reção-geral da Associação Acadé-mica de Coimbra (AAC), com o in-tuito de que lhes devolvam os 1600 euros que faltam na conta da sec-ção. Quanto a perspetivas futuras, prevê-se para a próxima época, que a concretização da intenção de contratar um treinador profissio-nal pode instituir-se como um ca-minho inglório: “não sei se vamos conseguir. Temos um treinador em tempo parcial, e não podemos ir a certas provas internacionais, nem investir em barcos”, conclui. O panorama atual da secção não é nada favorável ao seu bom funcio-namento e urge alterá-lo.

FUTEBOL

A Secção de Futebol atravessou uma época positiva. O presidente, Rui Pita, conta que “os seniores se mantiveram na divisão de honra, a secção chegou à meia-final da Taça

e algumas equipas das camadas jo-vens chegaram às fases finais, apesar de não terem subido ao nacional”. Por alcançar ficou apenas a Taça da Associação de Futebol de Coimbra. Os problemas sentidos prendem--se, essencialmente, com a logística relativa às condições do EUC. Num ano que ficou marcado pela estabi-lidade financeira, projeta-se, agora, a próxima época. Fica o objetivo de “assegurar mais rapidamente a ma-nutenção nos seniores, pôr uma ou duas equipas das camadas jovens a disputar os nacionais e vencer a Taça da Associação de Futebol”.

GINÁSTICA

Uma época com um “saldo muito positivo”, em que as 90 vagas iniciais foram totalmente preenchidas e com resultados “fantásticos a nível distri-tal, nacional e internacional”, clarifi-ca a presidente da Secção de Ginásti-ca, Ana Bastos.

Já em preparação para a nova épo-ca, os títulos conquistados são recor-dados e servem de motivação: oito na totalidade (cinco nacionais e três internacionais), bem como os vários prémios que distinguiram atletas da secção ou até apuramentos para campeonatos internacionais como o World Games.

Com uma grande procura, o espa-ço da secção mostra-se “manifesta-mente insuficiente” para o decurso normal dos treinos. Ana Bastos ex-plica: “embora a secção procure fazer pequenas melhorias nas instalações, a degradação das mesmas é eviden-te”.

HALTEROFILISMO

O presidente da Secção de Halte-rofilismo, Bruno Almeida, faz um balanço bastante positivo da época. Obtiveram vários títulos de campe-ões nacionais, masculinos e femini-

nos, um campeão do mundo e um terceiro lugar no campeonato nacio-nal de equipas, realizado no ano pas-sado. A secção atravessa uma situa-ção financeira complicada. A falta de apoios é o que justifica a necessidade do “esforço da secção e, por vezes, também da parte dos atletas para dar a volta a algumas questões”, observa o presidente. Bruno Almeida aponta, ainda, o principal problema sentido: “a possibilidade do estabelecimento do estatuto de pagador-utilizador do pavilhão onde treinamos será uma dificuldade”. Para a próxima época fica o desejo de fazer melhor.

JUDO

A revalidação do título nacional de equipas seniores é o destaque feito pelo presidente da Secção de Judo, Rui Fonseca, para o balanço do tra-balho desenvolvido pela secção. A conquista de resultados significati-vos em equipa a nível nacional e a participação a nível individual em competições estrangeiras são moti-vos de orgulho para as equipas técni-cas da secção.

“Continuamos a ter campeões nacionais e atletas em todos os es-calões, com participações no cam-peonato da Europa e mundiais”, lembra Rui Fonseca. Ainda assim, os esforços vão já para a próxima época em que se nota a vontade de “tentar arrecadar resultados de excelência”.

Apesar dos problemas “transver-sais a todas as secções”, como expli-ca o presidente, a Secção de Judo en-contra-se a preparar “o maior evento de judo a nível nacional”, a acontecer em outubro: o estágio de judo da Académica.

KARATÉSegundo o treinador José Lemos,

as várias atividades da secção de Ka-raté permitiram que esta época fosse vantajosa. Alcançaram o primeiro lu-gar na liga de ‘karaté-shotokan’ e um vice-campeão na Federação Nacional de Karaté. José Lemos acredita que os objetivos foram alcançados – “são os melhores resultados que, a nível nacional, era possível atingir”. Des-taque para o sexto lugar de um atleta nos campeonatos europeus em Bel-

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baLanço DEsPorTiVo

grado, Sérvia, e ainda para o torneio organizado na Queima das Fitas que trouxe cerca de 250 atletas nacionais e estrangeiros. “A época encerra em grande”, analisa o treinador. Ainda com alguns problemas financeiros por resolver, a secção já tem dinhei-ro depois de dois anos sem receber e o número de praticantes mantém-se.

LUTAS AMADORAS

O presidente da secção, Adilson Brito, explica que a época, que só termina em janeiro, não está a ser tão produtiva como o habitu-al. “Não só pelos poucos fundos de que neste momento dispomos para competição, mas também pelo facto de a modalidade es-tar muito concentrar em Lisboa, Algarve e Braga, o que torna os custos de competição altíssimos”, ressalta. A necessidade de um in-vestimento nas infraestruturas, no que toca ao EUC, a par da di-minuição do número de atletas a integrar a secção, são dois dos problemas que, de momento, mais afetam a secção. “Enalte-cer o bom nome da Associação Académica de Coimbra e honrar a camisola” são os objetivos que Adilson Brito deixa.

NATAÇÃO

Ainda vai haver mais duas com-petições nacionais para esta secção até ao final da época. O ano começou com o receio de que a crise pudesse refrear as inscrições na formação de atletas, mas o presidente, Miguel Abrantes, considera que se excede-ram “as expetativas”. Houve vários pódios a nível nacional e, inclusive, nos campeonatos nacionais de mas-sas, onde a Académica foi campeã de clubes. Desde chamadas à sele-ção de atletas e um décimo lugar no campeonato do mundo de triatlo, a

natação teve mais gente este ano. A próxima época já está alinhavada e nos moldes desta. “Alguns técnicos vão sair, mas temos massa humana para colmatar eventuais saídas e es-tamos organizados”, assegura Miguel Abrantes. Resta ver como é que as “pessoas vão reagir nas inscrições em setembro”, conclui.

PATINAGEM

Com uma média de cem atletas distribuídos por dez escalões, a Sec-ção de Patinagem, na voz do diretor desportivo, Rui Freire, teve “uma época satisfatória”. Com a participa-ção em todos os escalões existentes na modalidade, admite que os resul-tados alcançados “foram satisfató-rios”.

Os juniores venceram o campe-onato regional e a equipa sénior fe-minina conseguiu o melhor lugar de sempre da história da secção. São estes os resultados destacados. En-tretanto, haverá uma nova direção a tomar posse.

Quanto a queixas, a falta de espaço é a mais notada, numa altura em que a secção tem uma grande procura. Ao que acresce a falta de condições, como o facto de chover no pavilhão em que são realizados os treinos. E como conta Rui Freire, houve mes-mo momentos em que se tiveram de interromper os treinos.

PESCA DESPORTIVAA época da Secção de Pesca

Desportiva vai agora a meio, com perspetivas de subida aos nacio-nais. O presidente, Humberto Marques, conta que a época está a ser positiva: “tivemos algumas provas que não nos correram muito bem, mas, em contrapar-tida, outras que correram otima-mente”. Ainda que este seja um desporto um pouco caro, o ano está a ser marcado pela entrada

de atletas de toda a cidade. Com o objetivo de voltar a colocar a As-sociação Académica de Coimbra nos nacionais, o presidente não deixa de falar do estado finan-ceiro que afeta a secção. “A asso-ciação tem-nos ajudado, mas não tem chegado para as despesas, temos metido dinheiro do nosso bolso, enquanto esperamos por verbas que ainda não chegaram”, relata.

RADIOMODELISMO

A meio da época, a Secção de Radiomodelismo conta já com uma Taça de Portugal em todo o terreno e com dois pilotos no campeonato da Europa. “Os ob-jetivos desta época estão a ser cumpridos, mas podiam ser me-lhores se tivéssemos mais pra-ticantes”, lamenta o tesoureiro, Carlos Lobo. Os praticantes dimi-nuíram, esta época, em cerca de 50 por cento. Os elevados encar-gos com a manutenção do autó-dromo, as novas regras do EUC, o desaparecimento de antigos patrocínios e a diminuição das verbas do Conselho Desportivo são entraves com que a secção se tem deparado. O ano ficou, ain-da, marcado pela criação do es-tatuto de sócio-patrocinador que não pratica mas colabora com uma quota de 10 euros, “que vai suportando as despesas diárias”, observa Carlos Lobo.

RUGBY

A Secção de Rugby arrecadou o título de campeã nacional com as equipas femininas e mascu-linas, no campeonato nacional universitário. Em declarações ao Jornal A CABRA no ano passado, o presidente da Secção de Rugby, Jaime Caravalho, determinava os objetivos que moviam a sec-ção para a época deste ano e que parecem ter sido assegurados: “o aumento do número de atletas e a colocação de alguns deles nas seleções”. Dois jogadores foram convocados para o último está-gio da Seleção Nacional. A equipa feminina sagrou-se tetracampeã de rugby de sete sem nenhum ensaio sofrido em todas as provas realizadas nos Campeonatos Na-cionais Universitários.

