Jornal Fundamento_07

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Fundamento Jornal Umbandista Português Distribuição Gratuita N º 0 0 7 56006070 7 0 0 1 1 À conversa com Mestre Pedro “Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito” Padre Cícero O Santo Milagreiro do Ceará

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Jornal Fundamento_edição 07, propriedade de ATUPO - Templo de Umbanda Pai Oxalá, Portugal

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Page 1: Jornal Fundamento_07

FundamentoJornal Umbandista Português

D i s t r i b u i ç ã o G r a t u i t a N º 0 0 7

56006070

70011

À conversa com Mestre Pedro“Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito”

Padre CíceroO Santo Milagreiro do Ceará

Page 2: Jornal Fundamento_07

fala e sobre o qual quase ninguém reflecte…O “pecado” mora ainda no íntimo de cada um

de nós. O preconceito começa quando nos deparamos com situações que não conhecemos, nem compreendemos, por exemplo, quando nos deparamos com uma nova religião e convidados a conhecê-la na 1ª pessoa nos escusamos a esse contacto; quando permitimos que os nossos valores e crenças (ou a falta deles) contaminem continuamente a nossa mente e nos impeçam de ver mais longe, de evoluir e de aprender algo sobre os outros e sobre o mundo que nos cerca.

Terminei esta pequena conversa dizendo-lhe que as portas da ATUPO se mantêm abertas a todo o homem e mulher de boa vontade que ali se dirija à procura de uma luz.

Conclusão: Deixei de ter uma “sentinela” por perto quando me dirijo à ATUPO. Ainda está por determinar se continuo, ou não, a ter uma relação cordial com a vizinha, mas acredito que um destes dias ela se vai permitir uma 2ª oportunidade e vai, desta vez de mente e coração bem abertos, visitar novamente a “nossa” casa.

Se assim for estou certa de que ouvirá um dos nossos amados guias dizer-lhe as mesmas palavras que ouvi um dia ao Sr. Severino: “Nós aqui promovemos uma transformação interior se as pessoas quiserem, se não quiserem o problema é delas!”

* 1) Quo vadis (Onde vais?) é um romance do escritor polaco Henryk Sienkiewicz (1846-1916), cujo enredo decorre em Roma, durante o reinado do responsabilizados por tudo o que Imperador Nero, e narra o amor proibido de um patrício fazemos, pelas nossas aprendizagens, e romano e de uma cristã, durante um período de feroz pela forma como o fazemos – da maneira mais perseguição movida aos cristãos pelo império.

fácil ou mais difícil – é reconfortante. Cria um 2) De acordo com a tradição cristã, registada nos

espaço extraordinário de liberdade. livros apócrifos, a expressão "Quo vadis, Domine?" É certo que sermos responsáveis pela (Aonde vais, Senhor?) surgiu quando Jesus apareceu a

harmonia ou desarmonia que criamos à nossa Pedro, que deixava Roma para escapar à perseguição de volta se torna assustador. Não termos o Nero. Perante a visão, Pedro perguntou a Jesus: "Aonde

vais, Senhor?", ao que este respondeu: "Já que “cardápio” das desculpas disponível quando O fatalismo, o atestado de menoridade e a abandonas o meu povo, vou a Roma para ser crucificado n e c e s s á r i o t o r n a - n o s v u l n e r á v e i s , desresponsabilização pelos nossos actos, pelas outra vez." Fernanda Moreiraprincipalmente quando cometemos actos nossas relações, pela forma como estamos

infames! Mas também é maravilhoso podermos connosco e com os outros, estão ausentes deste experimentar o “tal” livre-arbítrio de que tanto se c o n c e i t o . E e s t a f o r m a d e s e r m o s

Saudações, Irmãos de Fé!No passado mês de Maio, comemorou-se o dia dos Pretos Velhos,

nossas queridas entidades de Umbanda, sinónimo de humildade, sabedoria e, acima de tudo, de uma vida sofrida que tiveram em suas passagens na Terra, no cativeiro em senzalas, onde o negro era visto como um animal acorrentado, não podendo, na maioria das

vezes, ter uma vida em família e sendo impedido de praticar seus costumes e sua religião. No dia 13 de Maio, é também celebrado o dia em que as correntes que aprisionam o negro brasileiro se partem: dá-se a Liberdade através da abolição da Escravatura, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.

Pois bem, esta introdução falando do Negro Brasileiro e da Lei Áurea lembra-nos o porquê de existir a figura do Preto-velho em nossa Umbanda ou do negro escravo em solo brasileiro, que, apesar de acorrentado durante mais de 300 anos no Brasil, lutou sempre, não deixando morrer seus costumes, tendo mantido suas origens no que diz respeito à sua religião! Adaptou-se, lutou por sua liberdade e contra a tirania do homem branco e não perdeu a esperança!

Hoje o Preto-Velho desce nos terreiros e templos de Umbanda, na sua divina sabedoria, ensinando-nos a termos paciência, a não desistirmos, mostrando que não é tão difícil, que devemos carregar a luta e a esperança gravadas na alma e, acima de tudo, nos ensinando que devemos quebrar as nossas próprias correntes e aceitarmos a nossa liberdade e não esperar que venha uma princesa Isabel assinar uma Lei que nos dê a liberdade e o poder de escolher! Negro velho diz: “ Isso vocês já possuem”!

Por isso, meus irmãos, quebrem as vossas correntes e vivam!Salve a sabedoria dos Pretos Velhos e Adorei as Almas!Pai Cláudio de Oxalá Sacerdote de Umbanda | ATUPO -Templo de Umbanda Pai Oxalá

Palavra do Dirigente

FundamentoJornal Umbandista Português

02 | 06 | 2011 FundamentoJornal Umbandista Português

| 03007

ontrariamente ao que este título inspira, Estou certa de que todos vós, tal como eu, já vos Ceste artigo não vai versar sobre livros. colocastes esta questão, pelo menos uma vez, ao Apenas sobre a busca do caminho que muitos, longo do percurso.arrisco-me a dizer todos nós, empreendemos e que, Por isso, ultrapassei a contrariedade que o de alguma forma, acabou por nos levar à ATUPO. comportamento desta senhora me provocou e

Tenho uma vizinha que todas as semanas, ao partilhei com ela a minha visão. Disse-lhe que, na sábado, se colocava à janela, à hora aproximada em minha visão, uma religião é, antes de tudo o mais, que me desloco para o centro, apenas para tentar um código de conduta moral e humana que orienta descobrir o significado da minha “estranha rotina”. o praticante no caminho da “iluminação”. Entenda-

Consciente desse facto, decidi convidá-la a se iluminação como o estado máximo de bem-acompanhar-me e a verificar por si própria os aventurança (à falta de melhor definição, coloco “caminhos” por onde me movo. aqui a minha).

Lá chegada, presa de grande curiosidade e Disse-lhe ainda que o que me seduziu na excitação, apressou-se a tomar notas mentais de Umbanda desde o início foi a ausência de “pecado”, tudo quanto lá se passava: das pessoas que lá se i.e., a libertação do conceito judaico-cristão de encontravam; como se vestiam e falavam; do que pecado. A minha geração foi educada com este falavam; quais as particularidades do ritual, enfim, conceito sempre subjacente a todos os seus actos. interessou-se por todo o colorido que antecede um Somos talvez a última geração que transporta em si ritual de Umbanda… mas recusou-se a falar com os velhos e os novos conceitos, o que nos dá uma uma entidade. Não estava preparada, alegou. abrangência especial. Mas, ainda por esse facto, a

Desperdiçar uma oportunidade como a que lhe nossa ânsia de liberdade individual continua viva.foi proporcionada pareceu-lhe natural e não se O facto de no “terreiro” se fazer notar uma coibiu de me esperar um dia no final do trabalho ausência de “pecado” foi para mim determinante.para uma “amena cavaqueira”. No “terreiro”, nos fundamentos, na boca das

Tal como esperado, inundou-me de questões de entidades sempre ouvi falar de responsabilização. pertinência variável, mas, para efeitos deste artigo, Acção gera reacção. Todos os nossos actos ecoam gostaria de destacar apenas um: “O que encontras- na “Criação” e retornam para nós de acordo com os te na Umbanda que não houvesse noutra qualquer nossos méritos e deméritos.religião?”

A questão não me apanhou desprevenida.

www.atupo.comwww.umbanda.pt www.atupo.comwww.umbanda.ptwww.atupo.comwww.umbanda.pt www.atupo.comwww.umbanda.pt

Histórias da A.T.U.P.O.

Quo Vadis?

