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Universidade de Brasília Centro de Excelência em Turismo Economia do Turismo Jorge Madeira Nogueira e Milene Takasago Economia do Turismo

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Universidade de BrasíliaCentro de Excelência em Turismo

Economia do TurismoJorge Madeira Nogueira e Milene Takasago

Economia do Turismo

Apresentação

Objetivo Geral

Este módulo tem como principal objetivo esclarecer, de maneira simples e objetiva, conceitos

econômicos básicos, contextualizando-os com o turismo, que de uma perspectiva microeconômica

quer de uma macroeconômica.

Objetivo específico

Após a leitura deste módulo, os alunos serão capazes de:

? Conhecer os conceitos econômicos básicos;

? Entender o funcionamento dos mercados de bens e serviços turístico;

? Compreender a dimensão do turismo na economia brasileira e seus principais efeitos em

variáveis tais como: renda, emprego e produto interno bruto;

? Perceber como variáveis econômicas podem influenciar o turismo e como o turismo influencia

variáveis macroeconômicas.

Economia do Turismo

Sumário

1. Por que juntar turismo e economia?

2. A Microeconomia do Turismo

2.1 A Demanda Turística

2.2 Elasticidade-preço da demanda

2.3 A Oferta Turística

2.5 Estruturas de Mercado Turístico

2.6 Análise sobre o modelo de oferta e demanda por turismo

3. A Macroeconomia do Turismo

4. Bibliografia

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Economia do Turismo

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1. Por que juntar turismo e economia?

Turismo é uma atividade eminentemente econômica. As escolhas de um turista dependem de

suas considerações econômicas. Ao escolher para onde viajar, em que lugar se hospedar e o que

visitar, qualquer turista recorre a um processo de decisões econômicas em sua essência. Por outro

lado, o desempenho econômico de um país pode ser muito influenciado pelo que acontece com as

atividades relacionadas com o seu setor turístico. Mas não apenas isso. O desempenho da economia

mundial, nacional ou regional pode condenar o setor turístico à prosperidade ou à estagnação, ao

sucesso retumbante ou ao fracasso completo.

É muito provável que um típico graduado em turismo possa se surpreender com o tom das

afirmações do parágrafo anterior. Afinal, ele ou ela passou quatro anos em um curso de graduação

em turismo e cursou uma única disciplina de Economia, em geral ministrada por um professor que

nada sabia sobre turismo e pouco sabia de Economia. Ou, talvez, essa tenha sido a mais

desestimulante disciplina de todo o seu curso.

Caso tal surpresa tenha ocorrido com você também, saiba que nós, autores deste texto,

entendemos isto. Somos solidários, também, se, igualmente, você tenha se decepcionado com o

estudo de Economia. Mas tudo isso é passado. No momento, convidamos você e colegas para

participarem de um “tour guiado”, pelos interessantes caminhos da análise econômica da atividade

turística. Logo descobrirão a importância desse conhecimento.

Nossa viagem na Economia do Turismo terá, porém, seus limites. O maior deles é a sua

abrangência. Não poderemos levá-lo a todos os aspectos atraentes que gostaríamos, pois extrapola

o número de páginas anteriormente definido. . Assim, decidimos priorizar as atrações que iremos

visitar. Entendemos que é fundamental compreender o processo de escolha dos demandantes de

serviços turísticos, assim como daqueles que oferecem esses serviços. O economista chama de

análise microeconômica esse entendimento do comportamento de agentes individuais (o

consumidor e o produtor). Portanto, o texto se inicia com a microeconomia do turismo, analisado a

demanda e a oferta turística.

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Economia do Turismo

Nossa viagem não termina aí. Seria frustrante para todos – vocês e nós – se não viajássemos,

também, pela macroeconomia do turismo. Afinal é sempre desafiante entender como o turismo pode

contribuir para o aumento da renda e do emprego de um país receptor de fluxos turísticos.

Vamos, então, começar?

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Economia do Turismo

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2. A Microeconomia do Turismo

Nossa viagem começa com uma crença do economista: desejos humanos são ilimitados, mas

os recursos disponíveis para satisfazer esses desejos são limitados, insuficientes para atender a

todos eles. O que falamos não é novidade, não é mesmo? Quantas vezes você já sentiu isso na pele?

Desejar e sonhar de modo ilimitado e sentir-se limitado, para realizar o que desejou ou sonhou. Isso

ocorre com todo mundo.

Um exemplo? Imagine-se desejando passar as suas férias anuais em, pelo menos, cinco

diferentes locais existentes no planeta. Logo verá que isso acabará sendo impossível de ser posto

em pratica, seja pela falta de tempo, seja pela falta de dinheiro, ou ambos. Recursos são limitados;

desejos são ilimitados. Esse é o clássico problema econômico: a escassez relativa. Se recursos são

escassos em relação aos nossos desejos e às nossas necessidades, precisamos fazer escolhas.

Para que escolhas possam ser feitas, precisamos ter informações e critérios para realizar essas

escolhas.

Como resolver isto? Que informações e critérios são relevantes? Como identificá-los?

Os economistas acreditam que a teoria econômica propõe bons mecanismos de fornecimento

de informações e excelentes critérios para essas escolhas. Quanto às informações, elas nos são

transmitidas quando desejamos comprar ou vender alguma coisa. No capitalismo – estrutura social

em que vivemos -, todas as transações envolvendo compra e venda de mercadorias (bens e

1serviços) são intermediadas pelo mercado . Em um mercado, o preço desempenha duas funções

fundamentais: 1. o preço dá informação e 2. o preço dá incentivos. Você não acredita? Tem

dificuldade para enxergar isso? Ora, veja que não há mistério aqui. Você tem exemplos disso todos

os dias. Vamos analisar um deles? Isso irá objetivar e ampliar a sua visão sobre o tema. Vamos juntos

nessa exploração específica no âmbito da economia? .

