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ISSN 0130 -071x

ATUALIDADES EM EDUCAÇÃO

Instituto de Pesquisas e Administração da Educação

Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

INDICE

Editorial 5

Educação acadêmica ou profissional? Claudio de Moura Castro

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A valorização do professor como fator decisivo para o desenvolvimento brasileiro João Roberto Moreira Alves

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Por que professor ganha menos que executivo? Klaus Schwab

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A meninada de hoje em dia Ricardo Semler

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Currículo, a Constituição da educação João Batista Araújo Oliveira

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A educação entre o MEC e o MCT José Maria Alves da Silva

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O teto de vidro da educação brasileira Simon Schwartzman

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Mensagem para reflexão 19

Educação em Foco 20

Normas para publicação em Atualidades em Educação

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Perfil Institucional O Instituto de Pesquisas e Administração da Educação é uma organização social de iniciativa privada que tem como objetivo o desenvolvimento da qualidade da educação. Atua nas áreas de Administração da Educação, Informações Educacionais, Direito Educacional, Tecnologia em Educação,Educação a Distância e Pesquisas Educacionais.

Atualidades em Educação

• Publicação do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação registrada no Cartório do registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro sob o nº 3071, Livro A 04, em 10 de outubro de 1989

• Exemplares arquivados na Biblioteca Nacional de acordo com Lei nº 10.944, de 14 de dezembro de 2004 (Lei do Depósito Legal).

• ISSN (International Standard Serial Number) nº 0103-071X conforme registro no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT (Centro Brasileiro do ISSN), vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

• Editora do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação cadastrada no ISBN (International Standard Book Number) sob o nº 85927 conforme registro na Biblioteca Nacional.

• Permitida a reprodução e disseminação, desde que citada a fonte.

Editor Responsável - João Roberto Moreira Alves

Consultores: Achilles Moreira Alves Filho; Agostinho Bacha Rizzo; Alexandre Domene Kuaik; Augusta Isabel Junqueira Fagundes; Aurora Eugênia de Souza Carvalho; Bruno Lannes Aguiar Pacheco; Cayo Vinicius Honorato da Silva; Cleiton Evandro Corrêa Pimentel; Cristiano George Campos Heinzel; Dalton da Silva e Souza ; Danilo Figueira Gonçalves; Daruiz Castellani; Eduardo Desiderati Alves; Heloisa Teixeira Argento; Heraldo Pereira Duarte; Joice Raddatz; José Alexandrino Neto; Juan Marcos A. Yañez; Luciano Santos da Silva; Luis Felipe Camêlo de Freitas; Luiz Kelly Martins dos Santos; Marcia Romana de Oliveira Grassi; Marinaldo Baia Corrêa; Silvailde de Souza Martins da Silva; Mathias Gonzalez de Souza; Mônica Ferreira de Melo; Neuza Maria Thomaz; Ney Stival; Roberto Desiderati Alves; Roger Bédard; Sergio Henrique de Alcântara; Silvia Maria Pinheiro Bonini Pereira; Simone Marie Itoh de Medeiros Teresa da Silva Rosa; e Wagner Digenova Ramos. Edição e Administração Instituto de Pesquisas e Administração da Educação

Av. Rio Branco, 156 - Conjunto 1.926 - CEP 20040-901 -Rio de Janeiro - RJ - Brasil

http://www.ipae.com.br- e-mail:[email protected]

FICHA CATALOGRÁFICA

Atualidades em Educação - Nº 1 (jul. 1983). - Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas e Administração da Educação - N.1 ; 29.5 cm - Bimestral Publicação do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação. 1. Educação - periódico I . Instituto de Pesquisas e Administração da Educação. CDU37.312(05)

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Editorial

A presente edição da Atualidades em Educação permite a apreciação dos mais relevantes temas da modernidade que refletem mudanças nos sistemas educacionais.

Os articulistas, dentre os mais renomados do país, permitem uma visão sobre a educação acadêmica ou profissional, a valorização do professor e as razões de remuneração diferenciada entre os executivos e docentes

Dentro de uma visão prospectiva levanta questões acerca da leitura digital, currículo e políticas públicas que podem transferir responsabilidades do Ministério da Educação para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Na seqüência uma análise sobre as deficiências da educação brasileira e uma mensagem para reflexão feita numa Carta de Abrahan Lincoln ao professor de seu filho. Apesar de ter sido escrita em 1830 mostra o respeito e admiração de um dos maiores líderes mundiais pelos educadores.

Finalizando, como de praxe, há uma síntese dos principais fatos que ocorreram na educação no Brasil e no exterior.

(*) João Roberto Moreira Alves

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Educação acadêmica ou profissional?

Claudio de Moura Castro (*)

Resumo: O artigo aborda aspectos globais sobre as opções de educação que

devam ser definidas pelas escolas e que servem de base para que os alunos (ou

seus pais ou responsáveis) decidam sobre a matrícula nos cursos. Analisa

tópicos que diferenciam as formas de educação e destaca pontos necessários em

um sistema de aprendizagem moderna e contextualizada com o futuro.

Palavras chave: Educação acadêmica; educação profissional; modernidade em

educação.

Os pais reclamam um ensino técnico para os seus filhos. Para muitos, aí está a solução para os problemas do ensino. Mas será mesmo a única?

Há muitas maneiras de adquirir uma profissão. As ocupações manuais qualificadas são atendidas no estilo Senai - que não examinaremos aqui. Outra possibilidade é o ensino técnico, voltado para ocupações com maior densidade de conhecimentos técnicos. Por exemplo, eletrotécnica e robótica. Essa solução é repetida no mundo inteiro, com amplo sucesso.

Mas tudo pode dar errado. O Banco Mundial pregava a inclusão de disciplinas profissionalizantes no ensino médio. Contudo uma pesquisa ampla, encomendada pelo próprio banco, mostrou o equívoco: de tudo o que se fazia em formação profissional, essa solução mista fracassava mais que todas as outras. E parece ser a que está sendo proposta no País.

Em escolas acadêmicas que preparam para o ensino superior, se oferecem também um programa profissionalizante, seu status é mais baixo e os professores, discriminados no ambiente acadêmico. Por essas e outras razões, os ramos profissionais da escola são desprestigiados e o programa acaba como um gueto dentro da escola. Se insistirmos nessa profissionalização aguada do médio, estaremos repetindo os erros do passado.

As escolas técnicas bem-sucedidas têm seu centro de gravidade no mundo do trabalho e nas empresas. Seus currículos acadêmicos podem ser sérios, mas sua alma e seu foco estão na profissão ensinada, não no vestibular. Há bons exemplos brasileiros, principalmente no Senai e na Fundação Paula Souza (SP).

