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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 43(2):295-306,jul./dez. 1986 EFEITO RESIDUAL DO NITROGÊNIO MINERAL E BIOLÓGICO FIXADO POR LEGUMINOSAS FORRAGEIRAS E DO CULTIVO DE GRAMfNEAS FORRAGEIRAS SOBRE O RENDIMENTO DO SORGO CULTIVADO EM ROTAÇÃO. I. COLINA (1) (Residual effect and biological nitrogen fixed by forage legumes and grass crops on the yield of sorghum (Sorghum vulgare, Pers.)cultivated in rotation. I. Colina, State of São Paulo, Brazil) JoAo DELlSTOIANOV (2), VALDINEI TADEU PAULlNO (3) e HERBERT BARBOSA DE MATTOS (3) R ESUMO: O trabalho foi conduzido na Estação Experimental de Zootecnia de Colina, SP, com o objetivo de estudar os efeitos residuais do nitrogênio mineral e biológico forneci- do por leguminosas sobre o rendimento do sorgo forrageiro como cultura em rotação. O sorgo foi estabelecido em parcelas cultivadas anteriormente por três anos com Glycine wightii Verdc. cv. Tinaroo, Pueraria phaseoloides (Roxb) Benth., Centrosema pubescens Benth. ê--Panicum maximum Jacq. sem nitrogênio ou fertilizadas com dois níveis de ni- trogênio mineral (150 e 300 kg/ha/ano), bem como o colonião consorciado com as aludi- das leguminosas, níveis de nitrogênio e testemunha (solo em pousio). Os resultados obti- dos revelaram produções de sorgo, em termos de matéria seca e de proteína total, mais elevadas nas parcelas anteriormente cultivadas com leguminosas exclusivas e sem adubo nitrogenado. Os valores médios de produções de matéria seca e de proteína bruta nos tra- tamentoscultivados anteriormente com leguminosas exclusivas, adubadas com 150 e 300 kg/ha de nitrogênio, consorciadas, colonião exclusivo e adubado com 150 e 300 kgfha de nitrogênio e testemunha foram: 11.693 e 649; 8.223 e 451; 3.907 e 199; 7.200 e 380; 4.730 e 246; 9.730 e 610 kg/ha/ano, respectivamente. .z: ~ bem conhecida a estacionalidade de produção das espécies forrageiras durante o ano, caracterizada por um período de chuvas (de outubro a abril) e um de seca (de maio a setembro). A essa situação climática corresponde uma estação can elevadas produções de matéria seca e outra can baixas produções. INIRODUÇÃO Entre as opções índi.cadaspara aIre- nizar a escassez de al.irrento na época da seca está o uso de forragens conservadas na forma de silagem, destacando-se a de sorgo, A cultura de sorgo apresenta algumas vantagens quando canparada à de milho: é cultivado principalmente onde as condições de precipitação pllNial são 1n- e) Parte do Projeto IZ.Q03/78, em convênio com a Embrapa. Recebido para publicação em agosto de 1986. c2) Da Estação Experimental de Zootecnia de Colina. e) Da Seção de Nutrição de Plantas Forrageiras, Divisãó de Nutrição Animal e Pastagens. Bolsista do CNPq. 295

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EFEITO RESIDUAL DO NITROGÊNIO MINERAL E BIOLÓGICO FIXADO PORLEGUMINOSAS FORRAGEIRAS E DO CULTIVO DE GRAMfNEAS

FORRAGEIRAS SOBRE O RENDIMENTO DO SORGO CULTIVADOEM ROTAÇÃO. I. COLINA (1)

(Residual effect and biological nitrogen fixed by forage legumes and grass crops on the yield ofsorghum (Sorghum vulgare, Pers.)cultivated in rotation. I. Colina, State of São Paulo, Brazil)

JoAo DELlSTOIANOV (2), VALDINEI TADEU PAULlNO (3) e HERBERT BARBOSA DE MATTOS (3)

