Jornal Marco - Ed. 263

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Jornal laboratorio dos alunos do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicacao e Artes da PUC Minas

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Grifes mineiras driblambarreiras encontradas nomercado de produção demoda e buscam maneirasde conquistar espaço emBelo Horizonte. Pág. 6

O projeto Leitura noMetrô, que conta com400 textos literários, temconquistado novos leitoresdurante o percurso paraos passageiros. Pág. 5

ONG Pró-Reis assisteem média a 40 pessoasque enfrentam muitasdificuldades fornecendoabrigo temporário emNova Lima. Pág. 4

Dezembro • 2008Ano 36 • Edição 263

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CHUVAS AUMENTAM RISCOPARA 500 MIL MORADORES

Abrigo São Paulo completa trinta anos

Alimento que conquista cada vezmais os mineiros

Ciclista percorre1.301 quilômetrospara ver o mar

O vigia do Museu Histórico Abílio Barreto José de Castro (foto acima) viajou, de bicicleta, de Belo Horizonte a Florianópolis. O fato de não conhecero mar foi decisivo na escolha do trajeto,percorrido em 20 dias. Página 15

Indispensável à mesa de muitasfamílias mineiras, o queijo é umatradição gastronômica de MinasGerais. Em Belo Horizonte, o Merca-do Central é opção para quem desejacomprar o queijo canastra, o maisprocurado e famoso devido ao seusabor. Muitos comerciantes encon-traram no produto uma forma degarantir a renda familiar, como é ocaso de Aristeu Mozzer (foto). Juntocom a esposa Salomé, ele deu seqüên-cia ao negócio familiar, iniciado háquatro décadas e que hoje recebeclientes de diferentes origens. Para evi-tar a ameaça a essa tradição, produ-tores e governo buscam manter opreço acessível ao consumidor.Página 12

TRAJETÓRIA RECONHECIDANo começo, a idéia era criar uma

forma de tirar de casa mulheres doAlto Vera Cruz, na Zona Leste deBelo Horizonte. Foi assim que nasceuo Lar Feliz, que iniciou como espaçode bate-papo, passou para a produçãode artesanato, grupo de expressãocorporal até chegar ao atual formatodo Meninas de Sinhá. O conjuntopassou a fazer shows e apresentaçõespor vários lugares do Brasil, mostran-to ao públicos cantigas de rodas e umpouco do folclore mineiro. Hoje, com35 integrantes, além de uma terapiapara as mulheres que participam, ogrupo também é ganhador deprêmios e já garantiu a continuidadedo seu trabalho, com o Netinhas deSinhá. Página 16

O Abrigo São Paulo foi criadoem 1978 pela Sociedade de SãoVicente de Paulo e chegou areceber até 500 pessoas desabri-

gadas pelas chuvas, tornando-sereferência em Belo Horizonte.Hoje, o abrigo é um ponto deapoio essencial para moradores

de rua, migrantes à procura deemprego, de tratamento desaúde e até de pessoas quevivem atrito familiar. Página 3

n Na Regional Noroeste, a preocupação é com a Vila São José. Apesar dos reassentamentos já feitos, ainda há moradores em risco. Página 2

YONANDA DOS SANTOS

JOELMIR TAVARES

LUIZ CARLOS OLIVEIRA

VICTOR CORRÊA

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2 Comunidade Dezembro • 2008jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

jornal marcoJornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected]

Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920

Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286

Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória GomideCoordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo BarbosaCoordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra

Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio

Monitores de Jornalismo: Camila Lam, Cíntia Rezende, Guyanne Araújo, DianaFriche, Laura Sanders, Lorena Karoline Martins, Patrícia Scofield, Alba ValériaGonçalves (São Gabriel) Monitores de Fotografia: Gustavo Andrade e Yonanda dosSantosMonitor de Diagramação: Marcelo Coelho

Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

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LORENA KAROLINE MARTINS, 3º PERÍODO

Estamos no final de mais um ano, num momentoem que a equipe do MARCO convida você, leitor,a fazer uma reflexão de como simples atitudesgeram grandes feitos na nossa vida. Ao longodeste ano, contamos histórias de exemplos desolidariedade. Mostramos que inclusão social ecalor humano andam juntos, possibilitando aabertura de novos caminhos. Retratamos pessoasque, por meio de simples idéias, apostaram nacriatividade, nos sonhos e conseguiram mudar avida. É o caso do barbeiro Evandro Lima, ga-nhador de vários títulos na queda de braço, e dafaxineira "Betinha", apaixonada por literatura.Neste mês, contamos a história do cicloturistaJosé de Castro, que pedalou durante cinco diasaté Florianópolis com o objetivo de conhecer omar, levando na bagagem, além dos objetosessenciais para a viagem, um conjunto de expec-tativas que marcaram para sempre a sua vida.

Ouvimos o prefeito eleito de Belo Horizonte,Marcio Lacerda (PSB), em mais um passo noacompanhamento que o MARCO tem feito doprocesso de construção da nova Rodoviária noBairro Calafate; ouvimos moradores a fim de dis-cutirem os melhores caminhos para se chegar aum acordo. E é esse tipo de compromisso que oMARCO se dispõe a continuar buscando.

Valorizando o seu caráter comunitário, o MARCOdivulgou o incentivo de novos projetos como oCentro Dia do Idoso, mostrando que aquelas pes-soas com mais idade encontram, além do confor-to, uma série de oportunidades como as oficinas,algumas em parceria com a PUC Minas, quepuderam revolucionar vidas. Além disso, o jornaltambém fez matérias que procuraram conscienti-zar a população para a importância da prevençãocontra a dengue.

Leitores mostram cada vez mais que têm voz noMARCO, como é o caso dos moradores do BairroCoração Eucarístico que entraram em contatoconosco para reclamar do incômodo causado porum banheiro público devido ao mal cheiro e quefoi retirado do local, perto da Via Expressa.

Acompanhamos fatos vistos por outros olhos,famílias que encontraram um recomeço de vidaapós uma série de obras de desapropriação daextinta Vila Vietnã e puderam conviver harmo-niosamente em suas novas casas no Bairro 1º deMaio. Processos de humanização são vistos tam-bém na reportagem das Meninas de Sinhá, grupode folclore mineiro destinado principalmente àmulheres da terceira idade, que possibilitou o res-gate da auto-estima que estava perdida porcausa da depressão.

Terminamos 2008 com a idéia de que sempre hámais o que fazer para que o próximo ano tam-bém seja marcado por fatos que influenciammudanças e que resultam na melhoria da quali-dade de vida. É esse o objetivo do MARCO, quehá 36 anos cumpre seu compromisso com osleitores por meio do bem mais precioso: a infor-mação. Desejamos a todos um Feliz Natal e umano novo repleto de realizações.

Retrospectiva defatos marcantes e compromisso

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PERÍODO DE ALERTA

NAS ÁREAS DE RISCOTécnicos e voluntários trabalham para minimizar os perigos das chuvas; população deve estar atenta aos sinais de risco

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GUYANNE ARAÚJO, 6º PERÍODO

Desde o início do períodochuvoso, em outubro, 96famílias foram removidas desuas moradias em toda a ca-pital, sendo 78 de formadefinitiva e 18 temporárias.Durante um dia de trabalho,no dia 16 de dezembro, porexemplo, houve a remoçãode duas famílias da Vila SãoJosé e mais sete no restanteda cidade. “A encosta nuncadesce sem dar notícias; mate-rial descendo, escorrendo,trinca, são sinais”, alertaRosely da Rocha, chefe daDivisão de Área de Risco daCompanhia Urbanizadorade Belo Horizonte (Urbel).

As áreas de risco são aque-las onde pode ocorrer inun-dações e deslizamentos. NaRegional Noroeste, de 19vilas e favelas, uma das áreasde maior preocupação é aVila São José. "Na Vila SãoJosé tem as duas situações, oalagamento e deslizamentode encostas", Rosely da Ro-cha. Essa vila está passandopor um processo de reassen-tamento por meio do qualvão ser entregues 1408apartamentos, sendo quedesses, 688 já estão sendoconstruídos com verba doPrograma de Aceleração deCrescimento (PAC).

SINAIS Rosely da Rochaalerta que quem mora pertode encosta ou barranco deveestar atento e observar se háocorrência de trincas nasparedes das casas, se descematerial próximo à moradiase em caso positivo, sair desuas residências e procurar aUrbel ou a Defesa Civil deBelo Horizonte.

Outra orientação que osmoradores podem seguir é

reparar o movimento deárvores e postes ao redor, quepodem despertar a análise econtastação de riscos. Paraquem mora em locais vizi-nhos de córregos, deve-seficar atento para a elevaçãodo nível da água, sua cor, ecaso percebam algo peculiar,as famílias devem ir para umlocal aberto e seguro e nãotirar nada de suas casas. "Aspessoas não devem ter essapreocupação. Na vida, nadavolta atrás. As pessoasdevem se preocupar com avida delas e de suas famílias",pondera Rosely.

RESISTÊNCIA A chefe dadivisão de área de risco daUrbel conta que uma dasdificuldades do trabalho équando a situação de risco édiagnosticada e a família serecusa a sair do local. Elacomenta que entende a situ-ação das pessoas, mas dizque não podem se apegar epermanecer no lugar.

Ao todo são cinco equipescompostas por um enge-nheiro, um sociólogo e umtécnico social que fazem asvistorias nas casas e avaliamsua situação ao longo do ano,mas quando a condição seagrava, em períodos chu-vosos, esse número aumentapara oito equipes.

BALANÇO De acordo comdados da Urbel, no primeirodiagnóstico de áreas de riscona capital mineira, em 1994,a cidade possuía 15 milmoradias em áreas de risco.Dez anos depois, em 2004, omesmo diagnóstico atualiza-do por técnicos da Urbelconstatou 10.250 mil mora-dias em áreas de risco.Atualmente, as equipes detécnicos estão fechando umnovo levantamento queaponta a redução de 60% de

áreas de risco alto e muitoalto em relação a 2004. "Essaredução se deve, sobretudo, àsações que a prefeitura vemexecutando nos últimos 16anos nas vilas e favelas,urbanizando essas áreas eerradicando as áreas de riscogeológico", explica PedroVeríssimo, assessor de im-prensa da Urbel.

PREVENÇÃO De acordo como levantamento da Urbel, asregionais que mais causampreocupação e que possuemmaior recorrência de casossão: a Regional Leste (Ta-quaril, região com altonúmero de risco), a Centro-Sul (Aglomerado da Serra eSanta Lúcia), a Nordeste(Paulo VI), e a Oeste (Morrodas Pedras e Cabana do PaiTomás).

Em Belo Horizonte há 209vilas e favelas e 200 são con-sideradas em áreas de risco. Aestimativa é que 500 mil pes-soas vivem nessa condição,representando 22% da popu-lação total da cidade e 6% daárea do município. Parareduzir o perigo e os prejuí-zos, são realizadas ações pre-ventivas durante todo o ano,que são intensificados noperíodo das chuvas.

As moradias de risco alto emuito risco alto são vistori-adas e as famílias retiradaspreventivamente, conformeas necessidades. Elas podemser retiradas definitivamentee levadas para reassentamen-to igual ao da Vila São José,ou temporariamente, situaçãoem que as famílias são alo-jadas em abrigos municipaisou recebem uma bolsa mora-dia de 240 reais mensais dealuguel até que possamretornar a suas casas deorigem, a depender da avali-ação e autorização do técnico.

Outro projeto que a

prefeitura desenvolve emparceria com a comunidadesão os Núcleos de DefesaCivil. Atualmente são 47 inte-grados por 400 voluntárioscapacitados pela Urbel. Essesvoluntários ajudam a identi-ficar tipos de risco geológico eaprendem a agir em situaçõesde emergências provocadaspela chuva.

Desde 2004, a prefeituraimplantou sete Centros deReferencia(Crear), que sãopostos avançados próximosda comunidade com o objeti-vo de agilizar e aproximar oatendimento para a popu-lação de alto risco. Esseslocais possuem colchão,cobertores, televisão, eservem para refúgio momen-tâneo das famílias de riscoalto e muito alto de grandeincidência de risco geológicoidentificadas pelos técnicos.Os sete centros se encontramnas vilas do Taquaril,Aglomerado da Serra, SantaLúcia, Cabana do Pai Tomás,Vila Pinho (no Barreiro), VilaApolônia (Contagem) e PauloVI.

MAIS CHUVA De acordo como meteorologista do MGTempo-Cemig/PUC Minas,Ruibran dos Reis, o ano de2008 pode ser considerado omais chuvoso dos últimos trêsanos. "Atrasou a chegada daschuvas, mas está mais forte",garante. Ele informa que ostrês primeiros meses de 2009podem registrar de 20% a 30%a mais de chuvas em relação aovolume do último período.

A previsão é mais um aler-ta, especialmente para osmoradores de áreas de risco.Para vistorias, o morador deveentrar em contato com a Urbelpelo telefone 3277-6409, de8h às 18h. Para emergência,discar 199, para a Defesa Civil,disponibilizado 24 horas.

Uma vida dedicada à comunidaden

ALEXANDRE CARNEIRO SOARES, 4º PERÍODO

Maria das Graças Borges dosSantos, 55 anos, conhecida comoLia Borges pelos moradores da Vila31 de Março, onde reside há 15anos, é líder comunitária na Regiãodo Dom Cabral, sendo uma das de-legadas do Orçamento Participativo."Estou vivendo melhor é agora”,garante Lia, que fabrica e vende bol-sas na Feira de Artesanato daAvenida Afonso Pena e que foi pre-sidente do Conselho Fiscal daAssociação dos Moradores eAmigos do Bairro Dom Cabral.

A história de Lia Borgescomeça na cidade de TeófiloOtoni, sua terra natal, localizadano Vale do Mucuri. Aos 11 anos,ela se mudou para Belo Horizontepor causa da transferência de seupai, que era carpinteiro da RedeFerroviária Federal. Na adolescên-cia, começou a costurar, e quandoconheceu o futuro marido, sa-pateiro, começou a fazer cintos esapatos por conta própria. Nadécada de 70, casou-se e abriuuma fábrica de calçados com ocônjuge. “A fábrica chegou a ter100 funcionários", lembra Lia.Mas no fim da década de 80, após

Como delegada do OP, Lia Borges tenta melhorias para o Bairro Dom Cabral

dez anos de funcionamento, Lia foiobrigada a fechar o negócio, porproblemas financeiros e matrimo-niais. Divorciou-se e abriu umdepósito de pães no CoraçãoEucarístico, que vendeu mais tardepara comprar sua atual casa. Lia émãe de cinco filhos, um deles

morto aos 26 anos, em 21 de julhode 2002, dia do aniversário damãe, vítima de infecção hospitalar.

O envolvimento de Lia Borgescom obras sociais começou quan-do ela se estabeleceu na vila, quefaz parte do Dom Cabral. Para sus-tentar-se e aos filhos, voltou a pro-

duzir sapatos e cintos, além debolsas, produto que se tornouexclusividade. "O que eu ganhavacom o trabalho manual me deucondições de ajudar outrosmoradores", disse. A artesãcomeçou a dar presentes parameninos e meninas da comu-nidade, no Natal e no dia das cri-anças. A iniciativa partiu dela e deuma vizinha, Agda Maria deSouza, chamada de Daguinhapelos moradores. Ao longo dosanos, a ação se tornou conhecidae passou a receber ajuda de outraspessoas, por meio de doações.

Além de líder comunitária eartesã, Lia Borges também é canto-ra. Foi entre os idosos do Esperançae Vida que passou a freqüentar e aajudar por causa de sua mãe,Laurinda de Oliveira Santos, queela conheceu os integrantes doGrupo Seresteiros de Prata. Naépoca, o conjunto musical sechamava Coroas da Terceira Idade.O nome atual foi dado, segundo ela,"por causa dos cabelos brancos". Osmúsicos não eram integrantes ofici-ais do Grupo Esperança e Vida, masfreqüentemente apareciam nasreuniões e eventos promovidos pelaentidade. A líder comunitáriapropôs aos seresteiros a formação donovo conjunto, no qual é vocalista.

ALEXANDRE CARNEIRO

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3Comunidade • Campus Dezembro • 2008 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Projeto cria CD ROM parasurdos e é premiado em Brasília

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LUCAS LEÃO, 4° PERÍODO

A aluna do curso degraduação em Filosofia daPUC Minas, TerezinhaCristina Costa Rocha,recebeu recentemente oPrêmio Jovem Cientistapela criação de um CDROM para surdos. O CDROM contém verbetes dafilosofia e visa incluir osurdo no estudo da disci-plina por meio da LínguaBrasileira de Sinais -LIBRAS.

O prêmio foi concedidoà estudante em reconheci-mento ao desenvolvimen-to do projeto e produtofinal, elaborado por ela emparceria com os profes-sores orientadores HelianeAlves de Carvalho Costa ePedro Perini, do curso deComunicação Assistiva daPUC Minas. Terezinha

recebeu o prêmio das mãosdo governador AécioNeves e também viajou àBrasília junto com outrospremiados por conta desua criação.

APOIOS A professoraHeliane colaborou auxi-liando no processo decomo lidar com o surdo,área em que possui amplavivência e desenvolve suasatividades e projetos. Já oprofessor Pedro Perini,doutor em Lingüística pelaUFMG, colaborou comquestões de ordem lingüís-tica e considera que o pro-jeto é uma resposta àdemanda crescente deinclusão de pessoas comalguma dificuldade no sis-tema de ensino brasileiro.Ainda de acordo com oprofessor, a PUC Minastêm se mostrado ampla-mente disposta a colaborarcom iniciativas como esta.

A idéia inicial do proje-to partiu da própria estu-dante, que também étradutora de LIBRAS epercebeu que um manualeletrônico poderia auxiliaro surdo no estudo dafilosofia. No futuro,Terezinha acredita que oCD ROM pode incentivaro desenvolvimento de ou-tros produtos similares queauxiliem e estimulem ossurdos no estudo das maisdiversas áreas do conheci-mento.

CONTEÚDO SegundoTerezinha, o CD ROM éde fácil compreensão. Seuformato auto-explicativopermite ao usuário o aces-so em português usual eem LIBRAS – LínguaBrasileira de Sinais . Nele,estão contidos verbetes dafilosofia essenciais paracompreensão da disciplinade forma facilmente com-

Terezinha acredita no incentivo à produtos que auxiliem os surdos no estudo das diversas áreas do conhecimento

preendida pelos usuários.O objetivo do CD é

trazer facilidades diretasaos surdos no estudo destadisciplina que é de ordemobrigatória no ensinomédio brasileiro e, umadas mais necessárias àcompreensão do mundo deontem e de hoje.

O CD ROM está em

fase de finalização com oapoio da PUC Minas. Aprincípio, o acesso aoproduto será através deinstituições credenciadasque o receberão por inter-médio de parceiros, osquais a estudante aindaestá buscando. A idéia éque toda a rede de ensinobrasileira possa ter este

acesso, viabilizando,desta forma, a inclusãodos surdos no mundo desaberes proporcionadospela filosofia e outrasfuturas disciplinas con-templadas por iniciativascomo esta, que buscatraduzir os conteúdos pormeio da Língua Brasileirade Sinais.

APOIO PARA RECONSTRUIR A VIDA Criado para receber desabrigados vítimas das chuvas que causavam tragédias na capital, o Abrigo Sào Paulo tornou-se fundamental também na vida de moradores de rua e migrantes

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ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 3º PERÍODO

Além dos dormitórios, os abrigados têm acesso à biblioteca, à lavanderia, e total apoio para tratamentos de saúde

Ao completar 30 anos,o Abrigo São Paulo, loca-lizado no Bairro 1º deMaio, Região Nordeste deBelo Horizonte, é referên-cia na capital como pontode apoio às vítimas deenchentes, pessoas ca-rentes e moradores de rua.O local tem sido funda-mental para centenas depessoas que ali encontramajuda para enfrentar asdificuldades da vida,como atesta Marco An-tônio Bonifácio, 43 anos,solteiro, desempregado.“Há mais de três anosestou aqui no abrigo.Prefiro ficar aqui enquan-to trato de uma gastrite.Aqui é muito bom”, diz.

O abrigo, criado pelaSociedade de São Vicentede Paulo (SSVP), tem 26funcionários e capacidadepara receber 60 mulherese 120 homens. A estrutu-ra física é composta dequartos e banheiros, divi-didos em duas alas, a fe-minina e a masculina, co-zinha industrial, con-sultórios para atendimen-tos psicológicos e assistên-cia social, biblioteca,lavanderia, amplo quintalcom uma frondosa man-gueira, área de descarga demateriais e área adminis-trativa.

Seja na condição deabrigo, albergue ou casade passagem, essa enti-dade filantrópica acolhemoradores de rua, mi-grantes à procura de tra-balho, pessoas para trata-mentos de saúde e de-sabrigados de chuva a par-tir de uma triagem con-duzida pelo Serviço deAssistência Social. Aadministradora, Ana Vi-centina, 58 anos, aposen-

tada é voluntária e exem-plo da dedicação dosVicentinos com o projeto.“Às vezes fico mais aquido que em casa”, contaAna Vicentina.

ACOLHIDOS “Estou aquino abrigo enquanto tratoda minha doença. O abri-go funciona muito bem e,melhorando, vou procuraremprego”, justifica Rami-res Alvarenga Souza Silva,43 anos, armador da cons-trução civil, abrigadodesde agosto último quan-do estava perambulandopelas ruas, pedindo nascasas, com erisipela e foiacolhido para fazer trata-mento. Ele completadizendo que deseja serecuperar rapidamentepara procurar emprego.

O pedreiro Luiz deAlmeida, 42 anos, tam-bém reconhece o trabalhodo abrigo. “Meu pai muitocorreto, minha mãe total-mente correta, estou aquipor uma necessidade,

culpa minha, para enxer-gar a realidade. Graças aDeus estou tendo apoio,enfatiza o pedreiro, serecuperando de uma fratu-ra no braço direito.

“Damos apoio até oextremo à pessoa parafazer tratamento de saúde,para conseguir uma colo-cação de trabalho e, nocaso de tratamento, libe-ramos apenas depois dereceber alta do médico”,informa a administradora.

