Jane Jacobs

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 Jane Jaco bs 1 Quando Jane Jacobs lançou o seu primeiro livro, em 1961, aos 45 anos de idade, talvez não tivesse idéia do impacto que sua obra teria na consciência dos urbanistas e polticos e nos rumos do plane!amento urbano" #ma con$erência em %arvard em 1956 e arti&os na imprensa preparam o camin'o para a &rande receptividade de seu Death and Life of Great American Cities(cu!as traduç)es omitem do ttulo * como a edição brasileira * a especi$icidade norte*americana de suas an+lises, que se tornou uma re$erência crtica seminal contra as doutrinas modernas do urbanismo de meados do século -." Jornalista autodidata, colaboradora e mais tarde editora associada da revista /rc'itectural 0orum, um marido arquiteto * a quem credita sua cultura urbanstica *, Jacobs mantin'a um distanciamento crtico do cotidiano dos urbanistas que l'e permitiu escrever um dos mais belos libelos contra as palavras*de*ordem do urbanismo moderno" u mais precisamente, das pr+ticas urbansticas em vo&a nos 2stados #nidos, cu!as ori&ens Jacobs identi$icava nas propostas de 2benezer %o3ard e suas cidades*!ardins (19, nas idéias contidas na ille adieuse (1975 de 8e orbusier e, em menor &rau, o movimento it: ;eauti$ul (197 ideado por <aniel ;urn'am" conte=to dos ataques de Jacobs ao urbanismo moderno ortodo=o era o pro&rama norte*americano de renovação urbana das +reas centrais das cidades, do $azer t+bula rasa de setores urbanos consolidados, substitudos por me&apro!etos de reurbanização nos quais uma arquitetura burocr+tica ou monumental, viadutos, elevados, vias e=pressas e $lorestas de concreto con$i&uravam a nova paisa&em das &randes cidades" 0en>meno que e=trapolou as $ronteiras norte*americanas, banalizando*se enquanto intervenç)es urbanas tardias em cidades como aracas ou ?ão @aulo nos anos 19A." ontra o bucolismo das cidades*!ardins, Jacobs de$endia a densidade das metrBpoles" Codavia, não a ordenada metrBpole ideada por 8e orbusier * cu!o e=emplo mais vi&oroso seria ;raslia *, mas a cidade tradicional" Que cidade tradicional, porémD sabor dos relatos de Jacobs reside em sua $luente escrita de observadora não*contaminada pelo !ar&ão dos urbanistas e sua vivência como moradora do Ereen3ic' illa&e em Fova GorH" Fuma etno&ra$ia !ornalstica, a autora procurou identi$icar no cotidiano de &randes cidades norte*americanas as raz)es da violência, da su!eira e do abandono, ou o contr+rio, a boa manutenção, a se&urança e a qualidade de vida de lu&ares que constituam a cena real das metrBpoles, em simetria ao esquematismo dos modos de vida que os plane!adores previam em seus modelos urbanos ideais" /o contr+rio das $isicamente imaculadas e espiritualmente vazias proposiç)es modernistas, o caos urbano e o microcosmo dos bairros constituam uma vida rica e densa de si&ni$icados" <o re&istro emprico das maneiras de se apropriar dos lu&ares (os subttulos dos te=tos são diretosI s usos das calçadasI se&urança, contato, inte&rando as cri*anças""" etc, Jacobs $ormulou a crtica aos a=iomas do plane!amento (separação das $unç)esKzoneamento, a lB&ica da circulação pelo e=altação do sistema vi+rio, etc e seu reverso, a prescrição de soluç)es" / principal e duradoura lição pre&ada por Jacobs é a necessidade da diversidade urbanaI $unç)es que &erem presença de pessoas em 'or+rios di$erentes (a necessidade de usos principais combinados é um captulo e em alta concentração, valorização de esquinas e percursos ( a necessidade de quadras curtas, outro captulo, edi$cios variados e de di$erentes idades (a necessidade de prédios anti&os, e ressaltando outras medidas pro$il+ticas para uma mel'or quali$icação urbanaI a subvenção de moradias,

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 Jane Jacobs

1

Quando Jane Jacobs lançou o seu primeiro livro, em 1961, aos 45 anos de idade,

talvez não tivesse idéia do impacto que sua obra teria na consciência dos

urbanistas e polticos e nos rumos do plane!amento urbano"#ma con$erência em %arvard em 1956 e arti&os na imprensa preparam o camin'o

para a &rande receptividade de seu Death and Life of Great American

Cities(cu!as traduç)es omitem do ttulo * como a edição brasileira * a

especi$icidade norte*americana de suas an+lises, que se tornou uma re$erência

crtica seminal contra as doutrinas modernas do urbanismo de meados do século

-."