RESUMO: O trabalho foi conduzido na Estação Experimental de Zootecnia de Colina, SP,com o objetivo de estudar os efeitos residuais do nitrogênio mineral e biológico forneci-do por leguminosas sobre o rendimento do sorgo forrageiro como cultura em rotação. Osorgo foi estabelecido em parcelas cultivadas anteriormente por três anos com Glycinewightii Verdc. cv. Tinaroo, Pueraria phaseoloides (Roxb) Benth., Centrosema pubescensBenth. ê--Panicum maximum Jacq. sem nitrogênio ou fertilizadas com dois níveis de ni-trogênio mineral (150 e 300 kg/ha/ano), bem como o colonião consorciado com as aludi-das leguminosas, níveis de nitrogênio e testemunha (solo em pousio). Os resultados obti-dos revelaram produções de sorgo, em termos de matéria seca e de proteína total, maiselevadas nas parcelas anteriormente cultivadas com leguminosas exclusivas e sem adubonitrogenado. Os valores médios de produções de matéria seca e de proteína bruta nos tra-tamentoscultivados anteriormente com leguminosas exclusivas, adubadas com 150 e 300kg/ha de nitrogênio, consorciadas, colonião exclusivo e adubado com 150 e 300 kgfhade nitrogênio e testemunha foram: 11.693 e 649; 8.223 e 451; 3.907 e 199; 7.200 e380; 4.730 e 246; 9.730 e 610 kg/ha/ano, respectivamente.

.z:

~ bem conhecida a estacionalidade deprodução das espécies forrageiras duranteo ano, caracterizada por um período dechuvas (de outubro a abril) e um de seca(de maio a setembro). A essa situaçãoclimática corresponde uma estação canelevadas produções de matéria seca e outracan baixas produções.

INIRODUÇÃO

Entre as opções índi.cadaspara aIre-nizar a escassez de al.irrento na época daseca está o uso de forragens conservadasna forma de silagem, destacando-se a desorgo, A cultura de sorgo apresentaalgumas vantagens quando canparada à demilho: é cultivado principalmente onde ascondições de precipitação pllNial são 1n-

e) Parte do Projeto IZ.Q03/78, em convênio com a Embrapa. Recebido para publicação em agosto de 1986.c2) Da Estação Experimental de Zootecnia de Colina.e) Da Seção de Nutrição de Plantas Forrageiras, Divisãó de Nutrição Animal e Pastagens. Bolsista do CNPq.

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suficientes para milho e possui extraordi-nária capacidade de suportar solos enchar-cados, impróprios para o cultivo daquele,aceitando, ainda, plantio mais tardio.EnDora o seu conteúdo de proteína sejamais acentuado, em virtude da maior rique-za em óleo e digestibilidade mais elevadadas proteínas, o milho apresenta valoral.imentíci.o superior. De rrodo geral, assilagens de sorgo têm sido reputadas em85% a 90% do valor da silagem de milho(VIÉGAS & BANZATTO, 1963).

MATIOS s PEDREIRA (1975) obtiverampara o sorgo cv. Sart rendírrentos nÉdiosde 18,4 t/ha de matéria seca, assim dis-tribuídas: 14,64, 3,16 e 0,60, em trêscortes. Com relação aos teores de proteínabruta da planta inteira, isto é, engloban-do as folhas, colrms e panículas, foramencontrados 8,34%, 5,58% e 10,09%, respec-tivélIrente.

BUFARAH et alii (1975) efetuaram es-tudos canparando as produções de matériaseca e de proteína de quatro forrageirasanuais e obtiveram para o sorgo cv. Sart5.227 e 243,8 kg/ha, respectivélIrente.

Em relação à fertilidade do solo,MATI'OS s PEDREIRA (1975) infonnam ser osorgo menos exigente do que o milho. Osorgo responde de fonna pronunciada àadubação, nonnalmente a nitrogenada em co-bertura, segundo vIÉGAS s BANZATIO (1976),que observaram também que em terras debaixa fertilidade o cv. Start produziu38,5 t/ha de matéria verde, enquanto omílho híbrido HHD 6999 propiciou apenas17,2 t/ha.

'Il~1[mRJ & SUNDRAH (197l~), tra-balhando com cinco cultivares de sorgo efornecendo de ° a 150 kg/ha de nitrogênio,constataram que 75 kg/ha proporcionaram as

mais altas produções de forragem verde ede matéria seca, e os mais altos Indícesde proteína e de cinzas na matéria seca.

