JANEIRO 2013

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JANEIRO/2013 - ANO XV - N o 192 O ESTAFETA Foto Arquivo Pró-Memória O programa “Fantástico”, da Rede Globo, mostrou no dia 13/01 a vergo- nhosa situação em que algumas cida- des ficaram ao término de seu último governo. Muitos novos prefeitos empossados encontraram prefeituras sem luz, sem água, com o patrimônio dilapidado e sem dinheiro para nada. O desgoverno em cidades brasilei- ras é grande, fruto do descompromisso de políticos com os cidadãos, políticos que deixam prefeituras sucateadas ao fim de seus mandatos. Entre tantos desmandos observa-se a falência na saúde pública, a má gestão dos recur- sos da educação, nenhum investimento na cultura, frotas de veículos sem con- dições de uso, computadores e móveis roubados, documentos violados, dívi- das e mais dívidas, além de convênios e contratos rescindidos por falta de pa- gamentos e de prestação de contas. A partir de uma breve análise evi- dencia-se que o descaso de governos e prefeitos municipais se deve à omissão na fiscalização da administração públi- ca, seja por parte das Câmaras Munici- pais ou pelos Tribunais de Contas. Es- ses desvios administrativos devem ser estancados. Somente desta forma será possível para o Brasil acompanhar os países que mais se desenvolvem e tor- nar-se competitivo no mundo globalizado. Se não for assim, a estag- nação e o retrocesso serão o resultado. Para que o país se desenvolva é pre- ciso que a corrupção em todos os níveis de governo seja combatida. Mas é nos municípios que essas mudanças preci- sam ter início. Os municípios alicerçam a unidade nacional e constituem a base do desenvolvimento, com oportunida- des de trabalho e de lazer, difusão da educação e cultura e o exercício imedia- to da cidadania. Enormes são, portanto, as respon- sabilidades do administrador municipal, especialmente em um momento em que é unânime a exigência de austeridade nos gastos e rigor na gestão pública. A participação da população nos destinos das cidades acompanhando e apoiando a administração pública é fundamental. A relação entre governos municipais e comunidade é extremamente diferencia- da e muito mais profunda do que aquela que ocorre em outros níveis de gover- no. Não é à toa que, por isso mesmo, essa relação é a que mais contribui para o exercício da cidadania. Que o ano novo desperte em todos os munícipes o censo de pertencimento e a vontade de trabalhar para o engran- decimento do município. Feliz ano novo! Feliz Administração! No dia primeiro de janeiro, numa con- corrida cerimônia no salão Luiz Vieira Soa- res, nossos munícipes acolheram, de manei- ra calorosa, a nova prefeita eleita de Pique- te, seu vice e os novos integrantes do Legislativo. A cerimônia de posse dessas autoridades foi histórica e de grande signi- ficado para todos e para a política munici- pal. Pela primeira vez na história de Piquete, assumiu a chefia do Executivo Municipal uma mulher – a arquiteta Ana Maria de Gouvêa. Pela primeira vez, também a Câma- ra Municipal será presidida por uma mulher – Maria Aparecida de Almeida Félix. É grande a expectativa dos piquetenses quanto à administração que se inicia. O município por muitos anos vem sendo malcuidado. Falta planejamento e metas, de maneira que navega sem um timoneiro. Uma sensação de paralisia e insolvência é senti- da por todos. Para reverter essa situação e equacionar diferentes e crônicos problemas aumenta a responsabilidade da prefeita, do vice-prefeito, dos vereadores e servidores municipais. São eles os guardiões dos so- nhos de uma cidade mais humana e frater- na. São eles também os responsáveis por concretizá-los. Todos aspiram por melhor assistência na saúde, esperam que a cidade se torne cada vez mais bonita e acolhedora. Esperam, também, que a educação, a cultu- ra, a segurança e o meio ambiente sejam priorizados. Para que isso aconteça, a parti- cipação dos munícipes na vida da cidade é de fundamental importância. Todos são cha- mados a contribuir, assumindo com respon- sabilidade os compromissos de cidadãos. Espera-se dos novos governantes um olhar mais cuidadoso sobre nossa cidade. É pre- ciso zelar por ela. A missão de cada um não será nada fácil, mas as dificuldades, com cer- teza, não serão maiores que o desejo de go- vernar a partir dos valores da ética e da trans- parência, de maneira honesta e participativa. A missão de governar o município exige de seus dirigentes determinação. Nos últi- mos anos, pelo país a fora, o descaso e a irresponsabilidade de muitas administrações municipais concorreram para o atraso soci- al e material de nossas cidades. Essa triste realidade fortaleceu o conceito errado de que a política e os detentores do poder são, por natureza, corruptos, mesquinhos e inte- resseiros. Muitos chegam a dizer que não existe administração honesta em nosso país. O Brasil encontra-se classificado entre os mais corruptos do mundo. Os eleitos recém- empossados em Piquete terão a oportuni- dade e a importante missão de fazer história e de ser protagonistas e exemplos para o país. Acreditamos que desempenharão seus trabalhos com determinação. Precisamos educar nossas crianças e jovens para a ho- nestidade. E o melhor caminho é pelo exem- plo e testemunho de vida de nossas lide- ranças. Assim poderíamos romper esse cír- culo vicioso de desmando e descaso para com a coisa pública. Ano novo! Administração Nova! A missão de governar o município exige de seus dirigentes determinação. Nos últimos anos, pelo país a fora, o descaso e a irresponsabilidade de muitas administrações concorreram para o atraso social e material de nossas cidades.

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Edição 192, de janeiro/2103, do informativo O ESTAFETA,

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, JANEIRO/2013 - ANO XV - No 192

O ESTAFETAFoto Arquivo Pró-Memória

O programa “Fantástico”, da RedeGlobo, mostrou no dia 13/01 a vergo-nhosa situação em que algumas cida-des ficaram ao término de seu últimogoverno. Muitos novos prefeitosempossados encontraram prefeiturassem luz, sem água, com o patrimôniodilapidado e sem dinheiro para nada.

O desgoverno em cidades brasilei-ras é grande, fruto do descompromissode políticos com os cidadãos, políticosque deixam prefeituras sucateadas aofim de seus mandatos. Entre tantosdesmandos observa-se a falência nasaúde pública, a má gestão dos recur-sos da educação, nenhum investimentona cultura, frotas de veículos sem con-dições de uso, computadores e móveisroubados, documentos violados, dívi-das e mais dívidas, além de convênios econtratos rescindidos por falta de pa-gamentos e de prestação de contas.