Imagine que um restaurante em certa cidade turística se transforme em local da moda, com

todos – residentes e turistas - querendo almoçar ou jantar em suas dependências. Com essa grande

procura é provável que os preços de seus pratos sejam majorados. Com níveis mais elevados de

preços, alguns de seus potenciais fregueses podem ficar estimulados a procurar outros restaurantes.

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Mercado é um arcabouço institucional que permite a realização das trocas.

Economia do Turismo

Pode acontecer, também, que donos de outros restaurantes da cidade fiquem motivados a

oferecer pratos semelhantes a preços mais convidativos para atrair os consumidores do restaurante

da moda.

A essa altura dos acontecimentos temos uma pergunta muito importante para você refletir e

responder: O que determina os preços de mercado? Pare um pouco, pense e responda ao

perguntado. Do nosso ponto de vista uma primeira resposta disso é: a oferta e a procura por

determinado bem. Desse modo, os preços de mercado surgem do confronto entre vendedores, que

são ofertantes de bens e serviços, e os compradores, que são os demandantes dessas mercadorias.

2Para sermos mais rigorosos: nos mercados perfeitamente competitivos , os preços são

determinados pelo livre jogo de oferta e procura, enquanto nas estruturas de mercado de

concorrência imperfeita os preços são influenciados ou pelos vendedores ou pelos compradores.

Como decidem os demandantes de bens e serviços?

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Mercados competitivos são aqueles onde há grande número de vendedores e compradores, os produtos negociados são

homogêneos, inexistem barreiras à entrada e à saída de agentes e a informação é perfeita para o processo de tomada de decisões.

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2.1 A Demanda Turística

Temos uma nova pergunta: o que determina a demanda por determinado bem?

Bom, esta depende de vários fatores, tais como:

a) o preço do próprio bem ou do serviço demandado;

b) a renda daqueles que demandam esses bens e serviços;

c) o preço de outros bens e serviços que o demandante consome; e

d) o gosto do demandante, que procurará obter a máxima satisfação no ato de demandar

alguma coisa.

Na verdade, a mudança no preço do próprio bem ou serviço altera a quantidade demandada

desse bem ou serviço. Seria a essência da Lei da Demanda: tudo o mais permanecendo constante

3(ceteris paribus) , a quantidade demandada de um bem aumenta quando o seu preço diminui e ela

diminui quando o preço do bem aumenta. Já os três outros fatores deslocam a demanda por aquele

bem ou serviço.

Percebeu então, que a demanda é uma relação que dá as quantidades de um bem ou serviço

que os compradores estariam e seriam capazes de adquirir a diferentes preços? Veja: os indivíduos

geralmente estão dispostos a comprar mais quando o preço baixa; a curva reflete isto, porque cai da

esquerda para a direita, como pode ser observado na Figura 1. Quando estimamos uma função

demanda (ou desenhamos uma curva de demanda), a renda e todos os outros fatores (com exceção

do preço do bem ou serviço) que podem afetar a quantidade demandada têm de ser mantidos

constantes. No linguajar do economista, adotamos a hipótese de ceteris paribus - que as outras

coisas permanecem constantes.

Quer um exemplo? Imaginemos o comportamento da demanda de uma família por serviços de

hotelaria em uma determinada cidade de veraneio. Ciente do preço da diária do hotel, a família

decide permanecer cinco dias no hotel. Eles tomaram essa decisão considerando não apenas o

preço da diária, mas também quanto dinheiro eles tem disponível para viajar (a renda), todos os

lugares que desejam visitar e coisas que desejam comprar na referida cidade (preços dos demais

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Maneira usual de economista destacar que apenas uma variável está mudando, com todas as demais não sofrendo qualquer

mudança.

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bens e serviços) e escolheram aquela cidade depois de considerar diversas outras opções de

veraneio. Alguns dias antes da viagem, no entanto, a agência de viagem comunica que ouve uma

redução no valor da diária do hotel que eles haviam escolhido. Ceteris paribus, a família decide,

então, estender a permanência na cidade de cinco para sete dias. Houve aumento, portanto, na

quantidade demandada de dias de hospedagem.

Como já destacado, um deslocamento na curva de demanda (ou seja, uma mudança na

demanda) pode ser causado por uma mudança em qualquer uma de uma série de "outras

coisas". As mais importantes delas são:

i) a renda;

ii) os preços de outros bens relacionados;

ii) gostos.

Quando a renda aumenta, as pessoas podem consumir mais. Para um bem típico ou normal, a

curva de demanda se desloca para a direita, quando a renda aumenta. Há exceções a essa regra.

Com o aumento de renda, as pessoas podem reduzir o consumo de certos bens ou serviços,

procurando bens e serviços mais caros, considerados de melhor qualidade, mas que não podiam

consumir ao nível de renda anterior. Nesta situação - quando o aumento de renda produz um

deslocamento para a esquerda na curva de demanda por batatas, por exemplo - o bem em questão é

um bem inferior.

No que concerne o deslocamento da demanda por um determinado bem ou serviço devido a

mudanças de preços de outros bens e serviços, ele dependerá do tipo de relacionamento que o bem

em questão possui com os outros bens. Ou seja, esse relacionamento pode ser de bens ou serviços

complementares ou substitutos. Se os bens são complementares, o aumento no preço de um

provoca uma queda na demanda do outro, ou seja, um deslocamento da demanda para esquerda. Se

os bens são substitutos, o aumento do preço de um provoca um aumento na quantidade demanda de

outro, isto é, um deslocamento da curva de demanda para direita.