As leguminosas forrageiras com ca-pacidade de fixar nitrogênio atmosféricomediante a sirnbiose com bactérias do gêne-ro Rhizobium, apresentam uma situação deindependência de adubação nitrogenada parasuprir as suas exigências com relação aoelemento. Trabalhos realizados por diver-sos pesquisadores evidenciam um potencialde fixação de nitrogênio em torno de 100kg/ha/ano, o qual pode ser aproveitadoprincipalmente por grarníneas empregadascaro cultura em rotação ou utilizadas emconsorciação.

O efeito benéfico das leguminosassobre outras culturas' utilizadas em rota-ção foi constatado por diversos pesquisa-dores, dentre os quais SUTHERLAND et alii(1961), STICKLER et alii (1959) e ~-NHAS et alii (1978). Esses últirros, traba-lhando num Latosol Roxo (cerrado rec~re-cuperado), derronstraram que quando o milhoé plantado após o cultivo de soja duranteum a quatro anos consecutivos, apresentapequeno aumento de produção pela aplicaçãode nitrogênio mineral em cobertura.Observaram, ainda, que os restos de cultu-ra, raízes e nódulos incorporados ao soloapós a colheita de soja constituíramfontes suficientes de nitrogênio para essagrarnínea; o aurento de produção de grãofoi diretélIrenteproporcional ao tempo decultivo anterior com soja.

GALLO et ali i (1981), verificando osefeitos residuais da cultura de soja emáreas deixadas em alqueive por cerca dequinze anos e em áreas adjacentes cultiva-das sucessivélIrentepor três, quatro e cin-co anos com a soja, num solo podzólico

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Vermelho-Amarelo Orto, verificaram quequatro anos consecutivos anteriores cansoja proporcionaram aumentos ma10res naprodução de rrálho do que a aplicação de 60kg/ha de nitrogênio.

OLIVEIRAet alii (1979) estudaram osefeitos do nitrogênio residual fixado porlinhagens de soja nodulante e não-nodulan-te sobre as produções e teor~ de nitrogê-nio da parte aérea de trigo caro culturaem rotação. Verificaram que onde haviasido plantada a soja nodulante a produçãofoi 23% superior à da parcela plantadacan a soja não-nodulante. O aumento deprodução esteve associado ao aumento doteor de nitrogênio da parte aérea e dassenentes , o que derronstra o benefício danodulação.

Considerando-se o potencial de fixa-ção de nitrogênio das legurránosas forra-geiras, observa-se que são poucos os estu-dos sobre os efeitos residuais donitrogênio no rendimento e na qualidade degramíneas forrageiras, quando empregadascaro cultura de rotação. Esse sistema al-ternativo representaria economia de ferti-lizantes e, portanto, de divisas.

O presente trabalho teve por objeti-vo comparar os efeitos residuais de níveisde fertilização nitrogenada em gramínease Ieguminosas e do nitrogênio biológicofixado e incorporado por três legurránosasforrageiras cultivadas anteriormente du-rante três anos, sobre as produções de ma-téria verde, matéria seca e proteína brutado sorgo forrageiro.

MATERIALE MÉIDoos

O ensaio foi conduzido a campo naEstação Experimental de Zootecnia de Coli-na, SP; do Instituto de Zootecnia, rnm so-lo classificado coro Latossolo VermelhoEscuro Orto.

O sorgo forrageiro cv. Sart (Br 501)foi estabelecido emrotação, ao parcelaspertencentes a ensaio anterionnente cul-tivado por três anos, as quais eramconstituídas pelos seguintes tratarnentos:soja-perene cv. Ti.ranoo, cudzu-t.ropical ,cent rosema e colonião exclusivos enão adubados com nitrogênio, e cada unadessas espécies forrageiras adubadas com150 e 350 kg/ha/ano de nitrogênio, ouainda o colorrião consorciado cem cada umadas Legiminosas, A esses tratarrentos

acrescentou-se tnIl testemunha, cem solo emalqueive na sua fertilidade natural.

O sorgo foi saneado ao 21 denovembro de 1982, ao parcelas de 3,00 mx 6,00 m, na base de 10 kg/ha de senent.ese adubação no sulco de 40 kg/ha de P 05 e

/.220 kg ha de K o. Cada parcela f01 ocupada

, Li 2 . 1por sei.s ínhas no sent ido transversa eespaçadas um net.ro; as avaliações finaisforam realizadas rias duas linhas centrais.Antes da semeadura, o mater ia'l disponíveldas parcelas foi avaliado e incorporado aosolo em 14 de julho de 1982 através do usode egxada rotativa, para decomposição atéo nês de outubro. Pela avaliação verifi-cou-se que o colonião adubado can 300 kg/ha de nitrogênio apresentou quantidademais elevada de material disponível e quedentre as Iegunínosas exclusivas, asoja-perene mostrou maior quantidade dematéria seca disponível (qu.'ldro 1).

