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    TECNOLOGIAS DE APOIO PARA ACOMUNICAC;AO

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    o termo "tecnologias de apoio para a comunicacao" e vulgarmente utilizado parareferir um conjunto de equipamentos e dispositivos que auxiliam 0 seu utilizador aexpressar-se. As ajudas para a audicao sao consideradas como tecnologias de apoiopara pessoas com deficiencia sensorial, enquanto os 6culos nao sao considerados comotal. Nenhum destes dois recursos e considerado como tecnologia de apoio para acomunkacao. embora ambos contribuam, sem duvida. para melhorar a cornunicacaoentre individuos.

    As tecnologias de apoio para a cornunicacao tern vindo a ser utilizadas, desde habastante tempo, em muitos pafses. Existem desde tabelas "manuais" simples, equipa-mentos que utilizam uma tecnologia simples, como, por exemplo, luzes e ponteiros quefazem um varrimento de opcoes. ate equipamentos que se baseiam na tecnologia decomputadores mais sofisticada, utilizando monitores e fala artificial (ver Fishman, 1987;Goosen', Crian e Elder, 1992; Quist e Lloyd, 1997a, 1997b). Na realidade, comecou adar-se uma especial atencao as tecnologias de apoio para a cornunicacao a partir domomento em que se iniciou 0 uso das tecnologias baseadas em computador.o acesso as tecnologias de apoio para a cornunicacao e de especial importanciapara os indivfduos que apresentam certos tipos de deficiencias motoras, emboraalguns individuos, sem problemas motores, mas com dificuldades de fala, autismo,disturbios de linguagem e deficiencia mental, possam tarnbern usufruir das mesmas.As tecnologias de apoio para a cornunicacao devem ser portateis, de modo a poderemser utilizadas em diferentes situacoes. As ajudas baseadas em tecnologia mais sofisti-cada eram, ate ha pouco tempo, demasiado pesadas ou grandes para poderem sertransportadas (d. Romski e Sevcik, 1996). Algumas dependem tambern de correnteelectrica externa ou de recarregamentos frequentes, 0 que nao e um problema paraindividuos cuja defidencia motora determina uma grande imobilidade, mas pode serpara individuos com deficiencia motora com maior mobilidade. Os utilizadores decadeiras de rodas electr6nicas podem, actual mente, ligar tecnologias de apoio para acornunicacao a bateria da cadeira. Alguns dispositivos para a comunlcacao que fun-cionam a pilhas sao relativamente pesados, mas podem ser [aceis de transportar comrecurso a suportes especiais que se acoplam a cadeira de rodas; no entanto, sao depouca utilidade para os utilizadores que os ten ham de transportar a mao. Os indivi-duos que nao depend em de uma cadeira de rodas utilizam, com mais frequencia, asajudas para a cornunicacao mais tradicionais, tais como as tabelas ou os livros decornunicacao. com signos graiicos ou imagens.

    TECNOLOGIAS DE Apolo TRADICIONAIS

    As tecnologias de apoio tradicionais sao, em geral, tabelas ou tabuleiros com letras,palavras, signos graficos ou fotografias (figura 11). Em alguns casos, as tabelas conternapenas numeros ou outro tipo de c6digos que remetem 0 interlocutor para uma lista depalavras (qlossarios), Com estas tecnologias de apoio baseadas num c6digo, os utilizado-res tem acesso a um maior numero de palavras, signos ou frases do que se 0 tivessemde fazer indicando directamente.

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    Figura 11 - Exemplos de tecnologias de apoio tradicionais

    As tecnologias de apoio para a comunicacao podem ser utilizadas atraves de umaseleccao directa ou atraves de um sistema de seleccao de opcoes por varrimento auto-matico ou dirigido:

    A selecc:;aodirecta implica que 0 utilizador indique directamente 0 que quer expres-sar. Pode faze-Io indicando com 0 dedo, um pe, um ponteiro de cabeca. um pon-teiro luminoso, 0 olhar, etc. Iarnbern pode ser efectuada fazendo mover a opcaoseleccionada (signo qrafico) para uma determinada posicao na tabela ou ecra,

    0 varrimento automatico implica que 0 meio para a cornunicacao disponha deuma luz, um cursor apontador ou algo semelhante que se mova automaticamenteentre as opcoes disponiveis para a cornunicacao. 0 utilizador act iva um determi-nado tipo de comutador quando a luz ou 0 ponteiro da tabela se encontram naposicao desejada.

    0 varrimento dirigido implica que 0 utilizador possa activar dois ou mais com uta-dores. Neste caso, os comutadores sao utilizados para fazer deslocar a luz ou 0ponteiro ao longo do conjunto de opcoes disponiveis na tabela de cornunicacao e eutilizado um outro comutador para fazer a confirrnacao da seleccao.

    o varrimento autornatico ou dirigido pode ser simples ou combinado: 0 varrimento simples descreve 0 processo pelo qual todas as opcoes na tabela saopercorridas uma a uma, rotativamente (figura 12).

    0 varrimento combinado significa que 0 percurso da luz ou do ponteiro e organi-zado por conjuntos de opcoes que podem variar de dirnensao, Uma das formasmais comuns consiste em seleccionar primeiro uma determinada linha de opcoes edepois uma das opcoes dessa linha. Existem, no entanto, varias formas de organi-zar 0varrimento (figura 12).

    Quando 0 utilizador dispoe de um vocabulario muito vasto, 0 varrimento simplespode ser muito moroso. 0 varrimento combinado e mais rapido e eficaz. Com criancaspequenas e com individuos com deficiencia mental e natural cornecar com 0 varrimento

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    simples e progredir para 0 varrimento combinado, quando 0 anterior ja estiver interiori-zado. Existem tarnbern formas de varrimento dependentes e independentes:

    0 varrimento independente significa que a pr6pria pessoa orienta ou faz parar aluz ou 0 ponteiro, sem a ajuda de outra pessoa.

    0 varr imento dependente significa que uma outra pessoa aponta para cada opcao,numa determinada sequencia e 0 utilizador, atraves de um som, um gesto, umpestanejar, informa quando ela esta a indicar na linha desejada a letra, a palavra ouo signo desejado.

    ~_jr\..f--~

    .J

    Varrimento simples Varrimento simples Varrimento combinado.Primeiro e seleccionada uma

    linha, depois a palavra ou signo.Figura 12 - Varrimento simples e combinado

    A seieccao directa exige que a pessoa tenha uma coordenacao motora e movimentosdirigidos relativamente bons. 0 varrimento dirigido exige que a pessoa possa fazer movi-mentos repetitivos, enquanto 0 varrimento autornatico implica que 0 utilizador sejacapaz de coordenar os seus movimentos com os movimentos da luz ou do ponteiro utili-zado no sistema. Uma pessoa e mais sensivel do que uma tecnologia de apoio. Por isso,o varrimentodependente pode ser uma boa forma de iniciar 0 desenvolvimento decornunicacao mais variada para criancas que sejam muito dependentes e que ainda naodominem um sistema de varrimento independente. 0 varrimento dependente e tarnbernutil nos casos em que nao e possivel encontrar nenhum movimento que a pessoa possautilizar de uma forma funcional. Uma leve alteracao na sxpressao facial ou na posturado corpo pode ser suficiente para dar uma indicacao. se 0 interlocutor conhecer bem 0utilizador. No entanto, 0 objectivo geral deve ser que 0 processo de varrimento se tornegradual mente 0 mais independente posslvel.

