Jornal Informativo FIQUEPORDENTRO

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Jornal Informativo FIQUEPORDENTRO MEIO AMBIENTE COTIDIANO SAÚDE Estudo divulgado pelo Fórum Humanitário Global diz que número de mortes em decorrência das mudanças climáticas será de meio milhão por ano em 2030 POR MARGARIDA TELLES Moradores sofrem com da- nos causados pela chuva, pessoas convivem em meio aos buracos e ao descaso As chuvas das últimas sema- nas caíram com mais força e junto vieram os problemas. Página 3 Nos últimos anos, o prazer de comer passou a ser as- sociado à culpa. Não precisa ser assim. Novos estudos mostram as virtudes de die- tas simples e saborosas que fazem bem à saúde, e ao pla- neta. Página 6 Página 9

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FIQUEPORDENTRO

MEIO AMBIENTE

COTIDIANO SAÚDE

Estudo divulgado pelo Fórum Humanitário Global diz que número de mortes em decorrência das mudanças climáticas será de meio milhão por ano em 2030 POR MARGARIDA TELLES

Moradores sofrem com da-nos causados pela chuva,pessoas convivem em meio aos buracos e ao descasoAs chuvas das últimas sema-nas caíram com mais força e junto vieram os problemas.

Página 3

Nos últimos anos, o prazer de comer passou a ser as-sociado à culpa. Não precisa ser assim. Novos estudos mostram as virtudes de die-tas simples e saborosas que fazem bem à saúde, e ao pla-neta.

Página 6

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FAVELA SITIADA

Há 20 dias, a desempregada Edna Cândida de Queiroz perdeu a principal fonte de renda. As chuvas das últimas semanas caíram com mais força e junto vieram os problemas. Bu-racos surgiram na rua sem asfalto em frente à casa dela. Uma das crateras foi aumentando de tamanho até fazer a carroça de Edna virar e quebrar. Desde então, ela perdeu a chance de fazer os bicos que sustentam a família de seis pessoas. “Vou botar a culpa em quem: na chuva ou no governo?”, questiona.

Como consolo, ela viu a prefeitura colocar cas-calho no buraco.Junto com ela, outras duas mil famílias enfren-tam as mesmas dificuldades na favela Super Quadra (SQ) 19, na Cidade Ocidental, municí-pio de Goiás, no Entorno de Brasília, localizada a 47 quilômetros da Praça dos Três Poderes.No auge da chuvas, os buracos impedem a en-trada de caminhões e ambulâncias na favela. Os moradores são obrigados então a colocar lixo na avenida lateral ao bairro. Muitas vezes, os caminhões não passam a tempo e a chuva arrasta o lixo e o espalha em frente às casas. Assim, ratos, baratas e outros insetos invadem os lares. No quarto do filho, Edna Cândida en-controu uma aranha, daquelas peludas, típicas dos filmes de terror. Na SQ 19, também não há esgoto e, por vezes, o cheiro de fezes das fossas domina o local.Mas a chuva não pode ser considerada a prin-cipal causa para tantos males. A Super Qua-dra 19 – considerada bairro em razão do alto índice demográfico – é o espelho das políticas

COTIDIANO

Moradores de favela sofrem mais no período de chuvas

Os moradores reclamam as casas prometidas pelo governo

(31)3235-5757

[email protected]

Diretor (a): Bárbara Tampieri

Edição 01

Dezembro de 2014Editora Eco

Belo Horizonte - MG

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públicas feitas no Entorno nas últimas déca-das. A região tem a pior distribuição de renda do País, segundo levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), feito no ano passado. A maior parte da população da SQ 19 é desempregada e depende de bi-cos e cestas básicas da prefeitura. E o motivo dos problemas na Cidade Ocidental, com 50 mil habitantes, é o mesmo de toda a região de pobreza que cerca Brasília: distribuição elei-toreira de lotes e crescimento desenfreado.