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o delineamento experimental foi deblocos ao acaso, com três repetições.

o solo foi amostrado em todas as ~-celas antes da semeadura, revelando os se-guintes resultados da composição química,~ia dos dezesseistratamentos: pH =

++4,57, matéria orgânica (%)= 1,31, Ca. ++ .+++0,94, Mg = 0,19, A1 = 0,65 (em equi-

+valente mi1igrama/1oo m1 de TFSA), K =85,0 e P = 52 (microgramas/mi1i1itro deTFSA).

No quadro 2 são apresentados 03 re-sultados da análise do solo com relaçãoaos teores de carbono e nitrogênio e re1a-

ção carbono/nitrogênio antes e após a 1n-corporação do material oriundo das parce-las do ensaio anterior. O carbono orgânicofoi determinado de acordo corn o nétododescrito por WALKLEY (1947).

Foi realizado um único corte de ava-liação, em 8 de março de 1983, quando amaioria das parcelas apresentava panícu1ascorn os grãos em estágio farináceo. Os pa-râmetrós avaliados foram: produções totaisde matéria verde, matéria seca e proteínabruta por hectare; percentagens de folhas,panícu1as e colmos na produção de matériaseca. Após as devidas pesagens, as amos-

otras de sorgo foram secas a 65 C por LiB

horas, em estufa de circulação forçada.

Quadro 1. Quantidades de matéria seca incorporadas ao soloantes do plantio do sorgo; médias de três repeti-ções

Culturas anteriores Matéria seca(kg/ha)

Soja-pereneCudzu-tropicalCentrosemaSoja-perene + 150,NCudzu-tropical + 150 NC~ntrosema + 150 NSoja-perene + 300 NCudzu-tropical + 300 NCentrosema + 300 NColonião + soja-pereneColonião + cudzu-tropicalColonião + centrosemaColoniãoColonião + 150 NColonião + 300 N

630280270600150120490440140590500760490730

1.120

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Quadro 2. Teores de nitrogênio (%) e de carbono (%) do solo e relação carbono/nitrogênio (C/N) antes da incor-poração das culturas anteriores e na época do plantio

Culturas anteirores Antes da incorporação Época do plantio1 N(2) 1 N(2)C( ) C/N C( ) C/N

Soja-perene 0,52 0,11 4,5 0,52 0,06 8,7Cudzu-tropical 0,70 0,11 6,4 0,70 0,05 14,0Centrosema 0,70 0,10 7,0 0,52 0,05 10,4Soja-perene + 150 N 0,70 0,10 7,0 0,76 0,06 11,7Cudzu-tropical + 150 N 0,70 0,11 6,4 0,52 0,07 7,4Centrosema + 150 N 0,70 0,12 5,8 0,70 0,05 14,0

I\J Soja-perene + 300 N 0,10 0,52 10,4co 0,58 5,8 0,05coCudzu-tropical + 300 N 0,58 0,12 4,8 0,70 0,06 11,7Centrosema + 300 N 0,70 0,12 5,8 0,52 0,07 7,4Colonião + soja-perene 0,52 0,17 3,0 0,52 0,05 10,4Colonião + cudzu-tropical 0,70 0,11 6,4 0,52 0,06 10,4Colonião + centrosema 0,70 0,10 7,0 0,58 0,06 9,7Colonião 0,76 0,12 6,3 0,58 0,06 9,7Colonião + 150 N 1,63 0,10 16,3 0,81 0,06 13,5Colonião + 300 N 1,16 0,12 9,7 1,80 0,07 25,7

Solo em alqueive 1,6 - - 1,28 0,05 25,6

(') Teor médio de carbono: 0,80 - ',4%.