Há, porém, alternativas de preparar mão de obra para profissões de menor densidade técnica. Desde sempre, as pessoas aprendem fazendo. Automação dificilmente se aprende espiando quem sabe. Mas há centenas de ocupações exigindo menos bagagem técnica ou teórica prévia. Portanto, podem ser aprendidas em cursos mais curtos ou ao longo da vida profissional, ainda que mais lentamente. Mas entra aí um fator crítico, que é a qualidade da base educacional. Se é muito fraca, estamos mal. O profissional termina capenga no lado da teoria.

A solução pode estar mais perto do que se pensa. Trata-se de repensar a velha e maltratada "escola acadêmica".

Nossa educação acadêmica está extraordinariamente distante do mundo real e de aplicações práticas do que é aprendido, o que quer que seja. O currículo não se transforma em habilidades que podem ser usadas pela vida afora, mas sim na memorização de fatos, datas e fórmulas que para nada servem. Isso é agravado pelo excesso de disciplinas que a escola tenta ensinar, com pífios resultados. Ainda pior, não há diversificação, pois todos dão as mesmas disciplinas, gostem ou não. Se uns querem ir para o mercado e outros para o vestibular, por que uma passarela única?

Consertar essa escola é um caminho pouco explorado e de grande potencial. Por que as escolas precisam ser tão enfadonhas? Por que os currículos não podem ser mais curtos, mais simples e focalizando o que cada perfil de aluno precisa para crescer na vida e na profissão futura?

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Não se trata de ensinar "conhecimentos práticos" (sem teoria), como plantar uma horta ou arquivar correspondência. Já se disse: não há nada mais prático do que uma teoria. Trata-se de aprender a teoria mediante sua aplicação na prática. Por exemplo, aprender matemática lidando com os problemas de números que encontramos na nossa vida. Que tal aprender a medir, a ler gráficos e tabelas, a interpretar desenhos técnicos? Ou entender o que está no papel e redigir corretamente? É melhor do que ouvir falar da lei de Pouillet, de Kirchhoff, do teorema de Binet, de D"Alembert, ou do plano de Argand-Gauss, contidos em livros do ensino médio. Impossível aprender isso tudo no tempo disponível.

Na realidade, trata-se de dedicar tempo a aprender algumas poucas ideias mediante aplicações, exercícios e projetos próximos da vida dos alunos e das ocupações que podem almejar. O objetivo é usar a prática para aprender a teoria. Obviamente, alguns alunos querem estudar engenharia ou medicina. Mas com a pletora de conteúdos, a maioria consegue apenas decorar as fórmulas. Isso não serve para nada, pois o que está por trás delas não foi realmente aprendido. Não que esses alunos sejam incapazes de aprender tais teorias, mas dado o tempo disponível isso não é viável.

Todos os países sérios oferecem currículos ou escolas diferenciadas, de forma a se adequarem aos interesses e ao equipamento intelectual dos alunos que chegam. É pura hipocrisia acreditar que todos cheguem ao ensino médio equipados para lidar com níveis de abstração em assuntos que em muitos países avançados são ensinados somente nos cursos superiores. Ou que todos tenham os mesmos interesses.

Como seria uma tal escola, forte em teoria, justamente porque insiste na sua aplicação prática? Dado o espaço aqui disponível, tomemos apenas um exemplo real mostrando a direção proposta. A Espanha desenvolveu um projeto chamado Aula Galileu (adotado no Uruguai). Para esse programa a escola dispõe de uma oficina multidisciplinar: madeira, metal, eletrônica, informática. O objetivo não é virar carpinteiro ou eletricista, mas preparar pequenos projetos individuais (ou de grupos). Depois de redigido o projeto, os alunos passam para a bancada, construindo o que planejaram. As atividades manuais fundem-se com os conteúdos do currículo acadêmico. Por exemplo, a construção de um medidor de continuidade mescla teoria de circuitos elétricos com sua construção. Ao fim, os alunos preparam um manual de uso, em inglês!

A escola continua acadêmica, não vira profissional. Mas ilustra a direção para um verdadeiro programa acadêmico, não o pastiche que oferecemos.

(*) Doutor em Economia. Pesquisador em Educação.

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A valorização do professor como fator decisivo para o desenvolvimento brasileiro

João Roberto Moreira Alves (*)

Resumo A importância do professor é destacada no texto que analisa sua relação

com o desenvolvimento das nações. Inicia com um importante histórico sobre a

implantação da educação no País e sua evolução ao longo dos séculos. Ressalta

ações que podem ser seguidas por sistemas educacionais e escolas de todos os

níveis e modalidades.

Palavras chave – Professor, políticas educacionais, desenvolvimento brasileiro.

A primeira reforma do ensino que o Brasil conheceu foi editada em 28 de junho de 1759 por D. José I, sob a inspiração do Conde de Oeiras, mais tarde Marquês de Pombal.

O alvará régio criou categorias de docentes e em seu artigo doze determinava que “todos os ditos professores levarão o privilégio de nobres, incorporados em direito comum e, especialmente, no Código Título de professoribus et medicis”

Antes havia apenas o ensino privado, desenvolvido graças à atuação dos jesuítas que chegaram ao Brasil em 1549 e imediatamente fundaram os primeiros colégios, responsáveis pelos ensinamentos durante 210 anos.

Vê-se, assim, que o surgimento do professor, como carreira profissional, teve um início bastante privilegiado e com reconhecimento do poder público.

Aliás, desde a época em que se elaborava a reforma supracitada – durante o reinado de D. João V, conferia-se aos instrutores e professores e título de “Ministro das Letras” os quais eram chamados e consultados pelas mais altas autoridades quais eram consultados pelas mais altas autoridades para dar pareceres nos casos importantes.

O professores era vitalício e irremovível. Com a vinda da Família Real, em 1808, novos colégios foram incentivados e ampliou-se o

mercado de trabalho. Os mestres ganhavam, em Portugal, 200 mil réis anuais e, no Brasil, eram remunerados entre 400 e 500 mil réis, o que provocou a vinda de muitos ilustrados.

A proclamação da independência refletiu sensivelmente no ensino e escassearam-se os recursos destinados ao pagamento dos professores. Um relatório do Ministro do Império, em 1836, apontava a “falta absoluta de candidatos às cadeiras de professor”, ressaltando que “os salários são fracos e não convencem, fazendo com que prefiram outros empregos mais lucrativos e com melhores oportunidades no futuro”.

