Introdução reflexões sobre história

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SUMÁRIO Apresentação 13 1 A percepção da natureza na Colônia Santa Bárbara – PR, (1927) (Giovana Gonçalves da Maia Krul e Michel Kobelinski) 19 2 “O choque das raças ou o Presidente Negro”: uma leitura do eugenismo em Monteiro Lobato (1926) (Valéria Becher) 39 3 Notas sobre a história e a sexualidade: reflexões sobre os usos corporais (Lidiana Larissa Lenchiscki) 59 4 Diário de um cataclismo: Llano y Zapata e o terremoto no Peru (1746) (Simoniely Kovalczuk) 71 5 A agricultura dos comedores de tubérculos ou os papamikuc na narrativa garcilaciana (1609) (Suelen Brexi Fila) 87 6 As culturas inca e hispânica na escrita mestiça de Garcilaso de la Vega (1609- 1617) (Adelir de Farias Batista e Michel Kobelinski) 109

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SUMÁRIO

Apresentação 13

1 A percepção da natureza na Colônia

Santa Bárbara – PR, (1927) (Giovana Gonçalves da Maia Krul e Michel Kobelinski)

19

2 “O choque das raças ou o Presidente Negro”: uma leitura do eugenismo em Monteiro Lobato (1926) (Valéria Becher)

39

3 Notas sobre a história e a sexualidade: reflexões sobre os usos corporais (Lidiana Larissa Lenchiscki)

59

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Diário de um cataclismo: Llano y Zapata e o terremoto no Peru (1746) (Simoniely Kovalczuk)

71

5 A agricultura dos comedores de tubérculos ou os papamikuc na narrativa garcilaciana (1609) (Suelen Brexi Fila)

87

6 As culturas inca e hispânica na escrita mestiça de Garcilaso de la Vega (1609-1617) (Adelir de Farias Batista e Michel Kobelinski)

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Apresentação

Este livro é fruto do diálogo e da reflexão conjunta

sobre a história. É o momento em que saímos do ambiente de isolamento da pesquisa e adentramos ao locus solidário da divulgação dos resultados obtidos. A exposição das ideias que dão forma ao presente volume são frutos de esforços plurais, de escolhas pessoais e de interesses variados pela História. Mas não é só isto. A disseminação desse saber parte da necessidade de fugir da força de gravidade da produção restrita ao meio acadêmico, das ideias que se aprisionam pela segurança do “anonimato” ou pelo comodismo.

A ideia de uma sequência de livros com este mesmo propósito (coletânea) visa dar vazão às nossas produções, as quais se vinculam ao colegiado de história da Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR, campus de União da Vitória. Nosso desejo é incentivar a produção intelectual desses novos historiadores e estabelecer contatos com leitores e professores de outros níveis de ensino. A natureza desta dinâmica demonstra o interesse em produzir e disseminar conhecimento, diminuindo a distância entre a pesquisa, o aprendizado e a formação curricular.

Em relação aos temas elegidos neste volume é importante ressaltar pelo menos dois aspectos que julgamos imprescindíveis. A primeira constatação é a de que a discussão do lugar da natureza e dos problemas ambientais na sociedade e na historiografia é inevitável. O apelo a este tipo de história já aparecia entre historiadores ingleses e franceses nas décadas de 1970 e 1980. Refletir as relações entre os seres humanos e o meio natural não significa uma intromissão

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indesejada em outras áreas de conhecimento como, por exemplo, a biologia, geografia ou geologia, etc. E se a relação entre o homem e a natureza é histórica, devemos analisar o lugar do homem na natureza e o lugar da natureza na sociedade. Nos últimos anos a chamada história ambiental tem chamado a atenção dos historiadores, muito embora o avanço nessa direção exija esforços transdisciplinares. Os simpósios internacionais em História ambiental realizados pela Universidade Federal de Santa Catarina, em 2010-2012 (KOBELINSKI, 2010), com trabalhos sobre clima, agricultura, pecuária, flora e fauna, comunidades tradicionais, recursos energéticos, discursos, ideias e percepções sobre o meio ambiente se tornaram referência no Brasil e no exterior.

Em segundo lugar, sabemos que as pesquisas em História da América são pouco desenvolvidas no Brasil. Como ressaltou Arias Neto (2004, p. 7): “[...] ao contrário dos Estados Unidos e do México, onde o continente é profundamente investigado, permanece-se aqui de frente para a Europa e de costas para as Américas”. Mas, longe do que poderíamos pensar, não se trata apenas de uma visão eurocêntrica. Hoje vários pesquisadores latino-americanos integram centros de investigação na Europa, a exemplo do VI Congresso do CEISAL, realizado na França, em 2010 (KOBELINSKI, 2010). E de fato, esta situação não é nova. O diálogo intercontinental ou mesmo a polêmica entre o Novo e o Velho Mundo já aparecia, desde o século XIX, com Andrés Belo e Domingos Faustino Sarmiento. Estes autores criticavam a maneira como os europeus descreviam a América (PRATT, 1991, p. 8-9).

