Jornal Interno Ed12

16
FarmacêuticoemFoco Número 12 | Maio 2011 E m mais uma edição do jornal Farmacêutico em Foco, publicamos um artigo extrema mente interessante a respeito do uso off-label dos medicamentos, escrito pela Mestre em Ciências Farmacêuticas, Especialista em Violência Doméstica contra o Adolescente e a Criança, e Far macêutica Clínica da Unidade de Terapia Intensiva e Cuidados Intermediários do Hospital Uni versitário da USP, Sandra Cristina Brassica. No texto, a especialista tratou a respeito da administração de formulações extemporâneas, os aspectos legais e éticos, quais são as populações de risco, além das ações que estão sendo adotadas até o momento. Em seguida, publicamos uma entrevista com o Professor Titular e Chefe da Disciplina de Cardio logia da Universidade Federal de São Paulo, Prof. Dr. Antonio Carlos Carvalho, que entre outros assuntos comentou sobre a defi nição da Síndrome Coronariana Aguda (SCA) e sua taxa de morta lidade, os principais fatores para a alta prevalência de casos de SCA, e como é realizado atualmente o tratamento da doença. Nesta edição apresentamos tam bém um resumo das palestras mi nistradas pela Profa. Dra. Sylvia Lemos Hinrichsen e pela farma cêutica/bioquímica Juliana Fon seca Sad, na qual elas abordaram respectivamente os temas Qua- lidade e Segurança do Paciente em Tempos de Acreditação e Farmácia Hospitalar: a difícil tarefa de aliar cus- tos com qualidade e responsabilidade. Por fim, publicamos uma matéria sobre a campanha Autoestima: a me- lhor escolha contra o câncer de mama, iniciativa promovida pela Astra Zeneca que foi premiada em duas categorias do último Prêmio Caio. Cristiane Piva Peres Codinhoto Constante Atualização na Prática Diária Material destinado exclusivamente aos profissionais de saúde Pág. 2 ATUALIZAçãO FARMACêUTICA Uso off-label de medicamentos Pág. 11 Pág. 6 Pág. 16 ENTREVISTA Síndrome Coronariana Aguda: impacto na mortalidade e terapêutica atual EM FOCO Canal de relacionamento tem novo layout GESTãO DA QUALIDADE E SEGURANçA DO PACIENTE Inicia-se mais um ciclo de palestras sobre Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente Pág. 14 CâNCER DE MAMA Campanha “Autoestima: a melhor escolha contra o câncer de mama” se destaca em 2011

description

Uso Off label de medicamentos

Transcript of Jornal Interno Ed12

Page 1: Jornal Interno Ed12

FarmacêuticoemFocoNúmero 12 | Maio 2011

E m mais uma edição do jornal Farmacêutico em Foco, publicamos um artigo extrema­

mente interessante a respeito do uso off-label dos medicamentos, escrito pela Mestre em Ciências Farmacêuticas, Especialista em Violência Doméstica contra o Adolescente e a Criança, e Far­macêutica Clínica da Unidade de Terapia Intensiva e Cuidados Intermediários do Hospital Uni­versitário da USP, Sandra Cristina Brassica.

No texto, a especialista tratou a respeito da administração de formulações extemporâneas, os aspectos legais e éticos, quais são as populações de risco, além das

ações que estão sendo adotadas até o momento.

Em seguida, publicamos uma entrevista com o Professor Titular e Chefe da Disciplina de Cardio­logia da Universidade Federal de São Paulo, Prof. Dr. Antonio Carlos Carvalho, que entre outros assuntos comentou sobre a defi­nição da Síndrome Coronariana Aguda (SCA) e sua taxa de morta­lidade, os principais fatores para a alta prevalência de casos de SCA, e como é realizado atualmente o tratamento da doença.

Nesta edição apresentamos tam­bém um resumo das palestras mi­nistradas pela Profa. Dra. Sylvia Lemos Hinrichsen e pela farma­

cêutica/bioquímica Juliana Fon­seca Sad, na qual elas abordaram respectivamente os temas Qua-lidade e Segurança do Paciente em Tempos de Acreditação e Farmácia Hospitalar: a difícil tarefa de aliar cus-tos com qualidade e responsabilidade.

Por fim, publicamos uma matéria sobre a campanha Autoestima: a me-lhor escolha contra o câncer de mama, iniciativa promovida pela Astra­Zeneca que foi premiada em duas categorias do último Prêmio Caio.

Cristiane Piva Peres Codinhoto

Constante Atualização na Prática Diária

Mat

eria

l des

tinad

o ex

clus

ivam

ente

aos

pro

fissi

onai

s de

saú

de

Pág. 2

AtuAlizAção FArmAcêuticA

Uso off-label de medicamentos

Pág. 11Pág. 6 Pág. 16

ENtrEViStA

Síndrome Coronariana Aguda: impacto na mortalidade e terapêutica atual

Em Foco

Canal de relacionamento tem novo layout

GEStão DA QuAliDADE E SEGurANçA Do PAciENtE

Inicia-se mais um ciclo de palestras sobre Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente

Pág. 14

câNcEr DE mAmA

Campanha “Autoestima: a melhor escolha contra o câncer de mama” se destaca em 2011

Page 2: Jornal Interno Ed12

2

FarmacêuticoemFoco

O que é Uso “Off-Label” de MedicamentosSandra Cristina Brassica*

O uso of f-label en­globa várias situa­ções, incluindo a administração de

formulações extemporâneas ou de doses elaboradas a partir de especialidades farmacêuticas registradas, ou uso de medica­mentos importados e substân­cias químicas sem grau farma­cêutico; indicações e posologias não usuais; administração do

medicamento por via diferente da preconizada; administração em faixas etárias para as quais o medicamento não foi testado; administração para tratamento de doenças que não foram es­tudadas e indicação terapêutica diferente da aprovada para o medicamento.(1)

As populações de risco

O processo de aprovação de no­vos fármacos visa garantir que os medicamentos disponíveis sejam seguros e eficazes. Assim, sua utilização de modo “off-label”, por não ter sido alvo de estudo por meio de ensaios controlados, pode expor os pacientes a riscos.

* Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Especialista em Violência Doméstica contra o Adolescente e a Criança pelo Instituto de Psicologia da USP. Farmacêutica Clínica da Unidade de Terapia Intensiva e Cuidados Intermediários do Hospital Universitário da USP. CRF-SP 24.922.

Page 3: Jornal Interno Ed12

FarmacêuticoemFoco

3

Algumas populações, tais como infantil, geriátrica, gestantes e lactantes, geralmente são excluí­das dos ensaios clínicos devido a questões éticas, logísticas e financeiras; entretanto, na prá­tica clínica, com frequência, estas populações são submetidas a tratamentos que empregam medicamentos que não foram testados quanto à sua segurança e eficácia.(2)

Há classes de medicamentos que são mais utilizados como “off-label”. Nestas, podem ser citados, principalmente, os fár­macos que agem no sistema nervoso e os antineoplásicos, ou seja, medicamentos destinados a tratar, geralmente, condições crí­ticas e de alto custo, que podem desencadear eventos adversos graves.(3­5)

É importante salientar que a utilização “off-label” de medi­camentos não é capaz de gerar evidências e ainda expõe pacien­tes a riscos que poderiam ser monitorados em ensaios clínicos controlados.(5) Para a popula­ção pediátrica foi demonstrado aumento do risco de toxicidade quando se utilizam tais medica­mentos.(6­8)

Além do risco de reações ad­versas, o uso “off­label” de medicamentos pode resultar em problemas de dosagem, ocasionando, também, falta de eficácia terapêutica, indis­ponibilidade de formulações adequadas, gerando a neces­sidade do uso de formulações extemporâneas que podem exi­

prática ilegal, e, para algumas situações, tal utilização pode significar opção terapêutica ade­quada, apesar de oferecer risco aos pacientes.(12­14)

O uso de medicamentos of f-label, também, não constitui um indicador de erro médico, apenas reflete a carência de informações sobre a utilização segura e eficaz, por vezes, de medicamentos consagrados e não apenas das novas entidades farmacológicas.(13,14)

Ações adotadas até o momento

Principalmente com relação à população pediátrica foram ado­tadas algumas medidas para am­pliar seu acesso a medicamentos seguros e eficazes.(15,16)

Essas ações se iniciaram nos EUA, na década de 90. Foram caracterizadas inicialmente pela introdução de medidas volun­tárias para estimular a indús­tria farmacêutica a desenvolver medicamentos para pacientes pediátricos. No final da década de 90, com a experiência ameri­cana, na Europa foi constituída uma comissão, composta por membros do Royal College of Paediatrics and Child Health e Neonatal and Paediatric Pharma-cists, que discutiram o assunto e concluíram sobre a necessidade de normas legislativas como forma de garantir medicamentos seguros e eficazes para a popu­lação pediátrica.(16)

Embora essas iniciativas tenham

bir biodisponibilidade variável, baixas qualidade e segurança.(9)

De modo geral faltam evidên­cias científicas que suportem o uso “off-label”, motivo pelo qual somente pode ser recomendado quando: a) existe justificativa embasada por evidência de alta qualidade; b) o uso se faz dentro do contexto de uma pesquisa formal; c) em casos excepcio­nais, justificados por circunstân­cias clínicas individuais (doença muito grave, falha de resposta com a terapia convencional, potenciais benefícios superam riscos e existência de alguma evidência de benefício tera­pêutico). Para estes casos seria necessário o consentimento livre e esclarecido do paciente ou de seu responsável e aprovação do seu uso pelo comitê de medica­mentos da instituição.(10,11)

Aspectos legais e éticos

A utilização de medicamentos “off-label” não constitui uma

É importante

salientar que a

utilização “off-label”

de medicamentos

não é capaz de gerar

evidências e ainda expõe

pacientes a riscos que

poderiam ser monitorados

em ensaios clínicos

controlados.(5)

Page 4: Jornal Interno Ed12

FarmacêuticoemFoco

4

aumentado a realização de en­saios clínicos nessa população, não foram suficientes. Áreas de grande interesse terapêutico continuaram negligenciadas, principalmente as que possuíam como alternativas medicamento­sas fármacos sem patente, com baixa venda ou para a população neonatal.(15,16)

Nos EUA, em 2002, foram pro­postas diretrizes para a viabiliza­ção de estudos que englobavam os medicamentos sem patente e a população neonatal. Em 2005 iniciaram­se as discussões sobre as estratégias e requisitos para a condução de ensaios clínicos em neonatos.(15,17)

Atualmente, a normalização europeia para utilização de medicamentos em população pediátrica está em fase de im­plantação e objetiva aumentar a disponibilidade de produtos: a) efetivamente estudados nessa população; b) apropriadamente licenciados para uso pediátrico;

como por exemplo o acesso à base de dados de ensaios clínicos pediátricos, o financiamento público para o estudo de medi­camentos sem patente, escolha e inserção de um símbolo de “uso pediátrico aprovado” na embalagem do produto, e o encorajamento da produção de especialidades licenciadas para essa população.(16)

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária informa seu posicionamento em relação ao uso de medicamentos sem indicação por meio de um comu­nicado disponível no seu site: (13)

[...] o uso destes medicamentos é feito por conta e risco do mé­dico que o prescreveu, e pode eventualmente vir a caracterizar um erro médico, mas em grande parte das vezes trata­se de uso essencialmente correto, apenas ainda não aprovado [...].

Acrescenta, ainda, que:

[...] podem ocorrer situações em que um médico queira tra­tar pacientes que tenham certas condições que, por analogia com outra semelhante, ou por base fisiopatológica, ele acredite possam vir a se beneficiar de um determinado medicamento não aprovado para ela [...].

No entanto, ainda não foram estabelecidas estratégias de en­frentamento da questão.

O uso “off-label” é uma prática, principalmente, para pacientes pediátricos, idosos e gestantes

Nos EUA, em

2002, foram

propostas diretrizes

para a viabilização de

estudos que englobavam

os medicamentos sem

patente e a população

neonatal. Em 2005

iniciaram-se as discussões

sobre as estratégias e

requisitos para a condução

de ensaios clínicos em

neonatos.(15,17)

c) que possuam informação dis­ponível para sua utilização; d) que não exponham crianças a ensaios clínicos desnecessários; e) que não atrasem a sua aprova­ção para a população adulta.(16)

Essa regulação também englo­ba vários aspectos inovadores,

Page 5: Jornal Interno Ed12

FarmacêuticoemFoco

5

e, em algumas áreas, como, por exemplo a oncológica. Esse uso não constitui um preceito ilegal, contudo pode expor os pacientes a riscos.