Jornalista autodidata, colaboradora e mais tarde editora associada da revista

/rc'itectural 0orum, um marido arquiteto * a quem credita sua cultura

urbanstica *, Jacobs mantin'a um distanciamento crtico do cotidiano dos

urbanistas que l'e permitiu escrever um dos mais belos libelos contra as

palavras*de*ordem do urbanismo moderno" u mais precisamente, das pr+ticas

urbansticas em vo&a nos 2stados #nidos, cu!as ori&ens Jacobs identi$icava nas

propostas de 2benezer %o3ard e suas cidades*!ardins (19, nas idéias

contidas na ille adieuse (1975 de 8e orbusier e, em menor &rau, o

movimento it: ;eauti$ul (197 ideado por <aniel ;urn'am"

conte=to dos ataques de Jacobs ao urbanismo moderno ortodo=o era o pro&rama

norte*americano de renovação urbana das +reas centrais das cidades, do $azer

t+bula rasa de setores urbanos consolidados, substitudos por me&apro!etos de

reurbanização nos quais uma arquitetura burocr+tica ou monumental, viadutos,

elevados, vias e=pressas e $lorestas de concreto con$i&uravam a nova paisa&em

das &randes cidades" 0en>meno que e=trapolou as $ronteiras norte*americanas,

banalizando*se enquanto intervenç)es urbanas tardias em cidades como aracas

ou ?ão @aulo nos anos 19A."

ontra o bucolismo das cidades*!ardins, Jacobs de$endia a densidade das

metrBpoles" Codavia, não a ordenada metrBpole ideada por 8e orbusier * cu!oe=emplo mais vi&oroso seria ;raslia *, mas a cidade tradicional"

Que cidade tradicional, porémD

sabor dos relatos de Jacobs reside em sua $luente escrita de observadora

não*contaminada pelo !ar&ão dos urbanistas e sua vivência como moradora do

Ereen3ic' illa&e em Fova GorH" Fuma etno&ra$ia !ornalstica, a autora

procurou identi$icar no cotidiano de &randes cidades norte*americanas as

raz)es da violência, da su!eira e do abandono, ou o contr+rio, a boa

manutenção, a se&urança e a qualidade de vida de lu&ares que constituam a

cena real das metrBpoles, em simetria ao esquematismo dos modos de vida que os

plane!adores previam em seus modelos urbanos ideais"

/o contr+rio das $isicamente imaculadas e espiritualmente vazias proposiç)es

modernistas, o caos urbano e o microcosmo dos bairros constituam uma vida

rica e densa de si&ni$icados" <o re&istro emprico das maneiras de se

apropriar dos lu&ares (os subttulos dos te=tos são diretosI s usos das

calçadasI se&urança, contato, inte&rando as cri*anças""" etc, Jacobs

$ormulou a crtica aos a=iomas do plane!amento (separação das

$unç)esKzoneamento, a lB&ica da circulação pelo e=altação do sistema vi+rio,

etc e seu reverso, a prescrição de soluç)es"

/ principal e duradoura lição pre&ada por Jacobs é a necessidade da

diversidade urbanaI $unç)es que &erem presença de pessoas em 'or+rios

di$erentes (a necessidade de usos principais combinados é um captulo e em

alta concentração, valorização de esquinas e percursos ( a necessidade de

quadras curtas, outro captulo, edi$cios variados e de di$erentes idades

(a necessidade de prédios anti&os, e ressaltando outras medidas

pro$il+ticas para uma mel'or quali$icação urbanaI a subvenção de moradias,

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erosão das cidades ou redução dos automBveis, ordem visualI limitaç)es e

potencialidades, pro!etos de revitalização, etc"