A partir de uma breve análise evi-dencia-se que o descaso de governos eprefeitos municipais se deve à omissãona fiscalização da administração públi-ca, seja por parte das Câmaras Munici-pais ou pelos Tribunais de Contas. Es-ses desvios administrativos devem serestancados. Somente desta forma serápossível para o Brasil acompanhar ospaíses que mais se desenvolvem e tor-nar-se competitivo no mundoglobalizado. Se não for assim, a estag-nação e o retrocesso serão o resultado.

Para que o país se desenvolva é pre-ciso que a corrupção em todos os níveisde governo seja combatida. Mas é nosmunicípios que essas mudanças preci-sam ter início. Os municípios alicerçama unidade nacional e constituem a basedo desenvolvimento, com oportunida-des de trabalho e de lazer, difusão daeducação e cultura e o exercício imedia-to da cidadania.

Enormes são, portanto, as respon-sabilidades do administrador municipal,especialmente em um momento em queé unânime a exigência de austeridadenos gastos e rigor na gestão pública. Aparticipação da população nos destinosdas cidades acompanhando e apoiandoa administração pública é fundamental.A relação entre governos municipais ecomunidade é extremamente diferencia-da e muito mais profunda do que aquelaque ocorre em outros níveis de gover-no. Não é à toa que, por isso mesmo,essa relação é a que mais contribui parao exercício da cidadania.

Que o ano novo desperte em todosos munícipes o censo de pertencimentoe a vontade de trabalhar para o engran-decimento do município.

Feliz ano novo! Feliz Administração!

No dia primeiro de janeiro, numa con-corrida cerimônia no salão Luiz Vieira Soa-res, nossos munícipes acolheram, de manei-ra calorosa, a nova prefeita eleita de Pique-te, seu vice e os novos integrantes doLegislativo. A cerimônia de posse dessasautoridades foi histórica e de grande signi-ficado para todos e para a política munici-pal. Pela primeira vez na história de Piquete,assumiu a chefia do Executivo Municipaluma mulher – a arquiteta Ana Maria deGouvêa. Pela primeira vez, também a Câma-ra Municipal será presidida por uma mulher– Maria Aparecida de Almeida Félix.

É grande a expectativa dos piquetensesquanto à administração que se inicia. Omunicípio por muitos anos vem sendomalcuidado. Falta planejamento e metas, demaneira que navega sem um timoneiro. Umasensação de paralisia e insolvência é senti-da por todos. Para reverter essa situação eequacionar diferentes e crônicos problemasaumenta a responsabilidade da prefeita, dovice-prefeito, dos vereadores e servidoresmunicipais. São eles os guardiões dos so-nhos de uma cidade mais humana e frater-na. São eles também os responsáveis porconcretizá-los. Todos aspiram por melhorassistência na saúde, esperam que a cidadese torne cada vez mais bonita e acolhedora.Esperam, também, que a educação, a cultu-ra, a segurança e o meio ambiente sejampriorizados. Para que isso aconteça, a parti-cipação dos munícipes na vida da cidade é

de fundamental importância. Todos são cha-mados a contribuir, assumindo com respon-sabilidade os compromissos de cidadãos.Espera-se dos novos governantes um olharmais cuidadoso sobre nossa cidade. É pre-ciso zelar por ela. A missão de cada um nãoserá nada fácil, mas as dificuldades, com cer-teza, não serão maiores que o desejo de go-vernar a partir dos valores da ética e da trans-parência, de maneira honesta e participativa.

A missão de governar o município exigede seus dirigentes determinação. Nos últi-mos anos, pelo país a fora, o descaso e airresponsabilidade de muitas administraçõesmunicipais concorreram para o atraso soci-al e material de nossas cidades. Essa tristerealidade fortaleceu o conceito errado deque a política e os detentores do poder são,por natureza, corruptos, mesquinhos e inte-resseiros. Muitos chegam a dizer que nãoexiste administração honesta em nosso país.O Brasil encontra-se classificado entre osmais corruptos do mundo. Os eleitos recém-empossados em Piquete terão a oportuni-dade e a importante missão de fazer históriae de ser protagonistas e exemplos para opaís. Acreditamos que desempenharão seustrabalhos com determinação. Precisamoseducar nossas crianças e jovens para a ho-nestidade. E o melhor caminho é pelo exem-plo e testemunho de vida de nossas lide-ranças. Assim poderíamos romper esse cír-culo vicioso de desmando e descaso paracom a coisa pública.

Ano novo! Administração Nova!

A missão de governar o município exige de seus dirigentes determinação. Nos últimos anos, pelo paísa fora, o descaso e a irresponsabilidade de muitas administrações concorreram para o atraso social ematerial de nossas cidades.

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Página 2 Piquete, janeiro de 2013

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Fotos Arquivo Pró-Memória

A cada ano que passa se distanciam notempo aqueles velhos e animados carnavais,nos quais, nos diversos salões da cidade,orquestras tocavam marchinhas carnavales-cas de melodias simples e alegres que leva-vam os foliões a cantar e a dançar.

Debochadas e irreverentes, asmarchinhas são testemunhas de um Brasilgentil, brejeiro e bem-humorado, quando acrítica aos costumes eram cantadas com in-genuidade, muita graça e malícia.

Com letras de fácil memorização, e portodos cantadas, as marchinhas carnavales-cas são um gênero de música popular quepredominou no Carnaval brasileiro nos anosde 20 a 60 do século passado, quando co-meçou a ser substituída pelo samba-enre-do. No entanto, pelo interior do país, sem obrilho do passado ela resiste. Durante o rei-nado de Momo, blocos desfilam pelas ruasdas pequenas cidades cantando novasmarchinhas e revivendo as antigas. Estassim, agitam os foliões.

A primeira marchinha que imediatamen-te se popularizou tornando-se conhecida eaté hoje cantada foi “Ó abre alas”, compos-ta em 1899 por Chiquinha Gonzaga para ocordão carnavalesco Rosa de Ouro, no Riode Janeiro.

Este estilo musical veio importado parao Brasil e descende diretamente das mar-chas populares portuguesas, tem o compas-so binário das marchas militares, emboramais acelerado, com melodias simples e le-tras picantes, cheias de duplo sentido. Ini-cialmente calmas e bucólicas, as marchinhas

a partir da segunda metade do século XXpassaram a ter andamento acelerado, devi-do à influência da música comercial norte-americana da era do Jazz – bands - tendocomo exemplo as marchinhas “Eu vi” e“Zizinha”, de 1926, ambas do pianista e com-positor José Francisco de Freitas.

A marchinha destinada expressamenteao Carnaval brasileiro passou a ser produzi-do com regularidade no Rio de Janeiro, apartir de composições de 1926 como “Poisnão”, de Eduardo Santos e João da Praia;“Ai Amor”, de Freire Junior e “O’ pé deAnjo”, de Sinhô, e atingiu o apogeu comintérpretes como Carmen Miranda, EmilinhaBorba, Almirante, Dalva de Oliveira, SílvioCaldas, Blecaute, que interpretaram ao lon-go do século XX composições de João deBarros, o Braguinha, Noel Rosa, Ary Barro-so e Lamartine Babo. Um outro grande com-positor de marchinhas foi João RobertoKelly.