Promessas

Antes, a favela era um brejo e ponto de diver-são de crianças. No fim da década de 1990, começaram a se espalhar promessas de que a prefeitura iria doar lotes. Foi o suficiente para mais de duas mil famílias ocuparem o local em poucos anos. E os problemas fundiários estão longe de serem resolvidos. O terreno sequer é da prefeitura, até hoje enrolada na promessa da regularização da terra por parte do gover-no do Distrito Federal. Em novembro do ano passado, o município iniciou o processo de ca-dastramento dos moradores do bairro. “Não é porque o lote ainda não é nosso que a gente vai ficar aqui largado”, conclui o ajudante de pedreiro Messias Santos da Silva. Os moradores da favela correm o risco de se-rem desapropriados. O bairro está localizado em uma área de proteção ambiental, em cima

de um lençol freático. Além dos problemas típicos das chuvas, em algumas ruas, literal-mente, brota água de nascentes. A dona-de--casa Iara Martins é uma das muitas morado-ras acostumadas às infiltrações. Anualmente, ela é obrigada a reparar as paredes e refazer a pintura. “Se soubesse que essa terra seria só problema, eu não teria colocado o primeiro tijolo”, diz Iara, que veio do Maranhão. A dona--de-casa conta ter visto até um trator atolar em frente de casa.O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê investimentos de 13 milhões de reais na Cidade Ocidental, até 2010. A prio-ridade será a construção de habitações para moradores de áreas de risco permanente. As obras estão em fase de contratação. No total, serão 1,4 bilhão de reais investidos no Entorno no mesmo período.Não é a primeira vez que o governo federal investe na região. Em 2004, o Ministério das Cidades começou um projeto de urbanização das favelas da Cidade Ocidental, em especial a SQ 19. As ruas serão asfaltadas e um sis-tema de saneamento básico e drenagem será construído, além de escola e posto policial.

A favela era um brejo e ponto de diversão das crianças

A condição das ruas é precária

As obras, porém, estão paradas há seis me-ses, segundo os moradores. No local, não há qualquer vestígio de obras em andamento. No Ministério das Cidades, o projeto consta como “em execução” e com 33% concluído. O último acompanhamento feito pelo ministério é de ou-tubro do ano passado, quando foram repassa-dos 300 mil reais à construtora Coensa pelos serviços prestados.

Segundo a assessoria do Ministério das Ci-dades, a responsabilidade de execução das obras é do município. O prefeito Plínio Araú-jo, do PSDB, está hospitalizado desde o início do mês, quando sofreu graves complicações em um pós-operatório. A vice-prefeita Sônia de Melo Augusto está no comando de Cidade Ocidental desde a terça-feira 11, mas não re-tornou os contatos de Carta Capital.

O motivo dos problemas na Cidade Ocidental, com 50 mil habitantes, é o mesmo de toda a região de pobreza que cerca Brasília a cada chuva

Os gregos antigos tinham razão. Hipócrates, o Pai da Medicina, notou 400 anos antes de Cristo que a escolha dos alimentos certos para o ser humano era o resultado da sabedoria acumulada ao longo das gerações, ao pre-ço de muitas tentativas, erros e descobertas. Desse esforço, dizia ele, nasceu a dieta ide-al para “a saúde e a segurança” do homem. “A essas investigações e achados, que nome poderia se dar mais adequado do que Medi-cina?”, perguntou Hipócrates em sua obra Da medicina antiga.Dois milênios e meio depois, o ser humano en-tende cada vez melhor que a boa alimentação é um excelente método de medicina preven-tiva. Graças ao avanço da ciência da nutri-ção, descobrimos as substâncias benéficas e maléficas nos alimentos. Entendemos melhor do que nunca o que se deve comer para vi-

ver mais e melhor. E as pesquisas recentes levam a uma conclusão surpreendente, que faria Hipócrates sorrir: nas dietas tradicionais, criadas séculos atrás por diferentes povos em todos os cantos do planeta, estão muitas das virtudes indispensáveis a uma dieta saudável. Uma dieta que pode ser seguida sem a culpa incutida nos últimos anos por uma série de es-tudos que parecem nos proibir de comer o que é saboroso.Os estudos não devem ser ignorados – eles alertaram, por exemplo, para os danos à saú-de provocados por muitas substâncias adicio-nadas aos alimentos industrializados –, mas não devem ser vistos como uma forma de re-pressão alimentar. “As pessoas têm de buscar o caminho do prazer, não da restrição”, diz Ri-chard Béliveau, professor do Departamento de Bioquímica da Universidade do Québec, em

