Jeffrey Archer - Doze Pistas Falsas

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Doze Pistas Falsas Ttulo original: Twelve- Red Herrings Jeffrey Archer Nos doze contos que compem esta obra, Jeffrey Archer faz uso de pistas falsas p ara conduzir o leitor, de forma elegante e engenhosa, idia de que as coisas no so o que realmente parecem ser. Cada desfecho uma espetacular surpresa. "Jeffrey Archer mestre em entreter." TIME "Um romancista da classe e estilo de Alexandre Dumas." WASHINGTON POST Jeffrey Archer tem sido aclamado "como, provavelmente, o maior contista de nossa poca" Suas istrias so assim descritas pelo Sunday Express.. Leia tambm: Caim e Abel A Filha Prdiga O Homicdio Perfeito Honra entre Ladres Primeiro entre Iguais O Vo do Corvo Doze Pistas Falsas Jeffrey Archer Traduo Maria D. Alexandre BERTRAND BRASIL Copyright (c) 1994 by Jeffrey Archer Ttulo original: Twelve- Red Herrings Capa: projeto grfico de B4 Comunicao Editorao eletrnica: Imagem Virtual, Nova Friburgo, RJ 1996 Impresso no Brasil Printed in Brazil CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, ]. Archer, Jeffrey, 1940A712d Doze Pistas Falsas / feffrey Archer ; traduo Maria D. Alexandre - Rio de Jan eiro : Bertrand Brasil, 1996. Traduo de: Twelve Red Herrings ISBN 85-280-0576-0 96-1044 1. Fico inglesa. I. Alexandre, Maria D. II. Ttulo. CDD - 823 CDU - 820-3 Todos os direitos reservados pela: UBCD UNIO DE EDITORAS S.A. Av. Rio Branco, 99 - 20 andar - Centro 20040-004 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (021) 263-2082 Fax: (021) 263-6112 Av. Paulista, 2.073 - Conj. Nacional - Horsa I - Salas 1301/2 01311 -300 - So Paulo - SP Tels.: (011)251-2377/285-4941 Fax: (011)285-5409/287-6570 No permitida a reproduo total ou parcial desta obra, por quaisquer meios, sem a prvi a autorizao por escrito da Editora. Atendemos pelo Reembolso Postal. Para Chris, Carol... e Alyson Sumrio Erro Judicial 9Pela Metade do Preo* 75 O Brao Direito de Dougie Mortimer* Passagem Proibida* 113 Sem Luz no Fim do Tnel* 131 O Engraxate* 151 Voc no Viver para se Arrepender* Nunca Pare na Estrada* 197 Nem Tudo Est Venda 213 "Timeo Danaos..."* 239 Olho por Olho* 255 Como Prefere a Carne? 27791181* As histrias, cujo ttulo seguido de um asterisco, so baseadas em incidentes conhe cidos (embora algumas delas tenham sido consideravelmente alteradas). As restantes so produto da minha imaginao. Julho de 1994 J. A. ERRO JUDICIAL DIFCIL SABER EXATAMENTE POR ONDE COMEAR. Mas, primeiro, vou explicar por que motiv o estou na priso. Foi um julgamento que durou dezoito dias, e, desde o momento em que o juiz entro u na sala do tribunal, os bancos destinados ao pblico transbordavam de gente. O jri do Tribunal Real de Leeds estivera reunido durante quase dois dias, e corria o boato de que os jurados se encontravam irremediavelmente divididos. Na bancada dos advogados falava-se em jurados demitidos e segundos julgamentos, j que haviam passado mais de oito horas desde que Sua Excelncia o juiz Cartwright dissera ao primeiro jurado que o veredicto no precisava ser unnime: seria aceitvel uma maio ria de dez. Subitamente, constatou-se certa agitao nos corredores, e os membros do jri dirigira m-se em silncio a seus lugares. A imprensa e o pblico precipitaram-se para o interior da sala do tribunal. Todos tinham os olhos postos no primeiro jurado, um homenzinho gordo, de aspecto jovial, que envergava jaqueto, camisa listrada e a gravata-borboleta colorida, e que se esforava por apresentar aspecto solene. Parecia o tipo do sujeito com quem, em circunstncias normais, eu teria gostado de beber uma cerveja no bar mais prximo. Mas aquela circunstncia no era normal. Quando voltei a subir os degraus que levavam ao banco dos rus, meu olhar caiu sob re uma bonita loura que estivera todos os dias na platia. Perguntei a mim mesmo se ela assistiria a todos os julgamentos sensacionais ou se aquele a fascinava e specialmente. 11 No mostrava o mnimo interesse por mim e, como todo mundo, concentrava toda a sua a teno no primeiro jurado. O escrivo do tribunal, que usava peruca e envergava longa tnica preta, ficou de p e leu as palavras escritas num carto, que, segundo penso, j devia saber de cor. - O primeiro jurado queira, por favor, levantar-se. O homenznho jovial ergueu-se lentamente. - Responda sim ou no minha pergunta. Os senhores jurados chegaram a algum veredic to com que pelo menos dez membros do jri tenham concordado? - Sim, chegamos. - Senhores jurados, consideram o ru culpado ou inocente da acusao que lhe imputada? Fez-se total silncio na sala do tribunal. Meus olhos estavam cravados no jurado da gravatinha colorida. O homem pigarreou e disse... Conheci Jeremy Alexander em 1978, num seminrio de treinamento da CBI, em Bristol. Cinqenta e seis companhias inglesas, em busca de expanso pela Europa, tinham-se reunido para obter esclarecimentos sobre direito comunitrio. Quando me inscrevi n o seminrio, a Cooper, companhia da qual eu era administrador, tinha cento e vintesete veculos de diversos pesos e tamanhos, e se transformava rapidamente numa das maiores empresas privadas de transportes da Inglaterra. Meu pai havia fundado a firma em 1931, comeando com trs veculos, dois deles puxados por cavalos, e um limite de crdito de dez libras na filial local do Banco Martins. Na poca em que nos tornamos Cooper & Filho, em 1967, a companhia dispunh a de dezessete veculos com quatro rodas ou mais e transportava mercadorias para toda a regio norte da Inglaterra. Mas o velho continuava recusando resolutamente exceder seu limite de crdito de dez libras. Certa vez, durante uma queda do mercado, manifestei a opinio de que deveramos tent ar expandir-nos, procurando no12 vos negcios, talvez at no continente. Mas meu pai no me deu ouvidos. "No vale a pena correr esse risco", declarou. No confiava em pessoa alguma que tivesse nascido ao sul do Humber e muito menos nas que haviam nascido do outro lado do c anal. "Se Deus colocou aquela gua entre ns, sabia o que estava fazendo", foram suas palavras definitivas sobre o assunto, o que me provocaria vontade de rir se no soubesse que ele estava falando srio. Quando se aposentou, em 1977, aos setenta anos de idade, e com certa relutncia oc upei o lugar de administrador e comecei a pr em prtica algumas idias que havia elaborado durante a dcada anterior, apesar de saber que meu pai no as aprovava. A Europa foi apenas o incio de meus planos para a expanso da companhia: cinco anos depois, decidi transform-la em sociedade annima. Nessa ocasio, percebi que nec essitaria de um emprstimo de pelo menos um milho de libras e, para isso, teria de transferir nossa conta para um banco que reconhecesse que o mundo se es tendia alm das fronteiras do condado de Yorkshire. Foi ento que tomei conhecimento do seminrio da CBI, em Bristol, e me inscrevi. O seminrio comeou na sexta-feira, com o discurso de abertura do presidente do Dire trio Europeu da CBI. Depois disso, os delegados dividiram-se em oito pequenos grupos de trabalho, cada um deles presidido por um perito em direito comunitrio. Meu grupo era dirigido por Jeremy Alexander. Admirei-o desde o momento em que co meou a falar. Na realidade, no seria exagerado afirmar que fiquei assombrado. Era dota do de absoluta auto-segurana e, como eu viria a constatar, capaz de apresentar, sem esforo, algum argumento convincente sobre qualquer assunto, desde a superiori dade do Cdigo de Napoleo at a inferioridade da produo inglesa de algodo. Falou durante uma hora sobre as diferenas fundamentais entre as prticas e procedim entos dos estados-membros da Comunidade e, em seguida, respondeu a todas as noss as perguntas sobre direito comercial e empresarial, ainda encontrando tempo para 13 explicar a importncia da crise uruguaia. Como eu, os outros membros do grupo no pa ravam de tomar notas. Fizemos um intervalo para o almoo alguns minutos antes da uma hora, e consegui ar ranjar um lugar ao lado de Jeremy. J estava comeando a pensar que ele seria a pessoa ideal para me aconselhar quanto forma de pr em prtica minhas ambies europias. Ouvindo-o falar sobre sua carreira enquanto comamos empado de peixe com pimentes ve rmelhos, me dava conta de que, apesar de termos a mesma idade, no poderamos ter vindo de extratos mais diferentes. O pai de Jeremy, banqueiro de profisso, ti nha fugido da Europa Oriental alguns dias antes de estourar a Segunda Guerra Mun dial. Instalou-se na Inglaterra, anglicanizou seu nome e mandou seu filho para Westmin ster, de onde Jeremy foi para o King's College de Londres e fez o curso de direi to, licenciando-se com notas altas. Meu pai foi um homem que se fez prpria custa em Yorkshire Dales e insistiu para q ue eu parasse de estudar mal terminei o curso secundrio. "Eu lhe ensino mais sobre a vida real num ms do que voc aprenderia durante uma vida inteira com esses tipos da universidade", costumava dizer. Aceitei sua filosofia sem duvidar delae deixei o colgio algumas semanas depois de fazer dezesseis anos. Na manh seguinte , comecei a trabalhar na Coopers como aprendiz e passei os trs primeiros anos no armazm, sob o olhar vigilante de Buster Jackson, o chefe das oficinas, que me ensinou a desmontar todos os veculos da companhia e, o que era mais importante, a mont-los de novo. Depois de terminar meu curso de oficina, passei dois anos no departamento de con tabilidade, aprendendo a calcular os preos e a cobrar dvidas difceis. Algumas semanas depois de fazer vinte e um anos, passei no exame de habilitao para conduzi r veculos pesados e, durante os trs anos seguintes, percorri o norte da Inglaterra , entregando de tudo, de animais a abacaxis, a nossos clientes mais afastados. Jer emy havia passado esse mesmo perodo preparando uma tese de mestrado, na Sorbonne, sobre o Cdigo de Napoleo. Quando Buster Jackson se aposentou, passei para o armazm 14 de Leeds, como chefe das oficinas. Jeremy estava em Hamburgo, preparando uma tes e de doutorado sobre barreiras comerciais internacionais. Na poca em que finalmen te abandonou o mundo acadmico e obteve seu primeiro emprego como scio de uma grande f irma de advogados comerciais em Londres, eu estava ganhando um salrio de operrio havia oito anos. Embora tivesse ficado impressionado com Jeremy durante o seminrio, pressenti, vel ada em sua amabilidade superficial, uma forte mistura de ambio e esnobismo intelec tual da qual meu pai teria desconfiado. Intu que ele s aceitara fazer aquela preleo na es perana de, no futuro, obter alguns dividendos. Percebo agora que, desde nosso primeiro encontro, ele pensou que os dividendos seriam grandes. No contribuiu muito para a impresso que me causou o fato de ele ter mais alguns ce ntmetros de altura do que eu e, na cintura, alguns a menos. Isso para no lembrar que a mulher mais atraente do curso acabou indo parar na sua cama na noite de sba do. Encontramo-nos no domingo pela manh para jogar squash, e ele me derrotou completa mente, sem parecer sequer transpirar muito. -Temos de nos encontrar outra vez - disse Jeremy, enquanto nos dirigamos para os chuveiros. - Se est realmente pensando em lanar-se na Europa, talvez eu possa ajud-lo. Meu pai me recomendara que nunca cometesse o erro de imaginar que amigos e coleg as fossem necessariamente animais do mesmo tipo (muitas