TAEKWONDO

A Secção de Taekwondo tem desenvolvido o trabalho, nos úl-timos anos, na senda de melho-res resultados, com uma forte aposta na formação de técnicos. A formação dos treinadores foi o ponto mais relevante do trabalho desenvolvido no seio da secção no ano passado. Em entrevista ao Jornal A CABRA, no ano pas-sado, a presidente da secção, Ana Lopes, assegura que este tipo de formações teve um impacto mui-to positivo “numa excelente épo-ca”.

TÉNIS DE CAMPO

A Secção de Ténis de Campo en-contra-se a disputar o campeonato nacional de sub-14, no qual o mem-bro da direção da secção, Eduardo Cabrita, acredita que “a equipa femi-nina poderá ser vencedora”. A nível regional acumulam-se as vitórias; em competição nacional contam-se duas atletas e, numa abrangência mais internacional, destaca-se a re-alização de dois torneios internacio-nais. Setembro, outubro e novembro são o ponto alto de toda a competi-ção, altura em que se disputam os campeonatos nacionais de seniores. Face aos parcos recursos financeiros, o dirigente determina: “os balões de oxigénio vêm dos empréstimos e de pessoas que vão competir e recebem apenas quando o dinheiro chega”. A aposta da época recai no campeonato de sub-14 feminino e no campeonato nacional, de masculinos e femininos.

TIRO COM ARCO

A atravessar uma das épocas mais paradas do tiro com arco dos últimos tempos, a secção contou este ano com menos uma prova do que o ha-bitual. “Costumávamos fazer a prova para o Campeonato Nacional de Caça e o terreno onde fazíamos a prova foi alterado pela construção de um novo troço de estrada”, conta o presidente, Manuel António Silva, sobre o que costumava ser o principal evento da secção. A atividade com mais visibi-lidade do ano foi uma demonstração na Escola Secundária José Falcão. O presidente faz um balanço positivo do ano e destaca a entrada de novos participantes. Para o ano, fica o obje-tivo de voltar a organizar a prova na-cional para o Campeonato de Caça, mais demonstrações e uma ativida-de centrada no plano das atividades desportivas da Queima das Fitas.

VOLEIBOL

“Temos a dimensão que con-seguimos ter, não podemos cres-cer mais porque não temos para onde”, explana o presidente da Secção de Voleibol, Manuel leal. Sem problemas “de maior”, a grande preocupação reside na in-certeza da próxima época, no que concerne à utilização do EUC. Segundo Manuel Leal, o próximo ano será “uma incógnita”.

No que toca ao balanço, o tom é mais positivo, visto que os ob-jetivos propostos para esta época foram atingidos: a manutenção das equipas seniores masculinas e femininas na segunda divisão e a conquista do vice campeonato universitário masculino e femi-nino.

XADREZ

Com vitórias a nível nacional e internacional, a época que ter-mina em setembro conta com um aumento no número de atletas (cerca de 250), todos os títulos distritais e uma participação nas Olimpíadas. A Super Taça fica por alcançar – único objetivo não atingido. Pela frente ainda estão duas provas e os campeo-natos nacionais. “Todos os anos conseguimos pódios em vários escalões, este ano vamos levar 13 participantes e espero vir com bastantes prémios para casa”, conta o presidente, Bruno Pais. O presidente aponta como proble-mas principais questões finan-ceiras, dificuldades em manter os estudantes universitários focados num clube com mais de 200 atle-tas e em organizar todas as pro-vas em várias partes do país, em simultâneo.

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FErnando MarQuES • o FotóGraFo “ForMidÁvEl”

A formidável história do mundo contada por uma lente “a Vida É formidável” é a exposição patente na Galeria de santa Clara até setembro, com o espólio do co-nhecido fotógrafo da cidade, fernando Marques – “formidável”, se faz favor. faz-se a evocação de uma das “personagens” da baixa, que captou mais de meio século de história no país e no mundo. Por ana Duarte

Pelas ruas da Baixa, Fernando Marques deambulava, cau-teleiro de profissão. Durante

muitos anos, era o conhecido ven-dedor de lotarias que, aqui e ali, parava para dois dedos de conversa com quem o quisesse. Mas por de-baixo do casaco qe habitualmente vestia, trazia sempre a sua compa-nheira do quotidiano: a máquina fo-tográfica. É através da sua lente que hoje se pode revisitar a Coimbra do passado, desde as festas académi-cas, a famosa Crise Académica de 1969, passando por algumas tragé-dias como incêndios e até jogos da Briosa.

Nascido por cá, em setembro de 1911, Fernando Marques era uma referência – e ainda o é. A fotografia era um passatempo que lhe valeu o reconhecimento e o respeito com que é retratado hoje, assim como a sua personalidade. “Não era fácil. Ouvia mal, era desconfiado... mas era uma pessoa adorável”, con-ta Mário Martins, que o conheceu aquando da sua entrada para o Di-ário de Coimbra (DC), por volta de 1979. Na altura (e até antes), Fer-nando Marques, para além da venda das cautelas, colaborava com diver-sos jornais da cidade como fotógra-fo. Nas redações de jornais como o DC, Jornal de Coimbra (extinto em 2004), e até o jornal A Bola e o Re-cord, fez amizades duradouras que olham para trás com saudosismo e respeito para com aquele que se au-todominava de “Formidável”.

“Fernando Marques ofereceu a sorte grande a Coimbra, ele que era vendedor de lotarias”. É assim que Jorge Castilho, jornalista e funda-dor do Jornal de Coimbra, olha para a importância do trabalho d’O For-midável para a cidade. Mas Fernan-do Marques não imortalizou apenas Coimbra pela sua objetiva; “fotogra-fou Coimbra, a região centro, o país e o mundo”, explica Jorge Castilho.

A paixão pelo desporto e o espetáculo“O futebol e o espetáculo foi um pretexto para trabalhar muito de perto e ter afinidades profissionais com o Fernando”, relembra Sansão Coelho, jornalista. Também cami-nhou ao lado d’O Formidável, em várias reportagens e entrevistas – onde era semper captado pela lente de Fernando Marques. E essa capta-ção, que na altura era “permitida”, era vista por Sansão Coelho como um “miminho” que o fotógrafo ofe-recia ao repórter. Amália Rodri-gues, Marisol, Sylvie Vartan foram alguns dos nomes entrevistados por

Coelho e captados por Fernando Marques. E numa época em que a nomenclatura de “fotojornalista” ainda não era conhecida, o Formi-dável já se autodominava como um. “Chegou a dizer-me que era um fo-tojornalista. Tinha sentido de opor-tundidade e de atualidade”.

No panorama nacional, era co-nhecido por acompanhar sempre a seleção nacional nos campeonatos do mundo e o Benfica. Os episódios dessa altura são muitos e bem sabi-dos pelos seus amigos: Mário Mar-tins relembra “aquela vez em que o Formidável foi com a seleção a Itá-lia e não tinha dinheiro para regres-sar”. “Acabaram por ser os jogado-res a cotizarem-se para lhe pagar o bilhete de regresso de comboio”, acrescenta.

Foi nessas andanças que Fernan-do Marques reuniu trabalhos únicos na área da fotografia e onde rivali-zou amigavelmente – sempre – com fotógrafos conhecidos como Nuno Ferrari, do jornal Record, e Varela Pécurto. Foi aí, também, que, na opinião de Jorge Castilho, o Formi-

dável fez o seu melhor trabalho: “no Campeonato do Mundo de 1966, em Inglaterra, quando podia ter feito a fotografia da sua vida [ter fotografa-do o Eusébio em lágrimas a sair do estádio], ele preteriu a tal fotografia para ir acarinhar o Eusébio”. Por-tanto, “o mais notável trabalho que ele fez foi o que ele não fez”, grace-ja Castilho. Nas palavras de Mário Martins, “é a fotografia que melhor mostra o que era o Formidável”.

Fernando “Omnipresente” MarquesO facto de não ter um horário a cumprir proporcionou-lhe a hipó-tese de fotografar livremente e de poder estar (quase) sempre em todo o lado. “Era um bocado omnipre-sente, estava sempre em tudo e em todas as situações”, caracteriza San-são Coelho. Também foi graças ao despudor que tinha, qualidade irre-vogável que lhe é sempre reconhe-cida, que conseguia grandes opor-tunidades de recolha de imagens mas que, por vezes, poderia levar a alguma insegurança, como foi caso

vivido com Jorge Castilho: “ficámos num incêndio, nos inícios dos anos 70, cercados pelas chamas. Era ain-da um jovem repórter, ele já era um fotógrafo calejado, e aí tivemos que nos apoiar um ao outro para nos acalmar”.