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Economia do Turismo

Figura 1 - A Curva de Demanda

Finalmente, pode haver deslocamento da demanda devido às mudanças no gosto. O tempo vai

passando e os gostos mudam. Aquilo que não agrada a uma pessoa hoje, pode agradar essa mesma

pessoa amanhã. Essas mudanças podem ocorrer naturalmente ou podem ser induzidas por efeitos

demonstração (cópia de gosto de alguém ou de alguns), por propaganda, entre outros fatores. Esta

nova tendência aumenta a demanda por certos bem ou certo serviço. Isso se materializa por um

deslocamento da curva de demanda para direita.

Vamos voltar para a nossa família que decidiu passar sete dias de férias em um hotel em uma

cidade de veraneio. Vamos imaginar, agora, que a renda da família dobrou faltando uma semana

para a viagem e nada mais mudou (os preços e o gosto da família permaneceram inalterados). Se

eles estivessem indo para um hotel de duas estrelas é bem provável que nossa família resolvesse

mudar para um hotel mais confortável ou até mesmo para uma cidade de veraneio mais badalada,

não é mesmo? Se isso ocorresse, o hotel de duas estrelas e a cidade originalmente escolhida seriam

“bens inferiores”. Em termos de curva de demanda, o que aconteceria? Isso mesmo que você

pensou: haveria um deslocamento da curva de demanda da família para a direita, por causa do

aumento de renda.

Pense agora no que aconteceria com a nossa família se ao invés de um aumento de renda

ocorresse um aumento brutal no preço das passagens aéreas (que não estavam incluídas no pacote

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Economia do Turismo

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de viagem) uma semana antes de suas aquisições. Passagens aéreas e serviços turísticos são bens

complementares, eles tendem a ter seus consumos positivamente correlacionados. Se o preço de

um sobe, a sua quantidade consumida diminui, assim como diminui também a quantidade

demandada do outro. Assim, é provável que a nossa família considere a possibilidade de cancelar

sua viagem por causa do aumento no preço das passagens aéreas.

Que tal? Você já está entendendo, de modo mais claro, a lógica econômica do comportamento

do demandante, do consumidor, de turismo? Achamos que sim. Já está na hora de darmos uma

olhada na lógica econômica do ofertante de serviços turísticos, estudando aquilo que o economista

chama de teoria da firma. Antes, porém, é preciso apresentar a você um conceito fundamental em

economia: o de elasticidade. Genericamente, o termo elasticidade é uma medida de resposta, que

compara a mudança percentual em uma variável dependente (Y) devido a uma mudança percentual

em uma variável explicativa (X).

No caso da demanda, elasticidade mede a sensibilidade do consumidor a algumas variáveis,

tais como: o preço do bem ou serviço, o preço do bem substituto, a renda. Por enquanto, vamos

apresentar a elasticidade-preço da demanda.

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Economia do Turismo

O que essa elasticidade-preço da demanda mede? De que ela depende?

A elasticidade-preço da demanda mede a intensidade com que a quantidade demandada

responde a variações no preço do bem depende de inúmeros fatores, tais como: a existência de bens

substitutos próximos, o grau de necessidade do bem, o peso do bem no orçamento do consumidor

etc. Um resumo dessa idéia você tem a seguir:

Um resumo dessa idéia você tem a seguir:

Quando a elasticidade-preço da demanda é maior do que um, o bem é classificado como

elástico na faixa de preços. Quando a elasticidade-preço da demanda é menor do que um,

classificamos o bem como inelástico na faixa de preços.

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4 Núcleo de Economia do Turismo do Centro de Excelência da Universidade de Brasília.

Você Sabia?

A equipe do NET/CET/UnB estimou a elasticidade-preço da demanda para o turismo.

Os resultados encontrados foram:

Elasticidade preço da demanda turística = -1,71

Este resultado indica que uma variação positiva (aumento) de 1% no preço do serviço

de turismo provocará uma redução de 1.71% na demanda por esse serviço turístico.

Portanto, a demanda por turismo no Brasil é elástica, isto é, muito sensível a variações no seu

preço. Esta evidência mostra que políticas que promovam reduções no preço do turismo

resultarão em um aumento significativo na demanda por turismo.

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2.2 Elasticidade-preço da demanda

Economia do Turismo

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2.3 A Oferta Turística

A oferta de determinado bem depende, também, de vários fatores, principalmente dos

seguintes:

a) preço do próprio bem;

b) preço das matérias primas e dos fatores de produção; e

c) tecnologia utilizada.

Na verdade, a mudança no preço do próprio bem ou serviço altera a quantidade ofertada desse

bem ou serviço. Seria a essência da Lei da Oferta: tudo o mais permanecendo constante (ceteris

paribus) a quantidade oferecida de um bem aumenta quando o seu preço aumenta. A função oferta

estabelece uma relação direta entre os preços de um determinado bem e as quantidades que os

produtores estão dispostos a produzir aos referidos preços ceteris paribus.

Você pode visualizar uma curva de oferta na Figura 2. Tão relevante quanto mudanças na

quantidade ofertada, são alterações na curva de oferta propriamente dita, ou seja, deslocamento da

curva de oferta. As variáveis que deslocam a curva de oferta são:

1. preço das matérias primas e dos fatores de produção, que influenciam a estrutura de custo

do produtor (ofertante); e

2. tecnologia utilizada, que direta ou indiretamente acaba também influenciando a estrutura de

custo do ofertante.

Perceba então, que como no caso da demanda, a oferta pode ser afetada por "outras coisas"

que mudam com o tempo, produzindo deslocamentos na curva de oferta. Vamos dedicar alguma

atenção ao estudo dessas "outras coisas"? Então continue a sua leitura. Caso esteja precisando

parar para refletir sobre o que estudou até aqui, ou por um outro motivo, faca isto agora. Estaremos

aqui lhe esperando, certo? Tem outras coisas bem interessantes para dialogarmos.

Terminou? Podemos então prosseguir?