Em Piquete, em 1926, quando saiu às ruaso rancho “Flor do Indaiá”, além da músicacomposta para esse rancho – “A Florzinhado Indaiá” –, os foliões piquetenses canta-vam “Ó abre alas”. A partir de 1930, com achegada e a difusão do rádio, as marchinhastornaram-se mais divulgadas e conhecidas.Em 1931, o Rancho Flor do Indaiá e o Blocodos Índios percorreram as ruas de Piquetecantando “O teu cabelo não nega”, deLamartine Babo, e “Ta-hí”, de Joubert deCarvalho. O sucesso dessas marchinhas foiinstantâneo. Pela rádio, desde dezembro elaseram divulgadas. Todos os anos as novas

composições eram tocadas com frequênciaa partir do final do ano, de maneira que noCarnaval todos a sabiam de cor. Esse fenô-meno era nacional: o Brasil inteiro cantava.O Carnaval daqueles tempos era uma festapopular, em que o improviso, o lirismo, ohumor, a malícia e a ironia predominavam, eisso só ocorria devido às marchinhas.

A partir da década de 1960, a marchinhapassou a ser substituída por outros gêne-ros musicais: o samba-enredo, o axé e ou-tros ritmos baianos. Alguns compositorescontemporâneos tentaram revitalizá-las,como Chico Buarque, Caetano Veloso eMorais Moreira. Apesar do sucesso de suasmúsicas, a grande era das marchinhas per-tence ao passado. Mas, como “Recordar éviver”, as marchinhas serão sempre lembra-das.

As marchinhas de Carnaval

Imagem - Memória

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, janeiro de 2013

João MatosEste artigo não trata de profecias,

achismo ou alguma coisa parecida. É tão-somente um esforço de inteligência apoia-do em informações políticas, econômicas eaté psicossociais disponíveis no mercado.Em 2012, o país registrou pífio crescimentoeconômico, que só não foi pior graças a me-didas governamentais de estímulo a certossegmentos da indústria e comércio, ao ladode concessão de crédito e desoneração deimpostos. Com isso, os empregos foram pre-servados em cenário de saldo comercial tí-mido da balança comercial e continuidade, e até ampliação de benefícios sociais. Con-tinuamos sendo penalizados em nossainfraestrutura, que eleva custos e reduz acapacidade competitiva  do país. A partirdesse cenário, especula-se o ano de 2013,para o qual não se projetam mudanças inte-ressantes na economia dos países mundoafora, inclusive a dos Estados Unidos. Poraqui, as famílias atingiram o ponto máximode endividamento e devem efetuar ajustesque podem desembocar em queda de con-sumo. O Governo procurará dar continuida-de de estímulos a segmentos importantesda economia, via desoneração de impostos.Com isso, queda na arrecadação, com refle-xos diretos nos repasses aos estados e mu-nicípios, com ênfase em possível valor me-nor no Fundo de Participação dos Municí-pios (FPM) que, praticamente paga os salá-rios dos servidores de grande parte dos mu-nicípios brasileiros. Arrecadação em queda,reajuste do salário mínimo em 9% a partir dejaneiro/13, e, regra geral, elevação dos salá-rios dos eleitos em 7/10/12 projeta grandesdificuldades para milhares de municípios.Equação difícil de ser contornada,  que po-derá dificultar aos eleitos honrar ou cumprircompromissos de campanha: Saúde e Edu-cação poderão experimentar menores repas-ses. E Prefeituras que se empenharem, porexemplo, na elaboração de Projeto de Car-gos e Salários, sem demissão de servidores,entrarão em rota de suicídio ao lado de imi-nente desgaste político dos executivos mu-nicipais. Com os cofres públicos mingua-dos, os executivos eleitos deverão tomar umconjunto de medidas antipáticas com vis-tas a assegurar um mínimo de dignidade aosmilhões de munícipes espalhados por essenosso país. Duas colocações se apresen-tam importantíssimas: respeito e transparên-cia com o dinheiro público e participaçãoativa da sociedade para que seus direitos àsaúde, educação, bom transporte urbano,continuidade no recebimento de medicamen-tos, merenda escolar de qualidade etc, se-jam atendidos no melhor possível. Aos elei-tos, pensar globalmente e agir localmente.Agindo dessa forma, estarão no século XXIconvivendo com a modernidade e abrindocaminho para um futuro promissor. Aos ci-dadãos, o exercício da cidadania, para que obem comum prevaleça, afastando onepotismo e a corrupção. Que boas políti-cas públicas se materializem para a melhoriasignificativa da qualidade de vida em todosos municípios brasileiros.

Celso Colombo

Uma visão para 2013

Desde a mais tenra idade ele foi uma cri-ança curiosa...

Aficionado pela película fotográfica,conta-nos que, menino, recolhia atrás doCine Estrela cortes de filmes desprezadospelos projetistas. Ele os recolhia e passavahoras observando à contra luz a sequênciade imagens. Criou, então, com uma caixa euma lâmpada, um projetor e convidava oscolegas para assistirem às suas projeções.Esta brincadeira foi que, certamente, des-pertou João Raimundo Matos para a foto-grafia... Autodidata, diz que enveredou paraessa arte de maneira intuitiva.Tendo um li-vro sobre fotografia passava horas lendo ereconhecendo o mecanismo e a engrenagemda impressionante caixinha que capturava eaprisionava os momentos eternizando-osem imagens. Aprendeu assim a escolher omelhor papel fotográfico, o manuseio e areação química do revelador e do fixador.

Tendo ganhado uma câmera Kapsa mon-tou, num dos cômodos de sua casa, um pe-queno laboratório. O pai trazia de São Pauloo material necessário. Começou aí suas in-cursões pelo mundo da fotografia. Passavahoras no quarto escuro revelando e experi-mentando, ansioso pelas imagens que emer-giam da solução. Suas primeiras fotografiasforam de grupos de amigos e de ruas de Pi-quete. Com elas ganhou seus primeiros tro-cados e incentivos. Algumas dicas da artede fotografar, recebeu-as do experiente fo-tógrafo J. Aquino: iluminação, corte,enquadramento, retoque...