Até o momento as distintas ações efetuadas em vários países não foram suficientes para diminuir esse tipo de utilização.

Regulamentações que incen­tivem empresas farmacêuticas a conduzir os estudos clínicos necessários para a obtenção de informações adequadas, sua dis­ponibilização para profissionais de saúde e farmacovigilância efetiva são ações necessárias ao enfrentamento da questão.

Referências

1. Conroy S. Unlicensed and off label drug use: Issues and Recommendations. Paediatr Drugs 2002;4:353­359.

2. Wilson JT. An Update on the therapeu­tic Orphan. Pediatrics 1999;104:585­90.

3. Cuzzolin L, Atzei A, Fanos V. Off­label and unlicensed prescribing for newborns and children in different settings: a review of the literature and a consideration about drug safety. Expert Opin. Drug Saf 2006;5:703­18.

4. Bernardi A, Pegoraro R. The ethics of off­label use of drugs: oncology pharmacy in Italy. J Clin Pharm Ther 2008;33:95­99.

5. Levêque D. Off­label use of anticancer drugs. Lancet Oncol 2008;9:1102­07.

6. Rakhmanina YN, Van Den Anker JN. Pharmacological research in pediatrics: from neonates to adolescents. Adv Drug Del Rev 2006;58:4­14.

7. Horen B, Montastruc L, Lapeyre­Mes­tre M. Adverse drug reactions and off­label drug use in paediatric outpatients. Br J Clin Pharmacol 2002;54:665­70.

8. Santos DB, Coelho HLL. Adverse drug reactions in hospitalized children in Fortaleza, Brazil. Pharmacoepidemio­logy and Drug Safety 2006;15:635­40.

9. Santos DB, Clavenna A, Bonati M, Coelho HLL. Off­label and unlicensed

drug utilization in hospitalized chil­dren in Fortaleza Brasil. Eur J Clin Pharmacology [in press] [cited 2008 Set 28].. Disponível em: http://www.springerlink.com.w10077.dotlib.com.br/content/100413/?Online+Date=In+the+last+six+months&Article+Category=Pharmacoepidemiology+and+Prescription&sortorder=asc&v=condensed&Content+Status=Accepted.

10. Tuleu, C. Paediatric formulations in practice. In: Costello I et al. Paediatric

Drug Handling. London. Pharmaceu­tical Press,2007. p. 43­74.

11. Wannmacher L, Fuchs FD. Conduta terapêutica embasada em evidências. Rev Ass Med Brasil 2000;46:237­41.

12. Wannmacher L. In: Organização Pan­Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde ­ Brasil. A ética do medicamento: Múltiplos cenários. Uso Racional de Medicamentos: temas selecionados. Brasília, 2007, 4(8):5­15.

13. American Society of Hospital Pharma­cists. ASHP Statement on the Use of Medications for Unlabeled Uses. Am J Hosp Pharm. 1992;49:2006­8.

14. Agência Nacional de Vigilância Sanitá­ria [homepage on the Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde. ANVISA; [cited 2005 may 23]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/medicamen­tos/registro/registro_offlabel.htm.

15. Conroy S, Mcintyre J. The use of un­licensed and off­label medicines in the neonate. Sem in Fetal & Neonatal Med 2005;10:115­22.

16. Conselho Federal de Farmácia (Brasil): Centro Brasileiro de Informação Sobre Medicamento. Crianças e medica­mentos: os riscos que podem sobrepor os benefícios. Farmacoterapêutica 2007;6:1­3.

17. Giacoia PG, Birenbaum D, Sachs HC, Mattison DR. The newborn drug development initiative. Pediatrics 2006;117:51­8.

O uso “off-label”

é uma prática,

principalmente, para

pacientes pediátricos,

idosos e gestantes e, em

algumas áreas, como, por

exemplo a oncológica.

Esse uso não constitui um

preceito ilegal, contudo

pode expor os pacientes

a riscos.

Page 6: Jornal Interno Ed12

6

FarmacêuticoemFoco

A s doenças corona­rianas são a princi­pal causa de óbito em diversas regiões

brasileiras. Atualmente, cerca de 32­34% dos óbitos em adultos se devem a um problema cardio­vascular em geral, enquanto os quadros agudos estão em torno de dois terços desse número total. Apesar dos grandes avanços tera­pêuticos das últimas décadas em relação à Síndrome Coronariana Aguda, grande parte dos pacien­tes não recebe atendimento ade­quado e o atraso no diagnóstico e,

por consequência, no tratamento da SCA, contribui para o aumento da taxa de morbimortalidade.

Nesta primeira parte da entrevista que o Professor Titular de Cardio­logia da Unifesp, Prof. Dr. Anto­nio Carlos Carvalho, concedeu ao Jornal Farmacêutico em Foco, ele aborda o grande impacto que a Síndrome Coronariana Aguda tem na taxa de mortalidade, os fatores de risco da doença, além do tratamento atual. Na próxima edição do jornal, publicaremos a segunda e última parte da entre­vista com o cardiologista.

Jornal Farmacêutico em Foco ­ Qual a definição de Síndrome Co-ronariana Aguda?

ENTREVISTA

Síndrome Coronariana Aguda: impacto

na mortalidade e terapêutica atual

Prof. Dr. Antonio Carlos Carvalho*

* Professor Titular de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Chefe da Disciplina de Cardiologia.

Page 7: Jornal Interno Ed12

7

FarmacêuticoemFoco

Prof. Dr. Antonio Carlos Car-valho ­ A Síndrome Coronariana Aguda (SCA) envolve uma insta­bilização de um quadro clínico de insuficiência coronária. É aquele indivíduo que está estável e de repente começa a ter dor no peito em mínimo esforço ou em repouso. Muitas vezes não é bem uma dor, mas um aperto no peito, associado com falta de ar, sudorese, sensação de desmaio, e isso normalmente tem uma evolução rápida, com uma acentuação do quadro. De­pendendo da interrupção de fluxo na coronária, isso pode ser deno­minado de angina instável ou pode se tratar de um quadro de infarto. Utilizamos o tempo de dor, o ele­trocardiograma e alguns marcado­res no sangue para caracterizar se houve prejuízo para o músculo do coração. Se o eletro e o marcador estão alterados, trata­se de um in­farto, que é uma das principais cau­sas de admissão em pronto­socorro e de óbito em doença coronariana. O quadro em geral de Síndrome Coronariana Aguda é perigoso se não for bem tratado.