Economia do Turismo

Imagine-se agora como um dono de um restaurante. O que precisa ser feito para tudo dar certo

e você não ter prejuízos? Várias coisas. Mas com certeza você precisará dar uma atenção especial

ao cálculo do tamanho da porção de um prato que o seu restaurante oferecerá, assim como também

estimará o preço desse prato, considerando tudo: o quanto paga de aluguel, de salários, pelos

componentes do prato, pela conta de luz, etc.

Dito de outra forma, você terá que levar em consideração os custos de insumos ou de fatores

de produção. Como os demais donos de restaurante, caso o preço dos alimentos subam, sua

tendência será estar menos disposto para ofertar os mesmos pratos, com as mesmas porções e/ou

aos mesmos preços que vigoravam antes desse aumento, não é verdade? Se não houver

possibilidade de alterar o preço ou as especificações dos pratos ofertados pelo seu restaurante, o

que ocorrerá com a curva de oferta? Pensamos que nesse caso, a tendência é ver a curva de oferta

deslocada para a esquerda. Por que isso acontece?

Figura 2 - A Curva de Oferta

Para entender esse comportamento é importante ter claro que uma empresa maximiza seu

lucro. Para isso, ela precisa calcular sua receita total e seu custo total. Assim, LUCRO = RECEITA

TOTAL – CUSTO TOTAL. Como calcular isto? É fácil: para se calcular a receita total, basta

multiplicar-se o preço de venda pela quantidade vendida do produto; isto é RECEITA TOTAL =

PREÇO DE VENDA X QUANTIDADE VENDIDA. O acréscimo na receita total correspondente à

venda de uma unidade adicional do produto, nós chamamos de receita marginal. Muitas vezes o

empresário só consegue aumentar sua receita total (e, portanto, manter sua receita marginal

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crescente) pelo aumento da quantidade ofertada, pois ele não consegue aumentar o preço de venda

do seu produto.

Sendo isso verdade, o empresário precisa ser muito cuidadoso. Isto é: a cada momento, ele

precisa analisar os efeitos de um aumento da produção (da sua oferta) na receita total e no custo

total. Se o aumento de produção levar a um crescimento de custo total menor que o da receita total,

vale a pena continuar aumentando a produção. Quando o aumento de receita total for menor que o

crescimento de custo total, deve-se parar de expandir a produção porque o lucro está caindo. Você já

viu que o acréscimo na receita total correspondente à venda de uma unidade adicional do produto é a

receita marginal. Agora, você precisa aprender que o acréscimo no custo total correspondente ao

aumento de uma unidade adicional de produto é chamado pelos economistas de custo marginal.

È muita informação, não é? Vamos sintetizar isso? Veja: você já sabe que o lucro corresponde à

receita total menos o custo total. Você, também, sabe que sempre que o custo marginal for inferior à

receita marginal, o custo total aumenta menos do que a receita total. Nesse caso, o lucro total

aumenta. O contrário – o lucro diminui - ocorre quando o custo marginal é superior à receita marginal.

Conclui-se que, somente quando o custo marginal é igual à receita marginal, o lucro é máximo (lucro

máximo = RMg = CMg). Podemos, agora, detalhar um poço mais o custo total de uma empresa. Ele

pode ser dividido em:

CUSTO TOTAL = CUSTOS VARIÁVEIS + CUSTOS FIXOS

Custos variáveis são dependentes da quantidade produzida e variam de acordo com ela. Os

custos variáveis correspondem ao que se gasta com insumos, mão-de-obra, energia e matéria-

prima, por exemplo. Já os custos fixos são independentes da quantidade produzida. São custos

associados à administração da empresa, ao aluguel e à conservação do prédio e a outros que

independem do montante produzido. Tenho certeza que você já percebeu como aumentos nos

diferentes componentes de custos de uma agência de viagem, de uma companhia de transporte, de

um hotel, de um restaurante, entre outros, podem influenciar a oferta (deslocar a curva de oferta) de

um determinado serviço turístico.

Nem precisa dizer que existem outros fatores que podem provocar o deslocamento da curva de

oferta de um bem ou de um serviço, além dos seus custos de produção, não é mesmo?. A tecnologia

de produção ou de gestão é um deles. Com melhora significativa na tecnologia, o custo de produção

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Economia do Turismo

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diminuirá. Com um custo menor por unidade, os produtores estarão dispostos a produzir mais que

antes, ao mesmo nível de preço. A curva de oferta se deslocará para a direita. Quer um exemplo

disso? Basta lembrar-se da entrada da GOL no mercado de transporte aéreo. O que fez dela um

sucesso? Não é difícil concluir que uma estrutura de custo mais enxuta, responde fortemente por isto.

Principalmente por causa de inovações na forma de gerir o negócio de vender passagens aéreas.

Como saber, as condições climáticas representam um fator especialmente importante para a

oferta da produção agrícola. Uma seca provocará, por exemplo, uma queda na produção de soja

(quer dizer, um deslocamento da curva de oferta à esquerda). No entanto, não é apenas a oferta

agrícola que pode ser influenciada pelas condições climáticas. Uma determinada região no litoral

com baixa incidência de chuva poderá se transformar em um atrativo para os turistas apreciadores de

sol e mar o ano inteiro. A oferta de infra-estrutura turística tenderá a se expandir na região para

receber esses visitantes.

Um fator especialmente relevante para explicar deslocamentos na curva de oferta é o

comportamento dos preços de bens relacionados. Da mesma maneira que os bens podem ser

substitutos ou complementares no consumo, podem ser substitutos ou complementares na

produção.

O milho e a soja, por exemplo, são substitutos na produção. Com um aumento no preço do

milho, os agricultores serão incentivados a reduzir o plantio de soja e aumentar o de milho. A

quantidade de soja que estão dispostos a oferecer a um determinado preço diminuirá: a curva de

oferta de soja se deslocará para a esquerda. A carne e o couro são complementares. Quando o

abate de gado aumenta em resposta a uma demanda maior de carne, a produção de couro aumenta

simultaneamente. Assim, um aumento na produção de carne levará a um deslocamento da curva de

oferta de couro cru para a direita.