Criaram-se muitas escolas públicas, contudo os recursos gerados eram insuficientes. Apesar de existir o “subsídio literário”, um tributo que custeava o ensino público (e que foi objeto de grandes desvios), as verbas não eram compatível com a necessidade orçamentária de manutenção das casas de ensino.

Um pronunciamento feito em 1855 pelo Visconde de Sinimbu apontava causas e caminhos de solução para a educação nacional. Dizia o então senador: “ O grande problema da instrução primária entre nós, a resolver, está na maneira por que em um país tão vasto e com uma população disseminada se poderão derramar seus conhecimentos. O professorado não é somente uma vocação, é também uma carreira: para reabilitá-lo, o que cumpre fazer? Debalde impor-se-ão obrigações, exigindo maiores habilitação dos professores e sobrecarregando-os de maior responsabilidade. Antes de tudo é preciso tê-los: e como? Nesta concorrência geral da indústria e das profissões civis, onde com menores habilitação maiores vantagens se alcança, como poderá a modesta carreira de professor achar candidatos com os quesitos necessários mediante o módico pagamento?”

No início da República o quadro era caótico, exatamente pela falta de docentes capacitados. Num pronunciamento o Ministro Joaquim Seabra, encarregado da Justiça e Negócios Interiores (onde

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a educação se inseria), encontramos o seguinte trecho: “O ensino chegou a um estado de anarquia e descrédito que, ou faz-se sua reforma radical, ou é preferível abolí-lo de vez”.

Diversas iniciativas foram tentadas ao longo deste século, contudo com avanços e retrocessos. O manifesto pela Reconstrução Educacional no Brasil, assinado em 1932 pelos “pioneiros da

educação nova”, já alertava ao povo e ao governo sobre os caminhos a serem seguidos. Pouco se observou e existe hoje uma enorme dívida social que precisa ser resgatada.

O país precisa investir muito para entrar e permanecer no grupo das nações desenvolvidas. O acesso maciço à escola já é uma realidade em todos os países latino-americanos, entretanto o desenvolvimento exige a melhoria da qualidade. A freqüência ao ensino fundamental quase dobrou nas últimas décadas e o médio vem experimentando resultados altamente favoráveis, em termos quantitativos, o que forçará um aumento significativo das matrículas nos cursos superiores

O Governo Federal criou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação e pela lei a maior parte dos recursos deve ser destinada ao pagamento de professores. Com isso, os salários tiveram aumentos, especialmente em alguns Estados, entretanto ainda muito aquém do necessário para dignidade do professor.

A ampliação da rede física de escola é precisa, não obstante termos cerca de 220 mil estabelecimentos espalhados por todo o território nacional, contudo os resgate da dignidade do professor é condição essencial.

Estudos internacionais mostram que o Brasil será um dos gigantes neste século mas, para que isso ocorra é importantíssimo que se invista corretamente em educação. Precisamos reverter um quadro onde apenas um pequeno número dos eleitores têm curso superior completo, contra uma imensa maioria de analfabetos e analfabetos funcionais.

As pesquisas já evidenciam que as chances de não ter emprego é pequena para quem tem diploma de nível superior, contra altos índices para a população como um todo e que a probabilidade de renda é bem maior para quem completar o ensino médio e muito mais elevada para quem terminar o ensino superior.

Inúmeros são os exemplos que mostram a necessidade de escolas de qualidade e, para que isso aconteça é preciso professores valorizados.

É imprescindível a valorização do professor para o desenvolvimento brasileiro. A remuneração mais digna é de suma importância, contudo tem que se avançar, estimulando o

ego dos docentes e respeitando-os como profissionais de primeira linha. A história conta que no passando era conferido aos docentes os mesmos privilégios dos nobres,

sendo chamados e consultados pelas mais altas autoridades para opinar nos casos importantes. Hoje, pouco se usa do saber do mestre e às vezes o transformamos num mero transmissor de

conhecimentos. O Brasil dispõe de dedicadíssimos profissionais, muitos com excelente formação, entretanto

estão sendo colocados à margem do processo, nos grandes momentos nacionais. Os desafios da modernidade são imensos e não é tarefa somente para grupos isolados, técnicos

ou políticos. Cabe à sociedade exercer o seu papel e, em especial, à escola. Abrindo-se mais os debates públicos e incentivando-se a participação surgirão brilhantes

contribuições capazes de efetivamente reverter o tempo perdido e alavancar o progresso.

(*) Presidente do Instituto de Pesquisas e Administração da Educação.

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Por que professor ganha menos que executivo? Klaus Schwab (*)

Resumo: O artigo enfoca o tratamento diferenciado dado pelo mercado para o

professor e para outras ocupações profissionais. Traz uma vivência internacional

e aponta caminhos para a solução dessa desigualdade que vem afastando

candidatos à funções docentes especialmente nas escolas de educação básica.

Palavra chave: Executivos, professores, remuneração de docentes, políticas

públicas

As críticas ao capitalismo aumentaram muito nos últimos meses. Movimentos de protesto, como o "Occupy Wall Street", expressam indignação com os excessos dos banqueiros, que, segundo os manifestantes, são os principais culpados pela atual crise econômica - mas, aparentemente, não estão sendo responsabilizados.

Crescente número de vozes, de várias esferas da sociedade, está demonstrando a sua solidariedade às atividades contra o capitalismo, um reflexo da frustração generalizada dos cidadãos. E por boas razões: porque até agora foi o contribuinte - o cidadão médio - que teve de pagar pela crise econômica e pelas dívidas nos Estados Unidos e na Europa. Aumento do desemprego, mais impostos e cortes nos sistemas de bem-estar e de saúde nos trouxeram à beira de uma crise social.

Sem dúvida, esses protestos contra o capitalismo conseguiram captar a essência dos nossos tempos. Mas não basta simplesmente condená-lo por seus inegáveis excessos. Precisamos fazer uma análise mais profunda do sistema capitalista e por que, em sua atual forma, ele não se encaixa mais no mundo ao nosso redor.

Quando a crise começou, em janeiro de 2009, durante minha palestra de abertura em Davos, eu disse: "Hoje, as pessoas ao redor do mundo estão me perguntando como foi possível tomar decisões - baseadas em ganância ou incompetência e sem nenhuma fiscalização efetiva - que tiveram consequências terríveis, não somente para a economia global, mas também para pessoas reais, que perderam suas aposentadorias, suas casas e seus empregos. Essas pessoas estão desnorteadas, confusas e com medo e raiva".