J. F. ­ Qual a taxa de mortalidade da Síndrome Coronariana Aguda?

Dr. Carvalho ­ O Brasil tem certa carência de dados estatísticos sóli­dos como os que existem na Euro­pa e EUA, mas hoje podemos dizer com segurança que a principal causa de óbito em diversas cidades brasileiras é a doença coronariana. Atualmente, cerca de 32­34% dos óbitos em adultos se devem a um problema cardiovascular em geral, enquanto os quadros agudos es­tão em torno de dois terços desse número total. O Brasil tem uma população em vários lugares, es­pecialmente no Norte e Nordeste do país, onde a principal causa de

óbito ainda é o AVC, quase sem­pre como consequência do não tratamento da hipertensão arterial. O Sul e o Sudeste seguem mais o padrão de países desenvolvidos, em que a doença coronária é a principal causa de morte.

Quando falamos de mortalidade em SCA, a angina instável, que não tem elevação dos marcadores cardíacos e possui menos altera­ção no eletro, possui uma taxa de 2% a 3%. O infarto, dependendo do tipo, tem uma mortalidade menor ou maior, mas em média essa porcentagem é em torno de 8% a 10%, sendo que nos locais mais estruturados o índice gira em torno de 5% a 6%. Na rea­lidade, essa taxa de mortalidade é a consequência de uma cadeia de eventos, porque o resultado será melhor quanto mais cedo o paciente for tratado, o que nem sempre é possível, dependendo do local. Todo atraso no atendi­mento, diagnóstico e tratamento vai se somando e faz com que haja um aumento na taxa de óbi­to para 12% a 15%. Quando se atende rápido e adequadamente o paciente, essa mortalidade cai para aproximadamente um terço.

J. F. ­ As taxas nacionais de óbito são muito diferentes das de outros países?

Dr. Carvalho ­ Nos outros paí­ses existe uma homogeneidade maior, não há grandes diferenças regionais no atendimento, inde­pendente de onde o paciente este­ja. No Brasil, calcula­se em torno de 100 mil mortes por ano devido a problemas de coronária, um nú­mero bastante elevado. A grande diferença nossa é que existem muitos lugares que nem possuem um cardiologista e quem está no atendimento de emergência não é uma pessoa capacitada para fazer o diagnóstico e, por consequência, o indivíduo não faz o tratamento adequado. Neste sentido, é que te­mos uma grande heterogeneidade de resultados no país. O atendi­mento rápido é fundamental, por que quando tratamos o paciente nas primeiras duas horas, a mor­talidade é de 1­2%, ela aumenta exponencialmente com o atraso no inicio do tratamento; contu­do, sabemos que há um número muito pequeno no nosso meio que procura atendimento precoce.

J. F. ­ Quais são os fatores para a alta prevalência de casos de SCA?

Dr. Carvalho ­ A SCA é uma soma de vários fatores. Apesar do número ainda muito grande de casos, têm havido progressos, como melhora no tratamento da pressão arterial, controle da taxa de colesterol e diminuição do tabagismo. Estes são dados ob­jetivos nacionais de que estamos tendo gradativamente um núme­ro de indivíduos sendo melhor tratados, embora ainda seja um número insuficiente. Estamos per­dendo em duas situações: o peso da população está aumentando,

A SCA é uma soma

de vários fatores.

Apesar do número ainda

muito grande de casos,

têm havido progressos,

como melhora no

tratamento da pressão

arterial, controle da taxa

de colesterol e diminuição

do tabagismo

Page 8: Jornal Interno Ed12

8

FarmacêuticoemFoco

O problema é que

em alguns casos os

sintomas completos nem

sempre estão presentes,

o paciente pode ter

somente dor no peito ou

pode estar com falta de ar

e não ter dor

bem como o número de diabéti­cos, e estas duas situações estão associadas com mais problemas cardíacos. Dessa maneira, temos de um lado um melhor controle da pressão arterial e do colesterol e, em contrapartida, aumento de peso e de casos de diabetes. O estresse também é um fator de risco a ser considerado e existe, ainda, uma parte que tem rela­ção genética, que também deve ser bem explorada. Finalmente, fazer exercícios regularmente e manter peso adequado é muito importante. O último fator, que é extremamente relevante, é não haver demora e perda no início do tratamento ou perda de acom­panhamento. Muitas vezes, a pressão alta não é diagnosticada, o indivíduo não sabe que é hiper­tenso e não se trata; ou às vezes ele é diagnosticado, começa a tomar o medicamento, se sente melhor, para o tratamento e não volta mais para fazer o controle, ou seja, não mantém essa aderência ao tratamento da hipertensão, um controle que deve ser feito para o resto da vida. Com relação ao co­lesterol ocorre a mesma situação, uma vez que o indivíduo vê pelo exame que melhorou, ele para com o medicamento.

Sendo assim, o número de casos poderia diminuir muito se a po­pulação cuidasse melhor do que chamamos de fatores de risco. Com todos os problemas que existem nos EUA em relação à obesidade e alimentação ina­dequada, o número de eventos cardíacos em torno de 15 anos diminuiu 20% no país, quer dizer, a mortalidade vem diminuindo nos EUA de uma forma contínua por que o acesso ao atendimento e tratamento é maior, a regularida­

mal­estar, sensação de falta de ar ou de desmaio. Esse é o conjunto típico e em um indivíduo com esse quadro é mais simples de fazer o diagnóstico. O problema é que em alguns casos os sintomas comple­tos nem sempre estão presentes, o paciente pode ter somente dor no peito ou pode estar com falta de ar e não ter dor. A maior confusão diagnóstica ocorre em idosos, mulheres e diabéticos. O diabético pode ter uma dor mais camuflada, menos intensa e, às vezes, não ter dor, mas ter os outros sintomas. A mulher e o idoso podem ter um sintoma só, como por exemplo falta de ar, e não ter dor no peito, ou podem ter tido um desmaio sem que houvesse um atendimen­to para investigar a causa.

