Johanna lindsey - ladies escravas e lordes tiranos 01 - assim fala o coração

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Transcript of Johanna lindsey - ladies escravas e lordes tiranos 01 - assim fala o coração

  • ASSIM FALA O CORAO SO SPEAKS THE HEART

    JOHANNA LINDSEY

    Seu violento noivo exigia

    sua submisso. Seu gentil

    corao exigia seu amor!

    Da grande escritora Johanna

    Lindsey, que j vendeu mais de

    60 milhes de livros. Com

    publicaes em mais de 12

    idiomas!

  • TRADUO: SORYU REVISO: SORYU

    2 REVISO: MRCIA DE OLIVEIRA FORMATAO: CRIS SKAU

    RESUMO

    Nascida em bero de ouro, Brigitte de Loroux foi vtima de uma traio e submetida servido. Ela tinha jurado jamais servir um homem. Mas de repente, surgiu em sua vida Rowland de Montville, um impetuoso e obstinado guerreiro, que ela entregaria sua inocncia devido inusitada paixo que aflorou em seu corao. Ambos vivero o feitio do verdadeiro amor.

  • ROMANCES CORRELACIONADOS

    * SRIE LADIES ESCRAVAS E LORDES TIRANOS

    ASSIM FALA O CORAO (1983) (PUBLICADO) A NOIVA CATIVA (1977) (EM REVISO PREVISO JULHO/2010)

    ESCRAVA DO DESEJO (1991) (PREVISO AGOSTO/2010) FOGO SECRETO (1987) (PREVISO SETEMBRO/2010)

    O AMOR DO PIRATA (1978) (PREVISO OUTUBRO/2010)

    **(OBSERVAO) ESTES LIVROS NO FORMAM UMA SRIE EM SI, MAS SO LIVROS COM TEMAS CORRELACIONADOS E PODEM SER VISTO COMO UMA SRIE, QUE NO NECESSRIO LER NA SEQUNCIA. NOVOS LIVROS PODEM SER ADICIONADOS A LISTA! MAIORES INFORMAES NAS PRXIMAS PUBLICAES!

    SORYU

  • NOTA DA REVISORA SORYU: O que eu posso falar sobre esse romance? perfeito!!! lindo, carregado de uma sutileza, de uma delicadeza incrvel, difcil de achar nos atuais romances. Esse livrinho extremamente bem escrito. Os personagens so extremamente bem trabalhados, eles vo mudando com o passar da narrativa, vo amadurecendo at criar laos eternos. Rowland um rapaz rude, que se irrita facilmente, criado sem amor, cuja honra o que movimenta sua vida! Brigitte uma mulher predestinada, inocente em certos pontos, que foi vitima de uma trama maquiavlica! Mas no perde sua postura, sua garra e seu desejo de reorganizar sua vida. O leitor se envolve na trama, e aos poucos os protagonistas vo se envolvendo. E vo descobrindo seus sentimentos. ATENO: Esse livro um livro forte, para quem gosta de fortes emoes, sofrimentos, altos e baixos, cenas fortes, muito fortes, que chegam a impactar ao leitor! Exige cuidado! Mas um cuidado adorvel! Extremamente adorvel!

  • CAPTULO I Frana, 972 D.C.

    Brigitte de Louroux suspirou, sem afastar seus claros olhos azuis do ganso cevado que jazia na sua frente sobre a mesa de trabalho. Com o cenho franzido, concentrada, a jovem continuou depenando o animal, tal como lhe tinham ensinado recentemente. Esta era uma tarefa nova para esta garota de dezessete anos, uma entre muitas s quais, com lentido, j comeava a habituar-se. Fatigada, a moa separou uma mecha de sua larga cabeleira loira do rosto.

    O sangue do ganso sacrificado salpicou no avental e na parte inferior da tnica de l parda, que aparecia por abaixo. Todos os finos vestidos de Brigitte se achavam danificados pelas imundas tarefas que agora lhe eram impostas. Entretanto, esse fatigante trabalho tinha sido escolhido por ela, jovem recordou a si mesma: sua prpria e obstinada eleio.

    Do outro lado da mesa se encontrava Eudora, observando Brigitte cumprir sua tarefa. Os olhos pardos de Eudora observaram de forma compassiva a sua ama, at que esta levantou o olhar e sorriu com uma expresso protetora.

    No justo! Resmungou a criada, e seus olhos ficaram subitamente repletos de fria. Eu servi na casa de seu pai durante toda minha vida, com grande satisfao, agora devo permanecer ociosa enquanto vocs trabalham.

    Brigitte baixou o olhar e seus olhos azuis se umedeceram. Isto melhor do que me render aos planos que Druoda tramou contra mim

    murmurou a menina. Essa dama muito cruel. Eu sei. disse Brigitte com uma voz suave. - Temo que no agrado tia de

    meu irmo. Ela uma cobra! exclamou Eudora com veemncia. A me de Eudora, Althea, atravessou a cozinha, agitando uma enorme colher. Ela uma santa, Eudora. Druoda nos obriga a cham-la de lady, mas no

    fundo ela no passa de uma vaca preguiosa. Cada dia que passa, ela se torna mais obesa, enquanto que eu s fao perder peso desde que cheguei aqui. Ela me disse que me cortaria os dedos se provasse o alimento enquanto cozinho, mas, eu me pergunto, como posso cozinhar sem provar a comida? Devo provar o que cozinho, entretanto, ela me probe. O que posso fazer?

    Eudora sorriu e enquanto fazia uma careta. Podamos jogar excrementos de frango em sua comida que ela no

    descobriria, devamos fazer isso. Brigitte sorriu. Voc no se atreveria, Althea. Druoda acabaria com voc, podendo at

    despedi-la. Se no te matasse antes. Chegaria possivelmente a te despedir.

  • verdade, milady. Althea soltou um breve risinho, e todo seu enorme corpo se sacudiu. Mas foi agradvel imagin-la, saboreando uma torta de excrementos.

    Eudora voltou a ficar sria novamente. Tudo foi terrvel para ns desde que Druoda comeou a mandar aqui. Ela

    uma dama muito cruel, e seu marido um covarde que no faz nada por det-la. Lady Brigitte no merecia ser tratada como a faxineira na mais humilde da manso. Sua fria se intensificou. Ela a filha da casa e seu meio irmo deveria ter assegurado o futuro da moa depois da morte de seu pai. Agora que ele...

    Eudora parou bruscamente e baixou a cabea envergonhada, mas Brigitte sorriu.

    Est bem, Eudora. Quintin est morto e estou consciente disso. S quis dizer que ele deveria ter feito certos arranjos com seu senhor. No

    justo que voc tenha que se submeter vontade de uma mulher como Druoda. Ela e seu marido vieram aqui suplicando a clemncia de lorde Quintin logo depois que o baro morreu. O jovem no deveria t-los aceitos. Agora j tarde. Ambos parecem acreditar que este feudo lhes pertence, e no a voc. Seu irmo foi um grande homem, mas neste caso...

    Brigitte silenciou outra jovem com um olhar severo, e seus claros olhos azuis brilharam com ferocidade.

    O que voc esta falando sobre Quintin injusto, Eudora. Meu meio irmo no podia saber que Druoda me manteria afastada do conde Arnulf. Mas o conde nosso senhor e, a partir de agora, meu legtimo tutor, no importa o que Druoda diga, ele mesmo se ocupar de estabelecer meu futuro. S devo chegar at ele.

    E como vai chegar ao conde se Druoda no lhe permite abandonar a manso? perguntou Eudora energeticamente.

    Encontrarei uma forma. A voz de Brigitte no parecia convincente. Se vocs tivessem outros membros da famlia. Althea suspirou, sacudindo

    a cabea. No tenho mais ningum. Voc deveria saber Althea, visto que se

    encontrava aqui quando meu pai se converteu no senhor de Lourox. Ele contava com poucos parentes, e os ltimos faleceram na campanha do rei para recuperar Lotharingia. Da parte de minha me no mais havia ningum, dado que ela se encontrava sob a tutela do conde Arnulf quando se casou com o baro.

    Milady, Druoda est forando a trabalhar como se fosse uma mera servente. Logo comear a bat-la tambm afirmou Eudora com a voz sria. Se voc conseguir chegar ao conde Arnulf, ento, sugiro que o faa imediatamente. No pode enviar um mensageiro?

    Brigitte deixou escapar um profundo suspiro. Quem, Eudora? Os serventes fariam com agrado o que eu lhes pedisse, mas

    necessitam de permisso para abandonar a manso.

  • Leandor, sem dvida, estaria disposto a ajud-la. Ou, inclusive, algum dos vassalos. Insistiu Eudora.

    Druoda tambm mantm Leandor confinado na manso declarou Brigitte. Nem sequer o permite ir at a abadia dos Bourges para comprar vinho. E convenceu aos vassalos de meu irmo de que seu marido, Walafrid, ser senhor do feudo aqui uma vez que ela consiga me desposar, e de que me encontrar um marido que no se atrever a despedi-los... De maneira que nenhum deles ousar lhe desobedecer por minha causa... O conde Arnulf se encontra a mais de um dia de viagem de Louroux. Como posso chegar at ele?

    Mas... Te cale, Eudora! ordenou Althea a sua filha com um olhar de advertncia.

    Est incomodando a nossa ama. Acaso lhe permitiria viajar sozinha pela campina? Converter-se-ia numa presa fcil de ladres e assassinos?

    Brigitte sentiu um calafrio, mesmo com o calor dos fogos da cozinha e ao suor que lhe corria pela frente. Observou com pesar o ganso morto, e pensou que se as perspectivas do futuro no podiam ser piores.

    Eudora olhou filha do baro com expresso compassiva. Por que no vai alimentar Wolff, milady? Eu terminarei de depenar o ganso

    em seu lugar. No. Se Hildegard entrasse e no me encontrasse trabalhando, correria para

    contar a Druoda. Quando Mavis se queixou por eu fazer tais tarefas, foi golpeada e expulsa. E eu no pude fazer nada para ajudar a minha velha amiga. Os soldados seguem as ordens da Druoda, no as minhas. E logo, descobri que Mavis tinha morrido na rota, assassinada por uns ladres! Perder ao Mavis foi como perder outra vez a minha me. A compostura de Brigitte comeou a desmoronar-se com rapidez.

    Imediatamente, a jovem secou as lgrimas que tinham brotado de seus olhos. Desde seu nascimento, Mavis se tinha encontrado a seu lado como sua dama de companhia. A anci celta tinha sido uma segunda me, um consolo e ajuda constante para sua pequena, protegida da morte da verdadeira me da menina.

    V, milady. Althea afastou docemente Brigitte da mesa. V alimentar a seu co. Ele sempre consegue te animar.

    Sim, v, milady. Eudora se aproximou da mesa para ocupar o lugar de sua ama. Eu terminarei de depenar o ganso. E se vier Hildegard, derrubaremos a com bofetadas.

    Brigitte sorriu ante a imagem da obesa faxineira de Druoda sendo esbofeteada. Logo, tomou um prato de sobras de comida para Wolff. Permitiu que Althea lhe colocasse seu manto de l sobre os ombros e, antes de abandonar a cozinha com cautela, assegurou-se de que o vestbulo estivesse vazio. Por fortuna, s dois criados se encontravam ali, ocupados em sua tarefa, nenhum deles elevou o olhar. Brigitte conhecia todos os serventes da manso por seu nome, visto que eles eram como da famlia; todos, exceto Hildegard, que tinha chegado com a Druoda e

  • Walafrid. Essa tinha sido uma casa feliz antes da inesperada morte de Quintn at a transformao da tia, de hspede a ama.

    L fora, o ar estava fresco. Brigitte caminhou nessa direo, passando junto s habitaes da servido, frente aos estbulos de cavalos e cabras. Junto a estes, encontrava-se o curral das vacas e, mais frente, os dos carneiros ao lado do curral de porcos. Wolff se achava prezo, ao lado do curral. Ali o tinha posto Druoda. Wolff, o co favorito de Brigitte, que nunca tinha conhecido mais que a liberdade, agora se encontrava to prisioneiro como sua proprietria.