CONFORTO Entre osfuncionários há tambémo reconhecimento daqualidade dos serviçosprestados pelo abrigo.Marco Antônio da Silva,43 anos, foi admitido háseis meses na função deporteiro do abrigo. Desdeos 15 anos trabalhouaprendendo várias profis-sões como pedreiro, pin-tor, bombeiro hidráulicoe eletricista. Como estavacansado, resolveu fazercurso de porteiro e vigi-

lante para ter um serviçomais leve, apesar daremuneração no atual serbem menor que a anteri-or. Ele vê o Abrigo SãoPaulo como um lugar deprivilégios. “Há farturanas alimentações, roupasde cama e banho limpas,produtos de higiene paracada abrigado... É comoum hotel cinco estrelaspara o pobre. Em casa eunão tenho a fartura quehá aqui, onde são ofereci-das variedades de frutas,café, sucos, refeições dequalidade”, comenta.

Marco Antônio dizque há dificuldades,citando, por exemplo,“que há normas aqui noabrigo; às vezes chegampessoas querendo desres-peitar essas regras, fazen-do ameaças de agressões.Aqui na portaria ficomuito exposto. Mas to-dos os funcionários sãomuito unidos, ajudandoa resolver atritos que porventura surgirem”.

Desabrigados da chuva são foco inicial da obra

Belo Horizonte vivia,décadas atrás, gravesproblemas de transborda-mentos dos córregos quecortam a cidade, princi-palmente o Ribeirão Ar-rudas, e, conseqüente-mente, sofrimento dasfamílias desabrigadas. Foinesse quadro que no diadedicado pela IgrejaCatólica à Nossa Senhorada Conceição, padroeirada SSVP, 08 de dezembrode 1978, foi fundado oAbrigo São Paulo peloConfrade Jairo SiqueiraAzevedo, então presidentedo Conselho Central daSociedade São Vicente dePaula de Belo Horizonte.O objetivo inicial era aten-der prioritariamente parteda população provenientedessas enchentes e che-gou, nessa época, a abrigar500 pessoas.

Hoje as enchentesdeste porte são coisas dopassado. A capital pro-grediu e o atendimento édirecionado a moradoresde rua, migrantes à procu-ra de uma colocação nomercado de trabalho outratamento de algumadoença ou mesmo pessoascom atrito familiar.“Nesse seguimento, não ésó pessoas de baixo poderaquisitivo que procuram oabrigo. Temos registros deatendimentos à pessoasletradas, formadas, quepor um motivo ou outrose desentendeu, brigoucom familiares, passandopelo Abrigo São Paulo,onde encontrou apoio”,conta Antonio FernandoGomes do Nascimento,54 anos, GerenteAdministrativo do Con-

selho Central de BeloHorizonte da SSVP.

O abrigo tem parceriacom a Prefeitura de BeloHorizonte, convênios comclínicas médicas e com oCentro de FormaçãoProfissional Divina Pro-vidência, Unidade NitaChaves, que funciona noprédio ao lado e onde sãooferecidos aos abrigadoscursos de padeiro, confei-teiro, costureiras, dentreoutros. “Desabrigados emoradores de rua são deresponsabilidade da pre-feitura, que firmou con-vênio, permitindo que oAbrigo São Paulo presterelevante serviços naesfera municipal”, salientaAntônio Fernando.

O gerente conta que àépoca do prefeito PatrusAnanias eram feitas duascampanhas anuais, umano fim do primeiro semes-tre, a Campanha doAgasalho, e a outra nofinal do ano, de alimentos,móveis e utensílios, quan-do o abrigo angariava osmateriais em função doaumento da demandanesses períodos do ano. Ascampanhas, que tinham oapoio do Corpo deBombeiros, da DefesaCivil e de várias entidadesnão existem mais, ressaltaAntônio Fernando.

Para o atual período dechuvas, a casa já está estru-turada para acolher possíveisvitimas das áreas de risco dacapital, “sendo que nesseépoca apenas preparamosmaior quantidade de ali-mentação e de, roupas decama”, afirma a gerente doabrigo, Ana Vicentina.

ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA

YONANDA DOS SANTOS

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4 CidadeDezembro • 2008jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

ABRIGO PARA MULHERES EM RISCOA ONG Pró-Reis, que já funcionou nas instalações de um hospital desativado em Nova Lima, hoje ocupa o prédio de uma escola e atende, em média, 40 pessoas com moradia temporária

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CÍNTIA REZENDE, LAURA SANDERS PAOLINELLI, 7° E 4º PERÍODO

Ricardo Souza Freitasconheceu a ONG Pró-Reishá dez anos através de umamigo. Ele era aposentado edava aulas de inglês quandocomeçou a se interessar portrabalho voluntário. Tra-balhou em um hospital, masa rotina triste, que o deixa-va deprimido, fez com queele buscasse outro lugar paradoar suas energias. Foi noPró-Reis, uma instituiçãoque, na época, chegou aabrigar cem mulheres, queele se envolveu. Há quatroanos, Ricardo mudou-separa o local para poder sededicar integralmente àONG e hoje diz ter aprendi-do muito com o trabalho“muito humano” que bene-ficia a comunidade.

Localizada no BairroBarra do Céu , município deNova Lima, a ONG Pró-Reis atualmente assiste, emmédia, a 40 pessoas, já quemuitas delas se abrigam nolocal temporariamente. Ainiciativa do casal de pas-tores Maria das GraçasBarreto e Domingos SávioBarreto tem como propostaabrigar mulheres jovens, emrisco, com idade entre oito e18 anos. Com a falta de umabrigo público no municí-pio, a ONG vem atendendooutras demandas, comomulheres com saúde debili-tada, adultas com filhos,entre outros casos. “Nósabrigamos criança em últi-mo caso”, afirma Maria dasGraças. Ela conta que atual-mente são sete criançasacompanhadas das mães noprojeto.

“Foi muito bom vir paracá, eu fiquei muito feliz emsaber que aqui também rece-bia mães”, define LuizaCarla Palumba que há oito

meses mora na ONG comseus dois filhos, Gabriel, decinco anos, e Larissa, de umano e oito meses. Luiza rela-ta que ao separar do maridofoi morar com os filhos emuma casa no Bairro SantaRita, localizado na cidade deNova Lima. Ela conta quedurante o período de chuvasa defesa civil decretou quesua casa estava em estado derisco, fato que fez com queela tivesse que buscar outrolugar para morar. Na esperapor outra moradia, que serádoada pela Prefeitura deNova Lima, Luiza conta quena ONG ela faz de tudo, masque tem grande afinidadecom as tarefas de cozinha etambém como lavadeira,atividade que desempenhavaantes de ir para o local.“Enquanto a minha casa nãosai eu vou esperar aqui com

meus filhos, porque aqui ébom demais”, relata. Luizaconta que a atenção comseus filhos e com ela é cons-tante e que isso a faz ficarmais tranqüila quanto aofato de não ter uma casa.“Tem dia que eu tô triste aí opessoal conversa comigo e eufico bem melhor”, desabafa.

ESTRUTURA As mulheresabrigadas ficam em quartoscoletivos, cada um com umbanheiro. Maria das Graçasdiz que a intenção era terquartos com duas pessoas nomáximo, mas com a atualestrutura a média é de seispessoas por cômodo. Paraaumentar a capacidade doabrigo, as camas tambémtem a possibilidade de virarbeliche. Na casa, as mulherestem acesso à internet e tele-visão, mas alguns programas

são vetados, já que se tratade uma instituição evangéli-ca. Maria das Graças contaque no Pró- Reis a rotina dasmulheres é livre, muitasdelas passam o dia no traba-lho ou estudando. “A gentesó fecha o portão quando aúltima pessoa chega”, elaconta, explicando que algu-mas das moradoras estudamno período da noite.

O pastor Domingos SávioBarreto de Oliveira diz quetenta não institucionalizarmuito as atividades da casa,e busca manter um ambientefamiliar. “Temos regras,temos as reuniões, psicólo-gos, terapeutas, mas a rotinaé livre”, explica. Apesardisso, há esquemas dehorários para limpeza e trêsrefeições principais. Quantoàs dificuldades enfrentadasna casa ele diz que a princi-

pal é o planejamento.“Nossa dificuldade é a difi-culdade de um lar”, comen-ta.

ABRIGO Patrícia AparecidaDiniz, de 39 anos, que estáhá seis meses na casa comsuas duas filhas acredita quea ONG é um lugar para ficartemporariamente, enquantose está passando por ummomento mais conturbadoda vida. Ela procurou o casaldepois de um desentendi-mento familiar, quando esta-va deprimida e revoltada.“Não é um lugar para vidatoda, mas para se reestrutu-rar”, comenta. Como não éevangélica, Patrícia contaque elas não assistem algunsprogramas da televisão aber-ta, como as novelas e tam-bém que algumas músicasnão são permitidas.

Outra abrigada, PatríciaCarmem Pereira é considera-da pelos integrantes da ONGcomo um verdadeiro milagre.Ela lembra que chegou aolocal em estado debilitadodevido ao fato de ter sofridouma aneurisma cerebralquando tinha 15 anos.Patrícia conta que perdeuparte dos movimentos e quepor isso não era capaz derealizar determinadas tare-fas, fato que deixava sua mãee avó muito irritadas. “Elasme batiam e falavam que eutava com preguiça”, desabafaa menina. Há quase trêsanos no local, Patrícia dizque hoje já consegue realizardiversas atividades, graças aoincentivo e carinho querecebe.

Ricardo, o voluntário,relembra que Patrícia semprepedia para ir estudar e queele uma vez disse que se eladesse conta de ir e voltar aescola sozinha, ele a deixariaretomar os estudos. “E não éque ela foi”, relembraRicardo. “Demorou quase

uma hora para ir e voltar,mas ela foi”, conta emo-cionado. Hoje, ela conta coma ajuda de um ônibus viabi-lizado pela ONG para queela possa ir e voltar da escolacom segurança. “Estou nasexta série e pretendo conti-nuar a estudar”, confessa .

Sâmara Bernardo Pereirade 15 anos conta que veiopara a ONG há pouco maisde dois meses em busca deajuda. Namorando umrapaz de 23 anos usuário dedrogas, ela relata que perce-beu que a relação não ia darcerto, mas que precisaria deajuda para se separar domesmo. “Eu vim para cápara tentar esquecê-lo”,desabafa Sâmara. Dividindoo quarto com mais seismeninas, ela relata que apermanência no local temsido ótima e que agora elapretende sair dali só quandoatingir a maior idade. “Sósaio daqui quando me casarou quando fizer 18 anos”,conta. Para o ano que vem,Sâmara fala que pretenderetomar os estudos tendoem vista que ela não con-cluiu neste ano a 5ª .

FUTURO Depois do abrigoprovisório, muitas das mu-lheres se reintegram nova-mente em outras casas, secasam ou formam-se na fa-culdade. “Elas ficam aquiaté resolver sua situação”,acrescenta Maria das Gra-ças.

Ricardo conta que muitasdas moças voltam para oPró-Reis com uma famíliapara visitar o local e inclu-sive há um quarto na ONGpara essas visitas. O bomrelacionamento com algu-mas empresas tambémfacilita na indicação de mu-lheres abrigadas para empre-gos.

Luiza Palumba mora há oito meses na ONG com seus filhos Larissa e Gabriel, pois sua casa se encontrava em área de risco

Violência contra menoresmotiva criação da ONG

A idéia de se criar umainstituição com atendimen-to voltado à mulheres e cri-anças em estado de riscoveio a partir do momentoem que uma das fundadorasdo local, Maria das GraçasBarreiro, passou a receberem casa alguns casos de mul-heres, em sua maioria víti-mas de violência doméstica.Maria das Graças lembraque ao longos destes 14anos recebeu muitas meni-nas. Uma das primeiraschegou a sua casa graças aindicação de um amigo.Maria lembra que a meninadecidiu sair de casa porque opai, além de alcóolatra, tam-bém a agredia. Hoje ela rela-ta que a moça que aprocurou está casada e quetambém possui empregofixo. “Eu tentava ajudar namedida do possível. Assimcomo esta menina, foramvárias que apareceram na

minha casa”, conta Mariadas Graças.

ADAPTAÇÕES O Pró-Reisfunciona em uma escoladesativada, construção cedi-da pela prefeitura, porémantes de ser transferido paralá, chegou a funcionar emum antigo complexo hospi-talar. Segundo Maria dasGraças, as adaptações dohospital foram grandes, afim de que as atividadespudessem ser realizadas nolocal. Ela relata que as enfer-marias foram transformadasnos quartos e os outrosambientes, pouco a pouco,passaram a fazer parte doabrigo. Foi nesta época queos organizadores percebe-ram que devido a falta deum lugar apropriado para orecebimento de pessoas ca-rentes e em processo derecuperação, a ONG teriaque ampliar suas atividades.

“Inicialmente a gente queriatrabalhar com mulheres ecrianças em estado de risco,porém a falta de um espaçoadequado para acolher asdiversas pessoas aqui emNova Lima fez com que agente tivesse que ampliar asatividades”, relata Maria dasGraças.

DIFICULDADES Quandomudou-se para ONG,Ricardo Souza Freitas contaque no começo da sua esta-dia, a insegurança quanto aofuturo do local era grande.“A gente não sabia se ia tercomida no outro dia”,desabafa. Ricardo relembraque uma vez chegou umamulher pedindo um pacotede açúcar, porém só haviamdois na dispensa. Preo-cupado, ele peguntou aMaria das Graças o que de-veria fazer, e para sua sur-presa ela lhe respondeu que

podeira doar o saco de açú-car à mulher. “Eu não enten-di mas ela (Maria dasGraças) me disse que para agente este pacote durariadois dias, mas para esta mu-lher duraria quase um mês, eque, no mais, Deus dariaoutro”, relata. Ricardo contaque, para sua surpresa, nomesmo dia parou um cami-nhão com doações e um dositens que mais tinha era açú-car. “Chegava a escorregarno chão de tanta açúcar”,conta emocionado.

Hoje a instituição tem apoiode diversas instituições eempresas que também ajudama manter a ONG, dentre elas aPrefeitura de Nova Lima euma construtura do município,além de doações recebidas naconta da instituição. Ricardo eMaria das Graças contam quetudo é aproveitado, e asdoações que sobram são dis-tribuídas na vizinhança, que

também é muito carente. Olugar também conta comajuda de seis voluntários ecinco cumpridores de penaalternativa. Em função doaumento da demanda dacomunidade, a ONG pediuajuda da prefeitura local paraexpansão das atividades e tam-

bém para implantação de umprojeto psicopedagógico, quejá foi aprovado pela ConselhoMunicipal da Criança e doAdolescente e será implantadoem janeiro. A idéia é ofereceroficinas dentro da casa paraajudar na formação e ocuparos integrantes da ONG.

Idealizadores da ONG, o casal de pastores tem a ajuda de voluntários

GUSTAVO ANDRADE

GUSTAVO ANDRADE

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5CidadeDezembro • 2008 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas•jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas•jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas•jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

PASSATEMPO NO METRÔ É BEM ACEITOO projeto Leitura no Metrô é uma boa alternativa para passageiros que desejam se distrair durante o trajeto. Os 400 textos literários são direcionados a pessoas que passam a viagem em pé

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GABRIEL DUARTE,ISABELLA LACERDA,2º PERÍODO

Observar a paisagem durante otrajeto da viagem no metrô erauma das únicas distrações da téc-nica de enfermagem LuizaHelena, de 46 anos, que utilizaesse meio de transporte todos osdias, entre a estação Carlos Pratese Venda Nova. Desde outubroúltimo, quando foi implantado oprojeto Leitura no Metrô, o trajetode cerca de 30 minutos ficoumenos monótono”. Lendo os tex-tos não vemos o tempo passar”,afirma a passageira.

Luiza Helena é uma dentre os150 mil usuários que, em média,utiliza esse transporte coletivo.Apesar de ser uma nova forma depassar o tempo, em uma viagemfeita entre as estações Gameleira eMinas Shopping, quando os car-ros do metrô receberam 86 pes-soas, somente uma leu os textosque estavam dependurados nascolunas de apoio aos passageiros,enquanto outras, mesmo em pé,leram jornais e revistas ou, atémesmo, ficaram de costas para aspublicações.

O projeto, implementado pelaCompanhia Brasileira de TrensUrbanos (CBTU) em parceriacom a Faculdade de Letras daUniversidade Federal de MinasGerais (FALE-UFMG) em ou-tubro desse ano, em todos os 25trens da frota, já recebeu mais de400 textos de diferentes gênerosliterários e autores. “O projeto estásendo muito bem aceito. Temos

recebido várias cartas e ligações elo-giando”, diz a gerente de atendi-mento ao usuário e integração daCBTU, Heloísa Doche.

Ela conta que nunca houvereclamação a respeito do conteúdodos poemas, somente pedidospara aumentar o tamanho dasletras e a disposição dos textos deforma que, quem esteja assentado,também possa ler. “Isso já é maisdifícil, pois o projeto é para aquelaspessoas que estão em pé, sem con-forto, sem ter como segurar os tex-tos. E quem está assentado nor-malmente está lendo um livropróprio, estudando, no conforto”,explica.

ARTE E INCLUSÃO A campanhaLeitura no Metrô está inseridadentro do Projeto Estação Arte eCidadania, promovida pelaCBTU, e que abrange diferentesformas de promoção às artes einclusão social. Heloísa argumentaque esse projeto tem um carátermais permanente do que os outrosdesenvolvidos, além disso, afirmaque é necessária a manutenção dostextos por um determinado temponos trens para que as pessoas te-nham vontade de lê-los. “Os textostêm que ficar certo tempo dentrodos trens para provocar a vontadede ler nas pessoas. Às vezes as pes-soas não estão com vontade de lernaquele dia, ou começam a ler edepois param. Então tem que dartempo a elas”, comenta.

A idéia de implantar os textossurgiu da experiência de MariaAntonieta Pereira, pós - doutoraem Letras pela UFMG e coorde-nadora do Projeto Leitura para

Durante o percurso os passageiros podem ter contato com os poemas do projeto do Estação Arte e Cidadania

Todos – projeto de divulgação detextos nos ônibus da capital – queem 2003, enquanto estava naArgentina estudando, percebeuque os usuários do metrô de lá liammuitos livros e jornais. Então ela, apartir dessa experiência, promoveucampanhas com o objetivo de pos-sibilitar a publicação de textos nosmeios de transporte coletivo. “Em2003/2004 implantamos o proje-to-piloto na linha circular deônibus e ele foi muito bem rece-bido pelos usuários”, relembra acoordenadora.

Maria Antonieta explica que aescolha de se publicar os textosprimeiramente nos ônibus, deu-se

por esse transporte ser mais popu-lar entre os cidadãos mineiros.Após o sucesso nos ônibus, tornou-se possível a disseminação da idéianos metrôs. “O professor AntônioAugusto, do curso de letras aqui daFederal, que propôs que o projetofosse para o metrô. A gente con-seguiu que o projeto fosse recebidopor toda a população”, comenta.

PUBLICAÇÕES A coordenadora eidealizadora do Projeto Leiturapara Todos, que abrange a publi-cação nos ônibus e no metrô, expli-ca que, desde a criação do projeto,a equipe da FALE já recebeu textosde mais de 300 autores diferentes.

A equipe, que tem a função de sele-cionar e implantar os textos, publi-ca as criações de jovens escritoresainda desconhecidos, mas tambémobras de autores que são referênciana literatura brasileira, como OlavoBilac e Lima Barreto.

A escolha dos textos se dá pelaqualidade literária e não peloassunto. “Publicamos não só tex-tos, como poemas, haikai, crôni-cas. Não é nada específico de umaépoca”, diz Maria Antonieta, queainda complementa explicandoque são feitas algumas modifi-cações antes da publicação dosmateriais. “Publicamos visandoaproveitar o espaço e com letras

que facilitam a leitura. Além disso,fazemos algumas revisões grama-ticais quando necessário”, comple-ta.

Maria Antonieta ainda explicaque os textos chegam via correioeletrônico ou a equipe seleciona osde domínio público, que sãodisponibilizados pelo governo. Deacordo com ela, há uma tentativade se publicar pelo menos umtexto de cada autor, mesmo aque-les que não são de grande quali-dade. “O projeto é uma grandeoportunidade”, ressalta.

Márcia Araújo, de 42 anos,que escreve textos desde os 12, éum dos casos de pessoas queenviaram seus textos via e-mail.Ela teve dois textos escolhidospela equipe da FALE e já tevealguns de seus escritos publicadosem livros. “Essa oportunidade erao que eu estava precisando. Játinha até esquecido que haviamandado seis textos para o proje-to quando me informaram quedois dos meus foram escolhidos”,comemora.

A escritora explica que usa devárias inspirações para escreverseus textos, como sua cidadenatal, seus familiares, lugares quegosta de freqüentar e, até mesmo,escritores já consagrados, comoCecília Meireles. Márcia tambémressalta a importância do projeto,que serve para aguçar a vontadede ler nas pessoas, além de divul-gar novos escritores brasileiros.“Os textos estão ali de graça,então a pessoa deve aproveitar eler. Lá você encontra desdeMárcia Araújo a Machado deAssis”, brinca a autora.

Poemas que aliviam o estressee fazem o pensamento viajar

Usuários da linha 1207C tem a oportunidade de leitura de poemas no ônibus

Quando José de FátimaGuedes sai de casa, o dia malcomeçou. O porteiro que mora nobairro Santa Mônica e utiliza oônibus da linha 1207C para sedeslocar, afirma precisar sair atéuma hora mais cedo de casa, paraconseguir chegar ao prédio comer-cial em que trabalha, sem seatrasar. Um percurso, segundo ele,muitas vezes estressante e impro-dutivo. Essa situação mudou emfunção do projeto Leitura paraTodos. O que antes era para Josésomente um percurso tenso ebarulhento, virou uma oportu-nidade para ter contato com a li-teratura brasileira e se distrair.“Tenho até a 8ª série e já li muitos

Rodrigo como sendo resultado dalimpeza interna e externa, realiza-da através de fortes jatos de água,a que são submetidos os ônibusnas garagens e a depredação porparte dos usuários.

A estudante e usuária deônibus da linha 3302A, já inseri-da no projeto, Fernanda

Aparecida, 16 anos, diz apreciartanto poesia que acabou porlevar para si uma das lâminas.“Tinha uma poesia que falavade amor e de dúvidas que agente sente. Não resisti e leveipara colocar no quadro de fotose avisos que tenho no meu quar-to”, revela a menina, sorrindo.