Assim, essa apresentação que denominamos de atípica ocorre numa determinada porcentagem e fica bastante focada nos indiví­duos mais velhos, nas mulheres e nos diabéticos. Temos que saber que essa é uma apresentação para esses grupos e precisamos valorizar o conjunto de risco que o paciente tem para diagnosticar­mos com maior intensidade ou não o infarto. Um indivíduo, por exemplo, que tem um histórico de hipertensão, diabetes, problemas de colesterol e é tabagista, mes­mo que ele não tenha dor ou não tenha todos os sintomas típicos, deve ser investigado para SCA. Ele deve fazer o eletrocardiogra­ma e tem que colher os exames de sangue para ter certeza de que não se trata de um caso disfarçado. Estes casos são os que mais nor­malmente criam maior confusão ­ muitas vezes, principalmente se não há especialistas no serviço de atendimento, o indivíduo pode ser dispensado sem ter o diagnóstico

de do acompanhamento médico é maior, promovendo um resultado bastante benéfico. Existem alguns estudos muito interessantes, mos­trando que o grande responsável pela diminuição da mortalidade é o controle do fator de risco e não tratar o indivíduo depois que ele já teve o evento, ou seja, o enfoque na prevenção tem um impacto maior na redução da taxa de óbito. Claro que tratar o evento também contribui para a queda da mortalidade; entretanto, quando se analisa a fração que isso representa no conjunto de melhora geral, essa porcentagem é menor do que a de controle do fator de risco.

J. F. ­ O senhor falou um pouco no início da entrevista sobre o diagnóstico da SCA; existem algumas situações controversas que podem dificultar a realização do diagnóstico adequado nos pacientes?

Dr. Carvalho ­ O quadro clínico clássico, e que não deve passar despercebido para o médico, é uma dor típica, como se fosse um aperto no peito na região central, quase sempre atrás do osso do esterno, ou seja, é uma dor bas­tante específica, quase sempre associada a sudorese, tontura,

Page 9: Jornal Interno Ed12

9

FarmacêuticoemFoco

Já no grupo

de infarto com

supradesnível do

segmento ST, o supra

no eletrocardiograma

está indicando que a

artéria está completa

e totalmente ocluída

e, portanto, ela precisa

ser desobstruída

rapidamente

fechado e assim ele não faz o tra­tamento adequado.

J. F. ­ Como é o tratamento atual da SCA?

Dr. Carvalho ­ Existe uma grande diferença no tratamento da SCA: o tratamento da angina instável ou infarto sem supradesnível do segmento ST é praticamente uniforme e consiste, de um modo geral, em aliviar a dor do paciente, com morfina ou algum equivalen­te, e o uso de um vasodilatador coronário, que é um nitrato, e que ajuda também a tirar a dor. E como essa instabilização se deve a um coágulo incompleto, que está obstruindo parcialmente a artéria, é necessário restabelecer o fluxo de sangue normal naquela região com o uso de um antiadesivo plaquetário e o uso de medica­mentos tipo heparina. No grupo do antiadesivo, o medicamento mais conhecido é a aspirina, uma droga que deve ser utilizada logo de início; e para evitar a obstrução completa da artéria, utiliza­se de um modo geral a heparina, ou a de baixo peso, que é feita sub­cutânea, ou a endovenosa (não fracionada). Esse é o grupo de medicamentos que normalmente faz parte do início da terapêutica da angina instável ou infarto sem supra, além de medicamentos tipo betabloqueadores ou inibidores da ECA se a função do ventrículo estiver ruim.

Já no grupo de infarto com su­pradesnível do segmento ST, o supra no eletrocardiograma está indicando que a artéria está completa e totalmente ocluída e, portanto, ela precisa ser desobs­truída rapidamente, o que pode ser feito com hemodinâmica

Os dois procedimentos irão de­pender de onde o paciente está localizado: se ele está em um hospital que tem hemodinâmica disponível de imediato, a conduta sempre será preferencialmente pela angioplastia primária; mas se o indivíduo está em um local que não tem hemodinâmica ­ nem todos os hospitais disponi­bilizam hemodinâmica 24 horas por dia ­, então ele é obrigado ou a ser transferido rapidamente ou a fazer uso de fibrinolítico, e quase sempre depois do fibri­nolítico, ele receberá o catete­rismo para saber se precisa ou não da angioplastia. Portanto, o diferencial é que o infarto com supra necessita de reperfusão imediata, seja via angioplastia,

(angioplastia primária) ou com um fibrinolítico que dissolve o coágulo daquela artéria, resta­belecendo o fluxo sanguíneo.

Page 10: Jornal Interno Ed12

10

seja via trombolíticos. O infarto sem supra ou a angina instável não necessitam de reperfusão imediata, há outros esquemas de tratamento, geralmente antes de se definir a necessidade do cateterismo (casos de alto risco vão para cateterismo imediato).

No entanto, para melhorarmos o efeito destes medicamentos, no sentido de facilitar o fluxo de sangue, observou­se que só com a aspirina e a heparina ainda havia muitos casos em que a artéria não mantinha um fluxo adequado. Passando aquelas primeiras horas, o indivíduo voltava a piorar e aí foi visto que ao se fazer a asso­ciação com outro esquema anti­plaquetário, cujo medicamento mais conhecido é o clopidogrel, o resultado melhorou em relação ao que era somente com a aspiri­na e a heparina. Porém, quando começamos a somar vários medi­camentos que afinam o san­gue ­ aspirina, clopidogrel, heparina e inibidor IIbIIIa, um outro antiplaquetário importante – notamos que os indivíduos começaram a ter um problema maior de sangramento. Com isso, houve a constatação de que se por um lado a taxa de mortalidade das doen­ças coronarianas caiu, por outro essa taxa aumentou por problemas de sangra­mento, diminuindo assim os resultados benéficos da terapêutica. E novamente constatou­se que os gru­pos dos idosos, mulheres e diabéticos eram mais pro­pensos a essa complicação; eles começaram a ter mais problemas de sangramento. Sem dúvida que o clopi­

J. F. ­ E além do clopidogrel, quais foram os avanços mais importantes nos últimos anos em relação ao trata-mento da SCA?