vezes, citava o Conselho de Ministros como exemplo). Por isso, embora no gostasse dele, antes de partir de Bristol, no final da conferncia, j tinha em meu poder os diversos nmeros de telefone e de fax de Jeremy. Voltei para Leeds no domingo noite e, quando cheguei a casa, corri ao andar de c ima e me agachei aos ps da cama, deleitando minha sonolenta mulher com o relato de um fim de semana que se revelara proveitoso. Rosemary era minha segunda mulher. A primeira, Helen, estudou no Colgio Feminino de Leeds mesma poca em que eu freqentava o colgio vizinho. Os dois estabelecimentos 15 partilhavam um nico ginsio, e, aos treze anos de idade, apaixonei-me ao v-lajogar b asquete. Depois disso, todas as desculpas me serviam para ir ao ginsio, na esperana de vislumbrar seus cales azuis quando ela pulava para lanar a bola certeira na cest a. Como os dois colgios promoviam diversas atividades conjuntas, comecei a me interessar vivamente por produes teatrais, apesar de no saber representar. Assis ti a debates, sem nunca abrir a boca. Inscrevi-me na orquestra conjunta e acabei tocando tringulo. Depois de sair do colgio e ir trabalhar na oficina, continuei aver Helen, que estava fazendo o segundo grau. Apesar de minha paixo, s fizemos amor quando j tnhamos dezoito anos, e, mesmo assim, no tenho certeza de termos cons umado o ato. Seis semanas depois, ela me disse, debulhada em lgrimas, que estava grvida. Contra a vontade dos pais dela, que tinham esperanas de v-la na univ ersidade, fizemos um casamento apressado. Mas eu, que no pretendia olhar para outra mulher durante o resto de minha vida, sentia-me secretamente encantado com o resultado de nosso pecado juvenil. Helen morreu na noite de 14 de setembro de 1964, ao dar luz nosso filho, tom, que sobreviveu apenas uma semana. Pensei jamais conseguir vencer o desgosto e no estou certo de que tenha conseguido. Depois de sua morte, no olhei para uma nica m ulher durante anos, dedicando toda a minha energia empresa. Depois dos funerais de minha mulher e meu filho, meu pai, que no era homem compassivo ou sentimental (no se encontram muitos no Yorkshire), revelou-me um aspecto sensvel de seu carter, que eu ainda no tivera oportunidade de conhecer. Telefonava-me muitas vezes noite para saber como eu estava e insistia para que eu fosse com ele regularmente para o camarote da administrao em Elland Road, para ver o Leeds United jogar aos sb ados tarde. Comecei a compreender, pela primeira vez, por que motivo minha me ainda o adorava depois de mais de vinte anos de casamento. Conheci Rosemary ce rca de quatro anos depois, num baile organizado para inaugurar o Festival de Msica de Leeds. No era meu habitat natural, mas, como a Cooper tinha um anncio de u ma pgina no programa e o brigadeiro Kershaw, o xerife-mor do condado e presidente do comit do baile, nos havia convidado, 16 no tive alternativa seno vestir meu smoking, raramente usado, e acompanhar meus pa is ao baile. Fui colocado na mesa 17, ao lado de uma senhorita Kershaw, que, afinal, era a fi lha do xerife-mor. Estava elegantemente trajada com um vestido azul sem alas que realava sua figura graciosa. Tinha cabelos ruivos e um sorriso que me fez sentir que ramos amigos h muitos anos. Enquanto comamos uma coisa descrita no cardpio como "Abacate com ervas aromticas", contou-me que tinha terminado o curso de ingls na Universidade de Durham e no sabia ao certo o que fazer da vida. - No quero ser professora - disse. - E no fui feita para ser secretria. - Conversam os durante o segundo e o terceiro pratos sem prestar ateno s pessoas que estavam sentadas ao nosso lado. Depois do caf, ela me arrastou para a pista de da na, onde continuou a expor os problemas que enfrentava diante de qualquer espcie de trabalho quando sua agenda estava to cheia de compromissos sociais. Fiquei muito lisonjeado com o mnimo de interesse que a filha do xerife-mor demons trou por mim, mas, para falar com franqueza, no a levei a srio quando, no fim da festa, sussurrou ao meu ouvido: - Vamos manter contato. Alguns dias depois, entretanto, ela me telefonou, convidando-me para almoar com e la e seus pais no domingo seguinte, na casa de campo da famlia. - Talvez pudssemos jogar um pouco de tnis depois. Voc joga tnis, no joga? No domingo, entrei no carro e fui at Church Fenton, descobrindo que a residncia do s Kershaw era exatamente como eu a imaginava... grande e decadente, descrio que, pensando bem, tambm servia para o pai de Rosemary; um tipo simptico, entretan to. A me dela, porm, no era to fcil de agradar. Tinha nascido em Hampshire e foi incapaz de disfarar a sensao de que, apesar de eu servir para fazer, de vez e m quando, donativos com fins de caridade, no era, de forma alguma, o tipo de pessoa com quem ela pretendia compartilhar seu almoo de domingo. 17 Rosemary fingiu que no ouvia os antipticos comentrios da me e continuou conversando comigo sobre meu trabalho. Como choveu durante toda a tarde, nunca chegamos a jogar tnis, e Rosemary utilizo u esse tempo para me seduzir, no pequeno pavilho por trs da quadra. A princpio senti-me nervoso por namorar a filha do xerife-mor, mas logo me habituei idia. No entanto, medida que as semanas passavam, comecei a me questionar se, paraela, aquilo seria mais do que mera "fantasia com um caminhoneiro". Isso, evident emente, at ela comear a falar em casamento. A senhora Kershaw no conseguiu esconder seu desgosto diante da idia de que uma pessoa como eu pudesse vir a ser seu genro , mas a opinio dela revelou-se intil, pois Rosemary mostrava-se inflexvel. Casamos dezoito meses mais tarde. Mais de duzentos convidados compareceram ao grandioso casamento campestre, na ig reja paroquial de St. Mary. Mas confesso que, quando fiz meia-volta para ver Ros emary avanar pela nave da igreja, meus pensamentos se voltaram para a cerimnia de meu pr imeiro casamento. Durante alguns anos, Rosemary fez todos os esforos possveis para ser boa esposa. I nteressou-se pela companhia, aprendeu os nomes de todos os empregados, at se fez amiga das mulheres de alguns dos executivos. Mas, como eu trabalhava durante todas as horas que Deus me concedia, receio no lhe ter prestado toda a ateno de que ela necessitava. Rosemary pretendia uma vida feita de idas regulares ao G rand Theatre for Opera North, seguidas de jantares com seus amigos do condado qu e durassem at a madrugada, enquanto eu preferia trabalhar nos fins de semana e esta r na cama antes das onze, na maior parte das vezes. Para Rosemary, eu no estava sendo o marido que dera ttulo pea de Oscar Wilde* que ela me levara recentemente p ara ver... e o fato de eu ter adormecido durante o segundo ato no ajudou muito. Ao fim de quatro anos sem filhos (no que Rosemary no fosse ativa na cama), comeamos a seguir caminhos separados. Se ela An Ideal Husband ("Um Marido Ideal"). (N. da T.) 18 comeou a ter amantes (e eu tambm, sem dvida, sempre que tinha tempo para isso), mos trou-se discreta a esse respeito. E, ento, conheceu Jeremy Alexander. Devem ter passado cerca de seis semanas aps o seminrio em Bristol antes que eu tiv esse ocasio de telefonar para Jeremy a fim de lhe pedir conselhos. Pretendia fechar negcio com uma companhia francesa de queijos, no sentido de transportar su as mercadorias para supermercados britnicos. No ano anterior, tinha perdido basta nte dinheiro em empreendimento semelhante com uma companhia cervejeira alem e no podia dar-me ao luxo de cometer novamente o mesmo erro. - Mande-me todos os detalhes - disse Jeremy. - Eu estudo a papelada no fim de se mana e lhe telefono na segunda pela manh. Cumpriu a palavra e, quando telefonou, disse-me que estaria em York na quinta-fe ira seguinte para falar com um cliente, sugerindo-me que nos reunssemos depois para analisar o contrato. Concordei, e passamos a maior parte daquela sexta-feir a fechados na sala de reunies da Cooper, esmiuando todos os pontos do contrato. Foi um prazer ver aquele profissional trabalhar, apesar de Jeremy manifestar, de vez em quando, o irritante hbito de tamborilar os dedos sobre a mesa quando eu no compreendia imediatamente onde ele queria chegar. Constatei que Jeremy j havia falado com o advogado da companhia francesa em Toulo use as restries que poderia ter. Assegurou-me que, embora Monsieur Sisley no falasse ingls, ele j o pusera a par de nossas dvidas. Recordo-me de ter ficado sobr essaltado com o emprego da palavra "nossas". Depois de termos virado a ltima pgina do contrato, percebi que todo mundo que trab alhava no edifcio j tinha partido para o fim de semana, de modo que sugeri a Jeremy que jantasse em minha casa, comigo e com Rosemary. Ele consultou o relgi o, ponderou a oferta durante um momento e depois disse: 19 - Obrigado, muito gentil de sua parte. Pode deixar-me no Queen's Hotel para muda r de roupa? Rosemary, no entanto, no ficou satisfeita de s ter sido avisada na ltima hora que e u havia convidado um estranho para jantar, embora eu tivesse garantido que ela iria gostar dele. Jeremy tocou a campainha da porta poucos minutos depois das oito. Quando lhe apresentei Rosemary, fez uma ligeira reverncia e beijou-lhe a mo. Depois disso, no tiraram os olhos um do outro durante toda a noite. S um cego deixaria de ver o qu e tinha todas as possibilidades de vir a acontecer, e, embora eu no fosse cego, a verdade que fechei um olho. Logo, Jeremy comeou a arranjar desculpas para passar cada vez mais tempo em Leeds , e devo confessar que seu sbito entusiasmo pelo norte da Inglaterra me permitiu fazer progredir minhas ambies para a Cooper muito mais rapidamente do que eu sonha ra ser possvel. H algum tempo eu achava que a companhia necessitava de um advogado e, um ano depois de nosso primeiro encontro, ofereci a Jeremy um lugar na direto ria, com a misso de preparar a companhia para se tornar uma sociedade annima. Durante esse perodo, passei grande parte do tempo em Madri, Amesterd e Bruxelas, b atalhando novos contratos, e no h dvida de que Rosemary no me desencorajou. Enquanto isso, Jeremy orientava habilmente a companhia ao longo de uma floresta de problemas legais e financeiros provocados por nossa expanso. Graas sua dilignciae experincia, conseguimos anunciar em 12 de fevereiro de 1980 que a Cooper iria s olicitar a incluso de aes na Bolsa durante esse ano. Foi ento que cometi meu primeiro erro: convidei Jeremy para o cargo de administrador da companhia. Segundo os termos do lanamento de aes, cinqenta e um por cento das aes ficariam em meu poder e de Rosemary. Jeremy explicou-me que, por motivos fiscais, elas deveriam ser divididas igualmente entre ns. Meus contadores concordaram, e, naque la ocasio, no pensei duas vezes. As restantes 4.900.000 aes de uma libra foram rapidamente absorvidas por instituies e pelo pblico em geral, e poucos dias depois que a companhia 20 comeou a fazer parte da Bolsa, seu valor tinha subido para duas libras e oitenta. Meu pai, que morrera no ano anterior, nunca teria compreendido que fosse possvel passarmos a valer vrios milhes de libras de um dia para o outro. Na realidade, acho que ele teria mesmo desaprovado essa idia, pois morreu ainda convencido de q ue um crdito de dez libras era perfeitamente adequado para a conduo de um negcio bem gerido. Durante a dcada de 1980, a economia inglesa revelou crescimento contnuo, e, em maro de 1984, as aes da Cooper tinham ultrapassado o marco das cinco libras, seguindo-se especulaes da imprensa em relao a uma possvel redistribuio. Jeremy havia m aconselhado a aceitar uma das ofertas, mas eu lhe dissera que nunca permitiria que a Cooper sasse do controle da famlia. Depois disso, tivemos de divi dir as aes em trs ocasies diferentes, e, por volta de 1989, o Sunday Times avaliou nossa fortuna (minha e de Rosemary em conjunto), em cerca de trinta milhe s de libras. Eu nunca tinha pensado a meu respeito em termos de uma pessoa rica... afinal, pa ra mim, as aes no passavam de pedaos de papel nas mos de Joe Ramsbottom, advogado da companhia. Eu continuava a viver na casa de meu pai, guiava um Jaguar, j com c inco anos, e trabalhava quatorze horas por dia. Nunca tinha dado grande importnci a s frias e no era extravagante por natureza. A riqueza parecia-me, de certa forma, p ouco importante. Eu me sentiria feliz em continuar vivendo da mesma forma se, certa noite, no tivesse chegado em casa inesperadamente. Havia conseguido embarcar no ltimo avio, de regresso a Heathrow aps negociaes particu larmente longas e rduas em Colnia, e de incio planejara passar a noite em Londres. Mas j estava farto de hotis e queria ir logo para casa, apesar de ter de dirigir durante muito tempo. Quando cheguei a Leeds, alguns minutos depois de uma hora da madrugada, encontrei o BMW branco de Jeremy estacionado prximo min ha porta. Se eu tivesse telefonado a Rosemary durante o dia, talvez nunca tivesse ido para r na priso. 