    As tecnologias de apoio para a comunicacao tradicionais, isto e. tabelas manuais edispositivos de cornunicacao de tecnologia mais simples, sao muito utilizadas e cum-prem funcoes importantes para muitos utilizadores. No entanto, tern varias lirnitacoes.Usar uma tabela com letras, por exemplo, requer muito tempo, se 0 interlocutor naoconseguir adivinhar com precisao as palavras e as frases antes de 0 utilizador acabar deas soletrar. Soletrar uma palavra ou esperar que um mecanismo de varrimento autorna-tico se desloque ate a opcao desejada pode demorar varies minutos. Quando 0 utiliza-dor deseja expressar frases extensas, a intencao de comunicar pode falhar frequente-mente devido a dificuldade de 0 ouvinte se recordar das palavras anteriores ao mesmotempo que tenta registar as letras da palavra seguinte. Pode, tarnbern, tornar-se diftcilmanter a concentracao sobre 0 que 0 utilizador vai fazendo durante um perlodo longo

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    de tempo. Em conversas norma is, 0 ouvinte pode desviar 0 olhar com frequencia, semque isso cause problemas de cornpreensao. Numa conversa com alquern que usa tecno-logias de apoio para a cornunicacao, uma pequena falta de atencao pode levar a umainterpretacao errada e frustracoes e a afirmacao do utilizador pode nao ser entendidaou mal interpretada.

    ALTA TECNOLOGIA

    As tecnologias de apoio para a cornunicacao mais recentes baseiam-se em dispositi-vos que utilizam a tecnologia dos computadores. Apes a difusao de computadores por-tateis, relativamente baratos, com baterias de longa duracao. tornou-se mais comum 0uso de programas especiais no computador pessoal. Nao e possfvel usar programasdesenhados para um determinado tipo de maquina numa outra rnaquina, com umsistema diferente. Os computadores Apple Macintosh e os IBM compatfveis utilizamsistemas operativos diferentes e isto pode limitar a seleccao dos programas. Contudo,actual mente, muitos programas estao disponfveis tanto para a plataforma Apple, comopara IBM compatfveis.

    Os computadores pessoais vulgares permitem diferentes tipos de uso e 0 facto deestarem muito difundidos no mercado nao deixa de ser um factor importante no desen-volvimento de funcoes comunicativas computadorizadas. Isto aplica-se, especialmente,ao seu uso em jardins-de-infancia. escolas primarias e no trabalho, ou como" estacao detrabalho" em casa, na qual se escrevem relatorios. cartas, encomendas, dedaracoes deimpostos, poesia, etc. Muitos indivfduos que utilizam signos qraficos nunca conseguiramescrever uma carta por si proprios, Um computador com um programa de signos qrafi-cos pode proporcionar-Ihes a oportunidade de 0 fazer. Isto nao e valido, apenas, paraindivfduos com um bom desempenho intelectual. Os indivfduos com dificuldades deaprendizagem que possuem algumas competencies para a escrita (escrita normal oucom signos graficos) podem sentir grande prazer em escrever cartas de felicitacoes,mensagens, etc.

    o Henrique e um rapaz de 12 anos com paralisia cerebral e dificuldade deaprendizagem moderada. Nso pode falar mas tem uma boa compreensao dalinguagem. Utiliza alguns signos manuais e uma tabela de comunlcecic com25 signos do sistema Rebus. Nao sabe escrever. Quando Ihe foi dada aoportunidade de usar um computador com um teclado de conceitos, naodemorou muito para comec;ara escrever cartas, principalmente a namorada(figura 13).

    Para uma pessoa que utilize signos qraficos poder escrever num computador, deveexistir um programa disponfvel que permita 0 uso dos signos graficos e que, alern disso,se adapte ao conjunto das suas necessidades e capacidades. No entanto, nao existemmuitos programas de computador que permitem a utilizacao dos sistemas de signos qra-ficos, apesar de os existentes permitirem a utilizacao dos sistemas mais usados - Bliss,

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    PIC e SPC- tanto em Apple Macintosh, como em IBM compatfveis. No entanto, nemtodos os programas possuem um interface arniqavel, Em particular, os indivfduos comautismo ou deficiencia mental, incluindo aqueles com bom controlo sobre 0 sistema designos em questao. podem ter dificuldades na utilizacao dos programas.

    eu beijo minha rapariga amigo

    ~ f l X J < V 0 t$eu ver televisao com

    < V (1+ I 9 J 00minha rapariga amigo eu

    ~ 0 t$ ~gostar minha rapariga amigo

    ~ ~@ t$

    eu quero beijar beijar beijar

    ~~ f l X J f l X J e/\'~

    tu

    f

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    Alern do apoio para a cornunicacao, os computadores podem ser programados parafuncionar com tecnologia de controlo ambiental, isto e , para abrir uma porta, ligar e des-ligar 0 radio, a televisao, 0 aquecimento, acender e apagar luzes, virar paqinas num livro,etc. Os computadores tarnbem podem ser utilizados com fins educacionais e para fazerjogos. Para criancas com problemas neuromotores graves, os jogos que podem ser con-trolados por comutador podem ter um interesse especial. 0 jo go e ssisu do cria oportuni-dades para realizar actividades independentes e proporciona tanto a crianca como aoadulto um motivo de interesse comum para tema de conversa. Alern disso, os jogospodem ajudar a treinar competencies que serao uteis. mais tarde, para as situacoes decomunkacao Por exemplo, para 0 programa de computador inspirado no jogo dasescondidas, chamado "Onde esta 0 Blob", a crianca pode fazer surgir no ecra um animal,parcialmente escondido, apenas actuando sobre um comutador. Quando a crianca ja tiveraprendido isto, pode passar a escolher entre varies animais, apenas actuando sobre 0comutador quando uma estrela brilhar sobre 0 animal que ela deseja fazer aparecer(figura 14). E facil ver como este jogo - e as competencias na utilizacao do varrimento- pode encorajar a aquisicao funcional da linguagem.

    Figura 14 - Blob e um jogo para computadores compativeis controlado por um cornu-tador. Uma estrela e deslocada sobre tres animais que estao parcial menteescondidos atras de um muro. Quando a crianca actua sobre um com uta-dor, 0 animal que esta debaixo da estrela aparece em corpo inteiro.

    A fala artificial e utilizada em muitos jogos de computador (ver em baixo). Estesjogos podem ser muito divertidos, 0 que e uma boa razao para joqa-los. Mas e irnpor-tante ter consdencia de que os jogos com fala artificial nao melhoram, por si mesmo, ascornpetencias comunicativas de uma crianca. Apesar de os jogos "talarern". na reali-dade nao estao a dialogar com a crianca. 0 que esta a ser dito pelo computador naotem significado funcional. Assim, as frases estereotipadas do computador, em vez defomentarem as cornpetencias comunicativas da crianca, podem contribuir para manterum estilo comunicativo passivo observado em muitos indivfduos com defidencia motora.

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    o facto de um computador poder ser usado para muitas actividades diferentesrepresenta uma vantagem. No entanto, uma das desvantagens da sua utihzacao comotecnologia de apoio para a cornunicacao e a impossibilidade de 0 utilizar com outrosfins enquanto estiver a comunicar. Grande parte destas actividades requer muita comu-nicacao. sendo, por isso, importante dispor de uma forma de comunicar enquanto serealizam essasmesmas actividades. Este facto enfatiza as limitac.;6esdas ajudas que pos-suem muitas funcoes e destaca a irnportancia de se possuir uma tecnologia de apoiopara a cornunicacao especializada, mesmo que esta seja mais limitada em funcoes evocabulario do que 0 computador (figura 15).

    Figura 15 - Exemplos de tecnologias de apoio electr6nicas

    Tal como as tecnologias de apoio tradicionais, as tecnologias mais recentes baseiam--se na escolha directa e no varrimento de opcoes, embora de uma forma mais flexivel.Num computador, por exernplo, e facil "passer paqinas" e ter acesso a vocabulariesmais vastos. Se existir uma representacao grafica do vocabulo, 0 que esta a ser dito ficano ecra ate ser apagado ou substituido por uma nova frase. Por esse motivo, as tecnolo-gias mais recentes exigem menos atencao por parte do interlocutor. 0 utilizador e 0ouvinte podem, entao, estar mais descontraidos, 0 que pode melhorar a cornunicacao.Iarnbern se torna mais facil para os interlocutores observar 0 comportamento nao ver-bal, como a expressao facial e os ajustamentos posturais, sem perder 0 fio da conversa.