Dr. Carvalho ­ O grande avanço dos últimos anos, na minha opi­nião, foi a compreensão de que precisamos ser bastante agressi­vos com a terapêutica e devemos iniciar o tratamento o mais pre­cocemente possível. Nos casos de infarto com supra, estima­se que no Brasil apenas 30% dos pacientes conseguem efetivamente realizar o tratamento adequado, ou seja, a desobstrução da artéria, com rapi­dez; 70% deles ficam na evolução da história natural da doença como era há 15­30 anos. Na Europa e EUA, essa proporção é inversa, há 70% a 80% dos indivíduos fazen­do o tratamento adequado mais precocemente. Sabemos que a rápida reperfusão é absolutamente essencial para o bom prognóstico

do paciente; isso nem é um dado novo, assim como a associação de vários agen­tes para se obter um efeito complementar que impeça a artéria de obstruir nova­mente. O ticagrelor, um novo antiagregante plaque­tário que será lançado em breve no mercado, também representa um importante avanço farmacológico. E o uso do stent em angioplas­tia também foi um grande progresso, porque é muito mais fácil para o paciente colocar o stent do que fa­zer a cirurgia. A taxa de cirurgia pós­infarto já foi de 25­30% e hoje está em torno de 5% a 10%, uma diminuição significativa devido ao espaço que a angioplastia ocupou.

dogrel representou um avanço importante nessa área e é ainda uma droga importante, porém os seus resultados não são ainda o ideal e é por isso que existe essa busca sempre contínua por novos produtos, que sejam mais eficazes sem serem prejudiciais de alguma maneira.

O grande avanço

dos últimos

anos, na minha opinião,

foi a compreensão de

que precisamos ser

bastante agressivos com

a terapêutica e devemos

iniciar o tratamento o

mais precocemente

possível

FarmacêuticoemFoco

Page 11: Jornal Interno Ed12

11

N o mês de abril, a Ge­rência de Relações Farmacêuticas da AstraZeneca ini­

ciou mais um ciclo de palestras sobre Gestão da Qualidade e Se­gurança do Paciente, envolvendo várias capitais brasileiras.

Os eventos reuniram um número expressivo de farmacêuticos in­teressados em se atualizar sobre os temas.

Na programação dos eventos duas convidadas especiais abordaram o tema com muita objetividade e ética.

“Qualidade e Segurança do Pa­

ciente em Tempos de Acredi­tação” foi o tema apresentado pela Profa. Dra. Sylvia Lemos Hinrichsen, coor denadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia do Hospital das Clínicas/UFPE/Gerência de Risco Projeto Hospi­tais Sentinela­Anvisa e coordena­dora da Disciplina Biossegurança e Controle de Infecções – Risco Sanitário Hospitalar/UFPE.

Outro tema abordado pela far­macêutica/bioquímica, gerente de medicamentos do Hospital Municipal Odilon Behrens, em Belo Horizonte, especialista em Gestão Hospitalar pela Fundação Oswaldo Cruz e em Farmácia

Participantes do evento

em Fortaleza

Gestão da Qualidade e Segurança do Paciente

Hospitalar e Clínica pelo Instituto Racine, Juliana Fonseca Sad, foi “Farmácia Hospitalar: a difícil ta­refa de aliar custos com qualidade e responsabilidade”.

A seguir, as duas palestrantes comentam os dois temas:

Qualidade e segurança do paciente: um diferencial a ser

perseguido

“Qualidade pode ser definida como um conjunto de “círculos concêntricos”, onde no “alvo”, ou seja, no seu meio, estariam os profissionais de saúde, que utili­zam duas ferramentas: a técnica e a relação interpessoal.

FarmacêuticoemFoco

Page 12: Jornal Interno Ed12

12

FarmacêuticoemFoco

A técnica diz respeito ao máximo que ele pode fazer pelo paciente dentro dos conhecimentos cien­tíficos mais atuais. E para imple­mentar esses conhecimentos, ele precisa lançar mão de boas rela­ções interpessoais para convencer e orientar o paciente.

No próximo círculo, pode­se colocar os elementos adicionais também importantíssimos para o cuidado de um paciente, como o conforto, a privacidade, a tran­quilidade e a conveniência. E, no círculo seguinte, a contribuição do próprio paciente ou de seus familiares no tipo ou nas formas de seu tratamento, elemento extre­mamente importante por permitir a divisão de responsabilidades com o profissional de saúde.

É importante salientar que se deve buscar incansavelmente o melhor para o paciente. E oferecer todas as possibilidades terapêuticas para que ele também faça parte do pro­cesso de escolha do tratamento, de acordo com as suas necessidades e com os objetivos que ele quer alcançar.

Também deve­se considerar que nem sempre “altos custos” são sinônimo de “qualidade” e que “qualidade não é cara”, pois seus valores e resultados são intangíveis.

Os serviços de saúde qualificados devem tratar os pacientes assim como também oferecer qualidade assistencial em todos os processos do cuidado. A qualidade de um sistema de saúde engloba sete atributos: 1. eficácia, 2. efetivida­

de, 3. eficiência, 4. otimicidade, 5. aceitabilidade, 6. legitimidade e 7. equidade.

E cabe às lideranças, os verda­deiros responsáveis pelo cuidado seguro dos pacientes: 1. criar um sistema na empresa/instituição que possa atribuir a todos os fun­cionários metas que sejam críveis e desafiadoras; 2. promover o domínio do processo e do co­nhecimento técnico pela equipe; 3. garantir a melhoria contínua e a padronização de todos os processos realizados segundo uma cultura sustentável de qua­lidade; 4. promover um sistema de treinamento especial para os talentos da empresa/instituição; 5. promover uma avaliação de desempenho transparente e cons­trutiva segundo oportunidades de melhorias; 6. alinhar os interesses dos funcionários com os da orga­nização, através de um sistema de incentivos e 7. promover uma cul­tura de tomadas de decisões com base em fatos, legislações e dados concretos dentro de princípios éticos para todos os processos do cuidado do paciente segundo os valores e missão institucionais.” (quadro 1).