Naquela época, o mundo esperava que a crise fosse produzir uma reavaliação básica do comportamento de executivos de alto escalão no mundo dos negócios, em especial no setor de serviços financeiros. Depois de praticamente três anos, ainda não aprendemos com os erros do passado. O sistema que nos levou até essa crise é obsoleto, e não é de hoje. A crise não será superada no longo prazo se continuarmos renegando a necessidade de revisar o sistema. O capitalismo precisa ser reformulado, por três motivos:

O capitalismo é desequilibrado. O uso do capital virtual para especular aumentou muito e de maneira desproporcional comparado com o capital real, e está fora de controle. Precisamos de transações financeiras para equilibrar os riscos, mas não transações especulando sobre a própria especulação.

O sistema original capitalista apresentava uma divisão clara: entre o empreendedor, que suportava o risco do investimento, cuja recompensa é o lucro; e o executivo, cuja tarefa profissional é garantir o futuro da empresa no longo prazo e proteger os interesses de todas as partes interessadas. Com um sistema de bônus excessivo, o executivo alia-se aos interesses dos proprietários do capital, desvirtuando o sistema. Este é o problema fundamental da situação hoje: os salários excessivos corroeram a ética empresarial dos executivos.

O capital deixou de ser um fator decisivo para a produção, na atual economia global. Ideias inovadoras ou serviços intangíveis estão ocupando o espaço das vantagens competitivas, reduzindo a importância do capital. Além disso, com padrões de vida em ascensão, o foco geral está mudando de quantidade para qualidade. O sucesso econômico, no futuro, não será mais decidido pelo capital, mas pelo "talento" como fator de produção. Então, nesse sentido, estamos migrando do capitalismo para o "talentismo".

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As demonstrações que estão ocorrendo ao redor do mundo são perigosas quando usadas como meio de iniciar uma guerra entre as classes sociais. Precisamos de novos impulsos que nos levem a reavaliar a situação e implementar as ações corretivas necessárias para remediar o sistema. Devemos converter o capitalismo de volta a uma economia de mercado social. Como o passado demonstrou claramente, outros sistemas econômicos, como o socialismo doutrinário, não oferecem alternativas viáveis. Ponto-chave de uma tal reforma precisa ser a redução dos excessos de produtos financeiros e da participação de executivos nos lucros.

Acima de tudo, o trabalho do executivo deve voltar a ser um posto profissional. Algumas empresas justificam o pagamento de salários e prêmios estratosféricos pelo fato de o talento ser frequentemente o principal fator de sucesso. Porém o talento não é importante apenas na profissão do executivo, mas em qualquer emprego.

Por que um professor excelente deveria ganhar menos que um executivo? Por que um cirurgião reconhecido mundialmente deveria ganhar menos que o CEO de uma empresa global?

Num mundo ideal, todos devem ganhar de acordo com sua responsabilidade e seu desempenho. A maior motivação profissional deve ser a vocação - não somente o desejo de lucrar. Medidas para diferenciar executivos de pessoas que correm riscos também devem reprimir transações financeiras em que os lucros beneficiem apenas os indivíduos envolvidos, enquanto os riscos são coletivos e o contribuinte acaba pagando a conta quando tudo der errado.

Outro princípio orientador importante na reforma do nosso sistema econômico é o conceito de partes interessadas, que defini pela primeira vez há mais de 40 anos. O conceito de partes interessadas assume que a empresa é uma comunidade social de muitas partes diferentes - ou seja, diferentes grupos sociais que estão ligados direta ou indiretamente pela empresa. O objetivo de uma liderança responsável é garantir o sucesso no longo prazo e a viabilidade da companhia e, assim, atender a todos os intervenientes, não somente aos interesses de curto prazo dos acionistas.

Em suma, precisamos avançar do capitalismo excessivo para uma economia de mercado em que a responsabilidade e as obrigações sociais não sejam palavras vazias.

* Fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial.

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A meninada de hoje em dia O que aconteceria se uma criança de

quatro anos aprendesse a ler e

escrever apenas digitalmente?

Ricardo Semler (*)

Resumo: O texto mostra a evolução intelectual das crianças ao longo das últimas

décadas, decorrente dos reflexos do uso das tecnologias. Destaca a influência dos

computadores e sistemas digitais nas gerações e mostra que as escolas e

educadores terão que ter um novo papel nesse processo. Provoca reflexões sobre a

leitura e escrita apenas digitais, substituindo-se a letra cursiva.

Palavras-chave: Letras cursivas e digitais; evolução das crianças; educação e

modernidade.

"É tão mais esperta, gente! Mexe no computador aos dois anos, quando já fala 300 palavras, entende tudo, já negocia...é uma loucura."

Isso tudo é conversa fiada de avó, que está desculpada de antemão pela condescendência.

Tome-se o tamanho dos seres humanos. Toda geração fica espantada e orgulhosa com os filhos maiores do que os pais. Ora, se a humanidade crescesse apenas dois centímetros a cada geração desde Cristo até agora teríamos todos algo em torno de 3,25 metros de altura!

De fato, a Universidade Ohio fez um estudo com esqueletos e comprovou: o ser humano tem hoje altura média de 1,76 metro, contra 1,71 metro há mil anos! Cresce, portanto, meio centímetro por século, com toda a tecnologia, a medicina e os recursos somados. Ou seja, nada.

É assim com a cabeça da meninada. Da mesma forma que a altura é resultado de disponibilidade de comida, o cérebro dos pequenos se adapta às técnicas e às tecnologias disponíveis. Nada tem a ver com aumento de capacidade intelectual. Certamente o ser humano é tão esperto ou modorrento quanto o foi no ano 1000 e não tem lógica achar os alunos de hoje mais capazes.

O nosso pequeno fez dois anos nestes dias, e encomendei a ele que aprenda 300 palavras nesta semana, pois ele está fixado em duas: "eshte!" -assim, com ponto de exclamação, e "papai", termo que ele usa para se referir a mim... -e ao jardineiro e também ao motorista.

Numa escola pública do interior sugeri um projeto que está em lento desenvolvimento: o de descobrir que mudanças de cognição (pensando nos ciclos do Vigótski, que desenhou isso) ocorrem quando alteramos a ordem da alfabetização.

Alunos têm aprendido a linguagem escrita em dois mundos paralelamente. Começam a brincar com o teclado, que segue um raciocínio de QWERT (do teclado) e não de ABCDE. Aprendem a linguagem com o dedinho estendido, em vez de curvá-lo em torno de um lápis.

Mas o que aconteceria se uma criança de quatro anos aprendesse a ler e escrever apenas digitalmente, para, depois, reforçar esse conhecimento com caligrafia manual? Não há estudo algum no mundo sobre isso, o que é curioso.