/ clareza da escrita e as posiç)es antimodernistas de Lorte e ida de Erandes

idades trou=eram &rande prest&io M autora, tornando*a uma leitura

obri&atBria nos cursos de arquitetura e urbanismo, &eo&ra$ia e ciências

sociais" @arte de suas idéias lo&raram &rande audiência nos debates

urbansticos dos anos 19A.K., sobretudo com o advento da discussão pBs*moderna e sua apolo&ia da diversidade, ao ponto de alimentar tendências

dspares do urbanismo como as muitas $ormas de ativismo comunit+rio como no

discurso de $rentes como a Fova <ireita norte*americana"

Jacobs é considerada a mãe do neoconservador Fe3 #rbanism, para desespero de

seus de$ensores, que creditam M vul&arização das idéias da !ornalista pelas

boba&ens a ela atribudas" <avid %arve:, anotando sobre o emer&ir de cBdi&os

simbBlicos de distinção social na arquitetura e no urbanismo pelo

enaltecimento da ornamentação, do embelezamento, pela decoração, comentavaI

Fão ten'o nen'uma certeza de que ten'a sido isso que Jane Jacobs tin'a em

mente quando criticou o plane!amento urbano modernista"

Jane Jacobs mudou*se com a $amlia para Coronto em 196 (temendo o

envolvimento dos $il'os na &uerra do ietnã e tornou*se cidadã canadense em19A4" /os 4 anos de idade, lançou em março passado seu se=to livro, C'e

Fature o$ 2conomies" Las o prest&io internacional, que a tornou uma &uru do

plane!amento urbano, veio de Lorte e ida de Erandes idades, um relato

$ascinante de uma inquieta e=*moradora da rua %udson em Fova GorH" #m livro

que, decorridos quase 4. anos de seu lançamento, trou=e retratos e episBdios

de recantos de cidades norte*americanas que poderiam ser depoimentos de uma

época como as de 'arles <icHens sobre a 8ondres da se&unda metade do século

19 * e provavelmente de uma ?ão 0rancisco, Fova GorH ou ;oston que não e=istem

mais"

2

livro Morte e vida de grandes cidades, de Jane Jacobs, se baseia em

questionar o desenvolvimento do plane!amento urbano nas cidades e os

princpios de reurbanização em contrapartida Ms quest)es de natureza sBcio*

econ>micas" seu $oco principal decorre do indispens+vel con'ecimento sobre o

$uncionamento e necessidades das cidades para, com isso, acumular in$ormaç)es

em prol das diretrizes coerentes para o plane!amento urbano"

/ cidade é um &rande cen+rio de vivências, das relaç)es de poder, di$erenças

sociais, arquitet>nicas, de paisa&ens e da $alta de respeito com o principal

persona&em, o indivduo enquanto cidadão" Fo seu relato, '+ uma crtica

evidente em relação M $unção, uso e ocupação das construç)es, atrelado a

in$ra*estrutura, que não valoriza a escala 'umana, com um crescimento urbano

indi$erente Ms necessidades de cun'o social"

Jacobs a$irma que '+ um mito em relação a din'eiro su$iciente para erradicar

todos os problemas de uma cidade, desde a eliminação dos cortiços até a

solução de problemas de in$ra*estrutura" Las o capital disponvel é empre&ado

de $orma incoerente e, principalmente, sem respeito M pree=istência e aos

valores sociais des$avorecendo sempre os mais necessitados de lazer, moradia e

mobilidade"

N raciocnio econ>mico da reurbanização atual é um embusteO, a$irma Jacobs" P

um en&ano, pois mesmo sabendo que as $avelas e outras 'abitaç)es ou bairros

prec+rios são considerados parte inte&rante das cidades, os Br&ãos superiores

desenvolvem uma pr+tica de reurbanização que ainda não suprem as necessidades

mais ur&entes da população"

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@ara a autora, a cidade é um &rande papel rascun'o, onde a teoria deveria ser

posta em pr+tica, analisada, encontrando possveis erros e $racassos para

serem mel'oradas, mas não é isto que acontece" s especialistas e estudiosos

não conse&uem interpretar os &ritos de desespero de uma sociedade que vive em

cidades c'eias de erros e insultos, conseqentemente, as cidades passam a ser

não $uncionais" laro que, e=istem pro$issionais sérios, comprometidos e

dispostos que buscam compreender a &rande diversidade do $uncionamento urbanoe social"