A difícil tarefa de aliar custos com qualidade e

responsabilidade

“Esse tema representa uma tarefa difícil para nós farmacêuticos, já que é preciso fazer as aquisições em hospitais públicos garantin­do a qualidade respeitando a tão temida lei de licitações e os princípios éticos da profissão farmacêutica.

Acredito que essa apresentação é antes de mais nada uma troca de

Profa. Dra. Sylvia Lemos Hinrichsen

Page 13: Jornal Interno Ed12

13

FarmacêuticoemFoco

experiências entre colegas farma­cêuticos e uma forma de auxiliar nessa tarefa do dia a dia da farmá­cia hospitalar. Nossa experiência é mostrada e passada aos colegas como informação para ser usada e para ajudá­los na constante busca pela qualidade de medicamentos. Qual a qualidade do tratamento que estamos proporcionando a nossos pacientes? O que podemos exigir de um Edital, o que fazer com as amostras solicitadas, como e o que deve ser avaliado nesses medicamentos? O que diz a lei e o que é a responsabilidade farmacêu­tica? Esses principais tópicos dis­cutidos durante as apresentações levam as pessoas a refletir sobre a qualidade dos medicamentos que estão no mercado sobre suas tare­fas e responsabilidades. E mesmo no setor privado, que não precisa cumprir a lei de licitações, estes tópicos podem ser discutidos com os administradores hospitalares, mostrando a responsabilidade do farmacêutico nas aquisições e como ele é o profissional indica­do para garantir a qualidade dos medicamentos.

Essa apresentação promove a discussão e a reflexão dos profis­sionais envolvidos. Além disso, a troca de experiências que aconte­ce durante o evento é muito enri­quecedora, pois os farmacêuticos colocam situações reais vividas no seu ambiente de trabalho, buscando opiniões e sugestões de como agir para garantir o melhor tratamento farmacológico para os pacientes.

Para enriquecer ainda mais a discussão são apresentados tra­balhos publicados na literatura que avaliam as comparações entre medicamentos genéricos e de re­

ferência e que mostram presença de impurezas, diferenças nas con­centrações de princípio ativo que podem levar a diferença nas doses. Discuto muito a falta de estudos clínicos para comprovação de eficácia desses medicamentos, e como não posso deixar de frisar as deficiências da fiscalização no país. Quem está fiscalizando a produção de medicamentos du­rante toda a validade do registro no Ministério da Saúde, que é de

cinco anos? A corresponsabilida­de ou responsabilidade solidária é de todos os farmacêuticos e empresas envolvidos na cadeia de produção desses produtos, que envolve desde a fabricação até a dispensação.

Enfim, esse ciclo de palestras tem sido um laboratório de aprendizado não só para os convidados, mas com toda cer­teza para os palestrantes, pois as experiências trocadas e os ques­tionamentos instigam a busca por muito mais informações. A cada nova edição do evento há a necessidade de buscar mais no­vidades, pesquisar mais e trocar mais experiências.”

Bibliografia recomendada:

• Donabedian A. The quality of care. How can it be assessed? 1988, Arch Pathol Lab Med 1997;121(11): 1145­50.

• Falconi V. O Verdadeiro Poder. Ed: INDG Tecnologia e Serviços Ltda. 2009; 159 pp.

• Pradhan M. Quality in healthcare: process. Best Practice & Rese­arch Clinical Anaesthesiology. 2001;15(4):555­571.

Juliana Fonseca Sad

Page 14: Jornal Interno Ed12

14

FarmacêuticoemFoco

A Campanha Espe­rança e Vida, pro­movida pela As­traZeneca, é uma

iniciativa social realizada em parceria com clínicas e hospitais especializados em oncologia, na qual visa promover a valorização das mulheres que estão passando por qualquer tratamento de com­bate ao câncer de mama, estimu­lando o resgate da autoestima dessas pacientes.

O projeto teve início no ano de 2009, juntamente com o “Encon­tro com a Autoestima”, realizado em clínicas e hospitais oncológi­cos de inúmeras cidades do país.

Dentre as instituições participan­tes estavam o CRIO – Centro Regional Integrado de Onco­logia (Fortaleza, CE), Instituto de Oncologia do Vale (São José dos Campos, SP), Instituto do Radium (Campinas, SP), INCA – Instituto Nacional do Câncer

campanha foi direcionada para a fase mais difícil da doença, ou seja, o tratamento e seus reflexos na qualidade de vida.Foram rea­lizadas inúmeras ações vivenciais, como sessão de maquiagem, fotos e informações sobre o câncer de mama para toda a família. Além disso, as melhores imagens e de­poimentos das ações originaram dois calendários, um de mesa e outro de parede, e foram dis­tribuídos em clínicas, hospitais participantes, e demais profissio­nais da área em todo o país. As ações foram bastante premiadas na mídia, e os “Encontros com a Autoestima” foram destaque em diversos veículos nacionais, con­correndo inclusive no 34º Lupa de Ouro, maior premiação da indústria farmacêutica em 2010, e sendo vencedor nas categorias “Evento de Responsabilidade Social” e “Comunicação Visual” do 11º Prêmio Caio, considerado o “Oscar” na área de eventos, ma­rketing promocional e turismo de negócio, realizado no último mês de fevereiro.

Durante toda a campanha é cons­tantemente ressaltado que o com­portamento positivo do paciente pode influenciar diretamente nos resultados do tratamento. Dessa forma, a autoestima é considerada fundamental para que a mulher enfrente a doença, tenha uma melhor qualidade de vida e con­

Autoestima: a melhor escolha contra o câncer de mama

Os “Encontros com a Autoestima” reuniram mais de 400 pacientes, amigos e familiares.

(Rio de Janeiro, RJ), Clinionco (Porto Alegre, RS), Oncomed (Belo Horizonte, MG), ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (São Paulo, SP), NOB – Núcleo de Oncologia da Bahia, entre outras.

Os “Encontros com a Autoesti­ma” reuniram mais de 400 pacien­tes em tratamento, juntamente com amigos e familiares. Toda a

Durante toda

a campanha é

constantemente

ressaltado que o

comportamento positivo

do paciente pode

influenciar diretamente

nos resultados do

tratamento

Page 15: Jornal Interno Ed12

15

FarmacêuticoemFoco

sequentemente obtenha sucesso no tratamento.

