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_IOFoeol NORNAE VARIACAO00 PORTUGufs ••••••••••••• 1!IlltJ

A Varia9Cio do Portugues Falado em M09ambique:A Escola como Factor de CristalizaqQo

10M Gomes da Silva

/M1um artigo anterior publica doha cerca de tres anos nestarevista ('), haviamos tecido algu-mas consideracoes sobre 0 por-

tugues falado em Mocambique, mais con-cretamente na cidade de Maputo. De entreas razoes desta escolha, destaca-se 0 factode em Maputo, como em muitos outroscasos de pafses em vias de desenvolvi-mento, existir uma grande concentracao depessoas oriundas de varies pontos do pals,donde se pode facilmente depreender queno quotidiano a lingua de intercomunica-cao e frequentemente 0 portugues.

Para alem disso, Maputo, a capital, e 0

local onde 0 bilinguismo e praticamente aregra geral e onde tambern as variaveis«classe social», «grau de escolarizacao» e«estatuto socioeconomico e profissional»sac mais facilmente observadas, 0 que naoacontece no caso das zonas rurais.

Sendo 0 portugues utilizado por falantescuja lingua materna e uma linguaBantu (2), e dada a ausencia de contacto

com a norma do portugues europeu (3),comecam a aparecer uma serie de erros edesvios que, parece-nos, pela sua frequen-cia e regularidade comecam a constituirassim 0 ernbriao de uma futura norma doportugues de Mocambique, ou para sermosmais exactos, de Maputo.

Para alern do simples fenomeno de inter-ferenda no portugues e nossa conviccaoque existem factores sociolinguisticos quecontribuem e, nalguns casos ate, deterrni-nam a «fossilizacao» dessa variante. Saoesses factores principalmente: a) a classesocial, b) a escola, c) os orgaos de infor-macae e d) a nova geracao urbana.

Para alem disso, e nossa opinlao queoutras informacoes mais amplas nos pode-riam dar informacoes sobre, por exemploa estratificacao da variante em funcao deparametres mais precisos, como e 0 casoda variacao contextual e cultural. Estamostambern cientes que urn trabalho futuro

(I) RILP, n? 5/6, Dezembro de 1991.(l) Na zona sui do pals (Maputo) 0 grupo predominante e 0 Tsonga.(3) Norma oficial em Mocarnbique .

• Univ. Eduardo Mondlane. 95

_OElEI1BRO 1994N,lc •••••••••••••••

rigoroso se deveria fundamentar na obser-vacao da utilizacao oral da Iingua, sobre-tudo porque nos parece ser muito maisabrangente, dado a elevada taxa de analfa-betismo no pafs.

Neste artigo e nosso objectivo divulgarparte dos resultados de uma investlgacaofeita no nosso trabalho de tese de mes-trado (I) sobre urn destes factores de fixa-cao da variante, neste caso a escola.

2. Natureza do trabalhoAs tres grandes hip6teses de partida que

orientaram esta investigacao foram:

a) De entre os multiples desvios obser-vados no portugues de Maputo, alguns saoproduzidos de maneira regular, frequentee massiva, constituindo deste modo ascaracterfsticas de uma variante em ernbriaodo portugues de Maputo;

b) De entre os varies factores sociolin-guisticos que intervem na «cristalizacao»dodesvio, a escola parece ser urn dos facto-res determinantes na consolidacao domesmo, verificando-se isso na pratica cor-rectiva dos professores de portugues. Atolerancia destes em relacao ao desvio variasegundo 0 grau de interiorizacao da NormaExplfcita.

Estas hip6teses surgem numa primeirafase como resultado de varios anos de tra-balho directa ou indirectamente relacionadocom 0 ensino da lingua portuguesa emMocambique. A partir destas hip6teses deinvestigacao levamos a cabo 0 estudo quea seguir se descreve, com vista a veri fica-cao ou, eventualmente, alteracao dasmesmas.

3. Natureza do -corpus-o nosso «corpus» foi constituido por urn

grupo de trabalhos de estudantes do nivel

96 (I) Variation linguistique et norme: etude des pratiques correctives des professeurs de portugais de Maputo (Mozambique),Tese de Mestrado em Ciencias da Linguagem, Universite Stendhal - Grenoble III (Franca).

secundario na disciplina de Portugues e cor-rigidos pelos respectivos professores, semque estes soubessem do facto. Para tal foifeito urn contacto directo com os pr6priosestudantes a fim de estes nos cederem tudoo que tivessem da disciplina de Portuguescorrigido pelos seus professores.