COMER BEM PARA VIVER

MELHOR

“Nos últimos anos, o prazer de comer passou a ser

associado à culpa. Não precisa ser assim. Novos

estudos mostram as virtudes de dietas simples e

saborosas que fazem bem à saúde, e ao planeta

SAÚDE

trata de americanofobia francesa. Nesse tipo de dieta, 65% das calorias ingeridas vêm de três fontes: açúcar refinado, farinha refinada e óleos vegetais com ômega-6. Além de não fornecer nutrientes e vitaminas vitais, esses ingredientes levam à obesidade, considerada pela Organização Mundial da Saúde uma das ameaças mais graves à saúde. “A obesidade é o ponto comum de doenças como diabetes, câncer, doenças do coração e Alzheimer”, diz Richard Béliveau, da Universidade do Québec.Toda vez que comemos açúcar, nosso corpo secreta hormônios que estimulam o cresci-mento das células. Esse Processo é importan-te nas crianças, que precisam ficar mais altas, mas é prejudicial depois da fase de crescimen-to. “Nos adultos, as únicas coisas que crescem são gordura e câncer”, diz Servan-Schreiber. Segundo dados da American Herat Associa-tion, entidade americana de combate às doen-ças cardiovasculares, um índice de massa cor-poral acima de 30 reduz a expectativa de vida em cerca de sete e seis anos, respectivamen-te para mulheres e homens não fumantes na faixa dos 40 anos. A obesidade parece estar relacionada a um aumento do risco de demên-cia na terceira idade. Segundo uma pesquisa divulgada em janeiro pela Universidade Co-lúmbia, em Nova York, o acúmulo de gordura

na cintura em adultos jovens amplia o risco de desenvolver Azheimer na velhice.Nos Estados Unidos, país com 32% de adultos obesos, a expectativa de vida é de 78 anos e a taxa de incidência de câncer é de 357 casos a cada 100 mil habitantes, segundo a Internatio-nal Agency for Research on Cancer. No Japão, 3% dos adultos são obesos, a expectativa de vida é de 82 anos e a incidência de câncer é de 214 por 100 mil. É claro que a alimenta-ção não é o único fator para a obesidade – o sedentarismo também tem sua contribuição -, mas a comparação entre Japão e Estados Uni-dos, dois países ricos e com recursos médicos avançados, serve de alerta para o Brasil.Por aqui, a obesidade já afeta 11% da popu-lação adulta, 18% dos meninos e 15,5% das meninas. Como reduzir esses índices? “A ten-dência é que a medicina preventiva cresça cada vez mais”, afirma o médico Heno Lopes, da Unidade Clínica de Hipertenção do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo e autor do livro Dieta do coração (edi-tora Abril). Mudar hábitos alimentares não só reduziria os custos com o tratamento de do-enças, mas melhoraria a qualidade de vida da pessoas.

Montreal. “A ‘junk food’ (‘comida lixo’, nome usado para definir a comida industrial de baixo valor nutricional) é, literalmente, monótona. As dietas tradicionais têm muito mais variedade: são simples e deliciosas”. Béliveau, autor do livro A saúde pelo prazer de comer bem (ain-da inédito no Brasil), faz parte de um grupo de pesquisadores que prega o resgate das tradi-ções culinárias de cada país como modo sau-dável – e saboroso – de se alimentar.

Culinária mediterrânea

Entre as dietas capazes de conciliar saúde e prazer, a mais conhecida é a mediterrânea. Estudos e mais estudos relacionam os ali-mentos consumidos tradicionalmente em paí-ses como Grécia, Espanha e Itália à redução de doenças crônicas. Na dieta mediterrânea, destacam-se o azeite de oliva, as castanhas e o consumo moderado de álcool, geralmente vinho – todos associados à redução de risco de doenças cardiovasculares. Um dos estudos mais relevantes foi comple-tado meses atrás pela Universidade de Flo-rença, na Itália, e publicado no British Medical Journal. Uma equipe liderada por Francisco Sofi, pesquisador de nutrição clínica, compilou dados de várias pesquisas feitas entre 1966 e junho de 2008 e concluiu que a dieta me-diterrânea está associada a uma redução de 9% na mortalidade geral e na mortalidade por doenças cardiovasculares, uma diminuição de 6% na incidência de câncer e de 13% na inci-dência de Parkinson e Alzheimer.A dieta mediterrânea, porém, não é a única capaz de garantir uma alimentação saudável sem culpa. Os estudos mais recentes mostram evidências dos benefícios de costumes de ja-poneses, indianos – e brasileiros – à mesa. Qualidades comuns às dietas tradicionais des-ses povos são a abundância e a variedade de legumes e verduras – e a ausência de alimen-tos industrializados. Da tradição culinária japo-nesa herdamos o consumo de alimentos valio-sos, como soja e chá verde, contra o câncer, e peixes ricos em ômega-3, importantes para a

saúde do coração e do cérebro. A dieta india-na nos inspira a substituir o sal por pimentas e especiarias como a cúrcuma, que combate o câncer, e a limitar o consumo de carne verme-lha. E a brasileira nos ensina a respeitar uma proporção adequada dos alimentos no prato e incentiva o consumo de frutas.