    Diversas tecnologias de apoio baseadas na escrita ortografica utilizam abreviaturasou a predicao de palavras:

    Abreviatura significa que 0 utilizador s6 precisa de escrever uma ou duas letras e,em seguida, premir a tecla de espaco ou outra tecla, para obter uma palavra ouexpressao completa. Por exemplo, 0 utilizador escreve ill e aparece no ecra QQ[favor. As abreviaturas cumprem a mesma funcao que as cornbinacoes de letras,palavras e frases nas tabelas manuais de letras. Alguns programas dao, ao utilizador,a oportunidade de escolher uma lista de palavras depois de ter escrito uma ou maisletras. Surgem, entao. no ecra. palavras de usa frequente que comec.;am com asletras que foram escritas, podendo 0 utilizador escolher a que deseja (figura 16) .

    Predicso significa que 0 computador da suqestoes sobre a palavra seguinte ousobre 0 resto da palavra ao mesmo tempo que 0 utilizador vai escrevendo. Se asuqestao estiver errada, 0 utilizador continua a escrever. Se a suqestao estiver cor-recta, 0 utilizador escolhe-a pressionando numa tecla correspondente ao c6digo

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    associado a suqestao (pode ser um nurnero ou uma tecla de funcao). As suqestoessao baseadas nas palavras que 0 utilizador ja escreveu previamente. 0 computadormemoriza as palavras utilizadas com maior frequencia e a sequencia dessa utiliza-cao. Por exemplo, depois de f 0 computador pode sugerir famflia, depois de trfrasco e depois de fri frigorffico. Se frigorffico e a palavra que 0 utilizador desejaescrever, poupara mais de metade do esforco para escreve-la, Os programas depredicao de palavras apresentam mais do que uma alternativa por cada letra ougrupo de letras escritas pelo utilizador, das quais selecciona uma ou continua aescrever.

    Figura 16 - MAC-Apple e um programa controlado por comutador. Tarnbern podeser usado para comunicar por telefone.

    Tanto as abreviacoes como a predicao de palavras podem ser uteis para poupartempo quando as palavras sao relativamente compridas e sao usadas com frequencia.Poupa-se tempo pelo nurnero de teclas utilizadas, tendo sido demonstrado que algunssistemas de predicao de palavras poupam 40 a 60 por cento do nurnero de accoes sobreteclas (Newell et al., 1992; Venkatagiri, 1993). A predicao de palavras tarnbern implicauma grande capacidade perceptiva e cognitiva (Koester e Levine, 1996). Os indivfduosque escrevem rapidamente serao interrompidos na sua escrita se tiverem de estar a olharpara 0 que se passa no ecra. Para os que escrevem com lentidao, mas sao rapidos emolhar para 0 que se passa no ecra. pelo contra rio, poupam bastante tempo com 0 sis-tema de predicao de palavras.

    A predicao de palavras tarnbern pode servir como um apoio a escrita e como instru-mento educativo para criancas com dificuldades na aprendizagem da escrita, condicaoque tarnbern e comum entre os indivfduos que nao falam mas que apresentam uma boacornpreensao da linguagem (Newell, Booth e Beattie, 1991; von Tetzchner, Rogne eLilleeng, 1997).

    As formas mais avancadas de predicao de palavras - actualmente em fase experi-mental - incluem nao 56 a suqestao de palavras baseadas nas primeiras letras, mastarnbern tuncoes pragmaticas e uma seleccao de palavras de acordo com 0 contexto daescrita e 0 estado de espfrito do utilizador (Aim e Newell, 1996).

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    Uma forma especial de sistema de c6digo para frases, denominada "cornpactacaosemantics". tem vindo a ganhar popularidade e e utilizada em muitos equipamentos dealta tecnologia para a cornunicacao. normalmente chamada Minspeak (Baker, 1982,1986). E um sistema de codificacao para palavras e frases que sao produzidas com a falasintetizada ou digitalizada (ver em baixo). Atraves da activacao de opcoes em diferentessequencias. sao produzidas diferentes palavras ou frases. Por exemplo, quando se actuarsobre as opcoes LEITE+ QUENTE, a maquina pode dizer "Eu quero leite quente", masdira "0 leite este muito quente", quando se utilizar a combinacao QUENTE + LEITE.Uma cornbinacao. numa determinada sequencia, tarnbern pode levar a articulacao deuma s6 palavra. As tecnologias de apoio para a cornunicacao mais avancadas possuemdiferentes temas ou contextos e a palavra ou frase que e produzida depende tanto docontexto ou tema que e previamente activado como da ordem pela qual as opcoes decornunicacao sao activadas. No "modo cafe", a cornbinacao atras mencionada podefazer surgir a mensagem "meia de leite". As diferentes cornbinacoes e suas sequencias,que irao produzir as diferentes palavras ou frases, sao determinadas previamente. 0Minspeak nao depende de nenhum sistema de signos graficos especifico. De facto,Baker (1986) define-se a favor dos signos que sejam personalizados, porque consideraque e mais facil a pessoa lembrar-se das assodacoes que ela pr6pria fez do que dos sis-temas de signos criados por outras pessoas. No entanto, foi desenvolvido recentementeum sistema de signos qraficos especial para 0 Minspeak (Minsymbols). Pode tarnbern servantajoso utilizar um sistema vulgar de signos graficos, porque, no caso de as baterias segastarem, pode ser mais facil de 0 usar sem as frases codificadas. 0 sistema Minspeak elargamente utilizado nos Estados Unidos e corneca a ser popular no Reino Unido e naAustralia. No entanto, como se baseia na utilizacao da fala sintetizada da lingua inglesa,a sua utilizacao em outros parses tem sido limitada.

    FALA ARTIFICIAL

    o usa da fala artificial e 0 progresso mais importante das tecnologias de apoio para acornunicacao recentes. Existem duas formas de fala artificial: a fala sintetizada e a faladigitalizada (Venkatagiri e Ramebadran, 1995).

    A fala sintetizada compreende uma serie de regras para passar da palavra escrita afala (do texto a fala). Estas regras sao diferentes para as diversas Iinguas e, por essemotive, cada pais precisa de ter 0 seu pr6prio sistema.

    Uma tecnologia de apoio que disponha de fala sintetizada podera reproduzir tudoaquilo que 0 utilizador escreva, mas exige, em geral, que este seja capaz de soletrar eescrever com relativa rapidez para que a comunicacao funcione. E claro que e possivelque uma outra pessoa escreva e guarde palavras e frases, mas assim a flexibilidade noprocesso de cornunicacao e perdida. Para conseguir maior rapidez, e possivel usar a falasintetizada com um sistema que disponha de abreviaturas, lista de palavras e/ou predi-cao. Pode-se, entao, concluir que a fala sintetizada e especialmente indicada para indivi-duos com boas competencies lingufsticas, po is faculta-Ihes um uso mais flexfvel dalinguagem e a utilizacao de um vocabularies ilimitado.

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    A fala sintetizada e mais dificil de entender do que a fala natural, mas, com 0 usoregular, as pessoas habituam-se a ela, assim como se habituam a pronuncias diferentes.(McNaughton et al., 1994; Venkatagiri, 1994). No entanto, tal como com a fala natural,as pessoas que nao utilizam a sua lingua nativa podem ter maiores dificuldades na com-preensao e ser mais susceptiveis ao ruido de fundo (Reynolds, Bond e Fucci, 1996).A inteligibilidade da fala sintetizada varia entre os produtores (Raghavendra e Allen,1993; Scherz e Beer, 1995) e de lingua para lingua. Em particular, a fala sintetizadainglesa e de alta qualidade, como resultado de uma cornpetkao entre varies produtores.