    O pai da menina tinha encontrado ao animal sete anos atrs, no bosque que cobria a maior parte das terras entre o Louroux e o rio Loira. Brigitte logo que tinha completo dez anos, quando o baro levou o cachorrinho a casa. Era evidente que o animal se tornaria imenso e, sem dvida, no tinha sido a inteno do homem destin-lo como mascote de sua filha. Porm a pequena se apaixonou por Wolff a primeira vista e, mesmo que fosse proibida de aproximar-se do co, no era possvel mant-la afastada. Logo depois o animal se encantou com a menina, e j no houve mais razo para separ-los. Agora que Brigitte media um metro sessenta de altura, a imensa cabea branca de Wolff lhe chegava quase ao queixo. E, quando o animal se levantava sobre suas patas traseiras, superava menina em mais de trinta centmetros.

    Wolff tinha percebido a proximidade de sua proprietria e se sentou para aguard-la impacientemente junto entrada de seu recinto. Era estranho, mas o co sempre parecia conhecer os movimentos de Brigitte. Freqentemente, no passado, tinha sabido quando ela abandonava a manso e, por esta ciente disso, a acompanhava pelo caminho. Sempre tinha se resultado impossvel para a menina dirigir-se a qualquer canto sem a presena de Wolff. Mas Brigitte j no saia mais, e tampouco o co.

    A jovem sorriu quando abriu o porto do curral, para logo voltar a fech-lo, uma vez que sua mascote esteve fora.

    Sente-se como um rei, verdade? Por no ter que aguardar com seus amigos at a hora do jantar. Inclinou-se para lhe abraar, e suas largas tranas caram sobre a imensa cabea do animal. Mesmo que a maioria das mulheres de Berry acostumasse usar longos mantos de linho, Brigitte sempre os tinha detestado. Suas tranas no eram indecentes, e lhe agradava a liberdade de no levar constantemente a cabea coberta, embora sempre usasse um manto de linho branco para ir igreja.

    Sempre usava um vestido de l fileira parda ou, com o tempo quente, de algodo leve tingido de cor azul ou amarela. Suas tnicas eram geralmente azuis, de um linho claro no vero e de uma l escura no inverno.

    Pode agradecer a Althea por me tirar da cozinha, ou no estaria contigo agora.

    Wolff lanou um latido em direo casa antes de atacar sua comida. Brigitte riu e se sentou junto ao co, com as costas apoiada contra as estacas do curral. Dali, a jovem olhou por cima da elevada parede que circundava a manso.

  • Era difcil alm do alto muro, a menos que elevasse o olhar. Toda a manso, os estbulos, as cabanas dos serventes e os parques estavam rodeados por grosas paredes de pedra, principalmente na poca dos conflitos blicos. Seu av tinha lutado em vrias batalhas para conservar seu feudo e, em sua juventude, seu pai tinha sofrido numerosos ataques contra sua herana. Os ltimos vinte anos tinham visto tantas guerras com os sarracenos, que quase ningum na Frana contava com os homens necessrios para assediar os seus vizinhos. Brigitte apenas podia distinguir a horta situada na regio sul. A ltima vez que tinha visto florescer as rvores frutferas, sua vida era completamente diferente. Um ano atrs, ao lado de Quintin e Mavis. O feudo pertencia a Quintin, embora ela sempre tivesse seu dote matrimonial. Agora tudo lhe pertencia, mas no podia govern-lo. Devia casar-se, ou a posse do feudo voltaria para o poder do conde Arnulf.

    Brigitte refletiu sobre seu patrimnio. Era uma propriedade valiosa, com numerosos acres de terra frtil no centro da Frana, abundante fauna nos bosques e uma prspera aldeia. E, durante vinte e sete anos, tudo tinha pertencido a Thomas de Louroux, seu pai.

    A manso era magnfica. Lorde Thomas a tinha construdo no mesmo lugar da antiga casa, depois de ter sido esta incendiada durante um ataque dirigido por um vassalo rebelde do conde Arnulf. A metade da aldeia e a manso tinham sido queimadas, e muitos servos morreram. As cabanas de argamassa e juncos puderam ser reconstrudas, mas no foi assim com os serventes. Com o tempo, entretanto, a aldeia tinha crescido, e agora contava com uma numerosa servido, ligada a terra e ao Louroux. Uma fortaleza se construiu para proteger a propriedade, levantado sobre uma colina nua a pouco mais de um Quilmetro para o norte.

    Brigitte olhou nessa direo e observou a elevada torre iluminada pelo sol da tarde. Ali tinha nascido Quintin. Um lugar incomum para um nascimento de uma criana, mas a primeira esposa de Thomas de Louroux se encontrou inspecionando o local, no momento de chegar as primeiras dores.

    Lorde Thomas havia desposado com Leonie de Gascua pouco depois de converter-se em vassalo do conde Arnulf. Lady Leonie era a filha de um cavalheiro sem terras, mas a pobreza da dama no tinha sido suficiente para desanimar a um homem apaixonado. Ela brindou seu marido com um formoso filho, nascido pouco depois das bodas. Mas a sorte no durou. Quando Quintin fez quatro anos, sua me viajou a Gascua para assistir bodas de sua nica irm, Druoda, com um escrivo, Walafrid de Gascua. Leonie e toda sua corte foram cruelmente assassinadas por soldados de Magyar, enquanto atravessavam Aquitaine na viagem de volta ao Louroux.

    Thomas se achou fora de si com sua perda e o conde Arnulf, aflito ante a infelicidade de seu vassalo predileto, persuadiu a casar-se com sua mais formosa pupila, Rosamond de Berry. Depois de um adequado perodo de luto, Thomas obedeceu, e a encantada Rosamond conseguiu cativar seu corao. Seu abundante

  • dote resultou numa bno para Louroux. Acaso algum outro homem podia ser to afortunado de amar a duas mulheres e encontrar a felicidade com cada uma delas?

    Anos depois, Rosamond deu luz a uma menina, a quem ela e Thomas chamaram Brigitte, a beleza da pequena era evidente desde seu nascimento. Nesse perodo, Quintin tinha oito anos e j era escudeiro do conde Arnulf, em cujo castelo ele se encontrava aprendendo as habilidades de um guerreiro. Brigitte era uma menina feliz, amada por seus pais e adorada por seu meio irmo. Embora s o visse nas breves visitas dele manso, no poderia t-lo amado mais mesmo que ele tivesse sido seu verdadeiro irmo, ou tivesse vivido em sua constante companhia.

    A vida era maravilhosa para Brigitte, at que aconteceu a morte de sua me, quando ela s tinha com doze anos. Pouco depois, sentiu-se ainda mais desolada Quando Quintin, armado cavalheiro dois anos depois, partiu com o conde Arnulf em uma peregrinao para Terra Santa. Seu pai a consolou como pde, embora sua dor fosse imensa. Seu pai a mimou terrivelmente durante os anos seguintes. Brigitte se tornou arrogante e intransigente, mas seu orgulho foi castigado quando morreu seu pai trs anos mais tarde.

    Por fortuna, Quintin retornou a casa em 970, pouco depois da morte do baro, para assumir a autoridade de senhorio de Louroux, depois de uns meses, chegaram Druoda e seu marido, e insistiram que ele os acolhesse na manso. Quintin no se atreveu a negar as demandas de sua tia e o marido. Druoda parecia uma mulher submissa e retrada. De fato, Brigitte virtualmente no notava a presena da dama na casa, exceto durante as comidas. Seu irmo tinha chegado para ficar e isso era o nico que importava pequena. Ambos se consolavam mutuamente pela morte de seu pai.

    Ento, o abade do monastrio borgos de Cluny foi seqestrado por piratas sarracenos, enquanto cruzava os Alpes atravs do passado do Grande So Bernardo. O conde de Borgoa se encolerizou e solicitou a ajuda de seus vizinhos para desfazerem-se suas terras de assaltantes sarracenos, que tinham aterrorizado todas as passagens ocidentais dos Alpes e o sul da Frana durante mais de um sculo. Embora o Conde Arnulf jamais se visse prejudicado por tais piratas, necessitava de Borgoa como aliado, e aceitou enviar muitos de seus vassalos e cavalheiros para comear batalha contra os saqueadores. E Quintin foi tambm destinado a lutar.

    Ele se sentiu encantado. A vida de um cavalheiro era a guerra, e ele tinha estado ocioso durante mais de um ano. Tomou maioria de seus vassalos e homens, e a metade dos soldados que vigiavam a fortaleza. S deixou sir Charles e a sir Einhard, ambos os ancies e propensos a freqentes enfermidades, e tambm a sir Stephen, um dos cavalheiros da casa.

    E assim, partiu Quintin em uma brilhante manh, e foi essa a ltima vez que Brigitte viu seu meio-irmo. A jovem no sabia dizer com exatido quando o escudeiro de Quintin, Hugh, tinha levado as notcias de sua morte. S sabia que tinham acontecido vrios meses antes que ela pudesse superar o forte impacto emocional. Porm, podia recordar com claridade as palavras do Hugh: "Lorde

  • Quintin caiu quando os nobres franceses atacaram uma das bases piratas em Rdano." A dor jamais abandonou a jovem.

    Brigitte se achava muito aturdida pelas mortes acontecidas em sua famlia para perceber as mudanas que estavam acontecendo em sua casa, ou para perguntar-se por que os vassalos de Quintin no retornavam, ou porqu Hugh tinha voltado para a costa sul, Mavis tinha tratado de lhe advertir que notasse tais mudanas, em particular, a transformao de Druoda. Mas s pode compreender quando encontrou Wolff trancado com os outros ces.

    Brigitte enfrentou a Druoda. Foi ento quando, pela primeira vez, percebeu que a tia de seu irmo no era a mulher que ela tinha acreditado conhecer.

    No me chateie com besteiras, menina! Tenho assuntos mais importantes que atender! Disse Druoda com arrogncia.

    Brigitte se irritou. Com que direito...? Com todo o direito! interrompeu-a Druoda. Como sou a nica parente

    de seu irmo tenho todo o direito de assumir a autoridade nesta casa. Voc ainda uma donzela e necessita um tutor. Naturalmente, Walafrid e eu seremos nomeados responsveis.

    No! replicou a menina. O conde Arnulf ser meu tutor. Ele se ocupar de velar por meus interesses.

    Druoda era quinze centmetros mais alta que Brigitte, e se aproximou para amedront-la.

    Minha menina, voc no ter voz neste assunto. As donzelas no escolhem seus tutores. Bem, se no tivesse parentes, ento o conde Arnulf, como senhor de seu irmo, passaria a ser seu tutor. Mas voc no est sozinha, Brigitte.

    Druoda esboou um sorriso presunoso e adicionou: Tem a mim e ao Walafrid. O conde Arnulf nos outorgar seu tutoria. Eu falarei com ele respondeu a menina com segurana. Como? No pode abandonar Louroux sem uma escolta, e vejo que terei que

    lhe negar isso. E o conde Arnulf no vir at aqui, visto que ainda no sabe que Quintin morreu.

    Brigitte afogou sua exclamao. Por que no foi informado? Acreditei que seria melhor aguardar disse Druoda com indiferena. At

    que te desposasse. No h necessidade de incomodar a um homem to ocupado com a busca de um marido adequado, quando eu sou perfeitamente capaz de escolh-lo sem sua ajuda.

    Escolh-lo voc? Jamais! exclamou a menina com indignao. Eu mesma escolherei meu marido. Meu pai me prometeu a liberdade de escolher, e Quintin esteve de acordo. O conde Arnulf sabe.

    No seja ridcula. Uma menina de sua idade muito jovem para tomar uma deciso to importante. Mas que idia to absurda!