Há experiências de aprendizado paralelo digital-manual, mas ninguém sabe que sinapses se formariam, durante essa fase indelével dos circuitos mentais, em termos de cognição. Será que a forma de perceber o mundo seria alterada se a alfabetização inicial fosse feita apenas com estímulos digitais?

É possível que esse processo desemboque em uma maneira diferente de apreender sequências. O digital estimula mais cedo e se veste de moderno, mas isso é progresso? Ou apenas atraso no lúdico?

Ninguém sabe, ninguém experimenta, e a discussão de "vovô viu a uva" continua em voga. Por isso são os avós que se espantam com a esperteza da meninada. Exatamente como há mil anos.

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

(*) Empresário. Foi scholar da Harvard Law School e professor no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)

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Currículo, a Constituição da educação

João Batista Araújo Oliveira (*)

Resumo – O artigo analisa a importância dos currículos no sistema de

aprendizagem. Destaca propostas que o Ministério da Educação pretende fazer

com a implantação de um currículo único nas escolas de educação básica e a

polêmica que trará entre os educadores, alunos e famílias.

Palavras chave – Políticas educacionais, currículo, educação. O Ministério da Educação (MEC) anunciou, com atraso considerável, que vai apresentar

sua proposta de currículo. A Constituição de 1988 promoveu avanços notáveis em várias áreas, apesar de inúmeras disfunções criadas. Mas faltou uma visão de futuro mais clara e pragmática. Resta assegurar que, da mesma forma, a iniciativa atual não aumente ainda mais o nosso atraso.

A última decisão nessa área resultou nos desastrados "parâmetros curriculares nacionais". A maioria das iniciativas do MEC que envolvem questões de mérito tem sido sistematicamente cativa de mecanismos e critérios corporativistas e de duvidosos consensos forjados em espúrios mecanismos de mobilização. Tradicionais aliados do ministério, inclusive internamente, têm aversão à ideia de currículo e mais ainda de um currículo nacional. Documentos desse tipo, produzidos por alguns Estados e municípios em anos recentes, continuam vítimas do pedagogismo. Isso é o melhor que temos.

O assunto é sério demais para ser deixado apenas para os educadores e especialistas. Nem pode ser apropriado pelo debate eleitoral. O Brasil - especialmente suas elites - precisa estar preparado para discutir abertamente a questão. Aqui esboçamos os contornos desse debate.

O que é um currículo? Um documento que diz o que o professor deve ensinar, o que o aluno deve aprender e quando isso deve ocorrer. Em outras palavras, conteúdo, objetivos (o termo da vez é expectativas de aprendizagem), estrutura e sequência. Para que serve um currículo? Primeiro, para assegurar direitos: o currículo especifica o que o aluno deve aprender. É um instrumento de cidadania fundamental para garantir equidade e os direitos das famílias. Segundo, para estabelecer padrões, ou seja, os níveis de aprendizagem para cada etapa do ensino: atingir esses níveis é o dever, que cabe ao aluno. Terceiro, para balizar outros instrumentos da política educativa, como avaliações, formação docente e produção de livros didáticos, instrumentos essenciais em qualquer sistema escolar. Os currículos, sozinhos, não mudam a educação.

Por que ser de âmbito nacional? A experiência dos países mais avançados em educação, sejam federativos ou não, indica a importância de uma convergência. Depois do advento do Pisa, mesmo países extremamente descentralizados, como Suíça, Alemanha ou EUA, têm promovido importantes convergências em seus programas de ensino, até em caráter de adesão. Num município, um currículo básico permitirá que alunos transitem por diferentes escolas sem que se instaure o caos a que hoje submetemos nossas crianças e seus professores.

Como saber se um currículo é bom? A condição é que seja claro. Se o cidadão médio ler e não entender, não serve. Deve ser parecido com edital de concursos: você lê, sabe o que cai no exame e sabe como precisa se preparar. O currículo não é exercício parnasiano ou malabarismo verbal.

Deve também levar em conta os benchmarks, as experiências dos países que, usando currículos robustos, avançaram na educação. É preciso cuidado para não confundir os currículos que os países adotam hoje, depois de atingido o nível atual, com os currículos que os levaram a esse patamar.

A proposta deve ser dinâmica e corresponder às condições gerais de um sistema. O currículo não pode ser avaliado isoladamente de outras políticas, em especial da condição dos professores. Hoje a Finlândia, com os professores que tem, pode ter currículos mais genéricos do que há 15 ou 20 anos.

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

A análise dos benchmarks sugere quatro outros critérios para avaliar um currículo: foco, consistência, rigor e referentes externos.

Um currículo deve ter foco, concentrar-se no primordial e só em disciplinas essenciais, cuidando de poucos temas a cada ano, sedimentando a base disciplinar e evitando repetições. William Schmidt, que esteve recentemente no Brasil, desenvolveu escalas comparativas que permitem avaliar o grau de focalização de currículos de Matemática e Ciências.

Deve ter consistência, isto é, respeitar a estrutura de cada disciplina. Isso se refere tanto aos conceitos essenciais que devem permear um currículo quanto à organização do que deve ser ensinado em cada etapa ou série. Por exemplo, um currículo de Língua Portuguesa considerará as dimensões da leitura, escrita e expressão oral, levando em conta o equilíbrio entre a estrutura e as funções da linguagem e contemplando o estudo dos componentes da língua (ortografia, semântica, sintaxe, pragmática).

Um currículo deve ter rigor, ser organizado numa sequência que evite repetições e promova avanços a cada ano letivo. Esses avanços devem observar a relação entre disciplinas e a capacidade do aluno de estabelecer conexões entre elas. Interdisciplinaridade e contexto não são matérias de currículo, são consequência deste.

Um currículo deve ter referentes externos claros. Um currículo de pré-escola deve especificar tudo o que a criança precisa para enfrentar com sucesso os desafios posteriores do ensino fundamental. Isso não significa tornar o pré uma escola antes da escola: currículo não é proposta pedagógica.

Já o ensino fundamental deve preparar o indivíduo para operar numa sociedade urbana pós-industrial. O Pisa não é um currículo, mas contém sinalizações que sugerem o que é necessário para a formação básica do cidadão do século 21. É uma boa baliza para o ensino fundamental. Os currículos do ensino médio, por sua vez, devem ser diversificados, contemplando diferentes opções profissionais e acadêmicas. Pelo menos é assim que funciona no resto do mundo que cuida bem da educação e se preocupa com o futuro de sua juventude.

Finalmente, o que um currículo não deve ser? Um exercício de virtuose verbal, um manual de didática, a advocacia de teorias, métodos e técnicas de ensino, uma vingança dos excluídos e muito menos um panfleto ideológico ou uma camisa de força. Muito menos deve ser o resultado de consensos espúrios.