Para além da omnipresença que lhe era característica, também era multifacetado. “O Formidável en-trava nos cafés, sentava-se, punha o seu ‘papillon’ quando era necessário e desdobrava-se. Adaptava-se facil-mente e tinha o despudor de entrar em todos os sítios e lugares”, explica Sansão Coelho. Não há registo de se ter dado mal por isso, mas, quiçá? A verdade é que hoje a Imagoteca da Câmara Municipal de Coimbra é composta por um enorme acervo fotográfico da sua autoria, onde, segundo Jorge Castilho, “é possível reconstituir a história da cidade e dos seus cidadãos”. Isto tudo pela lente de Fernando Marques. “Pode-mos considerar de alguma maneira que ele é um historiador que faz his-tória através das imagens”, diz o ex--diretor do Jornal de Coimbra.

Mais reconhecimentomerecidoApesar disso, Sansão Coelho la-menta que a cidade não tivesse retribuído mais: “foi uma pessoa que devia ter sido mais acarinhada em vida pelo seu talento e pelo seu mérito”. No entanto, quando se fala n’O Formidável, quem fala, fá-lo com respeito e reconhecimento – pela pessoa e pelo profissional que foi.

Fica a dúvida da origem do nome “Formidável”. “Muitas vezes o que acontecia é que a foto é que era formidável, e vinham com esse carimbo”, tenta explicar Sansão Coelho, ainda na incerteza. E que, sem qualquer presunção, Fernando Marques falava assim de si próprio.

Em homenagem (entre as mui-tas que lhe foram feitas desde a sua morte, em 1996), o poeta e políti-co Manuel Alegre evoca-o como “o fotógrafo de Coimbra”, com uma visão única: “Há uma cidade que só ele vê/e é mais certo que só ele capta/o insondável(...)”. Assim era o Formidável.

A famosa fotografia d’ O Formidável abraçado a Eusébio, no Mundial de Futebol de 1966

D.r.

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PErfiL

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foTorrEPorTaGEM

CANDEEIROS HÁ MUITOSPresentes em quase todas

as ruas, avenidas ou rue-las; integrados na pai-

sagem urbana ou demasiado rústicos perante os contextos citadinos, iluminam um pouco tudo por toda a cidade. A verda-de é que candeeiros há muitos.

Para dar luz a qualquer re-canto da urbe, desde as ruas principais aos becos mais re-fundidos, quer-se que deem luz a quem passa e ao que por lá permanece. Guardiões e per-manentes testemunhas do que

se passam em Coimbra, de dia apreciam as histórias e à noite contam-nas, emanando a luz que há em si para quem deam-bula. Para quem não conhece a cidade, os candeeiros podem ser um excelente guia, condu-zindo-nos por um percurso cer-to e previamente determinado.

Dum ponto de vista mais me-tafórico, as luminárias presen-tes de norte a sul do país bem como do litoral ao interior, po-dem ser uma espécie de amu-leto. Perante a atual situação

política portuguesa, pedem-se candeeiros que nos guiem e que nos conduzam a uma política desprovida do obscurantismo financeiro e marcada pela luz de dias melhores e sem pen-samentos puramente econo-micistas. Voltando de novo a Coimbra, também a cidade pre-cisa dessa iluminação, já que as autárquicas estão aí à porta. E agora que se é Património Mundial da Humanidade há que conservar essas luzes.

A.M.

ana MoraiS

inÊS MartinS

ana MoraiS

inÊS MartinSana MoraiSinÊS MartinS

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foTorrEPorTaGEM

rafaela carvalho

inÊS MartinS

inÊS MartinS

inÊS MartinS

inÊS MartinS

inÊS MartinS

rafaela carvalho

Daniel alveS Da Silva

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UnEsCo

Por entre becos e ruelas, cru-zam-se as linhas escorreitas que dão volumetria à Alta

coimbrã. Erguem-se edifícios que perpetuam a memória de vultos incontornavelmente enraizados na história do país. Sobressaem nomes como Eça de Queiroz, José Afonso, Manuel Alegre, entre mui-tos outros. Apontam-se vestígios da tradição e da história que hoje classificam a Alta como Património Mundial da Humanidade.

O passado funde-se com o pre-sente, não apenas nos edifícios que resistem, mas nos rostos envelheci-dos de quem reside lado a lado com a sagacidade da juventude. O re-trato que conquistou o galardão da UNESCO não revela a degradação e o desleixo que mancham a imagem difundida.

Fruto deste reconhecimento, podem emergir riscos relativos ao aumento do valor de mercado dos imóveis que constituem a Alta. O diretor comercial do setor imobiliá-rio da cidade, Nuno Quitério, deter-mina que “pode existir a tendência dos proprietários terem uma atitu-de de especulação relativamente ao real valor do imóvel e aumentarem os preços”.

Ainda que o risco de especulação seja uma realidade, a conjuntura atual do país pode vir a contrariar esta situação. “O trajeto normal em Portugal é uma redução do patri-mónio edificado, que poderá amor-tecer este efeito de aumento do valor das propriedades”, ressalva o vereador para a Administração e Gestão Urbanística da Câmara Mu-nicipal de Coimbra, Paulo Leitão.

O curador da candidatura da Universidade de Coimbra, Alta e Rua da Sofia a Patri-mónio da Humani-dade, Raimundo Mendes da Sil-va declara que, “face aos níveis atuais de ocupação da Alta e da Baixa, o fenómeno da even-tual especulação não será plausível a curto prazo”. Atribui à Câ-mara a necessidade de acompanhar a evolução do mer-cado e desenvolver

mecanismos para controlar estes fenómenos.

Com a classificação da UNES-CO, Coimbra vê a sua visibilidade exponenciada a nível mundial, em termos turísticos. Torna-se, assim, expectável que, do ponto de vista económico, haja um aumento do interesse de investidores. “O reco-nhecimento é, ‘à priori’, uma mais--valia económica, mas não basta desenvolver a atividade turística como atividade económica”, asse-vera Paulo Leitão. “Se o território não for habitado, não vale de nada este reconhecimento”, determina.

“Interessa mostrar uma cidade para turista ver, mas do ponto de vista das condições das pessoas que vivem na Alta, vejo pouco ou nada a ser feito”, afirma o residente da república dos Galifões, Mário Go-mes. Trata-se de uma zona da cida-de que abriga “repúblicas e idosos, com contratos bastante antigos e que neste momento correm o risco de ser despejados”, alerta.

Pedaços de históriaÉ em algumas das ruas mais carac-terísticas da cidade que se edificam as repúblicas como apontamentos de tempos idos. Ao longo dos anos, as marcas de centenas de estudan-tes constroem as paredes das casas que atualmente possi-bilitam uma alternativa de habitação mais econó-mica. São o ponto de encon-

tro do tempo. São registos vivos de uma história que corre o risco de ser perdida.

“Estamos a patrimonializar uma cidade, em particular a área da Alta, mas ao mesmo tempo está-se a deixar que morram [as repúbli-cas] ”, acusa Mário Gomes. Ape-sar da sua importância em termos histórico-culturais, a generalidade das casas apresenta um elevado grau de degradação, potenciado por um alheamento, quer da parte dos senhorios, quer das entidades responsáveis, de que se queixam os repúblicos.

“É uma hipocrisia gigantesca. Tanto a reitoria como a Câmara Municipal de Coimbra já mostra-ram uma posição de descargo com as repúblicas e não há nenhum car-taz da candidatura que não tenha uma fotografia para mostrar que as repúblicas são muito bonitas”, não hesita o repúblico dos Solar Resi-dência dos Estudantes Açorianos, Igor Constantino.

As repúblicas abrangidas na can-didatura enfrentam várias adversi-dades, que con-dicionam a sua sobrevivência. As repúblicas que povoam as ruas

da Alta podem defrontar-se com as possíveis implicações especulati-vas advindas da patrimonialização. Mário Gomes acredita que, “com a especulação imobiliária, o valor das casas será acrescido, o que recai nas rendas, que grande parte das repú-blicas já viram aumentadas”.

O aumento das rendas insere-se no Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU), que permite, num período transitório de cinco anos, um aumento de 1/15 avos do valor patrimonial da casa, sendo que pas-sados dois anos do período de tran-sição, a renda pode ser submetida a valores de mercado.

Grande parte das repúblicas já atingiu valores de renda quase im-praticáveis. O repúblico dos Gali-fões chama a atenção para a situ-ação da república 5 de Outubro. “Tiveram um aumento brutal de renda, na medida em que pagavam menos de 100€ e neste momento a renda vai passar para quase 800€”, pormenoriza.

Hipocrisias à parteNa opinião de Igor Constantino, cabe à Câmara Municipal e à Uni-versidade um papel de salvaguarda das repúblicas. “Estamos em po-sição para denunciar e não deixar que haja uma cerimónia em que não digamos que eles são uns hipó-critas”, assegura.

O residente no Solar dos Açoria-nos assume que da parte dos repú-blicos pode também existir alguma falta de abertura. Acrescenta que “a maioria são estudantes pobres que até agora têm sido mal representa-dos por um Conselho de Repúblicas que é uma ditadura da minoria”.