  • Ento no me casarei! afirmou Brigitte impulsivamente. Irei para um convento de monjas! Druoda sorriu e comeou a caminhar pela habitao com ar pensativo, enquanto falava.

    Seriamente? Uma dama que jamais trabalhou, s sabe fiar? Pois ento, se desejas ser novia, deve comear imediatamente sua capacitao. Voltou a sorrir. Sabia voc que as novias trabalham dia e noite como vulgares faxineiras? Brigitte elevou o queixo com atitude desafiante, mas no respondeu.

    Pode comear sua aprendizagem aqui e agora. Sim, isso poderia ajudar a melhorar sua disposio.

    A menina assentiu obstinadamente. Demonstraria a Druoda que poderia ser uma perfeita novia. Tampouco mudou de opinio quando, dias depois, retornou ao seu quarto e percebeu que todos seus pertences tinham desaparecido. Ento, Druoda a aguardava para lhe informar que s novias no possuam elegantes dormitrios e que, a partir de agora, viveria em uma dos estabelecimentos dos serventes no outro lado do ptio.

    Mesmo assim, Brigitte jamais considerou a idia de abandonar a manso. Nem sequer quando sir Stephen se recusou a levar sua mensagem a Arnulf, pensou a menina em viajar sozinha para a casa do conde. Mas quando Mavis foi expulsa, Brigitte teve que ser aprisionada para impedir que partisse com a donzela. Trs dias depois, a jovem foi liberada.

    O tempo perdido no deteve a menina. Dirigiu-se diretamente ao estbulo, sem pensar nas conseqncias que poderia conduzir o abandonar sozinha a manso. Leandor, o oficial de Louroux, detalhou-lhe os perigos quando a descobriu preparando seus arreios.

    Se partires, arriscar-se- a ser estuprada e assassinada tinha-lhe advertido o homem, irado ante a imprudncia da menina. Milady, no posso deix-la ir sem escolta.

    Irei, Leandor tinha respondido Brigitte com tom firme. Se no pode encontrar Mavis, ento, cavalgarei at o castelo do conde Arnulf e conseguirei sua ajuda. J hora de que ele se inteire das sujas jogadas de Druoda. Deveria ter partido muito antes.

    E se te atacam no caminho? Ningum se atreveria. A pena por ferir uma mulher nobre muito grande.

    Devo encontrar a Mavis. Leandor baixou a cabea. No desejava revelar, mas sua dama de companhia foi encontrada ontem

    noite. Est morta. A menina retrocedeu estupefata. No sussurrou, sacudindo a cabea. No, Leandor. Uma mulher s nunca est segura, nem sequer uma anci como Mavis. E

    voc, milady, com sua beleza, arriscar-se-ia muito mais que um mero assassinato. Ante a inesperada morte de seu fiel amiga, a jovem se havia sentido abatida uma vez mais. E as sinistras predies do Leandor tinham conseguido debilitar sua

  • determinao de abandonar a casa sem escolta. Aguardaria. Cedo ou tarde, o conde Arnulf teria que aparecer. Enquanto isso, Druoda devia acreditar que ela ainda tinha intenes de ingressar em um convento. Talvez, isso deteria os propsitos casamenteiros da dama... ao menos, por um tempo.

  • CAPTULO II

    Arles, uma antiga cidade no corao da Provenza, tinha sido construda vrios sculos atrs beira do rio Rdano. Alguma vez foi uma importante comunidade romana, era denominada "a pequena Roma", e ainda se conservavam dessa poca algumas antiguidades, como um palcio levantado pelo Constantino, um anfiteatro e uma areia, ainda intactos.

    Arles era uma cidade desconhecida para o Rowland de Montville . Mas inclusive um lugar estranho jamais podia apresentar dificuldades para um jovem cavalheiro. Desde o momento que abandonou seu lar na Normandia seis anos atrs, ele se enfrentou incontveis desafios e advertido quo deficiente era, em realidade, na sua educao.

    Rowland tinha aprendido a arte de escrever, feito pouco comum entre os nobres, e, alm disso, era um nato guerreiro. Mas muitos nobres franceses sem instruo o consideravam vulgar, intratvel, porque o jovem no era refinado. Ele se assemelhava a seu pai, um rstico nobre rural.

    O jovem era consciente de sua falta de refinamento. Em todos esses anos, depois de abandonar Luthor de Montville, mais de uma vez tinha amaldioado o seu pai por ter descuidado desse aspecto de sua educao. As damas se sentiam ofendidas por Rowland. Os cavalheiros de menor categoria riam ante sua vulgaridade, o qual tinha provocado mais de uma rixa durante todo esse tempo.

    Ele tratou de melhorar. Fez que seu escudeiro lhe ensinasse as corretas regras de etiqueta, mas suas maneiras recentemente adquiridas lhe causavam mal estar e se sentia muito tolo. Como poderia desfazer-se dos dezoito anos de educao vulgar? Sem dvida, no era essa uma tarefa fcil de executar.

    Em Arles, o jovem se surpreendeu ao topar-se com outro cavalheiro instrudo por Luthor. Roger de Mezidon tinha a alma negra, se era isso possvel, e Rowland tinha esperado no voltar a ver o homem nunca mais. Ele ainda no se recuperou de seu assombro, quando foi abordado por GUI de Falaise, quem tinha viajado at Arles precisamente para lhe encontrar.

    As ordens de seu pai foram, como de costume, muito explcitas declarou GUI, logo depois de abraar-se com o Rowland e trocar notcias. Fazia seis anos que no se viam, mas tinham sido muito amigos Eu no devia retornar manso sem antes te haver encontrado!

    Nesse caso, no faltaste a seu dever afirmou Rowland com secura. A ele no lhe agradava que GUI tivesse jurado lealdade ao seu pai, mas era consciente de que o homem no conhecia o Luthor to bem como ele.

    Bom, te encontrar era s parte de minha misso reconheceu GUI. A outra parte te levar de volta comigo. Rowland se surpreendeu, mas se forou a ocultar seu assombro.

    Por qu? perguntou com tom severo. Acaso a idade conseguiu enternecer meu pai? Esqueceu ele que me expulsou de casa?

  • Segue ainda ressentido, Rowland? Os olhos verdes do GUI refletiram uma profunda preocupao.

    Voc sabe que eu s queria lutar pelo rei da Frana, que era o senhor de nosso duque. Mas Luthor se negou. Converteu-me em um valoroso guerreiro, mas jamais me permitiu demonstrar minhas habilidades. Santo Deus, em toda minha vida no me afastei de Montville nenhuma s vez, e ali estava eu, com dezoito anos e um pleno cavalheiro, e meu pai pretendia me reter em casa como se tratasse de um beb de fraldas. No foi possvel toler-lo.

    Mas sua rixa com o Luthor no foi pior que outras insistiu GUI. Batia-te, como sempre o fazia, corpo a corpo.

    Os olhos azuis de Rowland se obscureceram. Sim, isso viu voc, mas no ouviu as palavras que pronunciava logo depois.

    Eu tambm fui responsvel, admito-o, porque ele me provocou com sua presuno de que jamais perderia um combate frente a mim, nem mesmo quando se estivesse aproximando da tumba. Se ele no tivesse feito tal alarde diante de sua esposa e filhas, eu no teria afirmado que me partiria sem sua permisso para, provavelmente, no retornar jamais. Mas ele disse irado, e ele ento respondeu: "Sai e ser o fim! Jamais te permitirei que retorne!".

    No sabia que tinham chegado a tanto. Mas isso ocorreu faz seis anos, Rowland, e as palavras ditas com fria no devem ser recordadas para sempre.

    Mas ele o disse, e meu pai jamais se retrata. Mesmo que esteja equivocado, e sabe muito bem que o est no capaz de retificar.

    Sinto muito, Rowland. Nunca soube a gravidade da disputa. Partiu, e eu sabia que tinha brigado com o Luthor, mas ele jamais voltou a falar disso desde que foi. Agora compreendo por que ele nunca esteve seguro se voltaria para casa ou no. Mas sei que o velho guerreiro te sentiu falta. Estou convencido de que teria me enviado a ti muito antes, se tivesse encontrado a forma de faz-lo sem perder seu prestgio. Voc conhece o Luthor: todo orgulho.

    Ainda no me h dito por que foi levantada minha expulso. Seu pai quer que esteja perto para reclamar seu feudo em caso de que ele

    morra informou GUI com brutalidade. O rosto de Rowland empalideceu lentamente. Luthor est morrendo? No! No quis dizer isso. Mas est com certo problema. Sua meio-irm,

    Brenda, casou-se. De modo que a bruxa por fim conseguiu companheiro Roland deixou

    escapar um breve risinho. Presumo que o sujeito tem que ser estpido e de aspecto repugnante.

    No, Rowland, casou-se com Thurston de Mezidon. O irmo de Roger! exclamou Rowland. Ele mesmo.

  • Por qu? Thurston era um homem arrumado e agradava muito s damas. Por que quereria ele casar-se com a Brenda? A moa no s to nojenta como sua me, mas alm disso terrivelmente feia.

    Acredito que o dote da jovem o atraiu sugeriu GUI com tom vacilante. Mas o dote matrimonial de Brenda no era muito grande. Ouvi que lhe fez acreditar o contrrio; e a moa estava apaixonada. Tambm

    se diz que Thurston quase a mata de pancadas na noite de npcias, uma vez que descobriu que a dote no era nem a metade do que ele tinha esperado.

    Suponho que ela mereceu cada tapa disse Rowland espontaneamente. Todo mundo sabida da falta de amor entre o Rowland e suas duas meias-irms

    maiores. Ele tinha sofrido cruelmente nas mos das mulheres desde sua mais tenra infncia sem que ningum o protegesse. Na verdade no sentia nada por elas agora, nem sequer compaixo.

    E minha irm Ilse prosseguiu Rowland, ela e seu marido continuam vivendo com o Luthor?

    OH, sim. Geoffrey jamais abandona suas bebedeiras o suficiente para construir uma manso em seu pequeno feudo respondeu GUI com tom depreciativo. Mas se produziu uma importante mudana. Geoffrey subitamente fez uma ntima amizade com Thurston.

    ? Esse um mau pressgio para o Luthor. Tem um genro que est furioso pela

    miservel dote de Brenda e que quer muito mais de Montville . Seu outro genro vive sob seu mesmo teto e afvel com Thurston. Luthor sente que deve manter-se em guarda agora, visto que muito possvel que seus dois genros se unam contra ele.

    O que pode temer Luthor? Tem suficientes homens. No subestime Thurston. Esse sujeito tem a ambio e a cobia de dois

    homens. Fez saques violentos em Bretaoa e Maine, conseguiu juntar um exrcito bastante grande, o suficiente para obrigar a Luthor reforar seu exercito em Montville. Esta certo que acontecer uma guerra se no assassinarem antes ao ancio senhor.

    Acha que Thurston seria capaz de recorrer ao assassinato? Sim, Rowland, isso acredito. J houve um acidente inexplicvel. E se

    morrera Luthor sem que voc estivesse ali para reclamar Montville, Thurston e Geoffrey o reclamariam para si e necessitaria de um exrcito to poderoso como o do duque para recuper-lo.

    E se no o quero? No pode dizer isso, Rowland! Seria capaz de abandonar os cavalos que

    amas, a terra que Luthor deseja para ti? Rowland enfiou uma mo em sua abundante cabeleira ondulada. No havia

    razo para fingir. verdade, desejo-o. a nica coisa que quero de Luthor.

  • Ento, retornar para casa? perguntou GUI, esperanoso. Embora tenha jurado no faz-lo?

    Eu sou como meu pai em muitos aspectos, GUI, falo uma tolice, no vou lev-la at a cova. Sustento-a durante algum tempo, talvez, mas no para sempre. Rowland soltou um leve risinho. Embora ele tambm se retratasse, ou ao menos, isso parece.