    Uma pessoa que necessite de utilizar uma tecnologia de apoio com fala sintetizadatem de usar uma que fale a sua lingua. Por esse motivo, a maioria das tecnologias deapoio para a comunicacao com fala sintetizada desenvolvidas noutros paises nao podemser utilizadas em Portugal (Windixi). 0 Infovox e outros sistemas semelhantes, por exem-plo, podem ligar-se a maior parte dos computadores de uso comum. No entanto, actual-mente, nao existe nenhum sistema de fala sintetizada em lingua portuguesa disponivelno mercado. Contudo, estao a ser desenvolvidos e testados alguns prot6tipos, numacolaboracao entre algumas universidades e empresas portuguesas.

    Actualmente, a fala sintetizada proporciona ao utilizador poucas oportunidades paravariar e para criar uma voz distinta, em particular para outras linguas, que nao 0 inqles.Alguns sistemas possuem a voz masculina e a feminina, assim como a voz de crianca.mas, devido a razoes tecnicas, a voz masculina e mais distinta e tacil de entender do quea voz feminina ou de crianca.

    A fala digitalizada e uma fala gravada por uma pessoa, com a ajuda de um digitali-zador de som, que a regista na mem6ria de um computador ou de outro equipa-mento com tecnologia informatica, tais como os equipamentos para a comunica-~ao com saida de fala. 0 digitalizador de som e um aparelho que converte asondas sonoras (sinal anal6gico) em nurneros (sinal digital). Desta forma, a falaregista-se como sinais nurnericos (digital) em vez de sinais maqneticos, como e 0caso dos gravadores de fita. 0 resultado e semelhante, mas nao e necessario fazercorrer a fita para tras e para a frente para se chegar a palavra desejada. Por essemotivo, a fala digitalizada e mais adequada para as tecnologias com saida de falado que uma qravacao em fita rnaqnetica. As tecnologias com fala digitalizada naoestao dependentes da lingua falada em determinado pais.

    Existem muitas tecnologias de apoio para a cornunicacao que se baseiam na faladigitalizada e, como resultado do desenvolvimento tecnol6gico, os precos tern vindo abaixar. As vantagens da fala digitalizada sao a boa qualidade de som e a possibilidadede gravar 0 tipo de fala que mais convenha ao utilizador, em termos de dialecto, idade,sexo, etc. A desvantagem da fala digitalizada e permitir apenas um vocabulario limitado,pois e necessario gravar individualmente cada palavra ou frase que 0 utilizador possaquerer usar posteriormente. Quando se escolhem varias palavras, pode fazer-se combi-nacces originais, mas a frase ficara destituida de toda a entoacao. A frase devers sergravada como uma entidade para ser reproduzida com a devida entoacao.

    A utilizacao da fala artificial tem consequencias sociais positivas pelo facto de a con-versa se tornar mais normalizada. 0 utilizador nao tem de esperar ate conseguir con-tacto visual com a pessoa com quem quer falar ou chamar-Ihe a atencao com uma cam-painha, etc., para dizer algo. Pode interromper e tomar a palavra como os outros

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    intervenientes na conversa. Outra vantagem e que 0 pr6prio utilizador pode escutar deimediato 0 que disse e pode corrigir-se a si mesmo. Iarnbem e importante 0 facto de afala artificial facilitar a comunicacao entre utilizadores de meios alternativos de comuni-cacao, sem que seja necessario que outra pessoa sirva de interprete ou mediador.

    TECNO LO GIAS DE Apolo B ASEA DA S N OS SISTEM AS D E TELEC OM UN IC AC ;O ES

    o ensino da linguagem baseia-se quase exclusivamente em situacoes de interaccaoface a face. A cornunicacao a distancia (ou a telecomunicacao) desempenha um papelcada vez mais importante na nossa sociedade e criam-se constantemente novos services.Hoje em dia, 0 telefone (fixo ou m6vel) e fundamental para manter relacoes sociais eorganizar actividades conjuntas com outras pessoas. Isso e especial mente verdade nocaso dos jovens.

    As novas tecnologias produziram services telef6nicos sofisticados e, alern disso, osavances tecnol6gicos dos anos 90 levaram a qeneralizacao do uso do correia electr6nicoe da Internet. A transrnissao informatizada de dados colocou a telecomurucacao aoalcance de muitas pessoas que, anteriormente, nao tinham acesso a ela (von Tetzchner,1991; Roe, 1995). Uma pessoa com problemas de fala pode utilizar a fala sintetizadapor telefone ou transmitir textos escritos ou signos qraficos com a ajuda de um compu-tador pessoal ou de um telefone de texto (figura 16). Existem tarnbern tecnologias deapoio que facilitam ou tornam desnecessario 0 gesto de levantar 0 auscultador e quemarcam os nurneros de forma autornatica, etc. Os videotelefones, que permitem trans-mitir imagens ao vivo atraves da rede telef6nica, serao em breve acessfveis ao publicoem geral. Assim, sera possfvel comunicar por telefone, a grandes distancias, atraves designos manuais. Para a pessoa com deficiencia mental, pode ser decisivo ver a pessoacom quem estao a conversar ao telefone. Poder partilhar 0 contexto visual pode contri-buir para facilitar a cornpreensao e producao de mensagens (Brodin e von Tetzchner,1996).

    Paradoxalmente, os grupos com maiores dificuldades para se encontrarem comoutras pessoas sao tarnbern os que tern tido menos possibilidades de usar a comunica-cao telef6nica. A medida que 0 acesso a telecornunicacao por parte dos indivfduos comproblemas de linguagem e cornunicacao melhorar, eles terao mais oportunidades demanter uma rede de relacoes sociais mais ampla. Actualmente este aspecto e particular-mente importante para os indivfduos com deficiencia mental, pois as grandes institui-coes tendem a ser substitufdas por pequenas unidades residenciais, criando distandasgeogrMicas importantes entre as pessoas que, antes, viviam na mesma instituicao.Pouco se tem pensado na forma de manter relacoes sociais criadas entre indivfduos queconviveram durante anos na mesma instituicao ou na forma de facilitar as relacoes comos outros, por parte dos que chegam a uma unidade residencial sem terem estado antesnuma grande instituicao. A maioria dos indivfduos com deficiencia mental mantem rela-coes normais com outras pessoas. Tern amigos chegados com quem podem, eventual-mente, viver ou outros amigos ou conhecidos que podem estar distantes e que gosta-riam de ver de vez em quando.

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    Ao organizar sltuacoss de interaccao comunicativa, e tarnbern importante consideraras necessidades que as pessoas tern relativamente a utilizacao dos aparelhos de teleco-municacoes. bem como as oportunidades que esses dispositivos podem representar. 1550pode ser particularmente importante para os jovens que ten ham deixado a sua casa ouvivam separados da famflia durante perfodos prolongados.

    MODO DE ApONTAR

    A seleccao directa baseia-se, frequentemente, em accoes motoras de tocar, pres-sionar em bot6es ou teclados ou outra forma de apontar. Apontar nao significanecessariamente usar 0 dedo indicador. Muitos indivfduos com deficiencia motoranao conseguem esticar 0 dedo indicador nem usa-lo para apontar. E fundamentalnao se ser muito rfgido e aceitar a forma de apontar para a qual 0 utilizador estahabilitado.

    o Pedro e um homem de 30 anos com deiiciencie motora grave. Sentia, fre-quentemente, problemas em se fazer en tender porque 0 pessoal do centro deapoio insistia para que usasse 0 dedo indicador para apontar na tabela decomuniceceo. Para ele, tornava-se muito mais iecil utilizar a erticuiecso proxi-mal do polegar, tal como fazia em casa. Devido a essa atitude pouco flexivel,o pessoal do centro de apoio atrasou a eouisicso da linguagem do Pedro,causando-Ihe muita itustreceo desnecesserie.