21 Estacionei meu carro ao lado do de Jeremy e j me dirigia para a porta da frente q uando notei que havia apenas uma luz acesa na casa... no quarto da frente, no primeiro andar. No precisaria ser um Sherlock Holmes para deduzir o que estaria acontecend o naquele quarto. Detive-me e fiquei olhando as cortinas cerradas durante algum tempo. Nada se mex ia, de modo que era evidente que eles no tinham ouvido o barulho do carro e no tinham percebido a minha presena. Retornei ento ao carro e guiei tranqilamente para o Centro da cidade. Quarldo cheguei ao Queen's Hotel, perguntei ao gerente de planto se o senhor Jeremy Alexander tinha reservado um quarto para aquela noit e. Ele consultou o registro e confirmou que sim. - Ento eu fico com a chave dele - disse-lhe. - O senhor Alexander registrou-se em outro hotel para passar a noite. - Meu pai teria ficado orgulhoso com aquela poupana de recursos da companhia. Estendi-me na cama do hotel, sem conseguir dormir, cada vez mais furioso medida que as horas passavam. Embora j no sentisse muito afeto por Rosemary e at aceitasse a idia de que talvez nunca tivesse sentido, agora odiava Jeremy. Mas s no dia segu inte descobri at que ponto o odiava. Na manh seguinte, telefonei para minha secretria e disse-lhe que regressaria ao es critrio diretamente de Londres. Ela me recordou que havia uma reunio do conselho marcada para as duas horas e que estava agendado que o senhor Alexander presidir ia. Fiquei feliz por ela no poder ver o sorriso de satisfao que se espalhou em meu rosto. Uma rpida consulta agenda durante o desjejum tornou perfeitamente clar o o motivo de Jeremy pretender presidir aquela reunio em particular. Mas seus planos j no me interessavam. Tinha decidido informar os diretores sobre aquilo que ele pretendia exatamente e fazer com que fosse afastado da direo o mais depressa possvel. Cheguei Cooper pouco depois das 13:30h e estacionei o carro no espao marcado PRES IDENTE. Na hora em que a reunio do conselho deveria comear, j tivera tempo de estudar meus 22 dossis e perceber, dolorosamente, a quantidade de aes da companhia que era agora co ntrolada por Jeremy, bem como o que ele e Rosemary deviam andar tramando h algum tempo. Jeremy abandonou a cadeira da presidncia sem comentrios logo que entrei na sala de reunies e no revelou interesse especial nos procedimentos, at chegarmos ao ponto da agenda que dizia respeito a uma futura emisso de aes. Foi nesse momento qu e tentou introduzir uma moo aparentemente incua, mas da qual resultaria que Rosemary e eu perdssemos o controle total da companhia, sem que pudssemos impe dir qualquer oferta de aquisio futura. Eu poderia ter cado naquilo se no tivesse chegado a Leeds na noite anterior e encontrado seu carro estacionado em minha casa e a luz de meu quarto acesa. Precisamente quando ele julgava ter cons eguido fazer passar a moo sem votao, pedi aos contadores da companhia que elaborassem um re latrio completo para a prxima reunio do conselho, antes de chegarmos a qualquer deciso. Jeremy no revelou sinais de emoo. Limitou-se a olhar para suas anot aes e depois a tamborilar com os dedos na mesa. Eu estava decidido a fazer com que o relatrio viesse a provocar sua queda. Se eu no estivesse to furioso, pode ria, com tempo, ter preparado uma forma mais sensata de me ver livre dele. Como ningum tinha "outras questes" a levantar, encerrei a reunio s I7:40h e sugeri q ue Jeremy e Rosemary jantassem comigo. Queria v-los juntos. Jeremy no me pareceu muito interessado, mas, depois que fingi no compreender totalmente sua pr oposta de novas aes e insistir no fato de que minha mulher deveria ser informada a esse respeito, concordou. Quando telefonei para Rosemary comunicando-lhe que J eremy iria jantar conosco, ela pareceu ainda menos entusiasmada com a idia do que ele. - Talvez fosse melhor irem os dois a um restaurante sugeriu ela. - Jeremy poderi a contar a voc o que aconteceu durante sua ausncia. - Esforcei-me para no rir. - E tambm estamos sem nenhuma comida especial - acrescentou. Disse-lhe que no eraa comida o que mais me preocupava. Jeremy chegou tarde, o que no era de seu feitio, mas preparei 23 seu habitual usque com soda logo que ele entrou. Devo dizer que fez uma brilhante representao durante o jantar, embora Rosemary fosse menos convincente. Durante o caf, na sala de estar, consegui provocar o confronto que Jeremy tinha to habilmente evitado durante a reunio do conselho. - Por que est to interessado em levar adiante essa nova distribuio de aes? - perguntei , quando ele bebia o segundo brandy. - Por certo voc sabe que retirar o controle da companhia das minhas mos e das de Rosemary. No percebe que seramos ra pidamente substitudos? Ele tentou algumas frases bem ensaiadas. - No melhor interesse da companhia, Richard. Voc deve compreender que a Cooper es t se expandindo muito rapidamente. J no uma sociedade familiar. A longo prazo, preciso seguir um curso muito prudente para ambos, e isso para no mencionar os ac ionistas. - Gostaria de saber a que acionistas ele estaria se referindo. Fiquei um pouco surpreso ao constatar que Rosemary no s o apoiava como mostrava co mpreender perfeitamente os menores detalhes da cesso de quotas, mesmo depois de Jeremy ter franzido a testa de forma demasiado bvia ao olhar para ela. Para qu em nunca revelara o mnimo interesse pelas transaes da companhia, parecia extremamen te integrada nos argumentos que ele apresentava. Foi ento que ela se voltou para mim e disse: "Temos de pensar em nosso futuro, querido". Finalmente perdi a cabea. Os homens de Yorkshire so famosos por sua franqueza, e minha pergunta seguinte ju stificou plenamente a reputao do condado. - Por acaso vocs esto tendo um caso amoroso? Rosemary ficou vermelha como um pimen to. Jeremy deixou escapar uma gargalhada curta, excessivamente alta, e depois disse: - Acho que voc bebeu demais, Richard. - Nem uma gota - garanti. - Estou sbrio como um juiz. 24 1 Como estava quando cheguei ontem noite e encontrei seu carro estacionado minha p orta e a luz do quarto acesa. Pela primeira vez desde que conhecera Jeremy, vi-o perder o equilbrio, apesar de apenas por um momento. Comeou a tamborilar com os dedos na mesa de vidro sua frente. - Estava simplesmente explicando a Rosemary de que forma a emisso de novas aes a af etaria - disse ele, com toda a calma. - O que exigido pelos regulamentos da Bolsa. - E existe algum regulamento da Bolsa que exige que essas explicaes sejam dadas na cama? - Oh, no seja ridculo! - exclamou Jeremy. - Passei a noite no Hotel Queen. Telefon e para o gerente - acrescentou, estendendo o aparelho para mim. - Ele pode confi rmar que eu reservei meu quarto habitual. - Pode, com certeza - disse eu. - Mas tambm confirmar que eu passei a noite no seu quarto. No silncio que se seguiu, tirei a chave do quarto do hotel do bolso do casaco e a gitei-a diante dele. Jeremy ps-se imediatamente de p. Levantei-me tambm de minha cadeira, um pouco mais lentamente, e o encarei, pergun tando a mim mesmo o que iria ele dizer a seguir. - A culpa sua, seu idiota! - esbravejou ele finalmente. Devia ter mostrado mais interesse por Rosemary, para comear, em vez de ficar percorrendo toda a Europa. No se admire de tambm correr o risco de perder a empresa. Engraado que o que mais me enfureceu no foi o fato de Jeremy ter dormido com minha mulher, mas a arrogncia de pensar que tambm poderia ficar com minha empresa. No respondi. Limitei-me a dar um passo frente e aplicar um murro em seu queixo be m barbeado. Posso ser alguns centmetros mais baixo do que ele, mas em vinteanos de convivncia com caminhoneiros aprendi a aplicar um murro eficiente. Jeremy cambaleou, primeiro para trs, depois para frente, antes de cair aos meus ps. Ao cair, bateu com a tmpora direita na quina da mesa de 25 vidro, derramando o brandy no cho. Ficou imvel na minha frente, com o sangue escor rendo sobre o tapete. Devo confessar que fiquei muito satisfeito comigo mesmo, especialmente quando Ro semary correu para perto dele e comeou a gritar barbaridades para mim. - Poupe o flego para seu ex-administrador - respondi-lhe - E, quando ele acordar, diga-lhe que no se incomode de ir para o Queen's Hotel, porque vou dormir outra vez na cama dele esta noite. Sa de casa em grandes passadas e voltei de carro para o Centro da cidade, deixand o-o no estacionamento do hotel. Quando entrei no Queen's, o vestbulo estava deser to e entrei no elevador, indo diretamente para o quarto de Jeremy. Deitei-me na cam a, mas estava muito agitado para conseguir dormir. Estava finalmente comeando a cochilar quando quatro policiais entraram no quarto e me arrancaram da cama. Um deles disse que eu estava preso e leu meus direitos. Sem mais explicaes, levaram-me para fora do hotel e conduziram-me para o posto pol icial de Millgarth. Alguns minutos depois das cinco horas, fui registrado pelo oficial de servio e retiraram meus pertences, que foram guardados num volumoso en velope pardo. Disseram-me que tinha o direito de dar um telefonema, de modo que liguei para Joe Ramsbottom, acordei a mulher dele e perguntei-lhe se Joe poderia me procurar na priso o mais depressa possvel. Depois trancaram-me numa pequena cela e deixaram-me s. Sentei-me no banco de madeira e tentei compreender por que tinha sido preso. No p odia acreditar que Jeremy tivesse sido to louco a ponto de me acusar de agresso. Quando Joe chegou, cerca de quarenta minutos depois, contei-lhe exatamente o que tinha acontecido. Ele escutou atentamente, mas no manifestou opinio. Quando termi nei, disse que ia tentar descobrir de que me acusava a polcia. Depois que Joe saiu, comecei a temer que Jeremy pudesse ter sofrido um ataque ca rdaco ou mesmo que a pancada da cabea na quina da mesa o tivesse matado. Minha imaginao corria 26 solta enquanto eu considerava as piores possibilidades. Estava cada vez mais ans ioso para saber o que tinha acontecido, quando a porta da cela se abriu e entrar am dois detetives paisana. Joe vinha atrs deles. - Sou o inspetor Bainbridge - disse o mais alto dos dois homens. - Esse o sargen to Harris. - Os dois estavam com os olhos cansados, e seus ternos, amarrotados. Pareciam ter estado de servio a noite toda, pois ambos estavam com a barba por fa zer. Apalpei meu queixo e conclu que o mesmo se passava comigo. - Gostaramos de fazer algumas perguntas a respeito do que aconteceu em sua casa n a noite de ontem - disse o inspetor. Olhei para Joe, que abanou a cabea. - Se cooperar conosco, ajudar as investigaes - prosseguiu ele. - Est disposto a fazer dec laraes por escrito ou gravadas? - Meu cliente nada tem a dizer neste momento, inspetor disse Joe. - E nada ter a dizer at que eu lhe d instrues. Fiquei bastante impressionado. Nunca tinha visto Joe ser to firme com algum, excet o com os filhos. - Ns s queramos uma declarao, Dr. Ramsbottom - disse o inspetor Bainbridge a Joe, com o se eu no existisse. - No nos importamos de que esteja presente. - No - disse Joe com firmeza. - Ou acusam formalmente meu cliente ou nos deixam e m paz... resolvam logo. O inspetor hesitou um momento e depois fez um sinal com a cabea ao colega. Partir am ambos sem uma palavra. -Acusar-me? - indaguei, depois que a porta da cela fechouse atrs deles. - De que, pelo amor de Deus?