Equipa técnica:

RevisãoDirector do JornalMary NogueiraCláudio Ferreira

Director de Edição Gráfica e

ConteúdosFotografia

Cláudio FerreiraPaulo Fernandes

Director Comercial Bernardo CruzFrederico Castro Miguel Faria

Fernando SilvaChefe de RedacçãoFernando Silva

RedacçãoCláudio Ferreira ContactoBernardo Cruz [email protected] MoreiraMary NogueiraAna Barbosa www.atupo.comLeonel LusquinhosSusana Ferreira www.umbanda.ptFrederico Marques

FundamentoJornal Umbandista Português

Propriedade da

«»

O que encontraste na Umbanda que não houvesse noutra qualquer religião?

Ficha TécnicaA cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá, saudava a abundância de alimen- ra, à prosperidade. É Oxóssi que, com o seu tiro certeiro, mata o pássaro

tos com uma festa, oferecendo inhame, milho e coco. O rei comemorava com gigante, pousado no teto do palácio, permitindo assim que continue a cele-sua família e seus súditos, só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com brar-se a abundância de alimentos e recebendo em troca metade da riqueza a desconsideração, enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do do rei e uma cidade. palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada. É Oxóssi que, com a sua flecha, providencia para que nada falte ao seu

O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro tinha povo , adentrando pelas matas, na calada da noite, sem medo dos perigos, em vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. busca da caça, do alimento. E é a busca constante, à procura do alimento, que Então o rei aborreceu-se e o mandou embora. Um segundo caçador se apresen- lhe permite conhecer as matas, cada árvore, cada folha. Assim, a energia de tou, este com quarenta flechas, o fato se repetiu novamente e o rei mandou Oxóssi está ligada a essa busca que visa em si o conhecimento; não só o então prendê-lo. conhecimento do mundo que nos rodeia, pois é a energia de Oxóssi que está

Bem próximo dali vivia Oxóssi, um jovem que costumava caçar à noite, ligada às diferentes áreas do saber, a ciência, a educação, a filosofia, mas antes do sol nascer, ele usava apenas uma flecha vermelha. O rei mandou cha- também e principalmente ao conhecimento de nós mesmos, das nossas má-lo para dar fim no grande pássaro. Sabendo das punições imposta pelo rei necessidades, para que possamos crescer e evoluir enquanto seres materia-aos outros caçadores, a mãe de Oxóssi temendo pela vida do filho, consultou is e espirituais. É a energia de Oxóssi que vibra em nós, quando refletimos, um babalaô, e os obis mostraram que, se fosse feita uma oferenda para as buscamos o nosso interior, para compreendermos quem somos e quem feiticeiras ele teria sucesso. queremos ser. É neste sentido que a energia de Oxóssi atua como Caçador de

A oferenda consistia em sacrificar uma galinha. Nesse exato momento, Almas que, com a sua flecha certeira, instrumento de fé, nos resgata, nos Oxóssi deveria atirar a sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem cura, derrotando o pássaro gigante que habita dentro de nós , permitindo, no peito ferindo-o de morte. O rei agradecido pelo feito, deu ao caçador metade assim, que possamos viver com a certeza de que Oxóssi nos guiará no cami-de sua riqueza e a cidade de Keto, “ terra dos panos vermelhos”, onde Oxóssi nho da Luz, sempre buscando, sempre partilhando, para que a fartura, a governou até a sua morte, tornando-se depois um Orixá. abundância sejam sempre celebradas por todos nós! Mary Nogueira

In "Mitologia dos Orixás"de Reginaldo Prandi, Ed. Companhia das Letras.

Esta lenda mostra claramente que a energia de Oxóssi está ligada à fartu-

Uma LendaOxossi, o Caçador de Almas

Índice

Sem folha não há Orixá«A Guiné»

08

Palavra do Dirigente«Quebrar Correntes»

02

Reportagem«O Axé das Ervas»

04

05

Histórias da ATUPO«Quo Vadis?»

02

03

07Doutrina de Umbanda«Ser Bom Médium...Conhecimento Precisa-se!»

06EntrevistaÀ Conversa com Mestre pedro«Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito»

08A nossa HomenagemPadre Cícero«O Santo Milagreiro do Ceará»

Uma Lenda«Oxossi, o Caçador de Almas»

03

07O Convidado EscrevePai Jomar d´Ogum«O Candomblé»

08Ponto Cantado«Aminha força e a minha luz...»

Page 3: Jornal Fundamento_07

fala e sobre o qual quase ninguém reflecte…O “pecado” mora ainda no íntimo de cada um

de nós. O preconceito começa quando nos deparamos com situações que não conhecemos, nem compreendemos, por exemplo, quando nos deparamos com uma nova religião e convidados a conhecê-la na 1ª pessoa nos escusamos a esse contacto; quando permitimos que os nossos valores e crenças (ou a falta deles) contaminem continuamente a nossa mente e nos impeçam de ver mais longe, de evoluir e de aprender algo sobre os outros e sobre o mundo que nos cerca.

Terminei esta pequena conversa dizendo-lhe que as portas da ATUPO se mantêm abertas a todo o homem e mulher de boa vontade que ali se dirija à procura de uma luz.

Conclusão: Deixei de ter uma “sentinela” por perto quando me dirijo à ATUPO. Ainda está por determinar se continuo, ou não, a ter uma relação cordial com a vizinha, mas acredito que um destes dias ela se vai permitir uma 2ª oportunidade e vai, desta vez de mente e coração bem abertos, visitar novamente a “nossa” casa.

Se assim for estou certa de que ouvirá um dos nossos amados guias dizer-lhe as mesmas palavras que ouvi um dia ao Sr. Severino: “Nós aqui promovemos uma transformação interior se as pessoas quiserem, se não quiserem o problema é delas!”

* 1) Quo vadis (Onde vais?) é um romance do escritor polaco Henryk Sienkiewicz (1846-1916), cujo enredo decorre em Roma, durante o reinado do responsabilizados por tudo o que Imperador Nero, e narra o amor proibido de um patrício fazemos, pelas nossas aprendizagens, e romano e de uma cristã, durante um período de feroz pela forma como o fazemos – da maneira mais perseguição movida aos cristãos pelo império.

fácil ou mais difícil – é reconfortante. Cria um 2) De acordo com a tradição cristã, registada nos

espaço extraordinário de liberdade. livros apócrifos, a expressão "Quo vadis, Domine?" É certo que sermos responsáveis pela (Aonde vais, Senhor?) surgiu quando Jesus apareceu a

harmonia ou desarmonia que criamos à nossa Pedro, que deixava Roma para escapar à perseguição de volta se torna assustador. Não termos o Nero. Perante a visão, Pedro perguntou a Jesus: "Aonde

vais, Senhor?", ao que este respondeu: "Já que “cardápio” das desculpas disponível quando O fatalismo, o atestado de menoridade e a abandonas o meu povo, vou a Roma para ser crucificado n e c e s s á r i o t o r n a - n o s v u l n e r á v e i s , desresponsabilização pelos nossos actos, pelas outra vez." Fernanda Moreiraprincipalmente quando cometemos actos nossas relações, pela forma como estamos

infames! Mas também é maravilhoso podermos connosco e com os outros, estão ausentes deste experimentar o “tal” livre-arbítrio de que tanto se c o n c e i t o . E e s t a f o r m a d e s e r m o s

Saudações, Irmãos de Fé!No passado mês de Maio, comemorou-se o dia dos Pretos Velhos,

nossas queridas entidades de Umbanda, sinónimo de humildade, sabedoria e, acima de tudo, de uma vida sofrida que tiveram em suas passagens na Terra, no cativeiro em senzalas, onde o negro era visto como um animal acorrentado, não podendo, na maioria das

vezes, ter uma vida em família e sendo impedido de praticar seus costumes e sua religião. No dia 13 de Maio, é também celebrado o dia em que as correntes que aprisionam o negro brasileiro se partem: dá-se a Liberdade através da abolição da Escravatura, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.

Pois bem, esta introdução falando do Negro Brasileiro e da Lei Áurea lembra-nos o porquê de existir a figura do Preto-velho em nossa Umbanda ou do negro escravo em solo brasileiro, que, apesar de acorrentado durante mais de 300 anos no Brasil, lutou sempre, não deixando morrer seus costumes, tendo mantido suas origens no que diz respeito à sua religião! Adaptou-se, lutou por sua liberdade e contra a tirania do homem branco e não perdeu a esperança!

Hoje o Preto-Velho desce nos terreiros e templos de Umbanda, na sua divina sabedoria, ensinando-nos a termos paciência, a não desistirmos, mostrando que não é tão difícil, que devemos carregar a luta e a esperança gravadas na alma e, acima de tudo, nos ensinando que devemos quebrar as nossas próprias correntes e aceitarmos a nossa liberdade e não esperar que venha uma princesa Isabel assinar uma Lei que nos dê a liberdade e o poder de escolher! Negro velho diz: “ Isso vocês já possuem”!