A criação de uma lei capaz de proteger as repúblicas e o novo con-texto da Alta, do NRAU, é a solução apontada por Igor Constantino e partilhada por Raimundo Mendes da Silva. “O facto de as repúblicas estarem como património imaterial na candidatura dá-lhes outra força, a elas e às entidades públicas, para reclamarem um estatuto algo dife-renciador”, conclui o curador.

precisa-seEstatuto diferenciador

o recente reconhecimento da alta como Património da Humanidade levanta questões económicas que poderão afetar aqueles que por lá vivem. as repúblicas, a braços com o novo

regime de arrendamento Urbano, assumem um lugar de destaque na discussão.Por antónio Cardoso e Carolina Varela

rafaela carvalho

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16 de de 2013 | Terça-feira | a cabra | 15

aMoLaDor DE TEsoUras

Um homem atravessa Portugal na sua querida bicicleta... e assobia!a sua pedra de amolar tudo afia. alicates, facas, tesouras de costura ou de podar. antónio Loureiro, amolador há mais de trinta anos, faz de todo o objeto de corte o seu ganha pão. isto enquanto percorre o país de norte a sul a “dar música” aos clientes que começam a rarear. Por rafaela Carvalho

Corre o boato de que vem de Leiria, mas há quem diga que é de Pombal. Alguns acre-

ditam que foi Viseu a cidade que o viu nascer e outros que juram a pés juntos que é mesmo de Coimbra. A verdade é ninguém sabe ao certo de onde vem.

Nasci em Montemor-o-Novo. O meu pai também é alentejano e a minha mãe é de Grândola. Vivi aqui em Coimbra uns tempos, com o meu pai, quando era miúdo, mas sou alentejano.

De uma coisa todos têm a certe-za: António Loureiro, o amolador de tesouras, traz a chuva. Assim que as pesadas nuvens cinzentas tapam o sol e as pequenas gotas se precipi-tam sob o solo, é certo vê-lo atraves-sar ruas e ruelas na sua bicicleta. O som do seu assobio, tão caracterís-tico, estende-se como o vento sobre a cidade chamando os clientes para amolar tesouras e alicates ou afiar facas e outros objetos de corte, bem como arranjar varetas de guarda chuvas ou até panelas.

Antes, o meu pai e o meu avô só andavam nesta profissão de inver-no. Aparecia muito mais material, principalmente chapéus-de-chuva. De verão iam para a apanha do

tomate, à ceifa do trigo ou para a vindima. Lá ganhava-se mais di-nheiro do que nisto. E depois no in-verno regressavam. É o que ele me conta a mim e o que eu sei. É por essa razão que as pessoas dizem: “lá vem o manda chuva!”. Hoje em dia eu faço isto o ano inteiro. Tra-balho todos os dias e nem todos os dias chove. [liberta uma gargalhada sonora e pergunta]. Há alguém que mande vir chuva? Há alguém que mande no tempo?

António Loureiro tem hoje cin-quenta anos. Desde os catorze que faz da arte de afiar tesouras a sua vida e da pedra de amolar a sua fon-te de rendimento. À sua conta são mais de trinta anos a pedalar e a as-sobiar, mas esta é uma tradição que já vem de família.

Comecei atrás do meu avô. É profissão de família. Antes era ape-nas uma rodinha com um pedal. Depois como o meu pai também era amolador passei a acompanhá-lo. Agora com cinquenta anos também já não tenho hipótese de mudar. Não sei fazer mais nada, e a bem dizer ler e escrever também não sei. Quem é que quer dar trabalho a um velho? Só se fosse para uma fábrica de amolar tesouras. Mas se não há

trabalho para os jovens, imagine--se agora para um homem de 50 anos sem a escolaridade mínima, sem nada. Nunca tive hipótese de estudar. Também gostava de saber ler e escrever, mas naquela altura os pais queriam que andássemos com eles. Não tínhamos morada certa, parávamos num sítio sete ou oito dias, e noutro mais uns tantos. Somos sete irmãos e nenhum é da mesma cidade.

A vida itinerante ainda hoje se mantém e António Loureiro passa longos períodos sem conviver com a família. Atravessa Portugal de norte e sul e não raras vezes passa os fins--de-semana, ou até as principais fes-tividades, longe de casa.

Tenho uma carrinha onde meto a bicicleta e durmo lá dentro. Faço tudo, de aldeias a cidades. O Alen-tejo está deserto e uma pessoa lá não ganha para comer, nem para as despesas. Vou de Coimbra a Aveiro, Espinho, Póvoa de Varzim, Viana do Castelo, Valência e volto por trás direito a Chaves, Vila Real e finalmente volto a casa. Depen-dendo do trabalho fico até dois dias numa cidade. Como isto já é tão ro-tineiro, já temos zonas definidas. A parte mais difícil é andar sempre a

assobiar e não aparecer nada. Nem se imagina as horas que por vezes ando por aí sem aparecer uma peça para eu trabalhar. Uma pessoa co-meça a ficar esmorecida. Ando eu a dar música a estas pessoas, e elas não me dizem nada!

Mas nem sempre é assim… Esta Páscoa não a passei com a

minha família, passei-a em Lamego a trabalhar. E uma senhora cha-mou-me. Estava a chover muito no dia de Páscoa e ela diz-me: “então é dia de Páscoa e você anda a traba-lhar?” Eu disse-lhe: “claro, tenho de ganhar para comer.” Ao que ela me responde: “tem que ganhar para comer, então venha cá”. Levou-me para casa dela e obrigou-me a estar ali a comer com a família no dia de Páscoa. Tive lá umas duas horitas com ela. Deu-me um casaco e uma camisa, tudo maravilhoso. São coi-sas assim que guardamos na me-mória.

Em Portugal os amoladores de te-souras são uma profissão em vias de extinção. Os clientes começam a es-cassear e os poucos que ainda apro-veitam os seus serviços são idosos.

Os jovens agora compram coi-sas para mandar fora e a maioria não cozinha. Ainda há alguns que

têm curiosidade, mas a maioria dos clientes são as senhoras idosas com as suas tesouras. Todas gostam de ter uma tesourinha afiada e as alentejanas são de mais, se não ti-ver uma caixinha da costura... Uma tesoura bem afiada, se for cuidada, dá para três ou quatro anos.

Porém, tão grave quanto a falta de clientes é a diminuição destes vendedores ambulantes. António Loureiro não conhece mais que oito. Um deles, seu irmão. Como o pró-prio afirma, é uma profissão que dá para comer e beber, mas mal chega para as despesas.

Tenho filhos mas eles não que-rem seguir com isto. O mais velho, que é informático, ainda me acom-panhou duas vezes, mas diz que não quer. Ele tem razão, mas aprender não custa. O mais novo não que ain-da é pequenito, mas o mais velho devia saber fazer isto. Um dia pode a vida voltar-se ao contrário. Até porque as pessoas em ganhando fome são obrigadas a fazer coisas que não querem fazer. E era uma coisa que ele podia orgulhar-se. Eu gosto desta profissão. Quando trato de uma faca, de um chapéu ou de qualquer outra coisa é com todo o carinho.

antónio lourEiro • aMolador dE tESouraSrafaela carvalho

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16 | a cabra | 16 de julho de 2013 | Terça-feira

MaTa naCionaL

Por onde a foca se esconde o maior eucalipto da Europa, uma espécie única de salamandra na Península ibérica e uma foca lendária, com segundas intenções. a pouco mais de cinco quilómetro do centro de Coimbra estende-se a Mata nacional de Vale de Canas, que começa agora a ver o resultado dos esforços de recuperação após o incêndio de 2005. Por João Martins. fotografias de rafaela Carvalho

A pouco mais de cinco qui-lómetros do centro de Coimbra, no seguimento

da estrada do Tovim, chegamos a uma das matas nacionais locali-zadas na cidade. A Mata Nacional de Vale de Canas, com cerca de 16 hectares, está inserida nas fregue-sias de Santo António dos Olivais e Torres do Mondego. Quase em anexo, a povoação do Picoto dos Barbados partilha a sua área por dois espaços: um, mais nobre e ajardinado, e outro que é carac-terizado pela cobertura verde das várias espécies de árvores que atualmente compõem a mata.

De início, a mata desempenhava uma tapada de caça para a coroa portuguesa, sendo ainda hoje pos-sível ver as fundações do que se-ria o “pavilhão de apoio” à caça, e era composta essencialmente por vegetação espontânea. A neces-sidade de obras nas margens do Mondego, a fim de evitar as cheias do rio, levou a que o estado por-tuguês no século XVII a adquiris-se. A mata, “que tinha aqui bons pinheiros”, revelava-se como um local ideal para a exploração de madeira para as ditas obras, rela-ta António Ribeiro, o vigilante da

natureza responsável. Nessa altu-ra “era um terreno limpo, porque se aproveitaram os pinheiros, e não havia a preocupação que hoje temos com a conservação da natu-reza”, explica. Ainda nessa época, os interesses da universidade não ficaram alheios às potencialidades de Vale de Canas. O espaço come-çou a desempenhar papel impor-tante como local de investigação científica. No terreno, “foram se-meadas plantas exóticas (como o eucalipto e cedros) e também al-gumas sequóias, que eram árvores que praticamente não existiam em Portugal”, revela António Ri-beiro. “Foram essas espécies que durante quase um século fizeram a Mata Nacional de Vale de Ca-nas”, conclui o vigilante.