Procure pensar agora em bens substitutos e bens complementares relacionados com a

atividade turística. Pensou? Isso mesmo. Hotéis de três estrelas com serviço de café da manhã

podem ser substitutos de hotéis de três estrelas sem esses serviços. A redução nos preços dos

últimos pode deslocar para a esquerda a curva de oferta dos três estrelas com serviços, caso a

demanda passe a não dar importância a ter o café da manhã incluso no preço da diária. Por outro

lado, serviços turísticos e serviços de transporte são complementares na produção.

Economia do Turismo

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Para finalizar nossa discussão dois aspectos técnicos relevantes: a elasticidade preço da

oferta e o custo de oportunidade. A elasticidade-preço da oferta mede a intensidade com que a

quantidade ofertada de um bem responde a variações no preço do próprio bem.

Considera-se a oferta elástica (maior do que um) quando a variação na quantidade ofertada é

maior do que a variação no preço. Quando a variação na quantidade ofertada é menor do que a

variação nos preços (elasticidade menor do que um), a oferta é dita inelástica. A elasticidade da oferta

pode ser igual a zero! Utilizando a mesma metodologia da elasticidade-preço da demanda, a equipe

do NET/CET/UnB estimou a elasticidade-preço da oferta para o turismo. Chegou-se ao seguinte

modelo:

Elasticidade preço da oferta turística = 0,68

Este resultado indica que uma variação positiva de 1% no preço do turismo (IPT) acarretará um

aumento de apenas 0.68% na oferta de turismo. Portanto, a curva de oferta de turismo no Brasil é

inelástica, isto é, pouco sensível a variações no preço do turismo. Dada uma variação positiva no

preço do turismo, aqui representada por um aumento no IPT, haverá uma resposta também positiva

menos que proporcional da oferta de turismo.

Já o custo de oportunidade de um bem ou serviço corresponde ao valor dos bens que

deixam de ser produzidos para obter esse mesmo bem ou serviço. Note-se que todos os itens de

custo de uma empresa representam custos de oportunidade. O cômputo do custo total é mais difícil,

porque muitos dos custos não são contabilizados por estarem implícitos. Por exemplo, o dono de

uma pousada pode não receber salário, nem realizar retiradas mensais. O custo contábil de sua

atividade é zero. No entanto, há um custo econômico, materializado no custo de oportunidade do seu

trabalho. Ele abre mão de um salário que poderia obter trabalhando em outras empresas para

trabalhar na sua. O custo de oportunidade é o salário que ele poderia estar recebendo em outra

empresa se não estivesse trabalhando em sua pousada.

Economia do Turismo

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Outro exemplo é o serviço financeiro da parcela de capital de giro que o próprio emprestou para

a empresa (a pousada). O motivo é o mesmo: ao emprestar capital para sua própria empresa,

empregando nela seu dinheiro, ele abre mão dos rendimentos que poderia obter caso resolvesse

depositar o mesmo montante em dinheiro no sistema financeiro. Esses custos implícitos são custos

econômicos, pois representam custos de oportunidade. De forma semelhante, devemos incluir o

aluguel que ele deixa de receber por ter instalado sua pousada em um prédio de sua propriedade.

Uma distinção importante

Tendo em vista essa abordagem sobre custos econômicos, é importante diferenciar

lucro econômico de lucro contábil. Para o economista, é relevante o conceito de lucro

econômico da empresa. Lucro econômico é a diferença entre a receita total e a soma dos

custos implícitos e explícitos. Para o contador, importa o lucro contábil. Lucro contábil é a

diferença entre a receita total e os custos explícitos.

Economia do Turismo

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2.4 Estruturas de Mercado Turístico

Quando, a determinado preço, a quantidade que os vendedores desejam e podem vender

corresponde à quantidade que os compradores desejam e podem comprar, o mercado está numa

situação de equilíbrio. Em mercados perfeitamente competitivos, o que ocorre? Bom, quando o preço

de mercado está acima do preço de equilíbrio, há excesso de oferta que pressiona o preço para

baixo. Quando o preço de mercado está abaixo do preço de equilíbrio, há excesso de demanda que

pressiona o preço para cima. Isto está representado na Figura 3.

Figura 3 - Oferta e Demanda em um Mercado

Os mercados perfeitamente competitivos são auto-reguladores.

A concorrência perfeita é uma estrutura de mercado que se caracteriza, como já

mencionamos, pela participação de grande número de pequenos vendedores e de grande número

de compradores que vendem e compram produtos idênticos. Nesses mercados, não há restrição ao

ingresso, e as informações estão livremente disponíveis. O exemplo mais comum é a produção e a

comercialização de produtos agrícolas. Em situação de concorrência perfeita as pequenas

empresas são tomadoras de preço. O preço é determinado no mercado pelo livre jogo de oferta e

procura.

Economia do Turismo

A concorrência monopolística distingue-se da concorrência perfeita na diferenciação do

produto. Isso significa que muitas empresas vendem produtos similares, mas não idênticos. Cada

empresa produz uma mercadoria ligeiramente diferente das mercadorias vendidas por seus

concorrentes. Isso permite que preços diferentes sejam praticados no mercado e reforça mecanismos

extras de concorrência, tais como propaganda, uso de marcas, etc.

É importante reforçar na mente do consumidor a idéia de que os produtos, embora substitutos

próximos, são diferenciados, o que justifica a prática de preços diferentes. A concorrência

monopolística permite, portanto, que cada empresa exerça alguma influência nos preços. Bons

exemplos dessa estrutura de mercado são: indústria de vestuário, de calçados e de produtos

alimentares, restaurantes, etc.