- De homicdio, eu acho - respondeu Joe. - Depois do que Rosemary contou... - Homicdio? - repeti, quase sem conseguir pronunciar a palavra. - Mas... - Escute i com descrena o que Joe disse ter descoberto acerca das declaraes que minha mulher fizera polcia nas primeiras horas da madrugada. - Mas no foi isso o que aco nteceu - protestei. - Ningum iria acreditar numa histria to absurda. 27 - Podem acreditar quando souberem que a polcia encontrou um rastro de sangue que vai da sala at o local onde seu carro esteve estacionado, perto da casa - disse Joe. - Isso no possvel - insisti. - Quando deixei Jeremy, ele ainda estava estendido no cho, inconsciente. - A polcia tambm encontrou vestgios de sangue na mala de seu carro e parece confian te de que condiz com o de Jeremy. - Oh, meu Deus! - disse eu. - Ele esperto. muito esperto. Voc no est vendo o que el es tramaram? - No, para ser franco no estou - confessou Joe. - Isso no propriamente o po-nosso-de -cada-dia de um advogado de empresa, como eu. Mas consegui falar com Sir Matthew Roberts, conselheiro da rainha, ao telefone, antes que ele sasse de casa esta manh. Vai hoje ao Tribunal Real de York e concordou em reunirse conosco logo que termine o julgamento. Se voc for inocente, Richard - disse Joe -, com Sir Mat thew na defesa no precisa temer nada. Disso voc pode estar certo. Naquela tarde fui acusado formalmente do assassinato de Jeremy Anatole Alexander . A polcia confidenciou a meu advogado que ainda no encontrara o corpo, mas que esperava encontr-lo dentro de poucas horas. Eu sabia que no o encontrariam. Joe me contaria, no dia seguinte, que tinham revolvido mais terra no meu jardim nas ltimas vinte e quatro horas do que eu conseguira revolver durante os ltimos vinte e quatro anos de minha vida. Por volta das sete horas daquela noite, a porta de minha cela abriu-se outra vez e Joe entrou, acompanhado de um homem forte, de aspecto distinto. Sir Matthew R oberts era mais ou menos da minha altura, mas pelo menos uns cinqenta quilos mais pesado . Suas faces muito coradas e seu sorriso caloroso davam-lhe o aspecto de quem ap recia regularmente uma boa garrafa de vinho e a companhia de pessoas divertidas. Tinha a cabea coberta de cabelos escuros, lisos e bem modelados em torno do crnio, como nos anncios que o velho Denis Compton fazia para o Brylcreem, e envergava o traje caracterstico de sua profisso: terno escuro com colete e gravata cinzento-pratead a. Gostei dele 28 mal se apresentou. Suas primeiras palavras foram para expressar o desejo de que nos tivssemos conhecido em circunstncias mais agradveis. Passei parte da noite com Sir Matthew, repassando vezes sem conta minha histria. Notei que ele no acreditava numa palavra do que eu dizia, mas parecia no se importar de me representar. Joe e ele saram alguns minutos depois das onze, e ins talei-me para passar minha primeira noite atrs das grades. Foi decidido que eu permanecesse sob custdia at a polcia ter investigado e apresent ado todas as suas provas Promotoria Pblica. No dia seguinte, um magistrado convocou-me para o Tribunal Real de Leeds, e, apesar de um eloqente apelo de Sir Matthew, no me foi concedida fiana. Quarenta minutos depois fui transferido para a priso de Armley. As horas transformaram-se em dias, os dias em semanas, e as semanas em meses. Qu ase me cansei de dizer a todo mundo que queria ouvir-me que o cadver de Jeremy nu ncaseria encontrado, pois no havia cadver algum para encontrar. Quando o caso chegou finalmente ao Tribunal Real de Leeds, nove meses depois, os jornalistas que faziam a cobertura policial apareceram em bandos e acompanharam , deliciados, cada palavra do julgamento. Um multimilionrio, um caso de possvel adul trio e um cadver desaparecido eram coisas a que no podiam resistir. Os jornais esmeraram-se em descrever Jeremy como o Lorde Lucan de Leeds e a mim como o moto rista tarado por sexo. Teria me divertido com essas descries se no fosse eu o ru. "Na sua fala de abertura, Sir Matthew travou uma extraordinria luta em minha defe sa. Sem um cadver, como poderia seu cliente ser acusado de homicdio? E como eu poderia ter-me livrado do cadver, se havia passado a noite inteira no Queen's Hot el? Eu lamentava profundamente no me ter registrado da segunda vez, em vez de ir direto ao quarto de Jeremy. No me 29 ajudou muito o fato de a polcia ter-me encontrado na cama totalmente vestido. "Observei os rostos dos jurados, aps o discurso inicial da acusao. Estavam perplexo s, e era bvio que tinham dvidas quanto minha culpabilidade. Essa dvida manteve-se at Rosemary se sentar no banco das testemunhas. Eu no suportava olhar p ara ela, de modo que virei o rosto para uma loura vistosa que sentava na primeir a fila liberada ao pblico em cada dia do julgamento. Durante uma hora, o advogado de acusao orientou gentilmente minha mulher nas suas respostas sobre o que se passara naquela noite at eu agredir Jeremy. At aquele momento no poderia refutar uma nica palavra do que ela disse. - E, depois, o que aconteceu, senhora Cooper? - sondou o advogado da Coroa. - Meu marido inclinou-se e apalpou o pulso do senhor Alexander - murmurou Rosema ry. - Ficou branco e disse apenas: "Est morto. Eu o matei." - E que fez o senhor Cooper em seguida? - Levantou o corpo, colocou-o no ombro e se dirigiu para a porta. Eu gritei: "O que est fazendo, Richard?" - E o que ele respondeu? - Disse que pretendia se livrar do corpo enquanto ainda estava escuro e pediu-me que eliminasse todos os sinais de que Jeremy tinha ido l em casa. Como j no havia ningum no escritrio quando eles saram de l, todo mundo partiria do princpio de que Je remy havia regressado a Londres durante a tarde. "Cuidado para que no fiquem vestgios de sangue", foram as ltimas palavras que ouvi meu marido dizer qua ndo saiu de casa com o corpo de Jeremy. Deve ter sido nesse momento que desmaiei . Sir Matthew olhou interrogativamente para mim, no banco dos rus. Abanei vagarosam ente a cabea. Ele se mostrou sombrio quando o advogado de acusao voltou ao seu lugar. - Deseja interrogar essa testemunha, Sir Matthew? - perguntou o juiz. 30 Sir Matthew ergueu-se lentamente. - Sem dvida alguma, meritssimo - respondeu. Estendeu-se em toda a sua altura, ajei tou a toga e olhou de frente para seu adversrio. - Senhora Cooper, diria que era amiga do senhor Alexander? - Sim, mas apenas no sentido de que ele era colega de meu marido - respondeu Ros emary calmamente. - Ento, no costumavam se ver quando o senhor Cooper estava ausente de Leeds ou for a do pas para tratar de negcios? - Apenas em ocasies sociais, quando acompanhava meu marido, ou quando ia ao escri trio recolher sua correspondncia. - Tem certeza de que foram essas as nicas vezes em que o viu, senhora Cooper? No h ouve outras ocasies em que passou bastante tempo sozinha com o senhor Alexander? Por exemplo, na noite de 17 de setembro de 1989, antes de seu marido regressar i nesperadamente de uma viagem pela Europa, o senhor Alexander no esteve com a senhora vrias horas, quando se encontrava sozinha em casa? - No. Ele apareceu l em casa depois do expediente a fim de deixar um documento par a meu marido, mas no teve tempo nem para tomar uma bebida. - Mas seu marido diz que... - continuou Sir Matthew. - Eu sei o que meu marido diz - respondeu Rosemary, como se tivesse ensaiado aqu ela resposta uma centena de vezes. - Compreendo - disse Sir Matthew. - Bem, vamos diretamente questo, senhora Cooper . A senhora tinha um caso com Jeremy Alexander no momento em que ele desapareceu ? - Isso relevante, Sir Matthew? - interrompeu o juiz. - Sem a mnima dvida, meritssimo. Contm a chave deste caso - respondeu o consultor da rainha em tom calmo. Todos os olhares estavam cravados em Rosemary. Desejei que ela dissesse a verdad e. Ela no hesitou. - evidente que no - respondeu -, embora no fosse a primeira vez que meu marido me acusasse injustamente. - Compreendo - disse Sir Matthew. - O juiz no conseguia 31 ocultar sua irritao e perguntou-lhe novamente: - Isso relevante? Sir Matthew explodiu. - Relevante? absolutamente vital, meritssimo, e no estou sendo ajudado pelas mal v eladas tentativas de Vossa Excelncia em favor dessa testemunha. O juiz ia comear a protestar, com indignao, quando Rosemary disse calmamente: - Sempre fui boa esposa e uma mulher fiel, mas no posso, em circunstncia alguma, p actuar com um homicdio. Os jurados olharam para mim. A maior parte deles parecia desejar que voltasse a pena de morte. - Sendo assim, devo perguntar-lhe por que motivo esperou duas horas e meia para chamar a polcia - disse Sir Matthew. Especialmente se, como afirma, acreditava qu e seu marido tinha cometido um homicdio e ia livrar-se do corpo. - Como j expliquei, desmaiei logo que ele saiu da sala. Telefonei polcia assim que recuperei os sentidos. - Muito conveniente - disse Sir Matthew. - Ou talvez a verdade esteja no fato de que utilizou esse tempo para preparar uma armadilha para seu marido, enquanto s eu amante desaparecia. Um murmrio percorreu a sala de audincias. - Sir Matthew - disse o juiz, interpelando-o novamente. Est indo longe demais. - No, meritssimo, com todo o respeito. Na verdade, no estou indo suficientemente lo nge. - Deu meia-volta e fitou novamente minha mulher. -Afirmo-lhe, senhora Cooper, que Jeremy Alexander era seu amante e ainda , e que a senhora sabe perfeitamente que ele est vivo e com boa sade. E que, se quisesse, poderia nos dizer exatamente onde ele se encontra neste momento. Apesar dos protestos do juiz e do tumulto no tribunal, Rosemary tinha sua respos ta preparada. - Bem que gostaria que ele estivesse vivo - disse ela. - Para 32 poder entrar neste tribunal e confirmar que estou dizendo a verdade. - A voz era