Projeto teve o primeiro teste em linhas de ônibus O Projeto Leitura para Todos,

idealizado pela professora MariaAntonieta Pereira, com o apoioda Faculdade de Letras daUniversidade Federal de MinasGerais (FALE-UFMG), teve seuprimeiro teste nas linhas deônibus, com a fixação de diversostextos sobre os mais variadosassuntos e, em seguida, nosmetrôs da capital. Entretanto,devido às diferenças desses trans-portes, o projeto foi implantadovisando às características especí-ficas de cada um.

Segundo Maria Antonieta, as

diferenças se iniciam já na quan-tidade de textos afixados emcada um desses meios de trans-porte. “São 18 lâminas em cadaônibus. Elas são colocadas antese depois da catraca, banco sim,banco não”, diz. Já nos metrôs,Heloísa Doche, que coordenaesses projetos nesse transporte,afirma que a quantidade variaentre sete e oito lâminas.

Entretanto, a principal dife-rença entre esses meios de loco-moção é na questão dadepredação das lâminas. Deacordo com ambas as coorde-

nadoras, há muito vandalismo,mas ele é mais notado nosônibus. “O nível de vandalismono metrô é menor. Nos ônibus aspessoas arrancam, amassam, ras-gam. O povo do metrô é muitomais organizado e rígido, então émais fácil a conservação. Alémdisso, no metrô as lâminas sãomais resistentes e são fixadas demodo que todos que estão alidentro conseguem vê-la, o queinibe a ação desses vândalos”,comenta Maria Antonieta.

Uma outra diferença é opatrocínio que esses projetos

recebem. Nos ônibus, como afir-ma Maria Antonieta, as empre-sas de transporte não dão ne-nhum incentivo. “Não temosfinanciamento do governo, só daBHTrans. Nem as empresas deônibus se interessam. No metrô,a própria Companhia Brasileirade Trens Urbanos (CBTU) éresponsável pelo patrocínio”,salienta. Esse patrocínio diferen-ciado acaba gerando diferençasnas qualidades das lâminas. “Hádiferenças nas lâminas dosmetrôs em relação aos ônibus.Quando fomos procurados pela

FALE quisemos investir em umacoisa mais moderna, até pelovisual moderno que o metrô játem”, explica Heloísa.

Como forma de incrementarainda mais o projeto, as coorde-nadoras afirmam estar elaboran-do campanhas de conscientiza-ção da população usuária deambos os transportes. “Esse éum projeto que requer muitodinheiro para funcionar. Entãoestamos começando, nessesemestre, uma campanha nosônibus e metrôs, com a ajuda denossos monitores, para explicar o

projeto e pedindo para que nãodestruam as lâminas”, comentaMaria Antonieta. Como projetosespecíficos para o metrô, HeloísaDoche ressalta a idéia de se insta-lar câmeras dentro dos carrospara ajudar a evitar vandalismo ealguma forma de tornar as lâmi-nas ainda mais atrativas.“Também queremos incremen-tar as lâminas colocando, a partirdo ano que vem, quadrinhos echarges. Coisas mais divertidas eque incentivem outros artistasque também estão começando”,conta.

livros na época de escola, masdepois que a gente cresce, temfamília e começa a trabalhar, muitacoisa muda. Agora, assim que euentro no ônibus, escolho umpoema que ainda não tenha lido eviajo duas vezes, no ônibus e nopensamento” afirma o porteiro.

Segundo Rodrigo Magalhães,assessor de Marketing daBHTrans, apoiar essa iniciativa émuito interessante para a institu-ição devido à característica deincentivo a cultura que o projetodemonstra. “A BHTrans procuraproporcionar aos usuários umaviagem agradável. Isso envolvelotação, limpeza dos ônibus eenriquecimento cultural”, comentao assessor. Além disso, Rodrigoafirma que nos casos de engarrafa-mento as lâminas de literatura são

ainda mais úteis. “Com o aumentoatual do tempo gasto nas tra-jetórias em Belo Horizonte, o pas-sageiro do transporte coletivo, seocupado em alguma atividade,acaba se distraindo e ficandomenos irritado com os engarrafa-mentos”, diz.

A escolha das linhas que irãoparticipar do projeto é realizadaseguindo critérios definidos pelaBHTrans. “Escolhemos linhasgeograficamente dispersas, paranão abranger apenas uma únicaregião. Mesclamos linhas de perife-ria e centrais”, explica RodrigoMagalhães. Atualmente existem24 linhas de ônibus, somando umtotal de 280 veículos que já parti-cipam desse projeto. De acordocom a professora da UFMG,Maria Antonieta Pereira, a meta é

abranger toda a frota de ônibus daRegião Metropolitana e irexpandindo gradativamente paratodo o Estado de Minas Gerais. “Jáexistem projetos-piloto em outrascidades como Diamantina,Contagem e São João Del Rei, maso projeto só vingou mesmo em BHe São João Del Rei, onde leva onome de Leitura Itinerante”,esclarece Antonieta.

A manutenção das lâminas deliteratura é realizada por 11 mo-nitores, alunos da UFMG, quecontratados pela BHTrans, visi-tam os ônibus e repõem as lâmi-nas danificadas. “Vinte por centodas lâminas necessitam ser tro-cadas a cada 3 meses”, afirma oassessor de Marketing. Osmotivos mais comuns das danifi-cações são apontados por

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ALINE SCARPONI,3º PERÍODO

GUYANNE ARAÚJO

CÍNTIA REZENDE

Page 6: Jornal Marco - Ed. 263

6 CidadeDezembro • 2008jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

DIFICULDADES

EM FAZER MODAApesar dos obstáculos, grifes vão em busca de conquistas na cidade de Belo Horizonte

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LÍVIA ALEN,SÍLVIA ESPESCHIT,2º PERÍODO

Ronaldo Fraga, VictorDzenk, Renato Loureiro,Tereza Santos, ElviraMatilde, Apartamento 03.Grifes como essas são fortesrepresentantes da modamineira no cenário na-cional. Mas, para se manterna vanguarda no setor, asempresas são obrigadas asuperar diversos problemas.O estilista Luiz CláudioSilva, da Apartamento 03,considera a indústriamineira defasada emrelação à matéria-prima emaquinário. Segundo ele,alguns recursos utilizadospara facilitar a produçãoem série não são encontra-dos em Belo Horizonte,sendo necessária a tercei-rização em outros estados."Uma máquina de bordaravançada é muito cara.Trazer isso demanda umagrana. Acaba então queconcentra isso em SãoPaulo, onde a mão-de-obraé mais barata", explica.

A designer GabrielaDemarco, proprietária da

grife Elvira Matilde, com-partilha da opinião de LuizCláudio. "Tem crise, tempoucas estamparias, lavan-deria é um problema", re-vela se referindo a lavagensespeciais, utilizadas paradar efeitos diferenciadosnos jeans produzidos pelamarca. "A gente mandalavar a roupa, o jeans, noEspírito Santo", conta apublicitária Emília GiuzioPádua, filha de Gabriela.

Gabriela Demarco eLuiz Cláudio Silva tambémapontam a dificuldade dese encontrar mão-de-obra,especificamente costurei-ras. "Está com crise de mão-de-obra especializada", dizGabriela. O estilista expli-ca que "a moçada nova nãoquer saber disso", comple-tando que "é desvalorizada,a profissão". Ele tambémconta que trabalha compessoas de meia idade,como Rosa Maria JoséFernandes de 58 anos e quecostureiros na faixa dos 30anos, como VivianeCristina Almeida, 33, sãoraros.

DESCOBERTA Dona Rosa

trabalha na grife Maracujá,para a qual Luiz Cláudiodesenha, ela aprendeu o ofí-cio na "roça", no municípiode João Pinheiro, há maisde 30 anos com a sogra.Nessa época, ela não usavamoldes de papel, como fazhoje, mas as roupas é queserviam de molde. Cos-turava para ajudar no sus-tento da família, "O jeitoque tinha para ajudar meuesposo a manter a obri-gação da casa era minhacostura", relembra. Ao semudar para a capital, em1981, foi ser empregadadoméstica, mas fazia costu-ra para os outros em suacasa. Por sugestão de umavizinha, que percebeu seutalento, procurou uma con-fecção para ter a carteiraassinada. Assim, se tornoucostureira profissional. "Eusustento minha casa commeu trabalho", ressalta.

Viviane Cristina Almei-da, 33 anos, tambémcomeçou a costurar jovem,aos 16, quando fez umcurso para costurar calçajeans no Espro, entidadeque ministra cursos amenores aprendizes. Ini-

O estilista Luiz Cláudio Silva aponta a dificuldade para se encontrar mão-de-obra para a indústria de moda mineira

GUSTAVO ANDRADE

Caixinhas dos Correios alimentam hábitos antigosn

LORENA KAROLINE MARTINS, 3º PERÍODO

Daniel Palhares já usou as caixas de coleta mas prefere enviar cartas por meio de agência por achar mais seguro

“Bom, eu uso a caixa amarelaporque compro selos a rodo paranão precisar entrar em fila naagência. Se sua carta já tiver sela-da, você põe na caixa amarela”,revela a estudante Flávia Lages,moradora do Bairro Gameleira,na Região Oeste da Capital.Como ela, outros moradores deBelo Horizonte utilizam-se das614 caixas de coleta instaladasem diversas áreas de BeloHorizonte, principalmente emfrente às agências de correios ouem locais de grande fluxo de pes-soas.

Flávia revela que escreve emmédia quatro cartas por mêspara seus amigos e utiliza a caixade coleta localizada em umsupermercado do seu bairro. “Éuma coisa que funciona, é legal”,completa.

Alexandre Luiz Couto, 20anos, conta que com a instalaçãode uma caixa de coleta perto deuma loja em seu bairro o acessoa esse tipo de atendimento foifacilitado já que onde mora nãoexiste uma agência dos correios.Morador do Bairro Tupi, RegiãoNorte da capital, Alexandregarante que as caixas são práti-cas. “Os selos são comprados nasbancas de revistas e em lojinhasdo bairro mesmo”, informa.Alexandre conta que sua mãetambém utiliza as caixas emesmo não deixando de lado ouso de correios eletrônicos, gostade enviar cartas a parentes e ami-gos. “Uso sempre que tenho queenviar cartões de aniversários eNatal para amigos e parentes, ouqualquer documento que nãoprecisa ser registado”, revela.

O designer Daniel Palhares,20 anos, morador do Bairro

Sion, Região Centro-Sul de BeloHorizonte, conta que já mandoucartas algumas vezes por meiodas caixas de coleta mas que namaiorias das vezes a carta voltoupara sua casa. “Eu nunca seiquanto custa o certo a carta sim-ples então eu não sei a quanti-dade de selos é preciso colocarpara cada lugar”, afirma. Em vezde usar a caixa de coleta, Danielprefere utilizar uma agência dosCorreios. “No meu caso tenhoum correio aqui perto de casa esempre vou no horário maisvazio, é mais prático”, acrescenta.

INSTALAÇÃO Para a instalaçãode uma caixa de coleta énecessário que o local seja planoe que, preferencialmente, propor-cione de alguma forma uma pro-teção contra fatores meteorológi-cos. E quando houver interessepor parte do responsável de

algum estabelecimento, a caixade coleta poderá também serinstalada em espaços comerciais.É o caso do conjunto de lojaslocalizado à Rua Dom JoséGaspar, no Bairro CoraçãoEucarístico, Região Noroeste deBelo Horizonte. O antigo propri-etário da gráfica DrawMinas,Luiz Alberto Ferreira, 54 anos,conta que a caixa foi instaladadevido ao grande fluxo de pes-soas, uma vez que, junto à gráfi-ca, existem outras lojas, dentreelas, papelaria e lanchonete etambém um banco.

Dono há três anos da lan-chonete “Açaí Lanches”, CarlosHebert comenta que não vêmuitas pessoas utilizando a caixade coleta. “Acho que a pessoanão vê, a caixa fica meio escondi-da”, acredita. Carlos declara quenão a utiliza porque não precisado serviço, embora o tenha

disponível. “Tem dias que dá atédó do carteiro, ele abre a caixapara recolher as cartas e não temnada, só teia de aranha”, brinca.

FLUXO Embora ainda sejam uti-lizadas para o envio de cartassimples, as caixas de coletas sãomais freqüentes em épocas festi-vas como a Páscoa e o Natal,onde os Correios elaboram osaerogramas com temas relaciona-dos a essas datas, custandoR$1,50 cada. “Nessas épocas,cerca de 50 cartas são recolhidasdiariamente”, afirma HelderLúcio da Silva Soares, fun-cionário dos Correios há quatroanos, e há dois da Agência loca-lizada à Rua Pernambuco, naRegião da Savassi.

Para as cartas simples, Helderexplica que os selos podem sercomprados nas Agências dosCorreios pelo preço de R$0,65

para cartas de zero a 20 gramas.E, para quem acredita que ascartas enviadas por meio dascaixas de coleta demoram mais,o funcionário garante que otempo é o mesmo para quemenfrenta fila nas agências. “Ascartas são recolhidas diaria-mente às cinco horas da tarde eaquelas enviadas depois dascinco serão entregues só nooutro dia”, informa.

Helder acredita que ascaixas de coleta vieram parafacilitar a vida da pessoa eque hoje, o fluxo de usuáriosdas caixas diminuiu devidoprincipalmente à internet. “Acarta tem a emoção, o cheiro,a letra. São infinitos senti-mentos que a mensagem decelular ou o e-mail não dãoconta de transmitir”, expres-sa.

LORENA KAROLINE MARTINS

cialmente, ela não tinhavontade de fazer, mas gos-tou "tanto que quis apren-der mais ainda", diz.Especialista em roupas defesta ela conta que éapaixonada pelo que faz. "Éa paixão da minha vida. Asmeninas que estão vindonão querem saber de costu-ra", afirma Viviane. "Elasnão sabem o que estão per-dendo", acrescenta.

Predominantemente deestrutura familiar, de acordo

com professor da Pós-graduaçãoem Design de Moda da Fumec-BH, José Coelho de AndradeAlbino, as grifes mineiras pas-sam por dificuldades no proces-so produtivo, devido à pre-cariedade no gerenciamento."Existem mais de 400 cursos dedesign de moda. O que falta écurso de gestão de moda", dizele, completando que tambémhá deficiência no jornalismo demoda brasileiro, que, para ele,hoje é apenas "mera descrição"de peças e coleções.

Segundo Albino, que tam-bém é professor de Co-municação Social da PUCMinas, o ideal seria que hou-vesse um administrador nasgrifes, e que este fosse tão criati-vo quanto o estilista. Assim,não se prejudicaria o processoinventivo, já que trabalhariamem sintonia. Entretanto, issonão ocorre na prática. "Na horade ter concorrente, o fato denão ser profissionalizada que-bra (a empresa)", afirma.

Limite à carta socialpara manter foco

As famosas cartas cujo selocustava apenas um centavoainda existem. Mas, a vendados selos sociais não é maispermitida. Antes podia-seadquirir esse tipo de selos emqualquer agência, colar noenvelope com o endereça-mento feito de forma manu-scrita e depositar em qualquercaixa de coleta. Hoje, para seremeter a carta social não sepode utilizar mais a caixa decoleta e os selos são adquiridosno ato do envio. “As pessoasnão respeitavam, haviamempresas que usavam o selosocial e assim estava saindofora do foco”, conta o fun-cionário dos Correios, HelderLúcio da Silva Soares.

Segundo ele, em princípioa idéia era incentivar a troca decartas com limite máximo depeso até 10 gramas, entre pes-soas físicas (remetente e desti-natário) e facilitar o acesso aosserviços postais às camadas

menos favorecidas da popu-lação. Além disso, a proibiçãotambém se dá ao fato de que apostagem máxima é de cincocartas por pessoa, e com acompra dos selos sociais, pes-soas colocavam mais do que onúmero permitido dentro dascaixas de coleta, diariamente.

MAIS UTILIZADA De acordocom uma pesquisa feita pelaAssessoria de Comunicaçãodos Correios (Ascom), a caixade coleta com o maior númerode cartas recolhidas em BeloHorizonte, neste ano, é a situ-ada em frente à agência cen-tral, localiza na AvenidaAfonso Pena, no mesmo quar-teirão da Prefeitura, commédia diária de 30 objetospostais. O resultado é devidoao grande número de pessoasque transitam diariamente nocentro da cidade e utilizam aagência.

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7CidadeDezembro • 2008 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MINISTÉRIO AMPLIA SEDE NA CAPITALMinistério do Trabalho e Emprego ganha posse do prédio ao lado, onde funciona a Faculdade de Ciências Econômicas, para melhorar o atendimento. A reforma começa em fevereiro

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CAMILA LAM, GUSTAVO ANDRADE, 4º E 6º PERÍODO

Escadas estreitas, pes-soas esperando e corre-dores tumultuados. Glay-dson Nunes, 15 anos, foipela primeira vez aoMinistério do Trabalho eEmprego, no Centro deBelo Horizonte, para tirarsua carteira de trabalho.Estudante do primeiroano do ensino médio, eleteve de ir duas vezes aolocal para conseguir o pro-tocolo que garantia aemissão do documento.Na primeira vez, Glay-dson chegou às 14h, masas senhas já haviam seesgotado desde as 10h. Nasegunda tentativa, o estu-dante esperou durantetrês horas para pegar oprotocolo. “Demoroumuito. Cheguei tarde emcasa e tive que ir pra esco-la sem almoçar, senão iriaperder prova”, comenta.Com o protocolo ele pôdebuscar sua carteira dentrodo prazo prometido, trêsdias.

“A estrutura aqui dasede é de 1950, o mercadode trabalho há 50 anos erauma realidade bem dife-rente da de hoje, mas esseprédio aqui do lado, daFACE (Faculdade deCiências Econômicas), já énosso, nós obtivemosposse dele”, explica osuperintendente AlyssonPaixão de Oliveira Alves,da Superintendência Re-gional do Trabalho eEmprego em Minas Gerais(SRTEMG). Ele revelaque a reforma do imóvel

começará em fevereiro.

EVOLUÇÃO Segundodados do InstitutoBrasileiro de Geografia eEstatística (IBGE), a po-pulação de Belo Horizonteem 1950 era de 352.724habitantes em 2007 eram2.412.937 habitantes.Esse crescimento não foiacompanhado pela estru-tura do ministério nacidade. Alves afirma que aagência do Barreiro dásuporte à sede, mas nãoalivia a demanda, poisdevido à sua localização aagência recebe pessoasdaquela região. Ele aindadiz que o espaço físico doMinistério do Trabalhoem Belo Horizonte nãomudou desde sua inaugu-ração.

Segundo o superinten-dente, são emitidos apro-ximadamente 8 mil car-teiras de trabalho por mêse essa demanda está ligadaao aumento da criação denovos postos de trabalhoem Minas Gerais. De acor-do com a última pesquisamensal do Cadastro Geralde Empregados e De-sempregados do Mi-nistério do Trabalho eEmprego (MTE), foramgerados em Belo Ho-rizonte 58.958 postos deemprego, e em MinasGerais foram 252.705novos postos de trabalho,número que representaum crescimento de 8,11%.“Com a mudança, além doaumento diário, terá maisconforto para o cidadão,trabalhador. Hoje, a fila éem pé, nas escadas. Lávamos ter uma agência

com senha digital e cadei-rinha para esperar”, afir-ma Alves.

Apesar de as obrasestarem previstas paracomeçarem em fevereirodo ano que vem, o supe-rintendente espera re-solver o problema doatendimento nos setoresda carteira de trabalho,seguro de desemprego ehomologação, pois são ossetores que lidam com omaior número de pessoaspor dia. Esses serviços fun-cionam em espaço físicolimitado e conseqüente-mente os funcionáriosnão conseguem atenderbem o público. “Chegammuitas pessoas extrema-mente nervosas. Mas odesgaste aqui do pessoal(funcionários) também émuito grande”, relata JaneAzevedo Souza, chefe doSetor de Identificação eRegistro Profissional.

ROTINA No setor deemissão de carteira de tra-balho o atendimentocomeça às 7h pelatriagem, processo que con-siste em verificar os docu-mentos das pessoas queestão na fila. A triagem éimportante para que aque-les que não estão comtodos os documentosnecessários não precisemesperar inutilmente. Aotodo são 18 funcionáriosque atendem de 8h às17h, revezando-se nohorário do almoço paraque o atendimento sejaininterrupto. “São entre-gues de 350 a 400 senhaspor dia”, resume Jane. Porhora, há uma média de 75

Por dia, cerca de 400 senhas são distribuídas no ministério para aqueles que desejam tirar a carteira de trabalho

a 100 senhas distribuídase o atendimento não pára.Segundo Jane, não existeum padrão para a dis-tribuição das senhas, poisenquanto tem dia que assenhas duram até de 15h,tem dia que elas acabamna parte da manhã e sópodem ser distribuídasnovamente após todas aspessoas serem atendidas.“Chega início de novem-bro, até fevereiro é essainconstância, por causa dotrabalho temporário”, re-vela Jane.

ESPERA A história daestudante de fisioterapiaAna Luiza MoreiraPauferro foi diferente dade Glaydson. Para tirar acarteira pela primeira vezfoi tranqüilo. “Não fui

atendida de imediato, maso tempo de espera não foimuito”, diz ela. A estu-dante precisava do docu-mento para ser contratadapara um trabalho noperíodo de férias da facul-dade e, após três dias, bus-cou a carteira de trabalho.

A sala de espera com-porta aproximadamente75 pessoas, por isso as se-nhas são limitadas, assim écomum ver pessoasesperando no corredor enas escadas. “O espaçofísico é muito restrito. Umdos problemas é que vêmmuitos jovens, com issovem o pai, a mãe ou avó.Aí fica tudo tumultuado,tem pai que quer entrarcom o filho porque ele émenor de idade, masmesmo sendo menor, ele

pode tirar carteira”, expli-

ca Jane. Na porta da sala

de espera há um aviso

quanto à proibição da

entrada de acompa-

nhantes para evitar ter

esse tipo de problema, mas

que acarreta em outro,

acompanhantes esperando

do lado de fora.

Uma das supervisoras

do Setor de Identificação e

Registro Profissional da

SRTEMG, Marcilene

Gonçalves do Valle, con-

corda que a mudança trará

benefícios no atendimen-

to. “O prédio da FACE

permitirá um amparo mel-

hor para as pessoas e até

para o nosso trabalho. O

novo prédio vai revigorar o

ministério”, constata ela.

Livro ensina educação constitucional a cidadãosn

THAÍS MOTA,4º PERÍODO

A Constituição FederalBrasileira é referênciamundial e é exemplo paraoutros países, mas édesconhecida pelo seupovo. Em outubro desteano ela completou 20 anose o advogado, psicólogo eescritor Rodrigo CostaVidal resolveu escrever olivro "Educação Cons-titucional, Cidadania eEstado Democrático deDireito", que foi lançadono último mês de novem-bro.