Já em meados do século XX, o espaço foi ampliado. Foram ad-quiridos os terrenos circundantes, acrescentando mais dez hectares aos seis já existentes. “A mata foi transformada, fizeram-se muitos trilhos e foram colocadas mesas em vários pontos. Era uma mata quase monumental porque eram árvores gigantes que estavam aqui”, lembra o vigilante.

A Mata Nacional de Vale de Ca-

nas foi mudando sucessivamen-te de entidades gestoras, sendo atualmente gerida pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Hoje, assume uma função educativa junto das escolas. “O serviço [ICNF] criou aqui instalações que ao longo des-tes vinte anos receberam milha-res e milhares de alunos, princi-palmente do primeiro e segundo ciclos”, diz António Ribeiro. Na sua opinião, essa função educa-tiva “foi uma ajuda muito grande para a juventude da cidade, pelo menos na parte do primeiro con-tacto com a natureza e o conhe-cer algumas espécies”, refere o vigilante, dando como exemplo o caso da salamandra-lusitana. Esta espécie, única na Península Ibéri-ca, pode ser encontrada junto aos cursos de água da parte mais re-mota da mata.

Incêndio de 2005Composta essencialmente por várias espécies de eucaliptos, “a mata era estrondosa e tinha gran-des exemplares desta espécie”, explica o vigilante. Aquando do incêndio de 2005, que devastou a área envolvente da cidade, este es-

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16 de julho de 2013 | Terça-feira | a cabra | 17

VaLE DE Canas

paço verde também foi, em gran-de parte, afetado. “O fogo deixou a mata de rastos e mesmo o jardim, que é a zona mais nobre, ficou completamente devastado”, re-corda António Ribeiro. Apesar da destruição alguns, exemplares so-breviveram ao incêndio e exemplo disso é um dos eucaliptos, consi-derado o mais alto da Europa, que está classificado como Arvoredo de Interesse Público na base de dados do ICNF.

O panorama da flora foi altera-do após 2005 e, segundo o vigilan-te, optou-se por reflorestar a área com variadíssimas espécies. “O ICNF entendeu que iríamos tentar plantar espécies que eram da nos-sa flora autóctone, essencialmente castanheiros, carvalhos e muitas cerejeiras”. A recuperação da área florestal mostrou-se lenta, não só pelas características físicas do ter-reno mas também pelo processo de limpeza e retirada das árvores queimadas. “Felizmente conse-guimos plantar toda a área, temos já sítios onde se nota um bom ser-viço e que requerem agora muito trabalho, já que essas plantas não têm um crescimento tão rápido”, adita António Ribeiro.

Devolver a foca à mataCom uma nova mata, surge agora o desafio de recuperar o interes-se junto da população da cidade. E os estudantes, que no passado eram parte ativa na vida da mata, são um dos públicos alvo. António Ribeiro recorda os tempos em que esse contacto era mais frequente. “Vamos lá para Vale de Canas, vou lá mostrar-te a foca” era uma forma de os estudantes, num ato de brincadeira, dizerem que iam a mata. “Traziam a namorada”, con-ta o vigilante, referindo que este “era um sítio engraçado”. “Na ver-dade, não há nenhuma foca, mas quem vinha de fora da cidade não sabia: a foca era outra”, conclui. A estória da foca chegou mesmo a ser recriada com a elaboração de um mapa do espaço, onde o ani-mal marinho com um capa e uma borla na cabeça surge como o íco-ne principal.

De forma a justificar o afas-tamento atual da comunidade estudantil da mata, o vigilante aponta alguns “desafios” que a cidade oferece, tal como centros comerciais e bares. Ainda assim, após o incêndio, houve uma certa aproximação de certos grupos de estudantes “que fizeram um pro-jeto e mostraram a sua disponibi-lidade em ajudar na recuperação da mata”, admite António Ribei-ro. O vigilante ressalva a intenção, pois “tudo isso ajudou a chamar à atenção das pessoas que era ne-cessário intervir na altura”.

Para além de ser um espaço ver-de perto da cidade com funções, não só recreativas, mas também desportivas, a Mata Nacional de Vale de Canas dispõe de ligações através da rede de autocarros da cidade e é, António Ribeiro garan-te, “um local aprazível e um sítio muito bom para estudar”.

com Rafaela Carvalho

Para além de ser um espaço verde perto da cidade com funções, não só recreativas, mas também desportivas, a Mata Nacional de Vale de Canas dispõe de ligações através da rede de autocarros da cidade e é, António Ribeiro garante, “um local aprazível e um sítio muito bom para estudar”.

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o Profundo Mar azul”

18 | a cabra | 16 de julho de 2013 | Terça-feira

arTEsC

Ine

MA

De

Sofia Coppola

Com

Emma WatSon KatiE Chang

iSraEl BrouSSard

estreia: 8 De agosto De 2013

As gerações mais novas repre-sentam, invariavelmente, o falhanço da educação e dos

valores que guiaram as suas prede-cessoras. A geração que viveu a Se-gunda Guerra pôs as mãos à cabeça quando viu os seus filhos a aban-donar tudo por mais uma passa em Woodstock; mais tarde, os outrora defensores do amor livre desespera-ram com a indolência e passividade da Geração X. Hoje, clama-se contra uma geração mimada, educada pe-las celebridades e que vive à procura de excessos. “The Bling Ring”, “uma história que não poderia ter acon-tecido há 10 anos”, aparece precisa-mente como esse alerta.

As palavras são da realizadora Sofia Coppola, que se baseou na his-tória verídica de um grupo de cinco adolescentes de Los Angeles que as-saltou várias mansões de algumas das maiores estrelas de Hollywood. Entre as vítimas estão Lindsay Lo-han, Megan Fox e Paris Hilton. Esta última tem até uma pequena partici-pação no filme e esteve presente na

sua apresentação em Cannes.Os comportamentos rebeldes e

iconoclastas da geração Facebook têm despertado a atenção do mundo dos adultos. Séries como “Skins” ou o filme “Spring Breakers” vêm rees-crever a forma como são representa-dos os adolescentes nas décadas do novo milénio. Longe vão os tempos das narrativas típicas do highschool, pontuadas pelas divisões entre ner-ds e populares e que culminavam na noite do baile de finalistas, uma espécie de Juízo Final para menores de 17.

Os adolescentes são representa-dos hoje de uma forma muito mais cínica, amoral e perigosa. Se antes já eram apresentados como mimados e caprichosos, movidos pela sociedade de consumo, agora isso parece já não chegar. Há uma atracção inexorável pela quebra das regras pelo simples prazer de transgredir. O que nos vale é que, em poucos anos, estes mes-mos miúdos hão-de estar a realizar filmes sobre os perigosíssimos com-portamentos dos jovens dessa época.

OUTRAS SUGESTÕESBling Ring: o gangue de Hollywood”

oh não, outro filme de adolescentes criminosos!

Ve

R

“O Profundo Mar Azul” é um dos lançamentos de

DVD deste verão que foge à leveza e banalidade de muitos filmes da época, o que talvez possa ser justificado por che-gar a estas bandas com dois anos de atraso, quem sabe pela estação errada.

Estaremos perante uma Inglaterra ressacada no pós--guerra, por 1950, espelhada nas interpretações de Rachel Weisz (Hester), Tom Hiddels-ton (Freddie) e Simon Russell

Beale (Sir William) que com-põem um triângulo amoroso despoletado por um casamento afectuoso porém frígido entre Hester e o seu marido juiz. A protagonista busca colmatar as suas necessidades num roman-ce erótico com um jovem pilo-to cravado de marcas deixadas pela segunda grande guerra. Marcas essas que são um ter-ritório comum dos esporádicos filmes do inglês Terrence Da-vies, que já não realizava des-de 2000, e aqui volta a apostar no espaço em que melhor se

move.Sem extras (o que pode en-

curtar o interesse), este DVD dará todo o seu espaço à histó-ria baseada na peça escrita em 1952 por Terrence Rattingan e leva-nos a crer que estaremos perante grandes interpreta-ções, sobretudo a de Weisz ou não tivesse sido ela nomeada para os Globos de Ouro des-te ano pela sua interpretação como Hester Collyer.

Um mar que não se adivinha calmo, só falta mesmo saber de que tamanho serão as ondas.