(2) Teor médio de nitrogênio: 0,08 - 1,4l

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RESULTAln> E DISCUSSÃO

Os teores de carbono e nitrogênio eas relações carbono/nitrogênio antes daincorporação das leguminosas ao solo equatro rreses após (época do plantio)obtidos nos diferentes tratarrentos sãonost.rados no quadro 2. Esses dadosevidenciam que, de rrodo geral, o soloapresentou, antes da incorporação .das for-rageiras, baixos teores de carbono emédios de nitrogênio. As relações carbono/nitrogênio rrenores do que 10 na ma10r1adas parcelas demonstram que ínicialnenteos conteúdos de matéria orgânica erambastante baixos e que a maior parte do ni-trogênio possive1rrente estava imobilizada;can a incorporação, houve acréscimo narelação carbono/nitrogênio e, embora apóso período de decanposição os teores decarbono não se alterassem, os de nitrogê-nio foram diminuídos e aquela relação so-freu acréscimos.

No quadro 3 são apresentados os da-dos de produção de matéria verde por hec-tare e a contribuição percentual doscolmos, folhas e penículas na produção dematéria seca do sorgo.

Os rendínentos, em terroosde matériaverde, rrostraram tendência de serem maiselevados onde anteriorrrente foram cultiva-das leguminosas exclusivas não adubadas oua soja-perene can 150 kg/ha de nitrogênio.Tais produções foram similares às encon-tradas por VIÉGAS & BANZATI'O (1963). Veri-fica-se também maior participação do pesodos colmos do que das folhas ou panículasna matéria verde; entretanto, essa distri-buição parece ser mais equitativa quandoos rendimentos do sorgo foram nenores,

No quadro 4 são rmstrados os dadosde produções de matéria seca e de proteínatotal (kg!ha) e os teores de proteína bru-ta na matéria seca (%), médias de três re-petições.

A análise de variância,realizada pe-lo teste F, revelou que houve diferençassignificativas entre tratarrentos. Compa-rando-se as médias de produção de matériaseca e de proteína total por hectare,nota-se que onde foram incorporadas as le-guminosas exclusivas e sem adubação nitro-genada e onde soja-perene recebeu 150kg/ha de nitrogênio houve tendências demaiores produções de sorgo. Analisando-seas produções de matéria seca e de proteínabruta can o testemmha (solo em alqueive),verifica-se que os tratarrentos can cudzu-tropical, centrosema e soja-perene exclu-sivos e sem adubação nitrogenada suplanta-ram o testemunha em 26,82% e 13,11%;19,22% e Lf,Lf2%,e lLf,Lf9% e 1,Lf7%, respecti-vsnente , Dentre as Iegumínosas exclusivase adubadas can nitrogênio (150 kg/ha) ,apenas o tratarrento can soja-perene supe-rou o testemunha, em 10,99% e 0,Lf9% para amatéria seca e proteina bruta, respectiva-Ilente.

A canparação das produções dematéria seca do sorgo forrageiro ondeanteriorrrente se cultivaram cudzu-tropicalcentrosema, soja-perene mais 150 kg/ha denitrogênio can o testemmha não demonstra-ram diferenças estatísticas significativaspelo teste Tukey a 5%; entretanto, rmst ra-ram tendências de serem superiores às pro-duções obtidas quando soja-perene, centro-sema e colonião receberam 300 kg/ha de ni-

300

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c,

Quadro 3. Produção de matéria verde de sorgo (kg/ha) e contribuição percentual de colmos, folhase panículas; médias de três repetições

-MatériaCulturas anteriores Contribuição percentualverde(kg/ha) Colmos Folhas Panículas

Soja-perene 40.370 60,6 16,1 23,3Cudzu-tropical 46.481 69,2 13,3 17,5Centrosema 40.741 66,4 16,7 16,9Soja-perene + 150 N 43.333 69,4 11,6 19,0

tAl Cudzu-tropical + 150 N 12.251 42,2 10,6 47,0o Centrosema + 150 N 31.289 57,3 16,6 26,1....•

Soja-perene + 300 N 7.185 32,1 31,4 36,5Cudzu-tropical + 300 N 16.481 45,8 18,2 36,0Centrosema + 300 N 9.259 29,7 30,6 39,7Colonião + soja-perene 21.111 55,6 20,5 23,9Colonião + cudzu-tropical 30.730 60,2 17,2 22,6Colonião + centrosema 27.037 62,9 22,5 14,6Colonião 22.870 51,0 18,9 30,1Colonião + 150 N 15.740 46,3 22,6 31,1Colonião + 300 N 10.037 31,6 27,1 41,3Testemunha 32.037 59,3 19,1 21,6

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oQuadro 4. Produções totais de mat~ria seca a 65 C e de protefna bruta do sorgoteores de protefna bruta na mat~ria seca; m~dias de três repetições

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(kg/ha) eC·••;;••:::I~.