O objetivo maior do seulivro é denunciar que após20 anos de Constituição opovo brasileiro ainda adesconhece. Segundo Ro-drigo Vidal, a nossa cons-tituição é "riquíssima" emdireitos e também emdeveres, mas as pessoasnão conhecem o direitoque têm. "Então, é como seele não existisse", observa.

O autor propõe ainda oexercício da EducaçãoConstitucional que temobjetivo básico dar edu-cação e informação sobreos direitos e deveres decada um e sobre a for-

O advogado Rodrigo Vidal é o autor do livro que objetiva denunciar o desconhecimento da população sobre a constituição

mação do Estado, para o

exercício pleno da cidada-

nia. "A proposta é levar a

constituição para o povo,

para que ele se torne ver-

dadeiramente cidadão",

afirma o autor.

CIDADANIA A idéia é fazer

com que o brasileiro se

torne cidadão através de

uma educação reflexiva e

crítica. E essa idéia está na

base da própria Cons-

tituição, pois, segundo o

artigo 64, todos têm direi-

to de receber do governo

um exemplar da Cons-

tituição, e isso não estásendo cumprido. "Opróprio Estado não cum-pre com o que aConstituição está mandan-do e nunca vai cumprir seo povo não cobrar. Ospolíticos só obedecem àcobrança do povo", afirmaRodrigo Vidal.

Sua proposta é imple-mentar em todos os níveisdo ensino brasileiro, ouseja, nos ensinos funda-mental, médio e superior,um estudo da ConstituiçãoFederal, para que oscidadãos tenham real-mente consciência dosseus direitos e dos seusdeveres, saibam como fun-ciona o Estado brasileiro."O objetivo é tornar ocidadão consciente de seusdireitos, consciente decomo que o estado fun-ciona e consciente tambémassim de que o Estado lhepertence", afirma RodrigoVidal.

Ele diz ainda que a edu-cação constitucional podecontribuir, e muito,para o exercício da demo-cracia. Conhecendo aconstituição, o cidadãopoderá fiscalizar melhorpara onde vai o dinheiro

que paga em tributos aogoverno, como está sendogasto o orçamento anualde sua cidade e cobrar aspromessas dos gover-nantes. Segundo ele énecessária mais partici-pação dos cidadãos na fis-calização dos gastos dogoverno e aplicação dasverbas públicas, afinalessas verbas não per-tencem ao governo, mas aopovo brasileiro. SegundoRodrigo, "a base da democ-racia é a educação consti-tucional, porque como éque você vai ser umcidadão participativo sevocê não conhece a consti-tuição? Porque é na consti-tuição que está a consciên-cia política, a consciênciados nossos direitos edeveres, dos mecanismosde participação do povo nopoder", argumenta.

A educação constitu-cional, segundo RodrigoVidal, é um dever primeirodo Estado, mas é essencial acolaboração da sociedadecivil, das empresas, das insti-tuições de ensino, das insti-tuições religiosas e dos meiosde comunicação, divulgandoa constituição e a cidadania.

GUSTAVO ANDRADE

GUSTAVO ANDRADE

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8 Cidade • JustiçaDezembro • 2008jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Processos criminais são paralisados pelas vítimasn

LUÍSA MELO, POLLYANNA DIAS, 1º PERÍODO

A análise feita por EduardoBatitucci e Andreia Santos,respectivamente coordenador epesquisadora do Núcleo deEstudo em Segurança Pública(NESP), da Fundação JoãoPinheiro, constatou que aproxi-madamente 90% dos 610processos investigados noJuizado Especial Criminal deBelo Horizonte (Jecrim) termi-naram com o desinteresse davítima em dar prosseguimentoao caso. Os dados de 2006destacaram que embora hajaassistência o que sobressai é aburocracia, fenômeno que inti-tula o trabalho como "Fábricade Carimbos".

Para a socióloga AndreiaSantos, o motivo para o altoíndice de desistência é odesconhecimento do cidadãoem relação à Justiça EspecialCriminal e o reconhecimentode que a polícia é a responsávelimediata para apaziguar osconflitos. "A pessoa faz uma

denúncia, gera um boletim deocorrência (BO) e, quandochega à frente do juiz, o motivodaquele conflito social perde osentido. Quando as pessoaschegam a reclamar, elas queremreclamar para a polícia", afirmaAndreia Santos.

Segundo a socióloga, aintimidação ao atrelar o nome aum processo judicial, mesmosem o peso dos processos con-vencionais de justiça, faz comque a vítima tente apaziguar,esquecer ou resolver em outracircunstância o seu problema.

A pesquisadora aponta queessa justiça ainda é fraca."Apesar de ter um volumeabsurdo, com 17 mil processosao ano, o Jecrim está trabalhan-do mais burocraticamente doque dando assistência às pes-soas", comenta. Andreia dosSantos disse ainda que normal-mente, quando a reconciliaçãose efetiva, o juizado conseguereparar o conflito. "A reincidên-cia é pequena", ressalta.

A juíza Regina Célia SilvaNeves do Jecrim de BeloHorizonte, disse, em outubro,que seis juízes para cerca de 45

mil processos são distribuídosem três secretarias para efetivara justiça. Somado aos juízes, ospromotores, os conciliadores edefensores públicos auxiliam asconciliações e audiências.

De acordo com RogérioEustáquio de Jesus, coorde-nador do setor de conciliaçãodo Jecrim, são feitas audiênciassimultâneas. "Temos 8 audiên-cias a cada meia hora.Aproximadamente 130 audiên-cias por dia", comenta. Diantedo grande número de proces-sos, o coordenador da concili-ação pondera que tenta dartratamento melhorado às pes-soas, embora não possa ser indi-vidualizado. "Aqui deixamos aspessoas se manifestarem. O juize o promotor vão às salas paraorientar. Tentamos encontrarsoluções em 30 minutos. Nãopodemos frustrar o outro queestá aguardando audiência. Sepreciso, interrompemos e reme-temos ao setor psico-social. Láterá atendimento individualiza-do e visita domiciliar, casonecessite", acrescenta.

Andreia considera que adecepção é muito mais cultural

e social do que com o anda-mento da justiça. "Estar à frenteda autoridade ainda é cultural-mente caro para o brasileiro.Temos medo da polícia, dajustiça e de como as coisas sãofeitas. E a justiça não é tãocega", lembra a socióloga aoexplicar os resultados do traba-lho acadêmico apresentado emjunho de 2008, na 26ªReunião Brasileira deAntropologia: Desigualdade naDiversidade, na cidade de PortoSeguro, Bahia.

ATRIBUIÇÃO O JuizadoEspecial Criminal, o Jecrim,inaugurado em 1995, foi criadopara tratar exclusivamente dasinfrações penais consideradasde menor gravidade - como, porexemplo, crimes de desordempública, problemas de vizi-nhança e perturbação sonora.No Jecrim, crimes e contra-venções com penalidades inferi-ores a dois anos, sem possibili-dade de o acusado ser encarce-rado, são solucionados pormeio de audiências para conci-liação dos envolvidos. Para tal,os danos sofridos pela vítima

devem ser reparados e as pena-lidades alternativas cumpridas.O Juizado Especial Criminalampliou o acesso à justiça comos processos gratuitos e enca-minhados sem alcançar longosprazos. Mas críticas sobredesentendimento e descompro-misso são relatados por vítimase denunciados.

Segundo o cobrador deônibus de 39 anos, Rogério daCosta Vieira, o problema deleestá sendo mal interpretadopelos conciliadores. "Tive aimpressão que o conciliadorqueria que eu desistisse. Sentique ele estava desprezando oque havia acontecido comigo".Incrédulo, enquanto aguardavano Jecrim sua segunda reuniãode conciliação, Rogério, quedenunciou a agressão física quesofreu durante o trabalho deuma usuária do transportepúblico, destacou uma das fra-ses fixadas na parede do Jecrimque diz: "Não existe causamaior ou menor". O cobradorsalientou a possibilidade dedesistir da continuidade doprocesso. "Penso em desistir. Eufui vítima. No relato diz que

nós dois nos agredimos, o quenão é a verdade. A base dissotudo está errada. Eu me defen-di, isso não é retornar aagressão", disse.

Regina Célia Silva Neves,juíza do Jecrim, falou quedesistências em continuar oprocesso são possíveis porque,na maioria dos casos, dependemdo interesse da vítima. "Muitasvítimas acabam por desistir dajustiça por ter conseguido a paci-ficação social ou por não tereminteresse em retornar aqui. Masna maioria das vezes essadesistência vêm por meio daconciliação, feita no própriosetor", disse a juíza do Jecrim.

O coordenador do setor deconciliação, Rogério Eustáquiode Jesus, explica que o registrode desistência é feito durante operíodo de observação parasaber se a conciliação se efe-tivou. "Quando estabelecidauma solução, por cautela, o juizaguarda o processo em abertopor seis meses. Se neste períodoa vítima não vier reclamar,entendemos que a pacificaçãosocial ocorreu. Então, não é umadesistência", explicou.

DONAS DE CASA PRODUZEM ECOBAGSOficina de sacolas reutilizáveis, apelidadas de “Vai-e-Vem”no movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais, busca passar adiante preocupação com meio ambiente

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CÍNTIA REZENDE,LAURA SANDERS,7º E 4º PERÍODOS

Há 25 anos associada aoMovimento das Donas de Casae Consumidores de MinasGerais (MDC-MG), FranciscaHeleni Franco, 68 anos, recebeuhá cinco meses um convite dapresidente do movimento, LúciaPacífico, para freqüentar a ofici-na de sacolas de pano reuti-lizáveis, também conhecidascomo ecobags. Francisca contaque a preocupação com aquestão do lixo sempre estevepresente em sua casa, já que temuma filha que é bióloga. Agoraela está repassando essa cons-ciência para todos da sua família.“A preocupação de todos lá emcasa é grande. Eu só vou para osacolão com a minha sacola.”,relata.

Animada com a iniciativa, aaposentada conta que conseguiumudar os hábitos de sua casa ehoje reduziu o uso de sacolasplásticas. Além da proposta deconscientização, Francisca en-controu nas oficinas um espaçopara fazer novas amizades e sedistrair. “Nesta idade a gente ficamuito sozinha, por isso a oficinaé muito importante”, acredita.

Todas as sextas-feiras, dezmulheres se reúnem na sede doMDC-MG para confeccionar assacolas, que ganharam o apelidode “Vai-e-Vem, o cuidado depreservar”. A presidente doMovimento conta que a idéiada oficina surgiu a partir de umseminário que assistiu doInstituto Nacional deMetrologia, Normalização eQualidade Industrial, o Inmetro,onde foram discutidas questõessobre o plástico no meio ambi-ente. “Essa tomada de consciên-cia quanto ao uso das sacolas é oque vai nos levar a um meioambiente melhor”, afirma Lúcia.

Além do aumento do volumede lixo, Lúcia aponta outrosproblemas da utilização da saco-la plástica no dia-a-dia. Ela contaque chegou a escutar na palestraque atualmente estaríamosvivendo na chamada “era doplástico”, porém ela vê muitos

problemas na sua utilização taiscomo acidentes envolvendo cri-anças, entupimento de bueiros,pouca resistência das sacolas,além do tempo maior que omaterial leva para degradar.

ALTERNATIVA “Há muitotempo eu ouço a Lúcia falandoda sacola de plástico, que a gentedevia fazer alguma coisa paraconter isso”, conta a sócia fun-dadora do movimento, MariaAparecida Corrêa de Carvalho.Ela conta que sempre mexeucom artesanato de forma geral eagora está ajudando na con-fecção das sacolas. MariaAparecida diz que tem umaecobag e usa, mas na sua casanão é ela que faz as compras, epor isso muitas vezes a utilizaçãodas sacolas plásticas passa des-percebida. Ela argumenta quesua família já está muito acostu-mada com esse sistema e quetambém não acha justo pagarpelas sacolas do supermercado enão levá-las para casa.

Quem também se mostroupreocupada com o volume desacola plástica em circulação foi atambém participante das oficina

de ecobags Cassilda MariaAlmeida, aposentada. Ela contaque além de pouco resistentes assacolas plásticas também trazemoutros problemas no dia-diacomo o entupimento de bueirose até o fato de o cachorro rasgá-las e espalhar o lixo pela rua.Com quase 20 sacolas produzi-das, ela conta que só utiliza asacola Vai-e-Vem para fazer suascompras e que acredita que estaé a melhor saída para redução deplástico no meio ambiente. “Aspessoas acham que é prático masnão é. A sacola de plásticoaumenta o volume de lixo nomeio ambiente”, acrescenta.

PRÁTICA Afinidade com o cortee com a costura não é problemapara a aposentada Maria JoséViana. Maria conta que desdemuito cedo trabalhou como cos-tureira e assim como fazia háanos, hoje ela também aproveitaretalhos para decorar suas peças.Pouco a pouco ela mostra ospequenos pedaços de panovirando fuxicos, que posterior-mente serão colocados por outrapessoa nas bolsas. Para a aposen-tada, a importância do trabalho

que realiza tem reflexo primeirona sua vida e depois no meioambiente. “Eu acho este trabalhomuito importante. O dia que euvenho para a oficina é o dia maisfeliz da minha vida”, conta.

Mesmo sem saber costurar,Vera Lúcia Chaves participa dacriação das bolsas com idéias eaplicação de bordados. Ela expli-ca que muitas das sacolas já vêmprontas e outras são produzidasna própria oficina. O material édoado pelas participantes oupelo MDC-MG. Vera sempregostou de trabalhar com reci-clagem e acha muito importantea iniciativa. “Cada um estáexpondo suas idéias nas sacolas”,relata.

Apesar de estar a menos deum mês participando das ofici-nas, Neuza Diniz conta que estágostando muito do trabalho querealiza. A preocupação dela como grande volume de utilização desacolas plásticas também égrande e já reflete nos seushábitos em casa. “Eu preocupodemais. Eu estou usando menossacola de plástico”, relata.

O objetivo final da oficina éque as mulheres possam vender

Participantes das oficinas de ecobags do Movimento das Donas de Casa preocupam-se com a questão ambiental

Transformar objetosque iriam para o lixo

Passar a questão da cons-ciência ambiental adiante,seja em casa, na rua e tam-bém no seu ciclo de amizadese tornou uma meta fixapara as mulheres doMovimento das Donas deCasa e Consumidores. Aidéia que começou com aoficina de ecobags agoraganha espaço em outrasatividades dentro do movi-mento e nem o amigo ocul-to escapou da onda de reuti-lização. Lúcia conta que amudança de hábito das mu-lheres tem sido tão positivaque elas pretendem fazerum amigo oculto com obje-tos que antes iriam para olixo tais como caixinha deleite, a lata de massa detomate, dentre outros.Objetos que mas mãos dasmulheres do movimentopassam a se tornar emba-lagem de presente e enfeites.“Elas são agentes multipli-cadores desta idéia de cons-cientização”, acredita Lúcia.

Feliz, Maria José Vianamostra que também se sen-tiu tocada com a onda criati-va da reutilização. Elamostra que os retalhos de

feltros velhos que provavel-mente iriam para o lixoagora se tornaram portascopos e pratos. Em formatode frutas, Maria José mostraàs demais colegas o trabalhoque ela, carinhosamente,deu o nome de “forrinhoecológico”. “Eu estava emcasa e acabei criando estesforrinhos”, confessa comtimidez ao ouvir osinúmeros elogios das com-panheiras.

E se inovar é a moda,Francisca Heleni Francotambém conta que já andoucriando um kit com umasacola e um pano de cabeçaque ela agora distribui aosamigos e parentes. “Eu fizum kit e dei para minhafilha e para mais umas ami-gas”, conta. Ela conta que ainiciativa não ficou só naconfecção de artigos ecologi-camente corretos mas queela também vem repassandoos ensinamentos adquiridosnas oficinas aos filhos enetos. “Estou ensinandomeus filhos e netos aabrirem a cabeça para aquestão ambiental”, ressalta.

seus trabalhos e passar adiante aquestão da preservação ambien-tal. Para isso, o movimento estáorganizando uma feira, a serrealizada ainda no mês dedezembro, na porta do super-mercado Extra do Bairro SantaEfigênia, onde as donas de casairão abordar as pessoas na rua eincentivar o uso das sacolas.Além da abordagem, as mu-lheres também terão a partici-pação de um coral que se apre-sentará no local como formade chamar mais atenção daspessoas que passarem por lá.

Lúcia conta que cada

sacola Vai-e-Vem será vendi-da por um preço que variaentre de R$5 a R$15. Arenda será revertida paracompra de material e para omovimento. Apesar de a feiraencerrar um ciclo de pro-dução, Lúcia Pacífico diz quea iniciativa terá continuidadee que as oficinas ainda acon-tecerão por muito tempo. Elaressalta que o projeto é aber-to a todos. “A oficina vaicontinuar. Elas colocaramessa atividade na rotina devida delas”, acrescenta.

GUSTAVO ANDRADE

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9CidadaniaDezembro • 2008 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

SONHO REALIZADO COM DIFICULDADEEm buca da casa própria, 5 mil famílias se uniram para construírem o Bairro Metropolitano há 12 anos que ainda têm problemas como a falta de asfalto, rede de esgoto, acúmulo de lixo e mato

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AHIMSA NOVAES, CAMILA ALVARENGA, ORLANDO JÚNIOR, 7º PERÍODO - TEXTOS E FOTOS

No caminho para o BairroMetropolitano, Ana Maria deMenezes Campos, 50 anos, eMaria Lúcia Alves dos Santos,65, lembravam com nostalgiado tempo em que este lugar,em Ribeirão das Neves, era ape-nas a Fazenda Castro, e elas iamcom o padre Luigi Bernareggi,mais conhecido como padrePiggy, junto com integrantes doMovimento dos Sem-Casa parao local todos os finais de sema-na e feriados. O movimento,formado por aproximadamente5 mil famílias, partia de ônibusde vários bairros de BeloHorizonte em busca da realiza-ção de um sonho, a construçãoda casa própria.

Na mata fechada da fazen-da, debaixo de chuva ou de solforte, os Sem-Casa abriam ruascom a força dos braços, na foicee no facão, sempre com o incen-tivo de padre Piggy aos berroschamando-os de molengas epreguiçosos. “Era muita empol-gação, tínhamos esperança,saíamos de casa com marmita,água e café para ficar o final desemana todo trabalhando nafazenda, quem tinha maiscondições, levava comida paraquem não tinha, existia tam-bém, solidariedade”, relembraMaria Lúcia, que há dois anosnão ia ao bairro que ajudou alevantar com as próprias mãos.

Ana Maria, que tambémparticipava do movimento,conta que o grupo era bemorganizado. “Na hora de entrarno ônibus reunia todo mundona frente da Igreja da Glória, noBairro 1º de maio. O coorde-nador tinha uma lista com onome de todos os associados, achamada era feita na hora dasaída e na hora da chegada”,explica. Os ônibus eram con-seguidos com a ajuda de políti-cos e empresários ou por meioda contribuição dos própriosintegrantes do movimento.

Ainda durante o percurso de40 minutos, de Belo Horizonteaté o Metropolitano, Ana eMaria contavam histórias sobre osurgimento desse bairro. Muitaspessoas do movimento mor-reram antes de conseguir umlote, outras acamparam em lonasno meio do mato, para garantir aposse e outras desistiram.

Ana e Lúcia fazem parte dogrupo de pessoas que, por

Bairro Metropolitano é a moradia de 5 mil famílias desde 1997 e foi feito pelos próprios moradores da comunidade

questões diversas, não moramno bairro que ajudaram a levan-tar. Ana Maria começou a cons-truir uma casa no local, mas pre-cisou vendê-la e hoje mora nosfundos da casa de sua sogra.Maria Lúcia já possuía casaprópria antes de entrar para omovimento, entretanto par-ticipou do empreendimentoporque fazia parte da paróquiado padre Piggy, no Bairro 1º demaio, além de simpatizar com acausa. As duas retornavam aolocal para rever os antigos ami-gos do movimento após pas-sarem muito tempo sem vê-los.

As impressões que ficaram,diante de um bairro sem calça-mento, tratamento de esgoto,com lixo pelas ruas e muito mato,foram de um grande projeto quepoderia ter dado certo, mas porvárias interferências e descasosdo poder público, o Metro-politano de hoje se diferenciabastante daquilo que foi projeta-do e sonhado pelas pessoas doMovimento dos Sem-Casa.

DIFICULDADES Mais de dezanos se passaram, desde 1996,quando foi feita a compra daFazenda Castro. De acordo coma Associação de Moradores, daqual Vanda Lúcia Aguiar já fezparte, hoje 23 mil pessoasmoram no local. “Apesar das difi-culdades, não posso dizer quenão valeu a pena. Para muitagente que não tinha onde morar,

o Metropolitano foi umabênção, deu casa própria paraeles”, conta Vanda, que chegouem Belo Horizonte aos 12 anos.Há seis, conseguiu finalmente semudar para o lote que comprouna fazenda.

A moradora se referiu a pro-blemas que ainda não foramsolucionados. Basta uma cami-nhada pelo Metropolitano paraconstatar muitos buracos nasruas, pequenas valas que saemdas casas levando o esgoto semdestino certo, a terra solta naestrada, levantando poeira. “Édireto gente doente, é muitapoeira, para limpar todo dia”,comenta Sônia Bebiano, outramoradora do bairro. Como elamesma se orgulha de dizer, foi aprimeira moradora do Me-tropolitano. “Quando embar-garam em 1997, eu já estavadebaixo da lona”, relata. “Mas,o pior é nos tempos de chuva, aterra vira lama e é impossívelchegar até as casas localizadasno alto do morro. A estrada épura lama. Nos ônibus, todomundo aparece com sacola deplástico no pé, tudo sujo debarro”, reclama Vanda Lúcia.

Apesar dos caminhões de lixoque passam pelas ruas e avenidastodas as segundas, quartas e sex-tas-feiras, muita sujeira é jogadapelos próprios moradores nasencostas dos morros e nas matas,que ainda dão um tom esverdea-do para o bairro.

A questão de segurança éoutra dificuldade. Atualmente,o bairro está incluído numaronda policial, que patrulhatambém os bairros Veneza,Florença e São Genaro. A asses-soria do 40º Batalhão deRibeirão das Neves informouque há a possibilidade de umveículo fixo para fazer aPatrulha de Prevenção Ativaespecífica no Metropolitano.