E evidente que nao se trata de uma tarefafacil recolher trabalhos sem levantar sus-peitas ao professor e por isso 0 conjuntodo nosso «corpus» podera aparecer a pri-meira vista como sendo pouco homogeneoe diversificado. Nalguns casos trata-se deredaccoes «classicas», trabalho muito fre-quente sobretudo nas primeiras classes doensino secundario em Mocambique. Nou-tros casos, porem, trata-se de compreen-sao dirigida a partir de urn texto dado,onde os estudantes dispunham de umaunica linha em branco para responder. Nasclasses mais avancadas, encontramos tam-bern comentarios a partir de urn texto (pro-ducao Iinguistica mais abundante). As clas-ses escolares foram em numero de seis: aquarta, a quinta, a nona, a decima e adecima primeira classes do ensino secun-dario,

Foi nosso objectivo inicial e tendo emconta a natureza sociolingufstica do traba-lho, fazer uma seleccao em termos de esta-tuto socioecon6mico dos diferentes esta-belecimentos de ensino. No entanto, dadoo facto de nao nos encontrarmos na alturano local da investigacao e de dependermosda colaboracao de colegas nossos nem sem-pre disponiveis, tal seleccao nao foipossivel.

Mesmo assim, apesar da heterogenei-dade do conjunto dos trabalhos recolhi-dos, existem pontos comuns que nos inte-ressam fundamentalmente na interpretacaodos resultados: trata-se de trabalhos em lfn-gua portuguesa, no contexto da aula deportugues e corrigidos por professores deportugues.

/U fUWI NURf1A t VARIAliW UU PURTU6UES

QUADRO 1

COMPOSI<;;:AO QUANTITATIVA

I PROFESSOR ~I CLASSE~ -- .-~-- "--- -

A 4B 5C 6D 9E 9F 9G 10H 10I 10

J 11-- -. - ---

I TOTAlS 10 II 6

A partir desse «corpus» fizemos urn levan- 4. Atamento dos desvios produzidos pelos alu-nos, sem ter em conta a reaccao dos pro- E ufessores em relacao aos mesrnos, Nao foram comuntidos em conta erros que consideramos que ncomo fen6menos individuais, ou outros variesque escapassem a investigacao sugeridas perspepelas hip6tese colocadas inicialmente (erros gador)de ortografia, pontuacao, etc. que nalguns que cocasos podem ate ser interpretados como viccaonormais no processo de ensino/aprendiza- erros,gem), Retivemos assim, s6 aquilo que cons- coes «

titufam desvios que acreditamos serem 0 lfnguaernbriao de uma futura variante mais ou rigidosmenos estavel da capital. padr6e

E certo qeu 0 mimero total de trabalhos Opnao e muito elevado. Por isso mesmo que tado dpretendemos insistir que os resultados situacadevem ser considerados nao como factos o bilinabsolutos, mas como uma tendencia no que prportugues falado em Mocambique. c6digo

(I) Por norma implicita queremos dizer aquilo que os falantes na sua proposto ao de norma explicita que se refere a forma adoptada oficialmconceitos foram extraidos de ALEONG (83).

•••••••••••••••••• ~uua

DO CORPUS

II N? DE TRABALHOS I~~---~132143443341

---- - ---~_ .._.

_J 1 51_-----'J

norma implicita (I) de Maputom facto bastante aceite na pequenaidade de linguistas de Mocarnbique

o portugues falado no pais existemdesvios (ou erros, tudo depende dactiva em que se posiciona 0 investi-em relacao ao portugues europeu

nstitui a norma oficial, A nos sa con-e que nao se trata realmente de

tais como os produzidos em situa-classicas» de aprendizagem de umasegunda e que sao gradualmente cor-

pelo individuo e substituidos pors da lingua-alvo.

ortugues falado em Maputo e 0 resul-e varies factores decorrentes de umao de contacto de lfnguas (tais comoguismo quase generalizado na capital)ovocam fen6menos de alternancia de(code switching) de interferencia, de

atica quotidiana produzem, sendo este conceito 97ente pelas instancias governamentais. Estes dois

JL------j

_OElEl1BNO 1994 N.lc ••••••••••••••••

«calque» de estruturas da Ifngua 1 sobre alingua 2. Isto faz com que 0 portugues sedistancie cada vez mais do portugues penin-sular, sobretudo depois da IndependenciaNacional quando se alargaram os contac-tos inter-regionais, se lancararn as gran descampanhas de alfabetizacao, tendo conse-quentemente aumentado 0 mimero de indi-viduos falantes do portugues no pais. Paraalern disso, importa ter em consideracaoque a possibilidade de acesso a escola pro-vocou urn grande boom escolar.

o que nos parece particularmente imp or-tante e 0 facto de que, a partir do momentoem que 0 mimero e 0 tipo de desvios setornam comuns a urn grande mirnero deindividuos, comecam a constituir 0 ernbriaoda futura variante.