Por isso, meus irmãos, quebrem as vossas correntes e vivam!Salve a sabedoria dos Pretos Velhos e Adorei as Almas!Pai Cláudio de Oxalá Sacerdote de Umbanda | ATUPO -Templo de Umbanda Pai Oxalá

Palavra do Dirigente

FundamentoJornal Umbandista Português

02 | 06 | 2011 FundamentoJornal Umbandista Português

| 03007

ontrariamente ao que este título inspira, Estou certa de que todos vós, tal como eu, já vos Ceste artigo não vai versar sobre livros. colocastes esta questão, pelo menos uma vez, ao Apenas sobre a busca do caminho que muitos, longo do percurso.arrisco-me a dizer todos nós, empreendemos e que, Por isso, ultrapassei a contrariedade que o de alguma forma, acabou por nos levar à ATUPO. comportamento desta senhora me provocou e

Tenho uma vizinha que todas as semanas, ao partilhei com ela a minha visão. Disse-lhe que, na sábado, se colocava à janela, à hora aproximada em minha visão, uma religião é, antes de tudo o mais, que me desloco para o centro, apenas para tentar um código de conduta moral e humana que orienta descobrir o significado da minha “estranha rotina”. o praticante no caminho da “iluminação”. Entenda-

Consciente desse facto, decidi convidá-la a se iluminação como o estado máximo de bem-acompanhar-me e a verificar por si própria os aventurança (à falta de melhor definição, coloco “caminhos” por onde me movo. aqui a minha).

Lá chegada, presa de grande curiosidade e Disse-lhe ainda que o que me seduziu na excitação, apressou-se a tomar notas mentais de Umbanda desde o início foi a ausência de “pecado”, tudo quanto lá se passava: das pessoas que lá se i.e., a libertação do conceito judaico-cristão de encontravam; como se vestiam e falavam; do que pecado. A minha geração foi educada com este falavam; quais as particularidades do ritual, enfim, conceito sempre subjacente a todos os seus actos. interessou-se por todo o colorido que antecede um Somos talvez a última geração que transporta em si ritual de Umbanda… mas recusou-se a falar com os velhos e os novos conceitos, o que nos dá uma uma entidade. Não estava preparada, alegou. abrangência especial. Mas, ainda por esse facto, a

Desperdiçar uma oportunidade como a que lhe nossa ânsia de liberdade individual continua viva.foi proporcionada pareceu-lhe natural e não se O facto de no “terreiro” se fazer notar uma coibiu de me esperar um dia no final do trabalho ausência de “pecado” foi para mim determinante.para uma “amena cavaqueira”. No “terreiro”, nos fundamentos, na boca das

Tal como esperado, inundou-me de questões de entidades sempre ouvi falar de responsabilização. pertinência variável, mas, para efeitos deste artigo, Acção gera reacção. Todos os nossos actos ecoam gostaria de destacar apenas um: “O que encontras- na “Criação” e retornam para nós de acordo com os te na Umbanda que não houvesse noutra qualquer nossos méritos e deméritos.religião?”

A questão não me apanhou desprevenida.

www.atupo.comwww.umbanda.pt www.atupo.comwww.umbanda.ptwww.atupo.comwww.umbanda.pt www.atupo.comwww.umbanda.pt

Histórias da A.T.U.P.O.

Quo Vadis?

Equipa técnica:

RevisãoDirector do JornalMary NogueiraCláudio Ferreira

Director de Edição Gráfica e

ConteúdosFotografia

Cláudio FerreiraPaulo Fernandes

Director Comercial Bernardo CruzFrederico Castro Miguel Faria

Fernando SilvaChefe de RedacçãoFernando Silva

RedacçãoCláudio Ferreira ContactoBernardo Cruz [email protected] MoreiraMary NogueiraAna Barbosa www.atupo.comLeonel LusquinhosSusana Ferreira www.umbanda.ptFrederico Marques

FundamentoJornal Umbandista Português

Propriedade da

«»

O que encontraste na Umbanda que não houvesse noutra qualquer religião?

Ficha TécnicaA cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá, saudava a abundância de alimen- ra, à prosperidade. É Oxóssi que, com o seu tiro certeiro, mata o pássaro

tos com uma festa, oferecendo inhame, milho e coco. O rei comemorava com gigante, pousado no teto do palácio, permitindo assim que continue a cele-sua família e seus súditos, só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com brar-se a abundância de alimentos e recebendo em troca metade da riqueza a desconsideração, enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do do rei e uma cidade. palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada. É Oxóssi que, com a sua flecha, providencia para que nada falte ao seu

O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro tinha povo , adentrando pelas matas, na calada da noite, sem medo dos perigos, em vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. busca da caça, do alimento. E é a busca constante, à procura do alimento, que Então o rei aborreceu-se e o mandou embora. Um segundo caçador se apresen- lhe permite conhecer as matas, cada árvore, cada folha. Assim, a energia de tou, este com quarenta flechas, o fato se repetiu novamente e o rei mandou Oxóssi está ligada a essa busca que visa em si o conhecimento; não só o então prendê-lo. conhecimento do mundo que nos rodeia, pois é a energia de Oxóssi que está

Bem próximo dali vivia Oxóssi, um jovem que costumava caçar à noite, ligada às diferentes áreas do saber, a ciência, a educação, a filosofia, mas antes do sol nascer, ele usava apenas uma flecha vermelha. O rei mandou cha- também e principalmente ao conhecimento de nós mesmos, das nossas má-lo para dar fim no grande pássaro. Sabendo das punições imposta pelo rei necessidades, para que possamos crescer e evoluir enquanto seres materia-aos outros caçadores, a mãe de Oxóssi temendo pela vida do filho, consultou is e espirituais. É a energia de Oxóssi que vibra em nós, quando refletimos, um babalaô, e os obis mostraram que, se fosse feita uma oferenda para as buscamos o nosso interior, para compreendermos quem somos e quem feiticeiras ele teria sucesso. queremos ser. É neste sentido que a energia de Oxóssi atua como Caçador de

A oferenda consistia em sacrificar uma galinha. Nesse exato momento, Almas que, com a sua flecha certeira, instrumento de fé, nos resgata, nos Oxóssi deveria atirar a sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem cura, derrotando o pássaro gigante que habita dentro de nós , permitindo, no peito ferindo-o de morte. O rei agradecido pelo feito, deu ao caçador metade assim, que possamos viver com a certeza de que Oxóssi nos guiará no cami-de sua riqueza e a cidade de Keto, “ terra dos panos vermelhos”, onde Oxóssi nho da Luz, sempre buscando, sempre partilhando, para que a fartura, a governou até a sua morte, tornando-se depois um Orixá. abundância sejam sempre celebradas por todos nós! Mary Nogueira

In "Mitologia dos Orixás"de Reginaldo Prandi, Ed. Companhia das Letras.

Esta lenda mostra claramente que a energia de Oxóssi está ligada à fartu-

Uma LendaOxossi, o Caçador de Almas

Índice

Sem folha não há Orixá«A Guiné»

08

Palavra do Dirigente«Quebrar Correntes»

02

Reportagem«O Axé das Ervas»

04

05

Histórias da ATUPO«Quo Vadis?»

02

03

07Doutrina de Umbanda«Ser Bom Médium...Conhecimento Precisa-se!»

06EntrevistaÀ Conversa com Mestre pedro«Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito»

08A nossa HomenagemPadre Cícero«O Santo Milagreiro do Ceará»

Uma Lenda«Oxossi, o Caçador de Almas»

03

07O Convidado EscrevePai Jomar d´Ogum«O Candomblé»

08Ponto Cantado«Aminha força e a minha luz...»