A falta de médicos no postode saúde também preocupa osmoradores. “A minha maior tris-teza com relação ao meu bairroé porque não temos médicoaqui”, lamenta Sônia.

Mesmo distante do bairro queajudou a fundar, o padre Piggiainda participa de ações no local,como da construção do teto daigreja que, até hoje, não foi fina-lizada. “Sempre que posso venhoaqui ajudar, mas hoje, quem tra-balha pelas conquistas doMetropolitano são outras pes-soas”, esclarece o padre. Quandoquestionado sobre o porquê dobairro não ser o que eles dese-jaram no princípio, o senhor de 69anos foi pragmático. “Mesmo comtoda a polêmica e pressão dopoder público que não nos querialá e, não nos apoiou, quase metadedos associados ao movimentodesistiu de lá por causa da distân-cia do local da capital. Era muitocomplicado o deslocamento dasfamílias”, explica.

Barreiras durante ocaminho do projeto

Motivadas por expe-riências que deram certo,como os Bairros VilaCalifórnia e Felicidade,Ana Maria Campos,Maria Lúcia Santos e mais20 mil pessoas se organi-zavam para procurarfazendas e escolher o me-lhor lugar para cons-truírem. Como não teriamajuda do governo, seriapreciso comprar o terrenoe o material para a cons-trução. “Os governos erammuito diferentes. Nadécada de 80, o Felicidaderecebeu a desapropriaçãodo terreno do governo edinheiro federal paraaquisição do material, masjá com o governo FHC(Fernando HenriqueCardoso) foi diferente,não tivemos ajuda”,lamenta o padre Piggi. Odestino foi a fazenda daFamília Castro, emRibeirão das Neves,Região Metropolitana deBelo Horizonte, espaçosuficiente para alojar ascinco mil famílias.

Organizada pelo padrePiggy, a cooperativa demoradores, que mais tardese tornaria a CentralMetropolitana dos Sem-Casa, realizava o cadastra-mento de seus partici-pantes, verificando suanecessidade e condiçõesde pagar o valor pela terra.Seria cobrado, duranteum ano, o valor de R$ 30mensais pela terra e, pos-teriormente, R$ 20 men-sais para a compra dosmateriais de construção.Levantar as casas era opróximo passo.

Uma grande barreiraencontrada por eles foramas condições impostaspela prefeitura municipal.Alegando poucas condi-ções para alojar mais cincomil famílias carentes emum município sem muitosrecursos, os governantesde Ribeirão das Neves nãoaprovaram, logo no início,

a criação do que seria oBairro Metropolitano.Além das casas, os inte-grantes teriam que cons-truir espaços públicos,como escolas, postos desaúde e áreas de preser-vação ambiental. Paragarantir que ocorressedessa forma, a prefeituraexigiu parte da terra comogarantia de que osmoradores iriam investirem infra-estrutura. As ter-ras seriam devolvidas àmedida que as obras fos-sem sendo feitas.

Já não havia espaçosuficiente para as cincomil famílias. Os desis-tentes foram se retirandodo projeto e recebiam seudinheiro de volta. En-quanto ocorria a cons-trução do bairro, padrePiggy e a coordenação domovimento persistiam nanegociação com a pre-feitura. O projeto inicialdo padre Piggy era que oBairro Metropolitanofosse um condomíniofechado, todo construídoe habitado pelas famíliasenvolvidas no programa.

De acordo com Maria doCarmo Freitas, assessora daPrefeitura de Neves, o mu-nicípio recebeu a maiorverba da Região Metro-politana da capital no orça-mento do PAC (Plano deAceleração de Crescimento)deste ano, mas o BairroMetropolitano não estavaincluído em nenhumadessas obras. “Temos trêsações sendo realizadas noMetropolitano pela prefeitu-ra, uma pavimentação naRua Um, vamos pavimentartodos os itinerários dosônibus, em parceria com oDER (Departamento deEstrada de Rodagem), edependemos da Copasapara realizar as obras desaneamento básico”, comen-ta Maria do Carmo.

Padre Piggi e sua dedicação àsquestões sociais da comunidade

Atualmente, Pier LuigiBernareggi, o padre Piggi, continuasuas obras trabalhando com apopulação de baixa renda em BeloHorizonte. Com uma equipe quevaria de oito a dez pessoas, ele ori-enta trabalhos nas principais fave-las da capital em parceria com aIgreja Católica. "Dom Walmor deOliveira montou um projeto depróprio punho, para atingir, aolongo de 2009, todas as favelas dacidade, uma base de 60 favelas. SeDeus quiser, nós teremoscondições de montar pequenascomunidades cristãs. E, atravésdessas comunidades criar ummovimento de luta pelos direitosdos favelados. No início deste ano,a Arquidiocese de Belo Horizontenos passou o projeto para começar

os trâmites", explica padre Piggi.Ele divide seu tempo entre essesprojetos e a Paróquia de Todos osSantos, localizada no Bairro 1º deMaio, Região Norte da capital.

A história do padre Piggicomeça em 6 de junho de 1939,dia em que nasceu em Milão.Mas, é no ano de 1963, quandoum grupo de bispos de BeloHorizonte vai até a Itália e convi-da para vir ao Brasil jovens semi-naristas, que padre Piggi inicia suatrajetória como benfeitor no paísque escolheu para viver. Nessaépoca tinha apenas 24 anos.Algum tempo depois, após con-cluir o seminário no BairroCoração Eucarístico, se tornaria oPadre Piggi. Incitado a conhecer arealidade brasileira, Padre Piggi

assim o fez. Desde a época deseminarista dava assistência à Vila31 de Março, localizada no bairroDom Cabral, Região Noroeste deBelo Horizonte. "A partir daí játive oportunidade de conhecer omundo favelado", declara Piggi.

Após ter sido pároco na cidadede Contagem e no centro de BeloHorizonte, em 1977, padre Piggiassumiu a paróquia do Bairro 1ºde Maio, onde se encontra atéhoje. Em toda sua trajetória, sem-pre teve contato com a populaçãosem-casa. Há 31 anos, participouda criação da Pastoral de Favelas,na diocese da capital. Ofechamento da Pastoral oito anosapós sua criação não desmotivouPiggi. Em 1985, criou aAssociação dos Moradores de

aluguel da Grande BeloHorizonte (Amabel), já de maiorabrangência. Nesta época, foi cria-do o Bairro Felicidade, na ZonaNorte de Belo Horizonte. Com oterreno e materiais doados pelopoder público, o bairro foi cons-truído sem muitos problemas.

O mesmo não ocorreu com oBairro Metropolitano, criado noano de 96 em Ribeirão das Neves.Segundo o Padre Piggi, o ver-dadeiro motivo é a grande distân-cia do local da ocupação até acidade. Razão pela qual cerca deum terço das cinco mil famíliasenvolvidas no projeto desistiramda construção de suas casas. “Setivesse alguém doente, não tinhacomo levar ao hospital era muitolonge. Além disso, o Bairro

Padre Piggi afirma que um terço das cinco mil famílias desistiram da construção

Metropolitano era muito longedo trabalho e da escola de muitosmoradores”, afirma Piggi.

O projeto de criação do bairrobaseava-se na autoconstrução. Osmoradores não exigiam as terras emateriais do governo, tudo seriacomprado com o dinheiro do

próprio movimento. Segundo ele,a intervenção governamentalneste caso não iria ajudar, a buro-cracia e o envolvimento comempreiteiras e financiadoras con-tratadas do governo só iriaaumentar a dependência finan-ceira dos moradores.

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10 EducaçãoDezembro • 2008jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

Escola de arte em Nova Limaoferece atividades culturais

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ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 3º PERÍODO

A Escola Casa AristidesAtelier de Artes e Ofícios, cri-ada há mais de uma décadana Praça Coronel Aristides,s/nº, Centro de Nova Lima,Região Metropolitana deBelo Horizonte, tem sido umespaço fundamental na vidade centenas de pessoas dediferentes idades. SegundoCláudia Datto, coordenadoraadministrativa do projeto, aEscola Casa Aristides foi pio-neira no ensino de arte pro-duzida com material recicla-do no Brasil, utilizandopapel, retalhos, garrafas petse embalagens de leite. “Noentanto, a falta de interesse

da população, tanto para oaprendizado quanto paraoferecer os materiais, alteroua meta da Escola CasaAristides, que hoje oferece,além de cursos de reciclagem,oficinas de Aquarela,Modelagem em Cerâmica,cerâmica (terras de NovaLima), Culinária, Desenho deCriação, Desenho deHistórias em Quadrinhos,Desenho de Observação,Estamparia, Marchetaria,Papel Artesanal, PinturaAcrílica, Pintura em Madeira,Pintura a Óleo e Pintura emPorcelana”, relata Cláudia.

O projeto, implantado em1997 pela Prefeitura deNova Lima e executado pelaSecretaria Municipal de

Cultura, conta com duascoordenadoras, uma adminis-trativa e outra de cursos,cinco funcionários e 16 pro-fessores. Atualmente, sãomantidos quinze cursos queoferecem, em média, 340vagas ao público com idadevariada, a partir de 12 anos.“Estou aqui na Casa Aristideshá mais ou menos dez anos; ésempre um desafio, turmas de12 a 80 anos, heterogêneas,de idade e de nível social; émuito bacana e cada ano háturmas diferentes, não temigual”, relata Isaura Penha,professora de desenhogeométrico e nanquim pretoe branco, formada naFaculdade de Belas Artes, daUFMG, lecionando também

na Escola Guignard, em BeloHorizonte.

Além do aprendizado, oambiente da escola faz comque alguns alunos comoSônia Gomes Pacheco vejamo espaço como uma oportu-nidade de alívio do stress dasua rotinas. “A CasaAristides é uma terapia,venho aqui para descansardo dia-a-dia, da luta, do tra-balho todas terças e quintas-feiras. Estou fazendo umamáscara. Eu adoro aqui”,conta Sônia, 49 anos, alunado curso de cerâmica daCasa Aristides e professoraem Escola de EnsinoEspecial. A opinião é com-partilhada por Priscila deCastro Teixeira, 53 anos,

Cláudia Datto coordena casa pioneira de ensino de arte com material reciclado

secretária desempregada. “ACasa Aristides está funcio-nando para mim como umaterapia, oportunidade defutura fonte de renda”, afirmaPriscila, que é apoiada pelasua irmã, Cristina de CastroTeixeira, 58 anos, aposentada,

também aluna do projeto. “ACasa Aristides é uma das me-lhores descobertas de minhavida. Vim de Belo Horizontepara conhecer Nova Lima eestou preparando para mudarpra cá”, destaca Cristina,entusiasmada.

TEMPO INTEGRAL PARA A EDUCAÇÃO Alunos têm a oportunidade de participar de atividades complementares depois do turno escolar. Essas atividades contribuem para melhorar o desempenho e tirar os estudantes do risco social

A dupla de vôlei Marco Aurélio Santos e Leandro Ayres da Silva tem o sonho de um dia jogarem profissionalmente

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ANNITA VELASQUE, THAÍS PIMENTA, 7º PERÍODO

Não muito tempo atrás,D.R.S, de 17 anos, eraconhecido na escola emque estuda como o garotorebelde. Quebrava vidrosdas janelas, pichavacarteiras e vivia suspensodas aulas. “Aquele vidro ali,fui eu que quebrei”, eleaponta para uma janela daEscola Estadual MárioElias de Carvalho, emContagem, uma dasprimeiras a implantar oProjeto Escola de TempoIntegral, do governo doEstado.

Pelas diretrizes do proje-to, o aluno freqüenta asaulas em um turno e par-ticipa de atividades com-plementares em outro.Aulas de reforço em por-tuguês e matemática, alémde aulas de arte, educaçãofísica e informática entramno currículo dos alunos,que estão, em sua maioria,em situação de risco social.O trabalho começou em2005 nas escolas partici-pantes do Projeto EscolaViva, Comunidade Ativa, elevava o nome de Aluno deTempo Integral. Em 2007,passou a fazer parte doProjeto Estruturador doGoverno do Estado, e foirebatizado como Escola deTempo Integral.

Desde então foi ex-pandido para outras insti-tuições da rede estadualem diversos municípios.“O projeto começou aten-dendo cerca de 20 milalunos, em 180 escolas daRegião Metropolitana deBH e Uberaba. Hoje, jáatendemos 108 mil alunosem 1.834 escolas, em todoo estado”, afirma GustavoNominato Marques, ge-rente executivo do projetoda Secretaria de Estado deEducação.

O processo de implan-tação do Escola de TempoIntegral é simples. “Asescolas requerentes devempossuir uma estrutura físi-ca adequada para receberos alunos no contra-turno,

tal como sala ociosa,quadra coberta ou outroespaço coberto, quadra dacomunidade, biblioteca,laboratório, enfim, ambi-entes que possam ser reor-ganizados para a utilizaçãodos alunos”, conta GustavoMarques. “É muito impor-tante também que toda acomunidade escolar desejeingressar no projeto, paraque ele possa funcionar emconsonância com os obje-tivos da SEE”, diz ele.

RESULTADOS “Para mim, omelhor resultado é tirar osmeninos da rua, onde elessó podem aprender o quenão devem. Apesar de oobjetivo principal do proje-to ser o de reforço damatéria aprendida em sala,o fato de eles estarem naescola e não na rua é oprincipal ganho”, dizJuliana Araújo, diretora daE.E. Mário Elias deCarvalho, que tem 330alunos, 136 de TempoIntegral. “Antes do projeto,eu não fazia nada o diatodo. E quando estava naescola, só fazia bagunça.Hoje me sinto mais tran-qüilo, mais à vontade naescola. Além de ter melho-rado as minhas notas, prin-cipalmente em Português”,

concorda D.R.S.Maria da Conceição e

Silva é professora de alfa-betização do projeto desdeque foi implantado e seucontato com os alunos émuito próximo. Ela vêresultados que vão além doreforço escolar. “O que eumais noto neles é a melho-ra na auto-estima. Com amelhora dentro de sala deaula e com o tempo e aatenção que recebem dosprofessores, eles passam aacreditar que apesar dadificuldade de aprender,eles podem melhorar deverdade”, afirma. “É muitomelhor fazer o para casa naescola. Em casa, quandotenho dúvidas, meus paisnão sabem responder.Aqui, tiro todas direto como professor”, conta AlicyCaroline Batista, 12 anos,aluna da 6ª série.

CRITÉRIOS Para participardo projeto, o aluno deveter autorização por escritodos pais. “Alguns alunosnão são autorizados pelosresponsáveis a fazer partedo projeto por terem queajudar em casa ou olharirmãos mais novos. Issoacontece principalmentecom as meninas”, contaJuliana Araújo. Porém, há

quem precise do projetopor não ter com quemdeixar os filhos. “Asfamílias que autorizamestão satisfeitíssimas coma permanência dos alunosna escola, pois muitos jáviram o resultado da mel-horia de seu filho tanto noprocesso ensino-apren-dizagem, como dentro decasa”, afirma JenifferOtoni Lima, diretora daEscola Estadual MárioCasassanta, do bairroNova Granada, onde oprojeto existe desde 2005.

Marco Aurélio Santos eLeandro Ayres da Silva,alunos da 7ª série da E.E.Mário Elias de Carvalhoformam a melhor dupla devôlei da escola. “Co-meçamos a jogar juntos noprojeto. Agora aproveita-mos todo o tempodisponível para treinar”,conta Marco Aurélio entreum saque e outro. “A gentevai ser profissional, temosespaço e apoio paratreinar”, completa Lean-dro Ayres da Silva. Nohorário em que estão noprojeto, os dois dominama quadra. “Com esseapoio, até podemos sonharcom o esporte no nossofuturo”, diz a dupla.

Professores recebemcapacitação na PUC

Em 2008, a Secretaria deEstado de Educação passoua oferecer capacitação paraos professores da rede esta-dual que atuam no projetoEscola de Tempo Integral. Oúltimo aconteceu no mês deagosto, na PUC Minas doBairro Coração Eucarístico.Professores da capital e deoutras cinco superintendên-cias regionais participaramde oficinas de dança,capoeira, brinquedos eesportes. “Quando che-gamos em qualquer escola eperguntamos aos alunos queaula eles mais gostam, aresposta é sempre em coro:Educação Física. Daí aenorme necessidade de tra-zer um diferencial para estasaulas, para cativar aindamais os alunos”, comentaGustavo Nominato Mar-ques, gerente executivo doprojeto Escola de TempoIntegral. O objetivo da SEEé que outro módulo dacapacitação em EducaçãoFísica seja oferecido aindaem novembro de 2008. Em2009 será a vez dos alfabe-tizadores receberem treina-mento direto do Governo.

A capacitação é oferecidadesde 2007, porém no inícioos primeiros treinamentosnão foram um contato dire-to da Secretaria de Estadode Educação com os profis-sionais. Como a abrangênciado projeto é extensa, foramformados pólos de capaci-tação em cidades estratégi-cas. “O número de profis-sionais que atuam no Escolade Tempo Integral é muitoelevado. Por isso, descentra-lizamos as capacitações paraos pólos, como foi o caso dotreinamento de professoresde Educação Física em2007. A SEE capacitou oscoordenadores de cadaSuperintendência Regionalde Ensino, que repassaram oconteúdo para os profissio-nais da sua jurisdição queatuam no Projeto”, explicaGustavo.

Para os professores, aexperiência é nova e colabo-

ra para aumentar o re-pertório de atividades queeles têm a oferecer. “Todo oconteúdo passado nas ofici-nas é visto na graduação.Mas a iniciativa é impor-tante para estimular os pro-fessores a levar estes conteú-dos diferenciados para asaulas e direcionar mais otrabalho”, afirma Virgíliode Faria Almeida, professorde Educação Física no proje-to Escola de Tempo Integralda E.E. Mário Elias deCarvalho. “O aluno do pro-jeto tem que ser cativado,pois ele não está ali por obri-gação, por cobrança de nota,mas para ter acesso a algomais que a escola pode ofe-recer”, completa o professorque inclui até aulas de jumpna programação.

“Um ganho que temosnas oficinas é o contato e atroca de experiências comoutros professores da área.É interessante conhecer arealidade de outras esco-las. O que posso notar éque da teoria para a práti-ca, todos temos um longocaminho para percorrer”,afirma Vanda Bicalho, pro-fessora da Escola EstadualPresidente João Pessoa.

Para Juliana Araújo,diretora da E.E. MárioElias de Carvalho, o pro-fessor deve ter um perfilespecífico para trabalharno projeto. “Antes, nósmesmos fazíamos umaseleção entre os profes-sores da escola. Já co-nhecíamos o perfil de cadaum e acertávamos nasescolhas. Hoje eles devemser indicados diretamentepela SEE, o que dificultaum pouco o nosso traba-lho aqui na escola”, afir-ma. “O professor do con-tra-turno deve ser maispaciente e dedicado aosalunos, tem que sabercomo cativar a atençãodeles. E nisso a capaci-tação com certeza vai nosajudar”, completa.

ANTÔNIO ELIZEU DE OLIVEIRA

ANNITA VELASQUE

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11Tecnologia Dezembro • 2008 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

DE OLHO N0 TEMPO PARA VOAR BEMCom o avanço tecnológico, a previsão do tempo é ralizada hoje a partir da troca de informações entre vários países. O Brasil já tem 400 estações meteorológicas e pode chegar a ter 550

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ANA LETÍCIA LEÃO, LÍGIA MAIA, MELINA ALKMIM, NANY MATA, 7ºPERÍODO

"A meteorologia para nós éessencial. A gente planeja e classifi-ca a rota de viagem com base nocálculo de combustível, até paratraçar rotas alternativas a fim deevitar fenômenos atmosféricos,como chuvas, ciclones, ventos eturbulência", conta o comandanteda TAM, Adriano Pandolfo, há 12anos na companhia. Junto ao seuplano diário de vôo, ele recebedados meteorológicos sobre seupercurso, como direção e intensi-dade do vento, variação de pressãoe temperatura, além da possibili-dade de ocorrer tempestade. Antesque essas informações cheguem àsmãos do comandante Pandolfo,são feitas conexões com modelosclimáticos do mundo todo, utiliza-dos equipamentos de alta tecnolo-gia e existem equipes formadas porprofissionais que trabalham 24horas por dia. Mas, de fato, comoa meteorologia funciona?

A palavra meteorologia vem dotermo meteoro e se refere ao estu-do de qualquer fenômeno dasuperfície ligado à atmosfera ou,até mesmo, ao que ocorre naprópria atmosfera. Ou seja, ébaseada em observações queapontam variações de temperatu-ra, pressão, umidade relativa do are velocidade do vento. A partirdisso, é possível prever o compor-tamento do tempo em determina-do instante e local.

ESTAÇÕES As observações dessaatmosfera terrestre são realizadasem pontos fixos do globo, conheci-dos como estações meteorológicas.Elas funcionam como um marcoinicial para análise e, a partir dosdados coletados, são feitas as pre-visões do tempo para determinadaregião. Nas estações, essas obser-vações ocorrem no mesmo horáriono mundo inteiro, os chamadoshorários sinóticos. São eles, deacordo com a hora local: 3h, 9h,15h, e 21h. A atmosfera é analisa-da naquele momento e as infor-mações são enviadas aos centrosmeteorológicos de referência nosEstados Unidos e na Alemanha,onde são produzidos os modelosglobais de previsão.

De acordo o meteorologistaAlexandre Gabelha, do InstitutoNacional de Meteorologia (Inmet)de Belo Horizonte, esses centrosglobais recolhem todos os dadosrecebidos e fazem um modelo queserá enviado para o mundo inteiro.As medições do Inmet, em Belo

Horizonte, são realizadas em duasestações meteorológicas, uma naRegião da Pampulha, a estaçãoautomática (que faz medições dehora em hora e já envia os dados aum computador) e uma estaçãoconvencional, localizada na RegiãoCentro-Sul da capital.

É nessa última que são feitas asanálises da atmosfera nas quatrohoras definidas anteriormente,todos os dias, como uma receita debolo. Um técnico, geralmente umgeógrafo do instituto, vai ao localonde estão os aparelhos, mede atemperatura, a velocidade dovento, a umidade do ar, a pressão,dentre outros. Depois, levam osdados aos meteorologistas que jáiniciam a análise, ao mesmo tempoem que os colocam para rodar nosmodelos no computador, paraserem, logo em seguida, enviadosaos centros meteorológicos dereferência. "Às nove horas, porexemplo, é feita a leitura no Inmete os dados são enviados paraBrasília e Washington. No máxi-mo às nove e meia eles já começama rodar um modelo que fica pron-to em duas horas e vai para todosos centros do mundo", explica.