Aos 16 anos, seu pai alardeando que ofilho era um excelente fotógrafo, conseguiujunto ao diretor da FPV que ele fosse traba-lhar no estúdio fotográfico recém-criado poressa instituição. Lembra-se de que logo noprimeiro dia foi escalado para cobrir umafesta de aniversário na casa de um coronel,na Vila da Estrela. Quando soube da tarefa,ficou apavorado. Apesar de inseguro e re-ceoso, enfrentou o desafio, pois viu neleuma oportunidade para ser contratado. Foiao estúdio da FPV e, pela primeira vez, teveàs mãos uma câmera profissional Roleflex,com flash alemão. Conhecia a máquina por

teoria, pois a tinha estudado de antemão,mas foi no susto que adquiriu a prática. Foitremendo para a festa do coronel Claudinode Barros. Após essa prova de fogo sentiu-se pronto. Nada mais o intimidaria. Era 1958.Trabalhou por dois anos no estúdio foto-gráfico da Fábrica com Almir Pantoja, JoãoPrado e Maroni. Após um curso de contabi-lidade, foi transferido para trabalhar no es-critório da granja São Miguel, onde perma-neceu até 1973. Daí foi para a contadoria daFábrica, onde, depois de seis meses, pediudemissão passando a se dedicar integral-mente ao seu próprio negócio: em 1967, JoãoMatos abriu um estúdio fotográfico na Ave-nida Rodrigues Alves. Dois sobrinhos, quecom ele haviam aprendido a fotografar, tra-balhavam de dia enquanto ele cumpria o ex-pediente na Fábrica. João Matos fotografa-va todos os eventos da cidade...

Com a diminuição do número de operári-os da Fábrica, a inflação e outros motivosque levaram à queda do poder aquisitivodos moradores, João Matos viu-se na con-tingência de se mudar para Lorena, em 1993.Tornou-se um dos mais conceituados fotó-grafos dessa cidade. Atualizado, foi pionei-ro no sistema digital.

João Matos nasceu em Piquete no dia16 de junho de 1942. Filho de Iracema e Be-nedito Francisco de Mattos. Estudou noGrupo Escolar Antônio João e no GinásioIndustrial da FPV. Casado com OdinéiaAparecida de Souza Matos, conta que aconheceu quando tinha 14 anos. Casaram-se em 1967. O casal têm três filhos, todosfotógrafos, e dois netos.

Numa conversa informal, João Matos re-corda-se dos amigos da escola, dos bailes efestas de Piquete e de como sempre foi curi-oso. Aventurou-se na arte da mágica e dasmarionetes. Como ventríloquo, apresenta-va-se com um grupo de amigos em clubes eno Salão Padre Juca, onde promoviamshows, gincanas e esquetes – fez algunsdocumentários com superoito. Apesar de serum personagem multifacetado, é como fo-tógrafo que se realiza. Da primeira câmeraganha aos 14 anos às sofisticadas câmerasdigitais de hoje ele mantêm o olhar. E queolhar! João Matos é um Senhor fotógrafo.

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O “seu” Lúcio Seraphim Machado, tidocomo o homem mais velho de Piquete emnossos dias, faleceu com 106 anos no dia 27de junho de 2012, conforme foi noticiadopelo Jornal Comunitário, sob a direção dojornalista Luis César Arantes, com data de31 de julho de 2012. As fotos de seu Lúcioao completar 106 anos, exibidas por LuisCésar, são de um homem feliz. Os comentá-rios apresentados pelo jornalista dão contade que o “tio Lúcio” estudou até a 2ª sériedo primário, gostava da escola e foi bomaluno. Entre outras referências, as anota-ções de que o homenageado foi sempre umhomem dedicado ao ambiente rural, ondenasceu, viveu todo o tempo e se dedicouplenamente aos afazeres rurais. Não chegoua cumprir o serviço militar por não ter sidosorteado para esse fim. (Era da organizaçãomilitar que o engajamento à tropa e o treina-mento, com a chance de carreira na caserna,dependiam de sorteio dos rapazes na idadeconvencionada para esse fim).

O que seu Lúcio queria era ter um sítiopróprio, e o conseguiu, e aí viveu para sem-pre. Era admiradíssimo pelos que o visita-vam, dado sempre como um homem simplese trabalhador.

Tempos atrás solicitei à minha amiga, aprofessora Cláudia Pereira dos Reis, já mor-ta há sete anos, que visitasse seu Lúcio e oentrevistasse, ela, que como ele, era mora-dora do bairro do Benfica, bairro dos maisantigos de Piquete, vinculado às origens domunicípio que foi tornado cidade em 1891.A entrevista deu-se em julho de 2003. Foiquando seu Lúcio falou bastante da escolado Benfica, que frequentara, e lembrou-seda professora que teve, a dona Irene, que,por sua referência, morava na Vila Duque deCaxias. Segundo sua memória, a escola ha-via sido instalada pelo avô – JoaquimNorberto da Silva. Fez também questão deregistrar os nomes dos pais, AntônioSeraphim Machado e Cassimira Sebastianada Soledade.

Para Cláudia ele foi lembrando as modi-ficações por que o lugar passara – a abertu-ra da rodovia para Minas, onde antes era ocaminho das tropas, a mesma que até hojeserve de caminho para os peregrinos quedescem a pé de Minas, pela Mantiqueira,em direção a Aparecida. Ele mesmo foi ro-

caminhos das Minas.Mais ainda, seu Lúcio faz lembrar do pro-

longamento do bairro desde a Vila Barão,(referência ao Barão da Bocaina, com fazen-da no local), que foi dotada de uma porteirade acesso ao referido caminho. Assim ele selembra de que ali estava um pouso das boi-adas que desciam a serra a caminho dos ma-tadouros e onde se reuniam os boiadeiros ecavaleiros – havia um rancho apropriadopara as suas paradas.

Lembra-se dos antigos conhecidoscomo João Rosa, que teria feito a casa quese lhe tornou moradia. Além de acrescentarser João irmão de Christiano Rosa, do qualse lembra como prefeito da cidade de Pique-te, não sem deixar de dizer que este, comoprefeito, dava atenção à população. Lem-bra-se de outras famílias que aí residiram,mas sua principal lembrança é dada pelossofrimentos causados pelos participantesda Revolução de1932. Diz que os soldadosficaram no bairro do Benfica, provavelmen-te as tropas federais que desceram a serrapara se encontrar com os revolucionáriospaulistas numa luta ferrenha nos bairros doBenfica e da Boa Vista.

É ele quem registra esses locais de lu-tas. Cita que “a guerra pegava fogo nas trin-cheiras”. Lembra-se de que no bairro só fi-caram os homens, as mulheres foram para oItabaquara. Não deixa de registrar a apropri-ação das aves de criação pelos soldados,que as matavam para comer. E de que osmoradores nem “abriam a boca” quando osobrigavam a cozinhar, amedrontados pelapresença da tropa invasora. Seu Lúcio fa-lou em três meses de revolução, tempo emque o bairro ficou submetido ao medo e àinsegurança.