    H a muitas formas de apontar para os indivfduos que nao podem utilizar as suasmaos com esse fim. 0 pe pode ser uma boa alternativa, assim como um ponteiro decabeca ou um ponteiro luminoso (figura 17).

    Para alguns indivfduos com defidencia mental ou autismo, com capacidades manuaissuficientes, pode ser mais facil aprender a mover signos graficos para uma determinadalocalizacao (podem ser mantidos no local com velcro). Muitos equipamentos informati-zados possuem esta caracterfstica como parte do interface qretico no ecra. Pode sermais facil quer para esses indivfduos compreenderem a funcao do signo qrafico. querpara 0 parceiro na comunicacao ver 0 que esta a ser comunicado. Alguns indivfduosapontam muito rapidamente e podem falhar no ajustamento da sua forma de apontar acapacidade de atencao visual da outra pessoa. 1550 pode ser significativamente beneficequando se pretende promover cornunicacao com varies signos, porque permanecemvisfveis ate que a frase esteja completa.

    Existem diversas formas de apontar com 0 olhar para aqueles que nao tern controlosuficiente das outras partes do corpo ou da cabeca. Existem sistemas de codificacaoespeciais desenhados para 0 apontar com 0 olhar (ETRAN), mas tambern se pode utilizaro apontar com 0 olhar do mesmo modo que se usa qualquer outra forma de apontar(figura 18). Alern disso, existem tecnologias de apoio para a comunicacao que registam

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    a direccao que os olhos tomam e, entao, escrevem ou dizem a letra, palavra ou signoqrafico para 0 qual 0 utilizador esta a olhar se 0 mantiver, por exemplo, durante mais de3 segundos. No entanto, a utilizacao destas tecnologias torna-se muito cansativa.

    Figura 17 - Diferentes formas de apontar

    o apontar com 0 olhar e uma forma de apontar escolhida como ultimo recurso, ape-sar de ser uma forma inclufda no repert6rio natural de cornunicacao de muitas criancascom deficienda. No entanto, existe uma diferenca entre uma pessoa que utiliza estaforma como unico meio de expressar algo e uma pessoa que a utiliza simplesmente paraapontar os objectos que a rodeiam, como forma complementar de outros sistemas.Apontar, e outras formas de indicar objectos, pessoas e localizacoes, para alern de umatabela de cornunicacao. pode fazer parte de uma estrateqia de cornunicacao assistida.Quando a crianca nao possui um signo qrafico de um determinado objecto, indicar como olhar a presence desse objecto ou pessoa no ambiente pode ser a forma de ultrapas-sar essa lacuna. Iarnbern se pode poupar algum tempo se esses objectos estiverem maisdisponfveis do que os signos de uma tabela de cornunicacao. os quais podem demorarmais tempo a ser apontados. Apontar para um objecto pode mesmo ser consideradocornunicacao simb6lica, se 0 objecto e utilizado para nomear ou representar uma cate-goria, uma actividade ou um contexto maior. Por exemplo, uma crianca de 8 anos, sen-tada perto da porta do seu quarto, olhou para essa porta para expressar: "Eu". Estaestrateqia. que e um tipo de truque, foi mais rapida do que passar por varies paqinas doseu equipamento para cornunicacao e indicar Eu (von Tetzchner e Martinsen, 1996).Alern disso, e mais facil seguir os movimentos dos olhos para longas distancias do quepara distancias curtas.

    Quando 0 olhar e utilizado para apontar para qualquer forma de tabela de comuni-cacao. 0 parceiro na comunicecao deve estar localizado de forma a que seja capaz deseguir os movimentos dos olhos e 0 respectivo olhar dirigido, pois esse aspecto seradeterminante para a situacao de cornunicacao ser bem sucedida. Alern disso, existemmuitas outras funcoes incompatfveis com a utilizacao do olhar para apontar, pelo que,

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    sempre que possivel, sera melhor usar outra forma de indicar uma opcao. t mais facilpara 0 interlocutor determinar 0 que 0 utilizador esta a apontar com os pes ou com asmaos. Apesar disso, para os individuos que nao podem utilizar as rnaos nem podemapontar de outra maneira, como acontece muitas vezes no caso de criancas com parali-sia cerebral grave, apontar com 0 olhar pode bem ser a maneira mais eficaz de expressarideias, desejos ou outras mensagens.

    Figura 18 - Apontar com 0 olhar

    TECLADOS

    A forma mais comum de aceder a um computador e por meio de um teclado. Muitastecnologias de apoio para a cornunicacao disp6em de teclados vulgares com letras e,eventual mente, de algumas teclas com funcoes especiais. Existem teclados reduzidospara individuos com pouca amplitude de movimentos. Tarnbern existem teclados expan-didos, com teclas maiores e espacos maiores entre elas, para individuos com dificuldadeno controlo de movimentos de pequena e media amplitude (figura 19).

    Figura 19 - Exemplos de teclados

    T ec no lo gia s d e Apo io p ar a a Comunicacao 55

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    Desde que se cornecararn a utilizar os computadores como tecnologias de apoiopara a cornunicacao, foram concebidos, tarnbern, teclados especiais denominadostec/ados de conceitos. Um teclado de conceitos e um tabuleiro electr6nico subdivididoem pequenas areas celulares que podem ser pressionadas para executar uma funcaopre-proqrarnada. Tarnbern ha teclados de conceitos que funcionam com um sistema devarrimento, atraves de uma luz que vai iluminando sucessivamente cada uma das celu-las. 0 nurnero de celulas pode ser diferente em teclados de conceitos distintos, mas ecomum terem 128 celuias. No entanto, diferentes celulas podem ser agrupadas paraconstituir uma area maior com a mesma funcao. 0 tamanho das celulas funcionais naoe fixo, mas depende da forma como for programado. Se todas as celulas tiverem amesma funcao. obtemos uma unica celula funcional. Dito de outro modo, um tecladode conceitos com 128 celulas tera de 1 a 128 campos funcionais. Utilizando estascaracteristicas, podemos adaptar 0 teclado de conceitos as capacidades motoras e lin-guisticas de cada pessoa. 0 teclado e coberto com uma folha de papel onde estaoidentificados os campos funcionais. (ada celula pode corresponder a uma letra, pala-vra, signo gri3fico, fotografia, etc. (figura 20).

    e cv ~lID0 @@0;.1e (j)@ ~ ~. . .~ @ E ~

    Figura20 - Teclados de conceitos

    Tanto nos teclados vulgares dos computadores como nos teclados de conceitos, e pos-sivel regular a sensibilidade das teclas ou das celulas. Geralmente, a letra ou 0 signo qra-fico premido vai-se repetindo como resultado funcional, enquanto 0 individuo mantiver apressao naquela area. Esta caracteristica pode ser alterada de forma a que seja necessariodeixar de premir sobre essa area e voltar a pressionar de novo para produzir 0 mesmoresultado mais do que uma vez. Iarnbern e possivel aumentar 0 tempo de actuacao sobreuma area para que um resultado funcional se repita, por exemplo, apenas ap6s 2 segun-dos de pressao. Outra forma de adaptacao do teclado as necessidades especificas do utili-zador e programar 0 teclado de forma a que apenas se produza um resultado ap6s deter-minado tempo de actuacao sobre a respectiva area. Por exemplo, apenas ap6s 1 segundode actuacao sobre a tecla Q surge a letra no programa de escrita. 0 comando do compu-tador depende, muitas vezes, do facto de a pessoa poder premir varies teclas ao mesmotempo. Isso torna-se dificil ou mesmo impossivel para individuos com dificuldades decoorcenacao. que apenas podem utilizar uma mao ou ponteiro. Para elas, existem pro-gramas especiais que permitem ir activando as funcoes de cada tecla modificadora suces-sivamente, uma de cada vez, a fim de efectuar uma tuncao que normalmente se realizaapenas se as teclas forem premidas simultaneamente.