Já o Instituto de MeteorologiaMG Tempo/PUC Minas, tambémem Belo Horizonte, usa as estaçõesmeteorológicas convencionais paraa coleta dos dados apenas às 9h eàs 15h, sendo que o restante émedido pelas estações automáti-

cas, que trazem resultados ao insti-tuto de hora em hora. "Nãousamos mais como base a conven-cional, porque não temos comofazer esse trabalho de madrugada,mas comparamos os horários emque verificamos nas duas estações",ressalta Adelmo Correia, meteoro-logista do MG Tempo/PUCMinas. Da mesma forma, depoisque os dados forem coletados pelasestações automáticas, eles serãoenviados aos centros de referência.

Enfim, a troca mundial deinformações já foi realizada e osmodelos divulgados, mas a pre-visão ainda não está pronta e, sejaem estações automáticas ou con-vencionais, o que conta mesmo é ocrivo do meteorologista.

PERITOS Em cada centro meteo-rológico uma equipe se reúne paraanalisar os modelos divulgados edar a previsão do tempo de acordocom essa análise, levando em con-sideração fatores locais como o rele-vo, uma característica que influen-cia diretamente no deslocamentodos ventos. "Em Minas Geraistemos a Serra do Espinhaço, ondeos ventos do litoral deixam grandeparte da umidade apenas no lestedo estado, fazendo com que ooeste sofra com a baixa umidaderelativa do ar no inverno", exempli-fica Gabelha. Ele acrescenta que,por isso, é essencial que o profis-sional conheça muito bem todos os

aspectos físicos e climáticos daregião em que trabalha, a fim degarantir mais credibilidade dasinformações.

Para o comandante Pandolfo, aprevisão do tempo realizada pelosmeteorologistas é fundamentalpara averiguar, antes da partida, sehá probabilidade de utilizar rotasalternativas. "Quando vamos paraa Cordilheira dos Andes, consulta-mos um site especializado parasaber como está o tempo e se podehaver alguma turbulência. Por issoa importância de uma previsão cor-reta e bem feita", exemplifica.

Antonio Divino de Moura,diretor do Inmet e pHd em mete-orologia pelo Instituto Tecnológicode Massachusetts (MIT), acreditaque a melhor previsão é aquelacom base em vários modelos, poispermite ao meteorologista combi-nar o que há de melhor em cadaum e retirar os possíveis erros,fazendo uma análise mais profun-da. Ele ressalta que a partir de mo-delos antigos é possível saber quan-tas vezes determinado modeloerrou ou acertou, para dar quali-dade e confiabilidade à população.

SATÉLITESTudo o que foi previs-to pelos meteorologistas pode serconfirmado com a utilização desatélites para o monitoramento dascondições atmosféricas e, por isso,eles completam a previsão meteo-rológica. "Esse monitoramento é

importante, especialmente paraeventos menores. Quando a genterecebe a informação via satélite deque começou uma chuva no Sul deMinas Gerais e que ela se deslocoupara o oeste em duas horas, é pos-sível prever que ela chegará em BHno fim da tarde", conta Gabelha.

Apesar da grande confiabili-dade nos modelos meteorológicos,com o passar dos dias a previsão dotempo pode apresentar falhas. Paraos dois meteorologistas, Adelmo eAlexandre, quanto mais distanteda hora inicial em que o modelo foirodado e analisado, maior será amargem de erro. Por isso, a confi-ança no modelo é de apenas qua-tro dias, apesar dos modelospoderem rodar a previsão para até15 dias. Segundo Gabelha, o insti-tuto busca uma previsão com 80%de acerto e em até quatro dias afrente é possível fazê-la.

"O índice de erros e acertosvaria de acordo com a época doano", salienta Adelmo. Para o mete-orologista, na estação chuvosa émais complicado fazer a previsãodo tempo e a grande dificuldade éprever as chuvas isoladas. E, aocontrário, no período das secas, oíndice de acerto fica bem próximoa 100%.

EVOLUÇÃO As equações quefazem a previsão do tempo hojesão conhecidas desde a década de50, mas o grande passo na área da

meteorologia foi a evolução tec-nológica. "Não tínhamos asmáquinas para fazer os milhões decálculos de previsão, eles eramfeitos à mão", conta Gabelha.Segundo ele, a maior diferença foia modelagem numérica com achegada dos computadores, ouseja, o uso dos modelos, a partir de1970. Ele acrescenta que os mo-delos permitiram maior credibili-dade às informações, pois além daprevisão do tempo feita pelo mete-orologista, os dados fornecidospelos modelos também passarama ser analisados.

Antigamente, lembra JorgeMoreira, chefe da seção de pre-visão do tempo do Inmet, oprocesso era feito de forma maismanual. Primeiramente, eramanalisadas três cartas sinópticas aodia (às 12h, 18h e 0h), que forne-ciam informações sobre ascondições meteorológicas de deter-minados pontos. A partir dosdados, uma equipe fazia as anális-es com mapas sobre uma mesa deluz. "Assim, só conseguíamos fazera previsão para 24h, era impossív-el você fazer para 48 ou 72 horas.O trabalho era diário", conta.Moreira acrescenta que todo essetrabalho manual exigia equipesbem maiores.

Mesmo se tratando de umaevolução das estações meteo-rológicas, as automáticas nãotendem a substituir as conven-cionais, pois estas funcionamcomo padrão mundial que ali-menta os modelos globais nosEstados Unidos e na Alemanha."As automáticas estão sendocolocadas ao lado das conven-cionais para ver se a diferença dossensores é grande ou não. Comometeorologista, acredito que umacompleta a outra e, por isso, asconvencionais não devem sersubstituídas", expõe Gabelha. NoBrasil, a utilização de estaçõesmeteorológicas automáticas éalgo recente, com início em2002. Sua principal vantagem éa obtenção de dados diretos viacomputador de hora em hora.

"Na década de 70, a meteo-rologia no Brasil era digna deriso, além de feita no mesmo diae com muitos erros. Mas oBrasil investiu bem, formoubons profissionais, os melhoresda América do Sul. Está beminstrumentado e as previsõestêm um bom prazo de garantia",lembra Antônio Divino Moura,diretor do Inmet. Os investi-mentos continuam e existem nopaís hoje mais de 400 estaçõesautomáticas, e a intenção é queesse número chegue a 550 nopróximo ano.

Não é apenas para ocomandante da TAM,Adriano Pandolfo, que aprevisão meteorológica éessencial, mas paraagricultores, membros daconstrução civil, produ-tores de eventos e a todapopulação, que tambémestá sujeita às mudançasclimáticas.

"A previsão hoje já nãodeixa mais a gente namão. Ela marca certo tipode chuva e quando vaichegando perto da épocae o tempo muda, ela nosavisa da mudança. Achuva não nos pega de

surpresa", conta CarlosRoberto Morais, técnicoagrícola da CooperativaAgropecuária do NoroesteMineiro (Coanor), deUnaí. Ele explica que asmudanças no clima sãoinformadas com temposuficiente para que ele eseu pai, o produtor degrãos Sebastião Caetanode Oliveira, se preparem.Por isso, ao fazer o plane-jamento para o plantio degrãos, grande parte dasescolhas de Sebastião sãofeitas com base em dadosverificados por seu filhono Centro de Previsão de

Tempo e EstudosClimáticos (CPTEC).

Segundo CarlosRoberto, a época de plan-tio depende, principal-mente, dos índices plu-viométricos da previsãodo tempo. "Sem ela agente trabalha no escuro.E hoje já não dá para tra-balhar assim. O produtorprecisa de mais certezapara poder plantar",expõe Morais.

Apesar da facilidadeem se obter informaçõesmeteorológicas, nemtodos os agricultores sepreocupam em consultar

a previsão do tempo antesde iniciar algum plantio.Dei Junior, especionistaagropecuário da Empresade Assistência Técnica eExtensão Rural (Emater)de Campo Belo, municí-pio do centro-oeste deMinas esclarece que seutrabalho é guiar produ-tores rurais sobre qual amelhor época para seplantar determinada cul-tura e, por interessepróprio, faz questão dechecar a previsão de suaregião todos os dias parafornecer aos agricultores."Eles não procuram saber

a previsão, eu é que corroatrás e passo as condiçõesdo tempo. Acho que opessoal não fica ligadonisso, mas deveria",lamenta Junior.

A previsão a longoprazo ainda apresentadeficiências, como explicao meteorologista Ale-xandre Gabelha, já queuma medição feita commais de quatro dias temmargem de acerto inferiora 80%. Por isso, LéoZiller, produtor daMultimusic Eventos, res-ponsável por grandes fes-tas ao ar livre como a

XXXperience e Cream-fields, prefere não confiarnas previsões meteoroló-gicas. "Hoje, 95% dosingressos dos eventos quefazemos são vendidos ante-cipadamente, aí tambémnão dá para checar a pre-visão antes", relata. Léoadmite que a melhor opçãopara não estragar suas real-izações é prevenir. "No casoda Creamfields, que acon-tece no próximo mês, as 4pistas são cobertas. A pre-visão é de 20 mil pessoas etem lugar coberto para as20 mil pessoas", diz.

Como as previsões interferem na vida das pessoas

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SABOR E RENDA QUE VEM DO QUEIJOEssencial no dia-a-dia dos mineiros, o queijo é um dos símbolos mais conhecidos da cultura do estado; o tipo canastra tornou-se vício, rompeu fronteiras e encanta consumidores de todo país

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JOELMIR TAVARES, 3º PERÍODO

Muitos mineiros “vi-vem do queijo”. E outrostantos não vivem sem oqueijo. Esse ícone gas-tronômico e histórico doestado, registrado comopatrimônio cultural ima-terial brasileiro e vendidopara os mercados internoe externo, é fonte de sus-tento para muitas fa-mílias, especialmente asque se especializaram emtrabalhar com o maistradicional dos queijosartesanais de Minas, ocanastra – conhecido pelaconsistência, sabor edurabilidade.

“Queijo é a comida queeu aprendi a comer desdepequeno”, diz o pedreiroManoel Domingos, de 60anos. “Lá em casa nós nãoconseguimos ficar semele”, resume a domésticaNeide Pereira Cardoso,47, moradora do BairroCanadá, em Contagem.“Eu compro três por se-mana”, conta MariaCecília Silva, 53, doBairro Monsenhor Mes-sias, Região Noroeste deBelo Horizonte. Frasescomo essas demonstram o“caso de amor” do mi-neiro com o produto.

Manoel, por exemplo,passa no Mercado Centralde Belo Horizonte todasas sextas-feiras para com-prar o queijo que seráconsumido ao longo dasemana pela família, noBairro Saramenha, Regiãoda Pampulha. O centro decompras é procurado por

Salomé e Aristeu Mozzer criaram seus três filhos com a renda da loja de queijos, localizada no Mercado Central

boa parte dos consumi-dores de canastra na capi-tal e Região Metro-politana, além de turistasinteressados no tradi-cional alimento dasGerais.

O comércio de la-ticínios de Aristeu FariaMozzer, 60 anos, temquatro décadas de históriano mercado e recebeclientes de várias cidades.O proprietário criou afamília com a renda daloja. Seus três filhos hojesão bem-sucedidos médi-cos. A mulher, Salomé dasGraças Mozzer, 58 anos,foi ajudar o marido nabanca depois que os filhosestavam “criados”.

Na loja, o casal vendequeijos de quase todas asregiões produtoras doestado. Grande parte vem

da área da Serra daCanastra e cidades comoCarmo do Paranaíba eSerro. “Herdei o ponto daminha família. Na minhaopinião, estou no melhorlugar do mercado. Eugosto do movimento, deatender bem os fregueses edar continuidade a essatradição”, relata Aristeu,que também comercializadoces de diferentes tipos.

PRIMEIRA VEZ Emoutro canto do MercadoCentral, um aposentadoolha, pega e prova o quei-jo curado característico deMinas. “É, realmente elepossui um sabor diferente,além de ter muita fama.Dizem que é o melhor doBrasil”, descreve ocuritibano Elias Cardoso,de 62 anos, logo depois de

conhecer o canastra. Oturista voltou para oParaná com um exemplarna bagagem e justificouque o queijo do sul doBrasil “não é tão corado,nem tão gostoso quanto odaqui”.

Elias foi levado paraexperimentar o queijopelo amigo Josias Al-meida, de 46 anos. MasJosias não é grande apreci-ador da iguaria. “Saí daBahia para morar em BeloHorizonte há dois anos eainda preciso aprender agostar do queijo. Sótrouxe o Elias porque elequeria conhecer o itemmais comentado da cozi-nha de Minas”, revela oanfitrião baiano.

Se quem chega nemsempre se acostuma rápi-do à culinária típica,

quem vai embora dificil-mente se esquece dasraízes. O publicitário Ro-drigo Magalhães Amaral,de 30 anos, mudou-se deBelo Horizonte para SãoPaulo, mas, nas vindasmensais à capital mineira,compra pelo menos trêscanastras. “Levo princi-palmente por conta dosamigos, que adoram.Minha família aqui tam-bém consome muito. Nãotem jeito, queijo faz parteda vida dos mineiros”,conclui Rodrigo.

E existem muitos exem-plos desse “vício”. Oaposentado NicodemosNeto, de 66 anos, mo-rador do Bairro PadreEustáquio, Região No-roeste, “devora” sozinhoum queijo inteiro porsemana. “Não passo nemum dia sem”, destaca. NoBairro Paraíso, RegiãoLeste, os quatro filhos docomerciante Adão José deOliveira, de 49 anos,reclamam se faltar o artigona mesa do café da manhãou do lanche da tarde.

ATRAVESSADORES

Para chegar até os princi-pais pontos de venda nacapital, como o MercadoCentral e a Feira dosProdutores, no BairroCidade Nova, o queijopassa pela mão doschamados atravessadores,que fazem o contato entrefabricantes e vendedores.

Um dos interme-diários, Marcelo JoséMoreira Vargas, de 42anos, sai duas vezes porsemana de Carmo do

Paranaíba, no TriânguloMineiro, com a produçãode quase 40 queijeiros,para revendê-la a 20donos de lojas noMercado Central. Ele ini-cia a viagem por volta demeio-dia, em um cami-nhão equipado com ar-refrigerado, e dorme nacapital, para, no diaseguinte, bem cedo, entre-gar as encomendas. Orevendedor transporta até8 mil quilos por semana.

“Eu vivo do queijo há16 anos. Sempre fazendoesse caminho”, diz o co-merciante, que tambémdegusta regularmente oproduto. “Nem dá paracomparar o sabor dosqueijos crus ao dos pré-cozidos, que são destem-perados”, opina Marcelo,fazendo propaganda desua única fonte de renda.Ele tem mesmo que torcerpara as vendas seremboas, principalmenteagora que a filha decidiuprestar vestibular paramedicina.

Cristiano ColaresAraújo, de 33 anos, tam-bém revende queijos arte-sanais do interior na capi-tal. O produtor rural, dacidade de Água Boa, noVale do Rio Doce, faz opercurso há apenas doismeses, mas já percebeuque a lista de encomendascresce a cada semana.“Muitas pessoas preferemos nossos produtos, semingredientes químicos. Jáestou com 18 clientes emBelo Horizonte”, comem-ora o atravessador.

Canastra mais caro coloca em risco a tradição do produto

Mesmo morando fora de Minas, Rodrigo Amaral sempre compra o queijo

A dificuldade dos quei-jeiros em vender o canastraa um preço suficiente paracobrir os gastos de pro-dução e garantir margem delucro ameaçou a tradição,de acordo com o presidenteda Associação Mineira dosProdutores de QueijoCanastra, Luciano Car-valho Machado, de 43anos. Para ele, a exigênciamaior em relação ao tempode maturação – fixado em21 dias – tende a beneficiaros fabricantes, apesar deencarecer o produto nasbancas.

“O consumidor deveentender que nem sempre oque é mais barato é melhor.Às vezes é preciso pagarmais para ter uma peça dequalidade e procedênciacerta”, argumenta o presi-dente da associação, quetem sede em Medeiros, naRegião Oeste de Minas.Segundo ele, o autênticocanastra necessita do perío-do exato de exposição aoambiente para se adaptar àsnormas de segurança ali-mentar e ser aprovado em

análises bacteriológicas.Luciano explica que o

queijo maturado por menostempo desagrada aos com-pradores de melhor poderaquisitivo, que o vêem comdesconfiança. Com isso, oconsumo fica limitado àsclasses mais baixas, atraídaspelo preço acessível. “Senão fizéssemos nada paramudar esse quadro, dificil-mente íamos conseguirsobreviver. Muitos iamdesistir da atividade e pas-sar a vender todo o leite dasfazendas para as grandesempresas”, analisa.

O grande estímulo paraos queijeiros veio quandoórgãos estaduais determi-naram o prazo adequadopara a massa maturar.Outra ação, anunciada pelaSecretaria Estadual deAgricultura, Pecuária eAbastecimento, é a imple-mentação de centros dematuração de queijo arte-sanal no estado, com oobjetivo de proporcionarmelhores condições de con-trole sanitário. Os doisprimeiros centros serão

construídos em Medeiros,onde existem mais de 400produtores, e RioParanaíba, no Triângulo.

“Os centros serão impor-tantes por terem estruturaprópria para o armazena-mento. Fazer isso naspróprias queijarias é muitodifícil”, considera LucianoMachado, que em suafazenda produz 20 queijospor dia. Conforme o presi-dente, as normas colabo-ram para dar mais força aosqueijeiros, e não para trans-formar o processo artesanalem industrial. “Somos con-tra a idéia de ‘linha de pro-dução’, pois, se isso aconte-cer, os pequenos produtorespodem sofrer as conseqüên-cias”, expõe.

FRESCAL X CURADO Opresidente da AssociaçãoMineira dos Produtores deQueijo Canastra afirma queo prazo de maturação édecisivo no sabor e textura.Cumprindo o período ideal,os ruralistas se sentemseguros para colocar o quei-jo à venda. Graças aos

critérios adotados durante afabricação, a associaçãoacaba de fechar contratocom uma rede de hiperme-rcados para revenda do pro-duto. “Vamos atingir umnovo grupo de com-pradores. Quem come sóqueijo frescal não conhecenem metade do que é ocurado”, assegura o produ-tor.

Na hora de definir nor-mas para os laticínios arte-sanais, os órgãos públicospedem consultoria dos pro-dutores rurais, já quepesquisas de controle sa-nitário são mais comuns nalegislação para os processosindustriais. De acordo comLuciano, é preciso negociaralgumas regras com o gover-no. “Não podem, por exem-plo, querer que o canastraseja embalado, porque ele éum queijo ‘vivo’. Tambémestamos batalhando paraalterar uma lei federal quepede desnecessários 60 diasde maturação. Se con-seguirmos, Minas vai poderexportar para outros esta-dos”, prevê.

JOELMIR TAVARES

JOELMIR TAVARES

RAPHAEL NASCIMENTO

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13ComportamentoDezembro • 2008 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

BRASIL VOLTA A SER OPÇÃO TURÍSTICAA alta do preço do dólar e a insegurança em relação ao futuro da economia, por causa da crise, levam turistas brasileiros que planejavam passar o inverno no exterior a optarem pelo país

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ISABELLA LACERDA,2° PERÍODO

O sonho da médica IvanaGiesbrecht, de 34 anos, era co-nhecer a Europa e o frio dos paí-ses europeus. Em setembro desteano começou a planejar sua tãosonhada viagem, que seria feitano início de 2009, entretanto, acrise norte-americana estragouseus planos. “Sempre tive von-tade de conhecer a culturaeuropéia. Estava aproveitandoque meus amigos também iriamviajar para planejar a minhaviagem. Mas essa crise me pegoude surpresa. Há pouco tempo, odólar estava custando entreR$ 1,60 e R$ 1,70 e em menosde um mês chegou a R$ 2,40”,explica.

Ivana não é exceção. Muitaspessoas, nessa época do ano, tro-cam o verão nas praias brasileiraspelo inverno no exterior. Porém,a crise acabou mudando essatendência. Segundo LázaroGeraldo Rezende, gerente geralda empresa de turismo Belvitur,localizada no Bairro de Lourdes,Região Centro-Sul de BeloHorizonte, as pessoas têm opta-do por viagens nacionais ou pelocancelamento das viagens inter-nacionais. “Muitas pessoas queantes iam para a América do Sul,Europa e Estados Unidos, agoraestão procurando o nordestebrasileiro. Antes da crise, as via-gens, principalmente para aAmérica do Sul, eram muitoprocuradas, pois estavam compreços muito bons e muito emconta. Mas com a alta do dólar,isso mudou”, diz.

Empresas de turismo comoBelvitur, Trans Japa, CVC eExodus informam que estãosentindo os reflexos da crisemundial e que ela já tem causadoproblemas mais sérios. “Pla-nejamos as viagens de férias deverão com um ano de antecedên-cia. Agora, a gente sem venderviagens se vê obrigado a reduzirnúmero de funcionários, dimi-nuir os gastos. Enfim, é como umefeito cascata, porque a gente nãopode levar prejuízo”, ressaltaAndréia de Aguiar, supervisora delazer da empresa Exodus, que ficana Avenida do Contorno, RegiãoCentral de Belo Horizonte.

O gerente da Belvitur, Lázaro Rezende, comenta que a crise atraiu turistas para viagens dentro do território nacional

Ainda de acordo com An-dréia, o principal problema dacrise não é só o aumento do preçodo dólar, pois a moeda americanaalguns anos atrás chegou a atingiro valor de R$ 3, mas a insegu-rança que essa alta tem causadoàs pessoas. Ela afirma que, emsua agência, os consumidores têmse mostrado inseguros, uma vezque não sabem o que ainda estápor vir. Ressaltando o que disseAndréia, Lázaro Geraldo afirmouque os interessados em viajarestão querendo economizar.“Pelo medo da recessão, as pes-soas estão economizando. Quemviaja a negócios não cancela asviagens, mas quem viaja paraturismo acaba cancelando, pois asconsidera um supérfluo”, diz.