    Mudasse, meu velho amigo. Recordo suas muitas brigas com o Roger de Mezidon s porque no queria retificar uma afirmao. Topaste-te com esse descarado em algum de suas viagens?

    Est aqui, com o conde de Limousin. GUI se surpreendeu. Inteiramo-nos que a habilidade de Roger. Ele conseguiu juntar terras por

    todo o reino. Pergunto-me como tem tempo de servir a tantos senhores. to ambicioso como seu irmo maior, Thurston. E falaste com o Roger? pergunto GUI com ansiedade. Rowland encolheu os ombros. Sim, vi-lhe. No me provocou tanto como estava acostumado a faz-lo, mas

    agora no est to seguro de poder me vencer. Cresceste muito da ltima vez que te vi. Est mais alto e mais musculoso

    tambm. Apostaria que inclusive mais alto que Luthor agora e ainda no vira um s homem que pudesse olhar ao ancio por acima.

    Os lbios de Rowland se curvaram em uma careta de satisfao. Seja como for, superei Roger, para desgraa do patife. Mas mudasse em outros aspectos? aventurou-se a perguntar GUI, e seus

    olhos verdes brilharam. Acaso os francos conseguiram te abrandar? Agachou subitamente a

    cabea, antecipando o golpe brincalho de seu amigo. No? de supor ento que agora teremos dois Luthors em casa? Rowland soltou um grunhido. Ao menos, eu s golpeio quando algum me provoca, o qual muito mais

    do que pode dizer-se de meu pai. Era verdade. Luthor de Montville era um homem rude, robusto, a quem outros

    senhores enviavam seus filhos para adestrar-se, dado que os meninos retornavam a casa convertidos em fortes e bons guerreiros.

    Rowland era o nico filho varo de Luthor, seu bastardo. O lorde no dava importncia a esse fato, mas ele detestava sua condio. A me de Rowland procedia de uma aldeia prxima. Uma mulher sem dinheiro, nem famlia, tinha morrido no parto, conforme tinham informado a ele, e a parteira tomou ao menino a seu cuidado. Luthor jamais soube da existncia desse filho at um ano meio mais tarde, quando a anci que tinha atendido Rowland estava a ponto de morrer e fez chamar o lorde.

    Luthor no tinha outro filho varo, por isso levou para casa Rowland, para perto de sua esposa, expressando uma vez mais seu desprezo por Hedda, porque esta s lhe tinha dado duas meninas. Hedda odiou o beb no primeiro momento e jamais

  • se ocupou dele, at que o menino cresceu o suficiente para sentir a maldade de sua madrasta. Desde que Rowland cumpriu os trs anos, Hedda e suas filhas lhe batiam por qualquer razo.

    Luthor jamais fez nenhum esforo por impedir o cruel tratamento de que era objeto seu filho. Ele mesmo tinha sido criado com rudeza e acreditava que toda sua fora se devia a sua dura juventude.

    Com seu pai, Rowland aprendeu a reprimir a ternura e a controlar todos seus sentimentos, exceto a ira. Ele foi treinado para correr, saltar, nadar, cavalgar, lanar a fmea de javali ou a tocha de armas com incrvel preciso, e empunhar a espada ou usar os punhos com brutalidade e destreza. Luthor soube ensinar bem a seu filho, batendo-o pelos enganos cometidos e lhe elogiando de muito m vontade os acertos. A infncia dele ficou marcada por surras recebidas no s dentro, mas tambm fora do lar, j que os filhos dos nobres levados ao Luthor para o adestramento eram maliciosos, em especial, Roger de Mezidon, que era dois anos mais velho que Rowland e tinha chegado ao Montville quando o menino logo que tinha cinco. As sovas dirias continuaram at que Rowland adquiriu suficiente fora para defender-se. E se Luthor no impediu os cruis entendimentos da Hedda e suas duas filhas quando ele era pequeno e indefeso, tampouco deteve Rowland quando este cresceu o suficiente para devolver os golpes.

    A vida resultou mais fcil para o jovem uma vez que respondeu ao primeiro ataque. Logo depois, no voltou a exercer represlias contra as mulheres da casa. Preferiu ignor-las. J no havia razo para temer o abuso das damas e s se ocupou de repelir os golpes dos moos maiores e de Luthor.

    Podemos partir pela manh? perguntou GUI a seu amigo quando chegaram moradia de Rowland nos subrbios do Arles. Uma vez ganha a batalha, a cidade inteira se entregou celebrao e j no havia razo para permanecer ali. Quanto antes nos partamos, melhor. Levou-me quase meio ano te encontrar.

    E o que te fez me buscar aqui? inquiriu Rowland. A batalha, certamente respondeu GUI com um amplo sorriso. Algo que

    aprendi que em qualquer lugar que esteja a guerra, ali voc estar. J deve ter tantos feudos como Roger, depois de todas as batalhas que livraste. Rowland deixou escapar uma breve risada e seus olhos brilharam como safiras.

    Eu brigo por ouro, jamais por terra. A terra precisa cuidados, e me agrada a liberdade de vagar a meu prazer.

    Ento, deve possuir uma valorosa fortuna em ouro. Rowland sacudiu a cabea. A maior parte se foi com mulheres e bebida, mas mesmo assim, tenho

    alguma fortuna. E saqueou os sarracenos? Isso tambm. Esses piratas tm sedas e peas de cristal, abajures em ouro,

    por no mencionar as jias. E a batalha?

  • Houve muitas batalhas Respondeu Rowland Os sarracenos tm acampamentos ao longo de toda a costa. Mas a mais importante se encontra na Niza. Entretanto, no tiveram uma boa atuao, porque brigavam sem armadura. Caram como camponeses frente aos hbeis cavalheiros. Alguns conseguiram escapar em seus navios, mas saqueamos seus acampamentos e logo ateamos fogo.

    Suponho que cheguei bem a tempo, ento. Sim. Meus servios ao duque da Borgoa terminaram. Podemos partir pela

    manh. Mas esta noite, esta noite te farei passar um momento agradvel, mon ami. Conheo um botequim apropriado junto entrada do norte, onde servem uma saborosa sopa e cerveja doce. Rowland riu de repente. No imagina quanto senti falta da cerveja de meu pai. Os franceses podem afogar-se em seu maldito vinho, eu sempre estarei disposto a beber cerveja com os camponeses.

    Rowland pegou seu chicote e embainhou sua larga espada; logo, colocou um longo manto de l sobre os ombros. Atrs deixou a cota e a armadura. Ele tinha crescido para converter-se em um homem de esplndida figura, pensou GUI com satisfao. Duro como uma rocha, firme e forte, Rowland era um verdadeiro guerreiro. Admitisse ou no, Luthor estaria orgulhoso de ter a este filho a seu lado na batalha.

    GUI deixou escapar um suspiro. Rowland tinha crescido sem o amor de uma s pessoa. Era natural que, em ocasies, Ele fosse spero, cruel e se irritasse com facilidade; tinha todo o direito a s-lo. Mesmo assim, Rowland tambm possua excelentes qualidades. Era capaz de demonstrar tanta lealdade por um homem, como dio por outro. E no lhe faltava senso de humor. Na verdade, Rowland era um grande homem.

    Devo te advertir, GUI disse ele quando entraram na cidade. Roger de Mezidon tambm tem descoberto as virtudes do botequim a que nos dirigimos, j que certa donzela apanhou seu interesse ali.

    E o teu tambm, sem dvida demarcou GUI com tom divertido. Voc e ele sempre se sentiram atrados pelas mesmas mulheres. Competiram tambm por esta?

    Rowland fez uma careta ante a lembrana recente. Sim, brigamos. Mas o trapaceiro se aproveitou enquanto eu estava despreparado, depois de que eu tinha tomado umas quantas taas de mais.

    Ento perdeu? No isso acaso o que acabo de te dizer? respondeu Rowland com

    brutalidade. Mas essa ser a ltima vez que brigarei com um homem por algo to insignificante. As mulheres so todas iguais e muito fceis de conseguir. Ele e eu temos inteligncia o suficiente para no brigar por um par de saias.

    Ainda no me perguntaste pela Amlia observou GUI com cautela. verdade, no te perguntei replicou Rowland. No sente curiosidade?

  • No respondeu. Perdi meus direitos sobre a Amlia ao partir. Se ela ainda seguir livre na minha volta, ento, talvez, voltarei a reclam-la. Se no... encolheu-se os ombros. Encontrarei outra. No tem muita importncia para mim.

    A moa est livre Rowland. E te esperou fielmente durante estes seis anos. No lhe pedi que o fizesse. Mesmo assim, ela aguardou. A moa espera casar-se contigo e Luthor est

    de acordo. J comeou a trat-la como a uma filha. Rowland deteve a marcha e franziu o cenho. Ela sabe que eu no estou disposto a me casar. O que brindou o matrimnio

    a meu pai mais que um par de filhas aproveitadoras e uma esposa nojenta? No pode comparar a todas as mulheres com sua madrasta afirmou

    GUI. Com segurana, suas viagens pela Frana te demonstrou que nem todas as damas so iguais.

    Ao contrrio. Aprendi que uma mulher pode ser muito doce quando quer algo, mas, de outra maneira, uma bruxa. No, no desejo uma esposa que me esteja enganando todo o tempo. Prefiro queimar no inferno a me casar.

    Est atuando como um besta, Rowland aventurou-se a afirmar GUI . J sei que h dito isto antes, mas pensei que tinha trocado de opinio. Deveria te casar. Desejar um filho algum dia. Deve ter a algum a quem deixar Montville.

    Com segurana, terei um ou dois bastardos. No preciso me casar para isso. Mas... Os escuros olhos azuis de Rowland se entrecerraram. Tenho uma opinio muito firme sobre isto, GUI, de maneira que no siga me

    perseguindo. Muito bem aceitou GUI com um suspiro. Mas, o que acontecer Amlia? Ela j conhecia minhas idias quando veio a minha cama. muito besta se

    pensou que voltaria a consider-lo. Reataram a marcha e Rowland suavizou seu tom ao prosseguir. Alm disso, a ltima mulher que eu recomendaria por esposa. Tem uma

    boa figura e bonita, mas muito promiscua. Roger a teve antes que eu, e sem dvida, tambm muitos outros antes que ele. Voc mesmo, possivelmente, tambm saboreaste moa. Vamos admite- o.

    O rosto do GUI avermelhou e se apressou a trocar de tema. Quanto falta para chegar a esse botequim? Rowland soltou uma estrondosa

    gargalhada ao perceber a inquietao de seu amigo e o deu uma palmada nas costas. Te tranqilize, mon ami. Nenhuma mulher merece uma disputa entre

    amigos. Tem minha permisso para possuir a qualquer dama que eu tenha. Como te disse antes, todas so iguais e muito fceis de conseguir, inclusive Amlia. E, com respeito a sua pergunta, o botequim est ali diante. Assinalou um edifcio situado ao final da rua. Dois cavalheiros se encontravam deixando o lugar e ambos o saudaram com a mo.

  • Esses homens brigaram a meu lado na ltima batalha explicou Rowland. Borgoeses do Lyon. Ao que parece, todo o reino colaborou na expulso dos sarracenos. Inclusive os saxes enviaram a seus Cavalheiros.

    Se eu tivesse chegado antes, eu teria lutado tambm. comentou GUI com melancolia.

    Rowland deixou escapar um breve risinho. Ainda no saboreaste sua primeira batalha? Suponho que Luthor no ter

    estado ocioso durante todos estes anos, ou sim? No, mas foram s combate contra bandidos. Ento, deve esperar ansioso o enfrentamento com o Thurston. GUI sorriu, ao mesmo tempo em que chegavam ao botequim. Para falar a

    verdade, no pensei muito nisso. O nico que me preocupou desde que sa de casa foi a possibilidade de no conseguir te fazer voltar, dado que, se isso ocorria, eu tampouco poderia retornar.