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era dourada neste campo, onde se fizeram inúme- natural, mas também como ras descobertas de curas para várias doenças. elementos ritualísticos e Houve uma centralização sobre o estudo das magísticos, capazes de facilitar plantas, o qual passou a ser proibido às mulheres a ligação do ser Humano com o e curandeiros não profissionais. Quem o fizesse plano espiritual. Em todos os seria considerado herege. No século XVI, um suíço povos e culturas, as ervas tor-chamado Philippus Aureolus Theophrastus per- naram-se conhecidas pelas suas correu a Europa, contactando com curandeiros, propriedades para repelir energias negativas, associada a outros elementos magísticos, que os parteiras e feiticeiros, em busca do conhecimento afastar o mal ou proteger de azares, bem como Guias e sacerdotes da Umbanda utilizam como sobre plantas e minerais. Mais tarde viria a ser pela capacidade de atrair energias positivas, boa recurso para estabelecer ou restabelecer o equilí-conhecido como Paracelso, o fundador da Alqui- sorte e fortuna. brio energético e espiritual. mia e precursor dos conceitos da influência cós- Tanto na pré-história como nas civilizações da Dependendo da necessidade, problema ou mica sobre as plantas e as suas relações com os antiguidade, o curandeiro ou homem da medicina situação, entidades e sacerdotes recorrem a uma quatro elementos – terra, água, fogo e ar. era, simultaneamente, o sacerdote ou líder espiri- ou mais ervas, de acordo com o conhecimento que

Já na era dos Descobrimentos, os povos euro- tual, acumulando, por inerência às suas funções, possuem sobre as suas qualidades energéticas e peus observaram e registaram o uso de ervas todo o conhecimento medicinal com o conheci- formas de utilização, para que actuem atraindo ou pelos nativos para fins medicinais e alimentares. mento religioso e espiritual. Assim, ao longo dos activando as vibrações de um ou mais Orixás, Estes povos nativos não possuiam mais do que séculos, feiticeiros, xamãs, curandeiros e sacerdo- obtendo assim a harmonia e o equilíbrio físico, alguns registos sobre a forma de pinturas rupes- tes, foram conhecendo as propriedades energéti- mental, emocional ou espiritual necessário. Da tres, sendo, no entanto, plausível que estes recor- cas e espirituais de cada planta e aprendendo a mesma forma, utilizam o “sangue vegetal” porta-ressem às plantas para a sua dieta e medicina utilizá-las como elementos preciosos para estabe- dor de essências divinas, para eliminar e transmu-desde a sua chegada ao continente americano, há lecer a comunicação com as divindades e espíritos tar as energias negativas, limpando ambientes e cerca de doze mil anos. Quase todo o conhecimen- dos antepassados, bem como para alcançar o pessoas. As ervas são verdadeiras dádivas divinas to sobre a flora brasileira foi descoberto por cien- equilíbrio espiritual desejado. e são essenciais na ritualística de Umbanda. Exem-tistas estrangeiros, especialmente os naturalistas, Tal como aconteceu noutras religiões, a plo do seu valor e importância, é a defumação através da realização de expedições científicas ao Umbanda herdou das suas raízes, principalmente realizada no início da Gira, essencial para a limpe-uito antes do surgimento da escrita, o de fórmulas e remédios. Foi descoberto pelo egip- mesma da China. O filósofo Aristóteles (384-322 Brasil, desde os descobrimentos portugueses até da africana e indígena, o conhecimento da utiliza- za e purificação do ambiente energético do terrei-homem primitivo já experimentava a tólogo alemão George Ebers. Os egípcios tinham a.C.) e o seu discípulo Teofrasto (370-286 a.C.) Mao final do século XIX. ção das ervas (folhas, flores, raízes, sementes, etc.) ro e desobstrução e alinhamento dos chacras dos diversidade de plantas ao seu dispor, classifican- bastantes conhecimentos sobre o uso de plantas, foram os criadores do primeiro sistema científico

Com o advento da Revolução Industrial e o tanto a nível medicinal como magístico e espiritu- médiuns, contribuindo para uma maior capacida-do-as consoante a sua potencialidade: alimenta- recorrendo a estas para diversos e variados fins, de classificação botânica.início da Era Moderna, final do Século XIX, o al. Este conhecimento chegou da antiguidade até de de concentração, elevação do pensamento e, ção, medicina, veneno, alucinogénicos. O conheci- tais como: alimentação, medicina, cosmética, Durante a Idade Média, devido às dificuldades Homem foi capaz de sintetizar partes das plantas, aos nossos dias, não só através da transmissão consequentemente, uma maior aproximação dos mento sobre as potencialidades das plantas tem, embalsamento, incensos, óleos para dores muscu- criadas pela Igreja ao progresso científico, os faze ndo com que a medicina natural fosse oral do conhecimento popular, de geração em Guias.por isso, a sua raiz na nossa ancestralidade, sendo lares e relaxamento, entre outras. A história da estudos médicos das plantas res

ridicularizada, pois era considerada geração, e dos estudos científicos realizados ao Actualmente, assistimos a um renascer do que estas foram objecto de estudo de várias civili- aspirina, por exemplo, pode ser remontada até ao tringiram-se aos monges nos como ultrapassada. No início do longo dos séculos, mas também do plano astral, interesse cada vez maior da ciência pelo poder das zações, ao longo dos tempos. A necessidade huma- Antigo Egipto. Do Antigo Egipto chega-nos um mosteiros e a algumas mulheres Século XX, o uso de plantas deixou de através das entidades espirituais, nomeadamente plantas, através do estudo e desenvolvimento das na em conhecer e usar a natureza à sua volta para famoso médico da antiguidade – Imhotep. em aldeias remotas. ser comum. Contudo, recentemente daquelas que mais viveram em comunhão com a chamadas medicinas naturais ou alternativas. dela retirar benefícios, levou a que se encetasse Da Mesopotâmia, actual Iraque, e berço da Além disso, a Igreja esta tendência tem vindo a mudar natureza, como é o caso dos Caboclos, Pretos- Terapias baseadas nas propriedades das plantas, esta jornada. A utilização de algumas plantas com civilização humana, chegam-nos registos em considerava as

com o ressurgimento da velhos e Boiadeiros. como a fitoterapia e os florais, são hoje reconheci-capacidades de cura fizeram destas os primeiros placas de barro datadas entre 3000 e 2000 a.C. doenças como medicina natural, nomeada- Na Umbanda, para além do uso terapêutico, as das pela Organização Mundial da Saúde. Conheci-recursos terapêuticos e uma das primeiras formas que dão conta de trocas comerciais de plantas. castigo divino mente no uso destas como ervas são utilizadas tanto para a limpeza energéti- mentos milenares, que hoje a ciência redescobre, de manifestação do homem. Da Índia temos registos que datam aproxima- e , p o r t a n to ,

complemento ca, como para a imantação ou energização de são preservados e postos em prática diariamente, Registos escritos sobre a forma de utilização e damente do ano 2500 a.C., nomeadamente o não passíveis a certos trata- pessoas, ambientes ou lugares. Esta utilização é não só dentro dos templos de Umbanda e de efeitos são vários e chegam-nos de diversas épo- Athatva Veda, e que indicam que o consumo e uso de intervenção mentos, cujos feita de várias formas que vão desde os banhos e outros cultos afro-brasileiros, como no seio de cas e pontos do planeta, desde os Chineses em de ervas tinham a finalidade de prolongar a vida. humana. Este efeitos secun- amacis de ervas, passando pelo fumo resultante outras religiões.3000 a.C. aos Aztecas no Século XVI. Os primeiros Um facto curioso é que os hindus acreditavam que facto levou a d á r i o s d o s da combustão de elementos vegetais na defuma- Bernardo Cruz e Frederico Marquesrelatam a importância das plantas em cerimónias apenas os puros e piedosos podiam colher as que o estudo medicamentos ção ou no queimar de um charuto, até à simples Fontes: de magia e de medicina, havendo também refe- plantas e que estas deviam crescer longe da vista sobre o uso de são nocívos. utilização das folhas verdes durante um “passe”. http://raizculturablog.wordpress.com/2009/01rências a outros usos, nomeadamente na alimen- humana e do pecado, pois estas eram “as filhas plantas ficasse

Também ao Quem não conhece os banhos de descarrego ou /21/ervas-e-seu-uso-ancestral/ ; www.ervasdo-tação. predilectas dos deuses”, assumindo por isso uma l i m i t a d o a o longo de toda a defesa, a famosa arruda utilizada pelo Preto-velho sitio.com.brO registo escrito mais antigo de que dispomos posição divina. mundo árabe. Neste

h i s t ó r i a d a ou ainda o charuto do Caboclo?data do ano 3700 a.C. e consiste num tratado Na Grécia, no Século XIII a.C., teve lugar o contexto, é de salien-H u m a n i d a d e , Para além das propriedades químicas, cada médico deixado pelo imperador chinês Shen aparecimento do primeiro “spa” de que se tem tar o esforço dos

encontramos a planta possui qualidades energéticas que são Nung, onde afirmava que, para cada doença exis- conhecimento, bem como a existência de diversos persas em traduzir o traba-utilização das plan- nada mais, nada menos, do que a Energia Vital da tia uma planta, que forneceria um remédio natu- templos de cura que recorriam às propriedades lho realizado pelos gregos, conti-

tas em quase todas as homeopatia, o Prāna dos Hindus, o Qi dos chine-ral. terapêuticas das plantas. Os gregos fizeram um nuando assim o seu estudo.religiões ou cultos religiosos, ses ou simplesmente o Axé da Umbanda. Cada No entanto, o mais conhecido denomina-se esforço em compilar o conhecimento que lhes No Renascimento, Século XV, deu-

não apenas associada à cura e planta carrega a vibração energética de um ou Papiro de Ebers e tem a sua origem no Antigo chegou de várias partes do mundo conhecido, se o regresso do estudo sobre plantas tratamento de doenças, a medicina vários Orixás e é a manipulação destas energias, Egipto, por volta de 1500 a.C., contendo centenas nomeadamente da Índia, Babilónia, Egipto e ao Velho Continente, sendo esta uma