E assim que, partindo da nossa experien-cia, estabelecemos uma lista empirica dosdesvios que nos pare cern aparecer demaneira mais corrente, pelo menos nacidade de Maputo. Infelizmente, dada alimitacao de espaco de urn artigo destanatureza, nao nos e possfvel apresentar essalista de uma forma detalhada. Limitamo-nosassim a apresentar a natureza esses desvioscom apenas urn exemplo que, esperamosseja elucidativo. Inicialmente esta lista com-portava trinta desvios. Todavia, nem todosforam verificados na analise do nosso «cor-pus». Os que se seguem sao portanto osque efectivamente foram encontrados nostrabalhos dos alunos ja referidos.

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1 - Neutralizacao da oposicao da vogal/a/ aberta - fechada

(ex.: fechamos/fechamos - nao serealiza a distincao presente pas-sado, atraves da oposicao «a»aberto/fechado );

2 - Construcao passiva segundo a estru-tura das Iinguas bantu

(ex.: «Eu fui dado uma camisa»),

4 - Ornissao da concordancia de pluralcom 0 nome

(ex.: «Os carro»),

5 - A preposicao «A» substitufda poroutras

(ex.: «Fui em casa dele»),

6 -A preposicao «DE» usada no lugar deoutras

(ex.: «Passel da cas a dele»),7 -A preposicao «EM» usada em vez da

preposicao «A»(ex.: «Fui em casa dele»),

8 =Utilizacao do preterite perfeito doverba «ESTAR» com valor de prete-rito imperfeito

(ex.: «Estive a conversar» em vezde «Estava a conversar»),

9 -A marca da segunda pessoa do singu-lar no modo imperativo(ex.: «Nao fa<;:abarulho, nao yesque quero trabalhar»),

10 -A concordancia entre 0 sujeito e 0

verba(ex.: «Eu comprou peixes para osme us filhos»),

11 -0 pronome do complemento indi-recto no lugar do pro nome de com-plemento directo(ex.: «Eu vi-Ihe ontem na rua-),

12 -A nao utilizacao do pronome de com-plemento directo ou indirecto(ex.: «Eu devia dinheiro a ele»);

13 =Utilizacao de «ENQUANTO» com valorde oposicao(ex.: «A minha mae me bateu,enquanto eu nao tinha culpa»);

14 -0 usa generalizado do pronome pes-soal de complemento em posicao pre--verbal(ex.: «Ele me pediu dinheiro»);

15 -0 lugar do adverbio «SEMPRE» nafrase(ex.: «Ele sempre diz isso- - em vezde - «Ele diz sempre isso-

16 =-Generalizacao do usa de «QUE» nasconstrucoes relativas(ex.: «0 homem que falei-te ontern -em vez de «0 homem de quem tefalei. );

17 =-Utilizacao redundante do pronomepossessivo em frases com 0 pronomerelativo CUJO(ex.: As meninas cujas maes delas ... ).

_/0 FOCOI NONI1A E VAN/ACAO 00 PONTUGUiS

Desvios encontrados no corpus: 60%

Desvios descritos mas nao encontrados:40%

Niirnero total dos tipos de desviosencontrados: 175

Com este resultado quisemos validar ahip6tese de que existe efectivamente umdistanciamento entre 0 portugues deMaputo e 0 portugues europeu, dado queestes desvios aparecem de uma maneiraregular e frequente nos trabalhos que cons-tituem 0 «corpus» por n6s analisado.

Ap6s 0 levantamento dos desviospusemos-nos a questao se havia ou naouma relacao directa entre 0 mimero de des-vios, a idade e a classe escolar dos estu-dantes.

Apresentamos assim num unico quadroo que pudemos observar:

mimero, a natureza, e ao volume dostrabalhos existentes, ou seja, 0 quen6s chamamos no nosso «corpus» um«trabalho» pode ser uma pagina decinco linhas ou uma pagina de vintelinhas. Observamos por exemplo, quea maior parte dos desvios, provem dasclasses donde dispomos 0 maiormimero de trabalhos (a sexta, a nonae a decima classes respectivamente,que constituem 83 % do mimero totalde trabalhos).