    Ento, deve-te sentir muito aliviado, n? Sem dvida. GUI soltou uma gargalhada. Preferiria enfrentar ao

    demnio, antes que fria de Luthor. Ao entrar, encontraram o botequim repleto de cavalheiros que bebiam junto a

    seus escudeiros e soldados. O lugar era de pedra e muito espaoso. Os homens se achavam junto enorme fogueira, onde se assava a carne ou congregados em grupos, conversando. Havia mesas de madeira com bancos de pedra e a maioria j se encontrava ocupados. Face existncia de duas portas, uma a cada lado da imensa habitao, o lugar estava muito quente e carregado. Quase todos os cavalheiros levavam postos trajes de couro e malhas de ferro; seus escudeiros, s o objeto de couro. Nenhum deles parecia muito cmodo.

    Em casa, longe da batalha, Rowland e seus vizinhos, GUI, Roger, Thurston e Geoffrey, todos preferiam a capa de trs lados sobre a larga camisa que usavam sob o traje de couro. Sujeita sobre um s ombro, a capa lhes permitia livre acesso espada que sempre levavam, mas no era to incmoda como a cota ou a tnica de couro. Rowland, entretanto, estava acostumado a preferir a tnica, dado que nunca tinha conseguido habituar-se capa. Acha que o traje era efeminado, e o fato de que Roger de Mezidon se visse efeminado com o objeto a tornava at mais repugnante aos olhos dele.

    Roger se encontrava no botequim com dois de seus vassalos e seus escudeiros. GUI tinha viajado sem seu prprio escudeiro e o de Rowland se encontrava sozinho visto que tinha perdido o seu escudeiro, e ainda no tinha sido substitudo.

    Rowland conhecia um dos vassalos de Roger, sir Magnus, quem era tutelado do pai de seu senhor. Ao igual ao filho de Luthor, sir Magnus tinha vinte e quatro anos e tinha recebido seu treinamento junto com o GUI e Roger e o mesmo Rowland. Roger, de vinte e seis anos, era o maior de todos e, de um princpio, transformou-se no lder. Tinha sofrido uma penosa juventude, com a certeza de que, como segundo filho, deveria lavrar seu prprio caminho no mundo. Invejava Rowland porque,

  • bastardo ou no, Ele estava seguro de possuir Montville algum dia. O fato de que um bastardo fosse a herdar, enquanto que ele, filho de um nobre, no contaria com tal privilgio, resultava-lhe muito irritante. Rowland e Roger rivalizavam em tudo e este, sendo o maior, geralmente ganhava e, em cada oportunidade, se vangloriava com malcia pela vitria. Durante toda sua juventude, ambos os jovens tinha brigado e discutido mais que se tivessem sido irmos, e a luta no tinha cessado com a idade. Roger percebeu a chegada de Rowland e decidiu ignorar. Mas sir Magnus viu o GUI e se levantou para lhe saudar.

    Santo Deus, GUI de Falaise, o pequeno! exclamou Magnus com efuso. passaram anos da ltima vez que te vi. No tomou ao velho Luthor de Montville como seu senhor?

    Sim respondeu GUI com tom severo. Ficava enfurecido quando algum o chamava daquele apelido de infncia. O

    pequeno. De fato tinha uma estatura pequena, e esse fato no podia modificar-se. Isso lhe tinha convertido em objeto de brincadeiras quando era jovem e uma pea fcil para homens como Roger e Magnus, que estavam acostumados a tirar vantagens de seus enormes tamanhos. Rowland se tinha compadecido dele e tinha tentado lhe proteger, lutando freqentemente em seu lugar. Isto tinha criado um vnculo entre ambos, e GUI sentia que, por essa razo, devia a seu amigo uma inflexvel lealdade.

    E o que trouxe para o vassalo de Luthor at o Arles? perguntou Roger. H problemas... Antes que GUI pudesse continuar, Rowland lhe deu uma cotovelada nas

    costelas e interveio. Meu pai sentiu minha falta disse com tom jovial, fazendo com que Magnus

    se engasgasse com sua cerveja. Todos os pressente sabiam que tal afirmao era absurda. Roger franziu o cenho ante a resposta e Rowland previu que uma batalha o aguardava na Normandia.

    Ele se sentou em um banco de pedra no outro lado da mesa, frente a seu velho inimigo. Uma garonete, aquela por quem ambos os jovens tinham lutado, serviu a cerveja aos recm chegados e se manteve perto, deleitando-se com a tenso que tinha provocado sua presena. J antes tinham combatido por ela, mas nunca dois homens to brutais e, de uma vez, to desejveis, como esses dois jovens.

    GUI permaneceu de detrs de Rowland, inquieto ante a expresso sombria de Roger. Era este um homem arrumado, com os olhos azuis e o cabelo loiro caractersticos dos normandos, mas agora seu rosto se achava marcado com linhas severas, ameaadores. Ria de forma estranha, exceto com sarcasmo, e seu sorriso estava acostumado a ser depreciativo. Rowland e Roger eram semelhantes em estatura; ambos, jovens musculosos e fortes, de considervel tamanho. Mas o semblante de Rowland no era to duro como o de seu adversrio.

    Sem dvidas, de aparncia agradvel. Rowland tambm guardava um certo senso de humor e um toque de amabilidade.

  • De modo que seu pai te sentiu falta? comentou Roger laconicamente. Mas, por que enviar a um cavalheiro para te buscar, quando qualquer lacaio poderia te haver encontrado?

    Demonstra um inadequado interesse em meus assuntos, Roger observou Rowland de modo cortante. Roger esboou um sorriso sarcstico.

    Meu irmo casou com sua irm disse, estendendo os braos para tomar garonete e sent-la em seu colo, ao mesmo tempo que jogava um olhar de soslaio para seu antigo rival. Um matrimnio equivocado, em minha opinio.

    Espero que no espere que isso nos converta em parentes grunhiu Rowland.

    Jamais reconheceria parentesco algum com um bastardo respondeu o outro com rudeza.

    O silncio foi denso, at que as gargalhadas burlonas de Roger encheram a habitao.

    O que ocorre? Acaso no tem resposta, Rowland? provocou, e abrao moa que tinha no seu colo O bastardo perdeu seu valor desde que o derrotei.

    Uma exploso deveria ter acompanhado ao repentino esplendor que apareceu nos olhos de Rowland, mas ele falou com incrvel calma.

    Sou um bastardo, isso bem sabido. Mas um covarde, Roger? Tinha comeado a suspeitar isso de ti. A ltima vez que combatemos, assegurou-te de que estivesse bbado antes de me atacar. Roger comeou a levantar-se, jogando na menina para um lado, mas o severo olhar de Rowland o penetrou. Equivoquei-me, Roger. Voc no um covarde. Voc tenta morte com suas palavras e o faz com inteno.

    Rowland, no! exclamou GUI, e tentou deter seu amigo, que j comeava a levantar-se.

    Mas o vulco que ardia no interior de Rowland foi impossvel de deter. Ele empurrou GUI para um lado, ficou de p e extraiu sua espada, movendo-se com tal rapidez, que soltou o banco de pedra de seus suportes, este caiu sobre o cho, atirando aos outros.

    A ateno da sala se concentrou nos combatentes, mas Rowland e Roger o ignoraram tudo, exceto seu adversrio. Em um ato de alarde, Roger jogou a cerveja da mesa com um tapa. Mas a cerveja se derramou sobre um cavalheiro bbado e o homem se equilibrou antes que Rowland pudesse atacar.

    Ele esperou com impacincia, ao mesmo tempo em que a ira bulia em seu interior, mas no aguardou muito. O combate entre o Roger e o cavalheiro insistiu aos outros a lutar e, em poucos instantes, a habitao se converteu em um campo de batalha. Os guerreiros bbados atacavam, enquanto que os sbrios tentavam defender-se. Dois soldados se lanaram sobre o Rowland sem razo, e ele perdeu de vista ao Roger no tumulto. GUI foi em sua ajuda, e os dois amigos no demoraram para vencer a seus oponentes.

  • Rowland estava a ponto de em busca de Roger quando, detrs de si, ouviu o agudo estrpito do ao. Ento, girou, para encontrar-se ao Roger, surpreso, visto que a espada tinha sido arrebatada da mo. Detrs dele, achava-se um cavalheiro, a quem Rowland no conseguiu identificar. O estranho olhou a ele e estava a ponto de falar quando, repentinamente, Roger recolheu sua arma e atravessou ao homem.

    Rowland se sentiu muito indignado para lanar-se contra seu velho inimigo. Antes que pudesse recuperar-se, um escudeiro bbado jogou a parte plana da espada sobre a cabea de Roger. Roger caiu aos ps de Rowland, junto ao cavalheiro que ele mesmo tinha ferido.

    Deixa-o, Rowland suplicou GUI, lhe sujeitando a mo. Ele lhe lanou um olhar fulminante. Acaso no o viu? Tentou me atacar

    pelas costas, e este bom homem o impediu. Vi que Roger se aproximava, Rowland, isso tudo. Com segurana, tivesse-

    te advertido antes de atacar. Conheo o Roger melhor que voc, GUI, e te asseguro que sua inteno era

    me matar sem prvio aviso grunhiu Rowland. Ento, desafia-o quando se recuperar implorou-lhe GUI. Mas no apele

    ao assassinato. Deixa passar por agora. Rowland nunca tinha matado a um homem indefeso, e aceitou petio de seu amigo. Inclinou-se junto ao cavalheiro que tinha ido a sua ajuda, quem provavelmente lhe tinha salvado a vida.

    Este homem ainda vive, GUI gritou Levaremos ao cirurgio de meu acampamento.

    GUI vacilou. E o que faremos com o Roger? Lhe deixe respondeu Rowland chateado. Talvez, um destes homens o

    mate primeiro e me economize a espada.

  • CAPTULO III

    Rowland se encontrava aguardando ansiosamente junto ao consultrio do mdico, ao mesmo tempo em que GUI passeava pelos arredores, angustiado.

    J passaram trs dias, Rowland disse com impacincia. Se o homem tiver que morrer, morrer. No h nada que possa fazer para lhe ajudar. Rowland lanou um olhar irado a seu amigo. J tinha discutido o mesmo assunto.

    Devemos partir Rowland. Roger fugiu furtivamente durante a noite, de modo que agora no pode lhe desafiar. Como esto as coisas, no chegaremos a casa antes da primeira nevada.

    Uns poucos dias mais no importaro. Mas voc nem sequer conhece este homem. Sua impacincia no diz muito em seu favor, GUI. Estou em dvida com ele. No pode estar to seguro disso. Claro que sim. Finalmente, a porta da loja se abriu e o mdico do duque se aproximou dos

    dois homens com ar fatigado. Esteve consciente uns instantes, mas tempo o suficiente para saber se

    viver. A hemorragia cessou, mas pouco posso fazer pelas leses que tem em seu interior.

    Chegou a falar? O mdico assentiu. Ao despertar, acreditou encontrar-se em uma aldeia de pescadores. Ao que

    parece, passou vrias semanas na costa, recuperando-se de umas feridas. Rowland franziu o cenho.

    Feridas? O doutor sacudiu a cabea. Esse jovem deve estar amaldioado. Foi deixado merc de uns

    camponeses. Apenas conseguiu sobreviver. Afirma que permaneceu inconsciente uma semana e que no pde mover-se nem pensar durante uns dias mais. Recebeu um golpe na cabea.

    Quem ? perguntou Rowland com ansiedade. Sir Rowland, o homem est gravemente ferido. No quis pressionar, s me

    dediquei a escutar o que desejava dizer. Encontrava-se muito alterado. Quando insisti em que no podia levantar-se, tratou de explicar ele de sua ferida. Disse algo a respeito de uma irm, sua preocupao pela moa, mas voltou a desabar-se antes que pudesse me contar do que se tratava, parecia muito perturbado.

    Posso lhe ver? Est outra vez inconsciente. Aguardarei na loja at que desperte. Devo falar com ele. Muito bem. GUI continuou com suas splicas uma vez que o doutor partiu.