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6,564,824,515,015,615,096,27-ns

Mat~ria seca ProtefnaCulturas anteriores (kg/ha) bruta

(kg/ha)Soja-perene 11.140 619Cudzu-tropical 12.340 690Centrosema 11.600 637Soja-perene + 150 N 10.800 613Cudzu-tropical + 150 N 5.400 246Centrosema + 150 N 8.470 495

w Soja-perene + 300 N 2.760 126or-.,) Cudzu tropical + 300 N 5.780 307Centrosema + 300 N 3.180 165Colonilo + soia-oerene 6.900 453Colonião + cudzu-tropical 7.800 376,Colonilo + centrosema 6.900 311Colonilo 6.700 336Colonilo + 150 N 4.340 243Colonilo + 300 N 3.150 160Testemunha 9.730 610

DMS (Tukey 5%) 6.490 184

CV (%) = 29,00

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t.rogenio, Cultivos exclusivos das legumi-nosas soja-perene, cudzu-tropical e cen-trosema corresponderam à maiores produçõesde matéria seca do sorgo em comparaçãocem o colonião fertilizado con 150 e 300kg/ha de nitrogênio, enquanto o cudzu-tro-pical teve efeitos superiores ao cudzu-tropical adubado cem 150 e 300 kg/ha denitrogênio.

Essas produções de matéria seca e deproteína bruta do sorgo cv. Sart são supe-riores às encontradas por BUFARAH et alii(1975), sendo, porém, inferiores às obti-das por MATl'OS & PEDREIRA (1975).

As diferenças de produção de sorgoobtidas nas parcelas cem leguminosas ex-clusivas dev~se principalmente às quan-tidades de nitrogênio transferidas ao so-lo. Assim, as leguminosas, cem o seu po-tencial de fornecimento de nitrogênio pelafixação biológica, quer pela decomposiçãodas folhas, caules e raizes, quer pelanorte de seus nódulos, favoreceram o rre-lhor desenvolvírrento do sorgo forrageiroconparat ivarente às produções de matériaseca obtidas das parcelas cem leguminosasadubadas cem 150 e 300 kg/ha de nitrogênioe as cem colonião consorciado e adubadocem os nesnos níveis.

Esses resultados confirmam os depesquisadores como SUTHERLAND et alii(1961), STICKLER et alii (1959), MASCARE-NHAS et alii (1978), GALLO et alii (1981)e OLIVEIRA et alii (1979), sobre os efei-tos residuais da cultura de soja sobre ocultivo sucessivo de urna gramínea.

CONCLUSÕES

1. A adubação nitrogenada em formamineral na cultura anterior de legurninosas

Embora as quantidades de cap~colo-nião incorporadas ao solo possam ser atésuperiores às das leguminosas, a velocida-de de decomposição desse material é muitomais lenta, liberando, portanto, IIHÍsde-noradarente, nenoren quantidades de nitro-gênio para aproveitamento pelo sorgo. Comoa quantidade liberada ~ pequena, há tambémccrnpetição entre os microrganismos do soloe o sorgo pelo nitrogênio liberado pelaincorporação dessa matéria orgânica.

A diferença de produção de matériaseca do sorgo entre as parcelas cemleguminosas exclusivas não adubadas e asque receberam adubação nitrogenada, pren-de-se principalJrente aos níveis de cálcioe potássio e ao pH do solo (quadro 5). Osresultados evidenciam que as adubações ni-trogenadas cem sulfato de amônio elevarama acidez do solo. Quanto mais elevado onível nitrogênio, rrenor a produção de sor-go nas parcelas cultivadas cem leguminosasexclusivas. Nas parcelas onde o coloniãofoi cultivado anteriorJrente, consorciadocem as leguminosas em apreço, a produçãomédia suplantou as de cultivo cem o colo-nião exclusivo e adubadas com 150 e 300kg/ha de nitrogênio. As adubações nitroge-nadas, cem base no sulfato de amônio,conforme já evidenciado cem as leguminosase nas gramínea~no caso específico o co-lonião, resultaram em produções mais ele-vadas no início, mas cem quedas acentuadasa cada corte pela elevada rennção de p0-tássio, bem como de cálcio e magnésio.