suave e meiga. - Mas a senhora j conhece a verdade, senhora Cooper retrucou Sir Matthew, cuja vo z ia gradualmente subindo de tom. - A verdade que seu marido saiu de casa sozinho. Dirigiu-se ao Queen's Hotel e p assou l o resto da noite, enquanto a senhora e seu amante utilizavam esse tempo para deixar pistas pela cidade de Leeds... pistas, devo acrescentar, que se destinavam a incriminar seu marido. Mas a nica coisa que no puderam deixar foi um cadve r, porque, como muito bem sabe, Jeremy Alexander ainda est vivo, e os dois juntos fa bricaram toda essa histria falsa, com o fim de levar a cabo seus propsitos. No essa a verdade, senhora Cooper? - No, no! - gritou Rosemary, cuja voz falhou, antes de finalmente desatar a soluar. - Oh, deixe disso, senhora Cooper. Essas lgrimas so falsas, no so? - disse Sir Matth ew em voz baixa. - Agora que foi descoberta, os jurados decidiro se seu desgosto verdadeiro. Olhei para os jurados. No s tinham acreditado na representao de Rosemary, como agora me desprezavam por ter permitido que meu "bruto e insensvel" advogado atacasse uma mulher to virtuosa e sofredora. A cada uma das perguntas com que Sir Matthew a sondara, Rosemary mostrara-se capaz de dar uma resposta que me revelara todos os sintomas de uma experiente preparao de Jeremy Alexander. Quando chegou minha vez de sentar no banco das testemunhas e Sir Matthew comeou a interrogar-me, tive a sensao de que minha histria soava muito menos convincente do que a de Rosemary, apesar de corresponder verdade. A palavra final da acusao foi mortalmente aborrecida, mas, de qualquer jeito, mort al. A de Sir Matthew foi sutil e dramtica, mas tive novamente a sensao de que fora menos convincente. Depois de outra noite na priso de Armley, regressei a o banco dos rus para a deciso final do juiz. Era evidente que ele no tinha dvida quanto minha culpa. A escolha das provas que descreveu foi desequilibrada e inju sta, e, quando terminou, 33 recordando aos jurados que sua opinio acerca das provas no deveria pesar sobre a d ecisp deles, acrescentou hipocrisia parcialidade. Depois de terem passado um dia inteiro deliberando o caso, os jurados tiveram de passar tambm a noite num hotel, ironicamente, o Queen's, e, no tribunal, quando foi finalmente perguntado ao homenzinho gordo e jovial da gravata-borboleta: - Senhores jurados, consideram o ru culpado ou inocente das acusaes que lhe so feita s? -No me surpreendi ao ouvi-lo dizer claramente, de modo que todos o ouvissem: - Culpado, senhor juiz. Na realidade, o que mais me espantava era o jri no ter chegado a uma deciso unnime. Sempre desejei saber quais tinham sido os dois membros que no se sentiam suficientemente convencidos para declarar minha culpabilidade. Gostaria de lhes agradecer. O juiz olhou para mim. - Richard Wilfred Cooper foi considerado culpado do homicdio de Jeremy Anatole Al exander... - No o matei, meritssimo - interrompi com voz calma. Na verdade, ele no est morto. S posso desejar que o senhor juiz viva o suficiente para perceber a verdade. - Sir Matthew ergueu ansiosamente o olhar, enquanto irrompia um burburinho no tribunal. O juiz pediu silncio, e sua voz tornou-se ainda mais spera ao pronunciar: - Condeno-o priso perptua. a sentena determinada pela lei. Levem-no! Dois guardas carcerrios avanaram, agarraram-me firmemente pelos braos e conduziramme pelos degraus por trs do banco dos rus at a cela que eu ocupara todas as manhs durante os dezoito dias que durara o julgamento. - Sinto muito, companheiro - disse o policial que tinha se ocupado de mim desde o incio do caso. - Foi aquela maldita mulher que voltou todos contra o senhor. Fechou a porta da cela e girou a chave antes que eu tivesse oportunidade de 34 concordar com ele. Momentos depois a porta abriu-se de novo, e Sir Matthew entrou. Olhou para mim durante algum tempo sem pronunciar umas palavra. - Foi cometida uma terrvel injustia, senhor Cooper disse afinal. -Vamos apresentar imediatamente um apelo contra sua condenao. Pode estar certo de que no descansarei at ter encontrado Jeremy Alexander. Vamos coloc-lo diante da justia. Pela primeira vez, percebi que Sir Matthew sabia realmente que eu era inocente. Fui colocado numa cela com um criminoso pequeno chamado "Dedos" Jenkins. concebve l que, beira do sculo 21, ainda haja algum a quem chamem Dedos? Mesmo assim, o nome era merecido. Momentos depois de eu entrar na cela, Dedos j estava usando meu relgio. Devolveu-me logo que dei pelo desaparecimento. - Desculpe - disse. - o hbito. A priso poderia ter sido muito pior se meus colegas no tivessem descoberto que eu era milionrio - e foi com prazer que paguei por certos privilgios. Todas as manhs traziam o Financial Times minha cela, o que me deu a oportunidade de me man ter a par do que se passava em Londres. Quase fiquei doente quando soube da ofer ta de aquisio da Cooper. No por causa da oferta de 12,50 por ao, que me fazia ainda mais rico, mas porque se tornava dolorosamente bvio que tinha sido tramada por Rosemary e Jeremy. As aes de Jeremy valeriam agora vrios milhes de libras... um dinheiro que ele nunca teria conseguido se eu estivesse presente para evitar a aquisio. Passava horas, todos os dias, estendido no meu catre, esquadrinhando cada palavr a do Financial Times, sempre que havia uma referncia Cooper. Lia tantas vezes o pargrafo, que acabava por decor-lo, A companhia acabou por ser adquirida, mas s d epois que a quota das aes atingiu 13,43. Continuei a seguir suas 35 atividades com grande interesse e senti-me cada vez mais apreensivo quanto quali dade da nova direo, quando ela comeou a despedir parte do meu pessoal mais experiente, incluindo Joe Ramsbottom. Uma semana depois, escrevi a meus corretor es, dando-lhes instrues para venderem minhas aes se e quando surgisse a oportunidade . Foi no incio do quarto ms de priso que pedi papel para escrever. Decidira que tinha chegado a hora de fazer um registro de tudo o que me acontecera desde aquela noite em que voltara inesperadamente para casa. Todos os dias o guarda de minha ala trazia novas folhas de papel pautado - e fui escrevendo o relato que vocs esto lendo neste momento. Alm do mais, isso me serviu para planejar meu passo seguinte . A meu pedido, Dedos fez uma pequena sondagem entre os prisioneiros para saber qu al era o melhor detetive que haviam conhecido. Trs dias depois ele me deu o resul tado: o superintendente Donald Hackett, conhecido como Don, foi indicado em primeiro l ugar por mais da metade dos respondentes. - Ento ele mais seguro do que uma pesquisa Gallup"*- disse eu a Dedos. - o que co loca Hackett na frente dos outros? - perguntei. - O cara honesto, justo, e a gente no consegue subomlo. E, quando descobre que um tipo mau, leva o tempo que for preciso at conseguir coloc-lo na priso. Hackett, segundo me informaram, provinha de Bradford. Corria o boato, entre os o utros presos, que ele rejeitara o lugar de assistente do chefe da polcia do Yorks hire Oeste. Como um advogado que no quer vir a ser juiz, preferira ficar mais abaixo. - O ponto fraco do cara pegar criminosos - disse Dedos, com convico. - Parece ser o tipo de que eu preciso - afirmei com prazer. - Que idade tem ele? Dedos ponderou um pouco: * Pesquisa de opinio criada por George Horace Gallup (1901-1984), um americanodedicado estatstica. (N. da T.) 36 - J deve passar dos cinqenta, agora - respondeu. - O cara me botou atrs das grades por roubar um estojo de ferramentas, e isso foi... - ponderou de novo - h mais de vinte anos. Quando Sir Matthew veio visitar-me na segunda-feira seguinte, disse-lhe o que ti nha em mente e perguntei-lhe o que achava de Donald Hackett. Queria a opinio de um profissional. - uma droga de testemunha para interrogar, isso eu posso dizer - respondeu meu a dvogado. - Por qu? - Nunca exagera, nunca prevarica, e nunca o peguei mentindo, o que torna muito d ifcil faz-lo cair em contradio. Confesso que raramente ou nunca levei a melhor com esse superintendente. Devo dizer, no entanto, que duvido que ele concordasse em envolver-se com um criminoso condenado, independente do que lhe oferecesse. - Mas eu no sou... - Eu sei, senhor Cooper - disse Sir Matthew, que ainda no parecia capaz de me tra tar pelo primeiro nome. - Mas Hackett ter de ser convencido disso antes que conco rde em falar com voc. - Mas como posso convenc-lo de minha inocncia se estou enfiado na priso? - vou tentar influenci-lo a seu favor - disse Sir Matthew, depois de pensar um po uco. E logo acrescentou: - Pensando bem, ele me deve um favor. Depois de Sir Matthew ter sado naquela noite, pedi mais papel e comecei a redigir cuidadosamente uma carta para o superintendente Hackett; diversas verses, no entanto, acabaram como bolas no cho de minha cela. Todo o meu esforo, afinal, dizi a o seguinte: 37 Em resposta a esta carta, favor escrever no envelope: Nmero A47283 Nome...COOPER ... R..W. TODA A CORRESPONDNCIA RECEBIDA DEVER CONTER! NOME E ENDEREO DO REMETENTE. NO SO ACEITAS CARTAS ANNIMAS. A PALTA DE COMUnicAo ComPROmete O CORREIO PRISO DE S. MAJESTADE ARMLEY LEEDSLS 122TJ Reli a carta, corrigi um erro de ortografia e garatujei minha assinatura no fina l. A meu pedido, Sir Matthew entregou a carta a Hackett pessoalmente. - O primeiro estafeta a ganhar mil libras por dia dos Correios Reais - disse-lhe eu. 38 Sir Matthew informou-me, na segunda-feira seguinte, que tinha entregue a carta p essoalmente ao superintendente. Depois de ler uma segunda vez, o nico comentrio de Hackett foi qu teria de consultar seus superiores. Mas prometeu a Sir Matthew que lhe comunicaria sua deciso em uma semana. Desde o momento em que eu fora condenado, Sir Matthew estava preparando meu apel o e, embora nunca me tivesse dado esperanas, no conseguiu ocultar sua satisfao ao que descobriu numa visita ao Departamento de Homologao de Testamentos. Constatara que, no seu testamento, Jeremy deixava tudo a Rosemary. Isso inclua ma is de trs milhes de libras de aes da Cooper. Mas, explicou Sir Matthew, a lei no lhe permitia dispor delas durante sete anos. - Os jurados ingleses podem t-lo declarado culpado - disse ele -, mas os fiscais de impostos so teimosos e no se deixam convencer to facilmente. No entregam os bens de Jeremy Alexander sem ver seu cadver ou, ento, s depois de sete anos.- Estaro pensando que Rosemary pode t-lo matado por causa do dinheiro e depois esc ondido... - No, no - disse Sir Matthew, rindo de minha sugesto. - simplesmente porque, como tm direito de esperar sete anos, vo guardar os bens de le para no correr o risco de Alexander ainda estar vivo. De qualquer forma, se sua mulher o tivesse matado, no teria conseguido ter uma resposta pronta para cada uma das minhas perguntas quando estava no banco das testemunhas, isso eu po sso garantir. Sorri. Pela primeira vez na minha vida, estava encantado pelo fato de os fiscais terem metido o nariz nos meus assuntos. Sir Matthew prometeu que me informaria se acontecesse alguma coisa. - Boa noite, Richard - disse, ao deixar o parlatrio. Outra novidade. 