O currículo definirá se queremos cidadãos voltados para a periferia ou o centro, para o particular ou para o universal.

(*) Presidente do Instituto Alfa e Beto

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

A educação entre o MEC e o MCT

José Maria Alves da Silva (*)

Resumo: A proposta de transferência de funções do Ministério da Educação para o

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é o foco principal do artigo que

analisa diversos aspectos positivos e negativos da iniciativa parlamentar. O texto

permite reflexões pela sociedade em geral e, em especial, pelos integrantes da

comunidade educacional.

Palavra chave: Políticas educacionais; administração da educação; ensino

superior.

O senador Cristovam Buarque é autor de um projeto que propõe a transferência das instituições federais de ensino superior do Ministério da Educação (MEC) para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). As justificativas apresentadas pressupõem vantagens em direcionar o foco do MEC para a educação básica. O MCT ficaria responsável por gerir o ensino superior.

Segundo o autor, a mudança produziria um desejável equilíbrio entre o MEC e o MCT em termos de importância orçamentária e de estruturas administrativas. Ele afirma ainda que não existiriam gastos públicos adicionais, bastando remanejar funcionários entre os dois ministérios já existentes.

A proposta foi discutida e amplamente rejeitada pelos participantes do seminário "Ciência e tecnologia no século 21", que foi realizado em Brasília, em novembro. O Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes-SN), que organizou o evento, também já havia analisado o projeto e levantado várias objeções.

A nosso ver, o espírito do projeto reflete uma concepção estreita da educação. Ela enfatiza a preparação do homem para o mundo do trabalho, em detrimento de outras dimensões da vida.

Assim, se for aprovado, o projeto irá contribuir para ampliar o já grande viés tecnológico das universidades brasileiras. Por causa dele, estão sendo formados profissionais de nível superior que são até competentes tecnicamente, mas que, em geral, têm formação ruim em outros campos do saber, como a política, a filosofia e as artes.

Esse tipo de "carência educacional" faz com que a contribuição da tecnologia para o desenvolvimento econômico seja anulada pela deficiência ética de engenheiros, médicos, políticos e até mesmo professores e magistrados -os juízes que vendem sentenças também saíram das melhores universidades e passaram em disputadíssimos concursos públicos.

Uma das funções mais importantes que as universidades brasileiras podem exercer é formar docentes qualificados para os ensinos médio e fundamental. Será que tal função seria mais bem exercida se ela estivesse sob responsabilidade do MCT?

Por último, cabe lembrar que onde não há boa educação não pode haver boa ciência e tecnologia. Que país hoje bem servido em ciência e tecnologia não priorizou antes a educação e a cultura?

O que é preciso para colocar o país na rota do desenvolvimento, como muita gente abalizada sabe, é uma revolução na educação. É assim que se acaba promovendo a ciência e a tecnologia.

Mas, para isso, é preciso implantar algo que nunca existiu no Brasil: um sistema de planejamento integrado dos três níveis de ensino, distribuídos entre os entes federativos de acordo com os dispositivos constitucionais vigentes, mas sob a coordenação e a rigorosa supervisão do governo central. Não é "esvaziando" o MEC que se vai chegar lá, muito pelo contrário.

(*) Doutor em economia e professor da Universidade Federal de Viçosa

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

O teto de vidro da educação brasileira

Simon Schwartzman (*)

Resumo: Os problemas de qualidade e acesso à educação são analisados no texto,

que permite um aprofundamento das questões determinantes para definição das

políticas públicas do setor e de práticas adotadas pelos estabelecimentos de ensino

de educação básica e superior.

Palavra chave: Qualidade da educação; avaliação; educação brasileira.

Todos sabemos que a educação brasileira tem problemas sérios de qualidade e acesso. Sabemos também que têm havido melhoras importantes desde a década de 90.

A dúvida é se essas melhoras caracterizam um avanço contínuo que, em poucos anos, nos colocará no mesmo nível dos países mais desenvolvidos ou se estamos diante de um impasse. Se há um "teto de vidro" que temos dificuldade em enxergar, mas que nos impede de avançar com a velocidade e a qualidade que precisamos, fazendo uso adequado dos recursos disponíveis.

Algumas pequenas melhoras que parecem ter surgido mais recentemente nas avaliações são pequenas demais, dispersas e sujeitas a questionamentos estatísticos, e não justificam o tom de euforia eleitoral que o Ministério da Educação tem adotado. O Congresso tem discutido, nos últimos meses, o texto do que seria um novo Plano Nacional de Educação.

Uma das questões que mais se discute é se o Brasil, cujo setor público já gasta cerca de 5% do PIB em educação, deveria aumentar essa proporção para 7%, como propõe o governo, ou para 10%, como tem sido proposto pelas inúmeras organizações sociais, corporações e movimentos sociais ligados à educação.

Mais dinheiro é sempre bom, permitindo pagar melhor aos professores, expandir a educação de tempo completo, melhorar as instalações das escolas etc. Mas duas questões fundamentais têm sido deixadas de fora nesta discussão.

A primeira é de onde vai sair esse dinheiro adicional, dada a resistência da sociedade a transferir cada vez mais impostos para o governo. A segunda questão que não está sendo discutida é que mais dinheiro nem sempre significa melhores resultados.

A conclusão não é que não devemos investir mais em educação, mas que esses investimentos só devem ser feitos quando associados a projetos com objetivos bem definidos e cujos resultados possam ser avaliados com clareza e precisão.

Aumentar simplesmente os gastos, sem saber em que e como eles serão aplicados, pode levar somente a um aumento no custo da burocracia pública da educação, sem que os estudantes e a população se beneficiem dos resultados.

As reformas necessárias na educação brasileira incluem uma mudança profunda nos sistemas de formação e contratação de professores, fazendo com que eles sejam capacitados para lidar com as necessidades educativas dos estudantes e sejam estimulados e recompensados pelo seu desempenho.

Incluem também a criação de um currículo mínimo obrigatório para o ensino de português, matemática e ciências naturais e humanas para a educação fundamental.

Precisamos de uma transformação profunda no ensino médio, abrindo caminho para opções e alternativas de formação conforme as condições de aprendizagem e os interesses dos estudantes.

Além disso, as reformas devem contemplar o desenvolvimento de sistemas de avaliação com requerimentos claros de desempenho para os diferentes níveis escolares e tipos de formação, associados aos currículos obrigatórios.

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Por fim, incluem transformações profundas na forma como as redes de educação pública estão organizadas, tornando as escolas mais autônomas para buscar seus caminhos e responsáveis pelo seu desempenho, recebendo para isso o apoio e o estímulo de que necessitam.