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    Os mais recentes avances tecnol6gicos produziram os ecras sensiveis ao tacto, ouecra tactil. Com este tipo de tecnologia, 0 teclado e 0 ecra misturam-se. Isto significaque a superficie das "teclas" (areas sensiveis ao tacto) podem ser modificadas taofacilmente como a paqina que esta activa no ecra (por vezes denominada de 'ecra dina-mice'). Esta caracteristica e de grande vantagem para individuos que tenham dificuldadeem compreender a relacao entre a accao sobre um teclado e 0 que acontece no monitordo computador.

    COMUTADORES

    As tecnologias de apoio com sistema de varrimento sao, geralmente, controladasatraves de comutadores. Normalmente utilizam-se um ou do is comutadores, mas tam-bern existem sistemas que funcionam com mais comutadores, podendo chegar aosoito. No entanto, a diferenca funcional entre cinco e oito comutadores e minima.Quando se utilizam muitos comutadores, a diferenca entre teclados e teclados de con-ceitos diminui. Um teclado de conceito e. por principio, uma coleccao de comutadoresque sao activados quando pressionados. Um comutador pode ser activado com amao, 0 brace, a cabeca, os pes, os olhos, etc. Existem comutadores que requerempouca pressao e outros que requerem muita torca (pontape): podem ser grandes oupequenos, com a forma de um interruptor de luz, ter uma lingueta por onde desliza amao ou uma moldura onde se mete a mao ou 0 pe. Os comutadores podem ser acti-vados por sopro e por inspiracao de ar ou por pequenas contraccces musculares.Alguns comutadores consistem num tubo com uma pequena bola de mercuric quereage a pequenas alteracoes de posicao. Quando a pessoa tem um bom controlo dosseus membros, um joystick (figura 21) ou algo semelhante pode funcionar tarnberncomo comutador. (Para mais inforrnacao sobre comutadores e instrucoes para 0 seufabrico, pode consultar York, Nietupski e Hamre-Nietupski, 1985; Fishman, 1987;Goosens' e Crain, 1992.)

    Utilizar os olhos para activar comutadores exige muito mais do utilizador do queapontar com 0 olhar de modo tradicional. Assim, quando se recorre ao olhar para acti-var comutadores e porque nao foi possivel encontrar outra forma de controlo.

    Existem dois tipos principais de comutadores activados pelos olhos. Um deles con-siste numa especie de 6culos que transmitem raios infravermelhos, fracos, para osolhos. Essesraios reagem as mudan

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    Figura 21 - Exemplos de comutadores e joysticks

    pode ser a parte mais diffcil do trabalho e exige muito tempo, principal mente quando setrata de uma pessoa com problemas neuromotores graves. E frequente comec;:ar pelouso da mao por parecer a forma mais "natural", e apenas se passa a experimentaroutras partes do corpo depois de muito treino com a mao sem qualquer resultado. Aexperiencia mostra que 80% dos utilizadores controlam melhor os movimentos dacabec;:ae aprendem melhor a utilizar os comutadores se comec;:arempor utilizar um dosmovimentos da cabec;:apara acciona-los. Tarnbern e frequente escolher primeiro a maoou 0 pe para um segundo comutador. Embora seja desejavel que a pessoa consiga utili-zar a mao, e muito mais importante que consiga fazer funcionar a tecnologia de apoiopara a cornunkacao sem frustracoes. Quando existem duvidas sobre se a pessoa e real-mente capaz de utilizar a mao, a melhor estrateqia e comec;:arpor usar os movimentosda cabec;:apara actuar sobre 0 comutador. Se 0 indivfduo, mais tarde, mostrar que temum bom controlo dos movimentos da mao, e possivel alterar para um comutador acti-vado pela mao.

    Os profissionais tentam, muitas vezes, encontrar 0 comutador perfeito que respondaas necessidades da pessoa com incapacidades. No entanto, esse comutador pode serdificil de controlar pelo utilizador, nao devendo ser usado desnecessariamente. 0 utiliza-dor pode cansar-se rapidamente e estar mais concentrado na accao sobre 0 com uta-dor do que no processo comunicativo. Apesar de os comutadores para a cabec;:apode-rem ser um bom comec;:o, 0 seu usa por longos period os de tempo seguido podecausar aumento de contraccao muscular no pescoc;:oe tonturas. 0 estado da pessoapode mudar de um dia para 0 outro e isso podera influenciar a capacidade de utiliza-c;:aodo comutador e a cornunicacao em geral. Para reduzir 0 excesso de contraccaomuscular, e , entao. importante que 0 utilizador de uma tecnologia de apoio para acornunicacao tenha comutadores que possam ser activados de diferentes formas.

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    ESCOLHER UMA TECNOLOGIA DE Aroro PARAA COMUNICA

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    MOBILIDADE

    A mobilidade e uma questao muito importante para todas os indivlduos que utilizamtecnologias de apoio para a cornunicacao. 0 objectivo geral e permitir que 0 indivlduotenha acesso a um vocabulario 0 mais alargado posslvel em qualquer momento. Os utili-zadores de cadeira de rodas electr6nica poderao usar equipamentos relativamente gran-des e pesados. Para criancas e indivlduos que podem andar, mas com pouco equillbriodinarnico. e essencial que 0 equipamento para a comunicacao nao seja muito pesado ouvolumoso. Um livro com signos graficos ou escrita, ou uma tabela de papel com signosgraficos ou palavras em ambos os lados, pode ser a melhor opcao para este grupo,dependendo do tamanho do seu vocabulario. 0 problema da portabilidade de um equi-pamento pode tornar necessaria a aquisicao de varies. Uma crianca pode ter um compu-tador portatil com muito vocabulario. fala digitalizada e a possibilidade de imprimirquando esta em casa ou na sala de aula, e utilizar uma tabela para onde aponta ou umequipamento mais leve e pequeno que permita tarnbern a digitaliza~ao da voz paraquando esta no recreio ou na rua.o facto de uma tecnologia de apoio para a cornunicacao necessitar de ser utilizadaem muitas e diferentes situacoes pode significar que os seus utilizadores nem sempreestao sentados numa cadeira de rodas. 0 utilizador pode necessitar de recorrer ao equi-pamento quando esta deitado, pelo que a tecnologia deve adaptar-se a essas situacoes(figura 22)

    Figura 22 - Uma tecnologia de apoio para a cornunicacao tarnbern pode ser usada em decubitolateral

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    SELEcC;Ao DIRECTA E VARRIMENTO

    E a capacidade de utilizacao dos membros que determina os dispositivos e as estrate-gias a utilizar para indicar letras, palavras, frases ou signos graficos. Se 0 utilizador pos-sui as competencies necessarias. a seleccao directa e mais rapids e tacil do que 0 varri-mento, apesar de este poder ser configurado de forma individual para aumentar arapidez do processo (Lesher, Moulton e Higginbotham, 1998). 0 varrimento pode sercontrolado atraves do uso de um ou mais comutadores. Quanto mais comutadoresforem utilizados, menor sera a diferenca entre a seleccao directa e 0 varrimento. A dife-renca entre usar um joystick e a seleccao directa pede. de facto, ser muito pequena. Umjoystick tem a vantagem de poder ser ajustado as caracterfsticas motoras funcionais doindivfduo, aumentando a resistencia, de forma a dar-the maior estabilidade e de forma aque a forca exercida nao taca diferenca. No entanto, um joystick exige, de longe, maiorcontrolo motor e de direccao. 0 varrimento pode exigir mais recursos cognitivos do quea seleccao directa (Ratcliff, 1994; Horn e Jones, 1996).A escolha de seleccao directa e varrimento e determinada pela capacidade do indivl-duo para akancar. pela destreza no apontar, velocidade, capacidade para desempenharmovimentos sucessivos controlados e pelo controlo da forca de activacao

    ALCANCE E PRECISAo

    A excepcao do apontar com 0 olhar, a seleccao directa pressupoe que 0 individuotenha movimentos dirigidos que Ihe permitam alcancar um nurnero significativo deopcoes. sejam elas signos graficos ou letras. Por exemplo, indivfduos com doencas mus-culares tern. frequentemente, limitacoes extremas nas amplitudes dos movimentos. Estaslimitacoes podem ser ultrapassadas recorrendo a tecnologias de apoio, tais como tecla-dos reduzidos. 0 varrimento com comutadores ou joysticks e outra forma de aumentaro alcance funcional do indivfduo. 0 ponteiro de luz ou 0 capacete com ponteiro, etc.,funcionam como sxtensoes ffsicas do proprio indivfduo e podem ser considerados comoinstrumentos para um apontar directo.