39 Aparentemente, todo o pessoal da priso sabia que o superintendente Hackett vinha me visitar muito antes de eu saber. Foi Dave Adams, um recluso j antigo da cela ao lado, que me explicou por que moti vo os prisioneiros pensavam que Hackett tinha concordado em vir visitar-me. - Um bom tira nunca est satisfeito se algum preso por uma coisa que no fez. Hackett telefonou para o diretor na tera-feira passada e falou secretamente com ele, segundo diz Maurice - acrescentou Dave, misteriosamente. Eu gostaria de saber como o homem de confiana do diretor conseguira ouvir ambos o s lados da conversa, mas conclu que no era o momento para fazer perguntas impertin entes. -At mesmo os caras mais empedernidos aqui da casa acham que voc inocente - prosseg uiu Dave. - Esto ansiosos para ver Jeremy Alexander ocupar sua cela. Fique certo de que os sujeitos com penas maiores esto preparando uma recepo calorosa para voc. Na manh seguinte chegou uma carta de Bradford. "Caro Cooper", principiava o super intendente, informando depois que pretendia visitar-me s quatro horas da tarde do domingo seguinte. Esclareceu que no demoraria mais de meia hora e insistiu na presena de uma testemunha. Pela primeira vez, desde que fora preso, comecei a contar as horas. E as horas no so muito importantes quando nosso quarto foi reservado para toda a vida. Quando foram me buscar na cela naquela tarde de domingo e me escoltaram ao parla trio, recebi diversas mensagens de meus companheiros, para serem transmitidas ao superintendente. - D meus cumprimentos a Don - disse Dedos. - Diga-lhe que lamento no encontr-lo des ta vez. - Quando tiver acabado de conversar com ele, pergunte se ele quer vir minha cela beber uma xcara de ch e falar dos velhos tempos. - D-lhe um pontap nos bagos por mim e diga que nem me importo de ficar mais tempo aqui por isso. 40 Um dos prisioneiros at sugeriu uma pergunta, para a qual eu j conhecia a resposta: - Pergunte se ele vai se aposentar, porque eu s saio daqui no dia seguinte. Quando entrei na sala e me deparei com o superintendente, pensei que tivesse hav ido algum engano. Nunca tinha perguntado a Dedos como era o aspecto fsico de Don e, ao longo dos ltimos dias, tinha formado na minha mente a imagem de uma espcie d e super-homem. Mas o homem que se encontrava minha frente era uns cinco centmetro s mais baixo do que eu, e tenho apenas um metro e setenta. Era magro como um espet o e usava culos de lentes grossas com armao de osso, que lhe dava a impresso de ser meio cego. S lhe faltava uma capa de gabardine encardida para parecer um c obrador de dvidas. Sir Matthew levantou-se para nos apresentar. Apertei comfirmeza a mo do policial. - Obrigado por ter vindo me visitar, superintendente comecei. - Faa o favor de se ntar - acrescentei, como se ele tivesse aparecido em minha casa para beber um cli ce de xerez. - Sir Matthew muito persuasivo - disse Hackett, com um sotaque profundo e rouco de Yorkshire, que no parecia condizer com seu corpo franzino. - Diga-me, senhor Cooper, o que pensa que posso fazer por voc? - perguntou, sentando-se na cadeira minha frente. Percebi um leve tom de cinismo em sua voz. Abriu um bloco de notas e colocou-o sobre a mesa, quando eu ia comear a contar a minha histria. - s para meu uso pessoal - explicou. - Para o caso de ter de me recordar de alguns detalhes importantes no futuro. -Vinte minutos depois eu tinha terminado a verso abreviada de minha vida. J tinha repassado a histria diversas vezes na minha cela, durante a semana anterior, para ter a certeza de no levar muito tempo. Queria deixar tempo suficiente para Hackett fazer perguntas. - Mesmo se eu acreditar na sua histria - disse ele -, e digo apenas "se", ainda no me explicou o que pensa que posso fazer por voc. 41 - Vai ter de deixar a polcia dentro de cinco meses - falei. - Gostaria de saber se tem planos para depois da aposentadoria. Ele hesitou. Era bvio que eu o surpreendera. - Ofereceram-me um emprego no Grupo 4, como gerente de rea no Yorkshire Oeste. - E quanto vo lhe pagar? - perguntei, abruptamente. - No vou trabalhar em tempo integral - disse ele. - Trs dias por semana, para comea r. - Hesitou de novo. -Vinte mil por ano, garantidos por trs anos. - Eu lhe pago cem mil por ano, mas espero que trabalhe sete dias por semana. Ach o que precisar de uma secretria e de um assistente... e que o inspetor Williams, que vai sair no mesmo momento, serviria para o lugar... de modo que eu lhe forne ceria dinheiro suficiente para o pessoal de apoio, assim como para o aluguel do escritrio. Um claro de respeito surgiu no rosto do superintendente pela primeira vez. Tomou algumas notas em sua agenda. - E o que esperaria que eu fizesse em troca de tanto dinheiro? - perguntou ele. - simples. Espero que encontre Jeremy Alexander. Dessa vez ele no hesitou. - Meu Deus! - disse. - O senhor est realmente inocente. Sir Matthew e o diretor t entaram me convencer disso. - E, se o descobrir dentro de sete anos - disse eu, sem prestar ateno ao seu comen trio -, pago-lhe mais quinhentas mil libras em qualquer banco do mundo que o senhor estipule. - O Midland de Bradford serve perfeitamente - respondeu ele. - Apenas os crimino sos tm necessidade de se esconder no exterior. De qualquer forma, tenho de estar em Bradford sbado sim, sbado no, para ver o City perder. - Hackett ps-se de p e fitou -me longamente. - Uma ltima pergunta, senhor Cooper. Por que sete anos? - Porque, passado esse perodo, minha mulher pode vender as aes de Alexander e ele f icar milionrio da noite para o dia. O superintendente acenou afirmativamente com a cabea, mostrando que compreendera. 42 -Obrigado por ter-me chamado - disse. -H muito tempo eu no sentia prazer em visita r algum na cadeia, especialmente uma pessoa condenada por homicdio. vou estudar seriamente sua proposta, senhor Cooper, e o informarei de minha deciso no fim da semana. - Saiu sem dizer mais nada. Hackett escreveu-me trs dias depois, aceitando minha oferta. No tive de esperar ci nco meses para ele comear a trabalhar para mim, porque, quinze dias depois, apresentou sua demisso... mas no antes que eu concordasse em continuar a pagar suas contribuies sociais e as de dois colegas que ele queria que sassem da polcia para trabalhar a seu lado. Tendo vendido todas as minhas aes da Cooper, os juros d essa aplicao davam-me quatrocentos mil por ano, e eu estava vivendo sem despesas, de modo que o pedido de Hackett era coisa de pouca monta. Eu deveria partilhar com os leitores os pormenores de tudo o que me aconteceu du rante os meses seguintes, mas, no decurso desse perodo, estive to preocupado em contactar Hackett, que enchi apenas trs pginas do papel pautado da priso. No entant o, devo dizer que estudei diversos livros de leis, para ter a certeza de compree nder perfeitamente o significado da expresso legal autrefois acquit* A prxima data mais importante de meu dirio foi a audincia de apelo. Matthew - a seu pedido, tinha deixado de lhe chamar Sir Matthew - esforava-se cor ajosamente para no demonstrar que se sentia cada vez mais confiante no resultado, mas eu comeava a conhec-lo to bem, que ele j no conseguia disfarar seus verdadeiros se ntimentos. Disse-me que estava encantado com a elaborao da reviso. - Justo e imparcial - repetia constantemente. * Contestao pela qual se alega que o ru j foi anteriormente julgado pelo mesmo del ito penal de que est sendo acusado. (N. da T.) 43 Nessa noite contou-me, com grande tristeza, que sua mulher, Victria, tinha morrid o de cncer algumas semanas antes. - Uma longa doena e um alvio abenoado - explicou ele. Pela primeira vez senti-me culpado em sua presena. Durante os dezoito meses anter iores s tnhamos falado dos meus problemas. Devo ter sido um dos poucos prisioneiros de Armley que chegou a pedir um alfaiat e em sua' cela. Matthew sugeriu que eu mandasse fazer um terno novo antes de enf rentar o tribunal de apelao, porque tinha perdido mais de seis quilos desde que estava na priso. Quando o alfaiate acabou de tirar minhas medidas e estava enrolando o metro, insisti com Dedos para que lhe devolvesse o isqueiro, embora ficasse co m os cigarros. Dez dias depois, sa escoltado de minha cela s cinco horas da manh. Meus companheiro s comearam a bater as canecas de folha contra as grades das portas, forma tradicional de indicar ao pessoal da priso que acreditavam que o homem levado a j ulgamento estava inocente. Aquele som, como o de uma grande sinfonia, elevou-me o moral. Fui levado a Londres num carro da polcia, acompanhado por dois guardas da priso. No paramos uma nica vez durante toda a viagem e chegamos capital poucos minutos depois das nove; recordo-me de olhar pela janela e ver os empregados que chegava m dos subrbios correndo para seus escritrios, a fim de dar incio ao dia de trabalho . Se algum deles me viu no banco traseiro do carro, com meu terno novo, e no reparo u nas algemas, deve ter concludo pelo menos que eu era um inspetor-chefe. Matthew estava minha espera na entrada do Old Bailey, com um monte de papis sob c ada brao. - Gostei do terno - disse ele, antes de subir comigo alguns degraus at a sala ond e meu destino ia ser decidido. Voltei a sentar-me impassvel no banco dos rus, enquanto Sir Matthew se punha de p e se dirigia aos trs juizes do tribunal de apelao. Sua fala inicial durou cerca de uma hora. Aquela altura, 44 eu j me acreditava capaz de t-la pronunciado, de maneira perfeitamente adequada, e mbora sem tanta eloqncia e, com certeza, de forma menos persuasiva. Ele deu grande nfase ao fato de Jeremy ter deixado todos os seus bens materiais a Rosemar y, que, por sua vez, tinha vendido sua casa em Leeds, liquidado todas as aes da Cooper, poucos meses depois da aquisio, obtido rapidamente o divrcio, e depois d esaparecido da face da terra com cerca de sete milhes de libras. Eu no conseguia dormir imaginando em quanto desse dinheiro Jeremy j tinha posto as mos.Sir Matthew recordou repetidas vezes a incapacidade da polcia de apresentar o cadv er, apesar de, naquelas circunstncias, j ter escavado metade de Leeds. Eu sentia mais esperanas a cada fato novo que Matthew apresentava aos juizes. Mas , quando ele terminou, ainda tive de esperar trs dias pelo resultado das deliberaes . - Apelo rejeitado. Motivos reservados. Matthew foi at Armley na sexta-feira para me dizer que pensava que o apelo tinha sido rejeitado sem explicaes. Achava que os juizes deviam estar divididos e precis avam de mais tempo para dar a impresso de que no estavam. - Quanto tempo? - perguntei. - Meu palpite que vo lhe dar uma autorizao para sair dentro de alguns meses. Ficara m obviamente impressionados pelo fato de que a polcia no conseguiu apresentar um cadver, no se impressionaram com a exposio do juiz que o julgou, e ficaram impres sionados com a fora de seu caso. Agradeci a Matthew que, daquela vez, saiu da sala com um sorriso nos lbios. O leitor deve estar se perguntando o que fazia o superintendente Hackett, ou mel hor, o ex-superintendente Hackett, enquanto tudo isso se passava. No tinha estado ocioso. O inspetor Williams e o guarda Kenwright haviam sado da po lcia no mesmo dia em que ele. 45 Uma semana depois tinham aberto um pequeno escritrio no prdio do Constitutional Cl ub, em Bradford, e comeado suas investigaes. Don apresentava-me seus relatrios s quatro horas de cada tarde de domingo. Um ms depois tinha compilado um grosso arquivo sobre o caso, com dossis detalhados sobre Rosemary, Jeremy, a companhia e eu. Passei horas lendo todas as informaes que ele reunira, e pude