De

ariEl VromEn

Com

JamES franCo

ChriS EVanS

miChaEl Shannon,

estreia: 1 De agosto De 2013

THE iCEMan

De

niColaS Winding rEfn

Com

ryan goSling

KriStin SCott thomaS

yayaying rhatha phongam

estreia: 25 De Julho De 2013

só Deus Perdoa

De

guS Van Sant

Com

matt damon

franCES mCdormand

2013

TErra ProMETiDa

De

ShanE BlaCK

Com

roBErt doWnEy Jr.gWynEth paltroW

2013

HoMEM DE fErro 3

De

martin mCdonagh

Com

Sam roCKWEll

Colin farrEll

2013

sETE PsiCoPaTas

De

tErrEnCE daViES

Com

raChEl WEiSz

tom hiddElSton

Simon ruSSEll BEalE

2013

OU

TRAS

SU

GEST

ÕES

Um mar que não lembra o verão

CaMila FizarrEta

João riBEiro

Page 19: Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 263

16 de julho de 2013 | Terça-feira | a cabra | 19

fEiTas

OUVIR leR

Verão é praia, sol, mulheres lindas em biquini, mulhe-res lindas sem biquini.

Verão é tempo também de boas literaturas de areia, tempo de en-cher o espírito, não basta encher a vista. “A Fascinante Construção do Eu”, de Augusto Cury, é a pro-posta certa para colocar no ‘tabe-lier’ durante a vigem, na estante da casa-de-banho ou na pochete.

Augusto Jorge Cury, para os mais desatentos, é médico, psi-quiatra, psicoterapeuta e escritor. Na súmula de todas estas disci-plinas, traz mais um ‘best-seller’ garantido para o escritor brasilei-ro mais lido da década . O seu tra-balho na Teoria da Inteligência Multifocal sobre a construção de pensamentos, qualidade de vida e devolvimento da inteligência.

“A Fascinante Construção do Eu” não é novidade para o públi-co brasileiro, com a primeira edi-ção em 2010, mas só agora che-ga às livrarias em Portugal pela

Lua de Papel. Cury sabe o que o “Eu” comanda a vida e quer mos-trar como mantê-la sob controlo, treinar a mente para enfrentar as dificuldades. “Quantas vezes en-tra numa espiral que não conse-guiu controlar?” é uma das mui-tas questões que Cury responde nestas maravilhosas páginas de introspecção e procura do ‘carpe diem’.

Para pais e filhos, divorciadas ou estudantes, esta é a peça que faltava na estante e numa vida com final feliz. Se os exames não lhe correm bem, se a sua vida amorosa está em baixo, se desco-briu que vai ser pai, se descobriu que só tem mais cinco dias úteis de vida (neste caso não compre, pois não terá tempo de o acabar), se o problema de quem procura este livro é sono, Ausgusto Cury deixa a nota: “você pode brigar com o mundo, mas se você brigar com a sua cama, você vai perder”.

a Fascinante Construção do Eu”repave”

Depois de um excelente disco, a outra banda de Justin Vernon (o famo-

so falsete melancólico de Bon Iver) parte à aventura de um novo disco. Aqui, o paradigma muda. Depois de vários anos a compor música à distância, cul-minando com o lancamento de “Unmap”, em 2009, os Volcano Choir assumem-se agora como uma “entidade viva”, compon-do da forma tradicional e mais orgânica, em vez de pensar a composição tendo como objecto final a visão de algo construído em estúdio. Com o tema “Bye-gone” como aperitivo, é possível verificar que existe uma maior preocupação na estrutura e con-cepção da música, que augura uma direcção oposta à explo-ração de texturas e conjugação harmónica dos instrumentos, apostando mais no apelo direc-to que a canção, guiada prin-cipalmente pela voz (ditada em simples linhas melódicas), transmite.

Com um nome que aponta para uma certa renovação (sendo “Repave” a repavimentação da sua estética), pode esperar-se deste disco uma intensa jornada, liderada por uma voz har-monicamente inquieta, abrilhantada por uma banda super maturada que parece estar cada vez mais segura do caminho que toma. “Repave” é editado a 2 de Setembro, com o selo da editora Jagjaguwar.

De

VolCano Choir

eDitora

JagJaguWar.

2013

De

robin thiCke

2013

bLUrrED LinEs

OUTRAS SUGESTÕES

De

auguSto Cury

eDitora

lua dE papEl

2013

De

marCEllo duartE mathiaS

eDitora

dom QuixotE

2013

a fELiCiDaDE EM aLbErT CaMUs

OU

TRAS

SU

GES

TÕES

De

liza marKlund

eDitora

porto Editora

2013

Lobo VErMELHo

JOgAR

Depois de uma sucessão de in-felizes falhan-

ços, parece que Suda51 vai finalmente retomar a linha virtuosa que inaugurou com “Kil-ler7”. A singular repe-tição do tema do Assas-sino, aqui interpretado como um bizarro James Bond cibernético, pa-rece indicar o retorno a esse espaço estéti-co mais sóbrio, negro e (esperamos) menos populista. Nada de-monstra esta viragem tão distintamente como o estilo visual adop-

tado: uma espécie de ‘neonscuro’ hiperbolizado até ao infinito em cores garridas e deliciosamente digitais. Hélas, esta nova obra não rejeita elos de continuidade com patetices recentes: mantém-se a sexualização barata do pior ‘anime’ e o banal ‘hack--and-slash’. Questionamo-nos então: será “Killer is Dead” obra do autor de “Killer7”, ou temos de en-golir mais um devaneio do puto reguila que fez “No More Heroes”, esse estandarte do pornoludismo “cool” nos videojogos?

“killer7 está morto?”

killer is DeaD

(XboX360, Ps30)

Anunciar ‘GTA V’ como um jogo sobre o

qual pairam as gran-des expectativas deste verão seria um pouco redundante. A crer em todos ‘trailers’, anteci-pações e mais diversos anúncios, ‘GTA V’ é o jogo do ano. É como se a Rockstar tivesse ouvido atentamente as preces de todos os fãs e tivesse enfiado tudo o que o que a série teve de bom num só jogo. Estão lá a expansão e os meta-cenários do ‘San Andreas’, ou a jo-

gabilidade do ‘IV’. E há novidades, como um siste-ma de jogo multi-personagem, ou um modo online capaz de concretizar o desejo mais caótico de Ta-lia al Ghul. A crer em tudo o que a Rockstar vem anunciando, ‘GTA V’ é mais que merecedor de uma pré-encomenda com todos os requintes. Perante tudo isto, é bom que a Rockstar saiba cumprir a sua promessa, sob pena de apresentar mais um fra-casso para a colecção. Perdoar duas vezes seguidas não é fácil, e os fãs de ‘GTA’ são tudo menos bons cristãos.

“sauDaDes De los santos”

granD theft auto 5

(XboX360, Ps30)

rui CravEirinha

JoSé MiGuEl Silva

De

travis

2013

WHErE YoU sTanD

De

arCtiC monkeys

2013

aM

De

WasheD out

2013

ParaCosM

FiliPE Furtado

João Miranda

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 263

20 | a cabra | 16 de julho de 2013 | Terça-feira

soLTas

culturaporcá

Cinema/DançaTAGV• 21H30

12€ C/ DesConTos

16JUl

TeATroTCsB • 21H30

10€ C/ DesConTos

JUl

“Sr. iBrahim E aS florES do Corão”

TeATroTCsB • 21H30

10€ C/DesConTos

JUl

“1325”

MúsiCAsAlão BrAzil22H30 • 5€

JUl

“nó CEgo”

18

MúsiCAAnfiTeATro ColinA De CAMões 21H00 • 15€ C/ DesConTos

23JUl

“CordiS & CuCa roSEta”

16Cinema

ATeneu • 22H00enTrADA liVre

JUl

“thE rEd army/pflp: dECla-ration of World War”

reCiTAl De PoesiACAsA DA esCriTA • 21H30enTrADA liVre (liMiTADo A

35 luGAres)

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“o rEi no Exílio - rEmaKE”

25

Durante a vida, vamos pas-sando em várias casas, quais peças num tabuleiro

gigante de Monópolio, seremos o carrinho ou o dedal, talvez a bota perdida e desemparelhada, de-certo não o simpático canídeo. Os dados rolam e lá vamos nós, um, dois, três, quatro, cinco, tentando alicerçar os hotéis da nossa von-tade numa qualquer rua Augusta, procurando evitar a companhia das águas. Pelo meio, virando as

cartas da sorte, ou do azar, que alguns vão até directamente para a cadeia, sem passar na casa de partida e sem receber os tão dese-jados dois contos.

Serve esta portentosa e inu-sitada alegoria para dizer que o acaso nos vai levando de porta em porta e nós lá o seguimos, a maior parte das vezes, às cabeçadas nas paredes dos corredores. De certos passadiços fugimos a catorze pés, outros há onde semeamos as raí-

zes do gosto. Sempre a viver entre o fugir e o ficar, nesse fio onde ba-lança a frágil existência, compas-sada ao toque de um par de dados, sem que, durante a maior parte do tempo, nos apercebamos sequer do ritmo.

Às vezes, quando envoltos nas sombras do vale das mantas, quando revemos o chorrilho de coincidências que nos levou até onde estamos, nessas alturas ga-nhamos perspectiva, e apenas aí

sussurramos, a vida tem coisas do camandro. Somos mesmo peque-nos, pensamos, um pretensioso grão de areia em rumos voláteis, em fugas e permanências, em vol-tas infinitas de ampulheta, e sus-surramos, realmente, a vida tem coisas que vai lá vai.