Outro fator preponderante é que através dos encontros tornou­se possível a troca de experiência entre pacientes que vivenciaram situações semelhantes, além de desfrutarem de momentos agra­dáveis, ouvindo os mais diversos relatos sobre a importância da autoestima ao longo do processo de cura da doença.

A iniciativa está focada em traba­lhar a humanização, o resgate e manutenção da autoestima dessas mulheres que sofrem ou sofreram pelo câncer de mama. Uma das melhores formas para atingir esse objetivo é o apoio constante e incondicional da AstraZeneca às instituições e profissionais da área da saúde que têm experiência no tratamento desse tipo de tumor.

Estudos apontam que quanto maior a autoestima, maior será sua segurança e tranquilidade, tornando o tratamento mais efi­caz, e esse é um dos pontos que os médicos, enfermeiros e psicólogos buscam aprimorar.

Também foram entregues para as pacientes o Oncoguia com instru­ções sobre os direitos do portador de câncer, e um formulário com a pergunta “O que deixa sua autoes­tima elevada?”, que tem o intuito de fazer com que as pacientes re­flitam sobre quais os valores mais importantes para a mulher que passa por esse momento delicado.

Outra ação abordada na campa­nha foi a distribuição de guias explicativos, com dicas de como manter a qualidade de vida, a au­toestima e a sexualidade.

Guia para a paciente

No Guia para a Paciente são apresentadas importantes dicas para que a paciente enfrente o câncer sem perder sua feminilidade. Também é apresentada a importância da autoestima durante todo o processo de cura, valorizar o apoio dos familiares e amigos, e o quanto é fundamental manter os cuidados antes, durante e depois do tratamento.

O guia foi elaborado para que a paciente saiba que é necessário estar bem fisicamente e mentalmente durante o tratamento, e que se informar sobre a doença e as terapêuticas existentes é o melhor caminho a ser escolhido no processo de cura da doença.

Estúdio fotográfico criado no Encontro da Autoestima.

as principais características da participante, no qual é avaliado o trabalho desenvolvido, auxiliando na montagem de atividades no hospital ou na clínica, enquanto os parceiros e familiares recebem guias com conselhos de como lidar com a paciente, além de um guia para crianças e adolescentes para ajudá­los a enfrentar essa situação.

Durante este ano, o projeto pre­tende ainda realizar 18 ações, e a primeira já foi realizada no final do mês de fevereiro no Oncocen­tro do Hospital São Carlos, na cidade de Fortaleza ­ CE.

Ao final do “Encontro com a Autoestima”, as participantes recebem um questionário, que tem como objetivo conhecer quais

Estudos

apontam

que quanto maior a

autoestima, maior

será sua segurança

e tranquilidade,

tornando o tratamento

mais eficaz

Page 16: Jornal Interno Ed12

16

FarmacêuticoemFoco

O Jornal Famacêutico em Foco é uma publicação da Office Editora e Publi cidade Ltda. patrocinada pela AstraZeneca do Brasil Ltda. - Diretor Respon sável: Nelson dos Santos Jr. - Diretor de Arte: Roberto E. A. Issa - Diretora Executiva: Waléria Barnabá - Publicidade: Adriana Pimentel Cruz, Rodolfo B. Faustino e Denise Gonçalves - Jornalista Responsável: Cynthia de Oliveira Araujo (MTb 23.684) - Redação: Flávia Lo Bello, Luciana Rodriguez e Eduardo Ribeiro - Gerente de Produção Gráfica: Roberto Barnabá - Departamento Jurídico: Martha Maria de Carvalho Lossurdo (OAB/SP 154.283) - Fotos: João Cláudio Cote. Office Editora e Publicidade Ltda. - Rua General Eloy Alfaro, 239 - Chácara Inglesa - CEP 04139-020 - São Paulo - SP - Brasil - Tel.: (11) 5078-6815 - Fax: 2275-6813 - e-mail: [email protected]. Todos os artigos assinados têm seus direitos reservados pela editora. É proibida a reprodução total ou parcial dos artigos e de qualquer imagem dos mesmos sem autorização dos autores e da editora. Os artigos publicados são de responsa bilidade de seus autores, não refletindo obrigatoriamente a posição desta publicação. (04611R)

www.farmaceuticoemfoco.com.br

­

P

rodu

zido

em

mai

o/20

11

EM FOCO

Canal de relacionamento tem novo layout

AstraZeneca do Brasil LtdaRod Raposo Tavares km 26,906707 000 Cotia SP BrasilSAC / ACCESS net 0800 014 55 78www.astrazeneca.com.br

O canal de relacionamento farmacêutico da AstraZene­

ca na internet está com um novo layout. Com um visual moderno e sofisticado, o site traz novidades interessantes e continuará propor­cionando ao farmacêutico o acesso rápido à informação e atualização científica, através dos mais diver­sos serviços disponíveis.

Um dos destaques da nova página será a inclusão de webmeetings, uma série de aulas de extrema

relevância na prática diária dos farmacêuticos.

Durante o ano serão ao todo quatro vídeos­aula, sendo que a primeira será apresentada no próximo dia 21 de junho, e as demais acontecerão nos dias 12 de julho, e no mês de agosto nos dias 2 e 23. Todas as aulas vão estar relacionadas à cardiologia.

Além disso, o visitante também

poderá solicitar no Acess Net re­sumos e íntegras de estudos cien­tíficos de forma gratuita e com rapidez, através de uma equipe especializada e de um banco de dados com materiais nacionais e internacionais.

No portal também é possível en­contrar apresentações de cursos e palestras realizadas no Brasil, ministradas por renomados pro­fissionais da área, juntamente com uma agenda científica com data, local e sites dos principais eventos e congressos do campo farmacêutico no Brasil e no exterior.

Em Eventos AstraZeneca é dis­ponibilizada uma programação com cursos de Atualização Farmacêutica e encontros far­macêuticos promovidos pela AstraZeneca.

O internauta que acessar o link Jornal Interno poderá visualizar todas as edições do nosso Jornal Farmacêutico em Foco, além de ter a possibilidade de esclarecer dúvidas ou dar sugestões de ma­neira interativa.