Terminou a entrevista destacando asmudanças de habitantes e as modificaçõesprovocadas pela instalação da rodovia, comos caminhões substituindo as tropas demuares. Assim, como testemunha e referen-te da história oral, seu Lúcio fica-nos comomemória viva a ser preservada e privilegia-da.

Seu Lúcio testemunhava o fim da Repú-blica Velha, que cedia lugar à era Vargas, detão implicadas significações em nossa his-tória.

Dóli de Castro Ferreira

meiro por cerca de 30 anos. Diz que ia a pé evoltava “de condução”. Segundo enfatizouna entrevista, toda a família é do bairro, sal-vo a avó materna que nasceu em DelfimMoreira. Afirmou que era solteiro. Fez ques-tão de anotar que plantava milho e feijão,dois dos cultivos mais comuns da área.

Lembrou-se das festas principais: asjuninas e as folias de Reis. (dos Santos Reis,segundo ele). Falou de uma capela de Nos-sa Senhora Aparecida entre os dois rios,(provavelmente o Benfica e o Tabuleta, seutributário, formadores da bacia do ribeirãoPiquete). Citou que outra pequena igrejaestava nas Poças (talvez Posses), e que eradedicada a São Bom Jesus. A memória dele,fragmentada como a dos idosos - ele já per-to dos 100 anos na data da entrevista - pro-vavelmente sofria algumas alterações. As-sim, diz que a igrejinha caíra e que os mora-dores transferiram o culto do Bom Jesus paraa igrejinha de Nossa Senhora Aparecida nobairro da Tabuleta, nome também dado aobairro, segundo seus moradores, por tercontido uma tabuleta indicativa da bifurca-ção de caminhos ao pé da serra.

A generalização do nome Benfica dá asbases de referência: que se estende doBambuzinho à Tabuleta e se expande pelaencosta da serra, em demanda das nascen-tes do ribeirão Benfica – caminho mais cô-modo para galgar a Mantiqueira num dos

Memorial dos Moradores de PiqueteSr. Lúcio Seraphim Machado (1906-2012)

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forçasque não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos tambéma felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”

Carlos Drummond de Andrade

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O ESTAFETA Página 5Piquete, janeiro de 2013

Estamos num novo ano, 2013, esperan-çosos e cheios de expectativas que, deseja-mos, sejam as melhores. No espaçocibernético nossas mensagens se cruzamvertiginosas. Multiformes e multifacetadas.Promessas por mudanças não faltam, mu-danças para o melhor, ainda que este estejacarregado de ansiedades, visto o que nosestampa o presente, que se escoa por entrenossos dedos. Vivemos numa terra boa, fa-vorável e bela, que requer cuidados, traba-lho e empenho no aproveitamento de nos-sas capacidades. Sem nos esquecermos dasnecessidades. Se gostamos de cuidar denossas casas e corpos e procuramos a saú-de e a beleza para nos darem conforto, as-sim também deveríamos cuidar dessa nossacasa mais ampla, que é da dimensão espaci-al – a cidade que nos acolhe do nascimentoà morte, ainda que, por razões múltiplas, nosausentemos. “Esquecê-la” pela justificati-va do eventual prejuízo que estampe outranspareça, somente nos diminui como se-res dotados de inteligência e sensibilidade.Ela está em nossa memória em diferentestempos, nas pessoas que nela viveram ouvivem em suas experiências e atos. Porta-dora de montanhas, encostas, vales e ma-tas, como diz nosso hino, constituem-na“muralhas de picos alados”, como titãs que

Amigos – Concidadãos Piquetenses“guarnecem, dos filhos amados, os bairros,aldeias e vilas – meninas”. – Essa é nossaterra pátria nos versos inspirados de NeloPelegrini, musicados lindamente por Euzébiode Paula Lico.

Uma evocação para despertar nossasemoções, para viver e agir comunitariamen-te. Sob as bênçãos de Deus e a proteção donosso Arcanjo São Miguel. Bom poeta, Nelochamou titãs aos nossos picos montanhe-ses alçados em suas formações cristalinasacumuladas do tempo do nascimento da Ter-ra e forjadas a fogo e gelo. Ele, que amava anatureza e era bom observador, levava osfilhos em excursões de percorrer caminhospara identificar formas, nomeá-las a seu cri-tério e criar-lhes uma saga fantástica quesomente um apaixonado consegue divisar,pois seus olhos eram dotados da emoçãoque transcende a forma, dá-lhe significadoe, no mundo cosmogânico, conseguereferenciá-la.

Significação tornada poema, no hino ho-menageia a cidade de Piquete e faz espraiarna terra os “sonhos e fé, esperanças e gló-ria de um povo que canta, nas fraldas daserra, os feitos da Pátria nos livros da His-tória”. Canta vibrante a gente que ama a ter-ra natal.

Dóli de Castro Ferreira

A justiça deve se acender como um luzeiroNo dia 20 de janeiro, na liturgia da Igre-

ja Romana, segundo domingo do tempocomum, refletimos um texto do livro do Pro-feta Isaías, composto pelos cinco primei-ros versículos do capítulo 62. Trata-se deum texto atribuído ao autor a quem seconvencionou chamar de terceiro Isaías. Oprimeiro Isaías é o profeta que exerceu suaatividade em Jerusalém, no século sextoantes de Cristo, antes da invasão dosbabilônios ocorrida em 587 ac.. O segundoIsaías profetizou durante o exílio naBabilônia, no qual uma parcela do povo deJerusalém permaneceu por aproximadamen-te cinquenta anos. O autor de nosso textoviveu e profetizou em Jerusalém no pós-exílio, tempo em que a sociedade se reorga-nizava após a catastrófica experiência doexílio.

O profeta percebia que a nova socieda-de se organizava desprovida de valorescomo a justiça, a igualdade e o cuidado comos pequenos e frágeis. A opressão e a vio-lência, a exclusão dos estrangeiros e dosdébeis e o acúmulo de terras e riquezasoriundas da exploração dos trabalhadoreseram sinais visíveis de que as coisas nãoiam muito bem. Por isso dizia o profeta: “Poramor de Sião não me calarei, por amor deJerusalém não descansarei enquanto não

surgir nela, como um luzeiro, a justiça, e nãose acender nela, como uma tocha, a salva-ção”.