/s ruas e calçadas, se&undo Jacobs, são os Br&ãos vitais de uma cidade, pois é

nelas que se d+ toda a inte&ração e convivência de uma sociedade, sendo que os

principais prota&onistas do uso e ocupação das ruas e calçadas são as pessoas"

laro que esta inte&ração implica em con$litos, tanto positivos quanto

ne&ativos, que podem di$icultar ou não a convivência entre os cidadãos e o

espaço urbano"

NLuito mais do que um espaço urbano $ec'ado, recortado por ruas e avenidas,

construdo com blocos de concreto e la!es de aço""" a dominar todas as

paisa&ens, a cidade é""" um territBrio de relaç)es no qual cada cidadãoKcidadãbusca satis$azer suas necessidades e realizar seus quereres" (""" P uma

realidade viva, pulsante" 2la é composta e comp)e uma rede de $lu=os de

pessoas, mercadorias, matérias""" ener&ias em constante movimento"O (1

contato transmite mais vida Ms ruas e calçadas e este contato não deve ter

limites $sicos" /s pessoas que vivem em determinadas ruas e calçadas não

devem esquecer que $azem parte de um bairro e conseqentemente de uma cidade"

/s relaç)es devem ser muito maiores e ter compromisso com as causas e

representar bem Mquela comunidade, para quando necess+rio derrubar as

barreiras invisveis criadas pela prBpria sociedade"

/s ruas e calçadas &an'am mais vida e espontaneidade com a presença de

crianças" Fovos barul'os, rudos e aromas se instalam na presença delas" 2m

muitos casos, as ruas são os Rnicos Nespaços concretosO onde as crianças podem

despe!ar toda sua ener&ia e vivacidade, em especial as de bai=a renda, pois

não possuem, como em condomnios $ec'ados, parquin'os, quadras e pla:&rounds

particulares" ?ão os Rnicos Nespaços concretosO devido ao $ato de não 'averem

+reas pRblicas convidativas para atrair este contin&ente populacional"

Quem nunca passou por uma rua, destinada M passa&em de carros, $ec'ada, no

sentido $i&urado, por pedaços de pau $ormando espécies de traves em um $inal

de semana a&rad+vel e se deparou com crianças correndo de um lado a outro

atr+s de uma bola na busca incessante do &olDS ?ão situaç)es como essa que o

plane!amento urbano deveria se basear para desenvolver pro!etos que supram M

necessidade e demandas de determinadas +reas"

2sta NmudançaO de uso das ruas e calçadas é um processo natural" Fa $alta de

opç)es e de espaços pRblicos, as crianças se limitam a usu$ruir somente das

ruas e calçadas" 8imite este abstrato, pois a ima&inação de uma criança pode

alcançar v>os bem altosS <e certa $orma, este uso pode ser con$litante embora

se!a um $ator totalmente positivo para a dinTmica do local"

<ia&nosticar os problemas de um bairro e tentar resolvê*los antes que tome

proporç)es alarmantes é um dos principais $atores que torna uma vizin'ança bem

sucedida" bairro é um misto, sem dRvida al&uma, de usos e atividades que

transmitem uma visvel NindependênciaO, pois eles são di$erentes tanto no

sentido social quanto cultural e econ>mico, mas é um en&ano pensar que se!a

independente em relação M cidade, ainda mais porque ele é parte inte&rante da

mesma"

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/ con$ormação espacial de um bairro est+ diretamente li&ada M 'istBria da

relativa cidade, como e quando ela teve sur&imento e se desenvolveu" 2=istem

aqueles que são mais valorizados, que despertam um maior interesse econ>mico

das camadas superioresU aqueles que são plane!ados para se tornar uma cidade

dentro da prBpria cidadeU e aqueles que crescem sem plane!amento, totalmente

desordenados e sem in$ra*estrutura para comport+*lo" #m bairro, a depender da

participação popular, pode conse&uir bons bene$cios que irão re$letir,principalmente, na prBpria ima&em da cidade"

@ercebe*se, então, que o plane!amento urbano e de reurbanização de uma

determinada cidade não é nada $+cil" equer uma an+lise macro e micro*urbana,

bem detal'ada, buscando sempre a percepção de como $unciona esta cidade e das

necessidades mais ur&entes da população" /lém disso, não perceber a vivacidade

que as ruas e calçadas apresentam e sua enorme $unção social, econ>mica e

cultural torna*se um retrocesso"

3.