  • V?, o mdico no parece muito preocupado. Partamos a casa. J no h nada que possa fazer aqui.

    Rowland tinha perdido a pacincia com seu velho amigo. Sentia-se moralmente obrigado a permanecer ali.

    Maldio! Atua como uma mulher resmungona! Se estiver to ansioso por ir, ento Sai... Sai!

    Rowland, s acredito que urgente nos apressar. J pode ser muito tarde. provvel que em minha ausncia, Thurston de Mezidon tenha atacado, antes da chegada do frio.

    Parte j. Eu te alcanarei no caminho. Mas no posso permitir que viaje s. Rowland lanou um olhar severo a seu amigo. E desde quando necessito uma escolta? Ou que no confia em que te

    seguirei? OH sim, j vejo que isso. Soltou uma breve risinho. Leva meus pertences contigo, ento. Deixa s meu cavalo e minha armadura. Desse modo, poder estar seguro de que te seguirei. Se no surgir dificuldades, reunir-me-ei contigo entre o Rdano e o Loira. Se no estiver l. No me espere se no conseguir te alcanar.

    Com certa relutncia, GUI partiu e seu amigo permaneceu sentado junto cama da paciente durante o resto da tarde. Essa noite, sua viglia se viu recompensada quando o ferido abriu os olhos. O homem tratou de levantar-se, mas Rowland o deteve.

    No deve te mover. Sua ferida voltar a sangrar. Os brilhantes olhos pardos do doente se posaram sobre o Rowland.

    Conheo-te? Falou calmamente em francs e logo, respondeu a sua prpria pergunta. Estava ontem noite no botequim.

    Isso passou faz trs noites, meu amigo. Trs? grunhiu o ferido. Devo encontrar a meus homens e retornar ao

    Berry imediatamente. No ir a nenhuma parte, ao menos, no por algum tempo. O homem soltou um gemido. Necessita do mdico? S se pode realizar um milagre e me curar neste instante sussurrou o

    doente. Rowland sorriu. O que posso fazer por ti? Salvou-me a vida e est sofrendo por isso. Sofro por minha prpria imprudncia. S duas vezes em minha vida elevei

    minha espada a srio combate e, em ambas as oportunidades, aproximei-me da morte. Jamais escuto as advertncias. Sempre penso que os homens lutaro limpamente. E isso me custou um alto preo para aprender a lio.

    Sei que acaba de te recuperar de uma ferida na cabea. Foram os sarracenos?

  • Sim. Ia com outros trs perseguindo um bando que fugia. Quando os alcanamos, eles se voltaram para lutar. Ento meu cavalo caiu e me jogou pelos ares. Quando por fim despertei, encontrei-me em uma aldeia de pescadores, com uma dor de cabea que no desejo a ningum e me informaram que tinha estado inconsciente durante uma semana. Vim a Arles logo que me recuperei. No tive sorte para encontrar a meus vassalos. Acreditava que acharia a um ou dois nesse botequim, mas no vi nenhum.

    Mas, felizmente para mim, encontrava-te ali essa noite. Tive que reagir quando vi que um homem se aproximava por trs

    declarou o ferido. Bom, salvaste a vida de Rowland de Montville . O que posso fazer em troca? Reza por minha rpida recuperao. Rowland riu, visto que o homem conservava o humor mesmo com um

    lastimoso estado. Sem dvida, orarei por ti. E seu nome? Devo sab-lo se tiver que implorar

    aos Santos. Quintin de Louroux. franco? Sim, de Berry. Sua famlia vive ali? Meus pais morreram. S fica minha irm e... O homem fez uma pausa.

    H algo que pode fazer por mim. No tem mais que mencion-lo. Meus vassalos, os trs que traje comigo. Se pode encontr-los por mim,

    estarei-te muito agradecido. Assim, poderia enviar um a casa para informar a minha irm que estou vivo, mas que ainda no retornarei at dentro de algumas semanas.

    Sua irm achava que estavas morto? Quintin assentiu, inclinando fracamente a cabea. Suponho que sim. Acreditei que s me levaria uns poucos dias reunir a

    meus homens e partir para o Berry. Mas agora o mdico diz que devo permanecer nesta cama durante trs semanas. No posso tolerar a idia de que minha irm esteja chorando minha morte.

    Tanta preocupao por uma mulher era incompreensvel para Rowland. Deve am-la muito. Estamos muito unidos. Ento pode estar tranqilo, meu amigo. Encontrarei a seus cavalheiros e lhe

    enviarei isso. Mas me pede muito pouco. Considerar-me-ia honrado se me permitisse lhe levar as notcias a sua irm em pessoa. Liberar-te dessa preocupao seria s um pequeno pagamento ao muito que devo.

    No posso te pedir tanto negou-se Quintin. Me ofenderei se no o faz. De todos os modos, devo viajar para o norte, visto

    que meu pai requereu minha presena em Montville. S me atrasei para me assegurar

  • de seu estado. E no ouviste falar dos cavalos de guerra de Montville? So animais majestosos e com certeza suas boas notcias chegariam aos ouvidos da sua irm o mais rpido possvel.

    Os olhos de Quintin se iluminaram. Encontrar minha casa sem dificuldade. No tem mais que perguntar uma

    vez que te aproxime de Berry e lhe indicaro o caminho para o Louroux. Encontrarei assegurou Rowland. Voc s deve descansar e recuperar

    suas foras. Agora j poderei descansar afirmou Quintin com um suspiro. Estou

    muito agradecido, Rowland. Ele se levantou para partir. o menos que posso fazer por ti, e no nada, considerando que me salvou

    a vida. Sua dvida est saldada assegurou o doente. No diga a minha irm que

    me feriram outra vez. No desejo lhe causar mais angustia. S lhe diga que ainda devo permanecer ao servio do duque, mas que logo retornarei.

    Depois de ter deixado atrs Arles, percebeu Rowland que desconhecia o nome da irm de Quintin do Luoroux. Mas no tinha importncia... encontraria a jovem de todos os modos.

  • CAPTULO IV

    Druoda da Garcua se encontrava em seu quarto, recostada sobre um longo canap verde, comendo passas de uva e saboreando o nctar de um doce. J tinha cansado a tarde e, embora o inverno houvesse sido benigno at o momento, Druoda estava habituada aos climas mais quentes do sul da Frana e insistia em manter acesa a chama de um braseiro para esquentar a habitao.

    Em seus ps, encontrava-se ajoelhada Hildegard, preparando as unhas de sua ama para as pintar, outra das numerosas prticas que Druoda tinha aprendido das despreocupadas mulheres do sul. No muito tempo atrs, ambas as damas se viram privadas de todo luxo. S recentemente, tinham trabalhado dia e noite, alimentando a viajantes, lavando roupa suja de outras pessoas e cozinhando. Este deplorvel trabalho tinha sido necessrio, visto que o pai de Druoda no lhe tinha deixado nada. Seu marido Walafrid, possua uma imensa casa, mas no contava com suficiente dinheiro para mant-la. De modo que ambos tinham convertido a residncia em uma estalagem e contratado Hildegard como ajuda.

    Graas morte do sobrinho de Druoda, Quintin, os dias de rduo trabalho tinham terminado. Tudo tinha sido meticulosamente calculado: assumiriam a tutoria de Brigitte de Louroux, ocultariam a notcia da morte de Quintin ao baro, a seu senhor. Druoda se sentia satisfeita por haver-se desembaraado da nica pessoa que poderia informar a m nova ao conde Arnulf. Sob suas ordens, Hugh tinha retornado costa sul para verificar a morte de Quintin. Em realidade, ela no necessitava de confirmao alguma, mas requeria tempo, e aguardar que Hugh e os vassalos voltassem com as pertences de seu sobrinho lhe proporcionaria o lapso necessrio para desposar Brigitte sem a intromisso do conde.

    Sim, se acontecesse as bodas antes que Arnulf soubesse da morte de Quintin, ento no haveria razo para nomear a um tutor, visto que a menina contaria com um marido. S restava impedir que a dama fosse ao conde e isso poderia ser feito, mantendo-os afastados. Uma vez que a casasse, Arnulf no poderia intrometer-se. No, o homem deixaria a propriedade nas mos do legtimo marido de Brigitte, quem, por sua vez, seria controlado por Druoda.

    O marido, ah, essa era a parte mais difcil! Encontrar a um homem que desejasse lady Brigitte o suficiente para submeter-se s exigncias de Druoda tinha sido o maior desafio. A mulher contava com uma larga lista de possibilidades, uma lista obtida dos serventes, visto que a mo da moa tinha sido solicitada vrias vezes ao longo dos anos. Druoda acreditava ter encontrado, por fim, o candidato adequado no Wilhelm, lorde do Arsnay. O homem j tinha requerido dama em duas ocasies, mas Thomas e Quintin tinham rechaado a petio, incapazes de entregar a sua adorada Brigitte a algum mais ancio que seu prprio pai e, menos ainda, com a desonrosa reputao do lorde do Arsnay.

    Wilhelm era perfeito para os planos da Druoda. Um homem que raramente deixava sua propriedade em Arsnay, que no visitaria freqentemente Louroux para

  • inspecionar o patrimnio de sua esposa; um homem que desejava tanto uma jovem virgem e formosa, que estava disposto a deixar Walafrid ao mando de Louroux. O velho tolo acreditava que s uma esposa virgem poderia lhe brindar o filho que com tanto desesperava ter. No era especificamente Brigitte o que ele procurava, embora sua beleza o deslumbrasse. Era a inocncia da menina o que o homem requeria. E qual outra jovem aceitaria casar-se com um ancio? Lorde Wilhelm era tambm vassalo de Arnulf, de modo que o conde no questionaria a eleio de Druoda.

    A mulher se recostou sobre o respaldo canap e suspirou com satisfao. Wilhelm era a soluo aos seus planos e se sentia extremamente agradada consigo mesma, visto que apenas na noite anterior tinha concludo os acertos com o homem. O lorde se achava to prendado de Brigitte que, sem dvida, consentiria em tudo. E, no ano seguinte, a moa sofreria um desafortunado acidente, dado que no seria apropriado que sobrevivesse a seu marido, e no seria mais um estorvo ao trabalho de Druoda. A mulher j tinha conseguido desfazer-se de Mavis com total facilidade; logo, chegaria a vez de Brigitte. A jovem morreria, Wilhelm seria o lorde de Louroux e Walafrid conservaria seu posto de senhor do feudo. Dessa forma, Druoda poderia governar para sempre os domnios de Louroux.

    Quando o dir menina, Druoda? A pergunta do Hildegard provocou um sorriso no plido e redondo rosto de

    sua ama. Esta noite, quando Brigitte se encontre esgotada, depois de trabalhar

    durante todo o longo dia. Por que est to segura de que aceitar? Nem sequer eu admitiria me casar

    com o Wilhelm do Arsnay. Tolices repreendeu Druoda. Pode ser que o homem no seja muito

    bonito em seu aspecto e que tenha idias um pouco excntricas a respeito das virgens e os filhos vares, mas possui uma fortuna. E no esquea que a dama no tem alternativa. Hildegard olhou a sua ama com incerteza, e Druoda riu.

    Deixa-a protestar. No pode fazer nada para impedir este matrimnio. E se escapar? Contratei a dois mercenrios que a vigiaro at o momento da cerimnia. Os

    trajes j esto. Pensaste em tudo disse a criada com admirao. A ama esboou um sinistro sorriso. Tive que faz-lo. Druoda tinha nascido amaldioada com um corpo gordo e a cara de lua de seu

    pai, enquanto que sua irm, Leonie, tinha sido abenoada com o delicado aspecto de sua me. Druoda sempre tinha invejado a beleza de sua irm e, quando esta se casou com o esplndido baro de Louroux, a inveja se transformou imediatamente em dio pelo casal. Uma vez mortos Leonie e seu marido, esse dio se concentrou em Brigitte.