    A seleccao directa tarnbern presume um certo grau de precisao de movimentos.Muitos indivfduos com paralisia cerebral nao tern dificuldade em akancar os objectos,mas necessitam de signos qraficos ou letras de um tamanho superior devido a descoor-denacao motora, que Ihes torna diffcil indicar 0 signo de forma a serem claramenteentendidos. A precisao de movimentos tarnbern ira determinar a seleccao do tipo decomutadores e a distancia entre eles. Um baixo nfvel de precisao pode determinar anecessidade de comutadores com areas de activacao maiores e muito espaco entre eles.

    VELOCIDADE

    A comunicacao com tecnologias de apoio demora sempre mais tempo do que comu-nicar, normalmente, com a fala, e devemos ter sempre como objectivo tornar a comuni-cacao 0 mais rapids possivel. Apesar de 0 varrimento ser um metoda lento, a seleccaodirecta pode ser ainda mais lenta para alguns indivlduos, bem como mais cansativa. Se0

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    periodo de tempo entre 0 inicio de um movimento e a sua finalizar;ao for muito longo, 0varrimento pode ser a alternativa mais adequada, uma vez que 0 indivfduo pode utilizaro tempo gasto no processo de varrimento das opcoes para iniciar 0 seu proximo movi-mento. A velocidade de movimento de um indivfduo tambern ira determinar a veloci-dade de varrimento de uma tecnologia de apoio para a comunicacao, isto e. a veloci-dade com que 0 indicador electronico se movers de uma opcao para outra.

    MOVIMENTOS REPETIDOS

    o varrimento dirigido pode ser mais rapido que 0 varrimento autornatico, desde que 0individuo seja capaz de executar varies movimentos repetidos numa sucessao rapida.Algumas pessoas demoram muito tempo a preparar-se, enquanto outras sao capazes deproduzir uma serie sucessiva e rapida de movimentos. Alguns indivfduos tern problemasem parar depois de iniciar um movimento de pressao sobre um comutador ou uma tecla.Nestes casos, 0 varrimento autornatko pode ser mais funcional. As tecnologias de apoiopermitem programar atrasos na execucao de uma determinada funcao evitando que 0utilizador, ao pressionar mais do que uma vez seguida numa tecla, active sucessivamenteessa funcao: 0 programa passa a reagir apenas ao primeiro movimento de pressao. umavez que e necessario um certo perfodo de tempo para poder voltar a ser reactivado.

    FOR

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    Por vezes pensa-se que 0 indivfduo deve ser capaz de dominar uma tecnologia deapoio para a cornunicacao manual, de modo a conseguir passar para uma tecnologia deapoio para a cornunicacao tecnicamente mais avancada. Existem poucas bases quesuportem este ponto de vista. Pelo contra rio, existem razoes para acreditar que um indi-vfduo que aprendeu a utilizar uma tecnologia de apoio para a cornunicecao electronicstarnbern pode usar uma tabela manual com seleccao directa ou varrimento dependente,se a necessidade surgir, por exemplo, no caso de 0 equipamento electronico falhar ousurgirem problemas de energia.

    FALA ARTIFICIAL

    A fala artificial tem sido utilizada com mais frequencia para criancas mais velhas,jovens e adultos com bom nfvel cognitivo. No entanto, 0 facto de se poder escutar apalavra ou a frase correspondente ao signo grafico ou imagem seleccionada pode ser deespecial irnportancia para as criancas mais novas e para as pessoas com deficiencia men-tal. Com essa possibilidade, tanto a cornpreensao da linguagem como a da actividadeque se esta a realizar podem ser favorecidas e potencializadas. Quando existem proble-mas de visao, a fala artificial pode proporcionar importantes pontos de referenda. Apossibilidade de comparar a sua propria "tala" com 0 que os outros dizem pode facilitara aprendizagem de novas palavras. Consequentemente, a fala artificial pode ser aindamais importante para as pessoas que se encontram no infcio do desenvolvimento lin-gufstico do que para as que ja desenvolveram certas competencies de comunicacao.Alguns estudos demonstraram efeitos positivos da utilizacao de tecnologias de apoiopara a cornunicacao com safda de voz artificial em criancas com deficiencia mentalsevera (Romski e Sevcik, 1996; Schepis, Reid e Behrman, 1996 (e que podem preferirestes aparelhos as tabelas de cornunicacao manuais (Soto et a/., 1993).

    Para os indivfduos que tern uma cornpreensao limitada da linguagem, e particular-mente importante que 0 equipamento seja facil de utilizar, isto e. que nao haja necessi-dade de um longo perfodo de treino para que a ajuda tenha uma utilidade funcional.Isso nao significa que 0 referido equipamento tenha de ser tecnologicamente simples.Um dispositivo com fala artificial pode ser mais tacil de aprender a utilizar do que umatabela de cornunicacao manual, porque a relacao entre a accao do utilizador e as conse-qusncias dessa accao se torna mais clara. Kobacker e Todaro (1992) atribufram 0sucesso da intervencao com uma men ina de 6 anos com autismo ao facto de a sua pri-meira tecnologia de apoio para a cornunicacao ter safda de fala artificial.

    PREC;O

    Muitas das tecnologias de apoio mais recentes ainda sao muito caras e, embora tal naoseja um argumento para nao se cornecar a utilize-las, a utilidade da tecnologia que seescolhe deve estar relacionada com 0 seu preco. Algumas delas podem ter um beneffciopara a cornunicacao limitado. Por exemplo, para uma crianca que comunique de formahabil e rapida com uma tabela manual de signos Bliss, uma tecnologia de apoio com faladigitalizada nao significa necessariamente uma melhoria na cornunicacao. se for diffcil de

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    transportar. Por outro lado, se essa crianca estiver a aprender a ler, uma tecnologia deapoio com fala sintetizada pode ser-Ihe util, porque favorecera a aquisicao de cornpeten-cias para a leitura (ver p. 210). As tecnologias de apoio mais dificeis de transportar sao, emgeral, mais baratas do que as portateis. Podem usar-se em casa e na escola e a fala artifi-cial pode tornar-se crucial para a aprendizagem da leitura em criancas que ten ham dificul-dades na aprendizagem. Nestescasos,0 preco nao deve ser um aspecto a discutir.

    ALGUMAS CARACTERisTICAS DA COMUNICA

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    TEMPO

    A diferenca mais importante entre a comunicacao natural e a cornunicacao assistidae , provavelmente, 0 tempo exigido para formular 0 enunciado. Mesmo que a tecnologiade apoio para a cornunicacao possa ser controlada de forma rapida. 0 nurnero de pala-vras ou de signos graficos produzidos por minuto e consideravelmente menor do quenuma conversa natural. A baixa velocidade significa que leva mais tempo a expressar 0que 0 individuo quer dizer. Isto coloca outras exiqencias ao interlocutor (ver em baixo) epode inibir os utilizadores de participarem em muitas situacoes comunicativas.o exemplo seguinte pretende dar uma ideia do tempo exigido para uma conversasimples e bem sucedida, entre uma pessoa que fala natural mente (N) e uma crianca queutiliza uma tabela de cornunicacao com letras para as quais aponta com 0 olhar atravesde um sistema de varrimento dependente (H).