A estrutura de mercado é classificada como monopólio quando uma única empresa oferece

determinado bem ou serviço para todo o mercado, e o produto não tem substitutos próximos. O

monopólio surge em decorrência de barreiras ao ingresso no setor. As barreiras, por sua vez, têm

origens diversas: concessões governamentais com cláusula de exclusividade, propriedade de

insumos-chave, possibilidade de suprir o mercado a um custo menor do que o fariam diversas

empresas. Exemplos de monopólio são: fornecimento de água, energia elétrica e outros serviços

prestados com exclusividade pelo Estado, Microsoft (produtora do sistema operacional Windows).

O oligopólio surge quando um reduzido número de vendedores domina o mercado e cada um

oferece produtos idênticos ou muito similares aos de seus concorrentes. Como exemplos, podemos

citar a indústria automobilística, a de refrigerantes, a de serviços de telefonia, etc.

É importante, em qualquer das estruturas de mercado descritas, discutir como são tomadas as

decisões de quanto produzir e quanto cobrar pelo produto. Dessas decisões depende o lucro auferido

pela empresa.

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Atenção!

Concorrência perfeita e monopólio são formas extremas de estruturas de mercado. A

principal diferença entre empresa competitiva e monopólio é a capacidade do último de

determinar o preço de seu produto no mercado. Os monopólios são formadores de preço.

Economia do Turismo

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2.5 Análise sobre o modelo de oferta e demanda por turismo

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Vamos agora relacionar os conceitos acima descrito numa análise sobre as elasticidades e os

efeitos de políticas governamentais destinadas a expansão do turismo na economia brasileira.

Para começar, analisemos a interseção entre a curva de oferta e demanda. Na figura 4 a curva

D representa a demanda turística, enquanto que a curva O ilustra a oferta turística. O ponto em que

elas se encontram é de equilíbrio, (Q*, P*), ou seja, neste ponto tudo que é ofertado no mercado de

bens e serviços é demandado pelos consumidores. As elasticidades das curvas de oferta (O) e

demanda (D) estão refletidas nas inclinações dessas mesmas curvas. Assim, a curva de oferta mais

inclinada reflete sua baixa elasticidade-preço enquanto a demanda menos inclinada reproduz sua

alta elasticidade-preço.

Figura 4 - Curvas de Oferta e Demanda por Turismo

Vamos, agora, comparar as elasticidades das curvas de oferta e demanda. Observe,

inicialmente, a baixa sensibilidade da oferta de Turismo a variações no preço do Turismo. Como

descrevemos, a curva de oferta de Turismo é inelástica, pois seu valor é menor que uma unidade. Isto

revela que políticas, para o setor, baseadas apenas em ações de estímulo à demanda por Turismo

gerarão, predominantemente, aumento no preço do Turismo. A Figura 5 ilustra esta situação.

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5 Este texto foi retirado, porém com pequenas adaptações, do livro: Turismo na Economia Brasileira.

Economia do Turismo

Figura 5 - Deslocamento unilateral da demanda por Turismo

Políticas voltadas apenas para o estímulo à demanda por Turismo deslocarão a curva de

demanda original (D) para frente e para a direita até a nova curva D’. Como não houve nenhuma ação

de estímulo à oferta, a curva de oferta de Turismo não se desloca. Nessa nova situação, teremos um

novo preço e uma nova quantidade de equilíbrio, representados por P e Q, respectivamente. Devido

à baixa elasticidade da oferta de Turismo, o deslocamento unilateral da demanda por Turismo

acarretará um aumento no preço do Turismo, que vai de P* até P, muito maior do que o aumento na

quantidade de Turismo, que se move marginalmente de Q* até Q. Assim, políticas de estimulo restrito

à demanda por Turismo produzirão impactos maiores no preço do Turismo do que na quantidade de

turistas.

O que ocorreria no quadro descrito anteriormente se, paralelamente ao estímulo à demanda

por Turismo, fossem implementadas políticas que promovam a ampliação da oferta de Turismo? Este

quadro se modificaria bastante Confira isto na Figura 6, a seguir. As políticas de estímulo à oferta de

Turismo deslocam a curva de oferta original (O) para baixo e para a direita até a nova curva de oferta

O’. O novo equilíbrio, onde as curvas D’ e O’ se interceptam, é determinado pelo nível de preço P** e

pela quantidade de turistas Q**. Note que, devido ao estímulo à oferta de Turismo, o novo preço P** é

apenas marginalmente mais alto do que o preço original P*. A nova quantidade de equilíbrio Q**, por

outro lado, é consideravelmente maior do que a quantidade de turistas inicial Q*. Assim, a

combinação de políticas, visando afetar tanto a demanda quanto a oferta de Turismo, terá efeitos

extremamente positivos sobre o mercado de Turismo na economia brasileira.

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Economia do Turismo

igu 6 es m nt a urva o a d mand po mF ra - D loca e o d s c s de fert e e a r Turis o

U a ser ç o im r nt nt o, relaci na se a or te p ç e q m ob va ã po ta e, co ud o - o h izon tem oral das a õ s ue

a af ar lad a d da r Tur o e qu ue j tiv m l do o e T r m . svis m et o o d eman po ism a elas q ob e a o a da ferta d u is o A

es e de an ossue te po de r to n m no o qu s e fe ta I teaçõ d m da p m um m e r o e r d e açõe d o r . sto acon ce

r e çõe e stím l d da po T r m cam p e m n te en ark ting dopo qu a s d e u o à eman r u is o fo , r do i an m te, no m e

Turi o, o q ncia dir am nt s ur o al d e vi t em sm ue influe et e e a decisão do t istas s bre qu locali ad si ar um

ho iz nt m r e a va n çõe vo ta s a a e t ulo d er a d T r m r o e te po al r l ti me te curto. Já a s l da p r s ím a of t e u is o

o su u t p de a m i go po s r q r n e n spe o p s em m em o m turação a s lon , i e ue em i v stime tos e cífic s e

r r m exp s o d fe ta r du s r s i s as são vi m te s qup og a as de an ã e o r de p o to tu í t cos. E t , ob a en , açõe e

vol m ejam nt i v sti e os e r r turísti c j te po r torno a o doen ve plan e o e n e m nt m inf a-estrutu a ca u o m de e é m i r

q tem o e et d açõ e s ím à em nd po T r m .ue o p d r orno e es d e t ulo d a a r u is o