    Agora Druoda possuiria tudo o que, alguma vez, tinha tido sua irm. No contava com um marido to magnfico entretanto, visto que Walafrid era um pobre

  • exemplo da espcie. Mas isso convinha a Druoda. A mulher tinha uma frrea vontade e nunca tolerou a autoridade de nenhum homem. Aos quarenta e trs anos, por fim, poderia alcanar tudo quilo que lhe tinha sido negado na vida. Com Brigitte convenientemente casada e fora de seu caminho, poderia governar Louroux e se converteria em uma grande dama, uma dama de fortuna e influncia.

    Essa noite, Brigitte foi chamada ao espaoso quarto da Druoda, habitao que, uma vez, tinha pertencido a seus pais. Uns chamativos canaps tinham sido somados ao cenrio e a imensa cama de madeira se achava coberta com uma recarregada colcha de seda vermelha. Os gigantescos armrios se encontravam repletos com os numerosos mantos e tnicas que Druoda tinha encarregado confeccionar. As mesas de madeira tinham sido substitudas por umas de bronze, algumas das quais se achavam adornadas com candelabros de ouro puro.

    Brigitte detestava o estado atual da habitao, carregado com as extravagncias da Druoda. A mulher se encontrava reclinada sobre um sof com um ar majestoso. Seu tosco e pesado corpo estava vestido com, ao menos, trs tnicas de linho de diversas cores e tamanhos. O vestido exterior tinha mangas amplas e seus punhos se achavam bordados com pequenas esmeraldas. Estas gemas eram at mais exclusivas que os diamantes e custava uma fortuna. O cinturo tambm estava salpicado de esmeraldas, ao igual ao adorno que levava o elaborado penteado de sua cabeleira escura.

    Brigitte tinha trabalhado durante todo o dia, arrancando a erva ao parque da manso. No passado, esse trabalho sempre tinha sido atribudo a trs ou quatro servos como parte dos trabalhos que deviam a seu senhor; entretanto, esta vez, a moa a tinha efetuado sem ajuda. Encontrava-se exausta e esfomeada, visto que no lhe tinha sido permitido deter-se at no terminar com o trabalho, e logo que acabava de finaliz-lo. Mas ali estava Druoda, frente a um belo banquete estendido sobre a mesa. Havia ali mais comida da que a mulher poderia ingerir; um suculento porco, diversos pratos de verduras, po, fruta e pasteis.

    Eu gostaria de me retirar, Druoda. Brigitte falou por fim, depois de uns quantos minutos de silncio. Se no me contares porque estou aqui...

    Sim, imagino que estar cansada e faminta disse Druoda com indiferena, ao mesmo tempo em que se levava outro pastel boca.

    Me diga moa, sente que est trabalhando em excesso? Mas no, no acho, visto que nunca te queixa.

    Druoda, agradeceria se me dissesse por que me chamaste insistiu a jovem com tom cansado.

    Penso que sua obstinao foi muito longe, no acha? Logo prosseguiu sem aguardar a resposta. Claro que sim. Esqueceu dessa tolice do convento. Tenho-te maravilhosas notcias, Brigitte. Culminou sua frase com um sorriso.

    Que notcia? Os lbios de Druoda se curvaram em uma careta de desagrado.

  • Sua atitude para mim no foi precisamente a que eu tivesse desejado. Mesmo em contraste com a bondade de meu corao me forou a consertar um esplndido matrimnio para ti.

    A revelao da mulher deixou sem fala com Brigitte. Vria vez havia dito a Druoda que ainda no desejava desposar-se.

    E bem, moa? No tem nada que dizer nestes momentos? No tinha idia de que podia ser to generosa, Druoda disse finalmente a

    jovem, tratando de produzir um tom que no pudesse ser interpretado como sarcstico.

    Sabia que me agradeceria, e com razo, porque seu prometido um homem de importncia. E se sentir feliz ao saber que ele tambm vassalo de seu senhor, o conde Arnulf, de modo que esse bom homem, sem dvida, no se atrever a lhe rechaar. Sim, minha querida menina, realmente afortunada. Brigitte continuou ainda reprimindo sua ira, embora seus olhos azuis brilhassem perigosamente.

    E o que ocorrer com meu perodo de luto? Como ousa tratar de me casar quando ainda estou chorando a morte de meu irmo?

    Seu prometido est ansioso por concretizar o acerto e no poder atrasar-se. Pela manh, iremos a sua manso para celebrar as bodas. Posso confiar que te vestir adequadamente e estar pronta para partir antes do meio-dia?

    A jovem vacilou. Assim, poderia abandonar manso e, talvez, inclusive viajassem de direo ao castelo de Arnulf

    Estarei preparada respondeu calmamente, para logo adicionar Mas ainda no me h dito seu nome.

    Druoda sorriu com infinito deleite. Seu prometido lorde Wilhelm do Arsnay. Brigitte afogou uma exclamao,

    e a outra mulher a observou com satisfao ao ver que o delicado rosto da menina perdia sua cor.

    Est impressionada por sua boa fortuna? perguntou Druoda com tom conciliador.

    Lorde Wilhelm! Um homem excelente. um obeso, lascivo, detestvel e asqueroso porco! exclamou a jovem,

    depois de ter perdido sua anterior cautela. Preferiria morrer antes que me casar com ele! Druoda riu.

    Que carter! Primeiro, escolhe um convento e agora, a morte antes que a desonra!

    Falo a srio, Druoda! Ento, suponho que ter que se matar disse a dama com um suspiro.

    Pobre Wilhelm, estar muito decepcionado.

  • No tenho que me casar com ele s porque voc o decidiste. Partirei daqui se insistir. No me preocupa o que possa me acontecer na rota, visto que nunca poder ser pior que desposar ao homem mais repulsivo de toda Berry.

    Temo-me que isso inaceitvel. No me acreditar capaz de permitir que arrisque aos perigos do caminho, verdade? Dei minha palavra com respeito a estas bodas e se celebrar.

    Brigitte se ergueu com dignidade, tratando com desespero de controlar-se. No me pode forar a me casar com esse homem to detestvel, Druoda.

    Esquece um fator muito importante. Mesmo que esse seja o candidato de sua eleio, o conde Arnulf segue sendo meu lorde e deve passar primeiro por sua aprovao. Ele nunca seria capaz de me entregar ao Wilhelm do Arsnay, embora seja seu vassalo.

    Acha que no? Sei que no! Voc me subestima, menina grunhiu Druoda, abandonando j sua fingida

    atitude, e se inclinou para frente, em direo a sua presa. O conde dar seu consentimento porque acreditar que este matrimnio o que voc deseja. No estranho que uma jovem escolha a um ancio como marido, visto que, dessa forma, estar segura de lhe sobreviver e gozar, algum dia, da liberdade da viuvez. E voc, minha menina, com sua obstinao, das que desejariam essa liberdade. O conde Arnulf, sem dvida, acreditar que voc deseja neste acordo.

    Eu lhe revelarei o contrrio, embora deva dizer-lhe no dia das bodas! Druoda a esbofeteou com crueldade, ferozmente e com prazer. No tolerarei mais arrebatamentos de ira, Brigitte. Casar antes que o conde

    Arnulf possa assistir cerimnia. Se me desafiar, me verei obrigada a tomar medidas severas. Uma boa surra poderia te infundir o respeito apropriado. Agora, Sai daqui. Fora!

  • CAPTULO V

    O sonho de Brigitte foi interrompido depois de apenas umas poucas horas de descanso. Antes que a menina conseguisse avivar-se por completo, uma presunosa Hildegard lhe informou que seria transladada uma vez mais a seu antigo quarto. No era estranho que Druoda lhe permitisse voltar, s a fim de lhe facilitar os preparativos para reunir-se com o prometido.

    Brigitte passou quase uma hora inundada em uma imensa banheira, relaxando seu dolorido corpo. Mas nada pde fazer pela aspereza de suas mos, nem por suas unhas rotas, evidncias de comprimentos meses de rduo trabalho.

    Depois do banho, a jovem se dirigiu a seu guarda-roupa. S lhe tinham deixado dois objetos respeitveis. No interior do ba, havia um pequeno cofre, mas j no se encontravam as valiosas jias que este alguma vez tinha contido. Um pente e um espelho de ao eram tudo o que ficava do que, no passado, tinha sido uma fabulosa coleo de jias. Brigitte revisou uma pilha de objetos de algodo e extraiu duas tnicas de fino linho azul, bordadas com fios de prata. O objeto mais largo, sem mangas, era para usar debaixo da mais curta, com mangas largas e amplas. Surpreendeu-se ao ver que o suti do vestido exterior ainda seguia vestido de deliciosas safiras incrustadas. Seu pai lhe tinha presenteado com o traje antes de morrer. O traje se completava com um longo manto, bordado com uma trancinha de prata, que se sujeitava com uma imensa safira. Por que razo no lhe teria tirado as pedras?

    Brigitte s pde imaginar que no tinham notado a presena desses objetos quando ela se mudou s estabelecimentos dos servos. De outro modo, jamais tivesse seguido em posse de to muito valiosas pedras. Ao igual s esmeraldas, as safiras eram mais caras que os diamantes ou as prolas. Essas pedras, ao menos, poderiam comprar a liberdade.

    hora do crepsculo, aproximaram-lhe um cavalo entrada da manso. A moa levava postos seus vestidos azuis e o luxuoso manto aceso ao redor do pescoo. Uma vez mais, parecia ter recuperado seu antigo aspecto. A via formosa, inclusive desafiante, com seu cabelo dourado sujeito em duas largas tranas que lhe caam sobre os ombros at a cintura.

    Druoda j tinha montado e se encontrava aguardando-a. Tambm se achavam ali dois homens muito robustos, a quem Brigitte nunca antes tinha visto. Sem apresentar moa, nem lhe oferecer explicaes, Druoda conduziu o caminho atravs do porto principal, que circundava a manso. Os homens iniciaram o rodeio sem afastar-se de ambos os lados da jovem.

    S umas horas mais tarde, quando se encontravam a dois quilmetros dos domnios de lorde Wilhelm, Druoda diminuiu a marcha o suficiente como para que Brigitte pudesse lhe perguntar a respeito dos sujeitos e confirmar assim suas suspeitas.

  • Esto aqui para te vigiar informou-lhe a mulher com brutalidade. Eles se encarregaro de que no desaparea antes da cerimnia.

    A jovem se enfureceu. Como poderia escapar se no cessavam de vigi-la? O resto do dia no resultou menos penoso. Passaram a tarde com lorde

    Wilhelm e sua robusta filha. Wilhelm era um homem obeso, mais ancio que o pai de Brigitte, com mechas de cabelo espaado e cinza que tomavam sua cabea. Era um sujeito repulsivo, com um nariz vermelho e bulboso e uns olhos pequenos e negros, que no se separaram de sua jovem prometida at que foi servido o banquete.

    Jantaram na sala principal, uma habitao vazia, exceto pelas mesas de madeira lavrada e a armadura que adornava as sombrias paredes de pedra. Brigitte no pde provar a comida, seu estomago dava voltas ao observar aos outros deglutirem seus mantimentos. Druoda se encontrava muito cmoda, em companhia de seus congneres glutes.

    Primeiro, serviram-se medusas e ourios de mar, que foram rapidamente devorados. O prato principal, carne assada de avestruz com molho doce, carneiro e presunto, comeram-no com igual rapidez. Por ltimo, chegaram as tortas e as fritas em mel, acompanhados por um vinho aromatizado com mirra. Em geral, um banquete estava acostumado a durar horas, mas este culminou em menos de uma.

    Depois da comida, Brigitte acreditou que vomitaria quando foi forada a presenciar o entretenimento que Wilhelm tinha planejado: a luta de um co domesticado contra um lobo. A moa amava os animais e essa classe de espetculos a perturbava-na.