“A mistura do feijão com o arroz cria o mesmo tipo de proteína da carne, e a salada traz os fitoquímicos que combatem o câncer”, afirma o neurologista francês David Servan-Schrei-ber, autor do Best-seller Anticâncer (editora Objetiva),livro cuja tiragem mundial já ultrapas-sou 1 milhão de exemplares. “A proporção de 75% a 80% de vegetais para 20% a 25% de carne em um prato é perfeitamente saudável e costumava ser a base da maioria das dietas tradicionais”, diz ele. “O prato tradicional bra-sileiro é o que os nutricionistas gostariam que todo mundo comesse”, diz Mônica Elias Jorge, nutricionista da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de SãoPaulo.As tradições à mesa deram lugar a uma ali-mentação globalizada não necessariamente ideal. A predominantes dieta americana, se-gundo Servan- Schereiber, é perigosa. Não se

Qual o impacto, medido em números, do aque-cimento global sobre os seres humanos? Até aqui, houve muita especulação e chute. Onde havia sombra agora no entanto, há luzes: foi publicado nesta sexta-feira (29) o estudo mais completo e mais claro sobre o tema. A auto-ria não poderia ser mais qualificada: o Fórum Humanitário Global, uma organização inter-nacional destinada a identificar os principais desafios da humanidade e presidida por Kofi Annan, antigo secretário-geral da ONU.Os números são alarmantes: segundo o rela-tório, 300 mil pessoas morrem anualmente em decorrência da mudança de clima, vitimadas por uma longa lista de catástrofes que vão de inundações à destruição de colheitas. Em 2030, mantidos os padrões atuais, as mortes chegarão a meio milhão por ano. As perdas econômicas batem em US$ 125 bilhões anu-almente. Calcula-se que 325 milhões de pes-soas sejam “seriamente afetadas” pelo aqueci-mento global. Quatro bilhões de pessoas estão “vulneráveis”, afirma ainda o relatório, e 500 milhões enfrentam “extremo risco”. Estes da-dos podem ser “conservadores”, diz o estudo. Apenas desastres ligados ao clima causaram prejuízos de US$ 230 bilhões nos últimos cin-co anos. Pouco? Mesmo que a comunidade internacio-nal seja eficiente e tenaz agora nas ações cli-máticas, “pelas próximas décadas a sociedade deve estar preparada para mudanças de clima mais fortes e para impactos mais perigosos so-bre as pessoas”, de acordo com o relatório. “O aquecimento global já produz intensos danos para os seres humanos, mas é uma crise silen-ciosa: é uma área de pesquisa negligenciada, uma vez que o debate está focado nos efeitos

físicos da mudança de clima a longo prazo.” O estudo, feito com a estimativa corrente de que a temperatura vem-se elevando anual-mente 0,74 graus, vem a público poucos me-ses antes de uma conferência da ONU em Copenhague destinada a discutir medidas em regime de urgência para enfrentar o problema em escala global. “O tempo para agir é ago-ra”, afirma o relatório. “Uma conclusão-chave dos estudos é que a sociedade global deve agir conjuntamente para enfrentar este drama compartilhado. Em Copenhague espera-se que os países ajam de acordo com seu inte-resse comum, e com uma só voz.” Um grupo de 20 cientistas, economistas e escritores já premiados com o Nobel uniu-se ao apelo do Fórum Humanitário Global em prol de ações imediatas. “As discussões em Copenhagen podem ser a última chance de evitar uma ca-tástrofe global”, diz o grupo. O relatório não é, todavia, unanimidade entre os estudiosos. O cientista político Roger Pielke Junior, da Universidade do Colorado, especia-lista em tendências de desastres, classificou o método utilizado no estudo como “um emba-raço”, numa reportagem publicada no site do jornal The New York Times. “A mudança climá-tica é um assunto importante que requer uma atenção profunda nossa”, disse Pielke. “Mas o relatório vai prejudicar a causa do combate ao aquecimento por ter tantos furos.” Choque de vaidades na busca da proeminência no com-bate ao aquecimento? Talvez. O que é indis-cutível na essência do estudo – a despeito de discussões de metodologia -- é que não há de-safio maior para a humanidade do que a mu-dança de clima.