ajud-lo, preenchendo algumas lacunas. Comecei rapidamente a perceber por que motivo Don era to respeitado pelos colegas. Ele seguia todas as pistas e tomava todos os atalhos, mesmo que lhe parecessem becos sem sada, por que, de vez em quando, conclua que eram auto-estradas. No primeiro domingo de outubro, depois de estar trabalhando h quatro meses, Hacke tt disse-me que acreditava ter localizado Rosemary. Uma mulher que correspondia aos traos dela estava morando numa pequena propriedade no sul da Frana, chamada Vi lla Fleur. - Como conseguiu localiz-la? - perguntei. - Uma carta que a me botou no correio local. O carteiro teve a amabilidade de me deixar ver o endereo no envelope antes de seguir seu caminho - disse Hackett. - No imagina quantas horas tivemos de esperar, quantas cartas tivemos de examinar , e a quantas portas batemos nos ltimos quatro meses, s para conseguir essa pista. A senhora Kershaw parece ter mania de escrever cartas, mas essa foi a primeira v ez que escreveu filha. A propsito - acrescentou - sua mulher voltou a usar o nome de solteira. Agora atende por se nhorita Kershaw. Acenei com a cabea, no o querendo interromper. - Williams foi de avio para Cannes na quarta-feira e est hospedado na cidade mais prxima, passando por turista. J conseguiu descobrir que a casa da senhorita Kershaw cercada por um muro de pedra de trs metros, e que ela tem mais ces de guar da do que rvores. Parece que os habitantes da rea sabem ainda menos a respeito dela do que ns. Mas, pelo menos, um princpio. Senti, pela primeira vez, que Jeremy Alexander talvez tivesse 46 encontrado algum sua altura, mas s cinco domingos e cinco relatrios depois foi que vi surgir um sorriso no rosto geralmente fechado de Hackett. - A senhorita Kershaw ps um anncio no jornal local informou ele. - Parece que prec isa de um novo mordomo. A princpio, pensei que deveramos interrogar longamente o antigo mordomo, logo que ele saiu, mas no podia me arriscar a que ela soubessedisso, de modo que decidi que o inspetor Williams teria de candidatar-se ao lugar. - Mas ela logo vai descobrir que ele totalmente desqualificado para o trabalho! - No necessariamente - disse Hackett, cujo sorriso se alargou. - Vejam bem, Willi ams no poder deixar seu atual emprego junto Condessa de Rutland sem trabalhar um ms inteiro aps a demisso. nesse perodo que ele vai freqentar um curso especial de seis semanas na Escola de Mordomos de Ivor Spencer. Williams sempre foi esperto e aprende com rapidez. - E as referncias? - Quando Rosemary Kershaw o entrevistar, ele ter uma srie de referncias capaz de im pressionar uma duquesa. - Disseram-me que o senhor nunca fazia nada clandestino. - o que acontece quando lido com pessoas honestas. No quando enfrento um casal de vigaristas como esses. vou met-los na cadeia, nem que seja a ltima coisa que faa. No era o momento para dizer a Hackett que o captulo final da histria, da maneira co mo eu a tinha elaborado, no terminava com Jeremy na priso. Logo que Williams se candidatou ao lugar de mordomo de Rosemary, desempenhei meu pequeno papel no sentido de ajud-lo a conseguir o emprego. Relendo os termos do contrato proposto, tive uma idia. - Diga a Williams que pea quinze mil francos por ms e cinco semanas de frias - suge ri a Hackett, quando ele e Matthew me visitaram no domingo seguinte. - Por qu? - perguntou o ex-superintendente. - Ela est oferecendo onze mil e trs sem anas de frias. 47 - Ela pode pagar a diferena. E, com referncias como essas - disse eu, consultando de novo meu arquivo -, pode at desconfiar se ele pedir me nos. Matthew sorriu e concordou com um aceno de cabea. Rosemary acabou por oferecer o emprego a Williams a treze mil francos por ms, com quatro semanas de frias por ano, oferta que, depois de pensar durante quarenta e oito horas, Williams ac eitou. Mas s foi trabalhar para ela um ms depois, tempo durante o qual aprendeu a passar jornais a ferro, marcar com rgua os lugares mesa e conhecer as diferenas entre os copos para Porto, xerez e licor. Acho que, a partir do momento em que Williams aceitou o lugar de mordomo de Rose mary, fiquei espera de resultados imediatos. Mas, como Hackettme fez ver, doming o aps domingo, isso no era muito realista. - Williams precisa de tempo - explicou Don. - Precisa ganhar a confiana dela e no dar motivos para a mnima suspeita. Certa vez foram necessrios cinco anos para pegar um passador de drogas que morava a apenas meia milha de distncia de mim. Pe nsei em lembrar-lhe que quem estava na priso era eu, e que cinco dias eram mais do que eu esperava, mas sabia que todos estavam trabalhando arduamente para mim e tentei no mostrar minha impacincia. Um ms depois, Williams j havia fornecido as fotografias e o histrico de todo o pess oal que trabalhava na casa, bem como descries de todas as pessoas que visitavam Rosemary - at o proco local, que tinha ido l na esperana de obter um donativo para o s auxiliares franceses na Somlia. A cozinheira: Gabrielle Pascal - no falava ingls, excelente cozinheira, natural de Marselha, famlia investigada. O jardineiro: Jacques Reni - estpido e pouco criativo com as roseiras, natural da rea e bem conhecido. A criada pessoal de Ros emary: Charlotte Merieux - falava unvpouco de ingls, astuta, sensual, vinda de Paris, ainda em investigao. Todo esse pessoal que trabalhava para Rosemary desde a sua chegada ao sul da Frana no parecia ter ligaes entre si ou com sua vida passada. 48- Ah - disse Hackett, ao observar a fotografia da criada pessoal de Rosemary. Er gui uma sobrancelha. - Estive pensando por que motivo Williams estava sempre com Charlotte Merieux, todos os dias... e, o mais importante, todas as noites. - Ter ia chegado a superintendente se no fosse to mulherengo? Vamos ver se, desta vez, isso conta a nosso favor - explicou. Fiquei estendido no meu catre observando as fotografias do pessoal durante horas a fio. Nada me revelaram. Li e reli as notas sobre todas as pessoas que tinham ido Villa Fleur, mas, medida que a semana passava, cada vez mais me parecia que ning um ligado ao passado de Rosemary, com exceo da me, sabia onde ela estava. Ou, se algum sabia, no fazia qualquer tentativa para entrar em contato com ela. No havia, sem dvida, alguma, qualquer sinal de Jeremy Alexander. Comeava a recear que ela e Jeremy tivessem se afastado, at Williams informar que h avia a fotografia de um homem moreno e bonito na mesinha-de-cabeceira de Rosemar y, com a inscrio: "Estaremos sempre juntos, J." Durante as semanas que se seguiram ao julgamento de meu apelo, fui constantement e interrogado por funcionrios encarregados da suspenso condicional de penas, assis tentes sociais e at pelo psiquiatra da priso. Esforcei-me por conservar o sorriso caloros o e sincero que Matthew me dissera ser to necessrio para lubrificar as rodas da burocracia. Deviam ter passado cerca de onze semanas depois do apelo ter sido rejeitado, qua ndo a porta da cela se abriu e o guarda superior do meu corredor comunicou: - O diretor quer v-lo, Cooper. - Dedos mostrou-se desconfiado. Sempre que ouvia a quelas palavras dirigidas a ele, significava inevitavelmente uma dose de solitria . Podia ouvir os batimentos de meu corao enquanto o guarda me conduzia pelo extenso corredor at o gabinete do diretor. Minutos depois, ele bateu suavemente porta antes de abri-la. O 49 diretor, que estava sentado escrivaninha, ps-se de p, estendeume a mo e disse: - Estou encantado por ser a primeira pessoa a dar-lhe as boas novas. Conduziu-me a uma grande e confortvel cadeira do outro lado da escrivaninha e com eou a falar dos termos de minha libertao. Enquanto o fazia, serviram-nos caf, como se fssemos velhos amigos. Algum bateu porta, e Matthew entrou com um monte de papis que tinham de ser assina dps. Levantei-me quando ele os colocou sobre a escrivaninha e, sem aviso, voltou-se e abraou-me com fora. Era uma atitude que eu nunca teria esperado da par te dele. Depois que assinei o ltimo documento, Matthew perguntou: - Qual a primeira coisa que vai fazer quando for libertado? - vou comprar uma pistola - disse eu, com grande naturalidade. Matthew e o diretor comearam a rir. O grande porto da priso de Armley abriu-se para mim trs dias depois. Sa do edifcio le vando apenas a pequena mala de couro com que chegara. No olhei para trs. Chamei um txi e pedi ao motorista que me levasse estao, pois no desejava permanecer em Leeds mais do que o necessrio. Comprei um bilhete de primeira classe, telefonei a Hackett para avis-lo que estava a caminho e tomei o primeiro trem par a Bradford. Saboreei o desjejum dos servios ferrovirios britnicos, que no me foi servido em utenslios de folha, e li um exemplar do Financial Times que me foi entregue por uma bonita hospedeira e no por um ladro de meia-tigela. Ningum olhou para mim - mas por que haveriam de olhar, se eu estava num vago de primeira classe e envergava meu terno novo? Olhei para todas as mulheres que passavam, sem me importar com a maneira como estavam vestidas, m as elas no podiam saber por qu. Quando o trem parou em Bradford, Don e sua secretria Jenny50 Kenwright estavam minha espera na plataforma. O superintendente tinha alugado, p ara mim, um pequeno apartamento mobiliado nos arredores da cidade, e, depois de eu ter arrumado minhas roupas - o que levou pouco tempo -, levaram-me para almoar . Em meio conversa superficial, e depois de Jenny ter-me servido um copo de vinh o, Don fez-me uma pergunta com que eu no contava. - Agora que est livre, ainda quer que procuremos Jeremy Alexander? - Sim - respondi, sem um momento de hesitao. - Estou ainda mais decidido, agora qu e posso saborear a liberdade que ele gozou nos ltimos trs anos. No se esqueam de que ele roubou minha liberdade, alm de minha mulher, minha empresa e mais da m etade dos meus bens. Oh, sim, Donald, no descanso at o dia em que me vir frente a frente com Jeremy Alexander. - timo - disse Don. - Porque Williams pensa que Rosemary comea a confiar nele, e, poder mesmo, com o tempo, vir a fazer-lhe confidencias. Ao que parece, ele se tornou indispensvel. Considerei um pouco irnico o fato de que Williams estivesse embolsando dois salrio s simultaneamente, sendo eu responsvel por um deles, e Rosemary pelo outro. Perguntei se havia notcias de Jeremy. - Nada de especial - disse Donald. - Ela nunca telefona para ele de casa, e temo s quase certeza de que ele nunca tenta fazer contatos diretos com ela. Mas Willi ams nos disse que todas as sextas-feiras, ao meio-dia, a deixa no Majestic, o nico ho tel do vilarejo. Ela entra e s reaparece depois de quarenta minutos, pelo menos . No ousou segui-la, porque ela lhe deu instrues especficas para esper-la dentro do car ro. E ele no pode perder o emprego por desobedecer s ordens dela. Assenti com a cabea. - Mas isso no o impediu de beber um copo de vinho de vez em quando no bar do hote l, na sua noite de folga, e conseguir obter pequenas informaes. Est convencido de que Rosemary utiliza o tempo que passa no hotel para dar telefonemas 51 interurbanos. Muitas vezes passa pelo banco antes de ir ao Majestic e sai com um pequeno pacote de moedas. O empregado do bar disse a Williams que ela usa sempr e uma das duas cabines telefnicas do corredor em frente recepo. Nunca permite que a chamada s eja feita pela