 A primeira vista pode-se perguntar o que uma epígrafe de John MaynardKeynes estaria fazendo na introdução de uma resenha sobre o livro de JaneJacobs Morte e vida de grandes cidade! A resposta a esta questão " simples#o plane$amento urbano que matava as cidades americanas% na visão de Jacobs" o mesmo proposto por Keynes!

 Acredito que o livro de Jane Jacobs não teria para mim o mesmo sentidose eu não tivesse o conhecimento que tenho sobre economia% que apesar depequeno% " mais ou menos abrangente sobre a hist&ria da disciplina!'ampouco teria o mesmo aproveitamento caso não fosse estudante do temadesenvolvimento urbano e regional% e se não tivesse uma forte aversão ao

plane$amento municipal nos moldes que se tem desenvolvido!Meu grande sonho profissional " poder% um dia% sintetizar na forma deum livro uma correlação entre o liberalismo e o plane$amento urbano% de formaa casar um com o outro! ( que me falta% e tenho procurado contruir " umateoria urbana capaz de dar conta desta relação! Jane Jacobs não fornece estateoria de modo completo% mas d) aulas e mais aulas sobre o que " a basefundamental de uma vida urbana saud)vel# a diversidade! *sta% de certa forma%" a mesma receita de uma economia saud)vel% e de uma alimentaçãosaud)vel% etc! Mas " na diversidade que encontraremos a resposta para muitosdos problemas criados pela mentalidade +para usarmos um chavão e ao

mesmo tempo um conceito, fordista que se implantou em nosso meio!*sta resenha sobre o livro ser) comprida% porque o livro " ele pr&prio

muito comprido! * h) v)rios temas que cabe eplorar separadamente% e v)riaspercepç.es sobre a realidade que ocultam diversas premissas! /omo $)comentei com amigos% a esquerda universit)ria% tanto americana comobrasileira% tem feito uma leitura muito porca da obra de Jane Jacobs! * ospreceitos desenvolvidos no urbanismo% dentro da escola conhecido por 0e12rbanism% acabam descambando para uma ideologia de controle social queinviabiliza a pr&pria aplicação do princípio da diversidade sobre o meio urbano!

/reio que a grande lição do livro " a de que o mundo precisa de políticas

liberais% que as cidades necessitam destas políticas e as pessoas tamb"m%apesar de não dizer isto diretamente no livro! 3orque a autora parte de um

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princípio fundamental que " id"ia de que as pessoas são capazes de identificar os pr&prios interesses e lutar por eles! 4e certa forma% isto " mais umaesperança e um aioma que uma verdade ou um consenso! 5 a base daconstituição americana% que diz que cada cidadão deve ser livre para buscar afelicidade% isto "% para perseguir os pr&prios interesses! A id"ia de que todossão iguais perante a lei tamb"m norteia o princípio fundador da diversidade%porque igualdade significa% na maior parte das vezes% conviv6ncia eproimidade% e este " o combustível do dinamismo econ7mico% social e culturaldas cidades!

0a p)gina 89:% quando Jacobs fala do problema dos cortiços% ela colocao pressuposto que baseia suas políticas% e que pode ser diretamenterelacionado com a sugestão de Keynes que comp.em esta epígrafe#

( plane$amento urbano convencional trata os cortiços e seushabitantes de forma inteiramente paternalista! ( problema dospaternalistas " que eles querem empreender mudanças muitoprofundas e optam por meios superficiais e ineficazes! 3arasolucionar o problema dos cortiços% precisamos encarar seushabitantes como pessoas capazes de compreender seus interessespessoais e lidar com eles% o que certamente são! +JA/(;<% :99=%89:, 