    Saiu correndo do vestbulo e, ao chegar ao ptio, respirou profundo, feliz de encontrar-se afastada dos outros. Mas seu alvio no durou muito, j que a filha do Wilhelm a seguiu e lhe disse bruscamente:

    Eu sou o ama desta casa e sempre ser assim. Voc ser a quarta esposa jovem de meu pai e se pretende governar aqui, terminar como as outras...morta. Muito aturdida para responder, Brigitte se afastou, cambaleando-se. Logo abandonaram a casa do Wilhelm e a moa balbuciou seu adeus depois de um vu de lgrimas.

    O pranto continuou lhe nublando a viso enquanto cavalgava de caminho a casa. Os guardas no se separavam de seu lado e se perguntou como poder chegar at o castelo de Arnulf se esses dois fornidos sujeitos no cessavam de vigi-la.

    Embora, em realidade, o que poderia perder se fazia o desesperado intento de chegar at o conde? De repente, secou os olhos com fria e cravou os calcanhares a ambos os lados de seu cavalo. Por uns instantes, a moa e sua gua se afastaram dos outros. Mas os guardas tinham esperado este incidente e a alcanaram com facilidade, antes que ela conseguisse deixar atrs ao ltimo quarto da aldeia de Wilhelm.

    Os homens levaram a jovem ao lugar onde Druoda esperava, e Brigitte se enfrentou um golpe que tomou despreparada e a jogou do cavalo. A moa caiu no lodo, quase sem respirao. Isso acrescentou sua ira at o ponto de explorar, mas no

  • descarregou a fria contra Druoda. Pelo contrrio, reprimiu-a e foi golpeada. Logo se limpou o lodo do rosto e permitiu que a transladassem bruscamente at o lombo de sua gua.

    Brigitte se sentiu ferver de raiva, mas guardou silncio. Esperou com pacincia a que seus acompanhantes afrouxassem a vigilncia, cuidando sempre de cavalgar afundada nos arreios e dar toda a impresso de obedincia. Mas sua atitude estava muito longe de ser total.

    To absurda em seus pensamentos, que no percebeu que j tinha escurecido at que o ar da noite lhe aoitou as bochechas. Imediatamente, elevou-se o capuz do manto para cobri a cabea. Ao faz-lo, estudou furtivamente a seus companheiros e observou que s Druoda se encontrava cavalgando para seu lado. Os dois guardas se adiantaram a fim de proteger s mulheres contra os assaltantes noturnos.

    Esta era sua oportunidade. De noite, poderia ocultar-se na escurido. Nunca a encontraria to perto do conde Arnulf como nesse momento. Sujeitou ambas as rdeas em um punho e depois de aproximar-se de Druoda, para aoitar a gua da mulher, insistindo ao animal a equilibrar-se para os guardas, ao mesmo tempo em que ela girou e se lanou ao galope na direo oposta.

    Esta vez conseguiu afastar um considervel trecho, antes que os homens iniciassem a perseguio. Logo depois de avanar um quilmetro pela rota, diminuiu a marcha e se internou no bosque onde as sombras, negras como, o bano, proporcionavam-lhe um perfeito esconderijo. Saiu da gua e comeou a caminhar lentamente junto ao animal atravs da escura. Um instante mais tarde ouviu os guardas correr pelo antigo caminho.

    Brigitte conhecia esses bosques, j que freqentemente os tinha atravessado com seus pais, em suas freqentes visitas ao castelo de Arnulf. No outro lado das rvores, havia um caminho mais largo, a antiga rota entre o Orleans e Bourges e esse atalho a levaria at o conde. S lhe restava atravessar o bosque, embora fosse uma difcil faanha.

    medida que seu temor pelos guardas de Druoda se diminua, os aterradores sons dos bosques comearam a acoss-la e recordou as ttricas advertncias do Leandor a respeito de ladres e assassinos, grupos de bandidos que moravam por esses lugares. Acelerou o passo at que se encontrou quase correndo e de repente, lanou-se por entre as rvores, at chegar a um pequeno claro. O pnico a embargou. Olhou ao redor com desespero, esperando ver uma fogueira rodeada de homens. Deixou escapar uma exclamao de alvio, j que no era um claro onde se encontrava, a no ser o caminho... tinha sado ao caminho! Voltou a internar-se nas sombras e se despojou de todas suas roupas, exceto a velha tnica de l que lhe cobria a pele. Logo, envolveu os objetos ao redor da cintura e se colocou, uma vez mais, o manto, embora no o prendeu, de modo que, se tropeava com algum, poderia tirar-lhe com rapidez e ficar novamente com o traje de uma camponesa.

    Voltou a montar a gua e cavalgou para o sul, sentindo-se livre, alvoroada. J no haveria bodas com Wilhelm. E j no teria que seguir suportando Druoda, visto

  • que Arnulf no a aceitaria com agrado, uma vez que Brigitte lhe contasse as maldades da mulher em Louroux. A moa se sentiu quase enjoada, medida que sua viosa gua avanava a toda velocidade. J nada poderia det-la.

    Porm, de repente, algo interrompeu sua marcha. O cavalo parou e se levantou e, pela segunda vez no dia Brigitte se encontrou sendo atirada no cho, tratando de recuperar a respirao. Ficou de p logo que pde, temerosa de que o animal pudesse atac-la . Mas a gua permaneceu imvel e, ao aproximar-se, a moa percebeu a razo.

    E o que temos aqui? O cavalheiro se encontrava dignamente montado em seu cavalo de guerra, o

    animal mais gigantesco que Brigitte tinha visto jamais. O homem era, do mesmo modo, imenso, provavelmente de mais de um metro oitenta de estatura. Levava posta uma armadura e oferecia um espetculo verdadeiramente lhe impactem. Ao tirar o casco, surgiu uma abundante cabeleira loira que lhe caa justo debaixo da nuca, era um estilo muito curto para um francs. Entre as sombras da noite, a jovem no conseguiu lhe ver os traos do rosto com claridade.

    E bem, mulher? A profunda voz do cavalheiro surpreendeu moa. isto tudo o que pode dizer, cavalheiro, depois de ter jogado uma dama de

    seu cavalo? Uma dama, n? Muito tarde, Brigitte recordou que levava posta sua tnica camponesa.

    Decidiu permanecer em silncio. Voltou a montar a gua com rapidez e tratou de arrebatar as rdeas da mo do homem. Mas no o obteve, visto que ele no deixou das sujeitar com seu punho de ao.

    Como se atreve? repreendeu-o a jovem. Acaso no lhe basta ter causado minha queda? Agora tambm tenta me deter? O cavalheiro riu, e ela prosseguiu com arrogncia. O que pode lhe resultar to divertido? Poderia me convencer de que uma senhora com esses ares to altivos, mas no o declarou ele com tom zombador, para logo adicionar: Uma dama sozinha, sem escolta?

    A mente de Brigitte comeou a girar a grande velocidade, mas, antes que pudesse escolher uma resposta, o cavalheiro continuou.

    Vir comigo. Espera! gritou a moa, ao mesmo tempo que ele parou de girar a gua

    para arrast-la consigo. Pare! O cavalheiro a ignorou, e lhe lanou um olhar fulminante pelas

    costas. Aonde me leva? Levarei para onde eu me dirijo, e outros podero te devolver com seu amo.

    Estou seguro de que ele estar encantado de recuperar seu cavalo, se no sua serva. Acha que eu sou uma servente?

  • Sua gua muito fina para pertencer a uma servente prosseguiu o homem. E nem mesmo um lorde convencido com seus favores daria de presente a uma servente um objeto to caro como esse.

    O manto meu, e o cavalo tambm! No esbanje sua astcia comigo, mulher ingeriu-lhe ele, com ar

    conciliador. No me importa o que diga. Deixe me ir. No. Voc roubou, e no posso encobrir uma ladrazinha afirmou o

    cavalheiro com tom severo, e logo adicionou: Se fosse um homem, apunhalaria com minha espada sem perder o tempo

    em te devolver. No me siga provocando com suas mentiras. "Bom, ao menos, no tudo estava perdido", pensou Brigitte. Em qualquer lugar

    que esse homem a levasse, sem dvida, a gente a reconheceria e, ento, esse ignbil cavalheiro perceberia seu engano. De algum modo obteria, ao menos, enviar sua mensagem ao conde Arnulf. Transcorreu uma hora, e logo outra, antes que abandonassem a rota para encaminhar-se em direo ao Louroux. Ento, Brigitte comeou se sentir verdadeiramente aterrorizada.

    No poderia tolerar que a devolvessem uma vez mais, a Druoda. Jamais voltaria a ter outra oportunidade de escapar novamente.

    A moa desembarcou do cavalo lentamente e correu com desespero para um bosquezinho prximo. Tropeou e caiu, raspando as mos e o rosto contra o acidentado cho. Suas bochechas pareceram arder, e umas lgrimas apareceram em seus olhos. Levantou-se e correu, mas o cavalheiro a seguia e conseguiu alcan-la antes que ela pudesse voltar a internar-se no bosque.

    De p, ao seu lado, o homem a pareceu imponente, sem dvida to gigantesco como ela o tinha imaginado em um princpio. Como odiava a esse sujeito!

    Quem voc? perguntou Brigitte com rudeza. Quero saber seu nome, porque, algum dia, far-lhe-ei pagar por tudo o que me tem feito!

    E que te tenho feito? Traz-me de volta ao Louroux! Ah! De maneira que isso . de Louroux de onde est fugindo. Ao

    culminar sua frase, o cavalheiro riu. Brigitte ficou tensa. E lhe agrada que eu sofra por sua causa? No me importa. encolheu-se os ombros. Meu assunto aqui com o ama

    de Louroux. Que assunto lhe traz at a Druoda? perguntou a moa, acreditando que

    era a Druoda a quem ele se referia. Nada de sua incumbncia, mulher respondeu o cavalheiro com desdm. Ainda no me h dito seu nome recordou-lhe ela. Ou acaso me teme dizer

    isso?

  • Te temer eu? repetiu ele com tom incrdulo Se alguma vez for to besta para permitir que uma mulher me faa mal, ento, no ser isso mais do que mereo. Rowland de Montville , para lhes servir adicionou a modo de brincadeira.

    Quando o cavalheiro voltou a arrast-la para a gua, o pnico se apoderou de Brigitte. A moa se voltou e apoiou suas pequenas mos sobre o peito do homem.

    Por favor, sir Rowland de Montville , no me leve ao Louroux, Druoda me manter prisioneira.

    Prisioneira? Merece que lhe golpeiem por seus roubos. A dama ser muito clemente se to somente te encerrar.

    Digo-lhe que no roubei nada! Mentira! grunhiu ele. Suficiente! Minha pacincia se acabou! O cavalheiro tomou as rdeas da jovem e assim continuaram o curto trecho

    que restava at o Louroux. Foi Hildegard quem os recebeu no ptio, e os olhos da criada se iluminaram ao ver Brigitte com o alto cavaleiro.

    Acaso alguma vez aprender, moa? Milady foi muito justa contigo, mas, esta vez, temo que ter que pagar por suas tolices. Ser melhor que a aguarde em sue quarto.

    A qual te refere Hildegard? perguntou a jovem com tom mordaz. Ao meu antigo ou recente quarto? No me responda. Irei quarto, j que, sem dvida, terminarei ali antes que termine a noite.

    Rowland sacudiu a cabea, enquanto observava a Brigitte, que atravessava orgulhosamente o ptio para uma curta fileira de acomodaes.

    Por todos os Santos comentou com um suspiro, uma vez que a jovem teve entrado em uma dos estabelecimentos. Nunca vi uma servente to insolente.

    O que? Hildegard olhou para o quarto e logo, ao homem, obviamente confundida.

    Rowland soltou uma gargalhada irnica. Tentou me convencer de que era uma dama. Mas eu no me deixei enganar

    to facilmente. No s deveria castig-la por seus roubos, mas tambm por sua audcia. Se me pertencesse, juro que essa moa no seria to arrogante. Hildegard permaneceu em silncio. Era evidente qu