mesa. Liga sempre diretamente. - Ento, como vamos descobrir para quem ela telefona? perguntei. - Espero que Williams encontre uma oportunidade para usar uma das experincias que no adquiriu na escola de mordomos. - Mas quanto tempo isso pode levar? - No h como saber. Mas Williams tem direito a uma licena daqui a algumas semanas, d e modo que poder nos informar melhor. Quando Williams regressou a Bradford no fim do ms, comecei a fazer-lhe perguntas antes mesmo que ele tivesse tempo para arriar a mala. Vinha cheio de informaes interessantes sobre Rosemary, e at o menor detalhe me fascinava. Ela havia engordado. Fiquei satisfeito. Parecia solitria e deprimida. Fiquei enca ntado. Estava gastando rapidamente meu dinheiro. No fiquei propriamente extasiado . Mais concretamente, Williams estava convencido de que, se Rosemary tinha algum c ontato com Jeremy Alexander, seria, necessariamente, quando ia ao hotel todas as sextas-feiras e fazia sua ligao telefnica direta. Mas ele ainda no sabia como descob rir para quem ela telefonava nem para que lugar. Quando Williams regressou ao sul da Frana, duas semanas depois, eu sabia mais ace rca de minha ex-mulher do que quando ramos casados. Como tantas vezes acontece na vida real, novo progresso surgiu quando eu menos e sperava. Devia ser umas 14h30 de uma segunda-feira quando o telefone tocou.Donald atendeu e ficou surpreso ao ouvir a voz de Williams no outro lado da linh a. Pressionou o boto do alto-falante e disse: 52 - Ns trs estamos ouvindo. melhor comear a explicar por que est telefonando quando no seu dia de folga. - Fui despedido - foram as primeiras palavras de Williams. - Por causa do envolvimento com a criada, no foi? - reagiu Donald imediatamente. - Antes fosse isso. Foi muito pior. Eu estava levando a senhorita Kenshaw cidade , esta manh, quando tive de parar num sinal vermelho. Enquanto esperava que abris se, um homem atravessou a rua diante do carro. Parou e olhou para mim. Reconheci-o i mediatamente e pedi a Deus que o sinal mudasse para verde antes que ele me recon hecesse. Mas ele recuou, olhou outra vez para mim e sorriu. Abanei a cabea, mas ele se dir igiu para o lado do chofer, bateu na janela e disse: "Como vai, inspetor William s?" - Quem era ele? - perguntou Donald. - Neil Case. Lembra-se dele, chefe? - E como poderia esquec-lo? "Neil-eu-no-estava-l" disse Donald. - Devia ter imagina do. - Fingi que no o conhecia, evidentemente. E, como a senhorita Kershaw nada disse, pensei que tinha me safado. Mas, mal chegamos em casa, ela me disse que a acomp anhasse ao escritrio e, sem me pedir explicaes, despediu-me. Ordenou que eu fizesse as mala s e abandonasse a casa dentro de uma hora, seno chamaria a polcia. - Bolas. Voltamos estaca zero - disse Donald. - No inteiramente - disse Williams. - O que quer dizer? Se j no est mais na casa, deixamos de ter um ponto de contato. Pior, no podemos jogar outra vez a cartada do mordomo, porque agora ela est de sobreaviso. - Eu sei tudo isso, chefe - disse Williams. - Mas o fato de suspeitar de que eu era um policial a fez entrar em pnico, tanto que foi direto ao quarto e fez uma chamada. Como eu j no tinha medo de ser descoberto, levantei o gancho da extenso do corredor e escutei a conversa. S ouvi uma voz de mulher dizendo um nmero de Cambridge, e, depois, o telefone desligou. Presumi que Rosemary estivesse esp era de que fosse outra pessoa a atender e desligou quando ouviu uma voz estranha . 53 - Qual era o nmero? - perguntou Donald. - Meia, quatro, zero, sete, qualquer coisa como sete. - O que quer dizer com "qualquer coisa como sete"? bradou Donald, anotando os nme ros. - Eu no tinha com que escrever, chefe, de modo que tive de confiar na minha memria . - Fiquei satisfeito por Williams no poder ver a expresso no rosto de Don. - O que aconteceu depois? - inquiriu o inspetor. - Descobri uma caneta no corredor e anotei na minha mo o que me lembrava do nmero. Pouco depois levantei outra vez o gancho e ouvi uma mulher diferente na linha, dizendo: "O diretor no est no momento, mas espero que volte dentro de uma hora." D epois tive de desligar rapidamente, porque ouvi passos no corredor. Era Charlott e, a criada de Rosemary. Queria saber por que motivo eu tinha sido despedido. No con segui pensar numa resposta convincente, e ela me acusou de ter dado em cima da patroa. Deixei que pensasse que isso tinha acontecido e acabei por levar uma bof etada na cara. - Desatei a rir, mas Don e Jenny no mostraram qualquer reao. Depois, Williams perguntou: - O que fao agora, chefe? Volto para a Inglaterra? - No - disse Donald. - Fique a, por enquanto. Reserve um quarto no Majestic e vigi e-a constantemente. Avise-me se ela fizer qualquer coisa fora do normal. Nsvamos a Cambridge. Logo que estejamos num hotel de l, telefono para voc. - Entendido, chefe - disse Williams, e desligou. - Quando vamos? - perguntei a Donald. - Esta noite - respondeu ele. - Mas s depois que eu der alguns telefonemas. Don ligou para dez nmeros de Cambridge, usando os dgitos que Williams tinha conseg uido anotar e inserindo os nmeros de zero a nove no lugar do que ele esquecera. O 00223 640707 era uma escola. - Desculpe, foi engano - disse Donald. O 717 era uma farmcia; o 727, uma garagem; o 737 foi atendido por uma voz masculina idosa. - Desculpe, foi engano - repeti u Donald; o 747 era uma banca de jornais; no 757, atendeu a mulher de um policial 54 local (tentei no rir, mas Donald apenas resmungou); no 767, uma voz de mulher (De sculpe, foi engano) uma vez mais; o 777 era o Colgio de St. Catherine; no 787, uma voz de mulher numa secretria eletrnica; o 797 era um cabeleireiro. Donald cons ultou sua lista. - Tem de ser 737, 767 ou 787. Est na hora de mexer uns pauzinhos. Discou um nmero de Bradford e disseram-lhe que o novo chefe de polcia de Cambridge tinha sido transferido da polcia de Yorkshire Oeste no ano anterior. - Leeke. Allan Leeke - disse Donald, sem que eu lhe perguntasse. Voltou-se para mim. - Era sargento quando fui promovido a inspetor. - Agradeceu a seu contato d e Bradford e depois telefonou para o servio de informaes, perguntando o nmero da centr al de polcia de Cambridge. Discou outro nmero com o dedo indicador, repetindo o prefixo 0223. - Polcia de Cambridge. O que deseja? - perguntou uma voz feminina. - Pode me ligar com o delegado, por favor? - pediu Donald. - Quem quer falar? - Donald Hackett. A voz que apareceu na linha exclamou: - Don, que surpresa agradvel. Pelo menos espero que seja uma surpresa agradvel. Eu o conheo. com certeza no se trata de uma conversa de carter social. Por acaso anda procura de trabalho? Soube que saiu da polcia. - Sim, verdade. Eu me demiti, mas no ando procura de trabalho, Allan. No creio que a polcia de Cambridge pudesse me pagar o que estou ganhando. - Ento o que posso fazer por voc, Don? - Preciso que investigue trs nmeros de telefone da rea de Cambridge. - Tem autorizao? - perguntou o delegado. - No, mas isso pode levar a uma priso no seu quintal disse Donald. - Isso e o fato de ser um pedido seu bastam para mim. 55 Donald leu os trs nmeros, e Leeke pediu-lhe que aguardasse um momento. Enquanto es pervamos, Donald disse: - Eles s tm de apertar uns botes na sala de controle, e os nmeros aparecem numa tela . As coisas mudaram muito desde que entrei para a polcia. Naquele tempo tnhamos mesmo que usar as pernas. A voz do delegado voltou linha. - Certo, sai o primeiro nmero. O 640737 do comandante da Esquadrilha Danvers-Smit h.^O registro indica que a nica pessoa que mora nessa casa. - Indicou um endereo em Great Shelford, que explicou ficar ao sul de Cambridge. Jenny anotou. - No 767 temos o professor e senhora Balcescu, que tambm moram em Great Shelford. O 787 de Dame Julie Renaud, uma cantora de pera. Mora em Grantchester. Conheo-a muito bem. Nunca est em casa, por causa dos concertos que faz pelo mundo inteiro. A casa dela foi assaltada trs vezes no ano passado, sempre quando estava no exte rior. - Obrigado - disse Donald. - Voc foi muito til. - Mais alguma coisa? - perguntou o delegado, com ar esperanoso. - No momento, no - respondeu Donald. - Mas logo que eu tenha terminado minha investigao, prometo que ser a primeira pessoa a ser informada. - timo - foi a resposta, antes de o telefone ser desligado. -- Tudo certo - disse Donald, voltando-se de novo para ns. - Partimos para Cambridge dentro de duas horas. Isso nos d tempo para fazermos as malas e para Jenny reservar um hotel perto do Centro da cidade. Encontramo-nos aqui s... - consultou o relgio - seis horas. - Saiu da sala sem mais uma palavra. Recordo-me de ter pensado que meu pai teria se dado bem com ele. Cerca de duas horas mais tarde, Jenny nos conduzia a uma velocidade constante de sessenta e nove milhas por hora pela Al. - Agora comea a parte aborrecida do trabalho de detetive disse Donald. - Pesquisa intensiva, seguida de horas de vigilncia. Creio que podemos deixar de lado, com segurana, Dame Julia. 56 Jenny, fique com o comandante de esquadrilha. Quero detalhes da carreira dele de sde o dia em que saiu da escola at o dia em que se reformou. Amanh bem cedo, comec e por contactar o Colgio Cranwell da RAF e pea detalhes da folha de servios dele. Eu fico com o professor e vou comear pela biblioteca da universidade. - E eu, o que fao? - perguntei. - No momento, senhor Cooper, mantenha-se fora de cena. possvel que o comandante o u o professor nos levem a Alexander. No queremos que o senhor esbarre com os suspeitos e os assuste. Concordei com relutncia. noite, instalei-me numa sute do Hotel Garden House uma espcie de priso mais requint ada. Mas, apesar das almofadas de penas e do colcho confortvel, no conseguia dormir. Levantei-me de manh cedo e passei a maior parte do dia vendo inmeras notcia s da Sky News, episdios de diversas telenovelas australianas e um "Filme da Semana" de duas em duas horas. Mas minha mente estava constantemente entre o Cra nwell da RAF e a biblioteca da universidade. Quando nos encontramos no quarto de Donald, nessa noite, tanto ele como Jenny co nfirmaram que suas investigaes iniciais sugeriam que ambos os homens eram o que diziam ser. - Tinha certeza de que um deles acabaria por ser Jeremy disse eu, incapaz de ocu ltar meu desapontamento. - Seria bom que fosse sempre to fcil, senhor Cooper disse Donald. - Mas isso no que r dizer que um deles no nos leve at Jeremy. - Voltou-se para Jenny. - Em primeiro lugar, vamos saber o que h sobre o comandante. - O comandante de esquadrilha Danvers-Smith, DFC*, terminou seu curso em Cranwel l em 1938, serviu no Esquadro Nmero Dois de Binbrook, em Lincolnshire, durante a Segunda Guerra Mundial, e realizou diversas misses sobre a Alemanha e a Frana oc upada. Foi-lhe concedida a DFC por atos de bravura * Distinguished Flying Cross - Cruz de Servios Relevantes da Fora Area. (N. da T. ) 57 em 1943. Deixou de voar em 1958 e passou a ser instrutor da RAF Cottesmore em Gl oucestershire. Sua colocao final foi como segundo-comandante da RAF Locking em Somerset. Reformou-se em 1977, ano em que ele e a mulher se mudaram para Great S helford, onde ele se criou. - Por que vive sozinho atualmente? - perguntou Donald. - A mulher morreu h trs anos. Tem dois filhos, Sam e Pamela, ambos casados, mas ne nhum deles mora na regio. Visita