Jacobs adota o princípio de que a cidade " uma obra coletiva quepertence >s pessoas% não ao poder p?blico% prefeitura ou% de modo maisgen"rico% ao *stado! 3or isso% as cidades devem ser pensadas a partir doponto de vista das relaç.es sociais nelas desenvolvidas% e esta premissa "especialmente verdadeira para as grandes cidades! Jacobs critica o que chamade plane$amento urbano ortodoo no começo do livro% que abrange% de certaforma% as utopias do final do s"culo @@ sobre o que seriam sociedadesperfeitas# a ideologia das cidades $ardins% cu$o fundador " *bnezer Bo1ard% aideologia da Cille Dadiouse% de Ee /orbousier% a ideologia da beautiful city% dosarquitetos e urbanistas americanos% que culmina no modo de fazer e compor cidades conhecido pela arquitetura modernista! <ão ideologias aparentementedistantes% mas todas marcadas pela mesma premissa b)sica# mudar o homem%transformar a natureza humana por meio da transformação do meio humanopor ecel6ncia% o meio urbano! /omo ela mesma afirma na p!8:: que oob$etivo de Bo1ard era#

+!!!, cristalizar o poder% as pessoas% e os usos e os aumentos de

recursos financeiros segundo um modelo est)tico% facilmentecontrol)vel +!!!, sob as diretrizes rígidas de um plano empresarialmonopolista Fde forma a reinstaurarG uma sociedade est)tica%governada% em tudo que fosse importante% por uma nova aristocraciade especialistas em plane$amento urbano altruístasF=G! 

Jane Jacobs tamb"m se preocupa em apresentar as estrat"giasnecess)rias para poder financiar as melhorias urbanas e superar os cortiços! As forças necess)rias para a criação de ruas capazes de oferecer segurança ediversidade para seus freqHentadores e moradores e as forças que impedemeste mesmo desenvolvimento! 4entre os ob$etivos do plane$amento a ser 

atingidos pelos planos físicos% a meta deve ser% na visão da autora#=!

 

Iomentar ruas vivas e atraentes

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:! 

Iazer com que o tecido destas ruas forme uma malha o maiscontínua possível por todo um distrito que possua o tamanho epoder necess)rio para constituir uma subcidade em potencial

8! 

Iazer com que parques% praças e edifícios p?blicos integrem essetecido de ruas utiliz)-los para intensificar e alinhavar acompleidade e a multiplicidade de usos desse tecido! *les nãodevem ser usados para isolar usos diferentes ou isolar sub-distritos

!  *nfatizar a identidade funcional de )reas suficientementeetensas para funcionar como distritos!

 *stas metas do plane$amento são obtidas atrav"s e diversas medidasdiscutidas ao longo do livro% mas sempre tendo em mente a promoção dadiversidade! 2m fato interessante% " que as cidades que a autora procuradescrever são aquelas em que " possível o pedestrianismo! ( maior obst)culopara os deslocamentos a p" e a monotonia das ruas! A monotonia% ou Lrande3raga da Monotonia como chama a autora% " vista como a maior inimiga dasruas e das grandes cidades! uando as ruas tornam-se mon&tonas% elasafastam as pessoas! * ruas pouco movimentadas são% nas grandes cidades%um chamariz para a criminalidade!  *sta observação decorre na id"ia muito clara que Jane Jacobs tem doque " uma grande cidade# grande cidade não " uma coleção de cidadespequenas% $ustapostas# uma grande cidade " um local onde a grande maioriadas pessoas com as quais nos relacionamos% fazemos trocas e compartilhamos

os espaços p?blicos nos são predominantemente desconhecidos! *stadinNmica das grandes cidades faz com que o controle social das ruas% que "eercido apenas parcialmente pela polícia% se$a feito pelos olhos atentos detodos estes desconhecidos% e pela capacidade deles de intervir em favor deoutros desconhecidos em caso de necessidade que s& " possível atrav"s dosc&digos implícitos de conduta!  0este ponto do livro% creio que h) uma compreensão profunda por partede Jane Jacobs do que " uma sociedade humana! /omo bem ressalta ofil&sofo espanhol Jos" (rtega-y-Lasset% a construção da individualidade faceaos outros " dada pelos usos e costumes! 0ão precisamos dizer bom dia para

uma pessoa que divide conosco o leito durante a noite% mas este uso "necess)rio para nos aproimarmos de um indivíduo desconhecido! A maior parte dos usos surge da interação entre as solid.es humanas% que na vidaurbana se d) permanentemente entre desconhecidos! Jacobs compreendeesta necessidade da vida urbana% e ressalta que o controle social que impede aviol6ncia nas ruas " construído pela interação social% pela disseminação daurbanidade entre as pessoas rec"m chegadas >s grandes cidades!