Depois destas palavras introdutórias é preciso falar dos textos que compõem este livro. As perspectivas teóricas e temáticas são distintas, embora que, em termos documentais, compartilhem o interesse pela literatura, pela historiografia e pelas crônicas coloniais. Em termos teóricos o leitor encontrará situações exploratórias em torno das relações entre História e natureza, história e sexualidade, história e literatura e, história da América. Dois textos são inéditos. Os demais, apesar de já terem aparecido, sofreram alguma modificação.

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No texto “A percepção da natureza na Colônia Santa Bárbara-PR, (1927)” Giovana Gonçalves da Maia Krul e Michel Kobelinski refletem como os imigrantes italianos apreenderam a natureza e a sociedade no Sul do Paraná nos anos 1920.

Em seguida, Valéria Becher em “O choque das raças ou o Presidente Negro”: uma leitura do eugenismo em Monteiro Lobato (1926)” trabalhou a interface história e literatura. A pesquisadora buscou no texto literário de Monteiro Lobato as raízes da eugenia, isto é, a “ciência que estuda a reprodução e o melhoramento dos seres humanos”; além disso, verificou como Monteiro Lobato trabalhou este conceito em sua obra.

Em “Notas sobre a história e a sexualidade: reflexões sobre os usos corporais” Lidiana Larissa Lenchiscki reflete os significados e a construção histórica da sexualidade no Ocidente. O estudo considera não só as questões ligadas à corporeidade, mas também os referenciais que abordam as vivências e o cotidiano da sexualidade em diferentes épocas e espaços. O objetivo do trabalho é propiciar subsídios historiográficos que permitam refletir a sexualidade como fator primordial da existência humana.

O texto de Simoniely Kovalczuk “Diário de um cataclismo: Llano y Zapata e o terremoto no Peru (1746) tem como objetivo estudar os desdobramentos sociais, econômicos e psíquicos do terremoto, seguido de um maremoto, que atingiu a região de Lima e Callao, em 1746. A análise da “carta ou Diário que escreve D. Joseph Eusébio de Llano Y Zapata [...]” enviado a seu amigo Ignácio de Chirovara Y Daza, cônego da Igreja de Quito”, revela o modo como a sociedade limenha lidou com os fenômenos naturais.

Suelen Brexi Fila analisa a agricultura dos povos incas através da crônica colonial de Garcilaso de la Vega, intulada “Comentarios Reales”. O texto “A agricultura dos comedores de tubérculos ou os papamikuc na narrativa garcilaciana (1609)” procura delinear um panorama das atividades agrárias e sua relação com um sistema social altamente hierarquizado que envolvia questões de ordem prática, ideológica, econômica, mítica e astronômica, o ayllu andino.

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Adelir de Farias Batista e Michel Kobelinski finalizam a obra com o texto “As culturas inca e hispânica na escrita mestiça de Garcilaso de la Vega (1609-1617)”. A investigação dessa personagem histórica permitiu refletir sobre a escrita ambígua a partir do trânsito entre as culturas hispânica e incaica.

A exposição das ideias evidenciadas nestes textos mostra a maturidade e o traquejo dos autores em assuntos que aguçam nossa curiosidade. Apesar disso, reconhecemos a limitação dos trabalhos, pois são esforços significativos em direção ao aperfeiçoamento pessoal e coletivo. Temos consciência do que fizemos, da mesma maneira que temos consciência da percepção do leitor sobre a organização de nosso trabalho. Assim, concordamos com a ideia de mutabilidade dos sentimentos e das necessidades humanas em Voltaire (2007). O aperfeiçoamento humano se vincula aos interesses e às paixões. Isto quer dizer que as paixões surgem das necessidades humanas e o conhecimento leva ao progresso das paixões. Aqui, essa necessidade de aperfeiçoamento na pesquisa tem como fundamento a educação dos sujeitos. Não no de governantes, como no tempo de Voltaire, mas de todos aqueles que se interessam em fazer avançar o conhecimento historiográfico. É com vistas a esse ambiente de equidade que combatemos a intransigência intelectual, a ociosidade e a falta de estímulo à publicação de produções acadêmicas.

Michel Kobelinski e Lidiana Larissa Lenchiscki

(organizadores)

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Bibliografia

1. ARIAS NETO, Jose Miguel (org). Textos dida ticos: histo ria da Ame rica. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2004.

2. KOBELINSKI, Michel. O inventa rio das curiosidades bota nicas da Nouvelle France de Pierre-François-Xavier de Charlevoix. In: Simpo sio Internacional de Histo ria Ambiental e Migraço es, Floriano polis, UFSC, 2010, v. 1, p. 1142-1462.

3. _______. La ne gation et la exhaltation des “sertanistas” de Sa o Paulo dans les discours des pe res Pierre-François-Xavier de Charlevoix, D. Jose Vaissete Gaspar da Madre de Deus (1756-1774). In: Congresso do CEISAL: Independe ncias, Depende ncias e Interdepende ncias, Toulouse, Universite le Mirail II, 30 jun-3 julh., 2010.

4. VOLTAIRE, Filosofia da histo ria. Sa o Paulo: Martins Fontes, 2007.

5. PRATT, Mary Louise. Humboldt e a reinvença o da Ame rica. Estudos Histo ricos, Rio de Janeiro, vol. 3, n. 8, 1991, p. 151-165.