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Economia do Turismo

21

3. A Macroeconomia do Turismo

O que é a macroeconomia? É o ramo da economia que estuda as atividades econômicas

agregadas. Isto é: ela busca analisar a determinação e o comportamento dos grandes agregados

como renda e produtos, níveis de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda, taxa de juros,

balança de pagamentos e taxa de câmbio. A análise dos efeitos do turismo nas variáveis

macroeconômicas é realizada por meio das Atividades Caracterizadas como Turísticas – ACT’s. Vale

ressaltar, que a definição dessas ainda não é consensual, entretanto, existe um padrão estabelecido

pela Organização Mundial do Turismo - OMT. Consistente com essa definição, definimos essas

atividades que como descrito abaixo:

1) transporte rodoviário de passageiros, regular;

2) transporte de passageiros, não regular;

3) transporte regular próprio para exploração de pontos turísticos;

4) transporte aéreo regular;

5) transporte aéreo, não regular;

6) atividades de agências e organizadores de viagens;

7) atividades auxiliares do transporte terrestre;

8) atividades auxiliares do transporte aéreo;

9) estabelecimentos hoteleiros e alojamento temporário;

10) restaurantes;

11) atividades recreativas, culturais e esportivas;

12) aluguel de meios de transporte.

Por que listar as ACT’s ? Essa iniciativa relaciona-se com a necessidade de definir o turismo

economicamente, e assim estudar seus efeitos nas principais variáveis macroeconômicas. Na

continuidade desse texto estaremos aplicando os principais conceitos macroeconômicos ao

turismo.Inicialmente vamos entender como os agregados, produto e renda, movimentam entre um

dos principais agentes econômicos: firmas e famílias. Esta dinâmica é denominada fluxo circular da

renda.

Este fluxo é a interação das famílias e das empresas no mercado de fatores e de produtos. Na

6Figura 7 representamos um modelo simples e fechado . O fluxo monetário está representado pela

linha cheia. Este relaciona as compras de bens e serviços que as famílias fazem das firmas. Estas

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6 Simples porque não envolve variáveis como Governo e fechado porque não envolve as importações e exportações.

Economia do Turismo

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compras são realizadas com a renda que essas recebem das firmas, pelos fatores de produção

essas ofertam às firmas. O fluxo físico está representado pelas linhas tracejadas. Neste é possível

visualizar a produção dos bens e serviços das firmas, utilizando os fatores de produção ofertados

pelas famílias.

Figura 7 - Fluxo circular da Renda

Em geral, nem todas as rendas recebidas pelos indivíduos são alocadas para o consumo, parte

é direcionada para poupança. Esta parte poupada integra o mercado financeiro, que por sua vez

poderá canalizar esses recursos para investimentos. Como podemos vivenciar no nosso dia a dia,

parte da renda dos indivíduos é taxada pelo Governo, reduzindo a renda disponível que seria

canalizada para gastos em consumo. Assim, podemos concluir que quando o governo aplica

impostos, há uma retirada de recursos do fluxo de renda. Porém os gastos do governo, ou gastos

públicos, em produtos e fatores de produção injetam recursos no fluxo de renda da economia.

O que se dá em relação ao setor de exportação e importação?

Bom, com relação a isto, lembramos que parte dos bens e serviços adquiridos pelos indivíduos

e empresas são importados, sendo que a importação implica numa saída de recursos da economia.

Por exemplo, quando os hotéis luxuosos compram bens importados, visando satisfazer os gostos

dos clientes mais exigentes. Porém, parte da produção das empresas é vendida para compradores

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Economia do Turismo

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do exterior. Por exemplo, quando a Tam vende passagens aéreas para um turista não residente no

Brasil, a empresa aérea está vendendo serviços para um indivíduo localizado fora do Brasil. Neste

sentido a empresa aérea brasileira está exportando serviços para o exterior. As exportações

representam uma entrada de recursos no fluxo de renda.

O que dizer do Produto Interno Bruto (PIB)? Como sabe, o PIB de um país é muito divulgado pelos

meios de comunicações. Tal medida é utilizada como um dos componentes para medir o seu

crescimento econômico. A seguir definiremos os principais tipos de rendas e produtos, que podem ser

utilizados como indicadores econômicos.

• Renda Nacional é uma medida composta pela soma de todas as rendas monetárias recebidas

pelos indivíduos de um país, geradas ao longo um determinado período. Inclui salários, rendimentos de

profissionais liberais (esta classe é predominante no turismo), lucros privados e lucros obtidos por

empresas públicas, juros, aluguéis e receitas provenientes de arrendamento.

• Produto Nacional Bruto – PNB é o resultado da soma dos valores monetários de todos os

bens e serviços produzidos pelos fatores de produção nacional.

• Produto Nacional Líquido – PNL é igual ao PNB menos a depreciação dos bens de capital

(máquinas, equipamentos, dentre outros) ao longo da vida útil dos mesmos.

• Produto Interno Líquido – PIL é igual ao PNL acrescido das rendas recebidas do exterior e

subtraído das rendas enviadas ao exterior.

• Produto Interno Bruto – PIB é calculado por meio da soma do PIL com as depreciações dos

bens de capital ao longo do tempo de vida útil dos mesmos.

• Demanda final é o somatório do consumo das famílias, dos gastos públicos, da formação do

capital (produção de maquinaria, fábricas, dentre outros), das exportações e importações.