Tudo isto porque há casas e ca-sas, e poucas há que tratemos por esse nome. Normalmente, são até essas as que mais nos dizem, su-prema ironia que através de tão

parcas sílabas. Porém, também as outras nos vão marcando, em salas grandes e pequenas, reza a máxima intemporal, aqui trans-ladada de outros âmbitos, que o tamanho não interessa. Maior ou menor o espaço entre as paredes, o que nos marca é o que tais pa-redes guardam, e mais nem se deveria dizer sobre o assunto, sob pena do discurso entrar no campo romântico-diabético-parolo.

Tudo isto porque nos vamos juntando no espaço entre as pa-redes. Onde conhecemos outros com os mesmos gostos, com as mesmas ambições. Onde partilha-mos objectivos comuns, e sempre se partilha mais do que um solitá-rio objectivo se cabeças pensam em conjunto, duas serão melhores do que uma, e se mãos trabalham em conjunto, também quatro se-rão melhores que duas, vinte me-lhor que dez, quarenta melhor que vinte.

Entre paredes, muito se passa. Cada casa diferente e irrepetí-vel. Por vezes, há ‘performances’, Tourette e Photoshop. Noutras ocasiões, há gritos estridentes, auscultadores no máximo e o sol a espreitar por trás do vidro. Tam-bém há cigarros a fumegar, copos de plástico branco e telefones a tocar de manhã. E há paredes, muito já se falou delas, forradas a papel.

E há um papel que se respira, uma ideia em celulose que nunca nos deixará.

*Por escolha do autor este tex-to não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

EnTrE a arrEGaça E o CaLHabÉPor bacharel Jorge Gabriel

CoMo UM DEDaL DE fErro, saLTiTanDo nUM MUnDo DE PaPEL

“la ValSE/a Sagração da primaVEra”

16 e 17

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“o dESprEzo”

Page 21: Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 263

16 de julho de 2013 | Terça-feira | a cabra | 21

soLTas

o úLTiMo a CHEGarPor Manuel Jorge Marmelo MiCro-ConTo

A Edgardo Apolónio sucedeu--lhe, certa vez, aborrecer-se de ser injustamente considerado um con-tista obscuro e sem talento nenhum. Convidou por isso um selecto gru-po de intelectuais para jantar em sua casa, esperando que o convívio mais íntimo com outros autores pudesse melhorar a sua reputação. Pôs a mesa com os pratos melhores, os menos esmoucados, os únicos talheres que possui, guardanapos de papel e os copos que conseguiu

tomar de empréstimo entre os vi-zinhos, ainda assim lamentáveis e pouco adequados à importância da reunião.

O primeiro convidado a chegar foi o escritor mais ou menos con-sagrado e muito folgazão, ao qual Apolónio secretamente confiara uma parte considerável do sucesso do convívio. Era famoso por contar anedotas picantes e dirigir elegan-tes galaneios a senhoras e meninas de qualquer idade, podendo ser de

grande serventia para a animação da conversa e para a descontracção geral — desde que não bebesse para além da conta e não acabasse por se tornar inconveniente. Chegou en-charcado e anunciando que iniciara um programa rigoroso de controlo do peso, que o impedia de tocar em bebidas alcoólicas. Aliviado, Apoló-nio tomou-lhe das mãos o sobretudo e o chapéu de chuva, disse-lhe que ficasse à vontade e correu a abrir a

porta aos outros convidados, que vi-nham igualmente molhados e apres-sados pela inclemente borrasca.

Ao fim de algum tempo os convi-vas estavam quase todos reunidos na acanhada sala de Apolónio. Conver-savam animadamente em volta da mesa, servindo-se com parcimónia da única garrafa de vinho, mas não se atreviam a sentar-se sem que che-gasse aquele que tardava. O escritor que devia contar anedotas discorria sobre finanças, mas, em compensa-ção, a mulher do ensaísta austero sorria excessivamente, namorican-do o dono da casa, o escritor mais ou menos consagrando, o tradutor taciturno que recusara o aperitivo e bebericava um copo de sais de frutos e até mesmo a poetisa vaporosa que tinha fama de ambivalente e lírica. No exterior a chuva continuava e ouviam-se ocasionais relâmpagos: A mulher do ensaísta começou a fi-car um pouco ébria logo ao fim do primeiro copo, tendo apalpado dis-cretamente, pelo menos uma vez, a nádega direita do tradutor com pro-blemas digestivos precoces.

Quando, por fim, se ouviu a cam-painha, o anfitrião pediu licença aos demais e foi abrir a porta ao último convidado, o que ainda faltava. Os outros receberam-no festivamente, erguendo os copos quase vazios e dizendo que já não era sem tempo. A poetisa ambivalente sugeriu até que o jantar devia estar frio e seco como o cadáver de uma velha de noventa anos. Quando o retardatá-rio entrou na sala, todos repararam que não trazia guarda-chuva nem gabardina, e que vinha, ainda assim, completamente enxuto — mas não disseram nada. Compreendram que o último convidado era apenas um personagem da ficção e que, ainda por cima, tinham sido convocados para um conto tão pobre que talvez nem tivesse orçamento para lhes pa-gar o jantar.

Em dezembro de 2012, Manuel Jor-ge Marmelo sentiu-se assomado pela melancolia e escreveu no seu blog “Teatro Anatómico” que “seria capaz de passar a vida inteira a escrever, sem necessidade de fazer outra coisa para além deste matraquear dos dedos nas teclas do computador, desta espécie de música que se mistura com o re-moinho do vento nos braços nus das árvores, com o rumor da chuva e com as sirenes das ambulâncias passando ao longe”.

Na realidade, a vida de Manuel Jor-ge Marmelo foi desde cedo dedicada ao “matraquear” dos dedos num tecla-do. Nascido em 1971, na cidade do Porto, é jornalista desde os 18 anos e escritor publicado desde os 25. Entre as suas principais obras contam-se “As mulheres deviam vir com livro de instruções” (1999) que se encontra na décima edição; “O Silêncio de um Homem Só” (2004) galardoado com o Grande Prémio do Conto Camilo Cas-telo Branco; e “Uma Mentira Mil Vezes Repetida”(2011), um dos seus mais aclamados romances. “Somos Todos Um Bocado Ciganos” (2012) é o seu mais recente livro.

No texto acima referido, Marmelo diz-nos ainda: “seria feliz se pudesse viver de escrever e fotografar. Mas não posso. Não dá. Ocorre-me que devia, ao menos, ter nascido rico ou com ta-lento”. A verdade é que a vida de Ma-nuel Jorge Marmelo tem sido mesmo passada à volta das palavras.

Rafaela Carvalho

MANUEl JORGE MARMElO

42 ANOSilUStraÇÃo Por anDreia Prata

Page 22: Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 263

22 | a cabra | 16 de julho de 2013 | Terça-feira

oPiniãoUMa iDEia Para o Ensino sUPErior

João Gabriel Silva • reitor da UniverSidade de Coimbra

reorganizar Para Desenvolver

A necessidade de uma re-organização da rede do ensino superior é um

tema recorrente em Portugal. Em regra gira à volta da afirmação da existência de demasiada oferta pública, do desperdício de recur-sos com cursos sem alunos, e a necessidade de concentrar esses mesmos recursos num conjunto restrito de escolas, para que possa existir em Portugal ensino e inves-tigação ao nível dos melhores do mundo.

A estas observações respondem os que se sentem visados, em re-gra escolas do interior do país onde há de facto poucos alunos, dizendo que a saída dessas esco-las de regiões demograficamente frágeis levaria essas regiões a um declínio terminal.

Está subjacente a ideia de que as escolas procuradas por mais alunos são melhores do que as procuradas por menos alunos. Se os estudantes procurassem, acima de tudo, a melhor es-cola para obter a sua forma-ção superior, essa escolha se-

ria uma excelente indicação para se saber quais as escolas de maior qualidade. Sabemos no entanto que assim não é. A qualidade da escola tem segura-mente um papel importante na escolha dos candidatos ao ensino superior, mas não é a razão prin-cipal.

A proximidade à área de re-sidência é o fator decisivo. Basta ver que, por exemplo, a percenta-gem de estudantes de Lisboa na Universidade do Porto é residual, e o mesmo se verifica nas Uni-versidades de Lisboa em relação a estudantes vindos do Porto. As razões disso são óbvias: o grande custo de frequentar o ensino superior não são as propinas, que aliás não variam de for-ma relevante entre as várias escolas, mas sim os custos de alojamento e alimentação, caso tenham de sair de casa para ir para a Universida-de. Ficando em casa dos pais os custos são muito inferiores, pelo que a universidade mais próxima, mesmo que esteja longe de ser a

melhor, é em regra a escolhida. Outra razão menos óbvia é de

raiz cultural mais profunda. Em alguns países, o momento da in-dependência em relação aos pais é a entrada na universidade. Muitas vezes, mesmo que entrem numa universidade na mesma cidade onde moram com os pais, os es-tudantes saem de casa e passam a viver numa residencial estudan-til, num quarto ou até em aparta-mento próprio. É o caso de países como a Alemanha, a Noruega ou os Estados Unidos. Países mais ricos que Portugal, poder-se-á dizer. Mas em Portugal, mesmo os estudantes com condição eco-nómica para o fazer raramente o fazem. Há menos espírito de aventura, menos vontade de independência a não ser para sair à noite, e a sociedade ge-nericamente só espera esse momento de independência com o primeiro emprego.