Essas palavras do profeta são muitoinspiradoras. A mudança de uma sociedadeinjusta nasce da capacidade de se percebercom criticidade os processos que envolvema vida, de se analisar a causa dos males;mas se efetiva se há amor pela cidade, pelaconvivência; se existem compromisso e dis-posição em se desgastar pela transforma-ção das coisas, até que aquilo que é obscu-recido pela injustiça passe a brilhar pela jus-tiça. Para isso é necessário não se calar enão se deixar abater pelo cansaço, segundoas palavras do profeta. De quem se aventu-ra por amor à cidade, a realizar esse árduotrabalho em prol do bem comum, exige-seuma profunda mística. Místico é o que en-xerga onde não há. Assim era Isaías. Vendouma sociedade deteriorada pela injustiça,afirmava: “As nações verão a tua justiça”.Olhando para uma cidade habitada pelacorrupção e pela impiedade, dizia: “Não maiste chamarão Abandonada, e tua terra nãomais será chamada Deserta”.

Para o profeta, a principal causa da mal-dade e da desagregação do tecido social emJerusalém era o fato de o povo ter abando-nado a aliança com Deus, deixado de ouvir

sua palavra, levando uma vida desprovidade virtudes. O último versículo desse pe-queno texto deixa a entender que a soluçãobasilar para a cidade de Jerusalém é a con-versão de toda a sua gente, é a realizaçãode uma nova Aliança com Deus, que con-siste em ter uma conduta justa, conformeos preceitos da Lei. “Assim como o jovemdesposa a donzela e como a noiva é a ale-gria do noivo, assim também tu és a alegriade teu Deus”.

Durante muito tempo também pudemoschamar nossa Piquete de Abandonada eDeserta. Nossa cidade foi marcada pela in-justiça e nossa sociedade quase se deteri-orou com tanta corrupção. O povo, porém,demonstrou seu amor por ela, como o pro-feta. Acreditou na possibilidade de mudan-ça, almejando dias melhores e rejeitando acontinuidade da injustiça.

Que a retidão de caráter, a honestidadee o compromisso com o progresso de to-dos que motivaram as últimas eleições se-jam valores perenes em Piquete. As autori-dades que, para nossa alegria, assumiramos poderes Legislativo e Executivo com osincero bom propósito de fazer brilhar ajustiça, tenham o apoio de nossa gente e afirmeza de perseverar no caminho da virtu-de. Pe. Fabrício Beckmann

Fotos Arquivo Pró-Memória

Page 6: JANEIRO 2013

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, janeiro de 2013

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroA grande desculpa...

Pegadores de peixe

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“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.net

ou

Virou epidemia! Juro! Tudo, agora,sobrou para a crise. O que acontece aqui,ali, acolá e nos quintos tem uma culpada: acrise. Última moda!

Antigamente, era comum ouvir-se quequando uma pessoa piorava de algumadoença crônica, estava, por exemplo, comcrise cardíaca, crise de asma e até crise deapendicite.

Quando o casal escasseava nas juras,caía numa crise conjugal. Os amantes, aosentirem a presença de vírus estranhos, taiscomo o ciúme, intolerância, logo chovia criseamorosa.

Se um indivíduo perdia as estribeiras,explodia em crise de raiva. Tomado por bonssentimentos, deitava numa gostosa crise deternura. Ainda, por abruptas manifestaçõesna sensibilidade, podia ser premiado poruma crise de choro.

Havia aquele momento de incertezaespiritual que induzia a uma crise religiosa.Uma crise moral, mortificante bem poderiaadvir como um ato de penitência.

Tivemos tempos difíceis na vida do país;passamos por momentos na evolução dosfatos que foram penosos, graves... Vivíamos,então, uma crise política.

Se aconteciam alterações no concertodas nações, conflitos em algum ponto doglobo que afetavam outros povos viravauma crise internacional.

Já vivemos a crise do café. Secas ouinundações invariavelmente carregamconsigo uma crise agrícola.

Em certas fases de desenvolvimentodeixamos de crescer ou melhorar nossodesempenho, exclusivamente por uma crisede mão-de-obra especializada.

Também na arte das palavras passamospor ciclos árduos na evolução das ideias edespencamos para uma crise literária.

Numa ruptura do equilíbrio emocional,as pessoas eram tomadas por uma crise dedepressão ou um crise nervosa. E segue poraí afora...

E hoje? A crise despersonalizou-se.Prostituiu-se. A vida tá cara? A chuvainundou a cidade? Tá desempregado? Támalcasado? Tá duro? Tá mole? O calo estádoendo? O filme é uma porcaria? Os adeptosda lei de Gerson tomaram conta do país?Enfiam a mão no dinheiro da Previdência? Omaldito rato não caiu na ratoeira? A justachegou na hora? Não havia vaga no motel?O Palmeiras perdeu? O dente tá doendo?Arranjou sarna para se coçar? O Pedro fugiucom a noiva?

Podes crer, compadre, é a crise! Por issoendosso o que disse Consuelo de Castroem sua peça “Caminho de Volta”, sobre acrise: “Justifica todas as brochadas daspessoas”.

Que que há? Todo mundo virou brocha?

Quem olha para o leito do precário RioBenfica, não imagina que algumas décadasatrás o murmurinho de suas águas era ouvi-do de muito longe.

Com nascentes na Serra da Mantiqueira,no bairro da Tabuleta, o Rio Benfica atra-vessa alguns bairros centrais da cidade evai se encontrar com o Rio Sertão, defronteà Estação Rodoviária. No verão, o rio serviade entretenimento para a rapaziada, que ousava para pescar. Desfrutando das tardescalorentas, os jovens se aventuravam napesca com as mãos. Removendo os aguapésdas margens ou enfiando as mãos em tocas,conseguiam agarrar bagres e cascudos.

As ruas que margeiam o rio ficavam api-nhadas de curiosos, e a cada peixe que pe-gavam e jogavam para o garoto engrossar afieira de peixes a plateia aplaudia. A festaera completa quando um dos pegadores le-vantava uma cobra-d’água e a atirava con-tra os curiosos.

O Rio Benfica passou; agora resta a sau-dade dos dias quentes dentro de suas águasfrias, quando tomávamos banho no poçodo Amerquinho.

Dentro das manifestações do ciclo deNatal, é comum, no interior de São Paulo eMinas Gerais, a apresentação da Folia deReis. As chamadas Folias de Reis, Ternosde Reis, Tirada de Reis, Santos Reis,Reisados ou simplesmente Reis são gru-pos que, por devoção, peregrinam de casaem casa no período compreendido entre oNatal e 6 de janeiro (Dia de Reis). Emcantoria, fazem uso de temas religiosos: dasprofecias do Nascimento do Menino Jesusà visita dos Reis Magos. Cumprem, sem-pre, os mesmos rituais de chegada e des-

Festa de Santos Reispedida. De modo geral, fazem parte do gru-po o mestre violeiro, o embaixador ou capi-tão da companhia, o contramestre, tambémvioleiro, o alferes da bandeira, porta-ban-deira e um, dois ou três palhaços. Saempelas ruas cantando e dançando. Chegan-do às casas, com a bandeira na mão, emfrente a um presépio contam os foliões ahistória da viagem dos três Reis Magos oudo nascimento do Menino Jesus. Depois,angariam donativos, para um “ajantarado”,com a participação de todos os que for-mam o grupo.