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era dourada neste campo, onde se fizeram inúme- natural, mas também como ras descobertas de curas para várias doenças. elementos ritualísticos e Houve uma centralização sobre o estudo das magísticos, capazes de facilitar plantas, o qual passou a ser proibido às mulheres a ligação do ser Humano com o e curandeiros não profissionais. Quem o fizesse plano espiritual. Em todos os seria considerado herege. No século XVI, um suíço povos e culturas, as ervas tor-chamado Philippus Aureolus Theophrastus per- naram-se conhecidas pelas suas correu a Europa, contactando com curandeiros, propriedades para repelir energias negativas, associada a outros elementos magísticos, que os parteiras e feiticeiros, em busca do conhecimento afastar o mal ou proteger de azares, bem como Guias e sacerdotes da Umbanda utilizam como sobre plantas e minerais. Mais tarde viria a ser pela capacidade de atrair energias positivas, boa recurso para estabelecer ou restabelecer o equilí-conhecido como Paracelso, o fundador da Alqui- sorte e fortuna. brio energético e espiritual. mia e precursor dos conceitos da influência cós- Tanto na pré-história como nas civilizações da Dependendo da necessidade, problema ou mica sobre as plantas e as suas relações com os antiguidade, o curandeiro ou homem da medicina situação, entidades e sacerdotes recorrem a uma quatro elementos – terra, água, fogo e ar. era, simultaneamente, o sacerdote ou líder espiri- ou mais ervas, de acordo com o conhecimento que

Já na era dos Descobrimentos, os povos euro- tual, acumulando, por inerência às suas funções, possuem sobre as suas qualidades energéticas e peus observaram e registaram o uso de ervas todo o conhecimento medicinal com o conheci- formas de utilização, para que actuem atraindo ou pelos nativos para fins medicinais e alimentares. mento religioso e espiritual. Assim, ao longo dos activando as vibrações de um ou mais Orixás, Estes povos nativos não possuiam mais do que séculos, feiticeiros, xamãs, curandeiros e sacerdo- obtendo assim a harmonia e o equilíbrio físico, alguns registos sobre a forma de pinturas rupes- tes, foram conhecendo as propriedades energéti- mental, emocional ou espiritual necessário. Da tres, sendo, no entanto, plausível que estes recor- cas e espirituais de cada planta e aprendendo a mesma forma, utilizam o “sangue vegetal” porta-ressem às plantas para a sua dieta e medicina utilizá-las como elementos preciosos para estabe- dor de essências divinas, para eliminar e transmu-desde a sua chegada ao continente americano, há lecer a comunicação com as divindades e espíritos tar as energias negativas, limpando ambientes e cerca de doze mil anos. Quase todo o conhecimen- dos antepassados, bem como para alcançar o pessoas. As ervas são verdadeiras dádivas divinas to sobre a flora brasileira foi descoberto por cien- equilíbrio espiritual desejado. e são essenciais na ritualística de Umbanda. Exem-tistas estrangeiros, especialmente os naturalistas, Tal como aconteceu noutras religiões, a plo do seu valor e importância, é a defumação através da realização de expedições científicas ao Umbanda herdou das suas raízes, principalmente realizada no início da Gira, essencial para a limpe-uito antes do surgimento da escrita, o de fórmulas e remédios. Foi descoberto pelo egip- mesma da China. O filósofo Aristóteles (384-322 Brasil, desde os descobrimentos portugueses até da africana e indígena, o conhecimento da utiliza- za e purificação do ambiente energético do terrei-homem primitivo já experimentava a tólogo alemão George Ebers. Os egípcios tinham a.C.) e o seu discípulo Teofrasto (370-286 a.C.) Mao final do século XIX. ção das ervas (folhas, flores, raízes, sementes, etc.) ro e desobstrução e alinhamento dos chacras dos diversidade de plantas ao seu dispor, classifican- bastantes conhecimentos sobre o uso de plantas, foram os criadores do primeiro sistema científico

Com o advento da Revolução Industrial e o tanto a nível medicinal como magístico e espiritu- médiuns, contribuindo para uma maior capacida-do-as consoante a sua potencialidade: alimenta- recorrendo a estas para diversos e variados fins, de classificação botânica.início da Era Moderna, final do Século XIX, o al. Este conhecimento chegou da antiguidade até de de concentração, elevação do pensamento e, ção, medicina, veneno, alucinogénicos. O conheci- tais como: alimentação, medicina, cosmética, Durante a Idade Média, devido às dificuldades Homem foi capaz de sintetizar partes das plantas, aos nossos dias, não só através da transmissão consequentemente, uma maior aproximação dos mento sobre as potencialidades das plantas tem, embalsamento, incensos, óleos para dores muscu- criadas pela Igreja ao progresso científico, os faze ndo com que a medicina natural fosse oral do conhecimento popular, de geração em Guias.por isso, a sua raiz na nossa ancestralidade, sendo lares e relaxamento, entre outras. A história da estudos médicos das plantas res

ridicularizada, pois era considerada geração, e dos estudos científicos realizados ao Actualmente, assistimos a um renascer do que estas foram objecto de estudo de várias civili- aspirina, por exemplo, pode ser remontada até ao tringiram-se aos monges nos como ultrapassada. No início do longo dos séculos, mas também do plano astral, interesse cada vez maior da ciência pelo poder das zações, ao longo dos tempos. A necessidade huma- Antigo Egipto. Do Antigo Egipto chega-nos um mosteiros e a algumas mulheres Século XX, o uso de plantas deixou de através das entidades espirituais, nomeadamente plantas, através do estudo e desenvolvimento das na em conhecer e usar a natureza à sua volta para famoso médico da antiguidade – Imhotep. em aldeias remotas. ser comum. Contudo, recentemente daquelas que mais viveram em comunhão com a chamadas medicinas naturais ou alternativas. dela retirar benefícios, levou a que se encetasse Da Mesopotâmia, actual Iraque, e berço da Além disso, a Igreja esta tendência tem vindo a mudar natureza, como é o caso dos Caboclos, Pretos- Terapias baseadas nas propriedades das plantas, esta jornada. A utilização de algumas plantas com civilização humana, chegam-nos registos em considerava as

com o ressurgimento da velhos e Boiadeiros. como a fitoterapia e os florais, são hoje reconheci-capacidades de cura fizeram destas os primeiros placas de barro datadas entre 3000 e 2000 a.C. doenças como medicina natural, nomeada- Na Umbanda, para além do uso terapêutico, as das pela Organização Mundial da Saúde. Conheci-recursos terapêuticos e uma das primeiras formas que dão conta de trocas comerciais de plantas. castigo divino mente no uso destas como ervas são utilizadas tanto para a limpeza energéti- mentos milenares, que hoje a ciência redescobre, de manifestação do homem. Da Índia temos registos que datam aproxima- e , p o r t a n to ,

complemento ca, como para a imantação ou energização de são preservados e postos em prática diariamente, Registos escritos sobre a forma de utilização e damente do ano 2500 a.C., nomeadamente o não passíveis a certos trata- pessoas, ambientes ou lugares. Esta utilização é não só dentro dos templos de Umbanda e de efeitos são vários e chegam-nos de diversas épo- Athatva Veda, e que indicam que o consumo e uso de intervenção mentos, cujos feita de várias formas que vão desde os banhos e outros cultos afro-brasileiros, como no seio de cas e pontos do planeta, desde os Chineses em de ervas tinham a finalidade de prolongar a vida. humana. Este efeitos secun- amacis de ervas, passando pelo fumo resultante outras religiões.3000 a.C. aos Aztecas no Século XVI. Os primeiros Um facto curioso é que os hindus acreditavam que facto levou a d á r i o s d o s da combustão de elementos vegetais na defuma- Bernardo Cruz e Frederico Marquesrelatam a importância das plantas em cerimónias apenas os puros e piedosos podiam colher as que o estudo medicamentos ção ou no queimar de um charuto, até à simples Fontes: de magia e de medicina, havendo também refe- plantas e que estas deviam crescer longe da vista sobre o uso de são nocívos. utilização das folhas verdes durante um “passe”. http://raizculturablog.wordpress.com/2009/01rências a outros usos, nomeadamente na alimen- humana e do pecado, pois estas eram “as filhas plantas ficasse