Vistas essas definições, apresentamos, agora, algumas medidas realizadas para as ACT’s. Por

meio destas atividades foi possível dimensionar os efeitos do turismo em variáveis tais como: renda,

7emprego e PIB . Os dados apresentados na tabela 1 permitem analisar o setor do turismo vis a vis a

economia brasileira. Observe-se que o setor tem demanda final maior do que o PIB, indicando que sua

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7 Os valores apresentados nesta seção foram calculados pelo Núcleo de Economia de Turismo do CET.

Economia do Turismo

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produção é, sobretudo, de bens finais, e usa, para produzi-los, muitos bens intermediários de outros

setores, agregando menos valor novo. De acordo com a Tabela 1, o setor turismo tem uma demanda

final de R$ 55.149,24 milhões contra uma produção do produto interno bruto de R$ 37.263,54 milhões,

ou seja, a contribuição do setor turismo para o PIB brasileiro é menor do que a contribuição deste para a

demanda final.

Fonte: NET/CET

A Figura 8 adiante nos mostra o resultado composição do turismo, destacando a participação das

diferentes atividades que o compõem sobre o total. Observa-se, em primeiro lugar, que a maior

participação é a do transporte rodoviário, seguida do transporte aéreo, dos alojamentos e dos auxiliares

de transportes. A parcela do turismo destinada ao lazer propriamente dito, que define

preferencialmente a atividade, segundo a Organização Mundial de Turismo, é bastante menor,

respondendo por apenas 2 % do total. Isso mostra a elevada complementaridade das atividades que

constituem o turismo, do ponto de vista econômico. Os atrativos de cultura e lazer, grandes objetos do

turismo e responsáveis por ele, têm participação pequena nos rendimentos gerados pelo mesmo, que

se espalham por diferentes setores e atividades, cuja participação econômica no turismo passa a ser

muito maior.

A Tabela 2 evidencia que o setor turismo é intensivo em trabalho, em comparação com o restante

da economia, que se caracteriza por ser intensiva em capital. Quando se observa o tipo de

remuneração paga no setor, percebe-se a importância relativa do trabalhador autônomo ou por conta

própria no turismo, que corresponde a 11,35% dos rendimentos totais de trabalhadores autônomos no

Brasil, contra uma participação do turismo no PIB brasileiro de apenas 2,8%. Percebe-se, também, a

baixa participação do capital, 0,49% apenas do total do capital remunerado no país, e o peso

significativo do trabalhador semi-qualificado, seguindo-se o do não qualificado e depois o do

qualificado. Isso é uma indicação do potencial que existe no setor turismo para a geração de emprego e

redução da pobreza, uma vez que a atividade pode ser promovida por pequenos empresários e

trabalhadores por conta própria e a atividade não exige grandes qualificações.

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Tabela 1 O setor turismo vis-à-vis a economia brasileira (2004) – dados básicos em R$Milhões

Indicador Brasil Turismo (%) Produção total 3.430.239,00 73.477,92 2,14%

PIB 1.666.258,00 37.263,54 2,24% Demanda final 1.962.732,31 55.149,24 2,81%

Economia do Turismo

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As Tabelas 3 e 4 ratificam que o setor turismo pode ter um papel importante na distribuição de

renda do país, pois pode ser observado que o consumo de turismo é concentrado na classe de

famílias mais ricas da população, representando 9,22% do consumo total da população de renda

mais alta. Enquanto isso, pode-se observar na Tabela 4 que a participação dos mais pobres na

atividade turística é relativamente grande, comparada ao conjunto do país. Mais que isso, a maior

proporção é dos mais pobres (6,9%), seguindo-se de forma decrescente das famílias de renda baixa

(6%), média (5,1%) e alta (4%).

Tal distribuição mostra que o desenvolvimento do setor turismo pode implicar uma distribuição

de renda dos mais ricos, por meio do consumo, para os mais pobres, pela remuneração. Usando

esse raciocínio, é possível simular políticas que estimulem o consumo turístico dos mais ricos para

então verificar o potencial do setor como meio de redistribuição de renda. Não se esqueça, no

entanto, que o consumo dos mais ricos pode também se transformar em renda dos mas ricos nas

áreas de destino dos turistas.

Figura 8 – Participação das Atividades Relacionadas ao Turismo na composição do

PIB do turismo, 2004

Economia do Turismo

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Fonte: NET/CET

Fonte: NET/CET

Fonte: NET/CET

Tabela 2 O setor turismo vis-à-vis a economia brasileira (2002)

Remuneração segundo fatores de produção

Fator de produção Brasil Turismo (%) Trabalho qualificado 194. 544 169,02 7.670.775,36 3,94% Trabalho semiqualificado 35.840.432,51 2.146.461,14 5,99% Trabalho não qualificado 73.921.773,37 3.539.192,16 4,79% Trabalhador conta-própria 61.617. 621,00 6.993.614,93 11,35% Empregador 47.369.555,09 1.969.680,29 4,16% Capital 564.322.855,00 2.748.302,56 0.49%

Tabela 3 O setor turismo vis-à-vis a economia brasileira (2002)

Consumo por tipo de família - RSmil

Tipo de família Brasil Turismo (%) Miserável 61.201.651,92 2.524.878,58 4,13% Renda baixa 154.783.704,47 4.222.218,08 2,73% Renda média 154.857.508,38 6.504.083,04 4,20% Renda alta 354.023.492,68 32.625.790,88 9,22%

Tabela 4 O setor turismo vis-à-vis a economia brasileira (2002)

Remuneração por tipo de família

Tipo de família Brasil Turismo (%) Miserável 51.956.861,72 3.573.097,50 6,88% Renda baixa 143.049.205,41 8.695.476,57 6,08% Renda média 103.647.166,26 5.316.134,27 5,13%

Renda alta 183.797.060,69 7.483.318,10 4,07%

Economia do Turismo

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4. Bibliografia

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