Em Piquete, por diver-sas vezes no mês de de-zembro de 2012, podia-sever um grupo de Folia deReis percorrendo as ruasda cidade e a zona rural.No dia 12 de janeiro, umacomissão formada pelosenhor Arlindo, DonaCida e senhor Marcos re-cebeu um número expres-sivo de convidados paraa festa de Santos Reis naVila Santa Isabel.

Fotos Arquivo Pró-Memória

Page 7: JANEIRO 2013

O ESTAFETAPiquete, janeiro de 2013 Página 7

Aqui estamos. Janeiro do ano de 2013.Tempo aguardado por muitos, tempo quesucede à espera do plantio de um ano intei-ro, que chega após o semear e as longaselucubrações sobre o que seria melhor, omais viável para a política de nossas cida-des.

De fato, o tempo de semear já passou,findou-se com as campanhas: levantamen-to de prioridades, promessas e garantias dedias melhores para todos, promessas e ga-rantias de modificação na forma de atuar, degovernar para todos, de suprir necessida-des, acabar com as indigências e as urgên-cias.

Durante meses vimos, ouvimos, lemos,ficamos sabendo da forma indolente, por quenão dizer, da forma quase criminosa, como amaioria de nossas cidades era “governada”.Ou seria melhor dizer, desgovernada?

As populações analisaram, ponderaram,e no dia marcado compareceram para o atode votar. Para eleger aquelas pessoas emquem ainda confiavam. Agora essas pesso-as já tomaram posse e o trabalho a fazer exi-ge desses eleitos tempo integral, dedicação,honestidade e comprometimento com aquestão pública. Gerir cidades, de maneiraque as populações recebam tudo a que têmdireito: cidadania, dignidade da pessoa hu-mana, respeito, saúde, educação, transpor-te, transparência nos atos dos gestores pú-blicos, prestação de contas dos escolhidospelos eleitores. Sim, para que recebam da-queles a quem delegaram o poder de gover-

nar a contrapartida que merecem, haja vistaque o poder emana do povo e este o exerceatravés de seus escolhidos (parágrafo úni-co do artigo 1º da Constituição Federal doBrasil).

É a partir de agora, desde já, que começao cumprimento de tudo quanto foi prometi-do no que se refere a bem administrar cida-des, que sabemos, estão à beira da falênciatotal: sem esgoto, sem saúde, sem educa-ção de qualidade, sem perspectiva de futu-ro, sem empregos, pois a estagnação eco-nômica já corroeu suas entranhas.

Não se pode esquecer que dos escolhi-dos se espera coragem, muita coragem paralevar adiante os projetos alardeados queconquistaram os votos desejados; espera-se compromisso e comprometimento com apopulação que os colocou nos cargos al-mejados; espera-se que, ainda que a pas-sos lentos, mas constantes e firmes, sigamo caminho da meta que traçaram eexplicitaram em suas falas durante a campa-nha política.

Isto porque já não se pode repetir nemadmitir nas nossas cidades as antigas for-mas de administração “do eu comigo mes-mo, do eu com minhas pretensões, do eucom minha intolerância e prepotência, doeu com meu grupinho de amigos e familia-res que fará tudo que o mestre mandar!!!”

Todo trabalho de maturação, de plantio,de promessas de um novo tempo, de afirma-ção de que as transformações viriam pelasmãos dos escolhidos não pode ser simples-

mente colocado num baú e arquivado paradaqui a quatro anos novamente ser reaber-to para uma tentativa de reeleição.

Os escolhidos sabem muito bem a gamaimensa de problemas que grassam nas atu-ais administrações e aceitaram e se propu-seram a fazer diferente para melhorar a situ-ação do povo. Não foram enganados nemobrigados a aceitar esse encargo. Só porisso já têm o dever moral de começar a fazeros trabalhos e as tomadas de decisão deoutra forma, de maneira que os benefícioscheguem a todos.

Porque desde o início sabiam da profun-didade do abismo em que iam mergulhar, emesmo assim se colocaram à disposição eforam escolhidos por essa coragem paranele se atirarem de corpo e alma e tentarresgatar a dignidade perdida em razão dosdesmandos que se instalaram em todos osníveis do poder público municipal.

Será necessária muita luta, muito boavontade, muito comprometimento para secumprir as promessas feitas e, por fim, mui-tas realizações para se devolver à popula-ção a dignidade perdida, o orgulho ferido ea esperança aniquilada.

E, se encontrarem a situação assim ouassada, ruim ou pior que ruim, não se es-queçam: “Ao vencedor as batatas”. Este-jam elas quentes, frias, assadas, podres, dojeito que estiverem. Vocês as conquistaram.Replantem-nas! Façam nascer novas, belase saborosas.

Eunice Ferreira

“Ao vencedor as batatas”

Quando ingressamos na vida acadêmi-ca, topamos com uma pedra – logo no prin-cípio do caminho: aqui não se repete co-nhecimento; aqui se produz conhecimento.

Somos apresentados à metodologia quenos capacita a elaborar projetos para a pro-dução do conhecimento.

O projeto é um mapa dos possíveis pro-cedimentos que nos levarão ao conhecimen-to desejado.

Este mapa não é definitivo. No encami-nhamento pode surgir alguma barreira quedeve ser contornada.

É por isso que se diz que o sábio não seentristece quando percebe que errou. Ape-nas anota: “com certeza, o caminho não éeste”.

Causa estranheza o desrespeito ao cida-dão brasileiro e sua família quando áreashabitadas precisam ser desocupadas pormotivo de reintegração de posse ou de rea-lização de grandes obras de interesse públi-co.

Vivemos em um país democrático quereconhece o direito de propriedade.

São considerados fora da lei apenas osgrileiros e invasores. Somente a estes deveser dada uma solução policial.

Nos demais casos, o traslado se fará apartir de um projeto muito bem elaborado,observadas as condições de clima, de fériasescolares, época de plantio e colheita e ou-tras relativas às atividades exercidas pelapopulação.

A mídia nos tem revelado um comporta-mento estarrecedor, do mais irresponsávelimproviso criando situações constrangedo-ras e de muito sofrimento.

Os indígenas brasileiros não são propri-etários das terras em que vivem. Têm direitoa 15% do território nacional, terras perten-centes à União.

De modo geral, as áreas primitivas emque os índios moravam não foram tomadasà força. À medida que os civilizados avan-çavam, os índios embrenhavam-se na flo-resta para não serem mortos.