Não vale por isso a pena olhar para as preferências dos estudan-tes portugueses para determinar quais são as melhores universida-

des, pois apenas conseguiremos identificar quais as universidades que têm mais população nas re-dondezas.

Fechar os cursos que atraem menos alunos não significa, por isso, preferir as melhores escolas. Significa beneficiar os grandes centros populacionais e dar mais um passo no processo de deserti-ficação do interior do país.

Reconheço, no entanto, que o país não pode ignorar que manter cursos sem alu-nos é desperdiçar recursos que são escassos. Se há ofer-ta excedentária, ela tem de ser encurtada. A questão que se levanta é, no entanto, a de de-cidir quais cursos fechar. Os dos grandes centros, ou os dos outros locais? em alguns casos dever--se-ia fechar os dos grandes centros, não os do interior.

Uma verdadeira opção pelo desenvolvimento do país seria definir que a oferta pública de qualidade em algumas áreas do conhecimento deveria estar fora de Lisboa e do Porto. Colocar

no interior escolas de quali-dade teria um efetivo efeito de promoção de desenvolvi-mento do país. Reconheço que a grande maioria das escolas do interior, por muitas razões, não têm qualidade internacional. As regras para estas novas escolas teriam de ser muito mais exigen-tes; não poderiam ser meras agências de emprego para os caciques locais. É possível criar essas escolas de grande qualida-de fora das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Algumas já existem.

Quer Portugal aceitar este de-safio, de desenvolver todo o seu território e inverter o processo concentracionário em duas gran-des áreas metropolitanas? O mí-nimo que podemos dizer é que esse processo de concentração, que tem vindo a concretizar-se há tantos anos, não trouxe ao país o desenvolvimento desejado. Pen-so que Portugal é demasiado pequeno para prescindir da grande maioria do seu terri-tório.

arqUivo - feliPe greSPan

Page 23: Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 263

18 de junho de 2013 | Terça-feira | a cabra | 23

oPinião

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239828096/239410437e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Diretora Ana Duarte editora-executiva Ana Morais editores Rafaela Carvalho (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Su-perior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Carolina Varela (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Paginação António Cardoso, Carolina Varela, Catarina Carvalho, Rafaela Carvalho Redação João Martins, Joel Saraiva, Pedro Martins Fotografia Ana Morais, Carolina Varela, Catarina Carvalho, Daniel Alves da Silva, Rafaela Carva-lho, Inês Martins Ilustração Andreia Prata Colaboradores permanentes António Matos Silva, Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Rui Craveirinha, Tiago Mota Publicidade Ana Duarte - 239828096/239410437 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos João Gabriel Silva, Manuel Jorge Marmelo

eDitorial

É fecho da edição. O artigo já de-via ter entrado há muito, tem 50 caracteres a mais e falta um título. A paginadora grita, nós ouvimos e voltamo-nos para o computador. Já são 7h25, o café pouco efeito faz, quanto mais as bebidas energéticas. As faculdades falham-nos, mas ala que isto tem de seguir para a gráfi-ca cedo. É preciso concentração, é preciso condensar muito em pouco.

Assim se passou mais um ano de trabalho na Secção de Jornalis-mo da Associação Académica de Coimbra (AAC). Quinzenalmente, a equipa do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA -esforçava--se por apresentar uma publicação abrangente, completa e irreverente – como se tem feito de há 22 anos para cá. Nem sempre foi fácil, é cer-to. Os erros foram muitos, pronta-mente reconhecidos perante todos, sem entrar nas banalidades de se poder errar porque se é humano. O ano não foi fácil para nós nem para nenhuma secção desta casa.

Durante todo este tempo – pelo menos aquele que compreendeu setembro de 2012 ao mês presente -, assistimos a um desinteresse ge-racional dos estudantes pelas ati-vidades que lhes são oferecidas (!) logo no início do ano. A ânsia dos “doutores” pelo medo dos caloiros, a correria aos bares da Sá da Ban-deira ou, simplificando, a vontade de, como se diz por aí, não fazer ne-nhum porque “ah e tal, o primeiro ano é dado” não é compatível com o trabalho que, ao mesmo tempo, se começa a desenvolver nas secções da AAC (e que às vezes começa ain-da no verão).

Mas compreende-se. A vida uni-versitária começa a deslumbrar--nos cedo, a malta quer é aproveitar porque o curso só tem três anos. É Bolonha, a culpa é de Bolonha!

Condensaram-nos a aprendizagem, só temos aquele tempo e pronto. Antes desse malfadado processo de harmonização das estruturas de ensino superior europeias, havia alguns que relaxavam: “com calma vamos lá, se ficar mais um ano, não há crise”. O problema é que agora há. E essa crise tem vindo a castrar orçamentos e a asfixiar as (pobres) universidades. A indexação do va-lor da propina à taxa de inflação também tem que se lhe diga. A edu-cação não é um bem transacioná-vel, não deve aumentar consoante a inflação. Já vamos para os 1066

euros e nem os Serviços de Ação Social nos acodem, porque “o seu processo foi indeferido” são as no-vas palavras de ordem. Para quem se viram os estudantes?

Para os dirigentes associativos. São os seus representantes, são eles que podem levar a voz dos estudan-tes às mais altas instâncias e bater o pé. Deviam fazê-lo. Porém, nem sempre acontece e as razões são vá-rias: falta capacidade de mobilizar, faltam ações concretas, falta, acima de tudo, alguém que nunca desista. E foi faltando isso pela academia mais antiga do país. A discussão perdeu-se, e, aí, voltamos à tal si-tuação da malta não querer fazer nenhum e viver apenas na sua zona

de conforto (como quem diz a Praça da República).

Como já foi referido ao longo des-te ano letivo no Jornal A CABRA, a AAC é apenas um microcosmos do que se vive no país. Portanto, se o desinteresse generalizado pelas coi-sas que estão ao nosso lado já tem as proporções e consequências que tem, o que dizer, então, do efeito que terá no quotidiano nacional? Fica no ar, em jeito de reflexão – para quem ainda se dá ao trabalho.

E voltamos ao início. É um círcu-lo vicioso que, dia após dia, conso-me as secções e as deixa dormentes. As dificuldades financeiras, espe-cialmente naquelas que praticam desporto e que os nossos dirigentes se orgulham de “levar o nome da Académica além-fronteiras”, agra-vam ainda mais o problema, obri-gando ou a cessarem funções por períodos de tempo indeterminados ou a reinventarem-se, cortarem aqui e ali e a ter de pôr dinheiro do próprio bolso – quando não têm de o fazer.

Numa cidade relativamente pe-quena como Coimbra, a AAC é das poucas associações que oferece e premeia a população com uma ofer-ta cultural e desportiva vasta: há teatro, há rádio, há yoga, por exem-plo; pratica-se tiro com arco, pesca desportiva e radiomodelismo, entre outros. É disso que nos orgulhamos e é isso que apregoamos por aí. Se há tanto orgulho, se há tanta vonta-de de espalhar a mensagem, porque é que a deixam morrer lentamente? Vocês, estudantes. Os momentos passam, as saudades ficam, como se dizia em maio de há três anos. Mas é só isso que fica. E um canudo para dizer que são “doutores”. Valha-nos agora que somos Património Mun-dial da Humanidade.

Por Ana Duarte

a educação não é um bem transacionável, não deve aumentar consoante a inflação”

o amargo sabor Do fim

A Cabra errou: Na edição 262, na rúbrica Uma Ideia para o En-sino Superior foi erradamente atribuído o último parágrafo a Carlos Camponez. Na verdade, o final do texto era da autoria de José Torres Farinha. Aos visados e leitores, as nossas desculpas.

A Direção

Cartas à diretorapodem ser

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joRNAl uNIVeRsITáRIo de CoImbRA

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PÁG. 7 PÁGS. 12 E 13

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PÁGS. 8 a 10 PÁG. 14

PÁG. 16 E 17mATA NACIoNAl de VAle de CANAs: A ReCupeRAção dA fAuNA e dA floRA depoIs do INCêNdIo de 2005

bAlANço despoRTIVo dA époCA dAs seCções dA ACAdémICA

peRfIl: feRNANdo mARQues, o foTóGAfo dA CIdAde

fusING: um CoNCeITo dIfeReNTe de fesTIVAl foToRRepoRTAGem: os CANdeeIRos peRdIdos poR CoImbRA

As AdVeRsIdAdes dA ClAssIfICAção dA AlTA CoImbRã

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