Ivana Giesbrecht explica que oque mais a assustou foi o aumen-to no valor das passagens. “A par-tir do preço que as empresasaéreas me passaram, calculei, jun-tamente com meus outros gastosna viagem, o quanto a mais eugastaria. Percebi que precisaria demuito mais dinheiro para viajar.Então acabei me vendo obrigadaa desistir”, lamenta. Entretanto,não são somente as viagens parafora do país que aumentaram depreço. “As viagens nacionaisaumentaram e ainda vão aumen-tar os preços. O Brasil também

sofre impactos, até porque,mesmo sendo usado aqui o real, ocombustível é comercializado emdólar”, adverte Andréia.

As agências de turismo quefazem o transporte para a retira-da de vistos para viagens interna-cionais admitem que tambémvêm sentindo as conseqüênciasda crise mundial. Sandra Lúciade Mattos, diretora da TransJapa, localizada no BairroSagrada Família, Zona Leste dacapital mineira, afirma que aempresa já teve que tomar algu-mas medidas. “Agora só agen-damos os pedidos nas embai-xadas. Não incluímos o trans-porte no pacote. Isso porque,como as viagens internacionaistêm diminuído, a necessidade devistos também diminuiu”,comenta.

ALTERNATIVAS Aumentar osparcelamentos das passagens deavião, procurar destinos e hotéismais baratos, e diminuir os gastossupérfluos das viagens são algu-mas dicas que as empresas de tu-rismo têm dado a seus clientes.“Porto Seguro e Salvador aindasão uma ótima opção, pois lá setêm muitas opções de hotéis epousadas. Comprar passagensfora do pacote também ajudamuito. Alternativas sempre têm,

desde que se procure”, dizAndréia de Aguiar.

De acordo com ela, os donosdas agências de turismo têm recla-mado do governo, que não tembuscado soluções para amenizaros impactos da crise. “O governonada tem feito para as empresasde turismo. Pelo contrário, ascompanhias aéreas aumentaramos preços das passagens e cor-taram as promoções com as agên-cias”, alerta. A supervisora de lazerda empresa Exodus ainda acres-centa que, dessa forma, as empre-sas de turismo não podem fazernenhum tipo de promoção paraatrair clientes. “Não podemosbancar as despesas dos clientes”,conta.

Eliane Boechart, empresária edona da Tia Eliane, agência deturismo localizada no BairroFuncionários, Região Centro-Sulde Belo Horizonte, diz que aspromoções que sua empresa temconseguido fazer são apenas comviagens de navio e com o uso deempresas aéreas recentes no mer-cado. “Tenho indicado para aspessoas o novo vôo que vai diretopara o Panamá, da empresa CopaAirlines, que é mais barato e umaótima opção de destino para aspessoas que querem viajar parafazer compras”, ressalta.

Planejamento garanteviagem para o exterior

Quem começou aplanejar as viagens deverão desde o iníciodo ano não está so-frendo tanto os im-pactos da crise mundi-al. Esse é o caso daestudante de publici-dade Larissa CristinaRamos Ferreira, de 19anos, que no final denovembro viajou paraa Virgínia do Sul, nosEstados Unidos. Aestudante, que estátrabalhando em umprograma de empregotemporário para jo-vens no exterior, contaque não chegou a pen-sar em desistir daviagem. “Não penseiem cancelar minhaviagem, pois eu jáhavia assinado o con-trato. Mas se a crisetivesse começado noinício do ano, comcerteza eu não iria”,afirma.

Ela revela que quemmais se assustou coma chegada repentinada crise foi seu pai,uma vez que é elequem está bancando asua ida e deixou parapagar grande parte daviagem mais perto doembarque. “Meu paienlouqueceu quandoficou sabendo. Eleachou que o dólar iabaixar no final doano”, lembra Larissa,acrescentando que elepassou a acompanhar

diariamente a cotaçãoe a cada pquena que-da, ele corria e pagavamais uma parte daviagem.

Larissa revela queseu grande sonho sem-pre foi conhecer o frioe, até mesmo, a neve,e que por isso não estálamentando perder overão brasileiro. “NaVirgínia faz frio, emtorno de 10° C, masnão neva. Eu queriamesmo era ir para umaestação de esqui, por-que nunca vi a neve.Mas só é contratadopara esse tipo deemprego quem podepassar mais tempo via-jando”, lamenta.

Assim como Larissa,a também estudantede publicidade IzabelMatos, de 20 anos,viajou para trabalharna Virgínia do Sul(EUA), nessas férias.Ela conta que a crise aobrigou a economizardinheiro no Brasil,uma vez que a viagemficou muito mais cara.“Minha viagem jáestava paga desde quefechei o contrato noinício do ano”, comen-ta, mas, como o dólarficou mais caro, elateve que sair menosem Belo Horizonte,antes do embarque,para economizar.

Após a aposentadoria, o retorno para a escola n

AMANDA NAVARRO, BEATRIZ FREITAS,7º PERÍODO

Dados da UniversidadeFederal de Minas Gerais(UFMG) apontam que 154alunos com idade acima de 50anos estavam matriculados emcursos da graduação no segun-do semestre de 2008. Grandeparcela desse grupo se encontraem cursos de licenciatura, comopedagogia, geografia e letras,que é o mais procurado por essafaixa etária, totalizando 19graduandos matriculados. “Osfatores que levam uma pessoamais velha voltar à graduaçãosão muito pessoais e nãopodemos generalizar. Mas amaioria que entra na universi-dade já está com a vida enca-minhada, os filhos criados, comtempo e boa condição finan-ceira", aponta a psicóloga e pro-fessora Maria Alice Lima."Hoje, a pessoa aos 50 anos nãoestá no fim da vida e da car-reira", afirma Maria Alice Lima.Com a expectativa de vida

aumentando, o brasileiro commais idade vem buscando novasalternativas para não parar apósa aposentadoria e retomar osestudos, muitas vezes, pode sera solução para não perder oritmo.

Cleunício Ferreira, 48 anos,reformado da Polícia Militar háoito meses, conta que semprefoi seu desejo ingressar no cursode direito, mas preferiu sededicar inteiramente à carreira."Depois que me aposentei, vinos estudos uma forma dealcançar novas perspectivas.Hoje, posso fazer o curso commais dedicação", diz o aluno dosegundo período da PUCMinas.

Nem sempre regressar àssalas de aulas é uma tarefa fácil.As principais dificuldadesencontradas por alunos ma-duros estão relacionadas à adap-tação ao grupo mais jovem, aoritmo acelerado das aulas, ima-turidade dos colegas e conciliaro tempo dedicado à família eaos estudos. A jornalista MauraEustáquia de Oliveira, 60 anos,que está estudando direito, con-

sidera benéfica a diferença deidade entre ela e seus colegas deturma. "Amo meus colegas. Elesme remoçam, me enchem degás. Tenho o privilégio de con-viver com pessoas que me ale-gram e me respeitam", relata.Cleunício, que virou o "conse-lheiro" da turma, enxerga suamaturidade como facilitador nahora do aprendizado. "Tenhouma maior facilidade de com-preensão, por já ter um conhe-cimento agregado relacionado aminha antiga profissão", lembra.

Como outros benefícios, apsicóloga Geisa Moreira observaque os jovens buscam o estudopara entrar e se consolidar nomercado de trabalho muitomais do que para se educar. "Apessoa adulta busca o contrário.O estudo pelo prazer", ressalta acidadã honorária de BeloHorizonte, que recebeu o títulopelo trabalho realizado com osidosos e a preparação do con-tribuinte para a aposentadoria.O adulto, pelo puro deleite deestudar, se compromete maiscom a universidade, com suaformação e com o curso. "O

aluno mais velho é mais aplica-do, leva os compromissos esco-lares com mais seriedade. É umestudante cuidadoso", acreditaMaria Alice.

Para que o aprendizado sejarealmente eficaz, é preciso pen-sar como deve ser o métodoeducacional para cada grupo,respeitando a diversidade etáriade cada aluno. Segundo a coor-denadora da Educação deJovens e Adultos (EJA) doColégio Padre Eustáquio (CPE),Schirley Rodrigues, a grade cur-ricular para pessoas adultas develevar em consideração não só asdisciplinas básicas, mas tambémdiscussões que ampliem a visãode mundo dessas pessoas. "Asexpectativas de um adolescentede 15 anos que cursa o ensinoregular são diferentes das expec-tativas de uma pessoa adulta eque ficou 30 anos fora da esco-la. Então, a grade deve privile-giar aquele educando", esclarece.Geisa também aposta em ummétodo específico como fatorde sucesso dentro das salas deaula. "É preciso pensar o mode-lo de educação para pessoas

idosas e maduras de formadiferenciada, levando em con-sideração também a educaçãocidadã", explica.

INCLUSÃO SOCIAL Com o obje-tivo de alfabetizar pessoas debaixa renda que não comple-taram o ensino fundamental emédio, a EJA surgiu no Brasil nadécada de 50 com o trabalho dePaulo Freire. Diferente de outrosprogramas, a EJA foi criada nãosó para ensinar a codificar edecodificar os signos verbais, maslevar ao aluno uma reflexão sobrecidadania e ética. "Ele passa aperceber que faz parte dessemundo, que é sujeito ativo, quepode transformar o mundo",pontua Schirley, coordenadora daEJA do CPE há cinco anos.

Assim como em um curso degraduação, são muitos os fatoresque levam os alunos a voltaremaos estudos. Porém, neste caso, osestudantes nem sempre sãoaposentados e dispõem de tempolivre. Para Geraldo Martins, 43anos, encarregado de hortifruti-granjeiros, a volta aos estudosocasionou três promoções no tra-

balho em apenas dois anos emeio. "Na empresa que eu traba-lho tinha muitas oportunidades.Então, eu pensei: Vou ter quevencer na vida também, porqueeu não posso ficar parado notempo. A evolução vai e eu nãoquero ficar", reflete o estudante da8ª série. Além do salto profissional,Geraldo avalia outros ganhos."Quando temos estudo, as pessoaspassam a nos respeitar, a nos tratarcomo ser humano", alegra-se.

As aulas da EJA acontecem desegunda a sexta no períodonoturno. O aluno cursa cada sérieem apenas seis meses. JosefinaVilela, 52 anos, que estava hámais de 32 anos fora das salas deaulas, cursa a 5ª série do ensinofundamental e diz que a EJA foiuma grande oportunidade paravoltar aos estudos. Apesar dasdificuldades, a estudante não pre-tende abandonar a escola nova-mente. "Mesmo com o trabalhocansativo, não me deixo abater.Essa é a oportunidade da minhavida e não pretendo largar", asse-gura Josefina.

GUSTAVO ANDRADE

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14 Meio Ambiente Dezembro • 2008jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MAIOR RESPONSABILIDADE AMBIENTALConsumidores e empresas de variados portes se preocupam cada vez mais com o uso consciente dos recursos naturais e pensam formas de reaproveitar materiais que antes eram jogados fora

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DIANA FRICHE, 3º PERÍODO

A responsabilidade ambientalpassou a fazer parte da filosofia devárias organizações, de pequeno agrande porte. Apesar de possuirpoucos recursos para realizar proje-tos ambientais, empresas menoresfazem sua parte apostando empequenas ações. É o caso da VinaGestão de Resíduos Sólidos eLocação de Equipamentos, que em2006 montou o EscritórioReciclado e Reutilizado, um proje-to do Departamento de Sócio-Ambiental. Cláudia Pires Lessa,coordenadora do Departamento,conta que a idéia surgiu quando aempresa, em 2002, viu a necessi-dade de dar sua contribuição àsociedade através de ações quedessem apoio e incentivo àpesquisa e à inclusão social. O setorfoi crescendo e, em 2005, surgiu anecessidade de se criar um espaçona empresa que fosse coerente como seu objetivo e foi aí que surgiu oEscritório Reciclado.

O escritório possui o ambi-ente todo montado com móveise acessórios reutilizados e recicla-dos e foi produzido com inclusãosocial. Parte dele foi produzidopela Associação dos Catadores dePapel, Papelão e MaterialReaproveitável (Asmare) e outraparte pelo Instituto Reciclar T3,

Cláudia Pires Lessa mostra peças do Escritório Reciclado, ambiente montado com acessórios reutilizados e reciclados

organização não governamentalque promove o desenvolvimentode produtos eco-sustentáveis.Cerca de 90% do escritório foiproduzido com resíduo, gerandorenda para grupos de inclusãosocial. “Nosso foco principal é aeducação, pois não adianta

desenvolver tecnologias 'limpas'se quem for utilizá-la não tiverincutido valores sócio-ambien-tais, como o consumo conscientee a não geração de resíduos”,conta Cláudia. Ela acredita que aspessoas estão mais conscientes daimportância da reciclagem, mas

precisam agir mais. “Precisa pas-sar do discurso para as pequenaspráticas do dia-a-dia. Aos poucosa onda vem crescendo. Está namoda a consciência ecológica e,aos poucos, está causando trans-formações e quebrando paradig-mas”, completa.

Blog mostra alternativas sobre economia solidáriaO Blog do Desperdício, cri-

ado em 2007, é um site elabo-rado pela arquiteta LúciaMartins Campos, que moraem Santo André, no ABCpaulista, e possui vasta expe-riência na área ambiental. Oblog trata de assuntos rela-cionados a reciclagem, mos-trando dados, curiosidades ealternativas para o problema.Lúcia começou a pensar noassunto há dez anos, quandoassistiu o curta-metragem“Ilha das Flores”, que retrata a

sociedade do consumo. “Fi-quei totalmente impactada aoassistir o filme. Estavapreparando uma tese demestrado sobre outro tema,mas percebi que precisavacolaborar com problemascomo este”, conta. Poucotempo depois de ver o filme, aarquiteta foi trabalhar em umaempresa de consultoria deengenharia ambiental, quefazia projetos de aterros sa-nitários e projetos de reinte-gração paisagística de áreas

degradadas pela disposiçãoincorreta de resíduos domésti-cos, industriais e urbanos. “Foiquando eu comecei a entendersobre o problema ambiental eas tecnologias que estão sendodesenvolvidas hoje em dia”,recorda.

Lúcia lembra que a criaçãodo blog foi incentivo de umamigo economista que traba-lha com o tema “economiasolidária” e que tem um blogsobre auto-gestão. “Ele memostrou como era fácil e inte-

ressante. Não tinha vontadede fazer um diário pessoalnum lugar público como ainternet. Mas achei bomtornar pública minhas preocu-pações”, afirma.

O Brasil é o primeiro paísno ranking de reciclagem dealumínio, com 94,4% domaterial reaproveitado, segun-do dados da AssociaçãoBrasileira de Alumínio (Abal).Lúcia considera este fatormuito importante para o país,já que através da reciclagem as

empresas não precisam extraira matéria-prima da natureza.“O dado é legal, mas refletecomo a reciclagem no Brasil éum mercado apropriado sobre-tudo pela população de baixarenda, que infelizmente nãoencontra alternativas parasobreviver, vão catar latinhasnas ruas e as vendem porpreços muito baixos”, ressalta.Ela diz ainda que este fator sedeve à praticidade do material.“O alumínio foi apropriado poisele é um dos ouros da reciclagem.

É um material que não se mistu-ra, é fácil de ser limpo, armazena-do e comercializado”, garante.

Sobre o blog, Lúcia conta quenão tem controle sobre as pessoasque o acessam e que só fica saben-do quem leu quando elas retor-nam com comentários, quepodem ser feitos ao final de cadamatéria. Porém, ela acredita que ainteração dos leitores poderia sermaior. “Apesar de eu buscar essatroca quando escrevo, ela aindanão aconteceu como eu esperava”,declara.

A ArcelorMittal, maiorsiderúrgica do mundo, é umexemplo de como uma empresagrande pode obter sucessoinvestindo em responsabilidadeambiental. A empresa implemen-tou sistemas de gestão ambientalem todas as suas unidades deprodução. A siderúrgica é referên-cia quando o assunto é a realiza-ção de atividades com baixoimpacto ambiental. Além deaplicar estes ideais nas ações, aempresa faz uma grande divul-gação de sua política de preser-vação do meio-ambiente paraseus funcionários.

“A AcelorMittal divulga para agente sua política através do jor-nalzinho de circulação interna.Para o público externo, ela pro-move alguns concursos, como odesenho para as crianças, queaborda o tema”, conta MarceloCardoso, funcionário em umadas usinas da empresa. Ele com-pleta dizendo que todos osempregados da ArcelorMittaltem consciência sobre a necessi-dade de preservação do meio-ambiente.

Alguns consumidores procu-ram buscar informações dohistórico da empresa, para veri-ficar se há projetos relacionadosao tema meio-ambiente.Atualmente, este tipo de con-sumidor recebe o nome de con-

sumidor responsável. A advogadaÂngela Fonseca, 51 anos, fazparte deste grupo de pessoas. Elaconta que observa nos rótulos eembalagens dos produtos aexistência de práticas paradiminuir os impactos no ambi-ente. “Como eu faço as comprasde supermercado lá para a casa,procuro observar os produtos,principalmente os de limpeza”,afirma. Ângela diz ainda que suafamília também é adepta da cole-ta seletiva, separando o lixoorgânico, como restos de comida,das latas, vidros e papéis.

O estudante de biologia AndréLopes de Oliveira, 22 anos, con-seguiu colocar em prática algumasformas de preservação aprendidasem sala de aula. André conta que,desde que se conscientizou quantoaos estragos que o homem podefazer na natureza, ele mudoualguns de seus hábitos. “Passei acomprar só papel reciclado parafazer trabalhos da faculdade. Émais caro, mas vale a pena”, enfati-za. André espera que, nos próximosanos, a população tenha maisresponsabilidade com o ambienteem que vive. “Não consigo enten-der como até hoje tem gente quejoga lixo no chão. Acho que, parapreservar a natureza não énecessário grandes ações, devecomeçar com essas pequenascoisas”, diz.

Qualidade do ar em BH podereduzir a expectativa de vida

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BRUNA SANTOS, MARCELA CARVALHO,VICTOR HUGO ANTINOSSI,7ºPERIODO - TEXTO E FOTO

“Meu deus, é muita coisa”, afir-ma assustada a estudante JordanaDornas ao saber que pode viveraté um ano e meio a menos porcausa da poluição atmosférica.Esse dado consta do resultado deuma pesquisa realizada pelaUniversidade Federal de MinasGerais (UFMG), em parceria coma Universidade de São Paulo(USP), que analisa a qualidade doar em Belo Horizonte e outrascinco capitais brasileiras.

Jordana não vê, mas sente napele os problemas causados poressa poluição. Em certas épocas doano, e em dias muito secos, ela jásabe o que a espera: “Dor decabeça, olhos e nariz irritados eespirros o dia inteiro. E não sou sóeu, é a família inteira”, conta. Arinite da estudante e outrasdoenças relacionadas à condiçãoatmosférica das cidades levantam

a questão: sobre como está o ar res-pirado pelos belo-horizontinos.

De acordo com a FundaçãoEstadual do Meio Ambiente(Feam), a qualidade do ar naRegião Metropolitana é boa namaior parte do ano e regular nosperíodos de inversão térmica (julhoe agosto, principalmente). Dezestações monitoram o ar da capi-tal o dia inteiro com motores quecaptam partículas PM-10 – ou seja,de tamanho dez vezes maior que amilésima parte de um milímetro,que é conhecida como PM. É aíque está o problema. De acordocom o coordenador da pesquisaem Belo Horizonte, o professor daFaculdade de Medicina daUFMG, Geraldo Brasileiro Filho,as partículas mais prejudiciais àsaúde são aquelas abaixo desseíndice. “São as partículas inferioresa PM-2,5 que penetram nos alvéo-los, no fundo dos pulmões, eprovocam doenças graves comoasma e bronquite”, explica o pro-fessor.

No final de 2006, aOrganização Mundial de Saúde

(OMS) divulgou novos padrões deanálise da qualidade do ar. A médiadiária de partículas presentes no arpassou de 150 micrômetros pormetro cúbico (g/m³) para 50. Osnovos padrões, porém, ainda nãoforam adaptados ao Brasil. EmBelo Horizonte, com os aparelhosque captam as partículas de PM-10, a taxa fica em torno de 30 g/m³.Porém, com aparelhos quemedem PM-2,5, como o usadopela pesquisa, constata-se que osíndices ficam muito acima dorecomendado pela OMS. Era issoque os pesquisadores queriamdescobrir. “Queríamos saber comorealmente está o grau de poluiçãoatmosférica para saber se está nolimite dos valores recomendados”,diz Geraldo Filho.

A pesquisa começou em abrilde 2007 e acontece também emCuritiba, Porto Alegre, Recife, Riode Janeiro e São Paulo. A coleta dematerial é feita através de umabomba de sucção de ar, de formaque as partículas ultra-finas ficamcoladas em um filtro, presente noaparelho. “A estimativa, de acordo

com os dados preliminares cruzadocom dados da própria OMS, é quea expectativa de vida seja reduzidaem até um ano e meio”, constata opesquisador.

Álvaro Martins, da Gerência deQualidade do Ar da FundaçãoEstadual do Meio Ambiente, aler-ta que os maiores responsáveis pelaemissão de poluentes na atmosferade Belo Horizonte são os veículos,sejam eles carros, motos, ônibusou caminhões. Na comparaçãocom as indústrias, por exemplo, osveículos emitem mais de 97% doóxido de nitrogênio e monóxido decarbono presentes no ar da capital.

A saída, segundo o técnico, estána inspeção veicular, uma vez queveículos desregulados são grandescontribuidores para a poluição doar. Além disso, o incentivo de trans-portes alternativos e a construçãode veículos que emitam menospoluentes também ajudam. Porfim, a velha receita da carona e doônibus também continuam valen-do. “Sempre que possível, faça ouso mais racional do veículo parti-cular, buscando sempre dar carona

para conhecidos. Sempre quepuder, utilize também o transportecoletivo”, finaliza o técnico.

"A mucosa do aparelho respi-ratório é muito sensível e aexposição é muito grande", afirma opneumologista Eliazor Caixeta.Segundo ele, o resultado dapesquisa já é esperado porque oaumento da poluição gera proces-sos alérgicos - respiratórios ou der-matológicos - causando infla-mações irritativas. Eliazor tambémcita a questão dos idosos. Segundoele, as pessoas da terceira idadesofrem mais com o aumento da

poluição por apresentarem outrascomplicações. As lesões no sistemarespiratório causadas pelos proces-sos irritativos podem levar aoremodelamento das vias aéreas.Além disso, "20 a 50 % dos casos depneumonias levam à morte", dizEliazor. Segundo ele, não há dúvidasquanto aos resultados parciais dapesquisa realizada pela UFMG, emparceria com a USP. "Está registradona bibliografia internacional que oaumento da poluição acarreta emaumento das doenças respiratórias e,conseqüentemente, na qualidade devida das pessoas", diz.