Nada disso é fácil: são caminhos novos que o Brasil ainda não conhece e que serão discutidos no seminário promovido hoje pelo Instituto Teotônio Vilela, no Rio. Mas o país precisa começar a aprender, em vez de continuar tentando fazer sempre mais do mesmo de sempre, que é o que tem sido a prática dominante até agora.

(*)Sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. Foi presidente do IBGE.

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Mensagem para reflexão

Nestes tempos em que muitos pais incentivam bulling, não aceitam notas, questionam e ameaçam professores, passam a mão na cabeça de filhos atropeladores, brigões, marginais, frutos amargos de um tempo sem qualquer noção de limites, semeando uma sociedade que não valoriza a vida é oportuno relembrar a Carta de Abrahan Lincoln dirigida ao professor de seu filho.

"Caro professor,

ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, que para cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.

Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.

Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.

Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.

Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.

Eu sei que estou pedindo muito, mas veja o que pode fazer, caro professor."

Abraham Lincoln, 1830

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Educação em Foco

A revista Atualidades em Educação destaca, na presente edição, os principais fatos que

marcaram o setor no Brasil e no mundo, nos meses de julho e agosto de 2011.

Julho

Julho de 2011 registrou alguns fatos de destaque, tanto no cenário nacional, como no internacional. Os mesmos são evidenciados na presente edição.

A definição do novo Plano Nacional de Educação, que estabelecerá as ações do decênio 2011/2020, está sendo construída pelos parlamentares federais a partir de uma proposta encaminhada pelo Governo e por contribuições elaboradas por diversas entidades e apresentadas aos deputados e senadores. O processo vem sendo desenvolvido há mais de um ano e existem expectativas de que até o final do corrente exercício seja aprovado pelas Casas Legislativas e encaminhado à Presidência da República para ser transformado em lei.

Algumas universidades, inclusive a mais antiga do país, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, anunciou a extinção do concurso vestibular. O sistema de acesso se dará, especialmente, pela utilização dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio.

O Ministério da Educação determinou a redução de vagas em dezenas de cursos de Direito. A medida decorre de pressões exercidas pela Ordem dos Advogados do Brasil, responsável pelo Exame de Ordem, que habilita os graduados no curso jurídico para o exercício profissional.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira definiu os critérios para a realização do Exame Nacional de Desempenho do Estudante em 2011. Diversas portarias detalharam os conteúdos que serão abordados na avaliação, que acontecerá em novembro.

O Senado Federal discutiu de forma intensa um projeto de lei que, se aprovado, dispensará a obrigatoriedade de mestres e doutores em alguns cursos superiores ministrados por universidades, centros universitários e faculdades. Manifestações contrárias foram feitas por políticos, membros do Executivo e pela sociedade civil organizada.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social está aumentando os recursos para atender projetos que visem a inovação. Diversas áreas podem ser beneficiadas, inclusive a de educação.

Uma pesquisa realizada a partir do Censo Escolar de 2010 mostra que um em cada cinco alunos do ensino fundamental está atrasado na escola. É o resultado de um deficiente sistema de ensino que existe em milhares de municípios brasileiros.

A Associação Brasileira de Tecnologia Educacional completou 40 anos de atividades. A entidade desenvolve ações em todo o país e congrega especialistas especialmente das áreas de educação, comunicação, tecnologia e afins.

Foi divulgado um estudo que mostra o crescimento do número de clientes de banda larga. O fato auxilia o desenvolvimento dos programas de educação a distância.

Foi realizado mais um Congresso da União Nacional dos Estudantes. Esse ano foi na cidade de Goiânia, onde um número pouco expressivo elegeu a nova diretoria, altamente partidarizada. Há fortes críticas à ligação da UNE ao governo federal que vem financiando a maior parte de suas atividades.

A presidente da República lançou um programa de bolsas no exterior. O programa "Brasil sem Fronteiras" irá beneficiar setenta e cinco mil estudantes, ao longo dos próximos anos.

Faleceu o ex-Presidente Itamar Franco que deixou alguns projetos que foram seguidos na área educacional.

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Por fim, no âmbito nacional, destaque para o aumento de demanda dos cursos de pós-graduação, tanto na modalidade presencial, como na a distância. É fruto, em especial, da necessidade de uma permanente atualização profissional dos que já têm cursos superiores mas com conhecimentos rapidamente tornados obsoletos pelo avanço que ocorre em todas as áreas.

A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura selecionou os melhores projetos de alfabetização do mundo e anunciou que entregará, em setembro, na Índia, os prêmios, por ocasião das comemorações do Dia Internacional da Alfabetização.

Uma sequencia de manifestações de estudantes e professores ocorreu no Chile. As reivindicações são, especialmente, contra os preços cobrados pelas universidades particulares e pela forma de administração das escolas públicas.

O presidente dos Estados Unidos da América anunciou o corte no orçamento da educação. O país atravessa um período de turbulências onde até a importância do diploma tem sido questionada.

Também do mesmo país vem notícia de que as escolas estão dando fim do ensino da letra cursiva. Os defensores da lei afirmam que as crianças de hoje em dia quase sempre não precisam recorrer ao lápis e papel para escreverem.

O avanço do ensino superior na China deu ao país asiático o maior número de estudantes formados no mundo. O número impressiona, mas também preocupa eis que não há mercado de trabalho, nas áreas das suas graduações, para todos.

Uma parceria que visa levar estudantes brasileiros para universidades particulares da Grã-Bretanha tem sido criticada em solo britânico. A meta é abrir espaço para que dez mil jovens nascidos no Brasil estudem nas instituições da Inglaterra e dos países que compõem o Reino Unido. O recebimento de estrangeiros representa, em especial, uma forma de aumentar as receitas das organizações educativas.

O Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução condenando ataques à escolas em zonas de conflitos.

Agosto

O mês de agosto é sempre decisivo para muitas instituições que iniciam os planos estratégicos para um próximo ano letivo. Dentro desse contexto muitos eventos reflexivos ocorreram em diversas cidades brasileiras, sendo que alguns foram destacados na imprensa educacional.

Em Curitiba, no encontro internacional de educação Sala Mundo, o educador e economista americano Martin Carnoy afirmou que o país tem que inverstir em formação de professores e gestores em educação.

Na capital paulista um encontro discutiu o futuro do ensino superior. O evento, promovido pelo Sindicato da categoria econômica, possibilitou análises conjunturais do segmento privado.

Em Manaus, a Associação Brasileira de Educação a Distância realizou o congresso interncional, em sua décima-setima edição.