5. As praticas correctivas dosprofessores

Depois dstes resultados, foi nosso objec-tivo observar aquilo que consideramoscomo um dos facto res sociolinguisticos defixacao da variante, neste caso concreto a

QUADRO 2

TOTAL DE DESVIOS POR CLASSE E FAIXA ETA-RIA

QUINTA11/12anos

CLASSE E IDADEQUARTA

10/11anos

-

DECIMAPRlMEIRA

17/18anos

SEXTA12/13anos

NONA15/16anos

DECIMA16/17anos

TOTAL DE DESVlOS 18 (10%)

13 (25%)9(4%)

2 (3,9%)TOTAL DE TRABALHOS47 (26%)14 (27%)

42 (26%)

10 (19%)52 (31 %)

f---

11 (21%)L-

3 (2%)1 (2%)

N.B.: As percentagens que aparecem neste quadro correspondem ao mimero de desvios encontrados no total(175) repartidos por classe e faixa etaria,

A partir destes dados podemos tirar asseguintes conclusoes.

a) Dada a ausencia de dados mais preci-sos e devido a heterogeneidade do«corpus», nao podemos fazer nenhumadistincao precisa entre as classes esco-lares, a faixa etaria e 0 numero de des-vios produzidos. Assim, para todos oscasos podemos somente afirmar queexiste uma maior ou menor producaode desvios;

b) A tendencia geral e que 0 numero dedesvios encontrados e proporcional ao

escola. Assim orientamos a nossa analisepara 0 que chamamos «as praticas correcti-vas dos professores de portugues». 0 quese pretendeu foi ver quais as atitudes dosprofess ores em relacao aos desvios dos alu-nos. A questao do «erro» ou do «lesvio»em contexto escolar e relativa. Efectiva-mente 0 professor de portugues representa,em principio, na sala de aula, a norma of l-cial do portugues, que no caso presentee a norma do portugues europeu. Assim,o que chamamos na perspectiva sociolin-guistica de «desvios» e considerado de urnponto de vista institucional como «erros» 9

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_OElEI1BRO 1994NI2 •••••••••••••••

e, portanto, passiveis de correccao peloprofessor. No entanto para que este ultimoo possa fazer, e preciso que ele tenha urngrau de intenorizacao bastante s6lido dessanorma.

No quadro 3 aparece de forma esquema-tica a atitude dos professores de portuguesem relacao aos desvios dos alunos e quen6s ja tivemos ocasiao de referir.

Em relacao ao parametro «mal corrigido»fazemos alusao a urn fen6meno com 0 qualdeparamos algumas vezes: en certos casosaconteceu que 0 aluno escrevia uma formalinguistica correcta ou incorrectamente eque 0 professor corrigia mal. Por exemplo:

- 0 aluno escreveu: eu nao Ihe vi(erro. pronome pessoal de comple-mento inadequado)

- correccao do professor: eu nao vi-Ihe(erro: 0 professor nao corrige 0 pro-nome, mas 0 seu lugar na frase queesta correcto).

Dada a falta de elementos mais concretosde analise, chamariamos provisoriamente a

QUA

SfNTESE DAS PM

__ P_R_OF_ES_S_O_R_---'~t:::jORRlGIDO

ABCDEF

GHI

J- -

0I

432

00000

TOTAlS 11 1_0 __

PERCENTAGENS 11 60_Yo _

esta pratica correctiva de «pratica nao sis-tematica». Porem, e nossa conviccao queao nivel da consciencia normativa dos pro-fessores, bem como da sua competencia lin-guistica existe uma zona de inseguranca lin-guistica e que a pratica correctiva em causaseria provavelmente 0 resultado de urnfen6meno de hipercorreccao.