Aquecimento global mata 300 mil pessoas por ano

MEIO AMBIENTE

Ideias para salvar o planeta

Diante do estrago, surge todo tipo de loucura para remendar o clima da Terra. Simular erup-ções vulcânicas é só uma delas“É como estar em um carro sem freios, dirigin-do no meio da neblina e indo em direção a um precipício.” Foi com essa frase que John Hol-dren, consultor de ciência de Barack Obama, se referiu à atual situação climática da Terra.A declaração de Holdren foi feita em seu pri-meiro pronunciamento oficial. Ele disse que a única medida para evitar um colapso climá-tico seria a adoção de medidas tecnológicas de grande impacto, como refletores em órbita para bloquear o sol e diminuir a temperatura do planeta. Nos últimos dois anos, o rápido aumento da temperatura global e suas consequências le-varam muitos cientistas, antes contrários à manipulação do clima, a se interessar pelas megaobras – chamadas de geoengenharia – como uma saída rápida o suficiente para evitar desastres ecológicos como o derretimento de parte significativa das calotas polares, enchen-tes, furacões e secas. Uma pesquisa recente feita pelo jornal britânico The Independent per-guntou a 80 cientistas especializados em clima o que eles pensavam sobre geoengenharia. Dois terços afirmaram que apoiam a realiza-ção de mais pesquisas na área. A Academia Nacional de Ciência, uma associação ameri-cana que reúne alguns dos mais importantes nomes da ciência, vai sediar um debate sobre geoengenharia em junho. Na Inglaterra, o go-verno cogita a possibilidade de financiar novos estudos. Essa tentativa de reverter danos cau-

sados pelo homem ao planeta pode funcionar? Os arquitetos da geoengenharia têm duas es-tratégias para salvar o mundo. A primeira é ten-tar bloquear parte dos raios solares. Um dos projetos mais ambiciosos é do cientista Paul Crutzen. Ele ganhou o Nobel de Química em 1995, por estudar como a camada de ozônio é destruída. Agora se inspirou nos vulcões. Em 1991, o Vulcão Monte Pinatubo, nas Filipinas, lançou 10 milhões de toneladas de enxofre na atmosfera terrestre. Os sedimentos criaram uma camada de poeira, que filtrou os raios so-lares durante dois anos reduzindo em 0,6 grau célsius a temperatura média da Terra. Inspira-do por esse efeito, Crutzen defende lançar 1 milhão de toneladas de enxofre na atmosfera, para criar a primeira tela de proteção à radia-ção solar feita pelo homem. A tática poderia até resfriar o planeta, mas causaria outros danos, como problemas respiratórios nas pessoas, chuva ácida e, ironicamente, destruição da ca-mada de ozônio. Outro efeito colateral peculiar seria afetar o crescimento das plantas e dimi-nuir a produtividade da energia solar, uma das melhores alternativas de energia renovável e não poluente. Outras possibilidades para bloquear o Sol pa-recem saídas de um filme de ficção científica. A mais controversa é colocar milhares de es-pelhos na atmosfera. “Alguns dos projetos que pretendem refletir o Sol são eficazes. O risco é que, se a iniciativa for abandonada, a tem-peratura pode subir bruscamente”, afirma Nem Vaughan, pesquisadora inglesa que conduziu um dos primeiros estudos comparativos sobre as diferentes técnicas de geoengenharia, ao lado do cientista Tim Lenton, da Universidade

de East Anglia, no Reino Unido. Nem Vaughan acredita mais em outra estra-tégia de geoengenharia que vise tirar da at-mosfera parte do gás carbônico responsável pelo aquecimento global. Uma das opções mais seguras é investir em grandes projetos de reflorestamento. Quando crescem, as ár-vores retiram carbono do ar. Mas não há área suficiente para limpar a atmosfera só com flo-restas plantadas. Uma opção para isso foi su-gerida pela empresa californiana Planktos, em 2007. Ela iria despejar ferro no mar das Ilhas Galápagos. A ideia, chamada de fertilização do mar, era incentivar a proliferação de algas, que absorveriam uma grande quantidade de gás carbônico. Depois de mortas, elas afundariam, enterrando o carbono no leito marinho. A ini-ciativa gerou protestos de ambientalistas, que temiam a destruição de ecossistemas inteiros com a proliferação das algas. Neste ano, estu-dos comprovaram que a fertilização dos mares não combateria o aquecimento global, pois a quantidade de carbono retirada pelas algas seria insuficiente. Se tivesse sido executada em grande escala, teria danificado a fauna e a flora marinhas em vão.

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