Também ao Quem não conhece os banhos de descarrego ou /21/ervas-e-seu-uso-ancestral/ ; www.ervasdo-tação. predilectas dos deuses”, assumindo por isso uma l i m i t a d o a o longo de toda a defesa, a famosa arruda utilizada pelo Preto-velho sitio.com.brO registo escrito mais antigo de que dispomos posição divina. mundo árabe. Neste

h i s t ó r i a d a ou ainda o charuto do Caboclo?data do ano 3700 a.C. e consiste num tratado Na Grécia, no Século XIII a.C., teve lugar o contexto, é de salien-H u m a n i d a d e , Para além das propriedades químicas, cada médico deixado pelo imperador chinês Shen aparecimento do primeiro “spa” de que se tem tar o esforço dos

encontramos a planta possui qualidades energéticas que são Nung, onde afirmava que, para cada doença exis- conhecimento, bem como a existência de diversos persas em traduzir o traba-utilização das plan- nada mais, nada menos, do que a Energia Vital da tia uma planta, que forneceria um remédio natu- templos de cura que recorriam às propriedades lho realizado pelos gregos, conti-

tas em quase todas as homeopatia, o Prāna dos Hindus, o Qi dos chine-ral. terapêuticas das plantas. Os gregos fizeram um nuando assim o seu estudo.religiões ou cultos religiosos, ses ou simplesmente o Axé da Umbanda. Cada No entanto, o mais conhecido denomina-se esforço em compilar o conhecimento que lhes No Renascimento, Século XV, deu-

não apenas associada à cura e planta carrega a vibração energética de um ou Papiro de Ebers e tem a sua origem no Antigo chegou de várias partes do mundo conhecido, se o regresso do estudo sobre plantas tratamento de doenças, a medicina vários Orixás e é a manipulação destas energias, Egipto, por volta de 1500 a.C., contendo centenas nomeadamente da Índia, Babilónia, Egipto e ao Velho Continente, sendo esta uma

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estre Pedro, assim denominado pelo interesses particulares, chegando até mesmo a fazer MMarinheiro Gerson, entidade do Templo de lTem uma Escola de Curimba, a ”Umbanda, parcerias com pessoas e não com o trabalho Umbanda Estrela Guia, do Pai Guimarães de Ogum, Razão para Viver”, onde dá aulas de toque e espiritual.toca atabaque desde 1984. Descobriu o amor pelos canto. Como surgiu a ideia de criar esta escola? atabaques e pela Umbanda em simultâneo. Quando foi criada? lO seu amor pelos atabaques e pela religião

Vê como fundamental o papel do Ogã dentro do Atualmente ministro as aulas, nas quintas-feira trouxeram-no até ao nosso país, onde nos ritual de Umbanda e destaca como principais no Templo de Umbanda Estrela Guia, Av. Conceição enriqueceu com os seus conhecimentos e o seu qualidades do curimbeiro a humildade, a vontade de 865, em Diadema e aos Sábados no Centro Espírita vasto repertório. Como surgiu a oportunidade aprender, saber quando iniciar e terminar os pontos e Caboclo Flecheiro e Mané Baiano, Rua Durval Martins de vir à ATUPO e como foi essa experiência?estar sempre atento aos médiuns de Siqueira, 81 Jd São Bernardo – Grajaú São Paulo. Foi através do Pai Guimarães de Ogum, que já Diz que a inspiração lhe é enviada pelos Orixás A Escola foi criada em 05.05.2005, com a primeira havia me convidado uma vez anteriormente, mas eu independentemente de local, tempo ou situação que finalidade de ajudar a comunidade com as despesas não tinha possibilidades de ir até vocês. Mas a vive e que a verdadeira Umbanda não conhece e, ao mesmo tempo, estar passando o conhecimento e experiência foi: NOTÁVEL, AGRADABILISSÍMA, A fronteiras. o ensinamento do Mestre Pedro para os poucos que RECEPÇÃO DO POVO, NOTA MIL, A INTEGRAÇÃO

Em 2005, criou a Escola de Curimba, a ”Umbanda, queiram realmente saber tocar. A intenção não é ter M A R AV I L H O S A , O A C O L H I M E N T O , S E M Razão para Viver”, onde dá aulas de toque e canto. nunca a quantidade e sempre a qualidade. COMENTÁRIOS. SE PUDESSE ESTARIA AI UMA VEZ

Na qualidade de Ogâ, veio a Portugal onde, POR ANO, NEM QUE FOSSE SOMENTE PARA confessa, gostaria de vir uma vez por ano. lHá muita gente a querer aprender o toque dos ABRAÇA-LOS.

Na entrevista que se segue, Mestre Pedro falou de Orixás? Quantos alunos tem a escola?si, da sua visão da Umbanda cantada e dos seus Sempre tem muita gente, mas poucos conseguem lE o que sentiu em relação à Umbanda que viu projectos. o êxito, porque a exigência do Mestre Pedro é muita. em Portugal? Acha que, com um oceano a

Hoje, atualmente tenho 40 alunos entre as duas separar os dois países, as diferenças são muito lQuem é o Mestre Pedro? escolas. grandes?

Mestre Pedro, nome dado pela entidade de Luz Na verdadeira Umbanda não existem fronteiras da Umbanda –(Marinheiro Gerson ) que vem na lNa sua opinião, que qualidades deve ter um para os Orixás: O Orixá Ogum em Portugal é o mesmo matéria do Pai Guimarães de Ogum. curimbeiro? da Espanha e no Brasil e de todos os supostos países

Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta O curimbeiro: 1ª qualidade - a humildade; 2ª que possam existir. Sendo assim não existe diferença de desrespeito de qualquer gênero quando se fala de qualidade - a vontade de aprender a tocar, cantar e nos Orixás. O Oceano não divide as entidade, nem as atabaque e ritual. E principalmente se ele estiver em dobrar o couro; 3ª qualidade - saber quando iniciar e pessoas, desde que elas desejem e tenham possibili-ritual, tanto do médium para a entidade como da quando parar o ponto; 4ª qualidade - estar sempre dades de atravessar, mesmo que for somente para dar entidade para o médium, muito menos de consulen- atento aos médiuns, à Mãe ou ao Pai da casa e, ao um abraço.tes ou vice-versa. mesmo tempo, na porteira, a fim de saber quem está Existe diferença sim, na forma e na seriedade de

entrando ou saindo; mas além de tudo isso, ele tem cada zelador de Santo de conduzir sua casa e seus lMestre Pedro, há quanto tempo toca atabaque? que saber que, no atabaque e no ritual, tem que ter trabalhos espirituais, mas isso não diz respeito ao

Quando e como começou? primeiro o coração. outro, desde que o visitante saiba receber o Axé.Toco há 27 anos. Comecei a tocar em 1984. Tudo

começou quando fui a casa da minha irmã (Baba lDê-nos uma breve panorâmica da sua partici- lGostaríamos, por último, que nos dissesse de Rosa) para visitá-la e conheci Mestre Mané Baiano. Lá pação em projectos relacionados com a que forma a Umbanda é para si razão para tinha um atabaque ( LÊ ) me esperando. Fui me Umbanda. viver!aproximando e imediatamente já tive autorização de O primeiro foi o centro espírita Caboclo Flecheiro Na Umbanda, quando estou tocando e cantando fazer algum barulho. Mesmo sem saber nenhum no qual tive uma participação antes durante e depois. para os Orixás, a impressão é de estar voando, ponto, tinha o ritmo nas mãos e no coração. Era tudo o Em seguida, a escola de Curimba e logo a firmeza do sempre fazendo o bem para alguém. Não vejo que precisava para desabrochar o verdadeiro Ogã Templo de Umbanda Estrela Guia. Estou pensando distância, nem dificuldade.Pedro. seriamente em dar aulas para crianças, a partir de Levando a minha mente ao pico mais longe que

seis anos de idade. Esse talvez sejam o maior prémio existe no planeta, sem ter medo de errar, sem ter lFoi o seu amor pela Umbanda que o fez para a Umbanda e que serão a continuação do Mestre tempo para pensar e nem mesmo vontade de parar, a

descobrir os atabaques ou vice-versa? Pedro. vida se torna mais amena, seus problemas, diminuem Nenhum dos dois e, ao mesmo tempo, os dois, e você não vê o tempo passar, por isso se torna

porque eu não conhecia nem a religião e nem o 10. Q u e p r o j e c t o s p a r a o f u t u r o ? sempre uma grande Razão Para Viver.instrumento. Depois de estar algum tempo tocando e Tá saindo (a ser criada) uma Casa de Caridade na qual cantando, veio a descoberta de que o que eu fazia era estou entrando. lSede da Escola de Curimba Razão de Viver para Umbanda. Já estava com o corpo todo dentro e não só contacto dos interessadoso pé lA sua escola participou este ano num Festival Escola de Curimba Umbanda Razão Para Viver,. de Curimba. Conte-nos como decorreu o Av. Conceição, 865, Diadema | Rua Durval Martins de lComo vê o papel do Ogã na Umbanda? espectáculo. Siqueira, 81 Grajaú