reduziu as produções médias de matériaseca e de proteína bruta do sorgo for-

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Quadro 5. Resultados da análise química do solo dos diferentes tratamentos na époça decolheita do sorgo; médias de três repetições

CaC12 K Ca Mg Mat. Org.Culturas anteriores (pH) cm3 (%)meq!100

Soja-perene 4,4 0,15 0,8 0,2 1,6Cudzu-tropical 4,3 0,16 0,7 0,1 1,5Centrosema 4,3 0,14 0,7 0,2 1,4Soja-perene + 150 N 4,0 0,11 0,4 0,1 1,3Cudzu-tropical + 150 N 3,9 0,10 0,2 0,1 1,7Centrosema + 150 N 4,0 0,09 0,3 0,1 1,4Soja-perene + 300 N 3,9 0,10 0,3 0,2 1,4Cudzu-tropical + 300 N 3,9 0,12 0,2 0,1 1,5Centrosema + 300 N 3,8 0,07 0,3 0,1 1,4Colonião + soja-perene 4,3 0,08 0,3 0,1 1,4Colonião + cudzu-tropical 4,4 0,09 0,4 0,1 1,7Colonião + centrosema 4,5 0,07 0,3 0,1 1,4Colonião 4,3 0,10 0,6 0,2 1,7Colonião + 150 N 4,2 0,07 0,3 0,2 1,6Colonião + 301)N 4,-, 0,09 0,3 O,', 1,5Tes t emunha 4,3 0,08 0,6 0,1 1,4

rageiro de 11.693 e 649 para 8.223 e 451kg/ha com 150 kg/ha de nitrogênio e para3.907 e 199 kg/ha cem 300 kg/ha de nitro-gênio.

2. Can relação às parcelas antescultivadas carncapirnrcolonião consorciadocem legurninosas em camparação carno colo-nião exclusivo, observaram-se produçõesmédias pouco superiores de matéria seca ede proteína bruta, de 7.200 e 380 kg/ha e6.700 e 336 kg/ha, respectivanente. Obser-vou-se também diferença marcante nas pro-duções entre as parcelas antes cultivadascarn colonião exclusivo, em notória superi-

oridade às de matéria seca e de proteínatotal do col.oni.ão adubado cem 150 e 300kg/ha de nitrogênio, da ordem de 6.700 e336 kg/ha para 4.340 e 243 kg/ha, e 3. 150e 160 kg/ha, respectivanente.

3. Produções elevadas de matéria se-ca e de proteína bruta do sorgo foramobtidas carno testemunha (solo em pousio),na proporção de 9.730 e 610 kg/ha, sendosuplantado, em média, apenas pelostratanentos que receberam em cultivo ante-rior as legurninosas exclusivas e sem adu-bação nitrogenada, de 11.693 e 649 kg/ha.

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SU MMA RY : This experiment was carried out in the field at the Estação Experimentalde Zootecnia de Colina, State of São Paulo, Brazil, with objective studied that the re-sidual mineral nitrogen fertilization and bíological nitrogen fixed by forage legumeseffect of sorghum with rotation culture. The sorghum was sown in the plots beforecultivated during three years with perennial soybean, cudzu, centro and colonião grass.The grass, as well as the legumes, had been fertilized with three levels of nitrogen (O, 150and 300 'kilogram per hectare per year) or mixed with the legumes. A control plot wasadded. The nitrogen biologically incorporated by the legumes resulted in the increases inthe dry matter and protein production. The dry matter and protein production ofsorghum in the plots with exclusive legume, legume with 150 kg N/ha, legume with 300kg N/ha, legume mixed colonião, coloníão with O, 150 and 300 kg N/ha and controlwere: 11.693 and 649; 8.223 and 451; 3.907 and 199; 7.200 and 380; 4.730 and 246;9.730 and 610 kg/ha/ano, respectívely.

AGRADECIMENIDS

À técnica de laboratório Maria José Frigoni Mariguela, pelas análises brornatológi-cas; à equipe de apoio à pesquisa e às escriturárias Arlete Duarte e Maria Goretti Fariasde Souza, pelos serviços de datilografia.

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