Geraldo Filho é coordenador da pesquisa realizada sobre a qualidade do ar

DIANA FRICHE

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Blumenau (SC), Balneário dePenha (SC), Balneário Piçarras(SC) e Curitiba (PR). “Antes daviagem a Floripa, a maior que euhavia feito de bicicleta era de370km até Santo Antônio doPorto, próxima a GovernadorValadares”, ressalta.

VER O MAR A escolha do desti-no teve outros motivos especiaispara ele. José não conhecia omar e quis planejar essemomento de forma que aconte-cesse em um lugar bem bonito.“Meus amigos me falavam queFloripa é muito bonito mesmo eque vale a pena ir. Juntei issocom o fato de eu não nunca terido ao mar”, comenta. A princí-pio, José pensou em ir pedalan-do para alguma praia do estadodo Espírito Santo, conhecidascomo “praias de mineiro”.“Eu não queria ser mais umnessas praias quemineiro vai,então escolhiFlorianópolis”,diz.

Aexperiên-cia de con-hecer o mar foi linda,segundo José de Castro. “Eupus a água na boca para ver seé salgada mesmo como dizem”,relembra. Ele conta, achandograça, que entrou no mar com abermuda de ciclismo, com ver-gonha de mostrar as pernasparte bronzeadas, parte brancas.

“Se eu fosse de sunga, o pessoalia me perguntar se eu não ia tirara meia-calça. Fiquei constrangi-do de usar no meio de muitagente”, adianta, sorridente.

José salienta que conheceutodas as praias da ilha deFlorianópolis, e que gostou tantoque nadou só um dia, emBalneário de Camboriú, tendopreferido fotografar os pontosturísticos nas cidades por ondepassou. “Já fiquei até acostuma-do em ver olhos azuis e verdes”,comemora. Só nessa cidade, elepedalou 400km de um pontoturístico a outro. José recorda dasorte que teve nessa viagem, em relação ao tempo. Não choveudia nenhum e o frio ele só sentiu

no último dia da aventura. José de Castro relembra que

aprendeu a pedalar na ex-Febem, Fundação do Bem-Estar do Menor, quando eracriança. Ele foi deixado lá pelamãe, que, de acordo com José,parece ter perdido os laçosmaternais em relação a ele e nãodemonstra interesse pela ativi-dade esportiva do filho. Apesardisso, José não a critica. “A mãenunca dá bola, não tem neminteresse em ver foto, mas é ojeito dela. Já o meu jeito de viveré radical”, explica. Hoje, Josémora com a mãe e a sustentajuntamente com a irmã,Cristina. Dos irmãos quemoram em São Paulo, elesequer tem notícias.

15EsporteDezembro • 2008 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas•jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas•jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas•jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

DE MINAS AO SUL EM UMA BICICLETAO cicloturista e vigia do Museu Histórico Abílio Barreto, José de Castro, se aventurou a percorrer de BH à capital catarinense, Florianópolis. Para chegar ao seu objetivo, ele pedalou 1301 km.

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PATRICIA SCOFIELD, 6º PERIODO

O visitante que passa pelaportaria do Museu HistóricoAbílio Barreto, na RegionalCentro-Sul de Belo Horizonte,não imagina que o vigia tercei-rizado de 33 anos, José deCastro, se dedique, há 9 anos, auma atividade que exija tantosmovimentos com as pernas,preparo físico e resistência: ocicloturismo, modalidade deciclismo voltada para oesportista conhecer cidadesturísticas. Lá no museu, ao con-trário, José exige pouco de seuvigor físico. Fica a maior partedo tempo sentado por detrás dabancada na recepção, olhando amovimentação registrada pelacâmeras de circuito interno detevê, recebendo pacotes deencomendas e encaminhandoos visitantes.

Em suas férias em julho eagosto deste ano, José viajou debicicleta de Belo Horizonte atéFlorianópolis (capital do estadode Santa Catarina, sul doBrasil), numa viagem quedurou vinte dias, sendo que sópara ir, ele pedalou durantecinco dias, exceto nos horáriosda noite. A proporção real dadistância pedalada José revelater percebido apenas na volta,em um ônibus de viagem,durante 15 horas. “Escolhi umlugar bem longe porque quis

O cicloturista José de Castro exibe a companheira de aventura, a bicicleta

ficar pedalando todo os dias”,explica José. E completa: “Nãotinha a noção de que estavalonge. Só percebi quando fiqueipreso entre as 'paredes' doônibus. As pistas são muitoboas”, destaca, referindo-sepelas rodovias por onde passou:BR-381 (Rodovia Fernão Dias),

BR-116, BR-367 e BR-101.

DESCOBERTAS A aventura teve1301km até a capital de SantaCatarina. José aproveitou aoportunidade para conhecermais locais no sul do país, aexemplo de Joinville (SC),Balneário de Camboriú (SC),

Paixão por pedalar leva porteiro aplanejar viagem até Porto Alegre

A próxima aventura deJosé é pedalar ainda maislonge, até a capital doRio Grande do Sul, PortoAlegre. Até a capitalgaúcha, são 1.715km aserem pedalados naspróximas férias em quenão haja chuvas por lá. Oroteiro já está pronto edividido em sete etapasque abrangem paradas acada 200km, aproxi-madamente, nas cidadesde Três Corações (MG),São Paulo (SP), Cajati(SP), Joinville (SC),

Paulo Lopes (SC), VilaConceição (SC), além daprópria cidade de PortoAlegre. A previsão de gas-tos é de, em média, R$70/dia.

“Quero agora é co-nhecer lugares bem maisdistantes, tudo de bici-cleta pela primeira vez,enquanto eu tiver força esaúde”, garante José. E asmetas não são nada mo-destas: Fernando deNoronha (PE), divisa doRio Grande do Sul com aArgentina e com o Uru-

guai, dentre as imagi-nadas pelo ciclista. Massair do Brasil já é o limitepara ele, que teme pela“destruição, pelas guer-ras, além de não sabercomo funciona a moedade cada país”.

O encantamento deJosé pelo sul do Brasil ofaria até mesmo morar nacidade que ele maisadmirou pelas paisagens:Curitiba, capital doParaná. A explicação,para ele, é bem simples:“Lá é tudo largo, parece

que não tem engarrafa-mento, e as ruas sãotodas com flores. Se eutivesse emprego emCuritiba, não voltavamais para cá”.

O ciclista resume suaexperiência das férias dejulho com fascinação. “Anatureza floresce commais vida no sul doBrasil”. E completa:“Acho o Sul a maiorriqueza. Tem muito luxonas construções e o jeitode falar é bem diferente”,imagina.

Durante o planejamentoda viagem, José de Castropesquisou pousadas ou hotéiscom diárias baratas, de R$30ou R$40 e tratou logo de ve-rificar se era permitidoguardar sua companheira deviagem, a bicicleta de corridaque custa R$3 mil, dentro deseu quarto – pré-requisitopara que ele se hospedasse. Ocusto total foi de R$1.600,sendo que ele fazia duasrefeições por dia, com o gastode R$10 no almoço e outrosR$10 no jantar, além dorefrigerante.

O esportista contou com oapoio da Belotur (EmpresaMunicipal de Turismo deBelo Horizonte), que pagouparte de suas despesas emdez dias, tempo que ela haviaprogramado para ficar por láe voltar, inicialmente. Elerecebeu uma camisa com a

frase “BH espera por você”, ebrinca que fez uma baitapropaganda para a cidadenos locais onde passou.

José esclarece que a voltafoi em ônibus porque o di-nheiro dele já havia ficadoescasso, já que acabou fican-do no sul brasileiro por quase20 dias, em vez dos somente10 dias que ele foi patrocina-do pela Belotur.

José também teve umaajuda material de uma loja deesportes radicais localizadaquase em frente ao MuseuHistórico Abílio Barreto:duas camisas específicas paraa prática de ciclismo.

Outro “amigo” doesportista que o ajudou apensar nessa viagem, já estávelhinho e o acompanhatodos os dias no serviço nomuseu. É uma revista demapas, já até sem capa, que

ele ganhou de um amigo. “Éum livro que mostra o Brasilinteiro, mais interessanteporque mostra a distânciaentre municípios e capitaisem outros estados do país,apesar de ser bem antigo. Jáaté arranquei a capa”, confir-ma.

BAGAGEM O cicloturista re-vela os cuidados que tevepara a viagem: em apenasuma pochete ele carregoutrês camisas (duas da loja deturismo de aventura e outradada pela Belotur), umabermuda, um frasco de200ml de protetor solar fator30, escova de dente e a pastadental, máquina fotográficadigital e o carregador depilha, celular e o carregadorde bateria de celular, além degarrafinha com água. “Pedaloquase 50km sem beber água,

e como só depois de uns100km pedalados”, afirmaJosé, destacando sua resistên-cia. Ele revela que nunca fezexames médicos regulares,apesar de saber da importân-cia dos mesmos. “Buscomuito Deus, e sinto queestou bem de saúde”, expres-sa, tentando justificar o moti-vo da falta de check-up.

EM FAMÍLIA No início, foi airmã Cristina quem o ajudou,com um cheque, a compraruma bicicleta em uma loja deconveniência de um shop-ping em BH. “Minha irmãgosta do meu hobby, achamaravilhoso”, garante oesportista. Cristina de Castroacrescenta que o irmão temcostume de viajar, mas nãopara tão longe quantoFlorianópolis. E completa:“Ele é muito aventureiro, fico

até preocupada porque eleviaja sozinho. Para ele é bom,porque ele gosta, mas para agente é ruim pela segurança”.Cristina, que afirma nãosaber pedalar, revela aindaque os locais que o irmãodela costuma ir pedalando,ela nunca conheceu nem decarro.

ENTRE AMIGOS “Zé da bike”(bicicleta, em inglês), como éconhecido por alguns amigosdo serviço, virou tema deassuntos no museu. Umamigo de José, motoboy, esta-cionou sua moto em frente àportaria exclusivamente parasaber detalhes da últimaviagem do amigo, quepreferiu marcar um bate-papo para dois dias depois,no dia em que pudesse levaruma cópia das fotos digitaisque ele fez durante as férias.

A auxiliar do ateliê derestauração e conservação doMuseu Histórico AbílioBarreto, Luciane Machado,ficou de longe observando ocolega de casa contar seusrelatos. Mais tarde ela seaproximou e quis saber ondeele pedalava na falta de umacostamento na estrada,quantas marchas tinha a bici-cleta que ele pedalou e quaisos bichos que ele viu pelocaminho. “Já vi na tevê ou-tras pessoas que fazem esseesporte, é muito individual.Achei muito interessante adisposição dele de fazer umaviagem tão longa, que é aprimeira vez que ele sai doestado (Minas Gerais)”,expressa Luciane. “Eugostaria de acompanhá-lo,mas não tenho preparo,resistência”, salienta, comum sorriso largo.

A meta é gastar pouco e ter história para contar

YONANDA DOS SANTOS

RAPHAEL NASCIMENTO

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16 Cidadania Dezembro • 2008jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

MÚSICA TRANSFORMADORA DE VIDASGrupo de folclore Meninas de Sinhá, que começou como oportunidade de distração para suas integrantes, gerou frutos diversos como apresentações fora de Minas, premiações e gravação de CD

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LUIZ CARLOS OLIVEIRA,ROSSANA SOUZA, TACIANA LEMOS,7º PERÍODO - TEXTOS E FOTOS

Maria Gonçalves, 70anos, ocupava todo o seutempo cuidando de um filho.Já Maria das Graças viviauma fase delicada em suafamília e chegou a terdepressão. A história de vidadessas duas mulheres mudoudepois que entraram para ogrupo “Meninas de Sinhá”,que conta hoje com 35 inte-grantes e já viajou por várioslugares do Brasil levando oresgate das cantigas de roda edo folclore mineiro. Alémdisso, as Meninas de Sinhátambém já gravaram um CDe ganharam prêmios.

“Se você me perguntarcomo a gente chegou atéaqui, eu não sei te dizer. Nãopensava que fosse acontecerisso tudo. Eu não sei explicarcomo a gente conseguiuprêmio, viagem, reconheci-mento”, afirma Valdete daSilva, 70 anos, idealizadorado grupo, que surgiu noBairro Alto Vera Cruz, naZona Leste de Belo Ho-rizonte, inicialmente comoforma de tirar as mulheres decasa e lhes dar uma ocupaçãoque pudesse reduzir doenças.

“Entrei no grupo não foitanto por causa de problema.Eu era uma pessoa alegre. Euficava dentro de casa mesmo,porque eu tenho um menino

que tem problema. Eu sóolhava o lado dele, não olha-va o meu. Achava que só eleprecisava de carinho, que eunão precisava sair. Então euficava ali”, conta MariaGonçalves, que um dia foi auma aula de expressão corporal.

Logo no primeiro diaValdete lhe deu uma roupado grupo. “Fiquei muito ale-gre. Aí, falei ‘Nossa! Agoravou entrar nesse grupomesmo’. Aí, eu comecei.Tinha uma apresentaçãofora, aí eu cheguei e falei ‘nãovou nessa não, porque aindanão estou bem’. Aí, eu ia,

olhava a apresentação delas eficava doidinha para entrar,dançando sozinha e elas lá naroda. E depois que eu come-cei a acompanhar. Entrei naaula de expressão corporal,entrei na percussão, comeceia tocar, hoje eu toco zabum-ba”, contou Maria Gonçal-ves, que há oito anos é umadas integrantes do conjunto.

Para Maria das Graças, ogrupo Meninas de Sinhá,ajudou na recuperação de suadepressão, porque possibili-tou a vivência de momentosde alegria e descontração quenão aconteciam em casa.

“Quando eu entrei no grupo,eu ainda estava naquela fasede não querer ver ninguémna minha frente e sinto aindaum pouco até hoje. Eu ficavamuito presa dentro de casa epodia chamar quem fosseque eu não abria a porta. Etinha o hábito de por qual-quer coisa chorar. Às vezes sóde ouvir a música, eu jáchorava”, lembra.

Ela conheceu o grupo pormeio de uma vizinha que aconvidou. Por ser muito tími-da, Maria das Graças contaque custou a aceitar. “Ela mevia chorar sozinha, porque eu

Maria Gonçalves e Maria das Graças contam que o grupo lhes deu a oportunidade de ocuparem o tempo fora de casa

tive dois filhos só e elessaiam para a rua e eu ficavasozinha. Até que um dia euresolvi ir. No início, eu ficavasó reparando, só de longe.Depois, eu comecei a entur-mar. Hoje, eu me sinto bemno meio. Só de sair de casa,já está distraindo”, afirma.

LONGA CAMINHADA Até ogrupo Meninas de Sinhá setornar realidade o trajetopercorrido foi longo. Tudocomeçou quando Valdete daSilva constatou que muitasmulheres do Alto Vera Cruziam ao posto de saúde localpara tratar de depressão àbase de medicamentos. “Elassaiam do centro de saúdecom sacolas de remédios. Eeu ficava preocupada, pen-sando porque que essas mu-lheres tomam tanto remé-dio”, conta Valdete, que pas-sou a conversar com elas paraentender o que acontecia.

Valdete revela que ficoucom isso na cabeça e comuma vontade grande de aju-dar. Como era vice-presi-dente da Associação Comu-nitária levou o caso para adiretoria da entidade. Opasso seguinte foi chamar asmulheres para “bater papo”na associação. Com dificul-dade, depois de muitas idasao Centro de Saúde, Valdeteconseguiu reunir três senho-ras, já que a maioria nãoaceitava seus convites, quetrocavam experiências e

falavam de seus problemas.Mais mulheres foram se

unindo ao bate-papo, masValdete percebeu, no entan-to, que somente conversarnão estava dando resultado,já que elas continuavam atomar seus remédios. Bus-cando outra alternativa paramelhorar a auto-estima da-quelas mulheres, Valdete su-geriu que fosse feita umaoficina de artesanato. Procu-rando saber a habilidade decada uma para o trabalhomanual, as senhoras come-çaram a produzir bonecas etapetes.

“Elas começaram até avender, ganhar um dinheiri-nho e tal. Mas não estavammelhorando”, relata Valdete,que se incomodou com umponto. “Estava tirando asmulheres de casa, porque elastrabalhavam o dia inteiro eestava trazendo para traba-lhar de novo”, explicaValdete, que concluiu que asmulheres precisavam de algu-ma coisa diferente do queestavam acostumadas a fazer.

Foi aí que ela fez uma aulade expressão corporal emuma Ação Global, eventoassistencial promovido pelaRede Globo no Alto VeraCruz, e com a ajuda da pro-fessora passou a trabalharisso com as mulheres do seugrupo, que a essa altura sechamava Lar Feliz.

Grupo Netinha de Sinhárecebe incentivo das avósAo ver suas próprias netas

brincando e cantando cantigasde roda, Valdete da Silva deu aidéia de fazer um grupo das“netinhas de sinhá”. DéboraCordeiro dos Santos, 21 anos, éa atual monitora do grupo dasnetinhas e conta que elas viam aapresentação das avós e tiveramvontade de montar um grupo,formado, atualmente, por 20meninas entre 8 e 14 anos.

Débora afirma que, quandoconheceu o grupo as meninasestavam tristes, não dançavame nem cantavam com vontade.Depois começaram a trabalhare montaram coreografias.Perceberam a diferença elevaram para a família ver.“Acreditavam que estavam nocaminho certo e acabaram

criando o próprio espaço”, diz.“O que mais conta é a emoçãode cantar e de continuar o tra-balho das avós, o carinho e aunião do grupo”, acrescenta.

Neta de Valdete, Déboraorganiza as apresentações, fazas marcações e vai aos lugares.Conta que aprendeu com aavó Valdete. Fez muitos anosde dança e colocou a dança nogrupo, combinando core-ografias de dança infantil e asbrincadeiras. Misturou tam-bém a dança afro com as canti-gas de roda. Para ela, as canti-gas de roda são do tempo dasavós e para ter uma cara atual,das Netinhas de Sinhá, pre-cisava de outros ritmos, comoo funk e a dança afro.

“Tem percussão, coreografia

e agora, durante as apresen-tações, elas dançam”, diz Nocomeço, as meninas tinhammedo do preconceito das pes-soas do bairro, mas logo perce-beram a admiração delas e atéo aumento pelo interesse deoutras netinhas. É assim queelas se organizam, as mais ve-lhas vão ensinando às maisnovas, e possuem até uma listade espera. “Como o grupo pos-sui uma capacidade, e tambémhorários de ensaio, fizemosuma lista de espera, que sóaumenta o número de interes-sadas”, afirma.

Kênia Severina, 12 anos,participa há cinco do grupo econta que desde pequena jáacompanhava a avó. Acha quese desenvolveu rápido e que

A descoberta do estilo para interpretar cantigasEm um evento chamado

Tambor Alto, que aconteceuno Alto Vera Cruz, o grupoLar Feliz foi convidado a seapresentar, em um palcomontado para exibições dedança e música. “Quando agente estava esperando parase apresentar, uma das se-nhoras chegou perto demim e falou: ‘Valdete, nósnão vamos subir ali não. Dejeito nenhum’. Então, eurespondi: ‘Nós vamos sim.É a primeira vez que vamosapresentar, vamos subir láno palco e mostrar nossa

expressão corporal e vamosser muito aplaudidas’. Eufalava isso da boca parafora, porque dentro de mim,estava igual a elas, morren-do de medo do que poderiaacontecer”, conta.

Apesar de toda a insegu-rança, Valdete lembra queao término da apresentaçãoveio o aplauso. “O pessoalgritava e batia palma. E asenhora que menos queriase apresentar virou paramim, pôs a mão na cintura efalou: ‘Viu minha filha, nóssomos artistas’”, recorda. “E

daí em diante, a gente pas-sou a apresentar expressãocorporal nas conferências. Agente fazia a expressão cor-poral e o povo todo faziacom a gente. A prefeitura iachamando a gente e íamosapresentando”, acrescenta.

As cantigas de rodaentraram no grupo depoisque Valdete propôs, apósuma reunião, que elas brin-cassem como na infância.“Comecei a notar que quan-do falava roda todo mundoqueria. Eu falei: ‘gente, nãoé que a roda está presente

na vida dessas mulheres’.Porque a maioria delas é dacidade do interior. São pou-cas que são de BeloHorizonte. Então, eu pro-pus para elas que a gentecombinasse de formar umgrupo de brincadeiras deroda. E elas aceitaram”,conta.

As músicas cantadas pas-saram a ser gravadas, paraque o grupo criasse umrepertório. Depois, foi feitauma apostila. Cada senhoraintegrante do grupo relem-brou as músicas de roda da

infância e contribuiu para amontagem da apostila. “Agente ensaiava os versos,ensaiava os cantos de roda.E ia gravando. Foramtrazendo mais músicas decanto de roda. Nóscomeçamos, toda sexta-feiraa gente ensaiava as cantigasde roda”, afirma Valdete.

“Quando já estava tudopronto, ensaiado e tal,falaram comigo assim:‘Valdete, nós temos quemudar o nome do grupo,esse nome Lar Feliz nãoserve para gente mais’. Aí,

eu pedi para elas fazeremuma pesquisa de um outronome e nessa pesquisa foidescoberto que tinha umgrupo, aqui, no Alto VeraCruz, de dança de Maku-lele, que eu lembro quemeus filhos participaramdesse grupo, que chamavaMeninos de Sinhá. E ogrupo acabou. Ai elasfalaram: ‘Vamos pôr meni-nas? Em vez de meninos,Meninas de Sinhá”, relem-bra Valdete.

aprendeu muito cantando,dançando e fazendo oficinasde bordado. Já foi muito tími-da, principalmente durante asapresentações. “O funk é omais legal, e fala da nossa iden-tidade, de onde a gente mora,e do nosso orgulho”, revela.

Jucilane Jales, 13 anos,entrou com apenas três para ogrupo. Participava dos ensaiosporque na época o pai haviafalecido e não havia ninguémpara cuidar dela. DonaValdete conversou com suaavó e a colocou no grupo. A

menina conta que acha bomestar no grupo atualmente,porque aprendeu a se abrirmais com os amigos e com afamília. Os colegas falam,caçoam, mas ela diz queprimeiro tem que conhecer ogrupo para saber como é.

A monitora do grupo Netinhas de Sinhá, Débora Corediro dos Santos acompanha os ensaios do grupo de 20 meninas