O Papel do OGã, tanto na Umbanda como no O espetáculo foi surpreendente! Nem eu sabia São Paulo – BrasilCandomblé, é fundamental, porque ele dá segurança que iria tomar tal forma quando na apresentação, Fone: (11) 5673-4350 aos médiuns e às entidades no momento de muito mais além do que pensei! Mas lamentável foi as Cel. Mestre Pedro 7827-7413 - 8492-4158transição, conseguindo assim elevar o grau de pessoas que lá estavam para o julgamento, não terem Fernanda Moreiraenergia positiva dentro do espaço que estiver, no altura e nem sabedoria para avaliar a grandeza do tempo certo e com a firmeza necessária. que foi apresentado.

lCompõe, toca, canta! Onde vai buscar inspira- lAcha que a Umbanda pode ser divulgada neste ção para as suas criações? tipo de eventos?

Isso é uma uma coisa que você não precisa Em opinião do Mestre Pedro não, porque, buscar. Quando os Orixás vão te dar alguma coisa, infelizmente, as pessoas que normalmente promo-Eles ta enviam, independente de lugar, tempo ou vem esse tipo de evento, não estão preocupadas em situação. promover a religião e sim a si próprias e aos seus

Entrevista Umbanda no Mundo

À conversa com Mestre Pedro, Ogã desde 1984“Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito”

Já muito se falou e escreveu acerca da mediunidade. No entanto, tanto médiuns de trabalho como consulentes colocam muitas vezes a questão: “O que é necessário para ser um bom médium?”

Não querendo criar uma “receita” para algo que depende do esforço, empenho e dedicação de cada um, é inquestionável que o bom e correcto exercício da mediunidade exige que o médium cultive em si mesmo um conjunto de valores e atitudes como a Fé, o amor, a honestidade e rectidão, a humildade e a responsabilidade.

Mas, para além destes valores, existe um outro aspecto essencial para o crescimento do médium – o conhecimento. Conhecer as normas de funcionamento do Templo, a ritualística ou os pontos cantados não basta para se ser um bom médium de trabalho. A busca do conhecimento sobre a religião e seus fundamentos, sobre a espiritualidade, as Entidades, suas linhas de trabalho e forma de actuação, ervas e banhos, e principalmente sobre o ser Humano e a vida deve ser constante e é fundamental para um bom crescimento do médium, enquanto instrumento de trabalho dos Guias e Orixás.

O conhecimento permite a compreensão e o entendimento, que, por sua vez, geram a consciência, a qual se transforma em amor. O médium que adquire maior consciência sobre a espiritualidade e sobre a vida aumenta a sua capacidade de amar o próximo e a si mesmo, tornando mais forte a sua conexão com o Divino e, consequentemente, mais firme e equilibrada a ligação com as Entidades com quem trabalha. O conhecimento do médium é uma mais-valia para os Guias que o utilizam como ferramenta no trabalho espiritual. É claro que para esta conquista de consciência não basta o conhecimento teórico, é necessária também a prática. Além de estudar, o médium deve ser activo e participativo nos trabalhos do Templo.

A reforma de princípios e valores juntamente com a busca do conhecimento são fundamentais para o crescimento do indivíduo, não apenas como médium, mas também como ser Humano, sob pena de estagnar na sua caminhada.

Que Oxalá abençoe e ilumine a todos. Bernardo Cruz

Ser Bom Médium...

Pai Jomar D´OgumO C a n d o m b l é

O Convidado Escreve

Doutrina de Umbanda

Conhecimento Precisa-se!!!

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estre Pedro, assim denominado pelo interesses particulares, chegando até mesmo a fazer MMarinheiro Gerson, entidade do Templo de lTem uma Escola de Curimba, a ”Umbanda, parcerias com pessoas e não com o trabalho Umbanda Estrela Guia, do Pai Guimarães de Ogum, Razão para Viver”, onde dá aulas de toque e espiritual.toca atabaque desde 1984. Descobriu o amor pelos canto. Como surgiu a ideia de criar esta escola? atabaques e pela Umbanda em simultâneo. Quando foi criada? lO seu amor pelos atabaques e pela religião

Vê como fundamental o papel do Ogã dentro do Atualmente ministro as aulas, nas quintas-feira trouxeram-no até ao nosso país, onde nos ritual de Umbanda e destaca como principais no Templo de Umbanda Estrela Guia, Av. Conceição enriqueceu com os seus conhecimentos e o seu qualidades do curimbeiro a humildade, a vontade de 865, em Diadema e aos Sábados no Centro Espírita vasto repertório. Como surgiu a oportunidade aprender, saber quando iniciar e terminar os pontos e Caboclo Flecheiro e Mané Baiano, Rua Durval Martins de vir à ATUPO e como foi essa experiência?estar sempre atento aos médiuns de Siqueira, 81 Jd São Bernardo – Grajaú São Paulo. Foi através do Pai Guimarães de Ogum, que já Diz que a inspiração lhe é enviada pelos Orixás A Escola foi criada em 05.05.2005, com a primeira havia me convidado uma vez anteriormente, mas eu independentemente de local, tempo ou situação que finalidade de ajudar a comunidade com as despesas não tinha possibilidades de ir até vocês. Mas a vive e que a verdadeira Umbanda não conhece e, ao mesmo tempo, estar passando o conhecimento e experiência foi: NOTÁVEL, AGRADABILISSÍMA, A fronteiras. o ensinamento do Mestre Pedro para os poucos que RECEPÇÃO DO POVO, NOTA MIL, A INTEGRAÇÃO

Em 2005, criou a Escola de Curimba, a ”Umbanda, queiram realmente saber tocar. A intenção não é ter M A R AV I L H O S A , O A C O L H I M E N T O , S E M Razão para Viver”, onde dá aulas de toque e canto. nunca a quantidade e sempre a qualidade. COMENTÁRIOS. SE PUDESSE ESTARIA AI UMA VEZ

Na qualidade de Ogâ, veio a Portugal onde, POR ANO, NEM QUE FOSSE SOMENTE PARA confessa, gostaria de vir uma vez por ano. lHá muita gente a querer aprender o toque dos ABRAÇA-LOS.

Na entrevista que se segue, Mestre Pedro falou de Orixás? Quantos alunos tem a escola?si, da sua visão da Umbanda cantada e dos seus Sempre tem muita gente, mas poucos conseguem lE o que sentiu em relação à Umbanda que viu projectos. o êxito, porque a exigência do Mestre Pedro é muita. em Portugal? Acha que, com um oceano a

Hoje, atualmente tenho 40 alunos entre as duas separar os dois países, as diferenças são muito lQuem é o Mestre Pedro? escolas. grandes?

Mestre Pedro, nome dado pela entidade de Luz Na verdadeira Umbanda não existem fronteiras da Umbanda –(Marinheiro Gerson ) que vem na lNa sua opinião, que qualidades deve ter um para os Orixás: O Orixá Ogum em Portugal é o mesmo matéria do Pai Guimarães de Ogum. curimbeiro? da Espanha e no Brasil e de todos os supostos países

Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta O curimbeiro: 1ª qualidade - a humildade; 2ª que possam existir. Sendo assim não existe diferença de desrespeito de qualquer gênero quando se fala de qualidade - a vontade de aprender a tocar, cantar e nos Orixás. O Oceano não divide as entidade, nem as atabaque e ritual. E principalmente se ele estiver em dobrar o couro; 3ª qualidade - saber quando iniciar e pessoas, desde que elas desejem e tenham possibili-ritual, tanto do médium para a entidade como da quando parar o ponto; 4ª qualidade - estar sempre dades de atravessar, mesmo que for somente para dar entidade para o médium, muito menos de consulen- atento aos médiuns, à Mãe ou ao Pai da casa e, ao um abraço.tes ou vice-versa. mesmo tempo, na porteira, a fim de saber quem está Existe diferença sim, na forma e na seriedade de

entrando ou saindo; mas além de tudo isso, ele tem cada zelador de Santo de conduzir sua casa e seus lMestre Pedro, há quanto tempo toca atabaque? que saber que, no atabaque e no ritual, tem que ter trabalhos espirituais, mas isso não diz respeito ao