Foi assim que suas terras originais fo-ram sendo ocupadas por concessão oucompra avalizadas por órgãos geralmentefederais.

Tendo os índios manifestado o desejode voltar às terras de origem, a União, atra-vés da Funai (Fundação Nacional do Índio),dá andamento ao processo de demarcaçãoe homologação das terras.

Lutamos durante muitos anos para queos índios voltem ao que sempre lhes per-tenceu.

Mas as comunidades que vivem atual-mente nestas áreas precisam ter tratamentode cidadãos.

Na Raposa Serra do Sol (Roraima), osarrozeiros não tiveram tratamento digno.

Atualmente, cidadãos brasileiros queocupam áreas Xavante (Mato Grosso) têmsido tratados com um descaso assustador,se consideramos as crianças em idade es-

colar e a facilmente constatável perda depatrimônio.

O traslado deve ser feito através de umprojeto muito bem elaborado, estabelecidasas responsabilidades estaduais e federais esubmetido ao aval do prefeito.

Não se deve esquecer que existem noBrasil municípios maiores que muitos paí-ses e que muitos brasileiros não têm certi-dão de nascimento porque os pais não con-seguem chegar à sede do município paraefetuar o registro.

Quanto às grandes obras, assistimosestarrecidos às paralizações. Por absurdoque possa parecer, cabe às empreiteiras re-solver problemas de ribeirinhos e de índios.

Mas a solução aqui é mais fácil. É só asempreiteiras estabelecerem no contrato quenão se ocuparão destes itens que dizem res-peito a atitudes de governo.

Os Ministérios e Secretarias abrigamtantos assessores, com salários vultosos.

Será que não conseguem preparar umprojeto em que ninguém seja prejudicado?

Chega de improviso, chega de descaso!Só Deus sabe com que sacrifício se mon-

ta uma casa, providenciando um colchão depalha para cada pessoa ou uma rede paracada duas crianças.

Governos que dizem querer acabar coma miséria não podem ajudar a destruir o quefoi conseguido com tanto sacrifício.

Abigayl Lea da Silva

Projeto – um bicho de sete cabeças?

Page 8: JANEIRO 2013

O ESTAFETA Piquete, janeiro de 2013Página 8

Teca Gouvêa tomou posse como Prefeitade Piquete no dia 1o de Janeiro de 2013.

Após a posse dos vereadores eleitos,Teca Gouvêa e seu vice, Hamilton Leite, fo-ram conduzidos, sob os aplausos de umaplatéia que lotava como havia muito não sevia no Salão de Atividades Luiz Vieira Soa-res, para que tomassem seus lugares à MesaDiretora dos trabalhos da Sessão Solene.

Iniciada às 17h, a Sessão Solene foi oevento protocolar da posse da prefeita, queteve, ainda, na parte da manhã, missa sole-ne na Matriz de São Miguel Arcanjo.

Em seu discurso de posse – forte e inci-sivo –, Teca deixou clara a “situação de ca-lamidade” em que se encontra o município,relatando dívidas a serem saldadas,sucateamento de equipamentos e frota deautomóveis, entre outros. Ao afirmar queadministrará com transparência, convidouos vereadores para uma reunião na qualapresentaria os detalhes da situação domunicípio.

Teca criticou, ainda, a política pequenae sem valores morais que teve que enfrentarnas últimas eleições de que participou. Des-tacou, porém, sua perserverança e determi-nação, que a levam a acreditar numa vitóriabaseada num modelo executivo de adminis-tração profissional, com elaboração de pro-jetos de qualidade em todos os setores, dis-cussão de opiniões e honestidade no tratocom a coisa pública

Coerente com seu discurso de campa-nha, Teca ratificou seus compromissos comos munícipes, afirmando que seu trabalhonão será partidário e, sim, pelo bem de Pi-quete. Para isso, alertou, precisará da cola-boração da Câmara Municipal, da qual es-pera um trabalho sério e abnegado em favorde Piquete. De sua parte, garantiu o enviode projetos claros, objetivos e elaboradosem bases técnicas. Destacou, ainda, a im-portância do fortalecimento das instituiçõesmunicipais, associações com as quais pre-tende trabalhar visando à melhoria da quali-dade de vida dos munícipes.

Os piquetenses que elegemos TecaGouvêa estamos esperançosos. Sem pro-messas vazias, Teca vem, já desde sua elei-ção, trabalhando arduamente no estabele-cimento de diretrizes para administrar ospróximos quatros anos da cidade de Pique-te.

Câmara Municipal de PiqueteA Sessão Solene de 1º de Janeiro foi ini-

cialmente presidida, conforme previsto naLei Orgânica do Município, pelo vereadorMoita, candidato eleito com maior númerode votos. Após empossarem a prefeita e ovice-prefeito, os vereadores deram andamen-to aos trabalhos com a eleição da Mesa Di-retora da Câmara para o biênio 2013 / 2014.Após calorosa e disputada votação (secre-ta), foi eleita para Presidente da CâmaraMunicipal de Piquete a vereadora Cidinhado PSF. A vice-presidência ficou com o ve-reador Moita. Para Secretário, foi empossadoo vereador Rodrigo Nunes, após desistên-cia da candidatura do vereador Fernando.

A eleição de Cidinha do PSF vem ao en-contro dos projetos de Teca Gouvêa, queacredita na força da mulher no atual contex-to politico nacional.

Queima de fogos e ReveillonComo uma das formas de agradecer à

população piquetense pelos votos recebi-dos, Teca Gouvêa proporcionou aospiquetenses, à meia-noite do dia 31 de de-zembro, véspera da posse, um animado eorganizado Reveillon, com banda e muitaanimação na Praça Duque de Caxias. Antes,uma sensacional queima de fogos iluminoua noite de Piquete. Importante destacar que,em função da situação financeira do muni-cípio, não estava programada festa alguma.A queima de fogos e a festa na Praça Duquede Caxias foram feitas sem custos para oerário público.

Ética e ImparcialidadeA eleição de Teca Gouvêa, que, junta-

mente com o segundo colocado nas elei-ções, abarcou cerca de 80% dos votos váli-dos do município, evidencia o desejo demudança da população. A única promessade Teca foi de se comprometer com a popu-lação a administrar sua cidade natal comseriedade, honestidade, transparência e tra-balho árduo.

Que venham os próximos quatro anos!Que venha a administração Teca Gouvêa!.O ESTAFETA parabeniza a primeira prefeitade Piquete e compromete-se com seus leito-res a manter o editorial imparcial ao longodesta administração, pois está certo de quea ética e a imparcialidade são os melhorespresentes que pode oferecer.

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Teca Gouvêa, primeira Prefeita de Piquete

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