( livro Morte e Cida de Lrandes /idades% que em seu título original "mais específico% 'he death and life of great american cities% ou se$a% a morte ea vida das grandes cidades americanas% tr)s liç.es aplic)veis a todas as

grandes cidades de diversas partes do mundo! (bviamente que as soluç.esapontadas para o problema dos cortiços não podem ser simplesmente

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transpostas para a abordagem das favelas enquanto problema urbano e social!Mas ainda assim% permite-nos compreender parte da vitalidade e da morbidadede bairros brasileiros das nossas grandes cidades!

3or fim% creio que vale a pena comentar o uso que tem sido feito da obrade Jacobs por conta de urbanistas brasileiros! A edição original do livro deJacobs " de =OP=! *sta obre foi traduzida para o portugu6s apenas em :99=% eat" então Jacobs aparecia como uma not&ria desconhecida! 3ortanto% suainflu6ncia entre os idealizadores do *statuto das /idades " praticamente nula!( que não quer dizer que sua crítica ao urbanismo modernista não tenhaservido de base para as obras p&s-modernas% principalmente para as críticasque foram feitas aos modernistas! /reio que o d"bito de *d1ard <o$a e 4avidBarveyF:G para com ela se$a grande! Jacobs permite-se ser dura com osplane$adores% porque% at" onde sei não foi militante de qualquer ideologiaestatizante% que ve$a no plane$amento e no estado a redenção para umahumanidade degenerada% quer pelo capitalismo% quer pela urbanização ouainda pela secularização!

 Ao contr)rio de pessoas que criticam o plane$amento urbano% masprop.em planos diretores para todos os municípios% que criticam a especulaçãoimobili)ria mas criam leis de direito de edificação% Jacobs prop.em umplane$amento não restritivo% que permita que a cidade se$a feita e refeita pelospequenos% m"dios e grandes empreendedores% e não deiada a cargo demonopolistas ou oligopolistas% se$am do estado ou de grandes corporaç.es!3or isso os ideais de Jacobs% seu pensamento para as cidades são tãodiametralmente opostos as propostas de Keynes para Eondres% ou de

0iemayer para as cidades brasileiras! *la acredita e aposta na capacidade dosindivíduos em seguirem seus pr&prios interesses e em construir suas cidades ebairros! *la acredita que a classe m"dia surge da melhoria das condiç.essociais das classes baias% e que a dinNmica das sociedades abertas " quepermite a ascensão social% não a vontade altruísta de algum plane$ador!

 A obra de Jacobs não " contr)ria a iniciativa privada% a iniciativaindividual% a pobreza ou a riqueza! 5 uma obra contr)ria aos t"cnicos que se $ulgam esclarecidos e clamam do alto de suas c)tedras por d"spotas que lhesd6em poder para implantar suas distopias! ( desenvolvimento urbano norte-americano% que na segunda metade do s"culo @@ se fez quase todo sob a

"gide da cidade $ardim% levou a Am"rica a ser um país dependente doautom&vel% das grandes free1ays% com sub?rbios que se estendem por milhares de quil7metros! (s sub?rbios empurraram a agricultura para regi.es)ridas do meio oeste% e foram feitos na base da associação dos setoresbanc)rios e suas hipotecas% em conluio com construtoras de rodovias ligadas>s construtoras de condomínios e shopping centersQmalls!

( desenvolvimento urbano norte-americano foi especialmente afetadopor ideologias do socialismo fabiano de Keynes e todas as intervenç.es deledecorrentes! A mesma l&gica de desenvolvimento espraiado% suburbano%contamina as mentes dos plane$adores brasileiros% e leva ao desperdício de

espaço com gramados improdutivos que sequer cumprem adequadamentealguma função ambiental! 3ara compreender a obra de Jacobs e as demandas

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para a aplicação de seus princípios% " preciso se desvencilhar de qualquer tipode ideologia de engenharia social% de controle social% e partir para umaperspectiva que vise descentralização do poder e intervenção controlada epontual do *stado! (s esquerdistas% se$am tucanos se$am petralhas% nãopodem compreender e aplicar as id"ias de Jane Jacobs% porque elas nãoservem para controle social! Ao devolver para as pessoas o controle% Jacobsapresenta uma visão etremamente libert)ria de cidade% que procurareidesenvolver em outros tetos!