Tendo em conta estes resultados econfrontando-os com as nossas hip6tesesiniciais, observamos que os profess ores naocorrigem praticamente nunca os desviosproduzidos pelos seus alunos. Com umapercentagem de nao correccao de 92% naopodemos mais falar em fen6meno de tole-rancia, 0 que de facto nos parece ser 0

mais provavel e que os professores nao cor-rigem estes desvios porque, tal como osalunos, eles tambem os produzem na suautilizacao quotidiana do portugues,

Por forma a obter uma melhor visao doconjunto, pusemos assim num s6 quadro,o 4, a producao dos estudantes e a praticacorrectiva dos professores:

DRO 3TICAS CORRECTIVAS

I NAO CORRlGIDO ~I MAL CORRlGIDO ~

18 06 2

43 020 021 06 0

19 1

10 015 1

3 0

I 161 ~C 4 II 92% II 2% I

_/0 fOCOI NORI1A E VARIACAO 00 PORTU6UES ••••••••••••• e

QUADRO 4SiNTESE DOS DESVIOS DOS ALUNOS

E DAS PM TICAS CORRECTIVAS DOS PROFESS ORES

I NUMERO ~r'":;"1~r-=-ITRAB. ~~~'-- __ ....J

CLASSE

QUARTAQUINTASEXTA

NONA

DECIMA

DECIMA PRIMElRA

A 18 13 0 18 0B 9 2 1 6 2C 47 14 4 43 0DE 52 11 5 47 0FGH 46 10 0 44 2I

J 3 1 0 3 0

L-I T_OT_AIS II 11 II 175 t I

Podemos, a partir destes mimeros nao s6.consolidar as nossas conclusoes, como tam-bem alarga-las.Realmente 0 que nos e dadoobservar neste quadro e que quanta maiore 0 numero de desvios produzidos pelosaIunos, maior e a ausencia de correccao dosprofessores. Concluimos, por conseguinteque a pratica linguistica dos professoresde portugues (e tambem a sua competen-cia linguistica) e muito semelhante adosalunos, 0 que vai de encontro as nossasanteriores suposicoes, ou seja, a escola emMocambique tern urn papel de reproducaodo desvio.Num futuro impossivel de prever, estes des-vios poderao (ou nao) tornar-se numanorma explicita de Mocambique, contraria-mente a que esta actualmente em vigor.Porern, para que esta variante se imponha,serao necessaries outros factores, como saoo caso dos process os de codificacao, deaceitacao, de norrnativizacao, de prestiglo,s6 para mencionar alguns. Por ora a iinicacerteza que possuimos, a partir dos dadosde que dispomos, e que urn dos factoresque tern urn papel determinante neste pro-cesso de fixacao e, justamente, a escola.

51 II 10 II 161 /1,----4 _

5. ConclusoesGostariamos mais uma vez de insistir que

dados os factores limitantes que ja aponta-mos, as conclus6es possiveis que se pos-sam tirar deste trabalho deverao ser sem-pre vistas nao como dados definitivos, masem termos de quais as tendencias que 0

portugues faIado em Mocambique apresentaneste momento.

Parece-nos entao que com este trabalhopodemos fundamentar as hip6teses inicial-mente levantadas, confirmando-as, nalgunscasos e obrigando-nos a reformula-las nou-tros (por exemplo, nem todos os desviospuderam ser confirmados e, nalguns casosdeparamo-nos com outro tipo de desviosnao descritos inicialmente). A partir daquipodemos concluir que:

1 - Na sua producao escrita e em situa-c;ao de avaliacao, os alunos produ-zem a maior parte dos desvios porn6s estabelecidos inicialmente(60%), como sendo a variante de 101Maputo, independentemente daclasse ou faixa etaria. Esta pratica

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t

_OElEI18RO 1994 N.lc ••••••••••••••••

constitui a norma implicita deMaputo.E muito provavel que noutras situa-coes de comunicacao (sobretudooral) a producao dos alunos sejamuito mais ampla e nao pomos delado a possibilidade que outros des-vios nao descritos nao possam apa-recer;

2 - Na pratica correctiva dos professo-res, a grande maioria dos desviosdos alunos nao e corrigida (92%).Isto parece-nos dever-se ao facto dea competencia linguistica dos pro-fessores ser muito pr6xima da dosalunos (muito provavelmente porterem 0 mesmo perfil sociolinguis-tico).

3 - Nao excluirnos a possibilidade queoutros factores escolares que naoforcosamente a aula de portugues,possam contribuir na fixacao .davariante. Cremos que uma observa-~ao deste tipo noutras disciplinasnos mostraria que todos os profes-sores tern tendencia a reproduzir osdesvios ja mencionados. A (micadiferenca seria que, dada a naturezadas dsiciplinas, a pratica correctivanao seria sistematica e por vezesmesmo ausente.

4 - A partir das conlusoes anteriorespodemos afirmar que em contextoescolar 0 que realmente produzidoe, nao a norma explicita em vigor,mas uma norma impHcita que ternuma grande tendencia a se estabili-zar, sobretudo por via da escola.

MAPUTO, OUTUBRO 94.

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