    Henrique: M (olha para Nuno para atrair a sua etencso e aponta)Nuno: M (repete a letra)Henrique: 0 (aponta para a letra com 0 olhar)Nuno: 0Henrique: C (aponta para a letra com 0 olhar)Nuno: CHenrique: H (aponta para a letra com 0 olhar)Nuno: HHenrique: I (aponta para a letra com oolhar)Nuno: MOCHILA (adivinha a palavra)Henrique: N (aponta para a letra com 0 olhar)Nuno: NHenrique: 0 (aponta para a letra com 0 olhar)Nuno: 0Henrique: V (aponta para a letra com 0 olhar)Nuno: VNuno: NOVA! Deram-te uma mochila nova? (adivinha a palavra e a frase)Henrique: 'sim'. (confirma, anuindo com a cabec;a)

    o utilizador levou quase dois minutos para conseguir dizer 0 que queria. Ap6s18 turnos de conversacao, 0 interlocutor (Nuno) nao tinha dito nada por sua conta, ape-nas esteve a interpretar 0 que 0 utilizador (Henrique) ia dizendo. Numa conversa entrefalantes naturais, apenas teria falado uma pessoa e 0 enunciado "Deram-me umamochila nova" teria sido articulado em 2 ou 3 segundos. No exemplo seguinte, a men-sagem levou ainda mais tempo a ser produzida. 0 Hugo tem 50 palavras numa tabelade cornunicacao e pode fazer alguns gestos. 0 interlocutor (Neves) e um enfermeiro(Kraat, 1985, p. 81).

    Hugo:Neves:Hugo:Hugo:Neves:

    CASA. (aponta na tabela de comunicecso)Casal Que se passa em casal Passa-se alguma coisa com a tua irma?'Nso'. (abana a cabec;a)DIAS-DA-SEMANA. (aponta para a tabela de comunicecso)Domingo? Segunda? Terce?... Sebedo?

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    Hugo:Neves:Hugo:Neves:Hugo:Neves:Hugo:Neves:Hugo:Neves:

    Hugo:Neves:Hugo:

    'Sim'. (anui com a caber;a)Alguma coisa a ver com casa e sebedo?HOMEM. (aponta para a tabela de comuriicscso)Um homem? Vai la algum homem?'Nso'. (abana a caber;a)Queres que adivinhe quem e a homem?'Sim'. (anui co m eniese)Um familiar? Um amigo? Alguem do hospital?'Sim'. (anui com a caber;a)Alguem do hospital. Deixa vet. .. um medico, um terapeuta, umamigo?Podes dar-me outras pistas?(indica com a olhar para a caber;a de Neves)Caber;a? Parte da caber;a? Cerebra? Trabalha com a caber;a?COR. (aponta para a tabela de comuniceceo}

    Esta "conversa" constou de mais de 100 trocas e durou 20 minutos, ate que 0 enfer-meiro entendeu 0 que 0 Hugo que ria perguntar: "0 Carlos (que era um auxiliar negro)pode levar-me a casa no sabado, na carrinha do hospital?". Estas conversas demonstramque 0 interlocutor e um factor importante e pode influenciar 0 sucesso comunicativodos utilizadores de tecnologias de apoio para a cornunicacao.

    A quantidade total de palavras produzidas por utilizadores de tecnologias de apoiopara a cornunicacao sera consideravelmente menor do que 0 normal, devido a lentidaodo processo de producao de mensagens. Beukelmann e seus associados (1984) regista-ram a quanti dade de palavras produzidas por quatro adultos utilizadores de tecnologiasde apoio para a cornunicacao. durante duas semanas. Conclufram que 0 nurnero depalavras produzidas por dia variava entre 269 e 728. 1550 contrasta fortemente com aproducao linguistica normal das pessoas que nao utilizam tecnologias de apoio. Porexemplo, as criancas entre os 3 e os 12 anos dizem de 20 000 a 30 000 palavras por dia(Wagner, 1985). Para alern disso, as criancas que utilizam tecnologias de apoio para acomunicacao tern menos oportunidades para aprenderem a expressar-se do que ascrian~as que falam normal mente.

    o PAPEL DO INTERLOCUTOR

    Em conversas normais, os interlocutores estao em sltuacao de igualdade. Ambospodem formular 0 que querem dizer e, geralmente, nao dependem da ajuda do outropara poderem expressar-se, apesar de a neqociacao dos significados ser uma parte ine-rente a conversacao. Para os que utilizam tecnologias de apoio para a cornunicacao, asituacao e total mente diferente. Tal como nos exemplos anteriores, eles necessitam deum formulador de mensagens para poderem expressar 0 que querem dizer. 0 tempoque demora a comunicacao assistida pode levar 0 interlocutor, na tentativa de reduzir 0tempo de forrnulacao, a tentar adivinhar 0 que 0 utilizador quer dizer, para que este nao

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    tenha de soletrar a palavra ou a ideia completa. No exemplo anterior, a tentativa deadivinhar tornou-se vantajosa, 0 utilizador pode falar sobre a mochila mais depressa doque se tivesse de soletrar toda a frase. No entanto, noutras ocasioes, pode acontecerque 0 interlocutor se engane, aumentando, em vez de reduzir, 0 tempo exigido para 0utilizador produzir 0 enunciado.

    Nos ultirnos anos, tem-se dado bastante atencao e irnportancia as estrateqias usadaspelo interlocutor na interaccao comunicativa. A grande preocupacao tem sido 0 modocomo 0 interlocutor pode limitar as respostas do utilizador e influenciar 0 conteudo dacornunicacao. Por exemplo, embora as tentativas de adivinhar 0 que 0 utilizador querdizer possam ser uma estrateqia util para apressar a expressao do utilizador, adivinharpode tarnbern limitar a capacidade do indivfduo para formular a sua mensagem ouabrandar ainda mais 0 ritmo da conversa (Basil, 1992; Kraat, 1995; Collins, 1996).

    Alem de ser um interlocutor que expressa as suas opinioes. como nas mteraccoesface a face, em que os dois intervenientes falam normalmente, 0 interlocutor podedesempenhar uma quantidade de papeis nas interaccoes com falantes assistidos. Nopapel de auxiliar de movimentos pode ter de segurar na tabela, manter a cabeca e 0corpo do utilizador direitos. etc. No papel de formulador de mensagens, 0 interlocutortem de formular a mensagem do individuo que utiliza uma tecnologia de apoio para acornunicecao, com base em palavras simples e frases incompletas e fragmentadas, pro-duzidas at raves de escrita ortografica ou de signos qraficos. que servem de pontos dereferencia a sua interpretacao. No entanto, ha uma tendencia para confundir estespapers. Estudos sobre cornunicacao assistida demonstraram que os intervenientes quefalam, que muitas vezes tern 0 duplo papel de interlocutor e interprete, mostram poucasensibilidade as mensagens produzidas pelos utilizadores de tecnologias de apoio.Os interlocutores que falam, por exemplo, nao reconhecem nem comentam essas men-sagens e irnpoern os seus pontos de vista ou falsas interpretacoes. 1550 pode resultar, emparte, do facto de os interlocutores desempenharem frequentemente as funcoes deauxiliares em geral e de nao terem consciencia do modo como influenciam a comunica-~ao (von Tetzchner e Martinsen, 1996).

    E de referir que os problemas que aqui descrevemos nao se centram na pessoa comdeficiencia ou no interlocutor, mas sim na sua relacao. A possibilidade de expressao doparceiro com deficiencia e reduzida e, para 0 parceiro que fala, a possibilidade de com-preender 0 que 0 parceiro com deficiencia pretende comunicar e influenciada negativa-mente. 0 parceiro de cornunicacao mais competente tem 0 dever etico de tentar ultra-passar esta relacao desigual, ajudando a pessoa com defkiencia a expressar as suasverdadeiras mensagens (von Tetzchner e Jensen, 1999).

    Tecnologias de Apoio para a Cornuoicacao 67