Quando e como começou? primeiro o coração. outro, desde que o visitante saiba receber o Axé.Toco há 27 anos. Comecei a tocar em 1984. Tudo

começou quando fui a casa da minha irmã (Baba lDê-nos uma breve panorâmica da sua partici- lGostaríamos, por último, que nos dissesse de Rosa) para visitá-la e conheci Mestre Mané Baiano. Lá pação em projectos relacionados com a que forma a Umbanda é para si razão para tinha um atabaque ( LÊ ) me esperando. Fui me Umbanda. viver!aproximando e imediatamente já tive autorização de O primeiro foi o centro espírita Caboclo Flecheiro Na Umbanda, quando estou tocando e cantando fazer algum barulho. Mesmo sem saber nenhum no qual tive uma participação antes durante e depois. para os Orixás, a impressão é de estar voando, ponto, tinha o ritmo nas mãos e no coração. Era tudo o Em seguida, a escola de Curimba e logo a firmeza do sempre fazendo o bem para alguém. Não vejo que precisava para desabrochar o verdadeiro Ogã Templo de Umbanda Estrela Guia. Estou pensando distância, nem dificuldade.Pedro. seriamente em dar aulas para crianças, a partir de Levando a minha mente ao pico mais longe que

seis anos de idade. Esse talvez sejam o maior prémio existe no planeta, sem ter medo de errar, sem ter lFoi o seu amor pela Umbanda que o fez para a Umbanda e que serão a continuação do Mestre tempo para pensar e nem mesmo vontade de parar, a

descobrir os atabaques ou vice-versa? Pedro. vida se torna mais amena, seus problemas, diminuem Nenhum dos dois e, ao mesmo tempo, os dois, e você não vê o tempo passar, por isso se torna

porque eu não conhecia nem a religião e nem o 10. Q u e p r o j e c t o s p a r a o f u t u r o ? sempre uma grande Razão Para Viver.instrumento. Depois de estar algum tempo tocando e Tá saindo (a ser criada) uma Casa de Caridade na qual cantando, veio a descoberta de que o que eu fazia era estou entrando. lSede da Escola de Curimba Razão de Viver para Umbanda. Já estava com o corpo todo dentro e não só contacto dos interessadoso pé lA sua escola participou este ano num Festival Escola de Curimba Umbanda Razão Para Viver,. de Curimba. Conte-nos como decorreu o Av. Conceição, 865, Diadema | Rua Durval Martins de lComo vê o papel do Ogã na Umbanda? espectáculo. Siqueira, 81 Grajaú

O Papel do OGã, tanto na Umbanda como no O espetáculo foi surpreendente! Nem eu sabia São Paulo – BrasilCandomblé, é fundamental, porque ele dá segurança que iria tomar tal forma quando na apresentação, Fone: (11) 5673-4350 aos médiuns e às entidades no momento de muito mais além do que pensei! Mas lamentável foi as Cel. Mestre Pedro 7827-7413 - 8492-4158transição, conseguindo assim elevar o grau de pessoas que lá estavam para o julgamento, não terem Fernanda Moreiraenergia positiva dentro do espaço que estiver, no altura e nem sabedoria para avaliar a grandeza do tempo certo e com a firmeza necessária. que foi apresentado.

lCompõe, toca, canta! Onde vai buscar inspira- lAcha que a Umbanda pode ser divulgada neste ção para as suas criações? tipo de eventos?

Isso é uma uma coisa que você não precisa Em opinião do Mestre Pedro não, porque, buscar. Quando os Orixás vão te dar alguma coisa, infelizmente, as pessoas que normalmente promo-Eles ta enviam, independente de lugar, tempo ou vem esse tipo de evento, não estão preocupadas em situação. promover a religião e sim a si próprias e aos seus

Entrevista Umbanda no Mundo

À conversa com Mestre Pedro, Ogã desde 1984“Mestre Pedro é muito sério no que faz e não gosta de desrespeito”

Já muito se falou e escreveu acerca da mediunidade. No entanto, tanto médiuns de trabalho como consulentes colocam muitas vezes a questão: “O que é necessário para ser um bom médium?”

Não querendo criar uma “receita” para algo que depende do esforço, empenho e dedicação de cada um, é inquestionável que o bom e correcto exercício da mediunidade exige que o médium cultive em si mesmo um conjunto de valores e atitudes como a Fé, o amor, a honestidade e rectidão, a humildade e a responsabilidade.

Mas, para além destes valores, existe um outro aspecto essencial para o crescimento do médium – o conhecimento. Conhecer as normas de funcionamento do Templo, a ritualística ou os pontos cantados não basta para se ser um bom médium de trabalho. A busca do conhecimento sobre a religião e seus fundamentos, sobre a espiritualidade, as Entidades, suas linhas de trabalho e forma de actuação, ervas e banhos, e principalmente sobre o ser Humano e a vida deve ser constante e é fundamental para um bom crescimento do médium, enquanto instrumento de trabalho dos Guias e Orixás.

O conhecimento permite a compreensão e o entendimento, que, por sua vez, geram a consciência, a qual se transforma em amor. O médium que adquire maior consciência sobre a espiritualidade e sobre a vida aumenta a sua capacidade de amar o próximo e a si mesmo, tornando mais forte a sua conexão com o Divino e, consequentemente, mais firme e equilibrada a ligação com as Entidades com quem trabalha. O conhecimento do médium é uma mais-valia para os Guias que o utilizam como ferramenta no trabalho espiritual. É claro que para esta conquista de consciência não basta o conhecimento teórico, é necessária também a prática. Além de estudar, o médium deve ser activo e participativo nos trabalhos do Templo.

A reforma de princípios e valores juntamente com a busca do conhecimento são fundamentais para o crescimento do indivíduo, não apenas como médium, mas também como ser Humano, sob pena de estagnar na sua caminhada.

Que Oxalá abençoe e ilumine a todos. Bernardo Cruz

Ser Bom Médium...

Pai Jomar D´OgumO C a n d o m b l é

O Convidado Escreve

Doutrina de Umbanda

Conhecimento Precisa-se!!!

Page 8: Jornal Fundamento_07

Fundamento08 |

www.atupo.comwww.umbanda.pt

06 | 2011

esta sétima edição, falaremos da nossa tão conhecida guiné, cientificamente denominada de Petiveria alliacea e popularmente Nconhecida como “amansa senhor” ou “erva de pipi”.É originária das regiões tropicais da América Central e Sul, Caribe e África. Durante o período esclavagista no Brasil, era usada

secretamente pelos negros, em pequenas doses, por tempo prolongado, para proteger as mulheres negras do assédio de seus patrões, uma vez que provocava o enfraquecimento do cérebro dos senhores, fazendo-os cair num estado de letargia. Era também dada aos feitores, a fim de torná-los mais brandos na convivência diária, daí resultando o nome popular “ amansa senhor”.Na floresta amazónica, a guiné era usada como banho de ervas pelos índios e curandeiros contra a feitiçaria, contra a sinusite, gripes, como analgésico e insecticida. Esta planta tem uma longa história de uso terapêutico, em todos os países tropicais. Os primeiros estudos científicos sobre os seus efeitos remontam aos fins do século XIX, permanecendo até à actualidade em estudos sobre os efeitos desta no tratamento de certos tipos de cancro.

Características: A Guiné é uma planta semi arbustiva de ciclo perene que em média atinge 1m de altura. Apresenta folhas de cor verde-escuro, flores brancas minúsculas em espiga, caracterizada pelo seu odor forte.

Cultivo: A Guiné necessita de um solo fértil e moderadamente húmido, sendo uma planta pouco resistente às geadas.Meios de utilização: Uso Interno: chá | Uso Externo: banhos e emulsõesIndicações terapêuticas: A Guiné é utilizada no tratamento das seguintes patologias: reumatismo, artrite, malária, falta de memória,

dores musculares, constipações, gripe, infecções respiratórias e pulmonares, certos tipos de cancro, reforço do sistema imunitário, diabetes, alguns problemas de pele. Dependo do tipo de terapêutica é utilizada a folha ou a raiz.

Propriedades terapêuticas: Esta planta é considerada: anti-espasmódica, diurética, estimulante menstrual, analgésica, sedativa, anti-inflamatória e hipoglicemiante.

Contra indicações: a utilização desta planta abusivamente e sistematicamente é nociva ao organismo devido às suas propriedades tóxicas e abortivas. Leonel Lusquinhos e Susana Ferreira

Fontes: http://www.cotianet.com.br/eco/HERB/guine.htm; http://www.aguaforte.com/herbarium/Petiveria.html; http://www.chaecia.com.br/loja/produto-

A Guiné

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Padre CíceroO Santo Milagreiro do Ceará

A Nossa Homenagem