Merece destaque também o Congresso Sergipano de Educação, promovido pela Federação de Escolas Particulares daquele Estado. A cidade de Aracaju recebeu educadores de todo o país e o foco foi o ensino básico.

O sorteio dos grupos para a Copa do Mundo de Futebol deu oportunidade para que os educadores, nas escolas públicas e privadas, discutissem aspectos geográficos das nações. A partir de agora é possível que trabalhos em praticamente todas as disciplinas possam deflagrados, dependendo da maior ou menor capacidade de cada docente.

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A Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino elegeu a primeira mulher presidente da entidade: a Professora Amábili Pacios, presidente do Sindicato de escolas particulares do Distrito Federal foi empossada na instituição, que congrega sindicatos de vários Estados.

Foi criado no Congresso Nacional uma força tarefa para analisar os projetos de lei que versam sobre violência na educação. A Frente Parlamentar de Combate ao Bullying e outras formas de violência assumiu a responsabilidade de mobilizar os esforços para que os projetos sejam votados.

A CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior disponibilizou o Plano Nacional de Pós-Graduação para 2011-2020.

Foi editada uma nova lei alterando o ensino na Aeronáutica. O ensino nas forças armadas não seguem a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Há uma norma específica para o Exército, a Marinha e para a Aeronáutica.

Uma pesquisa mostrou que o Brasil é o terceiro na compra de computadores se aumento de acesso à informação, o que pode auxiliar de forma direta a educação.

O mercado de livros voltou a crescer no país, segundo informação da Câmara Brasileira do Livro e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

Foram notados alguns movimentos estudantis nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília objetivando pressionar o Executivo para enviar mensagem ao Congresso Nacional proposta de aumento, para 10% do Produto Interno Bruto, na educação.

O governo federal anunciou a criação do Plano de Educação Médica.

Por fim, dentre as notícias brasileiras, vale destaque foi a definição de votação do PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, que irá trazer mais recursos para a formação e capacitação de jovens e adultos.

No âmbito internacional os embates entre estudantes e governo, no Chile, marcaram o mês. Vários confrontos foram notados, até com vítimas fatais. Os discentes pretendem reformas no sistema de ensino e as pressões aumentaram a cada dia, sem perspectiva de uma solução de curto prazo.

A UNESCO anunciou os seis vencedores dos Prêmios Internacionais de Alfabetização, cujo reconhecimento ocorrerá no dia internacional da alfabetização, em setembro. As experiências no México, Burundi, Estados Unidos da América e República Democrático do Congo, foram as mais votadas por um júri internacional.

Três estudantes brasileiros conquistaram medalhas na Olimpíada Internacional de Matemática, disputada na Bulgária.

Pesquisa realizada no Reino Unido mostrou que estudantes britânicos leem cada vez menos livros. O estudo destacou que um em cada seis alunos, passa o mês inteiro sem sequer ler um livro.

A Coreia do Sul passou a adotar, de forma intensa, os tablets na educação. As empresas de tecnologia vem investindo fortemente no setor, na certeza de que aprendizagem irá melhorar fortemente nas escolas que possuam mais recursos em termos de máquinas e sistemas.

Diversos países, inclusive a China e Estados Unidos da América, vem debatendo o uso da letra cursiva. No país oriental uma nova determinação passou a exigir maior número de aulas de caligrafia.

Foi divulgado um ranking das 500 melhores instituições de ensino superior no mundo. As universidades dos Estados Unidos encabeçam a lista. A primeira é a de Harvard, seguida pela de Berkeley e Satanford.

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

Normas para publicação na Atualidades em Educação

O Instituto de Pesquisas e Administração da Educação é uma organização social de iniciativa privada que tem como objetivo o desenvolvimento da qualidade da educação. Desde sua fundação, em 23 de fevereiro de 1973, a entidade atua em todo o território nacional, associado a milhares de unidades educacionais.

O Instituto também edita publicações técnicas e periódicas, sendo a maioria eletrônica, disponibilizada através da Internet.

Dentre seus periódicos há quatro que circulam bimestralmente como revistas científicas:

• Atualidades em Educação (ISSN nº 0103 – 071X)

• Revista do Direito Educacional (ISSN nº 0103 – 717X)

• Revista Brasileira de Educação a Distância (ISSN nº 0104 – 4141)

• Administração da Educação (ISSN nº 1518- 2371)

O Instituto tem seu registro no ISBN sob o número 85927 e seus periódicos são devidamente arquivados na Biblioteca Nacional.

Todas as revistas são abertas à contribuição de autores nacionais e estrangeiros e as normas para submissão de artigos são as seguintes:

• Os artigos devem enfocar temas atuais e serem preferencialmente inéditos, isto é, sem ter ocorrido publicações em outra revista;

• Deverão conter um mínimo de 6 e um máximo de 15 páginas;

• Os autores devem observar os aspectos de direitos autorais, não trazendo nos conteúdos transcrições de obras que tenham copyright ou que estejam acima dos limites permitidos pela legislação vigente. Quando ocorrer citações deverão conter na Bibliografia os dados dos autores, conforme critérios da ABNT;

• Os textos devem ser remetidos digitados, podendo haver o encaminhamento através do e-mail [email protected] .

• Os autores deverão enviar, à parte, um currículo resumido;

• Ao submeterem os artigos os autores aceitam tacitamente as condições e normas do Instituto, estando ciente de que não haverá remuneração pelos mesmos;

• O Instituto apreciará no prazo máximo de quarenta e cinco dias os artigos e informará se foram aceitos ou não. Caso não sejam aceitos os autores ficam liberados para apresentação à outras entidades;

• Os autores, cujos trabalhos sejam aceitos, terão seus nomes incluídos entre os Colaboradores da Revista e a síntese de seus currículos será disponibilizada no site do Instituto. Poderão também vir a serem convidados para participar de foros eletrônicos e /ou presenciais realizados pela entidade;

• Os artigos deverão ser apresentados em português e /ou espanhol;

• Os artigos podem ser feitos por grupos de autores, não excedendo a três;

• O Instituto disponibilizará gratuitamente para seus colaboradores as edições das quatro revistas supracitadas, através da Internet;

• Ocorrendo a citação de siglas deve haver a especificação das mesmas no próprio texto ou final do trabalho;

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Atualidades da Educação – n° 144 Ano 29

• As citações em língua estrangeira e as que forem transcrições devem ser apresentadas entre aspas;

• O Instituto se reserva no direito de alterar as presentes normas sempre que necessário. As mesmas serão disponibilizadas no site www.ipae.com.br .

(normas vigentes desde 21 de janeiro de 2010)